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FACULDADE DE FÍSICA
BELÉM
2011
SUMÁRIO
i
5.2 – Teoria da Espectroscopia Molecular Vibracional Raman................... 51
5.2.1 – Descrição do Espalhamento Raman..................................... 52
5.2.2 – A Elipsoide de Polarizabilidade........................................... 57
5.2. – A Atividade em Raman...................................................................... 60
5.2.1 – Regras de Seleção para Níveis Fundamentais...................... 61
5.3 – Geometria da Atividade em Raman ................................................... 62
Referências Bibliográficas..................................................................................... 66
Apêndice A – Solução de Sistemas Acoplados Através de Modos Normais...... 69
Apêndice B – A Luz como Onda Eletromagnética.............................................. 75
Apêndice C - Modos Normais de Vibração e Atividade em Raman para 81
Apêndice D - História da Espectroscopia por Espalhamento de Luz............... 85
ii
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
A presente obra é fruto dos estudos realizados pelo autor como bolsista PIBIC/CNPq-
AF durante o período 08/2009 – 08/2011 na área de espectroscopia Raman na Universidade
Federal do Pará.
Contudo, devido ao fato de não se poder realizar uma análise por meio de rede
cristalina, estudar óleos por meio dos métodos de análise física estabelecidos pela Física do
estado sólido torna-se inviável. O que não é o caso para cristais. Estes podem ser estudados
1
teoricamente e analisados sob a ótica das vibrações de rede, enquadrando-se perfeitamente no
escopo de trabalho da Física da matéria condensada.
Neste contexto, esta obra visa tratar da teoria de que envolve o estudo de cristais via a
espectroscopia por espalhamento de radiação eletromagnética, mais precisamente, a
espectroscopia vibracional Raman. Uma técnica moderna e muito prática, que permite o
estudo de amostras de maneira não destrutiva, possível de se realizar in situ, e com resultados
imediatos. Esta técnica tem sido continuamente aperfeiçoada devido aos avanços realizados
em sua instrumentação, tal como lasers e outros instrumentos óticos. Porém, a pesar de
atualmente empregar instrumentos capazes de produzir feixes de luz coerente e
monocromática de maneira controlada, bem como análise de feixes espalhados por meio de
interferômetros, a técnica de espalhamento da luz nasceu dos desenvolvimentos realizados por
muitos cientistas ao longo de mais de 400 anos, contando desde as primeiras publicações de
estudos sobre a polarização da luz e de sua decomposição em cores componentes nos
trabalhos de, respectivamente, Erasmus Bartholinus (1625 – 1698) e Isaac Newton (1643 –
1727). Sendo esta técnica de espalhamento da luz provida de solidez e tradição, adquirida
desde seu estabelecimento por John William Strutt (1842 – 1919), o barão de Rayleigh, e
complementada pelo efeito Raman, estabelecido por Chandrasekhara Venkata Raman (1888 –
1970).
2
Raman, desde as primeiras indagações relatadas pelos gregos até a comprovação experimental
de C. V. Raman.
3
CAPÍTULO 2
ARRANJOS ATÔMICOS EM CRISTAIS
Uma ligação covalente se forma caso os átomos se coloquem num estado de menor
energia total ao entrar em ligação. Tais ligações ocorrem quando dois orbitais de valência de
dois átomos se sobrepõem, interferindo construtivamente. O aumento da amplitude da função
de onda, , que descreve esse orbital interatômico implica uma diminuição de energia. Com o
aumento da amplitude há um aumento da densidade de probabilidade, | |, de localização
espacial do elétron nessa região.
Em termos de forças, essa ligação é uma interação entre átomos na qual dois átomos
compartilham elétrons através de atração eletrostática por parte dos dois núcleos. Este tipo de
ligação é direcional, o que significa que há uma orientação preferencial dos dois átomos um
em relação ao outro. Desta orientação entre os núcleos emerge a forma da molécula e ângulos
entre ligações, para moléculas não lineares. Se na ligação houver átomos homonucleares, a
ligação é não polar; caso contrário, para heteronucleares, tem-se polaridade na ligação. Caso
haja grande diferença de eletronegatividade entre certos elementos que se ligam (não metais e
metais alcalinos e alcalinos terrosos), tem-se uma ligação iônica.
Os elétrons compartilhados passam a ter uma distribuição espacial que envolve ambos
os núcleos, formando uma nuvem eletrônica. Considerando que as distribuições eletrônicas de
cada átomo formam os orbitais atômicos, quando átomos se ligam, esses orbitais formam os
orbitais moleculares, que envolvem toda a molécula. Em moléculas poliatômicas os orbitais
moleculares de valência são descritos por uma combinação linear dos orbitais atômicos de
valência, ∑ ; é um fator de normalização. Desta maneira, a nuvem eletrônica
4
total é descrita pelo determinante de Slater, que considera as contribuições individuais dos
orbitais moleculares ocupados, | ( ) ( ) |. Este é resultado do princípio da
conservação de orbitais, que estabelece que a partir de n orbitais atômicos definem-se n
orbitais moleculares. Uma propriedade importante é que o orbital de menor energia, e maior
amplitude, menor número de nodos (amplitude zero), é o que possui caráter ligante acentuado.
E o de maior energia, possui caráter antiligante, e maior número de nodos. Logo, quanto
menos nodos, mais forte a ligação. Contudo, o estudo da ligação covalente pode ser feito sem
referência a orbitais moleculares. O comportamento da nuvem eletrônica é de interesse ao se
considerar a propriedade molecular da polarização eletrônica (GILE,1992).
̂| ⟩ | ⟩ ( )
̂ ∑ ∑ ∑∑ ∑∑ ∑ ( )
Ou ainda (TUCKERMAN,2011),
5
̂ ̂ ̂ ̂ (⃗ ) ̂ ( ⃗) ̂ ( ) ( )
̂ ( ⃗) ( ⃗) ( )
( ⃗) ( ⃗ ) (⃗ ) ( )
6
̂ ̂ ̂ ( ⃗) ̂ ( ) ( )
̂ ( ⃗) (⃗ ) ( ⃗) ( )
Figura 2.1: Superfície de potencial para uma molécula de . O ângulo exibe a geometria da molécula.
Esses autovalores são usados para solucionar a energia nuclear, onde atuam os termos
do hamiltoniano relativos aos núcleos,
[̂ ̂ (⃗ ) ( ⃗ )] ( ⃗ ) (⃗ ) ( )
[̂ ̂ (⃗ ) ( ⃗ )] ( ⃗ ) (⃗ ) ( )
7
Uma limitação dessa aproximação é que não se podem ocorrer transições de nível
eletrônico. Uma condição de validade da aproximação é que, para um sistema a uma
temperatura T, para dados dois níveis eletrônicos, e , deve-se ter,
| (⃗ ) ( ⃗ )| ( )
8
Figura 2.2: Modelo de corpos unidos por molas sem massa para sistemas atômicos.
Na descrição das posições dos átomos em uma molécula, duas coordenadas são muito
importantes. Uma é a coordenada interna, que serve para localizar átomos um em relação ao
outro, dispostos nas ligações químicas. As coordenadas internas são úteis na descrição de
movimentos vibracionais da molécula em termos de ligações interatômicas e seus ângulos,
que são partes estruturais facilmente reconhecíveis; um exemplo é visto na figura 2.3.
9
Figura 2.3: Movimentos de uma molécula ( ) descritos por: , comprimentos de estiramento entre átomos, e
, a variação entre o ângulo entre essas ligações.
( ) ( )
Figura 2.4: (a) Estiramento de e . (b) Variação em . (c) Estiramento de e , com sítio 1 oscilando na
direção x.
Matematicamente (SALA,2008),
( ) ( )
∑ ∑ ( ) ∑ ( )
( )
10
2.3 – Arranjos Cristalinos
Átomos podem-se agrupar formando moléculas, e essas moléculas por sua vez podem-
se agrupar formando arranjos sólidos regulares denominados cristais. O processo de formação
desses cristais pode ser natural (minerais encontrados na natureza) ou sintetizado em
laboratório quimicamente (TEIXEIRA,2009).
Uma rede cristalina é uma forma de uma, duas ou três dimensões estabelecida por
pontos, nos quais se situam os átomos; esses pontos também são referidos por sítios atômicos.
Cada um desses pontos é descrito por um vetor de translação que atua a partir de um ponto de
origem. Em condições ideais, essas translações são infinitas, levando a uma repetição de
agrupamentos atômicos idênticos; cada agrupamento é denominado de base. Uma rede fica
bem definida a partir do estabelecimento dos vetores que descrevem um agrupamento atômico
mínimo que se repete: a célula primitiva; tais vetores são denominados vetores primitivos. A
figura 2.5 (a) exibe exemplos de escolhas possíveis de vetores primitivos para uma rede.
Pode-se localizar um átomo na estrutura cristalina a partir dos vetores primitivos,
⃗ ( )
11
Em que os vetores são os vetores primitivos, são números inteiros que localizam o
átomo na direção de seus respectivos vetores relacionados. Cada célula primitiva contém um
ponto da rede cristalina em sua extensão espacial, porém, na forma de frações dos pontos que
limitam os vetores primitivos, devido ao fato de adjazer a outras células primitivas.
Figura 2.5: (a) rede bidimensional com possíveis escolhas de vetores primitivos, porém, excetuando-se e
⃗
, pois estes vetores não descreveriam o vetor adequadamente. (b) Exibe uma rede tridimensional com
vetores primitivos , e formando uma célula primitiva.
Devido ao fato de as redes cristalinas serem regulares, uma rede cristalina pode ter sua
geometria mapeada em si própria através de operações de simetria, tais como translações,
rotações, espelhamentos e inversões, que atuam em pontos da rede. Contudo, uma observação
importante é que no contexto de uma rede, uma célula primitiva não pode possuir um
mapeamento através de uma rotação de ou , pois isto implicaria haver espaços não
ocupados por células primitivas na rede. Quando consideradas em conjunto, as operações de
simetria associáveis a pontos de uma rede formam o chamado grupo de ponto. A figura 2.6
exibe exemplos de elementos de simetria em redes (KITTEL,2006).
12
Figura 2.6: (a) e (b) exibem dois planos de simetria, respectivamente, paralelo e diagonal às faces de um cubo.
(c), (d) e (e) exibem eixos de simetria de um cubo.
A figura 2.7 exibe os 14 tipos diferentes de redes de Bravais. A tabela 2.1 relaciona os
7 sistemas aos 14 tipos de redes da figura 2.1.
Tabela 2.1: Relações entre ângulos e entre eixos para cada sistema de rede.
13
Tetragonal (10,11) 2
Cúbico (12,13,14) 3
Romboédrico 1
(trigonal) (9)
Hexagonal (8) 1
14
Fonte: http://www.civil.pdn.ac.lk/Materials/crystals/crystalline/crystalline.htm
Uma forma muito útil de se especificar regiões das redes de Bravais é a fornecida
pelos índices de Miller, que descrevem planos situados em uma rede de Bravais. Nesta
determinam-se as orientações de planos a partir de três pontos onde um dado plano intercepta
os três eixos da rede de Bravais. Com esses três valores, extraem-se seus recíprocos (seus
valores consigo no denominador) e obtém-se o menor número que ao multiplicar os três
valores, simultaneamente, mantêm-nos na mesma proporção. Valores negativos são escritos
com uma barra em cima. A figura 2.7 exibe exemplos de planos em uma rede.
A rede recíproca provê a maneira mais útil de se estudar interações entre radiações
eletromagnéticas e um cristal. Ela faz uso das regularidades dos cristais para definir as
15
densidades eletrônicas distribuídas pelo cristal. Com isso pode-se saber por análise teórica a
respeito da amplitude da onda eletromagnética espalhada por um cristal.
A rede recíproca é obtida por uma transformada de Fourier da função espacial da rede
direta (a rede cristalina). Onde esta função espacial é dada por uma onda que expressa a
regularidade do cristal.
⃗
Considerando um conjunto de pontos localizados por ⃗ e uma onda plana , para ⃗
que escolhidos convenientemente descrevem a periodicidade da rede de Bravais. Em que
⃗
(⃗ ) (⃗ ), pela relação de Euler. Desta maneira, o conjunto de vetores ⃗
que exprimem a periodicidade de uma dada rede de Bravais dá-se o nome de rede recíproca
(ASHCROFT, 1976). Os vetores ⃗ da rede recíproca devem satisfazer a propriedade
⃗ ( ⃗) ⃗
⃗ ⃗ ⃗ ⃗
⃗ ⃗
Que indica que a onda plana tem a mesma periodicidade para todo ⃗ da rede de Bravais.
Logo, sendo ⃗ estabelecido pela rede de Bravais específica, o conjunto de vetores ⃗ é
limitado pelo tipo de rede de Bravais escolhida.
O vetor ⃗ pode ser escrito em termos da base de vetores primitivos da rede recíproca,
⃗ ⃗ ⃗ . Que permite escrever um vetor na rede recíproca como sendo uma combinação
linear dos vetores da base,
⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ( )
A relação entre as bases de vetores primitivos da rede direta e da rede recíproca é dada
pelas expressões (ASHCROFT, 1976),
⃗ ( )
( )
⃗ ( )
( )
16
⃗ ( )
( )
⃗ ⃗
(⃗ ) ∑ ⃗ ( )
⃗
Onde ⃗ são vetores da rede recíproca. Comumente o espaço da rede recíproca é referido
como espaço dos k (ou espaço k), em alusão ao fato de as distâncias entre pontos serem
expressa por vetores de onda. De maneira análoga, o espaço da rede direta pode ser referido
como espaço dos r (ou espaço r) (ASHCROFT, 1976).
Uma maneira útil de se obter uma célula primitiva é pelo método de Wigner-Seitz.
Com este método obtém-se uma região do espaço que se situa mais próxima a um dado ponto
de rede do que a qualquer outro. Esta célula possui invariância tranlacional, formando uma
rede contínua sem que uma célula se sobreponha a outra, ou deixe espaços não preenchidos
dentre si. Esta célula não faz referências à escolha de vetores primitivos, e é tão simétrica
quanto a rede de Bravais o é.
A construção da célula é feita traçando-se linhas ligando um ponto da rede aos seus
primeiros vizinhos. Em seguida traçam-se retas perpendiculares às retas ligando os pontos, de
maneira a se dividir essas últimas retas ao meio. Ou seja, as retas perpendiculares bissecam as
retas que ligam cada dois pontos. Com isto, a região formada pela circunscrição das retas
perpendiculares é a célula de Wigner-Seitz. Esta região é mais próxima do ponto de rede
central a ela do que a outro ponto da rede. Na figura 2.9 tem-se um exemplo de construção de
uma célula de Wigner-Seitz para uma rede bidimensional.
17
Figura 2.9: Em (a) tem-se o primeiro passo na construção da célula de Wigner-Seitz, unir um ponto aos seus
primeiros vizinhos. Em (b) traçam-se as retas perpendiculares que dividem as retas de (a) em duas de mesmo
comprimento. Em seguida, destaca-se a área interna.
Daí tem-se que vetores da rede recíproca são vetores de ondas planas, que nos pontos
da rede de Bravais possuem valor unitário. Essas ondas planas têm o mesmo valor em todos
os pontos sobre uma família de planos perpendiculares ao seu respectivo vetor de onda e
separado por um número inteiro de comprimentos de onda. (ASHCROFT, 1976).
18
Os índices de Miller atuam de maneira importante na descrição da orientação dos
planos da rede recíproca. Os índices de Miller auxiliam na determinação dos vetores da rede
recíproca, de comprimento mínimo, que são normais às famílias de planos. Sendo esses
índices: , um vetor da rede recíproca pode ser escrito por
⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ( )
Como exemplo, a figura 2.10 exibe uma rede de Bravais cúbica de corpo centrado (a),
que possui um sítio em seu centro, e em (b) exibe sua respectiva célula de Wigner-Seitz
tridimensional, a primeira zona de Brillouin.
Figura 2.10: (a) Rede de Bravais de corpo centrado (sítio central). (b) Primeira zona de Brillouin.
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CAPÍTULO 3
VIBRAÇÕES EM REDES E RALAÇÕES DE DISPERSÃO
Embora se imagine uma rede estaticamente, deve-se ter em mente o fato de ela estar
em constante movimento. E apesar de esses movimentos serem difíceis de serem analisados,
podem-se ser feitas considerações que facilitem uma análise aproximativa.
(⃗ ) ⃗ ⃗ (⃗ ) ( )
Onde ⃗ ( ⃗ ) representa a distância do íon de sua respectiva posição de equilíbrio; ou, o seu
desvio desta (ASHCROFT, 1976).
20
Figura 3.1: (a) Vetor ⃗ localiza um ponto na rede. (b) Vetor ( ⃗ ) localização do ponto deslocado.
Na figura 3.1, em (a) tem-se uma rede estática onde ⃗ localiza um ponto; em (b) ( ⃗ )
localiza o mesmo ponto, porém com posição deslocada, indicada pelo ponto laranja. A figura
3.2 (a) mostra a relação entre os vetores ⃗ e ( ⃗ ), e (b) mostra em detalhe o vetor ⃗ ( ⃗ ).
Figura 3.2: (a) Destaque do deslocamento em relação à posição de equilíbrio. (b) Ampliação do deslocamento.
21
Se considerarmos dois sítios de uma rede de Bravais dados por ⃗ e ⃗ , cujos desvios
de suas respectivas posições de equilíbrio são dados por ⃗ ( ⃗ ) e ⃗ ( ⃗ ), podemos estabelecer o
potencial eletrostático entre estes dois pontos.
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
∑ (⃗ ⃗ ) ∑ [ (⃗ ) ( ⃗ )] ∑ [⃗ ( ⃗ ) ⃗ ⃗ (⃗ ) ⃗] ( )
⃗⃗ ⃗⃗ ⃗⃗
∑ (⃗ ⃗ ) ∑ ( ⃗) ( )
⃗⃗ ⃗
∑ (⃗ ) ∑[ ⃗ ( ⃗ ) ⃗ ( ⃗ )] (⃗ ⃗ ) ∑[ ⃗ ( ⃗ ) ⃗ (⃗ ) ] (⃗ ⃗ )
⃗ ⃗ ⃗⃗
( ) ( )
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Há fenômenos físicos, como a condutividade térmica ou interação de dipolos elétricos,
que são regidos pelos movimentos dos íons em uma rede cristalina. E embora a melhor
abordagem para problemas relacionados a objetos de tamanho microscópico seja a mecânica
quântica, para determinadas situações, como oscilações harmônicas, um tratamento clássico
tem seu valor, pois é possível resolvê-lo exatamente.
As vibrações em uma rede são descritas pelos modos normais de vibração, que são
deslocamentos conjuntos dos íons em uma rede em certa frequência. Um modo normal de
vibração implica, assim, a rede ter todos os seus sítios incorrendo deslocamentos em relação
às suas respectivas posições de equilíbrio simultaneamente.
Nesta análise utiliza-se o modelo de massa mola para uma rede unidimensional com
uma base contendo dois íons por célula primitiva. Sendo assim, os íons dessa rede são
considerados como se ligados por molas sem massa e com constante de força , obedecendo
à lei de Hooke. Pela aproximação de Born-Oppenheimer todos os movimentos de uma rede,
ao exibirem amplitudes pequenas, podem ser tratados pela lei de Hooke, seja qual for a
origem da interação interatômica (PATTERSON et al., 2007).
Desta forma, a análise dos modos normais de vibração de uma rede consiste em se
determinarem os deslocamentos dos íons relativos às suas posições de equilíbrio utilizando a
segunda lei de Newton e a lei de Hooke.
Consideremos uma cadeia atômica formando uma rede unidimensional cuja célula
primitiva é constituída de um átomo, uma cadeia monoatômica, como exibida na figura 3.3.
23
Figura 3.3: Na parte superior tem-se a cadeia monoatômica estática, e na parte inferior um instantâneo de seu
deslocamento.
A energia potencial harmônica, descrita pela equação (3.7), pode ser escrita para este
caso, considerando interações entre vizinhos,
[⃗ ( ) ⃗ (( ) )] [⃗ ( ) ⃗ (( ) )] ( )
Cuja simplificação é
{⃗ ( ) ⃗( ) ⃗ (( ) ) ⃗ (( ) )}
{⃗ ( ) ⃗( ) ⃗ (( ) ) ⃗ (( ) )}
{ ⃗ ( ) ⃗( ) ⃗ (( ) ) ⃗( ) ⃗ (( ) ) ⃗ (( ) )
⃗ (( ) )}
⃗ ( ) ⃗ (( ) ) ⃗ (( ) ) ( )
⃗( )
̈( ) ⃗( ) ⃗ (( ) ) ⃗ (( ) ) ( )
( )
24
Para um dado sítio estabelecido como , seus vizinhos são e .
Trocando a notação ⃗ ( ) por , para facilitar as manipulações, podemos reescrever a
equação (3.11) como sendo
̈ ] ( )
Como solução para estas equações diferenciais de segunda ordem tem-se soluções
oscilatórias, em função da posição de do tempo (ALVES, 2011),
( ) (⃗ )
( )
(⃗ )
̈ ( ) ( )
(⃗ ( ) ) (⃗ ( ) ) (⃗ ( ) ) (⃗ ( ) )
* +
(⃗ ) (⃗ )
* +
(⃗ ) (⃗ )
* +
O sinal negativo em ambos os lados é removido, e o sinal de dentro dos colchetes são postos
em evidência, de maneira que
(⃗ ) (⃗ )
* + ( )
(⃗ ) (⃗ ) ⃗ ⃗ ⃗ ⃗ ⃗
[ ⃗ ]
[ ⃗ ]
√ [ ⃗ ] ( )
25
Utiliza-se propriedade trigonométrica no cosseno, de modo que
⃗ ⃗
√ [ ⃗ ]
√ [ ⃗ ]
(⃗ ) √ | ⃗ | ( )
Para cada valor de , indo de , tem-se uma solução com uma frequência única
( ⃗ ). A solução exprime ondas que se propagam ao longo da rede. Duas propriedades
26
Figura 3.4: Curva de dispersão para a cadeia monoatômica para a região de ⃗ .
equivale ao comprimento de uma onda propagando-se por um meio contínuo, uma onda
acústica. Daí esse modo de vibração ser chamado de modo acústico. Estes modos têm a
características de exibirem frequência igual a zero no ponto central da primeira zona de
Brillouin (ASHCROFT, 1976).
27
Figura 3.5: Cadeia formada por uma repetição contínua de uma célula primitiva contendo dois átomos.
Com isso, a energia potencial para cada sítio será determinada através da interação
entre o sítio e seus vizinhos imediatos, sendo que o potencial para cada vizinho será diferente.
Assim, tem-se um potencial do tipo
∑ ⃗ ( ) ⃗ ( )] ∑[ ⃗ ( ) ⃗ (( ) )] ( )
Para o sítio ⃗ ( ) este potencial tomará a forma descritiva da relação desse sítio com seus
vizinhos, ou seja,
⃗ ( ) ⃗ ( )] [⃗ ( ) ⃗ (( ) )] ( )
⃗ ( ) ⃗ ( )⃗ ( ) ⃗ ( )]
[⃗ ( ) ⃗ ( ) ⃗ (( ) ) ⃗ (( ) )]
⃗ ( ) ⃗ ( )] [ ⃗ ( ) ⃗ (( ) )]
⃗ ( )
⃗ ( ) ⃗ ( )] [⃗ ( ) ⃗ (( ) )] ( )
⃗ ( )
⃗ ( ) ⃗ ( )] [⃗ ( ) ⃗ (( ) )] ( )
28
Expandido resulta em
⃗ ( ) ⃗ ( )⃗ ( ) ⃗ ( )]
[⃗ ( ) ⃗ ( ) ⃗ (( ) ) ⃗ (( ) )]
⃗ ( ) ⃗ ( )] [⃗ ( ) ⃗ (( ) )] ( )
⃗ ( )
A solução das frequências é dada por um sistema que inclui a oscilação dos dois sítios,
que á dado por
⃗̈ ( ) ⃗ ( ) ⃗ ( )] [⃗ ( ) ⃗ (( ) )]
{ ( )
⃗̈ ( ) ⃗ ( ) ⃗ ( )] [⃗ ( ) ⃗ (( ) )]
⃗ ( ) ( )
⃗̈ ( ) ( )
{ ( )
⃗ ( ) ( )
⃗̈ ( ) ( )
( ( ) ) ( ( ) ) ( ( ) ) ( ( ) ) ( ( ) )
[ ] [ ]
{
( ( ) ) ( ( ) ) ( ( ) ) ( ( ) ) ( ( ) )
[ ] [ ]
( )
[ ] [ ]
{ ( )
[ ] [ ]
( )
[ ] [ ]
{ ( )
[ ] [ ]
] [ ]
{
] [ ]
29
{
( ( )) ( )
{ ( )
( ) ( ( ))
A solução deste sistema é obtida pelo seu determinante característico (ou secular), de maneira
que
( ( )) ( )
| | ( )
( ) ( ( ))
Cuja solução é
[( ( )) ( ( ))] [( )( )]
[( ( )) ( ( ))] [( )( )] ( )
( )
( ) ( )
( )
Substituindo em (3.27),
[( ( )) ( ( ))]
( ( ))
30
( ) √
( )
√ ( )
( )
√
( )
√( )
( ) ( )
( )
√ ( )
( )
√
( )
√
( )
√
( )
√( )
( )
√( )
( ) ( )
31
√ √ ( )
( )
ótico não exibem esta dependência. Esta curva inicia em √ e desce a √
na fronteira da primeira zona de Brillouin. Os ramos óticos são assim chamados devido ao
fato de os cristais cujas redes exibem este ramo poderem interagir com ondas
eletromagnéticas (ASHCROFT, 1976).
Figura 3.6: Curva de dispersão para a cadeia diatômica. Ramo ótico O e ramo acústico A para a região ⃗ .
Embora não se discuta aqui o caso para redes tridimensionais, vale ressaltar algumas
características. Não somente o comportamento das frequências ( ⃗ ) é relevante, mas
(⃗ )
também, tanto as direções de polarização dos vetores nas ondas solução
32
quanto a direção de ⃗ . Onde é o vetor polarização do modo normal, que descreve a direção
na qual os íons se movem.
3.4 – Fônons
Com o intuito de descrever fenômenos físicos regidos pelas vibrações de rede, deve-se
considerar a teoria quântica para dinâmica de redes. Na solução do movimento de íons tem-
se uma superposição (combinação linear) de modos normais de vibração, cada um com
sua frequência característica.
com frequência angular ( ⃗ ) pode assumir apenas valores discretos, dados por ( ⃗
como um todo, a energia total será dada pela soma das energias de cada modo normal, ou seja
(ASHCROFT, 1976),
33
∑( ⃗ * (⃗ ) ( )
⃗
34
Capítulo 4
SIMETRIA MOLECULAR E TEORIA DE GRUPOS
35
espelhamento e eixos de rotação localizados na geometria da molécula que os possui; seja um
ou mais de um destes.
Figura 4.1: (a) Centro de inversão. (b) Eixo de rotação. (c) Plano de espelhamento.
A figura 4.1 exibe os três tipos mais comuns de operações de simetria. Em (a) tem-se o
centro de inversão, onde um átomo em um dos vértices do cubo pode trocar de lugar com um
átomo no vértice que está além do ponto na mesma linha reta ligando os dois vértices. Em
(b) tem-se um eixo de rotação em torno de , cujo ângulo de rotação depende da simetria da
molécula; o valor subscrito a que é o resultado da divisão entre 360 pelo ângulo mínimo de
rotação que mantém os átomos da molécula em suas posições não iniciais, porém idênticas
geometricamente. Em (c) tem-se um plano de espelhamento , este plano divide a molécula
em duas partes, em que uma é a imagem refletida da outra.
Outros dois elementos de simetria são a identidade , que tem o efeito de manter todos
os átomos inalterados, e a rotação imprópria , que combina uma rotação de seguida
de espelhamento. A tabela 4.1 sumariza os elementos de simetria e suas operações
respectivas.
Elementos de simetria
Símbolo Descrição Operações de simetria
Identidade Nenhuma mudança
Plano de simetria Reflexão através do plano
Centro de simetria Inversão através do centro
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Eixo de simetria Rotação de em torno do eixo
Eixo de simetria de rotação-reflexão Rotação de em torno do eixo
seguida de reflexão através do plano
Fonte: BARROW, 1962, p.160.
Para uma descrição mais detalhada com exemplos recomenda-se ao leitor que leia o
capítulo 4 de HOUSECROFT (2008, p.88).
Contudo, é importante ressaltar que em uma molécula seu eixo de maior simetria é
convencionado como o eixo . E é o eixo de maior importância nas considerações de simetria.
Considere a situação da figura 4.2, na qual uma rotação de é operada sobre uma
molécula de água.
Figura 4.2: (a) Molécula de antes de sofrer rotação. (b) Após rotação, sítios 1 e 2 trocaram de posição.
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Na figura 4.2 (a) tem-se a configuração da molécula antes de passar pela
transformação, cada sítio está descrito por três vetores cartesianos mutuamente ortogonais.
Em (b), após a rotação de , nota-se a troca de posição entre os sítios 1 e 2. Com essa
rotação, alguns dos vetores que descreve os sítios mudam de orientação, apenas os vetores
sobre o eixo de rotação permanecem inalterados, os . Ou seja, todos os vetores, exceto os
, tiveram seus sinais invertidos.
[ ] ( )
()
* + *( ) +[ ] ( )
()
Esta expressão representa as assimetrias dos sítios 1 e 2, bem como a simetria do sítio 3. Os
parênteses indicam o fato de o sítio 1 e 2 terem trocado suas posições um com o outro. De
modo que, a representação das transformações de todos os átomos é
( )
[ ][ ]
[ ]
38
Outras operações possíveis para a molécula de água são: a identidade, presente em
todas as moléculas; , um plano de espelhamento na direção e consequentemente
paralelo a , razão pela qual se pode denominá-lo de plano vertical, ou ; e outro plano
vertical orientado na direção . Suas respectivas representações matriciais são (SALA,
2008):
[ ] [ ] [ ]
( )
[ ]
Para também não há permutações, a molécula é atravessada pelo plano, de modo que a
transformação apenas espelha a coordenada dos átomos, sendo assim
( )
[ ]
No caso de , um plano que divide a molécula em duas, onde de um lado fica o sítio 1 e do
outro o sítio 2. Quando ocorre o espelhamento, esses dois sítios permutam, e o efeito nas
coordenadas dos átomos é o de inversão das coordenadas . Sendo assim,
39
( )
[ ]
O conjunto de todas as operações de simetria que atuam sobre uma molécula forma
um grupo, o grupo de ponto. Assim denominados, pois quando associados a elementos de
simetria mantêm um ponto da molécula fixo, o centro de massa da molécula, ponto de
interseção de todos os elementos de simetria (BERNATH, 1995). Vale ressaltar que em
estudos de cristais frequentemente defronta-se com o termo grupo espacial, significando que
para algumas operações de simetria a molécula (ou uma célula unitária) incorre translação a
outro local do cristal (BARROW, 1962). A tabela 4.1 exibe alguns grupos de ponto e seus
elementos constituintes.
40
Ressaltam-se na tabela 4.2 os elementos de um grupo de ponto que apresentam um
coeficiente. Estes indicam que se trata de um agrupamento de elementos iguais, e o
coeficiente indica quantos são. Cada elemento de um grupo de ponto forma uma classe, e o
coeficiente indica quantos elementos compõem dada classe a qual eles pertencem.
Daqui por diante, referir-se-á aos elementos de um grupo de ponto pelas ações que
sobre eles atuam, as operações de simetria.
O conceito de grupos de ponto faz parte de uma teoria mais ampla da matemática, a
teoria de grupo. Nela, um grupo é um conjunto de elementos que se combinam de acordo com
quatro axiomas (HALL, 1967). Um grupo constituído de elementos de um grupo de ponto
possui representações, como será visto, que permitem distinguir e classificar os níveis de
energia de moléculas a partir de considerações de simetria.
1. Fechamento. Para quaisquer dois elementos de um grupo, o produto dos dois resulta
em outro elemento único do grupo, que também pertence ao grupo;
2. Associativa. Quando na multiplicação de três elementos de um grupo, a ordem da
efetuação das multiplicações não torna o resultado diferente, ou seja,
( ) ( )
3. Identidade. Dentre os elementos de um grupo há um elemento de identidade, denotado
, cuja propriedade é de ao multiplicá-lo a um elemento , o resultado é o próprio .
41
4. Inversa. Todo elemento de um grupo possui um inverso (ou recíproco) , de
maneira que
42
caráteres desses blocos é consequentemente o caráter da representação irredutível, que por sua
vez é igual ao caráter da representação redutível.
( ) ( )
∑ ( )
É possível montar uma tabela com os caráteres das representações para cada operação de
simetria, estas são as tabelas de caracteres, ou de caráteres. Estas tabelas são um modo prático
de se exibir as simetrias de uma molécula pertencente a um determinado grupo de ponto.
movimentos
1 1 1 1
1 1 -1 -1
1 -1 1 -1
1 -1 -1 1
Fonte: BARROW, 1962, p.169.
43
vários orbitais eletrônicos, como consequência dos movimentos moleculares
(BARROW,1962). As células com valores numéricos representam os caráteres dos blocos das
representações irredutíveis das respectivas operações de simetria.
Com essas propriedades, pode-se estabelecer as algumas relações. A ordem de um grupo pode
ser expressa como sendo (SALA, 2008)
44
∑ ( )] ( )
( )
∑ ( )
Para utilização das propriedades de ortogonalidade dos grupos, falta detalhar uma
característica das propriedades de simetria. Essas podem ser agrupadas em dois tipos, próprias
e impróprias. As operações próprias são as que somente executam rotações quando aplicadas.
As impróprias envolvem rotação-reflexão. Na tabela 4.4 listam-se as operações e seus ângulos
equivalentes.
45
Para construir a base é necessário calcular seus caráteres. Cada elemento do
grupo, as operações de simetria, contribuirá com um caráter. As operações de simetria
próprias têm seus caráteres calculados por
( ) ( )
( ) ( )
Onde é seu ângulo de rotação ou equivalente da operação calculada. Nas duas expressões,
significa o número de átomos cujas posições não mudam de sítio quando na atuação de
determinada operação, os que permanecem na diagonal da matriz.
O resultado será
( )
∑ ( )
( )
Onde é o caráter da representação relativo à operação .
∑ ( )
46
CAPÍTULO 5
TEORIA DO ESPALHAMENTO RAMAN
Da teoria clássica do eletromagnetismo, tem-se que uma carga elétrica sob a ação de
forças deve emitir energia em forma de radiação eletromagnética. Como os átomos possuem
cargas elétricas dispostas como dipolos, durante uma vibração destes dipolos, que é um
movimento com aceleração e desaceleração alternantes, deverá haver emissão de radiação. E
a frequência desta emissão será a mesma da vibração (HERZBERG, 1956).
47
Figura 5.1: (a) Onda eletromagnética que se propaga na direção . (b) Características do componente elétrico da
onda eletromagnética.
⃗
∮⃗ ( )
Que para ondas progressivas, também vale a quarta equação de Maxwell, a lei de Ampère,
⃗⃗⃗
∮⃗ ( )
48
Uma grandeza importante usada em espectroscopia vibracional é o número de onda ( ̃),
definido como,
̃ ( )
̃ ( )
Sendo , a variação de energia entre dois estados durante uma transição molecular,
.E é a constante de Planck. A energia também pode ser escrita como . Em
49
Figura 4.2: Relação entre faixas de radiações eletromagnéticas e suas fontes.
Fonte: http://www.novafisica.net/projetos/microondas/conteudo.html
Dessa interação, informação direta do espectro de modos normais (fônons) pode ser
medida pela variação da energia incidente e espalhada, por meio da conservação da energia,
50
∑ ⃗ ⃗ ( )
⃗
⃗ ⃗ ⃗ ( )
⃗ ( ) ( )
⃗ ⃡⃗ ( )
52
Este vetor oscila no tempo com uma sobreposição de frequências, do campo externo e da
molécula (WILSON; DECIUS; CROSS, 1980) (SALA, 2008). Em uma consideração harmônica,
pode-se aproximar ⃡ por uma expansão em série de Taylor truncada no segundo termo em
função de uma coordenada normal de vibração da molécula,
⃗ ( ) ( )
Tem-se,
⃡
⃡ ⃡⃗⃗⃗ ( ) ( )
⃡
⃗ ⃡⃗⃗⃗ ( ) ( ) * ( ) ] ( ) ] ( )
* + [ ]* + ( )
⃡⃗
A condição de variação da polarizabilidade é expressa por ( ) , que deve ser
53
Figura 5.3: Aproximação de uma curva de potencial por uma parábola, uma aproximação harmônica.
Os potenciais de ligação molecular são curvas como vista acima, e essas curvas
graduadas em subníveis energéticos, os subníveis de energia vibracional, com espaçamento
. Durante o efeito Raman, o processo de absorção e emissão (espalhamento) de
energia por radiações são realizadas por meio de fótons, ocorrendo transições entre níveis
vibracionais. O esquema da figura 5.4 ilustra a ideia. Se fótons emitidos tiverem a mesma
energia dos absorvidos, denomina-se o processo de espalhamento elástico de luz, caso tenham
energia diferente, denomina-se espalhamento inelástico de luz.
Na figura 5.4 vê-se o esquema de uma secção do potencial com três níveis, o
fundamental, um excitado e o estado virtual no qual a molécula reside durante a excitação da
fonte laser. O diagrama (a) ilustra o efeito Raman-Stokes, onde a energia do fóton
54
incidente eleva a molécula a um nível vibracional virtual, e quando a molécula retorna a um
nível estacionário ela emite um fóton com a energia excedente; como o nível inicial e de
maior energia que o inicial, a energia do fóton emitido será menor do que o absorvido, sendo
a diferença igual à diferença de energia entre esses níveis. No diagrama (b) tem-se o
espalhamento Rayleigh, o qual consiste em absorção e emissão de fótons de mesma energia.
Em (c) representa-se o Raman-anti-Stokes. Neste, a molécula já estando em um nível
energético excitado absorve energia de um fóton, e ao retornar do estado virtual estaciona em
um estado de menor energia que o inicial, emitindo um fóton com a energia do incidente
acrescida da diferença entre os níveis inicial e final. Nos dois casos de espalhamento Raman,
o termo é a energia vibracional da molécula.
(⃗ ) ( )
⃗ ⃗ ⃗ ( )
55
Figura 5.5: (a) Espalhamento Raman-Stokes. (b) Espalhamento Raman anti-Stokes.
A banda anti-Stokes é muito menos intensa do que a Stokes. Isso é explicado devido
ao fato de a população de moléculas no estado fundamental ser muito maior do que a
população em um estado excitado. A figura 5.7 ilustra a diferença entre as intensidades
espalhadas, ainda que fora de escala. Sendo assim, as moléculas excitadas antes da incidência
de radiação emitirão mais energia ao irem do estado excitado inicial para o fundamental final.
Porém, uma descrição quantitativa é realizada por mecânica quântica.
56
Figura 5.7: Representação da diferença de intensidade das três possibilidades de espalhamento.
Figura 5.8: Diagramas de Feynman para o espalhamento da luz. (a) Representa o espalhamento Raman-Stokes.
(b) Tem-se o espalhamento Raman-anti-Stokes. Em (c) o espalhamento Rayleigh.
Figura 5.9: Relação entre a distância dos núcleos e variação do momento de dipolo.
58
Figura 5.10: Variação da polarizabilidade em relação a um eixo de coordenadas.
A figura 5.11 mostra duas moléculas com representações gráficas para as mudanças
na polarização em cada modo normal. Em (a) todos os modos normais são ativos em Raman.
Porém, em (b) apenas o modo é ativo em Raman. A atividade Raman para a molécula de
pode ser ilustrada melhor considerando-se um gráfico para as duas possibilidades para
59
⃡⃗ ⃡⃗
( ) . Na figura 5.12 têm-se dois gráficos para as suas possibilidades de ( ) . Se diferente
de zero, significa que não se trata de um ponto de mínimo para a polarização em função da
⃡⃗
coordenada normal de vibração. Já para quando ( ) , sim, e isto configura o fato de a
molécula ter sua polarizabilidade alterada para intervalos pequenos da coordenada normal;
que é o intervalo da aproximação harmônica.
⃡
( ) ( ) ∫ ( ) ∫ ( )
60
Para o espalhamento Raman, a ortogonalidade entre as funções da primeira integral à direita
faz com que esse termo seja zero; caso contrário, serão funções do mesmo estado vibracional,
e consequentemente tratar-se-á de espalhamento Rayleigh. No segundo termo tem-se que a
derivada deve ser diferente de zero, situação que há variação da polarizabilidade com a
vibração. Sendo assim, a expressão para a atividade em Rama é
⃡
( ) ( ) ∫ ( )
Na quantização da energia, seus estados são descritos por funções de onda escritas em
função de coordenadas normais, ou seja, ( ). Transições entre dois estados quaisquer,
cujos números quânticos, anterior e posterior, sejam e , respectivamente, são dadas
considerando-se os componentes do tensor de polarizabilidade. Isto é expresso por
( ) ∫ ( ) ( ) ( )
Esta expressão determina a atividade de um modo normal cuja coordenada normal é . Outra
maneira de se expressar essa integral é pela notação de Dirac, na qual se tem
( ) ⟨ ( )| | ( )⟩ ( )
( ) ⟨ ( )| | ( )⟩ ( )
Esta equação pode ser escrita como (BERNATH, 1995) (SALA, 2008) (BARROW, 1962)
(NAKAMOTO, 2009)
61
∑ ( )
Esse produto triplo deve ser diferente de zero para que se tenha transição. O estado
vibracional fundamental é totalmente simétrico e invariante para qualquer operação de
simetria, este é o . A autofunção ( ) tem a mesma simetria de , logo, assume a
mesma representação irredutível, representada por . Consequentemente, para que a
transição seja permitida, diferente de zero, deve ser diferente de zero. Isso somente
ocorre caso essas duas representações não sejam ortogonais, que implica elas serem a mesma.
Próprias: ( ) ( )
Impróprias: ( ) ( )
62
Figura 5.12: Elipsoide de polarizabilidade
De maneira detalhada a expressão (5.12) pode ser expressa, de outra maneira, como
, ( )
, ( )
O que mostra que a polarização da molécula pode ocorrer em direções diferentes da do campo
incidente. E se , ,e , consequentemente, a radiação espalhada será
despolarizada, pois será nulo, mas e não.
63
Com isto é notório o fato de que se podem obter informações adicionais acerca do
cristal com o emprego de radiação polarizada e diferentes direções de incidência; as ditas
medidas de polarização (SALA, 2008). Por exemplo, com este tipo de medida pode-se ter a
intensidade de espalhamento por um cristal para direções de polarização paralelas ou
perpendiculares.
| ̂ ⃡ ̂ | ( )
64
Onde ̂ é o vetor (linha) unitário de polarização da radiação incidente, e ̂ é o vetor (coluna)
unitário da radiação espalhada; em coordenadas cartesianas. E ⃡ é o tensor de
polarizabilidade.
( ) ( +
( + ( +
( ) ( +
65
REFERENCÍAS
Alves, Van Sérgio da Silva. Notas de Aula de Métodos da Física Matemática II. Faculdade de
Física. UFPA. 2011.
Ashcroft, Neil W.; Mermin, N. David. Solid State Physics. Harcourt College Publishers.
1976.
Bernath, Peter F. Spectra of Atoms and Molecules. Oxford University Press. 1995.
Brand, J. C. D.; Speakman, J. C. Molecular Structure: The Physical Approach. 2a ed. John
Wiley & Sons. 1975.
Eyring, Henry; Walter, John; Kimball, George E. Quantum Chemistry. John Wiley & Sons,
Inc. 1945.
Ferraro, John R.; Nakamoto, Kazuo; Brown, Chris W. Introductory Raman Spectroscopy. 2a
ed. Academic Press. 2003.
Herzberg, Gerhard. Molecular Spectra and Molecular Structure; Vol.2: Infrared and Raman
Spectra of Polyatomic Molecules. D. van Nostrand Company, Inc. 1956.
Holler, F. J.; Skoog, D. A.; Crouch, S. R. Princípios de Análise Instrumental. 6ª ed. Bookman.
2009.
Iyengar, Srinivasan S. Lecture Notes on Atomic and Molecular Quantum Theory. Indiana
University.Disponível em: http://www.indiana.edu/~ssiweb/. Acesso em: 08/11/2011.
Marion, Jerry B. Classical Dynamic of Particles and Systems. 2a ed. Academic Press. 1970.
Megaw, Helen. "Crystal Structure of Barium Titanate". Nature 155 (3938): 484. 1945.
Nakamoto, Kazuo. Infrared and Raman Spectra of Inorganic and Coordination Compounds;
Part A : Theory and Applications in Inorganic Chemistry. 6a ed. John Wiley & Sons, Inc.
2009.
Oliveira, Ivan S.; Jesus, Vitor L. B. de. Introdução à Física do Estado Sólido. Livraria da
Física. 2005.
Patterson, James; Bailey, Bernard. Solid State Physics: Introduction to the Theoty. 2a Ed.
Springer. 2007.
Poporati, Alessandro A. et al. Raman Tensor elements for Multiferroic BiFeO3 with
Rhombohedral R3C Symetry. J. Raman Spectrosc. 41, 84-87. 2010.
Santos, Elinei P dos. Notas de Aula de Mecânica Clássica I. Faculdade de Física. UFPA.
2011.
67
Silva, Paulo R. N. da. Emprego de Óxidos Tipo Perovskita nas Oxidações do Propano e CO.
Quim. Nova. Vol. 27, No 1, 35-41. 2004
Teixeira, Wilson; Toledo, M. Cristina M. de; Fairchild, Thomas R.; Taioli, Fabio. Decifrando
a Terra. Companhia Editora Nacional. 2009.
Tuckerman, Mark. Lecture Notes on Quantum Chemistry and Dynamics. New York
University. Disponível em: http://www.nyu.edu/classes/tuckerman/quant.mech/index.html.
Acesso em: 8/11/2011.
Wilson, E. Bright; Decius, J. C.; Cross, P. C. Molecular Vibrations: The theory of Infrared
and Raman Vibrational Spectra. Dover Publications. 1980.
68
Apendice A
SOLUÇÃO DE SISTEMAS ACOPLADOS ATRAVÉS DE MODOS
NORMAIS
Oscilações Acopladas
O objetivo aqui é encontrar uma descrição para o sistema no qual cada oscilador
acoplado possa ser especificado quanto à sua oscilação. Para tanto, utiliza-se um exemplo de
dois osciladores acoplados, ligados por molas tanto entre si quanto a extremidades fixas,
como exibido na figura A.1.
Figura A.1: Sistema massa mola de dois corpos e três molas sem massa.
69
Consideram-se massas iguais, M, para ambos os corpos, e as ligações das
extremidades com mesma constante de força. Com isso têm-se os deslocamentos e para
e , respectivamente. Aplicando a segunda lei de Newton e a lei de Hooke,
̈
{
̈
̈ ( )
{
̈ ( )
( )
{
( )
( )
{
( )
( )
{
( )
( )
| |
( )
( ) ( )
( ) ( )
√( ) √( )
70
Explicitando-se ,
√ √
( )
{
( )
Em que se tem uma combinação linear de casos particulares regidos pelas frequências
características encontradas. As equações de movimento ficam
( )
{
( )
Pode-se saber como o sistema se comporta de acordo com cada frequência ao se substituir
cada uma na equação acima.
Para √
( (√ ) ,
( (√ ) ,
{
( )
{
( )
71
{
e magnitudes iguais.
Para √
( (√ ) ,
( (√ ) ,
{
( )
{
( )
magnitudes iguais.
( )
{
( )
72
O que será feito agora é definir um sistema de coordenadas que exatamente agrupe os
deslocamentos regidos por e , separando-os. Para tanto, estabelecem-se as seguintes
coordenadas
Ou de maneira reversa
( )
( )
̈
{
̈
Agrupando e
̈ ( )
{
̈ ( )
̈ ( )
{
̈ ( )
( ̈ ̈ ) ( )
{
( ̈ ̈ ) ( )
̈ ( )
{
̈
( )
{
( )
73
As coordenadas e são as coordenadas normais do sistema, pois oscilam numa
frequência única e bem definida. O diagrama da figura A.2 ilustra a separação por frequência
que foi realizada.
REFÊNCIAS
Marion, Jerry B. Classical Dynamic of Particles and Systems. 2a ed. Academic Press. 1970.
74
Apendice B
A LUZ COMO ONDA ELETROMAGNÉTICA
Considera-se que as frentes de onda que atingem um objeto são planas, o que pode ser
devido à distância, ou às dimensões do objeto. Essas frentes de onda são definidas pelos
campos ⃗ e ⃗ . As linhas de força do campo ⃗ são paralelas ao eixo e perpendiculares ao
eixo y; as do campo ⃗ são perpendiculares a e paralelas a . As componentes não nulas
desses campos | ⃗ | ̂ e | ⃗ | ̂ para os campos ⃗ e ⃗ , respectivamente. Esta onda plana tem uma
evolução no tempo e na direção ̂, dependendo, assim, de e .
⃗ ( )
⃗ ( )
A relação entre os dois campos pode ser descrita aplicando-se a terceira equação de
Maxwell, relativa à lei de indução de Faraday,
∮⃗
75
Esta integral de caminho é em torno do retângulo de lados direito e esquerdo,
respectivamente, ⃗ e ⃗ ⃗ , e parte inferior e superior igual a .
Cuja solução é
∮⃗ ∮( ̂ ) ( ̂ ̂ )
∮( ̂ ) ( ̂ ̂ )
∫ ( )( ̂ ) ∫ ( ̂ )( ̂ ) ∫ ( )( ̂ ) ∫( ̂ ̂ )( ̂ )
∫ ∫ ( ) ( ) ( )( )
∮⃗
⃗
⃗
⃗ ⃗
76
⃗
Tanto ⃗ quanto ⃗ são funções de ambos x e t. Porém ao se deduzir , supõe-se t como
⃗
constante. Analogamente para , para o qual x é tido constante. Isto leva a uma expressão
⃗ ⃗
A diferença de sinal expressa o fato de que quando ⃗ se afasta de x, ou seja, tem maior
intensidade, ⃗ se aproxima de x, ou seja, tem menos intensidade.
⃗
( )] ( )
⃗
( )] ( )
Sendo assim,
⃗ ⃗
( ) ( )
( )
( )
Ou,
⃗ ⃗
Tem-se assim que a velocidade da onda é igual à razão das amplitudes dos campos.
A análise do fluxo do campo elétrico é feito de maneira similar à feita para o fluxo do
campo magnético. Nesta, utiliza-se a equação da lei de Ampère estendida por Maxwell
(quarta equação de Maxwell),
∮⃗ ( *
77
Levando em conta que , pois não há corrente de indução em ondas eletromagnéticas
propagando-se no vácuo. Sendo assim,
∮⃗
Esta equação mostra que a variação do fluxo de um campo elétrico produz um campo
magnético ao redor de .
∮⃗ ∮( ̂) ( ̂ ̂ )
∮( )̂ ( ̂ ̂ )
∫ ( )( ̂ ) ∫ ( ̂)( ̂ ) ∫ ( )( ̂ ) ∫ ( ̂ ̂)( ̂ )
∫ ∫ ( ) ( ) ( )( )
∮⃗
⃗ ⃗
Em derivadas parciais,
⃗ ⃗
O sinal negativo é devido ao mesmo motivo da equação com derivação parcial anterior. A
variação positiva de ⃗ no tempo é acompanhada de uma variação negativa de ⃗ no espaço.
⃗
( )] ( )
⃗
( )] ( )
Logo,
⃗ ⃗
( ) ( )
( )
( )
79
O valor resultante de c, após se substituírem as constantes, é o valor da velocidade da
luz no vácuo. Esta velocidade foi obtida nesta dedução a partir de considerações para ondas
eletromagnéticas.
REFÊNCIAS
80
APENDÍCE C
MODOS NORMAIS DE VIBRAÇÃO E ATIVIDADE EM RAMAN PARA
Como exemplo do que foi exposto na seção 4.2.5 tomemos a molécula de água .
Ela pertence ao grupo de ponto , e sua tabela de caracteres é mostrada na tabela C1.
1 1 1 1
1 1 -1 -1
1 -1 1 -1
1 -1 -1 1
( ) ( ) ( ) ( )
81
Embora facilmente identificável por inspeção, a ordem do grupo é dada pela aplicação
da equação (4.8), que fornece, tomando ,
∑ ( )] ]
( )
( ) ]
( )
( ) ( ) ( ) ]
( )
( )( ) ( ) ]
( )
( )( ) ( ) ]
( )
( )
Estes são as simetrias para os três modos normais de vibração para a molécula de .
Sendo assim, os modos normais de vibração dessa molécula se transformam de acordo com
estas representações irredutíveis do grupo de ponto (BARROW, 1962).
82
Para conhecermos quais espécies de simetria possuem atividade em Raman,
prosseguimos com que é exposto em 5.2.
Primeiro deve-se obter a base , construída pelas relações (5.22) e (5.23). Sendo
assim,
( ( ( (
) ) ) )
Por já se ter informações de e , segue-se por calcular quais modos são ativos,
deste modo
( )
]
( )
( ) ( ) ]
( )
( ) ( ) ]
( )
( ) ( ) ]
Os valores para encontrados, por serem diferentes de zero, indicam que todas as
espécies de simetria possuem atividade em Raman.
REFERÊNCIAS
83
Barrow, Gordon M. Introduction to Molecular Spectroscopy. McGraw-Hill. 1962.
Bernath, Peter F. Spectra of Atoms and Molecules. Oxford University Press. 1995.
Brand, J. C. D.; Speakman, J. C. Molecular Structure: The Physical Approach. 2a ed. John
Wiley & Sons. 1975.
84
APENDÍCE D
HISTÓRIA DA ESPECTROSCOPIA POR ESPALHAMENTO DE LUZ
Um cientista polonês chamado Erazmus Ciolek Witelo (1225 – 1275) escreveu um dos
mais importantes tratados sobre óptica do período medieval. Nele, Witelo realizou
experiências similares as de Teodorico, com as quais conseguiu reproduzir o arco-íris
85
secundário e os ângulos relativos entre a incidência da luz sobre as gotículas de água e o
ângulo de observação. Estabeleceu o ângulo em aproximadamente 42 graus para o arco-íris
primário e 50 graus para o secundário (BASSALO, 1992).
O fenômeno de dispersão da luz em suas cores componentes foi descrito com o rigor
científico por Isaac Newton (1643 – 1727). Em 1672, relatou à Royal Society experiências
realizadas em 1665 com prismas vendidos em mercados como brinquedos. Uma descrição
mais completa foi publicada em 1704 em sua obra Opticks. Nesse famoso experimento, I.
Newton fez incidir um feixe luminoso, proveniente de uma pequena fenda, sobre um prisma,
localizado num recinto escuro. O feixe luminoso emergente do prisma foi projetado num
anteparo, onde se observou a decomposição da luz em suas cores componentes. Essa imagem
seguia uma ordem, do vermelho ao violeta, da qual Newton estabeleceu os diferentes índices
de refração para cada cor. A essa imagem projetada pelo prisma I. Newton chamou de
espectro; introduzindo o termo. I. Newton experimentou impor dispersão, com um prisma, a
feixes de cores individuais advindas de outro prisma, porém não houve decomposição.
Newton conseguiu ainda refinar seu experimento com o uso de uma lente colimadora
promovendo a melhora do espectro resultante (WILLIAMS, 1976) (PARK, 2006).
Um dos que subscreviam à ideia de luz formada por corpúsculos era Étienne-Louis
Malus (1775 – 1812). Em experiências tentou encontrar fundamentos corpusculares no
fenômeno da polarização. E. Malus propunha um modelo de composição dos raios por
partículas não esféricas, porém arredondadas, que ele denominava de moléculas luminosas. A
esses corpúsculos ele associou três eixos ortogonais que seriam orientáveis na direção da luz.
Com esse modelo ele tentou explicar a polarização da luz em termos de paralelismo ou não
entre os feixes e os eixos das moléculas luminosas. Contudo, foi a teoria ondulatória que viria
a explicar melhor tanto a polarização quanto a dupla refração. Ainda que não tenha tido êxito
no que pretendia, seus esforços levaram-no a descobrir em 1809 que feixes luminosos eram
polarizados ao refletirem em vidros de janelas que analisava (ROCHA, 2002) (NYE, 2002).
88
sob a ação de estresse. Em seu artigo ele descreve em forma de várias proposições como
diversos materiais, minerais, animais e vegetais, apresentam tais propriedades em certas
condições (BREWSTER, 1816).
Um grande avanço na história da ótica foi dado por Joseph Fraunhofer (1787 – 1826).
Inicialmente soprador de vidro, teve a oportunidade de ser aprendiz de grandes mestres até se
tornar um dos maiores oculistas de sua época. Muito hábil no trato de vidros, produziu
prismas e outros instrumentos óticos de altíssima qualidade. Com suas experiências a respeito
da dispersão de luz alcançou um nível de detalhes dos espectros nunca antes obtidos, o que
lhe permitiu encontrar várias linhas escuras no espectro solar, as Linhas de Fraunhofer
(FRAUNHOFER, 1817). Apesar da descoberta, não pode explicá-las. Ele encontrou próximo
de 700 linhas e classificou as mais pronunciadas por linhas de A até H. Estas linhas tornaram-
se padrões em medições de espectros. Fraunhofer também estendeu a ideia do experimento de
fenda única de T. Young e criou a rede de difração (1823). Sua habilidade grande e consegui
fabricar uma rede de transmissão em vidro com uma ponta de diamante e um processo
mecanizado, esta foi a primeira deste tipo. Suas redes de difração eram tão eficientes que
permitiram as melhores medições do comprimento de onda das cores componentes da luz até
então feitas. Na produção de seus instrumentos óticos de qualidade excelente J. Fraunhofer
também contada com artesãos habilidosos de um monastério dominicano local (WILLIAMS,
1976) (BRITANNICA, 2011) (ASIMOV, 1966) (NYE, 2002).
A primeira medida de absorção de luz, do infravermelho, foi feita por John Friedrich
William Herschel (1792 – 1871), filho de Friedrich Wilhelm Herschel, em 1840. Nesse
experimento, ele demonstrou que a absorção de radiação térmica da água é diferente da
absorção exibida por certas bebidas constituídas de álcool (WILLIAMS, 1976).
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A explicação dessa relação entre absorção e emissão foi dada por Gustav Robert
Kirchhoff (1824 – 1887). G. Kirchhoff estudou a emissão a luz solar e de chamas de vários
elementos químicos, bem como absorções, e inferiu uma lei, a lei de Kirchhoff. Esta lei
exprime que a razão entre a emissividade (poder de emissão) e a absortividade (poder de
absorção) de um mesmo comprimento de onda é constante para todos os corpos a uma mesma
temperatura. Isto implica o fato de um gás que emite um tipo de espectro com determinadas
linhas, deve possuir um espectro de absorção exibindo absorção das mesmas linhas. Fato que
consequentemente explicou as Linhas de Fraunhofer, cujas linhas escuras eram devidas a
absorções pelas camadas gasosas mais externas do sol. G. Kirchhoff associou-se ao químico
Robert Wilhelm Bunsen (1811 – 1899) cuja cooperação iniciou a análise química por
espectros de muitos elementos, bem como da atmosfera solar. Esta cooperação é o início da
história da espectroscopia como técnica de análise da constituição da matéria, tanto na Terra
quanto com o auxílio de um telescópio para estudar corpos fora da Terra. Com esses estudos
ficou estabelecido que cada elemento químico possui um espectro característico, solucionando
assim a questão das Linhas de Fraunhofer (WILLIAM, 1976) (BRITANNICA, 2011)
(ASIMOV, 1966). Em um artigo os dois fundamentaram o novo método de análise baseado
nos espectros, Kirchhoff; Bunsen (1861, p.452): “Pode-se basear na existência dessas raias
um método de análise qualitativa que alarga consideravelmente o domínio das investigações
químicas e permite resolver problemas até aqui inabordáveis”.
Outra questão era a respeito da cor azul do céu. John Tyndall (1820 – 1893), em uma
série experimentos (TYNDALL, 1869), mostra que o azul que obtinha de líquidos
vaporizados iluminados por uma lâmpada elétrica poderia estar relacionado com o azul
exibido pelo céu. Os experimentos de J. Tyndall consistiam de medir os ângulos de
polarização da luz emitida por nuvens luminosas azuis exibidas quando líquidos vaporizados
contidos em um tudo de vidro eram iluminados por um filamento elétrico. Como resultado,
observou que para todos os tipos de substâncias tinham uma polarização preferencial que era
em ângulos retos em relação ao feixe incidente, e que era possível, caso se fizesse com que as
partículas ficassem finas o suficiente, obter que todas as substâncias exibissem um tom de
azul que Tyndall (1869, p. 387) referiu-se como “... uma cor rivalizável ao mais puro céu
italiano”. De acordo com ele, Tyndall (1869, p. 394), “a ideia de que a luz do céu seja devida
à ação de matéria finamente reduzida, deixando a atmosfera um meio túrbido através do qual
observamos a escuridão do espaço, data tão longe quanto Leonardo da Vinci”. Em seus
experimentos, J. Tyndall utilizava um instrumento chamado prisma de Nicol, assim chamado
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em referência ao seu desenvolvedor. Este instrumento fazia uso das propriedades das calcitas
em polarizar luz. O prisma consistia de duas partes de calcita coladas por uma camada de
resina, chamada de balsamo do Canada, montado de maneira que se pode facilmente
determinar o plano de polarização da luz proveniente da outra parte de calcita (ASIMOV,
1966) (TYNDALL, 1869).
Até por volta de 1870 os estudo de espectros eram feito visualmente e com desenhos
manuais, com os instrumentos chamados espectroscópios. A partir de 1870 placas fotográficas
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tornaram-se mais acessíveis, e com isso os espectroscópios foram melhorados, dando origem
aos espectrógrafos (WILLIAMS, 1976).
Outro avanço feito na maneira de se medir espectros foi feito com a invenção dos
interferômetros. Os interferômetros são instrumentos que permitem medições precisas de
feixes luminosos quanto aos seus comprimentos de onda. São os mais relevantes aqui: o de
Michelson, construído por Albert Abraham Michelson (1852 – 1932), em 1893; o outro o de
Fabry-Perot, construído por Charles Fabry (1867 – 1945) e Alfred Perot (1863 – 1925), em
1896 (BRITANNICA, 2011). O advento dos interferômetros propiciou mais uma melhoria
nos instrumentos de medição de espectros, dando origem aos espectrômetros.
Após a formulação de J. Maxwell com a qual ficou demonstrado que a luz é uma onda
eletromagnética, em 1905, Albert Einstein (1879 – 1955) estabeleceu que a luz interage com a
matéria comportando-se como um feixe de partículas, os quanta, que são pacotes com
quantidade determinada de energia. Essas partículas, denominadas fótons, são capazes de
provocar a ejeção de elétrons da superfície de metais, quando os quanta possuem energia
(frequência) mínima para tal, o chamado efeito fotoelétrico (LOPES, 1992) (BRITANNICA,
2011) (TIPLER, 2003).
Max von Laue (1879 – 1960), em 1912, sugeriu que os raios-x de W. Röntgen teriam
comportamento ondulatório cujos comprimentos de onda seriam de mesma ordem de
magnitude que o espaçamento dos materiais, o que permitiria que um cristal regular
funcionasse como uma rede de difração tridimensional. No mesmo ano, William Henry Bragg
(1862 – 1942) estabeleceu um método de análise de raios-x difratados por cristais. Propôs que
os cristais seriam formados por planos atômicos de espaçamento regular, os planos de Bragg,
e que raios difratados por esses planos interfeririam uns com os outros, para ângulos de
espalhamento iguais para os feixes incidente e espalhado. Deduziu assim a célebre lei de
Bragg (BRITANNICA, 2011) (TIPLER, 2003).
A ideia de que o espalhamento de raios-x ocorria por colisões entre os fótons dos
raios-x com os elétrons do material foi proposta por Arthur Holly Compton (1892 – 1962) em
1922 (publicado em 1923). A. Compton propôs que o espalhamento dos raios-x seriam
colisões entre um fóton e um elétron obedecendo às leis da mecânica relativística. Em seus
experimentos, observou também que os comprimentos de onda dos feixes espalhados eram
em geral maiores, ou seja, havia um deslocamento em frequência do feixe espalhado, e
estavam em função do ângulo de incidência (LOPES, 1992) (TIPLER, 2003).
Ao estudar a interação de luz com a matéria Léon Nicolas Brillouin (1889 – 1969), em
1922, previu que a frequência da radiação espalhada pelo meio sofreria deslocamentos devido
a variações na densidade do meio. Esta variação seria em consequência de deslocamentos
relativos entre os planos de Bragg ocasionados por ondas de baixa frequência, ou seja,
acústicas, presentes no meio. Os deslocamentos na frequência espalhada são explicados por
efeito Doppler associado aos deslocamentos dos planos, que funcionam como uma rede de
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difração. A descoberta desse fenômeno iniciou o ramo da acusto-ótica, que estuda os efeitos
de ondas acústicas no índice refrativo dos materiais e suas consequências na interação de
ondas de luz com esse material (PIKE, 2002) (SHELBY; et al, 1985) (ASHCROFT, 1976).
Outra previsão teórica acerca de espalhamento de luz foi realizada por Adolf Gustav
Smekal (1895 – 1959) em 1923. A. Smekal previu que o espalhamento inelástico de luz
monocromática incidente sobre gases, líquidos ou sólidos sofre deslocamento em frequência.
Ele estudava a dependência da velocidade da luz em um meio em relação ao índice de
refração desse meio, e por consequência a dependência em relação ao comprimento de onda
da luz; o que é conhecido por dispersão de ondas. Considerando em seus estudos o princípio
da correspondência de Bohr e uma estrutura quântica para a luz, ele determinou que a luz
espalhada exibiria um feixe de mesma frequência que o feixe incidente, bem como dois feixes
com deslocamento em frequência, um com frequência maior e outro com frequência menor
(MOMBER, 2010) (SINGH, 2002).
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Resumo dos acontecimentos históricos:
1859 – Relação entre absorção de emissão de luz pela matéria (G. Kirchhoff)
1860 – Estudos espectroscópicos sobre emissão e absorção de luz por elementos químicos (G.
Kirchhoff e R. Bunsen)
1869 – Polarização de luz emitida e relação com o tamanho das partículas (J. Tyndall)
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1887 – Produção e detecção de ondas eletromagnéticas (H. Hertz)
1922 – Espalhamento inelástico da luz por ondas acústicas no material (L. Brillouin)
1923 – Efeito Compton, raios-X constituídos de fótons que colidem com os elétrons (A.
Compton)
1928- Comprovação experimental das previsões de Smekal, efeito Raman (C. Raman)
REFEÊNCIAS
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