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2021

Curso preparatório para Certificação CNEN em


Supervisor de Proteção Radiológica

Fundamentos de
Física Atômica e Gama acessória em Radioproteção
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Fundamentos de Física Atômica e Nuclear – Certificação CNEN para Supervisor em Proteção Radiológica

SUMÁRIO

1 ESTRUTURA DA MATÉRIA ....................................................................... 5


1.1 Raio atômico ........................................................................................................6
1.2 Estrutura eletrônica ..............................................................................................7
1.3 Equivalência entre massa e energia .......................................................................8
1.3.1 Energia da ligação dos átomos .............................................................................. 9
1.3.2 Estabilidade nuclear .............................................................................................. 9
1.4 TRANSIÇÕES ATÔMICAS E NUCLEARES................................................................. 11
1.4.1 Estados excitados ................................................................................................ 11
1.4.2 Transição eletrônica ............................................................................................ 11
1.4.3 Transição nuclear ................................................................................................ 12
2 RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS E RADIAÇÕES IONIZANTES ..... 12
2.1 Tipos de desintegração ....................................................................................... 13
2.1.1 Desintegração alfa ............................................................................................... 13
2.1.2 Desintegração beta negativa (𝜷 −) ..................................................................... 14
2.1.3 Desintegração beta positiva (𝜷 +) ...................................................................... 16
2.1.4 Emissores beta puros .......................................................................................... 16
2.1.5 Desintegração por captura eletrônica................................................................. 17
2.1.6 Desintegração por radiação gama....................................................................... 18
2.2 Elétrons-Auger .................................................................................................... 18
2.3 Conversão interna............................................................................................... 19
2.4 Transição Isomérica ............................................................................................ 19
2.5 Constante de decaimento ................................................................................... 20
2.6 Atividade (A)....................................................................................................... 20
2.7 Meia-vida física (𝑻𝟏/𝟐) ....................................................................................... 21
2.8 Vida média (𝒕) ..................................................................................................... 21
2.9 Série Radioativas ................................................................................................ 22
2.10 Equilíbrio secular ................................................................................................ 23
2.11 Fontes de radiação naturais e artificiais ............................................................... 23
2.11.1 Radônio e torônio................................................................................................ 25
2.11.2 Radiação cósmica ................................................................................................ 26
2.12 Fontes artificiais ................................................................................................. 26
2.12.1 Tubos de raios X .................................................................................................. 26
2.12.2 Aceleradores de elétrons .................................................................................... 27

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2.12.3 Acelerador de Van de Graff ................................................................................. 28


2.12.4 Ciclotrons............................................................................................................. 29
2.12.5 Fonte de nêutrons ............................................................................................... 30
2.12.6 Bomba de cobalto ............................................................................................... 31
2.12.7 Irradiador industrial ............................................................................................ 32
2.12.8 Reatores nucleares .............................................................................................. 33
3 INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM A MATÉRIA ..................................... 35
3.1 Interação da radiação eletromagnética com a matéria ......................................... 35
3.1.1 Efeito Fotoelétrico ............................................................................................... 36
3.1.2 Efeito Compton ................................................................................................... 38
3.1.3 Formação de par ................................................................................................. 39
3.1.4 Conclusão sobre os efeitos fotoelétrico, Compton e produção de pares ........... 40
3.2 Transferência de energia ..................................................................................... 40
3.3 Atenuação .......................................................................................................... 41
3.4 Interação de nêutrons com a matéria .................................................................. 44
3.5 Interação das radiações diretamente ionizantes com a matéria............................ 48
3.5.1 Poder de freamento restrito ou LET.................................................................... 48
3.5.2 Alcance das partículas carregadas em um material ............................................ 49
3.5.3 Interação das partículas α com a matéria ........................................................... 51
3.6 Interação de fragmentos de fissão com a matéria ................................................ 52
3.6.1 Alcance de fragmentos de fissão......................................................................... 52
3.7 Integração dos processos de interação e dissipação de energia ............................ 53

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modelo atômico atual. ........................................................................ 5


Figura 2 – Representação das camadas eletrônicas. ........................................ 8
Figura 3 - Tabela de nuclídeos. ........................................................................ 10
Figura 4 - Representação da transição eletrônica. ........................................... 12
Figura 5 - Experiencia de Rutherford. .............................................................. 13
Figura 6 - Espectro da radiação alfa detectado em uma barreira de superfície.
......................................................................................................................... 14
Figura 7 - Espectro da energia por partículas beta .......................................... 15
Figura 8 - Representação da conversão interna. ............................................. 19
Figura 9 - Concentração de elementos químicos na crosta terrestre. .............. 24
Figura 10 - Séria Radioativa do Urânio 238 ..................................................... 25
Figura 11 - Máquina de raios X ........................................................................ 27
Figura 12 - Acelerador de elétrons usado em terapia de câncer em hospitais. 28
Figura 13 - Acelerador de Van der Graff. ......................................................... 29
Figura 14 – Ciclotron ........................................................................................ 30
Figura 15 - Fonte de nêutrons .......................................................................... 31
Figura 16 – foto de bomba de cobalto usada em radioterapia ......................... 32
Figura 17 - Esquema de um irradiador industrial.............................................. 33
Figura 18 - Esquema de um reator de potência PWR ...................................... 34
Figura 19 - Ilustração do efeito fotoelétrico ...................................................... 36
Figura 20 - Pico de absorção K no chumbo ..................................................... 37
Figura 21 - Ilustração do efeito Compton ......................................................... 38
Figura 22 - Ilustração do efeito Formação de pares ......................................... 39
Figura 23 - Ilustração da fissão nuclear. .......................................................... 47
Figura 24 - Ilustração da trajetória dos elétrons. .............................................. 50

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Emissores beta puros...................................................................... 17


Tabela 2 - Faixa de energia para nêutrons. ..................................................... 45
Tabela 3 - Alcance das particulas alfa em função da energia. ......................... 51

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1 ESTRUTURA DA MATÉRIA

Todos os materiais existentes são constituídos de substâncias compostas


por átomos e suas combinações. O conceito de átomo surgiu com a dúvida sobre
a origem do universo com os pensadores pré-socráticos Leucipo e Demócrito,
em que afirmaram que o átomo era uma partícula indivisível constituindo a menor
quantidade de um elemento. Com o passar do tempo, novos estudos foram feitos
até chegarmos ao que conhecemos hoje sobre o átomo.

Dalton, em 1803, propôs, após seus experimentos, que o átomo seria uma
partícula esférica, maciça e indivisível como uma bola de bilhar. Em 1898 fez um
experimento onde utilizou um tubo com gás baixa pressão e aplicou uma
diferença de potencial, neste experimento foi observado a presença de um raio
catódico, e com isso pôde concluir que o átomo era uma partícula positiva
recheada de cargas negativas como um pudim de passas. Rutherford, em 1911,
bombardeou uma folha de ouro com partículas alfa e percebeu que algumas
partículas ricocheteavam, outras atravessavam e outras tinham sua trajetória
desviada e assim concluiu que o átomo apresentava um núcleo pesado com
prótons de cargas positivas, nêutrons sem carga e vários elétrons com cargas
negativas a redor do átomo distribuídos em camadas lembrando a imagem de
um sistema planetário.

Figura 1 - Modelo atômico atual.

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O número de cargas positivas, cargas negativas variam conforme a


natureza do átomo sendo que o os prótons e os nêutrons compõem a massa do
atômica obtendo a seguinte relação

𝐴=𝑍+𝑁

Em que, 𝐴 representa o número de massa, 𝑍 o número atômico e 𝑁 o


número de nêutrons.

Átomos diferentes podem apresentar características iguais como o número


de massa, número de prontos e o número de nêutrons. Quando apresentam
essas características são chamados de:

• Isótopos – Apresentam o mesmo número de prótons, que representa o


número atômico de um elemento (Z), e diferente número de massa (A);
• Isóbaros – Apresentam o mesmo número de massa (A) e diferente
número atômico;
• Isótonos – Apresentam o mesmo número de nêutrons (N) com número
de massa (A) e número atômico (Z) diferentes;

Podem ainda ser isômeros quando apresentam o mesmo número atômico,


mesmo número de prontos e mesmo número de massa porem com energias
diferentes, e também radioisótopos quando são isótopos, ou seja, apresentam o
mesmo número atômico e com radioatividade.

Um átomo é representado através do símbolo do seu elemento químico


com o número de massa sobrescrito e o número atômico subscrito.

𝐴
𝑍𝑋

1.1 Raio atômico

O raio do átomo é determinado como o valor médio da distância do núcleo


até a última camada de elétrons. Sendo assim o valor do raio atômico aumenta
ao aumentar o número de camadas eletrônicas; diminui ao aumentar o número
atômico (Z) devido a alteração da força de atração entre as cargas (prótons –

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positivo e elétrons – negativo) e para os átomos com a última camada de elétrons


completa o raio tende a ser menor devido à alta energia de ligação entre as
partículas

O acréscimo ou decréscimo de cargas no átomo também tende a alterar


o seu raio, ao acrescentar elétrons o átomo sai de seu estado neutro ficando
negativamente carregado chamado de ânion e o seu raio aumenta devido a
menor força de atração entre as cargas em oposição, ao retirar elétrons de um
átomo, ele fica positivamente carregado sendo chamado de cátion e seu raio
diminui devido ao aumento da carga nuclear.

1.2 Estrutura eletrônica

Os elétrons são distribuídos em camadas ou orbitais de modo que não


ocupem o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo, quando dois elétrons
ocuparem o mesmo lugar ao mesmo tempo eles terão características magnéticas
(spin) diferentes essa restrição é denominada Princípio da Exclusão de Pauli.
Portanto, quanto maior o número de elétrons, mais camadas esse átomo deve
ter e mais complexo será a acomodação de seus elétrons.

O orbital é representado por um elétron se movendo em trajetória circular


e é definido como uma região do espaço onde o elétron pode ser encontrado e
cada camada se comporta com um número definido de elétrons e quando
preenchida denomina-se camada fechada. O nível de principal energia é o
número quântico principal 𝑛, que corresponde a distância do núcleo aos elétrons
e correspondem aos níveis K, L, M, N, O, P e Q, conforme ilustrado na figura a
baixo:

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Figura 2 – Representação das camadas eletrônicas.

O número quântico orbital 𝑙 equivale aos subníveis dos orbitais


descrevendo a forma dos orbitais e correspondem aos subníveis s, p, d, f. E o
último número que corresponde ao sentido de rotação do elétron é chamado de
spin com valores de +1/2 (para cima) e -1/2 (para baixo).

1.3 Equivalência entre massa e energia

Para medir a massa atômica de um átomo utiliza a unidade de massa


atômica (u.m.a) e a energia é medida em elétron-volt (eV) que corresponde a
energia adquirida de um elétron para atravessar um campo elétrico de 1V.

1𝑒𝑉 = 1,602𝑥10−19

1 𝑢. 𝑚. 𝑎 = 1,6605𝑥10−27

Segundo Einstein, em sua teoria da relatividade geral em que anunciou


que a energia é proporcional a massa e à velocidade da luz no vácuo, temos:

𝐸 = 𝑚 𝑐2

Sendo assim podemos determinar a equivalência de unidade de massa


atômica em energia elétron-volt:

𝐸 = 1,6605𝑥10−27 . 3𝑥108

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𝐸 = 1,4917𝑥10−10

Ou

𝐸 = 931𝑀𝑒𝑉

Portanto, tem que:

1 𝑢. 𝑚. 𝑎 = 931𝑀𝑒𝑉

1.3.1 Energia da ligação dos átomos

É a energia necessária para romper o átomo em suas partículas constituintes


e pode ser obtida calculando a diferença de massa entre a massa real do núcleo
e a soma das massas das partículas constituintes e convertida em energia. Por
exemplo o átomo de Hélio-4

Massa do próton = 1,007593 u.m.a.

Massa do nêutron = 1,008982 u.m.a.

Massa do elétron = 0,000549 u.m.a.

Então,

2 prótons + 2 nêutrons + 2 elétrons = 4,034248 u.m.a.

Sabendo que:

Massa de um átomo de 4He = 4,003873 u.m.a.

Pode-se concluir que:

Diferença de massa = 0,030375 u.m.a.

Sendo assim, a energia de ligação é: 0,030375 x 931 = 28,3 MeV.

1.3.2 Estabilidade nuclear

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Os nuclídeos podem ser estáveis ou instáveis. Os estáveis são aqueles que


permanecem em seu estado natural indefinidamente e os instáveis são aqueles
que podem sofrer um processo de desintegração que ocorre de maneira
espontânea e se converte em outro nuclídeo.

Um dos fatores que influenciam na estabilidade é o número atômico. Quanto


menor o número atômico, maior é a estabilidade do átomo devido a relação
próton por nêutron. Sendo assim, átomos mais pesados (com maiores valores
de A) tendem a ser mais instáveis que os com menores valores de A.

A figura abaixo mostra a denominada tabela de nuclídeo onde a relação de


estabilidade em função do número de prótons e de nêutrons.

Figura 3 - Tabela de nuclídeos.

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1.4 TRANSIÇÕES ATÔMICAS E NUCLEARES

1.4.1 Estados excitados

Ao lançar partículas ou ondas eletromagnéticas contra um átomo em


equilíbrio, elas poderão colidir com alguns de seus elétrons ou com seu núcleo.
No choque, a energia transferida se for superior à sua energia de ligação, tem-
se uma ionização ou reação nuclear, caso contrário, ocorrerá o deslocamento da
partícula alvo para estados disponíveis nas estruturas eletrônicas ou nuclear
gerando os estados excitados eletrônicos ou nucleares.

O tempo de permanência no estado excitado depende das características


do átomo como variação do momento angular e paridade do orbital, energia e
tipo de transição eletromagnética. Esse tempo é definido em termos
probabilísticos como meia-vida do estado excitado

1.4.2 Transição eletrônica

A transição eletrônica é dividida em dois tipos, o primeiro envolve


transições de baixa energia e ocorrem nos níveis e subníveis mais afastados do
núcleo ocasionando a geração de luz. E o segundo envolve transições de alta
energia, nos níveis e subníveis mais próximos ao núcleo gerando os Raios X
característicos, conforme ilustrado na figura a baixo.

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Figura 4 - Representação da transição eletrônica.

1.4.3 Transição nuclear

Ocorre quando os núcleos são deslocados para estados disponíveis e


formam os estados excitados, e ao restabelecer o equilíbrio emitem energia em
forma de radiação gama.

2 RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS E RADIAÇÕES IONIZANTES

A descoberta da radiação se deu em 1896 quando Henri Becquerel, com


experiências envolvendo sais de urânio, conseguia velar chapas fotográficas
mesmo envoltas por papel preto, foi verificado também que a radiação foi
proporcional a concentração de urânio e independia das condições de pressão,
temperatura e estado químico da amostra. Posteriormente, o casal Pierre e Marie
Curie descobriram mais dois elementos radioativos denominando-os de Rádio e
Polônio em 1898.

Ernest Rutherford em uma experiência envolvendo uma amostra de


urânio conseguiu detectar a emissão de partículas alfa, beta e gama sob a ação
de um campo magnético. O material radioativo envolto por uma blindagem
produzia um ponto brilhante em uma placa de zinco e o feixe da radiação se
dividia em três, que foram definidas como partículas alfa (α), beta (β) e raios
gama (γ).

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Figura 5 - Experiencia de Rutherford.

Posteriormente, Rutherford e Soddy demonstraram que as partículas alfas


correspondem a núcleos de hélio constituídos de 2 prótons e 2 nêutrons, a
radiação beta foi identificada como sendo elétrons e a radiação gama
apresentava as mesmas características dos raios-X. Os raios gama são,
portanto, ondas eletromagnéticas de alta energia, as partículas alfa e beta são
partículas emitidas em alta velocidade carregando também grande quantidade
de energia.

As naturezas das radiações emitidas são características das propriedades


nucleares do nuclídeo que está se desintegrando denominado nuclideo pai que
da origem ao nuclideo filho.

2.1 Tipos de desintegração

2.1.1 Desintegração alfa

A desintegração alfa ocorre quando o número de prótons e nêutrons é


elevado deixando o núcleo instável devido a repulsão elétrica entre as cargas
que pode superar a força nuclear atrativa de curto alcance (força nuclear forte).

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Emite partículas constituídas de 2 prótons e 2 nêutrons (como dito anteriormente,


núcleo de 42𝐻𝑒). Pode ser descrita da seguinte forma:

𝐴 𝐴−4
𝑍𝑋 → 𝑍−2𝑌 + 42𝐻𝑒 + 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎

A emissão alfa possui transições com energias bem definidas, e o


espectro da contagem de partículas em função da energia apresenta picos onde
cada um corresponde a uma transição alfa.

A imagem a seguir, apresenta o espectro das radiações alfa emitido pelo


241
𝐴𝑚 obtido por um detector de barreira de superfície.

Figura 6 - Espectro da radiação alfa detectado em uma barreira de superfície.

2.1.2 Desintegração beta negativa (𝜷− )

A desintegração beta é a emissão elétrons pelo núcleo que podem ser


carregados positivamente (beta positiva, 𝛽 + ) ou negativamente (beta negativa,
𝛽 − ). A emissão constitui um processo comum em núcleos de massa pequena ou
intermediária onde há o excesso de prótons ou de nêutrons.

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A desintegração beta negativa ocorre quando há o excesso de nêutrons


e então, neste processo, o nêutron é convertido em um próton, um elétron de
carga negativa e um anti-neutrino (𝑣̅ )

1
0𝑛 → 11𝑝 + −10𝑒 + 𝑣̅

O antineutrino é uma partícula de massa muito pequena em relação ao


elétron, e foi teorizado por Pauli em 1933 quando se viu a necessidade de
conservação de energia e paridade do sistema.

Diferentemente das partículas alfa, as partículas beta negativas


apresentam um espectro contínuo de energia que varia de zero até um valor
máximo. Tal característica se dá pela presença do antineutrino pois este carrega
a diferença de energia existente entre a energia da partícula e a energia
disponível.

Figura 7 - Espectro da energia por partículas beta

A desintegração beta negativa pode ser representada na seguinte equação:

𝐴 𝐴
𝑍𝑋 → 𝑍+1𝑌 + 𝛽 − + 𝑣̅ + 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎

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2.1.3 Desintegração beta positiva (𝜷+ )

A desintegração beta positiva é muito semelhante a beta negativa, neste


os núcleos possuem um excesso de prótons e então, um próton é convertido em
um nêutron, uma partícula beta positiva (pósitron) e um neutrino.

1 0
1𝑝 + 10𝑛 + +1𝑒 +𝑣

O pósitron possui a mesma massa de um elétron com carga absoluta


igual, porém com sinal positivo.

O espectro de energia da emissão de 𝛽 + é igual ao espectro de energia


na emissão de 𝛽 − (espectro contínuo de energia).

A desintegração pode ser descrita pela equação:

𝐴 𝐴
𝑍𝑋 → 𝑍−1𝑌 + 𝛽 + + 𝑣 + 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎

2.1.4 Emissores beta puros

Normalmente, a emissão β ocorre deixndo um excesso de energia no


núcleo filho, e este emite radiação gama para descartar o excesso. Em alguns
casos a transição β é suficiente para o núcleo alcançar o estado fundamental. E
quando isso ocorre o nuclideo emissor é denominado de emissor β puro.

A tabela 1 abaixo, exemplifica alguns destes nuclídeos;

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Tabela 1 - Emissores beta puros.

2.1.5 Desintegração por captura eletrônica

Pode ocorrer junto com a desintegração 𝛽 + . A transformação consiste em


que alguns processos de transformação do próton em nêutron ao invés de emitir
o pósitron, corre pela neutralização do próton capturando um elétron orbital das
camadas mais próximas liberando um nêutron e um neutrino.

0
1
1𝑝 + −1𝑒 → 01𝑛 + 𝑣

A maior probabilidade ocorre com a captura de um elétron da camada K


devido a maior proximidade com o núcleo, e após sua captura, irá existir uma
vacância em seu orbital que será preenchida por outro elétron de camadas mais
externas e esse processo da origem a emissão de raios-X. A captura eletrônica
pode ser representada pela seguinte reação:

𝐴 0 𝐴
𝑍𝑋 + −1𝑒 → 𝑍−1𝑌 + 𝑣 + 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎

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2.1.6 Desintegração por radiação gama

A radiação gama é considerada uma radiação residual, pois em um


processo de desintegração através de emissão de partículas alfa ou beta, o
núcleo filho tem sua configuração fora de equilíbrio, ou seja, estão alocados em
estados excitados contendo grande quantidade de energia armazenada em
forma de radiação eletromagnética denominada radiação gama γ

Os raios-gama, possuem energias bem definidas que dependem somente


dos valores inicial e final de energia dos orbitais envolvidos na transição.

𝐸𝑌 = 𝐸𝑖 − 𝐸𝑓 = ℎ . 𝑣

Onde h é a constante de plank (6,6252𝑥10−34 𝐽. 𝑠) e 𝑣 é a frequência da


radiação.

A diferença entre os raios-X com os raios-gama é que o raio-X é originado


no nas orbitas eletrônicas e os raios-gama se originam no núcleo.

2.2 Elétrons-Auger

Quando uma vacância é criada nas camadas eletrônicas, como por


exemplo, através da captura eletrônica. Esta vacância é preenchida por elétron
de camadas mais externas dando origem aos raios-X, no entanto, em alguns
casos essa energia originada pela vacância pode ser transferida diretamente a
outros elétrons, e estes serão ejetados do átomo. E este elétron ejetado é
denominado elétron Auger e sua energia é bem definida assim como os raios-X
característicos.

Por exemplo uma vacância originada na camada K e o elétron Auger


ejetado da camada M, sua energia será: 𝐸𝐾 − 𝐸𝑀

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2.3 Conversão interna


O processo de conversão interna compete com a emissão de radiação
gama, neste processo a energia dos estados excitados é transferida para os
elétrons das primeiras camadas o quais são ejetados do átomo denominados
elétron de conversão interna. Conforme ilustrado na imagem a baixo.

Figura 8 - Representação da conversão interna.

A energia do elétron de conversão interna será igual a energia da radiação


gama menos a energia de ligação deste elétron ou seja:

𝐸𝑐𝑜𝑛𝑣𝑒𝑟𝑠ã𝑜 = (𝐸𝑖 − 𝐸𝑓 ) − 𝐸𝑐𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎

Neste processo, após a emissão do elétron de conversão interna, ocorrerá


uma vacância na orbita eletrônica correspondente e em consequência haverá
emissão de raios-X devido a captura eletrônica ou formação de elétrons Auger
para desexcitar o átomo.

2.4 Transição Isomérica

Quando um núcleo se encontra em estado excitado, o tempo de


permanência neste estado pode ser muito pequeno, na ordem de

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microssegundos ou um período longo, da ordem de segundos, horas ou mesmo


dias. Quando o núcleo permanece em um estado por um grande período de
tempo, é identificado como isômero e a transição para seu estado fundamental
é chamada de transição isomérica e se dá normalmente por radiação gama.

2.5 Constante de decaimento

O processo de desintegração do nuclídeo pai no nuclídeo filho é feito de


modo aleatório e não há como prever o momento em que determinado nuclídeo
irá se transformar. Entretanto, em uma quantidade grande átomos existe uma
probabilidade de decaimento de átomos por segundo que deve ser constante
denominada constante de decaimento ʎ que é uma característica particular de
cada radionuclídeo independentemente de qualquer condição física ou química.

Supondo uma amostra onde N é o número de núcleos radioativos em um


dado instante, o número provável de núcleos que se desintegrarão em um
intervalo dt é dado por:

𝒅𝑵 = −ʎ𝑵𝒅𝒕

2.6 Atividade (A)


A atividade de uma amostra é a taxa de mudanças de átomos instáveis
em um determinado instante de tempo que pode ser expressa por:

𝑑𝑁
𝐴= = −ʎ𝑁
𝑑𝑡

Concluiu-se que a variação da atividade com o tempo é do tipo


exponencial e apresenta a seguinte lei:

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𝐴 = 𝐴0 𝑒 −ʎ𝑡

Em que, 𝐴 representa a atividade final da amostra, 𝐴0 , a atividade inicial


da amostra, ʎ, a constante de decaimento e 𝑡 o tempo.

A unidade para se medir a atividade de uma amostra é o Becquerel (Bq)


em que 1Bq é 1 desintegração por segundo.

A atividade também pode ser medida pela unidade Curie (Ci) que
corresponde a 3,7 𝑥 1010 Bq

2.7 Meia-vida física (𝑻𝟏/𝟐 )

Meia vida é o intervalo de tempo necessário para que o número de átomos


radioativos seja reduzido pela metade. Pode ser definido por:

𝑙𝑛2 0,693
𝑇1/2 = =
ʎ ʎ

2.8 Vida média (𝒕̅)

Definida como a média das durações de todos os átomos radioativos


contidos na amostra e calculada por:

1 𝑇1/2
𝑡̅ = =
ʎ 0,693

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2.9 Série Radioativas

A série radioativa como o próprio nome diz, ocorre quando vários


radionuclídeos sofrem desintegração em série. De pai pra filho, de filho pra neto
e assim sucessivamente. O número de átomos de qualquer um dos membros é
determinado através da solução de equações diferenciais.

Um exemplo simples é uma série com apenas três membros: pai (𝑁1 ), filho
(𝑁2 ), e neto (𝑁3 ). Em que as constantes de desintegração do pai e do filho são,
respectivamente, ʎ1 e ʎ2 , e o neto é um núcleo estável.

As equações das atividades são:

𝑑𝑁1
𝐴1 = − = ʎ1 𝑁1
𝑑𝑡

𝑑𝑁2
𝐴2 = = ʎ1 𝑁1 − ʎ2 𝑁2
𝑑𝑡

𝑑𝑁3
= ʎ2 𝑁2
𝑑𝑡

A última equação não corresponde à atividade pois o neto é estável,


porém seu número de átomos 𝑁3 é determinado pela taxa de desintegração do
radionuclídeo filho.

Resolvendo as equações temos:

𝑁1 = 𝑁1 𝑒 ʎ1𝑡

ʎ1
𝑁2 = 𝑁 (𝑒 −ʎ1𝑡 − 𝑒 −ʎ2𝑡 )
ʎ2 − ʎ1 1

ʎ1 ʎ2
𝑁3 = 𝑁1 (1 + 𝑒 −ʎ2𝑡 − 𝑒 −ʎ1𝑡
ʎ2 − ʎ1 ʎ2 − ʎ1

22
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Existem três séries radioativas naturais e uma artificial, são elas série do
Tório, Neptúnio, Urânio e Actínio (Urânio enriquecido) em que a série do
Neptúnio é artificial.

2.10 Equilíbrio secular

O equilíbrio secular ocorre quando a meia vida do pai é muito maior do


que a meia vida do filho, e a meia vida do pai é muito grande comparada ao
tempo de observação do decaimento. Sendo assim, 𝑁1 é praticamente constante
durante o tempo de observação.

Como consequência, após um tempo comparado com a meia vida dos


filhos, as atividades tornam-se iguais entre si:

ʎ1 𝑁1 = ʎ2 𝑁2 = ʎ3 𝑁3 = ʎ4 𝑁4 = ⋯ = ʎ𝑛 𝑁𝑛

238
Um exemplo é a série radioativa do 𝑈 que possui meia de 4,5𝑥109
anos e seus filhos possuem meia vida muito menores que este valor.

2.11 Fontes de radiação naturais e artificiais

Segundo algumas teorias, a origem dos elementos químicos vem das


estrelas que eram compostas inicialmente de hidrogênio, e por meio de reações
nucleares de fusão induzidas por altas temperaturas, conseguem formar muitos
elementos químicos. Os núcleos sintetizados são dispersos no espaço e acabam
se depositando em asteroides e planetas por atração gravitacional.

A figura a baixo mostra os valores médios das concentrações dos


elementos químicos componentes da crosta terrestre em função de Z.

23
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Figura 9 - Concentração de elementos químicos na crosta terrestre.

A maioria dos núcleos sintetizados são instáveis e se tornam estáveis ao


emitir radiações devido a meia-vida muito curta. Alguns nuclídeos instáveis de
meia-vida longa podem compor, junto com os estáveis, a crosta terrestre como
40
no caso do 𝐾 238𝑈 e 232
𝑇ℎ

238 235
O urânio consiste em 2 isótopos o 𝑈eo 𝑈 em que as meias vidas
são 4,67 𝑥 109 , e 7,1 𝑥 108 anos respectivamente.

A imagem a baixo mostra a série radioativa do U-238.

24
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Figura 10 - Séria Radioativa do Urânio 238

2.11.1 Radônio e torônio

Dentro da série radioativa do urânio, temos a presença do Rádio-226 que


por emissão alfa forma o radônio-222 com meia vida de 3,82 dias. Um processo
semelhante com o torônio, formado pelo decaimento do Tório.

O urânio e o tório estão presentes na maioria das rochas, solos,


sedimentos e minérios e como consequência do decaimento radioativo, estes
materiais vão conter também o radônio e o torônio que são gasosos e presentes
em materiais de cerâmica, revestimento de pedra, granito, argamassa, concreto,
gesso, etc. Esses gases possuem um peso atômico elevado e então sua
concentração é maior próximo dos solos sendo seres humanos, animais inalam
e ingerem esses gases diariamente, e devido às curtas meia-vidas a maioria
destes radionuclídeos decaem no interior dos organismos irradiando seus
órgãos e tecidos.

25
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2.11.2 Radiação cósmica

A radiação cósmica é a radiação proveniente do espaço sideral, é


composta de partículas altamente energéticas como prótons, nêutrons, mésons,
neutrinos, núcleos leves e também radiação gama. Ela é freada pela atmosfera
terrestre, que exerce um papel de blindagem para os habitantes atenuando ou
absorvendo as radiações, ou desviada pelo cinturão magnético de Van Allen.

A radiação cósmica aumenta com a altitude e latitude, sendo assim os


habitantes de montanhas recebem mais radiação do que os que vivem ao nível
do mar. A radiação cósmica é responsável pela produção dos denominados
radionuclídeos cosmogênicos: 3𝐻 , 7𝐵𝑒, 14
𝐶, 22
𝑁𝑎 , 85
𝐾𝑟.

2.12 Fontes artificiais

As fontes artificiais de maior relevância são os usados na área médica


como os dispositivos e terapia, os aparelhos de controle, medidores e
radiográfica usados na indústria e comércio, além das instalações de energia
nuclear, e máquinas utilizadas na pesquisa cientifica.

Na área médica temos os aceleradores linerares, equipamentos de


braquiterapia, equipamentos de cobalto, equipamentos de tumografia por
emissão de pósitron e cliclotrons.

Dentro os geradores de radiação, os mais importantes são os tubos de


raios X, aceleradores de partícula, irradiadores com radioisótopos e fonte de
nêutrons.

2.12.1 Tubos de raios X

Os raios X são gerados através de uma colisão dos elétrons que são
acelerados por um campo elétrico intenso e colidem em um alvo metálico

26
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reduzindo sua energia cinética e emitem essa diferença de energia sob a forma
de ondas eletromagnéticas, os raios X.

Como o campo elétrico é obtido aplicando-se uma tensão entre os


terminais do tubo, a emissão de raios X só ocorre quando o tubo está ligado sob
alta tensão. Quando maior a tensão, maior será a energia dos raios X por
consequência aumentando também seu poder de penetração.

Os tubos de raios X sofrem variações no formato, tipo de alvo do anodo,


faixa de tensão (kV) e correntes aplicadas e sistema de refrigeração. As
maquinas para radiografia industrial seguem na faixa de tensão de 150 a 1500
kV, 100 a 150 kV para radiodiagnóstico, 30 a 40 kV para mamografia e 60 a 80
kV para radiologia oral.

Segue a baixo uma figura explicando o funcionamento de uma máquina


de raios X

Figura 11 - Máquina de raios X

2.12.2 Aceleradores de elétrons

São muito utilizados em hospitais, indústrias e institutos de pesquisa


devido a versatilidade em que a partir do feixe de elétrons pode-se produzir

27
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radiação de freamento (radiação eletromagnética de alta energia e espectro


continuo), ou feixe de nêutrons.

Os elétrons são gerados por uma emissão termoiônica e injetados em um


tubo onde são carregados por várias secções da máquina até atingir a energia
desejada e por fim, o feixe é colidado por bobinas.

A imagem a seguir mostra a utilização de acelerador de elétrons em uma


terapia de câncer em hospitais.

Figura 12 - Acelerador de elétrons usado em terapia de câncer em hospitais.

2.12.3 Acelerador de Van de Graff

Constituídos de 3 partes principais: um tanque pressurizado, o gerador e


o acelerador propriamente dito, pode acelerar partículas leves como elétrons até
partículas alfa e íons pesados por campo eletrostáticos de alta voltagem.

A diferença de potencial é gerada por cargas acumuladas que são


induzidas por descarga corona, transportas e coletadas no terminal de alta

28
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tensão. Os íons positivos produzidos no terminal são acelerados até o potencial


zero atingindo até 8MV de diferença de potencial.

Quando o acelerador possui dois estágios de aceleração são


16
denomidados aceleradores do tipo Tandem em que, nela um íon de 𝑂 pode
ser acelerado até 6MeV no primeiro estágio chegando a atingir uma energia final
de 54MeV no segundo estágio.

Segue a baixo uma figura exemplificando o acelerador eletrostático do tipo


Van de Graff.

Figura 13 - Acelerador de Van der Graff.

2.12.4 Ciclotrons

Os cíclotrons tem capacidade de produção de radionuclídeos de meia-


vida curta, muito importante no uso da medicina nuclear diagnóstica como nos
dispositivos de tomografia por emissão de pósitrons, devido a isso, ganharam
grande importância nos últimos anos.

São dispositivos que aceleram partículas carregas utilizando diferença de


potencial elétrico, auxiliada com campos magnéticos para defletir o feixe. Possui
duas partes em forma de “D” separados por um intervalo.

O feixe de partículas é injetado no centro da máquina e acelerado


eletricamente por uma tensão alternada onde começa a ser acelerado até

29
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atravessar o intervalo e assim progressivamente. Quando a velocidade atinge


velocidade máxima o feixe é deslocado na direção do alvo a ser bombardeado.

As energias chegam a 15MeV para prótons, 25MeV para dêuterons e


50MeV para partículas alfa. Segue abaixo a imagem de um cíclotron.

Figura 14 – Ciclotron

2.12.5 Fonte de nêutrons

São dispositivos que utilizam o bombardeio do berílio com partículas alfa,


são capazes de geral fluxos de mais de um milhão de nêutrons por cm² por
segundo, são selados e de pequeno volume que devem ser devidamente
blindados devido à capacidade de penetração e interação em vários materiais
inclusive no corpo humano.

A figura a baixo mostra a estrutura de uma fonte de nêutrons utilizada em


medidores nucleares.

30
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Figura 15 - Fonte de nêutrons

2.12.6 Bomba de cobalto

A bomba de cobalto é um irradiador com radioisótopos em que é


60
constituída por um cabeçote contendo uma fonte selada de 𝐶𝑜 com atividade
de até 296TBq (8000 Ci) produzindo feixe de radiação gama com colimadores
apropriados.

São utilizados para braquiterapia em que a atividade varia de 37 a


137
370GBq, e os radioisótopos mais utilizados são 𝐶𝑠, 60𝐶𝑜, 90
𝑆𝑟 e 192
𝐼𝑟.

192
Utilizados também para gamagrafia onde os isótopos utilizados são 𝐼𝑟,
60 75 137
𝐶𝑜, 𝑆𝑒 e 𝐶𝑠. São classificados em duas categorias:

• Categoria I: Irradiador direcional, onde a fonte não é removida da


blindagem durante a exposição
• Categoria II: Irradiador panorâmico, onde a fonte é removida de sua
blindagem por meio de um tubo guia, até a posição de irradiação.

A atividade da fonte varia de 0,74 a 1,85TBq.

Na imagem a baixo tem-se a ilustração de uma bomba de cobalto

31
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Figura 16 – foto de bomba de cobalto usada em radioterapia

2.12.7 Irradiador industrial

O irradiador industrial é uma das máquinas que utilizam radioisótopos


60
mais significativas, o 𝐶𝑜 é utilizado em grande quantidade e atividade (cerca
de 3,7 𝑥 1016 Bq). Muito utilizado em diversos tratamentos para desinfestação e
conservação de produtos alimentares, esterilização e redução da carga
microbiana de produtos descartáveis.

A instalação é constituída de um sistema de correia transportadora que


carrega para dentro da máquina os produtos a serem irradiados, fazendo-os
passar pela fonte exposta com uma velocidade pré-estabelecida.

A baixo tem-se uma imagem representando o esquema de um irradiador


industrial

32
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Figura 17 - Esquema de um irradiador industrial

2.12.8 Reatores nucleares

Reatores nucleares são instalações que utilizam a reação nuclear de


fissão em cadeia de forma controlada afim de produzir energia ou fluxo de
nêutrons e podem ser divididos em dois grandes grupos: os reatores de potência
que são utilizados na geração de energia elétrica, e os reatores de pesquisa que
são usados para experimentos e ensino.

Os reatores de potência contribuem com 13,4% da produção mundial de


energia elétrica e são instalações que utilizam a energia nuclear para produção
de calor que é então transformado em energia elétrica.

Os geradores de energia utilizam a energia liberada da fissão nuclear


controlada para aquecer a água que esta gera vapor que é levado até motores
em que ao girar produzem energia elétrica. Por fim esse vapor é condensado
através de troca de calor para que o processo repita. Os reatores no Brasil são
do tipo PWR em que utilizam a água leve sob pressão como meio de retirada do
calor produzido.

33
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Quanto aos reatores de pesquisa, eles têm baixa potência quando


comparados aos de geração de energia, e no Brasil existem quatro em operação:

• Reator IEA-R1 no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares –


IPEN/CNEN em São Paulo
• Reator IPEN-MB-01 no Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo –
CTMSP
• Reatro Triga no Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear –
CDTN/CNEN em Belo Horizonte
• Reator Argonauta no Instituto de Engenharia Nuclear – IEN/CNEN, no
Rio de Janeiro.

Segue a baixo uma figura do esquema de um reator de potência do tipo PWR

Figura 18 - Esquema de um reator de potência PWR

34
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3 INTERAÇÃO DA RADIAÇÃO COM A MATÉRIA

Quando a radiação interage com a matéria podem provocar no material


excitação atômica ou molecular, ionização ou ativação do núcleo. A excitação é
quando, devido a interação, os elétrons são deslocados de seus orbitais de
equilíbrio e ao retornarem pode emitir sua energia na forma de luz ou de raios X.

A ionização é quando os elétrons são removidos de seus orbitais pelas


radiações o que resulta em elétrons livres de alta energia e íons positivos.
Quando ocorre quebra de ligação química tem-se também radicais livres.

Ativação do núcleo ocorre quando a energia da radiação que interagiu


com o núcleo é maior que a energia ligação deste mesmo núcleo o que resulta
em reações nucleares e emissão de radiação.

Quando as partículas carregadas como alfa, beta e elétrons interagem


com a matéria existe uma probabilidade de converterem sua energia de
movimento em radiação eletromagnética, quando isso ocorre é denominada de
raios X de freamento.

Dentro do contexto de interação da radiação com a matéria podemos


definir o conceito de radiações diretamente e indiretamente ionizantes. As
radiações diretamente ionizantes são aquelas que possuem carga como
elétrons, partículas alfa e fragmentos de fissão. Elas atuam principalmente por
meio do campo elétrico e transferem sua energia para muitos átomos ao mesmo
tempo.

Já as radiações que não possuem, carga como as eletromagnéticas e


nêutrons interagem individualmente com os átomos do meio transferindo sua
energia para os elétrons e estes irão provocar novas ionizações, estas são
chamadas de radiações indiretamente ionizantes.

3.1 Interação da radiação eletromagnética com a matéria

35
Fundamentos de Física Atômica e Nuclear – Certificação CNEN para Supervisor em Proteção Radiológica

As radiações eletromagnéticas ionizantes não possuem carga assim


como massa, devido a essas propriedades, tem grande poder de penetração
conseguindo penetrar por grandes espessuras em um material antes de sofrer a
primeira interação que depende da probabilidade de interação ou secção de
choque.

Secção de choque é a probabilidade de interação de partículas em um


material medido em unidade de fluência que é o número de partículas que passa
por uma unidade de área.

Quando a energia da radiação eletromagnética ultrapassa o valor de


8,5MeV pode ocorrer reações nucleares pois este valor está acima da energia
de ligação dos prótons com os nêutrons. Por consequência, ativar a maioria dos
elementos químicos com os quais interagir essas reações podem ser
denominadas como reações fotonucleares por ressonância gigante.

3.1.1 Efeito Fotoelétrico

O efeito fotoelétrico é caracterizado pela transferência total da energia


de radiação eletromagnética (raios X ou gama) a um único elétron em que ele é
expelido com uma energia cinética 𝐸𝑐 bem definida:

𝐸𝑐 = ℎ . 𝑣 − 𝐵𝑒

Em que, ℎ é a constante de plank, 𝑣 é a frequência da radiação e 𝐵𝑒 é a


energia de ligação do elétron orbital.

Figura 19 - Ilustração do efeito fotoelétrico

36
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A direção de saída do elétron varia em relação a energia. Para altas


energias (acima de 3MeV) a probabilidade de o elétron sair na direção do fóton
é maior; para baixas energias (a baixo de 20keV) a probabilidade de o elétron
sair com ângulo de 70° é maior.

A probabilidade de acontecer o efeito fotoelétrico é maior para baixas


energias e para elementos de alto Z, e ela aumenta com 𝑍 4 e decresce
rapidamente aumentando a energia de radiação. Em elétrons de mesmo átomo
a probabilidade é maior para os que possuem maior energia ade ligação, ou seja,
camadas K, L e M.

Pode-se concluir que para que o efeito fotoelétrico ocorra a energia do


fóton incidente não pode ser menor que a energia de ligação 𝐵𝑒 , e a
probabilidade diminui à medida que essa energia cresce. Sendo assim, a
probabilidade de interação é máxima quando a energia do fóton incidente for
igual a energia de ligação. Quando a energia do fóton atinge a energia de ligação
de uma camada, por exemplo a camada K, a probabilidade de interação vinha
decrescendo com o aumento da energia, sofre um acréscimo repentino para
então cair novamente, isso ocorre em todas as camadas do elétron e esse efeito
é chamado de Pico de absorção K para o efeito fotoelétrico.

Na imagem a baixo é mostrado essas características para o chumbo.

Figura 20 - Pico de absorção K no chumbo

37
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3.1.2 Efeito Compton

Neste efeito, o fóton incidente é espalhado por um elétron de baixa


energia de ligação o qual recebe somente parte de sua energia e o fóton continua
sua sobrevivência dentro do material em outra direção e com menor energia.

Conforme ilustra a imagem a baixo:

Figura 21 - Ilustração do efeito Compton

A energia do fóton espalhado depende do fóton incidente assim com o


ângulo de espalhamento 𝜃. A energia é calculada com a seguinte equação:

𝐸
𝐸𝑦 =
1 + 𝛼 ( 1 − 𝑐𝑜𝑠𝜃)

Em que, 𝐸𝑦 é a energia do fóton espalhado, 𝐸, a energia do fóton incidente


e 𝛼 pode ser calculado por:

𝐸𝑦
𝛼=
𝑚0 𝑐 2

quando 𝜃 = 180° a energia é mínima, e quando 𝜃 = 0° a energia do fóton


espalhado é máxima, assim como a energia cinética do elétron ejetado e pode
ser calculado a partir de:

38
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2𝛼
𝑇 = 𝐸𝑦
1 + 2𝛼

A probabilidade de ocorrência do efeito Compton aumenta quando a


energia de ligação dos elétrons orbitais se torna desprezível comparada a
energia do fóton incidente ou quando a energia da radiação aumenta de valor.

Quando os elétrons são muito ligados (alta energia de ligação) e os fótons


tem baixa energia, pode acontecer do átomo absorver essa energia ficando
excitado e liberando a mesma energia, porém apenas com mudança na direção.

3.1.3 Formação de par

A produção de par elétron-pósitron é uma das formas mais predominantes


da radiação eletromagnética de alta energia. Ela ocorre quando os fótons tem
energia superior a 1,022MeV e passam perto de núcleos de número atômico
elevado. Nesta interação a radiação desaparece e dá origem a um par elétron-
pósitron por meio da reação:

𝛾 = 𝑒 − + 𝑒 + + 𝑒𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎

O pósitron se combina com o elétron dando origem a 2 fótons, cada um


com energia de 511keV.

A figura a baixo representa o efeito de produção de pares

Figura 22 - Ilustração do efeito Formação de pares

39
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3.1.4 Conclusão sobre os efeitos fotoelétrico, Compton e produção de


pares

O efeito fotoelétrico predomina em materiais que recebem baixas energias


de fótons e à medida que esta energia aumenta o efeito fotoelétrico diminui
enquanto o efeito Compton cresce e se torna o efeito predominante. Ao aumentar
ainda mais a energia do fóton o efeito Compton decresce, mas continua
aumentando em relação ao efeito fotoelétrico. Quando a energia alcança alguns
MeV a produção de pares passa a ser o efeito predominante.

3.2 Transferência de energia

Uma reação nuclear pode ser analisada quantitativamente em termos de


energias onde o princípio de conservação de energia pode ser usado para
predizer se uma reação é possível energeticamente.

Considere a seguinte reação nuclear:

𝑥+𝑋 → 𝑌+𝑦

Ou, de forma mais compacta:

𝑋(𝑥 , 𝑦)𝑌

Em que: X é o núcleo alvo, x é a partícula que bombardeia, Y é o núcleo


produto e y, partícula produto.

Supondo que o núcleo X está em repouso, isso é não possui energia


cinética tem-se

𝐸𝑥 + 𝑚𝑥 𝑐 2 = 𝑀𝑥 𝑐 2 = (𝐸𝑌 + 𝑀𝑦 𝑐 2 ) + (𝐸𝑦 + 𝑚𝑦 𝑐 2 )

Sendo que, 𝑚𝑥 , 𝑀𝑥 , 𝑀𝑦 e 𝑚𝑦 representam respectivamente as massas da


partícula incidente, núcleo alvo, núcleo produto e partícula produto.

40
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Sabendo que 𝑄 representa a diferença entre a energia cinética dos


produtos e da partícula incidente, e é chamada de balanço de energia de uma
reação nuclear temos que:

𝑄 = 𝐸𝑌 + 𝐸𝑦 − 𝐸𝑥 = (𝑚𝑥 + 𝑀𝑥 − 𝑀𝑦 − 𝑚𝑦 )𝑐 2

Quando 𝑄 > 0 a reação é dita como exotérmica, a massa total dos


reagentes é maior que a dos produtos e então tem-se a conversão de massa
nuclear em energia cinética.

Quando 𝑄 < 0 a reação é endotérmica pois tem se a conversão da energia


cinética em massa nuclear, ou seja, absorção de energia

O Coeficiente de transferência de energia é dado pela seguinte equação:

µ𝑡𝑟 τ𝑡𝑟 σ𝑡𝑟 𝑘𝑡𝑟


= + +
𝜌 𝜌 𝜌 𝜌

3.3 Atenuação

Quando um feixe de radiação X ou gama incide sobre um material com


certa espessura, ele pode ser espalhado, absorvido ou passar pelo material sem
interagir. O feixe emergente 𝐼 está relacionado ao feixe incidente 𝐼0 pela seguinte
equação:

𝐼 = 𝐼0 . 𝑒 −µ𝑥

Em que µ é a probabilidade de o feixe sofrer atenuação pelos efeitos já


citados a cima (efeito fotoelétrico, espalhamento Compton ou formação de
pares). Em que µ pode ser descrito como:

41
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µ=σ+𝑘+ τ

onde: σ é o coeficiente de atenuação linear Compton, 𝑘 é o coeficiente de


atenuação devido ao efeito fotoelétrico e τ é o efeito de atenuação devido a
formação de par.

O coeficiente de atenuação também depende de seu estado físico ou fase,


por exemplo: a água pode possuir valores diferentes de coeficientes de
atenuação conforme esteja no estado sólido, liquido ou gasoso. Esse coeficiente
é denominado de Coeficiente mássico de atenuação ou Coeficiente de
atenuação em massa (µ/𝜌)

Os efeitos fotoelétricos, Compton e formação de par são expressos,


muitas vezes, pelas suas secções de choque de interação e vinculados entre
seus valores e coeficientes de atenuação

Efeito fotoelétrico:

τ 𝑐𝑚2 1
( ) = τf . 𝑁𝐴
𝜌 𝑔 𝐴

Efeito Compton:

σ 𝑐𝑚2 𝑍
( ) = σe . . 𝑁𝐴
𝜌 𝑔 𝐴

Formação de par:

𝑘 𝑐𝑚2 1
( ) = 𝑘𝑝 . . 𝑁𝐴
𝜌 𝑔 𝐴

Em que 𝐴 é o número de massa em (g/mol), 𝑁𝐴 é o número de Avogadro


= 6,02 𝑥 1023 , Z é o número atômico e τf , σe , 𝑘𝑝 são as secções de choque
(cm²/átomo) para os efeitos fotoelétrico, Compton e formação de pares
respectivamente

42
Fundamentos de Física Atômica e Nuclear – Certificação CNEN para Supervisor em Proteção Radiológica

Quando existe uma mistura de composto, o coeficiente linear em massa


µ/𝜌 é obtido pela média ponderada da fração em peso do elemento com a
densidade do elemento seguindo a seguinte equação:

µ µ𝑖
= ∑ . 𝑤𝑖
𝜌 𝜌𝑖
𝑖

Onde 𝑤𝑖 é a fração em peso do elemento na mistura, µ𝑖 é o coeficiente de


atenuação e 𝜌𝑖 , a densidade do elemento i

O coeficiente de atenuação linear total em massa µ/𝜌 também está


relacionado com o coeficiente de transferência e energia por meio de seus
componentes:

𝜇𝑡𝑟 𝜏 𝛿 𝜎𝑎 𝑘 2𝑚𝑐 2
= [1 − ] + + [1 − ]
𝜌 𝜌 ℎ𝑣 𝜌 𝜌 𝜌

𝛿
Em que: é a fração emitida pela radiação no processo de efeito
ℎ𝑣
𝜎𝑎 𝑘 2𝑚𝑐 2
fotoelétrico, é a energia do efeito que é efetivamente transferida e 𝜌 [1 − ]
𝜌 𝜌

é a fração que resta no efeito de formação de pares.

Vale ressaltar que a transferência de energia transferida para a máteria


não é toda absorvida, há uma fração g dessa energia que pode ser convertida
novamente em energia de fótons pela radiação de freamento. A energia
absorvida é dado pelo coeficiente 𝜇𝑒𝑛 calculado por:

𝜇𝑡𝑟
𝜇𝑒𝑛 = ( 1 − 𝑔)
𝜌

43
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3.4 Interação de nêutrons com a matéria

O nêutron é uma partícula que não apresenta carga tampouco massa e


por consequência não interage com a matéria por força coulombiana, sendo
assim é bastante penetrante e diferente da radiação gama, as partículas
secundárias resultantes da interação dos nêutrons com a matéria são quase
sempre carregadas que são altamente ionizantes.

A atenuação de um feixe de nêutrons é dada pela seguinte expressão:

𝐼 = 𝐼0 . 𝑒 ∑𝑡𝑜𝑡.𝑥

Onde, 𝐼 é a intensidade do feixe após a espessura 𝑥, 𝐼0 a intensidade do


feixe de nêutrons incidente e ∑𝑡𝑜𝑡 é secção de choque macroscópica total para
nêutrons com energia E, obtido por:

∑ = 𝑁 .𝜎
𝑡𝑜𝑡

Em que 𝑁 é o número de núcleos por 𝑐𝑚3 (= 𝑁𝐴 . 𝜌/𝐴), 𝜎 é secção de


choque microscópica do elemento do material para energia 𝐸 do nêutron, 𝑁𝐴 , é
o número de Avogadro, 𝜌 é a densidade do material e 𝐴 número de massa
expresso em gramas.

Secção de choque macroscópica é a probabilidade de o nêutron sofrer


espalhamento ou captura, por unidade de comprimento sendo assim, seu valor
é dado pela soma das secções de choque de espalhamento e de captura.

𝜌𝑁𝐴
∑ = 𝑁1 𝜎1 + 𝑁2 𝜎2 + ⋯ + 𝑁𝑖 𝜎𝑖 = (𝑛1 𝜎1 + 𝑛2 𝜎2 + ⋯ + 𝑛𝑖 𝜎𝑖 )
𝑀

44
Fundamentos de Física Atômica e Nuclear – Certificação CNEN para Supervisor em Proteção Radiológica

Em que 𝑛𝑖 é o número de átomos da espécie 𝑖 na molécula do composto

As propriedades de interação dependem muito da energia o nêutron.


Existem faixas de energia em que ocorrem ressonâncias no processo de captura,
interferindo fortemente na taxa de reações nucleares. A faixa de energia recebe
denominações conforme mostrado na tabela a baixo:

Tabela 2 - Faixa de energia para nêutrons.

As interações com os nêutrons podem ser classificadas em duas classes,


espalhamento e absorção. Dentro das reações de espalhamento onde o
resultado final envolve troca de energia entre as partículas em colisão, e o
nêutron permanece livre após a interação, o espalhamento pode ser elástico e
inelástico.

O espalhamento elástico ocorre quando ocorre a colisão do nêutron com


um núcleo alvo de massa igual ou próxima a massa dele, aqui ocorre a
conservação da energia cinética, mudança de direção e parte de sua energia é
transferida para o núcleo alvo.

Já no espalhamento inelástico, o núcleo alvo tem massa maior que o


nêutron, e o nêutron acaba sendo capturado ocorrendo a formação de um
“núcleo composto” excitado que decai em um outro nêutron de menor energia
emitindo radiação gama. Sendo assim, nesse processo não há conservação da
energia cinética pois parte dela se converteu em energia gama.

45
Fundamentos de Física Atômica e Nuclear – Certificação CNEN para Supervisor em Proteção Radiológica

Dentro das reações de absorção, também chamadas de reações de


captura os processos mais importantes são as de captura radiativa e a fissão. A
captura radiativa emite partículas carregadas como partículas alfa, prótons ou
em casos especiais fragmentos de fissão nuclear. Essas reações são mais
frequentes com nêutrons térmicos ou lentos.

Uma das reações importantes na física dos reatores é a reação de


nêutrons com prótons onde ocorre a geração do hidrogênio no interior do reator
16
e do 𝑁 emitindo radiação beta e duas radiações gama de alta energia.

As reações nêutrons, gama ocorrem em quase todos os elementos


químicos, os nêutrons, alfa com poucos elementos e os nêutrons, prótons com
poucos elementos e com massa pequena e as reações nêutrons e fragmentos
de fissão apenas com elementos físseis.

Sendo assim, a secção de choque total medida em 𝑐𝑚² ou em barns, em


que 1 barn = 10−24 𝑐𝑚²

𝜎𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝜎𝑒𝑠𝑝 + 𝜎𝑐𝑎𝑝 + 𝜎𝑓𝑖𝑠𝑠𝑎𝑜

Quando ocorre a incidência de nêutrons sobre um elemento químico,


pode ocorrer a ativação dele por reação de captura. O nêutron é absorvido pelo
núcleo formando um novo isótopo e em maioria radioativo. Esse processo é
denominado reação de ativação com nêutrons. O novo radionuclídeo formado
emite radiações gama no processo de decaimento e com isso é possível
identificar do que a amostra era composta e sua proporção.

O cálculo de número de radionuclídeos formados com a intensidade de


um feixe de nêutrons sobre uma amostra é:

𝑑𝑁
= ∅ . 𝜎. 𝑛0 − 𝜆𝑁
𝑑𝑡

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Então,

(1 − 𝑒 −𝜆𝑡 )
𝑁(𝑡) = ∅ . 𝜎 . 𝑛0 .
𝜆

𝐴 = 𝜆. 𝑁(𝑡) = ∅ . 𝜎. 𝑛0 (1 − 𝑒 −𝜆𝑡 )

Em que: 𝜎 é a secção de choque microscópica, 𝑛0 o número de átomos


da amostra, 𝜆 a constante de decaimento e 𝐴 o número de massa da amostra.

233 235 239


Nas reações de fissão, os núcleos pesados como o 𝑈, 𝑈eo 𝑃𝑢
que são núcleos físseis são induzidos por nêutrons, existem núcleos férteis como
232 238 233 239
o 𝑇ℎ e o 𝑈 que ao capturarem nêutrons se transformam em 𝑇ℎ e 𝑈e
233 239
dacaem em 𝑈e 𝑃𝑢 que são físseis.

235
Quando o nêutron é absorvido pelo núcleo 𝑈 forma-se o núcleo
composto que é instável e começa a vibrar assumindo formas de elipsoides até
se fissionar em dois fragmentos e na maioria com massas atômicas diferentes.
Fragmento leve com massa atômica na ordem de 90 e fragmento pesado da
ordem de 140. E essa reação acontece sucessivamente como mostrado na
figura a baixo:

Figura 23 - Ilustração da fissão nuclear.

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3.5 Interação das radiações diretamente ionizantes com a matéria

Como dito anteriormente as radiações diretamente ionizantes incluem


todas as partículas carregadas, leves ou pesadas emitidas durante
transformações e transferem energia como todo o material por meio de
excitação, ionização, freamento, e para altas energias, reação de ativação.

Quando a partícula atravessa o material ela transfere energia por meio


das colisões ou poder de freamento, e a perca de energia pode ser expressa por:

𝑑𝐸 4𝜋𝑒 4 𝑧 2
𝑆= = . 𝑁. 𝐵
𝑑𝑥 𝑚0 𝑣 2

Em que:

𝑚0 𝑣 2
𝐵 = 𝑍 [𝑙𝑛 − ln(1 − 𝛽 2 ) − 𝛽 2 ]
𝐼

Onde:

𝛽 = 𝑣/𝑐;
𝑐 = velocidade da luz;
𝑒 = carga do elétron
𝑣 = velocidade da partícula
𝑁 = número de átomos por 𝑐𝑚3 do material absorvedor
𝑧 = carga da partícula incidente
𝑍 = número atômico do material absorvedor
𝐼 = potencial de excitação e ionização médio
𝑚0 = Massa de repouso da partícula

3.5.1 Poder de freamento restrito ou LET

É necessário o estabelecimento de limites para a contabilização da


energia transferida nas imediações de uma partícula carregada e descontar as

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perdas que ocorrem longe dela uma forma de fazer isso é utilizando o poder de
freamento ou como é denominado Transferência, Linear de Energia.

3.5.2 Alcance das partículas carregadas em um material

As partículas carregadas penetram em um meio material até que sua


energia cinética entre equilíbrio térmico com as partículas do meio através de
colisões e emissão de radiação de freamento. As partículas pesadas como alfa
e fragmentos de fissão têm uma trajetória reta dentro do material, em
contrapartida, os elétrons que são partículas leves, possuem trajetória quase
aleatória, e para cada tipo de partícula pode-se definir um alcance.

Ao utilizar um gráfico que represente a espessura penetrada em função


da intensidade do feixe, quando a razão 𝐼/𝐼0 cai pela metade o alcance é
chamado de alcance médio.

Quando a posição final da partícula não é bem definida, o alcance é


chamado de alcance extrapolado.

E quando se tem o maior valor penetrado dentro de um material por uma


partícula com determinada energia e massa, o alcance é chamado de alcance
máximo.

3.5.2.1 Alcance para elétrons monoenergéticos

Ao incidir um feixe de elétrons em um material absorvedor, mesmo de


pouca espessura, esse material irá levar a perda de elétrons pois o
espalhamento de elétrons os removerá da direção de fluxo que atinge o detector.
Sendo assim, o número de elétrons detectado em um material absorvedor irá
decrescer imediatamente após o contato restando apenas aqueles que tiveram
sua trajetória menos alterada com as interações.

Segue a baixo a ilustração do espalhamento de elétrons em um material:

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Figura 24 - Ilustração da trajetória dos elétrons.

3.5.2.2 Atenuação das partículas beta

Como já mencionado, as partículas betas são semelhantes a um elétron,


e a combinação do espectro continuo em energia da radiação beta com a
atenuação isolada de cada elétron faz com que as partículas beta sejam
atenuadas exponencialmente na maior parte de seu alcance num meio material.
E pode ser definido por:

𝐼
= 𝑒 −𝑛𝑥
𝐼0

Em que 𝐼 é a taxa de contagem com o absorvedor, 𝐼0 a taxa de contagem


sem o absorvedor e 𝑥 a espessura do absorvedor em (g/cm²).

3.5.2.3 Alcance das partículas beta

Para o alcance das partículas beta, existem relações semi-empíricas para


determinar o alcance delas em função da energia mostrados na tabela a baixo:

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Tabela 3 - Alcance das particulas alfa em função da energia.

3.5.3 Interação das partículas α com a matéria

A interação das partículas alfa com a matéria ocorre basicamente por


ionização em que ocorre em três etapas: no início, a partícula incide com grande
velocidade, interage com os elétrons em sua volta por pouco tempo, sendo a
ionização constante e pequena nesta etapa. A partícula passa a interagir mais à
medida que vai perdendo velocidade e ocorre a captura de um elétron quando o
poder de ionização chega a um valor máximo e passa do íon +2 para +1 e
quando isso ocorre, o poder de ionização da partícula começa a cair rapidamente
até chegar a zero e quando o íon +1 captura mais um elétron se torna um átomo
de hélio, neutro.

3.5.3.1 Alcance das partículas α

Devido ao alto poder de ionização, a partícula alfa tem um poder de


penetração muito reduzido sendo incapaz de ultrapassar a pele humana. O
alcance das partículas alfa é menor para materiais mais densos e o alcance no
ar pode ser estimado semi-empiricamente por:

𝑅 = 0,318 . 𝐸 3/2

Em que R é o valor médio do alcance em centímetros e E, a energia em


MeV.

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3.6 Interação de fragmentos de fissão com a matéria

Como descrito anteriormente, fragmentos de fissão são íons oriundos da


fissão nuclear, apresentam número de massa médio e alta energia cinética. A
perda de energia se efetua quase que totalmente por colisão e ionização e
apesar de terem alta energia cinética, possuem alta massa diminuindo a energia
inicial, a velocidade de um fragmento leve corresponde a aproximadamente a de
uma partícula alfa de 4MeV.

Devido a essa baixa velocidade, e ao decréscimo contínuo da carga iônica


do fragmento, a ionização decresce ao longo da trajetória diferentemente do que
ocorre com as partículas alfa ou com os prótons.

No processo de fissão, a energia cinética dos fragmentos apresenta


valores distribuídos entre 40MeV e 130MeV, com dois picos centrados em
235 239
68,1MeV e 99,23MeV para o 𝑈 e 72,86MeV e 101,26MeV para o 𝑃𝑢
respectivamente.

Quando os fragmentos de fissão chegam a uma velocidade de


aproximadamente 2 𝑥106 𝑚/𝑠, a perda de energia média por unidade de trajetória
aumenta novamente o que diferencia do comportamento −𝑑𝐸/𝑑𝑥 da partícula
alfa.

3.6.1 Alcance de fragmentos de fissão

A trajetória dos fragmentos em um material é linear devido à alta massa


sofrendo distorções somente no final por razão das colisões com os núcleos
causando sua difusão. O alcance é maior para um fragmento leve do que para
um pesado devido a maior energia cinética e menor carga iônica.

O alcance do fragmento leve no ar é cerca de 2,2 cm, dentro do material,


o fragmento leve tem alcance de 0,006mm e o fragmento pesado 0,0047mm

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3.7 Integração dos processos de interação e dissipação de energia

Quando a radiação é muito energética e interage com a matéria, é


desencadeado muitos processos envolvendo a transferência de energia para as
partículas do meio, e também pode acontecer a criação de outros tipos de
partículas que vão interagir com a matéria também.

Portanto, um fóton muito energético pode dar origem a um par elétron-


pósitron gerando raios X de freamento e assim por diante.

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