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licenciatura em matemática
Eixo 18
Resumo
O processo de formação de professores deve ser aberto ao levantamento de críticas e análises sobre os
aspectos inerentes à sala de aula. É na formação inicial que futuros professores pensam sobre as diversas
metodologias de ensino que movem o processo de ensino e aprendizagem. São muitas as metodologias de
ensino de matemática, dentre elas está a resolução de problemas. Entendemos que essa metodologia de
ensino pode trazer grandes contribuições para a prática docente, pois Vergnaud, em sua teoria, aponta que
é através da utilização de situações-problema que os conceitos matemáticos ganham significado, isto é, são
as situações-problema que dão significado aos conceitos (VERGNAUD, 1985). Nessa direção, buscamos
analisar, à luz da Teoria dos Campos Conceituais, abordando especificamente o Campo Conceitual
Multiplicativo, a natureza dos problemas formulados por estudantes de graduação de um curso de
Licenciatura em Matemática, uma vez que é relevante analisar como futuros professores elaboram
problemas, dada a importância que as situações-problema assumem no processo de ensino e aprendizagem
de matemática na Educação Básica. De um total de 360 itens elaborados pelos estudantes, 286 (79,4%)
podem ser classificados como problemas multiplicativos e 71 (19,7%) são atividades com cunho mais
algoritmo, como exercícios, que não apresentam a estruturação de uma situação-problema ou são problemas
aditivos. Dos problemas multiplicativos de relação quaternária, a maioria (97,4%) é do eixo de proporção-
simples. A partir disso, entende-se que esses graduandos deveriam ter um entendimento sobre formular
problemas de forma ampla e diversificada, atrelados a outros conceitos multiplicativos, de forma que
possam abarcar um entendimento de todo o Campo Conceitual em questão. Além disso, no processo
formativo de professores, é de extrema importância que não haja o entendimento da multiplicação
exclusivamente como a soma de parcelas iguais, evidenciado, nesse estudo, pela presença de problemas
aditivos e pela estrutura e tipos de situações elaboradas.
1
Graduando em Licenciatura em Matemática (UPE); Bolsista de Iniciação Científica do CNPq;
dm80642@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2058-3560
Introdução
Em sala de aula, entendemos que é muito importante que o professor que ensina
matemática tenha a capacidade de propor situações promotoras de aprendizagem. Nessa
direção, é reconhecida a importância de uma formação inicial de qualidade, que
proporcione ao futuro professor de matemática uma visão global acerca da Educação, das
teorias e dos processos que movem o ensino e a aprendizagem, pois acreditamos que esse
docente terá o domínio teórico-prático das diversas metodologias de ensino que virão a
ser utilizadas em sala de aula. Sabendo que a metodologia de ensino pautada na resolução
de problemas é muito utilizada nas aulas de matemática da Educação Básica e bastante
discutida por pesquisadores de referência como POLYA (1995) e VERGNAUD (1994),
buscamos, nesse estudo, fazer uma análise dos problemas multiplicativos, elaborados por
estudantes de graduação de um curso de Licenciatura em Matemática de uma
Universidade pública do estado de Pernambuco. Nesta direção, procuramos compreender
como os estudantes concebem uma situação-problema, como a diferenciam de outras
atividades, como exercícios de fixação, por exemplo, como abordam os vários conceitos
envolvidos no campo conceitual abordado e como isso poderá ter reflexos nas práticas de
ensino de matemática.
De acordo com Gitirana, Campos, Magina e Spinillo (2014) e Magina, Merline e
Santos (2016), é importante compreender a natureza dos mais diversos tipos de problemas
multiplicativos presentes em sala de aula. Isso porque essa compreensão possibilita aos
professores uma visão da importância da aprendizagem conceitual, que remete à
perspectiva de propor situações de ensino que propiciem uma compreensão ampla dos
conteúdos matemáticos e não apenas algorítmica.
As situações são responsáveis por atribuir significado aos conceitos
(VERGNAUD, 1994). Nessa perspectiva, entendemos a importância que há de o aprendiz
ser confrontado por situações diversificadas, pois só assim ele consegue aprender e
entender o conceito envolvido neste processo. Em sua Teoria dos Campos Conceituais,
Vergnaud (1983; 1988; 1994; 2009) explica que não conseguimos formar um conceito de
maneira isolada, pois construímos, simultaneamente, uma diversidade de conceitos de
forma inter-relacionada, o que ele denomina de Campo Conceitual. Sob essa ótica, Campo
Conceitual pode ser definido como “um conjunto de situações cujo domínio requer uma
variedade de conceitos, procedimentos e representações simbólicas firmemente unidas
uns aos outros” (Vergnaud, 1983, p.12).
Segundo Selva, Gomes & Santiago (2021) “a compreensão de um campo conceitual aliada
à compreensão da formação dos conceitos fortalece o planejamento do professor, a sua organização
didática e o recorte que ele deve fazer no estudo do conceito matemático a ser ensinado” (p.45), o
que pode favorecer a reflexão, em sala de aula, da necessidade de se abordar diferentes situações e
representações dos esquemas resolutivos. Sob este aspecto, compreendemos ser relevante
analisar as d i f e r e nt e s situações-problema que estudantes de Licenciatura em
Matemática elaboram, porque são professores em formação e estas situações podem
entendidas por ele como adequadas para serem t r abal hadas no contexto escolar,
procurando-se analisar sua natureza, complexidade e o que requerem para sua resolução.
Metodologia de Pesquisa
Tendo em vista que cada um dos 45 graduandos foi convidado a elaborar oito
problemas e todos eles realizaram tal atividade, coletamos um total de 360 itens a serem
analisadas. A categorização evidenciou que 288 (80%) dos itens podiam ser classificados
como problemas matemáticos sob a ótica de Vergnaud (2009). O referencial de um
problema foi tido como uma situação que tornasse o conceito significativo para o
indivíduo, mobilizando um conjunto de operações e representações para sua resolução.
Desse total de 288 problemas matemáticos, 274 (95,1%) eram do Campo
Conceitual Multiplicativo e podiam ser classificados a partir do esquema referencial de
Magina, Merlini e Santos (2016); 12(4,2%) eram problemas do Campo Conceitual
Aditivo e 2 (0,7%) eram problemas do Campo Conceitual Multiplicativo, mas não era
possível classificá-los a partir do esquema de referência.
Em relação aos 72 (20%) itens restantes que não se configuravam como situações-
problema, 13 (18,1%) questões possuíam dados incompletos e, consequentemente, foi
impossível analisar sua natureza; 59 (81,9%) se caracterizavam como
atividades/exercícios.
Isso é preocupante, pois mesmo sendo deixado bem claro no comando do
instrumento de coleta de dados que os estudantes deveriam elaborar problemas,
percebemos que eles têm uma visão equivocada a respeito da estrutura deste tipo de
situação. Nessa vertente, é válido refletir que esses estudantes estão inseridos em um
curso de licenciatura e, no futuro, estarão assumindo a função de professor de matemática.
A partir disso, é de suma importância que, para o trabalho dos diversos conceitos
matemáticos que circulam em sala de aula, o docente faça a utilização de situações-
problema e não de apenas atividades que prezem pela aprendizagem algorítmica, visto
que Vergnaud (1990) enfatiza que as situações são responsáveis por atribuir significado
aos conceitos.
O exercício, apresentado na Imagem 1, foi elaborado por um estudante do segundo
ano de curso. Trata-se de um exercício pelo fato de não haver sequer um enunciado (uma
das características de um problema) e também porque para resolvê-lo é necessário apenas
o domínio do algoritmo. Nessa direção, entende-se que esse futuro professor não tem o
entendimento a respeito da configuração de um problema, do ponto de vista matemático.
Imagem 1 - Exercício elaborado por estudante do 2º ano de graduação
Esse dado pode ser explicado pelo fato de que, segundo Vergnaud (2009), a
proporção simples é a primeira forma de relação multiplicativa a ser ensinada nas escolas,
logo nos anos iniciais e, por isso, ser mais fácil de se pensar num problema multiplicativo
nesta direção. Outro fator também influenciável é a acentuada presença de problemas com
essa natureza encontrados em livros didáticos, como é evidenciado na pesquisa de Silva
e Silva (2021). Esses dados também corroboram com os resultados da pesquisa de Santos
et al. (2021), que apontaram que estudantes elaboram, majoritariamente, problemas de
proporção simples.
Conclusões
Referências
VERGNAUD, G. A gênese dos campos conceituais. In: GROSSI, E. (Ed.), Por que
ainda há quem não aprende? A teoria. Petrópolis: Editora Vozes, p. 21-60, 2003.