Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
o fogo
O fogo do teatro: tragédia. O fogo no Teatro Oficina (ditadura). O fogo consumindo a vida de Zé Celso
Martinez Corrêa (o apartamento no bairro do Paraíso). Muitos dizem o que ele era ou foi. Isso é o após
morte com as badaladas biografias e louvações. Mas ele não se deixou apanhar por nada e ninguém. Fez
teatro libertário, militante de esquerda, perturbador, teatro como ele, de existência. Descontrolou os relógios
que comandavam a duração de um espetáculo. Trouxe e escancarou a derrocada brasileira no teatro no que
se acordou chamar de estética tropicalista: antropófago. Reergueu do fogo o Teatro Oficina com parede
transparente aberta para a cidade, o teto de vidro aberto para o espaço sideral e foi capaz de alojar cada
humano nos seus tijolos e na pista carnavalizada do que, no passado, era o consagrado palco. Teatro e vida
para além da representação. Existência. Ele era a bruxa a ser devorada pelo incêndio dos inquisidores. Ele
foi vida repleta de invenções. "Come on baby light my fire/ Try to set the night on fire/ The time to hesitate is
through..."
nem choro, nem vela
Foi uma festa exuberante, uma festa que durou quase vinte horas. Começou no fim da tarde e entrou noite e
madrugada adentro com muitas danças, cantos, coros, comida, bebida, loucuras. No meio do teatro, um
corpo. Sobre o corpo uma bandeira da vai-vai. Assim, quase como o samba de Noel Rosa, "quando morrer
não quero choro/ nem vela", foi o gurufim do artista José Celso Martinez Correa, o inventor do Teatro
Oficina. Pela manhã, o sol entrava pelo teto do Teatro Oficina no qual, por décadas, recebeu peças, shows
dionisíacos e movimentações de resistências políticas contemporâneas. Foi uma festa cheia de prazer com
a presença de gente de todas as idades. Como foi também uma festa, repleta de lutas corajosas, a
existência vibrante e guerreira do artista. Até a morte e as suas solenidades, em seu último ato, Zé
deliciosamente subverteu. Evoé, Zé, valeu!
um inimigo do rei
Em seu regresso ao Brasil, depois do exílio, na fase da chamada "abertura política", o jornal anarquista O
Inimigo do Rei publicou uma entrevista, em página inteira, com o diretor nu.