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Espetáculo teatral

Ensaios para a Sedição


Apresenta

Classificação: livre - Duração: 70 minutos - Gênero: Teatro de Rua


Sinopse:

“O fio nasce sozinho e se transforma em corda quando é enrolado com outros fios. E vira
barbante. Vira nó, laço, corda bamba onde o trapezista suspende o ar de uma platéia
atônita, imóvel, descrente do equilíbrio. Eu concordo, eu discordo, eu sei de cor. A corda
que acordou enrolada no pescoço do Brasil.”
Livremente inspirada na peça “Arena conta Tiradentes”, Ensaios para a Sedição,
montagem mais recente do Grupo Mambembe, narra a trajetória dos Inconfidentes
Mineiros a partir de seu julgamento. A história do movimento oitocentista ganha cores
novas quando relacionada a eventos recentes do cenário político brasileiro. Grandes
personagens da época, entrelaçadas aos atores curingas, recebem formas diversas em
cada praça, rua e adros das igrejas, onde se encontram com seus espectadores
contemporâneos.

Ensaios para a Sedição em números:


Estreou em 2019

Realizou 11 apresentações

Ensaios para Sedição Release:

O espetáculo Ensaios para a Sedição, livremente inspirado no musical Arena conta


Tiradentes, escrito por Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, é resultado do processo
criativo desenvolvido pelo Grupo Mambembe - Teatro de Rua, no primeiro semestre de
2019. A estreia aconteceu em novembro do mesmo ano. Uma das peculiaridades dessa
nova montagem é a sua relação com a cidade, especialmente Ouro Preto-MG e suas
comunidades periféricas, na qual está passa a ser compreendida como uma estrutura
dramatúrgica que propõe ao teatro uma relação de fruição do ambiente como significante
fundamental do acontecimento cênico.

O sertão entre o que eram as capitanias de São Paulo e Bahia sempre foi visto com
desconfiança, ainda no século XVII os comentadores da época apregoavam a fama da
terra como irremediavelmente rebelde. E não à toa. Em 1717, antes de ser elevada a
capitania e suas primeiras vilas serem oficialmente estabelecidas, os mineiros se
rebelaram. Em 1720 também. Mas foi uma colossal conjuração que consolidou a rebeldia
no espírito mineiro e transportou para a boca de todos, o nome de um dos maiores
símbolos da liberdade em nosso país: trata-se da Inconfidência Mineira e de seu maior
expoente, Tiradentes.

A peça consiste em uma série de trechos narrados e dramatizados de episódios dos Autos
da Devassa, os autos do processo judicial movido pela Coroa Portuguesa contra os
Inconfidentes, e das reuniões dos conjurados da Inconfidência Mineira, a partir da
literatura sobre o período, como o Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles, as
Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, entre outros, explicitando a relação de
dominação colonial que caracterizava a experiência brasileira do século XVIII e que
perdura atualmente. Vale ressaltar que mais que um grupo de poetas apaixonados, os
Inconfidentes foram “homens de seu tempo”, grandes juristas, militares, uma elite
intelectual que percebeu que sem renegociar os termos de sua relação com a Europa
seriam para sempre personagens secundárias em sua própria terra. Juntaram-se ao redor
do que havia de mais avançado no pensamento político europeu e ousaram em sonhar
com uma República em que os homens pudessem ser livres e iguais.

A coragem de sonhar com uma revolução é o ponto de partida para a formação de


qualquer sociedade justa e igualitária. Em um contexto opressor a revolta ganha campo
e toma feições cada vez mais amplas, invadindo cada aspecto da vida coletiva e individual.
Estratégias precisam ser traçadas e o passado é um grande professor, mesmo o fracasso
ensina aos que querem aprender e se dispõe a corrigir os erros, reparar os danos e
reformular visões.

Desta forma, a pesquisa historiográfica realizada pelo grupo surge do desejo de explicitar
os padrões coloniais da sociedade brasileira da época e seus resquícios nos dias atuais,
através da encenação dramática e da intervenção crítica de “mediadores”. Procedimentos
próprios do Teatro Épico de Bertolt Brecht e do Teatro do Oprimido de Augusto Boal,
como o sistema “Coringa”, colocam em xeque os próprios Inconfidentes, que
representavam uma elite diminuta dentro da população brasileira. Sob o olhar teatral
apresenta-se a falha em sua definição de “civilização”, sustentada principalmente na
mesquinhez com que excluíram a maioria das pessoas de suas concepções de humanidade
plena. A liberdade e igualdade que tanto defendiam, serviam para alguns homens
brancos, eles não foram capazes de perceber o tamanho da ruptura necessária para que
todos fossem livres.

A coluna vertebral do espetáculo é, portanto, as cenas do julgamento dos Inconfidentes,


ecoando julgamentos da última década da democracia brasileira, principalmente da
Operação Lava-Jato, em andamento pela Polícia Federal do Brasil. Entrecortados pelos
encontros nas casas dos Inconfidentes e ações fictícias que poderiam ter acontecido
naquele período, as cenas são inspiradas pelas manifestações que vêm acontecendo em
anos recentes, sobretudo aquelas que culminaram no impeachment de Dilma Roussef em
2017 e no governo do então presidente Temer.

Jogando com as concepções de luta política dos conjurados no século XVIII e as


experiências na rua do movimento estudantil contemporâneo, a peça explora contrastes
e alimenta semelhanças. O humor permite encontrar uma posição adequada por onde se
possa avaliar os méritos de um movimento elitista e visualizar o que há de execrável na
perpetuação de um mundo racista, patriarcalista e patrimonialista.

Além da dramaturgia estruturada em episódios e narrações, com base no texto do grupo


Arena, a peça propõe imagens que procuram explorar a formação do país Brasil,
oferecendo sínteses em alguns momentos, desafiando concepções em outros, buscando
encontrar símbolos capazes de absorver permanências e rupturas na história do país.

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