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“O fio nasce sozinho e se transforma em corda quando é enrolado com outros fios. E vira
barbante. Vira nó, laço, corda bamba onde o trapezista suspende o ar de uma platéia
atônita, imóvel, descrente do equilíbrio. Eu concordo, eu discordo, eu sei de cor. A corda
que acordou enrolada no pescoço do Brasil.”
Livremente inspirada na peça “Arena conta Tiradentes”, Ensaios para a Sedição,
montagem mais recente do Grupo Mambembe, narra a trajetória dos Inconfidentes
Mineiros a partir de seu julgamento. A história do movimento oitocentista ganha cores
novas quando relacionada a eventos recentes do cenário político brasileiro. Grandes
personagens da época, entrelaçadas aos atores curingas, recebem formas diversas em
cada praça, rua e adros das igrejas, onde se encontram com seus espectadores
contemporâneos.
Realizou 11 apresentações
O sertão entre o que eram as capitanias de São Paulo e Bahia sempre foi visto com
desconfiança, ainda no século XVII os comentadores da época apregoavam a fama da
terra como irremediavelmente rebelde. E não à toa. Em 1717, antes de ser elevada a
capitania e suas primeiras vilas serem oficialmente estabelecidas, os mineiros se
rebelaram. Em 1720 também. Mas foi uma colossal conjuração que consolidou a rebeldia
no espírito mineiro e transportou para a boca de todos, o nome de um dos maiores
símbolos da liberdade em nosso país: trata-se da Inconfidência Mineira e de seu maior
expoente, Tiradentes.
A peça consiste em uma série de trechos narrados e dramatizados de episódios dos Autos
da Devassa, os autos do processo judicial movido pela Coroa Portuguesa contra os
Inconfidentes, e das reuniões dos conjurados da Inconfidência Mineira, a partir da
literatura sobre o período, como o Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles, as
Cartas Chilenas de Tomás Antônio Gonzaga, entre outros, explicitando a relação de
dominação colonial que caracterizava a experiência brasileira do século XVIII e que
perdura atualmente. Vale ressaltar que mais que um grupo de poetas apaixonados, os
Inconfidentes foram “homens de seu tempo”, grandes juristas, militares, uma elite
intelectual que percebeu que sem renegociar os termos de sua relação com a Europa
seriam para sempre personagens secundárias em sua própria terra. Juntaram-se ao redor
do que havia de mais avançado no pensamento político europeu e ousaram em sonhar
com uma República em que os homens pudessem ser livres e iguais.
Desta forma, a pesquisa historiográfica realizada pelo grupo surge do desejo de explicitar
os padrões coloniais da sociedade brasileira da época e seus resquícios nos dias atuais,
através da encenação dramática e da intervenção crítica de “mediadores”. Procedimentos
próprios do Teatro Épico de Bertolt Brecht e do Teatro do Oprimido de Augusto Boal,
como o sistema “Coringa”, colocam em xeque os próprios Inconfidentes, que
representavam uma elite diminuta dentro da população brasileira. Sob o olhar teatral
apresenta-se a falha em sua definição de “civilização”, sustentada principalmente na
mesquinhez com que excluíram a maioria das pessoas de suas concepções de humanidade
plena. A liberdade e igualdade que tanto defendiam, serviam para alguns homens
brancos, eles não foram capazes de perceber o tamanho da ruptura necessária para que
todos fossem livres.