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Sinopse
Introdução
Esse trabalho vai mostrar os resultados do uso da sonda de correntes parasitas especial,
conforme recomendado pela norma ISO 17643 e da sonda flexível matricial (array) para a
inspeção de soldas, ligadas em aparelhos de correntes parasitas, indicados para a detecção de
trincas na inspeção de chapas soldadas de topo contendo trincas de fadiga e determinar a
capacidade de detecção e dimensionamento desta técnica. Esses resultados serão comparados
com os obtidos pela técnica de ACFM na inspeção das mesmas chapas. Comentários serão
feitos sobre as modificações que devem ser introduzidas nos procedimentos quando o objetivo
não for apenas a detecção de trincas de fadiga e para permitir uma melhora nos resultados da
inspeção.
Métodos e Equipamentos
O aparelho usado para o ensaio de correntes parasitas de acordo com a norma internacional
ISO 17643 deve ser capaz de analisar e mostrar os resultados do ensaio em um plano
complexo com a representação da fase e da amplitude dos sinais e possuir pelo menos as
seguintes características: ajuste de frequência; ajuste da sensibilidade; ajuste do ângulo de
fase; possibilidade de congelamento do sinal para facilitar medições pelo inspetor. Tanto o
aparelho convencional como os aparelhos especiais para sondas matriciais (array) usados
nesse trabalho atendem aos requisitos exigidos pela norma.
Como o objetivo desse trabalho não é indicar nominalmente qual sistema obteve um melhor
desempenho nos testes, as marcas e modelos deles não serão citadas. A seguir indica-se
algumas especificações gerais desses aparelhos:
Foram usadas sondas superficiais especificas para inspeção da região soldada de materiais
ferríticos (exemplificada na Figura 1) e superficial com matriz de sensores (array) flexível
para inspeção das regiões com geometria complexa como a região soldada de materiais
metálicos (exemplificada na Figura 2).
Fig. 1 – Foto exemplo da sonda específica para inspeção de solda em material ferrítico.
Fig. 2 – Foto exemplo da sonda flexível (para inspeção se superfícies complexas) e com
matriz de sensores (array).
Chapas Soldadas de Topo com Trincas de Fadiga
Foram fabricadas 30 chapas de aço carbono, com 400 mm comprimento. Todas elas
apresentavam 400 mm de largura e 12,7 mm de espessura, soldadas ao centro em juntas de
topo com chanfro tipo “V V”,, com 3 mm de face de raiz, 3 mm de espaçamento de raiz e
cordões de solda com largura média de 28 mm, Figura 3.
Fig. 3: Vista superior da chapa CP03, com as marcações dos lados das soldas (A e B).
Para ajuste dos parâmetros de ensaio (frequência, ganho, ângulo de fase e escala da tela) a
norma internacional ISO 17643 recomenda o uso do bloco padrão da Figura 4. Esse bloco
deve conter entalhes transversais, de comprimento igual à largura do bloco, usinados por
eletroerosão, com profundidades 0,5 mm; 1,0 mm e 2,0 mm. A tolerância na profundidade dos
entalhes deve ser ±0,1 mm. A abertura do entalhe deve ser menor
m ou igual a 0,2 mm (Figura
(
4).
Resultados Experimentais
As células com fundo amarelado na tabela significam descontinuidades indicadas pela técnica
de correntes parasitas e não existentes no gabarito (considerados FALSOS POSITIVOS) e as
com fundo roxo significam descontinuidades do gabarito não detectadas pela técnica
(considerados FALSOS NEGATIVOS).
(1)
(2)
Onde:
La = comprimento das descontinuidades reais contidas nas amostras
Lc = comprimento das descontinuidades reais que foram corretamente localizadas e
dimensionadas na inspeção
Li = comprimento total de indicações detectadas, sejam elas certas ou erradas
Lf = comprimento de indicações de onde não há descontinuidades
Incialmente deve ser informado que a API RP 2X apresenta critérios para confirmar a
localização e o dimensionamento das descontinuidades que são:
- quanto a localização: uma descontinuidade definida na atividade de inspeção só será
associada (e considerada detectada) a uma descontinuidade do gabarito se o centro da
descontinuidade da inspeção estiver entre os extremos da descontinuidade do gabarito (nas
direções do comprimento e da profundidade);
- quanto ao dimensionamento: uma descontinuidade definida na atividade de inspeção só
será associada (e considerada detectada) a uma descontinuidade do gabarito se o
dimensionamento (comprimento e profundidade) da descontinuidade da inspeção estiver
entre 50%(1/2x) e 200%(2x) ao dimensionamento da descontinuidade do gabarito.
Observa-se na tabela II que a técnica de correntes parasitascom qualquer um dos três sistemas
testados estaria aprovado para a detecção de trincas de fadiga na margem da solda de chapas
soldadas de topo. A título de comparação cita-se que a técnica sucedânea ACFM obteve
valores de P e R, aprováveis, iguais a 78,7 e 67,3 respectivamente e com os índices obtidos os
três sistemas tiveram um desempenho superior ao da técnica ACFM, segundo o critério
estabelecido para avaliação de técnicas pelo API RP 2X.
A curva de PoD mostra a probabilidade de detecção de um defeito como uma função da sua
dimensão para uma técnica de inspeção especifica. É equivalente a uma função cumulativa de
probabilidades, variando de 0 até 1.Normalmente curvas PoD são construídas em função do
comprimento das descontinuidades. A altura das descontinuidades tem sido mais raramente
medida por técnicas não destrutivas, mas também pode ser usada para montar curvas PoD.
Para o cálculo do nosso PoD empregou-se o procedimento mh1823 v3.1.4 desenvolvido pelo
Engenheiro Charles Annis dentro das bases do software estatístico R. Cita-se que essa
metodologia, que surgiu na área aeronáutica americana MIL-HDBK-1823 "Nondestructive
Evaluation System Reliability Assessment", é hoje universalmente aceita e a mais adotada.
A Figura 6 mostra, apenas a título de exemplo, curvas de PoD para comprimento e altura de
trincas de um dos três (3) sistemas avaliados (SISTEMA 2). O limiar de decisão (âdecisão),
consideração extremamente relevante e influente no valor de PoD obtido, foi escolhido com
base no nosso universo de amostras e por apresentar valores de PoD90/95 mais próximos dos da
técnica sucedânea que é o ACFM.
A tabela III apresenta os valores de PoD para 90% de percentuais de acerto para intervalo de
confiança 95% (“lower band”), tanto para o comprimento como para a altura/profundidade da
trinca. Na tabela apresenta-se os valores de PoD para os três sistemas avaliados considerando-
se o mesmo limiar de decisão 15% ATT (altura total da tela). Cita-se que o ensaio ACFM
obteve valores de PoD90/95 de 20 mm para o comprimento e 1,9 mm para a altura da trinca
próximos, portanto, ao da correntes parasitas desse trabalho, exceção para o caso do
comprimento do SISTEMA 3, que teve valor calculado bem maior.
Fig. 6: Curvas de PoD obtidas pelo procedimento mh1823 para âdecision=15% ATT
Direita=comprimento da trinca e Esquerda=altura da trinca
Tabela III – Valores de PoD para Comprimento e Altura da Trinca (mh 1823)
Comprimento(L,mm) Altura(H,mm)
Cálculo a90/95 ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
âthreshold = âdecisão= 15%
ATT
20,0 20,2 12,1 317,3 1,9 1,4 2,3 1,7
Capacidade de Localização
35000
30000
25000
Posição Estimada CP
Po SIST1
20000
Po SIST2
15000 Po SIST3
ERRO=0
10000
5000
0
0 10000 20000 30000 40000
Posição Real
A tabela VI mostra a média (6 mm; -6 mm; e 12 mm) e o desvio padrão (11 mm; 12 mm; e 19
mm) da diferença entre a estimativa dos três sistemas de correntes parasitas e o valor
considerado real. Cita-se que a técnica ACFM nos mesmos corpos-de-prova obteve valores de
-8 mm para média (erro intermediário ao dos sistemas de CP) e 45 mm (erro maior que o
dobro que os dos sistemas de CP) para o desvio da diferença entre o valor estimado e o real.
Capacidade de Dimensionamento
250
(comprimento)
y = 0.923x + 11.92
R² = 0.943
Comprimento Estimado CP (mm)
200 L SIST1
y = 0.817x + 14.14
R² = 0.850 L SIST2
150 L SIST3
ERRO=0
y = 0.826x + 5.165
100 R² = 0.820 Linear (L SIST1)
Linear (L SIST2)
50 Linear (L SIST3)
0
0 50 100 150 200 250
Comprimento Real (mm)
250
y = 0.3104x + 38.472
2
R = 0.0886
200
y=x
2
R =1
Comprimento Medido (mm)
150
L ACMF
45 graus
Linear (45 graus)
Linear (L ACMF)
100
50
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Comprimento Real (mm)
Capacidade de Dimensionamento
14.0
(profundidade)
y = 0.923x + 11.92
12.0
Profundidade Estimada CP (mm)
R² = 0.943
H SIST1
10.0
H SIST2
8.0 H SIST3
ERRO=0
6.0 y = 0.826x + 5.165 Linear (H SIST1)
R² = 0.820
4.0 Linear (H SIST2)
Linear (H SIST3)
2.0 y = 0.817x + 14.14
R² = 0.850
0.0
0 5 10 15
Profundidade Real (mm)
A tabela VII mostra a média (-0,4 mm; -1,0 mm; e 0,8 mm) e o desvio padrão (1,7 mm; 1,7
mm; e 2,3 mm) da diferença entre a estimativa dos três sistemas de correntes parasitas e o
valor considerado real. Cita-se que a técnica ACFM nos mesmos corpos-de-prova obteve
valores de -0,9 mm para média (erro intermediário ao dos sistemas de CP) e 2,5 mm (erro
maior que os dos sistemas de CP) para o desvio da diferença entre o valor estimado e o real.
14
12
10
Profundidade Medida (mm)
4
y = 0.5068x + 2.721
2
R = 0.4268
2
y=x
2
R =1
0
0 2 4 6 8 10 12 14
Profundidade Real (mm)
Inicialmente indicamos que o objetivo desse trabalho não era definir qual o melhor sistema de
correntes parasitas para a inspeção de trincas de fadiga na margem de soldas em chapas de
aço carbono, e sim verificar a possibilidade de uso dessa técnica assim como a técnica ACFM
que tem normalmente sido usada.
Para facilitar essa comparação concatenamos aqui os resultados apresentados nas tabelas já
mostradas ao longo do trabalho, apesar de que as comparações feitas em cada item terem
considerado também gráfico elucidativos dos resultados.
A análise da Tabela VIII mostra que os três sistemas de correntes parasitas podem ser usados
para a detecção de trincas de fadiga na margem de soldas em chapa com uma confiabilidade
em alguns casos até superior que a técnica sucedânea ACFM.
Conclusões e Recomendações
Apresentamos aqui o uso do ensaio de correntes parasitas com sonda especial e com sonda
flexível com múltiplos sensores para detecção de trincas de fadiga em soldas de materiais
ferríticos. Para detalhar mais ainda essa inspeção citamos que a ela se deu pelo mesmo lado da
abertura (nucleação) da trinca superficial.
Como o autor do procedimento mh1823 para obtenção do PoD diz que a avaliação de uma
técnica de inspeção não destrutiva não deve estar baseada em apenas um número, procuramos,
ao analisar a técnica de correntes parasitas com sonda especial e com sonda flexível de
múltiplos sensores, empregar vários valores estatísticos. Valores de P&R (API RP 2X), valor
de PoD (MIL-HDBK-1823) associado a amplitude de reprovação, probabilidade de falsos
positivos, e precisão de localização e dimensionamento. Na maioria desses índices o ensaio de
correntes parasitas com sonda especial e com sonda flexível de múltiplos sensores obteve
valores próximos e as vezes até superiores aos da técnica de ACFM. Se considerarmos ainda
que o tempo de inspeção do ensaio de correntes parasitas é semelhante ao do ACFM, fica a
clara impressão que correntes parasitas pode substituir o ACFM nessa aplicação.
É claro que nem tudo são vantagens, pois a aplicação principal, ou de origem do ACFM, é na
inspeção submarina de estruturas e o aparelho e a sonda de correntes parasitas não foram
desenvolvidos para essa aplicação. Outra limitação é a necessidade de correção da estimativa
da profundidade das trincas medidas pelo ensaio de correntes parasitas a partir de valores
reais dessas profundidades. Os valores das profundidades reais podem ser obtidos com a
confecção de amostras representativas da situação de inspeção ou o acompanhamento das
profundidades reais das trincas em operações de reparo.
Agradecimentos
• A BC END por ter permitido o uso do aparelho de correntes parasitas e da sonda especial
nesse trabalho de pesquisa;
• A EddyFi por ter permitido o uso da sonda array flexível nesse trabalho de pesquisa;
• A Brito & Kerche por ter permitido o uso do aparelho de correntes parasitas e da sonda
especial nesse trabalho de pesquisa;
• A PETROBRAS/CENPES/TME pela cessão dos corpos de prova contendo trincas de
fadiga para realização desse trabalho de pesquisa.