Você está na página 1de 16

CONAENDI&IEV2020 - 000

USO DA TÉCNICA DE CORRENTES PARASITAS PARA DETECÇÃO DE TRINCAS


DE FADIGA EM SOLDA
Ricardo Carneval1 ,Júlio Endress Ramos2, Celso de Souza3
Copyright 2020, ABENDI, PROMAI.
Trabalho apresentado durante oXXXVIII – Congresso Nacional de Ensaios Não Destrutivos e
Inspeção.
22ª IEV – Conferencia Internacional sobre Evaluación de Integridad y Extensión de Vida de
Equipos Industriales.
As informações e opiniões contidas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade dos
autores.

Sinopse

O uso da técnica de ACFM (Alternating Current Field Measurement) é tradicional para a


detecção de trincas de fadiga em juntas soldadas. O ensaio de correntes parasitas, assim como
o de ACFM, é um método com princípio eletromagnético e há o interesse de verificar a
possibilidade do uso das correntes parasitas também nessa aplicação. Esse interesse se
justifica principalmente devido aos menores custos do ensaio de correntes parasitas
convencional (ECT-Eddy Current Technique), particularmente pelo preço dos aparelhos
necessários para essa aplicação. Exceção para a técnica com o uso de sondas com matriz de
sensores (ECA-Eddy Current Array).

Esse trabalho apresenta a aplicação da técnica de correntes parasitas, empregando sondas


especiais para eliminação de ruídos provenientes da distância entre a sonda e a peça (lift-off),
da mudança de material na junta soldada e do cabeçote flexível com matriz de sensores
(array). A aplicação é usada para a detecção de trinca de fadiga em cordões de solda de
chapas de aço carbono e é suportada pela Norma ISO 17643 – Non-Destructive testing of
welds – Eddy current examination of welds by complex plane analysis. Neste estudo são
levantadas as probabilidade de detecção (PoD – Probability of Detection) e de
dimensionamento (PoS – Probability of Sizing) dessa aplicação.

Introdução

Na inspeção de estruturas sujeitas a carregamentos cíclicos uma das maiores preocupações é a


detecção de trincas de fadiga que ocorrem notadamente na margem das juntas soldadas. A
inspeção de trincas de fadiga, em estruturas submersas, era realizada no passado pela técnica
de Partículas Magnéticas (velocidade de inspeção média de 1 metro a cada 20 minutos) e foi
substituída pela técnica de ACFM (velocidade de inspeção média de 1 m a cada 2 minutos). A
proposição dos autores é usar a técnica de corrente parasitas com cabeçotes especiais, ou com
cabeçotes array flexíveis(ECA), que apresentam uma velocidade de inspeção média

1 Mestre em Ciências Metalúrgicas e de Materiais (UFRJ-1990), Engenheiro Metalúrgico (UFRJ-


1980), Inspetor de Correntes Parasitas Nível 3 (CP-N3 SNQC No 2185) – ROCARNEVAL
Integridade e Inspeções de Equipamentos
2 Mestre em Ciência e Tecnologia dos Materiais (UFRGS-2009), Engenheiro Metalúrgico (UFRGS-
2005), Engenheiro de Inspeção - PETROBRAS/CENPES
3 Técnico Mecânico, Inspetor de ACFM Nível 2(ACFM-N2 SNQC No 4628), Técnico de Inspeção -
PETROBRAS/CENPES
semelhante, ou até maior que a da técnica de ACFM porém com um custo de aquisição de
aparelho e sonda menores que 1/3 daquele da técnica de ACFM.

Esse trabalho vai mostrar os resultados do uso da sonda de correntes parasitas especial,
conforme recomendado pela norma ISO 17643 e da sonda flexível matricial (array) para a
inspeção de soldas, ligadas em aparelhos de correntes parasitas, indicados para a detecção de
trincas na inspeção de chapas soldadas de topo contendo trincas de fadiga e determinar a
capacidade de detecção e dimensionamento desta técnica. Esses resultados serão comparados
com os obtidos pela técnica de ACFM na inspeção das mesmas chapas. Comentários serão
feitos sobre as modificações que devem ser introduzidas nos procedimentos quando o objetivo
não for apenas a detecção de trincas de fadiga e para permitir uma melhora nos resultados da
inspeção.

Métodos e Equipamentos

Aparelho de Correntes Parasitas e Sonda Utilizadas para Inspeção de Solda

O aparelho usado para o ensaio de correntes parasitas de acordo com a norma internacional
ISO 17643 deve ser capaz de analisar e mostrar os resultados do ensaio em um plano
complexo com a representação da fase e da amplitude dos sinais e possuir pelo menos as
seguintes características: ajuste de frequência; ajuste da sensibilidade; ajuste do ângulo de
fase; possibilidade de congelamento do sinal para facilitar medições pelo inspetor. Tanto o
aparelho convencional como os aparelhos especiais para sondas matriciais (array) usados
nesse trabalho atendem aos requisitos exigidos pela norma.

Como o objetivo desse trabalho não é indicar nominalmente qual sistema obteve um melhor
desempenho nos testes, as marcas e modelos deles não serão citadas. A seguir indica-se
algumas especificações gerais desses aparelhos:

Dimensões Aproximadas (mm) Número


máximo de
Duração
Peso Tela frequências de
Equipamento da
Altura Largura Profundidade (kg) (mm) excitação ou de
bateria
bobinas por
sonda
Convencional 2
e Array usado 150 250 50 1.5 kg 145 8 h por
convencionalmente carga 32
Array 150 280 250 7 kg Notebook 64

Característica comuns a todos os equipamentos:


• A alimentação: 100-240/50-60 Hz;
• Circuitos eletrônicos com refrigeração selada e sem ventoinha;
• Faixa de frequência: 5-10 Hz até 10-13 MHz;
• Ganho de 53-64-104 dB, em passos de 0.1, 1 e 6 dB;
• Ajuste de Fase de 0.0 a 359.9º, em passos de 0.1º
Segundo a norma internacional ISO 17643 as configurações de arranjo das bobinas na sonda
de inspeção podem ser diferencial, ortogonal, tangencial ou equivalente, cuja principal
característica é ter uma dependência mínima de variações na condutividade, permeabilidade e
lift-off nas regiões soldada e termicamente afetada pelo calor (ZAC – Zona Afetada pelo
Calor). O diâmetro da sonda deve ser escolhido com base na geometria do componente a ser
inspecionado. A sonda escolhida deve ser capaz de operar com uma película de proteção não
condutora, usada para minimizar o desgaste, presente também na ocasião de ajuste e de
verificação dos parâmetros de ensaio (calibração). A sonda deve operar na frequência
selecionada que deve estar na faixa de 100 kHz a 1 MHz.

Foram usadas sondas superficiais especificas para inspeção da região soldada de materiais
ferríticos (exemplificada na Figura 1) e superficial com matriz de sensores (array) flexível
para inspeção das regiões com geometria complexa como a região soldada de materiais
metálicos (exemplificada na Figura 2).

Fig. 1 – Foto exemplo da sonda específica para inspeção de solda em material ferrítico.

Fig. 2 – Foto exemplo da sonda flexível (para inspeção se superfícies complexas) e com
matriz de sensores (array).
Chapas Soldadas de Topo com Trincas de Fadiga

Foram fabricadas 30 chapas de aço carbono, com 400 mm comprimento. Todas elas
apresentavam 400 mm de largura e 12,7 mm de espessura, soldadas ao centro em juntas de
topo com chanfro tipo “V V”,, com 3 mm de face de raiz, 3 mm de espaçamento de raiz e
cordões de solda com largura média de 28 mm, Figura 3.

Fig. 3: Vista superior da chapa CP03, com as marcações dos lados das soldas (A e B).

Bloco de Calibração para Ajuste dos Parâmetros do Ensaio


Ensaio de Correntes Parasitas

Para ajuste dos parâmetros de ensaio (frequência, ganho, ângulo de fase e escala da tela) a
norma internacional ISO 17643 recomenda o uso do bloco padrão da Figura 4. Esse bloco
deve conter entalhes transversais, de comprimento igual à largura do bloco, usinados por
eletroerosão, com profundidades 0,5 mm; 1,0 mm e 2,0 mm. A tolerância na profundidade dos
entalhes deve ser ±0,1 mm. A abertura do entalhe deve ser menor
m ou igual a 0,2 mm (Figura
(
4).

Devido a possibilidade de existência de descontinuidades com profundidade maior que a


máxima presente no bloco recomendado pela ISO e a necessidade de medição dessa
profundidade a norma recomenda, desde que acordado entre contratante
contratante e executor da
inspeção, o emprego de blocos de calibração com entalhes de maior profundidade.
profundidade

Foram realizadas inspeções com os o aparelhos de correntes parasitas utilizando as sondas


especiais em ambas as margens dos cordões de solda,
solda bem como empregando a sonda flexível
array, das 30 chapas, tendo como objetivo detectar e mensurar a localização (posição inicial),
o comprimento das descontinuidades longitudinais localizadas no metal base, paralelas
paral ao
cordão de solda, abertas para a superfície na margem do reforço da solda (trinca de fadiga). A
varredura das chapas foi realizada na mesma superfície de abertura da trinca. Ainda foi
registrado a amplitude máxima do sinal ao longo do comprimento
comprimento da trinca com objetivo de
estimar a profundidade da mesma.
Fig. 4 – Bloco de calibração com lâminas de plástico da ISO 17643.

Resultados Experimentais

A Figura 5 apresenta um exemplo da varredura transversal aos entalhes do bloco de


calibração da Figura 4. Nessa figura é possível ver a amplitude dos sinais dos diversos
entalhes do bloco.

Fig. 5: Reprodução da coleta de dados do aparelho na varredura do bloco de calibração da


Figura 4.
Tabela I – Resultados da Inspeção com Correntes Parasitas e Sondas Especiais
Gabarito Correntes Parasitas
Desc. Po L H Po (mm) L (mm) h ISO corrig.(mm)
No (mm) (mm) (mm) SIST1 SIST2 SIST 3 SIST1 SIST2 SIST3 SIST 1 SIST 2 SIST 3
1 693 22 3.3 - - - - - - - - -
2 1036 14 2.1 - 1035 1080 - 21 5 - 2.6 1.8
3 1137 194 12.6 1130 1137 1155 206 194 200 11.4 6.4 6.1
4 2229 84 10.1 2220 2219 2230 88 83 78 6.9 6.7 9.5
5 3670 83 4.9 3657 3653 3675 84 83 60 5.0 6.7 6.0
6 - - - - - 4095 - - 6 - - 1.8
7 4656 103 8.9 4649 4656 4660 120 106 108 9.3 5.3 5.9
8 5664 64 5.9 5660 5670 5690 69 47 35 4.6 5.0 4.9
9 6654 42 7.0 6645 6636 6650 61 64 30 3.9 3.8 9.9
10 - - - - - 7175 - - 13 - 1.7
11 - - - - - 7200 - - 10 - 1.6
12 - - - - 7674 7685 - 26 11 - 3.6 3.0
13 8677 63 6.1 8678 8690 8685 75 57 56 6.6 4.9 3.2
14 9103 9 1.9 9099 9103 9100 15 13 11 3.2 3.1 1.4
- - - - 9192 - - 206 - - 2.2 -
15 10211 22 1.9 10211 10215 10220 24 23 19 3.2 3.1 2.6
16 11656 62 9.4 11641 11651 11648 77 64 62 8.3 5.7 4.9
17 - - - - 13000 13210 - - 15 - - 1.7
18 15169 76 7.3 15164 15158 15170 90 94 80 5.2 5.6 5.3
19 17166 68 7.0 17163 17162 17170 75 85 69 6.4 5.6 7.9
20 18152 121 7.1 18153 18151 18145 110 111 93 4.6 5.1 7.8
21 - - - - 18500 18670 - - 11 - - 1.8
22 19692 88 7.7 19682 19688 19688 99 92 84 8.6 5.7 5.5
23 20200 10 3.0 20197 20194 20200 15 17 10 5.9 2.3 4.6
24 20692 8 3.0 20690 20687 20690 12 11 10 5.4 4.3 4.6
25 21137 98 7.1 21151 21145 21146 94 100 84 6.4 6.0 8.4
26 22638 74 7.8 22643 22634 22645 75 81 68 6.4 6.8 9.6
27 23634 144 6.0 23646 23646 23655 119 83 75 6.4 5.9 7.1
24142 93 6.1 24131 24158 - 105 84 - 4.4 4.6 -
28 24660 23 2.0 24646 24645 24665 50 55 58 2.9 1.4 4.7
25152 70 4.2 25157 25168 - 69 77 - 4.6 4.5 -
29 25646 24 1.2 - - 25645 - - 31 - - 2.9
30 - - - - - 25680 - - 42 - - 7.2
31 - - - - - 25855 - - 8 - - 2.2
32 26175 24 1.2 26173 26175 26190 30 50 41 3.9 4.6 3.2
33 28149 96 6.6 28141 28147 28150 109 109 36 8.9 4.6 4.3
34 28149 96 6.6 28141 28147 28215 109 109 21 8.9 4.6 2.9
35 29181 89 9.1 29177 29173 29180 93 100 88 5.0 5.0 5.1
36 30121 38 2.1 30120 30113 30130 39 45 38 8.5 5.0 2.5
37 30245 39 12.7 30246 30254 30265 30 47 39 12.7 6.5 9.3
38 30545 37 6.0 30544 30539 30545 44 50 39 11.4 6.3 3.5
39 30689 15 1.4 30686 30685 30695 16 23 16 5.0 3.9 1.6
Notas: ____Falsos Negativos (descontinuidades existentes, segundo o gabarito e não detectada pelo sistema)
____Falsos Positivos (descontinuidades não existentes, segundo o gabarito, e detectadas pelo sistema)
A Tabela I apresenta os valores considerados reais (gabarito) para as trincas existentes nos 30
corpos de prova, obtidos pelos ensaios de partículas magnéticas para o comprimentos e ToFD
(Time of Flight Diffraction) para a altura, bem como os resultados da inspeção com a técnica
de correntes parasitas empregando os três sistemas de inspeção utilizados (SISTEMA 1:
cabeçote especial e aparelho convencional; SISTEMA 2: cabeçote especial e aparelho array
usado convencionalmente, e; SISTEMA 3: cabeçote flexível array e aparelho array).

As células com fundo amarelado na tabela significam descontinuidades indicadas pela técnica
de correntes parasitas e não existentes no gabarito (considerados FALSOS POSITIVOS) e as
com fundo roxo significam descontinuidades do gabarito não detectadas pela técnica
(considerados FALSOS NEGATIVOS).

Para a determinação da estimativa da profundidade das trincas detectadas pela técnica de


correntes parasitas, inicialmente construiu-se uma curva de calibração para o bloco padrão
recomendado pela norma internacional. O bloco de calibração recomendado pela norma
internacional possui um entalhe de 2 mm como máxima profundidade de calibração. A norma
indica que caso haja necessidade de medição de trincas com maiores profundidades, e seja
acordado entre o responsável pela inspeção e o solicitante da mesma, pode ser utilizado
blocos de calibração com entalhes de maiores profundidades que aquele da norma. Vários
trabalhos de pesquisa realizados mostram que a amplitude do sinal do ensaio de correntes
parasitas depende não só da profundidade da trinca, mas também do mecanismo de formação
dessa descontinuidade, sua morfologia, abertura, presença de tensões trativas ou compressivas
atuantes na região da trinca, etc. Na tentativa de considerar todos os parâmetros influentes na
amplitude do sinal recomenda-se que seja feito um trabalho de confirmação da profundidade
real das trincas detectadas e estabelecido uma curva de correlação entre essa profundidade e a
amplitude do sinal resposta do ensaio de correntes parasitas. Na tabela I a coluna com a
profundidade estimada pela técnica de correntes parasitas (h ISO corrig) foi obtida por essa
correlação.

Levantamento da Detectabilidade e Capacidade de Dimensionamento

Avaliação de Detecção P&R – API RP 2X

A prática recomendada API RP 2X, criada para a inspeção de fabricação de estruturas


offshore e qualificação de operadores em ensaios de partícula magnética e ultrassom,
apresenta critérios para avaliar se uma indicação corresponde a uma detecção. Mostra uma
maneira de qualificar ensaios de ultrassom e partículas magnéticas por meio do cálculo dos
parâmetros P e R, que representam a porcentagem de detecções corretas e o desempenho da
inspeção, respectivamente. Segundo a API RP 2X, as indicações devem satisfazer os critérios
de posicionamento e de dimensionamento para que sejam consideradas detecções. Para
satisfazer o critério de posicionamento, o centro da indicação deve estar contido no intervalo
espacial delimitado pela trinca real do gabarito.

(1)
(2)

Onde:
La = comprimento das descontinuidades reais contidas nas amostras
Lc = comprimento das descontinuidades reais que foram corretamente localizadas e
dimensionadas na inspeção
Li = comprimento total de indicações detectadas, sejam elas certas ou erradas
Lf = comprimento de indicações de onde não há descontinuidades

Incialmente deve ser informado que a API RP 2X apresenta critérios para confirmar a
localização e o dimensionamento das descontinuidades que são:
- quanto a localização: uma descontinuidade definida na atividade de inspeção só será
associada (e considerada detectada) a uma descontinuidade do gabarito se o centro da
descontinuidade da inspeção estiver entre os extremos da descontinuidade do gabarito (nas
direções do comprimento e da profundidade);
- quanto ao dimensionamento: uma descontinuidade definida na atividade de inspeção só
será associada (e considerada detectada) a uma descontinuidade do gabarito se o
dimensionamento (comprimento e profundidade) da descontinuidade da inspeção estiver
entre 50%(1/2x) e 200%(2x) ao dimensionamento da descontinuidade do gabarito.

A equação (1) indica a habilidade do inspetor em localizar e medir descontinuidades


existentes, e deve ser maior ou igual a 70% para que ser considerada satisfatória. A equação
(2) indica a habilidade do inspetor em aprovar as áreas de solda nas quais não há
descontinuidades. Um valor baixo de R indica que o inspetor pode acusar a necessidade de
um grande número de reparos desnecessários, o que poderia até mesmo piorar as condições
locais (API RP 2X). Consequentemente, sugere-se uma nota maior ou igual a 50% como
desempenho mínimo satisfatório.

Observa-se na tabela II que a técnica de correntes parasitascom qualquer um dos três sistemas
testados estaria aprovado para a detecção de trincas de fadiga na margem da solda de chapas
soldadas de topo. A título de comparação cita-se que a técnica sucedânea ACFM obteve
valores de P e R, aprováveis, iguais a 78,7 e 67,3 respectivamente e com os índices obtidos os
três sistemas tiveram um desempenho superior ao da técnica ACFM, segundo o critério
estabelecido para avaliação de técnicas pelo API RP 2X.

Tabela II – Cálculo de P&R (API RP 2X)


P (%) R (%)
Critério do API RP 2X
ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
LocalizaçãoeComprimento 78,7 94,7 93,3 79,6 67,3 77,2 72,8 78,7
Avaliação da Probabilidade de Detecção (PoD) – mh 1823

A curva de PoD mostra a probabilidade de detecção de um defeito como uma função da sua
dimensão para uma técnica de inspeção especifica. É equivalente a uma função cumulativa de
probabilidades, variando de 0 até 1.Normalmente curvas PoD são construídas em função do
comprimento das descontinuidades. A altura das descontinuidades tem sido mais raramente
medida por técnicas não destrutivas, mas também pode ser usada para montar curvas PoD.

O método probabilístico empregado para analisar a confiabilidade de dados obtidos


experimentalmente utilizando-se ensaios não destrutivos é produzir curvas de PoD em função
do tamanho da descontinuidade, letra a. Para ensaios que geram resposta na forma de sinais
contínuos e que podem ser interpretados como o tamanho percebido da descontinuidade,
representado por â, é esse o parâmetro utilizado para construção da curva de PoD.

Na prática, define-se a probabilidade de detecção ou a confiabilidade de uma técnica de


ensaio não destrutivo como o tamanho da descontinuidade cuja detecção é considerada
satisfatória, o que corresponde ao tamanho que descontinuidade que apresenta 90% de
probabilidade de detecção, com intervalo de confiança de 95%, representado por a90/95. Para
dados contínuos de sinais de resposta, é necessária uma amostra com no mínimo 29
descontinuidades para cada intervalo de tamanho considerado.

Para o cálculo do nosso PoD empregou-se o procedimento mh1823 v3.1.4 desenvolvido pelo
Engenheiro Charles Annis dentro das bases do software estatístico R. Cita-se que essa
metodologia, que surgiu na área aeronáutica americana MIL-HDBK-1823 "Nondestructive
Evaluation System Reliability Assessment", é hoje universalmente aceita e a mais adotada.

Essa metodologia depende: da seleção conveniente de uma amostra (distribuição dos


tamanhos da descontinuidade); do levantamento experimental das respostas da técnica (sinais)
para as descontinuidades escolhidas; e fundamentalmente da amplitude do sinal escolhida
para ser o limiar (threshold) de decisão (aprovado/reprovado). É relativamente fácil perceber
que a escolha de um limiar baixo vai implicar numa alta detectabilidade (menor valor de
PoD), mas que está associado a um maior número de “false calls” (probabilidade de FALSOS
POSITIVOS alta). Por outro lado, um limiar alto vai implicar numa baixa detectabilidade
(maior PoD) mas com pequena probabilidade de FALSOS POSITIVOS.

A Figura 6 mostra, apenas a título de exemplo, curvas de PoD para comprimento e altura de
trincas de um dos três (3) sistemas avaliados (SISTEMA 2). O limiar de decisão (âdecisão),
consideração extremamente relevante e influente no valor de PoD obtido, foi escolhido com
base no nosso universo de amostras e por apresentar valores de PoD90/95 mais próximos dos da
técnica sucedânea que é o ACFM.

A tabela III apresenta os valores de PoD para 90% de percentuais de acerto para intervalo de
confiança 95% (“lower band”), tanto para o comprimento como para a altura/profundidade da
trinca. Na tabela apresenta-se os valores de PoD para os três sistemas avaliados considerando-
se o mesmo limiar de decisão 15% ATT (altura total da tela). Cita-se que o ensaio ACFM
obteve valores de PoD90/95 de 20 mm para o comprimento e 1,9 mm para a altura da trinca
próximos, portanto, ao da correntes parasitas desse trabalho, exceção para o caso do
comprimento do SISTEMA 3, que teve valor calculado bem maior.

Fig. 6: Curvas de PoD obtidas pelo procedimento mh1823 para âdecision=15% ATT
Direita=comprimento da trinca e Esquerda=altura da trinca

Tabela III – Valores de PoD para Comprimento e Altura da Trinca (mh 1823)
Comprimento(L,mm) Altura(H,mm)
Cálculo a90/95 ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
âthreshold = âdecisão= 15%
ATT
20,0 20,2 12,1 317,3 1,9 1,4 2,3 1,7

Quanto a probabilidade de indicação falsas, os chamados falsos positivos (PFP-células com


fundo amarelado na Tabela I), o que foi definido na prática realizada é que todos os sinais que
ultrapassaram 15%da altura total da tela (ATT) foram considerados trincas. A análise da
Tabela I permite estimar de uma forma prática a quantidade de indicações falsas (PFP) e de
descontinuidades existentes e não detectadas (PFN) pelos três (3) sistemas de correntes
parasitas avaliados (Tabela IV).

Tabela IV – Valores de PFP e de PFN com Base nos Resultados da Tabela I


o
N indicações falsas e PFP (%) PFN (%)
descontinuidades não SIST1 SIST2 SIST3 SIST1 SIST2 SIST3
detectadas pelo total de 0/39 2/39 8/39 3/39 2/39 2/39
indicações
0% 5% 21% 8% 5% 5%

Avaliação da Capacidade de Localização e de Dimensionamento

O procedimento de levantamento da grandeza R (Avaliação de Detecção P&R – API RP 2X)


já considera a capacidade de localização da técnica de correntes parasitas e a mesma mostrou-
se bem eficiente quanto a localização, o que é demonstrado pelo valor de R maior que 70%
para os três sistemas. Ainda para estabelecer a capacidade de localização construiu-se gráfico
correlacionando a localização (posição inicial) real (gabarito) da trinca “versus” a localização
indicada pela técnica, Figura 7. Analisando-se esse gráfico percebe-se que o ensaio de
correntes parasitas permitiu localizar com precisão as trincas existentes nos corpos-de-prova,
para os três sistemas estudados. A média da diferença entre a localização real e a estimada
para os três sistemas do método de correntes parasitas estão apresentados na tabela V (-3 mm;
1 mm; 9 mm) bem como o desvio padrão da diferença (7 mm; 6 mm e 14 mm). Cita-se que a
técnica ACFM nos mesmos corpos-de-prova obteve valores de média da diferença (14 mm) e
de desvio da diferença (21 mm) maiores que os de correntes parasitas (três sistemas).

Capacidade de Localização
35000

30000

25000
Posição Estimada CP

Po SIST1
20000
Po SIST2

15000 Po SIST3
ERRO=0
10000

5000

0
0 10000 20000 30000 40000
Posição Real

Fig.7: Gráfico da Posição Estimada (CP) “versus” Real

Tabela V – Erro Médio e Desvio da Estimativa de Localização das Descontinuidades no


Ensaio de Correntes Parasitas
Localização das Erro Médio (mm) Desvio Padrão (mm)
Descontinuidades ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
ACFM e CP 14 -3 1 9 21 7 6 14

Quanto a capacidade de dimensionamento do comprimento das trincas, o resultado da técnica


de correntes parasitas com cabeçote especial aparece na Figura 8. Comparando-se a reta
representativa da regressão linear das estimativas de comprimento das trincas de fadiga pelos
três sistemas de correntes parasitas com a reta de 45 graus (erro de estimativa igual a zero).
Observa-se uma tendência dos sistemas de correntes parasitas em superestimar o
comprimento da trinca (para trincas até, aproximadamente, 130 mm de comprimento [sistema
1]; para trincas até, aproximadamente, 80 mm [sistema 2]; e para trincas até,
aproximadamente, 60 mm [sistema 3] e a partir desse ponto uma tendência a subestimar o
comprimento. Apenas com a finalidade de comparação apresenta-se gráfico análogo para a
técnica de ACFM, Figura 8, e um comportamento semelhante é obtido porém com acentuação
na dispersão dos resultados e com uma inversão de comportamento se dando para
comprimentos menores, no caso do ACFM, em aproximadamente 55 mm.

A tabela VI mostra a média (6 mm; -6 mm; e 12 mm) e o desvio padrão (11 mm; 12 mm; e 19
mm) da diferença entre a estimativa dos três sistemas de correntes parasitas e o valor
considerado real. Cita-se que a técnica ACFM nos mesmos corpos-de-prova obteve valores de
-8 mm para média (erro intermediário ao dos sistemas de CP) e 45 mm (erro maior que o
dobro que os dos sistemas de CP) para o desvio da diferença entre o valor estimado e o real.

Capacidade de Dimensionamento
250
(comprimento)
y = 0.923x + 11.92
R² = 0.943
Comprimento Estimado CP (mm)

200 L SIST1
y = 0.817x + 14.14
R² = 0.850 L SIST2
150 L SIST3
ERRO=0
y = 0.826x + 5.165
100 R² = 0.820 Linear (L SIST1)
Linear (L SIST2)
50 Linear (L SIST3)

0
0 50 100 150 200 250
Comprimento Real (mm)

Fig.8: Gráfico Comprimento Estimado (CP) “versus” Real

Tabela VI – Erro Médio e Desvio da Estimativa de Comprimento das Descontinuidades no


Ensaio de Correntes Parasitas
Comprimento das Erro Médio (mm) Desvio Padrão (mm)
Descontinuidades ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
ACFM e CP -8 6 -6 -12 45 11 12 19
Capacidade de Dimensionamento Comprimento ACFM

250

y = 0.3104x + 38.472
2
R = 0.0886
200

y=x
2
R =1
Comprimento Medido (mm)

150
L ACMF
45 graus
Linear (45 graus)
Linear (L ACMF)
100

50

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Comprimento Real (mm)

Fig. 9: Gráfico Comprimento Medido (ACFM)“versus” Comprimento Real (corrigir a legenda


do gráfico)

Capacidade de Dimensionamento
14.0
(profundidade)
y = 0.923x + 11.92
12.0
Profundidade Estimada CP (mm)

R² = 0.943
H SIST1
10.0
H SIST2

8.0 H SIST3
ERRO=0
6.0 y = 0.826x + 5.165 Linear (H SIST1)
R² = 0.820
4.0 Linear (H SIST2)
Linear (H SIST3)
2.0 y = 0.817x + 14.14
R² = 0.850
0.0
0 5 10 15
Profundidade Real (mm)

Fig.10: Gráfico Profundidade Estimada (CP) “versus” Real


Quanto a capacidade de dimensionamento da profundidade das trincas, os resultados dos
sistemas de correntes parasitas aparecem na figura 10. Comparando-se a reta representativa da
regressão linear das estimativas de comprimento das trincas de fadiga pela técnica de
correntes parasitas com a reta de 45 graus (erro de estimativa igual a zero), observa-se uma
tendência da técnica de correntes parasitas em superestimar o profundidade da trinca (para
trincas até, aproximadamente, 5,5 mm de comprimento [sistema 1]; para trincas até,
aproximadamente, 4 mm [sistema 2]; e para trincas até, aproximadamente, 6 mm [sistema 3] e
a partir desse ponto uma tendência a subestimar a profundidade. Apenas com a finalidade de
comparação apresenta-se gráfico análogo para a técnica de ACFM, figura 11, e um
comportamento semelhante é obtido, porém com acentuação na dispersão dos resultados e
com uma inversão de comportamento se dando para profundidades menores, no caso do
ACFM, em aproximadamente 5,5 mm.

A tabela VII mostra a média (-0,4 mm; -1,0 mm; e 0,8 mm) e o desvio padrão (1,7 mm; 1,7
mm; e 2,3 mm) da diferença entre a estimativa dos três sistemas de correntes parasitas e o
valor considerado real. Cita-se que a técnica ACFM nos mesmos corpos-de-prova obteve
valores de -0,9 mm para média (erro intermediário ao dos sistemas de CP) e 2,5 mm (erro
maior que os dos sistemas de CP) para o desvio da diferença entre o valor estimado e o real.

Tabela VII – Erro Médio e Desvio da Estimativa da Profundidade das Descontinuidades no


Ensaio de Correntes Parasitas
Profundidade das Erro Médio (mm) Desvio Padrão (mm)
Descontinuidades ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
ACFM e CP -0,9 -0,4 -1,0 0,8 2,5 1,7 1,7 2,3

Capacidade de Dimensionamento Profundidade (mm) CP

14

12

10
Profundidade Medida (mm)

8 Profundidade Medida (mm)


45 graus
Linear (45 graus)
6 Linear (Profundidade Medida (mm))

4
y = 0.5068x + 2.721
2
R = 0.4268
2
y=x
2
R =1

0
0 2 4 6 8 10 12 14
Profundidade Real (mm)

Fig.11: Gráfico Profundidade Medida (CP) “versus” Profundidade Real


Análise dos Resultados de Comparação do Ensaio de Correntes Parasitas com o ACFM

Inicialmente indicamos que o objetivo desse trabalho não era definir qual o melhor sistema de
correntes parasitas para a inspeção de trincas de fadiga na margem de soldas em chapas de
aço carbono, e sim verificar a possibilidade de uso dessa técnica assim como a técnica ACFM
que tem normalmente sido usada.

Para facilitar essa comparação concatenamos aqui os resultados apresentados nas tabelas já
mostradas ao longo do trabalho, apesar de que as comparações feitas em cada item terem
considerado também gráfico elucidativos dos resultados.

Tabela VIII – Comparação entre o método ACFM e os sistemas de Correntes Parasitas


Critério doAPI RP P (%) R (%)
2X ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
Localização e
Comprimento
78,7 94,7 93,3 79,6 67,3 77,2 72,8 78,7
Comprimento(L,mm) Altura(H,mm)
Cálculo a90/95
ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
âthreshold = âdecisão =
20,0 20,2 12,1 317,3 1,9 1,4 2,3 1,7
15% ATT
No indicações falsas e PFP (%) PFN (%)
descontinuidades ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
não detectadas pelo 0/39 2/39 8/39 3/39 2/39 2/39
ND ND
total de indicações 0% 5% 21% 8% 5% 5%
Localização das Erro Médio (mm) Desvio Padrão (mm)
Descontinuidades ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
14 -3 1 9 21 7 6 14
ACFM e CP
Comprimento das Erro Médio (mm) Desvio Padrão (mm)
Descontinuidades ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
-8 6 -6 -12 45 11 12 19
ACFM e CP
Profundidade das Erro Médio (mm) Desvio Padrão (mm)
Descontinuidades ACFM SIST1 SIST2 SIST3 ACFM SIST1 SIST2 SIST3
-0,9 -0,4 -1,0 0,8 2,5 1,7 1,7 2,3
ACFM e CP

A análise da Tabela VIII mostra que os três sistemas de correntes parasitas podem ser usados
para a detecção de trincas de fadiga na margem de soldas em chapa com uma confiabilidade
em alguns casos até superior que a técnica sucedânea ACFM.

Conclusões e Recomendações

Apresentamos aqui o uso do ensaio de correntes parasitas com sonda especial e com sonda
flexível com múltiplos sensores para detecção de trincas de fadiga em soldas de materiais
ferríticos. Para detalhar mais ainda essa inspeção citamos que a ela se deu pelo mesmo lado da
abertura (nucleação) da trinca superficial.
Como o autor do procedimento mh1823 para obtenção do PoD diz que a avaliação de uma
técnica de inspeção não destrutiva não deve estar baseada em apenas um número, procuramos,
ao analisar a técnica de correntes parasitas com sonda especial e com sonda flexível de
múltiplos sensores, empregar vários valores estatísticos. Valores de P&R (API RP 2X), valor
de PoD (MIL-HDBK-1823) associado a amplitude de reprovação, probabilidade de falsos
positivos, e precisão de localização e dimensionamento. Na maioria desses índices o ensaio de
correntes parasitas com sonda especial e com sonda flexível de múltiplos sensores obteve
valores próximos e as vezes até superiores aos da técnica de ACFM. Se considerarmos ainda
que o tempo de inspeção do ensaio de correntes parasitas é semelhante ao do ACFM, fica a
clara impressão que correntes parasitas pode substituir o ACFM nessa aplicação.

É claro que nem tudo são vantagens, pois a aplicação principal, ou de origem do ACFM, é na
inspeção submarina de estruturas e o aparelho e a sonda de correntes parasitas não foram
desenvolvidos para essa aplicação. Outra limitação é a necessidade de correção da estimativa
da profundidade das trincas medidas pelo ensaio de correntes parasitas a partir de valores
reais dessas profundidades. Os valores das profundidades reais podem ser obtidos com a
confecção de amostras representativas da situação de inspeção ou o acompanhamento das
profundidades reais das trincas em operações de reparo.

Agradecimentos

• A BC END por ter permitido o uso do aparelho de correntes parasitas e da sonda especial
nesse trabalho de pesquisa;
• A EddyFi por ter permitido o uso da sonda array flexível nesse trabalho de pesquisa;
• A Brito & Kerche por ter permitido o uso do aparelho de correntes parasitas e da sonda
especial nesse trabalho de pesquisa;
• A PETROBRAS/CENPES/TME pela cessão dos corpos de prova contendo trincas de
fadiga para realização desse trabalho de pesquisa.

Você também pode gostar