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Sinopse
Um dos danos mais comuns em equipamentos fabricados com aço inoxidável austenítico, em
plantas da indústria química, são as trincas de corrosão sob tensão. Sua detecção,
normalmente, é obtida pelo emprego do ensaio de líquidos penetrantes, no entanto esse ensaio
não permite o dimensionamento da profundidade das trincas, etapa fundamental para análise
da gravidade dessas descontinuidades.
A técnica a empregar para dimensionar a profundidade das trincas deve ser bastante rápida
uma vez que comumente o número de descontinuidades presentes no casco desses
equipamentos é grande.
Este trabalho sugere uma metodologia, bastante rápida, para avaliação de trincas de corrosão
sob tensão em chapas de aço inoxidável austenítico, empregando a técnica de correntes
parasitas com matriz de sensores (“array”). Mostram-se ainda os resultados dos testes de
laboratório e de campo com a metodologia aplicada. Conclui-se que a metodologia adotada é
bastante eficiente na detecção de trincas superficiais de corrosão sob tensão.
Introdução
desse tipo de descontinuidade é bastante simples pelo emprego do método não destrutivo com
líquidos penetrantes. A avaliação dessas trincas não é tarefa elementar, pois embora as
mesmas sejam superficiais (o que facilita a medição de sua extensão), necessita-se da medição
da sua profundidade, visto que este é o parâmetro crítico para o estabelecimento da gravidade
do dano.
Outro aspecto complicador da medição da profundidade das trincas de corrosão sob tensão
ocorre devido ao fato destas, normalmente apresentarem-se sob a forma ramificada ou
irradiada, dispersa por toda a superfície da chapa e eventualmente até nos cordões de solda.
A morfologia das trincas de corrosão sob tensão implica em grande dificuldade de medição da
profundidade visto que a priori não se sabe qual o “ramo” ou “raia” da trinca que apresenta
maior altura (profundidade). O aspecto multidirecional das trincas de corrosão sob tensão é
uma outra dificuldade de detecção e de medição da profundidade para os métodos de inspeção
convencionais/antigos. Mas essas dificuldades foram suplantadas com o emprego dos
modernos sensores com múltiplos elementos (matriciais ou “array”). Outra vantagem do uso
de técnicas com múltiplos sensores é a diminuição do tempo de inspeção, na cobertura de
grandes áreas, porque os sensores matriciais tipicamente tem uma cobertura (“footprint”)
maior que os convencionais.
A técnica de corrente parasita convencional vem sendo empregada a muitas décadas para
inspecionar a superfície e a região próximo da superfície de componentes em uma grande
variedade de industrias. Infelizmente, a inspeção de grandes áreas usando uma sonda única é
muito demorada ou quase impossível praticamente pelo grande tempo de inspeção requerido e
a grande probabilidade de não detecção de pequenas descontinuidades. Outro inconveniente
da técnica convencional é a direcionalidade do ensaio, maior sensibilidade da técnica quando
a varredura se dá numa direção perpendicular a maior dimensão da descontinuidade, e
consequente necessidade de varredura em pelo menos duas direções ortogonais, Figura 1.
- O uso de múltiplas bobinas com ligação (ativação) individual combinada (ligação do tipo
emissor-receptor entre bobinas individuais vizinhas) para permitir o fluxo das correntes
parasitas geradas em duas direções permite que mesmo com varredura física da sonda em
apenas uma direção a detectabilidade da sonda seja semelhante nas duas direções
ortogonais com relação a varredura. Figura 3.
Métodos e Equipamentos
(b)
(a)
Fig. 4 – Aparelhagem utilizada para a inspeção por correntes parasitas com múltiplos
sensores. (a) aparelho e (b) sonda matricial “array”.
Foram utilizadas nesse trabalho 3 (três) chapas retiradas de vaso de pressão real, que durante a
sua vida em serviço desenvolveu o mecanismo de dano do tipo corrosão sob tensão, figura 5.
Essas chapas são de material aço inoxidável austeníco e têm dimensões aproximadas de 400 x
300 mm e por se tratarem de um a região de transição de anéis soldados do costado as
espessuras das chapas são de 16 mm na parte inferior e de 12 mm na parte superior. Outra
observação importante a respeito das chapas inspecionadas é que vizinho ao cordão de solda
nas chapas existia uma chapa suporte de isolamento térmico perpendicularmente posicionado
a superfície da chapa. Figura 6.
Fig. 5 – Aspecto geral das chapas inspecionadas.
Para ajuste dos parâmetros de ensaio (frequência, ganho, ângulo de fase e escala da tela)
adotou-se o bloco padrão de referência da figura 7. Trata-se de um bloco de material
semelhante ao das chapas a serem inspecionadas com dimensão 150 x 40 x 8 mm e que
contém entalhes transversais usinados por eletroerosão (assemelhados a trincas) e com
profundidades 0,2; 0,5; 1,0 e 2,0 mm. A tolerância na profundidade dos entalhes deve ser ±0,1
mm. A abertura do entalhe deve ser menor ou igual a 0,2 mm.
Fig. 7 – Bloco padrão de referência para ajuste dos parâmetros do ensaio de correntes
parasitas.
Resultados Experimentais
Fig. 9: Marcação da chapa para varredura da região metal de base acima do cordão de solda.
As inspeções realizadas no campo com Líquidos Penetrantes (e que reprovaram as regiões do
vaso que deram origem as chapas amostra empregadas nesse trabalho) mostraram a presença
de trinca não só no metal de base, mas principalmente no cordão de solda (região de acúmulo
de umidade pela proximidade ao anteparo do isolamento térmico). Para inspecionar o cordão
de solda, quanto a presença de trincas de corrosão sob tensão, realizou-se uma varredura ao
longo da direção longitudinal do cordão. Devido à largura da sonda, não só o cordão de solda,
mas também sua vizinhança (zona termicamente afetada e parte do metal de base) foi
inspecionada nessa varredura. Figura 10.
Cada uma das faixas definidas foi varrida pela sonda com múltiplos sensores e o resultado da
inspeção armazenado no aparelho, como a tela do aparelho exemplificada na Figura 11.
Analisando-se a Figura 11 observa-se, que:
- na região inferior da tela, aparece o resultado da inspeção de toda a faixa e os sinais obtidos
nos pontos de existência de trincas com a amplitude do sinal correspondente a uma escala de
corres;
- na parte superior esquerda, o “software” do aparelho apresenta uma imagem tridimensional,
da região selecionada de toda a faixa inspecionada (retângulo de cor branca na parte inferior),
com os componentes verticais, dessa figura, representando os sinais de corrente parasita no
local da região selecionada da inspeção total;
- na parte superior direita, o “software” do aparelho apresenta o plano de impedâncias elétrico
(padrão de indicações do ensaio de correntes parasitas) e o sinal de desbalanceamento
exatamente no ponto indicado pela seta desenhada na figura superior esquerda;
- na parte central da tela, o “software” apresenta alguns valores relativos a região selecionada
para análise (retângulo branco na figura inferior) ou ao ponto representado pela seta da figura
na parte superior esquerda, ou a região com duplo circulo na figura inferior. Esses valores são:
tamanho do retângulo na direção axial (27,88 mm), tamanho do retângulo na direção
transversal (24,9 mm); máxima amplitude e fase do sinal na região selecionada (1.34 V e 78º,
indicado pelo duplo circulo na figura inferior direita), e distância do centro do retângulo de
seleção de área e o ponto de máxima amplitude do sinal (3,85 mm).
Fig. 11: Tela do aparelho de correntes parasitas para uma faixa inspecionada
(chapa 02 – faixa 1).
Para reportar os resultados do ensaio de correntes parasitas nas chapas, as reproduções das
faixas inspecionadas na tela do aparelho (gráfico em padrão de cores na parte inferior da
figura 11) foram posicionadas exatamente sobre a foto da chapa inspecionada (na região
ensaiada correspondente). As figuras 12, 13 e 14 apresentam os resultados das inspeções por
correntes parasitas empregando sondas matriciais (“array”) para as três chapas inspecionadas.
Fig. 12: Resultado da inspeção do ensaio de correntes parasitas com sonda matricial (“array”)
(chapa 02).
Fig. 13: Resultado da inspeção do ensaio de correntes parasitas com sonda matricial (“array”)
(chapa 05).
Fig. 14: Resultado da inspeção do ensaio de correntes parasitas com sonda matricial (“array”)
(chapa 06).
É possível observar que o ensaio de correntes parasitas com matriz de sensores (“array”)
detectou várias descontinuidades tanto na região de solda como no metal de base das três
chapas inspecionadas. Apesar do conhecimento de que o ensaio por líquidos penetrantes
apresentou algumas limitações de detectabilidade nessa aplicação (reportada pelos inspetores
da unidade) resolveu-se ensaiar essas chapas com o ensaio por líquido penetrante para uma
comparação preliminar dos resultados.
A comparação desses ensaios mostra que o ensaio de correntes parasita conseguiu detectar
mais descontinuidades do tipo corrosão sob tensão que o ensaio por líquido penetrante e que
todas as descontinuidades indicadas pelo ensaio de líquido penetrante foram também
detectadas pelo ensaio de correntes parasitas com matriz de sensores (“array”).
Tabela I – Comparação dos Ensaios de Correntes Parasitas com o Ensaio de Líquido
Penetrante
CORRENTES PARASITAS LÍQUIDO PENETRANTE
CHAPA 02
CHAPA 05
CHAPA 06
Conclusões e Recomendações
Apresentamos aqui o uso do ensaio de correntes parasitas com sonda de múltiplos sensores,
do tipo matricial, conhecida como “array probe”. Esse tipo de sonda apresenta vantagens na
aplicação: por permitir uma inspeção mais rápida da região a inspecionar, não só por cobrir
uma área maior (“footprint”), mas também porque produz correntes parasitas em duas
direções ortogonais (evitando a necessidade de uma segunda varredura em direção normal à
primeira).
Ensaiaram-se com a técnica de correntes parasitas empregando sensores matriciais três chapas
retiradas de vaso em operação após a detecção de trincas de corrosão sob tensão com ensaio
de líquido penetrante.
O ensaio de correntes parasitas com matriz de sensores (“array”) mostrou-se mais eficiente
que o ensaio por líquido penetrante na detecção de descontinuidades do tipo corrosão sob
tensão em chapas de aço inoxidável austenítico.
Mesmo que os resultados dessa aplicação tenham sido muito promissores, recomenda-se a
continuação do estudo no uso do ensaio de correntes parasitas, não só para a detecção de
trincas de corrosão sob tensão mas também para avaliação de sua profundidade. Esse uso da
técnica só será possível com a confecção de um padrão de referência específico (material e
faixa de profundidades a estimar) bem como pela realização de perícia (medição da
profundidade real) nas trincas existentes após serem estimadas pela técnica.