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Ministério Público do Estado do Paraná

Escola Superior do Ministério Público do Estado do Paraná

A Psicologia
do Tribunal do Júri

Curitiba
2023
Realização:

Organizadora: Samia Saad Gallotti Bonavides

Edição: André Luis da Graça


Vivian Maria Schatz

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha Catalográfica
_________________________________________________________________________

P974j A psicologia do tribunal do júri [recurso eletrônico] /


Coordenadoras: Karen Richter P. S. Romero, Patrícia
dos Santos Lages Prata Lima. — Documento
eletrônico. — Curitiba : Escola Superior do MPPR,
2023.

Livro Digital

Modo de acesso: http://www.

ISBN 978-65-87486-21-5

1. Tribunal do júri – coletânea. 2. Tribunal do júri –


aspectos psicológicos. 3. Psicologia. 4. Jurados. 5. Júri. 6.
Promotor de justiça – atuação. I. Romero, Karen Richter P. S.
II. Lima, Patrícia dos Santos Lages Prata. III. Título.

CDU 343.195:159.9(81)

Elaborada por Claudia Teixeira de Oliveira - CRB-9/1391


Divisão de Biblioteca / Ministério Público do Estado do Paraná
__________________________________________________________________________

Ministério Público do Estado do Paraná


Escola Superior do Ministério Público do Estado do Paraná
PREFÁCIO
As autoras e organizadoras das pesquisas que estão sendo divulgadas neste
ebook, Karen Richter Romero e Patrícia dos Santos Prata Lima são psicólogas que
integram o quadro funcional do Ministério Público do Paraná, com larga experiência e
formação técnica forjadas na dedicação constante, tanto em relação ao conhecimento
acadêmico, quanto em efetivar seu contexto na prática, especialmente considerando
as atividades afetas ao Ministério Público.
Participaram também, em alguma medida, das coletas de dados, discussões
e conclusões, mais um psicólogo do nosso quadro funcional (Fernando Vecchio),
além de uma psicóloga que é estagiária de pós-graduação (Adriane Pontarola), uma
estagiária e um estagiário, ambos do curso de graduação em psicologia (Ana Carolina
Lins e Felipe Trevisan), todos em atividade no MPPR.
Cuida-se de um e-book composto de quatro artigos cuja preocupação principal
é a de dar subsídios sobre como as pessoas formam suas convicções, e o que está
acontecendo com elas, no seu interior, nas profundezas de sua psique, no seu
próprio corpo biológico, quando estão submetidas a um procedimento muitas vezes
estressante, demorado, complexo e desafiador em vários aspectos, como é o de fazer
parte de um corpo de jurados, responsável pela decisão a respeito da ocorrência de
fatos criminosos que são da competência do júri, segundo a Constituição brasileira,
e que são os que despertam as maiores paixões e sensações diversas no público em
geral.
Denota-se a preocupação com o necessário rigor científico, na medida do que
é realizável, fazendo adequações necessárias para ir em busca de dados relevantes a
serem discutidos e virem integrar considerações finais. Estas que, como sabemos, são
fruto do realizável em determinadas circunstâncias, por isso as pesquisas no âmbito
das ciências sociais aplicadas e no campo das humanidades, são sempre relativas,
ou seja, não se concluem em definitivo por se referirem a determinados contextos,
mas o fato é que, do conjunto delas todas pelas lentes de um número respeitável
de pesquisadores e pesquisadoras do mundo todo, se extraem variáveis que vão
se acumulando em forma de novos conhecimentos que precisam ser considerados
em áreas chave de muitas atividades técnico-profissionais, tanto quanto para a
compreensão do ambiente permeado de ambiguidades de nossa vida em geral.
Isso é especialmente relevante quando falamos da subjetividade das pessoas,
ou seja, como elas pensam, reagem, tiram conclusões, no seu “cérebro íntimo”,
este que concerta nossos sentidos, memória, pensamento, nossa representação do
mundo, nossos relacionamentos, e o que interfere quando se trata delas exporem e
concretizarem suas impressões sobre o mundo, os fatos e as outras pessoas.
Há trechos elucidativos das nossas dificuldades de sempre, tratando das
heurísticas e dos vieses inconscientes que elas produzem, enquanto estratégias
práticas que diminuem o tempo de tomada de decisão, e que não estão num plano
de controle completo de nossa mente, pois funcionamos, em regra, sem parar
constantemente para pensar no próximo curso de alguma ação, simplesmente vamos
fazendo as coisas ou seguindo às intuições.
Dizem as autoras e demais participantes da pesquisa o seguinte: “Apesar de
muitos jurados procederem a uma análise minuciosa das informações, eles não estão
isentos de que todas essas heurísticas possam interferir e comprometer o julgamento
sobre determinado fato. Mostra-se, portanto, de fundamental importância antever
tais raciocínios e os fatores que aumentam as chances de sua influência no processo
decisório, para minimizar a probabilidade de erro no julgamento de um indivíduo que
analisa determinada situação. (...) Comportamentos, expressões faciais, lembranças,
instigação das emoções quando da sustentação oral das partes ou dos depoimentos
apresentados são fatores que, ainda que de maneira inconsciente, são captados pelos
componentes do conselho de sentença. Nesse sentido, os aspectos mencionados
podem vir a atravessar seu processo decisório e, por conseguinte, a inclinação a
condenar ou absolver o réu.”
E ainda complementam no sentido de nos “lembrar que tanto a heurística como
o processamento sistemático e racional de informações não são exclusividade dos
jurados. Mesmo os profissionais do sistema de justiça (juízes, promotores de justiça
e advogados/defensores), não obstante o preparo e o conhecimento jurídico a partir
do qual assentam sua atuação, também, em alguma medida, sofrem influência de
aspectos não verbais, de ordem comportamental e emocional - quando do exercício
de sua função e formação de convicção. Novamente, reforça-se a importância de
conhecer os processos que envolvem a tomada de decisão, haja vista o possível efeito
de atenuação da influência desses aspectos, uma vez reconhecidos e nomeados.”
Este é então um convite à sua leitura, caro leitor, cara leitora, porque um livro se
completa ao ser lido e passar a ser parte de nosso mundo que é construído de ações
diárias, como uma realidade a fazer sentido e dar satisfação no plano pessoal e no
coletivo. É o que todos esperamos, imbuídos do propósito de sempre tentar fazer a
diferença.
Vou terminando com a palavra bem-dita (bendita?) de Guimarães Rosa, em
mais de uma passagem do Grande Sertão: Veredas (2006, Rio de Janeiro: ed. Nova
Fronteira), que também é um exercício de se compreender a vida, nem que seja
de trás pra frente: “vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer
outras maiores perguntas. (pág. 363)” ou ainda, “a gente só sabe bem aquilo que não
entende. (pág. 333)”; e, por fim, desejando a todos um bom descanso em toda a nossa
complexidade (loucuras do dia a dia) de informações necessárias para sobreviver,
também de Guimarães Rosa, na mesma obra: “Só se pode viver perto de outro, e
conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é
um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. (pág. 272)”
Desejo que o conhecimento continue nos iluminando.

Samia Saad Gallotti Bonavides


Coordenadora-Geral da Escola Superior do Ministério Público do Paraná
APRESENTAÇÃO

O Ministério Público (MP) é o titular da ação penal e, caso o crime cometido


tenha sido um doloso contra a vida, quem julgará o processo será o Conselho de
Sentença, formado por 07 (sete) pessoas da comunidade local, denominados jurados,
normalmente leigas nas questões técnico-jurídicos. A decisão de cada um destes
jurados é sigilosa e íntima, ou seja, ninguém ficará sabendo os motivos pelos quais
determinada pessoa decidiu julgar o acusado da prática de um crime de uma ou outra
forma. Por este breve apontamento, já se pode verificar que o processo penal referente
aos crimes dolosos contra a vida (homicídio, auxílio ao suicídio, infanticídio e aborto)
é totalmente diferente do processo penal comum, aplicável a todos os demais crimes,
em que um Juiz de Direito, técnico da ciência jurídica, decide, de forma fundamentada
e pública.
Essa forma de julgamento, em que juízes leigos decidem o resultado do processo
sem a necessidade de motivar e expor suas motivações, em um Tribunal do Júri, gera
inquietação e, nos tempos modernos (em que o sigilo é cada vez mais rechaçado da
esfera pública, por respeito à democracia), críticas recorrentes. Afinal de contas, há o
direito (por parte do réu, seus familiares e amigos, por parte da vítima, seus familiares
e amigos, além de toda a coletividade) de se saber por que houve uma condenação
criminal no Júri, ou uma absolvição, enfim, por qual razão a decisão tomada pela
maioria dos jurados foi num ou noutro sentido.
E, neste ponto específico (os motivos, os por quês da tomada de decisão), o
assunto deixa de ser jurídico e passa a ser, em sua grande magnitude, comportamental:
diante de uma certa situação, como as pessoas agem? Por quê? E se fosse de outra
maneira, com outra pessoa, agiria de outra forma? O que é necessário, quais os
fatores, determinantes ou não, para que uma pessoa julgue outra de uma forma
racional, séria, concentrada?
Como afirmando alhures, não nos esqueçamos jamais, o MP é protagonista no
combate ao crime, pois é o titular da ação penal. Por isso, a forma como o Promotor de
Justiça enxerga, conduz, debate, se comporta e atua perante o Conselho de Sentença
é fundamental para que os jurados concretamente promovam a justiça no caso em
análise.
A inquietação cresceu e, da necessidade de aperfeiçoarmos as atividades
ministeriais no Tribunal do Júri é que, já há algum tempo (idos de 2017), foi iniciado
um trabalho conjunto e científico, por meio de pesquisas, diálogo e estudo, com a
equipe de psicólogos do MP.
Se cada um tivesse feito somente o seu papel, os homens não teriam saído
das cavernas. Ou seja, para o aperfeiçoamento e evolução (em qualquer área do
conhecimento humano), sempre pessoas curiosas, estudiosas e com disposição ímpar
para investigar o novo, o até então não explorado e decifrado, hão de estar presentes.
Se não, o conhecimento estagna-se.
A análise feita nesta obra, cujo escopo é tentar esclarecer e, com isso, fomentar e
dilapidar, do ponto de vista estritamente subjetivo, a relação que passa a existir entre
o Conselho de Sentença, o membro do MP e, daí, a tomada de decisão mais justa,
parte do estudo das experiências, impressões e convicções assumidas por diversos
jurados e Promotores de Justiça que atuam perante o Tribunal do Júri. Buscou-se, com
este levantamento, compreender esta relação e aperfeiçoá-la.
A contribuição que advirá deste estudo e suas conclusões são inenarráveis,
notadamente para quem busca a concretização da justiça.
No júri concreto, do dia a dia, dos plenários e suas lágrimas diárias, anseios,
discussões, acertos e erros, sem romantizações indevidas, os jurados e Promotores
foram decifrados e diagnosticados.
Cabe ao leitor aproveitar, entender, refletir e aplicar.

Alex Fadel
Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná

O Tribunal do Júri é instituição consagrada do sistema de justiça brasileiro,


consubstanciando garantia vazada no catálogo dos direitos fundamentais. Tem
composição heterogênea, compreendendo um juiz togado e vinte e cinco jurados, dos
quais sete integram o conselho de sentença, e com incumbência de julgar os crimes
dolosos contra a vida (e conexos, por força da previsão contida no artigo 78, I, o CPP).
Desperta paixões por onde desfila. Na academia é admirado, dentre outros, por
constituir uma das formas de participação popular na administração da justiça, algo
que não se vê com frequência, já que, diferentemente do ambiente forjado nos demais
poderes, cuja democracia constitui imperativo, no Poder Judiciário, os magistrados e
magistradas são investidos após aprovação em concurso público, ou nomeação pelo
Chefe do Poder Executivo, sem escrutínio popular. Na práxis forense, a estruturação
do rito e principalmente os debates em plenário dão ao Júri um charme particular. E
na opinião popular, o Tribunal ocupa manchetes de jornais diuturnamente, em razão
da gravidade dos crimes que julga.
Todas as particularidades referidas, notadamente a composição heterogênea
do Tribunal – que contempla a participação de cidadãos, que devem ser maiores de
dezoito anos e ter notória idoneidade, sem qualquer referência à formação acadêmica,
ser ou não versado em Direito – propiciam e conclamam que o Direito busque se unir
a outras ciências, no seu estudo.
Interdisciplinariedade é a palavra da vez. Mais do que conhecer os conceitos que
envolvem a temática (Tribunal do Júri), as raízes históricas, as fontes normativas, as
inspirações do instituto, uma constância na ciência do Direito, é preciso conhecer o
ser humano, suas paixões, suas inclinações, as técnicas de oratória, de retórica e de
convencimento. E isto só é possível mesmo, conhecendo o ser humano.
Nós, Promotores e Promotoras, que labutamos neste ofício, assumindo o
protagonismo na defesa da vida no plenário do Júri, precisamos nos municiar de
estudos transversais para aprimorar a nossa atuação na tutela da vida, que constitui a
base de tudo, de todos os demais direitos.
Daí se percebe a relevância ímpar deste trabalho desenvolvido pelo LAPJUR,
inicialmente encomendado por nós, Promotores de Justiça de Cascavel/PR, para
entender e conhecer os jurados, para compreender as angústias que assolam cada
um daqueles que se sentam ali para julgar os seus pares, para enxergar que nem
todos são iguais.
Esta compreensão nos permite desenvolver empatia, compreendendo o outro,
a partir de suas necessidades e vivências. Nos convence a buscar um diálogo mais
acessível a quem está ali por mero acaso, às vezes sem desejar, às vezes sentindo
medo, às vezes sentindo remorso.
É o que se espera de um Ministério Público plural, vivendo numa sociedade
plural, que se preocupa inclusive com a impressão que se tem da Instituição por quem
se senta ali, desconhecendo a formatação do sistema de justiça e as atribuições de
cada um dos atores que o compõem.
E este trabalho se propõe justamente a subsidiar os Promotores e Promotoras
com um breve diagnóstico dos jurados, num recorte que compreende uma cidade
interiorana, de médio porte, de aproximados trezentos e cinquenta mil habitantes.
Uma amostra que bem reflete algumas regiões brasileiras, com características bastante
similares e que pode contribuir para a melhor compreensão sobre as experiências e
cognições dos jurados no espaço do Tribunal do Júri.

Guilherme Carneiro de Rezende


Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Paraná
SUMÁRIO

A EXPERIÊNCIA DOS JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI EM UMA COMARCA DE


ENTRÂNCIA FINAL 10
Karen Richter P. S. Romero
Patrícia dos Santos Lages Prata Lima
Adriane da Rocha Santos Pontarola
Ana Carolina Ferreira Lins
Felipe Augusto Trevisan
Fernando S. P. Vecchio

O TRIBUNAL DO JÚRI NA PERCEPÇÃO DOS JURADOS 62


Karen Richter P. S. Romero
Patrícia dos Santos Lages Prata Lima
Adriane da Rocha Santos Pontarola
Ana Carolina Ferreira Lins

COMO SÃO PERCEBIDOS OS PROMOTORES DE JUSTIÇA DO JÚRI:


ANÁLISE DE DESENHOS FEITOS PELOS JURADOS 101
Karen Richter P. S. Romero
Patrícia dos Santos Lages Prata Lima
Adriane da Rocha Santos Pontarola
Ana Carolina Ferreira Lins

PARA ALÉM DA PLENÁRIA: ENTREVISTAS COM PROMOTORES DO JÚRI SOB


ENFOQUE PSICOLÓGICO 127
Karen Richter P. S. Romero
Patrícia dos Santos Lages Prata Lima
Adriane da Rocha Santos Pontarola
Ana Carolina Ferreira Lins
A Psicologia do Tribunal do Júri

A EXPERIÊNCIA DOS JURADOS NO TRIBUNAL DO JÚRI EM UMA COMARCA


DE ENTRÂNCIA FINAL

Karen Richter P. S. Romero1


Patrícia dos Santos Lages Prata Lima2
Adriane da Rocha Santos Pontarola3
Ana Carolina Ferreira Lins4
Felipe Augusto Trevisan5
Fernando S. P. Vecchio6

RESUMO

Trata-se de estudo produzido no âmbito do Projeto Laboratório de Psicologia


Jurídica (LAPJUR), desenvolvido pela equipe de psicólogos do Centro de Apoio Técnico
à Execução do Ministério Público do Estado do Paraná - CAEx. O trabalho buscou analisar
a experiência dos jurados em relação ao tribunal do júri em uma comarca de entrância
final (Cascavel/PR). Os dados foram obtidos por meio de aplicações de questionários
e entrevistas em grupos focais junto a jurados do tribunal do júri realizadas entre os
meses de fevereiro e maio do ano de 2017. O número total de participantes foi de
119 pessoas. Este estudo buscou aprimorar o entendimento acerca do que os jurados
vivenciam quando convocados a atuar como componentes do conselho de sentença,
bem como a respeito do seu grau de satisfação quanto à experiência do júri e aos
aspectos de infraestrutura ambientais, técnicos e de compreensão do rito. Como
resultado, foram identificados diversos aspectos apontados pelos participantes, dos
quais decorreu a implementação de modificações importantes tanto na infraestrutura
do local quanto no que tange à humanização da experiência dos jurados.

PALAVRAS-CHAVE: jurados; tribunal do júri; humanização.

1 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestranda em psicologia Forense


(UTP). Especialista em psicologia Hospitalar com ênfase em Vitimização Infantil (SCM/SP), em
psicologia Jurídica (CFP) e em Psicanálise Clínica (PUC-PR). Fellowship em Psiquiatria Infantil
(Johns Hopkins Hospital - EUA).
2 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestre em psicologia com
ênfase em Psicanálise pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em
Filosofia e Psicanálise (UFPR). Pós graduanda em psicologia Jurídica com Ênfase em Perícia
Psicológica (IPOG).
3 Psicóloga. Estagiária de pós-graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Pós
graduanda em psicologia Clínica/Psicanálise (UTP-PR) e em psicologia da Saúde e Hospitalar
(FPP-PR).
4 Estagiária de graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Graduanda em
psicologia (FAG-Cascavel).
5 Estudante de psicologia. Estagiário de graduação no Ministério Público do Estado do
Paraná. Graduando em psicologia na UNIPAR-Cascavel (PR).
6 Psicólogo no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestre em psicologia pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pós graduando em psicologia Jurídica com
Ênfase em Perícia Psicológica (IPOG).

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A Psicologia do Tribunal do Júri

1. INTRODUÇÃO

Trata-se de estudo acerca da experiência dos jurados no tribunal do júri da


comarca de Cascavel/PR. A proposta de realização deste estudo teve como ponto de
partida a inquietação de promotores de justiça e de um juiz da referida comarca, os
quais atuam diretamente junto ao tribunal do júri. Estes profissionais apresentavam
interesse em aprimorar o entendimento acerca do que os jurados vivenciam quando
de sua convocação e atuação nos ritos como componentes do conselho de sentença,
bem como a respeito do grau de satisfação dos jurados com relação à experiência do
júri e aos aspectos de infraestrutura ambientais, técnicos e de compreensão do rito.
Em síntese, os promotores de justiça e o juiz da comarca de Cascavel consideravam
oportuno e necessário aprimorar o entendimento tanto dos fatores ambientais quanto
dos fatores subjetivos que poderiam refletir nas decisões dos jurados.
Portanto, entendeu-se pertinente a ideia de realização de pesquisas exploratórias
em psicologia com o objetivo de aprimorar o trabalho do tribunal do júri, mediante
um melhor entendimento dos aspectos cognitivos e afetivos relacionados com a
experiência dos jurados.
A partir desse interesse inicial de pesquisa, realizou-se, por meio do trabalho
da equipe técnica de psicologia do CAEx-NATE, o acompanhamento de sessões do
tribunal do júri e reuniões com os promotores de justiça e com o juiz. Essas atividades
tiveram como objetivo desenvolver um instrumental para coleta de informações
referentes à experiência dos jurados.
Foi desenvolvido questionário objetivo para ser aplicado junto aos jurados.
Os dados obtidos a partir do questionário foram classificados como resultados
quantitativos. Após a aplicação do questionário objetivo foram realizadas entrevistas
e conversas em grupos focais, visando proporcionar aos componentes da amostra
um espaço de discussão, viabilizando assim a manifestação livre de suas percepções
e sugestões relacionadas com suas experiências enquanto jurados. Estes dados foram
classificados como resultados qualitativos.
Os referidos questionários foram aplicados a cinco grupos de jurados no tribunal
do júri da comarca de Cascavel-PR, entre os meses de fevereiro e maio do ano de
2017. O número total de entrevistados foi de 119 jurados. O grupo dos participantes
constituiu-se majoritariamente de mulheres 59,66%, sendo que 40,34% dos indivíduos
eram do sexo masculino.
Finalmente, a partir dos dados coletados em caráter exploratório, procurou-
se elencar no presente estudo recortes e reflexões, assim como percepções gerais
obtidas que sejam pertinentes ao enriquecimento, compreensão e aprimoramento
do trabalho realizado no tribunal do júri.

2.1. O TRIBUNAL DO JÚRI: ORIGENS E DESENVOLVIMENTO

Quando se trata de localizar a origem do tribunal do júri, diversos são os indícios


e teorias, de modo que não há consenso acerca do assunto.
De modo geral, os pesquisadores apontam formas incipientes desta prática
na Grécia e Roma antigas, embora seja no século XIII que o tribunal do júri teria
apresentado um delineamento mais próximo ao que se conhece hoje no ocidente,

11
A Psicologia do Tribunal do Júri

com o modelo inglês de tribunal, estipulado na carta magna de 1215 (TÁVORA, 2017).
Porém, é sobretudo a partir da revolução francesa que ocorre uma importante
difusão do tribunal do júri pelo ocidente:
Após a revolução francesa de 1789, em muito pela conjuntura
política momentânea, a França importou para o seu
ordenamento jurídico o tribunal do júri. É sabido que naquele
momento histórico as mais tradicionais famílias detentoras
ou influentes no poder nacional não gozavam de prestígio
junto à grande massa popular – plebe –, devido à histórica
exploração a que os submeteram. Os magistrados, todos
oriundos dessas castas familiares, não gozavam da confiança
do povo. Assim, era necessário montar um poder judiciário
no qual o ofício jurisdicional pudesse ser exercido pelo
novo estamento social que chegava ao poder. O júri, dado
a sua estrutura, era a melhor opção. Da França o instituto
se espalhou por quase toda a Europa, exceto Holanda e
Dinamarca (BISINOTTO, 2011, p. 4)

Portanto, a partir da idade contemporânea, intensificou-se o processo de difusão


do tribunal do júri, impulsionado pelos fatos e momentos históricos aqui indicados,
por vezes entendido como símbolo da reação popular enfrentando o autoritarismo e
o absolutismo monárquico.
Desde então o tribunal do júri consolidou-se como um dispositivo jurídico
presente em diversas partes do mundo, e que, na plenitude de suas atividades,
estrutura-se para garantir e consolidar os direitos humanos, os direitos da coletividade
e os direitos da vida (DIAS, 2012).

2.2. O TRIBUNAL DO JÚRI NO BRASIL

O processo de institucionalização do tribunal do júri no Brasil, apesar de alguns


períodos de crise em sua história, apresenta um percurso relativamente estável:
“No Brasil, o tribunal do júri teve um histórico mais favorável,
apesar de em determinados períodos passar certas crises
institucionais. Foi disciplinado em nosso ordenamento
jurídico pela primeira vez pela Lei de 18 de junho de 1822,
a qual limitou sua competência ao julgamento dos crimes
de imprensa, sendo que o mesmo era formado por Juízes de
Fato, num total de vinte e quatro cidadãos bons, honrados,
patriotas e inteligentes, os quais deveriam ser nomeados
pelo Corregedor e Ouvidores do crime, e a requerimento
do Procurador da Coroa e Fazenda, que atuava como o
Promotor e o Fiscal dos delitos. Os réus podiam recusar
dezesseis dos vinte e quatro nomeados, e só podiam apelar
para a clemência real, pois só ao Príncipe cabia a alteração
da sentença proferida pelo júri” (BISINOTTO, 2011, s. p.).

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A Psicologia do Tribunal do Júri

A instituição do tribunal do júri no Brasil, da forma como se estrutura atualmente,


não mais se ocupa dos crimes de imprensa, mas daqueles - conforme disposto no
Código de Processo Penal (CPP) - que ameaçam a vida em sua modalidade tentada
ou consumada (homicídio, infanticídio, aborto e induzimento ao suicídio). Ademais,
o júri não mais comporta a possibilidade de alteração da sentença do julgamento
por uma instância superior, uma vez que foi instituído o princípio da “soberania dos
veredictos”. Assim, não há mais “príncipes” a quem se possa rogar clemência. Caso se
recorra de uma decisão, um novo julgamento poderá vir a ser marcado; mas o poder
de decisão continuará sendo dos jurados que compõem o conselho de sentença em
um rito.
Por conseguinte, quando se trata do papel dos jurados, tem-se que este grupo
possui função essencial para realização das práticas no tribunal do júri:
O júri é um órgão que integra o Poder Judiciário de primeira
instância, pertencente à justiça Comum, colegiado e
heterogêneo – formado por um juiz togado, que é seu
presidente, e por 25 cidadãos -, que têm competência mínima
para julgar os crimes dolosos contra a vida, temporário
(porque constituído para sessões periódicas, sendo depois
dissolvido), dotado de soberania quanto às suas decisões,
tomadas de maneira sigilosa e inspiradas pela íntima
convicção, sem fundamentação, de seus integrantes leigos
(CAMPOS, 2011, p. 1).

Em suma, tem-se que a soberania dos veredictos, a competência para o


julgamento dos crimes dolosos contra a vida, a plenitude da defesa das partes
(podendo esta dispor de aspectos jurídicos e metajurídicos) e o sigilo das votações
do conselho de sentença são princípios que regem a organização atual do tribunal do
júri no Brasil (DIAS, 2012).

3. METODOLOGIA

O presente relatório é resultado de pesquisa realizada com os jurados do tribunal


do júri da comarca de Cascavel/PR. Como indicado na introdução deste relatório, esta
pesquisa originou-se do interesse de promotores de justiça e do juiz do júri da referida
comarca em entender melhor as vivências dos jurados, desde a convocação até sua
atuação como componentes do conselho de sentença, para fins de aprimoramento
do trabalho no tribunal do júri.
Para tanto, utilizou-se de pesquisa quantitativa e qualitativa, de modo a expandir
as possibilidades de compreensão acerca das experiências dos jurados no tribunal do
júri.
Inicialmente foi desenvolvido um questionário objetivo a partir de entrevistas
com os promotores e juiz atuantes no tribunal do júri, no intuito de levantar aspectos
de interesse para a pesquisa. Paralelamente, realizou-se um levantamento inicial de
abordagens teóricas que pudessem construir um eixo referencial ao instrumental
desenvolvido. Para tanto, utilizou-se a base de pesquisas eletrônicas Scielo e Google

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A Psicologia do Tribunal do Júri

Acadêmico para captação de materiais científicos que tratassem do assunto. As


palavras-chave majoritariamente utilizadas foram: júri; jurado; tribunal do júri;
promotor; justiça; psicologia; entrevista; análise de conteúdo; e, questionário. Destas
atividades resultou um questionário composto por 61 (sessenta e um) itens que
foi dividido em seis eixos, indicados a seguir: eixo 1 – informações gerais, visando
levantamento do perfil dos participantes; eixo 2 – a respeito da convocação; eixo 3 – a
respeito da atuação enquanto jurado, referente a percepções diversas do júri; eixo 4 –
a respeito do julgamento; eixo 5 – a respeito dos aspectos físico-ambientais, isto é, das
condições do espaço em que se desenvolvem os júris; e eixo 6 – a respeito do pós-júri,
que buscou compreender como estes indivíduos vivenciam as fases posteriores às
audiências, bem como os impactos no seu cotidiano. Após aplicação dos questionários
foram realizadas entrevistas abertas junto aos participantes, no intuito de se explorar
aspectos espontâneos trazidos pelos jurados sobre sua experiência.
Desta forma, a aplicação do questionário e realização das entrevistas foram
estruturadas em quatro momentos: uma apresentação inicial e explicação da
pesquisa; a coleta da assinatura dos termos de consentimento livre esclarecido, a
aplicação do questionário; e um quarto momento, ao final, de entrevistas abertas
acerca de conteúdos espontâneos suscitados pela aplicação do questionário por meio
de grupo focal.
Em relação ao tratamento das informações, no que se refere aos dados
quantitativos, utilizou-se a técnica estatística analítica, que possibilitou extrair da
amostra percentuais sobre os aspectos de interesse da pesquisa. No que tange ao
tratamento dos dados qualitativos, foi utilizado o método de análise de conteúdo,
conforme preconizado por Bardin (2011), o qual possibilita a organização dos
conteúdos coletados em categorias de análise, favorecendo uma compreensão mais
ampla e complexa dos dados das entrevistas.
O método de análise de conteúdo segue determinadas etapas, organizadas
em: pré-análise; exploração do material ou codificação; e, por fim, tratamento dos
resultados obtidos/interpretação. A pré-análise constitui-se pela leitura pregressa,
construção de perguntas, formulação e reflexão crítica acerca das hipóteses a
serem estudadas/pesquisadas. Isto é, configura-se como a etapa de preparação
para pesquisa, tanto o seu sentido metodológico, quanto referente aos sentidos de
intencionalidade, de resultado e de totalidade da pesquisa (OLIVEIRA, 2008).
A etapa de exploração do material ou codificação consiste em investigar por
diferentes vieses os fenômenos percebidos, quais são as palavras, as expressões, as
significações relevantes que emergem no processo da pesquisa, neste caso, no cenário
do júri. Há, inicialmente, recortes acerca das investigações realizadas, priorizando as
expressões que são relevantes para posterior análise.
E, por fim, é realizada a classificação e agregação dos dados, diferenciando-os
em categorias específicas de análise. É a partir da relação destes conceitos, mediante
interpretação do pesquisador, que instaura-se o quadro final que desenha o estudo
(CAVALCANTE et al, 2014).
Na presente pesquisa, as categorias resultantes da análise de conteúdo, foram
relacionadas aos eixos temáticos previamente definidos no questionário. A opção por
essa correlação dos resultados deu-se com o objetivo de viabilizar a comparação e
confronto dos dados obtidos por meio dos diferentes instrumentos e métodos.

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A Psicologia do Tribunal do Júri

Destaca-se que os dados apresentados decorreram de aplicações de questionários


e entrevistas (grupos focais) que compreendem um período que se estende do mês
de fevereiro até o mês de maio do ano de dois mil e dezessete (02/2017 – 05/2017).
O número total de entrevistados foi de cento e dezenove (119) sujeitos, do sexo
masculino e feminino, sendo que as aplicações estão discriminadas na tabela a seguir.

Tabela 1. Aplicações, sujeitos e datas


N° de Sujeitos
N° da Aplicação / Entrevista Data
Entrevistados
Primeira aplicação e
23/02/2017 27 sujeitos
entrevista em grupo focal
Segunda aplicação e
30/03/2017 30 sujeitos
entrevista em grupo focal
Terceira aplicação e
18/04/2017 22 sujeitos
entrevista em grupo focal
Quarta aplicação e entrevista
27/04/2017 19 sujeitos
em grupo focal
Quinta aplicação e entrevista
30/05/2017 21 sujeitos
em grupo focal
TOTAL: 119
sujeitos

4. RESULTADOS

4.1. RESULTADOS QUANTITATIVOS

Eixo 1 - Informações Gerais

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR IDADE

Gráfico nº 01

15
A Psicologia do Tribunal do Júri

Quanto à idade dos jurados entrevistados, a maioria, representada por 27,7%,


têm idades entre 41 a 50 anos. Posteriormente temos que 25,2% têm entre 31 e 40
anos de idade e, em seguida, temos uma porcentagem de 22,7% dos jurados com
idades entre 20 e 30 anos. Já 19,3% dos entrevistados têm de 51 a 60 anos de idade,
e apenas 5% da amostra possui mais de 60 anos de idade.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR SEXO

Gráfico nº 02

No que diz respeito ao sexo biológico dos jurados, 44,8% dos entrevistados são
do sexo masculino e uma porcentagem um pouco maior, 55,2%, são do sexo feminino.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR ESTADO CIVIL

Gráfico nº 03

A respeito do estado civil dos jurados entrevistados tem-se que 49,7% são
casados, 37,8% são solteiros, 8,4% dos entrevistados são divorciados, 2,1% são
separados judicialmente e 2,1% dos jurados são viúvos.

16
A Psicologia do Tribunal do Júri

VIVE EM UNIÃO ESTÁVEL OU NÃO?

Gráfico nº 04

A respeito de viver em união estável (ou não), tem-se que 58% dos entrevistados
afirmaram que não, enquanto 42% responderam que sim, demonstrando porcentagens
bastante aproximadas.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR NÚMERO DE PARTICIPAÇÕES EM


JULGAMENTOS

Gráfico nº 05

No que diz respeito à participação dos jurados em julgamentos, tem-se que


50,3% participaram de 2 a 5 (dois a cinco) júris; 22,4% participaram de 6 a 10 (seis a
dez) julgamentos; uma porcentagem de 14% dos entrevistados participaram de mais
de 10 (dez) júris; e apenas 1,4% dos jurados não havia participado de julgamentos
anteriores. Já 2,1% dos entrevistados preferiram não responder. Somando-se as
porcentagens, temos que 86,7% participaram de mais de 2 (dois) julgamentos em
Tribunais do júri.

17
A Psicologia do Tribunal do Júri

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR ESCOLARIDADE

Gráfico nº 06

No que se refere à escolaridade dos participantes da amostra, tem-se que


62,9% possuem ensino superior completo; 15,4% possuem ensino médio completo,
seguidos por 12,6% que possuem ensino superior incompleto; 3,5% dos jurados
possuem ensino médio incompleto; 2,8% possuem ensino fundamental incompleto;
1,4% da amostra não respondeu.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR RELIGIÃO

Gráfico nº 07

No que refere-se à caracterização da amostra por religião, tem-se que 59,4%


são católicos, seguidos por 14,7% que são evangélicos; 12,6% da amostra afirma não
ter religião, seguidos por 6,3% que são espíritas; 4,2% dos entrevistados afirmam ter
outras religiões; 2,1% da amostra é luterana e 0,7% não respondeu.

18
A Psicologia do Tribunal do Júri

Eixo 2 – A Respeito da Convocação

REAÇÃO FRENTE À CONVOCAÇÃO PARA O JÚRI

Gráfico nº 08

No que se refere à reação dos entrevistados frente à convocação para o júri,


tem-se que 39,2% dos entrevistados estão satisfeitos; 27,3% não estão nem satisfeitos
nem insatisfeitos e 16,1% estão muito satisfeitos; 13,3% consideram-se insatisfeitos
frente a essa convocação e 3,5% muito insatisfeitos; 0,7% dos entrevistados não
responderam.

NÍVEL DE ACEITAÇÃO DA OBRIGATORIEDADE DE SER JURADO (DE 0 A 10)

Gráfico nº 09

A respeito da obrigatoriedade de ser jurado, foi solicitado que o entrevistado


respondesse, em uma escala de 0 (zero) a 10 (dez), o nível de aceitação de tal prática
(sendo 0 = discordo completamente e 10 = aceito completamente). Dos entrevistados,

19
A Psicologia do Tribunal do Júri

29,6% afirmam aceitar completamente a obrigatoriedade, sendo que 12% discordam


completamente da obrigatoriedade. 

HOUVE EXPLICAÇÃO PRÉVIA SOBRE O PAPEL DO JURADO?

Gráfico nº 10

No que se refere à existência de explicação prévia sobre o papel do jurado, tem-


se que 82,5% entendem que ocorreu explicação prévia, enquanto 16,8% que não
houve uma explicação prévia.

SENTIU FALTA DE ALGUM TIPO DE ORIENTAÇÃO?

Gráfico nº 11

A respeito de ter sentido (ou não) falta de orientações, tem-se que 80,4% dos
jurados responderam que não sentiram falta; 18,9% afirmaram que sentiram falta; e

20
A Psicologia do Tribunal do Júri

0,7% não respondeu.

COMO SE SENTIU APÓS TOMAR CIÊNCIA DA CONVOCAÇÃO

Gráfico nº 12

A respeito de como o entrevistado se sentiu após tomar ciência da convocação


para o júri, as respostas foram: honrado (23,7%); ansioso (20,4%); apreensivo
(13,9%); animado (10,6%); indiferente (7,9%); incomodado (7,8%); com medo (6,9%);
intimidado (3,7%); feliz (2%); enraivecido (1,6%); outros (1,2%); triste (0,4%). 

POSICIONAMENTO FRENTE A PARTICIPAÇÃO FACULTATIVA 

Gráfico nº 13

Diante da possibilidade de que a participação no júri fosse facultativa (ou seja,


se pudesse escolher participar ou não do júri), 67,1% dos entrevistados afirmaram

21
A Psicologia do Tribunal do Júri

que mesmo assim participariam, enquanto 32,2% informaram que não participariam.

COMO É SER RECUSADO NO PROCESSO DE TRIAGEM INICIAL PARA COMPOR O


JÚRI

Gráfico nº 14

Com relação a ser recusado na triagem inicial para compor o júri, 78,7% dos
jurados pensam que isso faz parte do processo do júri; 16% afirmaram ser um alívio;
3,3% que isso acaba sendo constrangedor/embaraçoso; 0,7% dos entrevistados
acreditam que o problema está em si mesmo; outros 0,7% afirma que são outras
as sensações experienciadas frente à recusa; por fim,  0,7% relata nunca terem sido
recusados.

HÁ NECESSIDADE DE EXPLICAÇÃO A RESPEITO DA RECUSA?

Gráfico nº 15

Quanto à necessidade de haver uma explicação a respeito da recusa no


processo de triagem inicial para compor o júri, 83,2% dos jurados afirmaram que não

22
A Psicologia do Tribunal do Júri

é necessária, enquanto 16,8% relataram que há necessidade de explicação. 

Eixo 3 - A respeito da atuação enquanto jurado

SUA OPINIÃO A RESPEITO DA CULPA DO RÉU TENDE A MUDAR MUITO DURANTE O


JULGAMENTO?

Gráfico nº 16

Perguntados se sua opinião a respeito da culpa do réu tende a mudar muito


durante o julgamento, 55,9% dos entrevistados responderam que não; 42,7%
responderam que sim e 1,4% não respondeu. 

APTIDÃO PARA JULGAR O CASO (DE 0 A 10):

Gráfico nº 17

Solicitados a responderem numa escala de 0 (zero) a 10 (dez) como avaliam o


seu próprio nível de aptidão para julgar o caso (sendo 0 = completamente inapto e 10
= completamente apto), 30,7% avaliaram-se completamente aptos. 

23
A Psicologia do Tribunal do Júri

O QUE MAIS SE APROXIMA DO QUE VIVEU DURANTE O JÚRI, TENDO EM VISTA A


ABSOLVIÇÃO VERSUS CONDENAÇÃO

Gráfico nº 18

Como justificativa de sua autoavaliação quanto à aptidão ou inaptidão para julgar


o caso, 33,6% consideraram que as informações no debate foram suficientes; 23%
responderam que, conforme o discurso apresentado, tendem a confiar no promotor
de justiça ou na defesa; 11,5% responderam que apesar do debate tendem a decidir
instintivamente. 

ALGUMAS DAS SEGUINTES SITUAÇÕES DIFICULTAM A EXPERIÊNCIA DE SER


JURADO?

Gráfico nº 19

A respeito das situações que dificultam a experiência de ser jurado, as principais

24
A Psicologia do Tribunal do Júri

respostas foram: posicionar-se diretamente na frente do réu (33,6%); receio de


cometer injustiça (26,2%); comparecimento da família do réu acompanhando o júri
(15,3%); medo de sofrer qualquer tipo de retaliação (14,9%); tempo de permanência
no Tribunal (9,3%); proximidade do horário do almoço, sem perspectiva de finalização
dos debates (7,3%); outros (4,4%); grupos de réus num mesmo julgamento (3,2%);
dificuldade de entendimento da linguagem utilizada (2,8%); não respondeu (0,4%).

PARTICIPAR DO JÚRI É UMA TAREFA ESTRESSANTE?

Gráfico nº 20

A respeito da participação no júri ser uma tarefa estressante, 62,2% responderam


que depende do desdobramento do caso; 24,5% responderam que não é estressante;
12,7% responderam que é estressante;  0,7% não respondeu. 

COMO SE QUALIFICA PARA VOCÊ A EXPERIÊNCIA DE SER JURADO?

Gráfico nº 21

25
A Psicologia do Tribunal do Júri

Acerca da experiência de ser jurado, 50,3% a qualificaram como boa, 32,2%


como excelente, 9,8% como mediana, 4,2% como ruim, 2,1% como péssima e 1,4%
não respondeu. 

Eixo 4 – A Respeito do Julgamento

HOUVE USO DOS APARTES DURANTE O JÚRI?

Gráfico nº 22

Acerca do uso dos apartes pelo promotor de justiça ou pela defesa durante o


júri, 51,8% dos entrevistados responderam que não foi realizado uso dos apartes e
45,5% responderam que foi realizado. 

COMO AVALIA O USO DOS APARTES? (DE 0 A 10)

Gráfico nº 23

26
A Psicologia do Tribunal do Júri

Foi solicitado aos entrevistados que avaliassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) o uso dos apartes durante o júri. Considerando que 0 (zero) equivale a
completamente insatisfeito e 10 (dez) equivale a completamente satisfeito, 16,9%
dos entrevistados responderam que estavam completamente satisfeitos, sendo que
uma porcentagem aproximada de 14,5% responderam que estavam completamente
satisfeitos com o uso dos apartes.

HOUVE USO DA RÉPLICA DURANTE O JÚRI?

Gráfico nº 24

A respeito do uso sistemático da réplica pelo promotor de justiça ou pela defesa,


60,8% dos entrevistados responderam que houve; 37,1% responderam que não houve
uso da réplica e 2,1% não responderam.

COMO AVALIA O USO SISTEMÁTICO DA RÉPLICA? (DE 0 A 10)

Gráfico nº 25

27
A Psicologia do Tribunal do Júri

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez)  como se sentiram diante do uso da réplica pelo promotor de justiça ou
pela defesa. Considerando que 0 (zero) equivale a completamente insatisfeito e 10
(dez) equivale a completamente satisfeito, 21% dos entrevistados responderam que
estavam completamente satisfeitos, sendo que 8,4% responderam que estavam
completamente insatisfeitos; 3,5% não responderam. 

AVALIAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA EXPOSIÇÃO DO HISTÓRICO DO RÉU 


(DE 0 A 10):

Gráfico nº 26

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) o quanto considera interessante que o promotor de justiça exponha
um pequeno histórico do réu durante seu discurso. Considerando que 0 (zero)
equivale a desnecessário e 10 (dez) equivale a completamente necessário, 49,7%
dos entrevistados responderam como completamente necessário, sendo que 1,4%
respondeu como desnecessário; 0,7% não responderam. 

28
A Psicologia do Tribunal do Júri

NÍVEL DE SATISFAÇÃO QUANTO À EXPOSIÇÃO DE INFORMAÇÕES DOS JURADOS


(DE 0 A 10):

Gráfico nº 27

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero) a


10 (dez) o  nível de satisfação quando ocorrem situações em que o nome dos jurados,
suas profissões ou local onde trabalham são divulgados ao longo do julgamento.
Considerando que 0 (zero) equivale a  completamente desconfortável e 10 (dez)
equivale a completamente confortável, 58% dos entrevistados responderam como
completamente desconfortáveis, sendo que 7% responderam como completamente
confortáveis; 2,1% não responderam. 

HÁ DIFERENÇA EM JULGAR UM CASO COM UM ÚNICO RÉU E UM CASO COM MAIS


DE UM RÉU?

Gráfico nº 28

29
A Psicologia do Tribunal do Júri

A respeito da diferença entre julgar um caso com apenas um único réu e um caso
com mais de um réu, 42,7% entenderam que sim, há diferença; 35,7% entenderam
que não há diferença; 20,3% não participaram de julgamentos com mais de um réu e
1,4% não respondeu. 

O QUANTO SE SENTE APTO PARA JULGAR UM CASO COM APENAS UM RÉU? 


(DE 0 A 10):

Gráfico nº 29

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) o quanto se sentem seguros para julgar um caso em que há apenas um
réu. Considerando que 0 (zero) equivale a totalmente inseguro e 10 (dez) equivale
a totalmente seguro, 37,1% dos entrevistados responderam que se sentem
completamente seguros, sendo que 3,5% responderam que estavam completamente
inseguros; 1,4% não respondeu. 

O QUANTO SE SENTE APTO PARA JULGAR UM CASO COM MAIS DE UM RÉU? 


(DE 0 A 10):

Gráfico nº 30

30
A Psicologia do Tribunal do Júri

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0


(zero) a 10 (dez) o quanto se sentem seguros para julgar um caso em que há mais
de um réu. Considerando que 0 (zero) equivale a totalmente inseguro e 10 (dez)
equivale totalmente seguro, 29% dos entrevistados responderam que se sentem
completamente seguros, sendo que 4% responderam que estavam completamente
inseguros; 1,6% não respondeu. 

CONSIDERA O RITO CANSATIVO?

Gráfico nº 31

A respeito de considerar o rito do júri cansativo, 55,9% dos entrevistados


responderam que sim, o consideram; e 44,1% responderam que não o consideram
cansativo.  

O QUANTO SE SENTE SEGURO PARA DECIDIR ENTRE ABSOLVIÇÃO VERSUS


CONDENAÇÃO? (DE 0 A 10):

Gráfico nº 32

31
A Psicologia do Tribunal do Júri

Foi solicitado aos entrevistados, a partir de sua experiência no júri, que


classificassem em uma escala de 0 (zero) a 10 (dez) o quanto se sentem seguros para
realizarem a escolha a respeito da condenação versus absolvição do réu. Considerando
que 0 (zero) equivale a totalmente inseguro e 10 (dez) equivale totalmente seguro,
32,2% dos entrevistados responderam que se sentem completamente seguros,
sendo que 2,1% responderam que estavam completamente inseguros; 2,1% não
responderam. 

Eixo 5 - A Respeito dos Aspectos Físico - Ambientais 

QUANTO À SATISFAÇÃO COM RELAÇÃO A SUA POSIÇÃO GEOGRÁFICA


NO TRIBUNAL (DE 0 A 10)

Gráfico nº 33

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero) a 10


(dez) seu nível de satisfação com relação à posição geográfica em que se acomodou no
tribunal do júri. Considerando que 0 (zero) equivale a completamente desconfortável e
10 (dez) equivale a completamente confortável, 23,8% dos entrevistados responderam
que se sentem completamente confortáveis, sendo que 5,6% responderam que
estavam completamente desconfortáveis; 2,1% não responderam. 

32
A Psicologia do Tribunal do Júri

QUANTO À POSIÇÃO DO RÉU EM FRENTE DA BANCADA DOS JURADOS (DE 0 A 10)

Gráfico nº 34

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) como se sentem com relação à posição do réu em frente da bancada de
jurados. Considerando que 0 (zero) equivale a completamente desconfortável e 10
(dez) equivale a completamente confortável, 20,8% dos entrevistados responderam
que se sentem completamente desconfortáveis, sendo que 10,1% responderam que
estavam completamente confortáveis; 1,8% não respondeu. 

COM RELAÇÃO À POSIÇÃO DA DEFESA (DE 0 A 10)

Gráfico nº 35

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero) a


10 (dez) como se sentem com relação à posição geográfica da equipe da defesa, isto é,
ao lado do réu e em frente da bancada de jurados. Considerando que 0 (zero) equivale

33
A Psicologia do Tribunal do Júri

a completamente desconfortável e 10 (dez) equivale a completamente confortável,


29,4% dos entrevistados responderam que se sentem completamente confortáveis,
sendo que 4,2% responderam que estavam completamente desconfortáveis;  2,1%
não responderam. 

O QUANTO A POSIÇÃO GEOGRÁFICA OCUPADA PELO RÉU INTERFERE NO


PROCESSO DE JULGAMENTO? (DE 0 A 10)

Gráfico nº 36

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero) a


10 (dez) o quanto a posição geográfica ocupada pelo réu interfere no seu processo de
julgamento. Considerando que 0 (zero) equivale a não interfere e 10 (dez) equivale a
interfere muito, 37,1% dos entrevistados responderam que não interfere, sendo que
10,5% responderam que interfere muito; 1,4% não respondeu. 

A POSIÇÃO FÍSICO AMBIENTAL DO PROMOTOR LHE ATRIBUI MAIOR


CREDIBILIDADE  COM RELAÇÃO À  POSIÇÃO FÍSICO AMBIENTAL DA DEFESA?

Gráfico nº 37

34
A Psicologia do Tribunal do Júri

A maioria, 59,4% dos entrevistados responderam que a posição físico ambiental


do promotor de justiça ao lado direito do juiz não lhe atribui mais credibilidade, em
comparação com a posição físico ambiental da defesa, enquanto 40,6% responderam
que sim, é atribuída mais credibilidade. 

O QUANTO INTERFERE NO JULGAMENTO A PERMANÊNCIA DE ACADÊMICOS


DURANTE A VOTAÇÃO? (DE 0 A 10)

Gráfico nº 38

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez)  o quanto interfere no julgamento a presença de acadêmicos durante a
votação. Considerando que 0 (zero) equivale a não interfere e 10 (dez) equivale a
interfere muito, a maioria, 76,9% dos entrevistados responderam que não interfere,
sendo que 4,9% responderam que interfere muito; 0,7% não respondeu. 

35
A Psicologia do Tribunal do Júri

QUANTO À UTILIDADE DA PERMANÊNCIA DE POLICIAMENTO


DURANTE O JÚRI (DE 0 A 10)

Gráfico nº 39

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero) a


10 (dez) a utilidade da permanência de policiamento durante o júri. Considerando que
0 (zero) equivale a nada útil e 10 (dez) a muito útil, a maioria, 75,5% dos entrevistados
responderam como sendo muito útil, sendo que 0,7% respondeu como nada útil;
0,7% não respondeu.

A PRESENÇA DOS POLICIAIS CAUSA ALGUM TIPO DE


DESCONFORTO ENQUANTO JURADO?

Gráfico nº 40

A respeito de se a presença dos policiais causa algum tipo de desconforto para


o jurado, 98,6% dos entrevistados responderam que não causa desconforto e 1,4%
respondeu que sim.   

36
A Psicologia do Tribunal do Júri

SERIA MAIS ADEQUADO QUE OS POLICIAIS ESTIVESSEM A PAISANA?

Gráfico nº 41

A respeito de se seria mais adequado que os policiais estivessem à paisana,


96,5% dos entrevistados responderam que não, e 3,5% responderam que sim.   

A RESPEITO DOS SENTIMENTOS SUSCITADOS DIANTE DO COMPARECIMENTO


MACIÇO DE FAMILIARES DO RÉU DURANTE O JULGAMENTO NO TRIBUNAL

Gráfico nº 42

Foi solicitado aos entrevistados que indicassem quais das opções mais
representam o que eles vivenciaram diante de situações em que familiares do réu
compareceram durante o julgamento no tribunal júri. As respostas foram: indiferença
(20%); ansiedade (16,4%); intimidado (16%); dó/pena (14,7%); medo (11,6%); tristeza
(10,2%); empatia (6,7%); outras (2,2%); susto (1,8%); não respondeu (0,4%). 

37
A Psicologia do Tribunal do Júri

HOUVE EXIBIÇÃO DE CONTEÚDO MULTIMÍDIA DURANTE O JÚRI?

Gráfico nº 43

A respeito de se houve exibição de conteúdo multimídia durante o júri, 69,3%


dos entrevistados responderam que sim; 29,4% responderam que não; 1,2% não
respondeu. 

QUANTO À SATISFAÇÃO COM A QUALIDADE DA EXIBIÇÃO DE CONTEÚDO


MULTIMÍDIA (DE 0 A 10)

Gráfico nº 44

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) o quanto estiveram satisfeitos com a qualidade da exibição de conteúdo
multimídia durante o tribunal do júri. Considerando que 0 (zero) equivale a muito
insatisfeito e 10 (dez) a muito satisfeito, 27,3% dos entrevistados responderam que
se sentiram muito satisfeitos, sendo que 7% responderam que se sentiram muito
insatisfeitos; 4,9% não responderam.

38
A Psicologia do Tribunal do Júri

QUANTO À QUANTIDADE DE EXIBIÇÃO DE CONTEÚDO MULTIMÍDIA (DE 0 A 10)

Gráfico nº 45

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) o quanto estiveram satisfeitos com a quantidade de exibição de conteúdo
multimídia durante o tribunal do júri. Considerando que 0 (zero) equivale a muito
insatisfeito e 10 (dez) a muito satisfeito, 19,6% dos entrevistados responderam que
se sentiram muito satisfeitos, sendo que 9,8% responderam que se sentiram muito
insatisfeitos; 5,6% não responderam.

QUANTO CONSIDERA NECESSÁRIA A EXIBIÇÃO DO CONTEÚDO MULTIMÍDIA


(DE 0 A 10)

Gráfico nº 46

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero) a 10


(dez) o  quanto consideram necessária a exibição de conteúdo multimídia (depoimentos

39
A Psicologia do Tribunal do Júri

em vídeo, fotos de vítimas, dentre outros) para acréscimo de informações a respeito


do caso. Considerando que 0 (zero) equivale a desnecessário e 10 (dez) a essencial,
a maioria 58% dos entrevistados responderam que consideram essencial, sendo que
1,4% respondeu que considera desnecessário; 2,8% não responderam.

Eixo 6 - A Respeito do Pós - Júri 

JÁ HOUVE ALGUM TIPO DE ENCONTRO, FORA DO TRIBUNAL,


COM MEMBROS DA FAMÍLIA DO RÉU?

Gráfico nº 47

A respeito de se já ocorreu algum tipo de encontro, fora do Tribunal,


com membros da família do réu, 83,9% dos entrevistados responderam que não e
16,1% responderam que sim.

COMO AVALIA A PERFORMANCE DO JUIZ?

Gráfico nº 48

40
A Psicologia do Tribunal do Júri

A respeito da performance do juiz, as respostas foram: excelente (68,5%); boa


(25,9%); mediana (3,5%); ruim (0,7%); 1,4% não respondeu. 

COMO AVALIA A PERFORMANCE DO PROMOTOR DE JUSTIÇA?

Gráfico nº 49

A respeito da performance do promotor de justiça, as respostas foram: excelente


(56,6%); boa (36,4%); mediana (6,3%); e 0,7 % não respondeu. 

COMO AVALIA A PERFORMANCE DA DEFESA?

Gráfico nº 50

A respeito da performance da defesa, as respostas foram: boa (52,1%); excelente


(27,5%);  mediana (15,5%); ruim (2,1%); péssima (1,4%); e 1,4% não respondeu. 

41
A Psicologia do Tribunal do Júri

QUANTO AO USO DA LINGUAGEM NO DISCURSO DO JUIZ (DE 0 A 10)

Gráfico nº 51

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) o  uso da linguagem no discurso do juiz. Considerando que 0 (zero)
equivale a nada boa e incompreensível e 10 (dez) equivale a muito boa, adequada
e compreensível, 64,3% dos entrevistados responderam que consideram muito boa,
adequada e compreensível.

QUANTO AO USO DA LINGUAGEM NO DISCURSO DO PROMOTOR


DE JUSTIÇA (DE 0 A 10)

Gráfico nº 52

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero) a


10 (dez) o uso da linguagem no discurso do promotor de justiça. Considerando que 0

42
A Psicologia do Tribunal do Júri

(zero) equivale a nada boa e incompreensível e 10 (dez) equivale muito boa, adequada
e compreensível, 58% dos entrevistados responderam que consideram muito boa,
adequada e compreensível.

QUANTO AO USO DA LINGUAGEM NO DISCURSO DA DEFESA (DE 0 A 10)

Gráfico nº 53

Foi solicitado aos entrevistados que classificassem em uma escala de 0 (zero)


a 10 (dez) o  uso da linguagem no discurso da defesa. Considerando que 0 (zero)
equivale a nada boa e incompreensível e 10 (dez) equivale a muito boa, adequada
e compreensível, 32,9% dos entrevistados responderam que consideram muito boa,
adequada e compreensível, sendo que 1,4% avaliou como nada boa e incompreensível. 

A RESPEITO DOS INTERVALOS DE TEMPO, COMO QUALIFICARIA?

Gráfico nº 54

43
A Psicologia do Tribunal do Júri


A respeito dos intervalos de tempo, ou seja, as pausas que acontecem durante
o trabalho do júri, solicitou-se que os entrevistados qualificassem se ocorriam de
maneira suficiente para sanar as necessidades de descanso momentâneo e ida ao
banheiro. As respostas foram:  bons (55,2%); excelentes (28%); mediano (12,6%);
ruim (1,4%); e 2,8% não responderam.

A RESPEITO DO PERÍODO DE TEMPO DE PERMANÊNCIA COMO


JURADO, COMO QUALIFICARIA?

Gráfico nº 55

A respeito da média de permanência dos entrevistados quando participaram do


tribunal do júri, 51,6% permaneceram manhã e tarde; 39,3% permaneceram uma
manhã; 5,7% permaneceram mais do que um dia; 3,3% não responderam. 

COMO AVALIA ESTA CARGA HORÁRIA?

Gráfico nº 56

44
A Psicologia do Tribunal do Júri

A respeito da avaliação dessa média de permanência no tribunal do júri, as


respostas foram: boa (58,2%); mediano (21,3%); excelente (11,5%); ruim (5,7%); não
responderam (3,3%).

A RESPEITO DO ALMOÇO, COMO QUALIFICARIA?

Gráfico nº 57

A respeito da refeição de almoço disponibilizada, as respostas foram: boa


(36,7%); não houve almoço, não foi necessário (18,4%); mediana (15,3%); não houve
almoço, entretanto considero como necessário (14,3%); excelente (6,1%); ruim
(5,1%); péssimo (1%); não responderam (3,1%). 

A RESPEITO DO LANCHE, COMO O QUALIFICARIA?

Gráfico nº 58

45
A Psicologia do Tribunal do Júri

A respeito da refeição do lanche disponibilizada, as respostas foram: boa (31,1%);


não houve lanche, entretanto considero como necessário (23,8%);  ruim (18,2%);
mediana (16,4%); não houve lanche, não foi necessário (11,5%); excelente (4,9%);
péssimo (0,8%); não responderam (3,3%). 

VOCÊ SENTIU FOME DURANTE O PERÍODO EM QUE ESTEVE NO


TRIBUNAL DO JÚRI?

Gráfico nº 59

A respeito de sentir fome durante o período em que esteve no tribunal do júri,


51,6% dos entrevistados responderam que sim; 46,7% responderam que não; 1,6%
não respondeu.

DURANTE O PROCESSO DE SELEÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA, VOCÊ JÁ ESTEVE


COM ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE OU DIFICULDADE E TEVE RECEIO DE SOLICITAR
A SUA SUBSTITUIÇÃO OU DISPENSA?

Gráfico nº 60

46
A Psicologia do Tribunal do Júri

A respeito de se, em alguma ocasião durante o processo de seleção do conselho


de sentença ou durante composição deste Conselho, o entrevistado já esteve com
algum problema de saúde, mal estar ou dificuldade que prejudicou sua participação,
mas teve receio de solicitar sua substituição ou dispensa, 80,3% responderam que
não e 17,2% responderam que sim; 2,5% não responderam. 

RECOMENDARIA A OUTRA PESSOA PASSAR PELA EXPERIÊNCIA DO JÚRI?

Gráfico nº 61

A respeito de se o entrevistado recomendaria a outra pessoa passar pela


experiência do júri, as respostas foram: muito provável (37,7%); extremamente
provável (36,1%); moderadamente provável (17,2%); pouco provável (6,6%); nada
provável (0,8%); não respondeu (1,6%). 

4.2. RESULTADOS QUALITATIVOS

Eixo 1 – Informações Gerais

Durante as entrevistas qualitativas, as informações relativas à idade, gênero,


etnia, estado civil, escolaridade e religião não foram tematizadas espontaneamente
pelos jurados, de modo que elas não constam explicitamente nesta parte do relatório
referente aos resultados qualitativos. Por outro lado, entende-se que os relatos dos
entrevistados são perpassados pelas implicações relativas a essas informações e são
de extrema relevância para o entendimento do júri em suas diferentes situações,
sendo pertinente a realização de pesquisas futuras com entrevistas qualitativas mais
diretivas acerca desses temas.  

Eixo 2 – A Respeito da Convocação

Da intimação 

47
A Psicologia do Tribunal do Júri

Muitos entrevistados relataram que o documento de intimação para participação


no júri comumente é entregue no local de trabalho dos jurados. Os entrevistados
enfatizaram que tal procedimento, muitas vezes, acaba por gerar especulações de
má-fé acerca da vida pessoal do intimado e, por conseguinte, referiram desconforto
com a entrega do ofício diretamente no local de trabalho. 
Ainda com relação ao envio da intimação para participação no júri, os
entrevistados também referiram descontentamento a respeito do modo como se
elabora esse documento, pois no mesmo constaria a lista com os nomes completos
de todos os jurados, assim como informações referentes a seu endereço e contatos
telefônicos. Os entrevistados relataram insegurança diante da possibilidade do
documento “cair nas mãos erradas” (sic).
Por fim, os entrevistados referiram que se sentiam “desconsiderados” (sic) diante
das dificuldades relatadas a respeito da intimação e gostariam que tais situações
fossem revistas.

Explicação prévia e orientações sobre o papel enquanto jurado

É importante destacar que durante as entrevistas, grande parte dos entrevistados


relatou que sentiu falta de explicação prévia e orientações sobre o papel dos jurados.

Da recusa no processo de composição do júri

Uma parcela dos entrevistados referiu desconforto com a recusa no processo


de composição do júri - “fiquei pensando se era algo comigo “(sic) e que sentiam
necessidade de alguma explicação quanto ao motivo.

Reação à convocação para participar do júri

Alguns entrevistados externalizaram críticas a respeito da obrigatoriedade


da participação dos jurados e referiram desinteresse de participar sob essas
condições: “Na verdade, tudo que você faz obrigado, você faz com má vontade, né?”
(sic). Finalmente, cabe destacar que durante as entrevistas qualitativas grande parte
dos entrevistados referiu desconforto ou insatisfação diante da convocação para
participar do júri.

Eixo 3 – A Respeito da Atuação do Jurado

Situações que dificultam a experiência de ser jurado:

Dificuldades de deslocamento transporte 

Os entrevistados referiram dificuldades a respeito do deslocamento ou locomoção


até o tribunal do júri, já que possuem residência fixa distante das instalações do prédio
do Fórum, tendo que dispor de custos próprios com o transporte para chegada até
o local. Ainda verbalizaram que seria apropriado se houvesse a disponibilização do
valor de 02 vales-transporte, para o trajeto de ida e volta de suas casas até o prédio

48
A Psicologia do Tribunal do Júri

do Fórum. 

Licença do trabalho

Muitos entrevistados ressaltaram prejuízos financeiros relacionados com a


participação nas audiências e a ausência no trabalho: "Gasto mais combustível para
vir ao júri do que para trabalhar. Não tenho ressarcimento algum… é uma despesa
que fica para o cidadão" (sic), explicitou um dos jurados. 

Jornada de trabalho e ciclo sono-vigília

Alguns entrevistados relataram que têm jornada de trabalho noturna, de modo


que vivem outra rotina de sono e vigília, e referiram que participaram do júri em um
nível de cansaço extremo, que não lhes permitiu um acompanhamento adequado da
audiência. Foram mencionadas situações de sono exacerbado e dor de cabeça durante
as audiências: “No meu caso, trabalho a noite inteira e no horário que dormiria venho
para o júri. Estou cansada, com sono, não consigo me concentrar e é uma vida que
depende da minha avaliação.” (sic), explicitou uma jurada.

Férias 

Houve relatos de pessoas que iniciaram seu período de atividades de férias e,


logo em seguida, foram convocadas para participar como jurados: “não relaxei” (sic).
“Trabalhei o ano inteiro para chegar nas férias e a experiência do júri me tirou a paz”
(sic); “Havia comprado pacote de férias parcelado para viajar com a família e não pude
acompanhá-los”; resumem. Diante disso, muitos aventaram a hipótese de algum tipo
de dispensa, quando o sujeito estiver em período de férias. 

Atrasos durante as audiências

Os entrevistados referiram a impressão de uma “falta de gestão e planejamento”


(sic) no desenvolvimento e na estrutura das audiências realizadas no tribunal do
júri.  Uma das principais queixas diz respeito, reiteradas vezes, ao horário em que se
iniciam as atividades no tribunal do júri. De acordo com os entrevistados, ocorreriam
atrasos frequentes para o início das audiências e em tais situações muitos se sentiriam
“desconsiderados” (sic) em suas funções de jurados e colaboradores no tribunal do
júri. Referem, ainda, que diante dos atrasos nas audiências, vivenciam um sentimento
de “revolta” (sic),  pois “a gente chega cedo e fica aguardando para entrar, depois
entra e fica aguardando o conselho de sentença…sempre atrasa!” (sic).

Exposição no ambiente de trabalho em relação com o comparecimento às audiências

De acordo com os jurados entrevistados, a quantidade de vezes e de tempo


que permanecem no tribunal do júri é frequentemente entendida como “matar
trabalho” (sic) por colegas e chefia, e, inclusive, muitas vezes são lançadas hipóteses
de desconfiança a respeito do caráter dos sujeitos “sorteados” (sic): frases como

49
A Psicologia do Tribunal do Júri

“mas tanta gente em Cascavel e só chamam você?” (sic) ou, ainda, “foi você que se
ofereceu para participar disso?” (sic) seriam comuns no ambiente de trabalho dos
entrevistados. Diante dessas implicações, os entrevistados aventaram a possibilidade
de uma “explicação mais direta” (sic), “um ofício ou um documento pro meu chefe
imediato esclarecendo a importância de minha participação” (sic). 

Compreensão e vocabulário jurídico

Alguns entrevistados relataram dificuldades de compreensão do vocabulário


jurídico, de modo a terem referido que seria melhor se lhes fosse oferecido “algo mais
resumido… mastigado” (sic). Relataram que há tempo insuficiente para compreensão
com clareza dos documentos e, além disso, muitos se reconhecem na condição de
leigos frente a determinados mecanismos do direito e do Processo Penal. Essas
dificuldades são bem ilustradas na fala de um dos entrevistados: “De que adianta ter
15 minutos para ler os papéis se eu não vou entender?” (sic).

Interesse em capacitação e orientações 

Diante das dificuldades de compreensão relatadas, muitos dos entrevistados


expressaram o interesse de receber orientações que lhes possibilitem
melhor entendimento  acerca de sua participação enquanto jurado. 

Insatisfação com atitude e comportamento dos jurados

Alguns entrevistados relataram que há jurados que tentam induzir os demais


jurados a seguirem suas convicções acerca do caso. Como exemplo, um dos
entrevistados relatou que havia um jurado que “fazia a cabeça dos outros” (sic), sempre
em momentos de interação como almoço, lanche, intervalo para ir ao banheiro, de
maneira muito sutil ele tecia comentários. Ele “já sentou na bancada com a decisão
pronta” (sic), “queria a condenação” (sic).  Referiu que embora tenha percebido essa
atitude do jurado, não teve confiança em externar sua percepção ao juiz. Por fim,
o entrevistado complementou que sentiu-se extremamente “frustrado” (sic) e “não
queria voltar nunca mais” (sic), após participar da sessão do júri. 
Em síntese, cabe destacar, a respeito das situações que dificultam a experiência
de ser jurado, que durante as entrevistas qualitativas percebeu-se em uma parcela dos
entrevistados a atitude de reverência para com o juiz, promotor de justiça e a defesa
relacionada com a inibição da externalização desse desconforto com os aspectos da
humanização do ambiente do júri.

Eixo 4 – A Respeito do Julgamento

Compreensão do julgamento

Alguns entrevistados referiram dificuldade de compreensão na ponderação do


voto e acerca dos efeitos da própria votação, isto é, se o réu será ou não condenado,
cumprirá sua pena em liberdade, ou quais seriam os atenuantes, por exemplo.

50
A Psicologia do Tribunal do Júri

A explanação de um dos entrevistados que passou por situação de júri ilustra a


dificuldade: “Foi condenado e vai responder em liberdade? Pra que eu condenei,
então?” (sic). Ou em outro exemplo: "Às vezes, se você absolve, o indivíduo volta pra
sociedade e mata, ainda a próxima vítima pode ser eu” (sic). Outra dúvida verbalizada
durante as entrevistas diz respeito à diferenciação entre o que constitui um crime
doloso e o que constitui um crime culposo, bem como suas definições: “a gente
nunca sabe o que é culposo e o que é doloso” (sic). Há também entrevistados que
entendem que se a vítima ou testemunha não compareceu ao júri, trata-se de um
inequívoco sinal de desinteresse: “Porque a vítima não se faz presente?” (sic), “Pra
mim, a testemunha que é vítima, e não está presente, é por desinteresse dela…” (sic).
Outras justificativas para o não comparecimento da vítima ou testemunha, tais como
em decorrência de um medo de sofrer retaliação, ou outro desconforto emocional,
não foram aventadas espontaneamente por alguns dos entrevistados. 

Eixo 5 – A Respeito dos Aspectos Físico - Ambientais

Sentimentos de exposição no ambiente do tribunal do júri

Os participantes expressaram queixas acerca de encontros “desagradáveis”


(sic), dentro das instalações do próprio Fórum, quando os jurados são encaminhados
para saírem pelo mesmo corredor pelo qual também se retira a família extensa e
outras pessoas relacionadas ao réu. Diversos entrevistados acreditam que seria mais
adequado se houvesse uma rota distinta para sua saída, ou ainda que as retiradas
ocorressem em momentos separados, priorizando os jurados. Entendem que assim
se poderia evitar situações como a verbalizada por uma das juradas, a seguir: “Um
dia, a mãe de um réu que foi absolvido parou todos os jurados, mexeu com todos…
eu fiquei muito constrangida.” (sic)
Muitos entrevistados relataram ainda que lhes causa desconforto quando
ocorre de crianças, muitas vezes da família do réu, estarem presentes no ambiente
do tribunal do júri, pois são abordados temas extremamente complexos, violentos
e emocionalmente dolorosos. Alguns entrevistados acrescentaram que também
sentem esse desconforto quando, eventualmente, o promotor de justiça ou a defesa
acabam manifestando-se mediante palavras de baixo calão, consideradas “pesadas”
(sic) para serem proferidas diante de crianças. 

Localização da bancada dos jurados

Os entrevistados comentaram que uma alteração da localização da bancada


dos jurados na sala do tribunal do júri poderia favorecer a sua atuação. Foram ainda
verbalizadas reclamações acerca da estruturação da sala, como por exemplo: a
umidade frequente no ar, a falta de circulação de ar, a qualidade do aparelho de ar
condicionado muito barulhento e a acústica do local. Um dos jurados a descreveu
como “um lugar quente, com som muito baixo, cheiro de mofo e barulho do ar muito
ruim” (sic).

Recursos multimídia e compreensão

51
A Psicologia do Tribunal do Júri

Muitos entrevistados referiram que recursos audiovisuais ou multimídia (fotos,


imagens, documentos diversos e testemunhos em vídeo) facilitam o entendimento
dos discursos do promotor de justiça e da defesa.  Ainda, referiram que esses recursos
multimídia poderiam auxiliar nos casos que envolvem mais de um réu, considerados
como “mais complicados” (sic). Entretanto, ressaltaram como necessário o
aprimoramento da qualidade do som e imagem dos aparelhos utilizados. 

Eixo 6 – A Respeito do Pós - Júri

Sentimentos de exposição fora do ambiente do tribunal do júri

Alguns entrevistados relataram sentimentos de exposição em ambiente externo


ao tribunal do júri. Esses sentimentos de exposição foram comentados em relação a
diferentes situações da vida pessoal e profissional dos participantes.
Na vida pessoal, as situações comentadas foram de quando se depararam com
membros do júri, membros da família extensa do réu ou, ainda, réus que foram
absolvidos, fora das condições e espaço do tribunal do júri. Um dos participantes
entrevistados ilustrou da seguinte forma o seu desconforto com esse modo de
exposição: “Quantas vezes eu já cheguei no mercado e pessoas que estiveram no júri
sabiam quem eu era” (sic). A maioria dos entrevistados referiu que em tais situações
foram vivenciados sentimentos de intimidação, constrangimento e amedrontamento.
Na vida profissional, um exemplo ilustrativo do sentimento de exposição obtido
foi o caso dos entrevistados com cargos efetivos em serviços públicos que expressaram
receios de que o exercício de suas atividades em instituições públicas acabaria por
facilitar sua identificação junto ao réu, aos familiares e amigos do réu, ou mesmo
“quadrilhas” (sic). 

Performance do juiz, promotor de justiça e defesa

Alguns entrevistados relatam desagrado diante da estratégia de comunicação


ostensiva, dramatizada ou teatral por parte do promotor de justiça ou da defesa:
“Promotor e advogado, batendo na bancada, teatralizando demais e gritando, estando
do lado dos jurados, é desnecessário” (sic). “Eu não sou surdo. Chega a ser falta de
respeito” (sic). “Às vezes parece que a gente é palhaço, é burro” (sic).
Uma parcela dos entrevistados  ainda referiu desconforto quando alguns 
representantes da defesa expressam verbalmente que os jurados estariam sendo
responsáveis por uma condenação indevida do réu: “Já saí daqui, depois de eles
culparem nós pela condenação, sentei ali fora e fiquei chorando” (sic). Há ainda relatos
de que a defesa “já me questionou a respeito de meu posicionamento no júri” (sic).
Alguns entrevistados relataram que “o advogado passou por todos os jurados dizendo
que sabia quem votava sim ou não” (sic); e, ainda, “houve um dia em que após a
condenação o advogado passou cumprimentando um por um os jurados, intimidando
e falando o nome de cada um…” (sic). 

52
A Psicologia do Tribunal do Júri

Refeições 

Alguns entrevistados enfatizaram que não lhes era oferecido “lanche” (sic)
durante as audiências e que entendiam que seria apropriado se o mesmo fosse
disponibilizado. É o que se observa no comentário de um dos entrevistados: “a gente
toma café muito cedinho, dez horas já precisava fazer um lanchinho” (sic). Ocorreram
ainda reclamações acerca da qualidade do café e do chá, da qualidade do almoço
(quando fora disponibilizado), e, principalmente, acerca do horário de liberação para
realização das refeições, que, via de regra, passa bastante do meio dia. 
Alguns entrevistados referiram a impressão de um “descompromisso” (sic)
com seu bem-estar, especialmente quando se ultrapassa o horário do almoço: é um
“desrespeito com os jurados” (sic). “Já ficamos até as 13 (treze), 14 (quatorze) horas
aqui sem almoço” (sic). Alguns entrevistados ainda referiram a impressão de que
estão “largados” (sic), “como se a gente fosse menos importante até que o réu” (sic).

Dispensa (ou não) do júri quando de dificuldades psicológicas e de saúde geral

Alguns entrevistados referiram sensação de mal-estar psicológico quando não


ocorreu dispensa de participação no júri após informarem dificuldades em saúde
mental, tais como “ansiedade” (sic) e “síndrome do pânico”, ou mesmo diante de
condições de saúde orgânicas como um caso relatado de “glaucoma” (sic). Esses jurados
pontuaram que, devido a tais condições de saúde, experienciaram a prática do júri
com sentimentos de estresse, intensificação de ansiedade, frustração, irritabilidade
e desamparo; uma das entrevistadas referiu que se sentiu “arrasada” (sic). A mesma
mostrou-se ruborizada e, inclusive, chorou durante a entrevista. Nesse ponto, cabe
destacar que a atitude de reverência dos jurados ao juiz, em muitos casos, parece ter
inibido o comportamento de relatar o mal-estar ou dificuldade de saúde no momento
do júri.
Deve-se acrescentar que os entrevistados referiram que o nível de estresse
vivenciado em cada uma das audiências depende diretamente do desdobramento do
caso abordado.

5. DISCUSSÃO

No que se refere à idade média da amostra, identificamos que a maior parte


dos jurados possuía entre 20 e 50 anos de idade; ou seja, encontram-se numa fase de
formação profissional e produtiva do ciclo de vida. Dentre o grupo, mais da metade
foi composto por mulheres, revelando a importância de se considerar aspectos
socioculturais de gênero e seus possíveis impactos na tomada de decisão judicial
por essa população. O estado civil da maioria foi assinalado como casado, seguido
por pessoas solteiras. Quanto à participação em julgamentos, metade da amostra
referiu ter atuado em dois até cinco julgamentos, demonstrando que, neste grupo, já
havia uma experiência prévia em júri. No tópico escolaridade dos entrevistados, uma
consideração importante é que 90,9% da amostra possui ao menos o ensino médio
completo e mais da metade possui o nível superior completo. Esses dados revelam
que os jurados possuem, teoricamente, recursos acadêmicos/intelectuais suficientes

53
A Psicologia do Tribunal do Júri

para participar de um julgamento.


Também é pertinente destacar a caracterização dos jurados entrevistados por
religião, pois 86,7% afirmaram pertencer a alguma religião. Este pode ser considerado
um dado relevante da pesquisa, visto que os Tribunais do júri julgam crimes contra
a vida, sendo que possíveis vieses religiosos podem, conforme a religião, afetar as
decisões dos jurados.
As respostas mais escolhidas pelos entrevistados para descreverem como se
sentiram diante da convocação para o júri foram: honrado (23,7%), ansioso (20,4%) e
apreensivo (13,9%). Destaca-se, porém, que sentimentos que podem ser qualificados
como negativos (apreensivo, incomodado, intimidado, com medo, enraivecido e triste)
somados perfizeram um total de 34,3%. Tais sentimentos devem ser considerados
quanto a possíveis impactos na atuação dos jurados, visto que podem interferir
inadequadamente em seu processo de decisão.
Também no que concerne ao momento da convocação, nas entrevistas qualitativas,
foi possível identificar essas dimensões autodescritivas em torno de importante
problema levantado pelos entrevistados acerca da intimação na convocação para o júri.
Os relatos que expressam sentimentos de exposição decorrentes da forma de entrega
do documento de intimação são bastante ilustrativos desse dinamismo: por um lado
os entrevistados se sentem honrados em participar do júri, mas, paradoxalmente,
também experimentam sentimentos de ansiedade, apreensão e insegurança, dado
que em muitos casos a convocação se dá no ambiente de trabalho.
Um outro aspecto importante a observar quanto à convocação refere-se à
existência (ou não) de explicação prévia sobre o papel do jurado. A maioria, 82,5%,
assinalou que ocorreu explicação prévia, enquanto 16,8% assinalaram que não
houve uma explicação prévia. Do mesmo modo, 80,4% dos jurados responderam
que não sentiram falta de orientações e 18,9% afirmaram que sentiram falta.
Entretanto, cabe destacar que, durante as entrevistas qualitativas, quando se buscou
promover receptividade e acolhimento dos conteúdos trazidos, muitos entrevistados,
contrariamente ao que assinalaram nas respostas objetivas, referiram sentir falta de
explicação ou orientação.
É possível que, neste ponto, a atitude de reverência dos entrevistados tenha
concorrido para inibir o comportamento de solicitarem mais informações ou
orientações acerca do papel do jurado. Outra possível explicação para tal dissonância
entre as respostas objetivas e subjetivas pode ser que, no preenchimento do
questionário, muitos jurados tiveram dificuldades para reconhecer que sentiram falta
de orientações. Outra hipótese é de que, em um ambiente tão formal e reverencial,
as pessoas tendem a sentirem-se expostas ao revelar seus embaraços, dúvidas ou
despreparo, o que pode conduzir a sentimentos de inadequação, incompetência e
frustração. Além disso, a incomunicabilidade imposta aos jurados pode ter contribuído
para o sentimento de que seriam os únicos a experimentar tal situação. Entretanto,
quando imersos no grupo focal, onde outros trouxeram à tona tal dificuldade,
sentiram-se mais encorajados para fazê-lo também, revelando a importância de
orientação e esclarecimentos prévios, mesmo para um grupo que já teve experiência
anterior em julgamentos.
No que diz respeito à reação à convocação, temos que 55,3% dos entrevistados
afirmaram-se satisfeitos ou muito satisfeitos com a convocação, ainda que a

54
A Psicologia do Tribunal do Júri

porcentagem que se diz indiferente seja bastante significativa (27,3%). Este dado
também deve ser explorado como importante, pois o fato de estarem indiferentes
pode interferir em seu julgamento. Há ainda uma porcentagem de 16,8% que afirmou
estar insatisfeita ou muito insatisfeita frente à convocação, o que deve ser analisado
com cautela. Considerando que nas entrevistas qualitativas muitos entrevistados
referiram desconforto com a convocação, sugere-se que haja alguma forma de
não convocar os jurados que manifestamente não se apresentem satisfeitos com a
convocação.
No que se refere à dispensa/recusa na triagem para composição do conselho
de sentença, a maioria (78,7%) entende que isso faz parte do processo do júri; 16%
afirmaram ser um alívio; 3,3% afirmaram que isso acaba sendo constrangedor/
embaraçoso; 0,7% dos entrevistados acreditam que o problema está em si mesmo.
Além disso, quanto à necessidade de haver explicação a respeito da dispensa/recusa
no processo de triagem inicial para compor o conselho de sentença, também a maioria
(83,2%) afirmou que não é necessário; enquanto 16,8% dos entrevistados relataram
que há necessidade de explicação. Por outro lado, nas entrevistas qualitativas,
uma parcela dos jurados referiu desconforto com a recusa, bem como ter sentido
necessidade de alguma explicação ou justificativa a respeito. Essas informações
mostram-se importantes ao considerarmos que esse jurado que sentiu desconforto
com sua dispensa pode, em outro momento, ser necessário à composição do conselho
de sentença. Todos os esforços para a mitigação de aspectos que possam consciente
ou inconscientemente resultar em prejuízo ao trabalho do promotor de justiça do júri
através dos jurados deve, sempre que possível, ser alvo de uma análise minuciosa
e ajustes. Deste modo, faz-se necessário pensar em meios e técnicas que sejam
utilizados nessas situações, dirimindo qualquer resistência (mesmo que inconsciente)
do jurado, por ter experimentado algum sentimento de rejeição, incompetência ou
insuficiência ao ser preterido para o trabalho.
Finalmente, acerca da ocorrência de situações durante o processo de seleção
do conselho de sentença em que o jurado esteve com algum problema de saúde, mal
estar ou dificuldade que prejudicou sua participação, porém teve receio de solicitar
sua substituição ou dispensa, a maioria (80,3%) respondeu que não ocorreu, sendo
que 17,2% responderam que sim, ocorreu. Durante as entrevistas qualitativas, os
jurados que passaram por essas situações relataram intenso mal-estar psíquico e que
vivenciaram a prática do júri com sentimentos de estresse, ansiedade, irritabilidade
e desamparo. Nessas situações foi possível observar de modo sensível, durante
as entrevistas qualitativas, a interveniência da atitude de reverência às figuras de
autoridade em alguns dos jurados, que não comunicaram esse mal-estar físico ou
psíquico quando do momento do júri. Os entrevistados ainda aventaram a possibilidade
de que fosse oferecida maior atenção aos aspectos emocionais dos jurados e melhor
apreciação acerca da sua condição de participar do júri, vez que tal situação afetaria
sua capacidade de tomar decisões. 
No que se refere à obrigatoriedade de ser jurado, a maioria (29,6%) afirmou
aceitar completamente a obrigatoriedade; sendo que 12% discordam completamente
da obrigatoriedade. Mais uma vez, cabe assinalar que, durante as entrevistas
qualitativas, algumas comunicações revelaram-se divergentes das respostas objetivas
e, nesse tópico, os jurados enfatizaram o descontentamento com a obrigatoriedade.

55
A Psicologia do Tribunal do Júri

No que se refere à atuação do jurado, a maioria dos entrevistados (42,7%)


respondeu que sua opinião tende a mudar muito durante o julgamento. Este é um
dado relevante, pois significa que podem acompanhar a acusação e a defesa, sendo
portanto razoável pensar que os operadores do direito devem explorar, todo o tempo
possível, a sensibilização do jurado quanto à tese apresentada.
No que diz respeito à descrição mais aproximada do que vivenciou o entrevistado
durante o júri, tendo em vista a absolvição ou condenação do réu, 33,6% consideraram
que as informações no debate foram suficientes, mas uma parcela aproximada (23%)
respondeu que, conforme o discurso apresentado, tende a confiar no promotor de
justiça ou na defesa. Por fim, 11,5% responderam que, apesar do debate, tendem
a decidir instintivamente. Esses dados indicam uma importante variedade de
fatores cognitivos e afetivos, de comunicação verbal e não-verbal, conscientes e
inconscientes, envolvidos nos processos de tomada de decisão do jurado, e que
apontam a necessidade do uso de técnicas que visem auxiliar o jurado em sua
decisão. Em especial, há indicativos para se pesquisar fatores relacionados com as
representações simbólicas, alternância de atitudes e ambivalência de sentimentos
acerca do juiz, do promotor de justiça e da defesa durante o júri. 
No que se refere ao julgamento, é interessante destacar que 37,1% dos
entrevistados responderam que se sentem completamente seguros para julgar um
caso com apenas um réu; 29% responderam que sentem-se completamente seguros
para julgar um caso com mais de um réu; e, ainda, 32,2% responderam que sentem-
se totalmente seguros para realizar a escolha a respeito da condenação versus
absolvição do réu.
Entretanto, durante as entrevistas qualitativas, os relatos enfatizaram as
dificuldades de compreensão na ponderação do voto e acerca dos efeitos da própria
votação; isto é, se o réu seria ou não condenado, se cumpriria sua pena em liberdade,
quais seriam os atenuantes, bem como  dificuldades sobre a diferenciação entre o
que constitui um crime doloso e o que constitui um crime culposo.  Os participantes
inclusive deram o exemplo de um caso em que o promotor teria reforçado que se
tratava de uma morte por motivo fútil e que isso gerou confusão na hora da votação,
pois alguns entenderam que se a morte havia ocorrido por motivo fútil, ela não era
tão grave. Os jurados inclusive revelaram que houve absolvição do réu deste caso.
Quanto à utilização de recursos multimídia, a maioria (58%) respondeu que
considera essencial a exibição de conteúdo por esse meio (depoimentos em vídeo,
fotos de vítimas, dentre outros) para acréscimo de informações a respeito do
caso. Durante as entrevistas qualitativas também houve destaque positivo para as
contribuições da exibição de conteúdo multimídia, tendo-se apenas assinalado de
forma mais incisiva a necessidade de melhorias nos equipamentos. A exposição com
utilização dos recursos audiovisuais, colabora para um maior entendimento sobre
o conteúdo apresentado, sendo elemento importante para o processamento das
informações dos jurados.
Quanto aos aspectos que dificultam a experiência de ser jurado, temos uma série
de situações apontadas por eles que devem ser levadas em consideração no trabalho
do promotor de justiça, pois essas dificuldades podem interferir na forma como o
jurado realiza seu processamento da informação. Os dados do gráfico nº 19 sugerem
de forma bastante ilustrativa a interveniência de sentimentos intensos de ansiedade

56
A Psicologia do Tribunal do Júri

e apreensão relacionados a: posicionar-se fisicamente diante do réu, cometer


injustiça, comparecimento da família do réu e medo de sofrer retaliação. Conforme
exposto anteriormente, as respostas mais frequentes sobre os sentimentos diante da
convocação para o júri foram: honra, ansiedade e apreensão. Porém, outros dados
indicam sentimentos de desconsideração e revolta diante de fatores relacionados
com a organização e humanização do ambiente do tribunal do júri: o desgaste pelo
tempo de permanência no tribunal, a fome devido à proximidade do horário do
almoço, sem perspectiva de finalização dos debates, bem como os sentimentos de
medo e apreensão. Todos esses sentimentos e percepções devem ser avaliados como
aspectos que interferem na capacidade de concentração dos jurados.
Ainda sobre condições que dificultam a experiência de ser jurado, cabe observar
que, durante as entrevistas qualitativas, houve destaque para outras situações
indicadas no gráfico nº 19: os grupos de réus em um mesmo julgamento e a dificuldade
de entendimento da linguagem utilizada (no caso, a dificuldade de entendimento da
linguagem jurídica e o uso de jargão técnico; também os excessos de teatralidade
e de gritos foram apontados desfavoravelmente por alguns entrevistados).  Nas
entrevistas qualitativas, uma parcela dos jurados enfatizou desconforto com excessos
de teatralidade ou linguagem ostensiva e gritos tanto por parte dos promotores de
justiça quanto por parte da defesa. Alguns entrevistados ainda referiram desconforto
em situações em que a defesa verbalizou que os jurados seriam responsáveis por uma
condenação indevida do réu, dado que tal argumento reforçaria o medo de cometer
uma injustiça. 
Apesar disso, questionados acerca da performance (o falar, o agir, os gestos, o tom
de voz) dos operadores do direito no tribunal do júri, no que se refere à performance
do juiz, a maioria (68,5%) avaliou como excelente. Também a maioria (56,6%) avaliou
como excelente a performance do promotor de justiça. No que se refere à performance
da defesa, a maioria (52,1%) avaliou como boa.
Nas entrevistas qualitativas, muitos jurados relataram que, durante
o procedimento do júri, com frequência sentiram-se significativamente
“desconsiderados” (sic), “largados” (sic) e, por conseguinte, “revoltados” (sic) diante
de frustrações relacionadas com dificuldades no âmbito da humanização do ambiente
jurídico.
Ressalta-se que esses sentimentos relacionados às variáveis de humanização
do ambiente institucional apareceram com frequência, sobretudo, nas entrevistas
qualitativas. Além disso, conforme indicado nos resultados qualitativos, durante
as entrevistas foram relatadas outras situações que dificultam a experiência de ser
jurado: dificuldades a respeito do deslocamento ou locomoção até o tribunal do júri e
de custeio próprio do transporte para chegada até o local;  atrasos frequentes para o
início das audiências, gerando um senso de desconsideração; exposição no ambiente
de trabalho, relacionada com o comparecimento às audiências, já que, de acordo
com os jurados entrevistados, sua participação no tribunal do júri é frequentemente
entendida como “matar trabalho” (sic) por colegas e chefia. 
Outro aspecto importante a se observar, corroborado pelas entrevistas
qualitativas é que a maioria (55,9%) dos entrevistados considera o rito do júri cansativo.
Por fim, cumpre assinalar que mais da metade da amostra (58%) respondeu
que se sente completamente desconfortável quando ocorrem situações em que

57
A Psicologia do Tribunal do Júri

o nome dos jurados, suas profissões ou local onde trabalham são divulgados ao
longo do julgamento. Acrescenta-se que esse desconforto acerca da divulgação de
informações pessoais dos jurados (com sentimentos de ansiedade, apreensão, medo
de retaliação, bem como de desconsideração e revolta) também apareceu na maioria
das entrevistas qualitativas. 
No que diz respeito aos aspectos físico-ambientais, um ponto importante a
destacar é que 20,8% dos entrevistados responderam que se sentem completamente
desconfortáveis com relação à posição do réu em frente da bancada de jurados. Esse
desconforto também foi relatado durante as entrevistas qualitativas. 
Quanto à humanização do ambiente do júri, outro tema relevante está relacionado
com a disponibilização de refeições durante o período do trabalho do conselho de
sentença. A respeito disso é importante observar que a maioria (51,6%) respondeu
que sentiu fome durante o período em que esteve no tribunal do júri, enquanto
46,7% responderam que não sentiram fome. Nas entrevistas qualitativas os jurados
enfatizaram o desconforto quando não havia lanches ou almoço, permanecendo
intervalos longos sem se alimentarem, referindo sintomas de prejuízos cognitivos
de atenção e memória, bem como sentimentos de frustração, desconsideração e
irritabilidade. 
Já na descrição do que vivenciaram quando familiares do réu compareceram ao
julgamento no tribunal do júri, verificou-se incongruência entre os dados quantitativos
e qualitativos. Conforme demonstrado no Gráfico nº 42, 20% dos entrevistados
relataram indiferença. Entretanto, nas entrevistas qualitativas, a indiferença não
foi uma descrição significativa da vivência por parte dos jurados, tendo prevalecido
descrições como sentimentos de ansiedade, intimidação, medo, tristeza, pena ou
pesar.  
É importante ressaltar que durante as entrevistas qualitativas muitos
entrevistados expressaram desconforto quando há presença de crianças, muitas
vezes da família do réu, acompanhando a sessão do tribunal do júri. Tal desconforto,
segundo eles, é que naquele espaço são abordados temas carregados de muita
violência e emocionalmente dolorosos. De fato, a partir da perspectiva da psicologia,
há que se considerar os riscos dos conteúdos e interações no júri repercutirem
como experiências traumáticas em crianças e adolescentes com personalidade em
desenvolvimento.
Em relação ao pós-júri, uma situação avaliada pelos jurados, refere-se à
ocorrência (ou não) de algum tipo de encontro do jurado com membros da família
ou pessoas relacionadas ao réu fora do tribunal do júri: a maioria dos entrevistados
(83,9%) respondeu que não aconteceu tal encontro. Mas cabe assinalar que, nas
entrevistas qualitativas, esse tema foi referido como extremamente desconfortável
pelos jurados que vivenciaram as situações de se depararem em outros espaços com
membros da família (ou relacionados) do réu. Do mesmo modo, foi referida uma
apreensão de muitos dos entrevistados em vivenciarem essa situação no ambiente
fora do Tribunal. 

58
A Psicologia do Tribunal do Júri

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados e discussões apresentadas, percebe-se que existem


múltiplas variáveis que influenciam direta ou indiretamente a atuação dos jurados
no tribunal do júri de Cascavel-PR. No campo da psicologia, essas variáveis abrangem
aspectos de ordem cognitiva e afetiva, verbal e não-verbal, consciente e inconsciente,
dentre outras categorias, e são fundamentais de serem identificadas e estudadas,
tendo em vista os possíveis reflexos que podem causar na forma como os jurados
irão processar as informações. Além disso, foi possível identificar que as modalidades
de questionário e entrevistas em grupos focais revelaram incongruências entre
o conteúdo advindo das duas metodologias. Pode-se inferir que no grupo focal os
participantes se sentiram mais à vontade para expor suas opiniões em comparação com
o preenchimento dos questionários. Esse aspecto deve ser levado em consideração
em futuras pesquisas.
Com base nos resultados obtidos, torna-se relevante a realização de pesquisas
futuras acerca de fatores relacionados com as representações simbólicas e
alternância ou ambivalência de atitudes e sentimentos dos jurados acerca do juiz,
do promotor de justiça e da defesa durante o júri. Além disso, há indicativos para se
aprimorar pesquisas sobre a situação de jurado no tribunal do júri e a presença de
dinamismos de ordem psicológica propensos à ambivalência ou oposição, quando
diante de frustrações relacionadas à humanização do ambiente jurídico, em especial
a alternância entre se sentir honrado e desconsiderado. As outras auto descrições
relevantes de sentimentos vivenciados foram a de ansiedade e de apreensão, as
quais se intensificam quando as pessoas sentem-se expostas e desprotegidas em sua
participação como jurados.
Foi possível ainda observar indicativos de outra atitude dos jurados que pode
ter relevância para pesquisas futuras: trata-se da atitude de reverência paralisante
a respeito do juiz e do promotor de justiça, mas por vezes também a respeito da
defesa, que parece se relacionar com a inibição dos jurados em diferentes situações,
sobretudo para comunicar a vivência de dificuldades relacionadas à saúde, aspectos
emocionais e da humanização no ambiente do tribunal do júri.
Acerca desse último aspecto, foi possível indicar algumas sugestões práticas
para aprimoramento da humanização do ambiente no tribunal do júri na comarca de
Cascavel: a implementação de um momento de acolhida aos novos jurados do mês,
a disponibilização de lanches diversos durante a sessão plenária (como, por exemplo,
café, chá e bolacha); a disponibilização de refeição (almoço ou jantar) em horários
pré-estabelecidos, com a comunicação ao jurado para que ele saiba essa informação;
que haja uma saída específica do prédio do Fórum para os jurados, considerando o
constrangimento e receio frente à possibilidade de encontro com relacionados ou
membros da família do réu.
É importante assinalar que esta pesquisa nasceu da necessidade de
compreender a experiência dos jurados e colaborar para ajustes voltados à melhoria
dessa experiência, de modo que esta se refletisse em decisões justas e acertadas para
a sociedade. À medida que a pesquisa foi realizada, desde o início dos resultados
preliminares apresentados pela equipe de psicologia, o juiz e os promotores
responsáveis pelo trabalho do júri foram diligente e paulatinamente implementando

59
A Psicologia do Tribunal do Júri

ajustes que buscavam suprimir as dificuldades identificadas, de modo a facilitar o


trabalho dos jurados. Desse esforço surgiu um trabalho de orientação aos jurados
realizado sempre nos primeiros júris de cada mês. Essa orientação, uma espécie de
minicurso introdutório, é realizada pelo juiz, pelo promotor e por um representante
da OAB e visa esclarecer aspectos próprios ao rito do júri, para que os jurados possam
se sentir melhor acolhidos e preparados quanto ao trabalho naquele período para o
qual foram convocados. Além disso, as dificuldades sonoras decorrentes do barulho
do ar condicionado (relatadas pelos jurados) foram resolvidas com a substituição
do equipamento, tendo sido também disponibilizado telão para a apresentação
de material audiovisual. Foram concedidos intervalos frequentes para o uso do
banheiro e oferta de chá/café (lanche) entre as refeições para os jurados durante sua
permanência no conselho de sentença. Também foi estabelecida uma rota de saída
própria para o maior conforto e segurança dos jurados, dentre outros ajustes.
Um dos principais aspectos evidenciados por essa pesquisa diz respeito à imensa
importância do trabalho de humanização do tribunal do júri, para que o processo de
tomada de decisão do jurado possa efetivamente estar pautado na análise crítica
das situações apresentadas, e não derivar de variáveis outras que possam afetar seu
processamento cognitivo.

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BISINOTTO, Edneia Freitas Gomes. Origem, história, principiologia e competência do


tribunal do júri. In: Âmbito Jurídico. Rio Grande, XIV, n. 86, mar 2011.

BRASIL, Constituição 1988. Constituição da República Federativa do Brasil.

CAMPOS, Walfredo Cunha. Tribunal do Júri. São Paulo: Atlas, 2011.

CAVALCANTE, R. B.; CALIXTO P., PINHEIRO, M. M. K. Análise de conteúdo: considerações


gerais, relações com a pergunta de pesquisa, possibilidades e limitações do método.
Revista Inf & Soc. João Pessoa. 2014; 24(1):13-18.

DIAS, Kelnner Maux. Corpo de sentença do tribunal do júri: perdão do réu. João
Pessoa, 2012. 21f. Artigo (Graduação em direito) Faculdade de Ensino Superior da
Paraíba FESP.

MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 10. ed.


São Paulo: HUCITEC, 2007. 406 p.

OLIVEIRA, D. C. Análise de Conteúdo Temático Categorial: Uma proposta de


sistematização. Rev. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 out/ dez; 16(4):569-76.

OLIVEIRA, Renata Petry De. Visão Crítica Acerca Do Tribunal do Júri: A Problemática
Dos Jurados e a Possibilidade De Renúncia ao Julgamento Pelo conselho de sentença.

60
A Psicologia do Tribunal do Júri

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Disciplina de Monografia II, do Curso


de direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS).

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito Processual Penal. 4.


ed. Salvador: JusPodivm, 2010.

TÁVORA, Nestor. Curso de Processo Penal. 12. Ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.

61
A Psicologia do Tribunal do Júri

O TRIBUNAL DO JÚRI NA PERCEPÇÃO DOS JURADOS1

Karen Richter P. S. Romero2


Patrícia dos Santos Lages Prata Lima3
Adriane da Rocha Santos Pontarola4
Ana Carolina Ferreira Lins5

RESUMO

Trata-se de estudo elaborado no âmbito do projeto Laboratório de Psicologia


Jurídica (LAPJUR) do Ministério Público do Estado do Paraná. Um questionário de
pesquisa foi aplicado nos jurados de uma comarca de entrância final. Buscou-se obter
informações quanto à percepção dos jurados em relação ao tribunal do júri, da forma
como se estrutura hoje. Foram levantados 21 pontos de análise, a partir da avaliação
das respostas obtidas, dentre os quais destacam-se: a atuação dos profissionais
(oratória, postura, preparo e confiança dos promotores de justiça e advogados de
defesa); a complexidade e autoridade do trabalho do promotor de justiça nesse
contexto; o processo de tomada de decisão dos jurados; o papel da réplica e da
tréplica nos julgamentos; o uso de recursos jurídicos e metajurídicos em plenária; a
vestimenta dos profissionais; os processos identificatórios com agentes que compõem
e participam dos ritos. Ao documentar e estudar vários fatores relacionados à
dinâmica do trabalho no júri, bem como as percepções e aspectos que influenciam
as decisões dos jurados, pretende-se contribuir para melhorar a compreensão dos
processos sociais e cognitivos básicos envolvidos nas tomadas de decisão.

PALAVRAS-CHAVE: percepção; processamento da informação; heurística;


tomada de decisão.

1 Agradecimento especial aos psicólogos Fernando Luiz Menezes Guiraud e Fernando


Vecchio que realizaram a revisão textual deste artigo.
2 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestranda em Psicologia Forense
(UTP). Especialista em psicologia Hospitalar com ênfase em Vitimização Infantil (SCM/SP), em
psicologia jurídica (CFP) e em Psicanálise Clínica (PUC-PR). Fellowship em Psiquiatria Infantil
(Johns Hopkins Hospital - EUA).
3 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestre em Psicologia com
ênfase em Psicanálise pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em
Filosofia e Psicanálise (UFPR). Pós graduanda em psicologia jurídica com Ênfase em Perícia
Psicológica (IPOG).
4 Psicóloga. Estagiária de pós-graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Pós
graduanda em psicologia Clínica/Psicanálise (UTP-PR) e em psicologia da Saúde e Hospitalar
(FPP-PR).
5 Estagiária de graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Graduanda em
psicologia (FAG-Cascavel).

62
A Psicologia do Tribunal do Júri

1. INTRODUÇÃO

O trabalho executado no tribunal do júri é fundamental para a democracia


brasileira. A ele compete o julgamento dos crimes dolosos contra a vida no território
nacional, tal julgamento não é realizado por um juiz togado, mas por sete “juízes
leigos”, membros da comunidade que, em tese, não possuem conhecimento jurídico6
e recebem a denominação de jurados.
O Código de Processo Penal (CPP), define, do seu artigo 121 ao 127, os crimes
cujo bem jurídico protegido pode ser considerado como o mais importante dentre
todos os demais bens penalmente relevantes: a vida. Tendo em vista que os crimes
contra a vida, pela gravidade de seus reflexos, constituem-se em grave dano à ordem
pública, à vítima, bem como a seus familiares e à sociedade em geral, possuem uma
abordagem diferenciada dos demais delitos previstos no referido documento. Desta
forma, busca-se que indivíduos comuns da sociedade, despidos, em geral, de qualquer
conhecimento jurídico, realizem o julgamento, de modo a tornar a justiça criminal
mais democrática. Assim, ao grupo de sete jurados compete uma importantíssima
decisão: chegar a um veredito.
Esses membros da sociedade muitas vezes não entendem plenamente o rito
do tribunal do júri. Ademais, podem experimentar dificuldades que interferem no
justo veredicto. Assim sendo, torna-se de fundamental importância conhecer um
pouco mais sobre a sua experiência nesse trabalho. Também se compreende que é
importante saber qual é a visão do jurado sobre o promotor de justiça do júri, pois
a ele compete a tarefa de, quando considerar pertinente, acusar o réu para que
responda pelo crime cometido. Além disso, seu trabalho possui grande impacto social,
na medida em que dele resultam condenações ou absolvições que conferem o senso
de segurança e justiça social que repercute em todo sistema de justiça brasileiro.
Considerando-se a escassez de material científico sobre o tema, especialmente
no Brasil, o presente projeto surge como pioneiro, com o intuito de verificar, entre
outras temáticas, quais são as percepções dos jurados em relação ao tribunal do júri
e ao promotor de justiça que nele atua. Foi desenvolvida pela equipe de psicólogos
da Unidade de psicologia do NATE/CAEx/MPPR, partindo de uma pesquisa anterior
que resultou em ajustes e contribuições à humanização do tribunal do júri, na mesma
Comarca. Cumpre destacar que o foco da pesquisa está na percepção dos jurados no
contexto da Comarca de Cascavel/PR.
Para a melhor organização dos dados obtidos, optou-se pela sistematização
descrita a seguir. Na primeira parte, realizou-se uma fundamentação teórica, na
qual foram abordados os seguintes temas: a) a história do tribunal do júri; b) o papel
dos jurados e do conselho de sentença; c) as variáveis que afetam ou interferem
no trabalho do júri. Na segunda parte, discorreu-se sobre a metodologia utilizada.
Na terceira parte, foram apresentados os resultados obtidos por meio de gráficos
ilustrativos. Na quarta parte, realizou-se uma discussão, articulando os achados desta
pesquisa com autores do campo da psicologia. Por fim, na sexta parte, figuram as
considerações finais.

6 Salvo casos em que o jurado possui graduação em direito.

63
A Psicologia do Tribunal do Júri

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. TRIBUNAL DO JÚRI

Não existe concordância a respeito das origens do tribunal do júri. De fato,


inúmeras são as teorias e os indícios, mas não se pode afirmar a exata raiz deste
processo. Estudiosos apontam que o início está relacionado fortemente à religião,
onde Deus era intimado como testemunha e os jurados eram doze, como os apóstolos
de Jesus. Esta origem religiosa também aponta para um desenvolvimento inicial nas
regiões da Grécia e Roma, onde o apelo religioso, a espiritualidade e a crença, serviam
de alicerce aos julgamentos de crimes contra a vida e a coletividade (TÁVORA, 2017).
Todavia, foi na Inglaterra que o tribunal do júri ganhou o delineamento mais
próximo ao que conhecemos hoje. O modelo inglês de tribunal, estipulado na Carta
Magna, no ano de 1215, é o que contempla os aspectos mais relevantes para a
estruturação do modelo de júri atual. Pode-se dizer, então, que a partir de sua prática
na Inglaterra foi que ele se espalhou pelo mundo.
Porém, não se pode negar a importância da França nesse processo. Afinal, após
a Revolução Francesa de 1789, devido à conjuntura política do momento, havia uma
descrença da população nos magistrados que, em sua maioria, eram oriundos de
castas superiores e não gozavam da confiança do povo. Assim, articula-se um novo
modelo de Poder Judiciário, no qual o ofício jurisdicional passa a ser exercido pelo
novo estamento social que chegava ao poder (BISINOTTO, 2011).
Foi na Idade Moderna que começou a disseminação do tribunal do júri pelo
continente europeu, iniciando-se um movimento de globalização impulsionado pelos
fatos e momentos históricos aqui descritos. Na época, esta instituição refletia o
símbolo da reação popular, enfrentando o autoritarismo e o absolutismo monárquico.
Atualmente, desponta como um mecanismo presente em diversas partes do mundo
e, na plenitude de suas atividades, estrutura-se para garantir e consolidar os direitos
humanos, os direitos da coletividade e os direitos da vida (DIAS, 2012).
Por sua vez, no Brasil, o tribunal do júri teve um histórico mais favorável, apesar
de passar por crises institucionais em determinados períodos. Foi disciplinado em
nosso ordenamento jurídico pela primeira vez pela Lei de 18 de junho de 1822, a
qual limitou sua competência ao julgamento dos crimes de imprensa, sendo formado
por juízes de fato7, num total de vinte e quatro cidadãos bons, honrados, patriotas e
inteligentes, que deveriam ser nomeados pelo Corregedor e Ouvidores do crime, e a
requerimento do Procurador da Coroa e Fazenda (promotor e Fiscal dos delitos). “Os
réus podiam recusar dezesseis dos vinte e quatro nomeados, e só podiam apelar para
a clemência real, pois só ao Príncipe cabia a alteração da sentença proferida pelo júri”
(BISINOTTO, 2011, s. p.).
A Constituição Federal atual, de 1988, regula o funcionamento do tribunal do
júri brasileiro (BRASIL, 1988). Em seu capítulo referente aos “direitos e Garantias
Fundamentais”, no artigo 5°, inciso XXXVIII, que reflete questões afetas aos direitos

7 O juiz de fato é o cidadão comum que integra o corpo de jurados de um tribunal do


júri. É considerado, no meio jurídico, como juiz leigo. Compõe o júri por atender os requisitos
exigidos na lei.

64
A Psicologia do Tribunal do Júri

individuais, in verbis:
“[...] É reconhecida a instituição do júri, com a organização
que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

c) a soberania dos vereditos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos


contra a vida; […]”.

2.2. JURADOS E CONSELHO DE SENTENÇA

Acerca do importante papel dos jurados, é possível afirmar que tais agentes
julgam os fatos, sendo que esse julgamento não pode ser modificado pelo juiz ou pelo
tribunal que venha apreciar um recurso. Recai, portanto, sobre o corpo de jurados
o princípio da soberania do veredito, pois não pode ser invalidado, exceto por nova
decisão do tribunal popular.
Deste modo, quando se trata do papel dos jurados, este grupo possui uma
importante e essencial função no tribunal do júri. A ação e intervenção do jurado
configura-se como um importantíssimo serviço público, que denota o exercício da
cidadania e da idoneidade. Entretanto, para que se alcance tal potencial, é necessário
que haja o efetivo exercício desta função. Assim sendo, é preciso refletir e analisar
a capacidade de entendimento e compreensão destes jurados. Afinal, caberá a este
grupo de indivíduos a apreciação do fato e ao juiz de carreira a aplicação do direito
(OLIVEIRA, 2015).
Podem ser jurados, de acordo com as determinações do artigo 436 do Código de
Processo Penal brasileiro - CPP, indivíduos com mais de 18 anos, de notória idoneidade
moral. São cidadãos “leigos” (no sentido de não serem necessariamente diplomados
em direito), que representam todas as classes e gêneros da sociedade.
Ainda segundo o referido documento, dentre aqueles que reúnem as condições
legais para exercer a função de jurado e que compõem a lista anual8 divulgada
pelo tribunal de Justiça de cada estado, 25 cidadãos são sorteados e convocados a
comparecer no dia do julgamento. Destes, sete serão escolhidos, mediante novo
sorteio, para compor o conselho de sentença, cuja função é julgar os fatos e estabelecer
um veredito quanto à culpabilidade do réu.
Neste ponto, cabe lembrar que, no contexto do sorteio daqueles que poderão

8 A “lista anual de jurados” é um documento de responsabilidade do Presidente do


júri que, de acordo com o contido nos artigos 425, §§ 1º e 2º, e 426, §§ 1º a 5º do Código
de Processo Penal, tem o dever de requisitar para autoridades locais, associações de classe
e bairro, entidades associativas e culturais, associações de ensino em geral, sindicatos,
repartições públicas, e núcleos comunitários, a indicação de pessoas que estejam aptas
para exercer a função de jurado. A relação de indivíduos daí advinda é, então, publicada na
imprensa e afixada na porta do edifício do Fórum no mês de outubro de cada ano.

65
A Psicologia do Tribunal do Júri

compor o conselho de sentença no dia do julgamento, tanto a acusação como a


defesa possuem o direito de realizar até três recusas sem justificativa. Ademais, de
acordo com o CPP (Art. 448, incisos I - VI), não poderão participar do rito na função
de jurados: marido e mulher; ascendente e descendente; sogro ou sogra; genro ou
nora; irmãos e cunhados (durante o cunhadio); tio e sobrinho; padrasto, madrasta ou
enteado. Ainda, aqueles que tiverem funcionado em julgamento anterior do mesmo
processo, tiverem integrado o conselho de sentença que julgou o outro acusado (no
caso do concurso de pessoas para o cometimento do crime), ou tiverem manifestado
prévia disposição para condenar ou absolver o réu, ficam impossibilitados de compor
o conselho de sentença, conforme disposto no Artigo 449 do CPP.
Pode-se concluir, tendo por base estas considerações, que:
“O júri é um órgão que integra o Poder Judiciário de
primeira instância, pertencente à Justiça Comum, colegiado
e heterogêneo – formado por um juiz togado, que é seu
presidente, e por 25 cidadãos – que tem competência mínima
para julgar os crimes dolosos contra a vida, temporário
(porque constituído para sessões periódicas, sendo depois
dissolvido), dotado de soberania quanto às suas decisões,
tomadas de maneira sigilosa e inspiradas pela íntima
convicção, sem fundamentação, de seus integrantes leigos”
(CAMPOS, 2011, p. 1).

Compete ao jurado a realização de relevante serviço público, símbolo do exercício
da cidadania em uma sociedade democrática de direitos e da aplicação de uma justiça
que, portanto, caminha na contramão da concentração do poder decisório (soberano)
nas mãos de uma única autoridade, despótica se assim o fosse. Daí a importância
concedida a este agente durante o rito, bem como a importância da avaliação das
percepções que vêm sendo construídas a respeito da instituição tribunal do júri e dos
representantes do direito que nela atuam.

2.3. VARIÁVEIS QUE INTERFEREM NO TRIBUNAL DO JÚRI

Parte-se do princípio de que o tribunal do júri está alicerçado, jurídica e


estruturalmente, na consolidação de uma sociedade democrática de direitos, na qual
o poder decisório dos julgamentos de crimes dolosos contra a vida é concedido aos
pares. Ainda, leva-se em conta que tais indivíduos não são necessariamente letrados
em direito, mas representantes de todas as classes e gêneros da nação, possuidores
das mais variadas percepções, crenças, costumes, avaliações, histórias de vida e
sentimentos. Desta feita, entende-se que todas essas diferenças podem interferir no
processo de tomada de decisão quando do estabelecimento do veredito.
Importa, portanto, no âmbito deste artigo, compreender que variáveis são essas
que atravessam o rito do júri, como a compreensão, a representação, e a tomada de
decisão realizada pelos cidadãos que, conforme determinação do Código de Processo
Penal brasileiro, estão aptos a assumir a função de jurados.
Quanto ao processo de tomada de decisão empreendido pelos jurados, diversos

66
A Psicologia do Tribunal do Júri

são os estudos de distintos campos do saber, incluindo a psicologia, que se debruçaram


na tentativa de identificar as variáveis que determinam as tendências à condenação
ou à absolvição dos acusados. A este respeito, Leite (2020) indica:
Como saber o que determina o voto dos jurados? Certamente
essa pergunta sempre desperta a curiosidade daqueles que
em algum momento pararam para analisar tais figuras.
Pode-se presumir que qualquer gesto do réu pode ser
determinante, ou talvez se conseguir conquistar um voto a
seu favor os outros serão apenas inevitáveis. Não se sabe ao
certo se isso pode ser verdade ou apenas suposição, o que
pode ser afirmado é que o corpo de jurados julga conforme
suas experiências de vida, crenças, costumes e sentimentos
internos (LEITE, 2020, s/p).

Apesar da convicção dos críticos de que os jurados não têm a capacidade de


compreender evidências científicas e técnicas complexas, entrevistas pós-julgamento
mostram que estes agentes tendem a analisar evidências de especialistas de uma
maneira bastante racional e metódica. Esforçam-se, neste sentido, para avaliar a
qualidade dos argumentos a eles apresentados e passam tempo considerável de
deliberação refletindo sobre a natureza do testemunho dos especialistas, o que
é claramente sugestivo do que se denomina de processamento sistemático da
informação (VIDMAR & DIAMOND, 2001).
Os jurados também se consideram avaliadores cuidadosos da evidência.
Segundo Devine, Buddenbaum, Houp, Stolle e Studebaker (2007), a grande maioria
deles, quando entrevistados após deliberações, disse que revisava minuciosamente
as evidências e as instruções do júri, no processo de obtenção do veredito. Por outro
lado, há que se considerar a dificuldade encontrada por alguns jurados em usar
adequadamente as informações do julgamento. Por exemplo, no caso de múltiplos
autores, com participações distintas no delito cometido, surgem impasses em atribuir
valor ou peso consistentes com a atuação e danos provocados por cada um deles
(HOROWITZ & BORDENS, 2000). Além disso, de acordo com os apontamentos de
Steblay, Hosch, Culhane e McWethy (2006), o testemunho que os jurados ouvem,
mas que posteriormente foram julgados inadmissíveis, influenciam suas decisões.
Também é oportuno levar-se em conta que os esquemas cognitivos9 preexistentes dos
jurados sobre a lei, às vezes, conflitam com as regras legais relevantes para um caso
particular. Essas últimas descobertas não são surpreendentes à luz do que as pesquisas
revelam sobre a tomada de decisão: as pessoas geralmente confiam em heurísticas
que podem levar a julgamentos errôneos e têm dificuldade em compartimentar seu
conhecimento.
A definição técnica de heurística a refere como um procedimento simples que
ajuda a encontrar respostas adequadas, ainda que geralmente imperfeitas, para

9 São esquemas que vão influenciar o modo como as pessoas interpretam as coisas.
Dizem respeito a crenças construídas desde a infância acerca de si mesmos, das pessoas, do
mundo, etc.

67
A Psicologia do Tribunal do Júri

perguntas difíceis. A palavra, conforme nos ensina Kahneman (2011), vem da mesma
raiz que heureca. Há uma alternativa heurística ao raciocínio cuidadoso, que às
vezes funciona razoavelmente bem e às vezes induz a erros graves. A dominância de
conclusões heurísticas sobre argumentos é mais pronunciada quando há emoções
envolvidas.
Existem diversos tipos de heurística. No exemplo da heurística da
representatividade, os indivíduos avaliam a probabilidade de um evento “b” pelo
nível de semelhança/similaridade deste com outro evento “a”. Em outras palavras,
refere-se à tendência de utilizar estereótipos para realizar julgamentos. Na situação
heurística da disponibilidade, as pessoas julgam a frequência ou a probabilidade de
um evento pela facilidade com que exemplos surgem em sua mente. No caso da
ancoragem, há um desdobramento da heurística da representatividade e os indivíduos
focalizam a atenção sobre uma informação recentemente recebida, usando-a como
referência para fazer uma estimativa ou tomar uma decisão. Na do afeto, proposto
pelo psicólogo Paul Slovic, trata-se de deixar as simpatias e antipatias determinarem
as crenças acerca do mundo (KAHNEMAN, 2011).
Apesar de muitos jurados procederem a uma análise minuciosa das informações,
eles não estão isentos de que todas essas heurísticas possam interferir e comprometer o
julgamento sobre determinado fato. Mostra-se, portanto, de fundamental importância
antever tais raciocínios e os fatores que aumentam as chances de sua influência no
processo decisório, para minimizar a probabilidade de erro no julgamento de um
indivíduo que analisa determinada situação. No cenário nacional, diferentemente do
modelo estadunidense, temos o sistema de “íntima convicção”10,conforme apontado
por Grazioli (2020), que rege a escolha realizada por cada jurado. Neste ponto,
destacam-se os elementos presentes no rito, em plenária, que extrapolam as técnicas e
instruções apresentadas pelo campo do direito. Comportamentos, expressões faciais,
lembranças, instigação das emoções quando da sustentação oral das partes ou dos
depoimentos apresentados são fatores que, ainda que de maneira inconsciente, são
captados pelos componentes do conselho de sentença. Nesse sentido, os aspectos
mencionados podem vir a atravessar seu processo decisório e, por conseguinte, a
inclinação a condenar ou absolver o réu.
Ainda, cabe lembrar que tanto a heurística como o processamento sistemático
e racional de informações não são exclusividade dos jurados. Mesmo os profissionais
do sistema de justiça (juízes, promotores de justiça e advogados/defensores), não
obstante o preparo e o conhecimento jurídico a partir do qual assentam sua atuação,
também, em alguma medida, sofrem influência de aspectos não verbais, de ordem
comportamental e emocional - quando do exercício de sua função e formação de
convicção. Novamente, reforça-se a importância de conhecer os processos que
envolvem a tomada de decisão, haja vista o possível efeito de atenuação da influência
desses aspectos, uma vez reconhecidos e nomeados.

10 O princípio da íntima convicção pode ser conceituado como a oportunidade do


julgador decidir segundo suas próprias convicções, decisão esta que não necessita de
fundamentação ou até mesmo amparo legal.

68
A Psicologia do Tribunal do Júri

3. METODOLOGIA

Esta pesquisa originou-se da inquietação de promotores de justiça acerca das


percepções dos jurados a respeito do trabalho no júri, tendo, portanto, o intuito de
verificar a compreensão e concepção que os jurados vêm construindo a respeito desta
instituição representativa da democracia brasileira.
Inicialmente, acompanhou-se algumas sessões do tribunal do júri, bem como
foram realizadas reuniões com os promotores de justiça, com o objetivo de acolher
as demandas e apresentar a proposta de desenvolvimento de um questionário para
captação das informações sobre a experiência dos jurados.
Desta maneira, foi desenvolvido instrumental com 32 questões, sendo 29
fechadas e 3 abertas. Dentre as abertas, foi proposto que fosse desenhado um promotor
do júri. No rol das questões fechadas, foram abordados aspectos característicos do
perfil socioeconômico dos jurados, bem como aspectos inerentes ao rito do júri e
aos agentes do direito que dele participam (a exemplo do uso da réplica e da tréplica
em plenária, da oratória do promotor e dos advogados de defesa, da utilização de
recursos audiovisuais, da postura e da vestimenta dos profissionais e dos processos
identificatórios com tais agentes).
Ressalta-se ainda que devido a extensão da análise dos dados gerados pelo
estudo, optou-se pela divisão dos achados em dois documentos distintos. Assim, em
relação aos desenhos realizados pelos jurados, foi desenvolvido outro documento
paralelo a este, resultante do mesmo instrumento de pesquisa e intitulado “Como
são percebidos os promotores de justiça do júri: análise de desenhos feitos pelos
jurados”.
Os dados foram obtidos por meio de 04 aplicações do questionário em grupos
distintos de jurados. Tais aplicações aconteceram no período compreendido entre o
mês de outubro do ano de 2019 e o mês de fevereiro do ano de 2020, com intervalo
no mês de dezembro. Em razão da pandemia do COVID-19, as sessões do júri foram
canceladas e não foi possível dar continuidade à aplicação do questionário em
sessões posteriores. Foram entrevistados 92 jurados de ambos os sexos, sendo que
a participação de caráter voluntário esteve condicionada à assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Para o tratamento das informações levantadas,
foram utilizados métodos quantitativos, sustentados na técnica estatística, e métodos
qualitativos, alicerçados na análise de conteúdo, da forma como é proposta por
Bardin (1979). Considera-se que os achados enquadram-se em estudo de caráter
exploratório, tendo em vista seu ineditismo no âmbito jurídico. Ademais, utilizou-se
da revisão bibliográfica para fins de embasamento teórico.
O presente artigo apresenta os resultados dos dados objetivos coletados dos
questionários, contemplando percepções amplas e gerais sobre o trabalho no júri11.

11 Importa salientar que, tendo em vista o extenso conteúdo resultante da pesquisa,


optou-se pela apresentação dos resultados e discussões daí decorrentes por meio de dois
artigos distintos. Deste modo, a análise dos desenhos de um promotor de justiça foram
apresentados em outro artigo intitulado “Como são percebidos os promotores de justiça do
júri: Análise de desenhos feitos pelos jurados”.

69
A Psicologia do Tribunal do Júri

4. RESULTADOS

De acordo com a metodologia adotada, buscou-se levantar alguns aspectos


sobre: o perfil socioeconômico dos jurados, as percepções destes a respeito dos
julgamentos realizados e a experiência no tribunal do júri.
É importante destacar que não se objetivou esgotar aspectos referentes à
experiência do júri ou sobre a representatividade social do promotor de justiça com
atribuição no júri, mas obter informações que possam colaborar para a compreensão
dessa experiência, contribuindo para a construção científica dos saberes relacionados
ao trabalho desenvolvido no tribunal do júri e dos seus resultados.
É certo que, no Brasil, estudos e pesquisas voltados à compreensão das decisões
dos jurados e sobre os aspectos que interferem em suas escolhas são ainda incipientes
e, portanto, pouco conhecimento há sobre as variáveis que influenciam tais agentes.
Por meios de investigações realizadas por pesquisadores americanos, por exemplo,
sabe-se que as emoções e os humores dos jurados podem afetar seus julgamentos
de várias maneiras, influenciando o tipo de processamento de informação em que se
envolvem, inclinando-os a interpretar as evidências em uma direção consistente com
seu humor e fornecendo pistas informativas sobre o veredito apropriado (FEIGENSON,
2010).

4.1. PERFIL SOCIOECONÔMICO

A amostra foi composta por jurados de ambos os sexos, sendo 53,9% do sexo
masculino e 45,1% do feminino.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR SEXO

Gráfico nº 1

A idade dos jurados variou de 20 a 60 anos, sendo distribuída da seguinte


maneira: 24,2% de 20 a 29 anos, 28,4% de 30 a 39 anos, 23,2% de 40 a 49 anos, 22,1%
de 50 a 59 anos e 2,1% de 60 anos ou mais.

70
A Psicologia do Tribunal do Júri

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR IDADE

Gráfico nº 2

Em relação ao estado civil, 60,6% dos jurados responderam ser casados, 23,4%
responderam ser solteiros, 8,5% disseram ter outro estado civil, a exemplo de união
estável, e 7,4% responderam ser divorciados.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR ESTADO CIVIL

Gráfico nº 3

No que tange à escolaridade, 2,2% dos jurados afirmaram possuir o Ensino


Fundamental Incompleto, 6,6% afirmaram possuir o Ensino Fundamental Completo
(que corresponde, também, ao somatório dos indivíduos com Ensino Médio
Incompleto), 20,9% afirmaram possuir o Ensino Médio Completo (que corresponde,
também, ao somatório dos indivíduos com Ensino Superior Incompleto) e 70,4%
afirmaram possuir o Ensino Superior Completo (que corresponde, também, ao
somatório dos indivíduos com Especialização e Mestrado).

71
A Psicologia do Tribunal do Júri

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR GRAU DE ESCOLARIDADE

Gráfico nº 4

Em relação à cor da pele, 70,3% dos jurados se autodenominaram brancos,


23,1% se autodenominaram pardos, 4,4% se autodenominaram pretos e 2,2% se
autodenominaram amarelos.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR COR DA PELE

Gráfico nº 5

No que tange à localidade do domicílio, 60,9% dos jurados responderam viver


em um bairro na região central de Cascavel/PR, 34,8%responderam viver na periferia
da cidade e 3,3% responderam viver na zona rural.

72
A Psicologia do Tribunal do Júri

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR REGIÃO EM QUE MORA

Gráfico nº 6

Em relação à situação ocupacional, 60% dos jurados responderam que apenas


trabalham, 31,6% afirmaram trabalhar e estudar, 3,2% responderam que se encontram
aposentados, 3,2% estavam desempregados ou não tinham uma ocupação e 1.1%
relatou apenas estudar.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR SITUAÇÃO OCUPACIONAL

Gráfico nº 7

Após caracterizada a situação ocupacional, os jurados indicaram a sua


ocupação principal, posteriormente organizadas em categorias mais amplas para
melhor visualização. Assim, 19,6% dos jurados afirmaram ser funcionários públicos,
13% se identificaram como agentes operacionais, 10,9% alegaram ser agentes
administrativos, 10,9% disseram ser agentes técnicos, 7,6% relataram outras profissões
(jornalista, engenheiro civil, assessor, marketing externo, defensor da justiça etc.),
6,5% afirmaram ocupar cargos na área da educação, 6,5% na área da saúde, 3,3%
se declararam agentes financeiros e bancários, 2,2% que se intitularam autônomos
e 3,3% afirmaram não estar empregados no momento da entrevista (estudantes,
aposentados ou desempregados).

73
A Psicologia do Tribunal do Júri

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR OCUPAÇÃO PRINCIPAL

Gráfico nº 8

Quanto à renda, 34,7% dos jurados referiram rendimento de R$1.001,00 a


R$3.000,00 reais mensais, 27,4% de R$5.001,00 a R$10.000,00, 25,3% de R$3.001,00
a R$5.000,00, 7,4% de mais de R$10.000,00 mensais e 4,2% dos entrevistados
afirmaram não possuir rendimento.

CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR RENDA

Gráfico nº 9

4.2. ATUAÇÃO DO PROMOTOR DO JÚRI

Dentre os participantes, 72,1% afirmaram possuir conhecimento prévio sobre


o trabalho do promotor do júri e 25,6% afirmaram não possuir esse conhecimento.

74
A Psicologia do Tribunal do Júri

“ANTES DE PARTICIPAR DO JÚRI EU JÁ SABIA O QUE O PROMOTOR


DE JUSTIÇA FAZIA”

Gráfico nº 10

Uma parcela bastante significativa da amostra 95,6% afirmou que durante o júri
se tornou mais claro o que o promotor de justiça faz, enquanto 2,2% relataram que
não.

“DURANTE O JÚRI SE TORNOU MAIS CLARO O QUE O PROMOTOR DE JUSTIÇA FAZ”

Gráfico nº 11

Diante disso, nota-se um aumento na porcentagem dos jurados que agora


compreendem claramente a atuação do promotor de justiça, representado por
89,1%. Paralelamente, houve diminuição da porcentagem dos que afirmaram ainda
não compreender a atuação deste profissional, ou seja, 8,7% da amostra.

“NÃO COMPREENDO CLARAMENTE A FUNÇÃO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA”

75
A Psicologia do Tribunal do Júri

Gráfico nº 12

4.3. RESPONSABILIDADE, COMPLEXIDADE DO TRABALHO E AUTORIDADE DO PROMOTOR


DO JÚRI

Em relação ao trabalho do promotor de justiça, 83,7% dos jurados consideraram


que requer responsabilidade como qualquer outro, enquanto 14% referiram acreditar
que existe maior responsabilidade quando comparada com outros ofícios.

“ACREDITO QUE O TRABALHO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA REQUER


RESPONSABILIDADE COMO QUALQUER OUTRO”

Gráfico nº 13

Quanto à complexidade do trabalho, 72,1% alegaram acreditar que o trabalho


do promotor de justiça é bastante complexo e diferenciado dos outros, enquanto
25,6% referiram que não.

“ACREDITO QUE O TRABALHO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA É BASTANTE


COMPLEXO E DIFERENCIADO DOS OUTROS”

Gráfico nº 14

Em relação à percepção da autoridade, 78,7% dos jurados referiram que o


promotor de justiça emana autoridade, em contraposição a 19,1% que afirmaram
não identificar autoridade nesse profissional.

76
A Psicologia do Tribunal do Júri

“SINTO QUE O PROMOTOR DE JUSTIÇA EMANA AUTORIDADE”

Gráfico nº 15

4.4. SOBRE O MODO DE AGIR DO PROMOTOR DO JÚRI EM PLENÁRIA

No que se refere ao modo de agir em plenária, 87,5% dos jurados alegaram não
ver o promotor de justiça como alguém que se porta de maneira fria, trabalhando
para acusar todos os réus no tribunal do júri. Apenas 8,3% referiram acreditar que tal
profissional age de modo frio e com o propósito de acusar a todos os réus.

“O PROMOTOR DE JUSTIÇA É ALGUÉM QUE AGE FRIAMENTE E TRABALHA PARA


ACUSAR TODOS AQUELES QUE SÃO RÉUS NO TRIBUNAL DO JÚRI”

Gráfico nº 16

Além disso, 93,5% dos jurados afirmaram acreditar que o promotor de justiça
é alguém que age com humanidade e que, quando acusa, o faz com bom senso e
proporcionalidade. Discordaram dessa perspectiva 4,3% dos jurados.

77
A Psicologia do Tribunal do Júri

“O PROMOTOR DE JUSTIÇA É ALGUÉM QUE AGE COM HUMANIDADE,


E EMBORA ACUSE AQUELES QUE SÃO RÉUS NO TRIBUNAL DO JÚRI, O
FAZ COM BOM SENSO E PROPORCIONALIDADE”

Gráfico nº 17

Em outra avaliação, 77,8% dos jurados consideraram que o promotor de justiça


só acusa se tem certeza da culpabilidade do réu e 20% discordaram dessa afirmação.

“O PROMOTOR DE JUSTIÇA SÓ ACUSA SE ELE TEM CERTEZA”

Gráfico nº 18

4.5. SOBRE A POSTURA DO PROMOTOR DO JÚRI EM PLENÁRIA

Observa-se que 76,2% dos jurados relataram acreditar que o porte sério
do promotor de justiça favorece sua atuação na plenária do júri, enquanto 21,4%
mencionaram acreditar que tal postura não o favorece.

“ACREDITO QUE A POSTURA SÉRIA DO PROMOTOR DE JUSTIÇA


FAVORECE SUA ATUAÇÃO”

Gráfico nº 19

78
A Psicologia do Tribunal do Júri

Por outro lado, 52,2% dos jurados declararam acreditar que a postura jocosa do
promotor de justiça favorece sua atuação em plenária, enquanto 45,7% referiram que
a adoção de comportamentos deste tipo não o favorece.

“ACREDITO QUE A POSTURA JOCOSA (CÔMICA, DIVERTIDA, ENGRAÇADA, IRÔNICA,


RISONHA) DO PROMOTOR FAVORECE SUA ATUAÇÃO”

Gráfico nº 20

4.6. SOBRE O PREPARO DO PROFISSIONAL PARA O TRABALHO

Observa-se que 93,2% dos jurados indicaram acreditar que o promotor de justiça
estava bem preparado, contra 2,3% que o consideraram mal preparado.

“O PROMOTOR DE JUSTIÇA PARECIA BEM PREPARADO PARA O TRABALHO”

Gráfico nº 21

4.7. SOBRE O USO DA BECA

Para 85,1% dos jurados, o uso da beca pelo promotor de justiça não evoca a
percepção de que este é diferente dos componentes do conselho de sentença e de que
aquilo que ele fala não está ao alcance do jurado. Por seu turno, 6,4% mencionaram
que o uso da beca torna o promotor de justiça diferente e inacessível.

79
A Psicologia do Tribunal do Júri

“O USO DA BECA (TÚNICA DE COR PRETA, COM CORDÃO VERMELHO) PELO


PROMOTOR DE JUSTIÇA ME LEMBRA QUE ELE É MUITO DIFERENTE DE MIM E
AQUILO QUE ELE FALA NÃO ESTÁ AO MEU ALCANCE”

Gráfico nº 22

4.8. SOBRE A ORATÓRIA

Em relação à sustentação oral realizada pelo promotor de justiça, 53,2% dos


jurados afirmaram apreciar quando o referido profissional se expressa de forma
apaixonada/apelativa, transmitindo sentimentos. Contrariamente, 42,6% afirmaram
não apreciar essa forma de comunicação.

“GOSTO QUANDO O PROMOTOR DE JUSTIÇA FALA DE FORMA APAIXONADA/


APELATIVA, TRANSMITINDO SENTIMENTOS AO SE EXPRESSAR”

Gráfico nº 23

4.9. SOBRE A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS

Observa-se que 93,6% dos jurados afirmaram entender melhor a tese do


promotor de justiça quando são utilizados recursos audiovisuais, contra 2,1% que
relataram que não.

80
A Psicologia do Tribunal do Júri

“ENTENDO MELHOR A TESE DO PROMOTOR DE JUSTIÇA QUANDO ELE UTILIZA


RECURSOS VISUAIS, COMO VÍDEOS E FOTOS DURANTE A EXPOSIÇÃO DA TESE”

Gráfico nº 24

Ainda sobre essa questão, 83,7% dos jurados afirmaram que foram utilizados
recursos audiovisuais suficientes, 8,7% avaliaram que foram utilizados muitos
recursos, 4,3% afirmaram que foram utilizados poucos recursos e 1,1% afirmou que
os recursos foram insuficientes.

UTILIZAÇÃO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS PELO PROMOTOR

Gráfico nº 25

Quanto ao uso dos mesmos recursos audiovisuais pelos advogados de defesa,


63% dos jurados afirmaram que foram utilizados recursos suficientes, 25% afirmaram
terem sido utilizados poucos recursos, 4,3% consideraram que foram utilizados muitos
recursos e 4,3% afirmaram que os recursos foram insuficientes.

81
A Psicologia do Tribunal do Júri

UTILIZAÇÃO DE RECURSOS AUDIOVISUAIS PELOS ADVOGADOS DE DEFESA

Gráfico nº 26

4.10. SOBRE A CONFIANÇA NA ACUSAÇÃO E NA DEFESA

Em relação a confiabilidade do promotor de justiça, 65,2% dos jurados


afirmaram que tendem a confiar nele, pois representa o Estado. Contrariamente,
30,4% afirmaram não ter essa confiança.

“TENHO UMA TENDÊNCIA A CONFIAR NO PROMOTOR DE JUSTIÇA, POIS ELE


REPRESENTA O ESTADO”

Gráfico nº 27

Em relação à defesa, 23,9% dos jurados afirmaram que tendem a confiar no


advogado, pois seu papel é tornar o processo justo para seu cliente. Em contrapartida,
71,7% afirmaram não ter essa confiança.

82
A Psicologia do Tribunal do Júri

“TENHO UMA TENDÊNCIA A CONFIAR NO ADVOGADO DE DEFESA, POIS SEU PAPEL


É TORNAR O PROCESSO JUSTO PARA SEU CLIENTE”

Gráfico nº 28

Em outro aspecto pesquisado, revelou-se que 88,9% dos jurados confiavam


no promotor de justiça, apesar do seu papel de acusação. Contrariamente, 6,7%
possuíam uma tendência a desconfiar do promotor de justiça, pois seu papel é acusar.

“TENHO UMA TENDÊNCIA A DESCONFIAR DO PROMOTOR DE


JUSTIÇA, POIS SEU PAPEL É ACUSAR”

Gráfico nº 29

Em relação à defesa, 60% dos jurados afirmaram confiar no advogado, embora


seja um profissional contratado, e 35% dos entrevistados afirmaram desconfiar dele
por ser um profissional contratado pelo réu.

“TENHO UMA TENDÊNCIA A DESCONFIAR DO ADVOGADO DE DEFESA, POIS TRATA-


SE DE PROFISSIONAL CONTRATADO”

83
A Psicologia do Tribunal do Júri

Gráfico nº 30

4.11. SOBRE A TOMADA DE DECISÃO

No momento da tomada de decisão, no qual define-se a sentença de determinado


julgamento quanto à culpabilidade ou inocência do réu, 57,9% dos jurados afirmaram
que não decidem intuitivamente e consideram o debate e as provas apresentadas.
Por outro lado, 36,8% afirmaram que a decisão baseia-se na intuição.

“APESAR DO DEBATE E DAS PROVAS APRESENTADAS, TENDO


A DECIDIR INTUITIVAMENTE”

Gráfico nº 31

4.12. SOBRE A RÉPLICA E TRÉPLICA

No que se refere ao uso sistemático da réplica por parte do promotor de justiça,


55,4% dos jurados a afirmaram ser importante, desde que usada com bom senso;
27,2% afirmaram que o uso da réplica é muito importante e deve ser utilizado durante
todo o tempo reservado para a fala; 9,8% afirmaram que o emprego deste recurso
é indiferente, ficando o seu uso a critério do promotor de justiça; 3,3% afirmaram
ser desnecessário lançar mão da réplica, por considerarem suficiente a manifestação
inicial do promotor de justiça e 2,2% declararam não ser importante o uso deste
artifício, pois torna-se repetitivo.

USO DA RÉPLICA

84
A Psicologia do Tribunal do Júri

Gráfico nº 32

No que tange ao uso da tréplica pelo advogado de defesa, 57,4% dos jurados
consideraram-na importante, com a ressalva de que deve haver bom senso, visto que
nem todos os casos a requerem; 17% consideraram-na muito importante, acreditando
que o advogado de defesa deve utilizá-la durante todo o tempo disponível; 11,7%
disseram que o uso deste recurso é indiferente e deve ficar a critério do profissional;
6,4% afirmaram que o uso da tréplica não é importante e torna-se repetitivo e 5,3%
mencionaram que lançar mão de um artifício como este é desnecessário, pois a
manifestação inicial da defesa é suficiente.

USO DA TRÉPLICA

Gráfico nº 33

4.13. SOBRE A ORATÓRIA DOS PROFISSIONAIS COMPONENTES DO JÚRI

Quanto ao uso da linguagem/oratória pelo juiz, 73,6% dos jurados afirmaram


que capturou sua total atenção; 23,1% afirmaram que capturou boa parte de sua
atenção e 2,2% afirmaram que capturou pouco de sua atenção.

ORATÓRIA DO JUIZ

Gráfico nº 34

85
A Psicologia do Tribunal do Júri

Ao avaliar a linguagem/oratória do promotor de justiça, 69% dos jurados


afirmaram que capturou sua total atenção e 28,2% afirmaram que capturou boa parte
de sua atenção.
ORATÓRIA DO PROMOTOR

Gráfico nº 35

Quanto ao uso da linguagem/oratória pelo advogado de defesa, 45,7% dos


jurados afirmaram que capturou sua total atenção; 40,2% afirmaram que capturou
boa parte de sua atenção, 10,9% afirmaram que houve pequena captura de sua
atenção e 1,1% que a sua atenção não foi capturada.

ORATÓRIA DO ADVOGADO DE DEFESA

Gráfico nº 36

4.14. SOBRE O VESTUÁRIO DO PROMOTOR DO JÚRI E DO ADVOGADO DE DEFESA

Quanto à utilização da beca pelo promotor de justiça, 47,6% dos jurados


afirmaram que não faz diferença na forma como o percebem; 25,6% afirmaram que o
uso confere seriedade/credibilidade; 15,9% alegaram preferir o uso do terno e 4,9%
mencionaram ser desnecessário o uso da beca.

86
A Psicologia do Tribunal do Júri

USO DA BECA PELO PROMOTOR

Gráfico nº 37

No que se refere ao uso da beca pelo advogado de defesa, 46,7% dos jurados
afirmaram que não faz diferença na forma como o percebe; 22,8% afirmaram que
confere seriedade/credibilidade; 20,7% afirmaram que preferem o uso do terno e
5,4% dos jurados consideraram o uso da beca desnecessário.

USO DA BECA PELO ADVOGADO DE DEFESA

Gráfico nº 38

Quanto à utilização de roupas menos formais pelo promotor de justiça, 56,5%


dos jurados declararam não ser correto, pois descaracteriza a seriedade e formalidade
do julgamento; 38% afirmaram ser indiferente, pois não interfere na atuação do
profissional e 3,3% consideraram perfeitamente aceitável a utilização de roupas
menos formais em plenária.

87
A Psicologia do Tribunal do Júri

USO DE ROUPAS NÃO FORMAIS PELO PROMOTOR

Gráfico nº 39

4.15. SOBRE A VIDA PREGRESSA

Quanto à apresentação da vida pregressa do réu e da vítima durante as exposições


orais, 48,9% dos jurados consideraram extremamente relevante; 35,9% consideraram
como um aspecto relevante; 9,8% consideraram indiferente e 2,2% avaliaram como
irrelevante.

VIDA PREGRESSA DO RÉU E DA VÍTIMA

Gráfico nº 40

4.16. SOBRE A INTERAÇÃO ENTRE OS PROFISSIONAIS COMPONENTES DO JÚRI

Ao avaliarem as conversas entre promotores de justiça e advogados de defesa


durante o júri, 50% dos jurados referiram que a conversa entre eles é natural, pois
essa interação faz parte de seu trabalho; 35,9% afirmaram que essa interação é
indiferente; 6,5% afirmaram que a conversa induz a pensar que há um combinado
prévio e isso afeta a credibilidade do trabalho e 3,3%, afirmaram que o promotor de
justiça e o advogado de defesa não devem conversar, pois estão em lados opostos.

88
A Psicologia do Tribunal do Júri

CONVERSAS ENTRE O PROMOTOR E O ADVOGADO DE DEFESA

Gráfico nº 41

4.17. SOBRE O SEXO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA

Em relação ao sexo do promotor de justiça, 94,6% dos jurados mencionaram


que não interfere na atuação profissional. De modo contrário, 3,3% alegaram que o
sexo pode interferir.

INFLUÊNCIA DO SEXO DO PROMOTOR DE JUSTIÇA

Gráfico nº 42

4.18. SOBRE A CONFIANÇA NO TRABALHO DO PROMOTOR DO JÚRI

Quando colocados frente a uma situação hipotética, na qual um de seus familiares


teria sido vítima de assassinato, 83,7% dos jurados afirmaram que confiariam no
trabalho do promotor de justiça para atuar no caso, pois consideram que é um
profissional preparado para trabalhar em prol da condenação; 10,9% afirmaram que
confiariam no trabalho dele, mas teriam receio do indivíduo não ser condenado e
1,1% disseram que não confiariam no trabalho do promotor de justiça, pois seria
sempre precário em comparação com a iniciativa privada.

89
A Psicologia do Tribunal do Júri

FAMILIAR VÍTIMA DE ASSASSINATO: ATUAÇÃO DO PROMOTOR

Gráfico nº 43

Outra situação hipotética apresentada aos jurados fazia referência à circunstância


na qual estariam sendo julgados em um tribunal do júri. Constatou-se que 43,9% dos
jurados afirmaram que ficariam apavorados, visto que o promotor de justiça é um
profissional extremamente preparado para acusar; 40,2% afirmaram que ficariam
receosos, mas confiariam em seu advogado de defesa; 6,1% alegaram que teriam
medo, mas consideraram que a atuação do promotor de justiça não é impecável e 2,4%
deles permaneceriam calmos, pois o promotor de justiça nunca está tão preparado
quanto a defesa.

SENTIMENTO AO SER ACUSADO PELO PROMOTOR DE JUSTIÇA

Gráfico nº 44

4.19. SOBRE A MANIFESTAÇÃO DO PROMOTOR DO JÚRI

Ao avaliar se o promotor de justiça agiu com excessos durante sua exposição,


92,4% dos jurados afirmaram que não houveram excessos; 6,6% consideraram
que houveram excessos, referindo exagero no humor e no drama, além do uso de
exemplos constrangedores e gritos.

90
A Psicologia do Tribunal do Júri

PRESENÇA DE EXCESSOS NA MANIFESTAÇÃO DO PROMOTOR DO JÚRI

Gráfico nº 45

Ainda no que se refere à manifestação do promotor de justiça, 90,2% dos jurados


mencionaram que ele foi objetivo e conciso. Em contraposição, 7,6% afirmaram que o
promotor de justiça foi prolixo, estendeu-se demais ou teve dificuldade em sintetizar
os pensamentos.

OBJETIVIDADE E PROLIXIDADE NA MANIFESTAÇÃO DO PROMOTOR DO JÚRI

Gráfico nº 46

Quanto aos termos técnicos do direito utilizados pelo promotor de justiça, 91,3%
dos jurados identificaram o uso, porém, foram posteriormente esclarecidos; 3,3%
afirmaram que o promotor de justiça não fez uso de termos técnicos e 2,2% alegaram
que os termos técnicos teriam sido utilizados de forma exagerada, dificultando a
compreensão.

91
A Psicologia do Tribunal do Júri

UTILIZAÇÃO DE TERMOS TÉCNICOS PELO PROMOTOR DO JÚRI

Gráfico nº 47

4.20. SOBRE A IDENTIFICAÇÃO COM O JUIZ, O PROMOTOR DO JÚRI OU A DEFESA

Quando solicitados a escolher apenas um profissional dentre os citados com o


qual se identificassem, 46,7% dos jurados elegeram a figura do juiz, 43,5% elegeram a
figura do promotor de justiça e 6,5% relataram que se identificaram com o advogado
de defesa.

IDENTIFICAÇÃO AOS AGENTES DO JÚRI

Gráfico nº 48

4.21. SOBRE AS ASSOCIAÇÕES COM A EXPRESSÃO “PROMOTOR DE JUSTIÇA”

Quando solicitados a dizerem o que lhes primeiro vinha à mente, ao escutarem


o termo “promotor de justiça”, 94,6% dos jurados fizeram associações com aspectos
positivos e 3,3% fizeram associações com aspectos negativos.

92
A Psicologia do Tribunal do Júri

ASSOCIAÇÕES COM A EXPRESSÃO “PROMOTOR DE JUSTIÇA”

Gráfico nº 49

Quando solicitou-se aos jurados que escrevessem cinco palavras que os


remetessem à figura do promotor do júri, foram mais frequentes as seguintes palavras
de caráter positivo:

Justiça 44
Seriedade 23
Responsabilidade 19
Profissionalismo 18
Ética 15
Compromisso 12
Autoridade 12
Competência 9
Respeito 9
Conhecimento 4

Tabela nº 1: Palavras positivas que remetem ao promotor do júri

Despontaram algumas palavras de teor negativo conforme seguem:

Ríspido com a defesa 1


Prepotente 1
Orgulhoso 1
Vaidoso 1
Às vezes está errado 1
Severo 1
Manipulador 1
Metido 1
Recluso 1

Tabela nº 2: Palavras negativas que remetem ao promotor do júri

93
A Psicologia do Tribunal do Júri

Constatou-se a predominância de palavras de teor positivo associadas à figura


do promotor de justiça, com destaque para atributos diretamente relacionados ao
trabalho desenvolvido no âmbito do júri, tais como: justiça, seriedade, responsabilidade
e profissionalismo.

5. DISCUSSÃO

A amostra deste estudo foi composta por percentual bastante equilibrado


entre indivíduos do sexo masculino e feminino. A grande maioria dos participantes
possui nível superior completo, o que indica, ao menos do ponto de vista acadêmico,
que possuem condições bastante favoráveis para a análise dos fatos apresentados
na prestação de serviço como jurados. A idade mais frequente variou de 20 a 49
anos, e a maioria dos participantes se autodenominou branco, em relação à cor da
pele. Quanto à ocupação, a maior parte dos jurados trabalha, seguido por aqueles
que trabalham e estudam. Quanto ao rendimento, a maioria dos jurados recebe de
R$1.000,00 a R$5.000,00 por mês e, em seguida, estão os que recebem de R$5.000,00
a R$10.000,00 mensais.
Em relação à atuação do promotor do júri, a maioria dos jurados já possuía
conhecimento prévio sobre seu trabalho. Mesmo dentre aqueles que responderam
já conhecer a atividade desse profissional, observou-se que houve um incremento
na compreensão dos entrevistados com a experiência no tribunal do júri, tornando-
se mais claro o que este agente realiza. Neste sentido, a efetiva participação no júri
aproxima a percepção do jurado à realidade da atuação profissional do promotor
de justiça, permitindo, ainda, que se desmistifique aspectos oriundos do senso
comum. Diante disso, nota-se um aumento na porcentagem dos jurados que, a partir
da experiência no conselho de sentença, compreendem claramente a atuação do
promotor de justiça, paralelamente à diminuição da porcentagem dos jurados que
afirmam não compreendê-la.
Ainda no que se refere à atuação do promotor do júri, a maioria dos jurados
considera que requer responsabilidade, como qualquer outro ofício. Porém, grande
parcela dos jurados também acredita que o trabalho do promotor do júri é bastante
complexo, diferenciado e emana autoridade.
Quanto ao modo de agir em plenária, a maioria dos jurados acredita que
o profissional age com humanidade e, quando acusa, atua com bom senso e
proporcionalidade. Esta noção é contrária àquela de que o promotor de justiça seria
alguém que age de modo frio, trabalhando para acusar a todos os réus de forma
implacável. Além disso, consideram que o promotor do júri só acusa se tem certeza
da culpabilidade daquele que está sendo julgado.
A maior parte dos jurados acredita que a postura séria do profissional favorece
sua atuação no júri. Em contrapartida, numa perspectiva ambivalente, identificamos
em outra premissa que a maioria dos entrevistados acredita que uma postura jocosa
do promotor do júri também favorece sua atuação em plenária. Quanto a essa
incongruência das respostas, levantamos a seguinte hipótese: a seriedade e tensão
do trabalho no júri, bem como o ritual reverencial a ele atrelado, gerariam para os
jurados, por vezes, estresse e cansaço. Assim sendo, uma postura mais jocosa poderia
resultar num efeito de atenuação do estresse junto aos componentes do conselho

94
A Psicologia do Tribunal do Júri

de sentença, afastando a monotonia e, por vezes, minimizando aspectos de tensão


relacionados ao ambiente e ao rito.
Quanto à utilização da beca, tanto pelo advogado de defesa quanto pelo
promotor do júri, a maioria considera indiferente. Porém, uma parcela significativa
acredita que o uso do traje confere seriedade e credibilidade a ambos. Quando se
trata do uso de roupas menos formais, especificamente pelo promotor do júri, a
maioria acredita que tal uso descaracteriza a seriedade e formalidade do julgamento,
seguido por uma porcentagem menor, que considera que o uso de tais vestimentas
seja indiferente e não interfere na atuação profissional.
Em relação à sustentação oral, mais da metade dos jurados afirmaram apreciar
quando o promotor de justiça fala de forma apaixonada/apelativa, transmitindo
sentimentos de modo intenso ao se expressar. Contrariamente, um percentual um
pouco menor afirmou não apreciar essa forma de comunicação. Aqui, é importante
considerar que os percentuais se encontram bastante próximos, ou seja, o limite é
bastante tênue. Dessa maneira, há a necessidade de o promotor do júri dosar a carga
emocional de sua manifestação, a fim de que não desperte a resistência do grupo que
não aprecia a sustentação apelativa. Esse dado também possibilita que o profissional
analise o comportamento do conselho de sentença, realizando uma espécie de
“calibragem” em relação à sua exposição, checando como os jurados reagem ao seu
tom de voz e à forma de se manifestar.
Tal constatação, aplica-se não apenas ao promotor de justiça, mas também aos
demais agentes do direito que participam dos julgamentos do júri. Neste sentido,
no que se refere à captura da atenção dos jurados, detectou-se ser a oratória um
recurso importante. Ao avaliarem o efeito da oratória na manutenção de sua atenção
ao longo do julgamento, a grande maioria dos jurados considerou o juiz como aquele
que melhor a capturou, seguido pelo promotor de justiça e, por último, o advogado
de defesa. Diversas podem ser as razões para tal resultado, dentre elas o fato de o
juiz fazer colocações em momentos pontuais, porém significativos. Soma-se a isso, a
representação social da figura do juiz, dotada de grande valor social.
A grande maioria dos jurados afirmou entender melhor a tese apresentada
em plenária quando foram utilizados recursos audiovisuais em apoio à sustentação
oral dos agentes do direito. Aproximou-se da unanimidade o reconhecimento
da importância da utilização de tais recursos. Ainda sobre a utilização de recursos
audiovisuais, mais especificamente na atuação do promotor de justiça e do advogado
de defesa, os jurados consideraram suficientes os recursos apresentados por ambos,
porém o promotor de justiça apresentou uma leve superioridade de eficiência em
relação à defesa.
Durante a sessão plenária é comum observar uma interação entre os
representantes das partes. Com objetivo de identificar a repercussão dessa interação,
os jurados foram questionados sobre a forma como avaliam as conversas entre
promotoria e defesa durante o júri. Metade deles entendem como natural essa
interação, enquanto cerca de um terço acredita ser indiferente e um menor percentual
a avalia negativamente (seja por acreditar que os dois profissionais estão em lados
opostos, ou por restar a impressão de um combinado prévio). Apesar do percentual
que avalia negativamente essa interação ser pequeno, deve ser considerado, sendo
necessário dosar a medida e o teor dessas conversas durante o julgamento.

95
A Psicologia do Tribunal do Júri

Foram diversos os questionamentos relacionados à confiabilidade do promotor


do júri e do advogado de defesa. Foram observadas contradições, que podem
estar relacionadas à ambiguidade suscitada pelo tema, bem como a uma possível
dificuldade de compreensão.
Considerando-se tais aspectos, quanto à tendência em confiar no promotor
do júri e no advogado de defesa, quando oferecida a premissa de que o primeiro
representa o Estado e o segundo o interesse do cliente, observou-se que a maioria
dos entrevistados afirma que tende a confiar no promotor do júri e um percentual
pequeno tende a confiar no advogado de defesa. Uma hipótese para tais respostas
seria a identificação do representante do Estado como defensor dos interesses
coletivos, o que tende a ser relacionado a um maior senso de justiça, em detrimento
daquele que defende um interesse particular.
Contudo, as respostas à questão sobre a desconfiança em relação ao advogado,
contradizem essa suposição, dado que os jurados negam que o fato de tratar-se
de profissional contratado seja motivo para desconfiança. Tal contradição revela
a complexidade do processamento da informação pelos jurados, bem como a
importância de maior investigação desses aspectos em pesquisas futuras.
Também despontou nesse estudo a identificação de um percentual reduzido de
jurados que afirmam desconfiar do promotor de justiça, por ter um papel relacionado
diretamente com a acusação.
Quanto ao momento da tomada de decisão, a maior parte dos jurados afirmou
que consideram o debate e as provas apresentadas. De outra parte, uma significativa
parcela afirma que sua decisão é baseada na intuição. Esse dado é relevante, pois,
de acordo com Kahneman (2011), assumimos certas ideias automaticamente sem
ter pensado nelas com cuidado. Tratam-se das suposições de heurísticas, ou seja,
processos cognitivos empregados em decisões não racionais, sendo definidas como
estratégias que ignoram parte da informação com o objetivo de tornar a escolha mais
fácil e rápida. A maior parte dos seres humanos acredita que toma decisões de modo
objetivo quando, na verdade, existem inúmeros fatores subjetivos em ação, sobre os
quais não se tem consciência. Aqui, revela-se a importância de estratégias para facilitar
que o jurado realize o processamento sistemático da informação, em detrimento do
automático. Feigenson (2016) afirma que, quanto mais certas as pessoas se sentem,
menos inclinadas estarão para processar informações de forma sistemática, porque
se sentem mais confiantes de que já sabem o que precisam saber para resolver a
tarefa. Esse raciocínio é aspecto relevante a ser pesquisado, pois dele podem resultar
condenações ou absolvições errôneas, interferindo para que o ideal de justiça seja
promovido em nossa sociedade.
Ainda no que tange a aspectos da deliberação do conselho de sentença, a
maioria dos jurados considera relevante ou extremamente relevante a apresentação
da vida pregressa do réu e da vítima. Nesse sentido, pode-se inferir que, embora o réu
esteja sendo julgado pelo fato que cometeu, e não por sua vida, esses aspectos são
considerados importantes, pois oportuniza aos jurados uma leitura mais abrangente.
Isso lhes permite avaliar se esse crime foi algo pontual, único, transitório, ou se está
relacionado a um padrão de comportamentos, atitudes e relacionamentos repetitivos
que contribuem para um panorama geral sobre o fato em julgamento.
No que se refere ao uso sistemático da réplica por parte do promotor de justiça e da

96
A Psicologia do Tribunal do Júri

tréplica por parte da defesa, a maioria dos jurados referiu acreditar serem relevantes.
Evidenciou-se o anseio de que, na utilização, haja bom senso dos profissionais. Tendo
por base esses achados, salienta-se a importância da “calibragem” por parte dos
promotores de justiça e dos advogados de defesa quanto à duração e ao tom das
teses apresentadas (ou reforçadas) neste momento do rito, a partir da análise feita
da situação da plenária.
Em relação ao sexo do promotor de justiça, masculino ou feminino, tem-se
que a grande maioria dos entrevistados acredita que esse aspecto não interfere em
sua atuação. Nesse sentido, é endossado pelos jurados que esse é um espaço que
contempla a alteridade dos sexos.
Os dados mostram que a percepção dos jurados em relação ao promotor
é majoritária em relação ao bom preparo deste para o desempenho em plenária.
Corroborando essa tese, a grande maioria dos entrevistados afirma que não houve
excessos durante a exposição deste profissional, tendo sido objetivo e conciso em sua
manifestação. Afirmaram ainda que, quando houve utilização de termos técnicos do
direito, estes foram devidamente esclarecidos posteriormente.
Na aplicação do questionário, apresentou-se uma situação hipotética de que um
dos familiares dos jurados teria sido vítima de assassinato, buscando-se a condenação
do indivíduo que teria cometido o crime. Diante desse cenário, a grande maioria
alegou que confiaria no trabalho do promotor de justiça, pois o considera preparado
para atuar em prol da condenação. Por sua vez, um percentual pequeno afirmou que
não confiaria no seu trabalho, pois seria precário em comparação com a iniciativa
privada.
Também foi apresentada outra situação hipotética, onde o próprio jurado seria
julgado em um tribunal do júri. Aqui, tem-se porcentagens muito parecidas. Cerca de
metade dos jurados afirmaram que ficariam apavorados frente a essa situação, visto
que o promotor de justiça é um profissional extremamente preparado para acusar e
o restante afirmou que ficaria receoso, mas que, em contrapartida, confiaria em seu
advogado de defesa.
No que se refere à identificação com os agentes do tribunal do júri que foram
listados no instrumento de pesquisa (juiz, promotor de justiça e advogado de defesa),
os jurados possuem maior identificação com a figura do juiz, seguida pela do promotor
de justiça (apresentando porcentagens muito próximas). Já o advogado de defesa
desponta como o profissional com o qual a amostra menos se identifica.
Ser ou não escolhido como objeto de identificação configura aspecto bastante
relevante no âmbito da presente pesquisa e pode denotar uma vantagem do promotor
de justiça sobre a defesa. Afinal, teoricamente, conforme Roudinesco e Plon (1998),
identificação é um “termo empregado em Psicanálise para designar o processo central
pelo qual o sujeito se constitui e se transforma, assimilando ou se apropriando,
em momentos-chave de sua evolução, dos aspectos, atributos ou traços dos seres
humanos que o cercam” (p. 363). Laplanche e Pontalis (2008) também se aproximam
dessa idéia, ao postularem que “a identificação - no sentido de identificar-se - abrange
na linguagem corrente toda uma série de conceitos psicológicos, tais como imitação,
Einfühlung (empatia), simpatia, contágio mental, projeção, etc.” (p.227). Assim, ao
optar por esses profissionais, vislumbra-se que há uma admiração e anseio de obter
para si aspectos neles identificados.

97
A Psicologia do Tribunal do Júri

Ainda em relação aos profissionais que participam do rito, e mais especificamente


ao promotor de justiça com atribuição neste contexto, outra questão levantada no
questionário dizia respeito às associações que as palavras “promotor do júri” evocam
nos jurados. Constatou-se que quase a totalidade das associações relacionaram-se
com aspectos positivos, sendo as principais: justiça, seriedade, responsabilidade,
profissionalismo, ética, compromisso, autoridade, competência, respeito,
conhecimento, dentre outras.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Inicialmente, cumpre esclarecer que a intenção da equipe ao realizar a presente


pesquisa era de que fosse aplicada a 08 grupos de jurados. Entretanto, em razão
da pandemia do COVID-19, as sessões do júri foram canceladas, impossibilitando a
continuidade da aplicação do instrumento. Assim sendo, o trabalho ora apresentado
baseou-se nos achados referentes a 4 grupos de jurados.
O objetivo foi avaliar as percepções dos jurados a respeito da experiência do
tribunal do júri e do julgamento realizado neste contexto. Concluiu-se que muitas são
as variáveis que atravessam a atribuição singular de um componente do conselho de
sentença. Marcado pelo processamento sistemático das informações que recebe em
plenária e, simultaneamente, pelas influências do comportamento, da vestimenta, da
oratória, do preparo e da transmissão de confiança de todos os envolvidos, o jurado
vai assimilando os fatos, considerando a culpabilidade ou não do acusado. O processo
decisório demandado do jurado reflete a complexidade dos julgamentos realizados,
bem como a particularidade por meio da qual essa experiência é vivenciada, no
âmbito da subjetividade.
Essa pesquisa revelou aspectos interessantes, tais como: a maior parte dos
jurados possui o nível superior completo, o que significa que, a priori, do ponto de
vista intelectual, apresentam condições muito favoráveis para analisar os fatos e tomar
decisões. Além disso, embora a maioria tome a decisão baseando-se em evidências,
um percentual considerável baseia suas decisões na intuição, ou seja, usam de um
referencial emocional, muito mais do que o racional.
A figura do juiz é indicada como a principal fonte de identificação dentre os
profissionais, seguida pela do promotor de justiça. O advogado é o profissional com
quem os jurados menos se identificam. Isso pode indicar que há atributos percebidos
no juiz e no promotor que são almejados pelos jurados e que podem favorecer muito
o trabalho de vínculo, confiança e apoio do jurado em relação a esses profissionais.
Informações sobre a vida pregressa do réu também foram apontadas como
muito importantes pelos jurados. Além disso, a grande maioria referiu confiança
no trabalho do promotor do júri e até mesmo pavor frente à possibilidade de ser
acusado por ele numa situação hipotética. De outro lado, a sustentação apelativa/
apaixonada e a performance jocosa são vistas com ressalvas por uma significativa
parte da amostra, o que demarca um alerta quanto a essas formas de interação.
Todos esses dados denotam a sutileza das percepções dos jurados e a necessidade
de se levar em consideração tais achados para que o promotor do júri administre
de maneira cada vez mais técnica todas essas variáveis, caminhando no sentido da
excelência em seu trabalho.

98
A Psicologia do Tribunal do Júri

Tendo em vista o pioneirismo desta pesquisa em nível nacional, seria interessante


a replicação desse tipo de estudo em outras comarcas, a fim de estabelecer um
parâmetro de cada comunidade, considerando, também, aspectos observados que
podem resultar em projetos para a melhor atuação do promotor de justiça no tribunal
do júri.

REFERÊNCIAS

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A Psicologia do Tribunal do Júri

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TÁVORA, Nestor. Curso de Processo Penal. 12. Ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.

100
A Psicologia do Tribunal do Júri

COMO SÃO PERCEBIDOS OS PROMOTORES DE JUSTIÇA DO JÚRI:


ANÁLISE DE DESENHOS FEITOS PELOS JURADOS1

Karen Richter P. S. Romero2


Patrícia dos Santos Lages Prata Lima3
Adriane da Rocha Santos Pontarola4
Ana Carolina Ferreira Lins5

RESUMO

Trata-se de artigo elaborado no âmbito do Projeto Laboratório de Psicologia


Jurídica (LAPJUR) do Ministério Público do Estado do Paraná, em comarca de entrância
final. Buscou-se identificar como o promotor de justiça com atribuição no tribunal do
júri é percebido pelos jurados, solicitando-se que 92 participantes desenhassem a
figura do referido profissional da forma como o veem. Para a análise dos desenhos
foram utilizadas metodologias qualitativas e quantitativas, tais como a análise de
conteúdo e a técnica estatística, respectivamente. Verificou-se que, de modo geral,
o promotor de justiça com atribuição no júri é visto de forma positiva. Contudo,
também foram detectadas percepções e dimensões negativas captadas por parte dos
jurados. O estudo revelou, também, grande sensibilidade dos jurados em relação à
identificação de aspectos ambivalentes.

PALAVRAS-CHAVE: promotor do júri; jurados; percepção; desenhos.

1. INTRODUÇÃO

A pesquisa que deu origem ao presente artigo surgiu da demanda de


promotores de justiça que atuam no tribunal do júri, na comarca de Cascavel/PR. O
questionamento dizia respeito à representação de sua posição e do seu ofício, diante
daqueles que assumem o protagonismo neste cenário: os jurados. Tal demanda
mobilizou o serviço de psicologia do Centro de Apoio Técnico à Execução (CAEx-NATE)

1 Agradecimento especial aos psicólogos Fernando Luiz Menezes Guiraud e Fernando


Vecchio que realizaram a revisão textual deste artigo.
2 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestranda em Psicologia Forense
(UTP). Especialista em Psicologia Hospitalar com ênfase em Vitimização Infantil (SCM/SP), em
Psicologia Jurídica (CFP) e em Psicanálise Clínica (PUC-PR). Fellowship em Psiquiatria Infantil
(Johns Hopkins Hospital - EUA).
3 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestre em Psicologia com
ênfase em Psicanálise pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em
Filosofia e Psicanálise (UFPR). Pós graduanda em Psicologia Jurídica com Ênfase em Perícia
Psicológica (IPOG).
4 Psicóloga. Estagiária de pós-graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Pós
graduanda em Psicologia Clínica/Psicanálise (UTP-PR) e em Psicologia da Saúde e Hospitalar
(FPP-PR).
5 Estagiária de graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Graduanda em
Psicologia (FAG-Cascavel).

101
A Psicologia do Tribunal do Júri

a buscar embasamento teórico para construir instrumentos para coleta de dados


junto aos grupos de jurados, visando à compreensão do imaginário destes quanto
à representação do promotor de justiça do júri. Objetivou-se, também, fornecer
subsídios para reflexões sobre o trabalho do promotor de justiça do júri, a partir das
visões e percepções de atores que com ele atuam em plenária. Acredita-se que tais
reflexões trarão efeitos importantes para o desenvolvimento e o aprimoramento
profissional.
Foi utilizado referencial teórico psicanalítico, em função do objeto principal
a ser analisado: desenhos. Na psicologia, o desenho pode ser utilizado como uma
técnica projetiva que propicia o acesso a conteúdos latentes daquele que o produz.
É um recurso que permite contornar eventuais resistências, compreendidas como
resultado de processos inconscientes por meio de censuras que o próprio sujeito se
impõe, de modo a evitar que certas ideias, pensamentos e sentimentos intoleráveis
possam emergir na consciência.
Com vistas a apresentar os dados e análises ora propostos, sem a pretensão
de esgotar a temática, optou-se pela sistematização deste documento da maneira
descrita a seguir. Na primeira parte, apresentou-se a fundamentação teórica,
abordando os seguintes temas: a) estrutura do tribunal do júri; b) processos psíquicos
subjacentes à percepção dos jurados; c) papel dos desenhos enquanto veículo de
expressão de percepções. Na segunda parte, consta a metodologia utilizada para
a coleta e o tratamento de dados. Na terceira parte, estão os resultados obtidos.
Na quarta parte, realizou-se uma discussão, articulando os achados desta pesquisa
com autores do campo da psicologia. Por fim, no fechamento, foram apresentadas
considerações finais.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. SOBRE O TRIBUNAL DO JÚRI

Ao falar em tribunal do júri, faz-se necessário explorar um pouco de seu histórico.


Quanto a esta questão, vale ressaltar que já se observavam, na Grécia antiga, Roma,
Inglaterra e França, instituições muito semelhantes ao que, hoje, se conhece como
júri.
Há indícios, já no período que compreende a civilização da Grécia antiga (séculos
XII a IX a.C. até o fim da antiguidade) da existência da distinção entre os delitos de
natureza pública e os de natureza privada que, consequentemente, tinham seus
respectivos processos penais. Assim, nessa época, instituiu-se um órgão julgador das
causas públicas e privadas. Para compor este órgão, os membros do tribunal eram
escolhidos dentre os atenienses que tivessem no mínimo trinta anos e possuíssem
uma conduta ilibada. Os eleitos julgavam diferentes causas e eram escolhidos através
de sorteios, nos quais bolas brancas significavam a participação em julgamentos por
um ano e bolas pretas representavam a dispensa do julgamento. Eram sorteados
algumas centenas de membros em número ímpar para que não houvesse empate,
sendo que os votos eram secretos e considerados símbolos da soberania (SILVA, 2005).
Em um cenário marcado por avanços, revisões, reformulações, e adoção de
distintos modelos por diferentes países, a instituição “tribunal do júri”, no Brasil, possui

102
A Psicologia do Tribunal do Júri

previsão constitucional, configurando-se, portanto, enquanto garantia fundamental


do indivíduo e da sociedade. Conforme disposto no Código de Processo Penal (CPP)
brasileiro, os julgamentos que competem ao júri dizem respeito aos chamados
crimes dolosos contra a vida, em sua modalidade tentada ou consumada, estando
estes previstos pelos artigos 121, §§ 1º e 2º, e pelos artigos 122 a 127 do referido
documento (homicídio, infanticídio, aborto e induzimento ao suicídio).
Soma-se à competência do tribunal do júri princípios norteadores fundamentais,
tais como: 1) a plenitude da defesa das partes (defesa “completa”, podendo dispor de
aspectos jurídicos e metajurídicos, portanto); 2) o sigilo das votações dos componentes
do conselho de sentença; e 3) a soberania dos veredictos, princípio que garante a
autonomia dos jurados para decidir o caso sem a interferência das autoridades do
Poder Judiciário.
Da forma como se estrutura, nacionalmente, o tribunal do júri assenta-se no
poder decisório de cidadãos “leigos”, que representam todas as classes sociais e os
gêneros. Da lista anual, divulgada pelo Tribunal de Justiça (que comporta indivíduos
com mais de 18 anos, em pleno gozo de seus direitos políticos, e que apresentam
conduta ilibada e idoneidade moral), 25 cidadãos são sorteados e convocados a
comparecer no dia do julgamento. Destes, sete são escolhidos, mediante novo sorteio
e com possibilidade de até três recusas tanto pela defesa quanto pela acusação, para
compor o chamado conselho de sentença. Este último é responsável por avaliar a
culpabilidade ou inocência do réu, diante das acusações que deram origem ao
processo.
A respeito do procedimento de alistamento dos jurados, o CPP, em seus artigos
425, §§ 1º e 2º, e 426, §§ 1º a 5º, indica que este é realizado anualmente e é de
responsabilidade do Presidente do júri. Compete ao referido profissional requisitar
a indicação de pessoas que reúnam condições para exercer a função de jurado às
autoridades locais, às associações de classe e bairro, às entidades associativas e
culturais, às associações de ensino em geral, aos sindicatos e repartições públicas,
bem como a outros núcleos comunitários.
A lista geral, oriunda deste levantamento inicial, é publicada e afixada na
porta do edifício do fórum, no mês de outubro de cada ano, contemplando, dentre
outros requisitos, a identificação das respectivas profissões dos jurados. O nome dos
alistados, com a indicação de sua residência, é também escrito em cartões idênticos,
os quais, após verificação realizada na presença de representante do Ministério
Público, ficarão guardados em uma urna fechada a chave, sob os cuidados do juiz.
Cumpre informar que é desta urna que, no dia do julgamento, novo sorteio deve ser
realizado com vistas a compor o conselho de sentença.
Para além do que consta no texto do CPP, em âmbito prático observa-se que,
atualmente, o sorteio mediante cartões em urna6 vem sendo, gradativamente,
substituído por ferramentas eletrônicas preservando, no entanto, a essência do
processo.

6 Aludindo, desta forma, ao modelo de eleição dos jurados da Grécia Antiga.

103
A Psicologia do Tribunal do Júri

2.2. PROCESSOS PSÍQUICOS SUBJACENTES À PERCEPÇÃO DOS JURADOS

A percepção é o processo que consiste em atribuir significado às informações -


também compreendidas como experiências vividas - captadas pelo sistema sensorial
e que chegam ao córtex cerebral (ATKINSON et al., 2002). Trata-se de uma experiência
psíquica complexa e pessoal, influenciada por vários fatores internos e externos ao
observador. Cada pessoa pode ver a realidade de maneira diversa, o que indica que o
processo perceptivo está relacionado à tendência afetiva individual. Neste sentido, o
que é perfeitamente recordado por uma pessoa pode ser esquecido por outra, pois a
realidade nada mais é do que uma caricatura subjetiva (MIRA Y LÓPEZ, 2009).
A percepção está inicialmente ligada às sensações elementares. Para que se possa
perceber efetivamente algum fato é necessário a vivência, isto é: uma experiência
psíquica complexa na qual não se misturam, e sim se fundam, elementos intelectuais,
afetivos e conativos, para constituir um ato psíquico, dinâmico, global e, como tal,
irredutível” (MYRA Y LOPEZ, 2007, p. 110). Sendo assim, os esquemas perceptivos são
fortemente subjetivos, excluindo a hipótese de uma percepção neutra.
Outro fator relevante numa percepção é o grau de fadiga psíquica do perceptor.
Este, conforme estudos realizados, teria uma melhor compreensão pela manhã do que
à noite, estando tal compreensão sob a influência da alimentação também. Baseados
em experiências realizadas sobre a fidelidade das percepções, alguns resultados
podem contribuir para uma melhor compreensão deste fenômeno. Por exemplo,
para a percepção geral de uma situação estão mais capacitados os homens que as
mulheres, mas estas, em contrapartida, percebem com mais exatidão os detalhes
que aqueles. Os termos inicial e final de uma série de acontecimentos costumam
ser percebidos melhor que os intermediários. As impressões ópticas podem ser
testemunhadas em igualdade de condições, com maior facilidade que as acústicas.
Com respeito às impressões procedentes dos demais órgãos sensoriais (olfato, tato,
paladar), estas são reproduzidas muito vagamente e, por conseguinte, é preferível
recorrer, sempre que se possa, ao seu reconhecimento e não à sua evocação. Os
testemunhos referentes a dados quantitativos são, geralmente, mais imprecisos que
os qualitativos. Existe uma tendência normal a superestimar os números inferiores
a dez e os períodos de tempo menores de um minuto. Em contrapartida, as pausas
superiores a dez minutos e os números ou espaços grandes tendem a ser infra-
estimados. É curioso verificar que, nos testemunhos de fatos sucedidos há mais de
seis anos, há também uma tendência de encurtar o tempo de seu acontecimento
(MYRA Y LOPEZ, 2007, p. 110-111). Tais aspectos revelam, claramente, que há fatores
afetivos, temporais, espaciais, mnemônicos, relacionados ao gênero, dentre outros,
que interferem de forma subjacente na capacidade de se perceber um evento ou
situação.
Estas contribuições da psicologia cognitiva, vem ao encontro das ideias
desenvolvidas pela psicanálise. Um percurso pelos textos de Freud sugere que as
percepções são regidas pela dinâmica psíquica e não podem ser simples reflexos da
realidade externa.
A experiência psicanalítica também proporciona uma compreensão sobre
os mecanismos relacionados à forma como vemos, percebemos e sentimos as
pessoas. Tais processos são trabalhados a partir do conceito de transferência. Freud

104
A Psicologia do Tribunal do Júri

desenvolveu esse conceito explicando que a origem desse fenômeno está nas relações
infantis, especialmente com as figuras materna e paterna, sendo estas revividas com
sentimento de atualidade acentuada em relacionamentos do presente. Assim, por
exemplo, uma relação atual pode carregar características e dinâmica interpessoais
que, de algum modo, repetem padrões de comportamento baseados nas experiências
passadas.
Propõe-se, no presente trabalho, a utilização do conceito de transferência
para ampliar a compreensão acerca dos fatores envolvidos nas construções
perceptivas que os jurados fazem acerca da figura do promotor de justiça do júri.
Embora, para a teoria e clínica psicanalítica trata-se de um processo eminentemente
singular, do qual participam memórias, experiências e padrões próprios da história
de cada sujeito investido da função de jurado, as transferências estabelecidas são
sempre atravessadas e impactadas por um imaginário coletivo, compartilhado por
uma determinada comunidade. Espera-se, portanto, na forma como se encontra
formatado nosso sistema penal, que ideias como autoridade, liderança, poder,
responsabilidade, confiança, entre outras, sejam projetadas na figura do promotor de
justiça, interferindo, de algum modo, na percepção que os jurados constroem deste.
Além da transferência, um outro conceito desenvolvido pela teoria psicanalítica
é também passível de contribuições para a análise proposta por este trabalho: o
“sujeito suposto saber”. Intimamente ligado ao conceito de transferência, diz respeito
a uma certa posição de submissão de um sujeito ao seu interlocutor. Este é colocado
na posição daquele que “sabe”, sendo que a posição de submissão mencionada diz
respeito à ideia de que o outro tem algo que falta àquele que - também supostamente -
não sabe. Jacques Lacan, eminente psicanalista francês, afirma que o grande operador
da transferência é o estabelecimento do suposto saber “desde que haja em algum lugar
o sujeito suposto saber ( ... ) há transferência” (Lacan 1988/1964, p. 220). Formulados
no âmbito da clínica psicanalítica, ambos os constructos visam compreender e explicar
as relações estabelecidas entre paciente e terapeuta. Contudo, o próprio campo
psicanalítico tende a ampliar essas dinâmicas para todos os tipos de relações - pais e
filhos, alunos e professores, mestres e discípulos. Nesse mesmo sentido, entende-se
pertinente considerar e analisar a relação entre jurados e promotor de justiça, pois
sempre carregará algo da ordem transferencial. A importância de se compreender
esse fenômeno inconsciente e subjetivo repousa no fato de que os dados da realidade
objetiva, a partir dos quais a percepção irá se formar, sempre estarão impregnados
pela experiência singular de cada indivíduo.
Um tratamento analítico se inicia a partir do estabelecimento
de uma transferência. Vários significantes são geralmente
utilizados para descrevê-la de um ponto de vista coloquial:
admiração, confiança, crédito. Lacan ressalta que a confiança
que o analista obtém de seu paciente é decorrência de algo.
Confiança, admiração, suposição consciente de um saber, são
aspectos da vertente imaginária da transferência. (PISETTA,
2011 p. 65)

Do ponto de vista da representatividade social, o promotor de justiça, via de

105
A Psicologia do Tribunal do Júri

regra, goza de reputação ilibada, sendo um modelo de autoridade, profissionalismo,


equilíbrio e confiabilidade. Entretanto, por exemplo, uma atuação mais incisiva na
plenária, com movimentação agressiva, gestual enfático, uso de gritos e tom de
voz alto, pode evocar conteúdos transferenciais negativos que resultem, apesar da
excelência da retórica e da argumentação, numa resistência dos jurados aquilo que
por ele é proposto. Para a psicanálise, não é o analista em si o sujeito de quem se
trata na formulação “sujeito suposto saber”, mas um lugar no qual se supõe um saber.
Da mesma forma, o imaginário sobre o profissional promotor de justiça do júri, diz
respeito a um lugar de saber que pode suscitar admiração ou horror e que, para ser
sustentado, deve levar em consideração os efeitos de sua intervenção e da interação
com os jurados, na plenária.

2.3. A EXPRESSÃO DA PERCEPÇÃO POR MEIO DO DESENHO

A expressão por meio do desenho - um dos mais antigos modos de comunicação


humana, anterior à escrita - tem grande importância na compreensão das emoções,
sentimentos e ações do ser humano (WESCHLER, 2003).
Artifício usado desde a pré-história7, o desenho - na qualidade de criação ou
representação a partir de formas, pontos e linhas - surge como meio de expressão e
comunicação anterior ao desenvolvimento e consolidação da linguagem verbal entre
os homens primitivos.
Sua utilização, desde então, a despeito do progresso nos campos civilizatório e
linguístico (idiomático), bem como da sua aproximação com as mais variadas correntes
e movimentos artísticos, manteve-se - em essência - atrelada à busca de expressão e
transmissão de pensamentos, experiências, sentimentos, emoções etc, daquele que
o produz. A este respeito, nos termos de Borba (2006):
Ele [o desenho] está presente em nossa existência desde os
registros pré-históricos, sempre como uma forma encontrada
para compartilhar as experiências individuais, colaborando
com o mecanismo de autoconhecimento dos indivíduos, assim
como as impressões de cada um diante das experiências
coletivas (BORBA, 2006, p. 6).

Destaca-se que atualmente o desenho vem sendo adotado, inclusive, enquanto


veículo de avaliação da cognição, desenvolvimento e personalidade no campo
da testagem psicológica. Trata-se de técnica que, em psicologia, recebe o nome
de “projetiva”, haja vista o fato de propor-se a identificar características latentes
da personalidade dos indivíduos, ou seja, aquelas que não podem ser observadas
diretamente. Neste cenário, conforme apontam Silva, Pasa, Castoldi e Spessatto
(2010):
Campos (1994) salienta que o sujeito não desenha apenas o
que vê, mas o que sente em adição ao que vê. Esses aspectos

7 Período marcado pelas pinturas rupestres nas paredes das cavernas.

106
A Psicologia do Tribunal do Júri

podem ser analisados através de alguns itens de correção


como o tamanho, localização, pressão do traço e conteúdo do
desenho. (...) Para Hutz e Bandeira (2000), o desenho também
pode ser a representação de outros aspectos do indivíduo,
tais como aspirações, preferências, pessoas vinculadas a
ele, imagem ideal, padrões de hábitos, atitudes para com o
examinador e a situação de testagem (SILVA et al., 2010, p.
58).

O desenho constitui-se como a expressão do mais primário mecanismo de


elaboração mental do homem (BORBA, 2006) e veículo que implica na redução do
controle intelectual em âmbito consciente e inconsciente (SILVA et al 2010). Assim
como os sonhos para a psicanálise, o desenho apresenta-se como via de acesso
privilegiada a aspectos de ordem subjetiva e da personalidade dos “ilustradores”
(“sonhadores”) que ultrapassam consideravelmente o intelecto e a cognição.
Nesse sentido, o desenho, assim como o sonho, vale-se de elementos pictóricos
(imagens) para favorecer a manifestação do inconsciente, apresentando-se como
elemento aparentemente insignificante, e, assim, facilitador no desarme da censura e
engates para manifestação dos desejos e conflitos inconscientes. Segundo a psicanálise,
os sonhos são formações do inconsciente cujas as manifestações estão relacionadas
a conteúdos recalcados, ou seja, ideias que foram afastadas da consciência. Durante
o sonho, tais conteúdos podem vir à tona devido ao afrouxamento das resistências
atuantes na vigília. Para compreender este processo deve-se considerar a existência
de dois tipos de conteúdo psíquico: os manifestos e os latentes. Os primeiros são
as imagens e pensamentos expressos no “enredo” do sonho, ou seja, aquilo de que
o sonhador efetivamente se lembra ao acordar. Contudo, por trás dos conteúdos
manifestos reside o que se convencionou chamar de conteúdo latente, ou seja,
aquilo que permanece oculto, encoberto, invisível, distante da consciência. Assim,
a manifestação direta dos sonhos pode recobrir os seus verdadeiros significados. A
partir disso, podemos realizar uma correlação entre os sonhos e os desenhos, sendo
a imagem desenhada correspondente ao conteúdo manifesto do sonho. Seguindo o
mesmo método, a análise destes desenhos vai revelar seu conteúdo subjacente.
Refletindo sobre essa articulação, propõe-se uma aproximação do desenho em
seu processo de formação, no qual a folha em branco deve ser ocupada utilizando-
se o lápis como instrumento de expressão. Os elementos expressivos contidos no
desenho revelam-se como uma excelente forma para o indivíduo se apropriar das
coisas ao seu redor e do mundo, atribuindo-lhe significados (DERDYK, 1994). Tomando
o desenho como linguagem, Moreira (2008) afirma que este é um meio simbólico
de comunicação e expressão de conteúdos subjetivos, com a intenção de dizer algo,
de contar de si ou de alguma coisa. No caso das crianças, Goldberg, Yunes e Freitas
(2005) afirmam que o desenho as ajuda a organizar seu mundo interno, sendo que
sua análise permite acessar a percepção do indivíduo sobre os ambientes externos.
Mostra-se, portanto, inconteste que os desenhos são vias de acesso a conteúdos
latentes que podem ser utilizados nas diversas etapas do desenvolvimento.
Considerando o caráter subjetivo e comunicacional acima delineado, cumpre
destacar que o processo de construção do desenho e o significado a ele atribuído

107
A Psicologia do Tribunal do Júri

por seu produtor apresentam-se enquanto um dos possíveis veículos de apreensão e


elaboração da realidade do sujeito, a nível individual e/ou coletivo. Trata-se, assim, de
via alternativa àquela da nomeação pela palavra, da realidade psíquica e/ou material
que circunda e atravessa o sujeito8, ou, como apontado por Borba (2006), trata-se, o
próprio desenho, de um verbo.
Tendo por base essas ponderações, assume-se no âmbito do presente escrito,
não sem os fundamentos que as pesquisas na área da testagem psicológica oferecem,
que a utilização do desenho como técnica gráfica e, portanto, menos sujeita ao controle
consciente, é apropriada para a análise da percepção dos indivíduos acerca da figura
do promotor de justiça do júri. Entende-se que tal técnica oportuniza a manifestação
das distintas concepções dos jurados entrevistados a respeito do construto ora
proposto a partir de suas experiências e representações temáticas. Portanto, tendo
acesso ao conteúdo e temas das representações gráficas trazidas por cada um deles,
é possível compreender os significados de suas percepções de forma mais fidedigna.

3. METODOLOGIA

O trabalho realizado neste estudo se originou do questionário com 32 questões,


sendo 29 fechadas e 03 abertas, aplicado aos jurados do tribunal do júri em uma
comarca de entrância final.
Considerando o extenso conteúdo resultante desta pesquisa, optou-se
pela apresentação dos achados e discussões através de dois artigos distintos. Em
complemento aos dados ora apresentados, foi desenvolvido outro artigo, intitulado
“O Tribunal do Júri Na Percepção Dos Jurados”, que apresenta conteúdo referente às
percepções dos jurados sobre o contexto de trabalho no júri de modo mais amplo.
De acordo com a proposta da pesquisa, solicitou-se que os jurados realizassem
o desenho de um promotor de justiça do júri. Os dados aqui apresentados advêm de
quatro aplicações, no período compreendido entre outubro de 2019 até fevereiro de
2020, com intervalo no mês de dezembro de 2019. O número total de participantes foi
de 92 sujeitos, de ambos os sexos, e a participação esteve condicionada à assinatura
prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para a realização da análise dos desenhos, foram utilizados métodos qualitativos
e quantitativos, alicerçados na análise de conteúdo e na técnica estatística,
respectivamente. Ademais, realizou-se revisão bibliográfica para embasamento
teórico do estudo e especialmente para a análise dos desenhos buscou-se como

8 “Desde René Descartes (1596-1650) e Immanuel Kant (1724-1804) até Edmund


Husserl (1859-1938), o sujeito é definido como o próprio homem enquanto fundamento
de seus próprios pensamentos e atos” (Roudinesco & Plon, 1998, p. 742). Constitui assim,
a essência universal e singular da subjetividade humana. Se, no entanto, antes de Freud e
do advento da Psicanálise, tal essência foi identificada com a consciência dotada de razão, a
descoberta do inconsciente pelo referido autor muda radicalmente seu estatuto. Partindo dos
estudos encabeçados por Freud, Jacques Lacan desenvolve o conceito de sujeito subvertendo
o sentido colocado até então. Ele vai conceber o sujeito para a Psicanálise como o homem
enquanto ser constituído pela linguagem e, por isso mesmo, marcado por uma divisão. Não
se trata de um sinônimo de indivíduo, mas de um significante outro, que emerge a partir das
lacunas e descontinuidades do discurso. Em uma frase famosa, Freud diz que “o Eu não é
senhor de sua própria casa”. Com isso, ele quer desidentificar o “sujeito” com a consciência
dotada de razão, conforme reconhecido anteriormente ao advento da Psicanálise.

108
A Psicologia do Tribunal do Júri

referência central o teste HTP (House, Tree, Person) que é um teste de grafismo
utilizado em avaliações psicológicas para avaliar características de personalidade. O
teste HTP surge da interpretação das teorias de Sigmund Freud e seu uso permite
detectar aspectos do desenho a partir de sua localização, tamanho, detalhes e traços.
No que se refere aos métodos qualitativos usados para a apreciação dos desenhos
obtidos, salienta-se que o tratamento dado a eles não se restringiu à análise gráfica
estrita por meio do HTP. Buscou-se, assim, transcender a etapa meramente descritiva
e analisar aspectos como: a) o contexto de realização da atividade, b) o impacto do
desenho, c) a forma como o profissional é representado, d) a cena em que o promotor
se encontra, d) a mensagem que o desenho transmite.
Tendo em vista o tamanho da amostra de participantes e a diversidade das
produções realizadas, buscou-se sistematizar os desenhos agrupando-os em categorias
que sintetizassem o sentido geral do conteúdo trazido, que serão apresentadas
adiante.
No que tange ao aspecto quantitativo da análise, foi obtido pela frequência de
aparição de alguns dos dados dos desenhos, divididos em categorias e posteriormente
analisados de forma percentual em relação ao todo.
Por fim, assinala-se que o caráter projetivo de um teste ou desenho, pode
suscitar o debate entre a avaliação subjetiva e a objetiva. O fenômeno da projeção
permite a inferência de aspectos subjetivos. Assim, aquilo que é projetado não é um
elemento por si só, único e objetivo, mas a percepção que cada sujeito possui de um
mesmo elemento, pleno de significações e expressões da sua personalidade (SILVA et
al, 2010, p. 62).
Dito de outra forma, por tratar-se de uma análise realizada com base em
instrumento de caráter projetivo, não se deve descartar a possibilidade de que as
observações, percepções e inferências realizadas por quem o fez e por quem o viu
posteriormente (como foi o caso das autoras) sejam de caráter particular, podendo
divergir, consideravelmente. O desenho não será o mesmo sob a perspectiva de
distintas pessoas, até mesmo para o seu criador, em diferentes momentos.
Salienta-se que, com vistas a manter o rigor científico das discussões e achados
aqui apresentados, cada uma das autoras realizou separadamente a apreciação
das produções gráficas realizadas pelos jurados, elencando características que
sobressaíram às suas observações. Em um segundo momento, estes pareceres foram
reunidos e comparados, percebendo-se os pontos de convergência e divergência, e
selecionando-se, para a realização da discussão que se segue, aquelas categorias em
que houve concordância da maioria.

4. ANÁLISES E DISCUSSÕES

4.1. ANÁLISE DE DESENHOS

Muitos jurados passam pela experiência do júri sem, contudo, serem ouvidos
a respeito de como se sentiram, de como vivenciaram o momento, do que poderia
ser melhorado, de modo que informações relevantes, que podem ter influenciado
suas decisões não são sequer conhecidas. Da mesma maneira, pouco se sabe sobre
o que o jurado pensa a respeito do promotor de justiça do júri. Assim, é importante

109
A Psicologia do Tribunal do Júri

compreender de que maneira esse profissional é visto pelos componentes do conselho


de sentença, tendo em vista que essa interação poderá ter impactos determinantes
na efetivação da justiça. Com o objetivo de identificar as percepções dos jurados em
relação ao promotor de justiça do júri, solicitou-se que realizassem um desenho da
figura do referido profissional. Visando organizar as temáticas comuns aos desenhos
realizados pelos jurados, foram criadas 09 categorias de análise, a saber:

1) Figura Humana Amistosa ou Cena que Enaltece o Promotor de Justiça;


2) Recusa;
3) Representação da Figura Humana Universal;
4) Representação Simbólica;
5) Representação Intimidadora ou com Aspecto Grotesco;
6) Figura ou Cena Neutra;
7) Figura Humana ou Cena que Demonstra Seriedade ou Tensão;
8) Cena que Revela Crítica ou Dúvida sobre a Atuação do Promotor de Justiça;
9) Cena que Denota Esforços para Manter o Equilíbrio.

O desenho utilizado como instrumento de coleta das percepções dos jurados


em relação ao promotor de justiça do júri pode comportar muitas ambiguidades.
Isso ocorre porque, embora os conteúdos manifestos, via de regra, façam alusão a
aspectos positivos, intrinsecamente pôde-se identificar diversos aspectos negativos,
ou vice e versa, que também compõem o desenho de maneira latente. Esses aspectos
são importantes porque revelam conteúdos não verbais que são captados pelos
jurados e, inconscientemente, projetados nos desenhos, revelando percepções nem
sempre comunicadas direta ou explicitamente.

4.1.1. FIGURA HUMANA AMISTOSA OU CENA QUE ENALTECE O PROMOTOR DE JUSTIÇA

A principal categoria identificada por 32,6% dos jurados foi a “Figura Humana
Amistosa ou Cena que Enaltece o Promotor de Justiça”. Aqui, denota-se a percepção
sobre o promotor em grande parte positiva. Dentre os desenhos, identificou-se:
figuras humanas sorridentes; em tamanho grande em relação ao espaço; usando beca
ou capa; com detalhamento no traje/terno ou ainda mostrando vestimenta bastante
alinhada com vários detalhes como bolsos, gravatas e botões; traços reforçados na
região genital; braços longos e grandes; empunhando espada; representação com
ênfase no tronco e na cabeça; com olhos vendados; representado no púlpito; numa
espécie de trono; portando livros (Constituição, Vade Mecum); com destaque no
cérebro e no coração; condenando o próprio filho; à frente da população e do lado
oposto aos “marginais”; ao lado do povo; apresentando os fatos sobre o crime;
acertando o alvo; apontando para o réu; realizando questionamento sobre o réu.
Diante desses aspectos, é possível articular alguns significados sobre as
percepções dos jurados. Conforme os desenhos, o promotor de justiça do júri é visto
como um profissional de postura amistosa, pacífica, uma figura de grande valência
afetiva. O retratamento da beca no desenho pode estar relacionado ao status da
profissão, bem como à correlação da vestimenta com a função. Em outras vezes,
os desenhos retratam o profissional de terno (traje usual) de onde se pode inferir

110
A Psicologia do Tribunal do Júri

que o mesmo é visto como alguém alinhado, bem apresentado, de comportamento


meticuloso e zeloso. Salienta-se, no que tange à vestimenta, que isso pode significar
apenas uma representação fiel ao traje, em ambos os casos. De outro lado, no aspecto
imaginário, foram retratados profissionais com diversos tipos de capa, fazendo alusão
às capas de super-heróis, o que pode denotar uma percepção heróica do profissional,
como aquele que reúne os atributos necessários para superar, de forma excepcional,
um determinado problema de dimensão épica.
Outros traços que aparecem em diversos desenhos são aqueles que sinalizam
a virilidade do promotor de justiça do júri. Este dado pode estar relacionado ao fato
dos representados nesta pesquisa serem efetivamente do sexo masculino, levando
à percepção de características típicas da masculinidade, possivelmente relacionadas
ao timbre da voz, ao estereótipo masculino, dentre outras. Tal profissional também é
percebido como alguém com grande alcance no seu trabalho, inclusive sendo retratado
empunhando uma espada, personificando a figura do próprio justiceiro, como aquele
que toma para si a causa dos inocentes e é partidário de uma justiça rigorosa. Em
outra cena, aparece com uma venda nos olhos, personificando o conceito de justiça
cega.
Também se evidencia a valorização do intelecto, vislumbrando-se a percepção de
que se trata de um profissional estudioso. Ademais, há jurados que trazem aspectos
nos desenhos relacionados a uma espécie de aura de poder, sendo o promotor de
justiça do júri percebido como “reinando” em seu espaço, bem como ocupando um
lugar de destaque. Além disso, identificou-se desenhos nos quais o promotor de
justiça do júri é percebido como alguém agindo com racionalidade, mas também com
sensibilidade, lançando mão da razão e da emoção em sua atuação, como no desenho
em que aparecem o cérebro e o coração.
Despontaram outros aspectos interessantes, nos desenhos em que os
participantes foram além da premissa de desenhar o profissional, criando cenas cujos
significados contextualizam a visão sobre o promotor de justiça do júri. Nessas cenas,
este último aparece como aquele que cuida dos interesses do povo, que protege a
sociedade e se coloca entre esta e a marginalidade, que promove a comunicação dos
fatos, visando a elucidação com organização e responsabilidade. Além disso, ressalta-
se também como alguém com um senso de justiça tão apurado que, conforme
explicitado em um dos desenhos, seria capaz de pedir a condenação do próprio
filho para não prejudicar um desconhecido, se assim fosse o justo, pois seria a figura
responsável pelo delicado e fundamental equilíbrio da justiça.
De outro lado, essa categoria de desenhos também reflete aspectos negativos
captados pelos participantes. Identificou-se: a posição dos pés do profissional dispostos
um para cada lado; pés totalmente voltados para a lateral em contraposição ao corpo;
profissional na ponta dos pés; a leve inclinação para trás das figuras do desenho;
linhas trêmulas pelo corpo e distorção do contorno dos braços; figura humana com
braços curtos; traje da figura com transparência na parte de baixo.
Diante de tais aspectos, é possível articular outros significados sobre a forma
como o promotor de justiça do júri é percebido. Infere-se que ele é visto como um
profissional que experimenta ambivalência e por vezes insegurança no desempenho
de seu trabalho. Há, ainda, a percepção de que seja alguém que sofre pressão em um
ambiente estressante. Em alguns desenhos, o profissional é retratado com dificuldade

111
A Psicologia do Tribunal do Júri

para alcançar seus objetivos. Além disso, denota-se o sentimento de exposição pública
do profissional em plenária, bem como a postura tensa e a posição de difícil atuação
no meio em que é percebido.

Figura Humana Amistosa ou Cena que Enaltece o Promotor de Justiça

4.1.2. RECUSA

Outra categoria, representada por 15,21% dos participantes, é a da recusa em


realizar o desenho, o que pode significar: falta de confiança em seus recursos para
executar o desenho, autocrítica exagerada, temor, inabilidade para realizar o desenho,
oposição à tarefa por não considerá-la importante, inibição, resistência despertada
pelo tema proposto ou manifestação de rebeldia.

4.1.3. REPRESENTAÇÃO DA FIGURA HUMANA UNIVERSAL

Outra categoria, representada por 11,95% dos desenhos, foi chamada de


“Representação de Figura Humana Universal”. Importa esclarecer que, de acordo
com o manual do HTP9, essas representações podem significar esforços para
suprimir aspectos inconscientes, como também estarem relacionadas com o grau
de escolaridade ou a falta de construtos cognitivos básicos. Hipótese distinta é a de
resistência do indivíduo em relação à atividade proposta, por tratar-se de um desenho.
Diferentemente da recusa, onde o indivíduo se nega a realizar a atividade, nesse caso
se realiza o desenho, porém, há uma simplificação do mesmo. Esta situação também
pode ser compreendida como forma de resistência ou oposição à atividade.
Primeiramente, com relação aos aspectos positivos, identificou-se: desenhos

9 O Teste HTP (“House, Tree, Person”) é um teste bastante utilizado em contexto


de avaliação psicológica, pautado em técnicas projetivas de desenho. Tem por objetivo
compreender aspectos da personalidade do indivíduo, assim como a forma de interação
deste com as pessoas e com o ambiente em seu entorno.

112
A Psicologia do Tribunal do Júri

simples, com pouco detalhes; duas figuras humanas, uma masculina e outra
feminina; legendas escritas no próprio desenho fazendo alusão ao gênero “promotor”
e “promotora” respectivamente; representação de chão no desenho; pernas
marcadamente separadas; reforço de traço na região genital; simbologia de masculino
e feminino que se encontra na porta de banheiros públicos.
Diante desses aspectos, é possível articular alguns significados sobre a
representação do promotor de justiça. Conforme os desenhos, pode-se inferir que
o promotor do júri é visto como alguém centrado na realidade, “pés no chão”. O
aparecimento das figuras masculinas e femininas, pode significar que o júri é um
espaço de trabalho que, na visão dos participantes, comporta a alteridade entre os
gêneros. Também, aparece novamente a questão da virilidade do profissional.
Com relação a alguns aspectos negativos, foram identificadas, por exemplo,
representações de figura sem rosto. A falta do rosto pode estar relacionada ao próprio
processo de simplificação da atividade, mas também pode revelar aspectos latentes
da forma como o promotor do júri é percebido, ou seja, não é visto necessariamente
como uma pessoa, mas sim como uma função relacionada ao cumprimento da justiça.
O rosto é a parte do corpo que demonstra claramente as emoções. A sua ocultação
pode estar relacionada à percepção de certa despersonalização do profissional ou a
retratação de alguém que não revela suas emoções, fato que pode ser visto como
característica de frieza emocional.

Representação da Figura Humana Universal

4.1.4. REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA

Outra categoria, contemplada por 11,95% dos desenhos, foi a “Representação


Simbólica”. Aqui, serão abordados os aspectos positivos neles identificados, em um
primeiro momento. Foi possível observar: profissional representado como a balança
da justiça; representação de pomba; beca; livro e casa.
A partir desses aspectos, é possível articular alguns significados. Pode-se fazer
inferências sobre a atribuição simbólica do objeto, equiparando-o ao profissional.
Conforme os desenhos, o tribuno do júri é personificado como símbolo da justiça, da
prudência e do equilíbrio. Ao se analisar o conteúdo simbólico, vê-se que a balança
está relacionada a diversas representações encontradas ao longo da história da
humanidade. Nos túmulos egípcios e no Livro dos Mortos, por exemplo, Anúbis ou
Osíris são apresentados com balanças: num dos pratos, está colocado um coração ou
um vaso; no outro, repousa uma leve pena de avestruz, que simboliza a verdade e a

113
A Psicologia do Tribunal do Júri

justiça. Em outro exemplo, na Ilíada, a balança aparece como um símbolo do destino,


ao avaliar as almas de Aquiles e Heitor e precipitar este último para a morte.
O conteúdo desenhado denota a possibilidade de levar justiça por meio da
busca do equilíbrio e da promoção da paz. Além disso, os outros objetos desenhados
retratam a vestimenta da profissão, relacionada ao seu status, bem como a percepção
do profissional como indivíduo intelectual, que estuda e possui conhecimento para
o desempenho de sua função. É representado, ainda, como lugar de proteção (casa).
Constata-se, tendo por base as considerações acima, que os símbolos que
apareceram nos desenhos foram majoritariamente relacionados a aspectos positivos.

Representação Simbólica

4.1.5. FIGURA HUMANA INTIMIDADORA OU COM ASPECTO GROTESCO

Outra categoria, representada por 6,52% dos desenhos, foi a da “Figura


Humana Intimidadora ou com Aspecto Grotesco”. Aqui, diferentemente dos tópicos
anteriores, os aspectos negativos, que constituíram maioria, serão explanados
primeiro. Foram identificados: representação de figura humana com traçado
descontínuo e ramificado em todo o desenho; mãos no bolso; figura inclinada para
trás e representação aparentemente hostil e ameaçadora. Além disso, ausência de
nariz; falta do detalhamento da parte superior do traje; medidas desproporcionais de
tronco, pernas, pés, pescoço e cabeça. Ademais, o profissional é representado usando
bermudas; com a cabeça pequena comparada ao resto do corpo; caracterizado por
braços curtos; com traje possuindo transparência na parte de baixo; fazendo alusão
a um boneco ou figura circense, bem como representado a partir de diversas linhas
com reforço.
Com base nos desenhos, infere-se que o promotor de justiça do júri é visto
como um profissional que oculta uma parte de si para os jurados, que possui uma
aura misteriosa, possivelmente relacionada à sua história de vida (pessoal). Além
disso, o profissional é percebido como alguém que sofre pressão em um ambiente de
grande estresse. Outras percepções conferem certo ar de monstruosidade, aspecto
fantasmagórico, denotando postura ameaçadora e aversiva por ser “esquisito” ou
por representar uma situação caricata e bizarra, inclusive com ênfase na postura de

114
A Psicologia do Tribunal do Júri

acusação/inquisição. Suscita, ainda, percepção de desleixo relacionado ao profissional:


postura triste e aspecto grotesco. Pode indicar também a percepção do profissional
com ênfase em seu corpo e tamanho grande, em detrimento do uso de aspectos
relacionados ao intelecto, bem como de falta de alcance frente aos desafios do
trabalho. Outros desenhos sugerem sentimento de exposição pública do profissional
em plenária. Muito embora seja algo inerente ao trabalho, alguns desenhos capturam
que há um desconforto nessa exposição.
Também aparecem, de maneira latente, alguns aspectos positivos, tais como:
figura ocupando maior espaço em comparação às demais; profissional de terno e
gravata; com a beca sobreposta; uma das mãos sobressaindo pelo tamanho, assim
como as orelhas; além de uma caracterização significativa da mão com ênfase no
dedo indicador.
Diante desses aspectos positivos é possível articular alguns significados.
Conforme os desenhos, o promotor de justiça do júri também é visto como um símbolo
de grande valência e destaque, sendo um profissional percebido como possuidor de
amplo alcance do trabalho e de considerável capacidade de escuta.

Representação Intimidadora ou com Aspecto Grotesco

4.1.6. FIGURA OU CENA NEUTRA

Outra categoria, representada por 6,52% dos desenhos, foi a da “Figura ou


Cena Neutra”. Esta categoria foi criada para abarcar a frequência de desenhos cujo
conteúdo principal compreende figuras ou cenas bastante simples, sem detalhes ou
empobrecidas e que, por essa razão, não permitem uma análise mais apurada. São
cenas em que aparecem: representação de figura humana pobre em detalhes; frase
ao lado da figura indicando que não importa a distinção de gênero, na imagem do
promotor de justiça do júri; alusão à exposição dos fatos realizada durante o júri; cena
vista de cima, demonstrando a plenária. Além disso, observou-se o juiz representado
ocupando a cadeira central; o promotor de justiça do júri com as leis de um lado
e uma balança de outro; posicionado atrás de uma mesa com livros. Ademais, são

115
A Psicologia do Tribunal do Júri

representadas cenas típicas do trabalho diário do júri, bem como aspectos que
parecem indicar uma alusão à Justiça. Em alguns desenhos, é possível observar a
simbologia do local literal que o promotor de justiça ocupa em plenária; figura
humana andrógina; traços bastante reforçados na área do rosto; profissional atrás
de uma mesa; representação de traje como aspecto de identificação do profissional.

Figura ou Cena Neutra

4.1.7. FIGURA HUMANA OU CENA QUE DEMONSTRA SERIEDADE OU TENSÃO

Outra categoria, representada por 6,52% dos desenhos apreciados, foi a da


“Figura Humana ou Cena que Demonstra Seriedade ou Tensão”. Aqui, primeiramente,
serão abordados os aspectos positivos. Identificou-se: representação resumida à
parte superior do tronco de uma figura humana e representação de beca. A partir de
tais aspectos, é possível articular alguns significados, tais como o enaltecimento do
intelecto do promotor de justiça do júri, no desempenho de seu ofício, denotando
também um status relacionado à profissão.
De outro lado, essa categoria de desenhos também reflete aspectos negativos
captados pelos participantes. Dentre esses, destacam-se: figura com uma das mão
no bolso; rosto aparentemente sério, denotando tensão; desenho com traços fracos;
rosto aflito diante de algo externo; presença de linhas reforçadas, riscos e pontos
de exclamação ao redor da figura do promotor; pés voltados para lados opostos ao
corpo; uso da beca; desenhos assimétricos, nos quais um dos lados está com mangas
compridas compondo com a gravata e, no outro, está com camisa de manga curta
com bolso; inclinação para trás; representação usando máscara.
Conforme os desenhos, infere-se que o promotor do júri é visto como um
profissional que oculta dos jurados uma parte de si, alguém que possui uma aura
misteriosa, possivelmente relacionada à sua história de vida (pessoal). Também, pode
ser percebido como alguém que sofre pressão em um ambiente de grande estresse,
bem como um profissional que possui grande responsabilidade em exercer essa
função. Além disso, identifica-se a percepção dos jurados de que o promotor do júri

116
A Psicologia do Tribunal do Júri

demonstra pouca emoção ou frieza emocional. Percebe-se uma barreira, advinda


do conhecimento e do status da profissão, bem como que o profissional ocupa uma
posição bem demarcada, sendo, por vezes, visto como inacessível.
Alguns desenhos podem denotar pressão externa, turbulência, retratar o
profissional como ambivalente ou, ainda, como alguém que experimenta insegurança
no desempenho de seu trabalho. A assimetria no traje pode denotar a percepção de
dualidade e ambivalência, na forma como o promotor de justiça do júri é visto (por
vezes mais reativo, por vezes menos).

Figura Humana ou Cena que Demonstra Seriedade ou Tensão

4.1.8. CENA QUE REVELA CRÍTICA OU DÚVIDAS SOBRE A ATUAÇÃO DO PROMOTOR DE


JUSTIÇA

A oitava categoria, contemplada por 5,43% dos desenhos apreciados, refere-


se à representação de “Cenas que Revelam Críticas ou Dúvidas sobre a Atuação do
Promotor de Justiça”. Aqui, primeiramente, serão explanados os aspectos negativos,
que compuseram a maioria. Identificou-se: representações do Estado como agente
que oferece prisão e um promotor de justiça que apenas segue prerrogativas,
responsabilizando o réu, sem uma análise mais apurada do fenômeno que o levou ao
cometimento do crime; vítima representada morta; questionamento sobre a efetiva
promoção da lei pelo promotor de justiça do júri. Além disso, há, em um dos desenhos,
a representação de uma caixa com rosto quadrado e com chifres, fazendo alusão a
uma figura diabólica. No desenho em questão, desponta a mensagem (escrita) “caixa
fechada”, sugerindo a inacessibilidade do profissional; réu retratado como “coitado”;
desenho de luz insuficiente para clarear toda a escuridão.
Conforme os desenhos, o promotor do júri assume uma representação de
alguém que pune/responsabiliza apenas para atender ao Estado. Diante disso, um
dos desenhos traz uma crítica sobre a atuação do profissional como mero operador do
direito, que não faz uma leitura do réu como alguém que pode ser infeliz e desventurado.
Nesse sentido, na perspectiva do jurado, o réu é visto como coitado (indivíduo sem

117
A Psicologia do Tribunal do Júri

perspectiva). A posição central do réu e a palavra “coitado” denotam uma crítica


sobre a abordagem do promotor de justiça para com o acusado, demonstrando
desconfiança em seu trabalho. Sugere-se, desta feita, que o profissional pode agir
em descompasso com as normas estabelecidas. Infere-se, também, que o promotor
do júri é um indivíduo autocentrado, que não se relaciona, intocável. Sua postura
sugere que é inacessível tanto no início, quanto no final do rito. Apesar do promotor
de justiça se tornar mais acessível durante o debate, isso se deve, na visão de alguns
jurados, ao interesse do mesmo em obter os votos do conselho de sentença.
De outro lado, essa categoria de desenhos também reflete alguns aspectos
positivos captados pelos participantes, tais como: a distinção dos demais devido ao
uso de beca e o uso de capa que, imaginariamente, remete a figura dos super heróis.

Cena que Revela Crítica ou Dúvida sobre a Atuação do Promotor de Justiça

4.1.9. CENA QUE DENOTA ESFORÇOS PARA MANTER O EQUILÍBRIO

Outra categoria, representada por 3,26% dos desenhos, foi aquela referente à
representação de “Cenas que Denotam Esforços para Manter o Equilíbrio”. Dentre
os aspectos positivos dos desenhos identificou-se: representação de figura humana,
com legenda retratando um promotor de justiça que encontra-se em cima de um
muro; cena com gangorra em equilíbrio; cena de um homem em pé num barco à vela;
profissional segurando as leis em uma mão e uma espada da Justiça na outra.
Conforme os desenhos, o promotor do júri é representado em local privilegiado,
onde consegue ver os dois lados, identificados pelos termos “certo” e “errado”. Essa
posição, por outro lado, é delicada e requer equilíbrio, uma vez que se encontra
sobre um muro. É interessante observar que as palavras “certo” e “errado”, quando
aparecem, estão em maior tamanho em comparação à representação do promotor
de justiça, simbolizando que este não é maior e nem está acima delas. Além disso,
identifica-se o profissional como alguém que lida com esse par de opostos, numa
posição de busca de equilíbrio. Em outro dos desenhos avaliados, tem-se a impressão
de que o promotor de justiça tenta se equilibrar em um barco. O mar pode representar o
desconhecido e as ondulações os aspectos que causam desequilíbrio. Nesse contexto,
o profissional é visto como alguém que busca estabilidade. Além disso, gangorra é um

118
A Psicologia do Tribunal do Júri

equipamento onde há uma linha tênue entre o equilíbrio e o desequilíbrio, o que


também pode evocar a simbologia do profissional estar em uma posição delicada,
que requer esforços e empenho para manter o equilíbrio.

Cena que Denota Esforços para Manter o Equilíbrio

4.2. DISCUSSÃO

De acordo com a metodologia adotada, buscou-se compreender a forma como


os jurados veem o promotor do júri. Mediante a análise de conteúdo dos desenhos, foi
possível constatar aspectos conscientes e inconscientes captados pelos participantes
a respeito desse profissional.
No desenvolvimento deste trabalho, evidenciou-se, de início, a dificuldade de se
analisar os desenhos, visto que um percentual significativo da amostra, representado
por 15,21% dos sujeitos, se absteve de realizar a atividade proposta. Além disso, um
percentual de 11,95% participou da atividade realizando a representação de figura
humana universal. Esta, sob o ponto de vista psicológico, pode ser compreendida
como uma forma de simplificação da atividade, resultando no empobrecimento do
desenho, fato que dificulta a análise de conteúdo. Por sua vez, a categoria intitulada
“Figura ou Cena Neutra”, que representa 6,52% dos desenhos, foi criada para
abarcar a frequência de produções gráficas que, apesar de atenderem à premissa da
atividade proposta, apresentaram figuras ou cenas bastante simples, sem detalhes
ou empobrecidas, não sendo suficientemente relevantes. Tal condição acabou por
impossibilitar uma análise mais apurada desses conteúdos e dos seus significados.
Essa categoria também contempla aspectos que evocam a interpretação de que
houve resistência parcial à tarefa proposta.
Benveniste (2005) discorre sobre os mecanismos de defesa no desenho projetivo.
A recusa em desenhar pode estar associada ao medo da emersão10 incontrolável
dos impulsos, que são reprimidos pela supressão ou pelo evitamento, sendo que há
um esforço consciente para evitar o contato com algo que já entrou na consciência.
Assim, o comportamento de recusa pelo participante pode revelar um conflito interno

10 Ato de emergir, de vir ou trazer à tona.

119
A Psicologia do Tribunal do Júri

suscitado pelo tema proposto. Além disso, pode estar relacionada ao estado de inibição
generalizada e desconforto experimentado diante da proposta ou a temática que a
envolve. Ainda, segundo o autor, a pobreza de detalhes e a imaturidade dos desenhos
é o primeiro indicador de perturbação, sendo que as defesas11 são comportamentos
de evitamento ou tentativa de domínio dos instintos, bem como de ansiedade do
objeto e do superego12.
Outra categoria, na qual o profissional é representado majoritariamente de
forma positiva, correspondendo a 11,95% dos desenhos, foi a das representações
simbólicas, em que o indivíduo se expressa personificando o profissional com os
mesmos atributos do objeto representado.
De acordo com Lexicon (2013), toda linguagem transmite e comunica
experiências e, como em todas elas, a linguagem dos símbolos também vive da
tensão que há entre o significante e o significado. Portanto, é difícil delimitar com
precisão as fronteiras existentes entre essas concepções, uma vez que o símbolo se
caracteriza como portador de significados, o que traz riqueza de interpretações. Estas
são frequentemente tão amplas que mesmo significados opostos podem combinar-se
em um único símbolo. Assim, não é possível reduzir ou atenuar a multiplicidade dos
símbolos, pois destes advém uma riqueza de sentidos. Nos termos do referido autor:
Inúmeros conteúdos ainda percebidos como símbolos eram,
em sua origem, a expressão de realidades imediatas; assim,
o Sol não era símbolo da luz divina, mas ele próprio um deus;
a serpente não era símbolo do mal, mas a própria maldade;
e a cor vermelha não era um mero símbolo da vida, mas a
própria força vital (LEXICON, 2013, pg. 7).

Nessa medida, diante da representação do promotor de justiça do júri como uma


balança, infere-se que o significado é muito mais rico do que possivelmente aquele
atribuído nesse estudo, podendo-se até mesmo supor que não é apenas concebido
como responsável pelo equilíbrio mas como sendo a própria justiça.
Essa compreensão é corroborada por Jung (1964/2016), que afirma que as
representações simbólicas não possuem uma significação exata e, por essa razão, são
motivo de suposições controversas. Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica
quando implica alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato. Esta
palavra ou esta imagem têm um aspecto “inconsciente” mais amplo, que nunca é
precisamente definido ou inteiramente explicado.
Também foram encontradas percepções positivas sobre o promotor de justiça
do júri em 32,6% dos desenhos da categoria “Figura Humana Amistosa ou Cena que

11 Os mecanismos de defesa são estratégias do ego, de forma inconsciente, para proteger


a personalidade contra o que ela considera ameaçador. São, também, os diversos tipos de
processos psíquicos, cuja finalidade é afastar o evento que gera sofrimento da percepção
consciente. Além disso, são mobilizados diante de um sinal de perigo e desencadeados para
impedir a vivência de fatos dolorosos (que o sujeito não está preparado para suportar).
12 Freud elabora a teoria do Superego a partir de observações clínicas. Essa teorização,
conforme apontado por Laender (2005), ocorre quando ele se depara com um ego coagido
por algo que o faz agir como se estivesse sendo censurado, observado, criticado e, algumas
vezes, mortificado.

120
A Psicologia do Tribunal do Júri

Enaltece o Promotor de Justiça”, que retrata desde figuras humanas sorridentes, até
cenas que enaltecem a atuação do profissional. Nesse caso, a representação a partir
dos desenhos indica, em grande medida, atributos positivos, tais como a figura de
alguém amistoso, confiável e admirado.
Tais características positivas podem ser reflexos de atributos objetivamente
reconhecidos no profissional (simpatia, amabilidade). Contudo é fundamental
considerar a existência de fenômenos inconscientes que também podem interferir
na maneira como um sujeito enxerga o outro. A psicologia reconhece uma tendência
universal dos sujeitos em desenvolverem vieses inconscientes favoráveis a
características semelhantes às suas. Assim, um sobrenome parecido, um sorriso que
remete a algum ente querido, um tom de voz e um aspecto gestual, podem colaborar
para uma percepção positiva. Desse modo, essa percepção que se expressou em
forma de desenho amistoso ou cena que enaltece o promotor de justiça do júri, pode
não estar diretamente relacionada à postura do profissional ou a sentimentos que sua
atuação evoca, mas tratar-se de uma percepção inconsciente, considerando aspectos
mais profundos (MLODINOW, 2013).
Partindo de diversos estudos que visavam compreender melhor aspectos
subliminares de algumas decisões do sujeito, Mlodinow (2013) afirma que as pessoas
são fortemente influenciadas por fatores irrelevantes que dizem respeito a desejos
e motivações inconscientes. Contudo, tais motivações, via de regra, são ignoradas e
muitas vezes negadas pelo sujeito (também inconscientemente) quando questionado
sobre o real motivo de suas escolhas.
No que se refere àquilo que é ignorado ou até mesmo negado pelo sujeito,
quando da tomada de decisões ou da própria realização de atividades de caráter
projetivo, Pinto (2014) retoma a tese defendida pelo cientista social americano
Lawrence K. Frank. Este foi responsável pela designação dos métodos projetivos no
campo da testagem psicológica. As técnicas projetivas, das quais os desenhos fazem
parte, oferecem a possibilidade de “acesso ao mundo dos sentidos, significados,
padrões e sentimentos, revelando aquilo que o sujeito não pode ou não quer dizer”
(PINTO, 2014, p. 136). Tais técnicas oportunizam, assim, a apreensão de aspectos
latentes ou encobertos da personalidade, de caráter essencialmente inconsciente.
Tal amplitude de significados proporcionados pela técnica projetiva viabiliza a
ocorrência de ambivalências nas produções dos sujeitos, sejam elas discursivas ou
gráficas, tornando-se possível localizar aspectos negativos que aparecem juntamente
com os elementos positivos dos desenhos. Os aspectos de conotação negativa
observados parecem, então, refletir a percepção sobre a forma pela qual também é
visto o tribuno do júri, a despeito das representações favoráveis. Este é visto como
um profissional que experimenta estresse, insegurança, nervosismo, ambivalência,
impotência e sentimento de exposição pública ao realizar seu trabalho. Tais aspectos
revelam, em última instância, o quanto o jurado capta, durante o tempo em que
permanece em plenária, informações não só de ordem puramente objetiva, mas
também de caráter subjetivo, não verbal e inconsciente.
Souza (2011) vem ao encontro dessa análise, afirmando que é importante
considerar toda produção gráfica como um trabalho do inconsciente, em composição

121
A Psicologia do Tribunal do Júri

com a censura da resistência13 que seu conteúdo desperta e, a partir desta transação
mútua, surge o desenho final.
Seguindo a frequência de aparecimento das categorias identificadas, temos
6,52% de “Figura Humana Intimidadora ou com Aspecto Grotesco”; a mesma
porcentagem de “Figura Humana ou Cena que Demonstra Seriedade ou Tensão”;
5,43% de “Cena que Revela Crítica ou Dúvida sobre a Atuação do promotor do júri”
e 3,26% de “Cena que Denota Esforços para Manter o Equilíbrio”. A maioria dessas
representações alude a aspectos negativos do profissional ou a situações negativas
incidentes sobre ele e, juntas, perfazem o total de 21,73% da amostra.
As representações de “Figura Humana Intimidadora ou com Aspecto Grotesco”
e de “Cena que Revela Crítica ou Dúvida sobre a Atuação do Promotor do júri”
indicam percepção de comportamentos mais agressivos, tom de voz enérgico,
maneira incisiva de se colocar, falta de cordialidade com os jurados, percepção não
empática do profissional. Além disso, sugerem preconceito em relação à atuação,
considerando que o promotor de justiça apenas acusa, sem contextualizar o debate
com aspectos sociais, históricos e familiares inerentes ao réu. É possível, também,
associar os desenhos dessas categorias ao sentimento de frieza, inacessibilidade e
status ocupacional do promotor.
Para além dos achados sobre a representação do profissional, é importante
refletir que a própria situação objetiva do rito, que acontece numa sessão ordinária
do tribunal do júri, é uma experiência nova e ansiogênica para muitos jurados. Em
sua inexperiência e desconhecimento das questões técnicas do direito, muitas vezes,
acabam desenvolvendo um excessivo temor reverencial em relação à figura do
promotor de justiça, do juiz e da própria defesa. Dessa situação, pode decorrer uma
inibição ou espécie de paralisação projetada no desenho. Tal estado de coisas, por
vezes, se manifesta na recusa em realizar a atividade ou mesmo efetuá-la de maneira
empobrecida. Em outras vezes, manifesta-se na representação do profissional com
aspectos intimidatórios, tais como aqueles listados anteriormente. De todo modo,
até mesmo pela ambivalência que atravessa os desenhos, fica evidente que o
encontro com essa experiência é marcado por dificuldades tanto em relação ao que
se percebe do profissional e de aspectos que incidem sobre ele, quanto por traços da
subjetividade do próprio jurado.
Já a “Figura Humana ou Cena que Demonstra Seriedade ou Tensão” e a “Cena que
Denota Esforços para Manter o Equilíbrio” revelam aspectos correlatos aos níveis de
concentração e estresse ocupacional, a carga de responsabilidade sobre o profissional,
bem como a posição de delicado equilíbrio e tensão entre a função de acusação e a
elaboração dos conteúdos advindos da tese contrária. Mais uma vez, é importante
assinalar que tais percepções podem ter origem na vivência objetiva da situação do
júri, mas, também, podem proceder do acervo de motivações inconscientes.
Em um estudo paralelo (oriundo da mesma pesquisa), intitulado “O Tribunal

13 O conceito de resistência foi introduzido cedo por Freud em seus escritos e pode-
se dizer que exerceu um papel decisivo no surgimento da Psicanálise. Foi definido como
um fenômeno próprio e necessário ao tratamento, dificultador do acesso do sujeito à sua
determinação inconsciente; modo do recalque se representar.

122
A Psicologia do Tribunal do Júri

do Júri Na Percepção Dos Jurados”14, obteve-se como parte dos resultados que a
grande maioria dos jurados atribuiu, através de palavras escritas, aspectos positivos
ao promotor de justiça do júri. Nesse sentido, mostra-se interessante fazer uma
correlação entre o conteúdo manifestado por meio de palavras, em que foram
identificados majoritariamente aspectos positivos, com o que se pôde inferir a partir
dos desenhos, nos quais aspectos negativos foram observados em uma porcentagem
significativa da amostra. Com isso, observa-se uma acentuada discrepância entre
os conteúdos conscientes e inconscientes manifestados, uma vez que, no âmbito
objetivo, os jurados tendem a expressar apenas o que captam de positivo durante
o rito, com a atribuição de palavras “clichês”. Por outro lado, sendo o desenho um
instrumento mais sensível à projeção de aspectos inconscientes, acaba por revelar
conteúdos negativos e ambíguos, que, tendo em vista a operação dos mecanismos
defensivos próprios do psiquismo dos indivíduos, não apareceriam de outro modo ou
nem mesmo chegariam à consciência dos jurados.
Cabe aqui retomar a argumentação desenvolvida por Borba (2006) de que os
desenhos configuram expressão dos mais primários mecanismos de elaboração mental
do homem, implicando na redução do controle intelectual, em âmbito consciente e
inconsciente. Ademais, possibilita, em alguma medida, o acesso a aspectos de ordem
subjetiva e da personalidade que ultrapassam consideravelmente o intelecto e a
cognição (altamente estimulados pela atividade de escrita).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo por base os achados obtidos, pode-se concluir que muitas são as
formas como os promotores de justiça do júri são retratados. Tais diferenças estão
relacionadas com as distintas percepções que são captadas pelos jurados, durante
sua experiência na plenária. Atravessadas por informações de ordem tanto consciente
quanto inconsciente, tais percepções são marcadas por intrínseca ambivalência,
indicadora de conflitos. Neste sentido, houve prevalência de aspectos positivos nas
falas e nos desenhos a respeito do promotor de justiça (tais como o caráter heróico,
amistoso e confiável).
Contudo, paralelamente, foi possível identificar elementos, traçados, expressões
escritas e reações que sugerem percepções negativas sobre o ofício ou postura do
referido profissional ou, ainda, resistência em realizar a atividade solicitada. Dentre
os pontos evidenciados, constam: estresse, insegurança, frieza, inacessibilidade, falta
de empatia, hostilidade, dúvidas e críticas sobre o profissional. Tais aspectos revelam
sobremaneira a carga emocional que recai sobre o tribuno, bem como a importância
do seu preparo de modo a obter maior controle e minimizar percepções negativas, vez
que estas podem interferir no processo de tomada de decisão do jurado em relação
ao veredito. Mesmo quando se analisa conforme Mlodinow (2013) — que grande
parte das percepções humanas, embora justificadas racionalmente, baseiam-se em
aspectos inconscientes — torna-se relevante desenvolver esforços que visem dirimir

14 Estudo realizado no âmbito do projeto LAPJUR em que se utilizou um questionário


único para aplicação junto aos jurados, entretanto, devido a extensão do conteúdo para
análise dos dados, optou-se pela divisão dos achados em dois documentos distintos.

123
A Psicologia do Tribunal do Júri

possíveis vieses negativos sobre o profissional.


Aprofundar o conhecimento sobre a percepção que os jurados possuem do
promotor de justiça do júri pode fornecer elementos importantíssimos para o trabalho
do Ministério Público e demais operadores do direito, constituindo-se num estudo
pioneiro e inovador. A partir da identificação de fatores conscientes e inconscientes
desfavoráveis, há possibilidade de que sejam envidados esforços para a compensação
dessa condição, revelando um nicho importante para futuras pesquisas.
Cabe retomar o caráter incipiente, embora relevante, dos achados ora
apresentados, haja vista o alcance da pesquisa em tela, realizada na comarca de
Cascavel/PR. Assim, tendo em conta as particularidades que uma mesma instituição
— o tribunal do júri — assume em distintas regiões, sugere-se a replicação deste
estudo em outras comarcas do Estado do Paraná. Vislumbra-se, também, a aplicação
em outras unidades federativas, considerando a possibilidade de estabelecimento
de parâmetros para cada comunidade e região, bem como a potencialidade que tais
achados podem vir a assumir no desenvolvimento de projetos visando uma melhor
condução no tribunal do júri, em todo território nacional.

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126
A Psicologia do Tribunal do Júri

PARA ALÉM DA PLENÁRIA: ENTREVISTAS COM PROMOTORES DO JÚRI SOB


ENFOQUE PSICOLÓGICO1

Karen Richter P. S. Romero2


Patrícia dos Santos Lages Prata Lima3
Adriane da Rocha Santos Pontarola4
Ana Carolina Ferreira Lins5

RESUMO

Trata-se de artigo produzido no âmbito do Projeto Laboratório de Psicologia


Jurídica (LAPJUR), desenvolvido pela equipe de psicólogos do Centro de Apoio Técnico
à Execução do Ministério Público do Estado do Paraná - CAEx. Foram realizadas
entrevistas com membros da instituição com variado tempo de experiência no
tribunal do júri. Para o tratamento das informações coletadas foi aplicado o método de
análise de conteúdo. Foi possível identificar os principais aspectos que caracterizam
o trabalho do promotor de justiça em plenária, bem como conhecer os possíveis
espaços de interlocução com a ciência psicológica.

PALAVRAS-CHAVE: tribunal do júri, psicologia, aspectos da atuação.

1. INTRODUÇÃO

O tribunal do júri surgiu, no Brasil, em 1822 e foi reconhecido pela Constituição


de 1824. Pode ser definido tanto como uma instituição, quanto como uma forma
de julgamento pautada em uma proposta de resolução de conflitos, mediada pela
deliberação entre pares (GRAZIOLI, 2020). Despontou como alternativa ao poder do
soberano, déspota ou monarca, qualificado como vingativo, haja vista o caráter de
lesa-majestade dos delitos da época (GÓES, 2014).
São quatro os princípios norteadores do tribunal do júri: 1) plenitude da defesa,
que se refere à busca de uma defesa “completa” em benefício dos réus, podendo,
portanto, dispor de aspectos jurídicos e metajurídicos; 2) sigilo das votações,

1 Agradecimento especial ao psicólogo Fernando Luiz Menezes Guiraud que realizou a


revisão textual deste artigo.
2 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestranda em Psicologia Forense
(UTP). Especialista em psicologia Hospitalar com ênfase em Vitimização Infantil (SCM/SP), em
psicologia Jurídica (CFP) e em Psicanálise Clínica (PUC-PR). Fellowship em Psiquiatria Infantil
(Johns Hopkins Hospital - EUA).
3 Psicóloga no Ministério Público do Estado do Paraná. Mestre em Psicologia com
ênfase em Psicanálise pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Especialista em
Filosofia e Psicanálise (UFPR). Pós graduanda em psicologia Jurídica com Ênfase em Perícia
Psicológica (IPOG).
4 Psicóloga. Estagiária de pós-graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Pós
graduanda em psicologia Clínica/Psicanálise (UTP-PR) e em psicologia da Saúde e Hospitalar
(FPP-PR).
5 Estagiária de graduação no Ministério Público do Estado do Paraná. Graduanda em
Psicologia (FAG-Cascavel).

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A Psicologia do Tribunal do Júri

para garantir, no âmbito dos julgamentos do júri, que a votação realizada pelos
componentes do conselho de sentença possua caráter secreto e anônimo; 3) soberania
dos veredictos, princípio que assegura a autonomia, independência e imparcialidade
dos jurados para decidir o caso sem a interferência de qualquer autoridade do Poder
Judiciário; e 4) competência para julgamentos, que, no cenário nacional, volta-se para
os crimes dolosos contra a vida, previstos pelos artigos 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo
único, e dos artigos 123 ao 127 do Código de Processo Penal (CPP), sendo estes, em
tese, o homicídio (tentado ou consumado), o induzimento ao suicídio, o infanticídio,
o aborto, bem como os crimes a eles conexos por força do dispositivo penal (GÓES,
2014; RODRIGUES, 2020) .
O rito próprio atual do tribunal do júri, no contexto brasileiro, conta com a
participação dos seguintes agentes: 1) o(a) juiz(a) togado(a), responsável por presidir a
sessão e estabelecer, em caso de condenação, a dosimetria da pena; 2) o(a) promotor(a)
de justiça, responsável pela apresentação das teses de acusação, a depender de sua
convicção; 3) o(a) advogado(a) de defesa, responsável pela apresentação das teses
de defesa em favor do réu; e 4) o conselho de sentença, formado por sete indivíduos
com mais de 18 anos, de notória idoneidade moral - os chamados “juízes leigos” - que
atuam como jurados, representando os variados segmentos da sociedade. São estes
últimos, portanto, os protagonistas dos julgamentos do júri, dada a função que lhes
é atribuída. A partir do acesso a informações contidas nos autos, aos depoimentos
durante as sessões e às teses apresentadas pelas partes por meio de debates, cabe
aos jurados estabelecer um veredicto quanto à culpabilidade, ou não, do réu frente
ao crime avaliado (ASSAD, 2020; LOPES JÚNIOR, 2019).
É sobre tal cenário que o “Projeto Laboratório de Psicologia Jurídica” pretende
debruçar-se. Fruto de uma demanda institucional ao setor de psicologia do CAEx, tem
como escopo a construção, a médio e longo prazo, de conhecimento técnico-científico
no campo da interface entre a psicologia e o direito, especificamente no âmbito do
tribunal do júri e promotorias criminais. O presente artigo apresenta os resultados da
primeira etapa do referido projeto, qual seja: a identificação dos principais aspectos
de possível contribuição da psicologia para os promotores de justiça, no desempenho
de suas funções no tribunal do júri, a partir da obtenção de conhecimento sobre o
ofício desses profissionais. Para tanto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas
com membros do Ministério Público que atuam ou já atuaram no tribunal do júri.
Os dados coletados foram tratados à luz do método de análise de conteúdo, a partir
do qual detectaram-se categorias de análise, para então, em um segundo momento,
discuti-las com base em autores pertencentes, na maioria, ao universo da ciência
psicológica.
Importante ressaltar o caráter exploratório deste estudo, pois se trata de uma
abordagem inicial da temática em questão, com o intuito de identificar demandas
latentes intrínsecas ao trabalho no tribunal do júri. Pretende-se, a partir dessas
atividades, que ações mais claramente delineadas possam ser, futuramente,
implementadas em benefício dos promotores do júri.
Para a melhor organização dos dados levantados nas entrevistas, optou-se pela
sistematização deste documento da maneira descrita a seguir. Na primeira parte, na
qual consta a fundamentação teórica, foram abordados fatores que impactam os
processos de tomada de decisão e a escolha dos jurados. O constructo da empatia

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A Psicologia do Tribunal do Júri

também foi trabalhado, em especial no modo como ele se operacionaliza no trabalho


desenvolvido no júri. Em seguida, os conceitos de retórica e emoção foram analisados,
haja vista sua influência na obtenção dos veredictos. Na segunda parte, foi realizada
a caracterização da amostra entrevistada. Na terceira parte, discorreu-se sobre o
instrumental e a metodologia utilizados. Na quarta parte, foram apresentados os
resultados obtidos com as principais categorias identificadas nas entrevistas. Na
quinta parte, realizou-se uma discussão correlacionando os achados desta pesquisa
com autores do campo da psicologia, filosofia e direito. Por fim, na sexta parte,
foram trazidas as considerações finais obtidas a partir da metodologia, discussão e
resultados previamente apresentados.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta seção, serão apresentados autores, conceitos e perspectivas teóricas


escolhidas para o tratamento das informações coletadas durante as entrevistas com
membros do Ministério Público do Estado do Paraná. Foram utilizadas, principalmente,
as concepções de Daniel Kahneman, psicólogo e teórico da economia comportamental,
ganhador do prêmio Nobel, que muito contribuiu para a compreensão dos fatores que
influenciam os processos de tomada de decisão. António Damásio, autor de grande
relevância no campo da neurociência, que esclareceu as relações entre emoção e
razão. Também recorreu-se ao filósofo grego Aristóteles para discorrer sobre a
temática da retórica e da emoção, entre outros autores.

2.1. O PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO

O rito próprio dos julgamentos que acontecem no tribunal do júri é atravessado


por escolhas e tomadas de decisão de distintas ordens, envolvendo todos os agentes
que dele participam. Assim, compete aos componentes do conselho de sentença
chegarem ao veredicto quanto à condenação ou absolvição do acusado. Aos
operadores do direito, sejam eles promotores de justiça ou advogados de defesa,
cabe a definição daqueles que participarão do referido conselho, dentre os jurados
sorteados em plenária. Cumpre destacar que foi comum entre os entrevistados o uso
do termo “escolha” ao se referirem ao processo de seleção dos jurados, dado que
tanto à acusação quanto à defesa é concedida a opção de recusar sem justificativa até
três jurados sorteados.
Os processos de tomada de decisão baseiam-se no que a neurociência designa
como “processamento das informações” que, de acordo com os estudos de Kahneman
(2011), contempla, simultaneamente, a leitura e a interpretação racional das
informações disponíveis, bem como o seu tratamento automático e não consciente.
Tal recurso mental subsidia a eleição de uma dentre várias possibilidades de escolha.
Assim, Kahneman propõe a existência de dois sistemas em operação no
processamento cerebral: o sistema 1 (S1) e o sistema 2 (S2). O primeiro é responsável
pelo processamento rápido, automático e inconsciente, dirigido por emoções e
associações, representando um modo intuitivo de agir. Por sua vez, o segundo é
um processamento lento, deliberativo e baseado em regras, utilizando cálculos
conscientes para a tomada de decisão, caracterizando-se, portanto, como um modo

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A Psicologia do Tribunal do Júri

mais controlado de fazê-las (KAHNEMAN, 2011).


Esse conhecimento mudou completamente a maneira como se concebe a
tomada de decisão em qualquer área da vida, porque mostrou que o sistema 1 -
rápido e automático - é o que está ativo em grande parte das decisões do dia a dia, já
que ele demanda menor gasto de energia do cérebro.
O sistema 1 lida tanto com conceitos quanto com percepções e pode ser provocado
pela linguagem. Por outro lado, o sistema 2 está envolvido em julgamentos que são
originários das impressões obtidas por meio do sistema 1. Operações matemáticas
básicas são exemplos de práticas realizadas pelo sistema 1, como 2+2=4. Já existe
um automatismo, não sendo necessário um raciocínio aprofundado. Todavia, cálculos
mais complexos, como multiplicações com números de dois algarismos, ou checar a
validade de um argumento lógico, fazem parte das práticas realizadas pelo sistema 2.
O sistema 1 é aquele que toma frente na resolução de questões de distintas ordens,
por meio do fornecimento de impressões e interpretações tácitas do que ocorre com
o indivíduo. Em outras palavras, tal sistema opera por meio de julgamentos rápidos
e intuitivos, que geralmente acontecem sem que haja conhecimento consciente de
suas atividades. Cabe ao sistema 2, por seu turno, validar as crenças e modelos de
mundo assim construídos, bem como assumir a dianteira quando surge uma questão
para a qual o sistema 1 não oferece resposta (KAHNEMAN, 2011).
Aplicando esta teoria ao contexto prático do tribunal do júri, tem-se que o
tratamento racional e lógico (sistema 2) ou automático e inconsciente (sistema 1) das
informações disponíveis, seja pelos jurados, seja pelos operadores do direito, possui
o potencial de atravessar as escolhas e decisões inerentes ao rito, e, portanto, as
inclinações dos seus distintos participantes. Tais inclinações refletem, no caso dos
jurados, tanto na condenação como na absolvição do réu; no caso dos promotores
de justiça e advogados de defesa, tanto na aceitação como na recusa dos cidadãos
sorteados para participar do conselho de sentença. Além disso, os promotores de
justiça lançam mão dos sistemas 1 e 2 a todo momento, durante sua intervenção
na plenária. Por exemplo, quando optam pela continuidade de um argumento ou
mudam de estratégia.
Quando se fala das informações a serem processadas em tomada de decisão,
no tribunal do júri, faz-se referência tanto a informações de caráter objetivo (nome,
idade, profissão dos jurados etc), quanto subjetivo (comportamentos, expressões
faciais, lembranças, emoções). Sabe-se, mediante estudos da psicologia evolutiva, que
existe um grupo de seis emoções consideradas básicas que podem ser identificadas
entre os seres humanos. São elas: medo, tristeza, raiva, surpresa, alegria e nojo. Essas
encontram correspondência em um conjunto de expressões faciais universais, cujo
desenvolvimento é arraigado na própria espécie humana. Neste sentido, é possível
afirmar a ocorrência de uma similaridade na expressão de estados emocionais entre
culturas diferentes, ou seja: em todas as culturas, a alegria é expressa com sorriso, a
raiva com franzimento das sobrancelhas e tensão dos lábios, e assim por diante. Além
disso, é importante ressaltar que essas emoções são passíveis de serem transmitidas ao
interlocutor de maneira tanto consciente quanto inconsciente. Portanto, determinada
emoção pode ser externada deliberadamente, com um objetivo claro para o emissor
(seja para transmitir o que está sentindo ou para induzir o mesmo sentimento no
outro), ou pode ser externada de forma automática, sem o controle daquele que a

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A Psicologia do Tribunal do Júri

expressa (EKMAN, 2003; DAMÁSIO, 2012).


Damásio (2012) vem ao encontro dessas ideias quando diz que: “Elas [as
emoções] desempenham uma função na comunicação de significados a terceiros e
podem ter também o papel de orientação cognitiva” (p. 146).
Para além de sua função na comunicação não-verbal entre diferentes pessoas, as
emoções possuem também considerável papel nos processos de tomada de decisão.
As sensações e/ou impressões singulares que irrompem nos indivíduos, diante de
distintas situações e acontecimentos, originam sinais de alerta no nível corporal.
Estes sinais são capazes de orientar o sujeito quanto ao possível resultado de uma
escolha, dentre um rol de possibilidades. Desta forma, cada emoção assume um papel
específico e adaptativo, com potencial para alterar o comportamento humano e suas
decisões por meio da geração de “avisos” contra possíveis perigos (DAMÁSIO, 2012).
Ainda sobre as relações do corpo e as emoções:
Vejo a essência da emoção como a coleção de mudanças
no estado do corpo que são induzidas numa infinidade de
órgãos, por meio das terminações das células nervosas sob
o controle de um sistema cerebral dedicado, o qual responde
ao conteúdo dos pensamentos relativos a uma determinada
entidade ou acontecimento. Muitas das alterações do estado
do corpo — na cor da pele, postura corporal e expressão
facial, por exemplo — são efetivamente perceptíveis para
um observador externo. (Com efeito, a etimologia da palavra
sugere corretamente uma direção externa a partir do corpo:
emoção significa literalmente “movimento para fora”).
Existem outras alterações do estado do corpo que só são
perceptíveis pelo dono desse corpo. Mas as emoções vão
além da sua essência (DAMÁSIO, 2012, p. 155).

Desta feita, nem todas as emoções que participam da tomada de decisão se


inserem no âmbito do raciocínio lógico e consciente. Podem ocorrer sem que o
indivíduo as perceba ou delas tenha consciência, ainda que sejam, em alguns casos,
detectáveis por observadores externos (DAMÁSIO, 2012).
Uma vez que a tomada de decisão envolve aspectos e processos inconscientes,
pode-se retornar aos postulados propostos por Kahneman (2011) quanto ao conceito
de “heurística”. A heurística pode ser definida como um procedimento simples que
ajuda as pessoas a encontrarem respostas (supostamente) adequadas, mesmo que
geralmente imperfeitas, para perguntas difíceis, por meio da substituição do que
é complexo por questões com maiores possibilidades de resolução. São processos
cognitivos utilizados em decisões não racionais, nas quais emprega-se estratégias que
ignoram parte da informação com o objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida.
A alternativa heurística é uma possibilidade de substituição do raciocínio cuidadoso,
pois pode ser utilizada quando um problema a ser encarado é por demais complexo
ou traz informações incompletas. É um mecanismo cognitivo que diminui o tempo e
os esforços nos julgamentos. A utilização desses atalhos mentais de modo frequente
pode favorecer o estabelecimento de um círculo vicioso, pois, muitas vezes, os

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A Psicologia do Tribunal do Júri

resultados desses julgamentos via heurísticas são satisfatórios para o sujeito, ainda
que não sejam os mais adequados (KAHNEMAN, 2011).
É comum que a heurística seja praticada sem que os indivíduos percebam.
Pode ser compreendida como um atalho mental, na medida que preserva e conserva
energia e recursos mentais. Por ser aplicada de forma automática, está sujeita a
erros e vieses, os quais podem resultar em prejuízos no julgamento. Em razão desse
automatismo, é muito difícil, mesmo para profissionais experientes, detectar e evitar
o uso de heurísticas que possam comprometer a análise de uma situação.
Existem diversos tipos de heurísticas, conforme os procedimentos de substituição
adotados, sendo os principais:
1. Heurística da representatividade (tendência de utilizar estereótipos para
realizar julgamentos). Exemplos: a) avaliar que produtos de alta qualidade
são caros e, portanto, se algo é caro, deve ser de alta qualidade; b) homens
cabeludos e tatuados são mais liberais, portanto, se alguém tem o cabelo
comprido e tatuagem, logo é mais liberal.
2. Heurística da disponibilidade (julgamento da frequência ou probabilidade de
um evento pela facilidade com que exemplos surgem à mente). Exemplos: a)
considera-se mais arriscado viajar de avião do que de carro porque acidentes
aéreos têm mais cobertura da mídia, mesmo que a frequência de acidentes
de carro seja muito maior. Disso resulta que os acidentes de avião ficam mais
acessíveis à memória; b) ao estimar o grau de violência em uma cidade, é
muito provável que as pessoas que passaram por algum evento relacionado
à violência urbana avaliem o risco de agressão como sendo mais intenso,
em comparação com aquelas que não tiveram nenhum tipo de experiência
negativa nesse sentido.
3. Heurística da ancoragem (uso de informações recentemente recebidas
como referência para a realização de estimativas ou para tomar decisões).
Exemplos: a) o preço inicial oferecido por um carro usado define o padrão
para o restante das negociações, de modo que os preços mais baixos do que
o inicial parecem mais razoáveis, embora ainda sejam mais altos do que o
carro realmente vale; b) digamos que o promotor de justiça questione os
jurados sobre a dosimetria da pena, baseando-se na heurística da ancoragem,
sugerindo uma estimativa de tempo para em seguida diminuir essa previsão:
“Os senhores jurados acham que o réu pegará 30 anos de prisão? Não! Serão
apenas 5”. Isso estimula a tendência dos jurados avaliarem que, frente aos
30 anos inicialmente propostos, 5 anos não é tanto tempo.
4. Heurística do afeto (tendência a construir crenças acerca do mundo, com
base em antipatias e simpatias) 6. Exemplos: a) pesquisas que apontam que
pessoas em estado de bom humor tendem a diminuir os riscos e aumentar
a previsão de benefícios nas suas decisões. Por outro lado, quando afetadas
por emoções negativas, a tendência é de que se concentrem nas possíveis
desvantagens da decisão, em detrimento dos possíveis benefícios; b)
quando o promotor de justiça se aproxima fisicamente dos jurados, visando
estabelecer um relacionamento positivo, ele busca proporcionar uma
resposta amistosa à sua pessoa, logo, também, à sua tese.

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A Psicologia do Tribunal do Júri

Em síntese, considerando o modelo dos dois sistemas de processamento


mental proposto por Kahneman (2011), bem como a frequência com que se recorre
às heurísticas, percebe-se que existem consideráveis lacunas teóricas e técnicas que
dificultam o processamento metódico e racional do que é apresentado em plenária.
Aumenta, assim, a tendência dos jurados se posicionarem e desempenharem suas
funções utilizando-se de artifícios como a substituição de questões complexas por
aquelas mais facilmente respondíveis (heurística). Nesse sentido, é necessário prestar
atenção aos possíveis erros e vieses buscando formas de minimizar esses efeitos.

2.2. RAPPORT E EMPATIA

Rapport é uma palavra de origem francesa (rapporter), que significa “trazer de


volta” ou “criar uma relação”. O conceito é originário da psicologia e designa a técnica
de criação de uma ligação de empatia com outra pessoa, para que a comunicação
ocorra com menos resistência.
O termo “empatia” deriva da palavra grega empatheia e contém vários significados
como: “paixão”, “ser muito afetado”, “entrar no sentimento” ou “habilidade de se
colocar no lugar dos outros”. No campo da psicologia, o conceito de empatia vem
evoluindo desde suas primeiras definições. Assim, em 1909, o estruturalista norte-
americano Titchener relacionava empatia à capacidade de conhecer a consciência de
outra pessoa, raciocinando de maneira análoga por meio de um processo de imitação
(SAMPAIO; CAMINO; ROAZZI, 2009).
A empatia pode ser compreendida como a capacidade de considerar e respeitar
os sentimentos alheios, de se colocar no lugar do outro ou vivenciar o que a outra
pessoa sentiria caso estivesse em situação e circunstância similar (SILVA, 2008).
Contudo, existe um intenso debate a respeito da seguinte questão: a empatia decorre
apenas de aspectos de ordem cognitiva, em termos de processamento da informação,
ou também de conteúdos afetivos mobilizados pela interação? Há autores que
defendem uma perspectiva puramente cognitivista. Estes acreditam que a empatia
reflete uma capacidade cognitiva de compreender os pensamentos, sentimentos ou
intenções de outras pessoas, mas que não necessariamente ocorre uma mobilização
afetiva do observador (SAMPAIO; CAMINO; ROAZZI, 2009).
Outras abordagens defendem que a empatia deve ser compreendida como um
construto multidimensional, sendo esta perspectiva considerada a mais coerente
para a compreensão do fenômeno, dado que estudos empíricos demonstram
as inter-relações entre componentes cognitivos e afetivos no desenvolvimento
da empatia. As críticas às concepções unidimensionais da empatia repousam no
argumento de que elas corresponderiam a uma visão restrita do construto, dado que
compartimentalizam experiências vicárias6 interpessoais em aspectos cognitivos e
afetivos, atribuindo importância apenas aos primeiros, como se os últimos fossem
unicamente produtos do processamento de informações ocorrido durante os episódios

6 Experiências vicárias: as pessoas constroem julgamentos acerca das próprias


capacidades por meio da observação de modelos (não físicos, mas sociais). Observar alguém
que o sujeito julga como semelhante executando determinada ação pode fazer com que esse
sujeito se sinta capaz de fazer o mesmo.

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A Psicologia do Tribunal do Júri

empáticos (SAMPAIO; CAMINO; ROAZZI, 2009). As perspectivas multidimensionais


para a compreensão da empatia são corroboradas pelos estudos de António Damásio
(2012), que, de certo modo, revoluciona a compreensão das relações da cognição e
das emoções. Ao apontar uma tendência histórica nas neurociências em relegar o
estudo das emoções a um segundo plano, Damásio (2012) desenvolve uma teoria das
emoções sob a perspectiva da ciência do cérebro, assim como suas implicações para
a tomada de decisão em geral.
A proposta inovadora em O erro de Descartes é que o
sistema de raciocínio evoluiu como uma extensão do sistema
emocional automático, com a emoção desempenhando vários
papéis no processo de raciocínio. Por exemplo, a emoção pode
dar mais relevo a determinada premissa e, assim, influenciar
a conclusão em favor dessa premissa. A emoção também
auxilia no processo de manter na mente os vários fatos que
precisam ser levados em consideração para chegarmos a
uma decisão (DAMÁSIO, 2012, p.10).

Assim, o próprio título do livro no qual o autor apresenta sua tese aponta
para o equívoco de se compreender essas duas esferas da experiência humana -
razão e emoção - como instâncias separadas e independentes entre si. Em “O erro
de Descartes”, a ideia principal é que a emoção é parte integrante do processo de
raciocínio, podendo inclusive auxiliá-lo, ao invés de perturbá-lo, como se costumava
supor.
Tendo por base estes estudos, ressalta-se também a importância dos aspectos
não-verbais no contexto do tribunal do júri, na medida em que a partir destes
elementos é possível sensibilizar os jurados para que acolham a tese da acusação.
E mais: o uso destes recursos emocionais pode favorecer a fixação da memória dos
jurados em dada informação ou argumentos apresentados e favorecer a sua evocação.
As relações entre emoção e razão mostram-se ainda mais complexas, se
observarmos estudos que consideram a existência de aspectos ideomotores no
fenômeno da empatia. A hipótese levantada a partir desses estudos é a de que, ao
observar os movimentos de outra pessoa, neurônios espelho localizados no córtex
sensorial poderiam ativar o córtex motor do observador, predispondo este último
a agir e a executar, inconscientemente, movimentos semelhantes ao da pessoa
observada. Por seu turno, a ativação do córtex motor teria o potencial de deixar o
observador apto a sentir emoções similares àquelas que produziram os mesmos
movimentos em seu interlocutor (SAMPAIO; CAMINO; ROAZZI, 2009).
Nesse sentido, a ressonância afetiva que ocorre durante os
episódios empáticos pode estar relacionada à capacidade
humana de reconhecer e imitar expressões faciais e gestuais
e aos mecanismos neurológicos subjacentes a essas
funções. (...) As expressões faciais não apenas retratariam
o tipo de emoção que está sendo vivenciado como também
influenciariam a maneira como a pessoa que as expressa
se sente, pois as emoções são intensificadas quando são

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A Psicologia do Tribunal do Júri

facialmente expressas e vice-versa. (SAMPAIO; CAMINO;


ROAZZI, 2009, p.219)

Por fim, um outro importante aspecto com aplicabilidade no âmbito do tribunal


do júri, é a relação entre a empatia e a cooperação.
Estudos indicam uma tendência dos seres humanos a cooperarem mais com
membros do grupo social ao qual pertencem e com pessoas que apresentam
características mais semelhantes a eles. Consequentemente, aponta-se uma
tendência à indiferença, ou mesmo hostilidade, com membros de outros grupos
sociais (MENDONÇA, 2019). A importância dessas concepções acerca dos processos
empáticos, da interdependência razão-emoção e dos fatores que permeiam a
cooperação entre sujeitos e grupos será explicitada na discussão dos dados coletados
nas entrevistas.

2.3. RETÓRICA E EMOÇÃO

“[...] o mais simples dos homens, que tem paixão, persuade


mais que o mais eloquente, que não a tem.”

(ROCHEFOUCAULD, 2014, p.12)

Os filósofos gregos denominavam com a palavra techné o que em latim foi


traduzido pela palavra ars. Nesse sentido, a palavra “arte” tem uma equivalência
com a palavra “técnica”, pois ambas dizem respeito a um modo de fazer algo. Assim
sendo, a retórica enquanto técnica constitui um conjunto de regras que afirmam um
modo de fazer, um modo de operar algo (modus operandi), qual seja, de falar com
eloquência, o que possibilita o entendimento e o convencimento.
Considerada uma arte, no sentido de ser uma técnica que deve ser dominada
com destreza, a retórica é o ato de falar bem, de convencer e de ser eloquente, de
modo a que o emissor da fala transmita ao receptor um sentido preciso, organizado,
consistente e, consequentemente, convincente.
De acordo com a visão aristotélica sobre a retórica, quando utilizada como
instrumento jurídico, a arte da eloquência pode ser adotada, inclusive, como um
meio de persuadir sem ter a razão, burlando assim a moralidade que um julgamento
deve conter. Essa situação evoca questionamentos éticos sobre quais os limites de
seu emprego. A retórica pode ser utilizada como um meio de transmitir uma boa
impressão e convencer o júri com base em uma artificiosa defesa, passando a ideia
de que o réu possui bons traços de caráter quando, por exemplo, isso não é verdade.
A retórica pode ou não estar de acordo com os fatos, pois, segundo Aristóteles
(384 a.C. - 322 a.C./2005), ela tem um fator criativo que dá ao emissor a capacidade
de elaborar sua própria visão e imprimir a sua intenção com o discurso. No entanto,
a retórica, segundo este filósofo grego, deve estar de acordo com as formulações da
lógica. Caso contrário, não é possível qualquer efeito de convencimento, pois sem a
forma lógica sequer pode-se ter entendimento daquilo que foi dito.
Enquanto “retórica” designa a arte de falar bem, de maneira eloquente e

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A Psicologia do Tribunal do Júri

precisa, com capacidade de convencer, a “oratória” significa falar em público. Falar


em público pode ter a mesma finalidade de falar bem, portanto os termos podem
manter associação entre si, porém, atualmente, não há uma correspondência direta
possível entre os dois.
Além disso, Aristóteles (2005) também fala sobre o papel das emoções, que são
os movimentos da alma, sempre acompanhados por graus variados de sofrimento ou
prazer, que afetam os homens, alterando seus julgamentos. Assim acontece quando os
indivíduos estão zangados, com pena de alguém, ou com medo. Uma vez que a forma
de pensar sobre algo pode ser afetada conforme a emoção do pensador, sentimentos
de bem estar e tolerância repercutem de uma maneira. Já sentimentos de irritação
e hostilidade repercutem em algo diferente. Segundo Aristóteles, quando as pessoas
têm sentimentos favoráveis ao sujeito que lhes é apresentado para julgamento, elas
o veem como autor de um mal pequeno, se tanto. Mas, quando têm sentimentos de
hostilidade, formam uma opinião oposta.
Aristóteles (2005), ainda, explica que as provas de persuasão fornecidas pelo
discurso são de três espécies: umas residem no caráter moral do orador; outras, no
modo como se dispõe o ouvinte; e outras, no próprio discurso, pelo que se demonstra
ou parece demonstrar.
Com base nessas ideias, há três espécies de provas (DAYOUB, 2004):
1. Ethos: possui aspecto afetivo e corresponde à impressão que o orador dá de
si mesmo por meio de seu discurso, e não de seu caráter real, entendendo
que se a pessoa for íntegra e inspirar confiança obterá a adesão da audiência.
2. Pathos: também possui aspecto afetivo e expressa a emoção que o orador
consegue imprimir na audiência, fator determinante na decisão destes
últimos.
3. Logos: possui aspecto racional e refere-se à argumentação propriamente
dita.

Entende-se, portanto, que ethos é o caráter que o orador deve assumir para
inspirar a confiança da audiência. Qualquer que seja seu argumento lógico, nada dele
resultará sem tal confiança. pathos, por seu turno, é constituído pelos sentimentos,
paixões e emoções que o orador, com seu discurso, busca despertar nos espectadores.
Assim sendo, se ethos refere-se à moral que o orador deve assumir, ou seja, a um
aspecto que diz respeito a si próprio, pathos enfatiza o “auditório” e, deste modo,
diz respeito ao caráter psicológico dos diferentes públicos aos quais o orador deve se
adaptar (DAYOUB, 2004).
Por fim, logos concerne à argumentação do discurso propriamente dito. Trata-se
do aspecto dialético da retórica.

3. METODOLOGIA

Realizou-se, no período de 14 de julho a 22 de setembro de 2020, entrevistas


semiestruturadas7 com membros do Ministério Público do Estado do Paraná

7 A entrevista semi estruturada consiste em um modelo de entrevista flexível. Ou seja,


ela possui um roteiro prévio, mas abre espaço para que o candidato e entrevistador façam

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A Psicologia do Tribunal do Júri

que atuam ou atuaram no âmbito de julgamento do tribunal do júri. Visou-se


compreender a construção dos diferentes modus operandi dos profissionais neste
contexto, bem como as principais estratégias por eles utilizadas8, no que diz respeito
à interlocução entre os campos do direito e da psicologia quando da preparação,
atuação e repercussão de suas sustentações em plenária, tendo em vista a sondagem
de possíveis contribuições da psicologia nesse contexto.
Cumpre destacar que a realização das entrevistas deu-se mediante a plataforma
digital Google Meet, em cumprimento às determinações sanitárias, frente ao cenário
da pandemia do COVID-19.
Em respeito ao sigilo e à confidencialidade das informações, as reuniões não
foram gravadas, ficando a compilação dos dados subordinada às anotações feitas
durante as entrevistas. De modo a garantir o anonimato dos participantes, todo o
material foi armazenado eletronicamente em pastas de acesso privativo.
Para o exame dos dados coletados, utilizou-se uma das técnicas concernentes
ao método de análise de conteúdo, intitulada de análise temática (ou por categorias),
da forma como é proposta por Bardin (1979).
Segundo a autora: “Fazer uma análise temática, consiste em descobrir os
‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de
aparição, podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido” (BARDIN,
1979, p. 105).
Ainda:
A importância de uma unidade de registro aumenta com a
frequência da aparição (...). A aparição de um item de sentido
ou de expressão, será tanto mais significativa - em relação
ao que procura atingir na descrição ou na interpretação da
realidade visada - quanto mais esta frequência se repetir
(BARDIN, 1979, p. 109).

A análise é dividida em três etapas principais, a saber: 1) pré-exploração do


material (ou leituras flutuantes); 2) seleção das unidades de análise; e 3) categorização
propriamente dita das informações. A análise de conteúdo e, especialmente, a análise
temática de conteúdo, tem por finalidade a produção de inferências sobre um texto
objetivo, o que, por sua vez, não significa somente propor suposições subliminares,
mas embasá-las com pressupostos teóricos de determinadas concepções de mundo
e com as situações concretas dos produtores ou receptores da mensagem (CAMPOS,
2004; ASSAD, 2020).
A análise temática das entrevistas permitiu a identificação dos principais
aspectos que caracterizam o trabalho desenvolvido no contexto do júri. Foi possível,
também, delinear os principais pontos de dificuldade e de defasagem apontados
pelos entrevistados em suas atuações, para os quais a ciência psicológica poderia

perguntas fora do que havia sido planejado.


8 Especialmente aquelas concernentes à aspectos metajurídicos, definidos pelo
dicionário Michaelis (2015), em sua versão online, como “condição jurídica excepcional, que
dificilmente se pode analisar com os recursos convencionais da jurisprudência”.

137
A Psicologia do Tribunal do Júri

trazer contribuições.

3.1. INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS

A entrevista realizada com membros da instituição que atuaram e/ou atuam


no âmbito do tribunal do júri compreendeu 13 questões abertas, que contemplaram
aspectos tais como: a formação dos profissionais; os conhecimentos necessários;
a concepção deste contexto específico de atuação; o modo de preparação para a
plenária; as estratégias e materiais comumente utilizados na sustentação oral; o
processo de escolha dos componentes do conselho de sentença; os desafios que
encontram em sua prática; os espaços que consideram oportunos para as contribuições
da psicologia (tanto no que se refere ao compartilhamento de conhecimentos, como
ao suporte direto ao trabalho do promotor de justiça). Ressalta-se que as entrevistas
aconteceram individualmente, em momentos separados com cada promotor de
justiça participante, tendo a duração média de duas horas. O roteiro de questões
encontra-se em anexo.

3.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Adotou-se como critérios de inclusão para a participação, na etapa de coleta


de dados, a atuação no âmbito do tribunal do júri (independentemente do número
de julgamentos), em algum momento de seu exercício profissional na instituição,
bem como o tempo de carreira (profissionais menos experientes, com experiência
intermediária, e com mais experiência) e a disponibilidade para responder às questões
propostas. Ao final de cada entrevista, solicitou-se ao entrevistado a sugestão de
nomes para a realização da atividade (técnica snowball)9.

3.3. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

Foram realizadas 10 (dez) entrevistas com membros do MPPR, lotados em


Curitiba ou no interior do Paraná. Destes, 5 (cinco) eram do sexo masculino e 5 (cinco)
eram do sexo feminino, conforme demonstrado nos gráficos nº 1, nº 2 e nº 3, a seguir.

9 Apesar de suas limitações, a amostragem em bola de neve pode ser útil para pesquisar
grupos difíceis de serem acessados ou estudados, bem como quando não há precisão sobre
sua quantidade. Além disso, esse tipo específico de amostragem também é útil para estudar
questões delicadas, de âmbito privado e, portanto, que requer o conhecimento das pessoas
pertencentes ao grupo ou reconhecidos por estas para localizar informantes para estudo.

138
A Psicologia do Tribunal do Júri

GRÁFICO Nº 1: Caracterização da Amostra por Titularidade

GRÁFICO Nº 2: Caracterização da Amostra por Entrância de Atuação

GRÁFICO Nº 3: Caracterização da Amostra por Sexo

139
A Psicologia do Tribunal do Júri

No que se refere ao tempo de atuação, a amostra foi composta por profissionais


com 1 (um) a 35 (trinta e cinco) anos de instituição, como se pode observar no gráfico
nº 4, contemplando histórico de júris que variaram de 1 (um) a centenas, conforme
relatado por alguns participantes.

GRÁFICO Nº 4: Caracterização da Amostra por Tempo de Ministério Público

Do total de entrevistados, 7 (sete) desenvolviam atividades no âmbito do


tribunal do júri no momento da pesquisa e 3 (três) atuaram por longos períodos, não
mais estando nessa atribuição quando entrevistados, em razão da movimentação da
carreira. A caracterização da amostra pode ser melhor observada no gráfico nº 5.

GRÁFICO Nº 5: Caracterização da Amostra por Atuação no Tribunal do Júri

140
A Psicologia do Tribunal do Júri

4. RESULTADOS

A análise das respostas das entrevistas permitiu identificar 6 (seis) principais


categorias de investigação, a fim de localizar e estruturar possíveis contribuições
da ciência psicológica para o trabalho realizado no contexto do tribunal do júri. Por
tratar-se de entrevistas semiestruturadas com perguntas abertas, alguns tópicos não
foram necessariamente abordados por todos os profissionais. Desse modo, em certas
categorias não se alcançou o percentual de 100% da amostra, seja na concordância,
seja na discordância de dado ponto de vista.

4.1. ESCOLHA DOS JURADOS

A despeito das particularidades de cada entrevistado, algumas falas apareceram


com maior frequência, no que se refere à temática da escolha dos jurados, a exemplo
de:
a. haver necessidade de cuidado na forma da recusa de um sorteado (30%
dos entrevistados);
b. a escolha realizada durante o rito assumir caráter intuitivo, sem
embasamento em informações concretas (60% dos entrevistados);
c. a referida escolha pautar-se, em dada medida, na observação do
comportamento dos jurados (40% dos entrevistados);
d. a escolha em questão apoiar-se no levantamento de informações a respeito
da formação destes (30% dos entrevistados).

Ademais, 50% dos profissionais referiram realizar pesquisa prévia sobre


características dos possíveis componentes do conselho de sentença, em contraposição
a 20% que afirmaram não realizá-la.
Quanto ao jurado tido como “predileto”, as respostas variaram. Elencou-se
como perfil desejado de jurado:
a. “aquele que condena” (sic);
b. “aquele que é justo” (sic);
c. “aquele que presta atenção” (sic) e
d. “aquele que é paciente e compreende o que está sendo julgado” (sic).

A inclusão de estudantes de direito, no conselho de sentença, foi avaliada como


positiva por 10% dos entrevistados, em contraposição a 30% que a avaliaram como
negativa. Esse raciocínio repousa no entendimento de que, a depender do histórico
de formação, o estudante pode se identificar mais com a defesa ou com a acusação.
Por fim, no que se refere ao estabelecimento de um determinado perfil de
jurado desejado para cada tipo de crime, diversos foram os exemplos mencionados
nas entrevistas, com destaque para a escolha de mulheres em julgamentos de
feminicídios (discurso que apareceu em 40% dos profissionais). Sobre esse dado é
importante ressaltar que, de acordo com os participantes, o perfil de jurado para os
casos de feminicídio foi identificado a partir da experiência de atuação.

141
A Psicologia do Tribunal do Júri

4.2. ESTRATÉGIAS UTILIZADAS

Foram com frequência mencionadas as seguintes estratégias recomendadas/


utilizadas pelos profissionais entrevistados, durante sua atuação em plenária:
a. observar os sinais e comportamentos dos jurados, seja em sua própria
sustentação, seja na sustentação da defesa, com o objetivo de dosar o tom e os
argumentos usados (60% dos entrevistados);
b. usar linguagem acessível aos jurados (50% dos entrevistados);
c. almoçar com os jurados (50% dos entrevistados);
d. entrar em contato com familiares da vítima para levantamento de
informações e cumprimentá-los em plenária (40% dos entrevistados);
e. usar jargões e frases de efeito (40% dos entrevistados);
f. manter postura coerente e natural (30% dos entrevistados);
g. explicitar a possibilidade do promotor de justiça pedir absolvição caso
entenda pertinente, o que aumenta a credibilidade do profissional e do Ministério
Público (30% dos entrevistados) e
h. manter a atenção plena em tudo o que acontece em plenária (30% dos
entrevistados).

Quanto ao desenvolvimento do modus operandi, 40% dos profissionais


mencionaram um exercício de refinamento empírico, ou seja, relataram ter aprendido
a validade das táticas apresentadas em sua própria prática, mediante erros e acertos.
Pequenas divergências apareceram no que se refere a:
a. a recomendação em falar o nome dos jurados, visando angariar a empatia
destes (30% dos profissionais recomendam e 10% não);
b. a realização de leituras, uso de músicas e apresentação de vídeos (40% dos
profissionais recomendam e 10% não) e
c. o uso de apartes durante o rito (10% dos profissionais recomendam e 20%
alegam evitar fazê-lo).

4.3. MATERIAIS UTILIZADOS

No que se refere aos materiais comumente utilizados pelos profissionais em


plenária, foram feitas menções a pastas entregues aos jurados, contendo documentos/
informativos impressos considerados relevantes (40% dos entrevistados) e o uso de
recursos audiovisuais tais como: fotos, vídeos, PowerPoint e gravação de depoimentos
(90% dos entrevistados).
O uso destes materiais foi relacionado a:
a. a melhor contextualização do caso,
b. o acesso dos distintos tipos de jurados (visuais, auditivos e/ou táteis) e
c. o caráter apelativo (emocional) e estratégico suscitado pela apresentação.

O que corrobora tal informação são os resultados alcançados por pesquisa


realizada pelo LAPJUR - MPPR na comarca de Cascavel, nos anos de 2019 e 2020,
cujos achados foram expostos no artigo “tribunal do júri na Percepção dos Jurados”.
Nesta pesquisa, 93,6% dos jurados interpelados afirmaram entender melhor a tese

142
A Psicologia do Tribunal do Júri

do promotor de justiça que utiliza recursos audiovisuais. Tal dado deixa evidente a
importância da utilização desses materiais em plenária, facilitando a compreensão
sobre o caso.

4.4. RÉPLICA E TRÉPLICA

A opinião dos profissionais quanto à réplica mostrou-se bastante dividida, ao


longo das entrevistas realizadas. Nesse sentido, 50% dos entrevistados alegaram
sempre ir para a réplica (“ir é a regra”) e, por seu turno, os outros 50% alegaram que
avaliam cada caso, indo para a réplica somente quando consideram necessário. A
despeito desta divergência, 40% dos entrevistados enfatizaram a necessidade de se
manterem calmos e respeitosos.
Um percentual de 30% dos promotores entrevistados apontou como negativa a
ausência da plenária, mesmo que momentânea, no momento da tréplica, enquanto
10% referiram terem feito isso, por se sentirem desconfortáveis em receber o “ataque”
incisivo dos advogados de defesa.
Além disso, 20% dos entrevistados alegaram que o uso de apartes durante a
sustentação da defesa pode, em alguns casos, vir a substituir a necessidade de ir
para a réplica, cumprindo a função de rebater algumas das teses dos advogados.
Geralmente, nesses casos, existe uma ênfase em aspectos cruciais do julgamento.
Ainda, apareceram opiniões a respeito do caráter decisório da réplica (em casos
considerados mais difíceis) e, por outro lado, o caráter estratégico de recusar realizá-
la em alguns julgamentos.

4.5. PREPARAÇÃO PARA O JÚRI

A maior parte dos entrevistados (60% deles) referiu utilizar roteiro para a sua
atuação em plenária, destacando os argumentos e pontos a serem abordados, na
sustentação oral. Apenas 10% alegaram não mais utilizar esse recurso de preparação,
em função de sua experiência.
Também foi recorrente a menção da importância de amplo conhecimento
por parte do promotor de justiça a respeito do processo em julgamento, através de
repetidas leituras (50% dos entrevistados). Ademais, 30% da amostra destacou como
importante a possibilidade de participação em todas as etapas do processo, desde
a fase de instrução. No entanto, segundo os entrevistados, dificilmente o mesmo
promotor atua em todas as etapas do processo e com isso há sempre um prejuízo em
relação à percepção do todo.
Ainda, 20% dos entrevistados destacaram a importância de se preparar não
apenas tecnicamente, mas também psicologicamente, e outros 20% expuseram o
desafio de melhor se preparar sem dispor de muito tempo, haja vista o acúmulo de
atribuições.

143
A Psicologia do Tribunal do Júri

4.6. A PSICOLOGIA NO ÂMBITO DO TRIBUNAL DO JÚRI

Apesar de diversificado, o discurso dos profissionais quanto às possíveis


contribuições da psicologia foi recorrente, nas seguintes sugestões:
a. ofertar preparação e suporte/acompanhamento psicológico ao promotor
de justiça (60% dos entrevistados);
b. favorecer maior adesão dos promotores de justiça ao trabalho
desempenhado nesse contexto (20% dos entrevistados);
c. contribuir com a formação dos promotores de justiça, especialmente no
que se refere aos conhecimentos extrajurídicos, tendo em vista a inexistência desses
aspectos em suas qualificações (40% entrevistados) e
d. acompanhar o trabalho do promotor de justiça, que geralmente atua
sozinho, especialmente em plenária (20% dos entrevistados).

No que tange às contribuições da psicologia, quanto à realização de pesquisas


a respeito dos jurados, ou estabelecimento de perfis de jurados para distintos casos,
50% dos entrevistados consideraram positivo esse campo de ação, mas 20% afirmaram
que não há necessidade de um trabalho neste sentido, porque vem sendo realizado
pelos assessores ou pelos próprios promotores de justiça.
Outras sugestões despontaram, no discurso dos entrevistados:
a. fornecimento de feedbacks ao promotor de justiça, após as sessões;
b. acompanhamento pós-júri das vítimas indiretas dos crimes cometidos
(desenvolvimento de fluxos junto à rede de atenção e proteção de cada município) e
c. participação na fase de instrução do processo.

5. DISCUSSÃO

5.1. COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA

“50% do júri está nos jurados”

“A natureza do júri reclama a qualidade dos jurados”

“Em plenária, a escolha é feita no osso do peito.


É como loteria”

“Quando os escolho, técnica zero aqui”

A escolha dos jurados para a formação do conselho de sentença configura


aspecto que baliza a atuação de promotores de justiça e advogados de defesa e
atravessa, inclusive, o resultado obtido nos julgamentos. Adquire para os operadores
do direito um caráter estratégico, como se pode perceber pelos excertos das
entrevistas retromencionados; porém, com significativas lacunas, tanto na técnica
quanto no embasamento das decisões. Cabe destacar que o termo “escolha” foi
aqui introduzido entre aspas, haja vista que se insere em um contexto marcado por
sorteio. Assim, dentre os vinte e cinco jurados convocados a comparecer em plenária,

144
A Psicologia do Tribunal do Júri

conforme determina o Código de Processo Penal em seu artigo 447 (SAMPAIO;


CAMINO; ROAZZI, 2009), somente sete irão compor o conselho de sentença. Ainda,
neste sorteio, prevê-se a possibilidade de realização de recusas de determinado
jurado para participar do rito.
No que tange às recusas, Lopes Júnior (2019) explica que elas podem se dar
de duas formas. Uma delas é a chamada “recusa motivada” que acontece quando o
jurado sorteado não está apto a assumir sua função no julgamento, seja por suspeição,
impedimento, incompatibilidade e/ou proibição, cabendo ao juiz que preside a sessão
decidir sobre a procedência ou não da alegação das partes. A segunda é conhecida
pelo nome de “recusa imotivada” e se limita, conforme o contido no Artigo 468 do
CPP, a 3 (três) para promotores e 3 (três) para advogados de defesa. Dá-se de forma
objetiva e definitiva, não requerendo fundamentação pelos agentes do direito que a
expressam. É sobre ela que se pretende tratar, na presente seção.
Partindo-se do princípio de que a particularidade dos julgamentos realizados no
âmbito do tribunal do júri reside no fato de que seu resultado é alcançado mediante
votação do conselho de sentença, estando esta condicionada à decisão dos jurados,
com base em sua íntima convicção10 quanto à culpabilidade ou inocência do réu,
levanta-se a seguinte questão: se os componentes do conselho de sentença são
os responsáveis, de acordo com a legislação vigente, pela emissão do veredicto de
determinado julgamento, a escolha dos jurados que integrarão este conselho poderia
ser vista como uma forma de participação dos promotores de justiça e defensores, nas
tomadas de decisão que levam ao resultado alcançado? Se sim, deslinda-se o caráter
estratégico atribuído a este momento do rito, mencionado por grande parte dos
entrevistados, dentre os quais destacam-se os primeiros dois excertos reproduzidos
anteriormente.
Desta forma, nas entrevistas realizadas, pôde-se observar a existência de certo
consenso quanto à potencial influência da composição do conselho de sentença, no
veredicto obtido em plenária. Foram identificados exemplos de perfis de jurados
tidos como preferidos a depender do tipo de crime em julgamento, pressupondo uma
tendência maior a adotar a tese apresentada pelo promotor de justiça. É o caso de: a)
mulheres em idade produtiva para os crimes de feminicídio; b) homens para crimes
mais técnicos, envolvendo armas; c) pessoas com perfil mais conservador para crimes
envolvendo tráfico etc.
Estes achados são corroborados pelos estudos empreendidos por Rangel (2012),
segundo os quais as partes em um julgamento normalmente consideram certos perfis
de jurado para recusá-lo. Refere, como exemplos: a) a jurada para quem o principal

10 Conforme apontado por Grazioli (2020), a escolha, sigilosa, realizada por cada jurado
componente do conselho de sentença no âmbito do Júri brasileiro baseia-se no sistema
de “íntima convicção”. Ou seja, no cenário nacional, não está prevista a necessidade de
fundamentação da decisão tomada pelos jurados frente aos julgamentos de crimes dolosos
contra a vida. Fato que, segundo Lopes Júnior (2019), abre espaço para que tais decisões,
tendo em vista as limitações próprias à estrutura do Júri, a exemplo do tempo de sessão e do
modelo de produção de provas, que vêm a se somar ao sistema de íntima convicção, estejam
assentadas em elementos que ultrapassam, e muito, as evidências e autos do processo em
questão. Em seus termos: “a íntima convicção, despida de qualquer fundamentação, permite
a imensa monstruosidade jurídica de ser julgado a partir de qualquer elemento” (LOPES
JÚNIOR, 2019, p. 1040).

145
A Psicologia do Tribunal do Júri

depoimento é o de mulher (tendência a desconfiar do testemunho); b) o jurado que


professa fé religiosa e para quem só Deus pode condenar (tendência a absolver); c)
o jurado que integra as Forças Armadas (tendência a condenar); d) o jurado idoso
que julga idoso (tendência a absolver por se identificar com o outro); e) o jurado
que estagiou no Ministério Público ou na Defensoria Pública enquanto cursou a
faculdade (tendência a acatar a tese da instituição que serviu de referência durante
sua formação); f) o jurado que tem parente condenado pela justiça (tendência a
absolver), ou que já foi vítima de algum tipo de crime (tendência a condenar) etc.
Acrescenta-se a estes exemplos o levantamento realizado por Assad (2020), em
pesquisa junto a advogados criminais de Curitiba/PR, a partir da qual constatou-se
que a recusa realizada por estes profissionais apoia-se em categorias tais como: a)
gênero; b) formação ideológica cultural do jurado; c) experiências anteriores; d) tipo
de crime em julgamento; e) perfil da pessoa em julgamento.
Ainda, de acordo com argumentação desenvolvida por Figueira (2007), seriam
razões importantes para a opção pela recusa de um jurado sorteado ao conselho de
sentença: a) o pedido feito pelo próprio sorteado (por razões de ordem pessoal); b) a
presença de juradas mulheres em crimes de feminicídio e/ou envolvendo crianças; c)
“não ir com a cara do jurado e/ou considerá-lo estranho, esquisito” (FIGUEIRA, 2007,
p. 127); e, para alguns promotores de justiça e defensores, d) possuir formação em
direito (tendência a adotar posturas demasiado críticas)11.
Tendo por base tais questões, convém ponderar-se que, por um lado, concebe-
se como estratégica a possibilidade de “escolha” pelas partes daqueles que comporão
o conselho de sentença em um julgamento, com vistas à obtenção de determinado
resultado, mas, por outro lado, despontam lacunas quanto à técnica e fundamentação
da “triagem” assim realizada. Tal fato foi verbalizado pelos entrevistados e
exemplificado pelos dois últimos excertos que inauguraram a presente seção.
No que se refere a estas lacunas, Assad (2020) destaca um dos achados de
sua pesquisa junto a advogados criminais, segundo a qual todos os entrevistados
teriam declarado utilizar, em alguma medida, a intuição (concebida pelo autor como
percepção subjetiva que tem por base as sensações do operador com relação ao
jurado) como instrumento de recusa frente ao sorteio realizado em plenária. Fato
também relatado por 60% dos componentes da amostra da pesquisa ora apresentada.
Além da referência intuitiva, também se destaca a busca de dados nas
redes sociais dos potenciais componentes do conselho de sentença convocados a
comparecer ao julgamento, como modo de conhecer melhor os jurados a partir de um
parâmetro mais concreto de informações, muito embora este meio não assegure de
forma confiável quem é de fato determinado jurado. O que se constata, é que existe
uma busca de pistas que possam auxiliar na definição dos jurados que participarão do
rito. Este segundo procedimento, cabe destacar, seria empreendido em um cenário

11 Cabe destacar que a última “razão” de que fala Figueira (2007), e que foi também
abordada em certa medida, pelos estudos de Rangel (2012), acima citados, apareceu de
maneira evidente durante a realização das entrevistas com os componentes da amostra da
pesquisa aqui apresentada. Nelas, despontaram opiniões divididas entre ver com bons olhos
a presença de estudantes de direito na formação do conselho de sentença (um entrevistado)
e não avaliar positivamente tal fato (três entrevistados).

146
A Psicologia do Tribunal do Júri

marcado, conforme aponta Lopes Júnior (2019), pela impossibilidade de realização de


entrevistas prévias com os jurados12, na qual tanto os promotores de justiça, quanto
os advogados de defesa poderiam, de modo fundamentado, e, inclusive, com o auxílio
de outros profissionais, traçar o perfil social, econômico e psicológico (ainda que de
forma superficial) dos cidadãos convocados ao rito.
Em resumo, na falta de informações precisas sobre os jurados e de conhecimentos
prévios consolidados, o que comumente se observa é a utilização da intuição, como
forma de contornar, mesmo que de maneira não totalmente eficaz, as lacunas
encontradas por ocasião da definição dos componentes do conselho de sentença. A
intuição é entendida como atividade empreendida pelo sistema 1, conforme modelo
proposto por Kahneman (2011), marcada por um processamento de dados que
ultrapassa a racionalidade consciente e caminha na direção da formação de crenças
e concepções de mundo que se validam conforme adquirem coerência para aquele
que as constrói.
Utiliza-se, então, das poucas informações disponíveis para tirar conclusões
a respeito dos jurados sorteados e decidir sobre o seu aceite ou recusa, sem que
se perca de vista a pretensão das partes de alcançar determinado resultado. Vale
salientar que, neste ponto, não apenas informações objetivas (formação, profissão,
idade, origem etc) são consideradas. Somam-se aqueles dados advindos de aspectos
comportamentais, da aparência, da expressão facial e da postura assumida pelos
potenciais componentes do conselho de sentença, no dia do julgamento.
Consoante a tal constatação, Rangel (2012) aponta que “um detalhe importante
a ser considerado no jurado para fins da recusa é seu modo de vestir e cuidar do
seu asseio pessoal e sua aparência física (...), levando as partes a identificarem uma
pessoa conservadora ou liberal” (p. 197). Consideração de base intuitiva que, apesar
de válida, pode levar a algumas conclusões precipitadas, pois, conforme ressalva
do autor, não há “matemática”. Em seus termos: “atrás de um homem tatuado e
cabeludo pode haver um conservador com as questões criminais” (RANGEL, 2012, p.
197). Nesse sentido, a máxima que diz que a “primeira impressão é a que fica” pode
induzir a erros.
O cenário do tribunal do júri é, assim, atravessado pelo cometimento de muitos
equívocos até o alcance de acertos, bem como pelo caráter de “loteria” atribuído
por alguns dos entrevistados à escolha dos componentes do conselho de sentença
nos julgamentos. De acordo com os entrevistados, esta escolha é marcada, pela
imprevisibilidade quanto ao efeito alcançado na maioria das vezes, assim como pelo
caráter predominantemente intuitivo - assentado em visões de mundo e crenças
construídas de forma singular ao longo da vida e da carreira dos promotores de justiça.
Assim, depreende-se que o percurso rumo à definição da composição do conselho
de sentença é permeado por obstáculos, atalhos e lacunas. A ausência de referências
técnico científicas que dêem suporte à decisão configura-se um desafio ao trabalho
do promotor do júri. Além disso, a recusa de um jurado em determinada sessão
pode repercutir no seu trabalho em outra situação de julgamento, numa ocasião em
que for aceito posteriormente. Desta forma, há que se assinalar preocupações e a

12 Situação que, diferentemente do que ocorre no território nacional, está prevista no


modelo americano de “julgamento pelos pares”.

147
A Psicologia do Tribunal do Júri

importância de pesquisas para se atenuar possíveis efeitos desfavoráveis à atuação


do tribuno.
Entende-se, no entanto, ser de fundamental importância conhecer os processos
decisórios e as influências que atravessam os jurados permanentemente, bem como
antever raciocínios intuitivos com vistas a, uma vez reconhecidos e nomeados, atenuar
sua interferência e a probabilidade dos erros.

5.2. ESTRATÉGIAS UTILIZADAS

“Vamos sacudir estes autos! Vamos botar mais lenha, na


fogueira da mentira”

“Sou técnico, mas boto o dedo na ferida também”

“Não com os olhos do amor nem do ódio, mas da Justiça”

“A exposição tem que ser natural, quanto mais mostra o


que é, mais efetiva”

“O jurado cheira artificialismo”

“Júri não é apenas jurídico, é também emoção”

“Sempre me policiava para utilizar uma linguagem bem


popular”

“Júri é mais do que técnica. É preparação, conhecimento do


processo, fiel aos fatos para não ser surpreendido”

“Para mim, o júri não é um jogo, não. A minha parte é ir lá e


apresentar aquilo do que me convenci”

“Comoção é tudo no júri (...). O júri é bem psicológico”

Ainda que tenham sido mencionadas diversas estratégias de atuação dos


promotores de justiça no tribunal do júri, é possível afirmar que, em última instância,
o objetivo é o mesmo: convencer os jurados de sua tese. Nesse sentido, embora uma
parcela dos entrevistados compreenda que sua atuação não visa o convencimento,
mas a apresentação de uma tese fundamentada em fatos que subsidiem a decisão do
jurado, subjacente a esta oferta há uma tese que convenceu o próprio tribuno.

5.2.1. EMOÇÃO E RAZÃO: ESTILOS DOS PROMOTORES DE JUSTIÇA

A análise dos discursos acessíveis por meio das entrevistas permitiu verificar
que há, basicamente, dois caminhos: uma via mais racional e técnica, e outra,
declaradamente, mais calcada na emoção. Restou evidente que o entendimento da
maioria dos entrevistados é de que a simples apresentação objetiva das provas não

148
A Psicologia do Tribunal do Júri

seria suficiente para que o conselho de sentença tomasse a decisão buscada pela
parte acusatória. Mesmo assim, foi possível detectar alguns “estilos” de atuação dos
entrevistados, em especial no que diz respeito à linguagem, discurso e comportamento
não verbal, os quais transitam dentro de um espectro que vai de um polo mais racional
até outro mais emocional, marcado fortemente por esforços de comoção dos jurados.
A escolha por uma argumentação mais técnica e objetiva, ou por um discurso
carregado de aspectos fortemente emotivos e alta carga de dramaticidade, parece
ter por base a concepção pessoal acerca do tribunal do júri e do que poderia
influenciar as decisões dos jurados. Assim, aqueles entrevistados que explicitaram
uma estratégia discursiva que mostra a prova como elemento principal sinalizaram,
também, o entendimento de que a Justiça deveria ser o mais “limpa” possível de
aspectos subjetivos e irracionais. Tal concepção é congruente com a sabedoria
popular acerca dos impactos da emoção nos nossos processos de tomada de decisão.
A ideia de “contar até dez’’ ou de “manter a cabeça fria” traz consigo a crença de que
as emoções não são boas conselheiras quanto a atitudes e julgamentos adequados ao
bom convívio em sociedade.
Contudo, Damásio (2012), baseado em estudos recentes das neurociências,
subverte essa lógica, por muito tempo aceita, sobre uma suposta interveniência
sempre negativa das emoções, nos processos de tomada de decisão. A sua principal
tese é a de que a emoção figura como parte integrante do processo de raciocínio,
podendo auxiliá-lo, ao invés de, necessariamente, perturbá-lo.
Com isso, o autor não está defendendo a concepção oposta, de valorização da
emoção em detrimento da cognição. Não se trata de um “siga seu coração”. Seus
estudos e pesquisas indicam que o processo de raciocínio depende da presença da
emoção e que esta pode ser vantajosa ou prejudicial, a depender das circunstâncias
da decisão e da história de quem decide (DAMÁSIO, 2012).
A atuação da maioria dos entrevistados parece permeada pela concepção da
relação antagônica entre razão e emoção. Mesmo aqueles que optam por estratégias
para a comoção dos jurados visam ao excitamento das emoções, em detrimento
do apego estrito à razão. No outro extremo do espectro, há aqueles cuja ideia
subjacente à atuação seria a de uma de certa “assepsia” do raciocínio, valendo-se
da argumentação técnico-jurídica com foco nas provas para obter o convencimento.
Parte dos entrevistados parece transitar de modo menos dicotômico e com maior
conforto entre razão e emoção. Na prática e de forma manifesta, o que se percebeu
são diferenças nos estilos dos profissionais, sendo que as estratégias são construídas
ao longo da carreira pela experiência pessoal, pela observação, pelo acesso a vídeos
e publicações e pelo relato das experiências dos seus pares.
De maneira exploratória, com respaldo na referência aristotélica, buscou-se
caracterizar os estilos de atuação dos promotores do júri entrevistados, conforme suas
narrativas. Esses padrões dão sinais da forma de atuação em plenária, evidenciando
aspectos de força e de vulnerabilidade no desempenho desses profissionais.

149
A Psicologia do Tribunal do Júri

TABELA Nº 1: Caracterização do estilo “logos” de atuação

ESTILO: LOGOS (TÉCNICO/RACIONAL)


(40% da amostra)
Descrição: a pergunta que melhor sustenta a atuação a partir do logos é: “Como você me prova o
que diz?” Prevalece, neste sentido, a apresentação de provas lógicas da verdade do que está sendo
dito, com uso de imagens, dados estatísticos, pesquisas científicas, jurisprudência e estudos de
caso. A postura adotada tende predominantemente à racionalidade.

Principais Estratégias¹: Principais Desafios²: “O júri 锳:

- Adoção de postura respeitosa e - Possibilitar o exercício “O júri é convencimento”


calma (controle do comportamento) da efetiva justiça (o réu (sic)
responde por seus atos
- Realizar uma boa análise da prova apesar das variáveis “O júri é preparação”
(atendo-se a aspectos técnico- como uso de tecnologias, (sic)
jurídicos na sustentação) manipulação dos jurados,
etc) “O júri é emoção. É um
- Seletividade na escolha de bicho de seis, não sete
testemunhas (reforço à tese da - Efetividade das informações cabeças” (sic)
promotoria) passadas aos jurados
(processamento correto da “O júri é difícil” (sic)
- Estudar a defesa (previsibilidade do informação pelos jurados)
comportamento e modus operandi)
- Formato impessoal
- Abordagem do caso de e impositivo do júri
forma coerente (viés racional, (necessidade de maior
encadeamento lógico e credibilidade) humanidade do processo)
- Demonstrar profissionalismo na - Participação em todas as
abordagem com o réu (na perspectiva etapas do processo (questão
de asseguramento de direitos) de ordem institucional)
- Manter a atenção plena e lançar - Domínio da retórica e
mão da elaboração de roteiros oratória
(controle e organização do espaço)
- Antecipar e informar os quesitos
(previsibilidade/sugestionamento do
resultado futuro)
- Transmitir orientações
- Seletividade na escolha dos jurados
(triagem que favoreça a promotoria)
Possibilidades de aprimoramento: desenvolvimento da performance emocional, em equilíbrio
àquela de caráter mais técnico, já bastante utilizada; e refinamento da leitura dos jurados em seus
aspectos não-verbais frente à sustentação do profissional.

¹ Principais estratégias: recursos discursivos, comportamentais e materiais mais


utilizados conforme informações fornecidas pelos entrevistados.
² Principais desafios: dificuldades referidas pelos entrevistados com relação ao
desempenho do trabalho no tribunal do júri.
³ “O júri é”: resposta fornecida pelos entrevistados à solicitação de resumir o trabalho
no tribunal do júri em apenas uma palavra.

150
A Psicologia do Tribunal do Júri

TABELA Nº 2: Caracterização do estilo “pathos” de atuação

ESTILO: PATHOS (PASSIONAL/PERFORMÁTICO)


(50% da amostra)
Descrição: a pergunta que melhor sustenta a atuação a partir do pathos é: Como você me faz
sentir? Prevalece, neste sentido, a postura empática e de vulnerabilidade frente ao que está sendo
apresentado. Expressa a emoção que o orador consegue imprimir no auditório. O apelo emocional,
e o uso de recursos tais como storytelling são bastante comuns.

Principais Estratégias: Principais Desafios: “O júri é”:


- Aprender na prática (exercício de - Duração extensa de alguns “O júri é um processo
refinamento empírico/capacidade júris diferenciado. É também
de realizar leitura do ambiente e emoção” (sic)
jurados) - Falta de respeito e apoio aos
profissionais “O júri é encantador” (sic)
- Chamar os jurados pelo nome
(rapport) - Falta de tempo para a “O júri é uma coleção
preparação e lacunas na de retóricas; É emoção;
- Não deixar nenhum argumento formação Envolve razão e emoção”
da defesa sem resposta (esforço (sic)
argumentativo) - Dificuldade de obtenção
de maiores informações a “O júri é democracia” (sic)
- Olhar para os jurados enquanto a respeito dos jurados
defesa fala (rapport) “O júri é criação de
- Resistência ao trabalho fórmulas próprias” (sic)
- Traduzir ao jurado a leitura do do júri dentro da própria
comportamento do réu (manejo da instituição (temor à
empatia dos jurados) exposição)
- Utilizar de recursos que impactem - Necessidade de resgatar
os jurados (letras de música, o valor do serviço público
declamação, impostação de voz, republicano
choro, etc)
- Elitização do Ministério
- Usar jargões populares e frases Público
de efeito (utilização de linguagem
acessível)
- Quando possível, trazer a família
da vítima para o julgamento
(manejo da empatia dos jurados)
- Conceder maior ênfase à história
a que se refere o processo (recurso
storytelling)
- Fazer uso de apartes (recurso
dramático e estratégico)
- Exploração de recursos
audiovisuais sensibilizadores
- Traje e demais aspectos físicos
são estrategicamente selecionados
(Dress code e outras estratégias de
imagem)
Possibilidades de aprimoramento: refinamento de performance técnica, com foco nas provas
concretas e dados técnicos dos autos, em equilíbrio ao caráter passional da sustentação geralmente
realizada pelos profissionais, visando alcançar os distintos perfis de jurados na plenária.

151
A Psicologia do Tribunal do Júri

TABELA Nº 3: Caracterização do estilo “Ethos” de atuação

ESTILO: ETHOS (CRÍVEL/IDENTIFICAÇÃO COM O PÚBLICO)


(10% da amostra)
Descrição: a pergunta que melhor sustenta a atuação a partir do ethos é: Por que eu devo acreditar
em você? Geralmente, esta questão está intimamente associada à posição e credibilidade daquele
que apresenta os argumentos, bem como ao caráter que o orador deve assumir para inspirar
confiança no auditório. Alto valor é dado, neste sentido, ao depoimento testemunhal, ao histórico,
à ideologia e aos valores em jogo.
Principais Estratégias: Principais Desafios: “O júri é”:
- Atuação baseada em conhecimento - Defasagem quanto à “O júri é empatia. Não é
empírico (erro e acerto) preparação para o Júri dos só técnica” (sic)
promotores em relação aos
- Tendência a uma imersão na advogados de defesa (bancas
comunidade (pertencimento à de defesa)
localidade de atuação)
- Trabalho solitário (ausência
- Estabelecer contato com os de equipe de apoio)
jurados em intervalos e almoço
(aproximação personalizada) - Desgaste emocional (doação
extrema ao trabalho/sustentar
- Cumprimentar e assumir postura uma posição de confiança
educada com o acusado e com social)
as famílias das partes (rapport e
empatia)
- Repetir algumas expressões
(perseveração da temática com
objetivo de fixação)
- Tomar notas em plenária
(demonstrar presença e atenção)
- Conhecer bem o processo
(transmitir confiança, o que diz é
pautado no conhecimento)
- Quando julgar pertinente, pedir
absolvição (demonstração de
confiabilidade, visto que não está ali
apenas para propor a condenação)
Possibilidades de aprimoramento: equilibrar esta estratégia técnica com a desenvoltura emocional
na plenária e com uma melhor exploração dos recursos argumentativos.

152
A Psicologia do Tribunal do Júri

5.2.2. EMPATIA E COOPERAÇÃO

“Após 32 dias de julgamento dá para marcar um churrasco


com os jurados… Eles, após tanto tempo, podem passar a
admirar o réu, a roupa etc… Não deve demorar tanto… Pode
prejudicar o trabalho do júri”.

Todos os entrevistados, independentemente de seu estilo, demonstraram


perceber o poder das emoções nos processos de tomada de decisão dos jurados,
levando-os a investir nesses aspectos, seja de forma mais sistematizada e planejada,
seja de forma mais intuitiva.
Compreende-se que o movimento inicial do promotor na plenária é estabelecer
um rapport, ou seja criar um vínculo positivo com os componentes do conselho de
sentença. Desta forma, criam-se as bases para que aquilo que ele diz seja acolhido. A
partir daí, abre-se a possibilidade de que, ao discorrer sobre a condição daquele que
sofreu as consequências do crime, o promotor de justiça crie uma atmosfera favorável
para a construção de um sentimento de empatia dos jurados com relação à vítima.
Assim, ainda que não seja um fim explícito ou até mesmo consciente, o movimento
dos entrevistados é primordialmente no sentido de provocar um sentimento de
empatia nos jurados. Um deles, ao ser solicitado a resumir o trabalho desempenhado
no tribunal do júri em uma palavra, respondeu com o termo “empatia”. Esse processo
de “conquista” dos jurados mostra-se ainda mais complexo, na medida em que se
percebe que envolve um interjogo entre obter a vinculação deles para que fiquem
receptivos à tese apresentada e, ao mesmo tempo, desenvolvam a empatia em
relação à figura da vítima.
Tendo em vista as diferentes concepções no campo da psicologia acerca do
fenômeno da empatia, observou-se que a atuação dos promotores de justiça que
dão maior ênfase à técnica e à racionalidade parece permeada por uma perspectiva
unidimensional, segundo o qual a empatia seria uma capacidade essencialmente
cognitiva, sendo que a provocação de emoções nos jurados decorreria apenas de
um epifenômeno dessa tomada de perspectiva do outro. Nesse sentido, a estratégia
de atuação não repousa fortemente em comportamentos não-verbais de caráter
dramático, mas na argumentação lógica focada nos fatos e provas, as quais deveriam
ser suficientes para provocar a empatia dos jurados.
Outro grupo de entrevistados mostrou-se em maior consonância com uma
perspectiva multidimensional da empatia, segundo a qual tanto fatores cognitivos e
racionais, quanto fatores emocionais se combinam na emergência da relação empática
entre sujeitos. Neste grupo, observou-se que sua atuação fundamentava-se fortemente
na tentativa de comoção dos jurados por meio de expressões faciais, corporais, tom
de voz e dramaticidade. Tal estratégia é corroborada pelos estudos da psicologia
evolutiva, segundo a qual o cérebro humano dispõe de estruturas que detectam e
ativam o comportamento do observador, que passa a imitar inconscientemente
a pessoa observada. Além disso, há pesquisas que apontam que um determinado
comportamento produz sentimentos condizentes com as expressões faciais emitidas,
ainda que essa emissão seja voluntária e intencional (SAMPAIO; CAMINO; ROAZZI,

153
A Psicologia do Tribunal do Júri

2009). Por exemplo, ao acionar-se os conjuntos de músculos faciais que expressam


alegria (sorriso), aumenta-se a probabilidade de se experimentar efetivamente essa
emoção, ainda que não haja motivos para isso.
Trata-se, portanto, de uma aposta em uma espécie de efeito cascata, onde
o promotor de justiça expressa intencionalmente uma emoção por meio dos
músculos da face e/ou de seu corpo, os jurados respondem comportamentalmente
a essa expressividade, imitando-a inconscientemente, e esta, por sua vez, ativa
mecanismos neurológicos que eliciam emoções equivalentes nos próprios jurados.
Tais intervenções também são chamadas de espelhamento ou práticas isomórficas
e suscitam uma aproximação e impressão favoráveis em relação a quem se espelha.
É assim, portanto, que as estratégias comportamentais despertam a empatia, nos
membros do conselho de sentença.
Outro aspecto importante sinalizado pelos entrevistados ao abordarem suas
estratégias de atuação pode ser compreendido como a relação entre empatia e
cooperação. No tribunal do júri, o que tanto a defesa quanto a acusação buscam,
em última instância, é a cooperação dos jurados para o alcance de seus objetivos,
fundamentados cada qual na sua convicção (culpa ou inocência). Conforme visto
anteriormente, a empatia diz respeito a uma aproximação entre duas ou mais
subjetividades, de modo que os estados emocionais sejam, de alguma forma,
compartilhados. Esse esforço por condições altamente empáticas, as quais se busca
no trabalho do júri, coaduna-se com as evidências trazidas pela psicologia evolutiva.
Segundo essa teoria, um indivíduo coopera mais com membros de um mesmo grupo
social e com pessoas que apresentam características semelhantes às daquele de
quem se espera a cooperação. Por outro lado, tende-se a ser indiferente ou mesmo
hostil com membros de outros grupos sociais (MENDONÇA, 2019).
Foi nesse sentido que uma das entrevistadas construiu sua argumentação, num
caso em que a vítima assassinada era uma prostituta. Em sua estratégia discursiva,
optou por colocar-se como alguém semelhante à vítima, alegando ser mulher como ela
e experienciar as mesmas necessidades físicas e psicológicas. Após essa aproximação
subjetiva e, de certo modo, colocando-se no lugar da vítima, perguntou aos jurados:
“e então, eu mereço morrer?”. Assim, ao perceber que os jurados, provavelmente,
dispunham de poucos traços identificatórios com a vítima - ou seja, não faziam parte
de um mesmo grupo social -, a promotora utilizou sua própria identidade para fazer
essa aproximação, de modo a promover uma cooperação com a sua tese.
Nesse aspecto, observou-se inovação por parte da referida profissional, que
conseguiu perceber a importância de subverter a posição da vítima, tendo em vista
seu histórico de prostituição, o que a situa à margem da sociedade, cuja vida tende a
ser desvalorizada no imaginário social. Nas palavras de um dos entrevistados “vidas
que não importam” (sic); “vidas que não contam” (sic). De maneira muito profissional,
a promotora de justiça conseguiu “emprestar” o seu corpo e sua feminilidade à vítima,
despertando, assim, uma “identificação por procuração”. Os efeitos de tal intervenção,
sem dúvida, mostraram-se poderosos para a obtenção do veredicto favorável.
Nota-se uma importante - ainda que aparentemente sutil - diferença na estratégia
utilizada por outro entrevistado. Diante de uma tática de destruição da reputação da
vítima por parte da defesa, o entrevistado referiu ter optado pelo argumento de que
reconhecia que a vítima podia mesmo ser uma pessoa “má”; porém, ainda assim,

154
A Psicologia do Tribunal do Júri

não merecia ter sofrido o que sofrera. Trata-se, evidentemente, de uma tentativa de
provocar a empatia dos jurados pela via da compaixão. Contudo, acabou por reforçar a
ideia de que aquela vítima não pertencia ao mesmo grupo social dos jurados - o grupo
dos “bons” -, contribuindo para diminuir, desta forma, as chances de cooperação dos
componentes do júri para com a vítima. Assim, se no primeiro exemplo é promovida
uma aproximação subjetiva entre jurados e a vítima, neste segundo, ainda que a
intenção seja a mesma, o argumento utilizado culmina numa separação: o grupo dos
bons (promotor de justiça e jurados) e o grupo dos maus (vítima).
Ainda com relação à busca pela comoção e cooperação dos jurados, destaca-se
uma observação realizada por um dos entrevistados quanto à utilização de recursos
como leitura de poemas, trechos literários, citações de filósofos, etc: “às vezes, ler
uma poesia ou citar um livro só serve para mostrar um conhecimento a que os jurados
não tiveram acesso, e isso pode ser um tiro no pé, pois os afasta”.
Pela perspectiva apresentada acerca do papel da empatia na cooperação, é
possível que, da mesma forma que na situação anteriormente apresentada, este
método acabe por afastar do promotor de justiça, se não todos, ao menos parte dos
jurados. Isso porque a demonstração de muita erudição pode ter como resultado
a percepção por parte dos componentes do conselho de sentença de que aquele
operador do direito não faz parte do seu grupo social. A situação pode se agravar, caso
os jurados tenham traços de identificação com o réu, reconhecendo-se pertencentes
mais ao grupo social deste do que daquele que pede sua condenação. Desta forma,
assinala-se o caráter fundamental de se analisar o material que será apresentado e a
composição do conselho de sentença, visando dirimir efeitos indesejados.
Uma outra versão dessa mesma estratégia - provocar a percepção de que o
promotor de justiça faz parte do mesmo grupo social dos jurados - pôde ser verificada
nos relatos de outro entrevistado. Ao expor a sua própria história, compartilhando
em plenária que seu bisavô fora assassinado, destacou uma fala que sempre ouviu
de seu avô: “a pior sensação era andar na cidade com o assassino de seu pai solto;
encontrar com ele na rua, no mercado (...) saber que ele nunca foi punido.” Com este
relato, ainda que de forma inconsciente, cria-se uma proximidade afetiva.
Estratégias como essas podem ultrapassar o desempenho do promotor de
justiça na plenária, como demonstra outro entrevistado ao falar da importância da
percepção de pertencimento à comunidade onde atua. Segundo ele, isso seria ainda
mais importante em comarcas menores, onde a vida comunitária costuma ser mais
evidente: “enquanto o promotor não atualizar o título (eleitoral) e nem a placa do
carro, não se inseriu.” Refere-se, portanto, à mensagem enviada pelo promotor de
justiça à comunidade na qual se insere, em contextos além do momento do júri, o
que se evidencia na seguinte declaração: “sejam desarmados em relação a pertencer
à sociedade em que está representando a justiça.”

155
A Psicologia do Tribunal do Júri

5.2.3. OBSERVAÇÃO DO COMPORTAMENTO NÃO VERBAL DOS JURADOS

“Precisa sentir o jurado”

“Estou olhando para os jurados o tempo todo, o


comportamento não verbal, se verifiquei que houve empatia
com minha tese e a defesa é tratada com desinteresse, não
preciso retornar.”

Outra estratégia referida por grande parte dos entrevistados diz respeito à
observação constante dos comportamentos não-verbais emitidos pelos membros
do conselho de sentença. Foi praticamente unânime o entendimento de que o
acompanhamento de postura física, expressões faciais e movimentos corporais
fornecem importantes indícios quanto à receptividade ou rejeição das teses
apresentadas, tanto da parte da acusação quanto da defesa.
Nesse sentido, um entrevistado salientou que algumas posturas podem
representar determinadas disposições mentais dos jurados, relacionando, por
exemplo, “braços cruzados” com “estar fechado para a fala” (sic); e “mãos no queixo”
com a ideia de que “o jurado está pensando, analisando o seu discurso” (sic).
Tendo em vista a frequência com que esse recurso apareceu nos discursos
dos entrevistados, verificou-se a importância de um aprimoramento da capacidade
de realização de leituras de comportamentos não-verbais, fundamentadas em
conhecimento científico, dado que os entrevistados referiram basear-se principalmente
em intuição e experiências pessoais, no uso dessa estratégia.

5.3. AS POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA NO TRIBUNAL DO JÚRI

No que tange às possíveis contribuições da psicologia ao trabalho dos promotores


de justiça que atuam no tribunal do júri, parte dos profissionais apresentou demandas
relacionadas ao suporte emocional para a atuação em plenária.
Por outro lado, é inegável que o promotor do júri, ao lidar diariamente com
crimes contra a vida e a natureza violenta desses crimes, acaba sofrendo grande
impacto emocional. Desta feita, é compreensível a demanda que se desenha a partir
das entrevistas para um trabalho de suporte psicológico desses profissionais. No
entanto, é importante esclarecer que tais intervenções, via de regra, demandam
tempo, sigilo e vinculação para sua maior efetividade.
É possível se pensar a criação de um espaço/serviço institucional de
atendimento e suporte psicológico pré e pós-júri voltado a esses profissionais. Um
dos entrevistados, por exemplo, relatou um caso de grande repercussão nacional em
que uma criança teria sido assassinada num suposto ritual espiritual. Relembrou que,
na época, seu filho tinha idade aproximada à da vítima e assinalou o quanto se sentia
afetado pela violência e crueldade do crime. Assim, há que se compreender que
cada profissional possui questões próprias de sua história pessoal e subjetividade,
podendo ser afetado de diferentes maneiras pelo caso em que está trabalhando.
Mostra-se, portanto, fundamental que situações específicas do caso sejam abordadas
com vistas ao seu fortalecimento emocional, o que terá repercussões positivas em

156
A Psicologia do Tribunal do Júri

sua atuação profissional. Outro aspecto apontado foi a contribuição da psicologia no


processo de qualificação do promotor de justiça, especialmente frente aos necessários
conhecimentos extrajurídicos para a plenária. Vislumbra-se uma efetiva possibilidade
de contribuição científica da psicologia em temas que pertencem ao seu domínio,
tais como: funcionamento da memória, estabelecimento de rapport, aspectos do
comportamento, comunicação verbal e não-verbal, emoções, cognição e tomada de
decisão.
Despontaram, ainda: a) o interesse pela pesquisa a respeito dos jurados e/ou
o estabelecimento de perfis de jurados para casos distintos, de maior interesse para
o julgamento de determinados crimes; b) fornecimento de feedbacks ao promotor
de justiça, no pós-júri; c) acompanhamento pós-júri das vítimas indiretas dos crimes
cometidos; d) construção e acompanhamento de fluxos específicos para os familiares
das vítimas, junto às redes de atendimento; e) participação na fase de instrução do
processo.
Nos últimos anos, a área de investigação neurocientífica tem alcançado avanços
significativos. Por exemplo, estudos de evidências visuais mostram efeitos diretos
dessas informações como fontes de emoção. Bright e Goodman-Delahunty (2006)
descobriram que mostrar a jurados simulados fotos horríveis da cena do crime os
deixava mais furiosos com o réu, o que, por sua vez, os tornava mais propensos a
condenar. Outra descoberta é que as pessoas que estão com raiva devido a fontes
de emoção incidentais tendem a culpar mais (para revisão, ver LERNER & TIEDENS,
2006). Outro estudo, de Lerner et al. (1998), descobriu que os participantes que
assistiram a um videoclipe que provocou raiva e, em seguida, leram várias vinhetas
de casos de acidentes culparam os réus que causaram os ferimentos mais do que os
participantes que assistiram a um vídeo neutro de emoção (ASK & PINA, 2011). Um
desses estudos revelou que mesmo quando as pessoas estão cientes de que a fonte
incidental de seu estado emocional não tem nada a ver com o alvo do julgamento,
a emoção continua a afetar seus julgamentos (LOEWENSTEIN & LERNER, 2003). Tais
estudos, com a reserva de utilização ética, podem colaborar para o fortalecimento do
trabalho na seara criminal, especialmente no júri.
Desta forma, conforme Feigenson (2016), identificar os caminhos da influência
emocional (se as emoções afetam os julgamentos direta ou indiretamente), por meio de
características específicas de casos ou conforme conteúdos presentes na informação,
são temáticas fortemente relacionadas ao trabalho do júri. Além disso, compreender
se algumas emoções podem levar a uma reduzida capacidade do processamento de
informações ou se as influências emocionais, quando indesejadas, podem ser passíveis
de correção, constituem-se em um campo fértil para a compreensão psicológica das
dinâmicas do júri.
Observa-se, portanto, a existência de uma demanda latente pelo auxílio do
profissional de psicologia no assessoramento ao trabalho do promotor de justiça que
atua no tribunal do júri, visando seu aperfeiçoamento.

157
A Psicologia do Tribunal do Júri

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo trata da primeira etapa do projeto LAPJUR - Laboratório


de Psicologia Jurídica do MPPR, que tem por escopo desenvolver estratégias e
ferramentas de assessoramento técnico para a atuação do promotor de justiça, no
âmbito criminal.
Ressalta-se que o referido projeto é composto por diversas etapas, cujos objetivos
vão desde o reconhecimento e a análise do contexto até intervenções propriamente
ditas. A primeira delas consistiu na realização de atividades essencialmente
exploratórias, visando a detecção de possibilidades de contribuição da psicologia
para este campo específico do direito.
Desse modo, as entrevistas realizadas viabilizaram a aproximação com o
trabalho no tribunal do júri sob a perspectiva dos próprios promotores de justiça.
As problemáticas abordadas pelos tribunos permitiram constatar que se trata de um
trabalho de grande complexidade.
No que se refere às estratégias utilizadas em plenária, um dos aspectos
evidenciados nos discursos dos entrevistados foi a relação entre razão e emoção,
bem como o peso que lhes é dado durante a argumentação em plenária. Interessante
assinalar que, embora grande parte dos entrevistados tenha apresentado uma visão
até certo ponto dicotômica acerca dos conceitos de razão e emoção, os estudos
psicológicos demonstram que não são indissociáveis e muito menos antagônicos,
ficando evidente a importância de que tais aspectos sejam levados em consideração
antes, durante e depois dos julgamentos.
A composição do conselho de sentença foi outro aspecto destacado, em
razão de sua frequência de aparecimento na fala dos entrevistados. Os critérios de
seletividade dos jurados são diversos e, raramente, científicos, sendo esta uma tarefa
desafiadora para os tribunos, especialmente quando inúmeros estudos mostram a
importância e o caráter decisivo que o investimento nesta etapa do rito pode assumir
para o resultado do julgamento. Observou-se que grande parte dos entrevistados
compartilha a suposição de que, conforme o crime cometido, pode existir um perfil de
jurado mais adequado. Entretanto, evidenciou-se que tal hipótese assenta-se, muitas
vezes, em experiências pessoais e não em evidências científicas, fato que indica a
existência de lacunas de conhecimento sobre esse tópico, bem como a necessidade
de se investir em pesquisas.
Os discursos dos entrevistados permitiram a proposição de três estilos básicos
de atuação em plenária, fundamentados na concepção aristotélica acerca dos três
pilares de uma narrativa persuasiva - ethos, pathos e logos. Assim, buscou-se identificar
a tendência principal de cada entrevistado, sem prejuízo de que características
relativas aos outros estilos também se mostrassem presentes. Procurou-se, através
destes estilos, detectar aspectos de força e vulnerabilidade presentes na atuação dos
promotores de justiça, bem como propor possibilidades de aprimoramento rumo à
excelência. Uma vez que se evidenciou o não antagonismo entre a razão e a emoção,
o promotor de justiça com atuação pautada, em sua maior parte, na racionalidade
poderia beneficiar-se de um maior domínio dos aspectos emocionais, e vice-versa.
No que se refere às possibilidades de contribuição da psicologia no contexto
do tribunal do júri, as entrevistas com membros do Ministério Público permitiram

158
A Psicologia do Tribunal do Júri

vislumbrar oportunidades no vasto campo de aplicabilidade desse conhecimento,


seja em função de lacunas identificadas pelos próprios profissionais quanto à sua
formação e aos desafios da atuação em plenária, seja no sentido de complementar
ou fundamentar com embasamento científico o saber construído pelos tribunos em
sua práxis cotidiana.
Apareceram de forma recorrente, nas falas dos entrevistados: a) o interesse pela
pesquisa a respeito dos jurados, visando o estabelecimento dos perfis requeridos
pelo tipo de crime cometido; b) o interesse pela recepção de feedbacks da equipe de
psicologia no pós-júri; c) a necessidade da construção e acompanhamento de fluxos
específicos junto às redes de atendimento para os familiares das vítimas, no pós-júri; d)
a importância da participação de psicólogos, na fase de instrução do processo (análise
da credibilidade dos testemunhos, autópsia psicológica, perfilamento criminal etc).
Ressalta-se que parte dos profissionais apresentou demandas relacionadas
ao suporte emocional para a plenária. Cumpre destacar que tais demandas são
justificáveis. Por outro lado, surgiu a questão da viabilidade e dos limites de alcance do
projeto, posto que extrapolam a proposta de assessoramento técnico especializado
aqui delineada.
Com clareza, percebe-se uma efetiva possibilidade de contribuição científica
da psicologia, concernente aos aspectos que pertencem ao seu domínio de
conhecimento, tais como: processo de tomada de decisão, funcionamento da
memória, estabelecimento de rapport, aspectos do comportamento, comunicação
verbal e não-verbal, empatia e cooperação. Entende-se que, neste sentido, o trabalho
do psicólogo pode ser relevante para auxiliar na consecução da finalidade institucional
de efetivo cumprimento da Justiça.

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A Psicologia do Tribunal do Júri

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A Psicologia do Tribunal do Júri

ANEXO 1: Roteiro de Entrevista com Membros do MPPR

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A Psicologia do Tribunal do Júri

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