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Caracterização e controle do concreto com fibras para obras de infraestrutura


com ensaio de tração indireta

Conference Paper · October 2019

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Ludmily Silva Pereira Renata Monte


USP University of São Paulo
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Luís A.G. Bitencourt Jr. Antonio D. Figueiredo


University of São Paulo University of São Paulo
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Caracterização e controle do concreto com fibras para obras de
infraestrutura com ensaio de tração indireta
Characterization and control of fiber reinforced concrete for infrastructure construction
using indirect tensile test

Ludmily da Silva Pereira (1); Renata Monte (2); Luís Antônio Guimarães Bitencourt Júnior (3);
Antônio Domingues de Figueiredo (4)

(1) Mestranda, Depto. de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Universidade de São Paulo


(2) Doutora, Depto. de Engenharia de Construção Civil, Universidade de São Paulo
(3) Professor Doutor, Depto. de Engenharia de Estruturas e Geotécnica, Universidade de São Paulo
(4) Professor Associado, Depto. de Engenharia de Construção Civil, Universidade de São Paulo
Av. Prof. Almeida Prado, trav. do Biênio, 83. Cidade Universitária, 05508-900, São Paulo-SP, Brasil

Resumo
Geralmente, a caracterização do comportamento mecânico do concreto reforçado com fibras (CRF) é
realizada com ensaios de flexão em vigas. Como alternativa, ensaios indiretos têm sido propostos, tendo por
exemplo o ensaio de duplo puncionamento e o Double Edge Wedge Splitting test (DEWS). No ensaio DEWS
é aplicado um esforço de compressão em corpos de prova que possuem cortes triangulares com 45° de
inclinação e entalhes no topo e na base, induzindo uma fratura de tração pura (Modo I). A execução desses
cortes não é simples, principalmente pela necessidade de se manter um perfeito paralelismo entre as faces.
Além disso os ensaios DEWS são realizados com o uso de mais de um transdutor de deslocamento para a
medida da abertura de fissura. Neste contexto, um programa experimental foi realizado para avaliar
modificações no ensaio DEWS e seus efeitos sobre a caracterização do comportamento pós-fissuração do
CRF. As cunhas foram produzidas durante a moldagem com peças triangulares fixadas nos moldes. Os
ensaios foram realizados com controle de velocidade de deslocamento e cada face foi instrumentada com um
transdutor para medida da abertura de fissura. O deslocamento vertical da máquina e a abertura de fissura
do corpo de prova foram correlacionados para avaliar a possibilidade de remover os transdutores. Os
resultados mostraram que a caracterização do CRF pode ser realizada com ensaios de configuração mais
simples, o que favorece a implementação de programas de controle de qualidade mais robustos em
aplicações com grandes volumes de CRF, como obras de infraestrutura.
Palavras-Chave: Concreto reforçado com fibras, comportamento mecânico, ensaio DEWS, controle da qualidade.

Abstract
Generally, the mechanical properties of fiber reinforced concrete (FRC) are determined from flexural tests of
beams. Alternatively, indirect tests have been proposed, as example, the double punch test and the Double
Edge Wedge Splitting test (DEWS). The DEWS test is conducted by applying a compressive load on
specimens with triangular wedges at 45° inclination and notches that induce a pure Mode I tensile fracture. In
this test the difficulties can be associated to the specimen preparation. Triangular wedges are not easily
produced, since it is necessary to guarantee a perfect parallelism. In addition multiple transducers are
commonly used to measure the crack opening. In this context, an experimental program was carried out to
evaluate modifications in DEWS set up and its influence in FRC post-cracking characterization. The wedges
were produced by casting the specimens with a triangular piece fixed in the mold. The tests were displacement-
controlled by imposing a constant stroke rate and each side was instrumented by one transducer. The machine
stroke and the specimen crack opening were correlated in order to evaluate the possibility of removing the
transducers. The results show that FRC characterization can be successfully conducted using a simpler test
setup. Tests that requires a simple preparation and procedure are also valuable for routine quality control of
FRC, especially in applications with large volumes, such as infrastructure construction.
Keywords: Fiber reinforced concrete, mechanical behavior, DEWS test, quality control.
ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 1
1 Introdução
Devido a características como baixa resistência à tração e comportamento frágil, o concreto
requer em diversas aplicações alguma forma de reforço e a incorporação de fibras mostra-
se uma alternativa promissora. As fibras de aço, por possuírem alto módulo de elasticidade
e boa aderência com o concreto, são capazes de aumentar a tenacidade e a ductilidade do
material (FIGUEIREDO, 2011). Essa contribuição é perceptível na resistência residual do
compósito reforçado quando comparada ao concreto simples. No estágio de pós-
fissuração, as fibras atuam como ponte de transferência de tensões, aumentando a
capacidade de absorção de energia. Por isto, esse compósito tem sido objeto de diversas
pesquisas nas últimas décadas (GUIMARÃES; FIGUEIREDO, 2002; SALVADOR;
FIGUEIREDO, 2013; MONTE; TOALDO; FIGUEIREDO, 2014), a maioria para aplicações
sem função estrutural.
Com a publicação do fib Model Code 2010 (2013), um modelo de dimensionamento foi
proposto para o concreto reforçado com fibras de aço (CRFA), fomentando o crescimento
de aplicações do CRFA como material estrutural.
Ao contrário do que ocorre com o concreto armado, no qual o comportamento é
caracterizado de forma independente para as fases concreto e aço, com o CFRA isso não
é possível, pois as fibras são distribuídas aleatoriamente em todo o elemento. O compósito
possui um comportamento complexo, visto que fatores como a estrutura da matriz
cimentícia, distribuição e formato das fibras e a interface fibra/matriz influenciam em suas
propriedades (BENTUR; MINDESS, 2007).
Geralmente, as propriedades mecânicas do compósito são determinadas a partir de
ensaios normalizados de flexão de vigas, como por exemplo o ASTM C1609 (2012) e
EN 14651 (2005). Isto ocorre porque, apesar do ensaio de tração direta permitir a
identificação das relações entre tensão versus abertura de fissura, a configuração do ensaio
quanto ao equipamento, à geometria e à preparação da amostra dificulta a sua
disseminação e impossibilita a utilização como ensaio de controle. A Figura 1 apresenta o
comportamento do CRFA para diferentes ensaios.

Figura 1 - Diferentes respostas para CRFA sob tração uniaxial ou cargas de flexão
(fib Model Code 2010, 2013).

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O modelo de dimensionamento proposto no fib Model Code 2010 (2013) é baseado na
resistência residual pós-fissuração obtida no ensaio de flexão em três pontos com entalhe
normalizado pela EN 14651. Segundo o fib Mode Code 2010 (2013), outros ensaios podem
ser utilizados se uma correlação for comprovada.
Ensaios alternativos de tração indireta têm sido propostos, como Wedge Splitting
(LÖFGREN; STANG H; OLESEN, 2007), duplo puncionamento (MOLINS; AGUADO;
SALUDES, 2009), Montevidéu (SEGURA-CASTILLO; MONTE; FIGUEIREDO, 2018) e
Double Edge Wedge Splitting (DEWS). O DEWS, proposto por di Prisco, Ferrera e
Lamperti (2013), é capaz de produzir o comportamento pós-pico de tração uniaxial por meio
de um ensaio de compressão.
Segundo di Prisco, Ferrara e Lamperti (2013), um dos objetivos do DEWS é reproduzir a
distribuição de tensões sem tensão de compressão transversal, ao contrário do que ocorre
em outros ensaios indiretos. A aplicação da carga é feita por cilindros de aço que atuam
sobre as cunhas de 45º localizadas na face superior e inferior do corpo de prova e os
espécimes são entalhados para indução da fratura em modo I na seção transversal crítica
do espécime (ligamento). O arranjo utilizado para aplicar a carga compressiva garante que
a seção intermediária seja submetida apenas a tensões de tração e, desta forma, a
resistência medida será muito próxima da resistência fornecida por um ensaio de tração
uniaxial. A relação constitutiva do material é obtida em um ensaio indireto sem necessidade
de análise inversa. Além disto, o DEWS apresenta uma geometria de amostra compacta
possibilitando a utilização de testemunhos e, consequentemente, a utilização do método
para avaliação da estrutura. Entretanto, a preparação do corpo de prova torna-se mais uma
variável que demanda um tempo considerável.
Tendo em vista a importância de ensaios de caracterização com configuração simples, de
fácil reprodução e análise dos dados para o crescimento da aplicação do compósito em
elementos estruturais, investiga-se a utilização do DEWS na caracterização pós-fissuração
do CRFA com a proposta de uma configuração simplificada de preparação da amostra e
execução do ensaio.

2 Programa Experimental
2.1 Materiais e produção dos corpos de prova
Foi realizado um estudo experimental utilizando uma matriz de concreto e um tipo de fibra
de aço. A matriz de concreto foi projetada para atingir uma resistência média à compressão
de 40 MPa com traço em massa 1 : 1,87 : 2,55 : 0,59 e o teor de fibra empregado foi de 35
kg/m³. Como aglomerante foi empregado cimento Portland CP V e os agregados utilizados
foram areia média e brita 1. A fibra de aço utilizada é classificada como A-I segundo a
norma ABNT NBR 15530:2007, com as características indicadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Características da fibra utilizada.


Comprimento - l (mm) 60
Diâmetro - d (mm) 0,75
Fator de Forma - l/d 80
Módulo de Elasticidade (GPa) 210
Tensão de Escoamento (MPa) 1.225

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O concreto foi misturado em betoneira, com os agregados e 1/3 da água misturados por 2
minutos, seguidos da adição do cimento e o restante da água, com mistura por mais 3
minutos. Finalizada a etapa de mistura do concreto sem fibras, foi medido o abatimento do
tronco de cone conforme a ABNT NBR NM 67:1998. Após a medida, o material foi retornado
para betoneira e as fibras foram adicionadas aos poucos com a betoneira em movimento.
Terminada a mistura das fibras o abatimento foi novamente determinado para se avaliar o
impacto na trabalhabilidade.
Para caracterização mecânica do concreto foram moldados oito corpos de prova cilíndricos,
sendo quatro para compressão axial e quatro para módulo de elasticidade. A determinação
da resistência à compressão axial e do módulo estático de elasticidade do compósito seguiu
os procedimentos descritos pelas normas ABNT NBR 7215:2019 e ABNT NBR 8522:2017,
respectivamente.
Para avaliação do comportamento pós-fissuração foram moldados quatro corpos de prova
para o ensaio DEWS e quatro corpos de prova para o ensaio de flexão EN 14651. O
adensamento foi realizado com uso de mesa vibratória.
Os corpos de prova para o ensaio DEWS têm formato cúbico de aresta 15 cm e foram
moldados com peças triangulares fixadas no molde para obtenção das cunhas (Figura 2a).
Após a desforma, um entalhe foi executado com profundidade de cinco milímetros para
induzir a fissuração (Figura 2b).

Figura 2 – DEWS: (a) molde e (b) corpo de prova com entalhe.

2.2 Ensaio DEWS


O ensaio DEWS foi realizado na máquina de ensaio SHIMADZU modelo UH-2000kNXR.
Para minimizar o atrito entre a superfície do concreto e o rolete cilíndrico foram fixadas
chapas metálicas sobre a superfície do corte e utilizou-se grafite como lubrificante. Esse
procedimento foi calibrado por di Prisco, Ferrara e Lamperti (2013), resultando em um
coeficiente de atrito () igual a 0,06.
Os ensaios foram controlados por deslocamento vertical com velocidade de 0,12 mm/min
(BORGES et al., 2019). Durante o ensaio, a carga é aplicada no cubo através de um cilindro
de aço acomodado diretamente nas cunhas (Figura 3). A abertura de fissura foi
determinada com o auxílio de dois transdutores fixados em faces opostas do corpo de prova
e perpendiculares à aplicação de carga, sendo, portanto, a média aritmética dos dois
valores obtidos.

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Figura 3 - Ensaio DEWS em andamento.

A partir do ensaio obteve-se a relação carregamento versus crack opening displacement


(COD) e deslocamento vertical. Para análise dos resultados é necessário calcular a carga
de tração transversal induzida pela carga vertical (Equação 1):

(𝑐𝑜𝑠 𝜃 − 𝜇𝑠𝑖𝑛 𝜃) Equação 1


𝐹𝑆𝑃 = 𝑃
(𝑠𝑖𝑛 𝜃 + 𝜇 𝑐𝑜𝑠 𝜃)

sendo 𝜃 o ângulo de inclinação do corte, 𝑃 a carga vertical aplicada e 𝜇 o coeficiente de


atrito. Com os parâmetros adotados, a equação pode ser reescrita como 𝐹𝑆𝑃 = 0,89 × 𝑃.
Para o cálculo da tensão de tração nominal, admite-se como área, a espessura da amostra
𝑡 multiplicada pela altura do ligamento ℎ𝑙𝑖𝑔 , segundo a Equação 2.

𝐹𝑆𝑃 Equação 2
𝜎𝑁 =
𝑡 × ℎ𝑙𝑖𝑔

2.3 Ensaio de Flexão - EN 14651


Neste ensaio, o comportamento à tração do concreto com fibra é avaliado em termos de
resistência residual à tração na flexão. Estes valores são determinados a partir da curva de
carga versus crack mouth opening displacement (CMOD).
A configuração do ensaio consiste na aplicação da carga no centro de um prisma entalhado
de suporte simples. O entalhe de altura 25 mm e espessura 5 mm foi produzido na véspera
do ensaio.
O ensaio foi controlado de modo que o CMOD aumentasse a uma taxa constante de
0,05 mm/ min e após atingir 0,1 mm, a máquina foi operada a uma taxa constante de
0,2 mm/ min. Os valores de crack mouth opening displacement foram medidos por um
transdutor instalado no prisma.

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2.4 Ensaio Indutivo
Para determinar o teor de fibras incorporado em cada corpo de prova e a orientação das
fibras foi utilizado o ensaio indutivo. Esse ensaio foi idealizado por Torrents et al. (2012) e
aprimorado por Cavalaro et al. (2015).
Sabendo-se que a soma da indutância nos 3 eixos (∆𝐿) possui uma relação linear com o
conteúdo de fibra (𝐶𝑖 ), uma estimativa da contribuição das fibras na direção 𝑖 pode ser
expressa pela Equação 3.
𝑛𝑖 Equação 3
𝐶𝑖 =
∑𝑖=𝑥,𝑦,𝑧 𝑛𝑖

𝒏𝒊 é o número médio de orientação calculado conforme a Equação 4, que está relacionado


com o fator de forma 𝜸.

∆𝐿𝑖 × (1 + 2 × 𝛾) − ∆𝐿 × 𝛾 Equação 4
𝑛𝑖 = 1,03 × √
∆𝐿 × (1 − 𝛾)

Para o ensaio indutivo utilizou-se uma bobina e um equipamento medidor LCR para obter
a medição da indutância em cada um dos eixos principais do corpo de
prova: ∆𝐿𝑥 , ∆𝐿𝑦 𝑒 ∆𝐿𝑧 (Figura 4a). Para a utilização do método é necessária uma calibração
prévia do equipamento, portanto foram preparados 4 cubos de isopor com arestas de 15
cm e massa de fibras conhecidas (Figura 4b). Os três eixos foram marcados e o corpo de
prova submetido ao ensaio obtendo-se ∆𝐿𝑥 , ∆𝐿𝑦 𝑒 ∆𝐿𝑧 .

Figura 4 - Ensaio indutivo: (a) equipamento e (b) calibração.

A partir da soma da indutância nos 3 eixos (∆𝐿) para cada corpo de prova e a massa de
fibras obteve-se a reta de calibração que correlaciona a quantidade de fibra com a
indutância medida (Figura 5).

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Figura 5 - Calibração: Indutância x massa.

Para realização do ensaio, as vigas foram cortadas resultando em cubos de 15 cm de


aresta. Os corpos de prova foram submetidos ao ensaio indutivo e a partir das Equações 3
e 4 obteve-se a contribuição relativa 𝐶𝑖 . O fator de forma é constante para cada fibra e foi
obtido pela razão entre a indutância de uma fibra perpendicular e uma fibra paralela ao
campo magnético. Um teste foi realizado e obteve-se 𝛾 = 0.05. O teor de fibra foi definido
pela equação de calibração.

3 Resultados experimentais
3.1 Caracterização no estado fresco e endurecido
Na Tabela 2 os valores de consistência pelo ensaio de abatimento do tronco de cone são
exibidos.

Tabela 2 – Resultados de consistência pelo ensaio de abatimento.


Tipo de concreto Medida (mm)
Simples 110
Com fibras 70

As médias obtidas a partir dos ensaios de caracterização e os respectivos desvios padrão


e coeficientes de variação (CV) são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 - Resultados dos ensaios de compressão axial e módulo estático de elasticidade.


Propriedades mecânicas Média (MPa) Desvio Padrão (MPa) CV
Resistência à compressão 41,4 1,7 4,1%
Módulo de elasticidade 27863 36 0,1%

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3.2 Caracterização do estágio pós-fissuração
Na Figura 6, as curvas de tensão versus abertura de fissura para cada ensaio e a respectiva
curva média são indicadas.

Figura 6 - Curvas de tensão versus CMOD e tensão versus COD.

Observa-se que houve instabilidade pós-pico, tendo em vista que o DEWS é um ensaio
com sistema de controle aberto (open-loop). Nota-se que, após o pico de carga, uma
relação quase linear entre tensão e COD é obtida no DEWS, enquanto há comportamento
de endurecimento (hardening) nas curvas obtidas pelo ensaio EN 14651. Outro fator que
contribui para a diferença é a distribuição das fibras devido à geometria dos moldes, uma
vez que a orientação das fibras afeta as propriedades do CRFA pós-fissuração.
Uma visão geral dos resultados é fornecida na Tabela 4.

Tabela 4 - Resultados em termos de tensão para abertura de fissura de 0,5 mm e 2,5 mm.
DEWS EN 14651
Tensão Tensão residual Tensão residual Tensão Tensão residual Tensão residual
máxima 0,5 mm 2,5 mm máxima 0,5 mm 2,5 mm
Média (MPa) 2,76 1,28 1,38 4,13 3,85 4,90
Desvio Padrão (MPa) 0,45 0,16 0,25 0,34 0,32 0,36
CV 16,3% 12,5% 18,1% 8,2% 8,3% 7,3%

Uma relação entre os resultados obtidos pelos ensaios DEWS e EN 14651 é apresentada
na Figura 7. Devido à diferença na medição da abertura de fissura nos ensaios, admitiu-se
uma correspondência geométrica entre COD e CMOD para uma abertura de fissura linear
no meio do corpo de prova.

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Figura 7 - Relação entre as tensões obtidas pelos ensaios EN e DEWS.

A partir de uma regressão linear obtém-se a Equação 5, que relaciona as tensões obtidas
por ambos os ensaios para abertura de fissura no meio do corpo de prova entre 0,25 e
2 mm. O coeficiente de determinação R², medida de ajustamento da regressão linear em
relação aos resultados, apresentou valor de 0,96.

𝜎𝐸𝑁 = 3,35 × 𝜎𝐷𝐸𝑊𝑆 Equação 5

Com base nos resultados do DEWS, apresenta-se uma relação entre deslocamento vertical
da máquina (D) e abertura de fissura (COD) para o regime pós-pico (Figura 8). Esta relação
é descrita pela Equação 6 com R² = 0,9997. Portanto, a equação representa
satisfatoriamente a relação geométrica entre o deslocamento e a abertura de fissura.

𝐷 = 0,963 × 𝐶𝑂𝐷 + 0,650 Equação 6

Figura 8 - Relação entre deslocamento vertical e abertura de fissura.

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3.3 Distribuição das fibras por eixo
A contribuição média de fibras por eixo nos corpos de prova submetidos ao ensaio DEWS
e ao ensaio de flexão de três pontos é indicada na Tabela 5.

Tabela 5 – Contribuição média de fibras por eixo.


Ci DEWS EN 14651
Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão
Eixo x (%) 38,4 1,9 51,5 1,2
Eixo y (%) 37,7 1,9 28,6 1,0
Eixo z (%) 23,9 2,6 19,9 0,5

Foram considerados os eixos x e y, perpendicular e paralelo à aplicação da carga,


respectivamente, e o eixo z na direção da espessura do corpo de prova. Como esperado,
o fluxo de moldagem influenciou a distribuição das fibras para os corpos de prova
prismáticos, aumentando a contribuição na direção x em 13% se comparado aos corpos de
prova cúbicos.

4 Conclusões
Neste estudo, foram realizados ensaios DEWS em corpos de prova de preparação
simplificada, com a utilização de dois transdutores. Para análise dos resultados, as curvas
de tensão versus COD obtidas foram comparadas com as curvas fornecidas no ensaio de
flexão em três pontos (tensão versus CMOD).
A obtenção das cunhas nos corpos de prova DEWS durante a moldagem reduziu
consideravelmente o tempo de preparação da amostra. Esta configuração mostra-se uma
alternativa vantajosa para caracterização pós-pico do CRFA tendo em vista a simplicidade
de execução, principalmente para aplicação no controle de qualidade em obras de
infraestrutura.
Percebe-se que um dos fatores que influenciou o comportamento mecânico distinto entre
os ensaios indiretos foi o fluxo de moldagem. Devido à geometria dos moldes a contribuição
na direção x dos corpos de prova do ensaio EN 14651 foi superior aos corpos de prova do
DEWS, o que implica na quantidade de fibras perpendiculares a abertura de fissura.
Nota-se que uma correlação entre os resultados dos ensaios DEWS e EN 14651 é possível,
portanto, os parâmetros obtidos a partir do ensaio DEWS são promissores para o
dimensionamento de elementos estruturais.
Por fim, comprova-se que é possível realizar o ensaio DEWS com controle de deslocamento
vertical, uma vez que este parâmetro é correlacionável com COD.

Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Os autores
agradecem à EVOLUÇÃO Engenharia e ao Prof. Dr. Marco Antonio Carnio pelo apoio
na realização dos ensaios de flexão. O terceiro autor também agradece ao Conselho
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Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Projeto Universal,
Proc.:429552/2016-5).

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