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Ludmily da Silva Pereira (1); Renata Monte (2); Luís Antônio Guimarães Bitencourt Júnior (3);
Antônio Domingues de Figueiredo (4)
Resumo
Geralmente, a caracterização do comportamento mecânico do concreto reforçado com fibras (CRF) é
realizada com ensaios de flexão em vigas. Como alternativa, ensaios indiretos têm sido propostos, tendo por
exemplo o ensaio de duplo puncionamento e o Double Edge Wedge Splitting test (DEWS). No ensaio DEWS
é aplicado um esforço de compressão em corpos de prova que possuem cortes triangulares com 45° de
inclinação e entalhes no topo e na base, induzindo uma fratura de tração pura (Modo I). A execução desses
cortes não é simples, principalmente pela necessidade de se manter um perfeito paralelismo entre as faces.
Além disso os ensaios DEWS são realizados com o uso de mais de um transdutor de deslocamento para a
medida da abertura de fissura. Neste contexto, um programa experimental foi realizado para avaliar
modificações no ensaio DEWS e seus efeitos sobre a caracterização do comportamento pós-fissuração do
CRF. As cunhas foram produzidas durante a moldagem com peças triangulares fixadas nos moldes. Os
ensaios foram realizados com controle de velocidade de deslocamento e cada face foi instrumentada com um
transdutor para medida da abertura de fissura. O deslocamento vertical da máquina e a abertura de fissura
do corpo de prova foram correlacionados para avaliar a possibilidade de remover os transdutores. Os
resultados mostraram que a caracterização do CRF pode ser realizada com ensaios de configuração mais
simples, o que favorece a implementação de programas de controle de qualidade mais robustos em
aplicações com grandes volumes de CRF, como obras de infraestrutura.
Palavras-Chave: Concreto reforçado com fibras, comportamento mecânico, ensaio DEWS, controle da qualidade.
Abstract
Generally, the mechanical properties of fiber reinforced concrete (FRC) are determined from flexural tests of
beams. Alternatively, indirect tests have been proposed, as example, the double punch test and the Double
Edge Wedge Splitting test (DEWS). The DEWS test is conducted by applying a compressive load on
specimens with triangular wedges at 45° inclination and notches that induce a pure Mode I tensile fracture. In
this test the difficulties can be associated to the specimen preparation. Triangular wedges are not easily
produced, since it is necessary to guarantee a perfect parallelism. In addition multiple transducers are
commonly used to measure the crack opening. In this context, an experimental program was carried out to
evaluate modifications in DEWS set up and its influence in FRC post-cracking characterization. The wedges
were produced by casting the specimens with a triangular piece fixed in the mold. The tests were displacement-
controlled by imposing a constant stroke rate and each side was instrumented by one transducer. The machine
stroke and the specimen crack opening were correlated in order to evaluate the possibility of removing the
transducers. The results show that FRC characterization can be successfully conducted using a simpler test
setup. Tests that requires a simple preparation and procedure are also valuable for routine quality control of
FRC, especially in applications with large volumes, such as infrastructure construction.
Keywords: Fiber reinforced concrete, mechanical behavior, DEWS test, quality control.
ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 1
1 Introdução
Devido a características como baixa resistência à tração e comportamento frágil, o concreto
requer em diversas aplicações alguma forma de reforço e a incorporação de fibras mostra-
se uma alternativa promissora. As fibras de aço, por possuírem alto módulo de elasticidade
e boa aderência com o concreto, são capazes de aumentar a tenacidade e a ductilidade do
material (FIGUEIREDO, 2011). Essa contribuição é perceptível na resistência residual do
compósito reforçado quando comparada ao concreto simples. No estágio de pós-
fissuração, as fibras atuam como ponte de transferência de tensões, aumentando a
capacidade de absorção de energia. Por isto, esse compósito tem sido objeto de diversas
pesquisas nas últimas décadas (GUIMARÃES; FIGUEIREDO, 2002; SALVADOR;
FIGUEIREDO, 2013; MONTE; TOALDO; FIGUEIREDO, 2014), a maioria para aplicações
sem função estrutural.
Com a publicação do fib Model Code 2010 (2013), um modelo de dimensionamento foi
proposto para o concreto reforçado com fibras de aço (CRFA), fomentando o crescimento
de aplicações do CRFA como material estrutural.
Ao contrário do que ocorre com o concreto armado, no qual o comportamento é
caracterizado de forma independente para as fases concreto e aço, com o CFRA isso não
é possível, pois as fibras são distribuídas aleatoriamente em todo o elemento. O compósito
possui um comportamento complexo, visto que fatores como a estrutura da matriz
cimentícia, distribuição e formato das fibras e a interface fibra/matriz influenciam em suas
propriedades (BENTUR; MINDESS, 2007).
Geralmente, as propriedades mecânicas do compósito são determinadas a partir de
ensaios normalizados de flexão de vigas, como por exemplo o ASTM C1609 (2012) e
EN 14651 (2005). Isto ocorre porque, apesar do ensaio de tração direta permitir a
identificação das relações entre tensão versus abertura de fissura, a configuração do ensaio
quanto ao equipamento, à geometria e à preparação da amostra dificulta a sua
disseminação e impossibilita a utilização como ensaio de controle. A Figura 1 apresenta o
comportamento do CRFA para diferentes ensaios.
Figura 1 - Diferentes respostas para CRFA sob tração uniaxial ou cargas de flexão
(fib Model Code 2010, 2013).
2 Programa Experimental
2.1 Materiais e produção dos corpos de prova
Foi realizado um estudo experimental utilizando uma matriz de concreto e um tipo de fibra
de aço. A matriz de concreto foi projetada para atingir uma resistência média à compressão
de 40 MPa com traço em massa 1 : 1,87 : 2,55 : 0,59 e o teor de fibra empregado foi de 35
kg/m³. Como aglomerante foi empregado cimento Portland CP V e os agregados utilizados
foram areia média e brita 1. A fibra de aço utilizada é classificada como A-I segundo a
norma ABNT NBR 15530:2007, com as características indicadas na Tabela 1.
𝐹𝑆𝑃 Equação 2
𝜎𝑁 =
𝑡 × ℎ𝑙𝑖𝑔
∆𝐿𝑖 × (1 + 2 × 𝛾) − ∆𝐿 × 𝛾 Equação 4
𝑛𝑖 = 1,03 × √
∆𝐿 × (1 − 𝛾)
Para o ensaio indutivo utilizou-se uma bobina e um equipamento medidor LCR para obter
a medição da indutância em cada um dos eixos principais do corpo de
prova: ∆𝐿𝑥 , ∆𝐿𝑦 𝑒 ∆𝐿𝑧 (Figura 4a). Para a utilização do método é necessária uma calibração
prévia do equipamento, portanto foram preparados 4 cubos de isopor com arestas de 15
cm e massa de fibras conhecidas (Figura 4b). Os três eixos foram marcados e o corpo de
prova submetido ao ensaio obtendo-se ∆𝐿𝑥 , ∆𝐿𝑦 𝑒 ∆𝐿𝑧 .
A partir da soma da indutância nos 3 eixos (∆𝐿) para cada corpo de prova e a massa de
fibras obteve-se a reta de calibração que correlaciona a quantidade de fibra com a
indutância medida (Figura 5).
3 Resultados experimentais
3.1 Caracterização no estado fresco e endurecido
Na Tabela 2 os valores de consistência pelo ensaio de abatimento do tronco de cone são
exibidos.
Observa-se que houve instabilidade pós-pico, tendo em vista que o DEWS é um ensaio
com sistema de controle aberto (open-loop). Nota-se que, após o pico de carga, uma
relação quase linear entre tensão e COD é obtida no DEWS, enquanto há comportamento
de endurecimento (hardening) nas curvas obtidas pelo ensaio EN 14651. Outro fator que
contribui para a diferença é a distribuição das fibras devido à geometria dos moldes, uma
vez que a orientação das fibras afeta as propriedades do CRFA pós-fissuração.
Uma visão geral dos resultados é fornecida na Tabela 4.
Tabela 4 - Resultados em termos de tensão para abertura de fissura de 0,5 mm e 2,5 mm.
DEWS EN 14651
Tensão Tensão residual Tensão residual Tensão Tensão residual Tensão residual
máxima 0,5 mm 2,5 mm máxima 0,5 mm 2,5 mm
Média (MPa) 2,76 1,28 1,38 4,13 3,85 4,90
Desvio Padrão (MPa) 0,45 0,16 0,25 0,34 0,32 0,36
CV 16,3% 12,5% 18,1% 8,2% 8,3% 7,3%
Uma relação entre os resultados obtidos pelos ensaios DEWS e EN 14651 é apresentada
na Figura 7. Devido à diferença na medição da abertura de fissura nos ensaios, admitiu-se
uma correspondência geométrica entre COD e CMOD para uma abertura de fissura linear
no meio do corpo de prova.
A partir de uma regressão linear obtém-se a Equação 5, que relaciona as tensões obtidas
por ambos os ensaios para abertura de fissura no meio do corpo de prova entre 0,25 e
2 mm. O coeficiente de determinação R², medida de ajustamento da regressão linear em
relação aos resultados, apresentou valor de 0,96.
Com base nos resultados do DEWS, apresenta-se uma relação entre deslocamento vertical
da máquina (D) e abertura de fissura (COD) para o regime pós-pico (Figura 8). Esta relação
é descrita pela Equação 6 com R² = 0,9997. Portanto, a equação representa
satisfatoriamente a relação geométrica entre o deslocamento e a abertura de fissura.
4 Conclusões
Neste estudo, foram realizados ensaios DEWS em corpos de prova de preparação
simplificada, com a utilização de dois transdutores. Para análise dos resultados, as curvas
de tensão versus COD obtidas foram comparadas com as curvas fornecidas no ensaio de
flexão em três pontos (tensão versus CMOD).
A obtenção das cunhas nos corpos de prova DEWS durante a moldagem reduziu
consideravelmente o tempo de preparação da amostra. Esta configuração mostra-se uma
alternativa vantajosa para caracterização pós-pico do CRFA tendo em vista a simplicidade
de execução, principalmente para aplicação no controle de qualidade em obras de
infraestrutura.
Percebe-se que um dos fatores que influenciou o comportamento mecânico distinto entre
os ensaios indiretos foi o fluxo de moldagem. Devido à geometria dos moldes a contribuição
na direção x dos corpos de prova do ensaio EN 14651 foi superior aos corpos de prova do
DEWS, o que implica na quantidade de fibras perpendiculares a abertura de fissura.
Nota-se que uma correlação entre os resultados dos ensaios DEWS e EN 14651 é possível,
portanto, os parâmetros obtidos a partir do ensaio DEWS são promissores para o
dimensionamento de elementos estruturais.
Por fim, comprova-se que é possível realizar o ensaio DEWS com controle de deslocamento
vertical, uma vez que este parâmetro é correlacionável com COD.
Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Os autores
agradecem à EVOLUÇÃO Engenharia e ao Prof. Dr. Marco Antonio Carnio pelo apoio
na realização dos ensaios de flexão. O terceiro autor também agradece ao Conselho
ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 10
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Projeto Universal,
Proc.:429552/2016-5).
Referências
AMERICAN STANDARD FOR TESTING MATERIALS. ASTM C1609: standard test
method for flexural performance of fiber-reinforce concrete (using beam with third-
point loading). Philadelphia, 2012. 8p.
_______. NBR 15530: Fibras de aço para concreto – Especificações. Rio de Janeiro,
2007.
DI PRISCO, M.; FERRARA, L.; LAMPERTI, M. G. L. Double edge wedge splitting (DEWS):
an indirect tension test to identify post-cracking behaviour of fibre reinforced cementitious
composites. Materials and structures, v.46, n.11, p.1893-1918, 2013.
fib federation internationale du beton. fib Model Code for Concrete Structures 2010.
Wiley, 2013.
LÖFGREN I.; STANG H.; OLESEN J. F. The WST method, a fracture mechanics test
method for FRC, Materials and Structures, v.41, p.197-211, 2007.
MOLINS C.; AGUADO A.; SALUDES S. Double Punch Test to control the energy dissipation
in tension of FRC (Barcelona test). Materials and Structures, v.42, n.4, p.415-425, 2009.