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O Modernismo Leviano

Uma Crítica à Sociedade Fútil através do Filme "Mon Oncle" de Jacques Tati

Souza, Luiza; Coutinho, Deborah; Carin, João.

RESUMO

Este artigo discute a relevância da crítica ao modernismo leviano na sociedade


contemporânea, com destaque para a contribuição do cineasta Jacques Tati e sua abordagem
cinematográfica única. Enquanto vivemos em uma sociedade obcecada pela busca superficial
da modernidade, Tati apresenta uma visão crítica por meio de filmes como "Meu tio" (Mon
Oncle) de 1958, questionando a validade dessa busca desprovida de propósito. Sua abordagem
humorística e observações perspicazes sobre as interações humanas e o ambiente construído
nos convidam a refletir sobre nossos próprios valores e escolhas, ressaltando a necessidade de
repensar os caminhos da sociedade contemporânea.

PALAVRAS-CHAVE: modernismo leviano; sociedade contemporânea; sociedade fútil; Jacques Tati

1 INTRODUÇÃO

Na sociedade contemporânea, a incessante busca pela modernidade, muitas vezes desprovida


de propósito, revela-se marcada por superficialidade. O fenômeno do modernismo leviano,
caracterizado pela supervalorização da aparência e do consumo em detrimento de uma
reflexão crítica, reflete essa tendência. Nesse contexto, a obra cinematográfica do renomado
cineasta francês Jacques Tati, conhecido por sua abordagem singular, emerge como uma voz
crítica única.

Através do filme "Meu Tio" (1958), Tati nos convida a questionar a validade e relevância
dessa busca desenfreada por uma modernidade vazia. Com seu humor visual e perspicácia na
análise das interações humanas e do ambiente construído, ele retrata de forma magistral as
nuances e contradições da sociedade contemporânea.
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Compreender a abordagem de Tati e sua crítica ao modernismo leviano ganha importância ao


nos convidar a refletir sobre nossos valores e escolhas. Seu olhar crítico e provocativo sobre o
mundo nos instiga a repensar os caminhos trilhados pela sociedade atual. Por meio dessa
análise, será possível refletir amplamente sobre as consequências da sociedade fútil e
questionar os valores e princípios que sustentam a incessante busca contemporânea pela
modernidade.

Figura 1: Capa do filme: mon oncle, dirigido por jacques tati

Fonte: archdaily.com.br

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO MODERNISMO LEVIANO

O modernismo leviano é um movimento estético e cultural que se destaca pela


supervalorização da aparência e do consumo, negligenciando a reflexão crítica sobre os
valores que orientam nossa existência. Na sociedade contemporânea, essa busca incessante
pela modernidade revela-se superficial e desprovida de propósito. O modernismo leviano
emerge como uma tendência predominante, onde a aparência e o consumismo assumem
papéis centrais, relegando a reflexão crítica e a busca por significado para segundo plano.
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Nesse contexto, surge uma sociedade fútil, centrada na aparência e no consumismo, que
propicia o desenvolvimento do modernismo leviano. Essa busca desenfreada pela
modernidade sem autenticidade resulta em uma superficialidade generalizada, substituindo a
reflexão profunda sobre os valores e princípios que dão sentido à nossa existência. A
sociedade fútil, assim formada, prioriza o superficial e o efêmero em detrimento do
significado e da autenticidade.

Diante do modernismo leviano, torna-se essencial exercer a crítica e a reflexão para


compreender as consequências dessa busca vazia de propósito. É nesse contexto que a obra
cinematográfica de Jacques Tati se destaca, oferecendo uma perspectiva crítica e provocativa
sobre a sociedade contemporânea. Por meio de seu humor visual e observações perspicazes,
retrata as contradições e esses vazios presentes nessa sociedade, convidando-nos a refletir
sobre nossos próprios valores e escolhas.

Assim, a compreensão do modernismo leviano e suas características superficiais e vazias


torna-se fundamental para uma análise crítica da sociedade contemporânea. Ao questionar a
busca desenfreada pela modernidade desprovida de propósito genuíno, podemos abrir
caminho para uma reflexão mais profunda sobre os valores que sustentam nossa existência e
buscar alternativas que resgatem a autenticidade e a significância em um mundo dominado
pela aparência e pelo consumismo.

3. APRESENTAÇÃO DE JACQUES TATI E SEU FILME "MON ONCLE"

Jacques Tati, nascido Jacques Tatischeff em 9 de outubro de 1907, foi um renomado ator e
cineasta francês. Inicialmente destacou-se como jogador de rugby, mas sua habilidade como
mímico o levou ao entretenimento. Após atuar em espetáculos de gala, iniciou sua carreira no
cinema como ator e roteirista, realizando uma série de curtas-metragens. Em 1947, lançou seu
primeiro filme como diretor, "Jour de Fête", que lhe rendeu reconhecimento internacional e
prêmios.

Seu trabalho mais famoso, "As Férias do Sr. Hulot" (1953), enfrentou dificuldades de
produção, mas consolidou sua reputação como cineasta. Em 1958, Tati lançou o filme "Mon
Oncle", uma sátira ao modernismo e à sociedade fútil. Apesar dos desafios financeiros com
seu filme seguinte, "Playtime" (1967), Tati deixou um legado significativo no cinema francês,
sendo reconhecido por sua visão crítica da sociedade e seu estilo único.
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Imagem 2: Jacques Tati atuando como Sr. Hulot, personagem do próprio filme "mon oncle

fonte: hollywoodhuntsville.com

O filme satiriza a mecanização e a modernidade tecnológica na sociedade. A trama segue


Charles Arpel, um industrial rico e orgulhoso de sua casa futurista cheia de gadgets
questionáveis. Ele tenta evitar a influência de seu cunhado, o Sr. Hulot, um homem livre e
sonhador, sobre seu filho, primeiro dando-lhe um emprego na fábrica e depois afastando-o de
sua vida. O filme faz uma crítica perspicaz e bem-humorada à obsessão pela tecnologia,
explorando os desafios e consequências dessa busca desenfreada.

Imagem 3: Casa de Sr Hulot Imagem 4: Casa de Charles Arpel

Fontes: shangol

Esses contrastes entre o modo de vida entre Sr Hulot e Charles Arpel é o que nos leva a
questionar o que é preciso para atingir uma vida feliz. Sr Hulot vive em uma comunidade
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onde todos se comunicam diariamente, crianças brincam na rua, e nessa vida simples, mostra
o lado positivo da simplicidade material enquanto na casa de seu cunhado, todos os
mecanismos levam à uma vida hostil e repleta de ações artificiais e com espaço para que os
materiais sejam os protagonistas da vida.

imagem 5: Jacques andando de bicicleta com sobrinho Imagem 6: Jacques curioso pela cozinha moderna

Fonte: cinemaemcuritiba.wordpress.com

4. REFLEXÕES SOBRE A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

A crítica social presente no filme nos leva a refletir sobre as consequências da sociedade fútil
em que vivemos. O modernismo leviano, caracterizado pela busca superficial de avanços
tecnológicos e estéticos, muitas vezes nos afasta de nossa essência humana, tornando-nos
prisioneiros de uma cultura do consumo e da aparência.

É fundamental que nos questionemos sobre o que realmente importa em nossas vidas. Será
que a busca incessante por status, gadgets de última geração e tendências passageiras nos traz
verdadeira felicidade e realização? Ou será que esses valores superficiais nos afastam da
verdadeira essência da vida, que está em momentos de conexão genuína, experiências
autênticas e contribuições significativas para o bem-estar coletivo?

A constante necessidade de ter a versão mais atualizada do celular que apenas é acessível para
determinados grupos da sociedade é um dos maiores exemplos da sociedade contemporânea.
As campanhas de marketing e a pressão social criam um senso de urgência e desejo de
acompanhar as últimas tendências. O lançamento de novos modelos é amplamente divulgado,
gerando expectativa e desejo nos consumidores.
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8 gerações de smartphones colocadas lado a lado Foto: TechTudo

Além disso, a busca incessante pelo celular de última geração pode levar a um ciclo de
consumo excessivo e desperdício. A rápida obsolescência dos modelos antigos faz com que
muitos aparelhos sejam descartados precocemente, contribuindo para a geração de resíduos
eletrônicos e impactos ambientais negativos.

"Meu Tio" nos lembra da importância de resgatarmos a reflexão crítica em meio à sociedade
contemporânea. Devemos questionar as pressões e expectativas impostas sobre nós e buscar
uma vida mais autêntica, significativa, e consciente, baseada em valores sólidos e relações
humanas verdadeiras.

produzida por Barbara Kruger: “I shop therefore I am”, inspirada na famosa frase “Penso, logo existo” de
Descartes
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5. Considerações Finais

Em um mundo cada vez mais dominado pelo consumismo desenfreado e pela busca por
aparências, o filme de Jacques Tati nos desafia a repensar nossa conduta e a direção em que a
sociedade está seguindo. Ele nos convida a questionar os valores e princípios que sustentam
essa busca incessante por uma modernidade vazia.

Através da reflexão crítica e da adoção de valores mais profundos, podemos romper com a
superficialidade que permeia nossa sociedade contemporânea. É essencial desenvolver uma
consciência crítica em relação ao consumo de tecnologia, pois isso implica questionar os
sistemas capitalistas e suas dinâmicas de produção e consumo.

Precisamos buscar alternativas que resgatem a autenticidade e a significância em um mundo


onde a aparência e o consumismo ditam as regras. Ao tomar decisões conscientes, levando em
consideração o impacto pessoal, social e ambiental de nossas escolhas, podemos romper com
essa superficialidade e construir uma sociedade mais autêntica e humana.

O filme nos convida a refletir sobre nossos próprios valores e escolhas, incentivando-nos a
questionar a direção que queremos seguir como sociedade. Ele nos incita a buscar uma
existência mais autêntica e significativa, onde os valores humanos e as relações genuínas
sejam priorizados. Somente por meio da reflexão crítica e da busca por um estilo de vida
sustentável, podemos superar a superficialidade e construir um futuro mais promissor para
todos.

6. Referências Bibliográficas

Hilliker, Lee. “In the Modernist Mirror: Jacques Tati and the Parisian Landscape.” The French
Review, vol. 76, no. 2, 2002, pp. 318–29. JSTOR, http://www.jstor.org/stable/3132711.
Accessed 6 July 2023.

Singal, Daniel Joseph. “ Rumo a uma definição de modernismo americano. ” American


Quarterly, vol. 39, n. 1, 1987, pp. 7 – 26. JSTOR, https://doi.org/10.2307/2712627. Acessado
em 6 de julho de 2023.
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Hilliker, Lee. “ No espelho modernista: Jacques Tati e a paisagem parisiense. ” A revisão


francesa, vol. 76, n. 2, 2002, pp. 318 – 29. JSTOR, http://www.jstor.org/stable/3132711.
Acessado em 6 de julho de 2023.

MON Oncle. Jacques Tati/Jacques Tati. Local: Produção independente, 1958.

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