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Na presente resenha será realizado uma síntese dos capítulos do livro ‘Aula de

Português, encontro & interação’ de Maria Irandé Antunes, usando a publicação de


2003, pela editora Parábola Editorial de São Paulo.

A autora, Maria Irandé Antunes, é uma linguista brasileira, com doutorado em


Linguística pela Universidade de Lisboa e mestre em Linguística pela Universidade
Federal de Pernambuco.

No primeiro capítulo, Irandé Antunes apresenta a problemática do ensino


descontextualizado e fragmentado, na prática oral, escrita, leitura e gramatical.

E no segundo capítulo a autora aborda de forma mais específica cada uma das práticas,
trazendo críticas e sugestões de métodos de ensino a partir da concepção interacionista,
funcional e discursiva da língua.

Inicialmente a autora enfatiza a importância de relacionar a teoria com a prática e


como esses dois são dependentes um do outro para desenvolver trabalhos na escrita, na
oralidade, na leitura, nas aulas de gramática e nas reflexões sobre a língua.
Neste capítulo é descrito um relato de uma análise das aulas de ensino de língua
portuguesa, de como estão focadas no ensino da gramática de forma mecânica,
decorada,
descontextualizada, como predomina na prática escolar a preocupação da comunicação
gramaticalmente errada ou correta, sem prestar atenção no contexto e uso da língua,
desconsiderando a variação da ação de comunicação dos falantes. Sendo assim,
causando uma
aversão do aluno quanto a escola, afastando-o e atrapalhando seu desenvolvimento.
No segundo capítulo, Irandé destaca a necessidade do professor ampliar seu
conhecimento teórico sobre a linguagem, não limitando apenas nas regras gramaticais,
mas
que atinja o âmbito da semântica, pragmática, teorias do texto, concepções de leitura, de
escrita, acerca do uso interativo e funcional das línguas (ANTUNES, p.40, 2003).
Promovendo assim a interação da linguagem, individualmente e socialmente,
produtiva e relevante para o aprendizado eficaz da língua. Desenvolvendo no aluno a
sua
autonomia na aquisição e construção do conhecimento. Como também o pensamento
crítico e
reflexivo.

resenHa
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo:
Parábola Editorial, 2003.

Aula de Português: encontro e interação, de Irandé Antunes, é uma obra


que oferece uma nova proposta pedagógica para o ensino de língua materna.
A autora, que é doutora em linguística pela Universidade Clássica de Lisboa,
introduz novas diretrizes para o ensino de língua portuguesa, em que seu obje-
tivo é chamar a atenção dos professores sobre as práticas escolares tradicionais.
A obra encontra-se dividida em seis capítulos, distribuídos da seguinte
forma: capítulo 1: Refletindo sobre a prática da aula de português;

capítulo 2:
Assumindo a dimensão interacional da linguagem; capítulo 3: Repensando o
objeto de ensino de uma aula de português;

capítulo 4: Redimensionando a avaliação;

capítulo 5: Conquistando autonomia;

capítulo 6: Fechando, por enquanto.


Trata-se de uma obra com uma linguagem clara e precisa que em cada
capítulo a autora mostra a teoria junto com a prática, e de como é fundamental
os professores compreender que esses dois itens estão interligados, e que um
depende do outro para desenvolver trabalhos na leitura, na escrita, nas aulas
de gramática e nas reflexões sobre a língua propondo, assim, uma atividade de
encontro e interação entre o ensino do português e o
ensino da língua.
Logo no primeiro capítulo existe uma análise de como as aulas de portu-
guês são mecânicas em relação à oralidade, a escrita, a leitura e a gramática,
pois a didática dos professores encontra-se totalmente inadequada e que os
métodos utilizados não concentram-se em ensinar a língua e seu funcionamento,
mas apenas explorar o ensino de uma gramática que, segundo Antunes, é “uma
gramática, fragmentada, de frases inventadas, da palavra e da frase isoladas,
sem sujeitos interlocutores, sem contexto, sem função: frases feitas para servir
de lição, para virar exercício;”( p.31). Diante disso, percebe-se que a escola
faz uso de uma gramática totalmente descontextualizada e com apenas uma
intenção: repudiar a língua, mostrando aquilo que esteja certo ou errado sem
se preocupar com a ação comunicativa dos falantes.
Assim, no segundo e terceiro capítulos, a autora desenvolve algumas
orientações e sugestões de atividades para serem trabalhadas nas aulas de
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português, e melhorar o desenvolvimento e o meio de aquisição do aluno na
prática da oralidade, escrita, leitura e gramática. Por isso, essas práticas peda-
gógicas exigem dos professores uma nova postura e reflexão quanto ao ensino
de gramática, por que não adianta ensinar apenas as nomenclaturas e pedir para
os alunos classificar as orações, é preciso que eles compreendam a gramática
funcional através de recursos de textos orais e escritos em que se privilegie a
aplicação na língua falada ou escrita em seu uso formal e informal.
Nos três últimos capítulos da obra, Antunes desenvolve a questão sobre
avaliação como método de aprendizagem, em que deixa claro que a sua fun-
ção é algo contínuo e progressivo e que o papel do professor é assumir uma
autonomia didática em sala, para que as aulas de português sejam para falar,
ouvir, ler e escrever textos, contribuindo de uma forma crítica, pedagógica e
relevante para o aprendizado.
Os capítulos mais relevantes da obra são o primeiro e o segundo, porque
analisam a didática que os professores têm utilizado em suas aulas. Logo
no primeiro capítulo, observa-se que as aulas de português estão totalmente
voltadas para a gramática normativa, que concentram-se na capacidade de o
aluno conhecer todos aqueles conceitos e nomenclaturas, desde morfologia a
sintaxe, visando apenas que as aulas de gramática sejam somente para ensinar
as suas regras e suas terminologias, deixando de lado o trabalho com os textos,
a oralidade e a escrita do aluno. Diante disso, no segundo capítulo, a autora
chama a atenção dos professores sobre essas práticas pedagógicas adotadas
em sala de aula, e sugere um novo trabalho com a gramática, pois, de acordo
com Antunes, “a gramática compreende o conjunto de regras que especificam
o funcionamento de uma língua” (p.85). Portanto, ensinar gramática é ensinar a
língua em que todo falante sabe dominar as suas regras, por isso os professores
precisam explorar a gramática funcional, ou seja, uma gramática que, além de
explicar as regras, mostre o funcionamento da língua, através do contexto de
uso do falante, pois não adianta decorar todas as regras e nomenclaturas se
não compreender o valor semântico e o sentido que elas expressam, e que as
análises de frases soltas e descontextualizadas não favorecem o conhecimento
sobre a linguagem e seus contextos de uso.
Como afirma Antunes,“O estudo da gramática deve ser estimulante, desa-
fiador, instigante, de maneira que se desfaça essa ideia errônea de que estudar
língua é, inevitavelmente, uma tarefa desinteressante, penosa e, quase sempre,
adversa.” (p.97). Por isso, é fundamental que nas aulas de língua portuguesa
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português, e melhorar o desenvolvimento e o meio de aquisição do aluno na
prática da oralidade, escrita, leitura e gramática. Por isso, essas práticas peda-
gógicas exigem dos professores uma nova postura e reflexão quanto ao ensino
de gramática, por que não adianta ensinar apenas as nomenclaturas e pedir para
os alunos classificar as orações, é preciso que eles compreendam a gramática
funcional através de recursos de textos orais e escritos em que se privilegie a
aplicação na língua falada ou escrita em seu uso formal e informal.
Nos três últimos capítulos da obra, Antunes desenvolve a questão sobre
avaliação como método de aprendizagem, em que deixa claro que a sua fun-
ção é algo contínuo e progressivo e que o papel do professor é assumir uma
autonomia didática em sala, para que as aulas de português sejam para falar,
ouvir, ler e escrever textos, contribuindo de uma forma crítica, pedagógica e
relevante para o aprendizado.
Os capítulos mais relevantes da obra são o primeiro e o segundo, porque
analisam a didática que os professores têm utilizado em suas aulas. Logo
no primeiro capítulo, observa-se que as aulas de português estão totalmente
voltadas para a gramática normativa, que concentram-se na capacidade de o
aluno conhecer todos aqueles conceitos e nomenclaturas, desde morfologia a
sintaxe, visando apenas que as aulas de gramática sejam somente para ensinar
as suas regras e suas terminologias, deixando de lado o trabalho com os textos,
a oralidade e a escrita do aluno. Diante disso, no segundo capítulo, a autora
chama a atenção dos professores sobre essas práticas pedagógicas adotadas
em sala de aula, e sugere um novo trabalho com a gramática, pois, de acordo
com Antunes, “a gramática compreende o conjunto de regras que especificam
o funcionamento de uma língua” (p.85). Portanto, ensinar gramática é ensinar a
língua em que todo falante sabe dominar as suas regras, por isso os professores
precisam explorar a gramática funcional, ou seja, uma gramática que, além de
explicar as regras, mostre o funcionamento da língua, através do contexto de
uso do falante, pois não adianta decorar todas as regras e nomenclaturas se
não compreender o valor semântico e o sentido que elas expressam, e que as
análises de frases soltas e descontextualizadas não favorecem o conhecimento
sobre a linguagem e seus contextos de uso.

Como afirma Antunes,“O estudo da gramática deve ser estimulante, desa-


fiador, instigante, de maneira que se desfaça essa ideia errônea de que estudar
língua é, inevitavelmente, uma tarefa desinteressante, penosa e, quase sempre,
adversa.” (p.97). Por isso, é fundamental que nas aulas de língua portuguesa
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Aula de Português - Irandé Antunes


Irandé Antunes é doutora em linguística pela Universidade Clássica de Lisboa e concentra seus
estudos em coesão textual e gêneros textuais. Seus trabalhos, como Lutar com palavras:
coesão e coerência, são referências na área e integram a bibliografia básica de diversos cursos
de licenciatura de Letras Português no país. Além de sua atuação como pesquisadora, Antunes
é profissional preocupada com a prática de ensino da língua portuguesa e exerce participação
ativa na divulgação científica e de seus estudos junto a professores, por meio de palestras,
cursos e outras atividades.

A unificação desses dois interesses resulta no livro Aula de Português: encontro & interação,
em que a autora busca sistematizar suas reflexões e propostas para o ensino do Português
pela abordagem interacionista, funcional e discursiva da língua, com a prática de produção e
interpretação textual oral e escrito. O livro tem publicação pela Parábola, editora reconhecida
pelo catálogo abrangente de obras voltadas às práticas de ensino da língua e ao estudo e
reflexão das diversas correntes linguísticas.

Aula de Português: encontro & interação é composto por seis capítulos, em que a linguista
reflete, sob uma perspectiva crítica, sobre as atuais práticas de ensino de português; apresenta
um conjunto de princípios teóricos para a instauração de uma nova prática pedagógica
fundamentada no oferecimento aos alunos da possibilidade de exercício discursivo pleno,
relevante e adequado; e propõe um programa e uma série de atividades para a prática dos
professores, consonantes com os princípios teóricos apresentados anteriormente, além de
expor, ao fim do livro, uma proposta de avalição dos resultados alcançados pelas novas
metodologias de ensino.

No capítulo 1, Refletindo sobre a prática de aula de português, Antunes critica o trabalho


realizado na maioria das escolas brasileiras com a oralidade, a escrita, a leitura e a gramática.
Para a autora, a abordagem que se faz desses quatro campos não confere relevância funcional
para o aluno, tampouco amplia sua capacidade discursiva, não privilegia a participação do
sujeito aprendiz e desfavorece as interações entre professor/aluno e aluno/aluno, além de
apenas objetivar a avaliação de aprendizado de conceitos estanques para os quais não
ocorrem práticas reflexivas: o ensino gramatical, por exemplo, segundo a especialista,
concentra-se na apreensão da nomenclatura prescritiva e normativa, sem as noções de
adequação e inadequação.

Como consequência dessas reflexões, a professora apresenta no capítulo 2, Assumindo a


dimensão interacional da linguagem, princípios teóricos concernentes aos mesmos quatro
campos analisados no capítulo anterior, sob a perspectiva interacionista da língua, e as
respectivas implicações pedagógicas. Nesse capítulo, Antunes, apoiando-se nos preceitos de
Bakhtin, conceitua língua como atividade de interação verbal entre interlocutores vinculada às
circunstâncias de sua “atualização”, e defende que apenas o estudo textual e discursivo,
relativamente à sua produção e interpretação, constitui o objeto de um ensino de língua
relevante, funcional e produtivo. Dessa maneira, o ensino de produção e interpretação de
textos orais e escritos deve conferir relevância funcional para o aluno, garantir a interação
entre os agentes envolvidos no processo como sujeitos produtores (autores) e interlocutores,
e contextualizar a gramática, não mais como nomenclatura prescritiva, mas como importante
aos usos sociais da língua.

A seguir, no capítulo 3, Repensando o objeto de ensino de uma aula de português, a autora


propõe atividades concretas que possam auxiliar o professor numa abordagem de ensino da
língua que garanta a consecução dos objetivos apresentados nos capítulos anteriores: o ensino
da língua que possibilite o “a ampliação da competência comunicativa do aluno para falar,
ouvir, ler e escrever textos fluentes, adequados e socialmente relevantes” (pag. 122).

A abordagem de Antunes é essencialmente didática, mas sem descuido do escopo teórico, e


busca, por meio de uma linguagem simples, clara e acessível, conquistar a adesão do professor
para a prática de reflexão do ensino de português e incitá-lo à mudança. Não se trata de um
manual ou guia, ou ainda um receituário e, embora os exemplos e propostas de atividades
prodiguem pelo texto, o leitor é instigado a buscar por si só, a partir do referencial teórico
apresentado, as alternativas mais viáveis e condizentes com a realidade específica em que se
insere.

Aula de Português: encontro & interação posiciona Antunes como importante referência para
a reflexão sobre o ensino contextualizado e de relevância social da língua portuguesa. Aqui
encontram eco os preceitos oficiais dos PCNs e os apontamentos reflexivos de Por que (não)
ensinar gramática na escola, de Sírio Possenti, por exemplo, quanto à preocupação da
reformulação da abordagem do ensino da língua.

Embora não tenha se furtado a considerar que a consecução dos objetivos pretendidos para o
ensino da língua não depende unicamente da intervenção do professor em sala de aula, mas
de políticas públicas efetivas é importante salientar que o livro poderia ter reservado um
espaço maior a esse tipo de discussão. A ideia é que não se reserve apenas ao professor o
“privilégio” de comandar a guinada total na qualidade de ensino do país: é preciso que se
tenha consciência da importância do apoio do sistema oficial que sustenta o ensino.

À parte dessas considerações, Aula de Português: encontro & interação é obra indicada a
todos que enxergam no ensino da língua uma importância fundamental para plena e mais
eficaz participação social dos alunos, cidadãos.
No primeiro capítulo Antunes faz uma análise a situação atual. Embora reconheça que fatores
exteriores à escola implicam nos problemas com relação ao aprendizado, lembra-nos que já
existem alguns avanços relacionados ao estudo e à percepção da Língua Portuguesa, tanto no
sentido das políticas públicas quanto nos critérios de avaliação das provas e exames oficiais.
Assim, a autora cita os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que já privilegiam “a
dimensão interacional e discursiva da língua” e o Sistema de Avaliação da Educação Básica
(SAEB) que transcendem as definições e classificações gramaticais contemplando, nos seus
descritores, um conjunto de habilidades e competências avaliadas através de textos de
diferentes tipos, gêneros e funções. Assim, afirma, já não se pode culpar unicamente as
políticas públicas pela maneira com que se trabalha a língua portuguesa na escola.

Ainda no primeiro capítulo, Antunes traz um pequeno esboço dos principais equívocos
relacionados aos quatro elementos que citamos acima. Na oralidade, a autora aponta o
descaso com relação à fala, como se esta não estivesse ligada ao estudo da língua ou vice e
versa, como se na fala fossem permitidos todos os tipos de erros, não distinguindo situações
de usos mais ou menos formais da oralidade. Com relação à escrita, Irandé nos apresenta
equívocos relacionados ao não reconhecimento da interferência decisiva dos sujeitos na sua
produção; a prática de escrita mecanizada, artificial, centrada nas regras e embasada em
exercícios descontextualizados, como formar frases isoladas, sem função social e vazias de
sentido, criando um abismo entre a língua do aluno e a “língua da escola”. No trabalho com a
leitura a autora afirma que as escolas ainda se centram nas habilidades de decodificação da
escrita, sem contemplar a dimensão interacional da língua, uma leitura desvinculada dos
diferentes usos sociais que dela se pode (e deve) fazer. Sobre a gramática a autora explica que
há vários equívocos quanto à maneira como ela é trabalhada na escola: fragmentada,
descontextualizada, desvinculada com a realidade da língua escrita e falada, trabalhada
através de frases soltas e sem sentido, apoiada apenas em regras e definições, inflexível,
engessada, sem considerar os usos reais da língua – oral e escrita – e o processo de mudança
por que ela passa.

É, então, a partir destes limites e equívocos que Irandé baseia seu trabalho para fundamentar
elementos que contribuem na construção de novas formas de enxergar a língua portuguesa e
de desenvolver o trabalho no ensino desta. Assim, no segundo capítulo, ela apresenta
princípios teóricos que possam cumprir esta função.

Segundo Antunes, toda atividade de ensino de língua baseia-se em uma determinada


concepção, ou seja, um conjunto de princípios teóricos a partir dos quais se percebe os
fenômenos lingüísticos. Há duas tendências sob as quais tem sido pautada a percepção da
língua. A primeira limitando-se ao conjunto abstrato dos símbolos e das regras, sem vínculo
com as condições de usos reais da língua; a segunda pautando-se na linguagem como atuação
social, enquanto atividade de interação entre sujeitos e, portanto, ligado a situações reais,
concretas e diversificadas. É, pois, nesta segunda concepção que se embasam os princípios
teóricos que a autora apresenta para cada elemento: oralidade, escrita, leitura e gramática.
Essa concepção, afirma, possibilita enxergar a linguagem com mais amplitude, como atitude
social, longe das concepções engessadas e embasadas apenas nas regras inflexíveis, que nem
sempre levam o sujeito a algum lugar.

Com relação à escrita a maior preocupação da autora é a sua afirmação como elemento
comunicativo entre sujeitos. A escrita não pode ser compreendida apenas como ferramenta
avaliativa, mas toda a atividade escrita deve direcionar-se, deve dizer algo a alguém. Ressalta
também a variação de formas e gêneros existente na escrita, dependendo de que ou a quem
se destina. São também abordadas as condições para produção da escrita e as diferenças com
relação à fala, além de apresentar-nos as diferentes etapas pelas quais se deve passar na
elaboração de um texto escrito. Como questões pedagógicas, a autora apresenta as
necessidades de propor textos que sejam de autoria dos alunos, vinculados
comunicativamente, socialmente relevantes, diversificados, com destino (a quem escrever?
Pra que?), contextualizados, coerentes, tecnicamente adequados.

Quanto à leitura, Antunes a apresenta como ferramenta de interação verbal escrita , atividade
de acesso ao conhecimento, necessária para a aquisição de novos saberes e de aprendizado
formal da língua. Ressalta a necessidade de se trabalhar o contexto extralinguístico do texto,
ou seja, compreendê-lo a partir de elementos externos, conhecimentos prévios, estimulados
por uma ou mais palavras nele contidas. Nas implicações pedagógicas a autora expõe a
necessidade de se promover leitura de textos autênticos e reais (revistas, jornais, panfletos,
livros, cartazes etc.); que o texto seja interativo, um encontro entre quem lê e quem escreve,
atividades que vinculam leitura e escrita, pois há uma relação de interdependência entre elas.
Ressalta-se também a necessidade de compreender as diversidades de gêneros literários, o
trabalho com a coerência global do texto e a importância de reconhecer que cada texto, por
mais inocente que pareça, é regido por uma concepção de mundo.

No que diz respeito à gramática, Irandé busca desconstruir o mito de que a gramática é o
conjunto de regras estáticas e inflexíveis que regem apenas a linguagem escrita formal.
Apresenta-nos a gramática como regras que especificam o funcionamento de uma língua no
sentido geral, seja escrita ou falada. Dessa forma, nenhuma manifestação de linguagem existe
sem gramática, sem normas, mesmo que, no ponto de vista da língua formal, seja considerada
errada. A gramática existe em função da maneira como as pessoas se expressam e não o
contrário, como se pensa; é um conjunto de regras que visam à compreensão de textos
escritos e falados e, em geral, diversifica-se de acordo com a região geográfica. Como
implicações pedagógicas a autoria recomenda que no trabalho com a gramática observe-se a
relevância, utilidade e aplicação para os alunos das regras e definições trabalhadas na escola,
uma gramática que observe a funcionalidade da língua, partindo de textos e fatos reais das
manifestações lingüísticas; contextualizada e interessante, instigante ao aluno, flexível com
relação às diversidades da linguagem.

A oralidade é apresentada neste livro como uma manifestação tão importante quanto a leitura
e a escrita. Para a autora, não há oposição entre oralidade e escrita, estão intimamente
relacionadas, embora possuam suas particularidades. Desta forma, Antunes manifesta em
todo esse trabalho a preocupação em compreender a oralidade como um texto também
elaborado e que, como tal, tem sua variedade de gênero, suas especificidades de público e
suas diferenças de uso em situações formais e informais. Como recomendações pedagógicas,
manifesta a importância da coerência a partir do tema em que se desenvolve o texto oral, dos
tópicos e subtópicos da interação, recursos que mantém o encadeamento do texto, das
diferenças entre escrita e oralidade, da diversidade de gêneros textuais nela também
existentes, enfim, que se trabalhe a oralidade visando a interação e o convívio social entre os
sujeitos, desenvolvendo também a capacidade de ouvir.

No terceiro capítulo Irandé Antunes retorna estes princípios pedagógicos a fim de fornecer ao
professor elementos que ajudem na construção do ensino de língua portuguesa a partir desta
concepção interacionista da linguagem. Assim ela contribui com sugestão de atividades e
metodologias que visem essa concepção, enfocando-se em cada especificidade trabalhada
para oralidade, leitura, escrita e gramática. No capítulo 4, volta-se os olhos para a avaliação
que, admitindo-se uma concepção interacionista da linguagem, deve também ser encarada
diferentemente das concepções avaliativas reinantes. Para ela, não se trata de uma questão
técnica, mas sim de concepção. Neste sentido, a avaliação não deve ser apenas um processo
para detectar erros e reprovar os incapazes de assimilar as normas da gramática, mas deve
avaliar o processo de aprendizado a partir da compreensão da língua como objeto de
comunicação entre os sujeitos e da necessidade de os educandos assim compreendê-la, bem
como desenvolver competências para aplicá-la em situações reais.

Por fim, nos dois últimos capítulos, a título de conclusão, a autora ressalta a necessidade de o
professor assumir a autonomia de seu trabalho pedagógico em língua portuguesa, assumir-se
como especialista em língua portuguesa e ter segurança na sua ação docente, para avançar
para além das concepções antigas da língua engessada, monótona e cheia de regras. Um
ensino da língua que tenha sentido e significado para os alunos, porque é a sua língua e não a
língua exclusiva da escola.

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