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Sónia Pereira Dinis
Sónia Pereira Dinis
ÍNDICE
Índice
ÍNDICE ......................................................................................................................................... 2
1. Introdução.............................................................................................................................. 4
2. OS PRIMEIROS SOCORROS PSICOLÓGICOS ............................................................. 7
1.2. Preparar a aplicação de Primeiros Socorros Psicológicos .............................. 8
1.2.1. Objectivos dos PSP .............................................................................................. 8
1.2.2. O que não são os PSP? ..................................................................................... 10
1.2.3. Conceitos e conhecimentos com significado ............................................. 11
1.2.4. Preparar a intervenção ...................................................................................... 22
3. Aplicar Primeiros Socorros Psicológicos ................................................................... 29
3.1. Quando se aplicam os PSP...................................................................................... 30
3.2. Onde se aplicam os PSP? ........................................................................................ 30
3.3. Como aplicar PSP....................................................................................................... 30
3.3.1. Intervir por princípios de acção – Técnicos de saúde e segurança ...... 31
3.3.4. Actuar por metodologia e princípios – Os Psicólogos ............................. 40
3.4. Adaptar a intervenção à variedade das populações ......................................... 58
3.4.1. Crianças dos 0 aos 3 anos................................................................................ 58
3.4.2. Crianças dos 3 aos 6 anos................................................................................ 59
3.4.3. Crianças dos 6 aos 9 anos................................................................................ 61
3.4.4. Crianças dos 9 aos 12 anos ............................................................................. 63
3.4.5. Como é que as crianças podem retomar o controlo.............................................. 66
3.4.6. Adolescentes ........................................................................................................ 69
3.4.7. Pessoas com deficiência e populações especiais ..................................... 74
3.5. Intervenção em situações específicas.................................................................. 78
3.5.1. Suicídio consumado ........................................................................................... 78
3.5.2. PSP em famílias multi-problemáticas ............................................................ 79
3.5.3. Envolvimento da família .................................................................................... 81
4.Desactivação dos técnicos: tratar de si e dos outros técnicos ............................. 83
4.1. Síndrome de desgaste por empatia e síndrome de super-homem ............... 84
4.2. Sinais de alarme nos intervenientes ..................................................................... 86
4.3. Prevenção: o autocuidado dos técnicos .............................................................. 88
4.4. Prevenção: cuidar dos técnicos e das equipas ................................................. 89
4.4.1. Difusing .................................................................................................................. 89
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1. Introdução
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Vivemos, nos nossos dias, uma situação única, em virtude de um novo vírus que surgiu
repentinamente. A situação está a testar a capacidade de resiliência e de adaptação do ser
humano. E, no meio da tristeza e do medo de uns, ergueu-se um movimento amplo e forte
de apoio de outros: as autoridades governamentais, diversas entidades privadas e pessoas
singulares e colectivas mobilizaram-se para apoiar. Em consequência, surgiu a pergunta
sobre como ajudar, o que fazer?
Também na área da psicologia se colocou esta questão: como é que a intervenção poderia
ocorrer para salvaguardar e ajudar psicologicamente as pessoas vítimas da catástrofe?
Como se presta auxílios a pessoas que passaram por risco de vida e por momentos
stressantes?
Actualmente sabemos que as pessoas têm instrumentos internos que lhes permitem lidar
com os eventos traumáticos e com as catástrofes. Ao longo da vida, é normal que ocorram
perdas, problemas e situações de stress. As estratégias que as pessoas utilizam nessas
situações podem ajudar o processo de recuperação de traumas maiores. Algumas pessoas
recuperam naturalmente ao fim de algumas semanas (são resilientes), mas outras
desenvolvem problemas sérios de saúde mental (como ansiedade, perturbações no
funcionamento social e familiar ou distúrbios do stress pós-traumático).
Por isso, neste manual a resposta aos eventos traumáticos é organizada em três etapas:
Este manual está organizado para responder às duas primeiras etapas e para servir
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A segunda parte é destinada a dotar os técnicos de ferramentas que precisam para actuar,
os princípios que devem ser seguidos na intervenção, mas também inclui uma orientação
para populações especificas, como as crianças e os idosos. Em seguida, quisemos incluir
uma parte dedicada aos técnicos: a proximidade da morte, da angústia e do sofrimento
dos outros tem reflexos em qualquer pessoa e, por isso, é necessário que os técnicos
conheçam formas de prevenir malefícios para a sua própria saúde mental.
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Tal como nos primeiros socorros, a ajuda psicológica implica treino. Se não se sabe o que
fazer, é importante pedir ajuda ou aguardar que a ajuda chegue.
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É importante que as pessoas afectadas percebam que têm recursos e que sejam
estimuladas a usar as estratégias para lidar com a situação. Portanto, os PSP incentivam a
auto-eficácia e eficácia da comunidade ou grupo.
Podemos dizer que os PSP são procedimentos que se aplicam a pessoas que receberam
uma má notícia, presenciaram um acidente ou viveram uma catástrofe (pessoas em
choque, vulneráveis, que tentam perceber o que aconteceu).
É fácil perceber quando é que os PSP estão a ser aplicados. Há indicadores claros,
nomeadamente quando os técnicos estão a:
- Ajudar as pessoas a suprir suas necessidades básicas (por exemplo, alimentação, água
e informação). Ajudar as pessoas na busca de informações, serviços e suportes sociais;
- Facilitar a conversa e a partilha que a pessoa queira fazer, mas sem a pressionar
(muitas vezes, as pessoas sabem melhor que os técnicos sobre o que precisam).
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Não são uma forma de super-protecção. Com isso, não estaremos a ajudar ninguém.
Não são uma terapia nem uma técnica de diagnóstico ou de desativação (debriefing).
Não devem ser uma forma de abordar em profundidade (e com muitas verbalizações) o
que aconteceu (isso é útil e necessário, mas numa etapa posterior às 72h).
No fundo, nos PSP não é solicitado que as pessoas analisem o que aconteceu ou que
relatem os eventos ocorridos. Os PSP pressupõem capacidade de ouvir as histórias das
vítimas, mas isso não significa pressioná-las a falar sobre sentimentos e reações que
tiveram em relação a um evento.
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Alguns destes conceitos e conhecimentos passarão a ser do domínio técnico, ou seja, serão
palavras e termos que os socorristas passarão a dominar e a utilizar e que, por isso, os
ajudará a constituir um grupo com recursos; por outras palavras, trataremos de um grupo
específico de conhecimentos, cujo sentido ganha relevância enquanto competência
pessoal.
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Re-experimentação: Re-experimentação:
Pensamentos intrusivos, flashbacks, Memórias repetitivas e intrusivas, flashbacks,
pesadelos. pesadelos recorrentes, mal-estar psicológico intenso
ao exporem-se a estímulos relacionados com o
acontecimento, respostas fisiológicas sucessivas a
estes estímulos.
Evitação: Evitação:
Esforços para evitar pessoas, lugares ou Esforços para evitar acções, pessoas ou lugares; torpor
acções; incapacidade para continuar a vida afectivo intenso, incapacidade de recordar alguns
normal e torpor afectivo. aspectos do acontecimento, diminuição das
actividades quotidianas e das relações sociais,
dificuldade em imaginar e planear o futuro.
Sintomas dissociativos:
Sensação de desapego, redução da
consciência do meio envolvente,
despersonalização, amnésia selectiva.
Deteorização do funcionamento:
Manifestação de sofrimento; redução da
capacidade de desempenhar as actividades
habituais.
1.2.3.3. Epidemiologia
Que tipo de exposição é que os técnicos devem esperar? Uma parte significativa foi ou
será exposta a factores stressantes agudos. A permanência e gravidade dessa exposição e
também a existência de outros fatores de risco ou de protecçäo determinam a percentagem
de pessoas que desenvolve problemas crónicos de saúde mental.
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É muito importante que os técnicos sejam capazes de identificar esses factores. Eles
podem ser importantes para a intervenção dos próprios técnicos, como para a
referenciação e trabalho de outros serviços.
São situações em que as pessoas podem ser vítimas duas vezes. Há vitimização primária
quado as pessoas são afectadas pelo evento e quando o caos se estabelece a seguir e se
junta à falta de informação: dá-se a vitimização secundária (e o dano secundário, que
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São situações em que as pessoas não têm recursos e capacidades para lhes fazer frente,
ou eventos traumáticos e que as pessoas ou entes queridos passam por situação de risco
de vida (têm aspectos muito negativos, mas não colocam em risco as estruturas
comunitárias). São situações repentinas, inesperadas, frequentes, urgentes e que afectam
uma família. Por exemplo, o desemprego, uma doença grave, uma inundação, divórcio,
agressão sexual, acidente de automóvel, luta e agressão, roubo violento, ter uma arma
apontada.
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Podem ser situações tão variadas como situações traumáticas agudas (agressão física e
verbal, agressão sexual ou desastres), mas também podem ser situações crónicas (a
pobreza, o desemprego, maus-tratos ou problemas crónicos de saúde). Também são
situações vitais stressantes o divórcio ou o encarceramento de um familiar ou o momento
em que os filhos saem de casa. Algumas ocorrências podem ser stressantes, mas não
desagradáveis, como o casamento ou a mudança de residência. Estes eventos são variados
e têm significados diferentes de pessoa para pessoa.
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Mas se os acontecimentos vitais stressantes não foram bem resolvidos no passado, podem
aparecer complicações adicionais:
- Prognósticos negativos.
Estes acontecimentos fazem com que a recolha de informação seja muito importante,
tanto nos PSP como nas Competências para a Recuperação Psicológica (CRP). Como
veremos mais a frentes, as CRP são competências que os técnicos ajudam as vítimas a
desenvolver e que contribuem para a recuperação psicológica. Porém, se os técnicos
identificam situações em que os sobreviventes já aplicaram, por si, essas competências,
metade do trabalho está feito.
Portanto, como se pode fazer a gestão dos acontecimentos vitais stressantes na aplicação
de PSP?
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- detectar pontos fortes e fracos; (como geriu e saiu das situações anteriores?) há algum
evento traumático não resolvido que pode prejudicar a situação actual e tornar-se
crónico?);
Estas são quatro tarefas essenciais no processo de luto que têm de ser concretizadas
para que se restabeleça o equilíbrio e para o processo de luto ficar completo: aceitar a
realidade da perda, elaborar a dor da perda, ajustar-se a uma realidade em que o falecido
está ausente e reposicionar emocionalmente o falecimento e prosseguir com a vida.
Este é o primeiro passo do luto. Só se pode chorar as pessoas que morrem. Por isso é um
passo muito importante. Adiante veremos que quando os técnicos têm que fazer ou
acompanhar a notificação da morte (quando se tem que dizer a familiares que alguém
faleceu), devem ser utilizadas palavras que facilitem a aceitação da perda, como «morreu»
ou «faleceu».
Alguns sobreviventes podem permanecer nesta tarefa, ou seja, podem não aceitar a
realidade da perda (Dorpat, 1973 cit. por Worden, 1991). Eis alguns indícios de que os
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- As vítimas podem agir sobre os factos da perda e negar os factos da perda. Podem,
por exemplo, distorcer os factos ou mesmo apresentar quadros de delírio; em casos raros,
manter o corpo do falecido em casa durante vários dias. Contudo, a reacção mais
frequente é a manutenção, sem alterações, dos objetos e espaços da pessoa falecida, o que
pode indiciar a esperança do retorno da pessoa falecida.
- Outra forma das pessoas negarem a perda é desdenharem o significado da morte. Esta é
uma forma de se protegerem da realidade, fazendo com que a perda pareça ser menos
significativa do que é na realidade. Exemplos comuns são verbalizações de desdém ou
negativas: "ele não era uma boa pessoa" ou "não nos dávamos muito bem" e "não era uma
pessoa importante para mim". Os sobreviventes que neguem o significado da perda
também podem deitar fora os pertences que recordem a morte e esquecer selectivamente
alguns momentos positivos passados com a vítima (ou mesmo esquecer as feições da
pessoa falecida).
Há que diferenciar o que é normal (os adultos podem ter expectativas de se juntar à pessoa
falecida depois da morte), do que serve para negar a perda (quando essa esperança tem
um carácter de presença permanente).
Apesar da aceitação da perda levar tempo e ser um processo com passos em frente e atrás
(principalmente nos aspectos emocionais) há rituais (como o funeral ou a visita à campa
do falecido) que contribuem para que os sobreviventes avancem para a próxima tarefa.
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Os sobreviventes que adiam a elaboração do luto podem, por exemplo, negar a dor,
idealizar o falecido, evitar coisas que lembrem o falecido e utilizar substâncias alienantes
(álcool ou outras drogas). Aliás, o evitamento dos sentimentos também pode ser
manifestado através da criação de ocupações que remetam a dor para segundo plano,
como trabalhar muitas horas seguidas ou viajar. Quando os sobreviventes não elaboram
a dor (Bowlby, 1980 cit. por Worden, 1991), é provável que desenvolvam quadros de
depressão.
Ajustamento externo - Nesta fase, a adopção de novos papéis e competências pode trazer
alguma satisfação (por exemplo, aprender a cozinhar para os filhos), porque o
sobrevivente pode sentir que está a respeitar o falecido, porque está a garantir o bem-estar
dos filhos; e também pode estar satisfeito porque está a aprender coisas novas e a ganhar
controlo sobre a sua vida e o seu futuro (pode haver uma projecção de que a pessoa
falecida sentiria orgulho e segurança no sobrevivente).
Ajustamento interno – Quando as pessoas partilham a vida (por exemplo, no caso dos
casais e dos pais e crianças) é natural que aquilo que a pessoa é (a identidade) seja
influenciado pelas relações com os outros. Nesse caso, o processo de luto significa a perda
de uma pessoa amada, mas também (verdadeiramente) de um pedaço da própria pessoa
que sobrevive e das referências de construção e desenvolvimento pessoal (Zaiger, 1985
cit. por Worden, 1991).
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Quando os sobreviventes não cumprem esta tarefa de luto, não estão a adaptar-se à perda,
ou seja, não estão a desenvolver as novas competências que lhes permitem enfrentar o
dia-a-dia, cuidar dos seus e crescer.
Por isso, não cumprir esta tarefa é não amar. A pessoa agarra-se ao vínculo que tem com
o passado em vez de seguir em frente e formar novas vinculações. São situações em que
a vida está estagnada e os sobreviventes estão presos às memórias de quem já não existe
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1.2.3.7. Resiliência
Ao longo do desenvolvimento, o ser humano passa por etapas de crise. Há crises que
todos esperam que aconteça (como a adolescência, em que há um grande crescimento
físico e ético) e crises que podem ou não ocorrer, mas que, na generalidade, não se espera
nem se está preparado para que aconteçam (divórcio, acidente, epidemia, pandemia e
desemprego). Assim, o resultado das crises é relevante: a pessoa evoluiu, desenvolveu-
se, ou ficou parada (ou retrocedeu)?
Desta forma, é importante que os técnicos conheçam os factores que potenciam ou inibem
a resiliência. Os factores presentes podem determinar o sentido da intervenção junto das
vítimas:
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- Que a ajuda não pode colocar as pessoas em novas ou maiores situações de risco ou
dano;
- Actuar para que as vítimas que recebem a sua assistência sintam que estão seguros e que
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- Que as vítimas são pessoas com plenos direitos. A intervenção não justifica acções que
minimizem a cultura ou a autoestima.
- Que a acção ocorre em benefício dos interesses das vítimas e ajuda-as a ter acesso ao
apoio social e aos seus direitos.
- Informar às pessoas que podem recusar a ajuda, que poderão receber ajuda mais tarde,
caso prefiram não o fazer de imediato;
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Como o técnico não pode adivinhar onde ocorrerá a crise, deverá estar preparado para
refletir sobre a sua ação. Eis algumas perguntas que podem ajudar:
Domínio Ações
Vestuário - Que roupa deve ser usada pelo técnico?
- Que roupa é que as vítimas precisarão para serem ajudadas? (Pode
acontecer uma vítima recusar ajuda por não ter roupas adequadas).
Idioma - Conhece o idioma?
- Estará acompanhado por pessoas que podem traduzir?
- Que palavras técnicas devem evitar usar, para não confundir as vítimas?
(Lembre-se que as vítimas podem não compreender as palavras que utiliza e
isso pode deixá-las mais assustadas).
Sugestões:
- Procure e utilize as semelhanças linguísticas;
- Cumprimente na língua das vítimas.
Género, idade e - É importante que os homens sejam assistidos só por homens? E as
poder mulheres? E as crianças?
- Que líderes da comunidade podem auxiliar a sua intervenção?
Comportamentos - Há cuidados a ter no contacto físico (toque no ombro, segurar a mão)?
- Há algum cuidado a ter com crianças e pessoas idosas?
- Qual é a organização das refeições, dos horários e das orações?
Crenças e religião - Há grupos étnicos e religiosos diferentes na área de intervenção?
- Que crenças podem afetar a intervenção?
Sugestões:
- Inclua os sobreviventes na orientação dos técnicos quanto aos protocolos
culturais (por exemplo, na forma de cumprimentar);
- Participe nos rituais, se tal for pedido e adequado.
(U.S. Department of Mental Health and Human Services, 2003)
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Por isso, quando se organiza a ajuda, tem que se ter em conta a informação aos técnicos.
Técnicos informados criam confiança, resolvem problemas e ajudam mais pessoas. Os
técnicos devem estar preparados com informações sobre:
- Actuação das autoridades: o que está a ser feito, que serviços estão disponíveis e onde;
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de grupo. Se for técnico, não hesite em pedir aconselhamento a quem tem mais
experiência e a ajudar quem não a tem. Sobretudo, não hesite em convocar técnicos mais
especializados.
Nas catástrofes, nunca há especialistas suficientes para chegar a todos. Por isso, você
pode ser importante para ajudar a criar prioridades de assistência.
Em segundo lugar, se alguém da família de algum técnico foi afetada pela tragédia, talvez
seja melhor esse técnico dedicar-se à família. A atenção estará sempre virada para eles.
Em terceiro lugar, os técnicos devem ter a certeza de que estão bem de saúde física e
mental. As zonas de catástrofe são espaços sujeitos a doenças. Se os técnicos estiverem
vulneráveis, passarão a ser um problema acrescido.
Para além disso, num impacto primário, os técnicos convivem com tensões, desespero,
pessoas que não poderão ajudar. Mesmo em situações singulares (por exemplo, dar a
notícia da morte de um ente querido) a carga emocional é muito grande. Por isso, se é
técnico, cuide de si. Significa também que tem que ter um olho sempre nos seus colegas.
Por vezes as pessoas não são capazes, por si só, de reconhecer as suas fragilidades.
Uma estratégia útil é a de antecipar as crises. Por exemplo, prepare um colaborador para
lidar com os técnicos que chegam e para os informar antes da intervenção.
Se tiver preparada uma estrutura de intervenção, a acção será mais útil e eficaz. Eis
algumas questões que podem ajudar a organizar e preparar a intervenção.
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Domínio Questões
Orientação dos Quem orienta a intervenção?
técnicos A quem devem recorrer em caso de necessidade?
Quem identifica as competências dos técnicos?
Quem fornece as informações de que os técnicos precisam para intervir?
Aspetos éticos Que informações e expectativas éticas devem ser partilhadas com a equipa antes
da intervenção?
Aspetos culturais Que elementos acerca da cultura local podem influenciar a intervenção e que os
técnicos devem conhecer?
Quais são os elementos da comunidade que podem contribuir para a
intervenção?
Informações Que informações são transmitidas às equipas e quem é responsável por essa
informação?
Que serviços estão no terreno e como é que se compatibilizam?
Que informações sobre os serviços devem ser oferecidos à população?
Segurança? Que riscos existem?
Que procedimentos devem ser adoptados em situações de insegurança?
Qual é a constituição das equipas?
Prioridades Qual o encaminhamento a dar perante situações que os técnicos considerem
prioritárias?
1.2.4.6. Comunicar
Actuar nos PSP é, em primeiro lugar, um acto de ligação e comunicação. Não é como
noutras intervenções, acções físicas (não se ausculta, nem se cura feridas).
Comunicar com uma pessoa emocionalmente abalada implica estar preparado para tal,
porque quem passou por eventos traumáticos pode estar triste, ansioso ou sentir-se
culpado.
Este princípio ajuda a que as pessoas se sintam calmas, seguras, protegidas e respeitadas.
Ouvir as histórias é importante. Mas apenas as histórias de quem quer contar. Não deve
haver pressão para que as vítimas falem sobre o ocorrido. Por vezes, o silêncio é suficiente
(a presença de uma companhia, ainda que em silêncio, pode ajudar).
As vítimas devem sentir-se respeitadas e devem saber que os técnicos estão disponíveis
quando elas quiserem partilhar.
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Há situações em que não é possível intervir dentro dessas 72 horas. O que fazer nessas
situações?
Estes são os grandes princípios que devem estar sempre presentes nos PSP e nos
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Através deles poderá observar em segurança a situação das pessoas, aproximar-se das
pessoas afetadas, atender as necessidades dessas pessoas e encaminhá-las para que elas
possam obter outros tipos de ajuda e de informações.
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Vamos ver como é que pode intervir para aplicar estes princípios de acção.
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Este passo pode parecer óbvio. Porém, nunca se esqueça de que está a agir com pessoas
que sofreram perdas enormes e que estão perturbadas. Podem estar em «modo defensivo»
e os familiares presentes também podem ter instintos protectores. Apresente-se, diga qual
o seu papel e os seus objectivos.
E pesquise, também, por necessidades imediatas. Nenhuma vítima o vai escutar se, por
exemplo, souber que não tem ninguém para ir buscar o filho à escola.
3.3.1.1. VER
A que sinais psicológicos devem estar atentos?
Numa situação de crise, pode não ser fácil discernir as pessoas que estão mais afectadas.
Por isso, esteja atento aos seguintes sintomas e sinais:
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- Insónia, pesadelos.
- Raiva, irritabilidade.
- Culpa, vergonha (por ter sobrevivido ou por não ter salvo ou ajudado os outros).
- Confusão emocional e sentimentos de que se está a viver uma situação irreal (delírios).
- Não ser capaz de cuidar de si mesmo ou dos filhos (por exemplo, não ser capaz de
cozinhar, alimentar ou tomar decisões simples).
É normal que as pessoas fiquem afetadas por uma situação de crise. Porém, com o tempo,
os sintomas devem desaparecer principalmente, se houver apoio próximo, social e
respostas às necessidades básicas.
Assegure-se de que as pessoas severamente afetadas não ficam sozinhas até terem o
acompanhamento adequado pelos familiares, serviços ou líderes da comunidade local.
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1 – Aproxime-se:
- Promova o conforto. Por exemplo, ofereça uma bebida (água, chá, outra semelhante);
- Garanta que as pessoas que estão muito angustiadas não ficam sozinhas.
3 – Ajude a acalmar:
- Fique perto;
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A situação de crise não dura as 72 horas em que os PSP devem ser aplicados. A sua
presença também não será permanente.
Então, o ponto com mais importância na vida das vítimas é a aproximação aos serviços:
são as pessoas que devem resolver os próprios problemas, embora com o auxílio dos
técnicos.
As pessoas afetadas precisam usar as suas competências e habilidades para lidar com os
problemas e para recuperarem a longo prazo. Ajude as pessoas a ajudarem-se a elas
próprias e a tomar o controlo nas mãos.
Como aproximar?
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Incentive Iniba
Estratégias positivas Estratégias negativas
- Descansar o suficiente. - Uso de drogas, álcool ou tabaco.
- Alimentar-se e beber água. - Dormir demasiado ou passar o dia sem fazer
- Passar o tempo com família e amigos. nada.
- Aproveitar para conversar. - Trabalhar constantemente sem descansar ou
- Falar dos problemas com alguém em quem relaxar.
confie. - Afastar-se dos amigos ou entes queridos.
- Realizar actividades relaxantes (Caminhar, ler, - Descuidar a higiene pessoal.
brincar com as crianças da família) - Violência.
- Envolver-se em actividades comunitárias e usar
as suas competências para ajudar as outras
vítimas.
- Seja específico: locais, horários, pessoas. E diga de onde vem essa informação.
- Diga apenas o que souber. Nunca invente ou parta do princípio de que algo vai
acontecer.
- Se puder, informe as pessoas que voltará para as actualizar. Comprometa-se com data
e hora e cumpra.
Tenha em atenção que as crises causam desespero e que os boatos surgem. Poderá ter
que lidar com pessoas frustradas e mal informadas. Seja paciente.
Estas são populações que podem não compreender o que se está a passar ou que não têm
o controlo sobre os recursos importantes ou acesso aos serviços (por exemplo, as pessoas
em cadeiras de rodas não podem deslocar-se com facilidade).
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- As crianças não têm a mesma interpretação dos acontecimentos que os adultos. Por
exemplo, podem juntar as informações que ouvem e construir uma versão própria dos
acontecimentos. Podem até ter sentimentos de culpa sobre o que se passou e também
podem pensar que a morte não é definitiva. Por isso, é importante que os adultos
mantenham as crianças informadas com dados simples (por exemplo, que lhes digam que
os familiares que morreram não estão a sofrer, que não têm culpa, etc.).
Sobre os adolescentes, é preciso ter em atenção que apesar de ainda não serem adultos, já
dominam algumas decisões. Podem não sentir nada, ter comportamentos normais ou
mesmo ter atitudes negativas e de risco. Nesta altura da vida, os adultos são menos
importantes e os amigos e o grupo de pertença são mais importantes (ou seja, também são
importantes para apoiar os adolescentes).
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Nesses casos, o papel dos técnicos é de ajudar a aceder aos serviços e a responder às
necessidades básicas:
E estes também são os passos a dar com pessoas que possam estar em risco.
Particularmente em emergências massivas, as mulheres e crianças e pessoas de culturas
diferentes. É muito importante fazê-los chegar a lugares e pessoas de confiança.
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A actuação dos técnicos deverá assentar nos mesmos princípios de acção (ver, escutar e
ligar), mas também em tarefas a realizar. São tarefas com maior especificidade e com
maior grau de técnica.
Tarefa Objectivo
Contacto e Iniciar o contacto de forma empática e não intrusiva, de forma a oferecer ajuda.
Estabelecimento da
Relação
Segurança e Conforto Promover a segurança de forma imediata e providenciar conforto físico e
emocional.
Estabilização Acalmar e orientar os sobreviventes em descontrolo emocional.
Recolha de Identificar as necessidades e preocupações imediatas, obter informação
Informação adicional de forma a ajustar a intervenção.
Assistência Prática Oferecer ajuda prática aos sobreviventes na resolução das necessidades e
preocupações imediatas.
Conexão ao Suporte Ajudar a estabelecer ligação à rede social de suporte, incluindo membros da
Social família, amigos e recursos da comunidade.
Informação sobre o Providenciar informação sobre as reações de stress e como lidar com elas de
Coping forma a promover o funcionamento adaptativo.
Referenciação a Promover a ligação dos sobreviventes a serviços necessários no presente ou no
Serviços futuro.
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As vítimas podem considerar que não necessitam de apoio (deve respeitá-las), mas
também podem apenas não procurar activamente a ajuda. Ofereça ajuda, mas não seja
intrusivo (por exemplo, não interrompa conversas). As primeiras reacções dos
sobreviventes podem não ser positivas, por isso, mesmo nesses casos, deixe claro que as
pessoas podem recorrer à ajuda posteriormente.
Depois da apresentação, busque por necessidades imediatas. Por exemplo, poderá dizer:
Olá, o meu nome é _________, sou psicólogo da equipa de intervenção e estou a falar
com as vítimas desta emergência para ver como estão e o que precisam. Gostaria de
saber se podemos falar por uns minutos?
Sr. ___________, antes de continuarmos queria saber se há alguma coisa de que precisa
agora mesmo?
É de salientar que a acção dos técnicos está dependente das emergências. As emergências
massivas normalmente provocam algum sentimento de caos e as vítimas podem precisar
de protecção física. Por exemplo, de serem encaminhadas para locais de acolhimento, de
ajuda para procurarem familiares e informações ou mesmo de água, comida, abrigo ou
roupas. Nas emergências quotidianas, como um acidente de viação, normalmente os
sobreviventes estão em suas casas e têm acesso a suporte familiar. Neste caso, as
preocupações podem ser relacionadas com os filhos que podem estar na escola ou podem
precisar de quem tome conta deles, por exemplo.
Há um princípio claro nesta tarefa: crianças sozinhas e pessoas com problemas de saúde
ou deficiência não devem ficar isoladas. Não as deixe até que estejam com familiares ou
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com autoridades.
- Esclarecer os boatos.
Seja claro e não dê demasiada informação. É importante que as pessoas se foquem no que
é mais importante. Ainda assim, pergunte se as pessoas têm questões e responda àquilo
que souber. Lembre-se, a confiança e a veracidade em primeiro lugar. Por exemplo, nunca
diga às pessoas que elas estão seguras se não tiver 100% de certeza.
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- Juntar as pessoas que estão a lidar bem com o evento a pessoas que possam beneficiar
da sua ajuda;
- Ajudar as vítimas a protegerem a sua privacidade (por exemplo, falar com eles e com
adolescentes e crianças sobre o direito de negar entrevistas).
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situação. Poderão estar angustiados, com raiva, com medo; poderão ter esperança ou
desespero. Nestas situações, é importante que os técnicos usem um pouco mais de tempo
para ouvir as vítimas.
Quando é necessário recolher informações junto de crianças, é melhor que essa entrevista
seja feita por um profissional e é preciso salvaguardar eventuais sentimentos de culpa.
Por exemplo, a pergunta pode ser colocada assim:
As reacções à morte de alguém são muito variadas: não há formas correctas de reagir,
nem formas erradas.
Mas há formas erradas de lidar com essa perda: algumas pessoas podem envolver-se em
consumos de substâncias como medicamentos, drogas ou álcool.
- Explicar aos membros da família que a dor da perda é manifestada de formas diferentes
por pessoas diferentes e que essa manifestação está correcta (desde que não ponha em
perigo a pessoa);
- Explicar que as crianças podem não manifestar a dor como os adultos (por exemplo,
podem não chorar tantas vezes), mas que a dor está presente;
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- Eu sei como se sente, foi melhor assim, tem que andar com a sua vida para frente…
Não o faça.
Este é o momento dos que sofrem. Os técnicos devem apenas reconhecer e normalizar os
sentimentos de dor.
Uma outra questão tem a ver com o acesso ao corpo, com o funeral e com as preocupações
legais. Trataremos destes assuntos um pouco mais à frente, porque se trata de ligar os
sobreviventes aos serviços, mas é importante, desde já, esclarecer que a presença no
funeral pode ser um instrumento importante para a aceitação da morte. Por exemplo,
apesar de haver uma tendência para proteger as crianças, elas devem poder participar no
funeral. Os familiares devem encorajar as crianças a participar nos rituais, mas não devem
obrigar. A criança deve poder escolher.
Os adultos devem explicar às crianças o que devem esperar do funeral (choro, rituais,
etc.) e permitir que decidam qual a pessoa por quem querem ser acompanhados. Deve
sempre haver alternativa: um local seguro para as crianças ficarem se não quiserem ir ao
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funeral.
É importante reforçar esta ideia: deve ser dito, várias vezes, que o falecido não está em
sofrimento.
3.3.4.3. Estabilização
há sinais que aconselham a que se tome este passo. Por exemplo, se os sobreviventes
demonstrarem sinais como:
- Desorientado (a deambular);
No geral, sinais de que o sobrevivente está a perder a sua capacidade para tomar conta de
si e dos seus e que apresentam sintomas muito fortes e persistentes.
A dor e as emoções são normais e saudáveis. Porém, quando ultrapassam um limite que
impede o funcionamento, os técnicos devem intervir para estabilizar. Isto significa
também que a estabilização pode não ser necessária.
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- O que leva a pessoa a estar intranquilo? Se houver motivos que possam ser resolvidos,
é melhor ajudar a vítima a enfrentá-los do que tentar acalmar. Por exemplo, imagine que
o sobrevivente não sabe quem é que foi buscar os filhos à escola. Primeiro, há que
descobrir onde ou com quem é que as crianças estão e depois, se necessário, acalmar a
vítima.
- Se a situação está a ocorrer com crianças, é mais importante ensinar os pais a lidar
com a situação, do que intervir directamente. Ajude os pais a intervir.
- Os técnicos estão presentes e disponíveis. Essa presença passa por uma postura
tranquila em que os técnicos aguardam o momento certo para intervir. Por exemplo,
podem manter-se presentes (disponíveis) e em silêncio, em vez de tentar imediatamente
falar com a pessoa. Se houver muitos estímulos, isso poderá causar uma espécie de
sobrecarga de informação no sobrevivente.
- O corpo pode passar por dores físicas ou mesmo alguma perda de controlo
(tremores, por exemplo);
- Há passos simples que podem ser dados para acalmar reacções negativas: estar
ocupado com tarefas rotineiras, dar um passeio, fazer relaxamento, etc.
- em primeiro lugar pedir que a pessoa se foque no técnico (“olhe para mim”),
explique onde está (“pode descrever-me este local”) e explique o que sabe
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“É natural que se possa sentir desorientado e que tenha muitos sentimentos difíceis
de gerir. Por isso, vou ensinar-lhe uma técnica que o pode ajudar a evitar
sentimentos desorganizadores e a relaxar.”
Grounding Relaxamento muscular Controlo da
respiração
Usar quando a pessoa parece Usar quando a pessoa está tensa e Usar quando a pessoa
ausente excitada está excitada e a
hiperventilar
- Ponha os pés no chão e as mãos - “Deite-se ou sente-se de forma - “Inspire devagar pelo
em cima dos joelhos (ou noutra confortável. Inspire e expire nariz e encha
posição, mas não cruze os braços); profundamente e sinta o ar entrar e confortavelmente os
- Inspire e expire com calma e sair dos seus pulmões; pulmões até à barriga;
sinta o ar a entrar e sair do seu - Feche os punhos com força. Faça - Silenciosa e
corpo; força e mantenha durante 5 segundos, calmamente repita
- Olhe em volta e diga-me o nome dirija a atenção para os punhos. Agora para si: ´o meu corpo
de 5 objectos que não lhe causam abra a mão e relaxe durante 10 a 15 está cheio de calma`;
sentimentos negativos; segundos; - Expire devagar pela
- por exemplo, estou a ver uma Inspire e expire profundamente e sinta boca e esvazie
cadeira; o ar entrar e sair dos seus pulmões; totalmente os
- Inspire e expire com calma e - Faça músculo com força no braço. pulmões;
sinta o ar a entrar e sair do seu Faça força e mantenha durante 5 - Silenciosa e
corpo; segundos, dirija a atenção para o calmamente repita
- Agora diga-me 5 sons que está a braço. Agora relaxe o músculo do para si: ´o meu corpo
ouvir e que não lhe causam braço durante 10 a 15 segundos; está a libertar a
sentimentos negativos; inspire e expire profundamente e sinta tensão`;
- por exemplo, estou a ouvir o som o ar entrar e sair dos seus pulmões; - Repita 5 vezes;
de talheres a bater; - Feche os olhos com força durante 5 - Faça-o as vezes que
- Inspire e expire com calma e segundos. Agora abra-os e sinta o forem necessárias ao
sinta o ar a entrar e sair do seu corpo a relaxar; longo do dia.”
corpo; Inspire e expire profundamente e sinta
- Agora diga-me 5 sensações que o ar entrar e sair dos seus pulmões;
não lhe causam emoções - Faça isto sempre que se sentir tenso
negativas; e frenético.
- por exemplo, estou a sentir os
pés no chão;
- Inspire e expire com calma e
sinta o ar a entrar e a sair do seu
corpo.”
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- A medicação deve ser limitada no tempo (deve haver uma data clara para deixar de
utilizar);
- Ajudar as pessoas que precisam de medicação a ter assistência (por exemplo, o caso de
doenças agudas, ou de doentes com esquizofrenia ou PTSD (Transtorno do Stress Pós-
Traumático) anterior;
- Recolher informação que possa servir para outros serviços: medicação habitual, casos
de abuso de drogas e álcool existentes, necessidade do sobrevivente realizar exames
médicos permanentes (caso dos diabéticos), etc. Caso o sobrevivente não esteja em
condições de lhe dar informação, recorra à família, vizinhos e amigos próximos.
É verdade que a recolha de informação teve início quando foi estabelecido o contacto e a
relação com o sobrevivente. Porém, destinava-se a facilitar as condições ideais para o
técnico actuar.
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As outras informações relevantes e que devem ser recolhidas têm a ver com:
- As indagações acerca deste tema não deverão ser específicas, uma vez que isso pode
aumentar o sofrimento das vítimas;
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- O pensamento positivo;
- Priorizar;
Em alguns casos, as necessidades actuais são de resolução imediata. Por exemplo, obter
alimentos, contactar membros da família, encontrar abrigo para os dias mais próximos.
Em primeiro lugar, há que ajudar a vítima a dizer quais as suas necessidades. Por exemplo:
- Encontrar comida.
- Contactar a família.
É importante salientar que nas emergências domésticas e massivas, as vítimas podem não
saber o que fazer em relação à morte de um ente querido: onde reclamar o corpo, quem
chamar, como obter a certidão de óbito, como fazer o funeral, que despesas são
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• Priorizar
Nesta fase, os técnicos devem ajudar as vítimas a estabelecer a ideia da sua acção: o que
fazer primeiro, o que fazer a seguir.
Ouça o que a vítima pensa que pode fazer; em seguida, se for importante, acrescente
sugestões e informações que podem ser importantes para os sobreviventes. Fale dos
serviços disponíveis e seja preciso: as vítimas precisam saber com o que podem contar na
realidade.
Uma vez estabelecido o plano de acção, ajude a vítima a pô-lo em prática. Há passos
simples para os técnicos, mas que podem ser complicados para as vítimas: telefonar aos
familiares, contactar a escola, contactar com a polícia, marcar uma reunião com os
serviços de apoio social.
O apoio social é uma fonte importante de recuperação. As vítimas mais bem ligadas com
familiares, amigos e serviços têm mais possibilidade de receber e praticar apoio. Esse
apoio pode ser manifestado de várias formas (emocional, financeiro, material, físico,
médico, aconselhamento) e traduzir-se em relações positivas (confiança,
companheirismo, confirmação da identidade e do valor próprio e autoestima).
- Resolução de problemas;
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- Os sobreviventes podem não querer pedir ajuda, por não conhecerem os prestadores de
cuidados, sentirem culpa ou embaraço, não saberem como recorrer ao apoio, pensar que
podem ser um peso para os outros, pensar que a ajuda não será adequada (também
podem ter passado por experiências em que a ajuda não existia). Os técnicos terão que
ajudar as vítimas a lidar com estas percepções;
- Algumas vítimas podem querer ajudar. Isso é positivo e, nesses casos, o papel dos
técnicos é ajudar as vítimas a descobrirem como o podem fazer: identificar onde e como
podem ser úteis, identificar as pessoas e serviços em que podem prestar apoio, instruir
sobre como escutar, ajudar a resolver problemas e fazer a adaptação cultural;
- Sobretudo, os técnicos devem ter presente que estarão a ser modelos para as vítimas
que pretendem oferecer apoio.
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estratégias de coping eficazes, mas podem nem sequer ter a noção de que possuem essas
competências. Por isso, torna-se importante oferecer informações para que as vítimas
possam lidar com os sentimentos e tensões ou para que possam ajudar outros a fazê-lo.
Durante a intervenção é importante que os técnicos não deem significado patológico aos
sinais que as pessoas evidenciam. Por isso, os técnicos não devem falar em “sintomas”,
“desordens” e devem salientar as reacções positivas.
- Quais são as reacções mais comuns que surgem depois das emergências e como é que
elas podem ser geridas;
Há também interruptores ligados aos eventos e à perda de que as pessoas devem estar
conscientes, uma vez que reagem a esses interruptores e podem ter o seu dia-a-dia
comprometido devido às suas reacções:
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Interruptores Caraterísticas
Trauma Podem ser estímulos (sons elevados, imagens televisivas, etc.) que provocam estados
de ansiedade e medo.
Perda São elementos que lembram a perda e que podem fazer os sobreviventes sentirem-
se sozinhos, perdidos e tristes (por exemplo, fotografias e lugares).
Dificuldades Referem-se a dificuldades que podem surgir devido ao evento, como a ausência de
lar, o afastamento de amigos ou a perda de emprego e que podem impedir o
sobrevivente de viver a vida com normalidade.
Dor da perda São comuns em pessoas que perdem pessoas amadas, animais de estimação ou bens
materiais. Pode dar origem a sentimentos de culpa, isolamento, tristeza e fúria.
Também podem estar na origem de desejos de que a pessoa falecida volte.
Dor de uma Quando a perda de um ente querido ocorre em circunstâncias traumáticas, os
perda traumática sobreviventes podem ficar “presos” à situação que assistiram, e terem sentimentos
de culpa e preocupações sobre o sofrimento da pessoa falecida, o que pode impedir
que o sobrevivente cumpra as tarefas do luto.
Depressão A depressão está relacionada com o prolongamento das reacções de dor pela perda
e pelas adversidades após o evento.
Pode originar sentimento de desesperança, tristeza e perda de objectivos de vida.
Recções físicas Inclui a perda de apetite, hiperventilação, tonturas, cólicas, dores de cabeça, etc.
Falar e procurar apoio de outras pessoas ou passar Usar álcool ou drogas como estratégia para lidar
tempo com outras pessoas; com o problema;
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Escrever um diário;
Procurar aconselhamento.
Nesta fase, as técnicas de relaxamento analisadas anteriormente também são úteis (com
excepção do grouding, que deve ser utilizado em sobreviventes que estão num grande
estado de angústia e de ansiedade).
Eis algumas situações em que os técnicos devem ajudar as vítimas e as suas famílias:
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A ligação com os serviços disponíveis é um passo para que as vítimas assumam o controlo
das suas vidas e tenham o apoio necessário para resolver os seus problemas imediatos.
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- Consumo de substâncias;
Sabemos que as pessoas são diferentes e que os técnicos devem estar preparados para essa
diferença. Contudo, há populações que requerem que os técnicos estejam preparados para
as exigências específicas: as crianças, os adolescentes, os idosos e as pessoas com
deficiência.
Estes passos estão integrados nos princípios de acção, ou seja, em primeiro lugar o técnico
observou e escutou e também irá ligar. Porém, com crianças e jovens, há que integrar
estes cinco elementos na acção dos técnicos e utilizá-los para que a família os possa
realizar.
Uma vez que as crianças entre os 0 e os 3 anos têm limitações na fala, a atenção dos
técnicos deve estar virada para outras expressões emocionais.
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Se, passado um mês, os sintomas estão presentes de uma forma forte. Se não baixou a
activação, se continuam problemas grandes para dormir, se tem pânico de ficar longe da
família, se não consegue voltar às rotinas anteriores
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- São egocêntricas (começam as frases por eu) e percebem que há opiniões diferentes
das suas.
- Têm pensamentos mágicos e são capazes de contar uma história completa. Porém,
ainda têm dificuldade em discernir o que é real e o que é imaginário. Os pensamentos
mágicos fazem-nos acreditar que as coisas acontecem apenas porque estão a pensar que
elas vão acontecer. Por exemplo, se desejarem que aconteça alguma coisa má ao irmão e
há um acidente, podem ficar a acreditar que foram responsáveis.
- Um problema é que as crianças destas idades podem juntar os «pedaços» das histórias
que ouvem dos adultos, dos vizinhos, dos colegas e amigos de escola e na televisão e
rádio e podem construir as suas próprias histórias, que podem ser completamente
diferentes da realidade. Por isso, é muito importante que os adultos de referência
mantenham as crianças informadas.
- Creem que a morte é um estado temporal e reversível (acham que os falecidos vão
acordar e começar a respirar a qualquer momento).
Todas as crianças reagem de forma diferente. Alguns comportamentos que podem surgir
são:
- Perdem autonomia;
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- Sentem medo generalizado (de estar só, de um animal em concreto, de tomar banho,
etc.);
O que fazer?
Domínio Ações
Conter Garantir a segurança e o conforto: comida e água; roupa; jogos e brincadeiras; descanso;
carinho (com palavras e gestos).
Acalmar Falar com a criança à altura dos olhos.
Falar pausadamente e com voz suave.
Para relaxar, pode-se optar por banho, massagem ou histórias.
Pode-se jogar com a criança (e, também, com os seus amigos imaginários).
Informar Explicar o aconteceu, com linguagem acessível.
Responder às questões de forma sincera.
Não minimizar o que aconteceu nem as consequências.
Explicar o que irá acontecer num futuro próximo (a previsibilidade transmite segurança).
Ter paciência (se necessário, oferecer informações temporariamente).
Saber que informações foram dadas por outros adultos, para corrigir, se necessário.
Ajudar a criança a diferenciar a realidade do imaginário.
Normalizar Ajudar a criança a compreender que a expressão das emoções e dos sentimentos é
positiva e normal.
Ajudar a pôr um nome às emoções e sentimentos.
Não criticar a perda de capacidades.
Consolar Animar a criança.
Se necessário, jogar ou brincar (organizar situações sobre o que se passou, para ajudar
a compreender o que aconteceu e como se sente).
Retomar rotinas e tarefas (como pôr a mesa, vestir-se, arrumar o seu espaço).
Oferecer a possibilidade de despedir-se dos entes queridos (funeral, velório)
Se as crianças não quiserem falar, não forçar. Apenas fazer entender que estamos
disponíveis quando quiserem falar (usar palavras que expressem sentimentos comuns,
para que a criança não se sinta estranha).
As crianças estão mais maturas e compreendem coisas que as crianças até aos 6 anos.
Mas nãos são adultos. Entendem mais, mas não entendem tudo.
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Manual de Intervenção Psicológica em Emergências Sónia Pereira Dinis
mensagem.
Entre os 6 e os 9 anos de idade, as crianças sabem que a morte é irreversível e que acontece
às pessoas, mas ainda não têm a consciência de que elas também morrerão um dia. Mas
sabem que as pessoas que as rodeiam morrerão um dia, o que provoca preocupação. isto
coloca desafios à gestão dos acontecimentos traumáticos.
Como é que os acontecimentos traumáticos (com ou sem morte) afectam as crianças entre
os 6 e 9 anos?
Nas primeiras 4-6 semanas, estas reacções são adaptativas e ajudam a criança a lidar e
ultrapassar com o que aconteceu. Se se prolongarem, torna-se necessária ajuda
profissional.
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Domínios Ações
Conter Conter as emoções.
Criar um ambiente calmo e seguro.
Nomear as emoções.
Apelar a pensamentos que possam tranquilizar as emoções.
(estás seguro aqui, os teus pais protegem-te).
Acalmar Falar em voz pausada.
Manter tranquilidade e voz baixa e calma.
Recordar à criança que a situação é semelhante a outras situações e que, nessa altura,
os medos foram superados (lembras-te quando caíste e tiveste que ir ao hospital?
Tinhas medo, mas os médicos ajudaram! O que se passa agora é semelhante. Tens
medo, vais perceber que vais conseguir ultrapassar a situação) – Relembrar a criança
que têm mecanismos internos para gerir a situação.
Não dizer à criança que se se acalmar, tudo irá ficar melhor (possivelmente não é
verdade). Mas podemos dizer que estamos lá para a ajudar a acalmar-se e, para que
tudo corra o melhor possível.
Informar Com a criança calma, começar a informar.
Utilizar linguagem apropriada (estas crianças não são adultas).
Explicações fáceis, curtas e simples trazem segurança (por exemplo, sabes que de
manhã o pai foi trabalhar e que foi de carro. Há pouco, a polícia ligou-me e disse-me
que o pai teve um acidente – a criança perguntará se o pai está bem. Teremos que lhe
dizer que não, que está no hospital e que os médicos dizem que é grave). Os rodeios são
difíceis e ameaçadores.
Temos que ser simples, mesmo que os adultos se assustem com aquilo que têm que
dizer à criança.
Normalizar Normalizar todas as emoções e sentimentos.
Dar nome às emoções (importantíssimo).
Dizer que os sentimentos são normais e que, possivelmente, ao longo das horas e dos
dias, se transformarão noutras emoções.
Não dizer “vais melhorar”, porque o que acontece é que as emoções se transformam.
Reforçar que estamos presentes para ajudar.
Consolar A criança dá conta de que teve uma perda e está a racionalizar.
É importante continuar a garantir que estaremos lá que a criança se sinta o melhor
possível (não dizer para se sentir bem, porque numa perda isso é impossível).
Nestas idades, já não são crianças, mas também não são adolescentes. Há muita
variabilidade.
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- Todos morrem;
- É irreversível;
Precisam de ajuda para perceber que a forma de chorar são as lágrimas e não o mau-
génio. Será sempre difícil, devido a questões comunicacionais.
Falar sobre o que aconteceu e as consequências no futuro, provoca stress. Por isso, os
pré-adolescentes tendem a evitar a comunicação e a refugiar-se no grupo de amigos.
A tarefa dos adultos é manter aberto o canal de comunicação, mesmo que não diga aquilo
que acha importante dizer e explicar (isso poderá ser feito posteriormente).
Podemos, por exemplo, esperar que seja o pré-adolescente a perguntar sobre o tema.
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Não devemos fazer do sono e da alimentação uma batalha. Não é fácil, mas nas primeiras
4 a 6 semanas, a presença de tais reações são formas de expressar um pedido de ajuda.
Domínios Ações
Conter Encontrar um equilíbrio entre o emocional e racional; entre a protecção (adultos) e a
acção (estar com) dos amigos.
Criar um espaço para que possam “fugir”, não pensar no que aconteceu e isolar-se (é
importante haver momentos de desconexão).
Acalmar Falar calmamente e com voz pausada.
Os pré-adolescentes gritam, refilam e confrontam, por isso, actuar para acalmar passa
por deixá-los estar (por exemplo, perguntando se precisam de alguma coisa).
Ao contrário das crianças (a quem afagamos e pegamos ao colo) os pré-adolescentes
precisam de “espaço” acompanhado.
Informar Utilizar quase as mesmas palavras que com um adulto (dar a informação necessária,
curta, precisa e aguardar as questões).
Mas a comunicação é complicada, por isso é importante voltar ao tema várias vezes
(recordas-te o que falamos antes? É importante falarmos sobre…)
Normalizar Este é o passo mais importante a tomar na pré-adolescência, porque para um
adolescente que está assustado, para quem muito mudou e que sente angústia, tudo
parecerá anormal.
Por isso, é importante salientar que não há uma maneira única e correcta de reagir e
que a única regra que existe é a do apoio mútuo entre pessoas e (principalmente) os
amigos da mesma idade (eles sabem bem o que os pode ajudar).
É importante relembrar que a revolta, a contestação, pode ser uma forma de estar triste
(não dizer “É incrível que, apesar do que aconteceu, tu ainda estás a refilar”).
Consolar Temos que aceitar que, possivelmente, as melhores pessoas para consolar são os
amigos de 11 ou 12 anos. Percebem muito bem o que se passa com os seus pares. A
prioridade deve ser o consolo através do grupo de apoio de amigos.
Apesar disso, devemos estar disponíveis.
Como nos outros casos, se após 4-6 semanas os sintomas não passam, devemos recorrer
a orientação.
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Ambiente Físico
- Sempre que seja possível, deve estar junto da criança e no seu ângulo de visão;
- Seja uma referência e explique aos pais/adulto responsável que estão com a criança: a
criança reage instintivamente por “cópia”, ou seja, é normal adoptar as mesmas atitudes
e comportamentos de outros adultos que são uma referência para ela. Assim, adultos
calmos e seguros de si vão transmitir mais tranquilidade do que adultos ansiosos ou
sem controlo. Explique isto aos familiares ou conhecidos que acompanham a criança.
- Explique à criança que, apesar dos pais/adulto responsável estarem alterados com a
situação, continuam a ser capazes de tratar dela, tão bem como o faziam antes da
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situação.
- Apresente-se e fale de forma calma e tranquila, mas alto o suficiente para a criança o
ouvir. Trate a criança pelo nome;
- Não guarde segredos das crianças, pois elas pressentem quando as coisas não estão
bem. O “segredo” de trabalhar com crianças em emergência é saber comunicar que
alguma coisa não está bem, mas que alguém tomará conta delas e que as coisas irão
acalmar e melhorar em breve. Se não se souber responder, dizer com sinceridade que
não sabe;
- Comunique com a criança de forma que ela entenda. Relembre-se de que os adultos
têm necessidade de ouvir as experiências das crianças, por vezes de forma exaustiva.
Mas as crianças não necessitam de saber todos os detalhes das experiências dos adultos;
Controlo sobre o Processo A criança está preocupada com o que vai acontecer a seguir.
Com a colaboração do adulto responsável deve-lhe ser explicado todo o processo numa
linguagem adaptada ao seu nível de desenvolvimento. Assim:
- Transmitir à criança que não está a ser castigada por nada de errado que tenha feito;
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- Ser honesto com a criança, se não se souber responder-lhe, dizer com sinceridade:
“Eu não sei”;
- Pedir ajuda à criança, como por exemplo, segurar num instrumento, numa compressa,
etc.;
- Permitir que a criança tome algumas decisões sempre que possível, como por
exemplo, em que posição quer estar durante a intervenção, em que dedo quer ser picado;
Autocontrolo
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3.4.6. Adolescentes
Os adolescentes estão numa fase de transição em que não são crianças, mas também não
têm acesso aos mesmos recursos que os adultos têm. Em primeiro lugar, interessa
compreender a que pressões os adolescentes estão sujeitos e depois como é que os
adolescentes podem ser envolvidos nos PSP.
A adolescência é uma etapa de mudanças frequentes que, por si só, são causadoras de
stress. Quando há eventos traumáticos, esse stress do evento anormal é somado ao stress
do dia-a-dia. Por isso, entender as pressões a que os adolescentes estão sujeitos é um
elemento importante para a intervenção. Compreendermos quais são os factores que
dificultam a vida dos adolescentes permitir-nos-á ajustar a forma de agir.
A primeira pressão sobre os adolescentes tem a ver com o rendimento académico. Nesta
altura, os adultos começam a pedir aos adolescentes mais empenho, responsabilidade e
rendimento escolar. Normalmente, estes pedidos estão relacionados com mensagens de
que a escola é importante para o futuro e que os adolescentes devem começar a pensar no
seu futuro a longo prazo e a escolher vias para uma futura profissão. Apesar de isto ser
muito importante para os adultos, não o é para os adolescentes.
Em segundo lugar, o corpo não ajuda. Como há muitas alterações no crescimento físico,
hormonal e de personalidade, os jovens sentem-se um pouco estranhos no seu próprio
corpo. O crescimento é de tal forma acelerado que o cérebro tem alguma lentidão de
adaptação às novas medidas e, por isso, os jovens podem ser descoordenados, deixar cair
objectos com frequência, bater contra os móveis, etc. Este é um processo de adaptação ao
novo corpo diário, mas que gera problemas de autoestima. A imagem externa dos
adolescentes é muito importante para os adolescentes.
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os stressores.
A etapa de oposição pode ser “pesada” para os adultos e para os adolescentes. Parece que
os adultos nunca fazem nada sem que os adolescentes contestem. É uma etapa que
dificulta a gestão de eventos traumáticos e é muito importante que os técnicos tenham
presente que a oposição é anterior a qualquer evento traumático (ou seja, não surge devido
ao trauma).
Em quarto lugar, o referencial dos jovens passa a ser o grupo de iguais em vez dos adultos.
Os jovens procuram o seu papel no grupo. É um processo em que se produzem tensões
no grupo, mas que são importantes. É, também, um processo adaptativo que permite a
socialização e o treino de competências que serão necessárias para a vida adulta. O grupo
de pares é o espelho dos adolescentes. Logo, o grupo de iguais tem um papel nos PSP
com adolescentes.
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Para os pares poderem ajudar, devem ter acesso a informações sobre o ocorrido e formas
de ajudar e devem ser valorizados como elementos do processo de acompanhamento.
Até aos 12 anos as principais tarefas são dos adultos. Porém, na adolescência, os amigos
dos jovens ganham um papel especial. E as mudanças fazem aumentar a impulsividade.
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Em primeiro lugar, aproveitar o facto dos adolescentes precisarem dos adultos para passar
pelas dificuldades da catástrofe (podem não gostar, mas, de facto, precisam dos adultos).
Em segundo lugar, os adultos têm que ser capazes de reconhecer que é difícil adoptar a
mesma atitude de independência que adoptariam se o evento traumático não tivesse
ocorrido. Os pais tendem a proteger os filhos. Os técnicos devem explicar aos pais e aos
filhos que estas atitudes são normais.
- Respeitar os espaços do adolescente – tanto quando quer estar só, como quando quer
estar com o grupo de iguais. Enquanto adultos, poderemos querer consolar e acalmar, mas
devemos ter capacidade para deixar que os jovens recorram aos amigos (que podem ser
capazes de oferecer mais apoio e tranquilidade).
O que fazer perante um adolescente (ou grupo) a quem devemos aplicar PSP?
Em primeiro lugar, perguntar se aquele é um bom momento para falar. A permissão deve
sempre ser pedida. Se o adolescente não quiser, essa opção deve ser aceite.
Caso seja possível falar, devemos tentar descobrir o que é que o jovem quer (que apoio
precisa). Porém, o próprio jovem poderá não o saber. Então, os técnicos devem oferecer
alternativas. Se quer ir à escola, se quer algum apoio médico, etc.
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O jovem deve ser sempre convidado a participar nas actividades familiares. Convidar
significa que não deve ser forçado. Deve tomar conhecimento das vantagens que, do
ponto de vista dos adultos, tem a participação nas rotinas familiares.
Finalmente, os jovens devem poder participar na gestão do evento crítico. Por vezes os
jovens não são mais participativos porque ninguém lhes pergunta se querem. Por
exemplo, na ajuda com crianças ou na realização de tarefas básicas. Os adolescentes são
pró-sociais e, por isso, gostam de ajudar e socializar nas situações de crise.
Não estabelecer expectativas sobre o que os jovens devem fazer. Os técnicos devem falar
com os adultos sobre isto. Deve-se evitar que apareçam as frases feitas (“Deves portar-te
bem”) que, num momento de vulnerabilidade, podem ser prejudiciais. Os técnicos devem
evitar que este tipo de influência ocorra ou então devem fazer para que sejam
desactivados.
Como é que os técnicos devem agir perante o grupo e que conselhos podem oferecer?
Num evento crítico o ideal é que o grupo mantenha a calma, que não discutam ou se
culpabilizem mutuamente pelo sucedido.
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Também devem ser aconselhados a recuperar as suas rotinas habituais: voltar à escola e
a sair com os amigos, por exemplo.
Assim, os jovens estarão mais preparados para lidar com os problemas. Os técnicos
também devem informar os jovens sobre as estratégias de coping que possuem ou que
podem aplicar, como:
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3.4.7.1. Idosos
Nestes casos, é previsível que haja necessidade de medicamentos e estejam presentes
doenças crónicas. Por isso, a intervenção deve promover o retorno rápido à medicação e
também:
- Identificar necessidades especiais comuns nesta faixa etária (ex. fraldas, arrastadeira,
cadeira de rodas);
- Explorar com o idoso quem lhe poderá dar apoio numa fase posterior.
De resto, a intervenção segue a atitude de comunicação simples e de empatia que deve ter
com outras vítimas.
Tal como em qualquer pessoa, também nos casos das PCDI as situações de catástrofe ou
os eventos críticos quotidianos são um desafio, porque estão acima do nível de pressão
que normalmente experienciam.
No caso das PCDI, existe alguma tendência para a protecção (evitar que sintam emoções
negativas) ao longo da vida. Em alguns casos, as pessoas são segregadas (afastadas da
sociedade) ou excluídas (colocadas em locais onde contactam maioritariamente com
outras PCDI e em ambientes muito controlados).
Isso não significa que as PCDI não tenham alguns recursos. Mas também têm
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- Os espaços tornam-se mais relevantes. É importante que o local dos PSP seja
especialmente confortável (sentido como seguro) para a PCDI. Há que perguntar às
pessoas qual é o espaço que prefere (estás bem aqui?).
- Há que procurar por quem conhece a PCDI, mesmo que sejam apenas vizinhos ou
parentes afastados. Essas pessoas podem ajudar a compreender se as reacções da PCDI
estão muito afastadas da normalidade do dia a dia. ATENÇÃO: estas pessoas devem ser
facilitadoras. Caso não o sejam, estejam nervosos, pessimistas e precisem de apoio, então
é melhor trabalhar primeiro e à parte com essa pessoa, eventualmente, facilitadora e
descobrir quais foram as reacções das PCDI a eventos traumáticos anteriores, a medicação
eventual de que necessita, etc.
- A percepção das PCDI pode estar alterada em função do evento. Por isso, é importante
anunciar sempre a presença do técnico que fornece PSP (por exemplo, posso entrar?), o
que facilitará a intervenção.
- Escutar ganha outro sentido no caso de PSP a PCDI: é importante perguntar o que sabe,
o que outras pessoas disseram e é preciso ouvir com atenção a comunicação verbal e não
verbal.
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- As perguntas das PCDI são uma fonte preciosa de informação: que perguntas são? Qual
é a intenção das perguntas? As perguntas são coerentes com a informação prestada? Qual
é o significado das perguntas? Trata-se, portanto, de saber o que preocupa a PCDI:
- Estar com medo das reacções da PCI. Os medos são percebidos e reflectem
expectativas que podem despoletar reacções negativas.
- Perder a paciência.
- Gritar.
- Tocar.
Nestes casos, a intervenção deve estar orientada para garantir o acesso das pessoas a
recursos de mobilidade (cadeiras de rodas, por exemplo). Devido às dificuldades
eventuais de locomoção, estas pessoas devem ser consideradas prioridades.
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O suicídio é uma situação difícil para os técnicos que intervêm e, conjuntamente com as
tarefas relacionadas, os técnicos podem “esquecer-se” de quem ficou vivo.
- Apresentação.
- Falar brevemente sobre o que se vai fazer (o que a pessoa que fornece PSP vai fazer ou
sobre o que a pessoa que vai tratar do corpo vai fazer). Depois, deve ser solicitado aos
familiares que se afastem do local e é preciso garantir que, particularmente, as crianças
não estão em contacto com o corpo na cena do suicídio.
- Tudo o que for feito será visto ou sentido pelos familiares presentes. É importante
respeitar o falecido e não falar sobre a situação em frente dos familiares. Quando falar
acerca da pessoa que morreu, é mais adequado utilizar o nome, uma vez que isso
humaniza a comunicação (não utilize “ele” ou “ela”). A utilização do nome é
reconfortante para os familiares.
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- E há que perguntar o que é que eles precisam e como é que podemos ajudar.
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São famílias em que há casos de consumo de drogas, violência entre os membros, desleixo
na alimentação ou educação dos mais jovens. Têm poucos recursos físicos e emocionais
para lidar com os problemas e apresentam conflitos individuais e também com o contexto.
A estrutura é caótica, sem rotinas e limites e, muitas vezes, os papéis sociais estão
invertidos. A comunicação é disfuncional e há incoerência entre a comunicação verbal e
não verbal (e a comunicação deixa de fazer sentido). É vulgar haver o abandono ou
insucesso escolar e estas famílias apresentam dificuldade em transmitir normas e regras
socialmente aceites.
- Mulheres sozinhas com um ou vários filhos, com incapacidade para manter uma
relação estável com os filhos. Vulgarmente apresentam um historial de consumo de
drogas ou prostituição.
- Famílias petrificadas: são aquelas que, perante um evento traumático, são incapazes de
reagir e têm o funcionamento completamente alterado.
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Na acção, devemos ser claros sobre o serviço que será prestado e sobre as diferenças para
os outros serviços. Os objectivos da intervenção devem ser claros e significativos para a
família.
Os técnicos devem evitar discussões ou impor mais limites do que aqueles que as pessoas
da família estão disponíveis para aceitar.
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Criticar abertamente a gestão que a família faz. Falar do impacto à frente das crianças, sem ter em
conta a sua presença.
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Os eventos críticos não causam apenas vítimas durante o impacto primário. O impacto
secundário também pode provocar problemas de saúde mental. Por isso, os técnicos
expostos a situações de catástrofe e ao sofrimento humano devem ter consciência de que
estão em situação de risco. É inevitável que tal aconteça e também é inevitável que haja
um sistema pensado para auxiliar os técnicos e empreender pela sua saúde e bem-estar,
para que os técnicos possam ir para casa e retomar os outros papéis das suas vidas.
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- Os técnicos também estão expostos a eventos relacionados com violência de uma pessoa
sobre outra e, portanto, têm a consciência da brutalidade e do dano que os seres humanos
são capazes, o que é inquietante.
Portanto, o contacto com eventos críticos põe em causa a visão da vida. Passa a ser uma
visão mais dura e menos confiante na tranquilidade do dia-a-dia. E os técnicos, em
contacto com as vítimas, sofrem o desgaste dessa dor que é contactada com frequência.
- Em segundo lugar, está o stress traumático secundário, ou seja, aquele que resulta da
exposição e intervenção no evento crítico e aos factores de risco referidos anteriormente.
É secundário porque há uma exposição em segunda linha à dor dos outros (daqueles que
sofreram o impacto);
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Muitos destes sinais são compatíveis e vulgares com outros quadros médicos. Logo, antes
de concluir que esta síndrome está presente é conveniente consultar médicos e
especialistas que garantam que não há outros problemas de saúde diferentes.
Estes são dois sinais que alertam para a necessidade de intervenção e de aprender a gerir
os eventos traumáticos. Saliente-se que essa intervenção não é uma psicoterapia. Trata-se
de técnicas de carácter preventivo (e não de técnicas a aplicar posteriormente ao
aparecimento de sintomas de stress, ansiedade, desajustamento ou depressão).
Mas também há um stress cumulativo, que se refere ao efeito acumulado do stress vivido
nas várias experiências quotidianas e nas emergências em que os técnicos participaram.
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- Que os técnicos actuem com profissionalismo, o que se traduz numa postura calma e de
recolha de informação durante a intervenção (os técnicos sabem que essa é a melhor
forma de ajudar pessoas que podem estar perdidas, em pânico ou com medo);
Há sinais que indicam que algo vai mal, que podem aparecer durante a intervenção:
Sinais a estar atento durante a intervenção
Sinais físicos Sinais emocionais Sinais cognitivos
- Mal-estar; - Falhas de memória; - Sentimentos de euforia (por
- Dores de cabeça; - Dificuldade de concentração; estar vivo e a intervir no
- Dores musculares. - Dificuldade em realizar tarefas salvamento – Síndroma de
simples. super-homem) ou sinais de
síndrome por empatia
(identificação com as vítimas,
como tristeza, apatia, etc.).
- Consumo de substâncias;
- Evitamento de lugares;
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Domínio Ações
Manter rotinas - Planear o dia para que tenham um tempo adequado de descanso e de
diárias afastamento;
- Manter contactos sociais;
- Praticar desporto;
- Realizar actividades de ócio e culturais;
- Ter contacto com a natureza;
- Utilizar instrumentos de relaxamento;
- Ter um hobbie:
- Apanhar sol pelo menos 30 minutos por dia.
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4.4.1. Defusing
O defusing é uma técnica breve, aplicada no momento de desactivação dos elementos da
equipa, com duração que varia entre os 20 minutos e os 60 minutos.
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Passos Ações
Introdução É explicado o funcionamento da sessão (setting) e objectivos e pede-se a quem tem
questões que as coloquem naquele momento.
Exploração Trata-se de relatar os acontecimentos, como foi a intervenção, o que foi visto e vivido
e também o relato dos casos que necessitam de seguimento e acompanhamento
especial.
Informação e Faz-se um resumo do que os intervenientes explicaram sobre o sucesso da intervenção
encerramento e sobre os sentimentos, depois normaliza-se as reacções de stress e relembra-se a
evolução esperada de padrões de reacção. É importante relembrar as técnicas ao
dispor dos técnicos.
Quem coordena o defusing deve garantir que as pessoas podem expressar os sentimentos
e que são apoiadas e sabem a quem podem recorrer. É importante que no defusing os
técnicos expliquem os acontecimentos para não terem que as explicar em casa. Trata-se
de prevenir os ajustes emocionais.
4.4.2. Debriefing
O debriefing utiliza-se 48 horas a 72 horas após a intervenção no evento traumático. É
um processo grupal estruturado destinado a analisar os efeitos stressantes da intervenção.
Trata-se de uma sessão com duração próxima de uma hora em que é feita a análise cuidada
do evento e da intervenção e são vistos os sentimentos, ideias e emoções que surgiram
em função da intervenção. Também são fornecidas informações sobre estratégias que
permitem enfrentar e ultrapassar as emoções negativas provocadas pela intervenção.
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próprias reacções e sentimentos para que não as reforcem ou tenham uma interpretação
equivocada do acontecimento.
Apesar de ser tipicamente utilizada com grupos, também pode ser utilizada
individualmente.
Um grupo demasiado grande pode não permitir que estas tarefas sejam conseguidas e,
por isso, há que pensar sobre o número de elementos que constitui o grupo e sobre a
necessidade de constituir sub-grupos.
- Reforçar os laços interpessoais que permitem combater o isolamento social que pode
surgir depois da intervenção;
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Assim, o debriefing é uma técnica de intervenção primária (de prevenção). Mas não é
uma sessão terapêutica, nem uma cura ou remédio.
Já vimos que deve ser aplicado 48 a 72h após a intervenção. As sessões devem ter a
duração próxima dos 60 minutos (pode ir até às 3h), em grupos de técnicos intervenientes
de tal forma que permita a partilha (sugestão de 8 a 10 pessoas no máximo por grupo).
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Domínios Ações
Introdução Trata-se da apresentação de pessoas e objectivos e descrição do processo (do que vai
acontecer). Em seguida descreve-se as condições de confidencialidade e as normas a
seguir (escutar em silêncio, sem interromper quem fala, ninguém está obrigado a falar,
devem ser evitadas críticas ou juízos de valor entre os participantes, deve-se falar das
experiências próprias e reacções pessoais e não das dos outros, explicar que se alguém
sentir necessidade pode sair da sala, a sessão realizar-se-á sem interrupções).
Finalmente, faz-se uma descrição breve da estrutura da sessão.
Relato do que Cada participante relata o que fez e que intervenção teve desde o momento em que
se fez tudo começou até que acabou. É importante alcançar o relato completo da intervenção
do técnico, porque isso ajuda a estabelecer organização cognitiva. Também permite que
as pessoas encarem a sua acção racionalmente, sem que os acontecimentos dominem
as pessoas.
Esta tarefa favorece a compreensão do acontecimento e a construção de uma imagem
global do ocorrido com a participação de todos.
O que se Pede-se aos participantes que partilhem os pensamentos que tiveram ao longo da
pensou intervenção, partilhar e expressar as recordações com outros intervenientes permite
diminuir a frequência e a intensidade das ideias e pensamentos e também a sua
reorganização e fornece-lhes um carácter menos individualizado e invasivo.
O que se Nesta fase analisam-se as emoções e os sentimentos expressos nos relatos dos
sentiu participantes. Quando as pessoas escondem sentimentos, podem sentir efeitos
negativos na sua saúde. Por isso, é importante que partilhem os sentimentos. A partilha
deve ser dos sentimentos e sensações vividas e também da sua manifestação na
actualidade. Esta dinâmica de partilha de emoções promove uma percepção de
semelhança e normalidade das reacções
Reformulação Neste ponto, o coordenador fará uma síntese das reacções dos participantes. Deve
e reforço salientar as semelhanças e normalizar as reacções. É importante salientar que estas
reacções são normais e compreensíveis perante eventos traumáticos. Em seguida, o
coordenador deve falar sobre os sintomas possíveis que podem aparecer nos dias
seguintes à intervenção e realçar que se espera que esses sintomas diminuam com a
passagem do tempo. Isto permite que o grupo tenha expectativas de criar estratégias
para lidar com a situação. Assim, o coordenador deve transmitir as técnicas de combate
do stress disponíveis e motivar as pessoas a adoptar comportamentos saudáveis
(actividade física e social, ócio, contacto com a natureza) e a evitar substâncias nocivas.
Recuperação Nesta fase, o grupo fala sobre os seus projectos e sobre as suas estratégias para lidar
com a situação. Isto ajuda a estabelecer soluções construtivas para os traumas. É,
também, a última oportunidade de responder a questões ou dúvidas e de concluir,
motivando os técnicos a manter o contacto para que possam ser apoiados, caso
necessário.
Seguimento Pode ocorrer através de contactos pessoais e informais, telefone, internet, etc.
(Follow up)
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Mas algumas pessoas também desenvolvem problemas sérios de saúde mental. Embora
muitos sobreviventes tenham a capacidade para recuperar por si, outros têm reacções de
stress e ansiedade que prejudicam o coping e o retorno ao controlo sobre a própria vida.
Por isso, todos podem beneficiar de competências que ajudam, nas semanas e meses
seguintes ao impacto, a retomar o controlo da vida (embora algumas vítimas possam ter
todas as competências de que precisam para prosperar, mesmo sem a intervenção dos
técnicos).
Quando não é possível aplicar as CRP imediatamente depois dos PSP, há evidências que
mesmo assim elas têm alguma eficácia. Por outras palavras, é melhor aplicar o processo
de CRP do que não aplicar nada, mesmo que tenha passado muito tempo.
O processo tem que ter em consideração que em algumas ocasiões, como catástrofes com
muitas vítimas, é provável que os técnicos só possam efectuar uma ou duas visitas às
vítimas. Ou seja, as CRP devem poder ser disponibilizadas em poucas sessões e em pouco
tempo. Por isso, é um processo simples e objectivo, em que a intervenção assenta na
prioridade da vítima, na comunicação eficaz e no follow up.
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A questão do tempo é importante. Na parte dedicada aos PSP consideramos que os PSP
se aplicam nas 72 horas imediatas ao impacto e falamos várias vezes de sintomas agudos
que podiam ir até às 6 semanas.
- Os PSP são oferecidos em ambientes temporários em que pode não ser possível fazer o
follow up;
Estes objectivos são alcançados por um passo aparentemente simples, mas muito
importante: definir e agir sobre o que é prioritário para as pessoas. A partir deste passo, é
preciso desenvolver as CRP, nomeadamente:
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- Cada pessoa e família têm áreas mais carenciadas e, por isso, os técnicos devem ajudar
os sobreviventes e lidar com essas áreas, ensinando-lhes as competências mais úteis;
- A intervenção parte sempre das forças das vítimas: apesar da situação, elas possuem
experiências anteriores e competências que as ajudam a lidar com as situações
catastróficas; e devem ser as vítimas a ganhar o controlo da sua vida. Ninguém o poderá
fazer por elas.
As CRP são eminentemente relacionais, sociais e emocionais: não se trata apenas de ouvir
a vítima; trata-se de criar uma relação que valide sentimentos e os normalize, que crie
empatia e que permita um relacionamento positivo. Novamente, a intervenção parte do
princípio de que as vítimas possuem a capacidade para se recompor. Este é um
pensamento central: de que são as vítimas as responsáveis, os actores na recuperação.
Nenhum técnico pode substituir a vítima, porque o mais provável é que a presença dos
técnicos seja pontual e inconstante. A única grande constante é a vítima e aquilo que ela
tem dentro de si.
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Para aquela vítima, retomar a vida era poder retomar as rotinas e assegurar o bem-estar
dos filhos e da família e o sal era uma peça importante para isso. Note-se que esta vítima
passara por um processo por si: foi capaz, mesmo antes da nossa intervenção, de mobilizar
as suas energias e experiências anteriores para enfrentar os principais problemas:
protecção, segurança e necessidades básicas. Houve outras histórias muito diferentes, mas
esta retrata muito bem as capacidades das pessoas em situação de crise.
Contudo, todos estamos conscientes de que a formação antecipada dos agentes poderá
não ser possível, o que significa que ela poderá ter que ser realizada após o impacto e
quando se está a planear o follow up da primeira intervenção (PSP). Portanto, se os PSP
não podem esperar (a formação tem que ocorrer antes do impacto) as CRP permitem
formação de técnicos após o impacto, uma vez que, previsivelmente, a intervenção
ocorrerá no período mínimo de uma semana após o evento. Note-se que isso não é o ideal
(o ideal será sempre ter técnicos devidamente preparados), mas, eventualmente, o
possível.
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Uma vez que este manual está orientado para os técnicos que se propõem intervir,
gostaríamos de salientar a importância da confiança e da comunicação. Os princípios não
são muito diferentes daqueles que foram adoptados para os PSP.
Tal como nos PSP a comunicação é a chave para o início de uma boa relação. Neste caso,
pretende-se criar uma relação de empatia e confiança, mas nunca de dependência. E tal
como nos PSP, a acção dos técnicos deve ser de respeito individual e cultural.
- Estimular e motivar;
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- Ajudar as vítimas a definir a prioridade (qual é a área em que é mais importante agir?)
- Ensinar a competência;
Ainda assim, é preciso não hesitar. Caso se verifique risco para a pessoa e para os
familiares próximos, há que referenciar a situação aos serviços ou solicitar a intervenção
de técnicos mais experientes.
É preciso explicar a importância de cada uma das competências (porque é que fazem
efeito?) e decidir quais as competências que são mais importantes (a vítima deve ter um
papel activo). Essas competências devem ir ao encontro das necessidades das pessoas
afectadas. Quando estiver a ensinar as CRP é muito importante esclarecer sobre os
objectivos das competências. As vítimas devem compreender para que serve aquilo que
estão a aprender a usar. E também que a prática permite que as vítimas melhorem as suas
competências. Estimule a prática das competências.
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Não apresse a conversa. Seja empático e valide as preocupações das vítimas. Elas podem
parecer insignificantes para si, mas não o são para as pessoas que as verbalizam.
Reveja os passos essenciais relacionados com essa competência. Mesmo que só consiga
estar com a pessoa uma vez, essa revisão ajuda as vítimas.
Há que respeitar. Mas isso não significa esquecer. Por exemplo, se há sinais de que a
pessoa não consegue tratar de si ou da sua família, deve informar os serviços para que
possa ser definido um curso de acção para aquela situação específica. De qualquer forma,
deve deixar o seu contacto (deve tornar-se acessível) ou dos serviços e deixar claro que
se a vítima quiser, mais tarde, recorrer à sua ajuda, podê-lo-á fazer.
- Não espere demasiado do pouco tempo que tem. Vale mais a pena ensinar uma
competência importante e com calma, do que apressar a conversa. Foque-se numa
competência. Não sobrecarregue o sobrevivente.
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Outro aspeto que deve considerar na intervenção (e na fase preparatória) tem a ver com
as condições das pessoas e das famílias:
- Quantos contactos estabelecer? Vale mais a pena vários contactos em que possa
ensinar uma competência muito importante para aquela pessoa do que um contacto
muito prolongado;
- Tem a permissão da família? Se a intervenção for com crianças, deve garantir que os
pais permitem que a intervenção ocorra. No caso dos adolescentes, como são jovens que
prezam a sua autonomia, deve pedir autorização ao adolescente em frente dos pais.
Estou contente por estarmos aqui hoje. Eu gostaria de descrever como podemos
trabalhar juntos hoje e no futuro. Talvez já tenha estado com um conselheiro, mas eu vou
ser mais como um professor ou um treinador. Vou ajudá-lo a aprender um conjunto de
habilidades que ajudam as pessoas após eventos difíceis; vou dar-lhe uma espécie de
caixa de ferramentas.
Primeiro, vamos descobrir juntos quais são as suas necessidades mais importantes. Em
seguida, vamos descobrir a melhor forma de responder a essas necessidades através da
caixa de ferramentas. É você quem vai escolher qual é a ferramenta para melhorar a sua
situação. Também vai decidir o tempo de que precisa para aprender essas habilidades de
modo a ficar no comando da sua vida. Gostaria que nos pudéssemos reunir mais do que
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Com crianças há que ser mais concreto. Por exemplo, pode dizer:
Estou contente por estarmos aqui hoje. Eu sou como um treinador e, por causa do que
passaste, vou ensinar novas maneiras de ajudar o teu corpo a estar mais calmo, a sentir-
te mais forte e a divertir-te novamente. Primeiro eu gostaria de saber mais sobre ti, sobre
como tu estás e depois podemos começar a aprender e a treinar juntos.
O primeiro passo é saber o que é que a vítima precisa. A intervenção dos técnicos segue
três etapas:
Domínio Ações
Objectivo Compreender se há necessidades que devem ser atendidas imediatamente e
criar prioridades para a aplicação de CRP.
Porque é importante? O momento do impacto pode ter efeitos devastadores. E os dias e semanas
seguintes são ocasiões em que há insegurança e as vítimas desconfiam do
futuro, têm dificuldade em decidir o que é mais importante e em agir para
tomar o controlo das suas vidas. Esta competência ajuda-os a reflectir sobre a
sua situação e a começar a agir e a tomar o controlo.
Usado em quem? Em todos os sobreviventes (contacto inicial). Também deve ser utilizada nos
sobreviventes que já tenham sido contactados, mas que tenham desistido do
processo.
Duração 15 minutos
Como fazer?
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Algumas pessoas não precisam de grande estímulo para identificar as suas necessidades.
Outras precisam de ajuda. O técnico pode usar o formulário seguinte. É muito importante
que a vítima classifique os problemas.
Não importante
Outro: __________________
Dificuldades emocionais
Tem preocupações sobre a forma como você ou membros da
sua família estão a reagir emocionalmente ao evento? Urgente
(Descrever)
Importante, mas não urgente
Não importante
Outro: __________________
Segurança
Tem preocupações acerca da sua segurança ou da segurança
da sua família? (Descrever) Urgente
Não importante
Outro: __________________
Necessidades básicas
Tem preocupações sobre as suas necessidades básicas ou as
da sua família? (Descrever) Urgente
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Não importante
Outro: __________________
Uso de substância
Tem preocupações sobre a utilização de substâncias como o
álcool, drogas ou medicamentos? (Descrever) Urgente
Não importante
Outro: __________________
Funcionamento no dia-a-dia
Tem preocupações sobre o seu funcionamento no dia-a-dia,
no trabalho, na profissão ou com a família? (Descrever) Urgente
Não importante
Outro: __________________
Relações com outras pessoas
Tem preocupações sobre o seu relacionamento com outras
pessoas – esposo, esposa, filhos, amigos, familiares, Urgente
empregados, colegas, patrão? (Descrever)
Importante, mas não urgente
Não importante
Outro: __________________
Outras preocupações
Há outras preocupações sobre as quais queira falar?
(Descrever) Urgente
Não importante
Outro: __________________
Terminado este passo, você e a vítima têm a vossa frente o material que permite a
próxima acção:
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O seu discurso ajuda a organizar o pensamento da vítima. Por isso, comece por sumariar
o que descobriram. Por exemplo:
Mas às vezes as pessoas têm dificuldade em identificar uma ou duas prioridades, porque
o acontecimento pode ser desregulador e tudo pode parecer importante. Algumas
perguntas simples ajudam a definir essa prioridade:
- Acha que há algum problema ou necessidade que precise mesmo de ser tratado
primeiro que todos os outros?
Então, a nossa conversa aponta que será mais útil se nos dedicarmos primeiro à área
_____________. Depois disso, noutra sessão, podemos ver o que fazer com as outras
áreas. O que é que lhe parece?
Nesta fase, deverá ser possível identificar o que é mais importante. Será o problema que
a vítima identifica como a sua maior preocupação e que causa mais stresse e
preocupações; o problema que piora de dia para dia. Mas também pode ser o problema
que, se for resolvido, alivia outros problemas ou aquele que o sobrevivente gostaria de
ver resolvido primeiro e que sente que é capaz de resolver
O que fazer a seguir? Definir o que fazer a seguir! Ou seja, estabelecer o plano de
acção.
A pergunta que guia a acção dos técnicos é: a vítima conseguirá ultrapassar o problema
com a utilização de CRP ou é necessário referenciar para outros serviços?
Podemos desenvolver a sua capacidade para resolver problemas (o que ajuda a enfrentar
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Escolhida a competência de que a vítima precisa e que faz mais sentido para a sua
situação, o segundo passo é ensinar as CRP. Alguns sobreviventes precisarão de aprender
apenas uma CRP, outros talvez duas. Mais do que isso não tem grande efeito, porque é
demasiada informação. Há também vítimas que já aplicam as competências. Podem não
as chamar pelo mesmo nome que o técnico utiliza; podem não seguir os mesmos
processos; mas se alguma competência já for do domínio do sobrevivente, não vale sequer
a pena mencionar, a menos que seja para a vítima ajudar outros:
Você tem uma grande habilidade em _________________. Pode utilizar essa capacidade
para ajudar ________________________. Explique-lhe o que faz e como faz. E se puder,
acompanhe-o nas situações em que ele tem que aplicar essa habilidade.
A estrutura do ensino das competências é sempre a mesma: explicar porque é que elas são
importantes, ensinar e treinar e focar-se em situações específicas. Há, algumas diferenças
que justificam uma análise em separado.
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2.Estabelecer o objectivo.
Domínios Ações
Qual é o objectivo Ajudar os sobreviventes a criar prioridades, a resolver os seus problemas e a
desta competência? atender às suas necessidades.
Porque é importante? O momento do impacto pode ter efeitos muito variados e pode fazer surgir
muitos problemas. Alguns novos e outros conhecidos. De qualquer forma, as
vítimas sofrem a pressão de que “Têm que fazer algo”. Isto pode levar a que
não se saiba bem o que é mais importante. Por isso, esta competência ajuda a
que os sobreviventes reflictam sobre a sua situação, definam as suas
prioridades e a melhor estratégia para as enfrentar.
Usado em quem? Em todos os sobreviventes que identifiquem problemas como a principal
preocupação, por exemplo:
- Têm tantos problemas que não sabem para onde se virar;
- Manifestam incapacidade em resolver problemas;
- Verbalizam que têm dificuldade em resolver as situações.
Como fazer?
Como sempre, as pessoas devem ser ajudadas a compreender porque é que é importante
enfrentarem a situação.
Neste caso, os problemas podem afectar o humor, as relações com os outros e afastar o
apoio social. E quando a quantidade de problemas cresce, as vítimas podem sentir
desespero e desistir.
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escrito.
É o momento em que o sobrevivente define as
suas acções, o que irá fazer.
Procure ajudar a pessoa a estabelecer o dia, o
horário e a identificar possíveis obstáculos e
também as necessidades de ajuda (é melhor
fazer com um amigo?). No caso das crianças, é
necessário envolver os pais.
Por isso é importante saber se o problema está a acontecer à pessoa, entre pessoas (por
exemplo, discussões com um familiar) ou a outra pessoa (por exemplo, a depressão de
um familiar) ou entre outras pessoas (por exemplo, os amigos estão a discutir muitas
vezes).
O técnico deve ajudar a vítima a compreender que pode ajudar as outras pessoas, mas que
esses problemas devem ser resolvidos pelas pessoas que estão a vivenciar a situação e
não por ela.
A vítima já deu o último passo desta competência, mas o técnico não. O último passo do
técnico é o Follow Up.
Esta é a segunda competência, que deve ser utilizada quando a vítima utiliza expressões
como “Sinto-me triste”, “Estou deprimido”, “Sinto que já não faço nada do que gostava
de fazer”.
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Domínios Ações
Qual é o objectivo Ajudar os sobreviventes a envolverem-se em actividades positivas que lhes
desta competência? tragam momentos de prazer e contribuam para melhorar o humor e a retomar
o sentimento de controlo.
Porque é importante? As rotinas são importantes para que as pessoas tenham um sentido de
normalidade e certeza. Os eventos traumáticos quebram esse sentimento. Por
isso, é importante ajudar as vítimas a retomar esse controlo sobre as suas vidas
e, em simultâneo, promover o bem-estar.
Usado em quem? Nos sobreviventes que têm preocupações sobre:
- Sentimentos de tristeza;
- A imprevisibilidade do dia-a-dia (inexistência de rotinas ou certezas);
- O afastamento dos outros, de si ou a pouca participação em actividades
positivas de que gostem.
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E com idosos esteja atento: o significado de reconstruir a vida não é o mesmo e muitos
podem ter alguma dependência das famílias. Esteja atento à coerência entre as actividades
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e os meios e recursos existentes (por exemplo, talvez os idosos não possam deslocar-se
para lugares distantes – por vezes, 2 km podem ser demasiado longe).
Finalmente, tenha atenção que o contexto das pessoas pode ter mudado com o desastre:
as pessoas podem ser outras e a segurança também. Não aconselhe ninguém a passear,
por exemplo, se a segurança não for adequada.
E também há precauções culturais que os técnicos devem ter: devem ter a certeza de que
a inserção das vítimas em actividades é aceite culturalmente. Que actividades não são
aceites? Qual é o tempo certo para começar a participar nas actividades?
Eis o guia para descobrir actividades (pode optar por falar com a vítima ou a pessoa pode
escolher; também pode fazer um brainstorming):
Bem, tal como na competência anterior, vem o follow up (se for possível uma nova
sessão).
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Domínios Ações
Qual é o objectivo Ajudar os sobreviventes a acalmarem-se física e emocionalmente e a
desta competência? compreenderem melhor o que se está a passar (em termos de reacções).
Porque é importante? Os sobreviventes de eventos traumáticos podem ter reacções físicas e
emocionais despropositadas quando estão face a face com coisas que lhes
façam lembrar o desastre e também com outras situações que causam stress
no dia-a-dia. Estas reacções podem afectar negativamente o relacionamento
com os outros, a vida diária, o humor e a saúde física. Por isso, as competências
para lidar com estas reacções podem proteger a saúde física e mental,
aumentar a confiança e promover relações interpessoais de sucesso.
Usado em quem? Nos sobreviventes que têm preocupações sobre:
- As suas reacções a pensamentos ou outras recordações do evento traumático;
- As suas reacções desproporcionadas a eventos quotidianos.
A seguir, pode perguntar… Quais são as reacções que o estão a incomodar mais e
a impedir que o seu dia-a-dia decorra como gostaria?
No caso das crianças, pode fazer um desenho do Quais destas reacções foi mais difícil de lidar no
corpo humano e pedir para elas indicarem onde passado?
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sentem reacções, dores ou incómodos. Qual destas reacções acha que é mais importante
trabalhar já?
Pode descrever uma situação em que tenha sentido
ansiedade e stress e a reacção que teve?
Normalize os sentimentos das pessoas. Pode As reacções emocionais a eventos como o que passou
dizer: são normais. Pode sentir momentos em que parece que
está a viver a situação outra vez (por exemplo, quando
vê notícias sobre desastres ou tem pesadelos), pode
evitar a situação (evitar falar, evitar lugares ou pessoas
que lhe façam recordar o evento), pode afastar-se e
sentir-se adormecido ou também pode sentir-se
sensível e irritadiço.
Depois acrescente: Mas pode aprender a lidar com esses sentimentos e
reacções. Essas reacções são comuns e você não está
sozinho: as outras vítimas também passam por elas e
há pessoas e serviços para o ajudar; e você pode
praticar técnicas para lidar, por si, com essas reacções
e para se acalmar, como a meditação, ouvir música,
fazer coisas de que gosta e estar com outras pessoas. É
importante que evite álcool e outras substâncias e que
contacte quem o pode ajudar sempre que precisar. Vou
ensinar-lhe algumas técnicas.
2.Ensinar técnicas para lidar com o stress e para Veja os quadros seguintes:
acalmar.
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Quando você sabe que alguma coisa está mal, mas a criança não é capaz de se expressar:
- Faça uma bebida quente ou fria (os cheiros e sabores “tiram” a criança do ambiente
negativo interno);
Tenha atenção que as dores e sensações que surgem devido ao evento podem confundir-
se com outros problemas de saúde. Se, por exemplo, a vítima manifestar mau estar geral,
dores específicas (como a dor no peito) certifique-se que a pessoa foi acompanhada
recentemente por um médico ou encaminhe-a para os serviços.
Um ponto comum às pessoas que necessitam de trabalhar esta vertente da gestão das
reacções são os pensamentos que, recorrentemente, criam sentimentos e percepções
negativas. O primeiro passo do técnico é ajudar as pessoas a identificarem esses
pensamentos e a tomarem consciência de que eles estão a operar no seu dia-a-dia. O
segundo passo é normalizar os pensamentos, explicar que eles são normais nos
sobreviventes. Finalmente, os técnicos devem oferecer alguns caminhos de pensamento
para que a própria vítima combata os pensamentos negativos (trata-se de aplicar a
próxima competência)
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Se for possível realizar outra sessão, descubra se o plano foi implementado e qual o seu
resultado.
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Qual é o objectivo Ajudar os sobreviventes a compreenderem quais são os pensamentos que
desta competência? estão a guiar as suas acções e que têm influência no stress e ansiedade que
sentem.
Outro objectivo é contribuir para que os sobreviventes adoptem padrões de
pensamento mais saudáveis.
Porque é importante? Os sobreviventes de eventos traumáticos podem ter pensamentos negativos e
de culpabilização. Esses pensamentos criam emoções que afectam o dia-a-dia,
criam desesperança, depressão e medo e também são contagiosas, ou seja,
afectam outros elementos da família. Podem, até, ter efeitos físicos. Ajudar as
pessoas a seguirem padrões de pensamento mais positivos e saudáveis
contribui para melhores relações, menos ansiedade e melhor intervenção no
controlo da própria vida.
Usado em quem? Nos sobreviventes que têm preocupações sobre:
- O seu nível de stress e ansiedade;
- Os seus pensamentos e forma de estar critica e negativa;
- As suas reacções e pensamentos físicos e emocionais.
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a descobrir que se se focar em pensamentos primeiro passo é analisar os pensamentos que tem tido
mais positivos isso ajudará a avançar e a utilizar ultimamente e depois nós podemos ver formas de criar
melhor as suas energias. pensamentos mais positivos.
No caso das crianças, há que simplificar a Sabes que os pensamentos que temos influenciam os
mensagem: nossos sentimentos. Pensar é uma coisa diferente de
sentir. Por exemplo, quando pensas em marcar um golo
Com crianças também pode utilizar desenhos que sentimentos é que tens? - Deixe a criança
do tipo banda desenhada, em que a criança responder e ajude-a a identificar emoções positivas.
escreve nos balões os pensamentos negativos
que têm e depois você ajuda-a a identificar as Mas se fores o guarda-redes e sofreres o golo, se calhar
emoções que se criam a partir desses pensas coisas negativas, ficas zangado, triste. Mas
pensamentos. também poderias pensar que és capaz de fazer melhor,
que confias na tua equipa para tentarem ganhar o jogo
e que poderás treinar com mais afinco para seres um
melhor guarda-redes e então a pessoa sente-se
confiante e esperançado.
1º passo – identificar sentimentos negativos. Quando pensa no desastre, que reacções é que tem?
Uma forma de ajudar a pessoa a identificar os E quando tem essas reacções, normalmente que
pensamentos negativos é focar-se no concreto, pensamentos é que está a ter?
ou seja, nas situações que ocorrem:
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Tome particular atenção aos sentimentos de culpa: eles podem ter razão de ser e o
sobrevivente pode mesmo ter tido responsabilidade no que aconteceu. Como esses
sentimentos podem ser pesados, talvez seja melhor referenciar o sobrevivente a outros
serviços.
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Domínios Ações
Qual é o objectivo Ajudar os sobreviventes a aumentar as interacções sociais e comunitárias
desta competência? saudáveis e de suporte.
Porque é importante? Os sobreviventes de eventos traumáticos podem ter dificuldade em retomar as
suas vidas. A vida do dia-a-dia é favorecida pelo conjunto de relações sociais e
comunitárias: fazem a pessoa sentir-se incluída, sentir que faz parte de algo,
que é um membro de um grupo, que não está sozinha. Para além disso, as
relações sociais também são relações de afecto e suporte que contribuem para
melhores pensamentos e emoções e para desenvolver sentimentos de
companheirismo. E finalmente as relações sociais também permitem que as
vítimas encontrem pessoas em situações semelhantes (tenham a percepção da
normalidade da sua situação) e que ajudem outras pessoas.
Usado em quem? Nos sobreviventes que têm preocupações sobre:
- Sensação de isolamento e afastamento dos amigos e família;
- Sentimentos de solidão e isolamento;
- Receio ou ansiedade em viverem num novo contexto;
- Sentimentos de inutilidade pessoal;
- Dificuldade de acesso aos recursos da comunidade;
- Ausência de pessoas com quem falar sobre os seus sentimentos;
- Ausência de possibilidades de apoiar outras pessoas.
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- Que é compreendido;
2. Reflectir sobre o mapa das relações sociais. Agora que identificou o seu mapa de relações sociais,
vamos perceber qual é o valor de cada uma para si e
Este passo permite definir que relações sociais a para a sua situação. Há necessidades diferentes e tipos
vítima deve privilegiar e porquê. Trata-se de de apoios diferentes. Por vezes pode precisar de ajuda
responder a questões importantes. com as crianças ou com as tarefas do lar; outras vezes
pode precisar de falar com alguém.
Depois de fazer as perguntas mencionadas, o Agora que fizemos este percurso, repare que há aqui
papel dos técnicos é de ajudar a pessoa a esta área que está vazia. Há alguns familiares ou
identificar áreas vazias (ou seja, áreas em que o amigos com quem não esteja em contacto actualmente
apoio social é fraco) e a preenchê-las. e que possam entrar para estas áreas? Gostaria de
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- Pode haver sobreviventes que passaram muitos anos a estabelecer a sua rede de suporte
social. Nesses casos em que foi posta muita energia, as pessoas provavelmente, serão
capazes de definir as suas prioridades. Respeite-as.
- Outros sobreviventes podem ter perdido entes queridos que estavam na base do suporte
social. Nessas situações, devem ser as vítimas a mostrar-se disponíveis para reestabelecer
as relações sociais;
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Agora que estão identificadas as áreas que precisam da atenção da vítima, a questão é
como avançar.
Ajude a vítima a estabelecer passos simples. Por exemplo: fazer o contacto (como?
Quando?) e a definir quem a pode ajudar. Provavelmente, um amigo próximo pode
acompanhar a pessoa a uma igreja, ou a uma associação. Esse acompanhamento traz
segurança e confiança à pessoa.
Quando pede ao sobrevivente para pensar na própria situação, mas também na de outros,
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está a criar pensamentos positivos que podem ajudar outros, contribuir para estabelecer
relações sociais e também para a pessoa encontrar estratégias que podem vir a ser úteis
para si mesmo.
Também permite que a pessoa tome consciência dos ganhos sobre o controlo da sua
própria vida, reconheça as suas forças e tenha algum suporte social.
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Se o plano não funcionou, deve ponderar se era aquela Quais são as prioridades das
competência que a vítima precisava ou se há alguma informação vítimas?
que você não tem ou ainda se a vítima tem dificuldades
acrescidas que aconselham o encaminhamento para outros
serviços.
Em todo este percurso a empatia é um dos principais instrumentos dos técnicos. Mantenha
sempre presente o seguinte:
- Os sentimentos das pessoas são únicos, valide-os (eles são reais) e normalize-os.
- Parte do sucesso da sua acção enquanto técnico depende de si: a vítima tem de ser a sua
prioridade (esqueça telefones ou outras interrupções), seja um ouvinte sincero e
interessado;
- Não hesite em recorrer a colegas com mais experiência na busca da melhor solução. Isso
é um sinal de que está interessado em ajudar a pessoa.
- Como técnico será sempre um referencial para o sobrevivente: defina expectativas reais
– não há soluções mágicas ou imediatas, mas as competências são uteis ao longo do tempo
e podem ajudar a recuperação com eficácia. Haverá retrocessos, porque a recuperação
não é um trajecto linear. Eles são normais. Disponibilize-se para apoiar nesses momentos
e esclareça que a importância do follow up é exactamente dar resposta a esses momentos.
Explique às vítimas que os retrocessos não são fracassos, são apenas momentos em que
as vítimas podem precisar de competências e de informações diferentes.
- Mantenha-se atento aos sinais de aviso. Por exemplo, quando sente que a vítima não
está verdadeiramente engajada no processo (que está presente mais por obrigação).
- Esteja atento e considere os momentos que não controla na sua acção. As vítimas
também devem estar conscientes de que eles ocorrem e podem influenciar os planos. Por
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Devido à crise pandémica, com início nos primeiros meses do ano de 2020, vivemos uma
situação nova e global, que pode ser temperada com medo, angústia e incertezas quanto
ao futuro – o que pode ser traumatizante.
Antes de entrarmos no tema, gostaria de frisar que este último capítulo é elaborado com
base nas contribuições do curso “Covid-19: Comunicação sem danos”, da Universidade
Pontífica Javeriana.
É importante que aprendamos a comunicar sem causar danos. Assim, devemos fazer uso
de uma comunicação que tenha como princípios:
- A solidariedade;
- O altruísmo;
- O cuidado;
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- O respeito ao próximo;
Apela-se a uma comunicação que enfatize a assertividade, que ensine, que privilegie
experiências positivas, que traga esperança face à situação e que promova uma atitude
colaborativa entre todos, integrando-nos.
- Dificuldades Psicossociais;
- Possibilidades de conflitos;
- Falta de esperança;
- Solidão;
- Rotinas trocadas;
- Insónias;
- Incertezas;
-Irritabilidade;
-Tristeza,
- Depressão;
- Angústia;
É importante referir que a maior parte das pessoas que possam vir a contrair o vírus, não
morrem. Para alguns poderá ser mais difícil.
O grupo de maior risco, é a população idosa, havendo por isso a necessidade de a cuidar
e proteger de forma zelosa.
Serão o rosto do conhecimento das pessoas que os ouvem e o alvo da sua confiança. Por
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2. À população em geral.
Num momento difícil como aquele em que se vive uma pandemia é importante estar bem
informado. Nesta medida, os meios de comunicação devem atender as seguintes
recomendações:
- Evitar o uso de expressões que possam ter conotações negativas, como por exemplo, “O
país com o maior número de mortes no mundo”.
É evitar tecer críticas às vítimas ou ao pessoal de saúde. Quem não está directamente
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envolvido, pode não ter toda a informação e, portanto, pode não saber o que
verdadeiramente se passa:
- Depois de informar, é importante dizer repetidamente quais são as orientações para estes
casos.
- Procurar informar a população como passar tempo durante o período da quarentena (que
tipo de passatempos, que actividades podemos realizar em casa). É importante por
exemplo, que as pessoas mantenham as suas rotinas, cuidem da sua higiene pessoal,
façam os seus trabalhos, tenham espaços em que possam estar sós, assim como, tenham
tempo de convívio com os seus familiares.
A comunicação baseada nos meios de cada região pode favorecer a sua idiossincrasia. É
importante que a informação chegue a todos e que possa fornecer actividades que
favoreçam o uso adequado do tempo. Assim, as recomendações para a população em
geral são:
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- Evitar fazer publicações perto da hora de dormir, tendo em conta os seus efeitos nas
outras pessoas;
- Fortalecer a difusão das actividades que conduzem a uma adequada gestão do tempo.
- Cada um tem o dever de evitar a estigmatização: evitar utilizar expressões como “Todos
vão morre com a Covid-19…”; “Se não usar máscaras fico doente…”; “Todas as pessoas
terão o vírus…”. Elas poderão contribuir que para que as pessoas tenham receio de
procurar ajuda, para uma compreensão empobrecida da doença e para a rejeição pela
comunidade de pessoas em risco. Isso acontece quando as pessoas ficam expostas a fontes
não especializadas. É importante informar aquilo que é real e empoderar, ensinar as
pessoas para que se possam proteger, a partir de fontes oficiais/credíveis.
- É importante não esquecer que as crianças podem estar expostas a noticias negativas.
Por isso, é necessário pensar-se em horários mais adequados para determinadas notícias.
- Deve-se favorecer a comunicação verbal para que as famílias manifestem o seu afecto
(troca de elogios, valorização).
- Utilizar uma linguagem fechada nos discursos, de tal forma que facilite a compreensão
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- Ter em conta a comunicação não verbal quando se dirigir à população, para que possa
gerar confiança. O tom de voz, muitas vezes denuncia ansiedade. É importante que se fale
tranquilamente e com serenidade.
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7. Referências
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