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PRÉ-DIMENSIONAMENTO

O pré-dimensionamento dos elementos estruturais é necessário para que se possa calcular o peso
próprio da estrutura, que é a primeira parcela considerada no cálculo das ações.
O conhecimento das dimensões permite determinar os vãos equivalentes e as rigidezes,
necessários no cálculo das ligações entre os elementos.

1.1. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE LAJES


As lajes de edifícios são, usualmente, de concreto armado, ou concreto protendido, em situações
especiais, como em lajes lisas de grandes vãos.
São muito utilizadas também lajes mistas, em que a forma de aço é incorporada a laje de concreto
armado (Figura 1.h).
Existem diversas configurações para as lajes de concreto armado (Figura 1), como:
• Lajes maciças apoiadas em vigas ou diretamente sobre os pilares (lajes lisas ou cogumelo);
• Lajes treliçadas com enchimento de lajotas cerâmicas ou EPS (isopor);
• Painéis treliçados;
• Lajes alveolares;
• Lajes nervuradas.

a) Laje maciça b) Laje treliçada com enchimento cerâmico

c) Painéis treliçados d) Lajes alveolares


e) Laje nervurada f) Lajes lisas

g) Laje cogumelo h) Laje steel deck

Figura 1 – Lajes em concreto armado

A espessura das lajes maciças de concreto armado pode ser obtida com a expressão:

𝜙
ℎ=𝑑+ +𝑐
2

onde: 𝑑 é a altura útil da laje, 𝜙 é o diâmetro da armadura e 𝑐, o cobrimento nominal da armadura.

1.1.1. Espessura mínima

A ABNT NBR 6118 (2014) especifica que nas lajes maciças de concreto armado devem ser
respeitadas as seguintes espessuras mínimas:
a) 7 cm para cobertura não em balanço;
b) 8 cm para lajes de piso não em balanço;
c) 10 cm para lajes em balanço;
d) 10 cm para lajes que suportem veículos de peso total menor ou igual a 30 kN;
e) 12 cm para lajes que suportem veículos de peso total maior que 30 kN;
f) 15 cm para lajes com protensão apoiadas em vigas, com o mínimo de ℓ⁄42 para lajes de piso
biapoiadas e ℓ⁄50 para lajes de piso contínuas;
g) 16 cm para lajes lisas e 14 cm para lajes-cogumelo, fora do capitel.
Nas lajes nervuradas e treliçadas, a espessura da mesa, quando não existirem tubulações
horizontais embutidas, deve ser maior ou igual a 1/15 da distância entre as faces das nervuras (ℓ𝑜 ) e não
menor que 4 cm. O valor mínimo absoluto da espessura da mesa deve ser 5 cm, quando existirem
tubulações embutidas de diâmetro menor ou igual a 10 mm. Para tubulações com diâmetro 𝜙 maior que
10 mm, a mesa deve ter a espessura mínima de 4 cm + 𝜙, ou 4 cm + 2 𝜙 no caso de haver cruzamento
destas tubulações. A espessura das nervuras não pode ser inferior a 5 cm.
Nas lajes mistas de aço e concreto (steel deck), a espessura varia, usualmente, entre 5 e 15 cm.

1.1.2. Cobrimento nominal da armadura

A ABNT NBR 6118 (2014) também estabelece, para que se garanta a durabilidade das estruturas
de concreto armado, os cobrimentos (espessura de concreto que reveste as armaduras) de acordo com a
classe de agressividade ambiental, conforme apresentado na tabela abaixo.

Desta forma, pode se prever que a soma do cobrimento da armadura e metade do diâmetro da
armadura de flexão, 𝑐 + 𝜙⁄2, para zonas urbanas em geral, está entre 3 e 4 cm.

1.1.3. Previsão da altura útil

Para lajes maciças de concreto armado com bordas apoiadas ou engastadas, a altura útil pode ser
estimada por meio da seguinte expressão:
(2,5 − 0,1 ∙ 𝑛) ℓ𝑥
𝑑𝑒𝑠𝑡 = ∙ ℓ′ ∴ ℓ′ ≤ {0,7 ∙ ℓ
100 𝑦

onde: 𝑛 é o número de bordas engastadas; ℓ𝑥 , menor vão e ℓ𝑦 , maior vão.

Portanto, a altura total estimada para as lajes maciças corresponde a 𝑑𝑒𝑠𝑡 acrescido de 3 a 4 cm.

1.2. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE VIGAS


As vigas em uma edificação podem ser de concreto armado, concreto protendido, de aço ou de
madeira, e podem ter, de acordo com o material, seções diferentes.

1.2.1. Vigas de concreto armado

Vigas de concreto armado ou protendido, em edifícios, têm, geralmente, seções retangulares, cuja
largura deve ter a mesma dimensão da espessura das paredes, no mínimo 14 ou 15 cm, e a altura varia de
acordo com os vãos e os carregamentos.
Uma estimativa grosseira para a altura das vigas é dada por:

• tramos internos: ℎ𝑒𝑠𝑡 = ℓ⁄12


• tramos externos ou vigas biapoiadas: ℎ𝑒𝑠𝑡 = ℓ⁄10
• balanços: ℎ𝑒𝑠𝑡 = ℓ⁄5.

Pode-se também utilizar ábacos para o pré-dimensionamento dos elementos estruturais, na


Figura 2 é apresentado um ábaco para o pré-dimensionamento de vigas de concreto armado com seção
retangular.

Figura 2 – Ábaco de pré-dimensionamento de vigas de concreto armado

Num edifício de concreto armado, não é recomendável utilizar muitos valores diferentes para
altura das vigas, de modo a facilitar e otimizar os trabalhos de cimbramento (fôrmas). Usualmente,
adotam-se até três alturas diferentes, e não se varia a altura numa mesma viga. Tal procedimento pode,
eventualmente, gerar a necessidade de armadura dupla em alguns trechos das vigas.
1.2.2. Vigas de madeira

As vigas de madeira também costumam ter seções retangulares ou composições retangulares,


como vigas com seção “T”, cujas dimensões são limitadas pelas medidas disponíveis comercialmente,
conforme Figura 3.

Figura 3 – Dimensões de elementos de madeira

Figura 4 – Ábaco de pré-dimensionamento de vigas de madeira


No ábaco da Figura 4, são apresentadas as alturas sugeridas para as vigas de madeira em função
do vão das mesmas.

1.2.3. Vigas de aço

Os elementos de aço são mais eficientes estruturalmente que os elementos de concreto e


madeira, ou seja, conseguem vencer vão maiores, com dimensões menores.
As vigas de aço, assim como outros elementos metálicos, têm várias possíveis seções transversais,
como “I”, “T”, “2L”, tubular, tendo pelo menos um eixo de simetria.
Segundo Margarido (2007) pode-se adotar a altura das vigas de aço como 1/15 a 1/25 da distância
entre pontos de momento nulo. Este método considera vigas isostáticas. Na hipótese de vigas
hiperestáticas, Margarido (2007) diz que a distância entre os momentos nulos no vão está,
aproximadamente, é a de 80% do comprimento total, ou seja, o momento nulo está afastado 10% do
comprimento total em cada apoio.
Rebello (2007) adota para pré-dimensionamento fórmulas empíricas para pórticos de vigas e
colunas de perfis laminados.

Para vigas de seção “I”, pode-se estimar a altura das mesmas de acordo com o vão, usando o ábaco
apresentado abaixo.

Figura 5 – Ábaco de pré-dimensionamento de vigas de aço


Os elementos de aço têm processos de fabricação distintos, estes podem ser laminados, soldados
ou formados a frio, e suas medidas comerciais são facilmente encontradas em uma pesquisa online, como:
https://www.soufer.com.br/arquivos/laminados/2.pdf
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=141224

1.3. PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE PILARES


Assim como as vigas, os pilares em uma edificação podem ser de concreto armado, concreto
protendido, de aço ou de madeira, e podem ter, de acordo com o material, seções diferentes, retangulares,
circulares, ou seções compostas.
O pilar é a peça fundamental na concepção estrutural. Seu posicionamento e sua forma são
determinantes na concepção arquitetônica. Sua presença nos espaços pode ser bastante perceptível.
Os pilares de aço e de concreto armado tem como espaçamentos ideais, em termos de economia,
entre 4 e 6m, desde que possíveis segundo o projeto arquitetônico. Para pilares de madeira, esse
espaçamento varia entre 3 e 4m.
Os pilares são sujeitos preponderantemente à compressão, mas, frequentemente, são solicitados
à flexão e, quando esbeltos, sofrem flambagem, que se caracteriza pela deformação lateral do eixo como
efeito da carga de compressão.

1.3.1. Pilares de concreto armado

Inicia-se o pré-dimensionamento dos pilares estimando-se sua carga, por exemplo, através do
processo das áreas de influência. Este processo consiste em dividir a área total do pavimento em áreas de
influência, relativas a cada pilar e, a partir daí, estimar a carga que eles irão absorver.
A área de influência de cada pilar pode ser obtida dividindo-se as distâncias entre seus eixos. No
caso de edifícios com balanço, considera-se a área do balanço acrescida das respectivas áreas das lajes
adjacentes, tomando-se, na direção do balanço, largura igual a 0,50l, sendo l o vão adjacente ao balanço.
Convém salientar que quanto maior for a uniformidade no alinhamento dos pilares e na
distribuição dos vãos e das cargas, maior será a precisão dos resultados obtidos. Há que se salientar
também que, em alguns casos, este processo pode levar a resultados muito imprecisos.
Após avaliar a força nos pilares pelo processo das áreas de influência, é determinado o coeficiente
de majoração da força normal (α) que leva em conta as excentricidades da carga, sendo considerados os
valores:

• 𝛼 = 1,3 para pilares internos ou de extremidade, na direção da maior dimensão;


• 𝛼 = 1,5 para pilares de extremidade, na direção da menor dimensão;
• 𝛼 = 1,8 para pilares de canto.
A seção abaixo do primeiro andar-tipo é estimada, então, considerando-se compressão simples
com carga majorada pelo coeficiente α, utilizando-se a seguinte expressão:
30 𝛼 ∙ 𝐴𝑖𝑛𝑓 ∙ (𝑛 + 0,7)
𝐴𝑐 =
𝑓𝑐𝑘 + 0,01 ∙ (69,2 − 𝑓𝑐𝑘 )
onde: 𝐴𝑐 = 𝑏 ∙ ℎ é a área da seção de concreto (cm²); 𝛼, o coeficiente que leva em conta as excentricidades
da carga; 𝐴𝑖𝑛𝑓 , área de influência do pilar (m²); 𝑛, número de pavimentos-tipo; (𝑛 + 0,7) representa o
número que considera a cobertura, com carga estimada em 70% da relativa ao pavimento-tipo; 𝑓𝑐𝑘 é a
resistência característica do concreto (kN/cm²).
A ABNT NBR 6118 estabelece que a seção transversal de pilares e pilares-parede maciços, qualquer
que seja a sua forma, não pode apresentar dimensão menor que 19 cm. Em casos especiais, permite-se a
consideração de a menor dimensão estar entre 19 cm e 14 cm, desde que se multipliquem os esforços
solicitantes de cálculo a serem considerados no dimensionamento por um coeficiente adicional 𝛾𝑛 , de
acordo com o indicado na tabela abaixo. Em qualquer caso, não se permite pilar com seção transversal
de área inferior a 360 cm². De acordo com essa última consideração, as dimensões mínimas de um pilar
retangular é 14x26 cm² ou 15x24 cm², quadrado 19x19 cm² e circular  22cm.

A existência de caixa d’água superior, casa de máquina e outros equipamentos não pode ser
ignorada no pré-dimensionamento dos pilares, devendo-se estimar os carregamentos gerados por eles,
os quais devem ser considerados nos pilares que os sustentam. Para as seções dos pilares inferiores, o
procedimento é semelhante, devendo ser estimadas as cargas totais que esses pilares suportam.
O pré-dimensionamento pode ser feito também baseado na altura não travada dos pilares com
lance único ou no número de lances.

1.3.2. Pilares de aço

Os pilares de aço, por esse material ser mais resistente que os demais, são mais esbeltos, pois,
para resistir aos mesmos esforços, é necessária uma área transversal cerca de 50% menor, no entanto,
têm um custo três vezes maior, quando comparado com o concreto armado.
Portanto, a escolha entre trabalhar com pilar de concreto armado ou de aço depende dos espaços
disponíveis e dos custos.
Os pilares de aço com cargas centradas teriam como seção transversal ideal, em termos de
eficiência estrutural, a seções tubulares circulares, no entanto, nessas seções existe dificuldade de vínculos
com outros elementos. As seções tubulares quadradas e, em último caso, as retangulares apresentam
maior facilidade na execução dos vínculos. Quando o fator manutenção for decisivo, deve ser utilizado o
perfil H, que apresenta razoável equivalência entre as rigidezes nas duas direções.
Os pilares de aço também podem ser pré-dimensionados baseando-se na altura não travada dos
pilares com lance único ou no número de lances.

Assim como as vigas os pilares de aço podem ser laminados, soldados, e tubulares, treliças
compostas por perfis formados a frio. Nos links abaixo são apresentadas as seções comerciais possíveis:
https://www.soufer.com.br/arquivos/laminados/2.pdf
https://edisciplinas.usp.br/mod/resource/view.php?id=141224
https://api.aecweb.com.br/cls/catalogos/20437/24987/catalogo_estruturais_vallourec.pdf
https://www.ditualsp.com.br/perfis-de-aco-formados-a-frio.php

1.3.3. Pilares de madeira

Os pilares de madeira apresentam uma área transversal cerca de 70% maior e um custo 50% maior,
quando comparado com o concreto armado.
Os pilares de madeira também têm limitação quanto altura, devido não ter comprimentos muitos
grandes disponíveis comercialmente, e as emendas não serem sempre facilmente executadas.
Portanto, a opção por um pilar de madeira depende normalmente de fatores estéticos.

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