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O USO DE DADOS CÚBICOS COMUNS COMO SIMULACRO DO

DECAIMENTO RADIOATIVO

Categoria: Ensino Médio


Modalidade: Matemática Aplicada e/ou Inter-relações com Outras Disciplinas

da ROSA, Sophia; VOIGT, Emily


PEREIRA, Pablo Albino

Instituição: Colégio Salesiano Dom Bosco – Rio do Sul/SC.

INTRODUÇÃO

O decaimento radioativo é o processo natural pelo qual núcleos atômicos instáveis


perdem energia e emitem radiação na forma de partículas e ondas eletromagnéticas de alta
energia, transformando-se em outros núcleos.
Os 3 tipos de decaimento radioativo mais comuns são: o decaimento alfa (α), o
decaimento Beta (β) e o decaimento Gama (γ).
Uma das variáveis mais importantes para se avaliar o uso e os perigos da
radioatividade é aquele relacionado à sua persistência. Neste ínterim os estudantes precisam
ter clareza acerca de questões como: Quanto tempo é necessário para o lixo nuclear
armazenado se tornar inofensivo? Como funciona um reator nuclear? Por que uma bomba
atômica é tão destrutiva? Como objetos arqueológicos e fósseis são datados?
O decaimento radioativo à nível de átomos individuais é um processo estocástico, ou
seja, é aleatório e não pode ser previsto com certeza. No entanto, podemos usar estatística e
probabilidade para descrever o comportamento médio de uma amostra grande de átomos
radioativos.
Se uma amostra consiste de N0 núcleos radioativos no t=0 e se N(t) denota o número
de núcleos permanecendo em algum tempo t, então a função N(t) diminui exponencialmente
com o tempo, conforme a equação:

N(t) = N0 e−t (1)


Onde  é a constante de decaimento ou de desintegração que se refere à probabilidade
de um núcleo sofrer decaimento em determinada unidade de tempo (HALLIDAY; RESNICK;
WALKER, 2001).
Outra forma para caracterizar o decaimento de um núcleo é através do seu tempo
meia-vida (t1/2), que é o tempo necessário para metade dos núcleos iniciais (N0) sofrerem
decaimento (Figura 1). E pode ser expresso pela equação:

t1/2 = ln 2/ = 0,693/ (2)

Figura 1. Curva de decaimento radioativo e determinação do t1/2.

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Chang, 2016.

Na Tabela 1 são apresentados o t1/2 de alguns isótopos conhecidos que podem ser
discutidos com os alunos.

Tabela 1. Tempo de meia vida de alguns isótopos radioativos.

Isótopo Meia-vida (anos)


U238 4,5 x 109
Pu239 2,4 x 104
C14 5,7 x 103
Sr90 29
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Chang, 2016.

Uma adequada compreensão da aplicação da ciência por trás da radioatividade, como


a datação radiométrica e da persistência ambiental de rejeitos radioativos, muitas vezes não
pode ser alcançada, segundo Hughes e Zalts (2000) em função da falta de proficiência do
estudante na utilização de equações e gráficos de funções exponenciais.
A utilização de experimentos com materiais radioativos, embora factível, são
atividades que requerem materiais e recursos que não são amplamente disponíveis. Assim
sendo, a utilização de modelos como simulacro do processo de decaimento se torna uma
alternativa exequível e atraente.
Segundo Hestenes (1987) modelo é um objeto alternativo, uma representação
conceitual de algo real. Em Ciências da Natureza pode ser um modelo matemático, no qual
suas variáveis representam as propriedades físicas reais. Tal estratégia para abordar o
decaimento radioativo, embora, focada nos cursos de graduação pode ser utilizada no ensino
médio pelas disciplinas de química e/ou física. O trabalho propõe a utilização de um modelo
com dados cúbicos comuns como uma analogia ao decaimento radioativo com cinética de 1ª
ordem, conforme proposto por Schultz (1997).
Em uma amostra grande de núcleos atômicos instáveis, onde o decaimento é
estocástico, ou seja, espontâneo e aleatório, não possuindo controle e previsibilidade de qual
núcleo sofrerá a desintegração. Esse comportamento, similarmente, também ocorre em uma
amostra suficientemente grande de dados comuns, onde não se pode prever qual deles
apresentará determinada face, todavia se pode prever probabilisticamente o comportamento
do conjunto.

METODOLOGIA

Inicialmente foi determinado que uma das faces do dado representaria o núcleo que
sofreu decaimento a um isótopo estável e outras 5 seriam núcleos instáveis que ainda não
sofreram o processo de desintegração. Foi arbitrariamente escolhida a face 6 para representar
o núcleo que sofreu decaimento.
Com dados de 6 faces a probabilidade de se obter a face 6 é de 1/6. E,
consequentemente, a probabilidade de se obter qualquer das outras 5 faces, que representam
os núcleos que não passaram pelo processo, é de 5/6. Então se propôs aos estudantes
calcularem quantos dados não terão decaído após (J) jogadas. A probabilidade foi calculada da
seguinte forma:

1 jogada (J1): Átomos não decaídos = N0 x 5/6


2 jogadas (J2): Átomos não decaídos = (N0 x 5/6) x 5/6
3 jogadas (J3): Átomos não decaídos = (N0 x 5/6 x 5/6) x 5/6
O que se depreende que para (J) jogadas se tem a seguinte função:
Átomos não decaídos = N0 x (5/6)J (3)
onde N0 se refere ao número inicial de dados utilizados.

E tendo em vista que, o tempo de meia-vida (t1/2) é uma variável amplamente utilizada
nos estudos de cinética radioativa, como na datação radiométrica, foi determinada a função
matemática que descreveria essa variável. Os estudantes partiram da pergunta: quantas
jogadas são necessárias para que metade dos dados cúbicos sofram decaimento? No modelo
deste trabalho esta variável foi chamada de J1/2:

N0 x (5/6)J1/2 = 0,5.N0
(5/6)J1/2 = 0,5
Sendo: log Ax = x.log A
Temos:
J1/2.log (5/6) = log 0,5
J1/2 = log 0,5/log (5/6)
J1/2: 3,8 jogadas

Foi utilizado um conjunto de 100 dados cúbicos comuns. O conjunto de dados era
jogado e feita a leitura do número de faces 6 viradas para cima. A cada jogada foi registrado o
número de dados que não se desintegraram e aqueles com face 6 eram retirados. Em seguida,
era feita nova jogada com os remanescentes.
De modo a se conseguir significância estatística foram feitas 30 séries de 10 jogadas.
As informações foram tabuladas e plotadas no Microsoft Excel, assim como, a
execução da análise de regressão simples para determinação da função que descreve o
comportamento do experimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados experimentais obtidos são apresentados na Tabela 2 e plotados como um


gráfico de N x Jogadas (Figura 2).
Tabela 2. Número de dados que não sofreram decaimento.

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 1. Curva de decaimento dos dados cúbicos.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Foi proposto a determinação de quantos dados não sofreriam decaimento após 3


jogadas, como uma forma de testar a função que relaciona o número de átomos não decaídos
por jogada (eq. 3).
Átomos não decaídos = N0 x (5/6)J
3000 x (5/6)3 = 1736

Como o valor experimental obtido foi de 1711 (tabela 2), temos um erro relativo de
1,44%. Neste momento foi aproveitado para se discutir a importância do tamanho amostral e
os estudantes executaram cálculos com subamostras dos dados experimentais, de modo a
perceberem, a influência sobre o erro relativo.
Para a determinação da J1/2 foi feita a linearização logarítmica dos valores de N total,
conforme apresentado na tabela 2. E em seguida procedeu-se à determinação gráfica de J1/2,
obtendo-se o valor aproximado de 3,7 (figura 3).

Figura 3. Gráfico linearizado de log N vs Jogadas.

J1/2 ≈ 3 , 7

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para determinação da função exponencial que descrevem os valores obtidos foi feita
uma análise de regressão simples, obtendo-se a equação:

y = -0,0807x + 3,477

Esta equação permitiu obter um J1/2 de 3,73, estando muito próximo do valor teórico
de 3,8.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O modelo da analogia com dados cúbicos comuns, além de estabelecer uma visão
intuitiva dos conceitos de radioatividade e meia-vida, permite a conexão entre conceitos
matemáticos de função, probabilidade e a elaboração de gráficos que descrevem processos
exponenciais.
A melhor compreensão dos conceitos de decaimento exponencial e de meia-vida
permite o adequado entendimento de outros fenômenos naturais que seguem funções
exponenciais, como o crescimento bacteriano e a propagação de doenças infecciosas. Esta
relação ocorre, pois permite ao estudante construir seu arcabouço de conhecimento
matemático a partir de um processo físico real, onde a relação é objetiva e de mais fácil
compreensão do que seria em uma aula tradicional e puramente teórica.
Vale salientar que, na falta de um conjunto de dados cúbicos grande o suficiente,
pode-se utilizar geradores de números aleatórios disponíveis de forma on-line. Contudo, a
utilização do objeto físico, seguramente, torna o processo mais interativo e divertido.

REFERÊNCIAS

CHANG, R.; GOLDSBY, K.A. Chemistry. 12 ed., New York: McGraw-Hill, 2016.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentals of physics. 6 ed., New


York: Wiley, 2010.

HESTENES, D. Toward a modeling theory of physics instruction. American Journal of


Physics, v. 55, n. 5, p. 440-454, 1987.

HUGHES, E. A.; ZALTS, A. Radioactivity in the classroom. Journal of Chemical


Education, v. 77, n. 5, p. 613-614, 2000.

SCHULTZ, E. Dice-shaking as an analogy for radioactive decay and first-order kinetics.


Journal of Chemical Education, v. 74, n. 5 p. 505-507, 1997.

Dados para contato: Trabalho desenvolvido com a turma de 2ª série do EM do Colégio


Salesiano Dom Bosco, de Rio do Sul/SC, pelos alunos: Anthony Barbetta Thiede; Emily
Voigt, Livia Berlanda Bazán Quiroz; Maria Eduarda Nunes Ferreira; Sarah Cristina da Silva;
Sophia Eduarda da Rosa.

Expositor: Emily Voigt; e-mail: emily.voigt@cdbriodosul.com


Expositor: Sophia da Rosa; e-mail: sophia.rosa@cdbriodosul.com;
Professor Orientador: Pablo Albino Pereira; e-mail: pablo.pereira@cdbriodosul.com

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