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Trajetória Demográfica no Estado de São Paulo, na capital e em outros

municípios*

Rosana Baeninger♣
Maria Sílvia C. Beozzo Bassanezi♠

Palavras-chave: migração; transição demográfica; Estado de São Paulo

Resumo
Esse trabalho busca analisar especialmente a trajetória da população paulista nos anos
de 1900 a 1965 (período em que o país vivenciou importantes movimentos migratórios
internacionais e internos, bem como a passagem de uma sociedade primário-exportadora para
urbano-industrial), incorporando as migrações na interpretação das distintas dinâmicas
demográficas que tiveram lugar no Estado. Destaca a questão migratória — geralmente
pouco explorada e raramente contemplada no debate sobre a transição demográfica — como
um dos eixos explicativos fundamentais para o entendimento das diferentes formas e etapas
da ocupação territorial e composição da população paulista no decorrer do período analisado.
Observa, por exemplo, que os padrões diferenciados de reprodução dos migrantes refletem-se
nos níveis de natalidade em determinadas localidades paulistas. Contempla também a questão
da nupcialidade e dos diferentes arranjos familiares entre migrantes estrangeiros e migrantes
nacionais como uma variável importante na análise demográfica.
Enfim, através da reconstrução detalhada das fases e dinâmicas da transição
demográfica no Estado de São Paulo, no Município de São Paulo e em outros dois municípios
do interior paulista (Rio Claro e Taubaté) o trabalho procura demonstrar a existência de
momentos e ritmos diferenciados desse processo, onde a migração teve um papel importante.
As fontes básicas utilizadas nesse trabalho são: as estatísticas vitais em âmbito
municipal (FSEADE) e as matrículas de migrantes (Hospedaria de Imigrantes/Memorial do
Imigrante).

*
“Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006”. Este texto foi escrito para compor o livro, organizado por Nilo
Odalia (in memoriam) e João Ricardo de Castro Caldeira, História do Estado de São Paulo: a formação da
unidade paulista. Editoras: UNESP e UNIMARCO (no prelo).

Professora do Departamento de Demografia-IFCH e Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População
(NEPO) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (NEPO) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Trajetória Demográfica no Estado de São Paulo, na capital e em outros
municípios*

Rosana Baeninger♣
Maria Sílvia C. Beozzo Bassanezi♠

A trajetória da população paulista, de 1889 até os dias de hoje, pode ser conhecida e
acompanhada por meio de curvas de natalidade e mortalidade que sintetizam o processo de
transição demográfica vivido por essa população. Tal transição caracteriza-se pela queda dos
elevados níveis de natalidade e mortalidade, que se tornam bem mais baixos em etapa
posterior. A reconstrução detalhada das fases e dinâmicas da transição demográfica no Estado
de São Paulo, no Município de São Paulo e em outros dois municípios do interior paulista
(Rio Claro e Taubaté) demonstra momentos e ritmos diferenciados desse processo.
Ao longo de pouco mais de cem anos, ficam claras as distinções, principalmente com
relação aos níveis de natalidade das diferentes localidades. Essas diferenças são mais nítidas
nos períodos da virada do século XIX para o XX e nos anos que vão de 1930 a 1965. A partir
de meados dos anos 1960, as taxas de natalidade e de mortalidade tornam-se mais
homogêneas.
Este nosso trabalho analisa especialmente a trajetória da população paulista nos anos
de 1900 a 1965 (período em que o país vivenciou importantes movimentos migratórios
internacionais e internos, bem como a passagem de uma sociedade primário-exportadora para
urbano-industrial), incorporando as migrações na interpretação das distintas dinâmicas
demográficas que tiveram lugar no Estado. Destacamos a questão migratória — geralmente
pouco explorada e raramente contemplada no debate sobre a transição demográfica
(FRIDLANDER, 1969 e LEVINE, 1977) — como um dos eixos explicativos fundamentais para o
entendimento das diferentes formas e etapas da ocupação territorial e composição da
população paulista. Observamos, por exemplo, que os padrões diferenciados de reprodução
dos migrantes refletem-se nos níveis de natalidade em determinadas localidades paulistas.
Contemplamos também em nosso estudo a questão da nupcialidade e dos diferentes arranjos
familiares entre migrantes estrangeiros e migrantes nacionais como uma variável importante
na análise demográfica.
Cabe ressaltar ainda que nosso estudo recupera parte importante do acervo da
Hospedaria dos Imigrantes; fonte de informação que permitiu a comparação entre o tamanho
médio de famílias estrangeiras e nacionais, ampliando as interpretações sobre a influência da
migração nos níveis de natalidade registrados em períodos e espaços distintos do território
paulista.

1. Evolução demográfica paulista: migrações estrangeiras e nacionais

Entre a Proclamação da República e a virada do milênio, ocorreram transformações


profundas na história demográfica do Estado de São Paulo, que, inclusive, antecederam as
observadas na sociedade brasileira no seu conjunto. São Paulo apresentou, historicamente,
*
“Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006”. Este texto foi escrito para compor o livro, organizado por Nilo
Odalia (in memoriam) e João Ricardo de Castro Caldeira, História do Estado de São Paulo: a formação da
unidade paulista. Editoras: UNESP e UNIMARCO (no prelo).

Professora do Departamento de Demografia-IFCH e pesquisadora do Núcleo de Estudos de População
(NEPO) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (NEPO) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

1
taxas demográficas de natalidade e mortalidade mais baixas que as do Brasil e esteve à frente
no acelerado processo de transição demográfica caracterizada particularmente pelo acentuado
declínio da fecundidade nos últimos quarenta anos do século XX.
Sua população que, em 1890, era de aproximadamente um milhão e trezentas mil
pessoas, chegou ao ano 2000 somando trinta e sete milhões de habitantes graças à crescente
importância adquirida por esse estado no cenário nacional (a partir do final do século XIX,
com a expansão da cafeicultura e, depois, no século XX, como pólo dinamizado e
dinamizador do processo de industrialização brasileiro).
Tal crescimento não ocorreu de modo homogêneo, mas de formas diferenciadas em
função de dinâmicas demográficas diversificadas, em tempos e locais distintos (MERRICK e
GRAHAM, 1981).
Em certos momentos dos séculos XIX e XX, o Estado de São Paulo tornou-se o
principal pólo de recepção de migrantes no território brasileiro. A extinção paulatina da
escravidão e a necessidade de mão-de-obra — para atender o crescimento acelerado da
cafeicultura a partir da segunda metade do século XIX — trouxeram expressivos contingentes
populacionais provenientes, inicialmente da Europa e, posteriormente, também da Ásia. Entre
1887 e 1900, entraram em São Paulo cerca de 910 mil imigrantes estrangeiros,
principalmente italianos, espanhóis, portugueses, e, em menor proporção, alemães, austríacos,
suíços e imigrantes de outras nacionalidades (CAMARGO, 1981). Em 1900, os imigrantes
estrangeiros constituíam 21% da população total do Estado de São Paulo e já se faziam
importantes no desenvolvimento econômico, político, social, cultural e populacional do
estado (TABELA 1). As correntes migratórias estrangeiras continuaram ainda significativas no
início do século XX: entre 1901 a 1920, deram entrada nesse estado cerca de 820 mil
imigrantes estrangeiros. A partir de então, os movimentos migratórios internos com destino
ao Estado de São Paulo começaram a ganhar importância (TABELA 2).
No decorrer dos anos 1930, migrantes oriundos de outros estados da federação
chegavam a São Paulo em maior proporção que os estrangeiros, invertendo a composição do
movimento migratório, que passou de predominantemente estrangeiro para nacional.

TABELA 1
População Total e Estrangeira
Estado de São Paulo
1890-2000
Ano População total População Proporção de
estrangeira Estrangeiros (%)
1890 1.384.753 75.030 5,4
1900 2.279.608 478.417 21,0
1920 4.592.188 829.851 18,1
1934 6.433.327 932.691 14,5
1940 7.180.316 814.102 11,3
1950 9.134.423 693.321 7,6
1970 17.771.948 703.526 4,0
1980 25.042.074 523.444 2,1
1991 31.588.825 414.263 1,3
2000 37.035.456 343.944 0,9
Fonte: Recenseamentos de 1890, 1900, 1920, 1940, 1950, 1970, 1980, 1991 e 2000. Recenseamento
demográfico, escolar e agrícola-zootécnico do Estado de São Paulo (20 de setembro de 1934). São
Paulo: Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, Secretaria de Estado
dos Negócios da Educação e Saúde Pública, Comissão Central do Recenseamento. São Paulo. 1936.

2
De fato, entre 1921 e 1940, o volume de entradas de migrantes brasileiros no Estado
de São Paulo chegou a superar o de estrangeiros no mesmo período, respectivamente 690 mil
e 660 mil.
Entre 1941 a 1945, entraram nesse estado, através da Hospedaria de Imigrantes, 4 mil
estrangeiros contra 144 mil migrantes nacionais. Mesmo assim, o censo demográfico de 1940
mostra que os estrangeiros ainda constituíam uma parcela importante da população paulista
(11,3% do total), sem contar os seus descendentes diretos qualificados como brasileiros em
virtude da norma do jus solis1 seguida no Brasil.

TABELA 2
Entrada de imigrantes estrangeiros e nacionais
Estado de São Paulo
1887 - 1945
Período Brasileiros Estrangeiros
1887 a 1900 552 909.417
1901 a 1920 67.326 823.642
1921 a 1940 694.408 661.921
1941 a 1945 144.396 4.763
Fonte: CAMARGO, J. F. Crescimento da População no Estado de
São Paulo e seus aspectos econômicos. 1 ed. São Paulo, PE/USP,
1981, p. 36.

A ocupação concentrada do segmento estrangeiro imprimiu à população paulista


características e composição diferenciadas quanto à origem, valores, cultura e ideologia.
Como resultado, configuraram-se diferentes tipos de dinâmica demográfica no Estado de São
Paulo.

2. Transição Demográfica em São Paulo

Uma primeira desagregação da evolução das taxas brutas de natalidade e


mortalidade2, utilizando-se a reconstrução temporal de 1900 a 2000 para o Estado de São
Paulo em seu conjunto e para sua Capital (Município de São Paulo)3, mostra de pronto as
diferenças nos níveis e padrões demográficos no âmbito do próprio Estado (GRÁFICO 1).

1
Norma que considera cidadão brasileiro toda a pessoa nascida no Brasil.
2
Para a reconstrução da evolução da população, o Estado de São Paulo dispõe de estatísticas vitais em âmbito
municipal a partir de 1900 (Fundação SEADE). Essas estatísticas permitem acompanhar a evolução das
tendências demográficas ao longo do período aqui analisado, possibilitando apreender momentos e etapas da
transição demográfica. As evidências empíricas apontam para a existência de processos diferenciados de
transição entre municípios e regiões paulistas, bem como entre a experiência paulista e a de outros estados ou do
país.
3
As análises referentes ao Município de São Paulo baseiam-se em Patarra e Baeninger (1988).

3
GRÁFICO 1

Transição Demográfica: taxas brutas de


natalidade e mortalidade.Estado de São Paulo e
Capital - 1900 - 2000
Taxas (por mil habitantes)

45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1900

1910

1920

1930

1940

1950

1960

1970

1980

1990

2000
ESP (natalidade) Capital (natalidade)
ESP (mortalidade) Capital (mortalidade)

Fonte: Cem anos de Estatísticas Vitais no Estado de São Paulo. São Paulo, Fundação SEADE,
2000. (CDRom)

A trajetória da curva da natalidade para o Estado de São Paulo, em média 30


nascimentos por mil habitantes nos primeiros trinta anos (valor abaixo do registrado para a
capital) passa para 32 por mil entre 1930 e 1965. A partir de 1965, o declínio da natalidade
torna-se mais nítido, em torno de 28 nascimentos por mil, atingindo, em 1990, 21
nascimentos por mil e 19 em 2000.
Para a Capital, a curva de natalidade mostra-se relativamente alta nos primeiros trinta
anos (em média 35 nascimentos por mil habitantes), um pouco mais baixa nos vinte anos
seguintes (em torno de 28 nascimentos por mil), mais elevada no período entre 1945 a 1965
(entre 30 e 32 por mil) e em declínio acentuado a partir daí. Iniciando-se com 38 nascimentos
por mil habitantes, essas taxas atingem seu ponto máximo (em torno de 40 mil) ao redor dos
anos 1913 e 1914, bem como seu ponto mínimo entre 1943 e 1945 (23 por mil), valor esse
que só será alcançado novamente por volta de 1988, chegando a 20 nascimentos por mil
habitantes em 2000.
Com relação à mortalidade, verifica-se maior semelhança entre o traçado das curvas
para as duas áreas analisadas (estado e capital), mostrando uma tendência à homogeneização
das taxas em um período de tempo menor do que o verificado para o caso da natalidade.
As diferenças evidentes entre o traçado da curva de natalidade para o estado como um
todo, que resume a média das situações municipais, e o da curva do município de São Paulo,
ao longo do período, apontam para a possível influência da imigração internacional nos níveis
de natalidade.
Embora a imigração estrangeira fosse vista como a solução para suprir as
necessidades de mão-de-obra para a lavoura (HOLLOWAY, 1984 e VANGELISTA,1982), o
município da capital — desde os primeiros anos da imigração no estado — foi o maior pólo
de concentração de estrangeiros, mesmo não se caracterizando como produtor de café. Centro
urbano-financeiro do estado e do país concentrou uma parcela importante dos imigrantes

4
estrangeiros que se fixaram no território paulista (25% em 1920 e 37,5% em 19404) (TABELA
3).

TABELA 3
População estrangeira no Estado e na Capital
1920 – 1940

Ano Total da População Proporção de


população estrangeira estrangeiros (%)
estrangeira no na capital na Capital
Estado
1920 829.851 205.245 24,7
1934 931.691 287.690 30,9
1940 761.991 285.469 37,5
Fonte: Recenseamentos de 1920 e 1940. Recenseamento demográfico, escolar e agrícola-
zootécnico do Estado de São Paulo (20 de setembro de1934). São Paulo: Secretaria de Estado
dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, Secretaria de Estado dos Negócios da
Educação e Saúde Pública, Comissão Central do Recenseamento. São Paulo. 1936.

O processo de industrialização e de urbanização do início do século XX trouxeram


mudanças substantivas na composição da população, na forma de organização do trabalho e
nas relações rurais-urbanas, entre outros aspectos. O município de São Paulo foi, então, o que
vivenciou com maior intensidade essas transformações. A classe operária que se formava,
constituiu-se, primeiramente, com trabalhadores imigrantes estrangeiros e seus descendentes
(italianos, sobretudo), que trouxeram para o Estado de São Paulo habilidades manuais e
técnicas que não se encontravam no Brasil na época (MORSE, 1970).

2.1. Diversidades Municipais: Rio Claro e Taubaté

Os municípios de Rio Claro e Taubaté (escolhidos por nós a título de exemplo)


tiveram histórias distintas no que diz respeito à participação na economia cafeeira e à
recepção de migrantes.
Taubaté, município cafeeiro localizado no Vale do Paraíba, assim como outros
municípios da região, sofreu as conseqüências da decadência da cafeicultura escravista,
iniciada por volta de 1870; não recebeu imigrantes estrangeiros de modo significativo e
registrou um movimento emigratório em direção às lavouras em expansão do Oeste Paulista
no pós-Abolição da escravatura.
O município de Rio Claro, por sua vez, beneficiou-se com a expansão da cultura do
café iniciada na segunda metade do século XIX, recebendo expressivos contingentes de
imigrantes estrangeiros para trabalhar principalmente em suas lavouras e, em menor escala,
na ferrovia ou em outras ocupações oferecidas pelo seu núcleo urbano em crescimento
(BASSANEZI, 1986).
Assim, como era de se esperar, o desenho das curvas de natalidade e mortalidade
desses dois municípios revela a existência de diferenças no processo de transição
demográfica da população de cada um deles (GRÁFICO 2 ).

4
O município de Santos, segundo município com maior número de estrangeiros do Estado no período, não
chegava a concentrar 5% do total de estrangeiros entrados no Estado de São Paulo.

5
GRÁFICO 2

Tra nsiçã o De m ográ fica : ta x a s bruta s de


na ta lida de e m orta lida de . M unicípios de Rio
Cla ro e Ta uba té - 1900 - 2000

Taxas (por mil habitantes)


50

40

30

20

10

0
1900

1910

1920

1930

1940

1950

1960

1970

1980

1990

2000
Rio Claro (natalidade) Taubaté (natalidade)
Rio Claro (mortalidade) Taubaté (mortalidade)

Fonte: Cem anos de Estatísticas Vitais no Estado de São Paulo. São Paulo, Fundação SEADE, 2000. (CDRom)

O perfil da curva de natalidade para Taubaté inicia-se com 27 nascimentos por mil
habitantes em 1900, e mantém uma taxa bruta média de natalidade em torno de 24
nascimentos por mil até 1940. Em Rio Claro, assim como na Capital, a taxa bruta de
natalidade, nos primeiros anos do século XX, apresenta-se mais elevada que a média estadual
(em torno de 39 nascimentos por mil habitantes), inclusive por conta da própria imigração
internacional. Nos primeiros anos da imigração de massa, os imigrantes que chegam
apresentam, no Brasil, uma natalidade maior que em seu país de origem (BALHANA, 1978,
COSTA 1996 e BASSANEZI, 2003).
Os distintos níveis de natalidade registrados nos primeiros trinta anos para esses dois
municípios mostram claramente os efeitos - diretos e indiretos, quantitativos e qualitativos –
do componente migratório nas trajetórias demográficas dessas áreas. Configuram-se, desse
modo, situações bem distintas, não evidenciadas quando se observa a evolução das taxas de
natalidade para o conjunto do Estado de São Paulo. Além da migração, a nupcialidade (outro
fenômeno demográfico não incorporado nas versões clássicas da transição demográfica) ao
que tudo indica, também influenciou as taxas brutas de natalidade do no Estado de São Paulo,
no período 1900-19305.
Os primeiros anos da imigração em massa para São Paulo (1882-1886),
caracterizaram-se pela predominância da imigração individual, de jovens solteiros (de 15-24
anos) e do sexo masculino (77%). Isso contribuiu para o aumento da oferta de homens no
mercado matrimonial, incrementando o número de uniões conjugais, pressionando a idade
média ao casar das mulheres para baixo. Conseqüentemente, ao aumentar o período de risco
de gerar filhos dessas mulheres6, acabou por contribuir para elevar as taxas brutas de
natalidade.
A partir de 1886, por outro lado, o incentivo à imigração familiar, proporcionado pela
política de subsídios, trouxe para São Paulo casais em idades produtivas e reprodutivas com

5
Nas concepções clássicas sobre Transição Demográfica, a nupcialidade também não é devidamente
incorporada à análise. Nesse sentido, veja-se HAJNAL, 1965.
6
Em demografia considera-se o período reprodutivo das mulheres entre as idades de 15 a 49 anos.

6
filhos cujas idades giravam em torno de 5 a 14 anos7, casais que em terras brasileiras tiveram
a oportunidade de gerar novos filhos. Os filhos desses pais estrangeiros, posteriormente,
favoreceram o aumento das taxas de nupcialidade, nas áreas cafeicultoras e receptoras de
imigrantes nas primeiras décadas do século XX8.
De fato, a taxa bruta de nupcialidade para a Capital como também para Rio Claro
situou-se, com oscilações, em torno de oito casamentos legalizados por mil habitantes até
1930. Para Taubaté, entretanto, essa taxa não alcançou quatro casamentos por mil9. O Estado
de São Paulo no seu conjunto registrou, no período, uma taxa bruta de nupcialidade média de
aproximadamente sete casamentos por mil.
No final dos anos 1920, a natalidade já começava a dar sinais de mudança na Capital
e em Rio Claro apresentando-se menor que nos períodos anteriores. Nesse momento, em que
Crise do café atingia profundamente a economia agrária paulista e intensificava-se o processo
de urbanização e industrialização no estado, a curva da natalidade do Estado registrou
tendência a uma nova configuração. Nas áreas de concentração da imigração estrangeira
verificou-se um decréscimo nas taxas de natalidade, enquanto que para Taubaté, que
apresentava ganhos populacionais, observou-se um ligeiro aumento dessa taxa. Em 1945 e
nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial, a configuração dessas situações distintas
tornou-se ainda mais nítida (vide GRÁFICO 2).
A intensidade da nupcialidade parece não ter influenciado o declínio da natalidade na
Capital e em Rio Claro, pois as taxas do período, apesar das oscilações observadas,
mantiveram-se no mesmo patamar das primeiras décadas do século XX, em média oito
casamentos por mil habitantes. Quanto ao calendário das uniões, ou seja a idade ao primeiro
casamento, observaram-se alterações; as pessoas passaram a casar-se em idades mais
elevadas, indicando mudanças no comportamento reprodutivo da população. No caso
específico da Capital, a idade média ao casar encontrava-se elevada já a partir de meados dos
anos 1930: 28 anos para os homens e 23 para as mulheres (MADEIRA, 1978). Para Rio Claro, a
idade média ao primeiro casamento da mulher entre 1890 a 1920 ficou entre 19 e 20 anos,
chegando aos 21 anos, em 1930; os homens que em 1890 casavam-se aos 25 anos, nas
décadas seguintes passaram a se casar mais jovens, entre 23-24, voltando em 1930 a se
unirem em matrimônio aos 25 anos (BASSANEZI, 1992 e 1994).
Para Rio Claro, observa-se a manutenção da tendência iniciada em 1930, ou seja, de
declínio nas taxas de natalidade, em média 30 nascimentos por mil habitantes. A partir de
1965, essa tendência segue o declínio generalizado da fecundidade para o Estado. Nos anos
1930, a Crise do café afetara fortemente a economia do município interrompendo a chegada
de imigrantes (DEAN, 1971); Rio Claro também acabou não sendo atraente a migrantes
nacionais que se chegavam ao Estado de São Paulo a partir dos anos 60.
Depois de 1930, Rio Claro parece ter mantido os níveis e padrões de reprodução
estabelecidos pela migração estrangeira (que, ao que tudo indica, começa desde então a se
aproximar dos padrões observados em seus países de origem). Embora as taxas brutas de
nupcialidade para Rio Claro se apresentassem mais elevadas que no período anterior, em
média 9,5 casamentos por mil habitantes, as taxas de natalidade, no entanto, não voltaram a
aumentar. A partir dos anos 60, quando da atuação do controle deliberado da fecundidade —
com a expansão do uso da pílula anticoncepcional pelas mulheres — a queda nas taxas brutas

7
As informações sobre os imigrantes estrangeiros em nível municipal foram obtidas através da coleta e
sistematização dos dados da Hospedaria dos Imigrantes do Estado de São Paulo, uma vez que tais informações
encontram-se publicadas apenas para o total do Estado de São Paulo.
8
Pesquisas localizadas têm mostrado que os imigrantes estrangeiros e seus descendentes de primeira geração,
no Brasil casavam-se mais e em idades mais precoces que na terra de origem (BALHANA, 1978 e
BASSANEZI, 2003).
9
Consideram-se apenas as uniões formais captadas através das estatísticas vitais.

7
tornou-se mais pronunciada ainda. As taxas de natalidade do município, é preciso reforçar, já
se encontravam bem abaixo das registradas na Capital e no Estado antes mesmo do declínio
generalizado da fecundidade (vide GRÁFICOS 1 e 2).
Diante das evidências apresentadas, a cafeicultura e os movimentos internacionais
influenciaram, em grande parte, as transformações econômico-demográficas ocorridas nos
contextos analisados. Possivelmente, os padrões de fecundidade continuariam declinantes,
como em Rio Claro, caso não tivesse ocorrido a chegada de novo tipo de movimento
migratório, imprimindo um processo de transição demográfica bem mais lento.
Para Taubaté no período de 1930 a 1965, as taxas de natalidade seguiam tendências
mais elevadas, em média 38 nascimentos por mil. Nesse período, os movimentos migratórios
nacionais começaram a se dirigir para essa área, em função da proximidade com a Capital e
da instalação de importantes indústrias na região.
Para a Capital verifica-se que não houve uma continuidade da tendência anterior de
queda da natalidade. Ao contrário, apesar de se atingirem taxas extremamente baixas em
1945 (aproximadamente 23 nascimentos por mil habitantes, em ambos os casos) a tendência
observada é de um acréscimo nesses valores por mais vinte anos até 1965, quando voltam a
decrescer (vide GRÁFICO 1).
No caso da Capital, observam-se oscilações mais acentuadas na sua curva de
natalidade. Quais seriam então as especificidades da migração interna para que ocorresse um
aumento tão expressivo nas taxas de natalidade no período pós-1945?

2.2. Movimentos Migratórios e Arranjos Familiares

A análise dos fluxos migratórios segundo a composição familiar, para a Capital, no


período da passagem de movimentos internacionais para internos, possibilita apreender
características distintas que parecem ter contribuído para mudanças no comportamento
reprodutivo das unidades familiares.
Os arranjos familiares dos imigrantes estrangeiros e dos nacionais registrados na
Hospedaria de Imigrantes, no período de 1920 a 194010, apresentaram-se bastante distintos
(TABELA 4).
Enquanto que a imigração individual ainda tinha um peso razoável no total dos
movimentos migratórios internacionais até 1940, na migração interna nacional o número de
indivíduos desacompanhados da unidade familiar diminuía à medida que aumentava o
volume migratório.
Observando-se o período de 1920 a 1925, quando ainda era significativa a entrada de
estrangeiros, nota-se que o maior número de imigrantes com família corresponde ao tipo
casal e filhos (33%), seguido à distância pelos tipos casal (8,6%), casal, filhos e parentes
(7,5%) e chefe-homem e filhos (5,9%). Para os migrantes nacionais, no entanto, a primeira
posição era ocupada pelo tipo casal, filhos e parentes correspondendo a 25% do total dos
arranjos familiares de imigrantes.

10
Vale ressaltar que apenas eram obrigados a se registrar na Hospedaria dos Imigrantes do Estado de São Paulo
os estrangeiros subsidiados pelo Governo, sendo que a partir de 1927, com o término dessa política de
imigração, os estrangeiros continuaram se dirigindo à Hospedaria como forma de obtenção de emprego. Quanto
aos migrantes nacionais provenientes do Nordeste, nos anos 1930-40 a companhia responsável pelo
deslocamento dessa população (Companhia de Imigração e Colonização – CAIC), deixava-os na Hospedaria e
ali permanecendo até se inserirem no mercado de trabalho. Desse modo, os registros coletados na Hospedaria
compreendem apenas uma parcela da população migrante que chegou ao município. De qualquer forma, são as
únicas informações que permitem apreender semelhanças e diferenças na composição dos movimentos
migratórios.

8
TABELA 4
Distribuição relativa dos imigrantes estrangeiros e nacionais segundo o tipo de família
Município de São Paulo
1920-1940

Tipo de família Período


1920 – 1925 1926 - 1934 1935 – 1940
Estr. Nac. Estr. Nac. Estr. Nac.
Individual 39,8 39,9 49,7 55,2 24,0 14,2
Casal e filhos 32,8 13,3 25,8 12,0 49,0 15,3
Casal 8,6 5,8 6,4 7,9 3,6 3,9
Casal, filhos e parentes 7,5 25,5 6,2 7,3 6,4 44,7
Chefe homem e filhos 5,9 5,3 6,4 4,8 6,1 6,4
Chefe homem e outros 2,7 7,5 2,1 9,8 2,0 3,2
Casal e parentes 1,5 - 1,4 0,8 3,8 12,2
Chefe mulher e filhos 0,6 - 1,0 0,6 0,8 0,08
Outros 0,6 2,66 1,1 1,7 - 0,04
Total (%) 100 100 100 100 100 100
Fonte: Registro de Matrícula de Imigrantes. Hospedaria de Imigrantes do Estado de São Paulo, 1920-1940.

No período entre 1926 a 1934, a imigração familiar em unidades casal e filhos


continuou predominante entre os estrangeiros no conjunto dos arranjos. Para os nacionais,
embora apresentassem grande parte de seus migrantes em grupos constituídos pelo casal e
filhos, observa-se uma distribuição mais ampla dos migrantes nacionais em todo tipo de
arranjo familiar.
No período de 1935 a 1940, quando da entrada de grandes levas de contingentes
migratórios nacionais para a Capital, os dados da Hospedaria de Imigrantes mostram que,
mesmo para a pequena parcela de imigrantes estrangeiros que entraram nesse período, se
mantém a persistência de uma maior presença de estrangeiros em famílias compostas por
casal e filhos. No entanto, para os migrantes nacionais registrados no período, 44,7%
pertenciam a famílias formadas pelo casal, filhos e outros parentes.
O tamanho médio das famílias nacionais e estrangeiras, no período 1920-1940
registradas na Hospedaria de Imigrantes, evidencia diferenças significativas que
possivelmente podem ter contribuído para a elevação dos níveis de natalidade no período
posterior (TABELA 5).
Enquanto a família formada por casal e filhos apresentava, como tamanho médio,
quatro pessoas entre os estrangeiros, esse tipo de família chegava a seis membros entre os
migrantes nacionais. O tipo de família chefe homens e filhos correspondia entre os migrantes
nacionais a um tamanho médio de sete pessoas, sendo que para os estrangeiros esse tipo de
arranjo chegava a três pessoas. Da mesma maneira, para as demais categorias, o tamanho
médio das famílias nacionais sempre apresentou-se maior que o das estrangeiras.

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TABELA 5
Tamanho Médio das Famílias Imigrantes Estrangeiras e Nacionais segundo Tipos de Família
Município de São Paulo
1920 - 1940

Tipo de Família Estrangeiras Nacionais


Nuclear 4,05 6,07
Casal 2,00 2,00
Nuclear Expandida 5,89 9,56
Chefe Hom. e Filhos 3,06 6,92
Chefe Hom. e Outros 2,46 4,99
Casal e Parentes 3,36 5,42
Chefe Mulher e Filhos 3,04 2,00
Outros 3,00 4,00
Fonte: Matrículas de Imigrantes. Hospedaria de Imigrantes do Estado de São Paulo, 1920-1940.

O tamanho, a composição da população migrante nacional e seu padrões e os níveis


de reprodução parecem refletir na retomada do crescimento das taxas de natalidade e de
níveis mais elevados de fecundidade na Capital a partir de 1945. As taxas brutas de
natalidade no período de 1945 a 1965 voltaram a aumentar, registrando 34 nascimentos por
mil habitantes, em 1954. Essa elevação pode estar relacionada a maior incidência da
migração familiar, entre os migrantes nacionais e, ao aumento da nupcialidade verificada no
município entre os anos de 1949-1955, em média 10 casamento por mil habitantes. A
mortalidade continuava em queda nos anos 40, em torno de 10 óbitos gerais por mil
habitantes.
A partir de 1965, as taxas de natalidade da Capital voltaram a decrescer, adiantando-
se a um movimento de declínio da fecundidade que vai ocorrer no país como um todo mais
tarde.
Esse declínio da fecundidade representou o início da tendência à homogeneização dos
diferenciais encontrados em décadas passadas entre os municípios e entre os estado e o país.
A introdução da pílula anticoncepcional, a adoção da instituição do divórcio, a emergência de
novos padrões sexuais, o movimento feminista, o aumento da participação da mulher na
força-de-trabalho, bem como os diferentes eixos institucionais — sociedade de consumo,
políticas implícitas de governo, telecomunicações, medicalização da sociedade (FARIA 1988)
— contribuíram para alterações na constituição e dinâmica da família e, em conseqüência, no
comportamento reprodutivo.
As dimensões explicativas, as mediações e os processos que envolveram a evolução
demográfica de períodos anteriores, no Estado de São Paulo, são completamente distintas da
etapa atual. “Se antes, o foco da análise era a diferença no comportamento reprodutivo, agora
o foco da análise desloca-se para a tentativa de explicação da homogeneização desse
comportamento” (PATARRA e OLIVEIRA, 1988:33). Em 2000, a taxa bruta de natalidade do
Estado e da Capital situava-se em torno de 20 nascimentos por mil habitantes, sendo que para
Rio Claro e para Taubaté encontrava-se ainda mais baixa (15 por mil e 18 por mil
respectivamente).
Torna-se importante ressaltar, no entanto, que a resultante numérica, expressa em
níveis bem mais homogêneos, encobre distinções entre segmentos populacionais decorrentes
da existência de enormes desigualdades sociais. Sendo assim, depois de nosso estudo, que
demonstra diferenças entre Estado e municípios e na comparação entre municípios paulistas,
análises ainda mais refinadas - que incorporem as diferenças de classe e condição social na
população paulista – serão muito bem vindas.

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