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F 008 – Notas de Aula

Notas de Aula

Fundamentos Básicos das Ciências da Natureza


Uma introdução aos conceitos básicos e à linguagem da ciência

Prof. Rickson C. Mesquita∗

March 11, 2023

Instituto de Física Gleb Wataghin – IFGW


Universidade Estadual de Campinas – Unicamp

∗ rmesquit@unicamp.br
O UNIVERSO E A CONQUISTA DO ESPAÇO
O que é o universo? 2
Desde os primórdios da humanidade, o mistério sobre a origem do uni- 2.1 As primeiras ideias sobre a
verso tem sido objeto de contemplação e investigação. De filósofos anti- origem do Universo . . . . . 23
gos às mais avançadas tecnologias de hoje, a busca pela resposta a esta 2.2 Ptolomeu e o modelo
pergunta é parte da nossa jornada para compreender o nosso mundo. geocêntrico do Universo . . 25
2.3 Copérnico e o modelo
Mas, o que realmente sabemos sobre a origem do universo? Há milhões
heliocêntrico . . . . . . . . . . 26
de anos, a teoria era de que o Universo era eterno e sempre existiu. No
2.4 Tycho Brahe e as leis de
entanto, com a evolução da ciência e a descoberta da lei da gravitação
Kepler . . . . . . . . . . . . . . 27
universal de Newton, as ideias mudaram e a teoria do Big Bang surgiu
2.5 A abordagem científica de
como a explicação mais aceita da origem do Universo.
Galileu . . . . . . . . . . . . . 29
Mas ainda há muito por descobrir. O universo é tão vasto e complexo 2.6 Problemas . . . . . . . . . . . 31
que a ciência ainda está descobrindo suas propriedades e estrutura. A
teoria do Big Bang pode ser a explicação mais aceita atualmente, mas a
verdadeira origem do Universo ainda é um mistério envolta em segredos
e maravilhas a serem desvendados.
A jornada para descobrir a origem do Universo é uma das mais fasci-
nantes e desafiantes da ciência moderna. Quem sabe o que será desco-
berto a seguir? Só o tempo e a investigação científica poderão dizer. Mas
uma coisa é certa: a curiosidade humana sobre o Universo é uma paixão
eterna que jamais morrerá.

2.1 As primeiras ideias sobre a origem do


Universo

O surgimento do Universo é uma questão que tem sido abordada desde


a Antiguidade, tendo sido registrada nas obras dos primeiros filósofos
gregos1 . Um dos mais notáveis filósofos que tratou desta questão foi 1: Antes deste período, as principais
Anaximandro, nascido em Mileto (atual Turquia) por volta de 610 a.C. teorias que buscavam explicar o surgi-
mento do Universo o faziam usando for-
Embora não existam registros elaborados escritos por Anaximandro, suas mas mitológicas.
teorias sobre o Universo são conhecidas através dos relatos de Simplício,
Heródoto e Aristóteles. Anaximandro acreditava na existência de uma
”arché” na natureza e da origem do Universo no ”ápeiron”.∗ Ele também
propôs que a Terra tinha uma forma cilíndrica e flutuava livremente no
ápeiron, sem apoio, e que o Sol era uma bola de fogo que se movia ao
redor do cilindro e criava um mapa do mundo a partir de um furo no
eixo (Figure 2.1).

∗ Anaximandro foi discípulo de Tales, considerado o primeiro filósofo natural (os antigos
gregos não viam a ciência como um assunto separado da filosofia). Ele acreditava na
existência de um único elemento que teria dado origem a tudo o que existe, o que era
expresso pela palavra grega arché. Para Anaximandro, havia uma complexa relação no
Universo que lhe daria origem. A essa relação elementar, ele chamou ápeiron. A palavra Figure 2.1: Mapa Mundi de Anax-
ápeiron designa algo infinito, portanto, imortal e indefinível. Para Anaximandro, este imandro. (Figura retirada de
elemento era algo que sempre existiu, antes inclusive da existência do Universo e dos https://brasilescola.uol.com.br)
seres, e era invisível. O ápeiron era o resultado de um turbilhão de relações entre opostos
(quente e frio, seco e úmido, escuridão e claridade...) que resultava em uma unidade
e estava presente em tudo. Para Anaximandro, a origem de tudo teria surgido desse
turbilhão e tudo era composto por uma unidade advinda da dualidade dos pares opostos.
2 O que é o universo? 24

A teoria de Aristóteles (384–322 a.C.) sobre a posição da Terra no Uni-


verso difere da proposta de Anaximandro. Enquanto Anaximandro acre-
ditava que a Terra estava no centro do Universo e permanecia imóvel sem
uma razão aparente para se mover em uma direção ou outra, Aristóte-
les argumentou que a Terra era o centro do Universo e, portanto, estava
imóvel.
Pitágoras (570–495 a.C.) talvez tenha sido o primeiro a supor que a Terra
pudesse ser esférica, mas suas razões (ao que parece) eram mais estéticas
do que científicas.† Razões científicas, porém, logo surgiram. Anaxágo-
ras (500–428 a.C.) afirmou que a Terra era redonda, baseando-se em evi-
dências como o fato de que partes do horizonte somem gradualmente
quando um navio navega, sugerindo que a Terra é uma curva. Além
disso, ele observou que a sombra da Terra na Lua durante um eclipse
lunar é circular, o que é consistente com a ideia de uma Terra esférica. A
ideia de uma Terra esférica não foi comprovada até muito tempo depois,
com as medições e experimentos mais rigorosos realizados por outros
filósofos como Eratóstenes.
Os Pitagóricos avançaram na concepção da natureza do universo, de-
fendendo que a Terra era um dos muitos planetas.‡ Eles acreditavam
que todos os planetas, incluindo a Terra, se moviam em órbitas circu-
lares ao redor de um “fogo central” invisível e sem limite (Figure 2.2).
Eles observaram que a Lua apresenta sempre a mesma face voltada para
a Terra, e que a Terra sempre mantém uma face voltada para o “fogo
central”. Eles sugeriram que o Sol brilhasse devido à reflexão da luz
emitida pelo fogo central. Além da Terra, eles também acreditavam na
existência de uma “contra-Terra”, posicionada na mesma distância em Figure 2.2: O Universo de acordo
relação ao centro do universo. Duas razões o explicavam, uma científica com os pitagóricos. Philolaus foi um
dos pensadores da escola Pitagórica
e outra derivada do misticismo aritmético. A científica advinha da cor- que defendeu a teoria de que o
reta observação de que um eclipse lunar às vezes ocorre quando o Sol e universo era finito, e que a Terra
a Lua estão acima do horizonte. A refração, causa desse fenômeno, era- estava situada no centro do uni-
verso, com o Sol e as estrelas girando
lhes desconhecida, e por isso achavam que, em casos assim, o eclipse se em torno dela. (Figura retirada de
devia à sombra de um corpo que não o da Terra. A outra razão estava https://www.physics.unlv.edu)
no fato de o Sol e a Lua, os cinco planetas, a Terra, a contra-Terra e o fogo
central totalizarem dez corpos celestes, e dez era o número místico dos
pitagóricos. Embora seus conceitos de um fogo central e contra-Terra
fossem errôneos, os Pitagóricos foram os primeiros a apresentar um sis-
tema coerente no qual os corpos celestes se movem em círculos.
Aristarco de Samos, que viveu entre 310 a.C. e 230 a.C., é considerado
um dos mais importantes astrônomos da Antiguidade por ter formulado
a hipótese de que todos os planetas, incluindo a Terra, giravam ao redor
do Sol, e que a Terra girava em seu próprio eixo uma vez a cada 24 horas.
No entanto, sua hipótese não foi amplamente aceita. Esta rejeição geral

† Pitágoras, um filósofo e matemático grego do século VI a.C., é creditado como um dos


primeiros a propôr que a Terra era esférica. No entanto, não há registros confiáveis de es-
critos diretos de Pitágoras, então a veracidade dessa afirmação é questionável. É provável
que a teoria da esfericidade da Terra tenha sido desenvolvida por vários filósofos e cien-
tistas antigos ao longo do tempo. De qualquer forma, a ideia da Terra como uma esfera
foi amplamente aceita pelo século III a.C.
‡ Os Pitagóricos foram uma sociedade filosófica e religiosa antiga da Grécia, ativa no
século V a.C. Eles foram fundados por Pitágoras e seus seguidores foram conhecidos
como pitagóricos. A filosofia pitagórica enfatizava a matemática e a harmonia universal,
bem como a ascetismo e a busca da sabedoria. Além disso, eles acreditavam na reencar-
nação e que a alma poderia ser purificada por meio de práticas éticas e espirituais. Os
pitagóricos também fizeram contribuições significativas para a matemática, geometria,
astronomia e música.
2 O que é o universo? 25

se deve principalmente ao trabalho de Hiparco (161–126 a.C.), que foi o


primeiro a descobrir a precessão dos equinócios, a calcular a extensão
do mês lunar com precisão, a aperfeiçoar as estimativas de Aristarco so-
bre o tamanho e distância do Sol e da Lua, e a catalogar 850 estrelas fixas
fornecendo sua latitude e longitude. Em oposição à hipótese heliocên-
trica de Aristarco, Hiparco adotou e melhorou a teoria dos epiciclos de-
senvolvida por Apolônio, que viveu por volta de 220 a.C.

2.2 Ptolomeu e o modelo geocêntrico do


Universo

A teoria de Hiparco continuou sendo desenvolvida ao longo dos séculos,


e o Sistema Ptolemaico é uma evolução da teoria de Hiparco2 . Ptolomeu 2: O Sistema Ptolemaico foi batizado
propôs a primeira explicação amplamente aceita para os movimentos em homenagem a Cláudio Ptolomeu,
um astrônomo grego nascido no Egito
celestes complexos, utilizando as observações acumuladas de antigos que viveu em Alexandria por volta do
astrônomos babilônicos e gregos. Ele explicou o movimento planetário ano 70 d.C.
através da combinação de círculos: o planeta se move ao longo de um pe-
queno círculo, conhecido como epiciclo, cujo centro se move ao longo de
um círculo maior, conhecido como deferente (Figure 2.3). A Terra ficava
situada a uma distância levemente afastada do centro do deferente.
Até esse ponto, o modelo de Ptolomeu era semelhante ao modelo pro-
posto por Hiparco aproximadamente 250 anos antes. A inovação in-
troduzida por Ptolomeu foi o equante, que é um ponto localizado ao
lado do centro do deferente oposto à Terra, ao qual o centro do epici-
clo se move a uma velocidade uniforme. O equante tinha como objetivo
explicar o movimento não uniforme dos planetas. O objetivo de Pto-
lomeu era produzir um modelo que permitisse prever com precisão os
movimentos planetários, eclipses e outros fenômenos celestes, e ele foi
bem-sucedido nesse aspecto. Por esse motivo, o modelo ptolemaico con-
tinuou a ser utilizado sem grandes mudanças por quase 1300 anos.

Figure 2.3: Modelo geocêntrico


de Ptolomeu. (Figura retirada de
http://www.inpe.br)
2 O que é o universo? 26

2.3 Copérnico e o modelo heliocêntrico

Nicolau Copérnico (1473–1543) viveu na época do Renascimento e da Re-


forma, um período turbulento, de grandes inovações em muitos campos,
em que muitas autoridades anteriormente aceitas foram questionadas.
As explorações dos grandes navegadores exigiam dados mais precisos
e mostravam que havia erros na geografia de Ptolomeu – por que não
no resto da sua obra? Erros acumulados durante séculos demandavam
uma reforma do calendário, tornando necessários melhores conhecimen-
tos de astronomia.
O grande trabalho de Copérnico, Sobre as revoluções das esferas celestes,
publicado em 1543, era conceitualmente bastante próximo das ideias de
Aristarco. Copérnico manteve a ideia de um universo esférico com ór-
bitas circulares e até mesmo a ideia de esferas girando dentro de esferas,
mas fez uma pergunta ao mesmo tempo simples e revolucionária: seria
possível que o Sol, e não a Terra, estivesse no centro?
O que Copérnico procurou demonstrar foi que a principal vantagem do
ponto de vista heliocêntrico3 seria a de simplificar a descrição do Uni- 3: Termo utilizado para descrever o
verso, explicando as mesmas observações anteriores através de movi- modelo no qual o Sol estaria no centro
do Universo.
mentos circulares perfeitos, sem utilizar, por exemplo, o artifício dos
equantes de Ptolomeu. Por exemplo, a descrição da órbita de Vênus,
que é um dos planetas situados entre o Sol e a Terra, podemos ver que o
deferente é substituído pela órbita da Terra ao redor do Sol, e o epiciclo
pela órbita de Vênus ao redor do Sol (Figure 2.4).
Outra grande vantagem do sistema heliocêntrico é que ele permitiu a
Copérnico deduzir pela primeira vez a escala relativa das distâncias den-
tro do sistema solar. No sistema geocêntrico, a escala das distâncias era
arbitrária: só importava a razão entre os raios do epiciclo e do deferente,
e não os valores absolutos desses raios. Já para Copérnico os deferentes
dos planetas internos (epiciclos dos externos) se transformavam todos
nas órbita da Terra em torno do Sol, cujo raio médio é hoje chamado de Figure 2.4: Diferenças entre os sistemas
geocêntrico (proposto por Ptolomeu) e
unidade astronômica (UA), e se tornava possível determinar os raios das heliocêntrico (proposto por Copérnico).
demais órbitas planetárias com respeito a esta unidade. (Figura retirada de Nussenzveig2002.)

Problema 2.3.1 A unidade astronômica (UA) é uma medida de distân-


cia muito usada na astronomia e equivale aproximadamente a 149,6
milhões de quilômetros, que é a distância média da Terra ao Sol. Essa
unidade é amplamente utilizada para medir distâncias dentro do sis-
tema solar, como as distâncias entre planetas e outros objetos celestes,
assim como para descrever as órbitas de planetas e outros corpos ce-
lestes.
Qual é a distância, em quilômetros, entre o Sol e Marte, que está a 1,5
UA de distância do Sol? Dê sua resposta em notação científica.

A explicação das estações segundo o sistema heliocêntrico decorre do


fato do eixo de rotação da Terra não ser perpendicular ao plano da sua
órbita ao redor do Sol (Figure 2.5). O eixo da Terra tem uma direção fixa
no espaço, a de Polaris. Essa direção, que é transportada ao longo do
plano da órbita, faz um ângulo de 23,5𝑜 com a normal a esse plano. É
verão no hemisfério sul quando, devido à obliquidade do eixo, os raios
2 O que é o universo? 27

Figure 2.5: Explicação das estações


ao longo do ano no modelo he-
liocêntrico. (Figura retirada de
https://www.folhape.com.br)

diretos do Sol atingem a Terra no Trópico de Capricórnio, a 23,5𝑜 ao sul


do Equador.
Até hoje não sabemos exatamente quais razões levaram Copérnico, um
sacerdote da Polônia medieval, a formular este modelo. Talvez Copér-
nico conhecesse algo – não muito, porém – da hipótese quase esque-
cida de Aristarco, sentindo-se encorajado ao encontrar uma autoridade
antiga que desse respaldo à sua inovação. Independente da razão, a
obra de Copérnico atingiu não apenas dogmas científicos, mas também
religiosos. Em 1600, Giordano Bruno, que havia defendido o modelo de
Copérnico, bem como a ideia de que o universo é infinito e eterno, e o
Sol uma estrela como as outras, foi queimado em Roma por ordem da
Igreja. Seu comentário final no julgamento foi: “Espero vossa sentença
com menos medo do que a promulgais. Chegará o tempo em que todos
verão como eu vejo.”. Em 1616, o tratado de Copérnico foi colocado no
Index4 pela Igreja. 4: O Index foi uma lista de publi-
cações consideradas uma heresia, an-
ticlericais ou lascivas e proibidas pela
Igreja Católica. Nessa lista estavam
2.4 Tycho Brahe e as leis de Kepler livros que iam contra os dogmas da
Igreja e que continham conteúdo tido
como impróprio.
A obra de Copérnico, que havia se baseado em dados obtidos na antigui-
dade, trouxe um novo impulso à astronomia. As primeiras observações
novas de grande valor foram feitas pelo dinamarquês Tycho Brahe (1546–
1601).
Graças ao apoio do rei Frederico II, Tycho conseguiu montar um grande
observatório em Uraniborg, um projeto comparável na época ao que se-
ria um grande acelerador de partículas nos dias de hoje. Todas as obser-
vações eram feitas a olho nu (não havia telescópios), com o auxílio de
um quadrante, um instrumento parecido com uma alça de mira (Figure
2.6). Com ele, Brahe conseguia registrar a posição de um astro medindo
dois ângulos: o ângulo em relação em relação ao horizonte e o ângulo
em relação ao verdadeiro norte. Brahe construiu seus instrumentos us-
ando materiais cuidadosamente escolhidos e aprendeu a corrigir as me- Figure 2.6: Foto de um quadrante,
dições de modo a levar em conta a inevitável contração das peças de instrumento parecido com uma alça
de mira utilizado para determinar a
ferro e latão que ocorria durante as frias noites dinamarquesas. Usando posição dos astros no céu na época
esses instrumentos durante um período de 25 anos, Brahe conseguiu de Tycho Brahe. (Figura retirada de
https://www.lojadomuseudemarinha.pt)
2 O que é o universo? 28

atingir uma precisão pelo menos duas vezes superior à das melhores
observações da antiguidade.
Tycho propôs um modelo intermediário entre os de Ptolomeu e Copér-
nico, em que todos os planetas, com exceção da Terra, se moveriam em
torno do Sol, mas o Sol se moveria ao redor da Terra. Tycho não perce-
beu que seu modelo só diferia do de Copérnico por uma mudança do
sistema de referência.
Quando Tycho Brahe morreu, em 1601, seus dados passaram para as
mãos de Johannes Kepler, que foi assistente de Brahe e seu sucessor
no observatório. Kepler parece ter sido uma personalidade extrema-
mente curiosa, motivado por uma firme convicção de que o universo
é construído de acordo com um plano matemático, cuja estrutura pode
ser deduzida por argumentos de perfeição e da “harmonia das esferas”.
Entretanto, ele aliava a essa atitude um grande respeito pelos dados ex-
perimentais, não se satisfazendo com qualquer modelo enquanto não
levasse a uma concordância praticamente perfeita com a experiência.
Após quatro anos de árduo trabalho, Kepler conseguiu mostrar que, cor-
rigindo a teoria de Copérnico no sentido de dar ao Sol a posição central,
obtinha-se melhor acordo com a experiência.
Para a órbita de Marte, porém, persistia um desvio de 8 minutos de arco.
Embora muito pequeno, e compatível com a precisão das observações
utilizadas por Copérnico, esse desvio estava em desacordo com a ex-
traordinária precisão das observações de Tycho Brahe, que Kepler sabia
serem confiáveis dentro de pelo menos 4 minutos de arco. Depois de
mais dois anos de trabalho, o resultado obtido foi uma órbita oval em
lugar de circular, com o Sol no eixo, mas não no centro. Após inúmeras
tentativas infrutíferas de identificação da curva, Kepler acabou desco-
brindo que a órbita de Marte era uma elipse5 , com o Sol situado num 5: A elipse é definida como uma curva
dos focos – e que o mesmo valia para os demais planetas. Kepler obteve tal que a soma das distâncias de qual-
quer ponto da curva a dois pontos fixos
assim a primeira de suas três grandes leis: é sempre a mesma. Imagine prender as
extremidades de um barbante em dois
pontos e traçar uma curva com um lápis
1 𝑎 lei de Kepler (lei das órbitas)
mantendo o barbante esticado; a curva
será uma elipse. Os dois pontos fixos são
“As órbitas descritas pelos planetas ao redor do Sol são elipses, com o Sol
chamados de focos. O que Kepler desco-
num dos focos.” briu foi que as órbitas de todos os pla-
netas conhecidos na época, de Mercúrio
Se 𝑎 é o semieixo maior de uma elipse e 𝑐 a semidistância focal, a a Saturno, eram elipses nas quais o Sol
razão 𝑒 = 𝑐/𝑎 se chama excentricidade da elipse. Para 𝑒 = 0, a elipse ocupava um dos focos.
torna-se um círculo; quanto maior for 𝑒 , mais “achatada” a elipse.

Além de verificar que a órbita de Marte não é circular, Kepler também


percebeu através de suas observações que o movimento do planeta ao
longo da órbita não é uniforme: a velocidade é maior quando ele está
mais próximo do Sol. Kepler procurou entender estes resultados em ter-
mos de uma ação do Sol, como causa dos movimentos dos planetas. Para Figure 2.7: Órbita elíptica dos planetas
isto, imaginou um modelo extremamente peculiar, em que o Sol teria ao redor do Sol, que descreve a primeira
lei de Kepler
uma rotação em torno de seu eixo e emitiria raios que atuariam lateral-
mente sobre o planto, “varrendo-o” em torno da órbita. Partindo desse
modelo inteiramente errado, Kepler fez um cálculo também errado das
áreas varridas pelo raio que liga cada planeta ao Sol, e acabou chegando,
miraculosamente, à lei certa:
2 O que é o universo? 29

2 𝑎 lei de Kepler (lei das áreas)

“O raio que liga um planeta ao Sol descreve áreas iguais em tempos iguais.”

Assim, num dado intervalo de tempo Δ𝑡 , o planeta descreva uma


porção maior da órbita quando está no periélio (posição mais próx-
ima ao sol) do que no afélio (posição mais distante do Sol).

Kepler publicou as duas primeiras leis em seu livro Astronomia Nova, em


1609. Foi só muitos anos mais tarde que chegou à formulação da sua 3 𝑎
lei. Desde sua juventude, ele havia buscado correlacionar as órbitas dos
planetas através de alguma regularidade. Foi só perto do fim da sua
vida, em 1618, após inúmeras tentativas, que ele acabou descobrindo a
regularidade que buscava, na forma da sua 3 𝑎 lei:

3 𝑎 lei de Kepler (lei dos períodos)


Figure 2.8: Lei das áreas, ou se-
“Os quadrados dos períodos de revolução de dois planetas quaisquer estão gunda lei de Kepler: os planetas
entre si como os cubos de suas distâncias médias ao Sol.” varrem áreas iguais em tem-
pos iguais. (Figura retirada de
https://webfisica.com/fisica/curso-de-
Assim, se 𝑇1 e 𝑇2 são períodos de revolução de dois planetas cujas fisica-basica/aula/3-27)
órbitas têm raios médios 𝑅 1 e 𝑅 2 , respectivamente, a 3 𝑎 lei afirma
que
! "2 ! "3
𝑇1 𝑅1
= . (2.1)
𝑇2 𝑅2

As décadas de observações de Brahe e a análise matemática de Kepler


mostraram que sem sombra de dúvida a Terra não está no centro do
universo, e que nem Ptolomeu nem Copérnico estavam certos em seus
modelos do universo (embora Copérnico estivesse mais próximo da rea-
lidade). A história da astronomia também ilustra um ponto importante
do progresso científico: a capacidade de responder a questões científi-
cas depende muitas vezes da qualidade das observações experimentais
à disposição. No caso de Tycho, sua preocupação com a qualidade das
medições experimentais levou a um passo importante para responder
a pergunta que a humanidade vinha se fazendo desde a Antiguidade:
que lugar a Terra ocupa no universo?

2.5 A abordagem científica de Galileu

Outro cientista que tem importância central no desenvolvimento da as-


tronomia moderna foi Galileu (1564–1642). Como não poderia deixar
de ser (afinal, Galileu é considerado o fundador da ciência experimental
moderna), a principal contribuição de Galileu foi na criação de um dis-
positivo capaz de realizar medidas mais precisas sobre os astros. Apa-
rentemente, Galileu teve informações que na Holanda havia sido inven-
tado um dispositivo capaz de focalizar e concentrar a luz emitida pelos
objetos distantes com espelhos, conhecido como telescópio. Em 1609,
Galileu construiu uma versão aperfeiçoada, que ampliava a área dos ob-
jetos por um fator da ordem de 1.000, reduzindo sua distância aparente
por um fator da ordem de 30 (Figure 2.9).
2 O que é o universo? 30

Com seu telescópio, Galileu fez uma série de descobertas sensacionais.


Olhando para a Lua, verificou que não era uma esfera perfeita como
achavam os gregos, mas tinha vales profundos e cadeias de montanhas
elevadas, cuja altura conseguiu estimar, a partir da sombra projetada
pelos raios solares, como sendo comparável à das montanhas terrestres.
As estrelas visíveis a olho nu eram apenas uma pequena parte das que
apareciam no telescópio, “incrivelmente numerosas.”
Observando Júpiter, Galileu teve sua curiosidade despertada pelo que
pareciam ser três “estrelinhas, pequeninas mas muito brilhantes,” ali-
nhadas com o planeta. Repetindo as observações em noites sucessivas,
durante algumas semanas, percebeu que as “estrelinhas” mudavam de
posição com respeito a Júpiter, e que na verdade eram quatro, das quais
uma ou duas se ocultavam por vezes atrás do planeta. Galileu concluiu
que se tratava de quatro satélites de Júpiter, cujos períodos de revolução
mediu. Era um caso claro de corpos celestes girando em torno de um
planeta diferente da Terra, em contradição com o sistema geocêntrico.
Estudando Vênus com seu telescópio, Galileu fez outra descoberta im-
portante: observou que Vênus mostrava “fases”, como a lua: ora apare-
cia como um círculo, ora como semicírculo, em “quarto minguante”.
Logo, não tinha luz própria, apenas refletia a luz do Sol. Mas essas ob- Figure 2.9: Foto da luneta de Galileu,
utilizada para fazer descobertas
servações contradiziam frontalmente o modelo de Ptolomeu, segundo
a respeito dos objetos mais dis-
o qual a órbita de Vênus deveria ser um epiciclo inteiramente contido tantes no céu. (Figura retirada de
entre o Sol e a Terra, o que levaria Vênus a aparecer da mesma forma. www.galileotelescope.org.)

Galileu publicou essas observações em 1610, em seu livro O mensageiro


das estrelas, causando grande sensação, ao mesmo tempo em que provo-
cava uma controvérsia apaixonada. As observações foram postas em
dúvida; quando Galileu quis demonstrá-las, alguns de seus colegas se
recusaram até mesmo a olhar pelo telescópio6 . Com a ascenção do Papa 6: Qualquer semelhança com o filme
Urbano VIII, que tinha demonstrado interesse pela astronomia e pelas Não olhe para cima é mera coincidência...
descobertas de Galileu, este acabou decidindo-se a publicar, em 1632,
seu livro mais famoso, Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo,
defendendo o ponto de vista de Copérnico. Isto violava uma proibição
do papa anterior. Galileu também colocou o argumento predileto de Ur-
bano VIII em defesa de Ptolomeu na boca do personagem Simplicio, cujo
nome era bem representativo do papel que desempenhava na obra.
Em 1633, Galileu foi julgado pelo Santo Ofício e obrigado a abjurar seus
“erros e heresias”. Condenado ao equivalente da prisão domiciliar per-
pétua, aproveitou os nove anos que lhe restaram para escrever e fazer
publicar clandestinamente sua grande obra, Diálogos sobre duas novas
ciências.
2 O que é o universo? 31

2.6 Problemas

Triângulos e trigonometria

Problema 2.6.1 Três terrenos têm frente para a rua Pitágoras e para a
rua Galois, como mostra a figura. As divisas laterais são perpendicu-
lares à rua Pitágoras. Quais são as medidas aproximadas das frentes
dos lotes 2 e 3?

Problema 2.6.2 A sombra de um poste vertical, projetada pelo sol so-


bre um chão plano, mede 12 m. Nesse mesmo instante, a sombra de Figure 2.10: Problema 2.6.1.
um bastão vertical de 1 m de altura mede 0,6 m. Determine a altura
do poste.

Problema 2.6.3 A altura da árvore da figura ao lado é 10 m, a distância


entre ela e o observador é de 50 m e a distância da árvore ao ponto M
é de 70 m. Considerando que o olho do observador, o topo da árvore
Figure 2.11: Problema 2.6.3.
e o topo da torre estão alinhados, qual é, aproximadamente, a medida
da altura da torre?

Problema 2.6.4 Sabendo que na figura abaixo temos três quadrados,


calcule o valor de 𝑥 .

Problema 2.6.5 Uma rodovia cruza uma hidrovia perpendicular-


mente por meio de uma ponte. Ambas podem ser consideradas Figure 2.12: Problema 2.6.4.
retilíneas. No mesmo instante em que um carro cruza a ponte, a uma
velocidade constante de 100 km/h, uma barcaça passa sob a ponte a 60
km/h e prossegue a viagem a essa velocidade. Após 15 minutos, qual
será a distância aproximada entre o automóvel e a barcaça supondo
que ambos estejam no mesmo plano horizontal?

Problema 2.6.6 Durante um treinamento, dois maratonistas partem


de uma mesma cidade em direção reta; um em sentido leste e outro,
em sentido norte. Determine a distância que os separa depois de 2h
sabendo que as velocidades dos atletas são de 20 km/h e 25 km/h
respectivamente.

Problema 2.6.7 Uma torre de televisão de 40 m de altura vai ser sus-


tentada por três cabos de mesmo comprimento. Os cabos serão presos
na torre a 25 m de altura, e os três ganchos, no solo para prender os
cabos estarão a 6 m da base da torre. Quantos metros de cabo, aprox-
imadamente, serão necessários para a sustentação da torre?

Problema 2.6.8 Considerando o metro (m) como unidade de medida


de comprimento, determine a distância 𝑑 entre os pontos A e B repre-
sentados no plano cartesiano.
Figure 2.13: Problema 2.6.8.
2 O que é o universo? 32

Problema 2.6.9 Entre os povos indígenas do Brasil contemporâneo,


encontram-se os Yanomami. Estimados em cerca de 9000 indivíduos,
vivem muito isolados nos estados de Roraima e Amazonas, predom-
inantemente na serra do Parima. O espaço de floresta usado por
cada aldeia yanomami pode ser descrito esquematicamente como
uma série de três círculos concêntricos: o primeiro, com raio de 5 km,
abrange a área de uso imediato da comunidade; o segundo, com raio
de 10 km, a área de caça individual e da coleta diária familiar; e o
terceiro, com raio de 20 km, a área das expedições de caça e coleta co-
letivas, bem como as roças antigas e novas. Considerando que um in-
divíduo saia de sua aldeia localizada no centro dos círculos, percorra
8 km em linha reta até um local de caça individual e a seguir percorra
mais 8 km em linha reta na direção que forma 120𝑜 com a anterior,
chegando a um local onde está localizada sua roça antiga, determine
a distância do ponto de partida até este local.

Problema 2.6.10 Duas forças de intensidade 𝐹1 = 8 N e 𝐹2 = 12 N


formam entre si um ângulo de 60𝑜 . Qual é a intensidade R resultante
dessas duas forças?

Problema 2.6.11 Considere uma circunferência de raio 𝑟 e 𝑙 a medida


Figure 2.14: Problema 2.6.10.
do lado de um decágono regular inscrito nessa circunferência. Deter-
mine 𝑙 em função de 𝑟 .

Problema 2.6.12 Uberaba, Uberlândia e Araguari são cidades do


Triângulo Mineiro localizadas conforme a Figura 2.16. A partir dos
dados fornecidos, determinem a distância aproximada de Uberaba a
Uberlândia.

Círculo trigonométrico

Problema 2.6.13 Calcule, em radianos, a medida do ângulo central


Figure 2.15: Problema 2.6.11.
correspondente a um arco de comprimento 15 cm contido numa cir-
cunferência de raio 3 cm.

Problema 2.6.14 Qual é o comprimento de um arco correspondente


a um ângulo central de 45𝑜 contido em uma circunferência de raio 2
cm?

Problema 2.6.15 Um pêndulo tem 15 cm de comprimento e, no seu


movimento, suas posições extremas formam um ângulo de 60𝑜 . Qual
é o comprimento do arco que a extremidade do pêndulo descreve?

Figure 2.16: Problema 2.6.12.


Problema 2.6.16 Nos X-Games Brasil, em maio de 2004, o skatista
brasileiro Sandro Dias, apelidado “Mineirinho”, conseguiu realizar
a manobra denominada “900”, na modalidade skate vertical (rampa
em forma de U), tornando-se o segundo atleta no mundo a conseguir
2 O que é o universo? 33

esse feito. Sabendo que a denominação “900” refere-se ao número de


graus que o atleta gira no ar em torno de seu próprio corpo, determine
quantas voltas corresponde esta manobra.

Problema 2.6.17 Muitas manobras do skate vertical têm no nome


números que indicam a rotação em graus do atleta. Uma manobra
como “180 ollie frontside” consiste em um giro de meia-volta no ar
quando o atleta sai da rampa, voltando para ela com o skate já na nova
posição. Considerando apenas o nome das manobras abaixo, descreva
o número de voltas do giro do atleta em cada uma delas: (a) Fakie 360,
(b) 540 McTwist, e (c) 720 McHawk.

Problema 2.6.18 Ao projetar prédios muito altos, os engenheiros de-


vem ter em mente o movimento de oscilação, que é típico de estru-
turas de arranha-céus. Se o ponto mais alto de um edifício de 400 m
descreve um arco de (1/2)𝑜 , determine a medida do arco descrito por
este ponto, em metros.

Problema 2.6.19 Em 1792, durante a Revolução Francesa, houve na


França uma reforma de pesos e medidas que culminou na adoção de
uma nova unidade de medida de ângulos. Essa unidade dividia o ân-
gulo reto em 100 partes iguais, chamadas grados. Um grado (1 gr) é,
então, a unidade que divide o ângulo reto em 100 partes iguais, e o
minuto divide o grado em 100 partes, bem como o segundo divide
o minuto também em 100 partes. Tudo isso para que a unidade de
medição de ângulos ficasse em conformidade com o sistema métrico
decimal. A ideia não foi muito bem-sucedida, mas até hoje encon-
tramos na maioria das calculadoras científicas as três unidades: grau,
radiano e grado. (a) A quantos grados equivale meia volta de circun-
ferência? (b) Em qual quadrante termina o arco trigonométrico de 250
gr? (c) A quantos grados equivale 1 rad? (d) A quantos graus equivale
1 gr?

Polígonos e áreas

Problema 2.6.20 Dois formatos predominam como padrão em telas e


monitores de TV. O “4:3” e o “16:9” (widescreen). Esses valores se ref-
erem à proporção das dimensões da largura e da altura da tela (ou, de
forma equivalente, à proporção das colunas e linhas das imagens). As
imagens (tanto fotos como vídeos) costumam seguir um desses dois
padrões, sendo que quanto maior a resolução da imagem, mais linhas
e colunas serão exibidas e, portanto, maior o nível de detalhe exibido.
Por exemplo, 460 × 480 (VGA), 800 × 600 (SVGA), 1024 × 768 (XGA)
e 1280 × 920 são alguns dos formatos mais comuns do padrão 4:3.
Considere uma imagem no formato UXGA, que tem dimensões 1600
× 1200. Essa imagem é padrão 4:3 ou 16:9? Justifique.

Problema 2.6.21 Uma roda de bicicleta tem diâmetro de 60 cm. Qual é


a distância percorrida pela bicicleta depois que a roda deu 500 voltas?
2 O que é o universo? 34

Problema 2.6.22 Como ficará o comprimento de uma circunferência


quando seu raio (a) dobrar e (b) triplicar?

Problema 2.6.23 Uma caixa sem tampa tem a base quadrática com
lado medindo 𝑥 cm e altura 10 cm. Sabendo que a área total de sua
superfície é de 5 m2 , calcule a medida 𝑥 .

Problema 2.6.24 A figura ao lado representa um triângulo ABC, cuja


altura relativa à base BC mede ℎ . Escreva a expressão da área S desse
triângulo em função da medida da altura.

Figure 2.17: Problema ??.

Problema 2.6.25 Um terreno tem a forma de um trapézio de bases


20 m e 14 m, e altura 11 m. Nesse terreno, construiu-se uma piscina
retangular de 8 m por 5 m. No restante do terreno foram colocadas
pedras mineiras. Qual foi a área onde se colocou pedra?

Problema 2.6.26 Alguns jornais calculam o número de pessoas pre-


sentes em manifestações e atos públicos considerando que cada metro
quadrado é ocupado por 4 pessoas. Qual a estimativa do número de
pessoas presentes numa praça de 4000 m2 que tenha ficado lotada
para um comício, segundo essa avaliação?

Problema 2.6.27 Um mapa é feito em uma escala de 1 cm para cada


200 km. O município onde se encontra a capital de certo estado está
representado, nesse mapa, por um losango que tem um ângulo de
120𝑜 e cuja diagonal menor mede 0,2 cm. Determine a área desse mu-
nicípio.

Problema 2.6.28 Uma região quadrada tem 8 cm de lado. (a) Se cada


lado aumentar em 3 cm, a área aumentará em quantos centímetros
quadrados? (b) Se cada lado aumentar em 20%, a área aumentará em
qual proporção?

Problema 2.6.29 Um fio de 48 cm de comprimento é cortado em duas


partes para formar dois quadrados, de modo que a área de um deles
seja quatro vezes a área do outro. (a) Qual deve ser o comprimento
de cada uma das partes dos fios? (b) Qual será a área de cada um dos
quadrados formados?

Problema 2.6.30 Calcule quantas pessoas cabem, aproximadamente,


em uma praça circular de 20 m de raio, considerando 5 pessoas por
metro quadrado.

Problema 2.6.31 Certos registros históricos babilônicos indicam o uso


de uma regra para o cálculo da área do círculo equivalente à fórmula
(em notação atual) 𝐴 = 𝐶 2 /12, em que 𝐶 representa o comprimento
2 O que é o universo? 35

da circunferência correspondente. Determine o valor de 𝜋 oculto


nesses registros.

Problema 2.6.32 Quantos centímetros quadrados de alumínio são ne-


cessários para fazer uma arruela cujas dimensões estão na figura 2.18?

Problema 2.6.33 Uma pizzaria vende pizzas com preços propor-


cionais às suas áreas. Se a pizza média tiver raio igual a 80% do raio
da grande, qual será o preço da pizza média?

Problema 2.6.34 Uma chapa de metal circular, com 1 m de raio, ficou


exposta ao sol. Em consequência, sofreu uma dilatação de 1% na di-
Figure 2.18: Problema ??.
mensão do raio. Determine a área dessa chapa após a dilatação, em
m2 .

Problema 2.6.35 Em uma fotografia aérea, um trecho retilíneo de uma


estrada que mede 12,5 km aparece medindo 5 cm e, na mesma fo-
tografia, uma área queimada aparece com 9 cm2 . Calcule a área da
superfície queimada, em km2 .

Leis de Kepler

Problema 2.6.36 A Terra descreve uma elipse em torno do Sol, cuja


área é de aproximadamente 7 × 1022 m2 durante um ano. (a) De-
termine o valor desta área percorrida em km2 . (b) Determine a área
transcorrida em um mês.

Problema 2.6.37 A Terra descreve uma elipse em torno do Sol, cuja


área é de aproximadamente 7×1022 m2 durante um ano. Qual é a área
varrida pelo raio que liga a Terra ao Sol entre 0:00 do dia 1 de abril até
23:59 do dia 30 de maio do mesmo ano?

Problema 2.6.38 A figura ao lado representa a órbita da Terra ao re-


dor do Sol. A área destacada A corresponde a 1/5 da área total da
elipse. Calcule o número de dias que a Terra demora para se deslocar
da posição P para a posição Q de sua órbita.

Problema 2.6.39 A Terra demora 365 dias para completar uma volta Figure 2.19: Problema 2.6.38.
em torno do Sol. Mercúrio fica 2,5 vezes mais próximo do Sol do que
a Terra. Quantos dias terrestres dura o ano de Mercúrio?

Problema 2.6.40 Marte está 1,5 vez mais afastado do Sol do que a
Terra. Qual é, em anos terrestres, a duração de seu ano?

Problema 2.6.41 O período de Mercúrio em torno do Sol é da ordem


de 1/4 do ano terrestre. O raio médio da órbita do planeta-anão Plutão
2 O que é o universo? 36

em torno do Sol é 100 vezes maior que o raio médio da órbita de Mer-
cúrio. Calcule o valor aproximado do período de Plutão em torno do
Sol, medido em anos terrestres.

Problema 2.6.42 De quantos anos terrestres seria o período de um


planeta que, girando em torno do Sol, tivesse o raio médio de sua ór-
bita 9 vezes maior do que o raio médio da órbita da Terra?

Problema 2.6.43 Entre Marte e Júpiter existe um cinturão de aster-


óides (Figure 2.20). Os asteróides são corpos sólidos que teriam sido
originados do resíduo de matéria existente por ocasião da formação
do sistema solar. Se no lugar do cinturão de asteróides essa matéria
tivesse se aglutinado formando um planeta, quanto duraria o ano
deste planeta (tempo para dar uma volta em torno do Sol)?
Figure 2.20: Problema 2.6.43.

Problema 2.6.44 Conforme mencionamos no texto, no século III a.C.,


Aristarco de Samos estimou a razão 𝑑𝑆 /𝑑𝐿 entre a distância 𝑑𝑆 da Terra
ao Sol e a distância 𝑑𝐿 da Terra à Lua medindo o ângulo 𝜃 entre as
direções que a Lua e o Sol são vistos da Terra quando a Lua está ex-
atamente “meio cheia” (metade do disco lunar iluminado, como na
Figure 2.21). O valor que obteve foi 𝜃 = 87𝑜 . (a) Encontre a estimativa
de Aristarco para 𝑑𝑆 /𝑑𝐿 . (b) Com base nos valores atualmente con-
hecidos, 𝑑𝑆 /𝑑𝐿 = 389. Ache o valor real de 𝜃 e critique o método de
Aristarco.
Figure 2.21: Problema 2.6.44.
Problema 2.6.45 Eratóstenes conhecia o fato de que, na cidade de
Siene, na Grécia, uma vez por ano, no solstício de verão, precisamente
ao meio-dia, uma haste que fosse colocada perpendicularmente ao
chão não tinha sombra. Refazendo a experiência em Alexandria, con-
cluiu que a sombra nunca chegava a desaparecer e que, de fato, no
mesmo dia e hora citados, a sombra projetada sobre o solo fazia um
ângulo de 7𝑜 com a haste, o que é incompatível com a Terra ser plana.
Supondo que a Terra é esférica, e sabendo que a distância entre es-
sas duas cidades é de cerca de 700 km, calcule o valor estimado por
Eratóstenes para o raio da Terra.

Problema 2.6.46 As observações que Galileu fez com a luneta mar-


cam a passagem da visão geocêntrica (a Terra tida como centro do
Universo) para a heliocêntrica (o Sol tido como centro do Universo).
A visão geocêntrica era muito mais natural. As estrelas, como o Sol,
nascem no lado leste e se põem no lado oeste. Pensando no céu como
uma esfera, em que sentido essa esfera deveria girar para explicar os
movimentos das estrelas: de leste para oeste ou de oeste para leste?
Mas, se é a Terra que gira, em que sentido ela deve girar?

Problema 2.6.47 As fases da Lua são um dos eventos astronômicos


mais evidentes; não é à toa que essas fases são importantes para
a maior parte dos calendários atuais e antigos. Mas outros astros
2 O que é o universo? 37

do nosso céu também apresentam variações da fração iluminada


visível (um jeito de dizer o que são as fases). Vênus é um deles, mas
como seu disco é muito pequeno no céu, as variações não podem ser
notadas a olho nu. O primeiro registro das fases de Vênus foi feito
por Galileu Galilei (1564-1642) que observou muitas vezes o planeta
com seu telescópio.

De um modo geral, todos os planetas apresentam variações da fração


iluminada visível, mas nem todos apresentam fases como as da Lua.
A Lua varia da fase cheia (toda parte iluminada visível) passando pelo
quarto minguante (metade da parte iluminada), pela fase nova (nada
visível), pelo quarto crescente (a outra metade iluminada) até voltar à
fase cheia.
(a) Faça um desenho indicando a posição do Sol e da Terra, com Vênus
em quatro posições: entre a Terra e o Sol, atrás do Sol e nas posições
perpendiculares. Considere as órbitas circulares. Vênus, observado
da Terra, apresenta todas as quatro fases, como as da Lua? Se não,
quais ele apresenta? (b) Em cada uma das quatro posições do desenho,
que fases a Terra teria se fosse observada por alguém em Vênus?

Problema 2.6.48 Uma observação importante de Galileu com sua


luneta foi a das fases de Vênus. O modelo geocêntrico de Ptolomeu e o
modelo heliocêntrico de Copérnico faziam previsões diferentes dessas
fases, conforme pode ser visto nas figuras ao lado. Repare que, na pri-
meira figura, Vênus não orbita diretamente a Terra, num círculo, mas
o faz num ponto que orbita a Terra. Esses círculos dentro de círcu-
los eram usados para deixar o modelo matematicamente mais preciso.
Na verdade, o modelo de Copérnico também usava esses sub-círculos
(epiciclos), mas não os indicamos aqui (você pode reparar, se quiser,
que isso não mudaria as fases vistas no modelo de Copérnico). Galileu
observou a existência de quatro fases em Vênus. Explique como tal
fato contribuía a favor do sistema heliocêntrico.

Figure 2.22: Problema 2.6.47.

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