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Você já se perguntou por que a grande riqueza de espécies de lêmures da ilha de Madagascar

não pode ser observada em nenhum outro lugar do planeta Terra? Ou por que não existe leão
na América do Sul? Perguntas como essas não poderiam ser respondidas adequadamente sem
estudos no campo da biorregionalização.

Dessa forma, o autor do artigo “Drivers of bioregionalization”, realizou análises baseadas


em biorregionalizações das principais transições geológicas e climáticas que ocorreram na
Terra, com o objetivo de analisar como a variabilidade desses fatores entre áreas vizinhas está
associada à presença de limites e/ou barreiras biogeográficas.

Assim, o artigo aponta que o principal fator determinante para a delimitação de uma
biorregião é a deriva continental, causada por placas tectônicas. De fato, o movimento das
placas tectônicas é contínuo. Elas estão se movendo agora, enquanto você lê esse texto. O
geólogo Felipe Antonio Toledo, do Instituto Oceanográfico da USP, afirma que as placas
tectônicas se movimentam na mesma velocidade (em média) que as nossas unhas crescem.
Tais movimentos, ao longo de milhões de anos, fizeram com que populações se separassem
em linhagens evolutivas distintas por meio de vicariância e dispersão.

O clima, segundo o autor, também é um fator muito importante e determinante para grandes
transições biogeográficas. De acordo com o artigo, o clima molda os limites biogeográficos.
Um dos exemplos citados é a sazonalidade climática, “o qual explica bem a transição entre
florestas tropicais e savanas na África e na América do Sul”. (ANTONELLI, 2017). Outros
cientistas têm destacado a importância do clima. Segundo pesquisadores da Universidade
Federal de Santa Catarina, o conceito de sazonalidade se refere à variação média entre as
temperaturas mínimas e máximas de cada mês, ao longo de um ano (MIRANDA, 2021), e
eles apontam que a sazonalidade é um fator crucial para a distribuição e redistribuição das
espécies.

Por fim, o autor afirma que as montanhas também são “um fator que opera fortemente em
todos os níveis de diferenciação biogeográfica.” (ANTONELLI, 2017). De acordo com eles,
a formação de montanhas afeta a biodiversidade de diversas maneiras, pois alteram o solo e a
hidrologia das áreas circundantes. Além disso, as montanhas funcionam como barreiras e
promovem processos de vicariância. Segundo a cientista e professora Silmara Pantaleão, da
Universidade Federal de Sergipe, “quando se fala em vicariância, acredita-se que população
ancestral ocupava, em alguma extensão, a somatória das áreas habitadas hoje por seus
descendentes, tendo sido dividida em populações menores pelo surgimento de barreiras que
provocaram o isolamento entre subpopulações.” Dessa forma, as barreiras são um dos
mecanismos responsáveis pela especiação e, bem como as placas tectônicas e o clima têm um
importante papel na diferenciação entre as espécies e em sua distribuição geográfica.

A biorregionalização é um campo de estudo amplo, porém subestimado e pouco explorado.


Estudos como o do artigo “Drivers of bioregionalization” trazem resultados, implicações e
dados muito importantes e têm o potencial de despertar o interesse de outros pesquisadores,
pois ainda existem muitas perguntas a serem respondidas a respeito deste tema. Segundo
Léon Croizat, “A Terra e a vida evoluem juntas.” É impossível compreender a evolução dos
organismos sem o estudo das alterações do ambiente onde estavam ou estão inseridos. Assim,
o estudo das biorregiões e o desenvolvimento de novas pesquisas sobre este tema é essencial
para a construção do conhecimento dos processos históricos que culminaram no atual padrão
de distribuição de espécies.
Referências Bibliográficas

ANTONELLI, Alexandre. Drivers of bioregionalization. Biogeografia, Gotemburgo, Suécia,


v. 1, n. 2, p. 1-2, 06 mar. 2017.

GILLUNG, Jéssica Paula. Biogeografia: a história da vida na Terra. Revista da Biologia,


São Paulo, v. , n. 3, p. 1-5, 07 nov. 11. Disponível em:
http://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/raul/biogeografia_saude_publica/aulas%202014/3-
historia%20biogeografia.pdf. Acesso em: 20 jun. 2023.

MIZUTA, Erin. Os continentes continuam se movimentando? 2020. Disponível em:


https://super.abril.com.br/mundo-estranho/os-continentes-continuam-se-movimentando.
Acesso em: 28 jun. 2023.

PANTALEÃO, Aula 6 Silmara de Moraes. BIOGEOGRAFIA. Disponível em:


https://cesad.ufs.br/ORBI/public/uploadCatalago/08593402092013Evolucao_Aula_6.pdf.
Acesso em: 28 jun. 2023.

UFSC, Notícias da. Aumento na sazonalidade das temperaturas pode extinguir espécies,
aponta estudo da UFSC com repercussão internacional. 2021. Disponível em:
https://noticias.ufsc.br/2021/09/aumento-na-sazonalidade-das-temperaturas-pode-levar-a-
extincao-de-especies-tropicais-aponta-estudo-da-ufsc-com-repercussao-internacional/.
Acesso em: 04 jul. 2023.

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