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Biodiversity loss and its impact on humanity

“Perda da biodiversidade e seu impacto na humanidade”

A característica mais única da Terra é a existência da vida, e a característica mais


extraordinária da vida é a sua diversidade. Aproximadamente, 09 milhões tipos de
plantas, animais, protistas e fungos habitam a Terra. Assim como 07 bilhões de pessoas.
Há duas décadas, na primeira Cúpula da Terra1, a grande maioria das nações do mundo
declarou que as ações humanas estavam desmontando os ecossistemas da Terra,
eliminando genes, espécies e traços biológicos a um ritmo alarmante. Essa observação
levou à questão de como tal perda da diversidade biológica alterou o funcionamento dos
ecossistemas e sua capacidade de fornecer à sociedade os bens e serviços necessários
para prosperar.

Nos últimos 20 anos, registraram-se progressos notáveis no sentido de compreender


como a perda da biodiversidade afeta o funcionamento dos ecossistemas e, portanto,
afeta a sociedade. Logo após a Cúpula da Terra de 1992 no Rio de Janeiro, o interesse
em entender como a perda da biodiversidade pode afetar a dinâmica e o funcionamento
dos ecossistemas, e o fornecimento de bens e serviços, cresceu dramaticamente.
Grandes iniciativas internacionais de pesquisa se formaram; centenas de experimentos
foram realizados em ecossistemas de todo o mundo; novas teorias ecológicas foram
desenvolvidas e testadas com resultados experimentais.

Aqui revisamos duas décadas de pesquisa que analisou como a perda da biodiversidade
influencia as funções dos ecossistemas e os impactos que isso pode ter sobre os bens e
serviços fornecidos pelos ecossistemas. Começamos com uma breve introdução histórica.
Em seguida, resumimos os principais resultados da pesquisa que têm proporcionado
respostas cada vez mais rigorosas à questão de como e por que a diversidade biológica
da Terra influencia o funcionamento dos ecossistemas. Depois disso, consideramos a
questão intimamente relacionada de como a biodiversidade fornece serviços
ecossistêmicos específicos de valor para a humanidade. Concluímos, considerando como
a próxima geração de ciência da biodiversidade pode reduzir nossas incertezas e servir
melhor as iniciativas políticas e de gestão.

Uma breve história

Durante a década de 1980, a preocupação com a taxa de perda das espécies dos
ecossistemas levou a pesquisas mostrando que os organismos podem influenciar a
formação física dos habitats (engenharia dos ecossistemas), fluxos de elementos em
ciclos biogeoquímicos (por exemplo, estequiometria ecológica), e a produtividade dos
ecossistemas (por exemplo, via cascatas tróficas e espécies-chave). Tais pesquisas

1
A Eco-92, Rio-92, Cúpula da Terra ou Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento foi um evento que ocorreu no Rio de Janeiro em 1992. Os temas da Conferência giraram
em torno de problemas ambientais e de desenvolvimento sustentável.
sugeriram que a perda de certas formas de vida poderia alterar substancialmente a
estrutura e o funcionamento de ecossistemas inteiros.

Na década de 1990, várias iniciativas internacionais estavam focadas na questão mais


específica de como a diversidade das formas de vida impacta os ecossistemas. O Comité
Científico dos problemas do ambiente (SCOPE) produziu um livro influente revisando o
estado do conhecimento sobre a Biodiversidade e o Funcionamento dos Ecossistemas
(BFE). O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente encomendou a Avaliação
Global da Biodiversidade para avaliar o estado do conhecimento sobre a biodiversidade,
incluindo o seu papel nos processos ecossistêmicos e paisagísticos. Com base em
estudos iniciais sobre os efeitos da biodiversidade nos processos ecossistêmicos, o
DIVERSITAS, programa internacional dedicado à ciência da biodiversidade, produziu uma
agência global de pesquisa.

Em meados da década de 1990, estudos do BFE manipularam a riqueza de espécies de


plantas em experimentos de laboratório e de campo e sugeriram que as funções
ecossistêmicas, como a produção de biomassa e a ciclagem de nutrientes, respondem
fortemente às mudanças na diversidade biológica. A interpretação desses estudos foi
inicialmente controversa, e no final da década de 1990 os pesquisadores do BFE
estiveram envolvidos num debate sobre a validade de projetos experimentais, os
mecanismos responsáveis pelos efeitos da diversidade e a relevância dos resultados para
sistemas não experimentais. Essa controvérsia ajudou a criar uma década de pesquisas
que, até 2009, geraram centenas de artigos relatando resultados de 600 experimentos
que manipularam mais de 500 tipos de organismos em ecossistemas de água doce,
marinhos e terrestres.

À medida que o campo do BFE se desenvolveu, um corpo relacionado à pesquisa


começou a formar uma agenda para a investigação sobre Biodiversidade e Serviços
Ecossistêmicos (BSE), baseada na ideia de que os ecossistemas proporcionam
benefícios essenciais à humanidade. Embora o BSE não tenha evoluído separadamente
do BFE, tomou uma direção diferente. O foco principal do BSE estava em padrões de
grande escala em paisagens mais relevantes para a avaliação econômica ou cultural.
Para muitas aplicações do BSE, a biodiversidade foi considerada um serviço
ecossistêmico em si mesmo. Quando a biodiversidade era vista como um fator subjacente
que impulsiona os serviços ecossistêmicos, o termo era frequentemente usado livremente
para significar a presença/ausência de habitats inteiros ou grupos de organismos (por
exemplo, impacto das florestas de manguezais na proteção contra enchentes, ou de todos
os polinizadores nativos na polinização).

A Avaliação do Ecossistema do Milênio de 2005 avaliou, pela primeira vez, a condição e


as tendências nos ecossistemas mundiais e dos serviços que eles fornecem, e destacou
dois focos distintos da pesquisa BFE e BES. Pesquisas sobre o BFE desenvolveram um
grande conjunto de experimentos e teoria matemática, descrevendo como a diversidade
genética, espécies e funções dos organismos controlam os processos ecológicos básicos
(funções) nos ecossistemas. Os estudos sobre o BSE foram, pelo contrário, na sua
maioria correlativos, realizados na escala paisagística e muitas vezes focados em como
as grandes alterações de habitats influenciaram a "provisão" e a "regulação" dos serviços
ecossistêmicos.

BLOCO 1

O escopo de nossa revisão

Nesta revisão, perguntamos como a biodiversidade em si – ou seja, a variedade de


genes, espécies ou traços funcionais em um ecossistema – tem um impacto no
funcionamento desse ecossistema e, por sua vez, nos serviços que o ecossistema
fornece à humanidade. Isso engloba questões como, uma floresta armazena mais
carbono se tiver uma maior variedade de espécies de árvores? Um córrego pode limpar
mais poluição se tiver uma maior variedade de genótipos microbianos? Os inimigos
naturais podem controlar melhor as pragas agrícolas se forem compostos por uma
variedade de predadores, parasitas e patógenos?

A biodiversidade é a variedade de vida, incluindo variação entre genes, espécies e


características funcionais. Muitas vezes é medida como: a riqueza é uma medida do
número de formas de vida únicas; a igualdade é uma medida da equitabilidade entre as
formas de vida; e heterogeneidade é a diferença entre as formas de vida.

Funções ecossistêmicas são processos ecológicos que controlam os fluxos de energia,


nutrientes e matéria orgânica através de um ambiente. Os exemplos incluem: produção
primária, que é o processo pelo qual as plantas usam a luz solar para converter a matéria
inorgânica em novas substâncias biológicas; ciclagem de nutrientes, que é o processo
pelo qual os nutrientes biologicamente essenciais são capturados, liberados e depois
recapturados; e decomposição, que é o processo pelo qual os resíduos orgânicos, tais
como plantas e animais mortos, são decompostos e reciclados.

Os Serviços ecossistêmicos são o conjunto de benefícios que os ecossistemas


proporcionam à humanidade. Aqui nos concentramos em dois tipos de serviços
ecossistêmicos: de provisão e de regulação. Os serviços de provisão envolvem a
produção de recursos renováveis (por exemplo, alimentos, madeira, água doce). Os
serviços de regulação são aqueles que diminuem as mudanças ambientais (por exemplo,
regulação climática, controle de pragas/doenças).

O 20º aniversário da Cúpula da Terra de 1992 é um momento oportuno para rever o que
foi aprendido em ambos os campos, e continuar sua síntese em direção a um consenso
orientado por dados. Nas seções seguintes, resumimos como a variação biológica por si
só age como uma variável independente para afetar as funções e serviços dos
ecossistemas.

20 anos de pesquisa sobre o BFE

Além da proliferação de experimentos (600 desde 1990), a pesquisa da BFE desenvolveu


um corpo substancial de teoria matemática, e expandiu seu escopo para incluir padrões
globais em ecossistemas naturais. Mais da metade de todo o trabalho foi publicado desde
o último artigo de consenso em 2005, e desde então, vários marcos foram cruzados: o
campo se uniu em torno de uma série de achados-chave e temas que foram fomentados
pela publicação de 13 sínteses quantitativas de dados; muitos dos primeiros debates
científicos diminuíram à medida que os dados se acumularam para resolver as principais
controvérsias; um novo consenso está emergindo sobre as perguntas sem respostas do
campo e como abordá-los. Esses marcos oferecem uma oportunidade única para
reavaliar conclusões anteriores e identificar tendências emergentes.

Seis declarações de consenso

Concluímos que o equilíbrio de evidências que se acumularam nas últimas duas décadas
justifica as seguintes declarações sobre como a perda da biodiversidade tem impacto no
funcionamento dos ecossistemas.

1ª Declaração de consenso

Há agora evidências inequívocas de que a perda de biodiversidade reduz a eficiência pela


qual as comunidades ecológicas capturam recursos biologicamente essenciais, produzem
biomassa, decompõem e reciclam nutrientes biologicamente essenciais.

As Meta-análises publicadas desde 2005 demonstraram que, como regra geral, reduções
no número de genes, espécies e grupos funcionais de organismos reduzem a eficiência
através da qual comunidades inteiras capturam recursos biologicamente essenciais
(nutrientes, água, luz, presas), e convertem esses recursos em biomassa. Meta-análises
recentes sugerem, ainda, que a diversidade de lixo vegetal aumenta a decomposição e a
reciclagem de elementos após a morte de organismos, embora os efeitos tendem a ser
mais fracos do que para outros processos. Os efeitos da biodiversidade parecem ser
notavelmente consistentes entre diferentes grupos de organismos, entre níveis tróficos e
em vários ecossistemas estudados. Essa consistência indica que existem princípios
gerais subjacentes que ditam como a organização das comunidades influencia o
funcionamento dos ecossistemas. Existem exceções a esta afirmação para alguns
ecossistemas e processos, e estes oferecem oportunidades para explorar os limites que
restringem os efeitos da biodiversidade.

2ª Declaração de consenso

Há cada vez mais evidências de que a biodiversidade aumenta a estabilidade das funções
ecossistêmicas ao longo do tempo. Inúmeras formas de “estabilidade” foram descritas, e
não há razão teórica para acreditar que a biodiversidade deve melhorar todas as formas
de estabilidade. Mas a teoria e os dados apoiam uma maior estabilidade temporal de uma
propriedade comunitária, como a biomassa total em níveis mais elevados de diversidade.
Cinco estudos resumiram como a diversidade tem impacto na variação das funções
ecossistêmicas através do tempo, e estas têm mostrado que a captura total de recursos e
a produção de biomassa são geralmente mais estáveis em comunidades mais diversas.

Os mecanismos através dos quais a diversidade confere estabilidade inclui o excesso de


rendimento, média estatística e dinâmica compensatória. O excesso de rendimento
aumenta a estabilidade quando a produção média de biomassa aumenta com a
diversidade mais rapidamente do que o seu desvio padrão. A média estatística ocorre
quando a variação aleatória na abundância populacional de diferentes espécies reduz a
variabilidade dos ecossistemas agregados. A dinâmica compensatória é impulsionada
através de interações competitivas e/ou respostas diferenciais às flutuações ambientais
entre diferentes formas de vida, ambas levando à assincronia em suas respostas
ambientais. Temos ainda de quantificar a importância relativa desses mecanismos e as
condições que eles operam.

3ª Declaração de consenso

O impacto da biodiversidade em qualquer processo ecossistêmico único é não linear e


saturado, de tal forma que a mudança acelera à medida que a perda da biodiversidade
aumenta.

A forma de relações BFE na maioria dos estudos experimentais indica que as perdas
iniciais da biodiversidade em diversos ecossistemas têm todos os impactos relativamente
nas funções do ecossistema, mas o aumento das perdas do ecossistema leva a taxas de
mudança aceleradas. Ainda não temos estimativas quantitativas no nível de
biodiversidade em que a mudança nas funções ecossistêmicas se torna significativa para
diferentes processos ou ecossistemas, sendo esta uma área ativa de pesquisa. Embora
nossa afirmação seja uma generalidade empírica, alguns pesquisadores questionam se
curvas saturadas são um artefato de experimentos excessivamente simplificados. A
saturação poderia ser imposta pela homogeneidade espacial, escalas de tempo curtas ou
grupos limitados de espécies de experimentos que minimizam oportunidades de
expressão de diferenças de nicho. Em apoio a essa hipótese, estudos de casos
selecionados sugerem que, à medida que os experimentos correm mais tempo, curvas
saturadas se tornam mais monotonicamente crescentes. Além disso, as relações de
funcionamento biodiversidade-ecossistema nos ecossistemas naturais às vezes diferem
das curvas saturadas, e pesquisas futuras precisam avaliar quando e por que essas
diferenças ocorrem.

4ª Declaração de consenso

Diversas comunidades são mais produtivas porque contêm espécies-chave que têm uma
grande influência sobre a produtividade, e diferenças em características funcionais entre
os organismos aumentam a captura total de recursos.

Grande parte da controvérsia histórica na pesquisa do BFE envolveu até que ponto os
efeitos da diversidade são impulsionados por espécies únicas e altamente produtivas
versus alguma forma de “complementaridade” entre as espécies. Pesquisas e sínteses
nos últimos 10 anos deixaram claro que tanto a identidade como a diversidade de
organismos controlam conjuntamente o funcionamento dos ecossistemas. A quantificação
da variação explicada pela identidade das espécies versus diversidade em 200
experimentos descobriram que, em média, em muitos ecossistemas, cada um contribui
com cerca de 50% para o efeito da biodiversidade líquida. A complementaridade pode
representar divisórias de nicho ou interações positivas de espécies, mas até que ponto
esses mecanismos contribuem amplamente para o funcionamento do ecossistema ainda
não foi confirmado.

5ª Declaração de consenso
A perda de diversidade em níveis tróficos tem o potencial de influenciar as funções
ecossistêmicas ainda mais fortemente do que a perda de diversidade dentro dos níveis
tróficos.

Muito trabalho tem mostrado que as interações na cadeia/rede alimentar são os principais
mediadores do funcionamento do ecossistema, e que a perda de consumidores mais altos
pode cair em cascata através de uma rede de alimentos para influenciar a biomassa
vegetal. A perda de uma ou algumas espécies predadoras pode reduzir a biomassa
vegetal tanto quanto a transformação de uma variedade de plantas em uma monocultura
de espécie. A perda de consumidores também pode alterar a estrutura da vegetação, a
frequência de incêndios, e até mesmo epidemias de doenças em uma variedade de
ecossistemas.

6ª Declaração de consenso

Características funcionais dos organismos têm grandes impactos na magnitude das


funções ecossistêmicas, o que dá origem a uma ampla gama de impactos plausíveis de
extinção nas funções ecossistêmicas.

A medida em que as funções ecológicas mudam após a extinção depende muito de quais
traços biológicos são extirpados. Dependendo dos traços perdidos, os cenários de
mudança variam de grandes reduções nos processos ecológicos (por exemplo, se a
forma de vida sobrevivente é altamente improdutiva) ao contrário, onde a eficiência, a
produtividade e a estabilidade de um ecossistema aumentam. Para ilustrar esta última
possibilidade, um resumo dos experimentos BFE mostrou que 65% das 1.019 parcelas
experimentais contendo policulturas vegetais produziram menos biomassa do que a
obtida por suas espécies mais produtivas cultivadas sozinhas. Este resultado foi
questionado por razões estatísticas, e porque a curta duração dos experimentos pode
limitar a oportunidade para diversas policulturas superarem as espécies produtivas.
Mesmo assim, o ponto chave é que, embora a diversidade tenha claramente um impacto
nas funções ecossistêmicas, quando mediada em todos os genes, espécies e
características, uma variação considerável envolve esse efeito médio, decorrentes de
diferenças na identidade dos organismos e seus traços funcionais. Para prever com
precisão as consequências de qualquer cenário particular de extinção, devemos saber
quais formas de vida têm maior risco de extinção, e como os traços desses organismos
influenciam a função. Quantificar a diversidade de traços funcionais e vinculá-los tanto
aos processos de risco de extinção quanto aos processos ecossistêmicos é uma área de
pesquisa em rápida expansão.

4 tendências emergentes

Além das declarações de consenso acima, dados publicados nos últimos anos revelaram
quatro tendências emergentes que estão mudando a forma de como vemos as
consequências funcionais da perda da biodiversidade.

1ª Tendência emergente
Os impactos da perda de diversidade nos processos ecológicos podem ser
suficientemente grandes para rivalizar com os impactos de muitos outros fatores globais
de mudança no meio ambiente.

Embora a biodiversidade tenha um impacto significativo na maioria das funções


ecossistêmicas, tem havido dúvidas sobre se estes efeitos são grandes o suficiente para
estar entre os principais impulsionadores da mudança global. Um estudo recente
comparou 11 experimentos a longo prazo realizados em um local de pesquisa, e outro 57
usou um conjunto de meta-análises de dados publicados para mostrar que os impactos da
perda de espécies na produtividade primária são de magnitude comparável aos impactos
da seca, da radiação ultravioleta, do aquecimento global, ozônio, acidificação, CO2
elevado, herbívoros, incêndios e certas formas de poluição dos nutrientes. Porque a
relação BFE não é linear (ver acima), o ranking exato de diversidade em relação a outros
condutores dependerá da magnitude da perda de biodiversidade, bem como das
magnitudes de outras mudanças ambientais. No entanto, estes dois estudos indicam que
a perda de diversidade pode ter um impacto quantitativamente tão significativo sobre as
funções ecossistêmicas quanto outros fatores de mudanças globais (por exemplo,
mudanças climáticas) que já receberam uma atenção política substancial.

2ª Tendência emergente

Efeitos da diversidade se fortalecem com o tempo, e podem aumentar em escalas


espaciais maiores.

Os efeitos da diversidade em experimentos de pequena escala e de curto prazo podem


subestimar os impactos da perda de diversidade no funcionamento de ecossistemas mais
naturais. Em escalas espaciais maiores e com maiores flutuações temporais, uma maior
heterogeneidade ambiental pode aumentar as oportunidades de espécies para explorar
mais nichos. Consistente com este argumento, um conjunto crescente de pesquisas
mostra agora que os efeitos líquidos da biodiversidade sobre as funções ecossistêmicas
se fortalecem à medida que os experimentos duram mais tempo. Dados limitados também
apoiam a noção de que os efeitos da diversidade se tornam mais fortes em escalas
espaciais maiores e com maior heterogeneidade de recursos. Assim, a pesquisa da BFE
até agora pode ter subestimado os níveis mínimos de biodiversidade necessários para os
processos ecossistêmicos.

3ª Tendência emergente

Mantendo múltiplos processos ecossistêmicos em vários lugares e horários requer níveis


mais altos de biodiversidade do que um único processo em um único lugar e tempo.

A maior parte da investigação da BFE centrou–se numa relação diversidade-função de


cada vez. Um corpo de trabalho emergente sugere que o número de as espécies
necessárias para sustentar um processo único são inferiores ao número de espécies
necessárias para sustentar múltiplos processos simultanamente. Além disso, organismos
que controlam processos ecológicos em qualquer um a localização, ou em qualquer ano
em particular, muitas vezes diferem daqueles que controlam processos em outros locais
ou anos. Como tal, mais biodiversidade é necessário para manter a "multifuncionalidade"
dos ecossistemas em múltiplos lugares e tempos.

4ª Tendência emergente

As consequências ecológicas da perda de biodiversidade podem ser previstas a partir da


história evolutiva.

A pesquisa do BFE tem sido dominada por estudos que têm usado a riqueza das
espécies como sua principal medida de biodiversidade. Mas as espécies representam
"embalagens" para toda a variação genética e característica que influencia a eficiência e o
metabolismo de um organismo, e essas diferenças são moldadas por padrões de
ascendência comum. Meta-análises recentes sugerem que distâncias filogenéticas entre
as espécies (isto é, uma medida de divergência genética) podem explicar mais variação
na produção de biomassa do que a diversidade taxonômica. Isso sugere que os
processos evolutivos que geram variação de traços entre os organismos são, em parte,
responsáveis pelas consequências para o ecossistema e pela perda da biodiversidade.

20 anos de investigação sobre o BSE

Nos últimos 20 anos, pesquisadores desenvolveram uma compreensão rigorosa dos


serviços que os ecossistemas naturais e modificados fornecem à sociedade. Aprendemos
que (1) otimizar os ecossistemas para certos serviços de provisionamento, especialmente
a produção de alimentos, fibras e biocombustíveis, simplificou muito sua estrutura,
composição e funcionamento em escalas; (2) a simplificação aprimorou certos serviços de
provisão, mas reduziu outros, particularmente os serviços de regulação; e (3) a
simplificação levou a grandes perdas da biodiversidade. No entanto, permanecem
questões críticas sobre se a perda da biodiversidade em si é a causa dos serviços
ecossistêmicos prejudicados em paisagens simplificadas.

O campo BSE resultou em menos estudos do que o campo BFE, em parte porque muitos
serviços não podem ser medidos diretamente ou manipulados experimentalmente. Por
conseguinte, resumimos o equilíbrio das provas com a nossa própria revisão bibliográfica.
Começamos por reunir listas de serviços ecossistêmicos que têm sido utilizados nos
últimos resumos. Não incluímos serviços culturais em nossa revisão, que descreveria
utilizações não consumíveis da biodiversidade por parte das pessoas, tais como
recreação, turismo, educação, ciência e identidade cultural. Se as pessoas são motivadas
por um interesse em determinadas espécies (por exemplo, megafauna totêmica ou
carismática) ou paisagens específicas (por exemplo, áreas de natureza selvagem ou os
parques nacionais), sua demanda por serviços culturais implica uma demanda pela
biodiversidade e funções ecossistêmicas necessárias para apoiar as espécies ou
comunidades de interesse. Mesmo assim, os serviços culturais raramente têm sido
investigados em relação à diversidade em si. Aqui concentramos nossos esforços nos
serviços de provisão e de regulação dos ecossistemas, pois estes são serviços que os
estudos de biodiversidade têm medido mais frequentemente, e que estão mais
frequentemente relacionados com as funções ecossistêmicas.
Iniciamos a nossa revisão identificando sínteses de dados que utilizaram ou "Contagem
de votos" (em que os autores contabilizaram o número de estudos mostrando relações
positivas, negativas ou não significativas) ou meta-análises estatísticas formais (nas quais
os autores analisaram dados publicados anteriormente para medir coeficientes de
correlação padronizados, encostas de regressão ou tamanhos de efeito) para quantificar
as relações entre biodiversidade e cada serviço ecossistêmico. Para qualquer serviço
para o qual uma síntese de dados não foi encontrado, realizamos nosso próprio resumo
de artigos revisados por pares usando Termos de pesquisa na tabela complementar 1. Os
trabalhos foram classificados por relevância para maximizar a correspondência aos
Termos de busca, após o qual, revisamos os 100 artigos principais para cada serviço
ecossistêmico (levando a uma revisão de 1.700 títulos e resumos). Para artigos com
dados, categorizamos a relação diversidade-serviço como positiva, negativa ou não
significativa, de acordo com os próprios testes estatísticos dos autores.

Os resultados detalhados da nossa síntese de dados são resumidos na Tabela 2 e os


pontos mais importantes são apresentados na Tabela 1. Acreditamos que as seguintes
afirmações são apoiadas por esta literatura revisada por pares.

Balanço de evidência

1ª declaração

Há agora evidências suficientes de que a biodiversidade em si mesma influencia


diretamente (provas experimentais) ou está fortemente correlacionada com (evidências
observacionais) certos serviços de provisão e de regulação.

As setas verdes na Tabela 1 mostram os serviços ecossistêmicos para os quais há


evidências suficientes para concluir que a biodiversidade tem um impacto no serviço,
como previsto. Para os serviços de provisão, os dados mostram que (1) a diversidade
genética intraespecífica aumenta o rendimento das culturas comerciais; (2) a diversidade
das espécies de árvores aumenta a produção de madeira nas plantações; (3) a
diversidade de espécies vegetais em pastagens melhora a produção de forragens; (4) o
aumento da diversidade dos peixes está associado a maior estabilidade da produção
pesqueira. Para a regulação de processos e serviços, (1) o aumento da biodiversidade
vegetal aumenta a resistência à invasão por plantas exóticas; (2) patógenos vegetais, tais
como infecções fúngicas e virais, são menos prevalentes em comunidades vegetais mais
diversificadas; (3) diversidade de espécies vegetais aumenta o sequestro de carbono
acima do solo por meio de uma maior produção de biomassa (mas ver a declaração 2
relativa ao armazenamento de carbono a longo prazo); e (4) mineralização de nutrientes e
matéria orgânica do solo aumentam com a riqueza vegetal.

A maior parte destes serviços são aqueles que podem estar diretamente ligados às
funções ecossistêmicas medidas em experimentos BFE. Por exemplo, experimentos que
testam os efeitos da riqueza de espécies vegetais na produção da biomassa na superfície
do solo, são também aqueles que fornecem evidências diretas para efeitos da diversidade
no sequestro de carbono acima do solo e na produção de forragens. Para serviços menos
ligados rigorosamente às funções ecossistêmicas (por exemplo, serviços associados a
populações específicas em vez de propriedades do ecossistema), muitas vezes não
temos uma verificação rigorosa da relação diversidade-serviço.

2 ª Declaração

Para muitos dos serviços ecossistêmicos analisados, as evidências de efeitos da


biodiversidade são mistas, e a contribuição da biodiversidade em si para a o serviço é
menos bem definida.

As setas amarelas na Tabela 1 mostram os serviços ecossistêmicos para os quais os


dados disponíveis revelaram efeitos mistos da biodiversidade no serviço. Por exemplo,
em uma síntese de dados, 39% dos experimentos em sistemas de produção de culturas
relataram que a diversidade de espécies vegetais levou a uma maior rendimento das
espécies vegetais de culturas desejadas, enquanto 61% indicaram redução da
produtividade. Os impactos da biodiversidade no armazenamento de carbono a longo
prazo foram igualmente misturados, em que o armazenamento de carbono refere-se aos
estoques de carbono que permaneceram no sistema (na vegetação ou solos) por US$ 10
anos. Comparativamente, poucos estudos examinaram o armazenamento em vez de
sequestro. Também se misturaram evidências sobre o efeito da diversidade vegetal na
abundância de pragas, com quatro sínteses de dados disponíveis mostrando resultados
diferentes. As evidências de um efeito da diversidade animal sobre a prevalência de
doenças animais são misturadas, apesar das recentes alegações de que a biodiversidade
geralmente suprime as doenças. Existem oportunidades importantes para novas
pesquisas para avaliar os fatores que controlam a variação na resposta desses serviços
às mudanças na biodiversidade.

3ª Declaração

Para muitos serviços, não há dados suficientes para avaliar a relação entre a
biodiversidade e o serviço.

Havia três serviços ecossistêmicos para os quais não encontramos dados, cerca de um
terço tinha menos de cinco relações publicadas, e metade tinha menos de dez (Ver
Tabela suplementar 2, células brancas). Isso incluiu alguns exemplos notáveis, como o
efeito da diversidade dos peixes sobre o rendimento da pesca (em oposição à
estabilidade) e o efeito da biodiversidade na regulação das enchentes.
Surpreendentemente, cada um destes serviços tem sido citado na literatura como sendo
um produto direto da biodiversidade. Parte dessa discrepância pode ser atribuída a
diferentes utilizações do termo biodiversidade. Por exemplo, a Avaliação do Ecossistema
do Milênio relatava que a biodiversidade aumenta a proteção contra as enchentes, mas os
exemplos foram baseados na destruição de ecossistemas inteiros (florestas, manguezais
ou zonas úmidas) levando a um aumento do risco de inundações. Não consideramos a
conversão completa de habitat nas nossas análises.

Além disso, as alegações sobre a biodiversidade baseadas em evidências acessórias não


se refletem nas nossas análises. Por exemplo, encontramos poucas evidências diretas de
que a diversidade genética aumenta a estabilidade temporal do rendimento das culturas
(em oposição ao rendimento total); no entanto, a maioria dos agricultores e produtores de
culturas reconhece que a diversidade genética fornece a matéria-prima para a seleção de
características desejáveis, podendo facilitar rotações que minimizam os danos nas
culturas causados por pragas, doenças e caprichos do clima. Embora em alguns casos as
evidências acessórias forneçam provas bastante convincentes para um papel da
biodiversidade na prestação de serviços ecossistêmicos, outros casos são menos
convincentes. Isso enfatiza a necessidade de evidências mais fortes e explícitas para
corroborar as reivindicações por efeitos da biodiversidade nos serviços ecossistêmicos.

4ª Declaração

Para um pequeno número de serviços ecossistêmicos, as evidências atuais para o


impacto da biodiversidade vão contra às expectativas.

As setas vermelhas da Tabela 1 ilustram casos em que o balanço de evidências


atualmente vai contra as afirmações sobre a forma como a biodiversidade deve afetar o
serviço ecossistêmico. Por exemplo, tem sido argumentado que a biodiversidade poderia
melhorar a pureza da água removendo nutrientes e outros poluentes químicos, ou
reduzindo as cargas de pragas nocivas (por exemplo, bactérias coliformes fecais, agentes
patogénicos fúngicos). Há exemplos em que a diversidade genética ou de espécies de
algas aumenta a remoção de poluentes nutricionais de água doce, ou onde a diversidade
de organismos de alimentação filtrante reduz os patógenos transmitidos pela água. No
entanto, há ainda mais exemplos que não mostram qualquer relação entre a
biodiversidade e a qualidade da água.

Finalmente, há casos em que o aumento da biodiversidade pode ser prejudicial. Por


exemplo, embora diversos grupos de inimigos naturais (predadores, parasitóides e
agentes patogênicos) sejam frequentemente mais eficazes na redução da densidade de
pragas herbívoras, diversas comunidades inimigas naturais algumas vezes inibem o
biocontrole, muitas vezes porque os inimigos atacam uns aos outros através da predação
intra-guilda. Outro exemplo diz respeito à saúde humana, onde as populações de agentes
patogénicos mais diversificados provavelmente criarão maiores riscos de doenças
infecciosas, e cepas de bactérias e vírus que evoluem a resistência à medicamentos
representam encargos sanitários e econômicos às pessoas. Tais exemplos alertam para
não fazer afirmações abrangentes de que a biodiversidade sempre traz benefícios para a
sociedade.

Perspectivas e Direções

Se quisermos gerenciar e mitigar efetivamente as consequências da perda de


diversidade, precisamos construir bases estabelecidas pela pesquisa BFE e pela BSE
para expandir seu realismo, relevância e capacidade preditiva. Ao mesmo tempo,
precisamos de um feedback das áreas de política e gestão para forjar novos caminhos de
pesquisa que tornem a ciência ainda mais útil. Aqui consideramos como a próxima
geração de ciência da biodiversidade pode reduzir as nossas incertezas e servir melhor
iniciativas políticas e de gestão para o meio ambiente global.

Integração da investigação BFE e BSE


Os campos de BFE e BSE têm laços intelectuais estreitos, mas distinções importantes
são evidentes. Vemos pelo menos dois caminhos que poderiam facilitar uma melhor
integração. Em primeiro lugar, uma importante fronteira envolve o detalhamento dos
vínculos mecanicistas entre funções e serviços ecossistêmicos. O campo BFE tem
medido regularmente funções sem estendê-las a serviços conhecidos, enquanto o campo
BSE tem rotineiramente descrito serviços sem entender suas funções ecológicas
subjacentes. Um desafio para vincular essas duas perspectivas é que os serviços são
frequentemente regulados por múltiplas funções, que não respondem necessariamente às
mudanças na biodiversidade da mesma forma. Por exemplo, se queremos saber como a
biodiversidade influencia a capacidade dos ecossistemas para remover o CO2 da
atmosfera e armazenar carbono em longos períodos de tempo, então precisamos
considerar a influência líquida da biodiversidade na fotossíntese (troca de CO2 para O2),
sequestro de carbono (acúmulo de carbono em tecidos de plantas vivas), herbívora
(carbono devolvido à atmosfera à medida que as plantas morrem e se decompõem).
Pesquisadores dos campos BFE e BSE precisarão trabalhar mais de perto para
quantificar as redes de vínculos mecanicistas entre funções e serviços ecossistêmicos.

Em segundo lugar, os campos do BFE e do BSE poderiam explorar melhor suas


abordagens complementares à pesquisa. Pesquisas no BFE se concentraram
principalmente em escalas espaciais menores, propícias a experimentos controlados, que
o que tem dificultado a escala de resultados para ecossistemas reais em escalas maiores
onde os serviços são prestados. Estudos sobre o BSE basearam-se fortemente em dados
observacionais, e muitas vezes não conseguiram separar os efeitos bióticos gerais nos
serviços ecossistêmicos (por exemplo, biomassa, habitats ou grupos inteiros de
organismos) dos efeitos da biodiversidade em si (isto é, variação das formas de vida).
Para uma fusão melhor desses dois programas, o BFE e o BSE precisarão expandir seus
escopos de pesquisa e desenvolver abordagens teóricas que possam vincular o foco
mecanicista de pequena escala da pesquisa do BFE a padrões de grande escala que são
o foco do BSE. Discutimos cada um desses por sua vez.

Ampliação do nosso âmbito/escopo

A necessidade de explorar cenários mais realistas de mudança de diversidade que


reflitam a forma como as atividades humanas estão alterando a biodiversidade é agora
urgente. Organismos não se perdem dos ecossistemas aleatoriamente, e características
que predispõem espécies à extinção são muitas vezes aquelas que impulsionam os
processos ecossistêmicos. Até agora, essa questão tem sido explorada principalmente
através de simulações, mas a teoria da rede alimentar baseada no uso de estressores
ambientais para causar extinções podem fornecer uma base para uma nova geração de
experimentos BFE.

Além disso, invasões e expansões de alcance impulsionadas pela mudança


antrópica/antropogênica estão homogeneizando a biota da terra e, em vários casos,
aumentando a diversidade taxonômica local. Prever as consequências do ecossistema de
ganhos simultâneos (invasão) e perdas (extinção) exige primeiro que entendamos quais
traços biológicos que predispõem as formas de vida a maiores probabilidades de
extirpação ou estabelecimento (características de resposta), e detalhamos como traços de
resposta se coadunam com as características que impulsionam o funcionamento do
ecossistema (características de efeito). Por exemplo, em escalas locais, as plantas
invasoras têm frequentemente características funcionais associadas a uma aquisição e
crescimento mais rápido de recurso do que as de espécies nativas coexistentes, embora
as meta-análises globais sugiram apenas diferenças modestas entre plantas nativas e
introduzidas em seus efeitos nos processos ecossistêmicos. Modelos estatísticos foram
desenvolvidos que permitem a integração da invasão e extinção em um quadro de
características, e esses modelos devem agora ser estendidos para prever mudanças nos
serviços ecossistêmicos.

Outro desafio é incorporar melhor a real complexidade das teias alimentares em BFE e
BSE. A maioria das pesquisas até agora se concentrou em comunidades "modelo"
simplificadas. No entanto, na natureza, as teias alimentares são redes complexas com
dezenas a milhares de espécies, têm teias reticuladas de interações indiretas e não
lineares, e contêm incompatibilidades na dinâmica espacial e temporal de organismos
interagindo. Essa complexidade pode parecer impedir a previsibilidade. Mas a teoria
recente e experimentos sugerirem que a estrutura, as interações e a estabilidade da rede
alimentar podem ser previstas por um pequeno subconjunto de características como o
tamanho do corpo do organismo, o grau de generalização dietética, e o nível trófico.
Abordagens simples baseadas em características prometem simplificar a complexidade
inerente às teias de alimentos naturais em alguns eixos-chave que controlam fortemente
as funções e serviços ecossistêmicos. Precisamos identificar melhor essas características
e estruturas de alimentação, e precisamos de modelos melhores para explicar por que
certas propriedades alimentares controlam as funções e serviços ecossistêmicos.

Melhorar as previsões

O aumento da complexidade e do realismo dos experimentos, no entanto, não será


suficiente para mover a pesquisa sobre biodiversidade para uma melhor previsão.
Também precisamos de conjuntos de modelos e ferramentas estatísticas que nos ajudam
a passar de experimentos que detalham processos biológicos locais para padrões em
escala paisagística onde a gestão e a política ocorrem. Uma abordagem frutífera pode
consistir em utilizar dados de experimentos do BFE para atribuir parâmetros para modelos
locais de interações de espécies que predizem como a biodiversidade tem impacto nos
processos ecossistêmicos com base em traços funcionais. Esses modelos locais
poderiam então ser incorporados em modelos de meta-comunidade e ecossistemas
espacialmente explícitos que incorporam heterogeneidade do habitat, dispersão e
motores abióticos para prever as relações entre biodiversidade e serviços ecossistêmicos
no nível paisagístico. Ferramentas estatísticas como a modelagem de equações
estruturais podem então ser usadas para avaliar se as previsões desses modelos de
paisagem concordam com observações de sistemas naturais e para separar os efeitos da
biodiversidade de outros fatores ambientais.

Idealmente, as previsões decorrentes de modelos de nível paisagístico seriam


“fundamentais” ao avaliar sua capacidade de prever os resultados de projetos reais de
restauração, ou outros cenários de gestão onde ações políticas estão sendo tomadas
para proteger os serviços ecossistêmicos. Por exemplo, dada a pressão do uso da terra e
as mudanças climáticas, o fornecimento de água doce é um serviço ecossistêmico de alta
demanda, e os fundos de água estão se tornando um mecanismo financeiro comum
através do qual os consumidores de água a jusante pagam por mudanças a montante no
uso da terra para alcançar objetivos como a manutenção da qualidade da água
(nutrientes, sedimentos e cargas bacterianas). Grandes iniciativas estão em andamento
para padronizar o projeto, a implementação e o monitoramento dos fundos de água,
incluindo um programa piloto apoiado pelo Banco Mundial, o Inter American Development
Bank, FEMSA e a NatureConservancy que abrange 40 cidades latino-americanas.

Iniciativas como essas representam oportunidades para avaliar e aperfeiçoar nossa


capacidade de prever as relações de serviços ecossistêmicos e biodiversidade em
escalas realistas em situações em que os detentores de participações esperam retornos
positivos. Para por exemplo, pesquisadores do BFE e da BSE apresentaram evidências
experimentais substanciais mostrando que a diversidade de espécies de plantas e algas
aumenta a absorção de poluentes nutrientes do solo e da água. Temos modelos
estatísticos que quantificam a forma funcional destes efeitos e dados extensivos sobre as
características funcionais que influenciam tais processos em diferentes habitats. Uma
abordagem poderia envolver o desenvolvimento de previsões espacialmente explícitas de
como a biodiversidade influencia a qualidade da água em uma bacia hidrográfica
modelada onde a assimilação e retenção de nutrientes locais são uma função do número
e tipos de características funcionais que ocorrem localmente (isto é, traços de plantas em
uma zona ribeirinha, ou de algas em um córrego). Pode-se, então, integrar este modelo
espacialmente explícito, biologicamente realista em uma ferramenta de apoio à decisão
(por exemplo, InVEST (avaliação integrada de valoração dos serviços ecossistêmicos)
para simular mudanças nos serviços ecossistêmicos em escalas paisagísticas em que os
tomadores de decisão podem avaliar os compromissos associados a opções alternativas
de uso do solo. Escolhas feitas pelos tomadores de decisão em projetos reais poderiam,
por sua vez, servir como "experimentos naturais" que proporcionam aos biólogos a
oportunidade de testar as suas previsões contra os resultados.

Valorização da biodiversidade

Os economistas desenvolveram uma vasta gama de ferramentas para estimar o valor dos
ecossistemas naturais e gerenciadores de mercado não comercializados por serviços que
eles fornecem. Embora existam boas estimativas da disposição da sociedade para pagar
por uma série de serviços ecossistêmicos não comercializados, ainda sabemos pouco
sobre o valor marginal da biodiversidade (ou seja, valor associado a mudanças na
variação de genes, espécies e características funcionais) na produção desses serviços. O
valor económico da perda de biodiversidade deriva do valor dos serviços afetados.
Estimar esse valor exige a calibração das funções de "produção" dos serviços
ecossistêmicos que vinculam a biodiversidade, os processos ecossistêmicos e os serviços
ecossistêmicos. O derivado de tais funções em relação à biodiversidade define o produto
físico marginal da biodiversidade (por exemplo, sequestro de carbono ou purificação da
água), e quando multiplicado pelo valor do serviço, produz o valor marginal das alterações
na biodiversidade.
Pesquisadores dos campos BFE e BSE precisam trabalhar mais de perto para estimar o
valor marginal da biodiversidade para os serviços ecossistêmicos. Ao fazê-lo, pelo menos
três desafios requerem atenção. Em primeiro lugar, os ecossistemas oferecerem vários
serviços, e muitos envolvem compensações, pois o aumento da oferta de um reduz a
oferta de outro. Por exemplo, o sequestro de carbono através da arborização ou da
proteção florestal pode aumentar a produção de madeira, mas reduzir o abastecimento de
água. O valor das alterações da biodiversidade para a sociedade depende do efeito
marginal líquido da mudança em todos serviços ecossistêmicos. O trabalho futuro precisa
quantificar os benefícios marginais da biodiversidade (em termos de serviços adquiridos)
em relação aos custos marginais (em termos de serviços perdidos).

Além disso, muitas trocas entre os serviços ocorrem em escalas espaciais e temporais
muito diferentes. Os benefícios com a simplificação dos ecossistemas são muitas vezes
locais e de curto prazo, enquanto os custos são transmitidos às pessoas em outros locais,
ou para as gerações futuras. Para que a sociedade faça escolhas informadas sobre usos
da terra que tenham efeitos mistos, a ciência que liga a biodiversidade ao funcionamento
dos ecossistemas e os serviços devem ser alargados a explorar soluções de
compromisso entre serviços devem ser estendidos para explorar as trocas entre serviços
em múltiplas escalas temporais e espaciais, para que as informações possam ser
incorporadas em modelos de uso ideal da terra.

Por fim, há um crescente interesse em desenvolver incentivos para incentivar os


proprietários rurais a levar plenamente em conta os serviços ecossistêmicos que são
afetados pelas suas ações. O conceito de "pagamentos por serviços ecossistêmicos”
surgiu como uma ferramenta para trazer valor de mercado aos ecossistemas. Nossa
revisão enfatizou que muitos serviços ecossistêmicos, em última análise, dependem da
variedade de formas de vida que compõem um ecossistema e que controlam os
processos ecológicos que fundamentais todos os serviços. Portanto, programas para o
uso de pagamentos por serviços ecossistêmicos precisarão se fundamentar em uma
compreensão sólida das ligações entre a biodiversidade, o funcionamento dos
ecossistemas e a produção dos serviços ecossistêmicos. Isso exigirá que tais programas
gerenciem explicitamente para a mudança da biodiversidade.

Resposta ao chamado de iniciativas políticas

A importância da biodiversidade para o bem-estar humano foi reconhecida há 20 anos,


com a formação da Convenção sobre Diversidade Biológica – um acordo
intergovernamental entre 193 países para apoiar a conservação da diversidade biológica,
o uso sustentável de seus componentes e o compartilhamento justo e equitativo dos
benefícios. Apesar desse acordo, dados recolhidos em 2010, indicaram que a perda da
biodiversidade em escala global continuava, muitas vezes com taxas crescentes. Essa
observação estimulou um conjunto de novas metas para 2020 (as metas de Aichi) e,
paralelamente, os governos vêm negociando a criação de um novo órgão de avaliação, a
Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e os Serviços
Ecossistêmicos (IPBES). O IPBES será encarregado pela realização de avaliações
regionais, globais e temáticas de serviços ecossistêmicos e biodiversidade, e dependerá
do comunidade científica internacional para avaliar tendências e riscos associados a
padrões alternativos de desenvolvimento e mudanças no uso da terra.

Lacunas significativas tanto na ciência quanto na política precisam de atenção para que
as metas de Aichi sejam cumpridas, e se os futuros ecossistemas devem fornecer a gama
de serviços necessários para apoiar mais pessoas de forma sustentável. Relatamos o
consenso científico que surgiu ao longo de 20 anos de pesquisa sobre biodiversidade,
para ajudar a orientar a próxima geração de pesquisas sobre os vínculos entre a
biodiversidade e os benefícios que os ecossistemas proporcionam à humanidade. Um dos
maiores desafios agora é usar o que aprendemos para desenvolver modelos preditivos
que são fundados em mecanismos ecológicos empiricamente quantificados; que preveem
mudanças nos serviços ecossistêmicos em escalas relevantes para a política; e essa
ligação com sistemas sociais, econômicos e políticos. Sem uma compreensão dos
processos ecológicos fundamentais que ligam a biodiversidade, as funções e serviços
ecossistêmicos, as tentativas de prever as consequências sociais da perda da
diversidade, e de cumprir os objetivos políticos, provavelmente falharão. Mas com essa
compreensão fundamental em mãos, ainda podemos trazer a era moderna da perda da
biodiversidade para um fim seguro para a humanidade.

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