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REVISTA DO CEDS

(Revista Científica do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB)


Número 4 – Volume 1 – jan/julho 2016
Periodicidade semestral
Disponível em: www.undb.edu.br/ceds/revistadoceds

Acidificação dos Oceanos: fenômeno, consequências e


necessidade de uma Governança Ambiental Global

Camilla Fernanda Lima Sodré1


Yuri Jorge Almeida da Silva2
Isabella Pearce Monteiro3

Resumo: A acidificação dos oceanos é diretamente causada pelo aumento das


emissões atmosféricas de CO2. Estas emissões têm aumentado ao longo dos
últimos 200 anos, principalmente devido à intensificação da industrialização e
agricultura resultando em uma maior queima de combustíveis fósseis,
produção de cimento e de uso da terra. O efeito disso, é um possível colapso
ambiental e perda da diversidade marinha. A partir desses aspectos, com esta
Pesquisa Bibliográfica, buscou-se problematizar os efeitos da acidificação dos
oceanos e seus impactos globais.

Palavras-chave: Acidificação dos oceanos. Fronteiras planetárias. Impacto


Global.

Introdução

Abordagem das fronteiras planetárias, que são conceitos e


definições baseados em publicações cientifica e estudos desenvolvidos nas
umas décadas buscando um planeta mais sustentável para o futuro, aparecem
como um instrumento analítico fundamental para avaliar a gestão recursos
naturais e a sustentabilidade nos processos de crescimento e exploração do

1
Graduanda em Ciências Biológicas Licenciatura na Universidade Estadual do Maranhão -
UEMA. Pesquisadora no Laboratório de Biomarcadores de Organismos Aquáticos.
2
Graduando em Ciências Biológicas Licenciatura na Universidade Estadual do Maranhão -
UEMA. Membro do Grupo de Pesquisa em Ensino de Ciências, Saúde e Sexualidade - GP-
ENCEX e Assessoria de Gestão Ambiental da UEMA. Pesquisador no Laboratório de Biologia
Vegetal e Marinha da UEMA.
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Orientadora. Doutoranda e Mestre em Direito Público/Ambiental pela Universidade de
Coimbra. Professora da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco-UNDB.

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meio ambiente, em um sentido mais profundo, para refletir sobre o rumo


civilizatório da humanidade.
A ligação do homem com o oceano é intrínseca, a importância desde
ambiente para a evolução da vida, vem desde a teoria que relata o surgimento
da vida nos mares até dias atuais onde percebemos a necessidade em se
preservar essa grande biodiversidade dos oceanos. Tal similaridade reflete no
fato do ser humano ser constituído fundamentalmente por água
coincidentemente ou não em proporções similares ás do oceano em relação à
Terra, isto é, cerca de 70%.
Nas últimas décadas muito se estudou e pesquisou sobre a
importância em se preservar os oceanos, destaque para importância ecológica
dos ecossistemas coralíneos e quais as influências das mudanças climáticas
do planeta nesse ambiente estes estudos começaram a ganhar força com o
avanço da ciência, mais se voltamos no contexto histórico percebemos que
desde os estudos de Charles Darwin, que publicou em 1959, “A origem das
espécies”, que já se enxergava a importância em desbravar e conhecer mais
dos oceanos. O desenvolvimento de sua teoria está fortemente ligado ao
oceano, pois foi por meio de uma expedição oceanográfica que realizou a
bordo do barco “HMS Beagle”, ao redor do globo, durante cinco anos (1831-
1836), que encontrou as pistas e pode estudar de forma comparativa diferentes
organismos, e assim desenvolver sua nova teoria (DARWIN, 1959).
A industrialização, iniciada no período moderno, originou
transformações ambientais provocada pelo homem em proporções jamais
alcançadas. O processo de alterações do ambiente natural se intensificou em
tal escala e intensidade que Paul Crutzer, ganhador do Prêmio Nobel em
química em 1995, propôs a criação do termo “antropoceno” para denominar a
era geológica contemporânea, que teria início no século XIX, em função de
rápidas transformações no ambiente terrestre produzida por ação antrópica,
cujo o principal indicador seria a alteração na quantidade de gás carbônico,
passando de 280 ppm, há cerca de 200 anos, para 383 ppm, na atualidade
(IPCC, 2007; VIOLA e FRANCHINI, 2012).

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A partir desses aspectos, com esta Pesquisa Bibliográfica, buscou-


se problematizar os efeitos da acidificação dos oceanos e seus impactos
globais. Para tanto, realizou-se primeiramente uma análise desse fenômeno,
posteriormente seu efeito na biota marinha e por fim as ações da Governança
Ambiental Global.

1 Limites planetários: o que são?

O primeiro estudo publicado sobre as Fronteira Planetárias


(ROCKSTRÖM et al., 2009) identificava nove dimensões centrais, sendo uma
nova forma de abordar os problemas ambientais globais: 1. As mudanças
climáticas; 2. Mudança na integridade da biosfera (perda de biodiversidade e
extinção de espécies); 3. Depleção da camada de ozônio estratosférica; 4. A
acidificação dos oceanos; 5. Fluxos biogeoquímicos (ciclos de fósforo e
nitrogênio); 6. Mudança no uso da terra (por exemplo, o desmatamento); 7. Uso
global de água doce; 8. Concentração de aerossóis atmosféricos (partículas
microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos) e; 9.
Introdução de novas entidades (por exemplo, poluentes orgânicos, materiais
radioativos, nanomateriais e micro-plásticos). Estes limites foram estabelecidos
buscando discutir e fornece ferramentas de questionamentos e avaliação sobre
o impacto que estamos realizando no ambiente, e como leitura desse estudo
recém atualizado foi possível observar que dessas fronteiras 3 dimensões já
haviam sido ultrapassadas e as demais estavam se agravando.
Um estudo mais atualizado dos limites planetários é encontrado no
artigo “Planetary boundaries: Guiding human development on a changing
planet”, publicado na revista Science. Neste novo estudo, quatro das nove
fronteiras planetárias foram ultrapassadas: Mudanças climáticas; Perda da
integridade da biosfera; Mudança no uso da terra; Fluxos biogeoquímicos
(fósforo e nitrogênio), sendo que as duas últimas são o que os cientistas
chamam de “limites fundamentais” e merecem destaque pois tem o potencial
para conduzir o Sistema Terra a um novo estado que pode ser
substancialmente e persistentemente transgredido (figura 1).

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As interações entre a terra, os oceanos e a atmosfera merecem


atenção e, estudos mais detalhados principalmente em virtude o ritmo
acelerado da globalização, influência das ideias do capitalismo e o crescimento
econômico imposto atualmente, muitas vezes de forma não sustentável, tem
influenciado para o aumento de poluentes e gases que contribuir para
mudanças climáticas no planeta (HOEGH-GULDBERG et al., 2007; PÖRTER
et al., 2004; UNEP, 2010).
Em 1945, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU),
este órgão passou a coordenar inúmeras iniciativas voltadas à ordem
internacional ambiental, buscando a preservação e mais estudos sobre as
mudanças climáticas globais. Destacado o quarto limite planetário que está
relacionado aos estudos do oceano, e 1973 foi realizado a terceira Conferência
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e investimentos em programas de
biomonitoramento e estudos destas mudanças na atmosfera e a influência no
ecossistema marinho (VIOLA e FRANCHINI, 2012).
Hoffmann e Gross (2010) ao analisarem o que tem sido realizado em
pesquisas mais recentes sobre os oceanos, consideram que a
Intergovernmental Oceanographic Commission - IOC, a instância responsável
pelos assuntos dos oceanos na Unesco, em função de sua posição especial
pôde contribuir para a síntese e integração entre atividades que fornecem a
base de um manejo ambiental e dos recursos oceânicos e costeiros, como
pesquisas mais detalhadas e legislações de manejo dos oceanos vinculando
essas questões ás da sociedade.
Qualquer tipo de mudança, por menor que seja, pode mudar
drasticamente o meio ambiente. As mudanças climáticas, o aumento na
emissão de dióxido de carbono na atmosfera reflete também na estabilidade
dos oceanos. As mudanças de temperatura, do clima, do nível de chuva ou até
o número de animais podem causar o total desequilíbrio ambiental. O mesmo
pode ser dito sobre a alteração do pH (índice que indica o nível de alcalinidade,
neutralidade ou acidez de uma solução aquosa) dos oceanos (DONEY, 2006).

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Acidificação começou desde a primeira revolução industrial, em


meados do século XVIII, quando a emissão de poluentes aumentou rápida e
significativamente graças à instalação das indústrias por toda Europa. Como a
escala de pH é logarítmica, uma leve diminuição neste valor pode representar
em porcentagem, variações de acidez de grandes dimensões. Dessa forma,
pode-se dizer que desde a primeira revolução industrial, a acidez dos oceanos
já aumentou em 30% e estudos preliminares sobre o efeito dessa acidificação
dos oceanos demostram que a diversidade de vida no mar pode ser afeta
diretamente (LIMA e LAYRARGUES, 2014).

2 Compreendendo o fenômeno da acidificação dos oceanos

Em quantidades normais de absorção de dióxido de carbono pelo


oceano, as reações químicas favorecem a utilização do carbono na formação
de carbonato de cálcio (CaCO3), utilizado por diversos organismos marinhos na
calcificação. Entretanto, com o aumento contínuo das emissões antropogênicas
de CO2 para a atmosfera, por meio da queima de combustíveis fósseis -
carvão, petróleo e gás natural – produção de cimento e queimadas, elevou a
concentração desse gás no ambiente, a níveis 40% superiores aos
encontrados no período pré-industrial (DONEY, 2006; HATJE et al., 2013, p.
1502).
Quando o CO2 atmosférico é absorvido pelos oceanos, ele é
dissolvido na água do mar e produz o ácido carbônico (H2CO3), que é instável e
libera íons de hidrogênio (H+), deixando íons de bicarbonato (HCO3-1) e, em
menor quantidade, íons de carbonato (fig. 2). Toda essa dissolução e
dissociação resulta no aumento da concentração de H+ reduzindo a saturação
do íon carbonato, e aumentando a acidez dos oceanos, que é medida pelos
químicos com famosa escala de pH (DONEY, 2006; HOEGH-GULDBERG et
al., 2007).
A diminuição de pH das águas oceânicas acaba por alterar o
sentido destas reações, fazendo com que o carbonato dos ambientes marinhos
se ligue com os íons H+, ficando menos disponível para a formação do

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carbonato de cálcio, essencial para o desenvolvimento de organismos


calcificadores.
A escala de pH é logarítmica e mede como ácido ou alcalino uma
substância que varia entre 0 (ácido forte) a 14 (base forte), enquanto 7 na
escala indica neutro. Os oceanos são naturalmente alcalinos, com um pH de
superfície em média de 8,2 em 1750. Atualmente a superfície do oceano acidez
tem aumentada em 30% (resultando numa queda no pH médio de cerca de 0,1
a 8,1 na escala de pH logarítmica) devido à grande quantidade de CO2
absorvido pelos oceanos (UNEP, 2010).

Se continuarmos a neste ritmo o pH do oceano vai diminuir em mais


de 0,3 até o final deste século, um aumento sem precedentes de
150% na acidificação do oceano. Esta taxa de mudança não tem sido
experimentada há cerca de 65 milhões anos, desde os dinossauros
foram extintos (UNEP, 2010, p. 2, tradução nossa).

Desse modo, observa-se que a acidificação dos oceanos não é uma


questão climática periférica, mas sim uma consequência das excedentes
emissões antropogênicas de carbono atmosférico que têm ocorrido nas últimas
décadas. (BARROS, 2011). As ações que visam reduzir a emissão de gases do
efeito estufa devem levar em conta a acidificação dos oceanos, revelando
assim embora as fronteiras planetárias estejam descritas em termos de
quantidades individuais e processos distintos, os limites são firmemente
acoplados. “Se um limite é transgredido, em seguida, outras fronteiras também
estão sob sério risco” (ROCKSTRÖM et al., 2009, p. 474).

3 Efeitos da acidificação oceânica na biota marinha

O balanço no pH dos oceanos vem sendo estudado, desde o século


XX, por diversos cientistas, para compreensão do provável efeito ambiental da
produção de dióxido de carbono e como esta tende a afetar a biota marinha
(DONEY, 2006). Atualmente, é sabido que, as alterações que esse fenômeno
provoca ao nível do decréscimo de saturação do carbonato de cálcio (CaCO3)
ou por via de distúrbios ácido-base (metabólicos) acabam afetando a
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reprodução, fisiologia e distribuição geográfica de populações e até mesmo


espécies de organismos marinhos (FABRY et al., 2008; HATJE et al., 2013;
PÖRTER et al., 2004).

Em particular, é esperado que a acidificação progressiva tenha


impactos negativos sobre o processo de calcificação utilizado por vários
organismos marinhos na produção de suas partes duras, como conchas ou
exoesqueletos, a partir de CaCO3, dentre os quais podemos estão os
plânctons, moluscos, crustáceos e corais (RICKLEFS, 2010; SILVEIRA et al.
2014).

Pode-se explanar que esses grupos de organismos são


principalmente consumidores primários, que formam a base da cadeia
alimentar marinha e sustentam os restantes níveis tróficos, servindo como fonte
de alimento para peixes e baleias. Seu desaparecimento ou redução poderá
condicionar em grande escala a existência de outras espécies e em última
instância contribuir para um futuro desequilíbrio socioeconômico, uma vez que
os moluscos e crustáceos, por exemplo, formam uma parte significativa da
produção mundial de pesca e aquicultura (CSIRKE, 2005; BERNSTEIN et al.,
2007).

Em relação aos recifes de coral, que constituem juntamente os


manguezais um ambiente altamente produtivo e biodiverso, são reconhecidos
mundialmente como hotspots4 de diversidade ecológica, visto que funcionam
como zona berçário para muitas espécies de interesse comercial, a alteração
no pH marinho implica em diversos problemas a esse ecossistema (ROBERTS
2002 apud SILVEIRA et al. 2014).

Os corais se alimentam de plâncton e secretam carbonato de cálcio,


que se acumulam e formam os recifes de corais. As algas coralinas também
são importantes no processo de calcificação dos corais. As belas cores dos

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Oliveira et al. (2008) explicam que o termo hotspot foi criado por Myers em 1988 sendo
designado para áreas ricas em biodiversidade, principalmente em espécies endêmicas e que,
possuem um alto grau de degradação ambiental.

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corais, são devem-se em parte a algas simbióticas5 que vivem dentro das
células desses organismos, e em virtude de stress ambiental podem romper
esta relação com seus hospedeiros, expondo assim seu esqueleto de
carbonato de cálcio. Tais eventos, denominados de “branqueamento” podem
ser causados por calor extremo e pela acidificação dos oceanos. Esse
fenômeno faz com que que muitos pesquisadores receiem que os recifes sejam
o primeiro ecossistema a nível mundial a desaparecer completamente
(FERREIRA e MAIDA, 2006; LEÃO et al., 2008).

Os recifes coralinos funcionam com barreiras naturais, seu declínio e


erosão podem diminuir a proteção do litoral contra eventos extremos
relacionados a hidrodinâmica das ondas, como por exemplo, tempestades e
inundações, além da perda da biodiversidade (SILVEIRA et al. 2014).

Esses impactos provocados pela alteração no pH marinho já foram


detectados em organismos vivos de diversas regiões do planeta. Dentro de
décadas, a química dos oceanos tropicais não sustentará o crescimento dos
recifes de corais e grandes extensões dos oceanos polares se tornarão
corrosivas aos organismos marinhos calcificadores. Estas alterações terão
impacto sobre a cadeia alimentar, a biodiversidade e os recursos pesqueiros.

3 Os Oceanos e a Governança Ambiental Global

Os ecossistemas oceânicos não são mais capazes de remover o


dióxido de carbono porque a sua acidificação tornou o oceano
deserto à medida que se aquece. A absorção extra do calor radiante
do Sol como derretimento de calotas polares amplifica o aquecimento
e dificulta a estabilização do nível de dióxido de carbono e da
temperatura (LEÃO e MAIA, 2011, p.71).

Para muitos autores, as alterações antropogênicas no sistema Terra,


em especial, no ambiente marinho são irreversíveis. Não podemos negar que o

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De acordo com Ricklefs (2010), a simbiose, que significa "viver junto", trata-se de uma relação
ecológica que se refere aos indivíduos de espécies diferentes que vivem em associação íntima.

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ambiente marinho representa um dos sistemas mais complexos de serem


estudados, devido aos fatore químicos, físicos e biológicos que o constituem.

Porém, ficar inerte e esperar um caos global não remediaria tal


situação, em virtude da integração entre as fronteiras planetárias, há a
necessidade de reduzir os danos que o homem vem causando ao ambiente,
aplicando o já conhecido conceito de sustentabilidade em prática.

Gonçalves (2013) relata que a governança global dos oceanos foi


inserida entre os temas com maior destaque nas discussões das reuniões
prévias da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável - RIO+20. Contudo, ao analisar o documento final da ONU “The
future wewant”, o tema não ganhou destaque, sem medidas e
comprometimentos com a proteção das águas internacionais e a utilização dos
organismos marinhos.

Assim, notamos que a ONU e demais organizações supranacionais


são as únicas soluções políticas disponíveis, todavia devido as diferenças de
poder no cenário mundial têm se demonstrado visivelmente insuficientes sobre
as questões do ambiente marinho (LIMA e LAYRARGUES, 2014).

Desse modo, como obter a colaboração de todos os países, ou ao


menos da maior parte deles sem aparelhos legais e coercitivos abrangentes e
igualmente válidos para todos? Como arbitrar assuntos ambientais
transfronteiriças?

A solução óbvia para as potenciais ameaças representadas pela


acidificação do oceano é fazer cortes rápidos e substanciais
emissões antropogênicas de CO2 para a atmosfera e,
consequentemente, as concentrações de CO2 oceânicas (UNEP,
2010, p.8, tradução nossa).

Essa solução aparentemente simples vem sendo discutida desde o


século XX, culminando em 1997 com a efetivação do Protocolo de Kyoto.
Porém, grandes potências e emissoras de CO2 como Estados Unidos e China

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tem se recusado a cooperar com as políticas de redução de carbono em virtude


de competitividade econômica.

Para Amaral (2013), a resposta é a seguinte:

O conceito de economia verde de baixo carbono parece adequado


para lidar com as fronteiras planetárias. Nesse sentido, ao contrário
dos conceitos de desenvolvimento sustentável e de economia de
baixo carbono, economia verde de baixo carbono aparece como novo
paradigma, segundo o qual o modelo de desenvolvimento global deve
operar dentro dos limites planetários e de acordo com o espaço
seguro para a humanidade. A economia verde de baixo carbono
aponta para a prosperidade sem crescimento, mas sem deixar de
considerar a equidade. Nesse sentido, há espaço significativo de
crescimento para os países pobres, algo menos para países
emergentes e crescimento próximo de zero para as sociedades
desenvolvidas (AMARAL, 2013, p. 139).

Esse desenvolvimento não é um desafio pertinente somente à


governança internacional institucional. Há a necessidade de diálogos que
envolvam articulações entre Estado, sociedade civil e mercado, para que cada
um coloque sua lógica de comportamento perante as requisições do equilíbrio
do sistema Terra (AMARAL 2013; LIMA e LAYRARGUES, 2014).

Em 2014 as “grandes potências mundiais”, Estados Unidos e China


assinaram um acordo bilateral apara a redução da emissão de gases
poluentes, abrindo o caminho para o Acordo Global do Clima, aprovado por
representantes de 195 países durante a 21ª Conferência do Clima na cidade de
Paris, em dezembro de 2015. Será essa a luz no fim do túnel?

Considerações finais

A acidificação dos oceanos não é uma consequência direta das


alterações climáticas, mas sim uma decorrência das excedentes emissões
antropogênicas de carbono atmosférico que têm ocorrido nas últimas décadas.
É necessário agir agora para evitar os perigos e danos irreversíveis nos
oceanos

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Se ficarmos aquém dos objetivos fixados em matéria de combate às


alterações climáticas, as consequências na diversidade e nos ecossistemas
poderão ser muito graves. Ao mesmo tempo, o combate às alterações
climáticas deve ser integrado no desafio mais vasto de preservar a capacidade
dos ecossistemas mundiais para continuarem a funcionar como sumidouros
dos gases com efeito estufa e de evitar os danos nos ecossistemas, como a
deflorestação e a acidificação dos oceanos, que aceleram o aquecimento
global.

A não consecução dos objetivos em matéria de biodiversidade pode


pôr seriamente em risco os nossos esforços para reduzir o aquecimento global,
ao passo que a aceleração das medidas em prol da preservação da natureza e
a redução das pressões ambientais, principalmente a redução do lançamento
excessivo de CO2 aplicando uma economia verde de baixo carbono, sobre a
biodiversidade e os ecossistemas ajudam a combater as alterações climáticas
e proporcionam múltiplos benefícios.

Referências

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Anexo

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REVISTA DO CEDS
(Revista Científica do Centro de Estudos em Desenvolvimento Sustentável da UNDB)
Número 4 – Volume 1 – jan/julho 2016
Periodicidade semestral
Disponível em: www.undb.edu.br/ceds/revistadoceds

Figura 1. O status atual das variáveis de controle para sete das nove fronteiras planetárias. A
zona verde é o espaço operacional seguro (abaixo do limite), amarelo representa a zona de
incerteza (risco crescente), e vermelho é a zona de alto risco. O próprio limite planetário
encontra-se no círculo pesado interior. As variáveis de controlo foram normalizadas para a
zona de incerteza (entre os dois círculos pesados); o centro da figura, por conseguinte, não
representam valores de 0 para as variáveis de controlo. A variável de controle mostrado para a
mudança climática é atmosférica da concentração de CO 2. Processos para os quais limites de
nível mundial ainda não podem ser quantificados são representados por cunhas cinza; estes
são carregamento de aerossol atmosférico, novas entidades, bem como o papel funcional da
integridade da biosfera. Fonte: STEEFFEN, 2015.

Figura 2. Representação esquemática do equilíbrio químico do sistema carbonato - dióxido de


carbono na água do mar. Fonte: Adaptado de HOEGH-GULDBERG, 2007.

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