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Os Recifes de Coral, as Alterações Climáticas e a

Acidificação dos Oceanos

Impacte das Alterações Climáticas nos Sistemas Marinhos e Costeiros


Curso: Biologia Marinha

Resumo:
Os recifes de coral são bastante importantes para outros seres vivos, sendo estes essenciais para a
alimentação e proteção dos mesmos, contribuindo para um elevado grau de diversidade de espécies nestes
ecossistemas e para a economia humana. Existem três tipos de recifes de coral, os recifes de águas
quentes, de zonas disfóticas e de profundidade (frios). Os recifes de coral têm diminuído ao longo do
tempo, sendo assim necessário arranjar soluções para combater esta redução, assim é necessário
compreender quais são os fatores que afetam estes organismos. Procedeu-se à análise de um artigo de
revisão acerca dos impactos das alterações climáticas e da acidificação dos oceanos e como estes fatores
afetam os recifes de coral. Verificou-se que existem diversas causas para a morte e branqueamento de
corais, sejam estes fatores biológicos ou antropogénicos. Tudo isto comprova que é necessário realizar
esforços para preservar estes ambientes que são fulcrais para o Planeta e todos nós.

Autores:
Diogo Francisco nº a71556;
Miguel Caiola nº a71505;
Rúben Ribeiro nº a72766;
André Dias nº a71550;
André Silva nº a72720.
Índice

1-Resumo………………………………………………………………………………………………….1
2-Introdução………………………………………………………………………………………………2
3-Métodos…………………………………………………………………………………………………3
4- Resultados e Discussão……………………………………………………………………………..5-10
5-Conclusão………………………………………………………………………………………………10
6-Discussão Crítica………………………………………………………………………………………11
7-Bibliografia…………………………………………………………………………………………….12
Introdução
Os corais são encontrados numa vasta gama de ecossistemas, nos quais desempenham a função de
alimentação e refúgio para uma grande diversidade de espécies, assim como são necessários à economia
humana, na qual providenciam materiais como fibras siliciosas, compostos com utilidade a nível
biotecnológico e médico assim como serviços turísticos.
Os recifes a nível mundial podem ser classificados em três categorias distintas:
 Recifes de águas quentes, estes encontram-se em águas pouco profundas, alcalinas, salinas e com
bastante iluminação, estas características permitem taxas de calcificação mais elevadas, ajudando
a formar e manter a sua estrutura composta por carbonato de cálcio (CaCO₃);

 Recifes de zona disfótica, estes encontram-se entre os 40 e 150 metros de profundidade onde
chega menos luz e por sua vez as taxas de calcificação são mais baixas, assim como as águas são
mais frias, haverá um número de espécies mais reduzido que utilizam CaCO ₃ ou a fotossíntese
como principal fonte de alimentação;
 Recifes de águas frias, encontram-se na zona afótica em registos entre os 50 e 3000 metros, onde a
luz não chega e as condições de pressão e temperatura são extremas (à volta de 4ºC e uma pressão
de aproximadamente 200 atmosferas), assim o número de espécies calcificantes diminui devido ao
facto de o fator de dissolução exceder a produção de carbonato de cálcio, assim as espécies
apresentam pouco ou nenhum na sua estrutura (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017).
Estes recifes devido à prominente atividade humana têm vindo a diminuir de forma cada vez mais
acelerada, apesar dos seus elevados níveis de calcificação que tentam combater a erosão biológica e
física, isto deve--se a fatores como a poluição, a partir da introdução de químicos e quantidades
exorbitantes de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa como o metano para a atmosfera, a
sobre-exploração para comércio de lembranças e acessórios, a sobrepesca de espécies planctívoras, a
destruição física pela ação de barcos, espécies invasoras consumidoras de pólipos, como Acanthaster
planci, também conhecida como Estrela-Coroa-de-Espinhos, que se acomodou a novas regiões após a sua
introdução. As alterações a nível do clima também afetam negativamente estes recifes, por exemplo na
região da Austrália os ciclones têm vindo a fustigar mais frequentemente o Recife de Queensland, sendo
previsível que entre 2040 e 2050 a maioria dos recifes de água quente desapareça na sua totalidade, assim
como os recifes de águas frias que se veem ameaçados pelo aumento gradual das temperaturas e pH
oceânicos, não havendo ainda evidências de efeito direto por parte das alterações no clima (Hoegh-
Guldberg O. et al., 2017).
Isto poderá ser catastrófico, considerando que cerca de 500 milhões de pessoas dependem destes habitats
como forma de obter comida, subsídio, proteção contra a erosão das costas e outros serviços, além disso
embora ocupem menos de 0,1% do solo oceânico, os ecossistemas de coral tropicais dão refúgio a pelo
menos 25% de todas as espécies marinhas conhecidas (entre 1 e 9 milhões (Reaka-Kudla, 1997), sendo
que muitas ainda estão por identificar (Rebeca Fisher et al., 2015). Os recifes de água quente e
mesofóticos são dominados por corais escleractinianos (duros) que formam simbioses com dinoflagelados
do género Symbiodinium, que através da fotossíntese providenciam ao coral açúcares, gliceróis, lípidos e
outros compostos orgânicos (Muscatine, 1990) relação esta que em dias de água límpida ajudam o coral a
calcificar mais rapidamente, sendo que a abundância de Symbiodinium diminui além dos 20-40 metros
dada a limitação por luz. Os corais profundos devido à ausência de luz geralmente obtêm o seu alimento
através da filtração de partículas orgânicas.
Com este estudo os autores visam rever e resumir através da compilação de vários artigos os efeitos das
alterações climáticas e da acidificação do oceano sobre os ecossistemas acima referidos.
Métodos
O artigo analisado é um artigo de revisão que consiste na compilação e posterior discussão de artigos na
área dos impactes das alterações climáticas nos recifes de coral. Assim sendo, os autores deste artigo não
aplicaram as metodologias descritas e não elaboraram a maneira como estas foram realizadas, mas
algumas são mencionadas utilizando os dados de todos os estudos de forma organizada com intuito de
compreender e discutir as variações dos recifes de coral sob stresses ambientais causados pelas alterações
climáticas, de modo a criar um artigo de exposição. Como referido o artigo é um artigo de revisão, pelo
que o método de revisão científica é pertinente.
Uma das metodologias utilizadas a nível de monitorização foram satélites que possuem algoritmos
simples, que se baseiam na medição de anomalias de temperaturas médias superficiais oceânicas durante
os picos máximos de temperatura de Verão (entre 1985 e 1993) de forma a efetuar previsões acerca de
quando e onde estes eventos de lixiviação e mortalidade são mais prováveis de ocorrer. Este método
sugere fortemente que as mudanças não foram muito drásticas a nível da construção coralina do recife
dado o stress provocado pela temperatura (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017). Apesar de estas mudanças
não serem muito drásticas, é importante ter em consideração o potencial a nível de respostas
evolucionárias na construção a nível futuro dos recifes nos próximos 100 anos, assim como o potencial de
que estes recifes se venham a realocar dadas as alterações a nível das condições, que se prevê serem
menos favoráveis (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017). No entanto, pelo que é verificado, existem poucas
evidências de que a aclimatação é resultante de um aumento da tolerância térmica dos corais que
compõem os recifes (Hoegh-Guldberg O. et al.,2017). Dada a falta de informação a nível dos recifes
mesofóticos e de águas frias profundas este método será menos fiável quanto a medições nestes
ecossistemas, através da limitação a nível das profundidades e ausência de luz, sendo que o satélite
apenas tem capacidade de avaliar o nível superficial oceânico (ou seja recifes quentes).
Em segundo utilizaram-se projeções de temperatura superficial oceânica (SST), a partir das quais podem
ser estabelecidas comparações dos limiares térmicos para os corais, assim como a frequência e
intensidade de futuros branqueamentos de coral em massa e a sua estimada mortalidade. A partir destas
projeções foi possível determinar que irão ocorrer branqueamentos e mortalidade em massa a partir de
2030-2040, com base em observações de campo, que concluem que a recuperação destes eventos
demorará entre 10 e 20 anos, sugerindo que o ecossistema não será capaz de acompanhar declínios tão
acentuados e desaparecerá (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017). Estudos deste mesmo autor, nomeadamente
Hoegh-Guldberg O. (1999) e Hoegh-Guldberg O. et al. (2014) utilizaram modelos acoplados de
intercomparação (CMIP5), cerca de 10 a 16 modelos independentes, juntamente com registos históricos e
tendências térmicas locais para comparar com os dados da Representative Concentration Pathway (RCP)
2.6 (descrevendo que a temperatura global não deverá exceder 1.5ºC até 2100 quando relativamente
comparado com o período de 1986-2005) sendo um cenário mais otimista para o ecossistema, e o RCP
8.4 (descrevendo que a temperatura local é bastante provável exceder 3.0ºC até 2100, relativamente
comparado com o período de 1986-2005) sendo um cenário mais pessimista para o ecossistema. Este
método mais uma vez é apenas confinado a regiões geográficas com recifes de coral quentes, o que revela
falta de informação quanto aos recifes mesofóticos e de profundidade frios.
Por fim, utilizou-se a saturação de aragonite (Ω Aragonite), correspondente a rácios entre iões de cálcio e
carbonato, obtida pela simulação do sistema terrestre da Universidade de Victoria sob diferentes
concentrações atmosféricas de CO₂, sendo os campos calculados a partir da saída do modelo e
concentração de carbono inorgânico dissolvido, concentração de alcalinidade, temperatura e salinidade,
juntamente com a rotina química do projeto OCMIP-3, que foi modificado a partir da figura SM30-2 em (
Hoegh-Guldberg O. et al., 2017) com autorização do IPCC AR5.
Resultados e Discussão
Verifica-se através do conjunto de dados compilados que há fortes evidências do efeito da temperatura
superficial oceânica no lixiviamento e mortalidade em massa dos corais nos recifes de coral quentes,
inferindo que a massa de cobertura sobre o fundo oceânico tropical irá ser alterada a um nível cada vez
mais rápido à medida que a temperatura média superficial aumenta como consequência de impactos
antropogénicos (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017).

Figura 1: Variação das concentrações do ião


carbonato e CO2 atmosférico na época glaciar em comparação com a atualidade (Hoegh-Guldberg O. et
al., 2017).
Na Figura 1 o gráfico foi obtido a partir das temperaturas e concentrações de ião carbonato nos últimos
420 mil anos, o cálculo das concentrações de carbonato foi obtido através do CO ₂ atmosférico e desvios
de temperatura das condições nas épocas de 2000 com o conjunto de dados do gelo de Vostok, assumindo
salinidade constante de 34ppt (partes por trilião) a uma temperatura média oceânica de 25ºC e
alcalinidade total 2,300 mmol/kg. Os ambientes de corais de água quente têm sofrido poucas alterações
em termos de temperatura e concentrações de iões de carbonato, mesmo com as alterações substanciais
em termos de temperatura e CO2 atmosférico global durante o ciclo glaciar, o que é espectável em relação
aos ambientes tropicais, visto que estas regiões geralmente sofrem menos alterações nas épocas glaciares,
pois as alterações não são tão drásticas quando comparado com os ambientes temperados.
Tabela I:Variação da temperatura superficial de seis regiões diferentes com corais de água quente no
período 1950-2009 ( Hoegh-Guldberg O. et al., 2017).
A Tabela I inclui a inclinação da regressão (◦C por década), o valor p para a inclinação ser diferente de
zero e a variação total ao longo de 60 anos (ou seja, a inclinação de regressão linear multiplicado por seis
décadas) para cada categoria. Os valores p que excedem 0,05 mais a inclinação associada e os valores de
mudança têm um fundo cinzento, denotando a estatística de mais baixa confiança na inclinação que é
diferente de zero (sem inclinação). Repara-se que as mudanças nos valores p mais elevados podem ainda
descrever tendências informativas, embora o nível de confiança que a inclinação possui diferente de zero
é menor. Métodos completos incluídos nos dados no Quadro 30-1 em Hoegh-Guldberg O. et al. (2014).

Figura 2: Estado de saturação de aragonite do oceano superficial, sendo que A corresponde a um cenário
RCP 2.6 pré-industrial (280ppm), B corresponde a um RCP 4.5, C previsão de 450ppm num cenário RCP
6.0 e D previsão de 800 ppm para 2080 com RCP 8.5. ( Hoegh-Guldberg O. et al., 2017).
A Figura 2 foi obtida pela simulação do sistema terrestre da Universidade de Victoria, para o estado de
calcificação de aragonite sob diferentes concentrações atmosféricas de CO2, os campos são calculados a
partir da saída do modelo e concentração de carbono inorgânico dissolvido, concentração de alcalinidade,
temperatura e salinidade, juntamente com a rotina química do projeto OCMIP-3, que foi modificado a
partir da figura SM30-2 em Hoegh-Guldberg O. et al., 2014 com autorização do IPCC AR5. Os
ecossistemas que são caracterizados por altas taxas de deposição de carbonato de cálcio (por ex., recifes
de coral, comunidades calcárias de plâncton) são bastante sensíveis a declínios nos estados de saturação
de aragonite e calcite. Estas alterações são muito suscetíveis a ter consequências gerais, tais como a perda
de quadros tridimensionais de recifes de coral (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017), reestruturação de teias
alimentares relativamente pequenas (~50ppm,) e aumentos adicionais de CO2. Os agrupamentos
projetados dos horizontes de saturação de aragonite e calcite são suscetíveis de ter impacto em águas
profundas (100 a 2000m) em comunidades de corais e outros organismos bentónicos à medida que o CO2
atmosférico aumenta (Orr et al., 2005; Guinotte et al., 2006), embora estudos no Mediterrâneo e de mares
ao largo do sudoeste da Austrália informem que alguns corais de águas profundas podem ser menos
sensíveis a estas mudanças (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017). Na imagem A, os níveis de saturação de
aragonite eram bastante elevados nas zonas equatoriais e temperadas, e baixos nos polos, em comparação
com os níveis de 2012 vemos que essa saturação tem vindo a diminuir significativamente ao longo do
tempo. A partir de modelos de RCP, verificamos previsões bastante pessimistas com RCP 8,5, que nos
indicam que em 2080 o estado de saturação da aragonite em todo o planeta vai ser praticamente nula.
Figura 3: Taxa de calcificação e densidade do coral Porites no intervalo de tempo 1900-2005 (De’ath et
al., 2009).
Na Figura 3 (De’ath et al., 2009) demonstrou anteriormente um declínio de 21% (1988–2002) na taxa de
calcificação de 38 pequenas colônias de Porites. No entanto, o estudo limitou-se a duas localizações GBR
costeiras, compreendendo séries temporais curtas o que impossibilita a comparação com períodos
anteriores, e os efeitos ambientais locais como influências costeiras não puderam ser excluídos.
É improvável que a competição com os corais vizinhos se tenha intensificado durante um período em que
a cobertura de corais permaneceu semelhante ou diminuiu na maioria dos recifes GBR. O escoamento
terrestre e a salinidade, embora afetem potencialmente os recifes costeiros, também são causas
improváveis dado a calcificação diminuir a taxas semelhantes nos recifes offshore longe das plumas de
inundação. As doenças também podem ser excluídas porque apenas colônias visivelmente
saudáveis foram amostradas. Além disso, se a temperatura e a saturação de carbonatos são responsáveis
pelas mudanças observadas, é provável que mudanças semelhantes sejam detetadas nos registos de
crescimento de outras regiões e de outros organismos calcificadores. Os modelos temporais de
calcificação, extensão e densidade dos dados de 1900-2005 mostraram fortes padrões de mudança. A taxa
de calcificação teve uma queda geral de 14,2%, sendo que esse declínio aumentou de 0,3% em 1990 para
1,5% em 2005.
Figura 4: Variação do percentil da cobertura de porites na Grande Barreira de Coral ao longo dos anos.
(De’ath et al., 2012).

Na Figura 4, os dados da cobertura de coral foram analisados usando modelos de regressão logística.
Todos os modelos incluíram efeitos aleatórios de recifes e uma estrutura autorregressiva contínua ao
longo do tempo para cada recife. A cobertura em recifes individuais variou de 1,50 a 79,7% no espaço e
no tempo. A primeira análise consistiu num modelo puramente temporal compreendendo uma tendência
suavizada para toda a GBR e para cada região separadamente ( Hoegh-Guldberg O. et al.,2017). No geral,
a cobertura aumentou em 32,2% e diminuiu em 67,8% dos 214 recifes. Este estudo mostrou um grande
declínio na cobertura de coral duro de 28,0% para 13,8% ao longo de 27 anos, com base em dados
derivados de um único programa de pesquisas metodologicamente consistentes. Essa perda de mais da
metade da cobertura inicial é uma grande preocupação, significando perda de habitat para dezenas de
milhares de espécies associadas aos recifes de corais tropicais. A cobertura de coral não depende apenas
da mortalidade por distúrbios agudos, mas também das taxas de crescimento. Esta estimativa é
conservativa para o crescimento da cobertura de corais de 2,85%. Algumas causas de perdas de corais,
como doenças, não são contabilizadas no modelo, o crescimento real da cobertura de corais
provavelmente será superior a 2,85%, portanto, as perdas estimadas devido à calcificação reduzida
também são provavelmente superiores a 0,44–0,57%. Em conclusão, a cobertura de corais na GBR
está a diminuir consistentemente e, sem intervenção, provavelmente cairá para 5–10% nos próximos 10
anos. A mitigação do aquecimento global e da acidificação dos oceanos é essencial para o futuro da GBR.
Figura 5: Compilação de dados provenientes de 6 recifes de coral em diferentes províncias, onde
observamos a variação simulada da temperatura superficial oceânica nos diferentes locais ao longo das
décadas em que a linha vermelha representa um cenário RCP 8.4 e a linha azul representa um cenário
RCP 2.6, com a interseção na linha a preto representante da estimativa por interpolação realizada pelo
centro Haley (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017).
Na Figura 5 verificaram-se três condições, primeiramente o aumento de temperatura superficial oceânica
observada, sendo bastante significante em cada região de coral, dado que a temperatura superficial
aumentou 0.85ºC entre 1880 e 2012, em segundo os dois cenários RCP só se separam aproximadamente
em 2000 pelo que é possível verificar que a partir desta altura torna-se bastante mais prominente a
variação de temperatura. Por fim apenas o cenário 2.6 se estabiliza, sendo importante no contexto de
processos evolutivos que são capazes de operar e efetivamente haver uma recuperação dos ecossistemas
nas zonas, sendo preocupante que apenas neste cenário se verifica esta condição. Verificamos através do
cenário mais pessimista (RCP 8.4) que a temperatura superficial oceânica potencialmente irá aumentar até
4 graus, enquanto no cenário mais razoável (RCP 2.6) verificamos um ligeiro aumento até
aproximadamente 2030 de cerca de 2 graus, estabilizando até 2100 através das previsões. Com a água
superficial das três bacias oceânicas a aquecer a ritmos diferentes que excedem os previstos, pode-se
denotar as alterações prominentes do aumento de gases com efeito de estufa ao longo do século. Neste
sentido, o observado na linha preta cai no limite do modelo histórico que inclui a subida em concentração
dos gases de efeito de estufa em oposição aos modelos que não o fazem. Para as três bacias oceânicas
prevê-se que irá continuar a aquecer moderadamente (RCP 2.6) e (RCP 8.4) com trajetórias de emissões
(alta confiança) e só ira estabilizar ao longo da segunda metade do século no caso do cenário RCP 2.6. A
curto prazo, mudanças na temperatura projetada das camadas superficiais dos oceanos são indistinguíveis
entre os cenários RCP sendo equivalentes até 2040. No entanto, no final do século a temperatura da
superfície do mar ao longo das sub-regiões era 1.8ºC a 3.3ºC mais elevada no cenário RCP 8.4 do que o
projetado sobre as condições do RCP 2.6.
Figura 6: Proporções máximas anuais de pixéis de recife com Degree Heating Months (Hoegh-Guldberg
O. et al., 2017) para cada uma das seis regiões de corais (A). (B) DHM ≥1 utilizada para a projeção da
incidência de branqueamento de corais (Hoegh-Guldberg O. et al., 2017) (C) DHM ≥5 associada ao
branqueamento seguido de mortalidade significativa (Eakin C. M. et al., 2010).
Na Figura 6, o DHM (Degree Heating Months) ≥ 1 utilizado para projetar o branqueamento de corais
(Strong et al., 1997, 2011) e DHM ≥ 5 associado a branqueamento e posterior mortalidade a grande escala
(Eakin C. M. Et al., 2010) foram o ponto principal de estudo deste gráfico. A linha negra representa o
número de corais com DHM ≥ 1 e DHM ≥ 5 respetivamente, que foi calculado utilizando medições de
temperatura superficial oceânica providenciadas pelo Hadley Center, entre 1870 e 2009. Usando a linha
como referência para as condições observadas até à atualidade, projetou-se o DHM futuro para as regiões
de corais escolhidas utilizando 4 modelos RCP diferentes como cenários previstos ( RCP 2.6 sendo o
menos pessimista até RCP 8.5 sendo o cenário mais pessimista), agruparam-se estes dados em décadas
através dos quais se calcularam as médias anuais, que foram depois utilizadas para formulação dos
diferentes gráficos que permitem prever o futuro dos recifes nas diferentes regiões (Hoegh-Guldberg O. et
al., 2014). Através destes gráficos verificamos que os corais com DHM ≥ 1 vão aumentar drasticamente
em todos os cenários exceto no mais otimista (RCP 2.6) em que alguns recifes revelam capacidade de
resistir. Por outro lado, os recifes com DHM ≥ 5 ou seja branqueamento e mortalidade elevada vão apenas
ser significativos para os modelos mais pessimistas (RCP 6.0 e 8.5), sendo estes os cenários que devemos
evitar a todo e qualquer custo.

Conclusão
As respostas oceânicas às alterações climáticas são verificáveis, podendo ser observadas mudanças nas
taxas de adaptabilidade genética dos recifes e na sua capacidade de realocar as suas distribuições (que são
demasiadas baixas para as mudanças destacadas pelo estudo de Hoegh-Guldberg O.).
Se houver uma continuidade nas percentagens de emissão de gases com efeito de estufa e posterior
aumento dos níveis já alarmantes poderemos ter um cenário como descrito no RCP 8.5, que seria um
cenário bastante diferente e que poderá ser a nível global para os ecossistemas devastador e
provavelmente irreversível à medida que os anos avançam (Gattuso et al., 2015).
Soluções e estratégias de mitigação e adaptação humanas para contrariar as tendências a nível global
(acidificação, temperaturas… etc.) serão neste momento caras e de difícil desenvolvimento e execução
para o conhecimento atual que possuímos, pelo que são necessários mais estudos, especialmente a nível
dos recifes de águas profundas e disfóticos que não possuem informação suficiente (Hoegh-Guldberg O.
et al., 2017).
Portanto será necessário desenvolver estratégias dentro do nosso alcance para permitir que estes
ecossistemas subsistam, nomeadamente estabilizar a temperatura a nível global reduzindo as emissões de
CO2 e outros gases como CH4 e NO2 desenvolvendo tecnologias mais eficientes, como melhorias a nível
das bombas biológicas do carbono, utilizando métodos mais sustentáveis e devemos ainda mitigar os seus
impactos no ambiente, por exemplo nas energias renováveis que produzem resíduos. Devemos ainda
melhorar os nossos comportamentos relativamente a pensamentos consumistas, de maneira a reduzir a
produção, dando assim o tempo necessário a estes ecossistemas para se adaptarem e evoluírem.
Podemos ainda desenvolver estratégias para tentar reduzir o impacto antropogénico, como patrulhar mais
ativamente estas regiões de forma a evitar a captura de espécimes (colheita ilegal de corais) e regular
rotas turísticas de forma ao impacto das embarcações não se sentir tanto.
Combinando estes fatores com a estabilização da temperatura e acidificação poderá ser possível reverter
estes processos ou temporariamente remediá-los até descoberta de novas soluções mais eficazes,
estabilizando assim os recifes e providenciando condições satisfatórias ao seu desenvolvimento saudável,
por sua vez preservando as comunidades e biodiversidade dependentes dos mesmos. Caso a situação seja
inevitável, devemos preservar os poucos recifes que conseguirão subsistir às alterações do novo meio que
agora habitam e planear para a sua futura expansão.

Discussão Crítica
O objetivo principal de um artigo de revisão é informar um público interessado, mas não necessariamente
conhecedor da área, na nossa opinião o artigo falha este objetivo base, utilizando linguagem científica
complicada e confusa em alguns momentos, o que não permite a uma pessoa que não tenha
conhecimentos prévios utilizar este artigo como uma porta de entrada para a área em estudo.
Após analisarmos este artigo verificamos que havia muita informação insuficiente acerca dos métodos e a
forma como obtiveram os gráficos, como por exemplo, na figura 2, Hoegh-Guldberg O. refere os modelos
utilizados, no entanto não elabora como estes são realizados ou como são aplicados, para isso foi
necessário analisar a fonte original e descobrimos que se tratava de uma figura adaptada de outro estudo,
sendo assim muito complicado de perceber como obtiveram os resultados. O autor faz referência aos
corais mesofóticos e de profundidade (corais frios), no entanto os estudos utilizados pelo autor não dão
muito ênfase nem possuem dados suficientes para suportar a sua menção relativamente à maneira como
são impactados pelos fatores em estudo, ficamos assim com um sabor agridoce, pois gostávamos de
adquirir conhecimento acerca de como estes corais iriam ser afetados. Na figura 6 os autores utilizaram
gráficos retirados de um livro que fazem referência a modelos científicos conhecidos como RCP’s, no
entanto embora no livro exista um breve contexto que explica o que são e como se chega a estes modelos,
tal não acontece no artigo de revisão e deste modo uma pessoa menos informada, como era o nosso caso
antes das aulas desta disciplina, haveria um elevado grau de dificuldade na interpretação e compreensão
nas diferenças entre cenários RCP 2.6 e RCP 8.5 e o porquê da sua relevância. Na figura 5, os dados
utilizados por Hoegh-Guldberg O. foram de um intervalo de tempo entre 1985 e 1993, que não só é um
intervalo de tempo bastante curto para retirar conclusões exatas, como também é bastante distante à data
da publicação (2017) pelo que presumidamente estarão bastante desatualizados dada a escalada a nível de
emissão de gases com efeito de estufa, que é cada vez mais acentuada. Por fim, embora utilize diversos
gráficos e figuras de outros estudos bem-adaptados, raramente se entra em detalhe quanto à metodologia
utilizada. Positivamente, consideramos que o artigo é uma boa exposição sobre um dos principais
problemas da atualidade especialmente a nível de recifes de águas quentes como o de Queensland,
principalmente se o leitor for alguém com bases na área que consiga compreender a linguagem e modelos
com um determinado grau de complexidade.
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