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CLIMATOLOGIA E

ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS

TECNOLOGIAS DO
AMBIENTE E DO MAR
2º ANO, 2º SEMESTRE

ESCOLA SUPERIOR DE
TECNOLOGIA DE SETÚBAL

MARGARIDA LOPES
2

CAPÍTULO 5. FORÇAMENTO RADIATIVO

OBSERVAÇÃO DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA E RECONSTRUÇÃO DO REGISTO CLIMÁTICO

ORIGEM DA VARIABILIDADE CLIMÁTICA


RESPOSTAS CLIMÁTICAS E PROCESSOS DE REALIMENTAÇÃO
FORÇAMENTO RADIATIVO
BALANÇO DE CARBONO

CO2 ATMOSFÉRICO

ANOMALIAS NO CICLO DE C GLOBAL

CH4, N2O E AEROSSÓIS

RELATÓRIOS DO IPCC

MODELOS DE EQUILÍBRIO RADIATIVO-CONVECTIVO


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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Conforme se viu previamente, o sistema Globo-Atmosfera encontra-se num delicado


equilíbrio entre a energia recebida e a energia emitida. Qualquer perturbação deste
equilíbrio, por menor que seja, pode induzir uma série de alterações do clima global.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

O sistema Globo-Atmosfera encontra-se num


delicado equilíbrio entre a energia
recebida e a energia emitida. Qualquer
perturbação deste equilíbrio, por menor que
seja, pode induzir uma série de alterações
do clima global.

É inequívoco que a influência humana


aqueceu a atmosfera, o oceano e a terra.
Ocorreram mudanças rápidas e
generalizadas na atmosfera, no oceano, na
criosfera e na biosfera (IPCC AR6)
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Estima-se que as actividades humanas tenham causado cerca de 1.1°C de


aquecimento global acima dos níveis pré-industriais.

E “extremamente provável” (95% a 99% de probabilidade) que o aquecimento


global ultrapasse a perigosa marca de 2 ºC até o final deste século, com
grandes chances de chegar a 1.5°C já nos próximos 20 anos

Virtualmente certo: 99% a 100% de Tão provável quanto improvável: 33% a 66%
probabilidade de probabilidade
Extremamente provável: 95% a 99% de Improvável: menos de 33% de probabilidade
probabilidade Muito improvável: menos de 10% de
Muito provável: 90% a 95% de probabilidade probabilidade
Provável: 66% a 90% de probabilidade Extremamente improvável: menos de 5% de
Mais provável que improvável: mais de 50% de probabilidade
probabilidade
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Estes resultados revelam que durante os


últimos 160 000 anos, os níveis de CO2
se correlacionam perfeitamente com as
variações de temperatura. Deve realçar-
se o facto de, durante os períodos
glaciais, se registarem valores inferiores
dos níveis de CO2, cerca de 30%, e de
temperatura, cerca de 10 ºC.

Relação entre a variação de temperatura e a concentração


de CO2 baseada na análise de bolhas de ar primitivo
aprisionadas nas camadas de gelo polar (estação de Vostok,
Antárctica) durante os últimos 160 000 anos (Ahrens, 2000).
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Utilização intensiva Aumento da Aumento da


Revolução de combustíveis
fósseis à base de concentração de temperatura
Industrial
carbono CO2 média

Medições de [CO2] efectuadas no


centro do Pacífico.

Como o CO2 é um gás bem


misturado na atmosfera, trata-se
de valores representativos das
concentrações observadas em
toda a Homosfera.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

https://gml.noaa.gov/ccgg/trends/history.html
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

https://climate.nasa.gov/evidence/
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Este é o motivo pelo qual o CO2 é motivo de tanta preocupação dado ser um gás com
efeito de estufa; a sua concentração atmosférica subiu de 280 ppm na era pré-
industrial para os actuais ~420 ppm.

A actividade humana originou mudanças na química atmosférica e na cobertura vegetal,


causando grave degradação da biodiversidade. Acresce que têm sido produzidos
milhares de novas substâncias químicas sintéticas, cujo efeito na biosfera ainda não é
totalmente conhecido. A modificação dos ciclos biogeoquímicos origina reacções
complexas nos subsistemas do sistema climático e, consequentemente, nas actividades
económicas e na qualidade do ar, da água e dos alimentos.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

A tomada de consciência de que as nossas acções interferem com o clima levou a que
nos últimos anos as alterações climáticas se tenham tornado num assunto de política
internacional consideravelmente importante. O Protocolo de Quioto (PQ) consistia num
instrumento internacional, ratificado em 15 de Março de 1999 com entrada oficial em
vigor a 16 de Fevereiro de 2005, que visava reduzir as emissões dos GEE’s (GHG’s)
no período 2008-2012, nomeadamente:

- Dióxido de Carbono (CO2) - Hidrofluorcarbonetos (HFC’s)


- Óxido Nitroso (N2O) - Hidrocarbonetos Perfluorados (PFC’s)
- Metano (CH4) - Hexafluoreto de Enxofre (SF6)
- Clorofluorcarbonetos (CFC’s)
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Este protocolo utilizou uma nova forma de promover a redução significativa dos gases
com efeito de estufa através de três formas:
- comércio de emissões,
- implementação conjunta e
- mecanismos de desenvolvimento limpo.

O objectivo foi apostar numa redução que fosse economicamente mais vantajosa.

Sendo Portugal um dos países aderentes, foi introduzida legislação que visava o
cumprimento das metas a que se propôs, ou seja, reduzir em 8% as suas emissões de
GEE’S, relativamente a 1990, no período considerado.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

A acumulação de GEE’s na atmosfera provoca gradualmente o aumento da sua


concentração na atmosfera.

Evolução das concentrações atmosféricas de


CO2, CH4, N2O durante os dois últimos milénios.
Na era pós-industrial registaram-se aumentos
significativos das concentrações atmosféricas
destes gases atribuíveis às actividades humanas.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Evolução da concentração atmosférica de GHG nas últimas décadas


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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

No conjunto, estes gases são considerados os GEE’s mais importantes, melhor


misturados na atmosfera e com maiores tempos de residência na atmosfera, sendo
responsáveis por cerca de 96% do forçamento radiativo desde 1750.

Para além dos GEE’s considerados no Protocolo de Quioto, existem outros compostos
que também interferem no balanço radiativo, nomeadamente o vapor de água
(principal GEE), o O3, e os aerossóis (partículas em suspensão na atmosfera, que
podem ter diversas composições físico-químicas).
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

O Protocolo de Montreal é um tratado internacional em que os 150 países signatários se


comprometem a substituir as substâncias responsáveis pela deplecção da camada de
ozono. Entrou em vigor a 1 de Janeiro de 1989.

Em consequência do Protocolo de Montreal, as concentrações de CFC’s estabilizaram


durante a década de 90 e têm vindo a diminuir nos últimos anos.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Em particular, o denominado CFC-12, absorve na região dos 8 aos 11 µm, logo na


Janela Atmosférica.

Se surgirem novos processos industriais responsáveis pela emissão de gases que tenham
a capacidade de absorver nesta gama de radiações, a quantidade de energia emitida
pelo planeta a escapar para o espaço diminuirá.

Consequentemente, a temperatura
à superfície do planeta aumenta.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Dióxido de Carbono – é originado nos processos de combustão industriais, transportes e


também no sector doméstico. A desflorestação liberta este gás e, simultaneamente, reduz
a sua utilização na fotossíntese. A libertação deste gás também resulta de processos
metabólicos e da decomposição da matéria orgânica.

Metano – é originado em actividades agrícolas, agropecuárias, na distribuição de gás


natural e em aterros sanitários. Também existem fontes naturais como, por exemplo, as
zonas pantanosas;

Óxido Nitroso – resulta da utilização de fertilizantes e de combustíveis fósseis. Como


fontes naturais destacam-se processos naturais nos solos e oceanos.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Halocarbonetos – Deste grupo destacam-se os CFC’s, particularmente o CFC-11 e o CFC-


12, utilizados em sistemas de refrigeração e outros processos industriais antes de se
relacionar a sua presença na atmosfera com a deplecção da camada de ozono. A sua
concentração na atmosfera tem vindo a decrescer, resultado de vários acordos
internacionais que visam proteger a camada de ozono (ver slide 13).

Ozono – É um gás que se forma e destrói continuamente devido a processos químicos na


atmosfera. Na Troposfera, é um poluente secundário que se forma na presença de CO,
hidrocarbonetos e N2O, libertados pelos veículos motorizados, os quais reagem
quimicamente formando O3 na presença de radiação solar.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Vapor de Água – É o GEE mais abundante e mais importante na atmosfera, mas pouco
dependente das actividades humanas. De uma forma indirecta, as actividades humanas
responsáveis por alterações do clima podem influenciar substancialmente a quantidade
de vapor de água na atmosfera; por exemplo, uma atmosfera mais quente contém mais
vapor de água.

Também as emissões de CH4 podem influenciar as concentrações de vapor de água uma


vez que este gás é destruído na Estratosfera através de reacções químicas que libertam
pequenas quantidades de vapor de água.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Aerossóis – São pequenas partículas sólidas ou líquidas presentes na atmosfera cujas


dimensão, concentração e composição química é muito variável. Nesta categoria incluem-
se poeiras, partículas resultantes da combustão, cristais de sal marinho, esporos, bactérias
e vírus, entre muitas outras substâncias microscópicas. As suas dimensões variam de 0.001
a 10 µm. Alguns aerossóis são directamente emitidos na atmosfera e outros formam-se a
partir de outros compostos emitidos. Resultam da combustão de combustíveis fósseis e de
biomassa, da actividade mineira e de outros processos industriais. Como fontes naturais,
destacam-se a libertação de partículas do solo por acção do vento, os oceanos e as
erupções vulcânicas.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

O carbono existe nas


quatro esferas e circula
entre elas.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

A atmosfera contém apenas 0.1% do carbono


total, a maior parte como CO2 e CH4.

O carbono assume uma importância vital devido ao facto de os gases que o contêm
influenciarem fortemente o efeito de estufa; se algum destes compostos for removido da
atmosfera esta arrefece e aquece se nela forem introduzidos (sendo estes os únicos
efeitos).
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Na biosfera o carbono é, como já se viu,


o elemento chave. As plantas aquáticas e
terrestres removem carbono da
atmosfera, à qual retorna (respiração,
decomposição da matéria orgânica ou
fogos florestais).

Quando a decomposição da matéria orgânica não é completa fica armazenada nos


combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás). As plantas também têm a capacidade de
desviar carbono da biosfera para as rochas da crosta terrestre.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Na hidrosfera, o CO2 dissolve-se nas águas


oceânicas formando bicarbornatos (HCO3-) e
carbonatos ((CO3)2-). A capacidade de os
oceanos dissolverem este gás depende da
sua temperatura.

Quando a temperatura dos oceanos aumenta,


diminui a capacidade de dissolução do CO2 e este
é libertado na atmosfera, incrementando e efeito
de estufa.

Pelo contrário, um arrefecimento dos oceanos permite-lhes armazenar


maiores quantidades de CO2 e reduzir o efeito de estufa.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Consideram-se “Fontes” todos os processos, naturais e antropogénicos, que libertam


carbono na forma de CO2 ou de CH4 na atmosfera:

• Respiração de animais e plantas (Biosfera-Atmosfera);

• Decomposição da matéria orgânica (Biosfera-Atmosfera);

• Libertação de CO2 pelos oceanos em consequência de um aumento da temperatura


da água (Hidrosfera-Atmosfera);

• Erupções vulcânicas (Geosfera-Atmosfera);

• Incêndios florestais (Biosfera-Atmosfera);

• Combustão de combustíveis fósseis em centrais termoeléctricas, transportes,


indústria, entre outras.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

As mudanças na quantidade de GEE’s e aerossóis na atmosfera, na radiação solar e nas


propriedades da superfície terrestre alteram o equilíbrio energético do sistema
climático.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Estas mudanças são expressas em termos do forçamento radiativo, usado para


comparar a forma como os factores humanos e naturais provocam o aquecimento ou o
arrefecimento do clima global.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Os modelos climáticos (GCM – Global Climate Models) estimam, entre outros, alterações
da temperatura à superfície, ∆Ts, em função dos forçamentos radiativos (naturais ou
antropogénicos) impostos (∆N):

Processo l [K/(W.m-2)]

ΔTs = λ.ΔN Stefan Boltzmann IR (l µ T4) 0.27


Observações de Satélite l µ T4) 0.55
Aumento do Vapor de Água com T 0.5
l é o factor de Vapor de Água & Nuvens 0.75
Albedo do Gelo 0.27 a 2.7
sensibilidade climática
Evaporação dos Mares Tropicais 0.3
Biológicos (Daisyworld) -0.3
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

IPCC AR5, 2013


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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

O Efeito de Estufa (G) pode equacionar-se como a diferença entre a energia emitida
pela superfície (E) e a energia emitida no topo da atmosfera (F):

𝐺 =𝐸−𝐹

Assuma-se que o sistema Globo-Atmosfera sofreu uma perturbação que lhe provou um
ligeiro aumento da temperatura. Nestas circunstâncias, desencadeiam-se alguns
processos que aceleram o aquecimento (feedback positivo) e outros que o mitigam
(feedback negativo).
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

IPCC AR5
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Principais motores da mudança climática

O equilíbrio radiativo entre a radiação solar de ondas curtas (SWR) e a radiação de


ondas longas (OLR) é influenciado pelo clima global. As flutuações naturais na produção
solar (ciclos solares) podem causar alterações no balanço energético (através de
flutuações na quantidade SWR).
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Principais motores da mudança climática

A actividade humana altera as emissões de gases e aerossóis, que estão envolvidos em


reacções químicas atmosféricas, resultando em quantidades modificadas de O3 e
aerossóis. O O3 e os aerossóis absorvem, dispersam e reflectem SWR, alterando o
equilíbrio de energia.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Alguns aerossóis actuam como núcleos de condensação de nuvens modificando as


propriedades das gotas de nuvens e possivelmente afectando a precipitação. Porque as
interações das nuvens com SWR e LWR são grandes, pequenas mudanças nas
propriedades das nuvens têm implicações importantes no balanço radiativo.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

As alterações antropogénicas nos


GEE (por exemplo, CO2, CH4,
N2O, O3, CFC’s) e nos grandes
aerossóis (>2.5 μm de tamanho)
modificam a quantidade de LWR
perdida, absorvendo LWR
emitida pela superfície e
perdendo menos energia a uma
temperatura mais baixa.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

O albedo superficial é alterado por alterações na vegetação ou nas propriedades da


superfície terrestre, na neve ou na camada de gelo e na cor dos oceanos.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

IPCC AR5
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Alterações climáticas e escalas de tempo

Os feedbacks climáticos relacionados


com o aumento do CO2 e a subida da
temperatura incluem feedbacks
negativos (-) tais como LWR, gradiente
vertical de temperatura (lapse rate) e
troca de carbono ar-mar e feedbacks
positivos (+), tais como vapor de água e
albedo da neve/gelo.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Alterações climáticas e escalas de tempo

Alguns feedbacks podem ser positivos ou


negativos ( ): nuvens, mudanças na
circulação oceânica, troca de CO2 ar-
terra e emissões de não-GHG e
aerossóis de sistemas naturais.

Na caixa menor, destaca-se a grande


diferença de tempos para os vários
feedbacks.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Feedback Positivo: Tome-se como exemplo o efeito do albedo do gelo:

A diminuição da cobertura de gelo leva a que


uma maior superfície de terreno fique exposta
à radiação solar e passe a absorver maiores
quantidades desta energia. Consequentemente,
verifica-se uma aceleração do aquecimento.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Feedback Negativo: A taxa de absorção de CO2 pelas plantas (fotossíntese) aumenta


com a temperatura, o que se estima que contrarie o efeito de aquecimento.

Em termos climáticos, estes mecanismos são extremamente importantes.

O ganho (g) do sistema devido a um feedback climático é dado pela expressão

1
𝑔=
1−𝑓

onde f representa o factor de feedback, com f < 1 (f ≥ 1 – sem significado físico)


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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Como g é não-linear mesmo um forçamento infinitesimal pode induzir uma enorme


alteração (∆T).

100 3
90 1 1
80 𝑔= 2,5 𝑔=
1−𝑓 1−𝑓
70
2
60
50 1,5
g

g
40
1
30
20
0,5
10
0 0
-1 -0,5 0 0,5 1 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
f f
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

O Conceito de Feedback pode ser representado através de um diagrama de blocos:

• DQ – Forçamento radiativo

• DTs – Resposta da temperatura

• G0 – Ganho na ausência de feedback J DTs


DQ G0
• J = DQ + DJ com DJ = F.DTs
DJ
• f = G0F F
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Os factores de feedback são aditivos: 𝑓 = ) 𝑓!


!

O Factor de Sensibilidade Climática (l) é dado


𝑑𝑇$
pela expressão 𝜆=
𝑑𝐹

F - radiação IV emitida no TOA

DTs depende da sensibilidade climática e do parâmetro de feedback

1 1 𝐺#
Δ𝑇$ = Δ𝑄 com 𝜆= =
𝜆 𝐺" 1 − 𝑓
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Feedback do Vapor de Água


A capacidade de retenção de vapor de água na atmosfera aumenta exponencialmente
com a temperatura a uma taxa de aproximadamente 7%.ºC-1 (Wallace, 2006). Uma vez
que este gás é o mais importante GEE, concentrações atmosféricas mais elevadas
favorecem a retenção da radiação IV emitida pelo planeta no sistema Globo-Atmosfera,
promovendo a aumento da temperatura à superfície (Ts). Estima-se que o factor de
feedback associado ao vapor de água seja 0.5 (Wallace, 2006). Aplicando a expressão
1
𝑔=
1−𝑓

obtém-se um ganho de 2, ou seja, duplica a resposta de Ts ao forçamento inicial.


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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Feedback das Nuvens

As nuvens reflectem parte da radiação solar incidente, impedindo-a de atingir a


superfície terrestre (albedo das nuvens).

Por outro lado, absorvem a radiação IV emitida pela superfície, contribuindo para o
efeito de estufa.

O balanço entre ambos os processos depende do tipo de nuvens:


50

5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Os cirrus são nuvens finas (reduzida espessura óptica) que existem existem a alturas
elevadas e cujos topos são bastante frios.

O seu albedo é baixo e são bastante


absorventes na gama da radiação IV.

Desta forma, se a taxa de cobertura


aumentar devido à presença deste tipo de
nuvens, a temperatura tenderá a aumentar
(feedback positivo).
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Os estratos são nuvens de desenvolvimento horizontal que se formam a altitudes


médias-baixas.

Actualmente ainda não se compreende bem


quanto e em que sentido a sua área de
cobertura pode variar em resposta a um
incremento na temperatura à superfície.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Os cúmulos são nuvens de elevado


desenvolvimento vertical, com topos
reflexivos, e bases baixas, absorventes da
radiação emitida pelo planeta.

Os dois efeitos quase se cancelam e o


forçamento radiativo resultante é quase
nulo.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

A avaliação do efeito da cobertura de nuvens no balanço radiativo consegue-se através


de medições dos fluxos de radiação que entram e saem do sistema, efectuadas pelos
satélites meteorológicos.

Dados obtidos indicam que a cobertura de nuvens é responsável por uma redução de 50
W.m-2 do fluxo de radiação solar incidente e por um aumento de 30 W.m-2 do fluxo de
radiação IV emitida pelo planeta.

Desta forma, a cobertura de nuvens é responsável pela perda de 20 W.m-2, tendo um


efeito de arrefecimento.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Média anual efectiva do


forçamento radiativo das nuvens
entre Fevereiro de 2000 e Março
de 2001.
De uma forma geral, houve um
forçamento positivo nas baixas e
altas latitudes, mais acentuado
sobre os continentes, e negativo
nas latitudes médias
Valor médio anual efectivo do forçamento radiativo
das nuvens (Fevereiro 2000 - Março 2001)
55

5. FORÇAMENTO RADIATIVO
56

5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Feedback dos Aerossóis

Os aerossóis são determinantes no clima e no ciclo hidrológico.

Por um lado reflectem ou absorvem, dependendo da sua composição, a radiação solar


influenciando fortemente a quantidade de radiação solar que alcança a superfície
terrestre (arrefecimento).

Por outro lado, funcionam como núcleos de condensação, promovendo a formação de


nuvens.

Avaliar este feedback é particularmente difícil devido à heterogeneidade das composições,


concentrações e formas (desde poeira do deserto à poluição urbana) dos aerossóis.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Feedback das Superfícies Geladas

As superfícies geladas reflectem a maior parte da radiação solar que nelas incide, ou
seja, possuem um albedo elevado.

Desta forma, um aumento na área


coberta por neve ou gelo promove a
diminuição da temperatura à superfície.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Mas estas superfícies têm vindo a diminuir, diminuindo o albedo global e possibilitando
o aumento da radiação solar absorvida pela superfície do planeta, promovendo o seu
aquecimento.

Na página web da NASA (Agência de


Segurança Norte Americana) pode ver-
se uma animação muito elucidativa
deste feedback positivo no link

http://www.nasa.gov/centers/goddard/
news/topstory/2003/1223blacksoot.ht
ml
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Mais ainda, a poluição, especialmente partículas negras de carbono, deposita-se sobre


as superfícies geladas diminuindo-lhes o albedo.

http://www.nasa.gov/centers/goddard/ne
ws/topstory/2003/1223blacksoot.html
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Feedback do Dióxido de Carbono

Contrariamente ao feedback das nuvens e dos aerossóis, do CO2 é claramente um


feedback positivo.

A estreita relação entre o aumento/diminuição da


concentração deste gás com o aumento/diminuição
da temperatura está documentada numa escala
temporal de milhares de anos.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Esperava-se que a concentração deste gás, mesmo com medidas mitigadoras, atingisse o
valor de 560 ppm em 2100 (cerca do dobro da sua concentração pré-industrial).

Þ aumento da temperatura à superfície estimado é de 1.2 ºC.

Þ Desencadeamento de outros processos de feedback (do vapor de água) que no


mínimo duplicaria a resposta.

Recentemente, em Agosto de 2021, o IPCC inicia a publicação do 6º Relatório de


Avaliação. De acordo com o IPCC AR6, o planeta aqueceu em média 1.1 ºC desde
1850, com um aquecimento mais intenso sobre os continentes, e que o aquecimento
médio global deve atingir ou exceder 1.5 ºC nos próximos 20 anos.
62

5. FORÇAMENTO RADIATIVO

À excepção do cenário de emissões de GHG mais baixas (SSP1-1,9), todos os cenários


hipotéticos desenvolvidos pelos modelos climáticos, o nível de 1.5°C, considerado o
máximo seguro desde o Acordo de Paris, será ultrapassado no futuro próximo e
permanecerá acima de 1.5°C até o final do século.

Os atuais compromissos internacionais de redução de emissões são insuficientes para


manter o nível de 1.5 ºC, e mesmo se cumpridos, a melhor estimativa é chegarmos ao ano
de 2100 com um aquecimento de 2.7 ºC.
63

5. FORÇAMENTO RADIATIVO
64

5. FORÇAMENTO RADIATIVO
65

5. FORÇAMENTO RADIATIVO
FAQ 5.3: Could climate change be reversed by removing CO2 from the atmosphere?
Removing more carbon dioxide (CO2) from the atmosphere than is emitted into it could reverse some aspects of
climate change, but some changes would continue in their current direction for decades to millennia.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Sources and processes contributing to


SLCFs (short-lived climate forcers)and
their effects on the climate system
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

𝑆(1 − 𝛼)
Considere-se a Equação do equilíbrio Radiativo = 𝜎𝑇% &
4

Considere-se agora que se adiciona calor à atmosfera (resultado de uma explosão


nuclear, por exemplo). Quanto tempo demorará a Terra a voltar ao seu estado inicial?

Se todo o calor se libertasse ao mesmo tempo


⇒ a temperatura da atmosfera aumentaria DT
⇒ a energia emitida para o espaço seria 𝜎(𝑇% + Δ𝑇)&
⇒ a emissão seria superior à radiação recebida do Sol
⇒ défice
⇒ a atmosfera arrefeceria
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

𝑑𝑇
A variação de temperatura é proporcional à diferença entre a radiação total
𝑑𝑡
emitida e a radiação solar

) 𝑀, 𝐶-
Δ𝑇 𝑡 = Δ𝑇# 𝑒 ' (*! 𝜏+ =
4𝜎𝑇% .

tR – constante de relaxação da atmosfera (32 dias)


MT – Massa da Atmosfera por unidade de área (10 316 kg.m-2)
Cp – Calor específico do ar (1004 J.kg-1.K-1

Este problema é útil para entender a resposta da atmosfera a variações do balanço


radiativo causadas por variações diárias sazonais.
69

5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Como tR >>> 1 dia, a parte inferior da atmosfera (onde se localiza a maior parte da
massa da atmosfera) não responde significativamente a variações diárias da radiação
solar.

No entanto, para variações sazonais, onde as variações da radiação solar têm um


período mais longo que tR, haverá uma resposta significativa na temperatura de
radiação da atmosfera.
70

5. FORÇAMENTO RADIATIVO

É importante não esquecer que a variação sazonal da temperatura da Terra é


modificada pela capacidade térmica do oceano.

A capacidade térmica da Terra é equivalente a 2.6 m de água oceânica


⇒ a capacidade térmica do oceano corresponde a aproximadamente 1 600
atmosferas.
71

5. FORÇAMENTO RADIATIVO

No entanto, durante o ciclo sazonal, apenas os primeiros 100 m do oceano são


afectados significativamente
⇒ a capacidade térmica corresponde a apenas 38 massas atmosféricas
⇒ tR ≈ 3.5 anos.

Este facto sugere que o oceano é o principal responsável por grande parte das
modificações do ciclo sazonal da temperatura na atmosfera.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Qual a resposta climática a uma duplicação na concentração de CO2?

Balanço de energia do Sistema Climático 𝑆(1 − 𝛼)


∆𝐻 = − ∆𝐹 (𝑡𝑜𝑎)
4

Aumento [CO2] ⇒ Aumento de absorção de radiação IV


⇒ Diminuição da radiação IV emitida no TOA, F

𝐶𝑂/
∆𝐹 = −𝛽𝑙𝑛 𝛽 = 6.1 ± 0.4 W𝑚'/
𝐶𝑂/ 01)234
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

Qual a resposta climática a uma duplicação na concentração de CO2?

𝐶𝑂/
∆𝐹 = −𝛽𝑙𝑛 = 6.1× ln 0.5 ≈ 4.3 W𝑚'/ ⟹ ∆𝐻 ≈ 4 W𝑚'/
2 𝐶𝑂/

O sistema climático vai responder a este aumento da [CO2] para restabelecer o


equilíbrio
∆H=0 Þ a superfície e a troposfera vão aquecer até irradiarem para o espaço
os 4 Wm-2 em excesso

A emissão de radiação IV, F, é função da [CO2] , da T e do vapor de água.


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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

MODELO MULTICAMADAS

Consideremos um exercício muito simples e elucidativo do papel dos GEE’s no


aquecimento da superfície do planeta.

Assuma-se que a Terra se encontra em equilíbrio radiativo (não ganha nem perde
energia em trocas radiativas) e que o albedo planetário é 0.30.

A sua atmosfera é constituída por múltiplas camadas isotérmicas, cada uma das quais
transparente à radiação de curto comprimento de onda e completamente opaca à
radiação de grande comprimento de onda.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

MODELO MULTICAMADAS

As camadas e a superfície do planeta encontram-se em equilíbrio radiativo.

Como será afectada a temperatura da superfície


do planeta pela presença desta atmosfera?

Comecemos por considerar a atmosfera composta


por uma única camada isotérmica em que tanto
esta como o planeta se comportam como corpos
negros.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

MODELO MULTICAMADAS

Camada é opaca à radiação de grande cdo

Þ Tplaneta ≅ Tatmosfera

Þ A atmosfera terá de emitir F unidades de radiação


para o espaço para equilibrar as F unidades de
radiação solar recebidas.

A camada é isotérmica, também emite F unidades de radiação para a superfície.


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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

MODELO MULTICAMADAS

Þ superfície recebe F unidades de radiação solar e F


unidades de radiação de longo cdo emitidas pela
atmosfera, num total de 2F unidades.

Para manter o equilíbrio, a superfície terá que emitir 2F unidades de radiação de longo
cdo. Igualando as expressões de energia emitida (lei de Stefan-Boltzmann) e energia
recebida pelo planeta
4π𝑅, / 𝜎𝑇 & = 𝑆(1 − 𝛼)π𝑅, /
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

MODELO MULTICAMADAS

Simplificando, obtém-se 𝑆(1 − 𝛼)


𝜎𝑇 & =
4

𝑆(1 − 𝛼) " 2𝐹
em que 𝐹= vem 𝑇=
4 𝜎

Admitindo S = 1368 W.m-2, o fluxo F de radiação emitida é 239.4 W.m-2 e a


temperatura da superfície do planeta é 303 K, isto é, 48 K superior à temperatura do
planeta se não tivesse atmosfera.
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

MODELO MULTICAMADAS

Considerem-se agora 2 camadas


F F
Topo da camada inferior:

Recebe êF + é3F Emite é2F + êF F 2F

F
Camada Isotérmica
F 3F

Þ Também emite 2F para a superfície 2F

Þ Superfície também emite 3F de radiação de longo cdo

Por indução, para N camadas a " (𝑁 + 1)𝐹


𝑇=
temperatura de equilíbrio à superfície vem 𝜎
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5. FORÇAMENTO RADIATIVO

MODELO MULTICAMADAS

• O número N de camadas deve ser determinado pela física do problema e não


por uma escolha arbitrária do utilizador.

• A expressão anterior permite, por exemplo, calcular a variação de temperatura à


superfície, associada a uma variação da irradiância solar F.

• O modelo é demasiado simplista para descrever a realidade; o equilíbrio


radiativo só por si não fornece uma boa aproximação para a temperatura à
superfície (N=2 Þ Ts=355 K), visto que os fluxos de calor à superfície removem
desta quantidades substanciais de energia.
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Bom Trabalho!

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