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Sedação mínima com midazolam em Odontopediatria: relato de caso de

retratamento endodôntico

Article · February 2018

DOI: 10.21270/archi.v7i1.2494

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6 authors, including:

Adriana Sales Cunha-Correia

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Arch Health Invest (2018) 7(1):4-11 © 2018 - ISSN 2317-3009
http://dx.doi.org/10.21270/archi.v7i1.2494

Sedação mínima com midazolam em Odontopediatria:

relato de caso de retratamento endodôntico
Minimal sedation with midazolam in pediatric dentistry:
a case report of endodontics
Sedación mínima con midazolam en odontología pediátrica: presentación
de un caso de retratamiento endodóntico
Jéssica Anselmo MAIA1
Tatiane Maria SILVA ALVES2
Nagib Pezati BOER3
Thiago Medeiros CORREIA4
Adriano Linhares MOTTA5
Adriana Sales CUNHA-CORREIA6
1
Cirurgiã-Dentista pela Faculdade de Odontologia da Universidade Brasil - Campus Fernandópolis, São Paulo, Brasil
2
Graduanda em Odontologia, Faculdade de Odontologia da Universidade Brasil, Fernandópolis - SP, Brasil
3
Mestre em Morfologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),
Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP),
Disciplina de Clínica Odontológica Integrada, Faculdade de Odontologia da Universidade Brasil, Fernandópolis - SP, Brasil
4
Cirurgião-Dentista pela Universidade Paulista (UNIP).
Funcionário Público Estadual da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo – SAP
5
Mestre em Reabilitação Oral pela Universidade Veiga de Almeida,
Especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial pela Faculdade de Odontologia de Valença-RJ
6
Mestre em Odontopediatria pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba (UNESP),
Doutora em Ciências Odontológicas pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba (UNESP),
Pós-Doutora em Microbiologia pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba (UNESP)

Resumo
Introdução: Medicações para controle da dor, do estresse e da ansiedade podem ser utilizadas em várias especialidades da Odontologia. Os
benzodiazepínicos são atualmente os medicamentos de escolha, principalmente o midazolam, que apresenta ampla margem de segurança
clínica, rápido início de ação, pequena incidência de reações adversas, sendo indicado até mesmo para crianças como pré-medicação em
procedimentos de curta duração. Objetivo: Este estudo teve como objetivo apresentar um caso clínico de retratamento endodôntico em
odontopediatria sob sedação mínima com midazolam administrado pela via oral. Relato do caso: Paciente de 7 anos, obesa, não adaptada à
assistência odontológica, apresentou como queixa principal “bolinha de pus” na região do elemento 36, já tratado endodonticamente. Ao
exame clínico foi constatada fístula intra-oral e ao exame radiográfico foi observado cone de guta-percha trepanando o ápice dentário. O
retratamento endodôntico foi realizado sob sedação mínima com midazolam, inicialmente na dose de 15 mg, e em sessões posteriores na
dosagem de 30mg. A paciente teve seus sinais vitais monitorados durante todas as intervenções. Após 7 meses do término do retratamento,
a radiografia de controle aponta recuperação tecidual no ápice e região de furca do elemento dentário, clinicamente os sinais e sintomas
foram totalmente controlados, e segundo os familiares, o sucesso do tratamento não seria possível sem o uso da sedação mínima.
Conclusão: Este e outros relatos positivos poderiam inferir que, num futuro próximo, a sedação mínima com fármacos benzodiazepínicos
venha a se tornar uma ferramenta indispensável no ambiente odontológico.
Descritores: Sedação Consciente; Midazolam; Odontopediatria; Endodontia.
Abstract
Introduction: Medications for pain control, stress and anxiety can be used in various specialties of odontology. Benzodiazepines are
currently the drugs of choice, especially midazolam, which has a wide margin of clinical safety, rapid onset of action, low incidence of
adverse reactions, and even suitable for children as premedication in short procedures. Objective: This study aimed to present a clinical
case of endodontics pediatric dental care under minimal sedation with midazolam administered orally. Case report: 7 years old pacient,
obese, not adapted to dental care, presented as main complaint "ball of pus" in the region of the element 36, already treated endodontically.
On clinical examination revealed an inter oral fistula and radiographic examination was observed a cone of gutta-percha transcend dental
apex. Endodontic retreatment was performed under minimal sedation with midazolam, initially at a dose of 15 mg, and in subsequent
sessions in the dosage of 30mg. The patient had their vital signs monitored during all interventions. 7 months after the end of retreatment,
the control radiography points tissue recovery at the apex and furcation region of the tooth, clinically the signs and symptoms were
completely controlled, and according to the family, the success of the treatment would not be possible without the use of minimal sedation.
Conclusion: This and other positive reports could infer that in the near future, minimal sedation with benzodiazepines drugs will become an
indispensable tool in the dental environment.
Descriptors: Conscious Sedation; Midazolam; Pediatric Dentistry; Endodontics.
Resumen
Introducción: Las mediciones para controlar el dolor, el estrés y la ansiedad pueden ser utilizadas en varias especialidades de la
Odontología. Las benzodiazepinas son actualmente los medicamentos de elección, principalmente el midazolam, que presenta amplio
margen de seguridad clínica, rápido inicio de acción, pequeña incidencia de reacciones adversas, siendo indicado incluso para niños como
premedicación en procedimientos de corta duración. Objetivo: Este estudio tuvo como objetivo presentar un caso clínico de retratamiento
endodóntico en odontopediatría bajo sedación mínima con midazolam administrado por la vía oral. Reporte de un caso: Un paciente obeso
de 7 años, no adaptado al cuidado dental, presentó como la principal queja "sedimento de pus" en la región del elemento 36, ya tratado
endodónticamente. En el examen clínico se constató fístula intra-oral y al examen radiográfico se observó un cono de gutapercha
trepanando el ápice dental. El retratamiento endodóntico fue realizado bajo sedación mínima con midazolam, inicialmente en la dosis de 15
mg, y en sesiones posteriores en la dosis de 30mg. La paciente tuvo sus signos vitales monitoreados durante todas las intervenciones.
Después de 7 meses del término del retratamiento, la radiografía de control apunta la recuperación tisular en el ápice y región de furca del
elemento dental, clínicamente los signos y síntomas fueron totalmente controlados, y según los familiares, el éxito del tratamiento no sería
posible sin el uso de la misma, sedación mínima. Conclusión: Este y otros relatos positivos podrían inferir que, en un futuro próximo, la
sedación mínima con fármacos benzodiazepínicos se convierta en una herramienta indispensable en el ambiente odontológico.
Descriptores: Sedación consciente; Midazolam; Odontología Pediátrica; Endodoncia.

INTRODUÇÃO
A ansiedade relatada em atendimentos odontológicos negativa na satisfação do paciente e no rendimento do
é um fenômeno comum e constitui um dos principais fatores procedimento odontológico1. Segundo Kanegane et al.2 o
de rejeição ao tratamento, influenciando de maneira medo é uma emoção primária que nos alerta sobre o perigo

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em relação a um objeto ou situação. A causa do medo de
procedimentos odontológicos pode estar vinculada a
diversos fatores, dentre eles um tratamento doloroso, o som
da broca, e a ignorância sobre o que irá acontecer3.
Existem várias técnicas disponíveis ao cirurgião-
dentista para melhorar o manejo do medo e da ansiedade do
paciente, sendo elas as técnicas não farmacológicas (manejo
da voz, falar-mostrar-fazer, estabilização protetora) ou
farmacológicas. Nas técnicas farmacológicas são utilizados
fármacos com a finalidade de deprimir o estado de
consciência do paciente, procedimento denominado
sedação4. É importante entender que a sedação em si é um
continuum entre os níveis possíveis, que vão da sedação
mínima até a anestesia geral5-7 e que os níveis de sedação
não estão relacionados à via de administração da droga e
sim à sua dose8-10. As vias mais utilizadas atualmente em
Odontologia são a inalatória, oral, intranasal e
intravenosa8,11-14.
As técnicas de sedação por via inalatória, oral,
intranasal, intravenosa e a anestesia geral têm sido utilizadas
para melhorar o comportamento do paciente, ajudando
assim a reduzir o medo e a ansiedade que podem ocorrer
antes, durante, e após o tratamento dentário, além de
permitirem a realização de um tratamento odontológico de
alta qualidade, sem comprometer a saúde do paciente15.
Em Odontopediatria, o principal objetivo da sedação
é combater o medo e a ansiedade da criança,
proporcionando ao cirurgião-dentista Odontopediatra o
controle comportamental do seu paciente ainda não
condicionado, sendo por vezes necessária não somente um
nível de sedação mínima, mas a sedação moderada, que é
um estado deprimido da consciência alcançado pela indução
de fármacos, durante o qual os pacientes respondem
intencionalmente aos comandos verbais, seja por conta
própria ou acompanhado de leve estimulo tátil. Nenhuma
intervenção é necessária para manter as vias aéreas
permeáveis, e a ventilação espontânea adequada4,9.
O termo sedação moderada se refere ao que se
denominava anteriormente como sedação consciente,
expressão que foi adotada no Brasil como sinônimo da
técnica de Analgesia Inalatória com o óxido
nitroso/oxigênio16. Todavia, a Associação Americana de
Odontologia (ADA)17 aponta a atualização dos termos
utilizados para definir os níveis de sedação como sedação
mínima (antiga ansiólise), sedação moderada (antiga
sedação consciente) e sedação profunda. Assim sendo,
apesar de no Brasil a sedação consciente ser sinônimo de
sedação inalatória, a sedação por esta via, bem como pelas
vias oral, intranasal e intravenosa podem levar o paciente a
diversos níveis de sedação, uma vez que a sedação é dose
dependente, e não dependente da via de administração.
Portanto, tanto por via inalatória, intranasal, oral ou
intravenosa a sedação pode ser mínima, moderada (antiga
sedação consciente) e até mesmo profunda13,18.
Segundo Ferreira et al.3 e Menezes19, sedação
moderada (antiga sedação consciente) é o termo empregado
para descrever estados controlados de diminuição da
consciência que permitem a manutenção de reflexos
protetores, deglutição e tosse, diminuindo o desconforto do
paciente e facilitando a execução do procedimento, visando
uma melhor eficácia dos serviços. Esta técnica permite ao
cirurgião-dentista realizar sua metodologia e programação
de tratamento, contando com a colaboração do paciente,
pois promove um estado de sedação e hipnose com drogas
específicas em doses adequadas20.
De acordo com Cruvinel21 é fundamental destacar
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que os ansiolíticos oferecem vantagens de interesse para o
cirurgião-dentista, como o relaxamento da musculatura
esquelética, a redução do fluxo salivar e do reflexo do
vômito, sendo que também previnem situações de
emergência como a lipotimia, a síncope e a síndrome da
hiperventilação.
Existem vários fármacos e produtos medicinais
usados na sedação mínima a moderada, como os
benzodiazepínicos e o óxido nitroso (N2O). O N2O foi o
primeiro gás inalatório utilizado para sedação, tendo como
características farmacológicas baixa metabolização no
organismo, e início e término de ação rápidos. Sua técnica
baseia-se na administração de O2 seguida de N2O, até
alcançar o nível de sedação ideal22.
Duarte et al.23 relatam que o N2O é um anestésico
muito bem aceito por pacientes pediátricos, tornando
possível a indução suave da anestesia sob máscara, com
início rápido de ação e breve resolução do efeito, além da
ausência de nefrotoxicidade ou hepatotoxicidade,
características que tornam o óxido nitroso uma opção
atraente em anestesia pediátrica. Soares et al.24 afirmam que
não há indícios de contraindicações absolutas para o uso de
óxido nitroso desde que se utilize a concentração de no
mínimo 30 a 40% de oxigênio na mistura de gases. Todavia,
segundo Malamed4, um paciente com muito medo ou fobia
odontológica pode não ser um bom candidato para
administração de N2O-O2, uma vez que esse gás não seria
eficaz com esses pacientes.
Assim sendo, outra opção para sedação em
Odontologia e Odontopediatria é o uso de fármacos
benzodiazepínicos (BZD), medicamentos ansiolíticos, que
têm como objetivo a redução da ansiedade (Abreu et al.25,
2000), uma vez que os BZD apresentam ampla margem de
segurança clínica, rápido início de ação, pequena incidência
de reações adversas, facilidade de administração e baixo
custo. Os BZD mais empregados na sedação em
Odontologia são o diazepam, lorazepam, alprazolam,
midazolam e triazolam25,26.
O midazolam é um benzodiazepínico indicado para
crianças como pré-medicação em procedimentos de curta
duração, por ser absorvido e eliminado rapidamente pelo
organismo27. Também é a droga mais indicada nas
urgências odontológicas, por possuir rápido início de ação e
induzir amnésia anterógrada2,3,26. Bartolomé et al.28 afirmam
que o midazolam é indicado para a sedação contínua da
criança gravemente enferma.
O midazolam contém características farmacológicas
que o tornam o fármaco de escolha para a sedação mínima e
moderada em Odontologia29. Entre suas principais
vantagens encontram-se rápido início de ação, meia vida
curta, e uma duração de sedação adequada. Desse modo, a
recuperação do paciente após o atendimento é rápida e com
alta margem de eficácia e segurança.
Em Odontopediatria, um dos procedimentos de maior
complexidade é o tratamento endodôntico. Realizar o
retratamento de um elemento dentário, onde o tratamento
inicial fracassou em virtude do comportamento não
colaborador do paciente pode ser um desafio para o
profissional, uma vez que a criança já traz consigo alto nível
de ansiedade e estresse relacionados ao ambiente
odontológico.
O uso de fármacos ansiolíticos para controlar a
ansiedade pode ser usado em várias especialidades da
Odontologia, bem como na Odontopediatria. Assim sendo,
o presente trabalho visa apresentar um caso clínico de
atendimento odontológico sob sedação mínima com
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benzodiazepínico oral, administrado para retratamento
endodôntico em criança não condicionada ao ambiente
odontológico.
CASO CLÍNICO
Paciente A.A.M.P. (Figura 1), sete anos e oito meses,
parda, obesa, procurou atendimento odontológico em
virtude da presença de “bolinha de pus” no primeiro molar
inferior esquerdo (elemento 36), que fora tratado
endodonticamente em clínica particular, sem grande
colaboração da paciente. Ao exame clínico foi observada
fístula drenante no fundo de sulco vestibular na região do
elemento 36, e ao exame radiográfico foi observado cone de
guta-percha trepanando o ápice da raiz mesial do dente
relacionado, bem como presença de lesão radiolúcida
periapical associada à condição relatada (Figura 2).
Figura 1: Paciente A.A.M.P., não colaboradora para assistência
odontológica.
Figura 2: Elemento 36, apresentando tratamento endodôntico
insatisfatório, trepanação do ápice radicular da raiz mesial e lesão
radiolúcida periapical acompanhando o cone de guta percha trepanado.
A paciente mostrava-se bastante receosa, e segundo
o pai o tratamento endodôntico fora realizado por
profissional especialista na área. Todavia, como a paciente
não colaborou com a realização do primeiro tratamento, o
resultado foi a trepanação do ápice radicular. A radiografia
de diagnóstico neste segundo momento de intervenção
endodôntica no elemento 36 foi feita somente na segunda
sessão de condicionamento, realizada por odontopediatra,
quando a paciente permitiu a tomada radiográfica com filme
periapical adulto.
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Na terceira sessão foi possível iniciar o retratamento
endodôntico do elemento 36, iniciando pela remoção do
material obturador e principalmente do cone de guta-percha
que trepanava o canal mésio-vestibular. Esse atendimento
foi realizado sob sedação mínima com 1 comprimido de
Maleato de Midazolam (15mg), tendo sido realizada então a
reabertura coronária, remoção do material obturador,
irrigação com solução de Milton a 1%, e medicação
intracanal com cimento de hidróxido de cálcio e veículo
oleoso. O preparo cavitário foi selado com cimento
obturador provisório (Figura 3).
Figura 3: Medicação intracanal (hidróxido de cálcio) preenchendo os
condutos radiculares do elemento 36, após remoção do material
obturador que causava trepanação.
Cerca de 1 mês e meio após essa primeira nova
intervenção foi realizada a delimitação do comprimento de
trabalho por uso de localizador apical, bem como
instrumentação rotatória dos canais radiculares com a
finalidade de retratamento endodôntico (Figura 4), também
sob sedação mínima, sendo utilizada a dosagem de 30mg (2
comprimidos = 0,55mg/kg) de midazolam. O aumento da
dose justifica-se pela maior complexidade do procedimento
odontológico a ser realizado na referida consulta, o que
implicou no aumento do nível de sedação em relação ao
primeiro procedimento, para maior conforto e colaboração
da paciente durante a assistência odontológica (Figura 5).
Após 2 meses de manutenção do curativo de demora
foi realizada a obturação dos canais radiculares mésio-
vestibular, mésio-lingual e distal, por técnica de
condensação lateral (Figura 6) e restauração definitiva com
resina composta. O canal distal foi obturado apenas até o
terço médio, em virtude de condensação dentinária que
impedia a instrumentação até o ápice. Entre as consultas de
retratamento endodôntico a paciente foi também submetida
a sessões de condicionamento em odontopediatria,
tornando-se mais receptiva à equipe e aos procedimentos
odontológicos como profilaxia dentária, bem como
selamento de fóssulas e fissuras.
Figura 4: Preparo biomecânico e curativo de demora com hidróxido de
cálcio no elemento 36.
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Figura 5: Paciente relaxada e sonolenta, sob sedação com 2
comprimidos de midazolam (dose total = 30mg). Sinais vitais sendo
monitorados com oxímetro de pulso.
Figura 6: Radiografia final após retratamento endodôntico do
elemento 36.
Pouco mais de um mês após a finalização do
retratamento foi observada nova fístula na região do
elemento 36. Foi realizada medicação (hidróxido de cálcio)
via fístula (Figura 7) e terapia medicamentosa com
amoxicilina 3 vezes ao dia por 7 dias, anti-inflamatório e
analgésico. Para esta consulta foi realizada sedação
inalatória com a mistura óxido nitroso/oxigênio (N2O/O2),
porém o efeito terapêutico não foi atingido, ficando a
paciente pouco colaboradora e chorando durante a
intervenção.
Figura 7: Elemento 36 apresentando ainda lesão periapical com
extensão para região de furca, um mês após retratamento endodôntico.
Após 7 meses dessa última intervenção a paciente foi
chamada para realizar uma radiografia de controle.
Clinicamente o elemento dentário 36 encontra-se sem
fístula, sem sintomatologia dolorosa (Figura 8) e
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radiograficamente é possível observar trabeculado ósseo na
região de furca e integridade radicular (Figura 9).
Figura 8: Aspecto clínico 7 meses após a finalização do tratamento
endodôntico do elemento 36.
Figura 9: Controle radiográfico 7 meses após o retratamento
endodôntico do elemento 36.
DISCUSSÃO
Neste relato foi abordado o transcorrer de um
retratamento endodôntico realizado sob sedação mínima
com fármaco benzodiazepínico. Dentre as dificuldades
encontradas pelo endodontista, podemos considerar o
tratamento de dentes permanentes com incompleto
desenvolvimento radicular, pois o canal radicular é
extremamente amplo e o seu forame ainda está com
formação incompleta, apresentando-se também com
diâmetro exagerado30. Além disso, a criança não estava
condicionada ao ambiente odontológico, agindo de forma
não colaboradora ao tratamento. Como apresentava quadro
de infecção periapical e dor, a resolução do quadro clínico
não poderia aguardar o número de sessões de
condicionamento necessárias para o adequado manejo não-
farmacológico do comportamento da paciente.
Todavia, o atendimento da paciente foi iniciado com
base nas técnicas de controle do comportamento, como
controle de voz, falar-mostrar-fazer, reforço positivo, e
distração. Apesar disso, muitas crianças não respondem
satisfatoriamente aos métodos básicos e continuam a
apresentar sinais de ansiedade e medo31, principalmente se
já tiveram experiências negativas anteriores, como era o
caso da criança apresentada neste estudo. Em situações
como esta, é indicado o uso de técnicas restritivas de
manejo do comportamento, como estabilização protetora,
técnicas farmacológicas como a pré-medicação, que é
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destinada a acalmar a criança e auxiliá-la a aceitar melhor a
anestesia local e o tratamento32.
De acordo com Mantovani33 o objetivo principal do
manejo farmacológico é a tranquilização rápida, buscando a
redução dos sintomas de agitação e agressividade, sem
indução de sedação profunda ou prolongada, mantendo o
paciente tranquilo, responsivo a estímulos físicos e
comandos verbais. Assim sendo, o manejo farmacológico
do comportamento apresentado neste estudo mostrou-se
uma alternativa segura e eficaz para não somente obter-se
um resultado clínico satisfatório, como também para
promover uma assistência odontológica com segurança, sem
medo nem ansiedade.
Segundo Albuquerque et al.34, para o dentista que
trata da criança, é importante o manejo do comportamento,
pois sabe-se da dificuldade de efetuar um tratamento
eficiente, principalmente se a criança se recusa em deixar
tratar ou se a sessão é realizada em meio de lágrimas. O
profissional de Odontologia lida de forma rotineira com
pacientes vulneráveis à dor e ao medo, sendo que o
comportamento inadequado da criança atrasa e em algumas
ocasiões impede a atuação do profissional35.
No caso clínico relatado, a paciente já havia passado
por tratamento endodôntico de um dente permanente,
realizado por especialista em Endodontia, e o resultado do
tratamento não foi satisfatório em virtude do
comportamento não colaborador apresentado pela criança.
Assim sendo, o plano de tratamento foi definido tendo como
recurso auxiliar a sedação mínima com um
benzodiazepínico. Atualmente, os BZD são os
medicamentos de primeira escolha para a sedação em
Odontologia, pois apresentam eficácia clínica comprovada,
bem como relativa segurança36.
Os ansiolíticos não curam, apenas tratam os sintomas
da ansiedade, permitindo que o paciente se adapte melhor à
situação clínica, ou que esteja mais favorável às técnicas de
condicionamento psicológico. Tal efeito se relaciona
também na prevenção de situações de emergência como a
lipotimia, a síncope e síndrome de hiperventilação, as quais
apresentam uma incidência muito maior em pacientes com
ansiedade mal controlada37.
O medicamento escolhido para a sedação apresentada
neste estudo foi o midazolam, ainda pouco utilizado em
odontopediatria apesar de altamente seguro quando
administrado por via oral38-42. Esse fármaco tem rápida
absorção, ação e eliminação4,13,14. Em virtude da criança ser
obesa, optou-se por uma dose bastante segura (0,55mg/kg)
de acordo com a literatura38-42, sendo administrados 2
comprimidos de midazolam (30mg), além de suprimento de
oxigênio durante todo o procedimento de sedação, afim de
evitar queda na saturação de oxigênio no sangue, ou
complicações médicas como a depressão respiratória.
É importante citar que o paciente dever ser
monitorado pelo cirurgião-dentista/Odontopediatra, sendo
que esse controle de sinais vitais deve ser feito durante todo
o procedimento de sedação43. Alguns equipamentos devem
ser usados para monitorar o paciente, como oxímetro de
pulso para medir a saturação de oxigênio no sangue,
esfigmomanômetro e estetoscópio para verificar a pressão
sanguínea, além de termômetro para verificar a temperatura.
Ainda, sempre que possível, o estado de consciência deve
ser constantemente avaliado também através da
comunicação verbal com o paciente44. Finalmente, o
profissional precisa escolher o agente sedativo que melhor
se adequar ao paciente com base na idade, peso do paciente,
história médica e tempo necessário para o tratamento
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odontológico45.
O uso do midazolam em situações onde se necessita
de recursos adicionais para a realização de tratamento
odontológico em pacientes adultos e pediátricos com
deficiência é muito interessante, uma vez que o baixo custo
do medicamento possibilitou o atendimento de um maior
número de pacientes em uma região onde a demanda é
muito grande e os recursos insuficientes, evitando a
necessidade da realização de anestesia geral em 97,6% dos
casos analisados19. Além de efeitos ansiolíticos, sedativos e
hipnóticos, o midazolam pode produzir também efeitos
amnésicos, paradoxais, assim como amnésia anterógrada,
grande vantagem quando nos referimos ao medo e
ansiedade do paciente em relação ao tratamento
odontológico46 . No manejo das chamadas reações agudas ao
estresse, como as observadas no consultório odontológico,
benzodiazepínicos constituem o grupo farmacológico de
maior efetividade, por serem ansiolíticos eficazes e terem
larga margem de segurança. Suas propriedades sedativas,
amnésicas e relaxantes musculares centrais contribuem para
o efeito tranquilizador47. Ainda, quando utilizada com um
objetivo bem definido, a combinação de um
benzodiazepínico e um opioide é também muito racional4,8.
Procedimentos sob sedação mínima e moderada já
são uma realidade no nosso consultório privado e em
clínicas Universitárias de Odontopediatria e Odontologia
para Pacientes com necessidades Especiais, para assistência
ambulatorial de adultos com fobia, pessoas com deficiência
intelectual, além de crianças com necessidades
restauradoras em demasia ou urgências, porém não
condicionadas ao ambiente odontológico. Nestes
atendimentos, a dose do fármaco a ser administrada leva em
consideração o peso do paciente, a complexidade do
procedimento odontológico a ser realizado, bem como as
características comportamentais de cada indivíduo, uma vez
que doses padrão difundidas na literatura, ou mesmo na
bula, para uso crônico dos BZD, resultavam em nível
insuficiente de sedação para a efetiva execução de uma
Odontologia segura, mas principalmente eficiente e com
qualidade. Doses criteriosamente individualizadas já são
uma rotina clínica que possibilita a assistência odontológica
de pacientes encaminhados por colegas, os quais já
utilizaram todo seu arsenal de técnicas para manejo do
comportamento, e que recorrem à sedação medicamentosa
antes de encaminhar o paciente para a anestesia geral. Neste
ínterim, a sedação pelas diversas vias de administração
possíveis, pode ser considerada “o meio do caminho” entre
o condicionamento e a anestesia geral, e precisa ser
oferecida ao paciente como mais uma opção de tratamento,
antes do direcionamento para um procedimento invasivo, de
alto risco e alto custo como a anestesia geral48.
Neste caso apresentado, a formulação farmacêutica
escolhida foi o comprimido. Todavia, nesta formulação não
há a indicação pediátrica, pela falta de relatório de
segurança e eficácia de acordo com guia específico,
contendo os resultados de estudos clínicos de fase II e III,
requeridos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária –
ANVISA para a inclusão de nova indicação terapêutica no
país, para um medicamento novo já registrado na mesma
forma farmacêutica e mesma concentração, segundo a RDC
73/201649, mostrando a necessidade de estudos clínicos bem
controlados com esta formulação em crianças.
Na prescrição pediátrica da formulação farmacêutica
comprimidos, existiria a possibilidade de descumprimento
da prescrição no ambiente familiar, o que poderia colocar a
vida do paciente em risco. Para evitar o descumprimento, e
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possibilitar ao cirurgião-dentista o adequado controle da
dose e do momento de administração da medicação, o
medicamento deve ser oferecido ao paciente no consultório
odontológico, sob jejum de 6 a 8 horas19, o que irá reduzir o
período de latência do fármaco (o efeito terapêutico se dará
mais rapidamente), uma vez que a velocidade de
esvaziamento gástrico facilita a absorção da medicação no
intestino delgado.
As formulações farmacêuticas do midazolam solução
oral (Dormire®, Cristália) e solução injetável (Dormonid®,
Roche), que têm indicação pediátrica, com estudos clínicos
em ambientes universitários consagrados, não são de uso
doméstico, dificultando a aquisição pelo Cirurgião-Dentista,
que pode adquirir facilmente e manter em seu consultório a
formulação de comprimidos, através da notificação de
Receita B, sendo ainda esta formulação de custo
extremamente reduzido em relação às formulações não
domésticas. Justifica-se assim, o uso profissional do
comprimido de midazolam para sedação medicamentosa em
Odontopediatria, sendo imperativa a realização de estudos
clínicos utilizando esta formulação, uma vez que o princípio
ativo, o midazolam, é o mesmo nas três formulações
existentes (comprimido de 7,5 e 15 mg, solução oral a
2,0mg/ml e solução injetável a 5mg/ml ou 1mg/ml),
lembrando que os níveis de sedação (mínima, moderada ou
profunda) não dependem da via de administração, ou da
formulação farmacêutica utilizada, mas sim da dose.
O uso do midazolan é contraindicado para pacientes
com hipersensibilidade à fórmula, submetidos anteriormente
à intubação prolongada, portadores de apneia do sono,
cardiopatias congênitas, e mulheres no primeiro trimestre de
gestação, sendo que a prescrição deve ser cautelosa para
idosos, hepatopatas, lactantes, e portadores de asma19. O
midazolam, quando administrado de forma rápida (via
intravenosa), pode diminuir a resistência vascular sistêmica
e produzir hipotensão em pacientes hipovolêmicos28.
Segundo Cogo et al.26 o lorazepam é indicado para idosos,
pela menor incidência de efeitos paradoxais e por apresentar
início de ação rápido e duração curta, além de induzir
amnésia anterógrada. Quando se deseja uma sedação mais
prolongada, o diazepam é a droga de escolha. Após sofrer
biotransformação o Triazolam produz poucos metabólitos
ativos, e por isso possui curta duração de ação, sendo
considerada uma boa alternativa como medicação pré-
anestésica, embora seu uso ainda seja bastante restrito no
Brasil50. Com estas informações, ficam evidentes as razões
do midazolam ser o fármaco de escolha para sedação pela
via oral em Odontopediatria.
Este relato de caso demonstrou uma nova
possibilidade para a sedação via oral em Odontologia, com
o uso de comprimidos de midazolam via oral, técnica de
baixo custo, fácil administração, e com grande efetividade
na clínica odontopediátrica. A satisfação da própria criança
e da família com o sucesso do procedimento, que, segundo
os familiares, não seria possível sem o uso da sedação
consciente, reforça a motivação profissional em fazer uso de
recursos ainda não convencionais para controle da dor,
estresse ou ansiedade na assistência em Odontologia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo foi apresentado um procedimento de
difícil realização em crianças não adaptadas ao atendimento
odontológico, com auxílio de método farmacológico de
manejo do comportamento. Assim sendo, este e outros
relatos positivos poderiam inferir que, num futuro próximo,
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a sedação mínima a moderada com fármacos
benzodiazepínicos, pela via de administração mais adequada
para cada paciente, determinada pelo profissional, venha a
se tornar uma ferramenta indispensável no ambiente
odontológico.
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CONFLITO DE INTERESSES
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

AUTOR PARA CORRESPONDÊNCIA

Adriana de Sales Cunha-Correia

dricunhacorreia@yahoo.com.br
Submetido em 17/12/2017
Aceito em 17/01/2018

Arch Health Invest 7(1) 2018

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