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Resumo: Esta pesquisa buscou revisar a literatura acerca da sedação consciente utilizando
midazolam via oral como coadjuvante no tratamento odontológico de crianças não
cooperativas. A partir da pergunta norteadora: “O midazolam via oral é uma droga eficaz para
a sedação consciente no atendimento odontológico de crianças não cooperativas?”, foi
realizada a busca nas bases de dados PubMed e Cochrane Library, seguindo estratégia de
combinação de palavras-chave, filtrando artigos do tipo ensaio clínico, em inglês. Seis artigos
preencheram os critérios de elegibilidade. As pesquisas analisaram 403 crianças, com faixa
etária entre 2 e 10 anos. Percebeu-se substancial heterogeneidade quanto ao uso da droga,
sendo a dosagem de 0,5 mg/kg de peso corporal via oral mais frequentemente utilizada.
Houve divergência quanto a forma de avaliação do efeito da droga sedativa. Conclui-se que
apesar das divergências (relacionadas à via de administração, dosagens e associações
medicamentosas), a sedação consciente com midazolam via oral na dosagem 0,5 mg/kg de
peso corporal parece ser eficaz como recurso coadjuvante no atendimento odontológico de
crianças não cooperativas.
________________________
1
Faculdade Independente do Nordeste. solbrito15@hotmail.com;
2
Graduada em Odontologia UTP-PR (2004). Pós graduada em Radiologia e Imaginologia
Odontológica USP-SP (2006) e Odontopediatria USP-SP (2022). Mestre em Odontologia
UFMGFaculdade Independente do Nordeste. taiomaravieiramania@hotmail.com
1 Id on Line Rev. Psic. V.16, N. 59, p. 1-16, Fevereiro/2022 - Multidisciplinar. ISSN 1981-1179
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Oral Midazolam Conscious Sedation as a supporting resource
for providing dental care to uncooperative children:
An Integrative Literature Review
Abstract: This research aimed to review the literature on oral midazolam conscious sedation
as an adjunct in dental treatment of non-cooperative children. Based on the guiding question:
“Is oral midazolam an effective drug for conscious sedation in dental care of non-cooperative
children?” it was performed in search of PubMed and Cochrane Library databases, following
a strategy of combination of keywords, filtering clinical trial articles in English. Six articles
met the eligibility criteria. The surveys analyzed 403 children, aged between 2 and 10 years.
Substantial heterogeneity was noticed regarding the drug’s, and the oral dosage 0.5 mg/kg of
body weight was the most used. There was divergence regarding the way of evaluating the
effect of the sedative drug. It is concluded that, despite the differences (related to the route of
administration, dosages and drug associations), conscious sedation with oral midazolam using
a dosage of 0.5 mg / kg of body weight seems to be effective as a supporting resource in
dental care of non-cooperative children.
Introdução
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Embora a maioria dos pacientes infantis possa ser gerenciada usando métodos convencionais
de condicionamento comportamental, para alguns casos, a intervenção farmacológica pode ser
uma opção necessária (JAIN et al., 2020).
Dessa forma, a sedação medicamentosa pode ser benéfica para diminuir a ansiedade
da criança, possibilitando a condução dos procedimentos necessários da melhor maneira
(PEERBHAY; ELSHEIKHOMER, 2016). Seu objetivo é controlar atitudes negativas e fazer
com que a criança colabore com o procedimento, diminuindo a experiência negativa acerca do
tratamento dentário e aumentando o controle comportamental durante o atendimento
(BHATNAGAR; DAS; BHATNAGAR, 2012).
Existem diversas drogas sedativas que podem ser utilizadas no atendimento
odontológico de crianças não cooperativas, como o hidrato de cloral, um analgésico e sedativo
fraco com um período de eliminação em torno de 8 horas (ATTRI et al., 2017), o óxido-
nitroso, um agente analgésico/ansiolítico eficaz que causa depressão e euforia do sistema
nervoso central com pouco efeito no sistema respiratório (GALEOTTI et al., 2016) e
benzodiazepínicos e barbitúricos.
Entre os benzodiazepínicos, destaca-se o midazolam, por ter ação rápida de meia vida
curta e menor efeitos colaterais (JAIN et al., 2020). Ele é apropriado para crianças ansiosas e
com medo, devido principalmente à sua maior margem de segurança, rápida excreção,
excelentes propriedades sedativas, ansiolíticas e amnésicas (KOIRALA et al., 2006).
Esses medicamentos podem ser administrados por diversas vias, incluindo oral,
transmucosa (intranasal, bucal ou sublingual), intravenosa, intramuscular e retal (JAIN et al.,
2020). A via oral é considerada por vários cirurgiões-dentistas como o meio mais simples de
sedação, visto que, é fácil de administrar e não há necessidade de capuz nasal ou injeção
(BHATNAGAR; DAS; BHATNAGAR, 2012).
Cabe salientar que, independentemente do tipo de sedação utilizada, o risco médico de
cada paciente deve ser analisado, deve haver a compreensão sobre os efeitos
farmacodinâmicos e farmacocinéticos da medicação utilizada e, durante o tratamento
odontológico, os sinais vitais como frequência cardíaca e respiratória, pressão sanguínea,
temperatura e saturação de oxigênio devem ser monitorados. Além disso, o consultório deve
estar preparado com kit de emergência contendo máscara de oxigênio e medicamentos para
reações alérgicas (ATTRI et al., 2017).
Para uma sedação consciente ideal, o agente sedativo deve ser eficaz, ter dosagem que
não altere nem modifique os sinais vitais e permita uma rápida recuperação do paciente, com
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uma baixa prevalência de efeitos adversos, além de, quando possível, poder ser administrado
por uma via atraumática. Dessa forma, o objetivo da presente revisão foi analisar a literatura
científica acerca da sedação consciente utilizando midazolam via oral como coadjuvante no
tratamento odontológico de crianças não cooperativas.
Métodos
Fontes de informação
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Estratégia de busca dos artigos científicos
Para melhor definição dos termos de busca nas bases selecionadas, foram utilizadas
palavras-chave “Conscious sedation”, “Pediatric dentistry” e “Dental anxiety”, indexadas no
Medical Subject HeadingTerms (MeshTerms –MeSH). Cada um desses termos indexados
foram pesquisados utilizando a ferramenta “search” para verificar os termos de entrada
(termos semelhantes) a serem abarcados na pesquisa não restringindo a busca ao termo como
um tópico principal, mas também a tópicos subordinados adjacentes ao conceito, esses termos
foram unidos ao termo indexado utilizando o operador booleano “OR”.
Em seguida os resultados de cada um dos termos indexados e seus termos de entrada
foram cruzados entre si utilizando o operador booleano “AND” com a finalidade de restringir
a pesquisa aos resumos que apresentavam ao mesmo tempo cada um dos termos. Foi então
utilizado o filtro para pesquisas do tipo ensaio clínico.
Critérios de elegibilidade
Foram incluídos apenas artigos científicos de estudos do tipo ensaio clínico, por se
tratarem de pesquisas de intervenção com alto rigor metodológico. Todos os estudos
considerados relevantes de acordo com a pergunta norteadora dessa pesquisa, com
disponibilidade de acesso livre e em inglês foram avaliados. Não houve restrição em relação
ao ano de publicação e/ou local em que foi realizado, afim de ampliar a busca. Os critérios de
exclusão foram: monografias, dissertações e teses, literatura cinzenta, artigos de relato de caso
e de revisões, artigos duplicados e/ou que não se enquadrassem ao tema.
PubMed = 62
Cochrane Library = 13
(n= 75) Exclusão:
Assunto principal da pesquisa
(n=18)
População estudada –
crianças (n=3)
Artigo publicado em chinês
Artigos selecionados após leitura (n=1)
do título e resumo
(n=53)
TRIAGEM
Exclusão:
Duplicidade (n=6)
Indisponibilidade de acesso
gratuito (n=23)
Artigos selecionados após análise
de duplicidade e acesso ao texto
completo
(n=24)
ELEGIBILIDADE
Exclusão:
Extração de dados
A extração dos dados foi executada por duas revisoras, seguindo um instrumento
desenvolvido previamente, contendo os itens: identificação do artigo (autor e ano da
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publicação), título do artigo, idioma, periódico em que foi publicado, base de dados em que
estava indexado.
A análise dos dados foi realizada de forma descritiva, permitindo observar, descrever e
classificá-los, a fim de reunir o conhecimento produzido sobre o tema abordado, bem como
identificar a necessidade de investigações futuras sobre a temática.
Resultados
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Cada artigo selecionado foi analisado quanto à qualidade metodológica seguindo
orientações do Centro Cochrane (HIGGINS et al., 2019), quando aplicáveis. Uma falha
metodológica encontrada em todos os estudos foi a falta de realização de cálculo amostral
(Tabela 2).
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Tabela 3 – Análise dos estudos com relação às drogas utilizadas como recurso coadjuvante
no atendimento odontológico de crianças não cooperativas (n=6), 2020
Drogas / dose
Procediment
utilizada/via
Autor Idad o Parâmetros
de Resultados
(ano) e odontológico analisados
administraçã
realizado
o
N=40 2-10 Restaurações, Sono, choro, Os pacientes do
anos terapia pulpar movimento e grupo III
Grupo I e exodontias comportament (midazolam
(n=10): o geral foram intravenoso)
midazolam- avaliados pela apresentaram melhor
0,5 mg/kg - escala Houpt. comportamento em
oral relação aos demais
Questionário grupos (p< 0,001).
Grupo II de
(n=10): comportament O comportamento
diazepam- 0,5 o infantil de dos pacientes do
Tyagi et
mg/kg - oral Camm. Grupo I (midazolam
al.
oral) foi
(2013)
Grupo III significativamente
(n=10): melhor do que os
midazolam- pacientes do Grupo
0,06 mg/kg - II (diazepam oral)
intravenoso (p<0.001).
Grupo IV O grupo IV
(n=10): (placebo) apresentou
placebo –oral maior
comportamento
negativo (p<0,0027).
N=60 3-9 Restaurações, Nível de O tramadol
anos terapia pulpar sedação: apresentou melhor
Grupo I e exodontias avaliado pelos resultado quanto à
(n=15): cirurgiões- média de nível de
midazolam- dentistas e sedação (p<0,001).
0,5 mg/kg - supervisores
oral com base em O midazolan
Bhatnaga uma escala de apresentou melhor
r et al. Grupo II classificação resultado quanto a
(2012) (n=15): composta por facilidade de
tramadol -2 uma escala conclusão do
mg/kg - oral variando de 1 a tratamento (p=0,001)
8.
Grupo III Facilidade para Para os autores o
(n=15): conclusão do midazolam é a
triclofos- 70 tratamento: melhor droga para
mg/kg- oral avaliada pelos produzir sedação
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cirurgiões- consciente seguido
Grupo dentistas por tramadol e
IV(n=15): composta por triclofos, enquanto o
zolpidem - 0,4 uma escala zolpidem não foi
mg/kg –oral variando de 0 a capaz de produzir
3. nível suficiente de
sedação.
Se a ketamina não
puder ser usada,
midazolam+tramado
l podem ser usados,
e se apenas um
agente for permitido,
midazolam é a
melhor escolha.
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ketamina- 5 a escala cardíaca (p<0,05)
mg/kg - oral modificada de significativamente
Houpt. maiores do que as do
Grupo Grupo II.
II(n=50): Nível de Imediatamente antes
trimeprazina- sedação do procedimento
3 mg/kg + odontológico, 46%
metadona- 0,2 As crianças das crianças do
mg/kg - oral foram Grupo I estavam
avaliadas por dormindo em
pelo menos 2 comparação com 8%
horas de pós- do Grupo II
operatório (p<0,05).
usando um
sistema de Na sala de
pontuação recuperação mais
simplificado crianças no Grupo I
desenvolvido estavam totalmente
por Steward. acordadas, tossindo,
chorando e se
movendo
voluntariamente
(p<0,05).
N=23 3-10 Duas sessões Escala de Os pacientes ficaram
anos para classificação mais ansiosos ao
Grupo I tratamento de receber midazolam
(n=23): odontológico comportament em comparação aos
midazolam- cirúrgico não o infantil de que receberam
0,6 mg/kg - específico Frankl hidrato de cloral
oral com (p<0,02).
necessidade
Grupo II de anestesia Os pacientes que
(n=23): local receberam
Haas et hidrato de midazolam tiveram
al. cloral - 50 um nível mais
(1996) mg/kg - oral elevado de sedação
antes da
administração do
anestésico local
(p<0,015).
O comportamento
geral não apresentou
diferença
estatísticamente
significativa.
Fonte: dados da pesquisa.
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Apesar da divergência na forma de avaliação do efeito da medicação como droga
sedativa no atendimento odontológico de crianças, observa-se que o midazolam oral,
independentemente da concentração utilizada, quando comparado aos demais medicamentos,
apresentou resultados significativamente melhores em todos os estudos.
Discussão
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Conclusões
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