Você está na página 1de 9

1

PSICOLOGIA APLICADA À ODONTOPEDIATRIA


Revisão de Estudos

Adinei de Oliveira Brizola


Autor
adineib@gmail.com

Prof. Carine Metz

RESUMO: Este artigo apresenta relatos de estudos relacionados a psicologia aplicada à odontopediatria. Em maio
de 2022 foram realizados estudos na clínica UNIFACIG, onde 90% dos entrevistados não sabiam qual era a idade
ideal para a primeira consulta com a odontopediatra (MACHADO, 2022), parte deste resultado está relacionado
ao fato da criança enfrentar situações que lhe pareçam ameaçadoras, como em um ambiente odontológico com a
manipulação de tantos equipamentos e barulhos que provocam reações do medo. Este artigo teve como base vários
estudos e artigos que retratam este comportamento. A habilidade do profissional em saber interagir com o paciente
em circunstâncias de medo ou desconforto, contribui muito para a redução das reações incômodas provocadas no
paciente involuntariamente, isto faz do profissional da psicologia um aliado de extrema importância nesta relação
bem como conhecer os receios do paciente. Cabe ao profissional envolvido conhecer as origens do comportamento
da criança. Segundo Balsanello (1989, p.146), os medos e o comportamento da criança podem ter origem em vários
fatores tanto no comportamento dos pais como em situações vividas ou até mesmo pelo desconhecimento do
processo a ser vivido, o que abordaremos com mais detalhes no decorrer deste artigo.

Palavras-chave: Medo na Odontopediatria. Comportamento. Psicologia na odontologia.

ABSTRACT: This article presents reports of studies related to psychology applied to pediatric dentistry. In May
2022, studies were carried out at the UNIFACIG clinic, where 90% of respondents did not know the ideal age for
the first consultation with the pediatric dentist (MACHADO, 2022), part of this result is related to the fact that the
child faces situations that seem threatening, as in a dental environment with the manipulation of so many
equipment and noises that provoke reactions of fear. This article was based on several studies and articles that
portray this behavior. The professional's ability to know how to interact with the patient in circumstances of fear
or discomfort, contributes greatly to reducing the uncomfortable reactions provoked in the patient involuntarily,
this makes the psychology professional an extremely important ally in this relationship, as well as knowing the
patient's fears. It is up to the professional involved to know the origins of the child's behavior. According to
Balsanello (1989, p.146), the child's fears and behavior can originate from several factors, both in the behavior of
the parents and in situations experienced or even by ignorance of the process to be experienced, which we will
discuss in more detail in the next section course of this article.

Keywords: Fear in Pediatric Dentistry. Behavior. Psychology in dentistry.

1 INTRODUÇÃO
2

Tanto crianças, quanto adultos apresentam resistência ao ambiente odontológico. O


presente artigo visa destacar o comportamento da criança em relação ao profissional (dentista)
ou ao ambiente odontológico, tendo o “medo”, como principal fator de análise, bem como
possíveis causas apontadas pela psicologia.
Independente da faixa etária ou nível social, a saúde bucal é extremante necessária,
porém a população de modo geral evita frequentar ao consultório odontológico devido ao medo
ou outros fatores, como: custos ou crenças que o levam a colocar isto como secundário.
Segundo pesquisa realizada pelo IBGE em 4 de setembro de 2020, cerca de 49,4% da
população, não foi ao dentista nos últimos 12 meses que antecedeu a pesquisa segundo relatos
da revista TERRA. (IBGE, 2020 apud Terra, 2020)
A revista Diálogos em Saúde aborta este assunto e considera o medo, uma barreira em
tratamentos na odontopediatria. (Costa et al 2020)
Apesar de todos os avanços tecnológicos vividos até o século XXI, muitas crianças
permanecem com o mesmo comportamento de sentimento negativo ao tratamento
odontológico. Essa aversão das crianças ao dentista pode ser relacionada com alguns
fatores, como: experiências antigas da própria criança; barulho da broca; familiares
depositando comentários negativos sobre os tratamentos, gerando insegurança e medo
na criança; até a relação e o modo que o profissional recebe a criança no consultório.
(GÓES et al., 2010 aput COSTA et al, p. 26, 2020)

Segundo Bolsanello (1989), devido a incapacidade dos pais em exercer autoridade e


obediência, optam por aplicar ameaças afim de acalmarem as crianças, contribuindo assim com
as reações traumáticas do medo. O medo não vem sozinho, traz consequências, portanto
considera-se um assunto importante a ser abordado na odontopediatria.

2 DESENVOLVIMENTO

O presente artigo tem por objetivo analisar os estudos, relatos, artigos e obras escritas
por profissionais da psicologia e odontopediatria que avaliam o comportamento da criança
frente a situações que provocam reações do medo no ambiente odontológico. Os estudos e
relatos trazem clareza sobre causas e reações no comportamento bem com a importância da
presença da psicologia em interagir nesta área visando amenizar o desconforto do paciente.
3

Portanto vale ressaltar que se trata de conteúdos científicos, composto por pesquisas e
análises clínicas de profissionais qualificados e de vivência na área.
“Sabemos que a criança possui um comportamento moldável e muito sugestionável,
portanto aprende com facilidade o que vê e escuta. [...] Conclui-se que o medo pode ser
ensinado à criança.” (BOLSANELLO, 1989, P.147, tradução nossa)
Profissionais de saúde que atendem crianças e que possuem dificuldades em identificar
a diferença entre comportamentos voluntários de submissão ou de colaboração ao tratamento,
podem estar contribuindo para que a criança adquira e mantenha comportamentos relacionados
aos procedimentos odontológicos fazendo com que o profissional adote estratégias coercitivas
para obtenção do controle comportamental da criança. (FENTON, 2001; HORBELT, 2001 aput
JINIOR, 2002).
Vale ressaltar que há uma preocupação do profissional da saúde bucal voltado para o
comportamento ou manifesto das reações do medo no ambiente odontológico, com o objetivo
te tornar agradável e menos doloroso os procedimentos. Os artigos de pesquisa científica e
outras literaturas demonstram este interesse, portanto vê-se a necessidade de analisar este
contexto para melhor compreensão deste quadro.
Segundo os autores, o medo é tratável e há várias técnicas utilizadas atualmente na
odontopediatria.
Para Fiori (1999, p.11), “...o medo mais comum associado à situação odontológica são
os medos da dor, da alta rotação e da anestesia.”

2.1 ODONTOPEDIATRIA E O MEDO

Segundo Lima (2022), a odontopediatria é a área responsável pela saúde bucal das
crianças, do nascimento até a adolescência, portanto qualquer experiência negativa em
consultório odontológico neste período, pode traumatizar a criança para o resto da vida. A falta
de cuidados nos primeiros anos de vida, pode ser um problema causado pela falta de prevenção.
Desta forma a odontopediatra tem um papel importante em relação as instruções e os
cuidados necessários com os dentes das crianças estreitando os laços entre paciente e
profissional.

2.2 COMPORTAMENTO DA CRIANÇA EM RELAÇÃO AO MEDO


4

Crianças são um espelho de quem está em sua presença, porém possuem um


comportamento moldável, imita o adulto e passa a temer o que antes não temia, chamado de
medo intimidativo, porém a medida em que vai recebendo instruções este medo vai se
desfazendo. O medo pode ser orgânico, psíquico ou intelectual ou os três combinados, ou seja,
uma reação de avaliação de causa e efeito dos fenômenos. Auxilia na superação de dificuldades,
porém quando os limites são ultrapassados passa a ser um inimigo, capaz de torturar e destruir
a pessoa. (BOLSANELLO, 1989, p. 147)
Percebe-se nos artigos utilizados neste estudo, que as crianças assumem
comportamentos diferente dependendo da fonte que originou o medo ou de acordo com as ações
tomadas durante as ocorrências.
Por consequência do medo, as crianças criam estímulos e assim não aceitam realizar
os procedimentos, podendo ter situações de choro, grito ou até mesmo de movimentos
e tentativas de sair da cadeira odontóloga. Não só o ambiente colabora para isso, mas
também os instrumentos utilizados, como o barulho da broca, mesmo com mudanças
na sua rotação, geram repercuções negativas, atrapalhando assim no proceder do
tratamento odontológico. (BRANDENBURG; HAYDU, 2009 aput COSTA et al,
2020, p. 27,)

2.2.1 Reações do medo

As reações ao medo podem ser diversas, podendo ser manifesta de acordo com sua
origem, ao observarmos exemplos de algumas situações, percebe-se com facilidade as reações
relacionadas ao medo. Para Bolsanello (1989, p.146), se acriança for mordida por um cão ela
tende a generalizar esta agressão e passa a evitar todos os cães. Alguns aspectos funcionais do
organismo sofrem reações, por exemplo: coração bate mais de pressa, o ritmo respiratório fica
mais intenso, os músculos se contraem, o rosto empalidece, caracterizando reações do medo.
Em outro momento choram diante de um desconhecido, fogem de animais, gritam quando
alguém os surpreende, isto acontece porque a criança se encontra em situação semelhante às
que lhe proporcionaram perigo anteriormente.
Outro fator é o posicionamento da criança diante do desconhecido. Quanto menos
conhecimento a criança possuir frente ao desconhecido, maior será seu medo, porém à medida
que ela for aprendendo, for adquirindo conhecimento ou recebendo informações, seus medos
vão diminuindo.
5

Entre os 2 e 5 anos é o período em que o adulto mais cultiva o medo na criança, pois
este é o período em que a fantasia se desenvolve. A criança tem o poder de transformar imagens
em elementos fantasiosos.
Outras características de comportamento podem interferir diretamente no atendimento
odontológico, como: superproteção com indulgência e superproteção com dominação. Tais
reações levam à necessidade de uso de técnica de manejos comportamental na odontopediatria.
(KLATCHOIAN, 2002 aput TOVO, 2016; FACCIN, 2016; VIVIAN 2016, p. 77)

2.3 A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA NA ODONTOPEDIATRIA

O medo de dentista e seus efeitos comportamentais relacionados ao tratamento


odontológico, são temas que tem sido referenciado na literatura desde 1981. (TOWNEND,
DIMIGEN e FUNG, 2000 aput JUNIOR, 2002, p. 2)
De acordo com Taylor (1999 aput JUNIOR, 2002, p. 2), tem aumentado o interesse dos
profissionais por tecnologias psicológicas que pretendem proporcionar melhorias nas ações que
envolvem os tratamentos e procedimentos odontológicos, estes procedimentos visam aliviar a
dor ou reduzir o medo, com propósito de melhorar a convivência de crianças e adultos no que
diz respeito ao tratamento de saúde.
Para Bolsanello (1989, p. 147), o medo pode tornar-se patológico, quando se percebe
sua intensidade por tempo prolongado. Na maioria das vezes sua causa é a insegurança e a
ansiedade presente em crianças que vivem em situações de superproteção ou ameaça constante.
Estas situações e outras relatadas pelos autores, justificam a importância da psicologia
na odontopediatria.

2.4 MÉTODOS UTILIZADOS PELA PSICOLOGIA NA ODONTOPEDIATRIA

As técnicas de controle de comportamento, exceto as que usam pré-medicação, têm


como objetivos: estabelecer uma boa comunicação com a criança; educar e orientar para que o
mesmo coopere durante o tratamento, desta forma construindo uma relação de confiança, com
objetivo de prevenir e aliviar o medo e a ansiedade da criança (KLATCHOIAN 1998 aput
OLIVEIRA 2002, p. 20). Segundo Oliveira (2002, p. 20) “incluindo: idade da criança, tipo de
comportamento, ansiedade apresentada, variedade de personalidade, atitude dos pais em relação
às técnicas de manejo do comportamento, tratamento dentário a ser realizado e implicações
legais”.
6

Esta abordagem deve ser conduzida de forma correta, aproximando os ambientes,


infantil e odontológico, usando uma linguagem de acordo com cada faixa etária.
“É importante também que o odontopediatra pense no todo, como a estrutura do
consultório, para que consiga chamar a atenção do paciente infantil, portanto, é necessário
investir em uma estrutura criativa”. (COSTA et al, 2020, p. 28,)

2.4.1 Principais técnicas segundo Oliveira (2002):

As técnicas a serem utilizadas devem ser esclarecidas aos responsáveis através de


diálogo, desta forma se estabelecendo um vínculo entre o paciente e o profissional, bem como
seus responsáveis, gerando maior proximidade.
a) Dizer, mostrar e fazer, esta é uma forma de apresentar a criança, ao ambiente e as
pessoas, para que se sinta mais segura em um ambiente familiar;
b) Controlar a voz, um modo de manter o controle, modular o volume, o tom da voz,
atraindo a atenção da criança;
c) Distração (histórias, filmes, desenhos...), uma forma de conduzir a criança a uma
cooperação mais duradoura, quando há processos mais longos;
d) Sugestão ou modelo, trata-se de um método de observação de outra criança em
tratamento;
e) Reforço positivo, elogiar e valorizar a criança durante o procedimento;
f) Recompensa após o tratamento, este método reforça a ideia de este lugar é agradável
e foi uma boa experiência, ou seja, entregar um presente, nunca oferecido antes,
não como suborno, mas após o procedimento caso a mesma colabore.

3 CONCLUSÃO

Observou-se que há diferentes tipos de comportamento e suas origens também são


variadas, o que exige um conhecimento aprofundado por parte do profissional bem como dos
responsáveis. Percebe-se que devido a variedade de situações geradoras do medo que de alguma
forma levam a criança a reações involuntárias conforme relatos apresentados pelos autores, não
7

basta somente o conhecimento de comportamentos e suas origens por parte dos profissionais,
mas também dos responsáveis pela criança.
A introdução da psicologia no ambiente da saúde, neste caso na odontopediatria passa
a ter um papel importante e indispensável não somente para condução do paciente ao tratamento
bem como preparar o profissional para esta relação entre o paciente e o tratamento de acordo
com o que foi observado no decorrer deste trabalho.
Conclui-se que, há uma necessidade de investir em algum tipo de ferramenta ou
método científico que auxilie o profissional nesta relação e que seja útil aos responsáveis como
método educativo. Deve-se fazer o possível para eliminar o medo. “O medo deve ser usado
como fonte de respeito e de estima e NÃO como fonte de desassossego e de inquietação”.
(BALSANELLO, 1989, p. 148,)
8

REFERÊNCIAS

BALSANELLO, Aurélio; BALSANELLO, Maria Augusta. Meu filho é medroso


CONSELHOS - Análise do comportamento humano em psicologia. 16ª ed. Curitiba:
Educacional Brasileira S.A, p. 146-148, 1989.

COSTA, Iasmin Layane Cardoso, et al. Medo infantil frente ao tratamento odontológico: Uma
revisão da literatura, Revista diálogos em saúde, v3, n.2, p. 26-28., Dez 2020.
Disponível em:
<https://periodicos.iesp.edu.br/index.php/dialogosemsaude/article/viewFile/387/300#:~:text=
Essa%20avers%C3%A3o%20das%20crian%C3%A7as%20ao,profissional%20recebe%20a%
20crian%C3%A7a%20no>. Acesso em:17 Nov. 2022.

FIORI, Meigue Rakel. Estudo sobre o medo e a ansiedade no tratamento odontológico: Curso
especialização em odontopediatria, Universidade federal de Santa Catarina, Centro de
ciências da saúde, Departamento de estomatologia. Florianópolis, p. 11, 1999. Disponível
em: <http://tcc.bu.ufsc.br/Espodonto205448.PDF>. Acesso em 15 Nov. 2022.

JUNIOR, Áderson Luiz Costa. Psicologia aplicada à odontopediatria: Uma introdução,


Estudos e pesquisas em Psicologia, v2, n.2, p. 2, Out 2002. Disponível em: <https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/7760/5608>. Acesso em 15 Nov. 2022.

LIMA, Anna Letícia Xavier. Atuação da odontopediatria no tratamento oncológico, Casa


Durval Paiva, 17 Mai 2020. Disponível em:
<https://casadurvalpaiva.org.br/artigos/430/atuacao-do-odontopediatra-no-tratamento-
oncologico>. Acesso em 16 Nov. 2022.

MACHADO, Mateus Henrique Arruda da Silva. Percepção dos responsáveis pelos


tratamentos odontológicos realizados na clínica de odontopediatria da UNIFACIG: estudo
piloto, Repositório de trabalhos de conclusão, p. 1, 9, 2022. Disponível em:
<http://www.pensaracademico.unifacig.edu.br/index.php/repositoriotcc/article/view/3647>.
Acesso em: 16 Nov. 2022.

OLIVEIRA, Antonina Valéria de Melo. O uso das novas tecnologias de informação e


comunicação (NTIC) para o ensino continuado da disciplina de odontopediatria, Repositório
Institucional UFSC, p. 20, 2002. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/82601?show=full>. Acesso em: 16 Nov.
2022.

TOVO, Maximiano Ferreira; FACCIN Elise Sasso; VIVIAN Aline Groff. Psicologia e
Odontopediatria: Contextualização da interdisciplinaridade no Brasil, Periódicos eletrônicos
em Psicologia, Aletheia vol.49, n.2, p. 77, Jul./Dez. 2016. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1413-03942016000200009>.
Acesso em: 17 Nov. 2022.
9

METADE da população não vai ao dentista. 25 Set 2020 - 10h 00 Disponível em:
<https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/saude/saude-bucal/atualidades/metade-da-populacao-
nao-vai-ao-dentista-quando-devo-ir,05d689872639b82c2d36e41695888f11gzzqprfm.html>.
Acesso em: 15 Nov. 2022.

Você também pode gostar