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PSICOLOGIA

SOCIAL II

Mª Matilde Silva

ISPA | 2021/2022
1

Influência Social ........................................................................................................................... 2


Processos de Influência social ................................................................................................. 3
Conformismo ........................................................................................................................... 8
Obediencia e Dinâmicas Grupais ........................................................................................... 19
Obediência ............................................................................................................................. 24
Normas sociais ....................................................................................................................... 32
Normalização ......................................................................................................................... 36
O “Bystander Effect”.............................................................................................................. 42
Inovação ................................................................................................................................. 46
Desviaccionismo .................................................................................................................... 55
Relações Intergrupais ................................................................................................................ 58
O paradigma dos “grupos mínimos” ..................................................................................... 61
Escolas de Bristol e de Genebra ............................................................................................ 67
Preconceito, conflito E agressão INTERGRUPAL ................................................................... 72
A “caverna dos ladrões” ........................................................................................................ 78
Identidade social .................................................................................................................... 86
O “efeito da ovelha negra” .................................................................................................... 94
NOvas formas de Racismo ................................................................................................... 106
Fenómenos interpessoais ........................................................................................................ 114
Atração interpessoal ............................................................................................................ 114
Atração Interpessoal ............................................................................................................ 129
Crença no mundo justo e vitimização secundária .................................................................. 140
Revisão ..................................................................................................................................... 150
Influencia Social ................................................................................................................... 150
Relações intergrupais .......................................................................................................... 151
Fenómenos interpessoais .................................................................................................... 153
Crença no mundo justo ....................................................................................................... 153
Fichas ....................................................................................................................................... 154
Exame ....................................................................................................................................... 158

Mª Matilde Silva | ISPA


2

INFLUÊNCIA SOCIAL
AULA TEÓRICA 2

A influencia social ocorre quando...

“... AS AÇÕES DE UMA PESSOA SÃO CONDIÇÃO PARA AS AÇÕES DE OUTRA.”

(SECORD & BACKMAN, 1964, P. 59)

A PRESENÇA DE OUTROS influencia o comportamento de um indivíduo e este fenómeno é


profundo em problemas de imitação, conformismo, competição, ajuda e agressão. Esta presença
de outrem N Ã O É N E C E S S A R I A ME N T E R E A L ! Pode ser IMPLÍCITA, IMAGINADA ou ANTECIPADA. É
condição NECESSÁRIA e SUFICIENTE para alterar o comportamento.

Comportamento
Comportamento
do sujeito
do sujeito foi
MODIFIOU-SE
INFLUENCIADO
na PRESENÇA
SOCIALMENTE
DE OUTREM

DEFINIÇÃO

“ALGUÉM É INFLUENCIADO SOCIALMENTE QUANDO O SEU


COMPORTAMENTO 1 SE ALTERA NA PRESENÇA REAL OU
IMAGINADA DE OUTREM.”2

Neste sentido, a influencia social não se trata, necessariamente, de influência de grupo, pois
muitos dos sujeitos que integraram as experiências não funcionaram como tal – ainda que seja
um fenómeno importante no funcionamento de grupos 3 . Não obstante, é uma componente
extremamente importante e frequente da/na nossa vida quotidiana!
A investigação no âmbito da influência social não tem incidido tanto sobre a definição deste
conceito, os processos psicológicos que lhe são inerentes e os fenómenos que podem ser
explicados recorrendo ao mesmo, mas antes sobre as possíveis explicações para o que ocorreu
e ocorre nos diversos paradigmas experimentais que lhe deram origem e as suas replicações.

1 O comportamento deve ser entendido no seu SENTIDO LATO, referindo-se a ATITUDES, OPINIÕES, CRENÇAS, etc.
2 (Garcia-Marques, Ferreira & Garrido, 2017, p. 246)
3 Nota: contudo, é quase certo que o grupo pode contribuir em muito para a estabilidade das crenças individuais.

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3

PROCESSOS DE INFLUÊNCIA SOCIAL

RELAÇÃO EMISSOR-RECETOR

PROCESSO DE INFLUÊNCIA SOCIAL NA À RELAÇÃO EMISSOR-RECETOR PODE SER:

ÓBVIOS EXPLÍCITOS INTENCIONAIS

INCONSCIENTES SUBTIS NÃO INTENCIONAIS


Tanto o recetor pode estar ativamente a ser influenciado, como o emissor pode estar
intencionalmente a querer influenciar. Um exemplo de um recetor que está óbvia e
explicitamente a ser influenciado, é aquele que se enquadrava como conformista na experiência
de Asch (mais à frente). Enquanto há pessoas que conseguem ter noção de que o seu
comportamento está a ser socialmente influenciado, outras podem não ter. O mesmo acontece
com o emissor, que pode não querer influenciar o recetor, mas fazê-lo não intencionalmente.

Quando a influencia social ocorre inconsciente, subtil e não intencional mente (i.e., quando o
emissor não tem intenção e o recetor não tem consciência), denominamos de INFLUÊNCIA SOCIAL
INCIDENTAL. Um processo típico de influência social incidental é a FACILITAÇÃO SOCIAL.

FACILITAÇÃO SOCIAL
A P R E S E N Ç A D E O U T R O S ME L H O R A O D E S E MP E N H O D A S P E S S O A S N U MA T A R E F A

Fenómeno primeiramente observado por Norman Triplett em 1898. Este reparou que os
ciclistas quando iam sozinhos pedalavam mais devagar do que quando iam acompanhados.
Tendo verificado isto, Triplett questionou se a presença de outros tem um efeito benéfico geral
no desempenho. Para descobrir isto levou a cabo uma experiência onde pediu a crianças que
enrolassem linhas de pesca em carretes o mais rapidamente possível, com e sem outros
presentes. Verificou que a velocidade (desempenho) das crianças era positivamente afetada pela
presença de outras crianças, ou seja, o desempenho das crianças melhorou na presença de
outros. Concluiu que A PRESENÇA DE CO-ATORES TEM UM EFEITO BENÉFICO NO DESEMPENHO
MOTRIZ DAS PESSOAS e que isto está relacionado com a COMPONENTE COMPETITIVA.

Social Facilitation

An increase in the likelihood of highly accessible


responses, and a decrease in the likelihood of less
accessible responses, due to the presence of others.

REPLICAÇÕES DO EFEITO

Floyd Henery Allport, em 1924, replicou o efeito junto de estudantes de Harvard, usando
tarefas diversas como riscar vogais de um texto, multiplicar números com dois algarismos,
associar palavras em cadeia e designou-o de FACILITAÇÃO SOCIAL. Fê-lo com o objetivo de separar
o conceito de competição social de Triplett, da facilitação social.

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A FACILITAÇÃO SOCIAL DÁ-SE POR 2 EFEITOS

EFEITO DE AUDIÊNCIA EFEITO DE COAÇÃO

O desempenho em tarefas realizadas na O desempenho de um dado sujeito numa


presença de ESPECTADORES (sujeitos determinada tarefa aumenta quando este a
passivos) é superior ao desempenho em realiza na presença de alguém que se
tarefas realizadas individualmente (sem encontra a efetuar uma tarefa igual
espectadores) (e.g., Travis, 1925). Por (COAUTOR), mesmo estando cada um em
exemplo, estudar num café, onde há outros situação individual.Por exemplo, estudar
sujeitos presentes que não estão a estudar. numa biblioteca versus estudar sozinho.

Em suma, a mera presença dos outros, em situação de observador ou coator, tem um efeito
benéfico, i.e. pode melhorar o nosso desempenho numa variedade de tarefas/atividades simples,
desde correr até à resolução de problemas aritméticos simples (e.g., Aiello & Douthitt, 2001;
Grant & Dajee, 2003; Guerin, 1986).

MA S S E R Ã O O S E F E I T O S D E A U D I Ê N C I A E D E C O A Ç Ã O ( P R E S E N Ç A D E O U T R O S ) S E MP R E
BENÉFICOS/ÚTEIS?

NÃO. ASK PESSIN (1993):

INIBIÇÃO SOCIAL

A mera presença dos outros pode piorar (dificultar) o nosso desempenho em várias atividades
(Zajonc, 1965), quer como audiência, quer como coatores sem interação direta. Em muitas
tarefas difíceis e complicadas, de labirintos, a problemas matemáticos a um serviço de ténis
recentemente aprendido, o nosso desempenho muitas vezes declina quando outros estão
presentes.

C O MO É Q U E A P R E S E N Ç A D E O U T R O S P O D E T A N T O A J U D A R C O MO P I O R A R A N O S S A
P E R F O R MA N C E ? C O MO E X P L I C A MO S A P O S S I B I L I D A D E D E S T E S 2 P R O C E S S O S O P O S T O S ?

A EXPLICAÇÃO DE ZAJONC Presença de outros

Em 1965, Zajonc apresenta uma explicação


para esta aparente contradição, i.e., para a
existência destes dois efeitos aparentemente
contraditórios da presença de outros, com base Ativação Fisiológica

na ativação fisiológica (AROUSAL).

Assim, de acordo com Zajonc, a facilitação ou


Tarefa percecionada Tarefa percecionada
inibição social ocorre porque a presença de outros como acessível como complexa

aumenta o nível de ativação fisiológica de um Resposta dominante Resposta dominante


correta incorreta
indivíduo (i.e., ativa-o fisiologicamente). O
aumento do nível de ativação fisiológica, por sua
vez, torna alguns comportamentos mais fáceis e A ativação
A ativação fisiológica
fisiológica melhora
outros mais difíceis – melhorando ou piorando o o desempenho
piora o desempenho

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desempenho. O efeito desta ativação fisiológica no desempenho depende da complexidade ou


acessibilidade da tarefa.

Segundo Zajonc, a presença de outras pessoas aumenta a probabilidade de as pessoas


responderem consoante a sua RESPOSTA DOMINANTE (essencialmente, a nossa resposta
"padrão": o tipo de ação que ocorre mais naturalmente para nós nessa situação; resposta mais
acessível). Para tarefas simples, é provável que a resposta dominante seja eficaz, ou correta, de
modo que a facilitação social ocorrerá. No entanto, para tarefas complexas ou desconhecidas, é
menos provável que a resposta dominante leve a uma resposta correta e, portanto, a presença
de outras pessoas inibirá nosso desempenho na tarefa. Essencialmente, quando estamos a fazer
algo em que já somos bons, a facilitação social ocorrerá e a presença de outras pessoas tornará
o nosso desempenho ainda melhor. No entanto, para tarefas novas ou difíceis, é menos provável
que a façamos bem se houver outras pessoas por perto.

Em suma:

TAREFA PERCECIONADA COMO TAREFA PERCECIONADA COMO


ACESSÍVEL COMPLEXA

· Tarefas simples, bem-aprendidas e · Tarefas nova.


altamente praticadas. · A ativação fisiológica piora o desempenho
· A ativação fisiológica melhora o · Neste caso, no início da aprendizagem,
desempenho. ainda não se dominam bem as respostas
· Neste caso há bom domínio das respostas certas. Assim, a resposta dominante é
certas. Assim, a resposta dominante é incorreta o que, por sua vez, piora o
correta o que, por sua vez, melhora o desempenho e leva a que haja inibição
desempenho e, por isso, há facilitação social.
social. · Ativação fisiológica (devido à presença de
· Ativação fisiológica (devido à presença de outros) tem um efeito negativo quando
outros) tem um efeito positivo quando já ainda não se dominam bem as respostas
há bom domínio das respostas certas. certas.

PORQUE É QUE A PRESENÇA DOS OUTROS CONDUZ À ATIVAÇÃO FISIOLÓGICA?


Zajonc (1965) acreditava que tanto os seres humanos, como outros animais, tinham uma
tendência inata para serem fisiologicamente ativados por outros membros das suas espécies. Isto
no entanto, não explica o porquê de existir esta tendência inata nem especifica o quê que pode
alterar os níveis da ativação fisiológica. Para tal, existem DUAS CAUSAS/EXPLICAÇÕES:

APREENSÃO QUANTO À AVALIAÇÃO


D O S O U T R O S R E L A T I V A ME N T E A O N O S S O D E S E MP E N H O

Quando nos concentramos no que as outras pessoas pensam sobre nós, isso provoca ativação
fisiológica, com efeitos por vezes positivos e por vezes negativos no desempenho. Na maioria das
vezes, queremos que outras pessoas nos valorizem, incluam, e gostem de nós. Na verdade, a
nossa autoestima é grandemente afetada pelo que os outros pensam de nós. Por estas razões,
podemos preocupar-nos se os espectadores nos estão a julgar de alguma forma. Isto porque,

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com a experiência social, aprendemos que os espectadores não são neutros e que nos avaliam
constantemente (Cottrell, 1968).

A presença de outros que estão em posição de nos julgar produz apreensão de avaliação, o
que muda o nosso desempenho. Essa apreensão pode melhorar o desempenho em aspetos
simples de uma tarefa e inibi-la em aspetos complexos da mesma tarefa (ver exemplo abaixo).
Não é de admirar que se nós esperamos ter sucesso numa tarefa (porque é fácil, ou porque
envolve uma resposta acessível, ou porque fomos sucedidos nesta tarefa no passado) nós iremos
ter um melhor desempenho quando somos observados, enquanto o oposto é verdade se
esperarmos falhar.

Exemplo:

Bartis, Szymanski, & Harkins (1988) pediram a grupos de participantes para listar vários possíveis usos para uma faca. A uns
participantes foi pedido que listassem o máximo de usos possível (tarefa simples), a outros que listassem os usos mais criativos
possíveis (tarefa complexa). Ainda, dentro de cada grupo, uns participantes achavam que iam ser avaliados individualmente pelo
experimentador, e outros achavam que as suas respostas iriam para uma lista comum (i.e., que não iam ser avaliados individualmente.
Os resultados demostraram que a possibilidade de serem avaliados aumentou o output nas tarefas simples, mas diminuiu o output
das tarefas intelectualmente mais difíceis, mais uma vez demostrando as conclusões acima descritas.

DISTRAÇÃO
GERADA PELA PRESENÇA DOS OUTROS

Outras pessoas podem afetar o nosso desempenho não apenas quando nos observam e
avaliam, mas também quando nos distraem. A sua mera presença constitui uma distração na
medida em que nos leva a pensar acerca deles, a reagir-lhes ou a monitorizar o que eles estão a
fazer levando ao desvio ou redução da atenção prestada à tarefa que temos entre mãos.

Os nossos impulsos para fazer duas coisas diferentes ao mesmo tempo – concentramo-nos na
tarefa e reagirmos aos outros –, começam a entrar em conflito um com o outro, ficamos agitados
e aroused. Esta ativação, tal como a causada pela apreensão quanto à avaliação, vai normalmente
melhorar o nosso desempenho em tarefas simples, e piorá-lo em tarefas difíceis.

A necessidade de dividir a atenção entre as outras pessoas e a tarefa que estamos a realizar
faz com que o nosso feixe de atenção reduza (i.e., scope of attention narrowes). No entanto, se
limita a atenção, seria de esperar que a distração melhore o nosso desempenho em tarefas
difíceis que requeiram selecionar uma pista relevante para a tarefa entre outras que são
irrelevantes (ver exemplo abaixo). Neste sentido, em alguns casos, a presença dos outros pode
melhorar o nosso desempenho em tarefas difíceis.

Exemplo:

Huguet e colegas (1999) testaram esta hipótese e descobriram que os participantes que eram distraídos por outras pessoas (para
descartar a hipótese de apreensão quanto à avaliação, estas pessoas não conseguiam ver o desempenho do participante,), tinham
melhor desempenho que os participantes que faziam a mesma tarefa sozinhos.

EM SUMA:
A presença de outros pode conduzir à ativação fisiológica tanto por apreensão quanto à
avaliação, como por distração. A ativação fisiológica aumenta a probabilidade das pessoas
acederam às respostas dominantes. Com uma tarefa simples ou bem aprendida, as respostas

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dominantes tendem a ser corretas e a ativação melhora o desempenho na tarefa. Já com tarefas
complexas ou nocas, as respostas dominantes não serão as mais corretas, e a ativação social
prejudicará o desempenho na tarefa. A ativação fisiológica pode ainda estreitar o foco atencional.
Neste caso, se a tarefa exigir que se selecionem pistas relevantes de entre outras irrelevantes
então o desempenho pode melhorar.

ABORDAGEM CONTINGENCIAL

A presença de outrem pode melhorar o desempenho de um determinado indivíduo e piorar


o de outro que se encontre a realizar uma tarefa igual: DEPENDE DA RESPOSTA ACESSÍVEL
(DOMINANTE) EM CADA UM DELES!

APLICAÇÕES/IMPLICAÇÕES

· Open Space Vs. Closed Office;


· Coworking Vs. Homeoffice;
· Biblioteca;
· Espaço de refeição (comportamento alimentar ambivalente): o tomar a refeição sozinha ou
com outros faz variar a minha escolha;
· Experiência de Hawthorne (Fábrica de componentes eletrónicos): a luminosidade e o
desempenho têm uma relação não linear, uma vez que piores condições melhorou o
desempenho dos trabalhadores, pelo simples facto de estes estarem a ser monitorizados e a
composição dos grupos estar a ser escolhida.

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CONFORMISMO
AULA PRÁTICA 2

DEFINIÇÃO

É a convergência das respostas individuais em direção à norma do grupo, isto é, A D O Ç Ã O D A


N O R M A D A M A I O R I A P O R U M A M I N O R I A . Os princípios e processos subjacentes à suscetibilidade
de um individuo a influências exteriores são considerados à luz de 3 G O A L S :

GOAL DE MANTER UM
GOAL DE ACCURACY GOAL DE AFILIAÇÃO
AUTOCONCEITO POSITIVO

Pessoas motivadas para As pessoas são motivadas Pessoas são motivadas


formar perceções precisas para desenvolver e preservar para manter um autoconceito
(accurate) da realidade e agir relações sociais significativas. favorável.
de acordo com elas.

Este fenómeno por duas R A Z Õ E S importantes:

Porque as pessoas C R E E M Q U E O G R U P O Porque querem que o G R U P O A S A C E I T E E


ESTÁ CERTO. APROVE.

A maior parte das vezes as pessoas demonstram conformismo privado face às normas do
grupo, aceitando-as como suas próprias normas, porque as julgam corretas e apropriadas.
Contudo, por vezes as pessoas conformam-se publicamente às normas que pessoalmente não
aceitam.

A MINORITY OF ONE AGAINST A UNANIMOUS MAJORITY


S O L O MO N A S C H , 1 9 5 6

https://www.youtube.com/watch?v=fbyIYXEu-nQ&list=PL-D2eb2vBV7LzsXkzeinc7v1eZ-
22AaCs&index=2

OBJETIVO

O Objetivo deste estudo de Asch era estudar as condições pessoais e sociais que levam os
indivíduos a resistir ou, pelo contrário, a submeter-se a pressões coletivas quando são por eles
percecionadas como contrárias à realidade. Como tal, procurou demonstrar que a influencia
social é mediada pelo papel ativo e interpretativo que as pessoas têm na sua construção da sua
própria realidade social. Para este fim, criou uma situação com as seguintes características:

· Seria pedido um julgamento para o qual a informação necessária estaria constantemente


disponível.
· O julgamento versaria um conjunto de estímulos totalmente não ambíguos.
· Os participantes seriam, durante a realização desse julgamento, expostos à influência de um
grupo de indivíduos. Essa influência opor-se-ia à evidencia e seria possível quantificar o efeito
desta influência.

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PARTICIPANTES

Sete estudantes voluntários para participar numa “experiência sobre a perceção”, de uma
universidade americana, entre os quais colocou U M desses indivíduos (sujeito crítico) numa
relação de conflito com todos os outros membros de um grupo (comparsas):

1 SUJEITO CRÍTICO 6 COMPARSAS


Sentado no penúltimo lugar e, por isso, o Instruídos pelo experimentador para
penúltimo a responder. responder de certa forma, a mostrarem-se
tão inexperientes sobre a situação como o
sujeito crítico (efetuavam perguntas sobre o
procedimento) e a não exibirem qualquer
reação, fosse qual fosse o comportamento
desse sujeito crítico.

PROCEDIMENTO

MÉTODO (PARADIGMA EXPERIMENTAL ORIGINAL)

TAREFAS
O paradigma experimental originalmente desenvolvido por Asch consiste numa tarefa de
discriminação/comparação do comprimento de segmentos de reta com uma linha-padrão. Os
estímulos eram trios de linhas negras que deveriam ser comparados com uma linha padrão. Trata-
se de uma tarefa EXTREMAMENTE SIMPLES E FÁCIL para que o efeito da influência social pudesse
ser facilmente QUANTIFICÁVEL. Asch esperava que nestas condições a influencia do grupo fosse
minimizada.

INSTRUÇÃO DO EXPERIMENTADOR:

“Esta tarefa envolve a discriminação do comprimento de linhas. À vossa frente encontra-se


um par de cartões. O da esquerda só tem uma linha; o cartão à direita tem 3 linhas de diferentes
comprimentos; elas estão numeradas: um, dois e três. Uma dessas 3 linhas é igual em
comprimento à linha-padrão do cartão da esquerda. Cabe a cada um de vocês decidir, em relação
aos vários pares de cartões que vos serão exibidos, qual das linhas do cartão da direita é igual à
linha padrão do cartão da esquerda. Comunicar-me-ão o vosso julgamento dizendo o número da
linha. Existirão 18 comparações no total. Agradeço que sejam o mais exatos possível. Dar-me-ão
as vossas respostas por ordem, começando, por exemplo, da direita para a esquerda.”

ENTREVISTA PÓS-EXPERIMENTAL

A experiência não se limitava à sessão de estimativas, existindo uma segunda fase na qual os
sujeitos críticos eram entrevistados acerca das suas impressões sobre a situação. Primeiro
participavam numa discussão de grupo, seguindo-se uma entrevista com o entrevistador e, por
fim, era-lhes explicada a situação e os seus objetivos.

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CONDIÇÕES DA EXPERIÊNCIA
GRUPO EXPERIMENTAL GRUPO CONTROLO
Julgamento com conhecimento das Participantes da mesma população
respostas dos outros (respostas em voz alta). julgavam os mesmos estímulos sem
conhecimento das respostas dos outros
(respostas por escrito). Esta condição permite
obter índice quantitativo do grau de influência
social, através da diferença entre número de
erros efetuados nas condições controlo e
experimental.

“APARATO” DA EXPERIÊNCIA E ESTÍMULO


Julgamentos eram feitos com os participantes sentados à roda de uma mesa que distava cerca
de 5 metros dos estímulos. O estímulo era um par de cartões: à esquerda: cartão com uma só
linha, a linha-padrão; à direita um cartão com 3 linhas de diferentes comprimentos, numeradas
de um a três. Uma dessas 3 linhas é igual em comprimento à linha-padrão do cartão da esquerda.

ENSAIOS (18)
NEUTROS (6) CRÍTICOS (12)
Comparsas davam a resposta certa. Comparsas davam respostas com diversos
graus de erro (moderado ou extremo). Nos 2
primeiros ensaios dão respostas corretas, a
partir do 3º começam propositadamente a
dar algumas respostas erradas.

COMPRIMENTO- COMPRIMENTO DAS LINHAS DE ERROS TIPO DE


ENSAIOS
PADRÃO COMPARAÇÃO MAIORITÁRIOS ERRO
a 25.40 cm 20.95 cm 25.40 cm 20.32 cm + 0 cm n/a
I 7.62 cm 9.52 cm 10.79 cm 7.62 cm + 1.90 cm Moderado
V 12.70 cm 12.70 cm 10.16 cm 16.15 cm + 3.81 cm Extremo
Legenda: letras: ensaios neutros; letras romanas: ensaios críticos. Os números
em itálico realçam as respostas maioritariamente incorretas.

PADRÃO COMPARAÇÃO

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RESULTADOS

COMO REAGIRÍAMOS?
PENSAMENTOS PRIVADOS E SENTIMENTOS MAIS COMUNS DO SUJEITO CRÍTICO

1. Primeiro, seria impossível ignoras as respostas dos outros, uma vez que o desacordo tem
implicações diretas para a validade de cada julgamento e que o antagonismo de opiniões
implica necessariamente que alguém está errado.
2. Desenvolveria esforços para reestabelecer o equilíbrio, isto é, tentaria arranjar uma
explicação simples e banal para o desacordo, podendo até perguntar aos colegas ou ao
experimentador.
3. Faria a atribuição da razão de ser da divergência a si próprio, ou seja, tomasse a seu cargo
explicar porquê que o grupo divergia de si.
4. Desenvolveria esforços para alcançar uma solução, construindo explicações que tornariam a
situação compreensível.
5. Prestaria provavelmente total atenção ao objeto de julgamento.
6. Sentiria um crescendo de dúvidas sobre si próprio.
7. Depende.

ANÁLISES DOS ERROS


Muito maior número de erros no Grupo Experimental (com influência social) do que no Grupo
Controlo (sem influência).

GRUPO CONTROLO GRUPO EXPERIMENTAL


As respostas dos participantes da condição Na condição experimental é visível a
de controlo foram basicamente isentas de influencia da maioria.
erros. Apenas 24% dos sujeitos críticos
Nenhum sujeito ultrapassa os dois erros. realizaram uma sucessão de estimativas sem
Dos 37 sujeitos, 35 sujeitos deram 0 erros, 1 quaisquer erros (enquanto na condição
sujeito com 1 erro e 1 sujeito com 2 erros. controlo essa percentagem foi 95%).
Existem indivíduos que atingem o número
máximo de erros (i.e., 12 erros).
Nos ensaios neutros, o número de erros da
condição experimental é inferior ao da
condição controlo.

Não obstante, pelos dados da Tabela abaixo apresentada, podemos verificar que, apesar de o
impacto da maioria ser considerável, no total de estimativas a condição experimental apresenta
apenas 1/3 dos erros (36.80%), enquanto na condição controlo esse número é inferior a 1%
(0.70%).

Mais ainda, se fizermos a média ponderada para o número de respostas certas, vemos que
resulta num total de 7.60, quase o dobro da média ponderada de erros (4.41). Neste sentido,
embora considerável, o impacto da maioria está longe de ser absoluto. Se considerarmos que a
situação representa, no essencial, um conflito entre o duas tendências – a de seguir os dados

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sentidos e dar a resposta certa, e a de seguir a maioria e dar a resposta errada –, a primeira dessas
tendências foi quantitativamente maior mais forte.

GRUPO CONTROLO
NÚMERO DE ERROS GRUPO EXPERIMENTAL (N=123)
(N=37)
0 35 (94.50%) 29 (23.50%)
1 1 (2.70%) 8 (6.50%)
2 1 (2.70%) 10 (8.13%)
3 17 (13.8%)
4 6 (4.87%)
5 7 (5.69%)
6 7 (5.69%)
7 4 (3.25%)
8 13 (10.56%)
9 6 (4.87%)
10 6 (4.87%)
11 4 (3.25%)
12 6 (4.87%)
MÉDIA PONDERADA 0.08 4.41
MEDIANA 0 3
MÉDIA PERCENTUAL PONDERADA 0.70% 36.80%

Ainda, os dados indicaram que não existiu qualquer relação sistemática tanto entre a sucessão
de ensaios e o número de erros cometidos, como entre o os dois tipo de magnitude de erros
(moderado ou extremo). No entanto, no que toca à magnitude do erro, registaram-se RESPOSTAS
DIVERGENTES INCORRETAS (ou RESPOSTAS DE COMPROMISSO, i.e., apesar de darem uma resposta
errada, dão uma resposta diferente da maioria) nos casos onde a maioria cometia um erro de
magnitude extrema, o que reflete uma tendência para o compromisso.

VARIAÇÃO INDIVIDUAL
TIPOLOGIA DOS PARTICIPANTES CRÍTICOS

Com base tanto nos resultados das entrevistas (dados qualitativos), como nos resultados
quantitativos, Asch procurou esclarecer melhor a variação individual verificada neste paradigma.
Para isso, construiu uma tipologia dos participantes críticos, com os seguintes critérios:

NÚMERO DE ERROS
O primeiro critério usado foi o número de erros cometidos por cada sujeito.

PARTICIPANTES INDEPENDENTES PARTICIPANTES CONFORMISTAS


Participantes que NÃO cometeram mais de Participantes que cometeram entre 3 e 12
2 erros (máximo de erros verificados na erros (mais de 2 erros).
condição controlo).

Dentro de cada categoria distinguiram-se os participantes de acordo com as razões que


apresentaram na entrevista para o seu comportamento:

PARTICIPANTES INDEPENDENTES
VERDADEIRAMENTE INDEPENDENTES FALSOS INDEPENDENTES

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Foram classificados como participantes Couberam nesta categoria aqueles que


verdadeiramente independentes aqueles que admitiam estar eles errados e a maioria
se mostraram inabaláveis na sua convicção de correta, não seguindo a maioria porque
estarem certos e que responderam de acordo achavam que deviam seguir á risca as
com o que viam. instruções do experimentador, ou seja,
conformavam-se ao experimentador.
CONFIANÇA NOS SEUS JULGAMENTOS.
DÚVIDA E FALTA DE CONFIANÇA E
SENTIMENTO DE OBRIGAÇÃO.

PARTICIPANTES CONFORMISTAS
CONFORMISTAS A NÍVEL CONFORMISTAS A NÍVEL DO CONFORMISTAS A NÍVEL
PERCETIVO JULGAMENTO COMPORTAMENTAL
Estes participantes não Estes participantes Eram classificados nesta
reconheciam que algo de reconheciam que haviam categoria aqueles que
estranho se tinha passado na dado respostas em desacordo indicavam saber estarem eles
situação experimental, com o que tinham visto. No certos e a maioria errada,
afirmaram simplesmente que entanto, justificavam-se justificando o seu
haviam respondido de acordo
dizendo que, se todos os comportamento com a
com o que tinham visto. Esta
outros respondiam de forma vontade de não sobressair.
categoria foi pouquíssimo
frequente. diferente, tinha de ser ele Esta categoria teve uma
aquele que estava a realizar frequência intermédia (entre
INCONSCIENTE. julgamentos errados – caso os conformistas a nível
ESTIMATIVA DISTORCIDA. contrário, poderiam percetivo e de julgamento).
“interferir” com o desenrolar CONSCIENTE.
da experiência. Esta foi a CONFIANÇA.
categoria mais frequente dos NÃO QUERIAM PARECER
DIFERENTES OU INFERIORES
participantes conformistas.
AOS OUTROS ELEMENTOS.
CONSCIENTE.
FALTA DE CONFIANÇA.
“RESPOSTA DA MAIORIA É
SUPERIOR”.

QUANTOS ERROS DEU?


Enquanto os participantes independentes realizaram estimativas aproximadas da realidade,
os participantes conformistas subestimaram consideravelmente os seus próprios erros (em
média, a diferença entre a estimativa e a realidade atingiu os 4 erros). Neste sentido, embora o
número de participantes conformistas a nível percetivo tenha sido raro, o número de desacordos
entre o sujeito crítico e a maioria é apreciavelmente subestimado.

CONCLUSÃO

Verificou-se uma influência social da maioria, ainda que não absoluta, até porque se verificou
uma significativa variação inter-individual no número de erros cometidos. Não obstante, foi
evidente, tanto quantitativa como qualitativamente que os participantes se encontraram num

Mª Matilde Silva | ISPA


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conflito entre o conformismo (seguir resposta da maioria) e a independência (seguir o que lhes
era ditado pelo que viam). Esse conflito resultou na maior parte dos casos, em independência.
No entanto, a influencia da maioria foi indiscutível.

VARIAÇÕES EXPERIMENTAIS DO PARADIGMA DE ASCH

A partir do seu paradigma original, Asch realizou diversas variações experimentais que
procuraram esclarecer questões relativas à generalidade destes resultados. Quer dizer, o autor
pretendeu descobrir quais as condições que, no seu paradigma original, eram responsáveis tanto
pelo conformismo como pela independência. Com esse fim, manipulou uma série de variáveis
que suponha terem impacto direto na intensidade das tendências antagónicas subjacentes à sua
situação experimental.

I . MA N I P U L A Ç Ã O D E V A R I Á V E I S S U B J A C E N T E S À S I T U A Ç Ã O E X P E R I ME N T A L

IMPORTÂNCIA DO OBJETO DE JULGAMENTO

Até que ponto os resultados da experiência original se devem ao material usado? O que
aconteceria se, com base no mesmo tipo de paradigma, se usassem objetos de julgamento muito
diferentes?

Asch fez variar os objetos de julgamento, mas manteve o carácter absolutamente objetivo do
julgamento pedido. Para isso, numa experiência o autor usou dois grupos de discos coloridos
(OBJETO). A TAREFA do participante era apenas a de escolher o mais brilhante, sendo mais uma
vez uma tarefa extremamente fácil. Em tudo o resto a situação experimental era idêntica ao
paradigma original

Os RESULTADOS foram também praticamente idênticos ao da experiência original. Asch


demostrou assim que os resultados da experiência original não eram dependentes da utilização
dos objetos de julgamento originais.

No entanto, esta replicação mantinha o objeto na ordem dos estímulos visuais, levando a que
se tenha realizado milhares de experiências com todo o tipo de objetos de julgamento (e.g.,
crenças, opiniões populares e pessoais, etc.) , nas quais os resultados, no geral, foram idênticos
com os da experiência original, concluindo que: os resultados são independentes dos objetos de
julgamento.

MANIPULAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS ESTÍMULOS USADOS

Na experiência original Asch tinha verificado que não existia nenhuma relação sistemática
entre o número de erros cometidos pelo sujeito critico, e a magnitude do erro cometido pela
maioria. No entanto, ao manipular a discrepância entre a estimativa maior e a realidade,
percebeu que existe uma relação negativa entre a magnitude do erro da maioria e o número de
erros cometidos pelos participantes críticos (i.e., quanto maior a magnitude do erro, menor a
probabilidade de erro por parte dos sujeitos críticos), corrigindo a conclusão original.

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O NÚMERO DE ALTERNATIVAS DE RESPOSTA

Diminuir de 3 para 2 hipóteses de resposta causa o efeito da impossibilidade de compromisso


(i.e., ausência de respostas divergentes incorretas). Tal efeito fez com que tanto o número de
indivíduos independentes como o número de erros que cada sujeito conformista cometeu,
aumentasse, não afetando significativamente o número total de erros cometidos. Isto significa
que tanto os participantes conformistas, como os participantes independentes, recorrem a uma
estratégia de compromisso quando tal é possível.

POSSIBILIDADE DE AVALIAÇÃO OBJETIVA POSTERIOR

Asch tentou reforçar a objetividade do julgamento, avisando os participantes de que no fim


da série de estimativas, os objetos de julgamento seriam medidos com uma régua. Deste modo,
os sujeitos críticos passariam a saber que o desempenho de todos seria avaliado objetivamente.
Os RESULTADOS foram idênticos aos do paradigma original.

Numa variação desta experiência, Bello et al., 1986 tornaram disponível uma régua durante a
sucessão de estimativas, dizendo que o mais importante era não errar, e como tal, se houvesse
dúvidas, cada pessoa era livre de se levantar e medir os estímulos antes de responder (os
comparsas fizeram-no alternadamente em certos ensaios). Os RESULTADOS mostraram que esta
hipótese (a de usar a régua) foi pouquíssimo usada pelos participantes e que o conformismo
aumentou! Provavelmente porque, ao dotarmos o sujeito crítico da possibilidade de maior
objetividade nos seus julgamentos, estamos também a fazê-lo em relação aos julgamentos dos
comparsas. Ora, como o sujeito era o penúltimo a responder, na maior parte dos ensaios já os
comparsas tinham utilizado a régua e com isso ganho maior capacidade de persuasão. Ainda
houve sujeitos críticos que depois de irem eles próprios medir, deram a resposta errada: que so
reforça a convicção de que a existência de respostas conformistas não necessita de convicção na
veracidade destas respostas.

Estes resultados indicam que dotar os participantes de possibilidades para aumentar a


objetividade dos seus julgamentos pode não diminuir o conformismo, se o mesmo for feito para
os julgamentos dos comparsas.

DIMENSÃO DO GRUPO

Como sabemos, os erros cometidos no paradigma original de Asch são devidos à presença de
um grupo de participantes que dão respostas erradas. Mas será que esse efeito se deve à
dimensão do grupo? Para responder a tal questão, Asch manipulou sistematicamente o número
de comparsas na condição experimental (foram usados grupos de 1, 2, 3, 4, 8 e 16 comparsas).
Os RESULTADOS demostraram que com 1 comparsa o conformismo é praticamente anulado (i.e.,
quase nulo); com 2 comparsas o conformismo aumenta bastante e; com 3 comparsas o
conformismo atinge aproximadamente o seu limite máximo. Daqui retirou que não é a dimensão
da maioria o fator explicativo essencial para o conformismo.

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IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO DE ENUNCIAÇÃO DO JULGAMENTO:


VÍCIOS PÚBLICOS VERSUS VIRTUDES PRIVADAS

Nas entrevistas pós-experimentais, muitos dos participantes críticos afirmaram existir uma
divergência entre aquilo que afirmaram publicamente e aquilo que julgam certo. Se assim foi,
então é de esperar que uma das razões do conformismo seja o caráter público do contexto em
que as respostas eram dadas.

Para estudar diretamente esta questão, Asch criou uma situação em que os participantes
críticos, por chegarem “atrasados” à experiência, não poderiam participar nela. Apenas deveriam
observar e registar as suas respostas num papel quando o experimentador o assinalasse. Claro
que o sujeito respondia sempre em penúltimo. Assim, os comparsas emitiam as respostas em voz
alta, mas o sujeito crítico registava-as numa folha de papel, quando chegava a sua vez.

No que toca aos RESULTADOS, em primeiro lugar verificou-se que o conformismo diminuiu
(diminuição apreciável do número de erros cometidos pelos participantes críticos de 33% para
12.5%), mas que esse número de erros continuava a diferir significativamente do cometido na
condição controlo. Em segundo, verificou-se que a influencia da maioria só se registava em
relação a erros moderados da maioria, não em relação a erros extremos.

Este conjunto de resultados permite-nos concluir que a influência da maioria se faz sentir de
modo diferente, em intensidade, aos níveis público e privado e; as variáveis que afetam um dos
níveis (e.g., grau de distorção da norma grupal) podem não afetar o outro da mesma forma.

I I . MA N I P U L A Ç Ã O D O A P O I O S O C I A L : Q U E M N O S L I V R A D O S O U T R O S ? O S O U T R O S !

COMPARSA ISOLADO VERSUS GRUPO DE PARTICIPANTES CRÍTICOS

Asch inverteu a situação experimental original, introduzindo apenas um comparsa num grupo
de participantes críticos. Os RESULTADOS demostraram que a influencia do comparsa foi nula, e
que os participantes críticos encaravam o comparsa com humor e desprezo.

UM GRUPO DE COMPARSAS VERSUS UM GRUPO DE PARTICIPANTES CRÍTICOS

A mesma anulação do compromisso verificou-se quando Asch utilizou no seu paradigma um


grupo com 9 comparsas e 11 sujeitos críticos. No entanto, as reações dos sujeitos críticos aos
erros dos comparsas deixaram de ser tão despreocupadas como no caso anterior. Assim, apesar
de não terem sido identificadas respostas conformistas, os sujeitos críticos desenvolveram
esforços para compreender e explicar seriamente a divergência de respostas.

Estes RESULTADOS demostram que a existência de um grupo de x pessoas que dá respostas


erradas não é condição suficiente para o aparecimento de conformismo, quando existe apoio
social.

A DESCOBERTA DA IMPORTÂNCIA DO ALIADO

QUEBRA DA UNANIMIDADE

Mª Matilde Silva | ISPA


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Asch pretendia estudar o efeito da quebra da unanimidade nas respostas dos participantes
críticos. Para tal, de entre os 7 comparsas, o que respondia em quarto lugar respondia sempre
corretamente, opondo-se, por isso, nos ensaios críticos, à maioria. A esse comparsa deu a
designação de “aliado”, na medida em que responde de acordo com o que o sujeito crítico vê.

Os RESULTADOS demostraram que o que o conformismo baixou de 33% para 5.5%, anulando-
se quase completamente a influência da maioria. Assim, enquanto variações na maioria têm um
impacto nulo ou, no mínimo, modesto, a quebra da unanimidade na maioria, seja qual for a
dimensão da dissidência, é decisiva para a manifestação de conformismo!

OU SUBMISSÃO DO ALIADO?
Será que a redução do conformismo ocorreu porque o sujeito crítico deixou de estar exposto
a um grupo unânime, conseguindo por isso libertar-se e responder autonomamente? Ou será
que a situação se deve a um novo conformismo – a submissão ao aliado?

Para distinguir entre estas alternativas, Asch instruiu um comparsa para, num caso, fornecer
apenas respostas de compromisso (os restantes comparsas cometiam erros extremos em todos
os ensaios críticos), e, noutro, para cometer erros extremos (enquanto a maioria só cometia erros
moderados). Assim, se a redução do conformismo anterior tivesse ocorrido por submissão ao
aliado, nestas duas condições essa redução não deveria ocorrer.

Os RESULTADOS mostram uma redução no número de erros em ambas as condições, embora


muito mais acentuada quando o aliado cometia erros extremos. Assim, a quebra da unanimidade
é um fator decisivo para explicar a redução do conformismo promovida pelo aliado – um aliado
que forneça respostas ainda mais erradas (extremas) do que a maioria é praticamente tão
eficiente como um que responda de acordo com o que o sujeito crítico vê.

CONSISTÊNCIA DO COMPORTAMENTO DO ALIADO

Até que ponto é necessária consistência da parte do aliado para garantir a sua eficiência na
redução do conformismo? Quer dizer, será que uma vez quebrada a unanimidade o aliado se
torna dispensável?

Para responder a esta questão, Asch criou uma situação em que, depois de responder
corretamente durante metade dos ensaios críticos, o aliado adere à norma da maioria. Neste
caso, os RESULTADOS mostram que o conformismo se restabelece imediatamente e a níveis
superiores ao habitual. Asch defendeu que a explicação se encontra na “traição” que os sujeitos
críticos sentem e, se porventura este sujeito se visse de novo só, mas não traído, o conformismo
não seria restabelecido. Para confirmar tal hipótese, criou uma situação onde depois de
responder corretamente durante metade dos ensaios críticos, o aliado sai da sala com um
pretexto. Como esperado, o conformismo não se restabelece.

Numa situação onde o aliado começa por aderir à maioria e a meio da sequência de ensaios
passa a responder diverge, a sua eficiência na redução do conformismo emerge rapidamente,
isto é, o conformismo diminui imediatamente.

Mª Matilde Silva | ISPA


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Os resultados parecem indicar que a experiência de uma quebra de unanimidade, desde que
o responsável por essa quebra não fraqueje na sua resistência, é suficiente para a redução do
conformismo e ainda que o aliado serve de exemplo na resistência ao conformismo.

CONCLUSÃO DAS EXPERIÊNCIAS DE ASCH


“O grupo pode influenciar o comportamento individual mesmo em tarefas não
ambíguas. Esta tendência individual para o conformismo parece ocorrer
sobretudo a nível público (aquilo que o individuo diz), mas não privado (aquilo
que o individuo pensa). As pessoas procuram ativamente compreender a
situação “inesperada” em que são colocadas, o que se opõe às teses do
sonambulismo social.”

Asch demonstrou que o comportamento individual pode variar de acordo com a pressão de
um grupo, mesmo em condições em que o individuo dispõe de indicações objetivas que, em
princípio, dispensariam o recurso à consideração do comportamento dos outros. Mais: o
comportamento dos outros pode introduzir ambiguidade na realização de tarefas em
circunstâncias totalmente não ambíguas. Daí que as experiências de Asch forneçam um
complemento inesperado às conclusões de Sherif.

Mais concretamente, os resultados de Asch demonstraram como uma norma grupal arbitrária
pode fazer com que os participantes realizem um número bastante apreciável de erros de
julgamento. Demonstraram ainda que, apesar desse impacto indiscutível, os julgamentos dos
participantes mantêm-se maioritariamente corretos. Demonstraram finalmente como esse
impacto pode ser minimizado através do apoio social para o não conformismo.

REPLICATION OF THE “ASCH EFFECT” IN BOSNIA AND HERZEGOVINA


E V I D E N C E F O R T H E MO D E R A T I N G R O L E O F G R O U P S I MI L A R I T Y I N C O N F O R MI T Y

Este estudo tinha o objetivo de replicar o clássico Asch Effect no contexto cultural de bosnia-
herzegovina e explorar o potencial impacto da group similarity no conformismo. Para responder
a esta pergunta os participantes realizaram a tarefa clássica de Asch de julgamento de linhas na
presença de 5 comparsas que eram ostensivamente ou de origem étnica parecida (ingroup) ou
de origem étnica diferente (outgroup) ou de origem étnica não saliente .

Os resultados mais uma vez verificaram o poderoso efeito de Asch: em 35.4% dos ensaios
críticos os participantes seguiram a maioria. Mais ainda que este efeito foi moderado pela group
similarity, nos sentido que, em comparação com a condição identidade de grupo não saliente, o
conformismo foi maximizado na condição in-group majority e minimizada na condição out-group
majority.Assim, os resultados apoiam o “Asch Effect” e fornecem clara evidencia de que a
semelhança com a maioria desempenha um importante papel no fenómeno do conformismo.

Mª Matilde Silva | ISPA


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OBEDIENCIA E DINÂMICAS GRUPAIS


AULA TEÓRICA 3

O QUE LEVA AS PESSOAS A OBEDECEREM CEGAMENTE?


Obedecer a uma ordem imoral será próprio de pessoas imorais? Isto é, o obedecer cegamente
pode ser explicado através de traços e características das pessoas? NÃO, responder que sim é
incorrer no ERRO FUNDAMENTAL DA ATRIBUIÇÃO (i.e., tendência mental de julgar as outras
pessoas como se as suas atitudes, fatores pessoais, refletissem diretamente quem elas são, de
modo a desconsiderar a interferência do contexto, os fatores situacionais, na qual elas estão
inseridas).

São vários os fatores sociais e psicológicos que se combinam na criação das condições para a
obediência à autoridade, para a obediência cega e para as atrocidades sociais. Não é próprio de
pessoas imorais, mas sim decorrente da interação de vários fatores psicológicos e sociais.

ESTADO AGÊNTICO

ESTADO AGÊNTICO ESTADO AUTÓNOMO

Estado onde o indivíduo não se sente Milgram (1974) diferencia este estado
como autor dos seus atos, mas vê-se agêntico de outro estado, o estado
meramente como agente executivo das autónomo, onde o indivíduo assume-se como
vontades de outrem, como agente da figura o autor dos seus atos, não sendo o mero
de autoridade. Assim sendo, outras atitudes, veículo de execução.
normas ou valores que normalmente podem
guiar o seu comportamento não são tidos em
conta. Em suma, quando toda a
responsabilidade é cedida à autoridade os
indivíduos entram naquilo a que Milgram
chamou estado agêntico. O estado agêntico
permite que a autoridade se exerça sem
grande resistência.
Os sujeitos experimentais de Milgram, por
exemplo, quando o experimentador afirmava
assumir a responsabilidade pelo que
acontecesse ao “aluno”, entravam neste
estado.

DIFUSÃO DA RESPONSABILIDADE

A responsabilidade pode também ser diluída, quando a autoridade divide o comportamento


repreensível em pequenas subtarefas, que podem ser executadas por pessoas diferentes fazendo
com que cada uma delas possa parecer inofensiva. Quando isto acontece, as pessoas ignoram a
possibilidade de que poderiam ou deveriam controlar o seu próprio comportamento.

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Numa variação experimental de Milgram em que outra pessoa dava os choques e o


participante fazia somente as perguntas e lia a lista de palavras, 83% dos participantes
executaram a sus tarefa à letra.

MOTIVAÇÃO PARA A CONSISTÊNCIA E ESCALADA

C O N S I S T Ê N C I A , C O MP R O MI S S O S O C I A L E E S C A L A D A

Assim que a obediência se inicia, outros processos ajudam mantê-la ou até mesmo a escalá-
la. Na tarefa do “professor” de Milgram, por exemplo, de início as consequências da obediência
não eram muito negativas para os participantes: era-lhes pedido que fizessem algo bastante
benigno, os choques eram muito fracos e tinham um objetivo positivo, isto é, o de melhorar a
aprendizagem. Apenas gradualmente é que era pedido aos participantes que agissem de uma
forma que pudesse provocar danos ao aluno, mas por esta altura eles já tinham obedecido,
confirmando na sua mente o direito do experimentador e a sua autoridade para dirigir as suas
ações, e ativando a norma do compromisso de cumprir o seu acordo de participar no estudo.

Para além disso, a motivação para a consistência com os nossos comportamentos anteriores,
leva a que os mantenham o comportamento, continuando a obedecer. Ao ter reconhecido o
experimentador como autoridade legitima e tendo já obedecido, os participantes tiveram cada
vez mais dificuldade em recusar as suas ordens que escalavam gradualmente. Os participantes
em experiências de obediência, e muitos outros que cometem crimes políticos e/ou considerados
maléficos, são levados do aceitável para o impensável, gradualmente. A escalada gradual da
obediência reforça a legitimidade da autoridade e a aceitação da norma da obediência.

Aliás, um dos axiomas da psicologia social é o de sermos motivados para a consistência. Um


exemplo mais mundano, que não está ligado à obediência, onde isto verifica é quando estamos
à espera do autocarro, mas o autocarro nunca mais chega. Alguns de nós aceitam a espera, mas
normalmente começamos a equacionar alternativas, no entanto, ficamos armadilhados por causa
do “agora já esperei até aqui”. A lógica da escalada é a mesma: mas porquê parar agora?.

AUTO-JUSTIFICAÇÃO E CONDENAÇÃO DA VÍTIMA

Processos de DISSONÂNCIA COGNITIVA (Festinger, 1957) também ajudam a manter a


obediência assim que ela ocorre. Primeiramente, a inconsistência entre o autoconceito (somos
pessoas decentes, bondosas, caring) e o comportamento danoso aumenta à medida que o
comportamento se vai tornando mais destrutivo, levando a que as pessoas possam experienciar
um estado de dissonância cognitiva. Esta inconsistência leva a um estado de ativação fisiológica
desagradável, o que leva, consequentemente, a uma motivação crescente para a sua redução.
Esta redução, ou conforto, pode ser obtida através da procura de justificações para o nosso
comportamento. Assim, podemos reduzir a dissonância ao:

· Focar nas implicações positivas de ser um agente de confiança e obediente.


· Focar no conhecimento superior e sabedoria da autoridade para dirigir o seu
comportamento.
· Recusar o livre-arbítrio.
· Interpretar a obediência como tendo um objetivo positivo (ajudar na aprendizagem).

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Uma forma usual (e perigosa) de resolução desta dissonância é a depreciação e condenação


da vítima, isto é, quando desumanizamos a vítima com crenças de que “ela não tem sentimentos
como nós”. Esta condenação da vítima é feita mediante um processo de vitimização secundária,
isto é, culpamos a vítima, crendo que a vítima está a ser magoada porque de alguma forma
merece ser castigada. A tendência para culpar as vítimas advém de uma crença generalizada num
"mundo justo", a ideia de que o universo é um lugar justo e ordenado onde as pessoas "têm o
que merecem". Tais crenças suscitam pensamentos de que as vítimas devem, de alguma forma
ter provocado ou merecido seu castigo.

Milgram (1974), relatou que muitos dos seus participantes, depois de terem dado a potência
máxima de choque, censuraram cruelmente o “aluno” pelos erros cometidos, com comentários
como "ele era tão estúpido e teimoso, que merecia ser chocado". Como Milgram observou,
"depois de terem agido contra a vítima, estes sujeitos acharam necessário vê-lo como um
indivíduo indigno cujo castigo foi tornado inevitável pelas suas próprias deficiências de intelecto
e carácter".

FENÓMENOS E DINÂMICAS GRUPAIS

Muitos dos fenómenos que se seguem constituem condições para a obediência à autoridade
sendo explicáveis à luz das DINÂMICAS GRUPAIS. Estes fenómenos são implicados ou aplicados em
contextos como, por exemplo, em tribunais onde pode ocorrer a polarização e pensamento
grupal nos grupo de jurados; em trabalhos de grupo nos quais há um acento tónico no consenso
podem verificar-se o fenómeno de pensamento grupal; em claques de futebol onse se podem
verificar fenómenos de desindividualização; etc.

THE STANDFORD PRISON EXPERIMENT


Z I MB A R D O , S T A N D F O R D U N I V E R S I T Y ( 1 9 7 1 )

Neste experiência, 24 estudantes foram aleatoriamente distribuídos pelos papeis de polícias


(ou guardas) e de prisioneiros numa prisão simulada na cave do departamento de psicologia,
onde desempenharam os seus papeis durante 6 dias. Inicialmente, a experiência tinha um
duração programada de 2 semanas, mas teve de ser interrompida, uma vez que os guardas,
apresentaram comportamentos abusivos para com os prisioneiros e estes últimos, como
consequência, mostraram sinais de desgaste psicológico, esgotamento e depressão.

Os fenómenos verificados nestas experiências são explicados não só pelas normas do


compromisso social e de obediência à autoridade, mas, para além das normas, pelos PAPEIS
SOCIAIS. Os participantes “vestiram” os papeis sociais e agiram em conformidade com. Isto explica
a obediência dos mesmos e o porquê de o papel de guarda ter sido levado muito a sério: a sério
o suficiente para ser comparado com a prisão iraquiana de Abu Ghraib.

DESINDIVIDUALIZAÇÃO E ANONIMATO
Ocorre quando em grupo se dá o enfraquecimento ou perda da autoconsciência do indivíduo.
Aqui, a identidade grupal ou social domina completamente a identidade pessoal ou individual, de
modo que as normas do grupo se tornem acessíveis ao máximo: deixamos de nos
autopercecionar como indivíduos, e sim com um membro do grupo.

Mª Matilde Silva | ISPA


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“The only thing group members think about is what the other group members
around them are thinking, saying, and doing.”

O anonimato, isto é, o facto de em grupo nós estarmos sobre uma identidade grupal e não
pessoal (quem fez foi o grupo, não o Gaspar), facilita este estado na medida em que aumenta o
sentimento de pertença partilhada a um grupo.

DIFUSÃO DA RESPONSABILIDADE
A difusão de responsabilidade advém também do anonimato. No fundo, em grupo, não foi o
individuo A, B ou C a assumir a responsabilidade, mas sim o conjunto. Assim, temos a
responsabilidade a ser difundida no grupo. É por esta razão que, quando em grupo, nós tendemos
a adotar comportamentos mais extremados (assumir mais risco), seja decisões financeiras mais
arriscadas, seja num contexto jurídico emitirmos uma pena mais grave. Acabamos por não
ponderar tanto as consequências negativas porque, no fundo, não são diretamente para nos
como indivíduos, mas sim para o grupo como coletivo.

PENSAMENTO GRUPAL
Tipo de pensamento exibido pelos membros de um grupo que, movidos pela busca intensa de
consenso, perdem a eficiência mental, a análise dos factos/realidade e o julgamento moral,
chegando a decisões enviesadas que se podem revelar catastróficas. (Groupthink; Janis, 1972).
Este fenómeno tem maior probabilidade de emergir em situações caracterizadas por:

· Homogeneidade dos membros: membros semelhantes, sobretudo em termos ideológicos


e culturais.
· Liderança autoritária: líder manifesta uma clara preferência pela opção a tomar.
· Isolamento do grupo: Membros atuam em grupos fechados e sem oposição.
· Elevada coesão.
· Urgência na decisão: grupo sente-se pressionado a chegar rapidamente a um consenso.

Nestas circunstâncias, os membros do grupo têm relutância em levantar objeções mesmo que
as tenham, bem como a examinar os aspetos negativos da posição preferida, ignorando possíveis
alternativas e não desenvolvendo planos de contingência.

POLARIZAÇÃO COLETIVA
Tendência para o grupo adotar uma decisão final mais extrema que a média das decisões
individuais prévias à discussão de grupo. Este fenómeno denominava-se, Inicialmente, de desvio
para o risco (Risky shift; Stoner, 1961). Se, ao início, a maioria das pessoas prefere risco, as
discussões em grupo promovem mais risco. Se a maioria dos membro, ao início, são radicalmente
preconceituosos , a interação e discussão do grupo tende a aumentar o preconceito.

Mª Matilde Silva | ISPA


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OUTROS FATORES

· HOSTILIDADE EM RELAÇÃO A E DESVALORIZAÇÃO DOS EXOGRUPOS: quando há uma


diferenciação endogrupo/exogrupo, há uma valorização do eu e do meu, o que leva à
depreciação dos exogrupo.
· FALTA DE INFORMAÇÃO (situação nova): não saber o que fazer, pode levar a que a solução
mais fácil seja a de seguir a norma da autoridade.
· PRESSÃO PARA PROSSEGUIR: como os incitamentos-padrão da experiência de Milgram.
· FALTA DE SUPORTE SOCIAL.

Mª Matilde Silva | ISPA


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OBEDIÊNCIA
AULA PRÁTICA 3

A T É O N D E É C A P A Z D E I R U MA P E S S O A C O MU M Q U E S E L I MI T A A O B E D E C E R A O U T R E M?

STANLEY MILGRAM (1963)


Para Milgram, a OBEDIÊNCIA é um fenómeno tanto COMUM como ÚTIL das sociedades
humanas. Fenómeno ÚTIL porque garante o funcionamento rápido e eficaz das suas complexas
estruturas sociais. Mas a obediência também representa um PERIGO para a democraticidade e
humanidade da nossa civilização: quantos crimes, massacres, perseguições foram realizados por
pessoas comuns que obedeciam a ordens?

Milgram pretendeu então estudar em laboratório o fenómeno da obediência social, mais


especificamente, pretendeu estudar até onde é capaz de ir uma pessoa comum que se limita a
obedecer a outrem.

Milgram definiu o conceito de obediência como:

“Se y segue mandamento de x, diz-se que y obedeceu a x. Se y não o fizer,


diremos que desobedeceu a x. Se y não o fizer diremos que ele desobedeceu a
x. Os termos de obedecer e desobedecer, como foram usados nestes estudos,
referem-se apenas a ações manifestas do sujeito, e não contém qualquer
implicação sobre as razões ou estados experienciais que acompanhem a ação.”

Assim, podemos considerar a obediência como uma manifestação da influência social.

A SITUAÇÃO EXPERIMENTAL DE MILGRAM

O paradigma experimental de Milgram consistia numa suposta tarefa de aprendizagem para


estudar os efeitos da punição. Os participantes desempenhavam o papel de “professores” e
deviam administrar um choque elétrico de intensidade crescente sempre que um “aprendiz”
(comparsa do experimentador) dava uma resposta errada. Qual a intensidade máxima de
choques elétricos que estaria disposto a administrar?

PARTICIPANTES
No estudo original, participaram 40 sujeitos do sexo masculino com idades entre os 20 e os
50 anos, que se apresentaram em resposta a um anúncio no jornal de New Haven sobre um
“estudo sobre a memória e aprendizagem”, para o qual pagariam 4$ aos participantes
voluntários. As suas profissões iam desde carteiro e professor liceal até ao engenheiro e vendedor
(amostra representativa de uma série de ocupações profissionais e de habilidades literárias). A
experiência decorreu na Universidade de Yale, nos EUA, num elegante laboratório.

A experiência era conduzida por um professor de Biologia de 31 anos (experimentador ou


figura de autoridade) e contou com a participação de um comparsa do experimentador, treinado
para o experimento, que seria o “aluno” ou “vitima” na experiência.

Mª Matilde Silva | ISPA


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PROCEDIMENTO
Uma vez chegados ao laboratório, o sujeito crítico era apresentado a um homem de meia-
idade, o comparsa (aluno), que pretendia ser um participante. Ambos recebiam a seguinte
explicação: “Presentemente sabemos muito pouco acerca do efeito da punição na aprendizagem,
por não se terem realizado praticamente nenhuns estudos verdadeiramente científicos com
participantes humanos. Por exemplo, não sabemos que quantidade de punição é mais benéfica
para a aprendizagem – e também não sabemos que importância tem o tipo de pessoa que pune,
se um adulto aprende melhor com alguém mais novo ou mais velho que ele – e muitas mais coisas
do género. Por isso, neste estudo estamos a juntar uma série de adultos com diferentes ocupações
e idades, e estamos a pedir a alguns deles que sejam professores e a outros que sejam aprendizes.
Queremos saber que efeito pessoas diferentes têm umas nas outras, enquanto professores e
alunos, e qual o efeito que a punição terá na aprendizagem, nesta situação.” Neste sentido, a
suposta questão de investigação era: qual nível de castigo que é melhor para aprendizagem?; e
o suposto objetivo era: estudar os efeitos do castigo na aprendizagem.

De seguida, o sujeito crítico e o comparsa


tiravam à sorte quem seria o quê, sendo que
ambos os papéis diziam professor.
Imediatamente a seguir ao “sorteio” ambos os
participantes eram levados para uma sala
contigua e o aprendiz era atado, sem protestar,
a uma “cadeira elétrica” numa sala adjacente.
Um elétrodo era colado no seu pulso e outro
ligado a um gerador situado ao pé do sujeito
crítico.

Para aumentar a credibilidade da situação o experimentador respondia a uma pergunta feita


pelo “aluno”, afirmando que “embora os choques possam ser extremamente dolorosos, não irão
causar danos permanentes nos tecidos epidérmicos”. Antes de a experiência começar o sujeito
ingénuo (“professor”) experimentava um choque de 45 volts, para “testar” o equipamento.

O gerador de choques dispunha um painel instrumental com 30 interruptores numerados de


15V (“choque ligeiro”) a 420V (“perigo: choque severo”), com incrementos de 15V,sendo que a
partir dos 435V ao máximo de 450V, os interruptores tinham etiquetas que diziam apenas “XXX”.
com incrementos. Para dar um choque, o professor teria de acionar um dos interruptores do
gerador de choques. Quando este era acionado, acendia-se uma luz-piloto, ouvia-se um zumbido
elétrico e o voltímetro marcava a intensidade do choque.

A tarefa de aprendizagem mais frequentemente utilizada consistia na memorização de pares


associados de palavras. O “professor” lia, alto, uma lista de pares de palavras, e depois lia a a
primeira palavra de cada para, juntamente com quatro alternativas. O “aluno” tinha de escolher
a alternativa que havia sido previamente emparelhada com a palavra em questão.

O experimentador explicava ao “professor” que este deveria administrar um choque ao


“aluno” sempre que este desse uma resposta errada, aumentando a intensidade em 15V por cada

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novo erro. Era ainda pedido que, antes de administrar o choque, corrigisse o erro do “aluno” e
anunciasse em voz alta a sua voltagem.

Depois de 10 ensais-treino (onde nunca se ultrapassavam os 110 volts), começava a


verdadeira experiência. No decorrer da experiência, alguns elementos eram constantes (controlo
de variáveis):

· Respostas do “aluno”: cometia 1/3 de erros.


· Reações do “aluno”: até aos 300V não reagia, aos 300V batia audivelmente na parede com
a mão livre e a partir dai não surgiam mais respostas sinalizadas na “caixa de respostas”.
Nessa altura, o experimentador indicava ao sujeito crítico que deveria considerar a
ausência de respostas como um erro.
· Incitamentos-padrão do experimentador quando o “professor” não queria continuar,
sendo estes: “por favor continue”, “a experiência requer que continue”, “é absolutamente
essencial que continue”, “não tem alternativa, tem de continuar”. Se, após estes quatro
incitamentos, o sujeito crítico se recusasse a continuar, a experiência terminaria.
· Se o sujeito critico dissesse que o “aluno” não queria continuar, o experimentador
respondia “Queira ou não, voe tem de continuar até que ele aprenda todas as palavras
corretamente”, e depois seguiam-se, se necessário, os quatro incitamentos-padrão.
· Quando o “professor” perguntava quem assumiria a responsabilidade pelas eventuais
consequências nocivas dos choques, o experimentador afirmava que a assumiria
inteiramente.

No final da experiência os sujeitos foram entrevistados e foi feito o debriefing.

RESULTADOS
A principal variável dependente era a intensidade ou choque máximo que cada sujeito crítico
administrou antes de se recusar a continuar (de 0 a 30 choques). Tendo em conta a variável
dependente foram definidos dois tipos de sujeitos críticos/ingénuos (“professores”):

OBEDIENTES DESOBEDIENTES
Interrompe, em qualquer ponto, antes do
Até aos 450V.
30º Choque.

PREVISÕES

Foi pedido a duas amostras de participantes que dessem uma previsão da até onde os
“professores” iriam na intensidade dos choques, que estimaram um total de 150V, talvez um
pouco mais, mas que nunca ultrapassariam os 300V. Também foram interrogados para o mesmo
fim, mas em relação à condição “feedback de voz” ou “voz audível”, 40 qualificados psiquiatras
que previram que o número de pessoas dispostas a chegar aos 450V não ultrapassaria os 0.2%
(seria de 0.125%), por 0.2% ser a percentagem média de psicopatas na população.

RESULTADOS QUANTITATIVOS: INTENSIDADE DOS CHOQUES

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Como podemos ver na tabela abaixo, 26 dos 40 participantes críticos (65%) foram até o
máximo dos choques, isto é, OBEDECERAM. Sendo que apenas 14 dos 40 (35%), DESOBEDECERAM.
Ainda, 35 dos 40 (87.5%) ultrapassou os 300V.

DISTRIBUIÇÃO DA INTENSIDADE DE CHOQUE A PARTIR DA QUAL OS PARTICIPANTES SE RECUSAM A


CONTINUAR A EXPERIÊNCIA
NÚMERO DE SUJEITOS PARA OS
DESIGNAÇÃO VERBAL INDICAÇÃO DA VOLTAGEM QUAIS ESTA FOI A VOLTAGEM
MÁXIMA
CHOQUE FRACO 15 – 60 0
CHOQUE MODERADO 75 – 120 0
CHOQUE FORTE 135 – 180 0
CHOQUE MUITO FORTE 195 – 240 0
CHOQUE INTENSO 255 – 285 0
300 5
315 4
CHOQUE DE EXTREMA
330 2
INTENSIDADE
345 1
360 1
375 1
PERIGO: CHOQUE SEVERO
390 – 420 0
435 0
XXX
450 26

RESULTADOS QUALITATIVOS: ENTREVISTA E OBSERVAÇÕES

Os resultados das entrevistas confirmaram que os participantes críticos não se aperceberam


do teor da simulação envolvida (i.e., os sujeitos acreditaram na situação). Mais importante que
isso, demonstraram que os sujeitos viveram a situação num estado de extrema tensão, exibindo
sinais de extrema tensão como (suor, tremor, rir nervosamente, morder o lábio, murmurar
continuadamente, dizer que tinham de parar e continuar). A obediência destrutiva dos
participantes de Milgram não se deveu, então, à falta de preocupação com a vítima ou à suspeita
de que a experiência tivesse sido manipulada.

QUESTÕES ÉTICAS
Primeiro, as incitações-padrão ameaçam escolha dos participantes de abandonar experiência
assim que quisesse. Ainda, críticos afirmam que o stress a curto-prazo e o potencial dano a longo-
prazo nos participantes não podia ser justificado pelos contributos da experiência para o
conhecimento psicológico

Em sua defesa, Milgram apontou os dados do questionário de follow-up que indicavam que
maioria dos participantes (83.7%) não só estava contente por ter participado no estudo, como
também dissera ter aprendido algo importante com a sua participação e acreditar que os
psicólogos deveriam conduzir mais estudos deste tipo no futuro.

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VARIAÇÕES EXPERIMENTAIS DE MILGRAM

PROXIMIDADE DA VÍTIMA
Milgram fez variar o grau de contacto do sujeito crítico com a vítima, acrescentando três
condições ao paradigma original, que seria agora de controlo. Assim A proximidade da vítima foi
operacionalizada em 4 condições:

CONDIÇÃO FEEDBACK CONDIÇÃO FEEDBACK CONDIÇÃO


CONDIÇÃO
REMOTO OU DE VOZ OU VOZ PROXIMIDADE
PROXIMIDADE
CONTACTO REMOTO AUDÍVEL CONTACTO
Foi a condição Condição idêntica Condição idêntica Aqui, o aluno só
usada no estudo à anterior, mas com a à anterior, mas como recebia choques se
original, onde o introdução de aluno na mesma sala colocasse a mão
“aluno” é colocado protestos de voz que o sujeito critico. numa placa. A partir
numa outra sala e audíveis por parte do Para além de audível, dos 150V recusava-se
não podia ser ouvido “aluno”. Este fazia-se a vítima passa a ser a fazê-lo, tendo o
ou visto pelo sujeito ouvir, protestando também visível. sujeito crítico de
crítico, a não ser aos com veemência forcá-lo a colocar a
300V, quando batia crescente dos 150V mão na placa.
na parede. A partir aos 300V. A partir dos
dos 315V não 300V cessava os
respondia mais, nem protestos e não se
era ouvido. ouvia mais nada.
34% 37.5% 60% 70%
DESOBEDECERAM DESOBEDECERAM DESOBEDECERAM DESOBEDECERAM

Pelos resultados, vemos que a obediência decresceu substancialmente com o aumento da


proximidade do “aluno”. Embora a dor que percecionavam fosse igual, ver e ouvir aumentou
empatia. Assim, a manipulação da variável proximidade da vítima teve um efeito impressionante.

PROXIMIDADE AUTORIDADE
Como a proximidade à vítima fez decrescer a obediência, Milgram quis verificar se a
proximidade à autoridade teria o efeito inverso. Para tal, criou uma nova experiência com 3
condições:

CONDIÇÃO 1 CONDIÇÃO 2 CONDIÇÃO 3


O experimentador Depois das instruções, o O experimentador nunca
sentava-se perto do sujeito experimentador ausentava- aparece, sendo as instruções
crítico. se e comunicava com o fornecidas através de uma
sujeito critico apenas por gravação que era ativada
telefone. quando o sujeito entrava no
laboratório.

Os resultados demostraram que a obediência decresceu substancialmente com o


afastamento da autoridade. Assim, existe uma fortíssima relação positiva entre proximidade da
autoridade e os níveis de obediência alcançados.

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PRESTÍGIO AUTORIDADE
Será que o que contribuiu para os resultados da experiência original foi o prestígio elevado de
que a Universidade de Yale dispõe nos EUA? Se assim tivesse sido, a replicação desta experiência
num laboratório de menor prestígio deveria atenuar o grau de obediência verificado. Milgram
testou esta hipótese num laboratório com aspeto velho e desleixado, em nome de uma
organização desconhecida: a Research Associates of Bridgeport.

Os resultados mostraram que não houve redução apreciável do grau de obediência, apesar
de, nas entrevistas pós-experimentais, os sujeitos terem colocado em dúvida a credibilidade da
instituição.

INFLUÊNCIA DOS OUTROS E PESO DO APOIO SOCIAL PARA A DESOBEDIÊNCIA


Milgram realizou variações nas quais a situação experimental era composta por 3 professores,
em vez de por um, sendo que destes 3, 2 eram comparsas do experimentador e 1 era um sujeito
crítico.

Numa das experiências, a meio da experiência os 2 “professores”, comparsas do


experimentador, recusavam-se a continuar a administração dos choques. Mais de 90% dos
participantes críticos também se recusaram a continuar. Noutra experiência, idêntica à anterior,
os comparsas continuavam obedientemente a seguir as instruções até aos 450V: Aqui, a
obediência aumentou apenas muito ligeiramente.

Os resultados mostraram então que a influência dos outros foi mais eficaz na facilitação da
desobediência do que na promoção da obediência (impacto libertador do apoio social).

CONSISTÊNCIA DA AUTORIDADE
Noutras variações experimentais, Milgram fez, num caso, com que o sujeito crítico se
confrontasse com 2 experimentadores com opiniões divergentes sobre a continuação da
administração dos choques; noutro, as funções do experimentador foram delegadas num sujeito
(sem bata) (comparsa do experimentador). Em ambos os casos, o nível de obediência baixou
consideravelmente.

EM SUMA

· Proximidade vítima exerce efeito bastante forte sobre obediência à autoridade (diminuindo
esta à medida que a primeira aumenta).
· Relação positiva fortíssima entre a proximidade da autoridade e os níveis de obediência à
mesma.
· Prestígio da autoridade parece não afetar o nível da obediência (não parece ser fator
explicativo).
· Apoio social mais eficaz na facilitação da desobediência do que na promoção de obediência.
· Nível obediência diminui consideravelmente com o decréscimo da consistência da
autoridade.

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· Nenhum dos fatores caráter, cultura ou tempo explicam os resultados de Milgram: Milgram
convenceu-se de que a explicação assentava no poder da situação social para ativar uma
norma de obediência.

½ SÉCULO DEPOIS: PESSOAS CONTINUAM A OBEDECER?

REPLICATION MILGRAM: WOULD PEOPLE STILL OBEY TODAY?


BURGER (2009)

Burger (2009), conduziu uma replicação do estudo de Milgram, com modificações para
cumprir com os requerimentos éticos. Assim, no decorrer da experiência, aos 150V há protesto
verbal por parte do “aluno”, que diz não querer continuar o estudo, uma vez que tem um
problema cardíaco e sente que os choques estão a afetar o seu coração. Esta é a potência
máxima, na medida em que, ainda que haja botões até à voltagem 450, a experiência termina
assim que os sujeitos leem a pergunta após terem dado um choque de 150V.

Uma vez que 74.2% dos sujeitos na experiência de Milgram que continuaram a experiência
após ouvirem o protesto verbal aos 300V iam até à voltagem máxima, podem ser feitas
estimativas razoáveis quanto ao que os sujeitos do presente estudo que liam a pergunta que
seguia o choque de 150V, fariam se pudessem continuar a experiência.

Os resultados mostraram que os níveis de obediência foram apenas ligeiramente inferiores


aos verificados na experiência de Milgram 45 anos antes. Contrariamente à expectativa, os
participantes que viram um comparsa do experimentador a recusar as instruções do
experimentador (desobedecer), obedeceram tanto como aqueles que não viram ninguém a
recusar obedecer ao experimentador. Ainda, os homens e mulheres não diferiram nos níveis de
obediência, mas houve evidência de que diferenças individuais na empatia e desejo de controlo
afetavam as respostas dos participantes.

WOULD YOU DELIVER AN ELETRIC SHOCK IN 2015?


DOLINSKI ET AL (2015)

Numa replicação da experiência de Burger, Dolinski et. Al (2015) verificaram novamente níveis
de obediência semelhantes aos de Milgram (elevados). Os sados relativos à influência da
diferença de género (sexo de participantes e do “aluno”) e das características pessoais foram
mais uma vez não conclusivos (ainda que 6 tenham desobedecido ao “aluno” mulher).

OBEDIÊNCIA FORA DO CONTEXTO LABORATORIAL

“THE HOFLING HOSPITAL EXPERIMENT”


H O F L I N G , B R O T Z MA N , D A L R Y MP L E , G R A V E S , & B I E R C E ( 1 9 6 6 )

Estudo de campo onde 21 de 22 enfermeiras (95%) sobre medicaram um paciente por ordem
do médico, indo contra os procedimentos do hospital. Desde logo, um dos pontos do
regulamentos indicava que as ordens deviam ser dadas pessoalmente, que não deviam responder
a ordens da parte de pessoas que, mesmo se apresentando como médicos, não eram familiares.

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Mais ainda, o medicamento não constava na lista de medicamentos que podiam ser
administrados. O contacto do medico foi estabelecido através do telefone e tratava-se de uma
voz não familiar.

O médico, que se apresentava como Dr. Smith, telefonava para a enfermaria e dizia que
pretendia visitar o paciente novamente ao fim do dia, e pedia que a enfermeira administrasse x
dose do tal medicamento (na realidade, placebo). Aquilo que foi verificado foi que, por mera
indicação telefónica da autoridade, as enfermeiras davam o medicamento ao paciente, mesmo
indo contra o regulamento.

HISTÓRIA DA HUMANIDADE
Se experiência faltassem, com base na história da humanidade temos a clara indicação que
sim, nós obedecemos, e muitas vezes essa obediência é destrutiva, como é o exemplo do
Holocausto, da URSS, da Venezuela, etc. No fundo, o que Milgram fez, foi replicar em laboratório
aquilo que fora do laboratório já era conhecido.

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NORMAS SOCIAIS
AULA TEÓRICA 4

As normas sociais são regras formais ou informais, explícitas ou implícitas, definidas por um
grupo (cultura, sociedade) acerca dos comportamentos, valores e crenças aceitáveis, como por
exemplo a distância social (i.e., espaço vital), a saudação, o vestuário, etc. Uma norma social é
então uma forma geralmente aceite de pensar, sentir ou comportar-se que a maioria das pessoas
num grupo concorda e endossa como correta e adequada.

Neste sentido, as normas sociais são semelhantes às atitudes: ambas são representações
mentais de formas apropriadas de pensar, sentir e agir. No entanto, enquanto as atitudes
representam as avaliações positivas ou negativas de um indivíduo, as normas refletem avaliações
de grupo partilhadas do que é verdadeiro ou falso, bom ou mau, apropriado ou inapropriado.

As normas sociais são adquiridas e interiorizadas muito PRECOCEMENTE, uma vez que são
transmitidas desde muito cedo (deliberada ou não deliberadamente) pelas ENTIDADES
SOCIALIZADORAS (i.e., família, escola, igreja, etc.). Estas entidades socializadoras seguem uma
ESTRUTURA HIERÁRQUICA, isto é, muitas das vezes as normas são passadas “de cima para baixo”,
principalmente durante o nosso desenvolvimento.

As normas sociais têm uma DUPLA FACETA, na medida em que, para além de serem muito
úteis podem ter consequências negativas:

REGULAÇÃO SOCIAL E REDUÇÃO DA INCERTEZA OBSERVÂNCIA CEGA


· Ajudam a manter a ordem social. · Obediência destrutiva: obedecer a um
· Ajudam a gerir conflitos. comando para magoar outro.
· Ajudam a regular a distribuição de · “Crimes de obediência”: ato ilegal ou
recursos e oportunidades. imoral cometido em resposta a ordens ou
direções de uma autoridade.

Algumas das normas mais poderosas refletem crenças profundas sobre como as pessoas se
devem tratar umas às outras:

Perspetiva partilhada de que somos obrigados a devolver aos


NORMA DA
outos os bens, servições, favores e conceções que eles nos
RECIPROCIDADE SOCIAL
deram/ofereceram.

NORMA DA Perspetiva partilhada de que devemos ajudar os outros quando


RESPONSABILIDADE SOCIAL eles necessitam.

NORMA DO Perspetiva partilhada de que devemos honrar os nossos acordos,


COMPROMISSO SOCIAL promessas e obrigações.

Perspetiva partilhada de que as pessoas devem obedecer (seguir


NORMA DA OBEDIÊNCIA À
os comandos, instruções, ordens) àqueles que possuem
AUTORIDADE
autoridade legítima.

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NORMA DA RECIPROCIDADE SOCIAL


Perspetiva partilhada de que somos obrigados a devolver aos outros os bens, serviços, favores
e concessões que eles nos derem/oferecerem. É uma das normas sociais mais prevalentes e , de
acordo com o sociólogo Alvin Gouldner (1960), é quase universal (estando isentos os bebés, os
doentes e os velhos). A adesão à norma da reciprocidade gera confiança e fortalece os laços que
mantém grupos unidos.

Esta norma pode ser usada para nossa desvantagem. Por exemplo, quando nos oferecerem
algo valioso vemo-nos obrigado a dar algo em troca, isto é, a devolver presentes, favores e
elogios, mesmo quando não solicitados. Vendedores, gerentes de mercado e investigadores
estão bem cientes do poder de presentes que não são solicitados, sendo esta norma utilizada
pelo marketing e é o que está por trás das amostras grátis, de sessões abertas num novo ginásio,
que nos fazem sentir que devemos dar algo em troca, neste caso comprar o produto e inscrever
no ginásio.

Exemplo:

Numa experiência, foi oferecido a alguns participantes uma garrafa de coca-cola por um colaborador simpático e a outros por
um não-simpático. Mais tarde, o mesmo colaborador tentou vender rifas aos participantes. Os resultados mostraram que os
participantes que tinham recebido um presente não solicitado (coca-cola) compraram mais rifas, mesmo sabendo que o preço das
rifas era superior ao da coca-cola. Note-se que o grupo de participantes que recebeu o presente de um colaborador menos simpático
também comprou mais rifas do que os participantes que não receberam a coca-cola.

Door-In-The-Face Technique

A technique in which the influencer makes an initial


request so large that it will be rejected and follows it
with a smaller request that looks like a concession,
making it more likely that the other person will concede
in turn.

NORMA DO COMPROMISSO SOCIAL


“Não faças promessas que não consegues cumprir.”

Perspetiva partilhada de que devemos honrar os nosso acordos, promessas e obrigações. Esta
norma e tão prevalente e universal como a norma de reciprocidade, pelas mesmas razões. Os
“contratos sociais” ajudam a garantir que os membros de um grupo ou sociedade façam a sua
parte, quando ações coordenadas são necessárias para atingir um determinado objetivo. Da
mesma forma, como o compromisso social tudo tem a ver com a confiança, a adesão à norma
une os membros de um grupo. Assim, a norma do compromisso social torna possível a
cooperação e o comportamento coordenado em grupos e aumenta a capacidade das pessoas de
controlar o seu ambiente. São a base da reputação social positiva, fomentando a conexão social.

Exemplo:

Numa praia lotada em Nova Iorque, um experimentador pediu a sujeitos sentados ao pé dele, que fariam parte do grupo
experimental, para darem uma vista de olhos no seu rádio, enquanto ele “ia ali e já vinha”. No grupo controlo, não fez nenhum
contrato social explicito com os sujeitos, apenas interagiu com eles e perguntou as horas antes de sair, deixando o rádio na toalha.
Uns minutos depois, um comparsa fingiu roubar o rádio. 95% dos sujeitos do grupo experimental impediram o roubo, enquanto
apenas 20% do grupo controlo fez o mesmo.

Mª Matilde Silva | ISPA


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Tal como a norma da reciprocidade, a norma do compromisso social pode ser usada como
vantagem por uns, para desvantagem de outros.

Low-Ball Technique

A technique in which the influencer secures agreement


with a request but then increases the cost of honoring
the commitment.

NORMA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL


Perspetiva partilhada de que devemos ajudar os outros quando eles necessitam. Contudo,
temos mais tendência a ajudar aqueles que julgamos necessitarem de ajuda sem terem culpa
disso, do que aqueles que necessitam de ajuda por culpa deles próprios.

NORMA DA OBEDIÊNCIA À AUTORIDADE


Perspetiva partilhada (expectativa) de que as pessoas devem obedecer (seguir os comandos,
instruções, ordens) àqueles que possuem autoridade legítima (concedida pela sociedade). A
experiência social leva à interiorização de que a norma da obediência traz compensações para o
indivíduo e que a desobediência tem consequências negativas. A norma da obediência pode ser
ativada perante símbolos que representam autoridade.

CONDIÇÕES PARA OBEDECER A UMA AUTORIDADE

A AUTORIDADE DEVE SER LEGÍTIMA


As pessoas não obedecem a qualquer um que lhes dê ordens. Para a obediência ser atingida,
a autoridade tem de fazer parecer que é a pessoa a quem os outros devem obedecer. Os
símbolos de autoridade são muito relevantes para que uma autoridade seja vista como legitima
e, quando as pessoas usam os símbolos corretos, as outras vêm-nas como possuidoras de uma
autoridade legitima, ficando muito mais propensas a seguir as suas ordens.

Na experiência de Milgram, por exemplo, a bata branca do experimentador fez com que as
pessoas o considerassem como uma autoridade legitima: alguém com o direito de dar ordens no
contexto experimental.

Em concordância com os símbolos, a autoridade deriva, naturalmente, do estatuto (e.g.,


polícia, médico, professor, pais). Quando um soldado saúda um oficial do exército, por exemplo,
ele ou ela está a saudar a patente do oficial superior, um gesto que simboliza a autoridade que o
oficial detém sobre o soldado comum.

A legitimidade não é, então, algo que esteja inerente à autoridade, até porque há autoridades
que consideramos como ilegítimas. Portanto, embora o facto de a autoridade existir derivar do
estatuto, é o grupo que atribui essa legitimidade (ou não) a essa figura de autoridade com o
direito de fornecer ordens e atribui aos seus membros a responsabilidade de obedecer.

Há ainda todo um campo de estudo sobre a perceção de justiça, que demostra que as
autoridades são consideradas legitimas, as suas ações são aceites e que ocorre obediência

Mª Matilde Silva | ISPA


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voluntária quando usam procedimentos justos e tratam as pessoas com respeito. Algo necessário
para que a autoridade seja percecionada como legitima é, então, a perceção de justiça.

A AUTORIDADE DEVE ACEITAR A RESPONSABILIDADE


Na experiência de Milgram, quando alguns dos "professores" tiveram dúvidas quanto ao
continuarem com a experiência, o experimentador lembrou-lhes que assumia plena
responsabilidade, o que muitas vezes era suficiente para manter a obediência. Assim, é crucial
para o poder da autoridade que a responsabilidade seja atribuída a quem dá as ordens, e não a
quem obedece. Ainda, as pessoas que obedecem e que vêm outros subordinados obedientes
atribuem a responsabilidade da obediência à figura de autoridade.

A NORMA DA OBEDIÊNCIA DEVE ESTAR ACESSÍVEL


Numa das experiências de Milgram, em vez de um experimentador a dar instruções Milgram
punha um comparsa a fazer de participante a dar instruções. Como o comparsa não era
considerado uma autoridade legitima, a norma da obediência não estava acessível. Os resultados
foram dramaticamente diferentes dos da experiência original uma vez que os “professores”
ignoravam o comparsa e recusavam-se a dar choques e quando o comparsa tentava dar ele
mesmo os choques, os “professores” protestavam vigorosamente. Alguns professores até
desligaram o aparelho dos choques da corrente.

Não obstante, a figura de autoridade não precisa de estar fisicamente presente para que a
norma fique acessível – pensar meramente sobre a figura de autoridade seria provavelmente o
suficiente. Contudo, quanto mais obvia a figura de autoridade na experiência de Milgram (estar
sempre presente em comparação com estar presente e sair ou com ser um participante a dar
instruções), maior a probabilidade da acessibilidade da norma de obediência e maior a
probabilidade de as pessoas obedecerem. A presença do experimentador manteve os
participantes concentrados exclusivamente na norma da obediência à autoridade, mesmo
quando alguns deles questionavam o que estava a acontecer. Os seus incitamentos-padrão (e.g.,
"Tem de continuar"), fizeram com que a obediência parecesse uma resposta apropriada à
situação.

OUTRAS NORMAS DEVEM ESTAR MENOS ACESSÍVEIS


Claro que, para que ocorra obediência, da mesma maneira que a norma da obediência tem de
estar acessível, outras normas, como a norma da responsabilidade social, têm de estar menos
acessíveis. Na experiência de Milgram, por exemplo, os participantes ficaram claramente
perturbados com o aparente sofrimento do aprendiz, estando a norma da responsabilidade social
estava em conflito com a da obediência. Aproximar o aluno em sofrimento fez com que as normas
em conflito com a da obediência se tornassem ainda mais acessíveis e, enquanto o equilíbrio
pendia para uma norma ou para outra, também a obediência declinava. Quando Milgram pôs o
“professor” e “aluno” mais próximos, a dor dos alunos tornava-se menos evitável, a norma da
responsabilidade social tornava-se mais acessível, pelo que a obediência diminuía Portanto,
distanciar fisicamente a pessoa é uma forma de suprimir outras normas incompatíveis com a
norma da obediência. Assim, as condições que diminuem a acessibilidade da norma à obediência
ou que aumentam a atenção a outras normas também diminuem a obediência.

Mª Matilde Silva | ISPA


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NORMALIZAÇÃO
A S E X P E R I Ê N C I A S D E MU Z A F E R S H E R I F ( 1 9 3 5 , 1 9 3 6 )

Que processos psicológicos estarão na base da formação das normais culturais?

Normalização
Criação de uma norma através de
concessões/influências recíprocas. Os individuos
interinfluenciarem-se explica como pessoas chegam a
normas comuns.

Sherif procurou estudar os processos psicológicos elementares que pudessem estar na base
da formação das normas culturais. Verificou que a formação de normas culturais era um
fenómeno generalizado, na medida em que há uma grande variação intercultural de normas. É
evidente que as regras de conduta e costumas variam imenso de povo para povo, de região para
região, mas não é menos evidente que existe algo de constante nessa variação, e esse algo é a
existência de regras de conduta e costumes em todos os povos e regiões: há uniformidade de
padrões intraculturais. A universalidade das normas (o facto de todos os povos e regiões as
terem) era, para Sherif, um sintoma de um fundamento psicológico comum.

Nas suas experiências, Sherif tomou como ponto de partida um conceito central da psicologia,
o de “QUADRO DE REFERÊNCIA”. Este conceito refere-se à:

“Tendência generalizada dos indivíduos para organizar as suas EXPERIÊNCIAS,


estabelecendo RELAÇÕES, em cada momento, ENTRE ESTÍMULOS INTERNOS
OU EXTERNOS, criando UNIDADES FUNCIONAIS que fornecem LIMITES E
SIGNIFICADO àquilo que é EXPERIMENTADO.”

Um exemplo que ajuda a perceber este conceito é: se pusermos a mão em água fria e de
seguida em água morna, esta última parecer-nos-á quente. Por outro lado, se colocarmos a mão
em água quente e depois mudarmos para água fria, a água parecer-nos-á fria. Isto acontece
porque as sensações não dependem apenas das qualidades da estimulação, mas também, em
muito, da situação de cada sensação num dado quadro de referência subjacente, onde se
relaciona outras experiências relevantes e acessíveis ao individuo. Assim, a temperatura da água
depende sempre de uma comparação implícita com a experiência imediatamente anterior.

Tomando este ponto de partida, Sherif estava interessado em tornar mais claro este processo,
ilustrando o mais precisamente possível o papel da atividade subjetiva de cada individuo na
criação destes quadros de referência. Este era o problema psicológico básico, mas Sherif não
ficava por aqui, considerava este processo como o fundamento psicológico que se encontrava na
base da formação de normas culturais como fenómeno generalizado. Assim, ao estudar a
formação de quadros de referência, Sherif pretendia aclarar o modo como as atitudes e as
crenças (QUADROS DE REFERÊNCIA INDIVIDUAIS) se interrelacionavam, desde a sua génese, com
as normas grupais e culturais (QUADROS DE REFERÊNCIA SOCIAIS).

Se Sherif pretendia demonstrar a tendência para a organização das experiências em quadros


de referência, ele precisava de uma situação concreta na qual não fossem aplicáveis regras
anteriormente aprendidas, que fosse instável (que remetesse para a necessidade de organização)
e que fosse ambígua. Por outras palavras, teria de colocar os indivíduos numa situação onde lhes

Mª Matilde Silva | ISPA


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faltavam tanto padrões aprendidos de conduta como consistência objetiva e, se mesmo assim o
comportamento dos indivíduos exibisse coerência, esta só poderia advir desta tendência
subjetiva para a organização.

Sherif usou então um fenómeno percetivo: o EFEITO “AUTOCINÉTICO”. Este efeito foi pela
primeira vez identificado na astronomia por Humboldt. Para reproduzir este efeito autocinético
basta colocar um sujeito numa sala completamente escura e acender uma luz fraca durante um
momento. Este verá a luz mover-se. Se se repetirmos a experiência por várias vezes, o individuo
verá a luz mover-se por diversos pontos da sala e em diversas direções quando, na verdade, a luz
permanece sempre imóvel.

Sherif replicou este efeito pedindo aos sujeitos que estimassem a extensão do movimento da
luz. Para tal, usou sempre o mesmo dispositivo experimental, mas fazendo as adaptações
necessárias para abordar diversas questões:

COMO VARIA A EXTENSÃO DO MOVIMENTO ILUSÓRIO PERCEBIDO EM VÁRIAS CONDIÇÕES?


INDIVIDUO GRUPO CROSSOVER
Ao longo das estimativas O que fará um grupo de · Quando um indivíduo é
sucessivas de um indivíduo pessoas colocadas na mesma trazido para uma situação
isolado o que fará um sujeito situação? de grupo, depois de ter
colocado numa situação Será que os seus experimentado a
objetivamente indefinida, na diferentes elementos situação sozinho.
qual não exista qualquer base emitirão uma amálgama de · Quando um indivíduo é
de comparação em termos do julgamentos disparatados? deixado só na situação,
campo de estimulação Ou será que eles depois de a ter
externo? estabelecerão um ponto de experienciado em grupo.
Será que ele emitirá uma referência coletivo? · Quando um indivíduo é
amálgama de julgamentos Se cada indivíduo colocado na situação em
disparatados? Ou será que estabelecer uma norma, esta conjunto com
estabelecerá um ponto de será a sua norma pessoal, participantes que
referência próprio? diferente da dos outros receberam indicações do
membros do grupo ou será experimentador para
que ele estabelecerá uma fornecerem
norma comum, própria à determinados tipos de
situação particular do grupo e estimativas.
que dependerá da presença · Quando o
conjunta destes sujeitos e da experimentador fornece
sua influência recíproca? indicações sobre a
correção das estimativas.
QUE EFEITO PODE TER A SUGESTÃO NA DIREÇÃO DOS MOVIMENTOS ILUSÓRIOS PERCEBIDOS?
AS HIPÓTESES DE QUE PARTIA ERAM AS SEGUINTES:
INDIVIDUO GRUPO
Um individuo colocado só numa situação Se um grupo for colocado na mesma
(e.g., exposição ao efeito autocinético) em situação, cada indivíduo adotará o
que não disponha nem de conhecimento comportamento dos outros como padrão
anterior relevante nem de um quadro organizador do seu próprio comportamento.

Mª Matilde Silva | ISPA


38

objetivo de referência, irá organizar a sua


experiência a partir do seu próprio
comportamento.

Para responder a estas questões o autor realizou diferentes modalidades de experiências,


podendo estas ser dividas em dois grupos principais: as experiências individuais, e as experiências
de grupo.

NO LABORATÓRIO ÀS ESCURAS

EXPERIÊNCIAS

INDIVIDUAIS GRUPO

SÉRIE I SÉRIE II SÉRIE III SÉRIE I SÉRIE II SÉRIE III

ESTABILIDADE IMUTABILIDADE DE GRUPO


O QUE DE INDIVIDUAL QUERES SABER
DO DO PARA
SUCEDE? PARA GRUPO VAI LER
FENÓMENO? FENÓMENO? INDIVIDUAL

EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS

SÉRIE 1: O QUE SUCEDE?


O estímulo luminoso era um pequeno ponto de luz que podia ser visto através de um pequeno
orifício de uma caixa de metal. A luz era apresentada ao participante quando se levantava uma
portinhola que se encontrava à frente do orifício. O participante estava sentado a uma mesa onde
se encontrava uma tecla de telégrafo. Era-lhe explicado que, depois de a sala ficar
completamente escura, lhe seria mostrado um ponto luminoso. A sua tarefa era a de premir a
tecla assim que esse ponto luminoso surgisse e de, logo após o seu desaparecimento, estimar a
distância que esse ponto luminoso tinha percorrido. Os 19 participantes forneciam em voz alta
a sua estimativa (em polegadas) que era registada de imediato pelo experimentador. No fim
dessas 100 estimativas cada participante respondia a 3 perguntas (questionário pós-
experimental): “Foi difícil fazer uma estimativa da distância? Se sim, exponha as razões.”; “Mostre
com um diagrama como se moveu a luz.”; “Tentou usar algum método próprio para aperfeiçoar
as suas estimativas?”.

Os RESULTADOS mostraram que apesar de ter sido registada uma enorme variação
interindividual nas estimativas apresentadas (i.e., as estimativas entre indivíduos foram muito
diferentes), cada participante definiu um intervalo idiossincrático para os seus juízos, oscilando à

Mª Matilde Silva | ISPA


39

volta de um ponto médio cedo encontrado (e.g., distância vai oscilar à volta do valor 8, sendo o
intervalo entre 7 e 10; 8, 8.5, 7, 8.1, 10, 9.5). Assim podemos afirmar que os sujeitos criaram um
quadro de referência idiossincrático.

Os dados relativos às respostas às perguntas mostraram que os participantes acharam a tarefa


difícil precisamente pela ausência de um ponto de referência (e.g., não existiam objetos próximos;
não existia um ponto fixo pelo qual julgar a distância). Quanto à pergunta sobre as estratégias
utilizadas os participantes responderam: “Comparei com a distância prévia”; “Comparei
julgamentos sucessivos”; “Adotei a primeira estimativa como padrão”.

SÉRIE 2: ESTABILIDADE DO FENÓMENO?


Levaram-se os participantes a realizar 300 estimativas em diversos dias da mesma semana. Os
RESULTADOS demostraram que uma vez criado um intervalo subjetivo e um ponto médio dentro
desse intervalo, existe uma forte tendência para a manutenção: o quadro de referência é estável!

SÉRIE 3: IMUTABILIDADE DO FENÓMENO?


Foram seguidos os mesmos procedimentos experimentais, mas introduziu-se uma variação
importante: a certa altura da sucessão de estimativas, o experimentador dizia que as estimativas
estavam a ser demasiado altas (ou baixas). Os RESULTADOS desta modificação foram bastante
notáveis. Os sujeitos alteraram, consideravelmente, o seu quadro de referência (ponto médio e
intervalo) na direção sugerida pelo comentário do experimentador. O quadro de referência não
é imutável (é sensível ao contexto, uma vez que os comentários do experimentador levaram à
sua reconstrução).

CONCLUSÕES DAS EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS


Colocados numa situação ambígua, e não dispondo de aprendizagem anterior relevante, os
sujeitos, ao invés de refletirem a desorganização inerente a essa situação, desenvolveram
quadros de referência idiossincráticos e estáveis, definindo implicitamente um padrão (um ponto
mediano) e um intervalo à volta desse padrão. Fica assim demonstrado que a tendência
psicológica para a auto-organização é mais do que um simples reflexo direto da organização do
contexto em que os indivíduos coexistem. No entanto, a estabilidade destes quadros de
referência não é imutável, mas sim sensível ao contexto, de tal modo que um comentário do
experimentador pode levar à sua reconstrução.

EXPERIÊNCIAS DE GRUPO

SÉRIE 1: DE GRUPO PARA INDIVIDUAL


Os procedimentos utilizados foram basicamente os mesmos das séries anteriores. A principal
diferença foi a utilização simultânea de vários participantes em grupos de 2 ou 3. Assim, as
instruções incluíam também um pedido aos participantes para que fossem alterando a ordem em
que respondiam. Ainda, fora também acrescentadas algumas perguntas ao questionário pós-
experimental. Referiam-se, no essencial, à consciência de que os participantes dispunham, tanto
do seu quadro de referência, como da influência que os outros tiveram no seu estabelecimento.

Mª Matilde Silva | ISPA


40

Foi omitido o pedido de um diagrama do movimento, para que os participantes não dessem conta
da ilusão.

Os participantes, depois de experienciarem a situação acima descrita em 3 sessões de 100


estimativas em diferentes dias, eram submetidos a uma 4º sessão, esta individual. Procurava-se,
assim verificar influência que indivíduos tinham uns nos outros durante as sessões de grupo,
(influencia intragrupal), mas também verificar até que ponto essa influência se estendia a
situações em que o individuo se encontra isolado.

SÉRIE 2: DE INDIVIDUAL PARA GRUPO


Só diferia da primeira no conteúdo das 4 sessões. Nesta série, cada individuo participava numa
1ª sessão individual e posteriormente em 3 sessões em grupo. Neste caso, procurava-se verificar
até que ponto um padrão individual, que sabemos de grande estabilidade, se mantém em
situações de grupo.

RESULTADOS E CONCLUSÕES DAS SÉRIES I E II


a) Os resultados mostraram que quando os indivíduos começam as suas estimativas em sessões
individuais, os seus padrões (pontos médios e intervalos) variam muito mais do que quando
a primeira sessão em que participaram é de grupo (ou seja, maior variação intraindividual nas
sessões individuais).
b) A variação nas sessões individuais reduz-se muito se os indivíduos já passaram pelas sessões
de grupo.
c) A convergência das sessões de grupo diminui se os participantes já passaram por sessões
individuais (ou seja, maior variação interindividual quando os sujeitos começaram pelas
sessões individuais).
d) A convergência que se verifica nas sessões de grupo não acontece à roda da média dos vários
padrões individuais. Os indivíduos variam na sua contribuição para o padrão de grupo.
e) A assimetria da convergência assinalada em d) nunca é absoluta, isto é, apesar de alguns
indivíduos convergirem mais do que outros, isso não quer dizer que o padrão do grupo seja
apenas o padrão de um dos seus membros: a convergência verifica-se em todos os indivíduos.
f) A referência ao comportamento dos outros enquanto fonte de auto-organização parece ser
mais decisiva do que o comportamento individual.

CONCLUSÕES DAS EXPERIÊNCIAS DE GRUPO


Os sujeitos, ao serem expostos em grupo a uma situação ambígua e sem conhecimentos
anteriores aplicáveis, utilizam o comportamento dos outros na construção dos seus quadros de
referência individuais, quadros de referência que continuam a ser usados mesmo na ausência do
grupo.

o Conformismo privado: pessoas são verdadeiramente persuadidas de que o grupo


está certo, aceitando livremente e privadamente as normas do grupo como suas
próprias crenças

Pelo contrário, os sujeitos que experimentavam as sessões de grupo depois de terem


construído individualmente o seu quadro de referência, faziam convergir as suas estimativas na

Mª Matilde Silva | ISPA


41

direção das dos outros, embora essa convergência fosse menos forte do que quando os
indivíduos não partiam de nenhum quadro de referência. De notar ainda que a convergência
individual em sessões de grupo, apesar de variar em extensão, foi universal.

CONCLUSÕES
NO LABORATÓRIO ÀS ESCURAS

Na ausência de referenciais prévios, as pessoas tendem espontaneamente a


auto-organizar a sua experiência tendo como base mais importante o
comportamento dos outros, mas usando também o seu próprio
comportamento.

As experiências de Sherif demonstraram a tendência que os indivíduos possuem para


organizar a sua experiência, mesmo quando a situação não oferece qualquer fundamento para
essa organização Essa tendência para a auto-organização baseia-se no próprio comportamento
de um individuo isolado ou no comportamento dos outros quando tal é possível. Apesar de estas
fontes de auto-organização serem ambas importantes, a referência ao comportamento dos
outros parece mais decisiva. A importância dos outros na criação de quadros de referência
individuais, não implica, neste caso, que eles exerçam qualquer coerção, implícita ou
explicitamente.

O conjunto de situações verificado nas experiências de Sherif pode ser conceptualizado como
ilustrando o processo geral do modo como os indivíduos e grupos organizam uma realidade
incerta num todo coerente. Basta tomar o padrão individual como um análogo de uma atitude e
o padrão grupal como o análogo de uma norma. Vemos assim que as atitudes tanto podem
basear-se em experiências individuais como em interações com os outros indivíduos. Vemos
também que um conjunto de indivíduos em interação constrói, espontaneamente, normas que
regulam tanto o seu comportamento como a sua perceção da situação. É de notar que o fazem
espontaneamente , mesmo quando não existe qualquer sugestão ou premência em fazê-lo.

Por fim, e como nota, a experiência de Sherif demonstra que numa tarefa de julgamento
ambígua, se verifica influencia social. Preocupado com a facilidade com que os participantes do
Sherif pareciam ser influenciados, Solomon Asch (1951, 1955) decidiu mostrar que se uma tarefa
de julgamento fosse não-ambígua, a influência social seria eliminada. Na realidade, a sua agora
famosa experiência demonstrou precisamente o contrário.

Mª Matilde Silva | ISPA


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O “BYSTANDER EFFECT”
AULA PRÁTICA 4

O ASSASSINATO DE KITTY GENOVESE


“ 3 7 WH O S A W T H E MU R D E R D I N ’ T C A L L ” ( N O V A I O R Q U E , 1 9 6 4 )

Kitty Genovese foi atacada por Winston Moseley quando estava a regressar a casa depois do
seu turno noturno no trabalho. Conseguiu cambalear até a esquina de uma rua, encharcada de
sangue das várias facadas que levou, onde implorou por ajuda. Enquanto as luzes dos
apartamentos da zona se ligavam, o assassino voltou e esfaqueou-a mais uma vez, desta vez
fatalmente. Os relatórios do crime 4da época alegaram pelo menos 38 testemunhas oculares e/ou
auditivas identificadas pela polícia: 38 pessoas que ouviram os gritos de socorro e/ou viram parto
do ataque, sem responder nem mesmo telefonar para a polícia. Apenas uma destas testemunhas
chamou a polícia, cerca de 30’ depois.

Quando o assassino foi preso e o


Detetive-Chefe Albert Seedman lhe
perguntou como é que se atreveu a
atacar uma mulher à frente de tantas
testemunhas, o psicopata respondeu
calmamente: “'I knew they wouldn't do
anything, people never do”. Isto reflete
a psicologia do senso comum na figura
do assassino.

Mas mantém-se em falta da explicação que justifique o que aconteceu com as testemunhas.
Serão estas maléficas? Insensíveis? Apáticas? Não. Mais uma vez, o comportamento das
testemunhas nada tem que ver com as características pessoais das mesmas, mas sim com as
NORMAS SOCIAIS e DINÂMICAS GRUPAIS. Justificar os seus comportamentos comos seus fatores
pessoais, seria incorrer no erro fundamental da atribuição.

BYSTANDER EFFECT
DARLEY & LATANÉ (1968)

Também chamado de EFEITO ESPECTADOR ou EFEITO/SÍNDROME GENOVESE, o “Bystander


Effect” é um fenómeno que consiste no facto de a presença de outros diminuir a probabilidade
de um indivíduo ajudar uma pessoa numa situação de emergência/perigo.

4
Investigações recentes vieram desmentir alguns dados destes relatórios: provavelmente havia menos de
38 expetadores, a maioria dos quais só ouviu o ataque – as evidências sugerem que apenas 3 deles
realmente viu o assassino e a vitima juntos; o segundo ataque ocorreu numa escada de um prédio, fora da
vista de quaisquer testemunhas, e mais importante; alguns dos espetadores agiram: um gritou pela janela,
afastando
Mª Matilde Silva | ISPA Moseley após o primeiro ataque, e pelo menos um chamou a polícia, que chegou antes de
Genovese morrer.
43

Bystander Effect

The finding that the presence of more bystanders


consistently decreases the likelihood of any one person
giving help.

Antes de mais é preciso ter em conta a distinção entre:

NORMAS PRESCRITIVAS NORMAS DESCRITIVAS


Normas associadas ao que os outros Normas que dizem respeito à forma como
aprovam como certo ou errado, isto é, que percebemos o comportamento dos outros
prescrevem o que deve ser feito. numa dada situação, ou seja, descrevem o
Normalmente implicam alguma sanção ou que efetivamente é feito.
recompensa (e.g., “Não se deita lixo para o
chão.”).

Descriptive Social Norms

Agreed upon mental representations of what a group of


people think, feel, or do.

No caso do Bystander Effect, parece haver um conflito entre a norma descritiva e a norma
prescritiv. Se, por uma lado, no que toca à norma prescritiva, a norma da responsabilidade social
dita que devemos ajudar os outros quando se encontram numa situação de emergência/perigo;
por outro, no que toca à norma descritiva inferimos que não devemos ajudar aquela pessoa, dado
observarmos que ninguém está a ajudar a pessoa que se encontra em emergência/perigo.

Injunctive Social Norms

Agreed upon mental representations of what a group of


people should think, feel, or do.

O ESTUDO DE DARLEY E LATANÉ


Inspirados na versão original do assassinato de Genovese, Darley e Latané (11968),conduziram
um estudo para testar a hipótese do Bystander Effect. A experiência foi desenhada de modo que:

1. A situação devia permitir que uma emergência pudesse ocorrer de forma plausível.
2. Cada sujeito devia estar fisicamente impedido de comunicar com outros para prevenir
que obtivesse informação acerca do seu comportamento durante a emergência.
3. A situação experimental devia permitir a avaliação da velocidade e frequência da reação
dos sujeitos face à emergência.

Neste sentido, os 72 participantes que participaram neste estudo, achavam que se tinham
inscrito num grupo de discussão acerca de problemas pessoais associados à vida académica na
faculdade. Para preservar o suposto anonimato, cada participante foi colocado num cubículo com
um intercomunicador, em vez de face-a-face. Foi-lhes dito também que os microfones iam estar
ativos 2 minutos de cada vez, dando a cada membro do grupo oportunidade de falar enquanto
os outros membros, mas não o experimentador, ouviam.

Mª Matilde Silva | ISPA


44

Na realidade, participou um sujeito de cada vez e foi-lhes dito alternadamente que havia mais
1, 2 ou 5 membros do grupo (representados por gravações de voz). Durante a suposta discussão,
um dos outros membros do grupo (o comparsa), que já teria dito ter suscetibilidade para
epilepsia, começa a fingir estar a sofrer uma convulsão nervosa. Antes de ficar em silencio, fala
com imensa dificuldade e pede ajuda.

Nesta experiência, a VARIÁVEL DEPENDENTE em estudo era a rapidez com que os sujeitos
reportavam a emergência ao experimentador (i.e., o tempo decorrido entre o início da crise da
vítima e o momento em que o sujeito
saía do cubículo experimental), e a
VARIÁVEL INDEPENDENTE o número de
pessoas no grupo de discussão (2, 3 e
6 pessoas: o sujeito critico, a vítima e
os restantes).

Os RESULTADOS mostraram que


enquanto 85% dos sujeitos que
pensavam estar sozinhos com a vítima
ajudaram (em média, ao fim de 52
segundos), apenas 31% dos sujeitos
que pensavam estar com outros 5 bystanders ajudaram (em média, ao fim de 166 segundos). No
grupo onde o sujeito achava estar com mais 2 pessoas, 62% ajudou (em média, ao fim de 93
segundos).

O número de bystanders percebidos teve um grande efeito na probabilidade de ajuda e no


tempo decorrido até ajudarem, sendo que quanto maior o número de bystanders percebidos,
menor a probabilidade de os sujeitos ajudarem e maior tempo de resposta, caso ajudem. Assim,
É menos provável que um sujeito preste auxílio se ele julga que outros estão presentes. No
inverso, há uma maior frequência e maior rapidez na resposta à emergência em grupos com
menos bystanders percebidos.

No final da experiência, os sujeitos preencheram um questionário sobre os seus pensamentos


e sentimentos durante a situação de emergência e completaram algumas escalas. Os resultados
mostrar em primeiro lugar que, na realidade, a maior parte dos participantes ficaram ansiosos e
indecisos, apanhados entre as duas normas que vimos acima. Em segundo lugar, nenhuma das
variáveis de personalidade medidas – como o alheamento, maquiavelismo, aceitação de
responsabilidade social, necessidade de aprovação e autoritarismo (frequentemente usadas
como explicação para este fenómeno) – prediz a probabilidade ou a rapidez de ajuda. Pelo
contrário, o número de bystanders percecionados, prediz.

E N T Ã O P O R Q U Ê Q U E O S S U J E I T O S N Ã O R E P O R T A R A M A E ME R G Ê N C I A ?

Os sujeitos da experiência que não reportaram a emergência ao experimentador


encontravam-se mais emotionally aroused que os que reportarem a emergência. Logo impõem-
se a pergunta “Então porque é que não agiram?”. Os autores consideraram que os sujeitos não
decidiram não responder, mas sim permaneceram num estado de indecisão e conflito entre a
ação e a inação.

Mª Matilde Silva | ISPA


45

RESPONDER NÃO RESPONDER


Por um lado, os sujeitos preocuparam-se Por outro lado, os sujeitos estavam
com a culpa e vergonha que sentiriam se não preocupados em não serem tomados como
prestassem ajuda. tolos por reagirem de forma exagerada, não
estragarem a experiência ao saírem dos seus
cubículos e em não destruírem o anonimato,
tal como o experimentador tinha falado no
início.

No caso dos sujeitos da ‘condição 2 pessoas’, o conflito foi facilmente resolvido dado o
sofrimento da vítima e a sua necessidade de ajuda. No caso dos sujeitos que sabiam que estavam
presentes outros bystanders, o custo de não ajudar apresentou-se menor e o conflito em que se
encontravam mostrou-se mais agudo.

“The explanation of bystander ‘apathy’ may lie more in the bystander’s


response to other observers than in presumed personality deficiencies of
‘apathetic’ individuals” (Darley & Latané, 1968, p. 383).

Note-se que, neste caso, os membros do grupo não interagiam, sendo que o efeito da
dimensão do grupo se deveu à mera perceção da presença de outros e não da influência das suas
ações.

DIFUSÃO DE RESPONSABILIDADE E INFLUÊNCIA SOCIAL

Segundo Latané e Darley o Bystander Effect e, mais concretamente, a inação dos bystanders,
é explicada por dois processos psicológicos: a difusão de responsabilidade e a influencia social.

A DIFUSÃO DA RESPONSABILIDADE diz respeito ao fenómeno de, quando outras pessoas estão
presentes, cada sujeito percecionar uma menor responsabilidade para ajudar, já que a
responsabilidade é entendida como sendo “dividida por todos”. Assim sendo, quanto maior o nº
de testemunhas, maior a inibição social.

A INFLUÊNCIA SOCIAL refere-se ao facto de a reação/comportamento das outras pessoas servir


enquanto norma (norma descritiva) ou referência para o comportamento próprio, influenciando,
assim, se o individuo decide ou não ajudar. Assim, se numa situação de emergência, observarmos
que as outras pessoas (as outras testemunhas) não ajudam, iremos inferir que a norma dita que
não devemos ajudar (norma descritiva). Podemos facilmente entender que, numa situação
destas, a norma prescritiva, em especial a norma da responsabilidade social, segundo a qual
devemos ajudar as pessoas que se encontrem em perigo, entra em conflito com a norma
descritiva.

MODELO DE TOMADA DE DECISÃO DE 5 ETAPAS


LATANÉ E DARLEY (1970)

O modelo postula a existência de 5 ETAPAS COGNITIVAS entre uma emergência e a decisão de


intervir e oferecer ajuda. Para que, numa situação de emergência, um individuo tome a decisão
de intervir e oferecer ajuda é necessário que se verifiquem os seguintes 5 passos: primeiro, o
indivíduo tem de se aperceber do evento, depois tem de interpretar o evento como constituindo

Mª Matilde Silva | ISPA


46

uma emergência, para então assumir responsabilidade e conhecer formas apropriadas de assistir
a pessoa em perigo e, só aí, implementar a decisão.

O modelo conceptualiza ainda uma


APERCEBE-SE
série de variáveis e fatores que podem DO EVENTO

condicionar cada uma destas etapas,


levando o sujeito a não intervir e a não
NÃO SIM
ajudar a pessoa em perigo.
DEFINE O
APERCEBER-SE DO EVENTO NÃO AJUDA EVENTO
COMO UMA
Caso o sujeito esteja distraído ou EMERGÊNCIA

com pressa, pode não se aperceber do


evento, não intervindo. NÃO SIM

INTERPRETAR O EVENTO
NÃO AJUDA ASSUME A
ENQUANTO EMERGÊNCIA RESPONSABILI
DADE
O sujeito, vendo que os restantes
bystanders não agem, pode inferir que NÃO SIM
a norma descritiva informa que não é
para ajudar aquela pessoa, decidindo
NÃO AJUDA
DECIDE COMO
seguir a norma e interpretar aquele AJUDAR
evento enquanto uma não-emergência
(ignorância pluralista). Assim sendo, o
sujeito não irá intervir. NÃO SIM

ASSUMIR A RESPONSABILIDADE
NÃO AJUDA
IMPLEMENTA
A DECISÃO
Pode verificar-se um processo de
difusão de responsabilidade, i.e.,
perante a presença de múltiplos
bystanders, os sujeitos podem AJUDA!

entender que a responsabilidade é


dividida por todos, percecionando uma baixa responsabilidade pessoal para ajudar. Deste modo,
os sujeitos podem não assumir responsabilidade suficiente, não intervindo.

CONHECER FORMAS APROPRIADAS DE ASSISTÊNCIA À PESSOA EM PERIGO

Os sujeitos podem sentir que não têm o conhecimento ou capacidade necessária para
oferecer uma ajuda apropriada, não intervindo.

IMPLEMENTAÇÃO DA DECISÃO

Os sujeitos tendem a tomar em consideração certos fatores antes de decidirem ajudar a


pessoa. Pode dar-se o caso de os indivíduos considerarem que os custos envolvidos no ato de
ajudar são muito elevados, optando por não ajudar a pessoa. Estes custos podem incluir o perigo
para o próprio, questões legais ou o embaraço.

INOVAÇÃO

Mª Matilde Silva | ISPA


47

AULA TEÓRICA 5

SERÁ POSSIVEL ALTERAR AS NORMAIS VIGENTES?

Até agora temos discutido situações em que um sujeito exposto a um emissor de influência
(grupo, autoridade, etc.) se confronta com duas alternativas: manter a independência ou
conformar-se.

Normalização
Conformismo Controlo Social
Obediência
Mas será que, na realidade, o alvo da influência social só dispõe destas alternativas de ação?
A ser assim, as questões de saber porque é que, e como é que, os grupos humanos mudam parece
surgir como mistérios de difícil solução. Mas talvez não sejam a manutenção da independência e
o conformismo as únicas alternativas para a ação, se assim fosse, seria muito difícil explicar como
e porque é que os grupos humanos mudam. Pelo menos em certas condições parece concebível
que o alvo da influência considere uma terceira alternativa: justamente a tentativa de fazer o
grupo mudar., isto é, promover a mudança dos grupos maioritários! Um alvo de influência pode
também tornar-se num emissor de influência bem sucedido.

Inovação Mudança Social

SERGE MOSCOVICI
Moscovici indaga-se quanto às possibilidades de ação de um sujeito exposto a um emissor de
influência, sendo o primeiro a defender explicitamente que a influência social não se esgota no
conformismo do indivíduo em relação a um grupo majoritário, mas pode envolver igualmente
inovação, ou seja, a mudança da maioria como resultado da influência de uma minoria
consistente, isto é, que influência social envolve também fenómenos em que a pressão social é
exercida por grupos minoritários. Ao conformismo está subjacente um processo psicossocial de
comparação com a maioria e de aceitação pública do comportamento desta; à inovação está
subjacente um processo de validação do julgamento da minoria e de aceitação privada (ou
latente) do julgamento desta.

Moscovici firmou o seu próprio terreno numa critica à perspetiva vigente em influência social,
à qual designou por “funcionalismo” (perspetiva vigente em influência social antes de Moscovici),
e que assenta nos seguintes pressupostos: a influencia social é desigualmente distribuída e
exercida de forma unilateral; a função da influência social é a de manter e reforçar o controlo
social; as relações de dependência determinam a direção e a quantidade de influencia social
exercida num grupo; os estados de incerteza e a necessidade de reduzir a incerteza determinam
as formas tomadas pelo processo de influencia; o consenso almejado pelos intercâmbios de
influencia é baseado na norma da objetividade; todos os processos de influencia social são cistos
sob a perspetiva do conformismo, e o conformismo, por si, é tido como subjacente às
características essenciais deste processo. Estes seis pressupostos promoveram a um lugar central
variáveis secundárias como a dependência e a incerteza, e fizeram negligenciar as funções que a
divergência ocupa na vida normal dos grupos humanos e das sociedades.

Mª Matilde Silva | ISPA


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Por contraste com esta perspetiva, Moscovici desenvolveu uma nova abordagem dos
fenómenos de influência que designou por TEORIA GENÉTICA. Esta abordagem pode ser
sintetizada da seguinte forma:

i) A distinção entre realidade objetiva e social é negada: a realidade é perspetivada como uma
construção social;
ii) A influência social não é necessariamente resultado de informação objetiva insuficiente ou
ambígua, necessidade de aceitação ou medo de rejeição pelo grupo. A influência social é uma
forma de negociação, a partir da qual se conserva ou modifica uma dada definição mais ou
menos consensual da realidade.
iii) As funções da influência não são apenas de controlo social, são também as de mudança
social (a influência social não conduz, apenas, à instituição de uniformidades sociais, a
modificação destas uniformidades inclui-se, também, entre os seus efeitos).
iv) Esta negociação envolve três processos de gestão do conflito que ocorrem na génese,
manutenção e desenvolvimento dessa definição da realidade:
a) Normalização: o conflito advém da criação de uma norma, e sua resolução faz-se
através de concessões recíprocas (e.g., experiências de Sherif);
b) Conformismo: o conflito gera-se na manutenção na definição de uma dada norma e
é resolvido através da submissão do indivíduo ao grupo (e.g., experiências de Asch).
Este processo ocorre principalmente nos casos em que a maioria é nómica e a
minoria (ou o indivíduo isolado) é anómica;
c) Inovação: o conflito surge a partir da contestação por parte de uma minoria nómica
das normas vigentes e é frequentemente resolvido através da mudança das normas
grupais.
v) Os processos psicossociais subjacentes ao conformismo e à inovação são distintos.
a) Ao conformismo, subjaz um processo de comparação em que a minoria compara o
seu comportamento com o da maioria.
b) À inovação, subjaz um processo de validação em que a maioria tenta adquirir nova
informação que valide o seu comportamento.

Daqui derivam algumas consequências: devido à possibilidade de desestabilizar a realidade


social vigente a partir da contestação das normas que a fundamentam, uma minoria de indivíduos
é capaz de, sem poder, competência ou qualquer estatuto especiais, levar à modificação dessas
mesmas normas. Esta inovação é possível mesmo em condições de completa ausência de
ambiguidade objetiva do julgamento requerido. A ambiguidade não é, para Moscovici, uma
condição necessária para a influência social, mas sim um resultado possível da sua ação (e.g.,
experiências de Asch).

Por outro lado, as diferença entre inovação e conformismo conduzirão a que a atenção do
alvo de influência esteja centrada no objeto de julgamento ou estímulo, no caso da inovação, e
no comportamento da maioria, no caso do conformismo. Daí que Moscovici preveja que a
aceitação pública da influência seja maior no conformismo do que na inovação, mas que suceda
o contrário em relação à aceitação privada. No cerne do conformismo estará, portanto, a
submissão, enquanto a inovação implicará conversão.

Mª Matilde Silva | ISPA


49

Mas se não são, nem a dependência, nem a ambiguidade objetiva das situações, as variáveis
cruciais na explicação dos fenómenos de influência, qual é então, para Moscovici, a variável
decisiva na determinação das condições de sucesso ou de insucesso de um dado emissor de
influência? A proposta do autor incide sobre o que ele designou por "ESTILO COMPORTAMENTAL".
Estilo comportamental é a "organização intencional dos sinais verbais e/ou não verbais, que
exprime o significado do estado presente e a evolução futura daqueles que o exibem. Como toda
a sequência de comportamentos comporta dois aspetos: o seu aspeto instrumental fornece uma
informação sobre o objeto que é julgado; o seu aspeto simbólico informa-nos sobre a pessoa que
adota esse estilo". Os estilos comportamentais mais estudados têm sido a flexibilidade, mas
sobretudo a consistência, definida em termos da repetição de afirmações, evitamento de
contradições, etc..

A partir desta perspetiva, Moscovici reinterpretou as investigações de Asch, “visitando Asch


às avessas”, e desenvolveu uma série de estudos que procuraram revelar a realidade de
fenómenos que até se poderiam considerar ocultos: os relativos aos processos de inovação

A INFLUÊNCIA SOCIAL DE PERNAS PARA O AR


A REINTERPRETAÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES DE ASCH

Asch criou uma situação em que uma minoria de indivíduos (um, mais exatamente) era
submetida à pressão implícita provocada pelo comportamento de uma maioria unanime de
indivíduos (comparsas do experimentador). Os resultados demonstraram que essa maioria tem
um impacto significativo no comportamento da minoria. Moscovici, no entanto, chama a atenção
para o facto de que essa “maioria” laboratorial é considerada como uma “minoria”
relativamente à totalidade dos outros seres humanos, uma vez que a grande maioria dos
sujeitos críticos continua provavelmente convencida da correção da sua perceção da situação e
que, portanto, “lá fora”, o resto do mundo estaria de acordo consigo e não com aquela estranha
“maioria de laboratório”. Daí que o sujeito crítico seja minoritário naquela situação (“minoria”
laboratorial), mas representante de uma “maioria de facto” (maioria extralaboratorial). Só
assim se compreendem, segundo Moscovici, a não aceitação privada da influência dos comparsas
manifestada nos resultados das entrevistas pós-experimentais de Asch.

Mas a que se deve então o impacto dessa “minoria de facto”? De acordo com Moscovici, esse
impacto fica a dever-se à consistência sincrónica (todos os comparsas respondiam o mesmo) do
seu comportamento, quer dizer, à unanimidade das suas respostas. Note-se que basta que o
individuo disponha de um aliado (ou seja, que a consistência sincrónica seja quebrada) para
que o impacto dessa “minoria de facto” se reduza dramaticamente.

Houve, então, uma influência de uma minoria de facto (minoria extralaboratórial). Asch, sem
saber, foi o primeiro a demonstrar que uma minoria consistente pode modificar o
comportamento de uma maioria (ou, pelo menos, de um seu “representante”).

OS PRIMEIROS ESTUDOS
A E X P E R I Ê N C I A D E MO S C O V I C I , L A G E E N A F F R E C H O U X ( 1 9 6 9 )

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O paradigma experimental mais conhecido de Moscovici consistia numa tarefa de acuidade visual
seguida do teste de perceção de cores de Farnsworth. Seis participantes (dois dos quais comparsas do
experimentador) deviam identificar a cor (azul ou verde) de 24 diapositivos. Embora todos os diapositivos
fossem azuis, as minorias de dois comparsas respondiam sempre "verde". As respostas dadas nesta tarefa,
pelos participantes que constituíam a maioria, medem a aceitação pública da minoria; as respostas no teste
de Farnsworth medem a aceitação privada.

Participaram estudantes de arte, direito e ciências sociais, do sexo feminino, e a situação era
apresentada como um estudo sobre perceção das cores. A CONDIÇÃO EXPERIMENTAL
desenrolava-se em quatro fases:

Seis indivíduos eram submetidos a um teste de acuidade visual. Desses, dois


eram comparsas do experimentador. Esta fase tinha como função não só eliminar
1ª FASE indivíduos com problemas de visão como de fazer saber aos participantes que
todos eles possuíam uma visão absolutamente normal. O que tinha relevância
para a interpretação, por parte dos sujeitos ingénuos, das respostas dos comparsas.
Eram projetados diapositivos com dois tipos de filtros: um que permitia a
passagem dos raios luminosos com a gama dominante azul e outro que reduzia a
intensidade luminosa. Foram usados 24 diapositivos variando em dois graus de
luminosidade.
Eram pedidos dois julgamentos aos participantes: para indicarem a cor do
diapositivo e para estimarem a sua luminosidade numa escala de um a cinco. Os
2ª FASE julgamentos eram anunciados publicamente e sempre na mesma ordem. Os
comparsas (que intervinham em primeiro e em segundo, ou em primeiro e em
quarto lugar) anunciavam sempre a mesma resposta em relação à cor: "verde".
Quanto ao julgamento de luminosidade, respondiam como lhes parecia. A primeira
variável dependente era, pois, o número de respostas "verde" dadas pelos
participantes críticos. As respostas dadas nesta tarefa, pelos participantes que
constituíam a maioria, medem a aceitação pública da minoria (contexto público).
No final dos 24 pares de julgamento era dito aos participantes que um colega
do experimentador iria aplicar uma “contraprova” para estudar os efeitos da fadiga
na perceção das cores. Essa "contraprova" era o teste de Farnsworth sobre
perceção de cores. Este teste contém séries de círculos variando ligeiramente em
coloração. Os casos relevantes eram aqueles em que as séries variavam
gradualmente do azul para o verde e os participantes tinham de nomear a cor de
3ª FASE
cada círculo. Este teste era aplicado individualmente.
A função desta terceira fase era a de verificar até que ponto é que as respostas
da minoria faziam modificar o limiar de diferenciação entre o azul e o verde,
correspondendo esse resultado, a ser obtido, tanto a uma reestruturação
preceptiva como à aceitação privada (contexto privado) da inovação. As respostas
a este teste constituíam, assim, a segunda variável dependente desta investigação.
Nesta fase, os participantes críticos respondiam a um questionário pós-
4ª FASE
experimental e era-lhes fornecida uma explicação sobre o teor da situação.

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Existia ainda uma CONDIÇÃO DE CONTROLO, em tudo igual à condição experimental, mas que
não incluía comparsas. Ou seja, na condição de controlo os grupos eram constituídos por seis
participantes "críticos".

Os RESULTADOS foram decisivos. Enquanto na condição de controlo só se registaram 0.25%


de respostas "verde", na condição experimental essa percentagem atingiu os 8.4%. Esta diferença
entre as condições experimental e de controlo constitui uma medida da aceitação pública da
influência da minoria. Esta influência pode ainda ser visível no facto de que, enquanto na
condição controlo mais de 95% de participantes responderam invariavelmente "azul" a todos
os diapositivos, essa percentagem baixou para 43% na condição experimental.

Mas mais importante ainda: verificou-se uma diferença significativa nos limiares de
diferenciação entre o azul e o verde dos participantes das condições controlo e
experimental. Mais concretamente, no teste de Farnsworth, os participantes críticos que
participaram na condição experimental designavam um maior número de círculos da gama
azul/verde como "verdes" do que os participantes da condição controlo. Esta diferença entre
condições deve ser considerada como uma medida da aceitação privada da influência da minoria.
Merece realce um outro resultado: não existiram diferenças no desempenho do referido teste
entre os participantes críticos pertencentes a um grupo com relativamente grande aceitação
pública da influência e os que participaram em grupos em que essa aceitação foi
relativamente pequena. Quer isto dizer que a aceitação privada revelou os seus efeitos,
independentemente da aceitação pública da influência da minoria.

Estes resultados demonstram que uma minoria de indivíduos pode ter um impacto
(moderado) nas respostas públicas de uma maioria em relação a um objeto de julgamento que
se pode considerar como objetivamente não ambíguo. Mais: estes resultados demonstram que,
ao contrário do que acontece geralmente no paradigma de Asch, um emissor minoritário pode
levar à aceitação privada da sua influência, independentemente da sua aceitação pública.

Por outro lado, os questionários pós-experimentais revelaram que os comparsas do


experimentador (a minoria) foram sempre menos apreciados do que os outros membros,
foram considerados menos competentes na perceção das cores, mas mais autoconfiantes. Quer
dizer, a minoria, apesar de relativamente eficiente na promoção de inovação, foi negativamente
avaliada pelos participantes críticos, considerada autoconfiante... mas incompetente.

VARIAÇÕES EXPERIMENTAIS
F A T O R E S D E T E R MI N A N T E S P A R A A MI N O R I A E X E R C E R I N F L U E N C I A

A CONSISTÊNCIA DA MINORIA
Moscovici, Lage e Naffrechoux (1969) realizaram uma experiência idêntica em tudo ao
anteriormente citado, exceto num detalhe: a minoria, em vez de fornecer apenas respostas
“verde”, fornecia respostas “verde” e “azul” em igual número. Alteraram, então, o grau de
consistência dos comparsas. Mais concretamente, os comparsas responderam 14 vezes "verde"
e 12 vezes "azul", sendo a dispersão das respostas "azul" aleatorizada.

Os resultados mostraram que, nessa circunstância, a minoria não teve qualquer impacto nas
respostas dos participantes críticos. Assim, a consistência sincrónica é condição necessária para

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a minoria exercer influência, na medida em que essa consistência de respostas promove a


intensificação do conflito entre a resposta minoritária e a perceção dos participantes críticos.

MAS SERÁ A CONSISTÊNCIA, DEFINIDA COMO REPETIÇÃO DA MESMA RESPOSTA, REALMENTE


NECESSÁRIA?

Parece que não. De facto, o que parece essencial é a consistência percebida de dada
sequência de comportamentos minoritários, mesmo se isso implicar variabilidade de
respostas. Nemeth, Swedlund e Kanki, realizaram uma variação do paradigma de Moscovici, em
que eram possíveis, não só as respostas "azul" e "verde", mas também uma resposta intermédia:
"verde-azul". Introduziram cinco tipos de condições: condição "verde": a minoria só dava
respostas "verde"; condição "verde-azul": a minoria respondia sempre "verde-azul"; condição
"aleatória": a minoria respondia metade das vezes "azul" e a outra metade "verde", em sucessão
aleatória; condição "correlação": a minoria respondia metade das vezes "azul" e a outra metade
"verde", mas existia uma correlação perfeita entre a utilização de cada uma das cores e a
luminosidade dos 28 diapositivos; e condição "controlo": sem influência minoritária (sem
comparsas do experimentador).

Os resultados mostraram que a influência minoritária foi maior na condição "correlação" do


que nas outras. Por outro lado, na condição onde o conflito entre a resposta minoritária e a
perceção dos participantes críticos atingia o máximo (condição "verde") e na condição em
que as respostas dos comparsas eram simultaneamente variáveis e inconsistentes (condição
"aleatória") os resultados foram basicamente idênticos aos da condição "controlo", enquanto
nas condições de compromisso (condição "verde-azul" e "correlação") se registaram os efeitos
da influência dos comparsas. Finalmente, é interessante verificar que os participantes críticos
percecionaram os comparsas menos desfavoravelmente na condição "correlação" do que
nas outras.

Resumindo: uma minoria respondendo de forma diversificada, embora coerente, foi mais
eficaz do que uma minoria que manteve continuamente a mesma resposta ou do que uma
minoria que apresentou sempre uma resposta que indicava compromisso. Portanto, uma minoria
não deve a sua eficiência à sua capacidade do conflito nem à sua capacidade de compromisso,
mas à habilidade que tiver de induzir a perceção da sua consistência., isto é, o estilo
comportamental percebido da minoria é importante para o impacto que esta tem numa maioria.

CONFIANÇA PERCEBIDA DA MINORIA


Moscovici e Lage, obtiveram um resultado curioso: uma minoria de um só indivíduo tem
impacto muito mais reduzido numa maioria (participantes críticos) do que o de um subgrupo
minoritário de dois indivíduos. Os autores interpretaram este resultado em termos da
possibilidade de o comportamento de um indivíduo isolado ter de ser explicado recorrendo a
fatores idiossincráticos.

SERÁ ENTÃO QUE UM INDIVÍDUO ISOLADO ESTÁ CONDENADO À INCAPACIDADE DE INOVAR?

Não necessariamente. Nemeth e Wachtler, demonstraram que, se um indivíduo isolado


consegue transmitir uma impressão de grande autoconfiança (nomeadamente escolhendo um
lugar de destaque à cabeceira da mesa, à roda da qual o grupo se vai sentar), consegue ter um
impacto nas respostas dos participantes críticos. Parece, então, que a transmissão dessa

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impressão de autoconfiança é um outro fator decisivo no êxito de uma tentativa de inovação. Se


assim é, a própria desproporção de uma posição minoritária pode facilitar, até certo ponto, o seu
êxito, na medida em que quanto mais minoritária é uma posição, mais indicadora é da confiança
que nela têm os indivíduos que a defendem.

Tentando estudar esta questão, Nemeth, Wachtler e Endicott, fizeram variar a dimensão da
minoria, mantendo constante o número de participantes críticos em cada grupo. Os resultados
foram bastantes interessantes. Por um lado, quanto maior é a minoria, maior é a sua competência
percebida e menor é a autoconfiança percebida. Por outro lado, foi demonstrado que ambas as
variáveis, se tomadas simultaneamente, preveem o impacto da minoria (a sua influência cresce
até aos três indivíduos e decresce a partir daí). Resumindo: O IMPACTO DE UMA MINORIA É
DETERMINADO CONJUNTAMENTE PELA CONSISTÊNCIA PERCEBIDA DO SEU COMPORTAMENTO E
PELA AUTOCONFIANÇA PERCEBIDA NAS SUAS RESPOSTAS.

CONCLUSÕES
Será que é uma qualquer minoria que pode ter impacto numa maioria? Não! A minoria tem
de ser: ativa (i.e., nómica), e o seu estilo comportamental tem de ser percecionado como
consistente, sincrónica (unanimidade dos elementos...) e diacronicamente (...ao longo do
tempo), e autoconfiante.

MINORIA NÓMICA MINORIA ANÓMICA


ATIVA INATIVA
Indivíduos ou subgrupos que adotam uma Indivíduos ou subgrupos que estão à
posição distinta por contraste ou oposição ao margem da norma social, não possuem um
sistema social mais amplo, possuem um projeto nem respostas próprias, nem
projeto e respostas próprias e têm o objetivo desenvolvem ações consistentes para a
de mudar as normas vigentes. mudança das normas vigentes.

DEFINIÇÃO DE INOVAÇÃO
O QUE É, AFINAL, A INOVAÇÃO? E COM SE PROCESSA?

A inovação é a proposta ou adoção, por parte de uma minoria, de um modelo de respostas


que, ou torna caducas as regras ou códigos sociais predominantes, ou inflete, numa direção que
lhe é favorável, a produção dessas regras ou dessas condições sociais. É, no fundo, a mudança
social que é desencadeada pela influência de uma minoria ativa, isto é, uma minoria que defende
uma determinada posição (Moscovici, 1985)

Segundo Moscovici (1985) os fenómenos de inovação passam por 3 fases:

The members of the majority change their minds, adopting the minority point
of view without overtly yielding. At first they may not be aware of what has
happened, because of the taboos in place, and yet everyone begins to see, think
and even act differently.

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Fase da Revelação
•Uma minoria consistente e resoluta emerge e confronta a maioria com um sistema de
crenças ou práticas anti normativas.
•Supera as críticas e oxs obstáculos iniciais até se fazer ouvir.

Fase da Incubação
•As novas mensagens são repetidas e divulgadas, tornam-se familiares e começam a
penetrar na linguagem quotidiana.
•A polémica em torno delas confere-lhes uma intensidade especial e imbui-as de
paixão.
•Os indivíduos, mesmo que inconscientemente (não intencionalmente), começam,
então, a incorporar as crenças e práticas da minoria, uma vez que são muito
prevalentes e repetidas por quase todos.
•O estilo comportamental da minoria é decisivo nesta fase, em especial a consistência,
porque a consistência confere às palavras e aos gestos um significado psicológico
adicional e densidade emocional.

Fase da Conversão
•A maioria internaliza o ponto de vista da minoria.

INFLUÊNCIA INFORMATIVA E NORMATIVA


D I S T I N Ç Ã O E N T R E I N F L U Ê N C I A S O C I A L I N F O R MA T I V A E I N F L U Ê N C I A S O C I A L N O R MA T I V A

A distinção entre os vários tipos de motivações que podem levar um individuo a ser
influenciado por outros tem sido uma das preocupações clássicas no estudo da influência social
e também um dos pontos de maior convergência. A distinção mais geral e mais conhecida é a de
Deutsch e Gerard. Basicamente estes autores defendem que o grau de influência que um
emissor terá sobre um alvo é mediado pela relação de dependência que se estabelece entre
o primeiro e o segundo.

Estes autores distinguem dois tipos de influência social: influência social normativa e
influência social informativa.

INFLUENCIA SOCIAL INFORMATIVA INFLUENCIA SOCIAL NORMATIVA


Inspirada na Teoria da Comparação Social O conceito de influência social normativa
de Festinger, a influencia social informativa refere-se às situações em que a
abrange as situações em que o suscetibilidade de um indivíduo à influência
comportamento dos outros indivíduos em de um grupo se explica pelo desejo de evitar
relação a um estímulo pode servir para a a rejeição por parte desse grupo. Rejeição
apreensão das suas qualidades ou, dizendo de esta que é mais provável para aqueles que se
outro modo, às situações em que o não conformam com as expectativas ou
comportamento dos outros é aceite como normas de um grupo (e.g., conformistas a
prova de verdade. (e.g., conformistas a nível nível comportamental, no paradigma de Asch)
de julgamento, no paradigma de Asch).

A distinção entre influencia informativa e normativa não pode ser considerada como definindo
duas categorias mutuamente exclusivas de influência.

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DESVIACCIONISMO
AULA PRÁTICA 5

SERÁ QUE OS CONFORMISTAS A NÍVEL COMPORTAMENTAL DE ASCH “TINHAM RAZÃO” AO


RECEAREM DAR UMA RESPOSTA DIFERENTE DA MAIORIA?

DEVIATION, REJECTION, AND COMMUNICATION


SCHACHTER (1951)

Par Schachter, nos grupos sociais existem pressões para a uniformidade do comportamento e
das atitudes por parte dos seus membros. As pressões para a uniformidade no seio dos grupos
são influenciadas pela coesão interna (quanto maior a coesão, maior a pressão) e pela pertinência
da tarefa quanto maior a pertinência, maior a pressão). Desta forma, o objetivo do autor foi
avaliar a influência das variáveis coesão do grupo, pertinência da tarefa e magnitude do desvio
sobre a rejeição dos membros do grupo.

Foram criados quatros tipos de clube: estudos de casos, jornalismo, cinema e rádio. Cada
clube formava uma condição:

ESTUDOS DE CASO Elevada coesão, assunto relevante.


JORNALISMO Baixa coesão, assunto relevante.
CINEMA Elevada coesão, assunto irrelevante.
RÁDIO Baixa coesão, assunto irrelevante.

No total, formaram-se 32 clubes (8 de cada tipo), cada um com 8 a 10 participantes, três dos
quais eram comparsas. Os participantes eram todos estudantes da Universidade de Michigan do
sexo masculino, convidados para a participação em clubes de discussão.

Foi pedido aos sujeitos que preenchessem individualmente um questionário, indicando o


clube ao qual gostariam de pertencer e o grau de interesse pessoal face a cada um dos clubes
(escala de 4 pontos). Esta fase teve também o propósito de definir os grupos com elevada ou
baixa coesão. Posteriormente, foi pedido que discutissem um caso de um jovem delinquente, o
Johnny Rocco, que aguardava uma sentença por ter cometido um pequeno crime. O líder do
grupo, cujo papel era feito pelo experimentador, pedia aos membros que discutissem as
questões: “O que fazer?” e “Que medida tomar?”. A discussão foi orientada por uma escala de 7
pontos com uma série de sugestões ordenadas pela sua severidade. Nos clube de estudos de
caso, o caso do Johnny Rocco foi o caso do dia. No clube de jornalismo, o caso fazia parte de um
artigo sobre delinquência juvenil. No clube de cinema e rádio era um tema irrelevante.

Depois do caso ser lido, cada membro do grupo anunciava a sua posição de acordo com a
escala. Um dos comparsas, o “desviante”, adotava uma posição completamente desviante e
mantinha-a ao longo da discussão (posição 7 da escala: disciplina extrema); o comparsa
“conformista” adotava e mantinha a posição modal desde início e só alterava a sua posição se o
consenso do grupo alterasse para outra resposta (posição 2 a 4 da escala: amor e simpatia); o
comparsa “convertido” alterava a sua posição a meio da discussão, de castigo extremo para
posição modal. O caso foi escrito de uma forma “simpática” para assegurar que o primeiro
comparsa fosse mesmo desviante.

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A discussão teve um tempo limite de 45 minutos, sendo que o experimentador (o “líder”) aos
20 minutos tomava a palavra para ter a certeza que todos os membros tinham noção da posição
adotada por cada um. Fora isso, o experimentador não intervinha a não ser que lhe fizessem
perguntas diretamente. No final da discussão o experimentador mudava de assinto para o futuro
do clube, e foi pedido aos participantes que preenchessem um formulário de nomeação de
membros do grupo para comissões de estatuto variável (Executiva, Direção, Administrativa) e um
questionário sociométrico (escolha dos elementos a permanecer no grupo caso fosse necessário
excluir alguns membros).

As variáveis dependentes eram, então, o grau de rejeição de cada comparsa pelos outros
membros do grupo na nomeação dos membros do grupo para comissões e nos questionários
sociométricos e a comunicações dirigidas a cada comparsa medidas através de um registo
assegurado por observadores com base em grelhas (“quem falou com quem”; “quem
atacou/defendeu quem”).

Em ralação aos RESULTADO, e no que toca à variável dependente grau de rejeição dos
comparsas, estes mostraram que o desviante foi o elemento mais indicado para as comissões
administrativas (menor estatuto) e esta tendência aumentou nos grupos em que a tarefa
assumia uma elevada pertinência. Também nos questionários sociométricos o desviante foi
o elemento mais fortemente rejeitado, e verificou-se o aumento desta tendência nos grupos
com elevada coesão. Já no caso da variável dependente processo de comunicação, o desviante
foi o elemento alvo de um maior número de comunicações, as quais tenderam a aumentar
para o final da reunião. Por outro lado, o convertido passou a ser alvo de um menor número
de comunicações a partir do momento em que adotou a posição da maioria, estado o número
de comunicações com ele sempre entre as comunicações com desviante e conformista. O
conformista foi alvo de um número de comunicações reduzido.

OS RESULTADOS SUSTENTAM OS PRESSUPOSTOS, EVIDENCIANDO


A EXISTÊNCIA DE REJEIÇÃO DOS DESVIANTES E PRESSÕES PARA A
UNIFORMIDADE.

REVISITING SCHACHTER’S RESEARCH ON REJECTION, DEVIANCE, AND


COMMUNICATION
A R E P L I C A Ç Ã O D E WE S S E L MA N N E T A L . ( 2 0 1 4 )

We conducted a replication of the original Schachter (1951) deviation-rejection study. Schachter’s


groundbreaking demonstration of the deviation-rejection link has captivated social psychologists for
decades. The findings and paradigm were so compelling that the deviation-rejection link is often taken for
granted and sometimes may be misrepresented. Because there have only been two direct replications, one
of which by the original author, we believed it was important to revisit the original study. We replicated
Schachter’s main finding, albeit with a smaller effect size. One intriguing possibility is that we found
somewhat weaker reactions to deviates because society may be becoming more tolerant of individuals
who hold deviate opinions. We hope that our replication study will inspire other researchers to revisit the
deviation-rejection link.

Mª Matilde Silva | ISPA


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Os resultados, em relação à rejeição dos comparsas nos questionários sociométricos


mostraram, em termos descritivos, que o desviante foi o elemento mais rejeitado. O comparsa
convertido foi o mais escolhido, seguido do conformista. Em termos de significância estatística,
os participantes classificaram tanto o convertido como o conformista como mais preferidos que
os desviantes, mas não havia diferenças significativas entre os rankings do conformista e
convertido. Os resultados da comunicação foram iguais aos do estudo original

Verificou-se, então, a principal descoberta de Schachter (no que toca ao teste sociométrico),
embora com uma magnitude de efeito menor. Uma possibilidade intrigante é que encontraram
reações algo mais fracas aos desviantes, porque a sociedade pode estar a tornar-se mais
tolerante a indivíduos que têm opiniões divergentes.

REGRESSANDO À QUESTÃO INICIAL


SERÁ QUE OS CONFORMISTAS A NÍVEL COMPORTAMENTAL DE ASCH “TINHAM RAZÃO” AO
RECEAREM DAR UMA RESPOSTA DIFERENTE DA MAIORIA?

SIM! De acordo com os estudos, os desviantes tendem a ser socialmente rejeitados. O


ostracismo social (ser-se excluído ou ignorado), bem como outras formas de rejeição
interpessoal, constitui uma ameaça para o bem-estar físico e psicológico dos sujeitos (e.g.,
Wesselmann, Ren, & Williams, 2015)

Mª Matilde Silva | ISPA


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RELAÇÕES INTERGRUPAIS

CATEGORIZAÇÃO E IDENTIDADE SOCIAL


AULA TEÓRICA 6

Agora, para analisar a atração


interpessoal, vamos passar para o
nível intergrupal
Até agora estavamos no nível •Que se relacionava com o
intragrupal. pressuposto da valorização do "eu"
e do "meu" e da procura de
relações com os outros da
Psicologia Social.
Os grupos são sistemas sociais essenciais à vida humana, aglutinando experiências
fundamentais na construção do indivíduo e da sociedade. A importância dos grupos resulta da
sua capacidade em satisfazer múltiplas necessidades individuais e coletivas, influenciando opções
comportamentais e um largo espectro de processos emocionais, motivacionais e cognitivos
determinantes na dinâmica e desempenho individual e coletivo e em última instância na
integração e coesão social.

Existe uma multiplicidade de definições para o conceito de “grupo”, que diferem consoante
os autores e consoante as perspetivas teóricas que adotam. Contudo, existem alguns atributos
consensuais quanto à definição este conceito:

OS ELEMENTOS DE UM GRUPO DEFINEM-SE COMO MEMBROS DO


GRUPO, SÃO DEFINIDOS PELOS OUTROS COMO MEMBROS DO
GRUPO, INTERAGEM NUMA BASE REGULAR, SÃO
COMPORTAMENTALMENTE INTERDEPENDENTES E SENTEM QUE
PARTILHAM UM DESTINO COMUM.

Já um grupo social, define-se como um conjunto de duas ou mais pessoas que partilham uma
determinada característica SOCIALMENTE SIGNIFICATIVA para elas ou para os outros (Shaw, 1976;
Tajfel & Turner, 1979; Turner, 1981). O termo chave nesta definição é “socialmente significativa”,
uma vez que retira da qualificação como grupo social pessoas que partilham um qualquer
atributo, como peões que estão à espera no mesmo lugar para atravessar a mesma rua. As
categorias socialmente significativas variam com o tempo e com a cultura.

Os grupos podem ser de muitos tipos: por um lado, indivíduos que acreditam partilhar
atributos socialmente significativos são um grupo, mesmo que outros não pensem neles
dessa forma; por outro pessoas que são vistas pelos outros como partilhando semelhanças
significativas também são um grupo, mesmo que eles próprios não tenham essa opinião.
Assim, um conjunto de pessoas pode simultaneamente considerar-se como membro do grupo
“ambientalistas” e ser, por outros, considerado como membro do grupo “imigrante”.

COMO É QUE OS GRUPOS SÃO PERCECIONADOS?

Mª Matilde Silva | ISPA


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A forma como os grupos são percecionados pode ser investigada à luz de uma perspetiva
centrada nas relações intergrupais e desenvolvida a partir das perspetivas da identidade e da
categorização social. Na perspetiva da identidade social, os observadores perdem o estatuto de
neutralidade, de “puros” processadores de informação, querendo isto dizer que os observadores
pertencem, eles próprios, a grupos, e é a partir dessa condição que percecionam tanto o
seu próprio grupo (endogrupo) como os outros grupos (exogrupos) com os quais se
relacionam.

SELF E A PERTENÇA A GRUPOS


A pertença a grupos constitui uma parte essencial do nosso self, influenciando os nossos
pensamentos, sentimentos e ações e afetando a nossa autoestima: é de tal modo importante
que se torna uma componente essencial da forma como nos vemos a nós próprios. Assim, a
pertença a grupos pode trazer simultaneamente benefícios e desvantagens.

Autoestima
Avaliação, positiva ou negativa, de um indivíduo acerca
de si próprio: como é que o indivíduo se sente acerca
de si próprio?
Há uma tendência para preservar ou amplificar a auto-
estima (e.g., self-serving bias: self-protecting e self-
enhancing).

IDENTIDADE SOCIAL
A identidade social engloba os aspetos do autoconceito que derivam do nosso conhecimento
e sentimentos acerca das pertenças grupais que partilhamos com outros, transformando o “eu”
em “nós”. Esta identidade é influenciada pela identidade de género, regional, nacional,
profissional, etc..

As diversas pertenças não são igualmente estáveis e permanentes, nem importantes.


Ainda, não controlamos nem escolhemos a pertença a todos os grupos de que somos membros,
o que tem implicações para a ameaça à autoestima, em especial quando pertencemos a uma
grupo minoritário.

ABORDAGEM DA IDENTIDADE SOCIAL


A Abordagem da Identidade Social foi iniciada nos anos 70 por Henri Tajfel e seus
colaboradores no âmbito dos estudos sobre processos intergrupais. Henri Tajfel era um psicólogo
social britânico e filho de Judeu Polaco, que após vivenciar o holocausto se questionou “Como é
que as pessoas podem infligir toda aquela violência contra as outras apenas devido à sua pertença
a grupos?”.

Influenciados pelos estudos de Sherif, entre os quais “a caverna dos ladrões” (que manipulou
as relações intergrupais, induzindo competição entre os grupos da experiência), duas das
questões que motivaram Tajfel e Turner a desenvolver a Teoria da Identidade Social foram: “a
competição intergrupal pode ser suficiente para gerar hostilidade, mas será necessária?” e “quais
serão as condições mínimas que produzirão este enviesamento grupal?”.

Desta forma, Tajfel e Turner (1979) reconheceram, em primeiro lugar, a importância da Teoria
dos Conflitos Realistas para a Psicologia Social:

Mª Matilde Silva | ISPA


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“A TCR foi protagonizada na psicologia social pelo casal Sherif, que


providenciou, tanto uma etiologia da hostilidade intergrupal, como uma teoria
da competição, de carater realista e instrumental, motivada por recompensas
(...) extrínsecas à situação intergrupal. (...) Assim, os reais conflitos de
interesses grupais, não só criam relações intergrupais antagónicas como
aumentam a identificação e intensificam a ligação com o endogrupo. A TCR,
contudo, atribuiu pouca relevância a esta identificação com o endogrupo,
enquanto problema teórico por direito próprio"

É esta atenção á questão da identificação com o endogrupo, no quadro de uma relação entre
grupos, que vai permitir o desenvolvimento da Teoria da Identidade Social e das Relações
Intergrupais. A Teoria da Identidade Social (TIS) baseia-se no pressuposto de que todos os
indivíduos têm necessidade de um autoconceito positivo, e que a nossa pertença a grupos
nos ajuda a conseguir definir e a manter positivo esse autoconceito.

Autoconceito
Conjunto de crenças do sujeito acerca das suas
características pessoais: O que é que o indivíduo sabe
acerca de si próprio?

Adicionalmente, os autores da teoria defendem que as avaliações positivas de si próprio e


dos membros do seu grupo se processam com base em comparações, de modo que
“alimentamos” o carácter positivo da nossa identidade social quando o nosso grupo tem mais
sucesso quando comparado com um outro grupo.

“A ideia básica — que está no coração psicológico da teoria — é a noção de


que as comparações intergrupais que são relevantes para a avaliação da
identidade social de uma pessoa exercem pressões para que a diferenciação
intergrupal consiga uma auto-avaliação positiva em termos dessa identidade”

Assim, os indivíduos tendem a afiliar-se num grupo quando este pode fornecer-lhe
aspectos positivos para a sua identidade (procura de uma auto-estima positiva através da
pertença a grupos). Relembrando um pressuposto da psicologia social, o individuo valoriza o “eu”
e do “meu” e necessita de uma avaliação positiva de si próprio (mecanismo motivacional).

Com efeito, a teoria defende que a motivação das pessoas para obter um autoconceito
positivo mediante a pertença a grupo, isto é, a motivação para obter uma identidade social
positiva, constitui uma força motriz por detrás do enviesamento endogrupal (“fenómeno
laboratorial análogo ao etnocentrismo do mundo real”). Este favoritismo ou ENVIESAMENTO
ENDOGRUPAL é definido como a tendência para favorecer membros do endogrupo em
detrimento de membros do exogrupo em domínios percetuais, atitudinais ou comportamentais.
Assim, pode ser considerado uma estratégia de self-enhancement através da componente social
do autoconceito de um individuo. O enviesamento endogrupal surge então como uma forma de
preservar uma diferenciação positiva do endogrupo em relação ao exogrupo em dimensões
de comparação relevantes.

Para desenvolver a sua teoria, Tajfel e Turner inspiram-se também no PROCESSO DE


CATEGORIZAÇÃO. Torna-se importante distinguir a categorização de objetos sociais e a
categorização de objetos não sociais, uma vez que estas categorizações diferem em termos da
emissão de juízos de valor. Os processos de auto e de hétero categorização social não consistem

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apenas na inclusão das pessoas em categorias. Implicam, também, a atribuição do valor que é
socialmente reconhecido a essa categoria. Assim se entende que a CATEGORIA SOCIAL (coleção
de dois ou mais indivíduos que têm, pelo menos, um atributo em comum que os distingue
dos membros de outras categorias) seja vista enquanto constructo social. Note-se que os
próprios indivíduos “categorizadores” se situam no interior do sistema de categorias.

Categorização social
Processo de identificar pessoas individuais como
membros de um grupo social porque partilham certas
características típicas do grupo. Pode ser: auto-
categorização (o processo de se ver a si próprio como
membro de um grupo social); e/ou hetero-
categorização.

A categorização social é, então, o processo de identificar indivíduos como membros de um


grupo social devido ao facto de estes partilharem determinadas características típicas desse
grupo. É devido a este processo que as pessoas são percebidas como membros de grupos sociais
em vez de serem percebidas como indivíduos singulares/únicos. Do processo de categorização
decorrem dois processos cognitivos que levam a uma perceção enviesada da realidade.:

ASSIMILAÇÃO INTRA CATEGORIAL DIFERENCIAÇÃO INTER CATEGORIAL


ACENTUAÇÃO INTRACATEGORIAL DE ACENTUAÇÃO INTERCATEGORIAL DE
SEMELHANÇAS DIFERENÇAS
EFEITO DE ASSIMILAÇÃO EFEITO DE CONTRASTE
Exagero da acentuação das semelhanças Exagero da acentuação das diferenças
entre os objetos de uma mesma categoria. entre os objetos de categorias opostas.

Assim, se eu pensar nos europeus acharei que têm muitas coisas em comum e por isso
encontrarei sobretudo semelhanças entre eles. Mas, se em seguida, forem salientes as perceções
de que pertenço ao grupo dos portugueses, e de que os outros europeus pertencem ao grupo
dos Italianos, muito provavelmente sobrestimarei as diferenças entre portugueses e italianos e
acentuarei as semelhanças dentro de cada um destes grupos nacionais.

A acentuação da perceção de semelhanças intragrupais e de diferenças intergrupais,


decorrentes de um processo de categorização, seria um motor mais importante do que, por um
lado, as características individuais e, por outro, o caráter realista de um conflito de interesses,
para desencadear fenómenos de enviesamento endogrupal. A categorização social, através do
processo de comparação social, para além de acentuar as semelhanças intragrupais e as
diferenças intergrupais, promove estas diferenças de modo a favorecer o endogrupo . É por isto
que teoria da identidade social também baseia no pressuposto de que a competição NÃO
constituiria uma condição necessária para o surgimento de preconceito e de estereótipos
negativos entre grupos, mas sim que bastaria o PROCESSO DE CATEGORIZAÇÃO SOCIAL.

O PARADIGMA DOS “GRUPOS MÍNIMOS”


AULA PRÁTICA 6

SOCIAL CATEGORIZARION AND INTERGROUP BEHAVIOUR


TAJFEL, BILLIG & BUNDY (1971)

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62

O paradigma dos grupos mínimos foi uma situação experimental criada por Tajfel e
colaboradores, para estudar o enviesamento ou favorecimento endogrupal, e testar a sua teoria
da Identidade social, uma vez que até então visava a perspetiva de que o enviesamento
intergrupal resultava de um conflito de interesses entre os grupos (competição social). Este
paradigma alargou consideravelmente o conceito de grupo, o qual passou a abranger toda e
qualquer situação resultante de uma categorização social.

O objetivo do estudo foi o de analisar se a categorização se traduzia em discriminação


intergrupal, ou seja, num comportamento de favoritismo pelo endogrupo em detrimento do
exogrupo; e perceber quais as condições mínimas do efeito da categorização na discriminação
intergrupal. Partiu então do conceito de categorização social e pretendeu transmitir que a mera
categorização, mesmo que dicotómica, tendia para o favoritismo endogrupal. Até então, e como
já referido, as relações intergrupais eram estudadas através de indução de competição, e é
natural que, se há competição, há discriminação.

Foi criada uma situação socialmente vazia de modo a isolar a variável categorização
enquanto condição mínima da emergência da discriminação intergrupal. Os 48 sujeitos
pertenciam todos ao mesmo sexo e faixa etária (adolescentes) e, embora se conhecessem pois
pertenciam à mesma turma, não houve interação entre eles em nenhuma das fases da
experiência. A categorização ou criação artificial dos grupos foi induzida através de um critério
totalmente abstrato e sem qualquer significado (“Grupo Klee” vs. “Grupo Kandinsky”, pintores
contemporâneos estrangeiros). O objetivo não era apurar efetivamente a preferência estética,
mas sim a forma que os autores arranjaram para criar 2 grupos, desprovidos de significado. A
identidade dos membros aos quais os sujeitos atribuíam a quantia era desconhecida
(identificados por um número e pelo grupo a que pertenciam).

Assim, num primeiro momento, os sujeitos manifestaram a sua preferência estética por um
de dois quadros apresentados numa série de 12 diapositivos. Posteriormente, um
experimentador procedeu (supostamente) ao tratamento das respostas dos sujeitos, simulando
a classificação das respostas para depois apurar em qual dos grupos é que os sujeitos seriam
incluídos em função das suas preferências (na realidade esta distribuição foi aleatória). Depois
desta tarefa, foi solicitado aos alunos que participassem num estudo sobre os processos de
tomada de decisão. Para tal, foi-lhes distribuído um caderno com o nome do pintor supostamente
preferido na primeira página para designar o grupo de pertença de cada sujeito. No interior do
caderno, cada folha apresentava uma matriz de números que representavam um valor em
dinheiro, e a tarefa era decidir a quantia que queriam atribuir a um membro do grupo de
pertença e a um membro do outro grupo, ambos designados por números. A variável
dependente é, então, a estratégia de escolha adotada pelo aluno: se tendia a favorecer o
endogrupo, o exogrupo, ou se era uma escolha equitativa.

O caderno com as 44 matrizes incluía 2 diferentes tipos de matriz, que implicavam diferentes
raciocínios de escolha, distribuídas de forma aleatória em cada caderno.

As MATRIZ DO TIPO A e a MATRIZ DO TIPO B permitiam:

RECOMPENSA MÁXIMA Pretende beneficiar-se em absoluto o membro do


GPM
PARA O PRÓPRIO GRUPO endogrupo.

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RECOMPENSA MÁXIMA Pretende beneficiar-se em absoluto o membro do


GOM
PARA O OUTRO GRUPO exogrupo.
RECOMPENSA MÁXIMA
RMC Pretende maximizar os ganhos para ambos os grupos.
COMUM
Mais do que beneficiar em absoluto o membro endogrupo
DIFERENÇA MÁXIMA
pretende-se estabelecer uma diferença positiva entre ele
ENTRE O GRUPO PRÓPRIO DM
e o membro do exogrupo, mesmo que seja à custa de
E O OUTRO GRUPO
perdas objetivas para o membro do endogrupo.
Pretende-se atribuir o mesmo valor a ambos os grupos,
DISTRIBUIÇÃO
DE pois não se vê razão para estabelecer diferença entre os
EQUITATIVA
mesmos.

EXEMPLO DE MATRIZ A

GPM

Endogrupo 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE

Recompensa Comum 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Diferença 18 15 12 9 6 3 0 3 6 9 12 15 18 RMC
DM
EXEMPLO DE MATRIZ B

GPM

Endogrupo 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE

Recompensa Comum 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44
Diferença 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 RMC
DM

Assim, podem ser mensuradas diferentes tipos de estratégia de resposta, apurando


indicadores de diferenciação (autofavoritismo absoluto e autofavoritismo relativo) ou
indicadores de indiferenciação.

ESTRATÉGIAS DE RESPOSTA
ESTRATÉGIA DE DIFERENCIAÇÃO
BENEFICIANDO O GRUPO PRÓPRIO

AUTOFAVORITISMO ABSOLUTO

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64

Com base na recompensa máxima possível de atribuir ao grupo próprio,


independentemente do que ambos podem receber (i.e., não estão preocupados com o que
podem atribuir ao outro grupo).
Preferência pela recompensa máxima para o próprio grupo (GPM) que mantém a
diferença máxima entre os grupos (DM), em detrimento da recompensa máxima comum
(RMC).

EXEMPLO NA MATRIZ A

GPM

Endogrupo 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM

DE

Recompensa Comum 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Diferença 18 15 12 9 6 3 0 3 6 9 12 15 18 RMC

DM

AUTOFAVORITISMO RELATIVO
Com base na diferença máxima possível entre o grupo próprio e o outro grupo, que favoreça
o grupo próprio, mesmo significando ganhar menos em termos absolutos (i.e., à custa de
perdas objetivas para o membro do endogrupo). Por outras palavras, só se preocupa com o
que o outro grupo recebe, no sentido competitivo de procurar que o exogrupo receba o menos
possível, mesmo que isso implique que o endogrupo receba menos.
Preferência pela diferença máxima entre os grupos (DM), em detrimento da recompensa
máxima para o próprio grupo (GPM) e da recompensa máxima comum (RMC).

EXEMPLO NA MATRIZ B

GPM

Endogrupo 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM

DE

Recompensa Comum 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44
Diferença 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 RMC

DM
ESTRATÉGIAS DE INDIFERENCIAÇÃO
Preferência pela recompensa máxima comum (RMC), em detrimento da recompensa máxima
para o próprio grupo (GPM) e diferença máxima entre os grupos (DM).

EXEMPLO NA MATRIZ A

GPM
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65

Endogrupo 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM

DE

Recompensa Comum 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Diferença 18 15 12 9 6 3 0 3 6 9 12 15 18 RMC

DM

Preferência pela recompensa máxima comum (RMC) e recompensa máxima para o próprio
grupo (GPM) em detrimento da diferença máxima entre os grupos (DM).

EXEMPLO NA MATRIZ B

GPM

Endogrupo 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM

DE

Recompensa Comum 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44
Diferença 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 RMC

DM

Os RESULTADOS mostraram que, quando a estrutura da matriz o permitia, os sujeitos


escolhiam consistentemente uma distribuição equitativa, mas que, na ausência desta
possibilidade, os sujeitos manifestaram uma clara preferência pelas estratégias de
diferenciação, mais concretamente pelo autofavoritismo relativo, mesmo que tal implicasse que
o membro do próprio grupo perdesse em valores absolutos.

Desta forma, conclui-se que a categorização é suficiente para que haja enviesamento
endogrupal. Este paradigma dos grupos mínimos foi determinante para mostrar os efeitos da
categorização e sua relativa independência em relação à natureza das relações de cooperação ou
de competição entre grupos, uma vez que o processo de discriminação encontrado se justifica
não pela procura de uma recompensa monetária, mas sim pela procura de uma identidade social
positiva.

Estes resultados de discriminação intergrupal, não são encontrados em estudos anteriores,


surgindo num contexto no qual a categorização foi feita através de um critério vazio de significado
social (preferência estética) e no qual não foi promovida qualquer competição e respetivo conflito
entre os grupos. Até então, resultados que demonstravam discriminação intergrupal em
experiências anteriores, tinham sido estudados em contextos nos quais ou a categorização era
feita com base em dimensões sociais ou nas quais não havia conflito.

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66

Uma hipótese básica para explicar os resultados obtidos é que as pressões da identidade
social para avaliar o endogrupo positivamente, através de comparações entre o endogrupo
e um exogrupo relevante, levam os grupos socias a tentarem diferenciar-se uns dos outros.

CONSEQUENCES OF MINIMAL GROUPS AFFILIATIONS IN CHILDREN


D U N H A M, B A R O N & C A R E Y , 2 0 1 1

Dunham e colaboradores, realizaram três experiências que estudaram a hipótese de que a


pertença de crianças de 5 anos a grupos mínimos atribuídos aleatoriamente seria suficiente para
induzir enviesamento endogrupal. As crianças foram aleatoriamente distribuídas pelos grupos e
realizaram tarefas envolvendo julgamentos de crianças não-familiares tanto do endogrupo como
do exogrupo. Foram medidos os seguintes conceitos:

As fotografias alvo das crianças foram apresentadas uma de cada vez, com uma
ATITUDE EXPLICITA
ordem aleatória, e as crianças indicaram a sua preferência para cada estímulo.
ALOCAÇÃO DE Foi dito às crianças que podiam distribuir até 5 moedas entre as duas crianças (do
RECURSOS grupo vermelho vs. do grupo azul) da forma que quisessem.
"Ouvirão falar de algo que alguém fez. O vosso trabalho é decidir quem o fez.”
ATRIBUIÇÃO Foi descrito um breve comportamento, ou com valência positiva (e.g., “quem fez
COMPORTAMENTAL biscoitos para todos os seus amigos?”) ou com valência negativa (e.g., “quem levou
algum dinheiro sem pedir?”).
ATITUDE IMPLÍCITA Implicit Association Test (IAT)
Era contada à criança uma de duas histórias, ou sobre um membro do endogrupo ou
sobre um membro do exogrupo. Em ambas as histórias o protagonista (um membro do
FREE-RECALL
mesmo sexo ou do endogrupo ou do exogrupo) apresentava quatro comportamentos
MEMORY TEST
positivos e quatro comportamentos negativos. Depois de contada a história era
perguntado à criança o que é que ela se lembrava da história.

Os resultados mostraram que, ainda que na ausência de informação relativa ao estatuto


relativo dos grupos ou de qualquer contexto competitivo, as crianças mostraram preferência pelo
endogrupo nas medidas explicitas e implícitas das atitudes, na alocação de recursos, na atribuição
comportamental e nas expetativas de reciprocidade. Ainda, verificou-se que as crianças
distorceram sistematicamente a informação obtida por codificarem preferencialmente
informação positiva sobre membros do endogrupo. Viu-se também uma tendência geral para
lembrar mais comportamentos negativos do que positivos, sendo que os comportamentos
positivos foram mais frequentemente recordados para os membros do endogrupo do que
para os membros do exogrupo, enquanto a recordação de ações negativas não variou
significativamente em função do grupo. Por outras palavras, a criança lembra-se de mais
comportamentos positivos quando o protagonista pertence ao endogrupo.

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67

ESCOLAS DE BRISTOL E DE GENEBRA


CONTINUAÇÃO DA AULA TEÓRICA 6

A HIPÓTESE DA COMPETIÇÃO SOCIAL


Na sequência do Paradigma dos grupos mínimos e da interpretação de Tajfel, Turner
desenvolveu estudos com o objetivo de corroborar a interpretação de Tajfel (autoavaliação
positiva), argumentando que o processo subjacente à discriminação intergrupal seria a
comparação social e não o desejo de recompensa monetária. Se fosse este o caso, então os
mesmos efeitos deveriam ser encontrados quando as escolhas eram em termos de uma
dimensão puramente comparativa e cujo valor diferencial era abstrato, ou seja, nenhum ponto
tinha um significado concreto ou valor específico, exceto em termos de uma atribuição geral de
valor comparativo entre os grupos.

Paradigma dos Grupos Mínimos:


Estudo com situação intergrupal mínima onde se
verificou que a mera categorização tem o efeito de
discriminação favorecedora do endogrupo. A
interpretação de Tajfel para estes resultados foi a busca
de uma autoavaliação positiva: as comparações
intergrupais que são relevantes para a avaliação da
identidade social de uma pessoa exercem pressões para
que a diferenciação intergrupal consiga uma
autoavaliação positiva em termos dessa identidade.

SOCIAL COMPARISON AND SOCIAL IDENTITY


SOME PROSPECTS FOR INTERGROUP BEHAVIOUR
TURNER (1972, 1973, 1978)

Recent studies have reported that the variable of social categorization per se is sufficient for intergroup
discrimination. This paper presents an explanation of these findings in terms of the operation of social
comparison processes between groups based on the need for a positive ingroup identity. The relationship
between perceived social identity and intergroup comparison is elaborated theoretically, and it is argued
that social comparisons give rise to processes of mutual differentiation between groups which can be
analysed as a form of ‘social’ competition. Social competition is distinguished from realistic competition
(conflict of group interests). New data is reported which strengthens this interpretation of the ‘minimal’
categorization studies. It is found that minimal intergroup discrimination takes place in the distribution of
meaningless “points” as well as monetary rewards and that social categorization per se does not lead to
intergroup behaviour where the subjects can act directly in terms of ‘self‘.

A experiência constou de 4 condições experimentais, com 22 sujeitos em cada uma (N=88).


Metade dos sujeitos estavam na condição dinheiro (igual ao paradigma dos grupos mínimos
original), e a outra metade na condição valor.

CONDIÇÃO DINHEIRO (M) CONDIÇÃO VALOR (V)


Foi dito aos participantes que a tarefa Foi dito aos participantes que a tarefa
consistia em distribuir pontos que consistia em distribuir pontos que não
representavam dinheiro. (“Situação Tajfel”) representavam nada em particular. Devia ser
encarada como um jogo no qual quanto mais
pontos obtivessem, melhor.

Mª Matilde Silva | ISPA


68

A segunda manipulação experimental tinha a ver com ao ORDEM da situação. Todos os


participantes preencheram dois blocos cada qual correspondia ou à condição SO, ou à condição
OO, sendo estas:

CONDIÇÃO SO CONDIÇÃO OO
Cada escolha revertia para o próprio e Os participantes apenas podiam escolher
para um outro sujeito, que era um membro ou dois outros sujeitos (“Situação Tajfel”).
do endogrupo ou do exogrupo.

Assim, a experiência resultou num design fatorial 2x2, onde:

ORDEM DOS BLOCOS


CONDIÇÃO SO-OO CONDIÇÃO OO-SO
CONDIÇÃO DINHEIRO n = 11 n = 11
CONDIÇÃO VALOR n = 11 n = 11

Em relação aos resultados, verificou-se um efeito de discriminação, tanto na “condição V”


como na “condição M”, querendo isto dizer que o favoritismo pelo endogrupo e a
discriminação intergrupal surgem em situações de categorização, independentemente de
os pontos das matrizes terem ou não valor monetário. Assim, foi possível demonstrar que este
fenómeno não será derivado de processos associados a interesse instrumental do próprio ou do
grupo.

Foi ainda encontrada uma discriminação eu-outro, mas não uma discriminação intergrupal,
tanto na “condição M” como na “condição V”, na condição SO-OO. Quando a situação
experimental o permitiu, o autofavoritismo substituiu o favoritismo pelo endogrupo e a
discriminação interindividual substituiu a discriminação intergrupal. Foi então possível
delinear as condições sob as quais a categorização em grupos não é suficiente para a
discriminação intergrupal.

Em suma, os resultados obtidos por Turner evidenciaram o efeito da competição social por
uma identidade pessoal positiva, a qual explicaria os resultados das experiências dos “grupos
mínimos”. O grupo de pertença seria então uma entidade temporária e arbitrária que serviria à
satisfação da necessidade de um self positivamente distintivo.

LIMITAÇÕES DA TEORIA DA IDENTIDADE SOCIAL DA ESCOLA DE BRISTOL


A Teoria da Identidade Social tem por base uma generalização de uma necessidade de
identidade social positiva a todos os grupos sociais, pressupondo da existência de uma “norma
social genérica” de favoritismo pelo próprio grupo (norma de etnocentrismo). Desta forma,
não tem então em conta fatores culturais, tais como a estrutura e ideologia sociais (e.g.,
Billig,1976) . Por exemplo, num estudo, Wetherell (1982) comparou os resultados das replicações
da experiência dos “grupos mínimos” junto de adolescentes europeus e da Polinésia, tendo os
resultados mostrado que a Recompensa Máxima Comum constituiu a estratégia escolhida pelos
adolescentes da Polinésia. Desta forma, a norma da discriminação intergrupal enquanto
expressão da procura de uma distintividade positiva é própria de uma cultura ocidental que
valoriza a competição e a individualidade, e não das culturas onde é promovida a
cooperação como norma de conduta.

Mª Matilde Silva | ISPA


69

Ainda, a Teoria da Identidade Social toma a identidade social como variável explicativa da
diferenciação e da discriminação intergrupal. No entanto, os processos associados à
diferenciação e à discriminação intergrupal devem ser explicados no contexto das relações
interpessoais e de poder. Então, como explicar, à luz do Modelo da Identidade Social da Escola
de Bristol, determinadas relações intergrupalis Por exemplo, como explicar as relações
intergrupais que envolvem as categorias “masculino” e “feminino”? É que, no contexto destas, a
distintividade positiva do próprio e do seu grupo correspondem a um padrão percetivo e
comportamental mais do sexo masculino do que do sexo feminino.

Em suma, a Teoria da Identidade Social da escola Bristol não tem em consideração as


determinantes sociais da identidade social (Doise, 1987, 1988). Isto é decorrente do facto de
o modelo em análise depender de um paradigma experimental socialmente “vazio” que
pretendeu extrapolar as premissas e resultados para as condições sociais reais: O que é ser
“Klee”? O que é ser “Kandinsky”?

A ESCOLA DE GENEBRA
D E S C H A MP S & D O I S E

EFEITO DO CRUZAMENTO DAS PERTENÇAS CATEGORIAIS

Paradigma dos Grupos Mínimos: O que acontece na sociedade, em


•Redução da pertença a uma única geral?
categoria social. •Mundo social segmentado em
•Exclusão da pertença simultânea a múltiplas entidades coletivas.
grupos diferentes. •Ocorrência de cruzamento entre
estas entidades.
É possível, então, definir 2 tipos de situações: por um lado, situações com um princípio de
categorização simples em que o sujeito tem de lidar com uma dicotomia radical entre uma
categoria social e outra; por outro, situações com uma categorização cruzada, onde os sujeitos
lidam com o facto de que uma parte dos membros da categoria a que pertencem e alguns
membros da categoria a que não pertencem, de acordo com um primeiro principio de
categorização, pertencem ao mesmo grupo, de acordo com um segundo principio de
categorização (Deschamps, 2003).

Tendo em conta o PROCESSO DE ACENTUAÇÃO INTERCATEGORIAL DE DIFERENÇAS decorrentes


do processo de categorização, seria de esperar que, numa situação de cruzamento das pertenças
grupais, se acentuassem: as diferenças entre as duas categorias do 1º nível de categorização; as
diferenças entre as duas categorias do 2º nível de categorização e; as diferenças no interior de
uma mesma categoria, já que esta é composta por membros de duas categorias diferentes de
acordo com o primeiro nível de categorização. Paralelamente à acentuação das diferenças no
interior da mesma categoria, tendo em conta o PROCESSO DE ACENTUAÇÃO INTRACATEGORIAL DE
SEMELHANÇAS decorrente de um processo de categorização, dever-se-ia dar uma acentuação das
semelhanças no interior dessa mesma categoria. Assim há 2 efeitos que se opõem, o efeito da
acentuação de semelhanças e o efeito da acentuação de diferenças, pelo que se dá a redução da
discriminação entre grupos.

Mª Matilde Silva | ISPA


70

Desta forma, do cruzamento das pertenças categoriais resulta uma diminuição da


discriminação entre grupos, havendo então uma maior probabilidade de a discriminação emergir
em contextos sociais dicotomizados.

O MODELO DAS RELAÇÕES DE PODER SIMBÓLICO


D E S C H A MP S ( 1 9 7 8 )

Perspetiva Tajfeliana Perspetiva de Deschamps


•A identidade como uma variável •A identidade enquanto variável
motivacional (i.e., procura de uma dependente dos estatutos relativos
identidade positiva). dos grupos numa situação
intergrupal.

Paradigma dos Grupos Mínimos O que acontece na sociedade, em


•Grupos com o mesmo estatuto geral?
(grupos intermutáveis). •Assimetria de estatuto: há os
dominantes e os dominados.
Tendo em conta a assimetria de estatuto e as relações de dominação, verificou-se que:

MEMBROS DO GRUPO PRIVILEGIADO MEMBROS DO GRUPO NÃO PRIVILEGIADO


Discriminação: manifestação de uma Não discriminação: ausência da
maior valorização do grupo próprio. manifestação de uma maior valorização do
grupo próprio e possibilidade de favoritismo
pelo grupo dos outros.

5
O CASO PARTICULAR DAS RELAÇÕES ENTRE SEXOS
D E S C H A MP S & D O I S E

Deschamps e Doise tiveram em conta a assimetria entre o sexo masculino, considerados os


membros do grupo socialmente dominante, e o sexo feminino, considerados os membros do
grupo socialmente dominado.

Neste estudo, os participantes foram convidados a avaliar os membros do seu grupo de


pertença categorial, a avaliar os membros do outro grupo e a avaliarem-se a si próprios. Os
resultados mostraram que os rapazes discriminaram mais as raparigas do que o contrário.
As autoavaliações dos rapazes foram mais positivas do que as suas heteroavaliações (avaliações
de cada sujeito relativamente aos restantes membros do seu grupo) enquanto as autoavaliações
das raparigas foram semelhantes às suas heteroavaliações.

Os rapazes manifestaram um enviesamento de favoritismo relativamente ao seu grupo


de pertença (sociocentrismo) e, simultaneamente, um enviesamento de favoritismo
relativamente a si próprios (egocentrismo) enquanto as raparigas evidenciaram menos esta
tendência sociométrica e não exibiram a tendência egocêntrica.

5
note-se que no PGM os participantes pertenciam todos ao sexo masculino.

Mª Matilde Silva | ISPA


71

ASSIMETRIAS DE PODER
P Ó L O D O MI N A N T E V S . P Ó L O D O MI N A D O

COMO SE PERCECIONAM OS INDIVÍDUOS QUE COMO SE PERCECIONAM OS INDIVÍDUOS QUE


SE ENCONTRAM NO PÓLO DOMINANTE DE SE ENCONTRAM NO PÓLO DOMINADO DE UMA
UMA RELAÇÃO ENTRE GRUPOS? RELAÇÃO ENTRE GRUPOS?
· Singulares, únicos. · Menos singulares, menos únicos, parte de
· Livres, autónomos, responsáveis pelas um todo com poucas características
suas escolhas. pessoais.
· Atores autodeterminados (causalidade · Atores heterodeterminados (menos
interna). “internos”)
· Grupo percebido como coleção de · Grupo percebido como agregado de
indivíduos. elementos indiferenciados.
· Grupos-coleção (Lorenzi-Cioldi, 1988). · Grupos agregado (Lorenzi-Cioldi, 1988)
· Eles próprios determinam o que · São os grupos dominantes que
querem ser. determinam aquilo que estes podem vir
a ser.

Mª Matilde Silva | ISPA


72

PRECONCEITO, CONFLITO E AGRESSÃO INTERGRUPAL


SOBRE A SUA GÉNESE E REDUÇÃO

AULA TEÓRICA 7

O QUE LEVA UM GRUPO DE PESSOAS A VITIMIZAR OUTRO?


T R A T A - S E D E U M P R O C E S S O C O M U MA C A U S A Ú N I C A O U C O M MA N I F E S T A Ç Õ E S I D Ê N T I C A S E M
T E R MO S D A S U A “ V I S I B I L I D A D E ” ?

O preconceito é um dos processos que leva à discriminação, uma vez que os processos que
conduzem à discriminação incluem, por norma, o preconceito (e.g., preconceito baseado na raça
(racismo), no sexo (sexismo) e noutras categorias sociais (outros “-ismos”). Não obstante, o
preconceito pode ser positivo ou negativo, havendo uma preocupação fundamental com o
preconceito negativo, na medida em que é este que se encontra na base de muitos dos
fenómenos de discriminação social negativa. Assim, o preconceito define-se como avaliação,
positiva ou negativa, de um grupo social e dos seus membros.

Embora estejam relacionados, estereótipos, preconceito e discriminação são fenómenos


conceptualmente distintos, que correspondem, respetivamente, às componentes cognitiva,
emocional e comportamental das relações entre grupos sociais. Allport procede a uma distinção
conceptual entre os conceitos de preconceito, discriminação e estereótipo:

ESTEREÓTIPO PRECONCEITO DISCRIMINAÇÃO6


Trata da componente Trata da componente Trata da componente
cognitiva, isto é, das crenças emocional, isto é, da atitude comportamental, isto é, do
exageradas em relação a um (normalmente negativa) em comportamento (regra geral
grupo social (categoria social) e relação a um grupo e seus negativo) em relação a um grupo
seus membros (e.g., os ciganos membros (e.g., não gosto de e seus membros, tendo por base
são desonestos). ciganos). apenas a sua pertença grupal
(e.g., não casaria com um
cigano).

Para a formação do preconceito contribuem tanto FATORES DE NATUREZA SOCIAL – a


experiência social e a aprendizagem social –, como FATORES DE NATUREZA COGNITIVA:

CATEGORIZAÇÃO ESTEREÓTIPO
Está na origem dos estereótipos e do Estruturas cognitivas que enformam os modos
preconceito. O pensamento humano tem de de pensar, sentir e agir. É uma crença exagerada
utilizar categorias para pensar, e uma vez associada a uma categoria. A sua função é justificar
formadas, essas categorias constituem a base dos a nossa conduta em relação a essa categoria, não
preconceitos. A cognição através de categorias faz sendo idêntico a uma categoria, mas mais uma
parte do processo cognitivo normal, e as ideia fixa que a acompanha. Tem a função,
categorias mais relevantes para gerar socialmente partilhada, de justificação dos
preconceitos são as que contêm, para além do preconceitos.
conceito, a sua avaliação.

6
A discriminação pode ter várias manifestações, que podem ir desde: a antilocução (verbalização negativa),
até ao extermínio, passando por evitamento, segregação e ataque físico.
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73

QUAL A ORIGEM DO PRECONCEITO?


As diversas teorias que pretendem explicar a origem do preconceito foram desenhadas e
desenvolvidas em diferentes níveis de análise:

NÍVEL INTERGRUPAL NÍVEL INTER-INDIVIDUAL NÍVEL INTRA-INDIVIDUAL


· Teoria dos Conflitos · A Congruência de · Teoria da Frustração-
Realistas (Sherif et al., Crenças (Rokeach, 1960). Agressão (Dollard et al.,
1961). 1939).
· Teoria da Privação · Teoria da Personalidade
Relativa (Stouffer et al., Autoritária (Adorno et al.,
1949). 1950),
· O “Espírito Fechado”
(Rokeach, 1948),

Nota: nas teorias de caráter intra e interindividual, a


origem do preconceito encontra.se em determinantes
externos (frustração) ou internos (personalidade
autoritária ou sistema de crenças)

NÍVEL INTRAINDIVIDUAL
TEORIA DA FRUSTRAÇÃO-AGRESSÃO
DOLLARD ET AL. (1939)

A proposta básica dos autores ao apresentar a teoria da frustração-agressão, que integra as


noções de energia psíquica e de hemóstase do modelo psicanalítico e o princípio da
aprendizagem social, foi que “a ocorrência do comportamento agressivo pressupõe sempre a
existência de uma frustração e, pelo contrário, a existência de uma frustração conduz
necessariamente a alguma forma de agressão”. Deste corpo axiomático central os autores
derivaram uma hipótese sobre a génese das atitudes preconceituosas e dos comportamentos de
hostilidade interpessoais ou intergrupais, que ficou conhecida como a hipótese do “bode-
expiatório”. De acordo com esta hipótese, toda a socialização humana implica forças
limitadoras das necessidades e dos objetivos individuais, e nesse sentido, toda a vida social
contém endemicamente, em alguma medida, a frustração que gera a agressão. O controlo
social obriga muitas vezes, no entanto, a deslocar essa agressão para alvos socialmente
admissíveis: os mais fracos, os membros dos grupos desviantes ou de grupos socialmente
estigmatizados.

Dollard evocou como exemplo deste fenómeno o antissemitismo que grassou na Alemanha
entre as duas guerras mundiais do século XX. e que culminou com a subida ao poder da ideologia
nazi. Segundo ele, Hitler só teve possibilidade de achar eco na nação alemã para a sua proposta
nacionalista e de purificação étnica da “raça ariana”, exterminando massivamente, entre outros
grupos, os judeus, porque a Alemanha tinha sofrido um colapso económico muito grave como
perdedora da guerra de 1914-1918, o que teria constituído uma enorme frustração em relação
às expectativas e ambições imperiais do povo alemão.

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ALTERAÇÕES AO MODELO DE FRUSTRAÇÃO-AGRESSÃO

Leonard Berkowitz introduziu sucessivas alterações ao modelo de frustração-agressão


relativizaram o significado da frustração para quem a sofre, por um lado, acrescentaram uma
dimensão mais cognitiva à seleção de alvos alternativos e alargaram o conceito de frustração
a múltiplos aspetos da vida que possam causar desconforto ou mesmo estados de tensão.
Nesta linha, quaisquer sentimentos negativos, e não apenas a frustração, podem desencadear
comportamentos de agressão. Por exemplo, a ira, o medo, a dor ou uma simples irritação
podem dar origem a agressões. De igual modo, as emoções negativas associadas a experiências
de desconforto físico (como o extremo calor ou o frio, a elevada poluição do ar, as multidões, ou
os ruídos intensos) podem desencadear a agressão.

LIMITAÇÕES DA TEORIA

Apesar de alguma evidência empírica que lhe ofereceu suporte (e.g., Miller & Bugelski, 19487;
Tanter, 1966 8 ) e das alterações introduzidas por Berkowitz (e.g., 1922, 1969, 1989), a teoria
apresenta limitações no que toca à dificuldade em predizer qual o alvo a agredir pelo
deslocamento da agressão (nomeadamente quando se trata de relações intergrupais). Ainda, a
investigação mostrou que a frustração objetiva não é necessária nem suficiente para que
ocorra a resposta agressiva, limitando assim a aplicação da teoria a um número bem mais
restrito de situações.

TEORIA DA PERSONALIDADE AUTORITÁRIA


ADORNO ET AL. (1950)

“Frustrações de filhos trazem ódio aos pais.”

Tentou explicar as atrocidades cometidas pelo regime nazi, e o preconceito em geral, através
de uma disposição interna aprendida no decurso do processo educativo e internamente
estruturante de um tipo de personalidade — a “PERSONALIDADE AUTORITÁRIA”. Ao contrário
de Dollard e colaboradores, que faziam depender a agressão de condições externas identificadas
como frustrações, a proposta de Adorno, Frenkel-Brunswik, Levinson e Sanford (1950), embora
também partilhe a hipótese do deslocamento da hostilidade contra alvos mais fracos e
inocentes, situa a origem dessa hostilidade numa constelação de características atitudinais

7
Miller e Bugelski (1948) estudaram essa hipótese com rapazes num campo de férias, privando um dos
grupos de uma saída noturna para responderem a uma série de testes propositadamente desinteressantes,
o que constituiu a situação de frustração. A medida da esperada hostilidade não se verificou em relação
aos experimentadores, enquanto causadores da frustração, mas deslocou-se, também como esperado,
para dois grupos minoritários no campo de férias. Em comparação com um grupo que pôde sair à noite, a
medida das atitudes do grupo "frustrado", antes e depois do incidente noturno, mostrou que, depois da
frustração, os estereótipos sobre aqueles dois grupos se tornaram mais negativos.
8
Num âmbito social alargado, Tanter (1966) tentou relacionar o grau de conflitualidade interna com o grau
de conflitualidade externa em 83 países, esperando uma correlação negativa numa análise sincrónica e
Mª Matilde Silva
uma| ISPA
correlação positiva numa análise diacrónica. Os resultados mostraram que, quando existem
dificuldades internas graves, são mais prováveis, no mesmo âmbito temporal (análise sincrónica), os
conflitos internos e não os externos; mas quando a conflitualidade interna traz graves dificuldades ao país,
é provável que, na sequência destas (análise diacrónica), a conflitualidade se desloque para alvos externos
— como Dollard e colegas sugeriram em relação ao desencadeamento da Segunda Guerra Mundial pela
Alemanha — diminuindo então a conflitualidade interna.
75

aprendidas, derivadas dos efeitos de amor-ódio criados por uma educação repressiva
parental: essa constelação integra a obediência, o respeito rígido e a admiração pelas figuras
da autoridade e pela ordem, a intolerância à ambiguidade na definição da hierarquia social
e dos valores que lhe estão associados e a necessidade de identificar “bodes expiatórios”
nos membros de grupos minoritários desviantes. Mais concretamente, esse processo
educativo traduz-se numa educação parental repressiva que “ensina” valores fascistas.

Para verificar esta hipótese sobre a origem e a natureza das atitudes preconceituosas, Adorno
e os seus colegas construíram uma escala de atitudes (a F scale), uma escala de atitudes que
pretendia medir a dimensão fascista da “personalidade autoritária”, composta por quatro
subescalas: (1) etnocentrismo; (2) antissemitismo; (3) pró-fascismo; e (4) conservadorismo
político-económico.

LIMITAÇÕES DA TEORIA

Apesar do sucesso persistente desta teoria na psicologia, apoiado em vários estudos que
utilizaram a F-scale enquanto medida de tendências fascistas e racistas, algumas críticas lhe têm
sido dirigidas. Estas críticas sublinham sobretudo a insuficiente atenção, dada pela teoria, a
fatores de natureza social e cultural. Além disso, apesar de a “personalidade autoritária” poder
predispor algumas pessoas a serem preconceituosas em determinados contextos, a cultura do
preconceito, traduzida em normas sociais que o legitimam, é suficiente para explicar as
atitudes intergrupais preconceituosas.

O “ESPÍRITO FECHADO” E A CONGRUENCIA DE CRENÇAS


ROKEACH (1948)

Rokeach partilha a hipótese da personalidade autoritária como origem das atitudes


preconceituosas contra alvos inocentes, no entanto, conceptualiza-a, não enquanto fator
estritamente associado ao conservadorismo político-económico favorável ao fascismo, como o
fizeram Adorno et al. (1950), mas enquanto fator intrapessoal de natureza cognitiva: o “ESPÍRITO
FECHADO”. Esse espírito fechado caracterizava-se, segundo Rokeach, pela dificuldade em
manter crenças aparentemente contraditórias, pela resistência à mudança de atitudes
perante nova informação e pelo recurso à autoridade para validar as suas crenças pessoais,
sendos os “sintomas” deste espírito fechado muito próximos do que foi descrito por Adorno et
al.: o preconceito e discriminação socialmente legitimados contra alvos inocentes . No
entanto, segundo Rokeach, o dogmatismo que decorre deste funcionamento cognitivo é
independente da ideologia política.

Hostilidade e
Agressão

Origem

Frustração Ideologia
Cognição
Dollard Et Al. Adorno Et. Al.
Rokeach (1948)
(1939) (1950)

Fator associado a forças Fator associado ao


Fator intrapessoal de natureza
limitadoras das necessidades e conservadorismo político-
cognitiva: o "espírito fachado".
dos objetivos individuais. económico favorável ao fascismo.

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NÍVEL INTER-INDIVIDUAL
TEORIA DA CONGRUÊNCIA DE CRENÇAS
ROKEACH (1960)

Sendo crucial na teoria do espírito fechado a hipótese de que na origem do preconceito está
o desenvolvimento de um sistema de crenças rígido e impermeável a nova informação,
Rokeach desenvolveu paralelamente a Teoria da Congruência de Crenças, que prevê que a
perceção de semelhança entre os sistemas de crenças de dois indivíduos confirma a validade do
seu sistema de crenças individual. Ademais, esta perceção de semelhança ou congruência
determinaria a atração interindividual e, por sua vez, a probabilidade de desenvolvimento de
atitudes interindividuais positivas. Nas palavras de Rokeach, “a crença é mais importante do
que a pertença étnica ou racial como determinante da discriminação social”.

NÍVEL INTER-GRUPAL
TEORIA DA PRIVAÇÃO RELATIVA
STOUFFER ET AL. (1949)

"Quanto mais se tem mais se quer"

O conceito de privação relativa foi cunhado por Stouffer no seu estudo “O Soldado
Americano”, realizado nos EUA no decurso da Segunda Guerra Mundial. O fenómeno que chamou
a atenção dos autores foi o elevado grau de insatisfação expresso pelo pessoal da Força Aérea,
em relação ao qual se constatou a existência de um ritmo rápido de promoções, em comparação
com a satisfação relativamente elevada do pessoal da Polícia Militar, em que as promoções
se processavam a um ritmo lento e descontínuo. Os autores encontraram a explicação para
este fenómeno, aparentemente contraintuitivo, na discrepância entre o elevado nível de
expectativas dos primeiros e o baixo nível de expectativas dos últimos: enquanto para os
membros da Força Aérea as promoções rápidas e alargadas dificilmente conseguiam
corresponder ao que aspiravam, para os membros da Polícia Militar, mesmo as poucas
promoções produziam satisfação, já que excediam as suas expectativas. A interpretação deste
fenómeno deu origem ao conceito de privação relativa, definido como um sentimento de
privação decorrente da comparação entre um recurso a que se aspira e a que se julga ter direito
(e.g., poder, dinheiro, prestígio) e aquilo que se obtém.

Runciman realizou a demonstração empírica mais significativa da importância do caráter


relativo da privação relativa para o desenvolvimento de atitudes preconceituosas. Runciman
comparou as respostas de dois grupos, operários e administrativos, de uma amostra de 2000
trabalhadores, ingleses e galeses, em relação a variáveis de satisfação com a situação económica
e social, perceção de classe social (classe social subjetiva), grupos sociais de referência,
rendimento familiar, aspirações para os filhos, atitudes políticas, etc. Os resultados mostraram,
por exemplo, que em relação às questões “Que tipo de pessoas vive muito melhor do que você e
a sua família?” e “O que sente em relação a isso, aprova ou desaprova?”, a maioria dos operários
(“colarinhos azuis”) indicou outros grupos de operários, enquanto uma parte dos administrativos
(“colarinhos brancos”), objetivamente com benefícios económicos mais elevados, indicou
exemplos de grupos de operários e exprimiu uma viva reprovação por esse facto.

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A partir dos resultados da sua experiência, Runciman sublinhou que o sentimento de


privação não se apoia num critério objetivo, mas sim na relação existente entre aquilo a que
se perceciona ter direito e aquilo que se obtém, no quadro de uma comparação interpessoal
ou intergrupal. Este caráter relativo do sentimento de privação explica os resultados obtido por
Runciman, isto é, explica como é que os grupos objetivamente mais privilegiados podem sentir-
se privados em relação a grupos objetivamente menos favorecidos. É de notar que muitas vezes
tal se verifica na sequência de uma reação às medidas de discriminação positiva (e.g., são casas
dadas a refugiados e os indivíduos do país sentem-se privados em relação aos refugiados; “não
temos médicos de família e agora vão dar aos refugiados?”).

Runcimam propôs ainda duas classes distintas de privação relativa:

PRIVAÇÃO RELATIVA EGOÍSTA PRIVAÇÃO RELATIVA FRATERNA


Quando o grupo de referência, para Quando o grupo de referência é o outro
estabelecer a existência de sentimentos de grupo. O autor atribui relevância social apenas
privação relativa, é o próprio grupo. a esta classe de privação referindo que
somente estes sentimentos de privação
relativa são relevantes para a conflitualidade
social.

Esta teoria supera a teoria da frustração-agressão, igualmente interessada em explicar a


origem e o processamento de comportamentos agressivos ou hostis, porque, entre outros
fatores, reforça a ideia de Berkowitz sobre a importância da experiência subjetiva da frustração
para o desencadeamento da agressão e descreve e explica o facto de também os grupos
dominantes ou socialmente privilegiados exprimirem sentimentos de privação e de injustiça
relativamente a grupos menos privilegiados.

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A “CAVERNA DOS LADRÕES”


SHERIF ET AL. (1961/1988)

AULA PRÁTICA 7

A TEORIA DOS CONFLITOS REALISTAS


A origem do etnocentrismo foi explicada inicialmente pela psicologia social nos níveis
intrapessoal e interpessoal, se bem que Allport tenha lançado pontes para o entendimento do
preconceito e da discriminação numa combinação entre estes níveis e o nível intergrupal. É a
Sherif, no entanto, que se deve um enunciado claramente intergrupal e situacional das causas
das relações de conflito e de cooperação entre grupos:

“(...) a agressão e o conflito não são fenómenos gerados internamente, ou


intrapsíquicos. São estados de relacionamento que emergem como
consequência de transações entre pessoas, em situações que promovem ou
bloqueiam os objetivos que perseguem. Deste modo, a adequada etiologia do
conflito, como da cooperação, requer que a sua avaliação se processe no
contexto específico em que ocorrem. Não se pode extrapolar de forma acrítica
de comportamentos observados em contexto interpessoal para os que ocorrem
no contexto de grupos organizados, porque isso ignora as variáveis
independentes das relações intergrupais.”

Esta hipótese da importância da natureza das relações que os grupos estabelecem para
atingir os seus objetivos e das suas consequências nas atitudes e comportamentos dos seus
membros foi alvo de atenção de vários psicólogos, mas o seu enunciado teórico deve-se a
Campell, na sua Teoria dos Conflitos Realistas. No centro da teoria está a proposição de que essas
atitudes e comportamentos (de conflito ou cooperação) decorrem dos interesses objetivos
dos grupos naquela situação. Sempre que os recursos forem divergentes, mas os grupos
precisarem de interagir para os defender, ou sempre que os interesses forem convergentes, mas
os recursos forem limitados ou indivisíveis, é possível predizer que se desenha uma RELAÇÃO DE
CONFLITO, traduzida em atitudes intergrupais etnocêntricas e competitivas que podem atingir
formas elevadas de hostilidade, de discriminação ou mesmo de agressão (grupos competem
por recursos limitados). Pelo contrário, quando os interesses objetivos de dois grupos forem
convergentes e os recursos suficientes, é possível predizer que se desenha uma RELAÇÃO DE
COOPERAÇÃO, sendo então os comportamentos e as atitudes menos etnocêntricos, mais
centrados na resolução dos problemas do que nas características estereotípicas dos grupos
e na sua diferenciação.

Esta teoria põe então a ênfase no papel das relações de interdependência negativa, “reais”
ou “imaginadas”, entre grupos. No centro da teoria está a proposição de que o preconceito, a
hostilidade e o conflito (bem como as atitudes e comportamentos de cooperação) não têm
origem em características individuais, mas antes decorrem dos interesses objetivos dos
grupos em situação.

A CAVERNA DOS LADRÕES

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79

Para testar a validade da sua hipótese de que as atitudes preconceituosas e os


comportamentos de discriminação intergrupal não têm origem nas características individuais,
mas no tipo de relação que os grupos estabelecem para atingir os seus objetivos, Sherif e
colaboradores (1954) levaram a cabo uma série de experiências de campo num campo de férias
de Verão (Robbers Cave State Park) para rapazes pré-adolescentes, em Oklahoma, durante cerca
de 2 semanas.

Nestas experiências, Sherif formou 2 grupos a partir de 22 participantes do sexo masculino


com idades compreendidas entre os 11 e os 12 anos, e variou a natureza das relações entre eles
– competição, cooperação e interdependência – utilizando atividades do campo de férias e
medindo as atitudes intergrupais (estereótipos do endo e do exogrupo e preferências pelos
membros de ambos os grupos).

Muito sucintamente, verificou no primeiro caso (competição por objetivos só alcançáveis por
um dos grupos), a formação de estereótipos hostis ao exogrupo e comportamentos intergrupais
de discriminação e mesmo agressão; no segundo caso (contacto e cooperação sem
interdependência), pôde observar a manutenção da hostilidade intergrupal; e no terceiro caso,
em que utilizou objetivos supra-ordenados (objetivos importantes convergentes, tornando-os
interdependentes), pode observar a redução de atitudes de descriminação associadas a
estereótipos hostis ao exogrupo.

Abaixo estão descritas de forma mais detalhadas as 3 etapas pelas quais os participantes
passaram, elaboradas através do tipo de atividades utilizadas:

1ª ETAPA
IDENTIFICAÇÃO INTRAGRUPAL
BONDING STAGE

O objetivo deste etapa foi fomentar a cooperação e coesão interna, no sentido de


desenvolverem este sentimento de “nós”. Dar um nome ao grupo ajuda muito neste fim. Para
tal, foram feitas atividades de natureza instrumental (e.g., conceber e executar uma refeição,
construir uma cabana numa árvore, procurar água potável para beber); e de natureza mais lúdica
(e.g., nadar, caminhar). Ambos os grupos adquiriam nomes, rattlers e eagles, e desenvolveram as
suas próprias culturas e normas culturais (até criaram a sua própria bandeira). Nesta fase, os
eagles não sabiam da existência dos rattlers e vice versa.

2ª ETAPA
CONFLITO INTERGRUPAL
COMPETITION STAGE

Será que os sujeitos numa situação de conflito realista, onde que há recursos limitados,
entram numa situação de competição e desenvolvem preconceito negativo, hostilidade
intergrupal e mesmo agressão? Esta segunda etapa visou responder a esta questão, tendo o
objetivo de provocar de tensão intergrupal e a duração de 4 a 6 dias. As atividades que foram
feitas nesta fase tinham implícita a competição por objetivos só alcançáveis por um dos grupos,
isto é, jogos e torneios que implicavam que houvesse uma equipa vencedora e uma equipa

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perdedora, em que a equipa vencedora recebia um troféu, medalha ou canivete e a perdedora


nada (e.g., basebol, jogo da corda, etc.).

Os resultados mostraram existência de TENSÃO GRUPAL. O que começou como agressão


verbal entre os grupos cedo escalou, por exemplo, após um jogo de basebol, os eagles
queimaram as bandeiras dos rattlers e, no dia seguinte, os Rattlers invadiram a cabana dos Eagles
(flipping beds and stealing personal items). A tensão grupal resultou em última instância em
agressão física.

Em relação às medida das atitudes intergrupais através de estereótipos do endo e do


exogrupo, observaram-se nesta fase avaliações predominantemente desfavoráveis do
exogrupo: maior percentagem de estereótipos desfavoráveis do que favoráveis atribuídos
ao exogrupo e; formação de estereótipos hostis ao exogrupo. O mesmo se observou nas
medida de atitudes intergrupais através da escolha de elementos do endogrupo e do exogrupo
para amigos, uma vez reportada a escolha com maior frequência de elementos do endogrupo
para amigos, do que elementos do exogrupo.

A indução de competição resultou no enviesamento intergrupal, isto é, na avaliação negativa


do exogrupo, clara preferência pelos membros do endogrupo, tensão e agressão intergrupal.

3ª ETAPA
COOPERAÇÃO INTERGRUPAL
REDUCING FRICTION PERIOD

O objetivo desta fase foi reduzir do conflito, através de atividades não competitivas, como
tomarem refeições juntos e lençar fogo e artificio, e atividades com objetivos supra-ordenados,
como a desempanagem de uma camioneta de transporte de bens para o campo de férias que se
encontrava enterrada na lama e limpar o fornecimento de água.

Objetivos Supra-ordenados
Acima dos interesses da cada um dos grupos. Objetivos
importantes convergentes, inatingíveis sem a
cooperação entre os grupos, tornando-se estes
interdependentes. Ou seja, objetivos partilhados pelos
grupos, que apenas podem ser alcançados se estes
trabalharem em conjunto. Ou cooperam para atingir o
objetivo, ou não o atingem sozinhos.

Os resultados mostraram a atribuição de características favoráveis ao exogrupo (brave,


tough, friendly) que contrastam com as atribuições predominantemente negativas no final da 2ª
etapa (sneaky, smart alecs, stinkers). Ainda, os ratings do endogrupo e do exogrupo foram
favoráveis e não diferiram significativamente entre si. Já as escolhas de amigos eram ainda
predominantemente referentes a membros do endogrupo, contudo houve um aumento
significativo na escolha de membros do exogrupo na fase final da 3ª etapa comparativamente
á fase final da 2ª etapa.

Assim, podemos concluir que. se o contacto entre os grupos não estiver enquadrado em
atividades regidas por objetivos supra-ordenados, os canais de comunicação entre os dois grupos
tenderão a servir como veículos para a expressão de hostilidade mútua. Pelo contrário, a

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interdependência criada pelos objetivos supra-ordenados permitirá que a comunicação


entre os grupos se centre na resolução desses objetivos comuns, transformando a relação
de conflito numa relação de cooperação. Mero contacto entre os grupos não é suficiente para
a redução de conflito nem para alterar a natureza das relações entre os grupos.

Só após a introdução de objetivos supra-ordenados que promoveram a cooperação é que


as relações entre os dois grupos se tornaram mais harmoniosas. Assim, os objetivos supra-
ordenados promovem redução de conflito e discriminação. Contudo, estes objetivos só são
possíveis por implicarem cooperação, e esta cooperação deve: incidir sobre um objetivo comum
valorizado que elimine a competição por recursos materiais e sociais; proporcionar
oportunidades repetidas para a infirmação dos estereótipos relativos ao exogrupo; produzir
resultados de sucesso; ocorrer entre iguais para a tarefa (para não criar hierarquias) e; ser
suportada e promovida por normas sociais (contexto de promoção da cooperação e não de
incitamento à competição).

REDUÇÃO DO PRECONCEITO
Para além do estabelecimento de objetivos supra-ordenados que promovem a cooperação,
têm aparecido soluções diferentes baseadas na categorização para a redução do conflito
intergrupal que têm recebido atenção empírica substancial. Desta forma, a redução do conflito
passa por: descategorização, recategorização e diferenciação mútua. Estes processos não são
necessariamente independentes, cada um deles pode contribuir para a redução do conflito
intergrupal e também facilitar-se reciprocamente uns aos outros.

DESCATEGORIZAÇÃO RECATEGORIZAÇÃO DIFERENCIAÇÃO MÚTUA


A descategorização A recategorização pode A diferenciação
(interações personalizadas e levar a interações mais intergrupal mútua, em
auto-reveladoras) pode levar interpessoais e auto- circunstâncias especificáveis,
a uma recategorização. reveladoras e, portanto, à pode também levar à
descategorização. recategorização.

A descategorização, recategorização e diferenciação mútua partilham uma assunção comum:


ainda que possa não ser viável apressar o processo de categorização social por completo, pode
ser possível afetar os níveis de inclusão de categorias que as pessoas utilizam quando categorizam
outras pessoas, incluindo elas próprias.

REDUCING INTERGROUP CONFLICT:


FROM SUPERORDINATE GOALS TO DECATEGORIZATION, RECATEGORIZATION, AND MUTUAL
DIFFERENTIATION
ABORDAGEM DE GAERTNER ET AL. (2000)

Este artigo examina como é que a cooperação entre os dois grupos nas experiências de Sherif
e colaboradores contribuiu para a redução do conflito e enviesamento intergrupal, isto é,
produziu harmonia intergrupal.

O MODELO DA DESCATEGORIZAÇÃO

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A perspetiva da descategorização propõe que quando os membros do endogrupo e do


exogrupo são induzidos a conceberem-se como indivíduos separados do seu grupo ou
quando o contacto entre os membros dos grupos se caracteriza por uma interação
diferenciada e personalizada que lhes permite conhecerem-se um ao outro, se poderá dar a
redução do conflito intergrupal e a validade dos estereótipos sobre o exogrupo poderá ser
enfraquecida.

Durante uma interação personalizada, os membros concentram-se na informação sobre um


membro do exogrupo que é relevante para si próprio como indivíduo e não como membro de um
grupo. Desta forma, o processo de descategorização passa pela INDIVIDUAÇÃO. Estas interações
personalizadas repetidas com vários membros do exogrupo diminuem ao longo do tempo o
valor da categorização enquanto fonte de informação acerca dos membros desse grupo. Por
isso, os efeitos da personalização deverão ser generalizáveis a novas situações, bem como a
membros não-familiares do exogrupo.

Não utilização das mesmas Focalização das interações


como quadro mental para o ao nível interpessoal e
Apagamento total das
julgamento dos outros e diminuição da saliência
categorizações grupais
eliminação das fronteiras percetiva dos membros do
entre os grupos endogrupo

Aumento da atratividade
Perceção de maior
em relação aos membros do
semelhança entre membros
ex-exogrupo e diminuição
do ex-endogrupo e do ex-
do enviesamento
exogrupo
endogrupal

A descategorização pode incluir interações amigáveis em que as pessoas se relacionam umas


com as outras em termos dos seus interesses e capacidades pessoais em vez de interesses que
são importantes para os seus respetivos grupos; comparações dos próprios com os outros que
substituem as comparações entre grupos; interações auto-reveladoras e; falta de uniformidade
entre os membros do endogrupo nas suas opiniões sobre a forma como os membros do exogrupo
devem ser tratados.

NA CAVERNA DOS LADRÕES

A introdução de objetivos supra-ordenados levou a sucessivos episódios de cooperação


intergrupal e processos de recategorização que promoveram uma descategorização
evidenciada por interações interpessoais amigáveis entre membros de ambos os grupos

“(…) The first pull did not “start” the truck. ... On the second pull, the members
of both groups were thoroughly intermixed on both ropes. ... Finally the truck
started. (...) Allen (R) shouted: “We won the tug-of-war against the truck!”
Bryan (E) repeated, “Yeah! We won the tug-of-war against the truck.” This cry
was echoed with satisfaction by others from both groups. Immediately
following this success, there was much intermingling of groups, friendly talk,
and backslapping. Four boys went to the pump and pumped water for each
other” (Sherif et al., 1961, p.171)

O MODELO DA IDENTIDADE ENDOGRUPAL COMUM: RECATEGORIZAÇÃO

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83

Gaertner e Dovidio (2000) propuseram uma estratégia para reduzir preconceito e conflito
intergrupal baseada na premissa de reduzir a saliência das distinções entre categorias. Este
processo, em contraste com a descategorização, é delineado, não com o objectivo de reduzir ou
eliminar a categorização, mas sim de estruturar uma definição de categorização grupal a um
nível mais alto de inclusão categorical, isto é, da transformação da representação cognitiva
do contacto intergrupal. Uma abordagem da recategorização envolve criar ou aumentar a
saliência das associações a grupos que são transversais, tornando consciente que os
membros de outro grupo são, também, membros do nosso próprio grupo numa outra
dimensão.

Através da ativação de uma categoria supra-ordenada dos grupos, eliminando, deste modo,
as categorias iniciais, a representação cognitiva de dois grupos transforma-se em um grupo.
Desta forma, quando o endogrupo é comum, a identidade social é também comum, resultando
num tratamento igualitário de todos os membros.

"Nós"

"Nós" "Eles" "Nós"


"Eles"

Perceção da pertença a um
Perceção de pertença a
Recategorização só grupo de natureza
dois grupos
inclusiva (supra-ordenada)

A recategorização pode envolver: o uso de pronomes “nós”, “nosso” cujo significado é


inclusivo dos membros de ambos os grupos; arranjo dos membros no espaço, como um arranjo
que reduz a saliência de limites de grupos separados (e.g., um padrão de assento alternado
[ABABAB] ou aleatório [ABBABA]), que também pode ser característico de descategorização e;
atividades que celebram grupos comuns supra-ordenados aos quais os membros pertencem na
verdade (e.g., cantar).

NA CAVERNA DOS LADRÕES

A introdução do objetivo supra-ordenado de desempanar a camioneta levou a surgimento dos


pronomes “nosso” e “nós”, revelando um processo de recategorização.

“Some Rattlers suggested pushing the truck, but the truck was facing uphill.
Someone suggested, “Let's get "our" tug-of-war rope and have a tug-of-war
against the truck. … Someone said, “20 of us can pull it for sure” (Sherif et al.,
1961, p. 171).

O MODELO DA MÚTUA DIFERENCIAÇÃO INTERGRUPAL

Mª Matilde Silva | ISPA


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Hewstone e Brown (1986) propuseram uma estratégia de interdependência dos grupos, mas
mantendo a saliência da identidade grupal, ou seja, a distintividade intergrupal (contrariamente
ao Modelo dos Conflitos Realistas). Em vez de reduzir a saliência das categorias sociais, como a
descategorização e a recategorização, este processo encoraja os grupos a enfatizar o que os
distingue, mas no contexto de uma interdependência cooperativa. Adicionalmente, ao dividir
tarefas de maneira complementar de forma a capitalizar, ao máximo, as superioridades e
inferioridades relativas de cada grupo, os membros de cada grupo passam a reconhecer e a
valorizar a contribuição indispensável do outro grupo. Na tentativa de obter resultados
favoráveis para ambos os membros, as ações de cada grupo seriam agora realisticamente
consideradas como contribuindo para objetivos mútuos de ambos os grupos. Desta forma,
relações de cooperação “win-win” dão origem a sentimentos e perceções favoráveis face aos
membros de outros grupos, ao mesmo tempo que enfatizam a distintividade positiva de cada
grupo.

Saliência de
competências de
recursos diferentes,
Manutenção da mas complementares,
mútua distintividade sem os quais os
objetivos de ambos os
grupos não poderão
ser atingidos.

A diferenciação mútua pode incluir: a apreciação mais respeitosa das diferenças entre os
grupos; e soluções para problemas coletivos que reconheçam respeitosamente os limites do
grupo.

NA CAVERNA DOS LADRÕES

O objetivo supra-ordenado introduzido relacionado com o visionamento do filme “Treasure


Island” onde era suposto os Rattlers pagarem menos do que os Eagles para alugar um filme ($0.31
e $0.39, respetivamente), porque dois dos Eagles estavam doentes e tiveram de ir para casa.

“The staff explained that renting this appealing film would cost $15.00 and that
the camp could not afford to pay the whole amount. Because 2 boys became
homesick and left camp early, there were 11 Rattlers and only 9 Eagles at this
time. Although more grossly unfair solutions were initially considered, the boys
decided that each group would pay $3.50 and the camp would pay $8.00.” “It
is worth noting that in individual terms this was not equitable. But it was an
equitable solution between the two groups” (Sherif et al., 1961, p. 166)

Esta solução foi considerada justa por ambos os grupos, o que sugere um processo de
diferenciação mútua intergrupal porque os grupos eram cooperativos, e começavam a tratar-se
mutuamente de forma justa e respeitosa ao nível do grupo.

“DURING BREAKFAST AND LUNCH ON THE LAST DAY OF CAMP, THE


SEATING WAS WITHOUT REGARD TO EARLIER GROUP
MEMBERSHIP AS IT WAS ON THE BUS RIDE HOME TO OKLAHOMA
CITY. THE BOYS CROWDED CLOSE TOGETHER TOWARD THE FRONT

Mª Matilde Silva | ISPA


85

OF THE BUS AS A SINGLE GROUP SINGING ‘OKLAHOMA’”


(GAERTNER ET AL., 2000, P. 107)

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IDENTIDADE SOCIAL
D E S A D E Q U A Ç Ã O E R E P O S T A S | O C A S O D A MI N O R I A S O C I A L

AULA TEÓRICA 8

MINORIA SOCIAL

DEFINIÇÃO
S I MP S O N & Y I N G E R , 1 9 6 5

A condição de minoria social foi definida como um segmento subordinado de sociedades


complexas cujos membros possuem traços físicos ou culturais que gozam de pouca estima
pelos segmentos dominantes da sociedade (e.g., Ciganos), têm consciência de que partilham
determinados traços e incapacidades (e.g., obesos, deficientes motores, mulheres), têm a
perceção das consequências sociais negativas/discriminação de que são “alvo” (e.g.,
imigrantes, homossexuais) e cuja pertença a uma minoria pode ser transmitida por
descendência, em sucessivas gerações, mesmo na ausência de quaisquer características
visíveis (e.g., Judeus). Tajfel (1878, 1981) sublinhou nesta definição a questão da “consciência da
pertença” e o modo como essa consciência de pertença se desenvolve, criando a categoria
minoritária:

“A consciência da pertença a uma minoria só se desenvolve quando o facto de


nos incluírem, ou de nos incluímos a nós próprios, numa determinada categoria
social dá lugar à perceção de certas consequências sociais, incluindo um
tratamento discriminatório e atitudes negativas por parte de outros, baseados
em certos critérios comuns (por vagos que sejam) de pertença.”

Os efeitos das relações de poder entre maioria e minoria levaram alguns autores a designar
estes grupos como “minorias vigilantes e maiorias distraídas”, dada a assimetria das suas
atitudes intergrupais: a maioria, dado o seu estatuto superior, presta pouca atenção à relação
com a minoria, e exprime menos frequentemente a sua pertença maioritária.

ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DA PERTENÇA A GRUPOS MINORITÁRIOS

Os efeitos da estigmatização de certas minorias sociais, que variam em função da sua


visibilidade e controlabilidade, têm consequências sobre múltiplas áreas do comportamento
dos seus membros: constituem uma ameaça ao autoconceito (quem sou eu?) e à autoestima
(que valor tenho?), provocam desorientação na ação (o que posso fazer?), reduzido bem-estar
físico e emoções negativas (culpa, tristeza, desespero, impotência, raiva), empobrecimento de
desempenhos associados a estereótipos negativos (desempenho inferior), e mesmo,
paradoxalmente, a preferência pela condição minoritária em comparação com a incerteza e
os perigos associados à luta contra a descriminalização.

Outras consequências têm a ver com desigualdade de oportunidades, que englobam as


condições económicas, habitacionais, educativas, de segurança (vítimas de violência ou
mesmo homicídio) e os cuidados de saúde (e.g., maior mortalidade infantil).

“Ameaça do Estereótipo” (Psicologia Social I )

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Receio de confirmarmos, através do nosso próprio


desempenho, o estereótipo negativo associado ao
nosso grupo. Refere-se às situações onde um indivíduo
que pertencente a um grupo social considerado como
incompetente num determinado domínio (e.g., as
mulheres e a matemática) deve desempenhar
enquanto membro desse grupo, numa situação em que
a sua pertença social está saliente, uma tarefa nesse
domínio. Quando há um bom desempenho, a pessoa é
valorizada e, por intermédio desta, também o grupo é.
Quando o desempenho é fraco, há a confirmação da
inferioridade atribuída ao seu grupo.
O estereótipo será sentido como uma ameaça, e isso
terá consequências cognitivas e mesmo fisiológicas
(ansiedade, stress), que funcionarão como uma
limitação para o indivíduo receoso de confirmar o
estereótipo negativo do seu grupo (Steele, Spencer, e
Aronson, 2002).
Remete para a baixa autoestima, para o reduzido bem-
estar físico e/ou emocional e para o menor
desempenho mencionados acima.

EFEITOS SOBRE A AUTOESTIMA


Os efeitos sobre a autoestima são mais subtis do que os efeitos negativos sobre o
desempenho, mas tendem a revelar-se mais severos.

“Human beings ... whose daily experience tells them that almost nowhere in
society are they respected and granted the ordinary dignity and courtesy
accorded to others, will, as a matter of course, begin to doubt their self worth”

Os efeitos da pertença a um grupo minoritário sobre a autoestima, têm um grande


impacto no bem-estar físico e emocional dos membros dos grupos estigmatizados (e.g., nos
sintomas de depressão). Um estudo procurou perceber a diferença nos níveis de autoestima
pessoal, no sentimento de pertença ao grupo (autoestima coletiva) e nos sintomas de depressão
ente estudantes brancos e estudantes negros. Em relação aos estudantes brancos, verificou que
a baixa autoestima pessoal era o fator chave para um maior risco de depressão. No que toca
aos estudantes negros, era a autoestima coletiva (i.e., sentimentos positivos ou negativos em
relação à pertença no grupo) que estava mais fortemente relacionada com a depressão.

Embora fosse expectável que quem pertence a um grupo estigmatizado e discriminado tivesse
menos autoestima do que aqueles que não pertencem a estes grupos, tal não acontece. Alguns
membros de grupos estigmatizados são capazes de defender e aumentar a sua autoestima,
dando valor a si mesmos, mesmo que a sociedade desvalorize o seu grupo.

ESTRATÉGIAS DE DEFESA DA AUTOESTIMA INDIVIDUAL OU DE AUTOPROTEÇÃO

Belonging to a group that is disliked and discriminated against by others can have a major impact on
the individual. But this experience does not inevitably lead to lowered selfesteem, because people can
attribute negative reactions to others’ prejudice or compare themselves to fellow in-group members.

PROCESSOS DE ATRIBUIÇÃO CAUSAL

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Quando um membro de um grupo desfavorecido é mal tratado, cria-se uma ambiguidade


atribucional: o mau tratamento pode ter-se devido à sua pertença grupal. Ora vejamos:

O membro de um grupo desfavorecido é mal


tratado ou discriminado (e.g., rejeição para um
emprego, promoção, empréstimo bancário).

Como pertence de forma permanente a um grupo


estigmatizado, este sujeito tem a pertença
categorial acessível, podendo usá-la como
explicação para a forma como foi tratado.

Por ter a pertença categorial acessível, cria-se uma


ambiguidade atribucional: O tratamento pode ter-
se devido à sua pertença grupal.

Mais concretamente, este sujeito é livre de


atribuir o comportamento do outro ao
preconceito relativamente ao grupo próprio,
mesmo quando não é essa a causa.

Proteção da autoestima individual por via deste


viés atribucional.

Assim, atribuir outcomes negativos ao preconceito dos outros (em relação ao seu grupo) em
vez de aos seus fracassos pessoais pode proteger a autoestima individual (contra os efeitos
psicológicos negativos do fracasso). Um estudo demostrou isto muito bem, ao dividir sujeitos do
sexo masculino em dois grupos experimentais: um dos grupos tinha de comer um mentol, outro
um dente de alho inteiro. Depois disso, puserem os rapazes a falar individualmente com uma
rapariga atraente que, no final da conversa, lhes deu (a todos) feedback negativo. O rapazes do
grupo a quem lhes tinha sido dado de comer um dente de alho, atribuíram a sua rejeição ao seu
hálito em vez de, por exemplo, às suas capacidades sociais.

Embora benéfico para a autoestima, este processo de atribuir outcomes negativos ao


preconceito em relação ao grupo de uma pessoa tem custos. Em primeiro lugar, impede uma
autoavaliação exata e o incremento pessoal (self-improvement) nas situações em que o feedback
é realista, pelo feedback ser atribuído ao preconceito dos outros. Em segundo lugar, esta
estratégia de defesa pode fazer com que se desenvolvam sentimentos de desespero (falta de
esperança) e de falta de controlo, uma vez que, se membros de grupos estigmatizados esperarem
ser sempre tratados em função do grupo ao qual pertencem, pensam também que nenhum ato
pessoal irá fazer diferença. Em terceiro e último lugar, a atribuição das reações das outras pessoas
ao grupo ao qual se pertence pode destruir a confiança no feedback positivo, no sentido em que,
por exemplo, não saber se determinada apreciação favorável foi devida ao desempenho pessoal
ou a um sentimento de compaixão ou pena.

USO MAIORITÁRIO DAS COMPARAÇÕES INTRAGRUPAIS


As comparações sociais são uma fonte importante para a autoavaliação.

As comparações intragrupais efetuadas por elementos que pertencem a grupos minoritários,


por contraposição às comparações intergrupais, conduzem a uma maior autoestima. Foi

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descoberto num estudo, por exemplo, que crianças negras que se comparavam maioritariamente
com crianças da mesma etnia tinham uma maior autoestima do que aquelas que se comparavam
com crianças.

As comparações intragrupais podem aumentar a autoestima de elementos que pertencem a


grupos minoritários tanto por identificação de um melhor desempenho pessoal (i.e., ao
verificarem que têm um melhor desempenho do que outros membros do seu grupo); como por
identificação de membros do endogrupo com um bom desempenho, mesmo que o desempenho
pessoal não o tenha sido (i.e., ao verificarem que, mesmo que eles próprios não tenham um bom
desempenho, existem membros do seu grupo com um bom desempenho).

RESPOSTA DE MINORIAS A UMA IDENTIDADE SOCIAL NEGATIVA


AS ALTERNATIVAS QUANDO AS ESTRATÉGIAS DE AUTOPROTEÇÃO SÃO INSUFICIENTES

MOBILIDADE SOCIAL
A teoria da identidade social, no âmbito da sua atenção à questão das minorias sociais,
preocupou-se com a resposta das minorias a uma identidade social negativa. Tajfel refere que,
em circunstâncias psicológicas e contextuais favoráveis ao abandono do grupo, a mobilidade
social, ou seja o movimento físico e/ou psicológico de fuga à pertença a um grupo visto
negativamente e de inclusão num grupo de estatuto mais elevado, constitui uma importante
estratégia para a eliminação da identidade social negativa.

MOBILIDADE PSICOLÓGICA
ME D I A N T E A D E S I D E N T I D I C A Ç Ã O

A mobilidade social pode ser puramente psicológica, quando uma pessoa se desidentifica ou
minimiza as conexões pessoais com o grupo. A mobilidade psicológica corresponde então ao
aumento da distância psicológica da pessoa relativamente ao grupo, pelo que constitui um
processo cognitivo.

Uma estratégia de desidentificação é evitar as lembranças associadas à pertença ao grupo


estigmatizado. Por exemplo, os 9% de uma amostra de estudantes aceitaram levar para casa um
crachá ou diploma de participação grupal, numa maratona de matemática em que o endogrupo
exibiu um mau desempenho (mais de 50% do grupo com bom desempenho e do grupo sem
feedback levou o crachá para casa). Outra estratégia é criticar e desvalorizar, publicamente, o
desempenho fraco de um membro do endogrupo (black sheep effect), como forma de sublinhar
que o desempenho do elemento em questão não é representativo do grupo. Por exemplo, num
estudo onde puseram estudantes de direito a avaliar discursos de estudantes ou de direito, ou
de filosofia, os participantes avaliaram melhor os membros do endogrupo quando estes tinham
bom desempenho, mas pior quando tinham mau desempenho, em comparação com o exogrupo.

Por fim, considerar-se uma exceção ao invés de um membro típico do grupo é também uma
estratégia de desidentificação. Poe exemplo, muitas mulheres reconhecem que as mulheres no
geral são discriminadas, mas insistem que a discriminação não as afeta pessoalmente. Estas
crenças são também encontradas em muitos outros grupos.

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MOBILIDADE FÍSICA
ME D I A N T E A D I S S O C I A Ç Ã O

Enquanto a desidentificação toma lugar na mente, a dissociação envolve a saída efetiva de um


grupo em desvantagem, ou encobrimento da pertença ao mesmo. A mobilidade física
corresponde então ao aumento da distância física relativamente ao grupo, pelo que constitui um
processo efetivo. Este forma de mobilidade ocorre, por exemplo, quando há o abandono, por
parte dos imigrantes, da sua herança cultural e linguística, tornando-se membros indiferenciáveis
da nova nacionalidade. Outra estratégia é o encobrimento pessoal por parte, por exemplo, dos
homossexuais (não se assumem), dos seropositivos, dos toxicodependentes, etc. No entanto, a
saída efetiva de um grupo nem sempre é possível, pois implica que a fronteira do exogrupo seja
permeável e que o membro que pretende migrar a percecione como tal.

Embora a dissociação, por um lado, tenha como benefício libertar o individuo de muito dos
custos da pertença grupal, nomeadamente da discriminação; tem, por outro lado, alguns custos.
Primeiro, novos membros de um grupo sofrem frequentemente do isolamento no contexto desse
novo grupo, dado não serem vistos ou pensados da mesma forma que os que nele foram
“nascidos”. Em segundo lugar, podem ter de se confrontar com e participação em “piadas”
discriminatórias acerca do grupo próprio. Ainda, e em terceiro lugar, membros que se afastam do
seu grupo tendem a desperdiçar ou desistir da possibilidade de influenciar os outros relativamente
à forma como pensam acerca do grupo de pertença. Por fim, há uma avaliação mais desfavorável
por parte dos outros, concretamente no caso dos indivíduos que minimizam as suas pertenças
grupais (desidentificação).

A MOBILIDADE SOCIAL NÃO CONSTITUI UMA OPÇÃO VIÁVEL


PARA MUITOS DOS MEMBROS DE GRUPOS MINORITÁRIOS. NESTE
CASO, OS INDIVÍDUOS PODEM RECORRER À MUDANÇA SOCIAL,
EMPREGANDO ESFORÇOS PARA MELHORAR A AVALIAÇÃO DA
SOCIEDADE DO SEU ENDOGRUPO.

Membro de um grupo desapreciado ou de uma minoria social

Defesa da Fraca Forte


autoestima identificação identificação
individual com o grupo com o grupo

Atribuição Comparação Mobilidade Mudança


causal social social social

Desidentificação Dissociação do Criatividade Competição


Recategorização
com o grupo grupo social social

MUDANÇA SOCIAL
Social Change
The strategy of improving the overall societal situation
of a stigmatized group.

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Todas as formas de reinterpretação ou construção de antigas ou novas características do


endogrupo minoritário que visem aumentar a sua distintividade positiva enquanto grupo social e
permitam reduzir a assimetria de poder em relação ao grupo maioritário têm o potencial de
promover uma mudança social. A mudança social é a orientação preferida pelos que se
identificam fortemente com o seu grupo e se veem como membros típicos do mesmo. Em reposta
à sua condição de minoria, jugam que há condições de ilegitimidade e de instabilidade da relação
de dominação de que são alvo, e acreditam que podem mudar a posição do seu grupo na
sociedade, não o abandonando, mas unindo esforços com os outros membros e atuando como
um grupo. Desta forma, a mudança social é definida como uma estratégia de melhoramento da
situação societal de um grupo estigmatizado. Estes indivíduos desejam mudar a forma como a
sociedade vê o seu grupo como um todo (ao invés de modificarem apenas a sua situação pessoal)
e acreditam que conseguirão fazê-lo.

Segundo a Teoria da Identidade Social, o emprego de estratégias de mudança social exige uma
crença sobre a falta de alternativas de mobilidade social decorrente da perceção de
impermeabilidade das fronteiras entre grupos. Desta forma, quando a mobilidade individual não
é socialmente ou psicologicamente possível, Tajfel enuncia quatro possibilidades de “fuga” à
pertença de uma minoria desvalorizada, sendo a primeira designada de competição social, e as
três restantes de criatividade social.

“Tornar-se, através da ação e da reinterpretação das características do grupo,


mais semelhante ao grupo de estatuto superior; reinterpretar as características
inferiores do seu grupo, de modo que não apareçam como inferiores, mas
antes adquiram uma distintividade positivamente valorizada em relação ao
grupo de estatuto superior; criar, através da ação e da difusão de novas
“ideologias”, novas características grupais que tenham uma distintividade
positiva em relação ao grupo de estatuto superior; procurar uma distintividade
positiva mudando o exogrupo com o qual está a ser comparado – evitando
especialmente utilizar o grupo de estatuto superior como quadro de referencia
para a comparação.”

As principais estratégias empregues para a mudança social são então a competição social (a
que mais efeitos e mudança produz para o grupo com um todo), a criatividade social e a
recategorização (i.e., estratégia que consiste na mudança da definição do endogrupo, através de
pertenças categoriais cruzadas e leva a diminuição da discriminação intergrupos, mas, no
entanto, leva à exclusão de alguns membros e à não extinção de pertenças anteriores).

CRIATIVIDADE SOCIAL

Social Creativity
The strategy of introducing and emphasizing new
dimensions of social comparison, on which a negatively
regarded group can see itself as superior.

Se o grupo em desvantagem se percecionar como estável, legítimo e impermeável então a


estratégia mais comum para alterar crenças é a de criatividade social. Esta é uma estratégia
utilizada perante uma identidade negativa associada a uma dimensão e que assenta na

Mª Matilde Silva | ISPA


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introdução e enfatização de dimensões alternativas de comparação nas quais o endogrupo é


superior, assim mantendo a sua superioridade e distintividade.

Existem três tipos de respostas de criatividade social. Por um lado, os membros do grupo
estigmatizado podem reinterpretar ou redefinir as características do seu grupo que foram
anteriormente vistas como inferiores, de modo que não apareçam como inferiores, mas antes
adquiram um valor positivo, isto é, uma distintividade positivamente valorizada em relação ao
grupo de estatuto superior. Para que esta estratégia tenha sucesso, são necessários o acordo no
endogrupo e a aceitação do novo valor da característica pelo exogrupo, o que requer esforço do
grupo desvalorizado. Por outro lado, os membros podem usar novas dimensões para
comparação, em que o grupo de estatuto inferior é melhor do que o grupo de estatuto superior.
Por outras palavras, podem criar, através da ação e da difusão de novas “ideologias”, novas
características grupais que tenham uma distintividade positiva em relação ao grupo de estatuto
superior. Ainda, os membros do grupo desfavorecido podem procurar uma distintividade positiva
mudando o exogrupo com o qual está a ser comparado, evitando utilizar o grupo de estatuto
superior como quadro de referência para a comparação. Se o outro exogrupo tiver um status
ainda pior o endogrupo vai parecer mais favorecido. Os indivíduos podem ainda comparar-se com
elementos piores que eles do endogrupo.

São vários os exemplos para a criatividade social. Ficou celebre dito do grupo negro norte-
americano “Black Power”, nos anos 60 do século XX, ao liderar uma resposta à discriminação de
que o seu grupo era alvo por parte das comunidades Brancas: “Black is beautiful!”, significando
que aceitavam a dimensão de comparação utilizada pelo grupo de estatuto superior, mas que
reivindicavam, nessa comparação, uma orgulhosa paridade com o exogrupo. Um grupo de
meninos franceses num acampamento de verão demostrou este tipo de criatividade social
quando numa competição de construção de cabanas com outra equipa que tinha melhores
materiais de construção, criaram um jardim ao redor da sua cabana medíocre (mais pequena e
menos robusta que a da competição) e pediram aos juízes que os considerassem os vencedores
da construção de jardins. Ao introduzir uma nova dimensão de competição, o grupo manteve
superioridade e distinção. Da mesma forma, os jogadores em último lugar nas ligas de futebol
não se podem distinguir pelas sias habilidades, mas podem considerar-se mais “limpos” e mais
“fair players” que as outras equipas. Algumas mulheres demostram criatividade social ao
aceitarem a definição de feminilidade da sociedade (feminismo cultural) e procurarem uma
identidade de grupo positiva por via das suas características positivas distintas. Por exemplo,
podem enfatizar as dimensões que consideram especificamente femininas, como cuidar e
pacificar. Na mesma linha, surgiu o movimento do orgulho gay, com enfase na celebração das
conquistas de pessoas homossexuais principalmente nos domínios artísticos e culturais.

COMPETIÇÃO SOCIAL

Social Competition
The strategy of directly seeking to change the
conditions that disadvantage the in-group, for example
by building group solidarity and challenging the out-
group.

A competição social torna-se possível quando os membros da minoria ativam crenças de


ilegitimidade e de instabilidade das atuais posições relativas ao grupo, bem como de

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impermeabilidade das fronteiras grupais. Neste quadro, desenham.se alternativas cognitivas à


relação de dominação ou assimetria entre o estatuto dos grupos e abre-se o caminho a ações
coletivas de confronto com grupos de estatuto superior, de modo a reforçar o estatuto, o poder
e os recursos do endogrupo. Assim, a competição social trata de uma estratégia que consiste na
tentativa de criar solidariedade no seio do endogrupo e de combater a dominação por parte do
exogrupo, através de ações diretas para incrementar a posição do endogrupo. Este esforço
coletivo de grupo para melhorar o estatuto do endogrupo envolve normalmente conflito com o
exogrupo. Esta estratégia pode levar ao viés do endogrupo, quando os membros do endogrupo
minoritário se julgam superiores que o exogrupo em todos os sentidos e valores.

A competição social pode assumir diversas formas, como associações, movimentos ou até
mesmo confrontos e críticas diretas. São exemplos o confronto a que assistimos do mundo
islâmico com o mundo cristão, ou a ofensiva concertada de movimentos e associações de
homossexuais em vários países para a obtenção de um estatuo paritário com os heterossexuais.
Ainda, as mulheres que usam estratégias de competição social para com os homens tendem a ser
vistas pelos homens como uma ameaça. Hogg e Abrams (1988) sugerem que as mulheres que
escolhem a competição social (e percecionam a situação do endogrupo como ilegítima)
aparentam ter o seu género mais saliente porque elas envolvem-se mais em “diferenciação
positiva”. A discriminação e a saliência de género são associadas mais a competição social porque
são mais ameaçadoras para a posição do exogrupo do que a mobilidade social ou a criatividade.

O papel das maiorias na promoção da mudança da situação das minorias

Não são só as minorias que encetam estratégias de mudança do seu status quo. A mudança do status
quo das minorias pode ser conseguida através de grupos maioritários, sociedade civil, media, líderes de
opinião e cultura/arte.

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O “EFEITO DA OVELHA NEGRA”


MA R Q U E S , Y Z E R B Y T & L E Y E N S , 1 9 8 8

AULA PRÁTICA 8

O presente estudo propõe uma extensão ao fenômeno do favoritismo do grupo interno, com base na
hipótese de que julgamentos sobre membros do grupo interno podem ser mais positivos ou mais negativos
do que julgamentos sobre membros semelhantes do grupo externo. Este estudo contrasta as previsões
emitidas a partir da hipótese da extremidade da complexidade (Linville, 1982; Linville e Jones, 1980), da
hipótese do favoritismo do grupo (Tajhel, 1982) e do modelo de polarização de atitude de Tesser (1978;
Millar e Tesser, 1986). A nossa principal previsão, com base na Teoria da Identidade Social, é que
julgamentos agradáveis e desagradáveis sobre membros do endogrupo são mais extremos do que
julgamentos sobre membros do exogrupo. Este fenômeno, chamado de Efeito Ovelha Negra, é visto como
devido à relevância que o comportamento dos membros do grupo interno, em comparação com os
membros do grupo externo, tem para a identidade social dos sujeitos. Três experiências vão de acordo com
as nossas previsões. O estudo 1 mostrou que as correlações entre as características eram mais fortes para
o endogrupo do que para o exogrupo. O estudo 2 mostrou que o efeito ovelha negra ocorre apenas quando
as pistas de julgamento são relevantes para a identidade social dos sujeitos, e o estudo 3 mostrou que os
níveis de informação sobre o alvo do julgamento eram ineficazes para gerar extremidades de julgamento.
Os resultados são discutidos à luz de uma explicação alternativa cognitivo-motivacional para uma
interpretação puramente cognitiva da homogeneidade do exogrupo.”

C O MO É Q U E O S S U J E I T O S L I D A M C O M O S ME MB R O S D O E N D O G R U P O Q U E A ME A Ç A M A S U A
IDENTIDADE SOCIAL POSITIVA?

A Teoria da Identidade Social diz-nos que os indivíduos demonstram um favoritismo do


endogrupo nas suas avaliações globais do endogrupo versus do exogrupo. Simultaneamente,
os indivíduos avaliam de modo mais extremo os membros desejáveis e indesejáveis do
endogrupo relativamente aos membros desejáveis e indesejáveis do exogrupo. Por outras
palavras, os membros desejáveis do endogrupo são avaliados de forma mais positiva do que
os membros desejáveis do exogrupo; e os membros indesejáveis do endogrupo são avaliados
de forma mais negativa do que os membros indesejáveis do exogrupo.

Desta forma, o OBJETIVO do estudo de Marques, Yzerbyt e Leyens foi o de analisar as reações
ao desvio no interior do grupo. A sua HIPÓTESE GERAL era de que o “Efeito Ovelha Negra” se
deve à relevância do comportamento dos membros do endogrupo, comparativamente aos
membros do exogrupo, para a identidade social dos sujeitos. Assim, os comportamentos dos
membros do endogrupo são mais importantes para a identidade social dos sujeitos, do que
os comportamentos dos membros do exogrupo.

Participaram no estudo estudantes universitários de nacionalidade belga, que se


voluntariaram para participar num estudo sobre vários aspetos da vida dos estudantes no campus
universitário. Os participantes foram informados de que um inquérito anterior havia
demonstrado que os estudantes do campus universitário viam uma série de comportamentos
exibidos por determinados grupos de pessoas como sendo importantes e frequentes. Foram
depois convidados a avaliar esses comportamentos numa escala com 7 pontos, onde 1 significava
“discordo” e 7 “concordo”, com base em 5 traços: simpático, sociável, acolhedor, alegre,
comunicativo.

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MANIPULAÇÕES EXPERIMENTAIS

Os participantes foram então confrontados com a descrição de membros do endogrupo


(estudantes belgas) ou do exogrupo (estudantes africanos) que ou aderiam ou se desviavam da
norma. A norma ou era genérica ou exclusiva (específica). Estas normas foram selecionadas com
base num pré-teste que estudou a força normativa de vários comportamentos e identificou quais
os mais representativos da categoria geral de estudantes e quais os exclusivos dos estudantes
belgas daquela universidade. A norma genérica aplicava-se a uma categoria geral que incluía
membros do endogrupo e do exogrupo (categoria supraordenada dos “estudantes”), por
exemplo, “Facultar os apontamentos das aulas aos colegas.”. A norma exclusiva aplicava-se,
exclusivamente, a membros do endogrupo, sendo exemplo o “colocar o estudo acima do
divertimento.”. Foi solicitado aos sujeitos que julgassem estudantes, africanos ou belgas, que
aderiam ou não à norma genérica ou exclusiva, formando um design fatorial 2x2. Assim, as
CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS eram:

NORMA GENÉRICA NOMA EXCLUSIVA

Foi solicitado aos sujeitos que Foi solicitado aos sujeitos que
FAVORÁVEL julgassem estudantes julgassem estudantes
(belgas/africanos) que facultavam (belgas/africanos) que colocavam
ADERIAM À
N O R MA sempre os apontamentos das aulas o estudo acima do divertimento.
aos seus colegas.
Foi solicitado aos sujeitos que Foi solicitado aos sujeitos que
DESFAVORÁVEL julgassem estudantes julgassem estudantes
DESVIARAM DA
(belgas/africanos) que nunca (belgas/africanos) que colocavam
N O R MA facultavam os apontamentos das o divertimento acima do estudo.
aulas aos seus colegas.

RESULTADOS

Na condição de norma genérica não se verificaram diferenças significativas entre a


avaliação dos alvos desejáveis e indesejáveis do endogrupo ou do exogrupo. Já na condição
de norma exclusiva, os sujeitos avaliaram os elementos desejáveis do endogrupo de forma
mais favorável do que os elementos desejáveis do exogrupo e derrogaram os elementos
indesejáveis do endogrupo, isto é, avaliaram de forma muito mais negativa os elementos
indesejáveis do endogrupo do que os elementos indesejáveis do exogrupo, corroborando com o
EXTREMISMO AVALIATIVO inerente à definição do efeito da ovelha negra.

Estes últimos resultados sustentaram a hipótese específica dos autores, de que o “Efeito
Ovelha Negra” ocorrerá apenas para a norma exclusiva do endogrupo dado que somente esta se
revelará relevante para a identidade social dos sujeitos no contexto em questão.

CONCLUSÕES

Conclui-se então que membros indesejáveis do endogrupo são avaliados mais negativamente
do que membros indesejáveis do exogrupo quando os seus comportamentos são relevantes para
a identidade social do grupo. Estes resultados realçam a flexibilidade das pessoas relativamente
aos aspetos da identidade social que são usados num julgamento.

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No que toca às normas gerais, os participantes percecionaram o comportamento dos


membros desejáveis como conformismo e dos membros indesejáveis como não-conformismo
(“estudante”). Já em relação às normas exclusivas, o comportamento exclusivo é mais importante
para a identidade social positiva do grupo e é por isso que é este o comportamento que provoca
o efeito de ovelha negra.

MEMBERSHIP STATUS AND SUBJECTIVE GROUP DYNAMICS


WHO TRIGGERS THE BLACK SHEEP EFFECT?
P I N T O , MA R Q U E S , L E V I N E , & A B R A MS , 2 0 1 0

Em três experiências, os participantes avaliaram dois estudantes do endogrupo (mesmo curso)


ou do exogrupo (outro curso) que ocupavam um de três estatutos: novos membros (“muito
motivado para se manter no curso” ou “atendendo o curso há apenas 6 meses”), membros
efetivo (“muito integrado no curso”), ou membros marginais (“atende o curso há 4 anos”). Dentro
de cada grupo havia um estudante alvo normativo (“Acho que os estudantes universitários devem
se unir e negociar a melhor forma de lutar por um sistema educacional melhor”) e um estudante
alvo desviante (“Acho que os estudantes universitários não têm maturidade suficiente para saber
o que é melhor para eles”).

Antes de avaliarem os estudantes alvo, os participantes indicaram o seu grau de identificação


com o endogrupo: a) “sou um estudante típico do meu curso”; b) “sou parecido aos estudantes
do meu curso”; c) “identifico-me com os estudantes do meu curso”(escala de 1 – discordo
plenamente, a 7 – concordo plenamente). Depois de receberem informação sobre os dois
estudantes alvo, foi pedido aos participantes que o avaliassem com base em sete traços bipolares
(polo negativo: egoísta, mau exemplo, imoral, desrespeitoso, mau colega, desinteressante e
desleal; polo positivo: altruísta, bom exemplo, moral, respeitoso, bom colega, interessante e leal).
No final, foi pedido ainda que os participantes indicassem: a) “de que curso era o estudante
A/B?”; b) “há quanto tempo está o estudante A/B no curso?”; c) “como é que o estudante A/B
se sente acerta da sua integração no curso?” e d) “com qual opinião concordou mais: estudante
A ou B?”.

Os resultados mostraram que os participantes sobrevalorizaram os membros efetivos


desejáveis do endogrupo e derrogaram os membros efetivos indesejáveis do endogrupo
comparativamente a todos os outros membros. Mais concretamente, os participantes avaliaram
o membro efetivo normativo do endogrupo mais favoravelmente do que o membro efetivo
normativo do exogrupo e avaliaram o membro efetivo desviante do endogrupo mais
desfavoravelmente do que o membro efetivo desviante do exogrupo. As avaliações dos membros
marginais e novos membros, normativos e desviantes do endogrupo não diferiram
significativamente das avaliações dos membros marginais normativos e desviantes do exogrupo.

Mais concretamente, os participantes defenderam mais fortemente uma reação socializante


para novos membros desviantes do endogrupo do que para outros membros desviantes e uma
reação punitiva para membros efetivos desviantes do endogrupo do que para outros membros
desviantes. A derrogação de membros indesejáveis do endogrupo estava então associada a uma
intenção socializante, por exemplo, em resposta à questão “como acha que o grupo deve lidar
com este membro?”, respondiam “ao discutir o assunto com o membro desviante”, no caso de

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novos membros. Já no caso dos membros efetivos, estava associada uma intenção punitiva (e.g.,
“como acha que o grupo deve lidar com este membro?” “dando tarefas de baixo prestígio a este
membro desviante”). Quanto mais negativamente os participantes avaliaram o membros efetivos
desviante do endogrupo, mais defenderam uma reação punitiva em relação a este alvo.

Conclui-se então que não basta pertencer ao grupo e ir contra um comportamento relevante
para a identidade social do grupo para se dar o efeito de ovelha negra, mas é também necessário
ser-se um membro efetivo desse mesmo grupo. Desta forma, os resultados parecem ser
consistentes com o pressuposto dos autores de que os membros efetivos do grupo, mais do
que os novos membros ou membros marginais, são particularmente relevantes para definir
a imagem do grupo.

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NOVAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO


O CASO DO RACISMO
AULA TEÓRICA 9

Estereótipos, preconceitos e discriminação são conceitos distintos mas intimamente ligados.

Etnocentris Heterossexis
Xenofobia Racismo Chauvinismo Sexismo Homofibia
mo mo

Discirminaçã
Discirminaçã Discirminaçã Discirminaçã E muitos
Transfobria o por classe
o etária o religiosa o política outros ismos
social

EUROBARÓMTERO 2019
E S T A R Ã O , O S E U R O P E U S , MA I S T O L E R A N T E S À D I F E R E N Ç A ?

Parece que mais tolerantes, no sentido em que as atitudes são menos desfavoráveis face a
membros do exogrupo. Apesar disso, o número de crimes de odio aumentou. Acontece que o
eurobarómetro usa medidas para racismo flagrante e não de racismo subtil, sendo que nos dias
de este é o tipo de racismo mais presente.

RACISMO
P A P E L D O S V A L O R E S N A O R G A N I Z A Ç Ã O D A S A T I T U D E S E C O MP O R T A ME N T O S R A C I S T A S :

Durante muito tempo e em muitos contextos o racismo foi normativo em muitos ambientes
sociais: as normas sociais eram de rejeição dos nervos, o racismo constituía uma modalidade de
relação que não era objeto de censura publica e as manifestações de racismo eram flagrante.
Mas algo mudou entretanto deu-se a alteração das normas e valores relativos à expressão
aberta do racismo, passando a ser objeto de censura social e legal. Vários movimentos históricos
contribuíram para que tal acontecesse: os movimentos pelos direitos civis nos EUA; os
movimentos de libertação das antigas colónias europeias; as consequências do nazismo; etc.

No caso concreto da psicologia, deu-se o caso dos psicólogos negros: a formação da


Association of Black Psychologists, no final dos anos 60, enquanto grupo independente para
promover os seus interesses e para servir como um alerta visível junto da psicologia organizada
quanto à sua responsabilidade e membros constituintes. Este movimento não só pressiono a
American Psychological Association no sentido da promoção de práticas mais inclusivas, como
também foram seguidos por outros grupos que reclamaram ter voz no debate (e.g., mulheres,
membros de outras minorias raciais e étnicas (psicólogos americanos hispânicos e asiáticos), gays,
lésbicas e inválidos, etc.).

Hoje, na generalidade dos países que subscreveram a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, o racismo é objeto de censura social e legal.

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CONSEQUÊNCIAS DA ALTERAÇÃO DOS VALORES EM RELAÇÃO À EXPRESSÃO ABERTA DO


RACISMO

CONFLITO INTERNO

NOVAS FORMAS DE RACISMO


ALLPORT

Allport exprimiu a perplexidade acerca das dificuldades que a manifestação do preconceito,


nomeadamente contra alvos minoritários sem poder, deveria causar aos indivíduos da
maioria. A dificuldade adviria da colisão entre a expressão do preconceito e os valores
judaico-cristãos de justiça, de equidade e de humanidade dominantes na sociedade norte-
americana. Essa colisão traduzir-se-ia num CONFLITO INTERNO, acompanhado de desconforto
emocional (sentimentos de vergonha, de culpa, ou mesmo de arrependimento) e por um
desacerto entre as atitudes (racistas) e os comportamentos (que não expressam apertamento o
racismo), ou seja, entre o que as pessoas dizem e o que fazem (dissonância cognitiva). Esta
dissonância leva às manifestação de comportamentos discriminatórios consonantes com as
estruturas cognitivas, mas desta vez não flagrantes.

“Há uma voz racional em mim que me diz que o Negro é tão bom, tão decente,
tão sincero e tão humano como o Branco, mas não consigo deixar de notar
uma divisão entre a minha razão e o meu preconceito” (Allport, 1979/1954, p.
327).

O reconhecimento deste fenómeno trouxe, trinta anos passados, para o centro da


investigação, a descrição e o apuramento dos processos envolvidos nas estratégias para lidar com
o conflito interno descrito por Allport, e a identificação da emergência de novas formas mais
sofisticadas de manutenção e expressão do preconceito racial contra minorias étnicas.

“Uma vez derrotado intelectualmente, o preconceito permanece


emocionalmente.”

Racismo Flagrante Racismo Subtil


•Direto •Indireto
•Aberto •Distante
•Quente •Frio

Podem ser vistas enquanto diferentes formas que o preconceito assume para lidar com o
conflito interno (nota: a ambivalência é um elemento ubíquo a todas elas):

· RACISMO SIMBÓLICO (Sinders & Knder, 1971; Kinder & Sears, 1981; EUA); e RACISMO
MODERNO (McConahay, 1986; Austrália e EUA)
· RACISMO AVERSIVO (Gaertner & Dovidio, 1986; Dovidio & Gaertner, 1998; EUA)
· RACISMO AMBIVALENTE (Katz & Hass, 1986; EUA)

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RACISMO MODERNO
O racismo moderno é uma forma de racismo subtil que surge nos Estados Unidos após o
movimento dos Direitos Civis entre os anos 50 e 60. Este movimento tornou inaceitáveis as
crenças relativas às expressões mais abertas e flagrantes de racismo, caracterizada pela ideia de
que os negros eram parte de uma raça inferior e que a discriminação e segregação era
considerada uma política aceitável. O racismo moderno veio então substituir esta forma mais
flagrante de preconceito (note-se que esta forma de preconceito ainda existe, mas foi
maioritariamente substituída pelo racismo moderno). Assim, o que ocorre não é uma extinção do
racismo, mas sim uma substituição para uma forma mais “subtil” de comportamentos de
preconceito, caracterizado pela crença de que o racismo não é um problema que continua a
ocorrer, mas que demonstra um afeto negativo em relação a negros (Sears, 1988).

O “racismo moderno” sumaria os princípios acerca da raça: “o movimento dos direitos civis
permitiu que a discriminação fosse algo do passado e, por isso, os afro-americanos devem fazer
esforços para ultrapassar a sua situação na sociedade sem qualquer tipo de ajuda especial, isto
é, devem fazer esforços para ter as mesmas oportunidades que os outros. Assim, as suas
exigências não são democráticas nem justas, e recebem mais atenção de instituições e da
sociedade do que aquilo que merecem”.

Esta forma de racismo foi originalmente definida, não como o resultado de um conflito interno
(entre valores e sentimentos), ou como um conflito entre pressões internas e externas
(sentimentos e normas sociais), mas como a expressão de um sistema de crenças, mais
abstrata e apoiada em princípios do que enraizada na experiência (daí a sua designação
também como racismo simbólico), apoiado na tradição da ética protestante dos EUA. Segundo
McConahay (1986), este sistema de crenças, que emergiu após o movimento das Liberdades Civis
permitiu, por um lado, censurar as minorias, neste caso os Negros norte-americanos, por
atitudes e comportamentos que violavam os valores moralistas do trabalho, do esforço e da
meritocracia individualista da ética protestante, e, por outro, reduzir os sentimentos de culpa
de muitos norte-americanos Brancos em relação ao racismo vigente. Esse sistema de crenças
integraria as seguintes ideias:

a) A discriminação é uma coisa do passado, porque agora os Negros têm a liberdade de competir
no mercado de trabalho e de gozar coisas que aí podem obter;
b) Os Negros estão a pressionar de modo muito forte, muito rápido e para alcançar lugares onde
não são desejados;
c) Essas tácitas e exigências não são corretas;
d) Por isso, os ganhos recentes que obtiveram não são merecidos, e há prestigiadas instituições
sociais de beneficência que estão a dar aos Negros mais atenção e estatuto do que eles
merecem.

“O racismo é mau, mas estas ideias não são racistas, porque são factos
empíricos”

A consequência mais importante deste sistema de crenças é, como estamos a ver, que as
pessoas que o perfilham não se consideram racistas, mas sim pessoas que se indignam contra as
injustiças e as imoralidades das atitudes dos Negros ou de outras minorias estigmatizadas na

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101

sociedade. Uma característica do racismo moderno é que é aprendido durante a socialização e


não através da competição direta com os negros. As pessoas adquirem atitudes racistas
modernas no contexto familiar, dos seus pares e através dos media, normalmente no início da
adolescência, antes até do que atitudes políticas, e tendem a manter-se estável ao longo da
vida (enquanto traço).

Nota:
Só chamamos racismo moderno ao que aconteceu no
contexto americano face aos negros. Esta forma de
racismo baseia-se em sentimentos e crenças de que os
negros violam os valores tradicionais americanos do
individualismo ou da ética protestante (obediência,
ética do trabalho, disciplina e sucesso).

ESCALA DE RACISMO MODERNO


Para medir as novas atitudes raciais do grupo dominante, McConahay desenvolveu um novo
formato da ESCALA DE RACISMO MODERNO (1982, 1984), com o objetivo de superar as
dificuldades que a anterior escala colocava: a desejabilidade social das questões, a baixa
correlação com outras medidas relevantes de comportamento racial, como as intenções de
voto, e a elevada taxa de recusa de resposta, com consequências negativas para a validade e a
fidelidade do instrumento. A escala integra os itens do racismo tradicional e do racismo
moderno. A maior parte da investigação desenvolvida na sequência da criação da nova escala
teve como objetivo testar o seu grau de reatividade e a sua validade de constructo, o que foi
razoavelmente conseguido. A Escala de Racismo Moderno tem sido predominantemente
utilizada na investigação como variável dependente, o que não admira, já que foi concebida para
medir o racismo.

Apesar da sua vasta utilização, a ERM apresentou alguns problemas. Por um lado, foi
construída com base em dados recolhidos nos anos 70 e alguns dos itens originais da escala
tornaram-se inadequados (e.g., referentes à desagregação escolar com base na raça). Por outro
lado, a maior parte dos itens foram construídos numa forma através da qual a concordância
reflete maiores níveis de racismo moderno, estando assim a escala vulnerável a enviesamentos
de aquiescência. Ainda, a possibilidade de a escala não medir uma forma de racismo moderno
mas sim a sensibilidade das pessoas em dar respostas politicamente corretas e as suas
motivações para parecerem não ter preconceitos. Tais limitações levaram ao desenvolvimento
da Symbolic Racism 2000 Scale (Henry & Sears, 2002):

1. It’s really a matter of some people not trying hard enough; if blacks would only try harder, they could be just
as well off as whites.
2. Irish, Italian, Jewish and many other minorities overcame prejudice and worked their way up. Blacks should do
the same.
3. Some say that black leaders have been trying to push too fast. Others feel that they haven’t pushed fast enough.
What do you think?
4. How much of the racial tension that exists in the United States today do you think blacks are responsible for
creating?
5. How much discrimination against blacks do you feel there is in the United States today, limiting their chances
to get ahead?
6. Generations of slavery and discrimination have created conditions that make it difficult for blacks to work their
way out of the lower class.
7. Over the past few years, blacks have gotten less than they deserve.
8. Over the past few years, blacks have gotten more economically than they deserve.

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RACISMO AVERSIVO
GAERTNER & DOVIDIO (1986, 1998)

“Utilizamos o termo racismo aversivo para descrever o tipo de atitude racial


que julgamos ser característico de muitos norte-americanos brancos que
possuem fortes valores igualitários. (...) Eles simpatizam com as vítimas,
apoiam as políticas públicas que, em princípio, promovem a igualdade racial
(...), vêem-se como pessoas não preconceituosas e não discriminatórias; mas,
quase inevitavelmente, possuem sentimentos e crenças negativas acerca dos
negros (...), sentimentos esses que são excluídos da consciência.”

Caracteriza-se pelo facto de os sujeitos que o partilham possuírem fortes valores igualitários,
sendo que simpatizam com a vítimas e apoiam as políticas sociais a favor dos negros, políticas
publicas que, em princípio, promovem a igualdade racial. Ainda, consideram-se pessoas não
preconceituosas, não discriminatórias. Contudo, possuem sentimentos e crenças negativas
sobre os negros que procuram negar e excluir da consciência. É, então, um sentimento
negativo em relação aos negros não toma as formas de hostilidade ou de ódio, características do
formato tradicional de racismo. Envolve, sobretudo, emoções de nojo, de desconforto e, por
vezes, de medo, que provocam mais o AFASTAMENTO ou EVITAMENTO de contacto do que
comportamentos hostis diretos.

Como vemos, esta definição de preconceito representa um tipo específico de ambivalência,


por causa do conflito entre crenças sustentadas por valores genuínos de igualdade e de
justiça e emoções e sentimentos em relação a grupos sociais incompatíveis com esses
valores.

RACISMO AMBIVALENTE
KATZ & HASS (1986)

Esta perspetiva do racismo ambivalente propõe que as atitudes anti negro e pró-negro nos
EUA derivam da ambivalência resultante dos dois valores básicos americanos: o INDIVIDUALISMO
e o IGUALITARISMO. Estas duas orientações podem produzir um conflito, gerando uma
ambivalência de sentimentos e atitudes dentro dos indivíduos ou, dito de outra forma, a tensão
entre estes dois valores gera ambivalência. Esta ambivalência, por sua vez, gera emoções
negativas a nível da representação do eu, levando a uma tensão emocional e, de modo a
reduzir esta tensão emocional, os indivíduos tendem a amplificar as suas atitudes raciais. A
direção da amplificação das atitudes raciais é orientada por fatores contextuais, consoante a
saliência dos valores do Individualismo e Igualitarismo.

Por exemplo, um dia, num programa infantil na TV, houve uma situação na qual uma
apresentadora branca colocava no colo crianças do auditório, mais concretamente, pegava em
cada criança, fazia um ligeiro mimo, e entregava-a a uma das suas assistentes. Ela fez isto com
seis ou sete crianças brancas uma atrás da outra, mas, quando a criança seguinte foi uma menina
negra, a apresentadora mudou todo o seu esquema gestual: além do pequeno miminho, beijou
repetidamente a criança, antes de a entregar à sua assistente. Este comportamento é típico de
uma nova forma de racismo ou, melhor dizendo, de um elemento omnipresente em todas as
“novas formas” de racismo: a AMBIVALÊNCIA.

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“NOVOS RACISMOS”: IMPLICAÇÕES EM TERMOS DE MENSURAÇÃO

A P R O B L E MÁ T I C A D A S P R E O C U P A Ç Õ E S A S S O C I A D A S À D E S E J A B I L I D A D E S O C I A L

As formas tradicionais de mensuração do racismo (e.g. escalas de atitudes) passaram a


evidenciar que as atitudes contra os negros estavam a mudar drasticamente em vários países, o
que não era verdade tendo em conta outras medidas de comportamento racial como a intenção
de voto e a elevada taxa de recusa de resposta. Isto ocorria porque os investigadores não
conseguiam ultrapassar a problemática da desejabilidade social das questões: havia
necessidade de novas formas de medida.

ESSENCIALIZAÇÃO E INFRA-HUMANIZAÇÃO
LEYENS (2000)

A afirmação de que as pessoas categorizam o ambiente social em endogrupos e exogrupos e


de que os membros dos grupos exibem etnocentrismo ou enviesamento endogrupal, i.e., têm
uma tendência para favorecer o seu próprio grupo tornou-se uma obviedade.

ETNOCENTRISMO ENVIESAMENTO ENDOGRUPAL


Visão do mundo em que o seu grupo é o Fenómeno laboratorial análogo ao
centro de tudo, e todos os outros grupos são etnocentrismo do mundo real.
ordenados e avaliados por referência ao seu.
Leva um povo a exagerar e intensificar tudo o
que é peculiar nos seus modos de viver e que
o diferencia dos outros povos.

Tanto o enviesamento endogrupal como o etnocentrismo têm um suporte empírico vasto e


consistente: já vimos que as pessoas preferem o seu grupo a um exogrupo (e.g., Perdue, Dovidio,
Gurtman, & Tyler, 1990), que interpretam com mais condescendência um comportamento
ambíguo desempenhado por um membro do endogrupo do que por um membro do exogrupo
(por exemplo, Duncan, 1976) e que atribuem atributos mais positivos a membros do endogrupo.

Então, o que Leyens e companheiros (2000) vêm propor de novo? Que o etnocentrismo pode
conduzir as pessoas a percecionar o grupo próprio (endogrupo) como mais humano do que
os exogrupos, e baseiam a sua hipótese geral no essencialismo psicológico. A abordagem de
Leyens constitui então uma abordagem emocional ao preconceito e racismo, tanto que Iniciam
o artigo citando Buffon (1833-1834), argumentando que a maioria das pessoas é, às vezes,
tentada a pensar como Buffon e a tratar outros grupos como “INFRA-HUMANOS”:

“(…) there would be two very distinctive species: the Negro would be to the man
what the donkey is to horse; or rather, if the white was the man, the Negro
would no longer be a man, it would be a special animal like the ape.”

O objetivo da sua investigação foi então investigar a ideia de que as emoções secundárias
são tipicamente características humanas, e como tal, devem ser especialmente associadas
e atribuídas ao endogrupo. Por outras palavras, verificar se existem diferenças na atribuição de
emoções primárias e sentimentos aos grupos sociais.

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ESSENCIALISMO PSICOLÓGICO

A distância psicológica entre o “meu” grupo e “outros” podem ser reificados pelo
essencialismo subjetivo. As pessoas tendem a atribuir diferentes essências (e.g., genéticas,
culturais, linguísticas) às categoriais sociais, e estas essências servem tanto para diferenciar
radicalmente entre grupos como para unir membros de um determinado grupo numa
entidade. Se as pessoas favorecem o seu endogrupo, pensam que o seu grupo é superior a outros
exogrupos, estão especialmente preocupadas com o seu próprio grupo e atribuem diferentes
essências a diferentes grupos, então a essência do endogrupo deve ser superior à essência
dos exogrupos. Logo, as pessoas devem acreditar que “a” essência humana pertence ao seu
grupo e que uma essência infra-humana caracteriza (alguns) dos exogrupos.

Os elementos considerados distintivos da essência ou natureza humana são a inteligência, o


raciocínio, a linguagem, os valores, a cultura e a capacidade de experienciar sentimentos (i.e.,
emoções secundárias). Os autores acreditam que colocar os outros noutra categoria ou
discriminá-los resulta em negar-lhes uma ou várias das características tipicamente humanas.
Negar algum destes elementos distintivos da essência humana aos exogrupos ou aos grupos
minoritários constitui uma forma de infra-humanização.

Quando a ESSENCIALIZAÇÃO é aplicada aos exogrupos ou aos grupos minoritários, i.e., atribui-
se a estes grupos uma essência diferente à atribuída ao endogrupo, nega-se, em maior ou menor
grau, determinadas características que compõem a “essência humana” ao exogrupo,
procedendo-se, assim, a uma infra-humanização.

EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS DA INFRA-HUMANIZAÇÃO DO OUTRO

Uma análise da trajetória empírica da infra-humanização na Psicologia Social pode seguir três
eixos: a infra-humanização no plano dos VALORES; a infra-humanização no plano dos TRAÇOS
CULTURAIS E NATURAIS e; a infra-humanização no plano das EMOÇÕES. De uma maneira mais
específica, os principais indicadores de infra-humanização utilizados nos estudos são:

a) a negação da capacidade do exogrupo de adotar valores tipicamente humanos e a


diferenciação intergrupal ao nível dos valores;
b) a desculturalização dos grupos racializados, através de uma atribuição diferenciada de
características naturais e culturais;
c) a subatribuição de sentimentos (emoções secundárias) ao exogrupo.

INFRA-HUMANIZAÇÃO NO PLANO DAS EMOÇÕES


Infra-humanização pode ser medida através da atribuição de emoções. Leyens et al. (2000)
afirmam que a atribuição diferenciada de emoções primárias e emoções secundárias
(sentimentos) a membros do endogrupo e do exogrupo pode ser um indicador de infra-
humanização ou de racismo.

EMOÇÕES PRIMÁRIAS EMOÇÕES SECUNDÁRIAS


São definidas pelos autores como São características unicamente
características que são compartilhadas por humanas, isto é, que compõem a essência
seres humanos e também por animais humana, e têm longa duração, são menos
(comuns aos animais e às pessoas), uma vez intensas, envolvem reflexões morais,

Mª Matilde Silva | ISPA


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que são fisiologicamente determinadas, são cognições e sensibilidade, são menos


rápidas ou pouco duradouras na sua visíveis, aparecem mais tarde na vida e são
expressão, refletem-se externamente e, mais internamente causadas do que as
normalmente, podem ser expressas desde emoções primárias. São exemplos, o amor, o
muito cedo na vida. São exemplos, a alegria, odio, a culpa, a vergonha, o contentamento, a
a tristeza, a raiva, o medo, o nojo, a surpresa resignação, a esperança, o arrependimento, a
e o prazer. admiração, o orgulho, a vaidade, a nostalgia,
os remorsos e o rancor.

Assim, o indicador de infra-humanização usado nos estudos sobre a infra-humanização no


plano das emoções é a subatribuição de sentimentos aos exogrupos e às minorias (i.e., há
infra-humanização ou racismo quando são atribuídas menos emoções secundárias ou
sentimentos aos membros do exogrupo do que aos membros do endogrupo).

Os resultados do artigo de Leyens et al. (2000) resumem uma série de experiências que
mostram que as pessoas: associam mais facilmente o endogrupo às emoções secundárias e um
exogrupo às emoções primárias do que o inverso; são mais suscetíveis de atribuir
espontaneamente emoções secundárias ao endogrupo do que a um exogrupo; e parecem negar
à categoria "outros" a possibilidade de ter emoções secundárias. Assim, percebe-se que as
emoções secundárias podem mesmo ser negadas aos exigrupos e que estas associações e
atribuições diferenciais de emoções especificamente humanas a endogrupos versus exogrupos
devem afetar as relações intergrupais.

INFRA-HUMANIZAÇÃO NO PLANO DOS TRAÇOS


Infra-humanização pode ser medida através da atribuição diferenciada de traços. As
representações sociais construídas sobre os grupos racializados podem estruturar-se em dois
eixos: o eixo dos traços de natureza e o eixo dos traços de cultura:

TRAÇOS “NATURAIS” TRAÇOS “CULTURAIS”


São definidos como características que São aqueles que são típicos dos seres
são usadas de maneira indiferenciada nas humanos. Por exemplo, criativo, solidário,
descrições de seres humanos e nas vingativo e mentiroso.
descrições de animais. Por exemplo,
intuitivo, espontâneo, impulsivo e agressivo.

Assim, o indicador de infra-humanização usado nos estudos sobre a infra-humanização no


plano dos traços é a desculturalização dos grupos racializados, através de uma atribuição
diferenciada de características naturais e culturais (., há infra-humanização ou racismo quando
há uma maior atribuição de traços naturais do que de traços culturais ao exogrupo).

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NOVAS FORMAS DE RACISMO


AULA PRÁTICA 9

DO RACISMO FLAGRANTE AO RACISMO SUBTIL


P E T T I G R E W & ME E R T E N S ( 1 9 9 5 )

Pettigrew e Meertens (1995) sugeriram a distinção entre duas formas de preconceito que
designaram por racismo flagrante e racismo subtil. Estamos na presença de RACISMO FLAGRANTE
quando os indivíduos são abertamente hostis e expressam crenças de que as minorias
étnicas são inferiores. Já o RACISMO SUBTIL integra os valores do individualismo tradicional
norte-americano e as crenças de que as minorias sociais têm mais do que merecem e fazem
exigências desapropriadas, como acontece com o Racismo Moderno. Mas acrescenta a este
conteúdo três novos fatores, utilizados como justificação da discriminação das minorias: a adesão
a valores tradicionais, a perceção extremada de diferenças culturais entre o endogrupo e o
exogrupo, e a recusa de expressão de emoções positivas em relação a membros do
exogrupo. A acentuação de diferenças culturais desloca a diferença intergrupal das tradicionais
características estereotípicas dos membros dos grupos para uma área mais impessoal, a das
"culturas", consensualmente hierarquizadas em termos de, por exemplo, valores políticos,
religiosos ou educacionais. Por seu lado, a recusa de expressão de emoções positivas em relação
a membros do exogrupo traduz o “conflito interno” enunciado por Allport entre as crenças
positivas e as emoções de evitamento de contacto com os grupos estigmatizados.

Desta forma, os indivíduos negam ter qualquer preconceito em relação às minorias, mas não
têm empatia pela sua situação e culpam as iniquidades sociais com base em características
inadequadas da sua cultura e costumes. Percecionam os membros do exogrupo como
estando a agir de maneira incorreta ou mesmo condenável na procura da realização social,
creem que os membros do exogrupo não se esforçam o suficiente ou não possuem os
valores adequados (e.g., “algumas pessoas não se esforçam o suficiente, se se esforçassem mais
eles poderiam ser tão bem sucedidos quanto os nacionais”) e exageram as diferenças culturais,
percecionando o exogrupo como sendo culturalmente muito diferente do endogrupo (e.g.,
“possuem valores e comportamentos sexuais muito diferentes dos cidadãos nacionais”).

Segundo Pettigrew, o estudo do racismo subtil é cada vez mais importante na sociedade atual
devido à redução do número pessoas que se encaixam no perfil de um racismo flagrante. Não
obstante, a investigação tem demonstrado que é mais difícil medir e identificar racismo subtil
porque opera a um nível automático, não consciente e não intencional (Devine,1989), uma
vez que o racismo subtil normalmente envolve omissão, ausência de ação, ou a não ter
comportamentos de ajuda em vez de um desejo consciente de magoar ou agredir. Por exemplo,
uma meta-análise de Saucier, Miller, and Doucet (2005) demonstrou que, embora os brancos
expressem uma ausência de racismo em relação a negros, é mais provável que racionalizem a sua
decisão de não ajudar os negros (e.g., se ajudar envolve mais tempo, risco ou esforço) em
comparação com comportamentos de ajuda a brancos.

Mª Matilde Silva | ISPA


107

ESCALA DE PRECONCEITO FLAGRANTE E SUBTIL


P E T T I G R E W & ME E R T E N S ( 1 9 9 5 )

O traço comum a todos os itens da escala de racismo subtil é o "encobrimento", ou seja, o seu
carácter ostensivamente não racista. De facto, a natureza racista do racismo subtil passa
despercebida àqueles que expressam estas crenças. No entanto, é através do encobrimento que
esta nova forma de racismo evita a censura da norma social que condena as expressões flagrantes
de discriminação intergrupal.

A Escala de Preconceito Subtil, exemplificada pelos próprios autores com o alvo minoritário
“Antilhanos” (Federação Britânica das Índias Ocidentais), integra duas subescalas de racismo
flagrante e três subescalas de racismo subtil (avaliadas de 1 “Discordo totalmente” a 7 “Concordo
totalmente”).

Exemplo de itens de escala flagrante Exemplo de itens de escala subtil


“West Indians have jobs that the British should “I would not mind if a suitable qualified West
have.” Indian was appointed as my boss.”
“Most politicians in Britain care too much “It is just a matter of some people not trying
about West Indians and not enough about the hard enough. If west Indians would only try
average British people.” harder they could be as well off as British
people”

No entanto, as escalas racismos flagrantes e subtis podem promover efeitos de desejabilidade


social, sendo importante haver outras medidas como o implicit association test.

CONTENTS AND CORRELATES OF WHITES’ AND BLACKS’ RACIAL ATTITUDES


MONTEITH & SPICER (2000)
AULA PRÁTICA 9

Whites’ and Blacks’ intergroup attitudes were examined across four samples. Participants wrote essays
describing their racial attitudes that were later coded for recurring themes. Coding revealed that Whites
and Blacks had similar positive themes but diverged for negative themes. White participants most
frequently expressed negative attitudes were consistent with the tenets of modern racism theory
(McConahay, 1986). These essay themes, as well as modern racism scores, were more strongly related to
antiegalitarian sentiments than to the Protestant ethic. Black participants’ negative attitudes were
described in terms of reactions to perceived racism, and their essay themes were unrelated to both
egalitarianism and the Protestant ethic. Discussion focuses on the salient contents of intergroup attitudes,
measurement issues, and the potentially different underlying roots of Whites’ and Blacks’ racial attitudes

O objetivo deste estudo foi examinar as atitudes intergrupais de estudantes universitários


americanos, brancos e negros. Para tal, usaram uma estratégia metodológica diferente da
tipicamente usada para avaliar os conteúdos das atitudes das pessoas (a Moderns Racism Scale),
que reduz a expressão das atitudes racistas dos participantes aos itens que lhes são apresentados.
Assim, utilizaram um método alternativo espontâneo e aberto, onde os participante escrevera,
redações descrevendo as suas atitudes raciais. Mais concretamente:

Mª Matilde Silva | ISPA


108

Foi instruído aos participantes que escrevessem uma redação sobre


suas atitudes em relação aos negros, de acordo com o procedimento
aberto de Herek (1987) para medir atitudes. Os participantes foram
informados odiam começar com uma frase à sua escolha entre: ‘‘tenho
AMOSTRA 1 atitudes geralmente positivas em relação aos negros porque...’’ ou
SUJEITOS BRANCOS DO ‘‘tenho atitudes geralmente negativas em relação aos negros porque...’’.
SUDOESTE DOS EUA Note-se que, embora os participantes tenham sido instruídos a as suas
(N=250)
redações dessa forma, não foram instruídos a escrever textos que fossem
inteiramente positivos ou negativos. Os participantes foram convidados a
incluir seus sentimentos, indicando por que se sentem assim, e a
especular sobre as possíveis fontes de suas atitudes.

Os participantes da Amostra 2 completaram várias medidas, além da


tarefa de redação descrita acima, numa ordem contrabalançada. Uma
medida foi a Escala de Racismo Moderno (McConahay et al., 1981), cujas
respostas aos 7 itens foram feitas em uma escala que varia de discordo
totalmente (-4) a concordo totalmente (+4). Outra medida foi a Escala de
AMOSTRA 2 Ética Protestante de 11 itens desenvolvida por Katz e Hass (1988). Os
SUJEITOS BRANCOS DO itens dizem respeito à devoção ao trabalho, realização individual e
CENTRO OESTE
INFERIOR DOS EUA disciplina. Finalmente, o igualitarismo foi avaliado com a Escala
(N=246) Humanitarismo-Igualitarismo de 10 itens de Katz e Hass (1988), que
mede até que ponto os entrevistados valorizam ajudar os outros e
agir para promover a igualdade. Os itens de ética protestante e
igualitarismo foram ordenados aleatoriamente num único questionário
denominado ‘‘opiniões’’.

AMOSTRAS 3 Os participantes negros receberam as mesmas instruções que os


SUJEITOS NEGROS DE participantes brancos para a tarefa de redação, mas sobre suas atitudes
U MA U N I V E R S I D A D E em relação aos brancos. Posteriormente, foi descoberto que 16
NEGRA NO SUDESTE participantes saltaram a tarefa de redação, deixando uma amostra de 259
DOS EUA (N=200)
para a análise de conteúdo da redação. A maioria destes participantes
AMOSTRA 4 (69%) era da universidade negra e talvez se tenham sentido menos
SUJEITOS NEGROS DE compelidos a completar a tarefa porque não foram recompensados pela
U MA U N I V E R S I D A D E participação. Contrabalançado com a tarefa de redação estava o
BRANCA NO SUDESTE questionário de ‘‘opiniões’’ acima descrito.
DOS EUA (N=75)

Para codificar as redações, estas foram examinadas para identificar a presença de tópicos,
definindo um “tópico” como “qualquer ideia ou pensamento completo que se relaciona com as
atitudes do respondente” (Herek, 1987, p. 287). Os tópicos foram também classificados como
refletindo atitudes positivas ou negativas. Foram identificados 14 tópicos na Amostra 1. Apenas
8 redações não manifestaram nenhum desses tópicos, e o maior número de tópicos numa
determinada redação foi cinco. 13 temas foram identificados na Amostra 2. Apenas 5 redações
não incluíram nenhum desses tópicos, e o maior número de tópicos numa determinada redação
foi 7. Os mesmos 13 tópico estiveram presentes em ambas as amostras, com um tópico adicional
na Amostra 1. Nas Amostras 3 e 4, foram identificados 17 tópicos. 23 redações não incluíram
nenhum desses tópicos e o maior número de tópicos numa determinada redação foi cinco.

Em relação à comparação dos conteúdos dos tópicos POSITIVOS, a codificação das respostas
revelou que brancos e negros escreveram acerca de tópicos atitudinais positivos semelhantes.

Mª Matilde Silva | ISPA


109

Uma diferença interessante refere-se ao facto de os brancos terem apresentado uma maior
probabilidade de escrever acerca de atitudes refletindo uma “negação da diferença”. Na
comparação dos conteúdos dos tópicos NEGATIVOS, contrariamente ao observado para os
tópicos positivos, verificou-se uma distinção notável entre o conteúdo dos tópicos negativos
entre participantes brancos e negros. Nos participantes brancos, os conteúdos salientes das
atitudes negativas de brancos parecem partilhar muito em comum com os princípios do racismo
moderno.

A1 A2 Tópicos e Exemplos
8. Negative Stereotypes/Generalizations
To me, it seems as if Blacks look for ways to start trouble. They often start riots, protests
13% 15%
and make as much noise as possible. Blacks are always trying to act bad, shooting people
and being in gangs. I realize that Whites do this too but Blacks do it all the time.
9. Blacks Get More Than They Deserve
They get jobs just because they’re Black in order to fill some ratio standard. They get
scholarships for less work and effort simply because they are Black. And, every year they
8% 17% come up with a new word to describe themselves. Most Blacks want Whites to give them
something for nothing and this is wrong. If something doesn’t go their way it’s racial. They
get jobs just because they are Blacks and Whites can’t get these jobs even if they are more
qualified.
10. Denial of Responsibility for Past or Present Discrimination
I have generally negative attitudes toward Blacks because I don’t feel I owe the Black
generation any excuses or apologies for what my ancestors may have done. I feel that
12% 11%
Blacks hold me responsible for what happened years ago.
I don’t think blacks should hold a grudge against the Whites because of what happened
many years before their or my time. Slavery is over and in most places so is discrimination.

Já nos participantes negros, a análise do conteúdo das atitudes sugeriu que muitos dos
tópicos negativos resultam de reações à perceção de racismo e discriminação.

A3 A4 Tópicos e Exemplos
8. Negative Personal Experience with Whites
I have generally negative attitudes toward Whites because I hear and see how a lot of
Whites’ actions are toward Blacks. One time I got close to a White person, but when she
10% 9%
got around her White friends, she wouldn’t want to talk to me and that made me very mad.
I remember working at a job where I was the only African American male. They gave me all
the hard jobs, terrible hours, and treated me differently from the other employees.
9. Negative Stereotypes/Generalizations
I have generally negative attitudes toward Whites because they are sneaky and still try to
14% 15%
treat Blacks as slaves . . . Whites are generally selfish people. My belief is that all whites
have a general nature of selfishness, hatred, and spitefulness.
12. Negative about Whites Because Whites Negative about or Disrespectful toward
Blacks
13% 11%
They seem to me to always have negative thoughts about Blacks.
They don’t trust me, so I don’t like or trust most of them!
17. Whites’Acts of Entitlement/Superiority
They always attempt to be superior to me.
12% 9%
I have generally negative attitudes toward Whites because they feel that their race is
superior to other races.

Mª Matilde Silva | ISPA


110

No que toca à associação entre prevalência dos tópicos e atitudes explícitas (medidas por
escalas), foi analisado se os scores nas escalas aplicadas (escala de Racismo Moderno,
Igualitarismo e Ética protestante) se relacionaram com o conteúdo dos tópicos das redações.
Observou-se que os scores na escala de racismo moderno (com valores mais elevados refletindo
atitudes mais negativas) em participantes brancos correlacionaram-se negativamente com a
prevalência de tópicos positivos e positivamente com tópicos negativos. O padrão oposto foi
observado para a medida de Igualitarismo. Os tópicos das redações não se relacionaram com os
scores nas medidas para os participantes negros.

Bancos Negros
Ética Ética
ERM Igualitarismo Igualitarismo
Protestante Protestante
Número Total de Tópicos Positivos -.40 .28 -.09 .06 .06
Número Total de Tópicos Negativos .36 -.24 .01 -.01 -.12

Estes resultados salientam as raízes potencialmente diferentes das atitudes raciais de


indivíduos brancos e negros. Atitudes positivas intergrupais foram semelhantes entre os dois
grupos, e basearam-se em experiências intergrupais e processos de socialização positivas, a
par do reconhecimento de que os estereótipos e o preconceito são injustos. Atitudes
negativas intergrupais foram, no entanto, diferentes para negros e brancos.Os participantes
brancos expressaram atitudes negativas consistentes com a teoria do racismo moderno,
sendo que as análises correlacionais sugeriram que estas atitudes negativas estão positivamente
associadas com a medida de racismo moderno e negativamente associadas com crenças de
igualitarismo (e viceversa para as atitudes positivas).

BYSTANDER INTERVENTION
THE SUBTLETY OF WHITE RACISM, AROUSAL, AND HELPING BEHAVIOR
GAERTNER & DOVIDIO (1977)

Two hypotheses were tested: (a) White bystanders are more likely to discriminate against black victims
in situations in which failure to intervene could be attributable to factors other than the victim's
race, (b) There is a causal relationship between arousal induced by witnessing an emergency and
bystander responsiveness. Consistent with the first hypothesis, Study 1 found that black victims were
discriminated against when the subject had the opportunity to diffuse responsibility; however, blacks
and whites were helped equally when the subject was the only bystander. Study 2 failed to
demonstrate a predicted interaction between the victim's race and the ambiguity of the emergency.
Nevertheless, when arousal due to the unambiguous emergency could be misattributed to the effects
of a placebo, blacks were helped less than whites. In Study 1, cardiac measures of arousal were
correlated with latency to intervene in an emergency . The more arousal subjects experienced, the more
quickly they helped. In addition, consistent with the proposed causal relationship, Study 2 demonstrated
that bystanders given the opportunity to misattribute emergency-generated arousal to an "arousing"
placebo helped the victim more slowly than did subjects administered a "nonarousing" placebo.

Semelhante à metodologia de Darley e Latané, neste estudo, a presença de outros bystanders


com quem o sujeito podia comunicar foi introduzida para confrontar o sujeito com uma razão
justificável, não relacionada com a raça, para permanecer inativo (ou seja, a crença de que um
dos outros bystanders podem intervir e ajudar). A HIPÓTESE era de que os bystanders brancos

Mª Matilde Silva | ISPA


111

são mais propensos para discriminar vítimas negras em situações em que a falta de
intervenção pode ser atribuível a outros fatores que não a raça da vítima.

Participaram 75 estudantes de introdução à psicologia, todas brancas. Foi criado um design


fatorial 2 (raça da vítima: branca ou negra) x 2 (possibilidade de difundir a responsabilidade: sim
ou não) x 2 (estatuto socioeconómico da vítima: classe alta ou classe média-baixa) x 2 (nível de
preconceito do sujeito: alto ou baixo).

No que toca à frequência da ajuda, os RESULTADOS mostraram que os sujeitos que tiveram a
oportunidade de difundir a responsabilidade ajudaram a vítima menos frequentemente do que o
fez aqueles que ouviram a emergência sozinhos. Quando os sujeitos julgavam que duas outras
testemunhas estavam presentes, a vítima negra foi ajudada com menos frequência do que a
vítima branca (37.5% vs. 75%). Em relação à rapidez da ajuda, os sujeitos ajudaram mais
rapidamente quando julgavam que eram a única testemunha da emergência. Já quando os
sujeitos julgavam que duas outras testemunhas estavam presentes, a vítima negra foi ajudada
com menos rapidez do que a vítima branca. Conclui-se então que quando o sujeito que precisa
de ajuda é negro o intervalo de tempo que demora até pessoa intervir é superior. No entanto, há
estudos mais recentes que encontram resultados no sentido oposto.

DECISÃO EM CONTEXTO LEGAL


AVERSIVE RACISM IN BRITAIN
THE USE OF INADMISSIBLE EVIDENCE IN LEGAL DECISIONS
HODSON ET AL. (2005)

The aversive racism framework suggests that bias against Blacks is most likely to be expressed by Whites
when it can be explained or justified along non-racial grounds. The present experiment adopted a 2
(Evidence: admissible vs. inadmissible) x 2 (Defendant Race: White vs. Black) between subject’s design,
asking White participants, whose self-reported prejudice was assessed, to judge a legal case. As predicted,
increased guilt ratings and longer sentencing recommendations were forwarded for the Black (vs.
White) defendant only when DNA evidence linking the defendant to the crime had previously been
ruled inadmissible. This result was not qualified by self-report racial attitudes. The implications for
evidence inadmissibility in interracial contexts are considered, along with the repercussions of finding
experimental evidence of aversive racism outside of North America.

Neste estudo, os participantes (estudantes de introdução à psicologia, todos brancos) foram


testados individualmente para um estudo sobre a interpretação de cenários jurídicos. Depois de
assinado o consentimento informado, foi-lhes dada a informação que iriam ler documentos legais
com base num documento legal real e, depois, responder a algumas questões relacionadas com
a lei, juntamente com algumas informação pessoal. As variáveis dependentes foram então a
culpa (medida numa escala de 9 pontos), a sentença recomendada para o arguido (de 0 a 25
anos na prisão), a probabilidade de o arguido reincidir, a probabilidade de sucesso de
eventual reabilitação e a concordância com a redução da pena no caso de bom
comportamento (escalas de 9 pontos).

A manipulação experimental constou num design fatorial 2 (evidência: admissível ou


inadmissível) x 2 (raça do arguido: branco ou negro).

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112

ADMISSIBILIDADE DAS PROVAS


EVIDÊNCIA INADMISSÍVEL
Foi fornecida informação para
desconsiderarem: “In the
documents there may be EVIDÊNCIA ADMISSÍVEL
evidence that has been ruled to Não foi fornecida qualquer
be inadmissible by the judge. In instrução para desconsiderarem
the interest of ensuring informação
realism/validity, please disregard
the information that has been
ruled inadmissible.”
BRANCO
A raça do arguido foi descrita
como branca, recebeu o nome de
Andrew Meadows e numa
x x
afirmação escrita assinada, uma
testemunha ocular disse: “Não
RAÇA DO ARGUIDO

consigo ter a certeza, mas penso


que talvez ele fosse branco”
NEGRO
A raça do arguido foi descrita
como negra, eecebeu o nome de
Denzil Lawrence e numa
x x
afirmação escrita assinada, uma
testemunha ocular disse: 'Não
consigo ter a certeza, mas penso
que talvez ele fosse negro”

A HIPÓTESE era que os preconceitos raciais podem afetar os processos de tomada de


decisão, ou seja, os participantes brancos podem optar, deliberadamente, por examinar
informações condenatórias de um arguido Negro (vs. Branco), apesar das instruções para as
desconsiderarem.

Em relação aos resultados, os participantes classificaram o arguido negro como sendo mais
culpado, recomendaram sentenças mais longas, estimaram uma maior probabilidade de
reincidência e uma menos probabilidade de sucesso de eventual reabilitação. Apesar da
incorporação de elementos processuais recomendados por estudiosos do Direito para aumentar
a compreensão dos jurados sobre o processo legal e, assim, a adequação das suas decisões, foram
observados preconceitos raciais subtis nas perceções e decisões dos participantes.

O CASO PARTICULAR DO RACISMO BRASILEIRO


BRANQUEAMENTO
L I MA E V A L A , 2 0 0 5

Neste estudo, participaram studantes universitários brancos de 3 regiões diferentes do Brasil.


Foi utilizado um delineamento fatorial 2 (desempenho socioeconômico: sucesso vs. fracasso) x 2
(cor da pele: brancos vs. negros), sendo os participantes foram distribuídos aleatoriamente por
cada uma das condições. O material utilizado foi um questionário no qual constava uma história
sobre a situação de um grupo de brasileiros que obtêm sucesso económico e social ou que
fracassa. A cor da pele dos grupos-alvo foi manipulada através da colocação de uma fotografia
anexada à história (havendo 4 fotografias disponíveis).

Mª Matilde Silva | ISPA


113

DESEMPENHO SOCIOECONÓMICO
SUCESSO FRACASSO
BRANCO História de sucesso de um branco História de insucesso de um branco
COR DA PELE
NEGRO História de sucesso de um negro História de insucesso de um negro

As questões analisada foram a atribuição de características tipicamente humana aos


grupos-alvo, no plano dos sentimentos e emoções e no plano dos traços. No que toca aos
sentimentos e emoções atribuídos aos grupos-alvo (Leyens et al., 2000) foram utilizadas 6
emoções secundárias (3 positivas e 3 negativas) e 6 emoções primárias (3 positivas e 3 negativas).
Aqui, foi pedido aos participantes que indicassem numa escala de 0 (nunca sentem isso) a 5
(sentem isso o tempo todo), a frequência com que os membros dos grupos-alvo sentem cada
uma dessas emoções. Em relação aos traços de natureza e de cultura atribuídos aos grupos-alvo,
foram utilizados traços culturais e traços naturais positivos e negativos. A escala para medir a
atribuição de traços variava de 0 (nada característico) a 4 (totalmente característico). Foi ainda
medido o branqueamento dos grupos-alvo através de uma escala de 7 intervalos (1= brancos, 4=
mulatos, 7 = negros).

Os resultados mostraram que os grupos que fracassam são infra-humanizados quando


comparados aos que obtêm sucesso e que os grupos que obtêm sucesso são branqueados e
os que fracassam enegrecidos. Isto comprova a existência de um branqueamento do sucesso
social no Brasil, uma vez que os negros com sucesso social foram percebidos como mais
brancos do que os negros que fracassam, e ainda quanto mais os negros com sucesso são
percebidos como brancos mais características tipicamente humanas lhes são atribuídas.
Assim, podemos dizer que a infra-humanização dos negros acontece com a mediação do
branqueamento: os negros não são positivos ou negativos porque são negros, mas são
percebidos positivamente apenas quando são branqueados e, negativamente, quando
enegrecidos. O branqueamento parece então ser o elemento principal que diferencia o
racismo brasileiro de outros racismos (Skidmore, 1989).

CONCLUSÃO

SOBRE A METAMORFOSE DAS EXPRESSÕES DO RACISMO

AS NOVAS EXPRESSÕES DO RACISMO PODEM ASSUMIR FORMAS


DIVERSAS, ADAPTANDO-SE AOS REQUISITOS SOCIAIS DA SITUAÇÃO
E ÀS POSSIBILIDADES DE MANIFESTAÇÃO PROVIDENCIADAS PELO
CONTEXTO.

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FENÓMENOS INTERPESSOAIS
ATRAÇÃO INTERPESSOAL
AULA TEÓRICA 10

Até agora estavamos no nível Agora, para analisar a atração


intergrupal interpessoal, vamos passar para o
• Que se relacionava com o nível interpessoal ou intragrupal
pressuposto da valorização do • Que se relaciona com o
"eu" e do "meu" da Psicologia pressuposta da procura de
Social relações com os outros.
O ser humano procura criar e manter o sentimento de suporte mútuo e o estabelecimento de
relações positivas com aqueles que o rodeiam e que ele valoriza.

DIFICULDADES NA DEFINIÇÃO
Por existirem vários tipos de atração interpessoal (e.g., social, física, sexual,
passional/romântica), sobreposição entre sentimentos interpessoais (e.g., amor x amizade x
paixão) e falta de consenso entre os académicos, é difícil discernir uma definição de atração
interpessoal.

ATRAÇÃO INTERPESSOAL COMO ATITUDE


“An individual's tendency or predisposition to evaluate another person (…) in a
positive (or negative) way” (Berscheid & Walster, 1978, p. 20).

A atração interpessoal começa por ser conceptualizada como atitude, sendo definida como:
orientação avaliativa de A relativamente a B (Newcomb, 1961). O conceito de atitude, que implica
a localização de um objeto do pensamento numa dimensão avaliativa, constituía um molde
ideal para a conceptualização da atração interpessoal, sendo apenas necessário especificar que
o objeto de pensamento se referia a uma outra pessoa. Os 3 componentes (cognitivo, afetivo e
comportamental), tradicionalmente incluídos sob a noção de atitude, passaram a constituir as 3
dimensões da atração:

COMPONENTE
COMPONENTE COGNITIVA COMPONENTE AFETIVA
COMPORTAMENTAL
Crenças acerca da outra Sentimentos e emoções Ações de uma pessoa que
pessoa (objeto de atração). positivas que uma pessoa objetivamente a aproximam
Por exemplo, “acho que é experimenta na interação de e/ou favorecem uma outra
uma pessoa honesta”. com outra pessoa e pessoa, isto é, as intenções
relativamente a essa outra comportamentais de uma
pessoa. Por exemplo, “sinto- pessoa relativamente à outra
me feliz e apoiado quando pessoa. Por exemplo,
estou com esta pessoa” ou “pretendo vir a viajar com
“gosto desta pessoa”. ela”.

Mª Matilde Silva | ISPA


115

As vantagens desta assimilação (nomeadamente a possibilidade de capitalizar os resultados


das investigações sobre atitudes que utilizaram a atração interpessoal como variável dependente,
tiveram como contrapartida a transferência das dificuldades teóricas e metodológicas inerentes
ao estudo das atitudes para o domínio da atração. Assim, a correspondência entre os
componentes cognitivo (crenças sobre o objeto de avaliação), avaliativo (sentimentos e emoções
positivas por ele provocados) e comportamental (ações de aproximação) foi mais postulada do
que experimentada.

COMPLEMENTANDO A CONCEPTUALIZAÇÃO ATITUDINAL


“(…) the tendency to evaluate positively, and seek closeness with, a target
person to whom we are not (yet) close” (Finkel & Baumeister, 2019, p. 2).

Ao longo do tempo, os autores vieram complementando esta conceptualização atitudinal


através da ênfase nos aspetos motivacionais da atração, fazendo notar que a atração caracteriza
tanto as AVALIAÇÕES que os percipientes (pessoa que experiencia atração) fazem dos alvos
(pessoa que inspira atração numa outra pessoa), como o seu DESEJO de iniciarem contacto ou de
estabelecerem intimidade com eles.

A atração é, então, definida como a TENDÊNCIA PARA AVALIAR POSITIVAMENTE E BUSCAR


PROXIMIDADE COM UM ALVO AO QUAL NÃO SOMOS AINDA PRÓXIMOS.

FATORES OU VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A ATRAÇÃO INTERPESSOAL


OS FATORES QUE INFLUENCIAM A ATRAÇÃO INTERPESSOAL PODEM SITUAR-SE AO NÍVEL DE:

Pessoa Perceção de semelhanças


Outro
Estado de espírito Familiaridade relativamente ao outro Atratividade física
Ativação fisiológica Atributos pessoais

Pessoa Outro

Contexto
Interação
Semelhança objetiva (*)
Proximidade física Reciprocidade de sentimentos
Frequência de interação Autorrevelação

Mª Matilde Silva | ISPA


116

FATORES: ALGUMA EVIDÊNCIA EMPÍRICA


ESTUDOS SOBRE A INFLUÊNCIA DE CERTOS FATORES NA ATRAÇÃO

ATRATIVIDADE FÍSICA
A atração por outras pessoas é fortemente influenciada pelas perceções de atratividade
física. Algumas características, como sinais de saúde e de acesso a recursos, são consideradas
atraentes em todas as culturas. Outras dependem mais da experiência, exposição e expetativa.

A beleza física constitui um dos fatores ou atributos pessoais cuja influência na génese das
relações interpessoais tem sido sistematicamente investigada durante as duas últimas décadas
(é o fator mais estudado). De acordo com a generalidade dos estudos, os efeitos positivos da
beleza física sobre a atração revelam-se consistentes através das idades, dos sexos e das
categorias socioeconómica.

A beleza física promove a atração. Por exemplo, num estudo, os investigadores criaram um
evento de “speed dating” no qual as pessoas puderam falar com vários outros indivíduos para um
“date” de 4 minutos (Eastwick & Finkel, 2008). Uma ou duas semanas antes dos encontros, os
alunos participantes avaliaram a atratividade e potencial financeiro desejados nos seus dates.
Posteriormente, nos próprios encontros, avaliaram cada parceiro nessas mesmas dimensões e
registaram o seu grau de interesse romântico. No questionário pré-encontro, os homens
disseram que a atratividade era mais importante num parceiro de speed dating do que as
mulheres, e as mulheres disseram que o potencial financeiro era mais importante que os homens.
Essas diferenças de sexo não se mantiveram quando avaliado o seu grau de interesse romântico.
Avaliações de atratividade física e potencial financeiro predisseram o interesse igualmente nos
homens e nas mulheres. Num outro estudo clássico, Elaine Walster e colaboradores (Walster,
Aronson, Abrahams, & Rottman, 1966) emparelharam aleatoriamente universitários para uma
noite de conversas e dança. Os investigadores avaliaram discretamente a atratividade e as
habilidades sociais de cada aluno, juntamento com as suas notas e classificações em testes de
inteligência e personalidade. Após o fim da noite, os investigadores perguntaram aos alunos o
quão satisfeitos estavam com seus encontros. A atratividade física do parceiro foi de longe o fator
que mais influenciou a satisfação de homens e mulheres. A atratividade também influenciou
fortemente a probabilidade de os homens entrarem em contato com as mulheres para marcar
um segundo encontro. Nenhuma das outras variáveis medidas neste estudo – inteligência,
habilidades sociais ou personalidade – teve uma influência semelhante na atração pelo parceiro.

A beleza física também prediz o desejo de manter os laços em relacionamentos em curso


(Lemay, Clark, & Greenberg, 2010). Os autores postulam que a atribuição de qualidades
interpessoais desejáveis a alvos fisicamente atraentes é uma projeção de objetivos interpessoais:
as pessoas desejam formar e manter laços sociais estreitos com alvos atraentes e, então,
projetam essas motivações nesses alvos. Três estudos apoiam esse modelo. Tendências para ver
novos alvos atraentes retratados em fotografias (Estudo 1), parceiros românticos atraentes
(Estudo 2) e amigos atraentes (Estudo 3) como especialmente recetivos e responsivos
interpessoalmente foram explicados pelos desejos intensificados dos observadores de se
relacionar com indivíduos atraentes. Descobertas adicionais sobre latências de resposta (Estudo
1) também apoiaram esse modelo. Muito exemplo do efeito “bonito é bom” podem não refletir

Mª Matilde Silva | ISPA


117

os estereótipos da forma como é tipicamente interpretado. Em vez disso, eles podem refletir a
projeção de desejos intensificados de se relacionar com pessoas bonitas.

Quais são os processos explicativos dos efeitos da beleza na atração interpessoal? Para além da
evidência dos efeitos diretos, a resposta a esta questão passa pela verificação da existência generalizada
de estereótipos sociais associados a variáveis morfológicas. Mais exatamente, os indivíduos tendem a
associar a beleza a traços de personalidade positivos. O estereótipo segundo o qual “o belo é bom” foi
realçado por um conjunto impressionante de estudos empíricos (Eagly, Ashmore, Makhijani e Longo, 1991;
Jackson, Hunter e Hodge, 1995). São as educadoras de infância e os professores em geral que tendem a
valorizar e a tratar diferencialmente os alunos (Dion, 1972); as próprias mães das crianças atraentes a
dispensarem-lhes mais afeto e atenção (Langlois, Ritter, Casey e Sawin, 1995); os juízes que tendem a ser
mais indulgentes para com os réus mais atraentes (Efran, 1974), salvo se as suas características físicas
foram diretamente instrumentais na prossecução do crime (Sigall Ostrove, 1975): são, enfim, e entre outros
exemplos possíveis, os entrevistadores que fazem da aparência física um critério de seleção profissional
(Cash, Gillen e Burns, 1977).

Cabe perguntarmo-nos qual é a verdadeira natureza e o modo de funcionamento destes estereótipos.


Em rigor, não existe nenhuma razão plausível para que os mais “privilegiados” fisicamente sejam, também,
os mais dotados ao nível de competências cognitivas e sociais. Contudo, existe uma parte substancial de
verdade nos estereótipos em causa. Assim, é possível que, durante o processo de socialização, o
tratamento diferencial de que são alvo os indivíduos mais atraentes, possa contribuir para aumentar a
autoestima e, simultaneamente, condicionar o desenvolvimento efetivo de competências e características
de personalidade socialmente valorizadas. Trata-se do processo mais genérico da autorrealização das
expectativas, descrito inicialmente por Merton (1948) e demonstrado nas mais diversas esferas da
interação humana (Darley e Fazio, 1980; Snyder e Swann, 1978). Contrariamente a outros estereótipos
(e.g., os ligados aos papéis sócio-sexuais), os estereótipos ligados à beleza física desenvolvem-se e
funcionam em contextos bastante informais, tornando-se mais difícil delimitar-lhes a influência ou atenuar-
lhes as consequências negativas (Dion, 1986).

PROXIMIDADE FÍSICA E FREQUÊNCIA DE INTERAÇÃO


A atração interpessoal tende a aumentar com a proximidade física entre as pessoas e a
frequência com que estas interagem, fatores que, muitas vezes, estão associados

STABILITIES UNDERLYING CHANGES IN INTERPERSONAL ATTRACTION


N E WC O MB ( 1 9 6 3 )

Newcomb ofereceu estadia numa residência a dois grupos de 17 estudantes do sexo


masculino da Universidade de Michigan, em troca de serem observados durante períodos de 4
meses em 2 anos sucessivos. Em cada grupo, os estudantes eram de início totalmente estranhos
entre si, passaram a viver e a tomar as refeições juntos numa casa que lhes foi reservada. O
interesse do investigador centrou.se nas relações intragrupais que se formaram posteriormente,
sendo o objetivo do estudo estudar o fenómenos por detrás das pessoas se conhecerem e
tornarem próximas (i.e., getting acquainted).

A atração foi medida por meio de uma classificação que consistia em ordenar os membros do
grupo por preferência, e por uma escala de avaliação de 100 pontos relativa à “favorabilidade de
sentimento” para cada membro do grupo. As atitudes mútuas em relação a determinados objetos
eram medias regularmente (quase todas as semanas). Para o propósito deste estudo, os fatores

Mª Matilde Silva | ISPA


118

que definem uma relação equilibrada para um indivíduo são: o seu grau de atração, positivo ou
negativo, face a outro indivíduo; a sua atitude, favorável ou desfavorável, face a algum objeto
(pessoas, questões, e abstrações como valores gerais) e; a atitude do segundo indivíduo, tal
como percebida pelo primeiro indivíduo, em relação ao mesmo objeto (Heider, 1958). Existe um
estado de equilíbrio entre estes fatores enquanto a atração for positiva e o indivíduo perceber
que as suas atitudes são semelhantes com as dos outros.

Os resultados mostraram um desenvolvimento de atitudes mútuas favoráveis e ainda


preferência por relações psicológicas equilibradas entre os três elementos de Heider acima
mencionados (existe uma relação equilibrada quando P gosto de O, O gosta de X, P gosto de X).

This total set of findings, in support of our predictions, suggests (1) that
agreement concerning attitudes which change very little during the
acquaintance process becomes a significant determinant of attraction
preferences; and (2) that high-attraction preferences ... change, from early to
late acquaintance, in such manner that agreement concerning other House
members also becomes a significant determinant of high pair attraction
(Newcomb, 1961). As group members interact with one another, each of them
selects and processes information-about objects of common interest, about
one another as objects of attraction in such ways that the inconsistencies and
conflicts involved in imbalanced relationships tend to be avoided ... the
consequence of reciprocal adaptation is a mutual relationship that is in fact
maximally satisfying to both or all of them-that is maximally within the limits
of what is possible (Newcomb, 1963).

SOCIAL PRESSURES IN INFORMAL GROUPS: A STUDY OF HUMAN FACTORS IN HOUSING


FESTINGER, SCHACHTER E BACK (1950)

Um estudo clássico de residentes num conjunto habitacional de estudantes casados descobriu


que as amizades tendiam a se formar entre aqueles que viviam perto uns dos outros (Festinger,
Schachter & Back, 1950).

Foram usadas entrevistas e outras técnicas de mensuração sociométricas para estudar a


amizade e comunidade num grupo de 260 estudantes casados foi temporariamente realocado
para um projeto de alojamento contruído e gerido pelo M.I.T.

Os resultados mostraram uma forte relação entre a escolha sociométrica de amigos e a


distância física, sendo o maior número de escolhas feito pelas pessoas que viviam próximas umas
das outras. À medida que esta distância aumentava, os contactos sociais diminuíam. Assim, estes
fatores determinavam o desenvolvimento de relações de amizade. Ainda, os residentes mais
populares eram aqueles cujos apartamentos estavam localizados perto das escadas ou perto da
área da caixa de correio, onde tinham oportunidades extras de interagir com outras pessoas. Os
benefícios da proximidade são particularmente importantes se não houver outras razões pelas
quais as pessoas possam se reunir

Desta forma, a proximidade física aumenta a probabilidade de as pessoas se conhecerem,


gostarem umas das outras e desenvolverem atitudes interpessoais positivas.

ESTADO DE ESPÍRITO POSITIVO

Mª Matilde Silva | ISPA


119

Existe uma maior probabilidade de nos sentirmos atraídos quando nos encontramos com um
estado de espírito positivo.

EFFECTS OF MUSICALLY EVOKED AFFECT ON WOMEN'S INTERPERSONAL ATTRACTION


TOWARD AND PERCEPTUAL JUDGMENTS OF PHYSICAL ATTRACTIVENESS OF MEN
E S T U D O D E MA Y E H A MI L T O N ( 1 9 8 0 )

Foi pedido a participantes, todas do sexo feminino, que avaliassem fotos de indivíduos do sexo
masculino (atraentes vs. não atraentes) enquanto ouviam música que gerava afeto positivo (rock)
versus música que gerava afeto negativo (avant-garde), ou ainda não ouviam música (grupo
controlo).

Fotografias
Avaliação Individuo Não Atraente Individuo Atraente p-value
Inteligência 3.53 4.27 .01
Moralidade 3.47 4.10 .005
Ajustamento 3.53 4.80 .001
Atração interpessoal 8.13 10.00 .001
Atratividade física 4.06 5.27 .01

Os resultados mostraram que as participantes avaliaram os indivíduos atrativos mais


positivamente em torno de uma série de dimensões de julgamento interpessoal (inteligência,
moralidade, adjustment, atração interpessoal, atratividade física) do que os indivíduos não
atrativos (consistente com estudos anteriores). As avaliações de inteligência, moralidade e ajuste
foram feitas usando escalas de 1 a 6, enquanto a atração interpessoal foi avaliada com valores de
escala que variam de 2 a 14. Valores para a escala de atratividade física foram de 1 a 7. Em todos
os casos, as respostas mais positivas são indicadas pelos valores numéricos maiores.

Condição Musical
Avaliação Avant-garde Sem Música Rock p-value
Inteligência 3.60 3.70 4.40 .05
Moralidade 3.40 4.10 4.30 .05
Atração interpessoal 7.70 9.60 9.90 .01
Atratividade física 4.00 4.60 5.40 .05

Ainda, as participantes da condição “música rock” apresentaram avaliações do carácter


pessoal da pessoa estímulo mais positivas, bem como uma maior atração relativamente à mesma,
comparativamente com as participantes da condição “música avant-garde”. Desta forma, os
resultados mostram claramente que os julgamentos dos sujeitos sobre a atratividade física,
atração e caráter do sujeito da fotografia foram influenciados pelos estímulos afetivos externos.
Estes resultados indicam fortemente que os estímulos afetivos externos não só influenciam as
avaliações interpessoais relativamente subjetivas de caráter e atração, como também os
julgamentos mais objetivos da aparência física. Assim, embora as percepções individuais do nível
de atratividade física sejam, sem dúvida, baseadas em preferências previamente adquiridas e
relativamente estáveis, os resultados sugerem que esses julgamentos perceptivos também são
significativamente influenciados por estados afetivos que podem ser evocados por estímulos
afetivos associados, mas não diretamente atribuíveis à pessoa de estímulo.

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120

Efeito de Halo
Propensão dos juízes para avaliarem as pessoas em
termos de uma impressão geral positiva ou negativa. Se
formamos uma impressão positiva de alguém temos
tendência a avaliar os seus outros traços como
positivos, i.e., se uma pessoa tem uma caracteristica
positiva vejo todas como positivas, e vice-versa.

ATIVAÇÃO FISIOLÓGICA
Quando o percipiente se encontra fisiologicamente ativado pode percecionar o alvo como
mais atrativo por via de uma atribuição errónea das sensações fisiológicas cuja causa não
consegue identificar.

SOME EVIDENCE FOR HEIGHTENED SEXUAL ATTRACTION UNDER CONDITIONS OF HIGH


ANXIETY
ESTUDO DE DUTTON E ARON (1974)

Neste estudo, os participantes (n=85), todos do sexo masculino com idades entre os 18 e os
35 que estavam a passear sem a companhia de uma outra mulher, foram contactados por uma
mulher ou homem atrativos aquando da travessia de uma ponte de madeira que lhes pedia que
preenchessem um questionário e que criasse uma breve história com base numa figura ambígua
do TAT. Depois de finalizarem, o entrevistador entregava-lhes um papel com o seu nome e
número de telefone para o caso de quererem conversar posteriormente.

A variável independente era, então, a ansiedade (ativação fisiológica), manipulada através do


tipo ponte:

Condição Experimental Condição Controlo


Com Ativação Fisiológica de Medo Sem Ativação Fisiológica de Medo
Os sujeitos tinham de atravessar a Capilano Os sujeitos tinham de atravessar uma ponte
Suspension Bridge (Vancouver), uma ponte de de madeira sólida a 3 metros do solo. Construída
140 metros de comprimento e a 70 metros do em cedro pesado, esta ponte era mais larga e
solo. A ponte tinha muitas características que mais firme do que a ponte experimental, ficava
induzem à ativação, como (a) uma tendência apenas a 3 metros acima de um riacho pequeno
para inclinar e balançar, criando a impressão de e raso que desaguava no rio principal, tinha
que a pessoa está prestes a cair para o lado; (6) corrimãos altos e não se inclinava nem
corrimões de cabo de aço muito baixos que balançava.
contribuem para essa impressão; e (c) uma
queda de 70 metros que ia dar a rochas.
Os resultados mostraram que os indivíduos que fizeram a travessia da ponte “experimental”
criaram histórias com mais componentes sexuais e estabeleceram mais contactos telefónicos
posteriores.

Aceitaram o Pontuação de
Preencheram o Questionários
Entrevistador Contacto Telefonaram Conteúdos
Questionário Usáveis
Telefónico Sexuais (TAT)
Mulher
Ponte
22/33 16/22 2/16 18 1.41
Controlo

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121

Ponte
23/33 18/23 9/18 20 2.47
Experimental
Homem
Ponte
22/42 6/22 1/6 20 .61
Controlo
Ponte
23/51 7/23 2/7 20 .80
Experimental

Os resultados adicionam evidencia empírica às posições teóricas clássicas de Schachter e


Singer (1962) sobre a identificação cognitiva das emoções nas quais os autores se baseiam, que
diz que, em certas circunstâncias, pistas ambientais são usadas para fornecer rótulos emocionais
a estados de ativação fisiológica inexplicáveis ou ambíguos. Assim, e de acordo com a teoria de
Schachter-Singer, as emoções são resultado de dois fatores. Por um lado, os orocessos físicos no
corpo (como ativação do sistema nervoso simpático , por exemplo), que os investigadores
chamam de "ativação fisiológica". Essas alterações podem incluir coisas como seu coração
começar a bater mais rápido, suar ou tremer. Por outro lado, um processo cognitivo, no qual as
pessoas tentam interpretar essa resposta fisiológica olhando para o ambiente ao redor para ver
o que pode estar fazendo com que se sintam assim.

Desta forma, e de acordo com os autores, a excitação resultante do estímulo ambíguo (ponte
de madeira que provocava diversas sensações) pode ter sido atribuída a outra fonte presente no
meio ambiente (a mulher atrativa) e aumentado a sua atratividade percebida.

Quando estamos fisiologicamente ativados, há a possibilidade de interpretarmos o contexto


de forma enviesada. A atração interpessoal pode decorrer de uma atribuição “errada” por parte
do percipiente, de determinadas sensações fisiológicas, ao alvo. Para tal, é necessário que a causa
da ativação fisiológica não esteja saliente no momento da avaliação do alvo (Rodrigues & Garcia-
Maques, 2005; Zillmann, 1978)

ABRORDAGENS E TEORIAS EXPLICATIVAS DA ATRAÇÃO INTERPESSOAL9

O PORQUÊ DA INFLUÊNCIA DE CERTOS FATORES NA ATRAÇÃO

PROXIMIDADE E FREQUÊNCIA DE INTERAÇÃO


People are attracted to those with whom they have positive interactions. Interaction makes people familiar,
provides opportunity for mimicry, helps people master the world, and helps people find connectedness.

A proximidade física aumenta a probabilidade da atração e promove a interação. A interação,


por sua vez, aumenta a atração, na medida em que a interação continuada com os outros “torna

9
Algumas explicações para a atração interpessoal e para a influencia de determinados fatores ou variáveis.
Muitas destas explicações e fatores ou variáveis reforçam-se mutuamente.
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122

o mundo melhor” já que pode resultar em divertimento e permite a partilha, a confraternização


e o apoio social, essenciais para o nosso bem estar e a interação com outros que nos acarinham,
aceitam e respeitam ajuda-nos a sentirmo-nos conectados, ligados e aumenta o sentimento de
familiaridade que, por sua vez, leva ao “gostar de” (“liking”) e à perceção de semelhança que
aumenta também a atração.

Porque é que a interação aumenta a atração? Como é claro, as interações podem variar, desde
um simples cumprimentar com a cabeça quando dois caminhos se cruzam, por via de várias
sessões de trocas de mensagens online de 15 minutos numa investigação, até às interações mais
complexas entre um veterano e o novo funcionário em treino. Mesmo as interações mínimas
podem aumentar o gosto e, à medida que a interação se torna mais frequente ou complexa,
processos adicionais contribuem para o efeito da familiaridade.

A INTERAÇÃO TORNA OS OUTROS FAMILIARES. A familiaridade não gera desprezo. Em vez disso,
a familiaridade, que resulta do ver algo repetidamente, aumenta o gosto pelo outro (Bornstein e
outros, 1987). Richard Moreland e Scott Beach (1992) demonstraram o efeito da familiaridade
quando pediram a participantes de um estudo do sexo feminino que assistissem a um número
variável de aulas numa turma grande. Os outros alunos da turma classificaram as mulheres que
compareceram com mais frequência como mais simpáticas e atraentes. A familiaridade também
é importante quando a interação é mais complexa – os efeitos positivos que os vários chats no
computador tiveram sobre o gosto também se deviam ao aumento da familiaridade que os
participantes sentiam com seus parceiros.

A INTERAÇÃO CONTRIBUI PARA O “DOMÍNIO”. Se pararmos para pensar sobre o porquê de


gostarmos de estar com outras pessoas, o nosso primeiro motivo provavelmente será que muitas
vezes é recompensador. Debater política até às tantas, ouvir uma palestra e partilhar o que
sabemos em sessões de estudo conjuntas, são atividades que atendem às nossas necessidades
pessoais de muitas maneiras. Algumas maneiras são óbvias: a sessão de estudo pode ajudar a
melhorar as notas dos testes. Outros benefícios não são tão óbvios. Discutir um problema pessoal
com um amigo próximo pode ajudar-nos a compreender e lidar com as circunstâncias difíceis e
com as nossas próprias reações a elas (Buunk, Gibbons e Visser, 2002). Quando interagir com
alguém é recompensador de alguma dessas maneiras, o resultado é o mesmo: tendemos a gostar
da pessoa (Rusbult, Arriaga, & Agnew, 2001).

A INTERAÇÃO AJUDA A SENTIRMO-NOS CONECTADOS. Interagir com alguém que nos trata com
ternura, aceitação e respeito pode confirmar nossa sensação de estar conectado aos outros
(McAdams & Bryant, 1987; Reis & Patrick, 1996). Essa sensaão de relacionamento e apego à outra
pessoa é outra recompensa importante da interação – uma recompensa que aumenta de
importância à medida que os relacionamentos se aprofundam. Um contributo importante para
esses sentimentos de conexão é o mimetismo. Quando duas pessoas interagem, começam a
imitar os padrões de fala, postura, maneirismos e assim por diante uma da outra, geralmente
sem que nenhuma das pessoas perceba que está a acontecer (Chartrand & van Baaren, 2009).
Mesmo pessoas entre si desconhecidas podem imitar-se uns aos outros durante uma breve
interação, seguindo o exemplo quando o outro balança um pé ou coloca as mãos na cara
(Chartrand & Bargh, 1999). Mimetismo torna as interações mais confortáveis e aumenta o gosto
(Lakin, Jefferis, Cheng, & Chartrand, 2003).

Mª Matilde Silva | ISPA


123

Para levar ao aumento da atração, a INTERAÇÃO TEM DE SER POSITIVA. Quando a interação
não satisfaz as nossas necessidades, contraria os nossos interesses ou magoa-nos, conduzindo-
nos a “não gostar de” (“disliking”). É natural, no entanto, que ocorram interações negativas, mas
as pessoas parecem ser tendencialmente mais simpáticas do que importunas, pelo que,
geralmente, uma maior frequência de interação conduz a um resultado favorável (atração
interpessoal).
Positive interaction with another person...
Creates feelings of connectedness
and belonging, sometimes
triggered by mimicry.

Meets individual needs for mastery


through social comparison and Produces a sense of familiarity.
sharing of enjoyable activities.

Resulting in
attraction to
the person

SEMELHANÇA
Similarity of many kinds increases attraction and liking because of our natural tendency to see anything
connected to the self as positive, because similarity makes things seem familiar, and because similarity also
contributes to fulfilling needs for mastery and connectedness.

Tendemos a sentir-nos atraídos por outras pessoas semelhantes a nós, na medida em que a
semelhança promove interação, que por sua vez, aumenta a atração. Tendemos a interagir com
pessoas semelhantes, já que os interesses em comum criam oportunidades nesse sentido. Para
além disso, a semelhança aumenta a probabilidade de a interação ser positiva, aqueles que nos
são semelhantes tendem a validar as nossas crenças e atitudes. Ainda como nós gostamos
daqueles que nos são semelhantes, assumimos que aqueles que nos são semelhantes irão gostar
de nós, o que constitui um forte motivo para gostarmos deles. De forma inversa, assumimos que
aqueles de quem gostamos são semelhantes a nós.

Por que a similaridade aumenta o gosto? Assim, a similaridade ajuda-nos a passar da atração
inicial para o gosto por uma série de razões:

SEMELHANÇA SINALIZA QUEM É "EU E MEU". Uma das razões pelas quais gostamos de pessoas
semelhantes, é por tendermos a ver as nossas próprias características como desejáveis. Isso é
válido tanto no nível interpessoal quanto no nível do grupo. A similaridade é geralmente um fator
significativa para a inclusão no grupo e, como vimos com frequência, tendemos a preferir os
membros do endogrupo (que são como eu) a membros do grupo externo (que não fazem parte
do meu “tipo”). Talvez esta seja uma das razões pelas quais os rostos “médios” – rostos gerados
por computador que se assemelham à maioria de muitos outros rostos em uma determinada
população – são vistos como mais atraentes do que rostos com características extremas ou não
representativas (Galton, 1879; Langlois & Roggman, 1990). Este efeito mantém-se além dos
efeitos de simetria, que é mais alto para rostos médios e está independentemente associado à
atratividade. Da mesma forma que gostamos de pessoas semelhantes, quando sabemos que

Mª Matilde Silva | ISPA


124

alguém é semelhante a nós, geralmente assumimos que essa pessoa gostará de nós (E. Aronson
& Worchel, 1966; Singh, Yeo, Lin, & Tan, 2007). Ser amado por alguém é uma das razões mais
fortes para gostar dessa pessoa (Condon & Crano, 1988; Montoya & Insko, 2008).

SIMILARIDADE SINALIZA FAMILIARIDADE. Similaridade e sentimentos de familiaridade estão


intimamente ligados (Cleary, Ryals, & Nomi, 2009) e desencadeiam o gosto. Assim, quando outros
aparentam ser semelhantes a nós, isso pode torná-los familiares, o que nos fará gostar deles.
Estes efeitos foram encontrados num estudo no qual os alunos faziam julgamentos sobre um
conjunto de outras pessoas que teriam preferências semelhantes ou diferentes por várias
atividades. Quanto mais semelhantes os outros pareciam, mais familiares e mais simpáticos eram
julgados como (Moreland & Zajonc, 1982). Tão próxima é a conexão entre similaridade e
familiaridade, que mesmo a exposição a pronomes que fazem referência a outros semelhantes
(“nós”) desencadeia sentimentos de familiaridade (Housley, Claypool, Garcia-Marques, & Mackie,
2010).

A SIMILARIDADE CONTRIBUI PARA O “DOMÍNIO”. “Pássaros iguais voam juntos” faz parte
daqueles ditados antigos que são, na verdade, verdade: as pessoas tendem a interagir com outras
que lhes são semelhantes. Interesses compartilhados criam claramente oportunidades de
interação, por exemplo, alunos com motivação académica encontram outros com os mesmos
princípios na biblioteca, jogadores de golfe fanáticos encontram seus semelhantes no campo e
ambientalistas encontram-se nas reuniões do Sierra Club. A similaridade torna mais provável que
essas interações sejam positivas. Em primeiro lugar, a semelhança torna o mimetismo mais
provável (Miles e outros, 2011), o que torna as interações com outras pessoas semelhantes ainda
mais fáceis, levando à atração. Em segundo lugar, a semelhança é um indicador chave de
cooperação, confiança e ajuda (Krupp, DeBruine, & Barclay, 2008), aumentando as recompensas
da interação com outras pessoas semelhantes e, novamente, aumentando o gosto.

A SEMELHANÇA VALIDA A CONECTIVIDADE. Quando outras pessoas compartilham nossas


atitudes, valores, atividades preferidas ou mesmo algo aparentemente tão trivial como uma data
de nascimento, isso nos dá uma sensação de conexão com elas (Walton, Cohen, Cwir, & Spencer,
2012). As pessoas esperam que outros semelhantes os aceitem e compreendam, enquanto um
parceiro menos semelhante é considerado menos capaz de ver e apoiar quem eles realmente são
(Murray e outros, 2002).

A INTERAÇÃO , A SEMELHANÇA E A ATRATIVIDADE PERCEBIDA REFORÇAM-SE


MUTUAMENTE

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A semelhança encoraja a interação.


Quando as pessoas interagem descobrem
Interaction
mais semelhanças. Quanto mais interagem,
mais atrativas se irão percecionar como.
Quanto mais atrativas forem uma para a
outra, mais vontade têm de interagir uma
com a outra. Achamos aqueles que são
Liking
fisicamente parecidos connosco atraentes e,
quanto mais atraente uma pessoa for, mais
queremos ser como ela. O próprio gostar de Perceived
Similarity
attractiveness
uma pessoa reforça estes fatores: achamos
pessoas “bonitas” atraentes, mas também
achamos as pessoas de quem gostamos mais
atraentes fisicamente; a interação leva ao “gostar de” e o “gostar de” leva a mais interações, pois
procuramos a companhia daqueles de quem gostamos; a semelhança leva ao gostar de e quanto
mais gostamos de uma pessoa mais motivados estamos para encontrar semelhanças que
partilhemos.

TEORIAS EXPLICATIVAS
Ainda que não exista uma correspondência termo a termo entre as conceptualizações da
atração e as principais teorias explicativas, podemos afirmar que estas se podem classificar em
função das componentes atitudinais que privilegiam e da maior ou menor importância que
atribuem aos aspetos afetivos. Assim, podemos considerar que existem duas grandes categorias
ou grupos de teorias da atração interpessoal. O primeiro grupo é o das TEORIAS DA ORGANIZAÇÃO
COGNITIVA, onde a tónica é colocada nas relações entre cognições e sentimentos e a atração é

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126

explicada pela necessidade de consistência interna entre estes elementos. O segundo é o das
TEORIAS DA TROCA SOCIAL E DO REFORÇO, onde a tónica é colocada na relação entre os
componentes afetivo e comportamental e a atração é explicada pela inevitável interdependência
comportamental e afetiva que caracteriza as relações interpessoais.

A TEORIA DO EQUILÍBRIO COGNITIVO


HEIDER (1958)

A Teoria do Equilíbrio Cognitivo constitui o paradigma das explicações cognitivas da atração


interpessoal. A construção e manutenção de um sistema coerente de representações do
mundo e das relações sociais constitui o principal motivo do comportamento humano. A
dinâmica da atração interpessoal é função das necessidades de organização cognitiva.

De acordo com Heider, um sistema de cognições comporta três elementos principais: as


cognições relativas ao próprio sujeito (P); as relativas a um outro individuo (O), que entre em
interação com o sujeito; e as que se referem a qualquer objeto, acontecimento ou individuo
exterior (X). Dentro deste sistema distinguem-se dois tipos de relações:

RELAÇÕES DE UNIDADE RELAÇÕES DE SENTIMENTO


Cognições respeitantes ao facto de dois Cognições relativas à dimensão avaliativa
elementos serem percecionados como ou emocional de uma relação, expressas em
fazendo ou não parte da mesma unidade termos de gostar/ não gostar, agradável/
funcional. desagradável (e.g., P ama O).

O sistema está em equilíbrio (tríade equilibrada) se, havendo relações de unidade entre P, O
e X, não se verificar qualquer incompatibilidade entre as 3 relações de sentimento (e.g., P gosta
de O e ambos são militantes do partido X). Verifica-se um estado de desequilíbrio (tríade
desequilibrada) se: coexistirem 2 relações de
sentimento positivas com uma negativa (e.g.,
P ama O e é correspondido, contudo, O gosta
de X, que é, por sua vez, detestado por P); ou
de 3 negativas, isto é, P, O e X detestam-se
reciprocamente.

Heider afirma que os estados de desequilíbrio são psicologicamente desagradáveis e que


existe uma tendência generalizada para o restabelecimento do equilíbrio. As implicações para
a compreensão da atração interpessoal são evidentes: a) simples existência de uma relação de
unidade implica uma relação de sentimento positiva; b) inversamente, a existência de uma
relação de sentimento negativa poderá conduzir à rutura da relação de unidade; c) de um modo
mais geral, a dinâmica da atração consiste nas modificações correlativas dos componentes
cognitivo (relações de unidade) e emocional (relações de sentimento) das atitudes do sujeito em
relação aos outros elementos do sistema triangular.

TEORIAS DA CONSISTÊNCIA COGNITIVA


N E WC O MB ( 1 9 6 1 , 1 9 6 8 ) & F E S T I N G E R ( 1 9 5 7 )

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À semelhança de Heider, Newcomb e Festinger desenvolveram teorias da consistência


cognitiva, com implicações diretas no estudo da atração interpessoal.

No caso de Newcomb, trata-se dum prolongamento da teoria de Heider que permite integrar
os processos de equilibração ao nível dos próprios grupos. Além disso, Newcomb procedeu a uma
diferenciação entre os estados ditos de desequilíbrio, atribuindo um valor diferencial à relação
de unidade entre P e O: só se verifica uma tendência para o equilíbrio nos casos em que a relação
de sentimento correspondente é positiva. Nos casos em que não gosto do outro é-me indiferente
a concordância dos nossos sentimentos relativamente a um terceiro objeto ou pessoa.

Festinger acentuou a importância da interdependência cognitiva na génese dos fenómenos


de atração. As implicações para o estudo da atração decorrentes da teoria da dissonância
cognitiva de Festinger são, em termos genéricos, idênticas às do modelo do equilíbrio. Contudo,
a sua teoria da comparação social reveste-se de particular importância, nomeadamente quando
se trata de responder à própria questão da existência da atração. De acordo com a referida
teoria, todos os seres humanos têm uma necessidade básica de autoconhecimento e
autoavaliação das suas aptidões, opiniões e atitudes. Na ausência de um termo de comparação
objetivo, a única solução é a comparação com outros indivíduos. E, de entre os possíveis termos
de comparação social, são aqueles indivíduos que na dimensão considerada se encontram mais
próximos do sujeito que possibilitam uma avaliação mais válida. No caso concreto das atitudes, a
única estratégia possível é a validação consensual. Não é, pois, de estranhar que procuremos
aqueles cujas atitudes e opiniões são semelhantes às nossas, e que na própria interação se gerem
as condições conducentes à atração.

TEORIAS DO REFORÇO E TROCA SOCIAL


A ideia central destas teorias reside na interdependência comportamental e afetiva. O
primado da (inter)dependência tem como corolário a regra da reciprocidade: “gosto de quem
gosta de mim”.

TEORIAS DO REFORÇO
LOTT & LOTT (1974)

Nesta teoria, a atração é concebida como resposta antecipatória do objetivo (ou meta)
adquirida pelo mecanismo de reforço secundário: qualquer pessoa associada com uma situação
reforçante, torna-se alvo de atração, independentemente de ter ou não contribuído diretamente
para a produção da situação em causa.

A perspetiva é então que os percipientes são atraídos por alvos que os recompensam e,
consequentemente, o gostar de uma pessoa irá resultar das condições em que o individuo
experimenta um reforço na presença dessa pessoa, independentemente da relação entre a
pessoa e a situação reforçante ou state of affairs (Lott & Lott, 1974, p. 172). Para que o indivíduo
funcione como reforço secundário, ao qual passam a estar associados as atitudes e os
sentimentos positivos desencadeados pela satisfação da necessidade primária que especifica a
situação reforçante, basta, pois, nesta perspetiva, a sua presença (como a campainha). Assim,
qualquer pessoa associada com uma situação reforçante torna-se alvo de atração,
independentemente de ter ou não contribuído diretamente para a produção da situação em

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128

causa; não é, pois, necessário que o indivíduo gratifique o outro, nem direta (e.g., elogio), nem
indiretamente (e.g., função instrumental).

Um exemplo de investigação ilustrativa desta perspetiva são trabalhos que evidenciam que
percipientes em ambientes desconfortáveis (e.g., salas com temperaturas extremas, elevada
densidade populacional) sentem-se menos atraídos por estranhos do que percipientes em
ambientes confortáveis.

TEORIAS DA TROCA SOCIAL


A conjunção da “logica” comportamentalista, nomeadamente a importância atribuída às
contingências de resposta (a execução de um comportamento é função do respetivo resultado),
com o recurso a metáforas de natureza económica, constitui o ponto de partida das teorias da
troca social.

O seu pressuposto fundamental é o princípio da maximização/minimização, que aplicado à


atração interpessoal se traduz na proposição segundo a qual os indivíduos se sentem atraídos
pelas relações em que os “benefícios” ultrapassam os “custos” e tendem a afastar-se daquelas
em que o “saldo” é negativo.

Contudo, não são os valores individuais das “perdas” ou dos “ganhos” que determinam
diretamente a atração. De acordo, com o princípio da equidade, apenas as relações em que
existisse proporcionalidade entre os “investimentos” (que podem ser conceptualizados como o
somatório das “punições” e das recompensas desperdiçadas) e os “lucros” (recompensas obtidas
mais punições evitadas) para cada um dos envolvidos gerariam atração.

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ATRAÇÃO INTERPESSOAL
D I F E R E N Ç A S D E G É N E R O , S E ME L H A N Ç A E P E R S O N A L I D A D E

AULAS PRÁTICAS 10 E 11

DIFERENÇAS DE GÉNERO

A importância da beleza física em função do sexo foi igualmente objeto de investigação. Ainda
que diversos estudos indiquem que os homens, comparativamente às mulheres, dão maior
importância aos atributos físicos do sexo oposto, tais diferenças podem vir a atenuar-se à medida
que se assiste ao declínio do duplo padrão sexual.

SELF-PRESENTATION IN PERSONAL ADVERTISEMENTS


T H E I N F L U E N C E O F I MP L I C I T N O T I O N S O F A T T R A C T I O N A N D R O L E E X P E C T A T I O N S

K O E S T N E R & WH E E L E R ( 2 0 1 5 )

Anúncios pessoais heterossexuais de dois jornais semanais geograficamente separados foram analisados
quanto ao conteúdo. Emergiram três padrões significativos de descobertas, que lançam luz sobre as
diferenças de gênero no estilo de autoapresentação. Em primeiro lugar, constatou-se que as mulheres
eram relativamente mais propensas a oferecer traços instrumentais ou "valorizados pelos homens" nos
seus anúncios e a procurar características expressivas ou "valorizadas pelas mulheres", enquanto os
homens apresentavam o padrão inverso. Essa descoberta paradoxal foi interpretada como refletindo a
influência de noções implícitas de atração e expectativas de papel. Em segundo lugar, as mulheres eram
relativamente mais propensas a oferecer peso e procurar altura, enquanto os homens eram relativamente
mais propensos a oferecer altura e procurar peso. Esse padrão foi interpretado como um reflexo da
influência da "norma masculino mais alto" na seleção do parceiro, bem como um viés social em relação à
magreza nas mulheres. Finalmente, como em estudos anteriores deste tipo, as mulheres mostraram-se
relativamente mais propensas a oferecer atratividade física e procurar estatuto profissional, enquanto os
homens foram relativamente mais propensos a oferecer estatuto profissional e a procurar atratividade.
Este padrão foi interpretado como consistente com as expectativas tradicionais dos papéis sexuais, onde a
aparência é enfatizada para as mulheres e o estatuto para os homens. No geral, os resultados mostram
que os anunciantes exibem uma compreensão das teorias implícitas da atração: homens e mulheres
tendem a oferecer precisamente os atributos que são procurados pelo sexo oposto.

Os “anúncios pessoais” têm vindo a se tornar numa forma popular de conhecer parceiros
amorosos/sexuais (ver: biografias do tinder). Regra geral, estes anúncios tendem a incluir
descrições de ambos o anunciante e do respondente ideal. Para além da habitual informação
demográfica, como o sexo e idade, estas descrições incluem também atributos físicos, de
personalidade e de conquistas. Fora isso, estes anúncios são também uam fonte de dados
excelente para a investigação, pois: 1) os sujeitos não têm noção quê estão a ser estudados; 2)
as consequências de partilhar anúncios pessoais são mais representativas de cenários naturalistas
e não laboratoriais; e 3) os anunciantes são bons representantes da população geral, do que
estudantes universitários. Ainda, as estratégias usadas na descrição destes anúncios geralmente
baseiam-se em assunções sobre o que potenciais parceiros podem achar desejável e,
consequentemente, tendem a refletir estereótipos relativos ao que os homens e mulheres
procuram numa relação.

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Neste estudo, anúncios pessoais foram extraídos de dois jornais semanais locais em duas
cidades dos EUA. Uma amostra preliminar de 50 anúncios foi retirada do jornal de Rochester e
foi avaliada independentemente pelos 2 investigadores, um dos quais não tinha conhecimento
das hipóteses experimentais, de modo a fornecer uma medida de confiabilidade entre
experimentadores. A percentagem de concordância para categorias específicas foi: traços
expressivos 88%, traços instrumentais 93%, altura 95%, peso 95%, atratividade 93%, status 92%.
Com isto, e a partir desta concordância média de 93%, as seções pessoais do jornal de Rochester
da primeira edição de cada um dos primeiros 6 meses de 1983 foram consecutivamente
selecionadas até que 200 anúncios (100 escritos por mulheres e 100 por homens) fossem
encontrados. O mesmo foi feito para o jornal de Mineápolis. Os critérios de escolha dos anúncios
englobavam: os anúncios tinham de especificar claramente o sexo do anunciante e o sexo da
pessoa procurada; e os anúncios nos quais os anunciantes especificaram que eram casados ou
estavam à procuram parceiro de namoro do mesmo sexo foram excluídos da amostra. Os
resultados abaixo apresentados foram então baseados em 400 anúncios, 200 para cada jornal,
equilibrados por sexo.

Foram codificadas 5 categorias, baseadas numa lista de palavras-chave. No total, foram


examinadas 7 variáveis: o sexo, as características expressivas da personalidade, características
instrumentais da personalidade, altura, peso, atratividade e estatuto profissional. A análise de
dados resultou num design fatorial 2 (traço expressivo ou instrumental de personalidade ou
características físicas de altura ou peso ou características permutáveis de atratividade ou
estatuto) x 2 (direção: oferece ou procura) x 2 (sexo: homem ou mulher). Os resultados estão
apresentados na tabela abaixo.

Oferece Procura
Características Homens Mulheres Homens Mulheres
Expressivo 49 40 38 48
Traços de Personalidade
Instrumental 31 40 38 48
Altura 42 27 7 14
Características Físicas
Peso 30 31 22 5
Atratividade 37 61 38 20
Características Permutáveis
Estatuto 39 27 19 37

Como esperado, os resultados demostraram uma preferência, por parte dos homens, por
atributos físicos comparativamente com o género oposto (e.g., Bercheid, Dion, Walster, &
Walster, 1971). Homens tendem a procurar a atratividade física e a oferecer estabilidade (e.g.,
estatuto), enquanto as mulheres tendem a oferecer a atratividade física e a procurar alguém que
ofereça estabilidade (Koestner & Wheeler, 1988).

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GENDER DIFFERENCES IN CHARACTERISTICS DESIRED IN A POTENTIAL SEXUAL


AND MARRIAGE PARTNER
REGAN & BERSCHEID (1997)

Só recentemente é que os investigadores reconheceram que as qualidades consideradas desejáveis num


parceiro sexual de curto prazo podem ser diferentes daquelas procuradas num parceiro conjugal de longa
duração. Para investigar esta hipótese e explorar as diferenças entre sexos no que é considerado sexual em
oposição às características desejáveis do casamento, 70 homens e mulheres avaliaram um conjunto de 23
características como desejáveis num potencial parceiro sexual de curto prazo e num potencial conjugue
(longo prazo). Conforme a hipótese, os resultados revelaram que tanto homens quanto mulheres preferiam
um potencial parceiro sexual fisicamente atraente, e as mulheres não mostraram mais preferência do que
os homens por um potencial parceiro sexual com estatuto social ou financeiro elevado. Também como
previsto, os homens, mais do que as mulheres, preferiam um parceiro de longo prazo fisicamente atraente;
ao contrário do que era esperado, as mulheres não consideraram características como poder social ou
financeiro e diploma universitário mais desejáveis num futuro conjugue do que os homens.

Participaram 70 alunos, equilibrados por sexo, com idades entre os 17 e os 25. Nenhum dos
alunos era casado, sendo que 85.7% dos mesmos reportou já ter estado apaixonado numa aluta
da sua vida, e 44.3% reportou estar apaixonado no momento do estudo. Todos os 70
participantes eram exclusivamente heterossexuais, 51 dos mesmos já estiveram sexualmente
com algum parceiro e 48.6% disseram-se sexualmente ativos no momento do estudo.

Foi então pedido aos participantes que ordenassem individualmente as 22 características por
ordem de preferência, para um potencial parceiro sexual ou para um potencial conjugue. O
estudo constou de um design fatorial 2 (sexo do participante) x 2 (tipo de parceiro: sexual ou
conjugue). A tabela abaixo mostra os resultados do estudo, mais concretamente, a preferência
de característica como função do sexo do sujeito e tipo de parceiro. Os valores representam a
média das posições atribuídas à importância de cada atributo, sendo que quando mais baixo o
valor, mais importante é.

Parceiro Sexual Conjugue


Característica Mulher Homem Mulher Homem
Aparência física atraente 2.94 1.71 9.06 5.14
Saudável 5.11 4.63 8.77 6.91
Atencioso às necessidades do parceiro 6.37 8.20 6.37 8.94
Personalidade geral 8.11 8.09 8.74 8.77
Sentido de Humor 8.00 8.71 6.77 7.20
Autoconfiança 8.77 8.46 8.74 8.77
Easygoing 9.83 8.60 11.60 9.00
Sensível (com compaixão, gentil, capaz de partilhar e falar sobre
9.23 10.17 4.80 7.00
sentimentos, etc.)
Inteligente 9.54 10.89 5.34 5.29
Honesto ou confiável 9.66 11.71 2.63 4.94
Usa linguagem ou ações sexualmente sugestivas 12.57 8.86 19.69 18.14
Desafiante sexualmente (“hard to get”) 8.97 14.20 18.43 17.49
Criativo e artístico 10.94 12.43 13.03 13.09
Dominante 8.89 17.23 15.17 20.54
Disponível sexualmente (“easy”) 16.00 10.40 20.91 21.09
Com poder social ou financeiro (tem dinheiro, um bom trabalho, bons
13.91 14.26 14.77 15.97
carros, etc.)
Protetor 14.63 15.14 13.17 16.49
Graduado da faculdade 16.43 17.40 11.51 13.63

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Boa genética 18.31 16.37 19.97 15.20


Bom dono de casa 19.63 19.40 15.91 16.97
Religioso 19.83 19.80 17.00 15.77
Quer filhos 20.46 21.43 12.00 12.29

As qualidades consideradas desejáveis num parceiro sexual de curto prazo podem ser
diferentes daquelas procuradas num parceiro conjugal de longa duração. Os resultados do
presente estudo sugerem que homens e mulheres de facto preferem características diferentes
nos seus potenciais parceiros sexuais do que nos seus potenciais parceiros de casamento.
Especificamente, ao considerar o que é desejável em alguém com quem pretendem ter um
relacionamento romântico sério, os participantes estavam mais preocupados com atributos
internos, como traços de caráter ou características de personalidade. Ao avaliar um potencial
parceiro sexual, no entanto, as características internas foram depreciadas em favor de atributos
físicos como uma aparência atraente e saúde. Assim, as diferenças de género tendem a ocorrer
sobretudo quando as pessoas estão motivadas para parceiros de longa duração. Para parceiros
de curta duração, ambos os sexos tendem a procurar atributos como a atratividade física porque
é isso que vai suprir as suas necessidades do momento.

Na maior parte das preferências, os homens e as mulheres demonstraram uma concordância


notável nos dois tipos de parceiros potenciais. Tanto as mulheres quanto os homens classificaram
a atratividade física como a característica mais desejável num potencial parceiro sexual, e o poder
social e financeiro não foi mais preferido pelas mulheres do que pelos homens nesse potencial
parceiro. O gradual enfraquecimento dos diferentes papeis sexual, o aumento do número de
mulheres que se envolvem em atividade sexual pré-marital e a diminuição da associação entre a
atividade sexual e o casamento ou outras relações comprometidas socialmente sancionadas (por
exemplo, Sherwin & Corhett, 1985) sugere que as mulheres – como os homens – estão a começar
a diferenciar entre aqueles com quem se envolvem em atividades sexuais e aqueles com quem
se casam, e pode explicar o porquê de uma das características que a teoria e a pesquisa de base
sociobiológica indicam ser importante para as mulheres em parceiros conjugais (i.e., status social
e recursos materiais) não foi citado pelas mulheres como especialmente desejável sexualmente.
A estrutura sociobiológica, portanto, pode ser mais útil na compreensão das preferências e
processos de seleção de parceiros humanos no que toca a relacionamentos comprometidos de
longo prazo, em oposição a relações não comprometidas de prazo mais curto.

Em suma
Dadas as conjunturas da sociedade actual, as diferenças
de sexo para parceiros de longa duração começam a
desvanecer-se, sobretudo porque as mulheres têm
mais poder financeiro e são mais independentes (não
estando tão dependentes do salário do parceiro para
subsistirem e providenciarem recursos aos seus filhos).
A ausência de diferenças entre os sexos na procura de
parceiros de curta duração mantém-se na sociedade
atual.

Ainda, o aparecimento de outros fatores que promovem a atração como a inteligência, a


popularidade, a honestidade e o sentido de humor pode ser explicada pelo facto de as pessoas
poderem valorizar estas qualidades em parceiros amorosos na medida em que antecipam que
estas preencham os seus objetivos pessoais (Abele & Wojciszke, 2007; Cottrell et al., 2007).

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PARTNER PREFERENCES
WH A T C H A R A C T E R I S T I C S D O ME N A N D WO ME N D E S I R E I N T H E I R S H O R T- T E R M S E X U A L A N D
L O N G - T E R M R O MA N T I C P A R T N E R S ?

REGAN ET. AL. (2000)

Este estudo estende investigações recentes que examinaram o grau em que vários traços são preferidos
num relacionamento sexual de curto prazo versus um relacionamento romântico de longo prazo.
Estudantes universitários (N = 561) expressaram as suas preferências por 23 traços ou características num
potencial parceiro para um relacionamento "sexual de curto prazo" ou "romântico de longo prazo"
(atribuídos aleatoriamente). Em todos os tipos de relacionamento, os participantes preferiram qualidades
internas (e.g., personalidade, inteligência) num maior grau do que qualidades externas (e.g., riqueza,
atratividade física). Além disto, foram encontradas duas diferenças de sexo. Como esperado, os homens
enfatizaram os atributos relacionados à desejabilidade sexual mais do que as mulheres, e as mulheres
valorizaram as características pertencentes ao estatuto social mais do que os homens. Finalmente, tanto
homens quanto as mulheres concentraram-se na desejabilidade sexual (e.g., atratividade, saúde, desejo
sexual, atletismo) ao avaliar um parceiro sexual de curto prazo e deram mais importância à semelhança e
às características de personalidade socialmente atraentes (e.g.,, inteligência, honestidade, calor) ao
considerar um relacionamento romântico de longo prazo.

Neste estudo participaram 562 alunos (55% do sexo feminino e 45% do sexo masculino). Cada
participante recebeu um questionário de uma página intitulado de “Estudo sobre os traços
desejados num parceiro”, que incluía uma lista de 23 atributos ou características. A metade dos
participantes foi pedido que indicassem as suas preferências para um potencial parceiro sexual
de curto prazo, e à outra metade foi pedido que indicassem as suas preferências em relação a
um potencial parceiro amoroso de longo prazo, o que resultou num design fatorial 2 (sexo do
participante) x 2 (tipo de potencial parceiro). A preferência foi dada numa escala com dez pontos
percentuais onde 90% ou superior significava “gostaria que o meu parceiro fosse superior a 90%
das outras pessoas do mesmo sexo nesta dimensão”, 50% significava “gostaria que o meu
parceiro fosse igual a metade das outras pessoas do mesmo sexo nesta dimensão” e inferior a
40% significava “gostaria que o meu parceiro fosse inferior a 90% das outras pessoas do mesmo
sexo nesta dimensão”.

Na tabela abaixo estão os resultados gerais dos 562 participantes, no que toca às preferências
das características geral e em função do tipo de parceiro, ordenadas por ordem decrescente de
preferência.

Característica Geral Romântico Sexual


Honesto e confiável 85 87 84
Saudável 81 81 82
Caloroso e gentil 81 82 80
Amigável e social 79 79 80
Sentido de Humor 79 79 79
Aparência física atraente 78 77 80
Personalidade excitante 77 77 78
Expressivo e aberto 77 79 77
Sexualmente apaixonado (elevado desejo sexual) 77 76 79
Aparência sensual 76 74 79
Inteligente 76 78 74
Semelhante ao próprio em valores e atitudes 73 76 72
Ambicioso 73 75 71
Semelhante ao próprio em interesses e atividades de lazer 72 73 71

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Alto nível educacional 71 73 71


Semelhante ao próprio em habilidades sociais 69 70 69
Atlético 69 67 71
Semelhante ao próprio em características do passado 66 68 66
Alto potencial salarial 65 68 64
Criativo e artístico 62 62 63
Alto estatuto social 61 60 62
Wealthy 59 60 60
Acesso a posses materiais 58 58 59

Da tabela anterior, foram retidos apenas os itens com cargas fatoriais altas (superiores a .45),
como representado na tabela abaixo apresentada. As cargas fatoriais indicam quanto um fator
explica uma variável, podendo variar entre -1 a 1. Para este fim e para facilitar a interpretação
das cargas fatoriais, a análise fatorial foi feita com recurso a uma rotação varimax dos fatores.
Um dos itens, “criativo e artístico”, não obteve uma carga elevada em nenhum dos fatores e por
isso não foi analisado posteriormente.

Cargas Fatoriais
Fatores 1 2 3 4 5
Estatuto Social
Wealthy .831 - - - -
Acesso a posses materiais .785 - - - -
Alto potencial salarial .724 - - - -
Alto estatuto social .714 - - - -
Apelo Social
Inteligente - .823 - - -
Ambicioso - .688 - - -
Alto nível educacional - .610 - - -
Honesto e confiável - .543 - - -
Caloroso e gentil - .500 - - -
Desejabilidade Sexual
Aparência sensual - - .812 - -
Aparência física atraente - - .784 - -
Atlético - - .585 - -
Sexualmente apaixonado (elevado desejo sexual) - - .570 - -
Saudável - - .539 - -
Semelhante ao Próprio
Semelhante ao próprio em características do passado - - - .747 -
Semelhante ao próprio em valores e atitudes - - - .723 -
Semelhante ao próprio em interesses e atividades de lazer - - - .702 -
Semelhante ao próprio em habilidades sociais - - - .624 -
Personalidade Expressiva e Extrovertida
Personalidade excitante - - - - .733
Expressivo e aberto - - - - .659
Sentido de Humor - - - - .628
Amigável e social - - - - .465

Por fim, foi examinado se as preferências diferiam em função do sexo dos participantes e do
tempo de relação. Os resultados estão apresentados na seguinte tabela:

Sexo do Participante Tipo de Relação


Dimensão do Atributo Homem Mulher Sexual Romântico
Personalidade Expressiva e Extrovertida 78.60 78.24 78.18 78.33
Desejabilidade Sexual 78.40 75.07 77.71 75.16
Apelo Social 76.79 77.92 75.57 78.95
Semelhante ao Próprio 70.53 70.09 68.95 71.35
Estatuto Social 58.72 62.44 60.57 60.76

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Os resultados indicaram que as pessoas não só prestam atenção às qualidades pessoais de um


potencial parceiro (e.g., honestidade, atratividade, inteligência), mas também consideram a
probabilidade de serem compatíveis com aquele indivíduo em várias dimensões. Embora não
tenha uma classificação tão alta quanto muitos outros atributos, a semelhança foi considerada
bastante desejável. De facto, uma vasta literatura intercultural indica que a maior parte dos
indivíduos se casa com parceiros que se assemelham a eles em uma variedade de dimensões,
incluindo atratividade e estatuto socioeconómico (e.g., Bershceid, 1985; Vandenberg, 1972).

Curiosamente, das várias dimensões de similaridade que os participantes que consideraram,


a similaridade em valores e atitudes pessoais foi vista como a mais importante, seguida pela
similaridade em interesses e atividades, habilidades sociais e características do contexto (e.g.,
demográficas). Como anteriormente visto, os participantes parecem enfatizar as qualidades
internas (de similaridade) em oposição às qualidades externas ao avaliarem os potenciais
parceiros.

SEMELHANÇA VS. DISTINTIVIDADE


OPPOSITES ATTRACT OR BIRDS OF A FEATHER FLOCK TOGETHER?

Como visto no estudo acima apresentado, os participantes mostraram uma procura pela
semelhança inter-individual ao nível das atitudes, opiniões, interesses, traços de personalidade,
competências cognitivas e socioeconómicas em potenciais parceiros. Outros estudos (e.g.,
Klohnen & Luo, 2003; Singh, Ng, Ong, & Lin, 2008) mostraram que a semelhança ao nível das
atitudes e variáveis demográficas parecem ter a capacidade de atrair as pessoas. Não obstante,
diferentes tipos de semelhança pode ser mais ou menos importantes para diferentes pessoas
(Michinov & Michinov, 2001).

Pessoas semelhantes podem atrair-se uma vez que escolhem o mesmo tipo de situações. Tal
pode aumentar a probabilidade de estas se conhecerem, interagirem e/ou tornarem-se
familiares, e, assim, tornarem-se atraídas uma pela outra.

Por outro lado, existe evidência que as pessoas tendem a preferir assimetrias em dimensões
específicas. Por exemplo, Dryer & Horowitz (1997) mostraram que a combinação entre uma
pessoa dominante e uma pessoa submissa parece permitir que ambos se comportem de acordo
com a sua preferência. Outro exemplo tem a ver com o desempenho, uma vez que, quando no
mesmo domínio (e.g., profissional), o bom desempenho de um parceiro pode ser uma ameaça à
competência percebida do outro. Assim, em determinadas situações, sentimo-nos mais
confortáveis à volta de pessoas que sejam distintas de nós em domínios de performance, e somos
mais atraídos por este tipo de pessoas (Beach, Whitaker, Jones, & Tesser, 2001)

Desta forma, a compreensão da opção pela semelhança versus pelos contrastes implica a
consideração de vários fatores, como o tipo de dimensão em estudo, os significados sociais e
motivos associados ao tipo de relação, etc. Normalmente, a procura de semelhança remete para
a procura de complementaridade, e está mais associada a relações de longa duração e com a
busca de validação social. Já a procura de opostos, ou distintividade, remete para relações de
curta duração e o interesse por situações novas e excitantes.

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PERSONALIDADE

THE FIVE FACTOR THEORY OF PERSONALITY

Este modelo considera que a personalidade pode ser descrita em função de um conjunto de
cinco dimensões correspondentes ao mais elevado nível de abstração, que por sua vez são
compostas por vários traços específicos:

A extroversão, ou afetividade positiva, distingue


· Sociável pessoas predispostas a estados emocionais positivos
EXTROVERSÃO · Gregário e para se sentirem bem consigo mesmas e com o
· Assertivo
The degree to which a · mundo em geral, de pessoas caladas, reservadas e
Falador
person needs attention and · Ativo retiradas. Pessoas com altas pontuações nesta
social interaction. · Expressão dimensão são descritas como afetuosas, sociáveis,
emocional calorosas, amistosas e que procuram aventuras.

O neutoricismo, ou afetividade negativa,


· Ansiedade distingue pessoas predispostas a estados emocionais
NEUROTICISMO · Depressão negativos, que se sentem sob stresse, e que veem o
· Ira
The degree to which a · mundo e a si mesmos de forma negativa, de pessoas
Embaraço
person experiences the world · Insegurança calmas, seguras e com um bom temperamento.
as threatening and beyond · Tendencia para Embora associado a doença mental, está presente
his/her control. instabilidade em pessoas mentalmente saudáveis: toda a gente
emocional possui este traço em algum grau.

A amabilidade, o traço que permite diferenciar


AMABILIDADE · Cortesia entre as pessoas com facilidade relacional, que
· Flexibilidade
The degree to which a · ajudam, são de confiança e empáticas, de pessoas
Confiabilidade
person needs pleasant and · Cooperação com dificuldade relacional. Uma pessoa com baixa
harmonious relations with · Perdão amabilidade é habitualmente percebida como rude,
others. · Tolerância crítica suspeita, não cooperativa, pouco simpática.

· Responsabilidade
Organização A conscienciosidade, tem a ver com o grau em
CONSCIENCIOSIDADE ·
· Disciplina que a pessoa é escrupulosa, autodisciplinada,
The degree to which a · Perseverança organizada, cuidadosa e perseverante. Uma pessoa
person is willing to comply · Competência baixa em conscienciosidade é descrita como
with conventional rules, · Consideração impulsiva, descuidada e desorganizada.
norms, and standards. · Orientação para os
resultados
· Imaginação A abertura à experiência, refere-se ao grau em
ABERTURA À EXPERIÊNCIA · Curiosidade que a pessoa tem um campo alargado de interesses
· Originalidade
The degree to which a · (curiosa e independente) versus um número limitado
Inteligência
person needs intellectual · Sensibilidade de atividades a que se dedica (prática e
stimulation, change, and artística convencional), é original ou conservadora, assume o
variety. · Ações risco ou prefere evitá-lo.
· ideias

ATRAÇÃO INTERPESSOAL E PERSONALIDADE

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O papel da personalidade do observador nas características desejadas num parceiro não tem
sido alvo de investigação. Por outro lado, pessoas tendem a procurar, principalmente para
relações de longa duração, potenciais parceiros com quem partilham semelhanças a nível de
personalidade (e.g., Hoffman, 1958; Coates & Mazur, 1969; Matsuki & Matsumoto, 2020). Neste
sentido, poderá ser colocada a hipótese de que a personalidade do criador do anúncio se
correlacionará com a probabilidade de mencionar determinadas características
(especificamente, características que reflitam a sua personalidade). Por outro lado, na medida
em que, para algumas dimensões, as pessoas tendem a preferir pessoas dissemelhantes (i.e., com
traços que refletem assimetria/distintividade), será interessante analisar que traços de
personalidade se relacionam negativamente com estas características.

Para testar tais hipóteses, foi pedido a 204 estudantes universitários do ISPA (164 do sexo
feminino e 40 do sexo masculino) que, numa primeira instância, preenchessem um anúncio
pessoal e, terminado o anuncio, respondessem à escala de personalidade BFI-44 (Big-FIve
Inventory).

Para a análise dos dados, foi necessário analisar os conteúdos dos anúncios e criar categorias
de características procuradas no parceiro ideal. Depois, foi feita uma análise geral das categorias
mais mencionadas e comparada a probabilidade de menção das categorias em estudantes do
sexo feminino e masculino. Por fim, foi analisada a associação entre características de
personalidade e a probabilidade de menção das categorias.

Em relação à análise geral das categorias mais mencionadas, os resultados foram os


apresentados na tabela seguinte. Muito sucintamente, as características mais mencionadas
foram a semelhança, a amabilidade e o sentido de humor; e as menos mencionadas foram a
descrição de estabilidade, o desempenho profissional e a distintividade.

Amostra total
Características N %
Semelhança 136 66.7%
Amabilidade 114 55.9%
Sentido de humor 111 54.4%
Leal, fiel, respeitador, compreensivo 71 34.8%
Inteligência 59 28.9%
Características físicas 55 27.0%
Estabilidade 41 20.1%
Comunicação 36 17.6%
Artes 33 16.2%
Viajar, aventureiro 24 11.8%
Lutador, resiliente 24 11.8%
Ajudar os outros 24 11.8%
Descrever fisicamente 17 8.3%
Relação a longo prazo 17 8.3%
Semelhança e opostos 17 8.3%
Gostar de animais 13 6.4%
Romântico 13 6.4%
Extroversão, sociabilidade 11 5.4%
Desporto 9 4.4%
Descrever estabilidade 5 2.5%
Trabalhador 5 2.5%
Opostos 4 2.0%

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Relativamente à comparação da probabilidade de menção das categorias em estudantes do


sexo feminino e masculino, os resultados estão descritos na tabela seguinte. Brevemente, as
mulheres mostraram significativamente maior probabilidade de mencionar características nas
categorias de amabilidade; lealdade, fieldade compreensão e respeito; resiliência e “lutador”,
“trabalhador” e distintividade (“opostos”) do que os homens, tendo as diferenças mais
significativas sido vistas na amabilidade e na resiliência. Impressionantemente, os homens
tiveram maior probabilidade de mencionar estabilidade do que as mulheres.

Amostra total Feminino Masculino


Características N % % % Diferenças
Semelhança 136 66.7% 67.1% 65.0%
Amabilidade 114 55.9% 62.8% 27.5% ***
Sentido de humor 111 54.4% 55.5% 50.0%
Leal, fiel, respeitador, compreensivo 71 34.8% 39.0% 17.5% **
Inteligência 59 28.9% 28.7% 30.0%
Características físicas 55 27.0% 26.8% 27.5%
Estabilidade 41 20.1% 23.2% 7.5% **
Comunicação 36 17.6% 18.3% 15.0%
Artes 33 16.2% 15.2% 20.0%
Viajar, aventureiro 24 11.8% 12.2% 10.0%
Lutador, resiliente 24 11.8% 14.6% 0.0% ***
Ajudar os outros 24 11.8% 11.0% 15.0%
Descrever fisicamente 17 8.3% 7.9% 10.0%
Relação a longo prazo 17 8.3% 8.5% 7.5%
Semelhança e opostos 17 8.3% 9.1% 5.0%
Gostar de animais 13 6.4% 7.3% 2.5%
Romântico 13 6.4% 7.3% 2.5%
Extroversão, sociabilidade 11 5.4% 4.9% 7.5%
Desporto 9 4.4% 4.9% 2.5%
Descrever estabilidade 5 2.5% 1.8% 5.0% *
Trabalhador 5 2.5% 3.8% 0.0% *
Opostos 4 2.0% 2.4% 0.0% *

Finalmente, foi feita a análise da associação entre características de personalidade e


probabilidade de menção das categorias. No que toca à extroversão, esta mostrou-se
significativamente (i.e., variação conjunta no mesmo sentido) e positivamente associada à
amabilidade e ao viajar, e negativamente correlacionada (i.e., variação conjunta em sentidos
opostos) com as artes. Já no caso da amabilidade, como traço, esta correlacionou-se
significativamente no sentido positivo com a amabilidade (como característica) e com o viajar, e
no sentido negativo com a lealdade, a inteligência e a descrição física. O traço conscienciosidade
só teve duas associações significativas, com a resiliência (no sentido positivo) e com a
distintividade (no sentido negativo). Também o traço neuroticíssimo teve uma correlação
significativa com apenas duas características, nomeadamente uma correlação positiva com a
lealdade, e negativa com o viajar. Por fim, a abertura à experiência teve uma associação
significativa no sentido positivo com as características das categorias de inteligência, artes e
descrição de estabilidade; e no sentido negativo com a estabilidade.

Traço de Personalidade (BFI)


Abertura à
Características Extroversão Amabilidade Conscienciosidade Neuroticismo
experiência
Semelhança .13 -.04 .01 .03 .01
Amabilidade .21** .28** .12 -.05 -.03
Sentido de humor .08 -.02 -.05 -.08 -.01

Mª Matilde Silva | ISPA


139

Leal, fiel, respeitador,


.00 -.15* .03 .25** -.09
compreensivo
Inteligência -.03 -.16* .01 .00 .15*
Características físicas .13 -.06 .05 -.02 .01
Estabilidade .10 .01 .09 .07 -.16*
Comunicação -.01 -.05 -.02 .05 -.01
Artes -.16* -.03 -.03 .05 .27**
Viajar, aventureiro .21** .15* .00 -.14* .05
Lutador, resiliente .05 -.01 .17* .00 .04
Ajudar os outros -.03 .06 -.02 -.05 -.04
Descrever fisicamente .00 -.14* .03 .03 -.01
Relação a longo prazo .06 .09 .16* .00 .04
Semelhança e opostos -.04 .00 -.04 -.02 -.06
Gostar de animais -.04 -.05 .08 .08 .01
Romântico .11 .04 -.02 .03 -.01
Extroversão, sociabilidade -.05 .01 -.08 .04 -.13
Desporto -.02 -.06 .02 .03 -.06
Descrever estabilidade .09 -.03 .10 -.01 .16*
Trabalhador .01 .00 .08 .10 -.01
Opostos -.07 .01 -.16* .09 .04

Os resultados deste estudo replicam alguma evidência anteriormente sugerida na literatura


para diferenças entre sexos (e.g., procura e descrição de estabilidade) e estendem-na a algumas
características adicionais (e.g., procura por características relacionadas com amabilidade). Estes
resultados fornecem também evidência preliminar de que a personalidade do criador do anúncio
se correlaciona com a probabilidade de mencionar determinadas características que refletem a
sua personalidade (embora não para todas as dimensões de personalidade). Estes resultados
preliminares deverão ser replicados em futuros estudos, fazendo uso de paradigmas alternativos
(classificação de características previamente fornecidas; checklists) e com amostras mais
abrangentes (a nível do sexo, orientação sexual e estatuto de relação dos participantes).

Mª Matilde Silva | ISPA


140

CRENÇA NO MUNDO JUSTO E


VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA
AULA TEÓRICA 11

TEORIA DA CRENÇA NO MUNDO JUSTO


ME L V I N L E R N E R

A Teoria da Crença no Mundo Justo Foi concebida por Melvin Lerner. Lerner iniciou os seus
trabalhos em meados dos anos 60, tendo partido da sua experiência com doentes mentais,
enquanto psicólogo clínico, e com alunos de que era professor na faculdade de medicina.
Reparou que os médicos do hospital desvalorizavam e culpabilizavam os doentes mentais pela
situação em que estes últimos se encontravam e pelas dificuldades com que se confrontavam.
Observou também que os alunos tinham a mesma atitude em relação às pessoas pobres, ou seja,
consideravam que essas pessoas desfavorecidas eram responsáveis pela situação em que
estavam. O que o surpreendeu foi o facto de pessoas aparentemente “normais”, “bem
adaptadas”, em termos intelectuais e relacionais, têm estas reações que lhe parecem cruéis e
perversos10. Este facto de pessoas bem adaptadas terem comportamentos que aparentemente
pareciam perversos levou Lerner a procurar uma explicação para estes comportamentos no
campo dos fenómenos normais. A resposta de Lerner foi a formulação da teoria do mundo justo.

Lerner considera que os comportamentos relacionados com a vitimização secundária são


comportamentos funcionais essenciais para permitir que vivamos com confiança e sanidade
mental e possamos fazer planos a longo prazo. Como afirmam Lerner e Simmons (1966):

“(...) most people cannot afford, for the sake of their own sanity, to believe in a
world governed by a schedule of random reinforcements, (p. 203)”

E ainda, noutro texto:

“People want to and have to believe they live in a just world so that they can
go about their daily lives with a sense of trust, hope, and confidence in their
future. (Lerner, 1980, p. 14)”

De facto, só podemos compreender que as pessoas mobilizem esforços para um determinado


objetivo se acreditarem que existe uma relação entre o seu comportamento e o resultado

Estes comportamentos têm sido também observados por outros autores. Um dos exemplos mais conhecidos é o de
10

Ryan (1971), que constatou uma tendência para os americanos da classe média culparem os pobres por estes não
tentarem ultrapassar a situação em que se encontram. Outros estudos mostram que muitas pessoas explicam a
pobreza com base nas características e no comportamento dos indivíduos dessas classes menos favorecidas (no Reino
Unido, Hcwstone, 1989; nos Estados Unidos, Lem er & Goldberg, 1999; em Portugal, Vala, 1993). Também Wittig (1996)
refere a tendência para os observadores culpabilizarem as vítimas de injustiça social e realça o importante papel das
organizações de ajuda às vítimas para contrariar essa tendência. Estes exemplos sugerem que, muitas vezes, as vítimas,
além de terem de se confrontar com as consequências negativas provocadas pelo fenómeno que as vitimizou
Mª Matilde Silva | ISPA primária, Brickman, Rabinowitz, Karuza, Coates, Cohen & Kidder, 1982), são ainda desvalorizadas, evitadas
(vitimização
e culpabilizadas pelos observadores, ou seja, são vitimizadas uma segunda vez. Estes comportamentos dos
observadores em relação às vítimas têm sido denominados como culpabilização da vítima (Ryan, 1971) ou como
vitimização secundária (Brickman et a i, 1982).
141

(Lerner, 1965b), ou, de uma maneira mais geral, que existe uma relação entre os seus atos ou as
suas características e o seu destino (Lerner & Simmons, 1966). E essa crença tem de aplicar-se a
toda a gente, pois só essa condição lhe confere um carácter objetivo (Festinger, 1954). Se assim
for, cada pessoa tem o que merece e os acontecimentos ocorrem por razões boas e
compreensíveis. Esta crença foi designada por Lerner (Lem er e Simmons, 1966) como a crença
no mundo justo (CMJ), ou seja , os indivíduos acreditam ou que cada pessoa tem o que merece
(Lerner & Simmons, 1966), ou no merecimento, isto é, que “as coisas boas acontecem a pessoas
boas” (Lerner, 1987, p. 110) e “as coisas más acontecem a pessoas más” (Lerner, 1998, p. 251).

“(...) the belief that people get what they deserve or, conversely, deserve what
they get (...). (Lerner & Simmons, 1966, p. 204).”

MENSURAÇÃO
Para quantificar e medir a CMJ, é comumente utilizada a escala geral da CMJ de Dalbert,
Montada e Schmitt (1987), traduzida e utilizada por Correia (2001). Esta escala contém seis itens
medidos num intervalo de 1 (“discordo totalmente”) a 5 (“concordo totalmente”).

Discordo Não concordo Concordo


Discordo Concordo
Itens totalmente nem discordo totalmente
Basicamente, o mundo em que vivemos é . . . . .
justo.
De uma maneira geral, as pessoas merecem . . . . .
o que lhes acontece.
A justiça vence sempre a injustiça. . . . . .
Ao longo da vida, as pessoas acabam por ser . . . . .
compensadas pelas injustiças sofridas.
As injustiças em todas as áreas da vida (por . . . . .
exemplo, profissão, família, política) são
uma exceção à regra.
As pessoas tentam ser justas quando tomam . . . . .
decisões importantes.

FUNÇÃO
Lerner (1971a) considera que a CMJ se desenvolve quando a criança deixa de viver pelo
"princípio do prazer" para passar a viver de acordo com o "princípio da realidade". Este princípio
leva a que a criança seja capaz de desistir de uma recompensa imediata para obter uma
recompensa superior num momento posterior. Quando o faz está a acreditar que o mundo é justo,
na medida em que os seus custos e investimentos se traduzirão no resultado esperado. Assim, a
criança acredita que, se merecer o que pretende, de certeza que o obterá. Consequentemente,
segundo a teoria da CMJ, é a crença no mundo justo que está subjacente ao desenvolvimento do
“contrato pessoal” (Lerner, 1971a), através do qual as pessoas planeiam as suas ações de acordo
com o princípio do merecimento, isto é, fazem investimentos e têm custos para passarem a
merecer o que desejam e assim terem mais probabilidade de o obter. O sentimento de que se
tem direito a algo (entitled to) enquanto resultado do merecimento é, segundo Lerner (1987),
sentido como um imperativo. Quando as expectativas do sujeito são goradas surgem fortes
reações emocionais associadas à injustiça, como a raiva.

Mª Matilde Silva | ISPA


142

Assim, a CMJ assume uma importante função adaptativa. De facto, alguns estudos mostraram
que, quando as pessoas se sentem impotentes para afectar o seu próprio destino, ocorre uma
deterioração da integridade física e emocional do organismo (Seligman, 1975; Leftcourt, 1976;
Wortman & Brehm, 1975).

MECANISMOS DE CONSTRUÇÃO
Lerner (1980) propõe dois mecanismos para a construção da CMJ: as generalizações da
experiência passada, entre as quais se incluem a experiência pessoal (a associação entre atos
reprováveis e resultados negativos), bem como a sabedoria cultural e as histórias tradicionais
(e.g., a fábula da cigarra e da formiga); e o equilíbrio cognitivo que procuramos, tendendo a
agrupar o que é positivo com o que é positivo e o que é negativo com o que é negativo, de modo
a conferir harmonia aos vários elementos (Heider, 1958). Como o próprio Heider (1958) refere,
tendemos a associar a bondade e a felicidade, assim como a maldade e a punição.

Segundo a teoria da CMJ, a crença no mundo justo não desaparece com a idade adulta, e
consequentemente, todas as pessoas acreditam em certo grau no mundo justo, embora a
intensidade desta crença possa variar de indivíduo para indivíduo. Assim, segundo a teoria da
CMJ, na idade adulta, as pessoas mantêm a necessidade de diminuir a perturbação associada aos
acontecimentos injustos com que se deparam.

ABALOS E CONSEQUÊNCIAS
A crença no mundo justo pode ser ameaçada quando as pessoas se confrontam com situações
de injustiça, perdas emocionais e vivências negativas (e.g., divórcio, morte de pessoa próxima,
desemprego, doença) ou quando possuem conhecimento indireto (e.g., através dos meios de
comunicação social) de que muitas pessoas se confrontam com tragédias de natureza diversa.

Estes abalos que ameaçam a crença no mundo justo têm consequências negativas como
ameaçarem também os nossos sentimentos de segurança pessoal, de tranquilidade e de
invulnerabilidade e recorda-nos (“torna presente”) que muitos dos aspetos da nossa existência
que valorizamos e tentamos preservar podem deixar de estar presentes no futuro.

MECANISMOS DE MANUTENÇÃO
Perante estas consequências, surge então uma motivação para o restabelecimento desta
crença no mundo justo, que permitirá às pessoas diminuir a sua perceção de vulnerabilidade
relativamente a situações ameaçadoras e prosseguir as suas atividades quotidianas.

Segundo Lerner (1980), existem estratégias “racionais” e estratégias “irracionais” para evitar
que essa crença seja eliminada. As estratégias “racionais” são aquelas em que o sujeito diminui o
seu sentimento de injustiça, tentando diminuir a injustiça sofrida pela vítima, por exemplo,
através de serviços de ajuda às vítimas ou a grupos desfavorecidos. Como Lerner e Goldberg
(1999) afirmam:

“(...) if people have the needed resources and were given the opportunity to use
them, they would try to restore justice by coming to the aid of the innocent
victims, (p. 628)”

Mª Matilde Silva | ISPA


143

Um estudo que mostra que as pessoas tendem a recorrer a estratégias racionais quando estas
estão disponíveis foi o realizado por Lincoln e Levinger (1972). Estes autores mostraram que,
quando os sujeitos sabem que as suas avaliações podem ter influência no destino da vítima, e
assim têm possibilidade de reduzir a injustiça a que esta foi sujeita, avaliam a vítima tanto mais
positivamente quanto maior acham que foi a injustiça que esta sofreu. Pelo contrário, se é dito
aos sujeitos que os dados são apenas para um estudo do experimentador e os sujeitos sentem
então que não podem afetar o destino da vítima, verifica-se uma culpabilização da vítima, quer
pelos que acham que ocorreu uma injustiça, quer pelos que acham que a vítima não foi alvo de
uma injustiça. Assim, quando o observador não pode eliminar o sofrimento da vítima, pode tentar
aliviar o seu próprio sofrimento, recorrendo a estratégias “irracionais”, de modo a pensar que
nenhuma injustiça ocorreu. Referindo-se à CMJ, Lerner e Goldberg afirmam:

“Maintaining this belief is so important, and the awareness of underserved


suffering is so threatening to people, that they may resort to condemning and
blaming objectively innocent victims — victims whom, under other
circumstances, they would try to rescue and compensate because of their
obvious innocence. (Lcrner & Goldberg, 1999, p. 628) (...) the resultant anger,
sadness, fear, insecurity, helplessness, and even the grief can be relieved if one
adopts a belief system that redefines what occurred so that an injustice had
not taken place: Either the victim is not really a “good” person, or something
"bad" has not happened, (p. 635)”

Assim, segundo a Teoria da Crença no Mundo Justo (CMJ), as pessoas desenvolvem


mecanismos de defesa para diminuir a sua percepção de vulnerabilidade relativamente a
situações ameaçadoras e para poderem prosseguir as suas actividades quotidianas.

“People will arrange their cognitions so as to maintain the belief that people
get what they deserve or, conversely, deserve what they get. (…) They are seen
as deserving if they have behaved in an appropriate or recommendable fashion,
and, in another sense, are considered deserving if they are personally good and
desirable” (Lerner & Simmons, 1966, p. 204).

Estes mecanismos podem então conduzir a uma avaliação distorcida das situações de
vitimização e das vítimas e, consequentemente, à vitimização secundária. A vitimização
secundária é uma das estratégias usadas para reestabelecer a crença no mundo justo.

VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA

Consequências negativas, sofridas pelas Comportamentos dos observadores (ou das


vítimas, provocadas pelo fenómeno que as pessoas que interagem com a vítima) em
vitimizou. relação às vítimas.

Entre essas estratégias “irracionais” de vitimização secundária, contam-se a desvalorização da


vítima, a culpabilização da mesma ou a negação do seu sofrimento. Lerner (1980) refere ainda a
tendência para evitarmos tomar conhecimento, por exemplo através da televisão ou mesmo
pessoalmente, de situações consideradas chocantes e que ameaçam a CMJ, como por exemplo,
imagens de pessoas com fome ou agredidas.

Mª Matilde Silva | ISPA


144

Numa situação extrema, a negação do sofrimento pode assumir a forma de negação de um


acontecimento, como é o exemplo referido por Hallie (1971), que relata o facto de muitos
alemães que viviam na altura do regime nazi negarem a existência de assassínios em massa. Com
o exemplos de evitação da vítima, Cobb (1976) e Cobb e Erbe (1978) notam que os pacientes
oncológicos muitas vezes se queixam do distanciamento dos amigos. Também Snyder e
colaboradores (1979) observam que as pessoas tendem a evitar o contacto com pessoas
deficientes. Relativamente à desvalorização da vítima, ela tem lugar quando esta, pelo seu
carácter ou posição social, é considerada merecedora do sofrimento (atribuição de
responsabilidade moral).

A culpabilização tem lugar quando a causa do acontecimento que provocou o sofrimento é


atribuída ao comportamento da vítima (atribuição de responsabilidade comportamental).
Segundo Lerner e colaboradores (Lerner & Simmons, 1966), as pessoas começam por tentar
encontrar nos comportamentos da vítima uma explicação para o que lhe sucedeu. Se o
conseguirem, então consideram que a vítima merece o que lhe sucedeu devido aos atos que
praticou e a CMJ fica preservada. No entanto, quando não é possível a atribuição de
responsabilidade comportamental, a CMJ pode ser preservada desvalorizando a vítima
(atribuição de responsabilidade moral), de modo que esta passe a merecer o que lhe aconteceu
por ser má pessoa (Lerner & Simmons, 1966).

“(...) there seem to be two senses in which people are considered to be


deserving. They are seen as deserving if they have behaved in an appropriate
or commendable fashion, and, in another sense, are considered deserving if
they are personally good and desirable. If the person is motivated to believe he
lives in a world where he can obtain the things he want and avoid threatening
events, then it seems likely that these two paths to reward (performance versus
personal worth) can be ordered in terms of preference for the individual. It
would seem preferable to a person to believe that desired goals come as a
result of appropriate acts rather than of personal characteristics, since he is
more able to change and control his behavior than his intrinsic personal worth.”

MINIMIZAÇÃO OU
DESVALORIZAÇÃO DA NEGAÇÃO DO CULPABILIZAÇÃO DA
EVITAÇÃO DA VÍTIMA
VÍTIMA SOFRIMENTO DAS VÍTIMA
VÍTIMAS
Stein, em 1973 Snyder, Kleck, Rosenberg em Borgida & Brekke
mostrou Strenta & Mentzer em 1994 evidenciou que em 1985 mostraram
experimentalmente, 1979 observam que as muitas vezes os que muitas vezes os
que uma pessoa a pessoas tendem a observadores observadores
quem acontece algo evitar o contacto com exteriores acreditam que as
de mau, embora deficientes. minimizavam o vítimas de violação
considerada menos sofrimento de crianças agiram de modo
responsável por esse maltratadas. sedutor em relação ao
destino, é avaliada violador.
como menos atraente
do que uma pessoa
que se confronta com
um destino neutro.

Mª Matilde Silva | ISPA


145

Estas estratégias “irracionais” são consideradas por Lerner como defesas psicológicas que
reduzem a perturbação associada ao testemunho de uma injustiça ao diminuírem a perceção de
vulnerabilidade do observador.

I came to realize that this defense was needed for anyone to be able to function
for so long with so many people who were suffering, hurt, and would stay that
way for a long time (...). It was obvioulsy a self-protective device, broken
through and at times voluntarily set asside when there was a real possibility for
trying something new (...). (Lerner, 1980, p. 2).

É esta necessidade de redução da perturbação que motiva a crença no mundo justo. Assim,
segundo este autor, existe uma motivação para a reorganização das cognições quando existe
discrepância entre as características ou os atos de uma pessoa e o seu destino. A crença no
mundo justo é, portanto, motivada.

(...) people have a great need to believe in a good and just world. (Lerner &
Simmons, 1966, p. 209)

Diversos estudos de Lerner e colaboradores (e.g. Lerner & Simmnos, 1966) mostraram o
recurso a estas estratégias “irracionais” para restabelecer a CMJ, nomeadamente o recurso à
desvalorização da vítima e à culpabilização da vítima. A negação do sofrimento da vítima e a
evitação da vítima têm sido menos estudados.

Não obstante, este fenómeno tem sido identificado em situações de vitimização muito
diversas tais como: vítimas de assédio sexual; vítimas de pobreza; vítimas de cancro; vítimas
seropositivas; vítimas de desemprego; vítimas de violação; vítimas do processo de
envelhecimento.

“I STILL FEEL LIKE I AM NOT NORMAL”


A REVIEW OF THE ROLE OF STIGMA AND STIGMATIZATION AMONG FEMALE SURVIVORS OF
CHILD SEXUAL ABUSE, SEXUAL ASSAULT AND INTIMATE PARTNER VIOLENCE
KENNEDY & PROCK (2016)

Child sexual abuse (CSA), sexual assault (SA), and intimate partner violence (IPV) occur within social
contexts that shape how survivors judge themselves and are evaluated by others. Because these are
gendered sexual and intimate crimes that violate social norms about what is appropriate and acceptable,
survivors may experience stigma that includes victim-blaming messages from the broader society as well
as specific stigmatizing reactions from others in response to disclosure: this stigmatization can be
internalized among survivors as self-blame, shame, and anticipatory stigma. Stigma and stigmatization play
an important role in shaping survivors' thoughts, feelings, and behaviors as they recover: their risk of
revictimization and their help-seeking and attainment process. In this review, we synthesize recent CSA,
SA. and IPV research (N=123) that examines female survivors' self-blame, shame, internalized stigma, and
anticipatory stigma as well as negative social reactions in response to survivors’ disclosure. We highlight
critical findings as well as implications for research, practice. and policy, and we note gaps in our current
knowledge.

A VITIMAÇÃO SECUNDÁRIA NA INTERAÇÃO ENTRE AS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA


NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE E O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL
SÁ (2020)

Mª Matilde Silva | ISPA


146

O presente estudo tem como objetivo dar a conhecer a interação entre as vítimas de violência nas
relações de intimidade e o Sistema de Justiça Criminal (polícia, ministério publico e tribunal), bem como se
desta interação resulta o fenómeno da vitimização secundária.

Através de 71 questionários respondidos por vítimas divididas em dois grupos – um com acesso a um
programa especializado e outro sem – retiramos algumas conclusões no que toca ao contacto das vítimas
com o sistema e ao resultado que estas obtiveram.

Os resultados sugerem que a vitimização secundária, medida através de duas dimensões, a


comportamental e emocional, existe, embora em pouca quantidade e que o programa especializado não
parece ter efeito na prevenção da vitimização secundária uma vez que nem sempre esta foi menor no
grupo experimental.

Com o conhecimento obtido acerca desta interação, chegamos à conclusão de que, embora sem
diferenças significativas entre grupos, o grupo experimental tende a apresentar resultados mais positivos
relativamente à polícia mas não em relação ao Ministério Público e Tribunal, sendo nesta última entidade
onde se concentra o volume mais elevado de vitimização secundária.

Descobrimos que a vitimização secundária se traduz muito mais em emoções negativas do que através
dos comportamentos desadequados praticados pelas entidades.

Por fim, a vitimização secundária está negativamente correlacionada com o contacto positivo com as
entidades e o resultado positivo da ação institucional, o que significa que quanto melhor forem for a
avaliação das vítimas acerca do contacto com as vítimas e melhor for o resultado, menor será a vitimização
secundária. Por outro lado, a vitimização secundária está positivamente relacionada com a reincidência e
o sentimento de insegurança, sugerindo que os casos com mais vitimização secundária são também os
casos mais reincidentes e em que as vítimas se sentem menos seguras.

“NO PIOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS”


O P E N S A ME N T O C O N T R A F A C T U A L E A P E R C E P Ç Ã O D O C R I ME D E V I O L A Ç Ã O C O N T R A A S
MU L H E R E S

MA R T I N S ( 2 0 1 1 )

A avaliação do desenlace de determinada situação, por nós experienciada ou observada, é realizada,


boa parte das vezes, com base em alternativas imaginadas para a mesma, alternativas que concorrem para
um outro remate final e que podem consistir em eliminar, substituir ou distorcer os seus antecedentes
temporais ou causais.

Estas simulações mentais são designadas, na literatura, de pensamentos contrafactuais e decorrem da


nossa propensão para gerar, espontaneamente, vários mundos possíveis nos quais os eventos se
configuram com um desfecho diferente, principalmente, ainda que não só, quando esses eventos nos são
adversos, provocando-nos, nomeadamente, reacções afectivas negativas.

Desde o trabalho basilar de Kahneman e Tversky (1982a) que múltiplos estudos se têm desenvolvido,
debruçando-se, em particular, sobre três vertentes distintas: as leis que governam esta forma de proceder
à reversão do passado, as suas consequências e funções e a sua relação com a atribuição causal.

Quanto à primeira, tem sido possível concluir que existem constrangimentos ao nível do pensamento
contrafactual, ou seja, que o mesmo é regido por regras, as quais determinam a maior ou menor
mutabilidade de uns antecedentes relativamente a outros.

Mª Matilde Silva | ISPA


147

No que respeita à segunda, verifica-se que o processo referido não é psicologicamente inócuo pois,
uma vez ativado, afeta um vasto leque de julgamentos e sentimentos, servindo, paralelamente, várias
funções. À abordagem funcional do pensamento contrafactual veio juntar-se a asserção, e posterior
comprovação empírica, de que este poderia ser nefasto para alguns sujeitos, nomeadamente para aqueles
que se encontrassem deprimidos, como é o caso das vítimas de violação.

Por fim, os estudos dedicados à sua relação com o processo de atribuição causal têm defendido
posições díspares, compondo uma controvérsia ainda persistente.

Na presente dissertação analisámos o pensamento contrafactual acerca da violação e a perceção deste


crime, versando sobre as três vertentes enunciadas, com o objetivo de produzir um conhecimento mais
aprofundado acerca do mesmo.

Paralelamente, inspirados nos trabalhos de Byrne (2005) e de Mandel e Lehman (1996), estudámos o
grau de mutabilidade dos comportamentos proibidos da vítima em termos do não cumprimento de normas
de segurança, explorando, desta forma, uma variável escassamente abordada, a qual designámos de fator
prevenção.

Foram realizados 13 estudos, maioritariamente de natureza experimental e com recurso a cenários,


agrupados em cinco séries de acordo com a lógica e propósitos subjacentes.

Os resultados evidenciaram uma tendência preponderante e consistente para a focalização em


comportamentos da vítima, mesmo perante outros antecedentes disponíveis. Estes são discutidos em
termos da funcionalidade do pensamento contrafactual junto de observadores e de vítimas de violação, e
das potenciais consequências daí decorrentes, nomeadamente no que respeita a um discurso que pode
configurar uma situação de heterovitimização secundária e ao comprometimento do suporte social a ser
prestado às mesmas.

CENTRAÇÃO
Os pensamentos contrafactuais podem ser categorizados em termos do seu elemento focal,
ou seja, do alvo sobre o qual versam: O próprio, os outros ou elementos alheios, inerentes à
situação ou característicos da envolvente.

No que respeita à centração, qual o elemento focal predominante destes pensamentos? A


vítima? O agressor? Uma outra componente externa? Decorrentes da análise do conteúdo e da
centração dos contrafactuais permitiram concluir, até aqui, que estes giram, na sua maioria, em
torno das (in)acções da vítima, daquilo que ela podia, devia ou não devia ter feito, indo, assim, ao
encontro dos trabalhos anteriores. A sequência dos estudos desenvolvidos até aqui sustenta a
hipótese de que a centração dos contrafactuais sobre a vítima se deve, em grande medida, à
controlabilidade percebida dos seus comportamentos, por contraposição àquela associada ao
agente e a outros fatores externos.

DIREÇÃO
A direcção constitui uma dimensão avaliativa, segundo a qual é possível classificar os
pensamentos contrafactuais em dois subtipos: ascendentes (upward) e descendentes
(downward). Os contrafactuais ditos ascendentes são aqueles que representam uma situação

Mª Matilde Silva | ISPA


148

cujo desfecho é mais desejável do que o factual; pelo contrário, os contrafactuais


descendentes referem-se a resultados contrafactuais mais desfavoráveis do que os obtidos.

Em termos da direcção, serão ascendentes ou descendentes, isto é, as alternativas imaginadas


redundarão num resultado melhor ou pior do que o original? As participantes produziram
contrafactuais apenas ascendentes, ou seja, ao reverterem o sucedido imaginaram, sempre, um
desfecho melhor do que o factual.

REVERSÃO “IRRACIONAL” DO CRIME


Quais os antecedentes mais modificados no caso do pensamento contrafactual acerca do
crime de violação contra as mulheres, ou seja, quais os factores de mutabilidade primordialmente
subjacentes às regras que regem esta reversão mental? A tendência identificada para a reversão
do crime foi, por ordem decrescente, nos elementos “portas do carro”, “trajecto excepcional” e
“fuga”.

IMPLICAÇÕES EM TERMOS DE MEDIDAS DIRETAS DA


VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA (MINIMIZAÇÃO DO SOFRIMENTO
PSICOLÓGICO E FÍSICO NO CASO DA EXCECIONALIDADE DO
COMPORTAMENTO).

JUSTICE IN OUR WORLD AND IN THAT OF OTHERS


B E L I E F I N A J U S T WO R L D A N D R E A C T I O N S T O V I C T I MS

AGUIAR, VALA, CORREIA, & PEREIRA (2008)

Foram realizados dois estudos que analisaram as reações das pessoas ao sofrimento de
vítimas pertencendo ao endogrupo e ao exogrupo. Os resultados de ambos os estudos
demonstraram que a vítima do endogrupo é mais ameaçadora para a crença no mundo justo do
que a vítima do exogrupo. A vitimização secundária esperada da vítima do endogrupo foi obtida
apenas no segundo estudo quando foi utilizada uma non-obtrusive derogation measure.

“NEM TODAS AS VÍTIMAS IMPORTAM”


C R E N Ç A S N O MU N D O J U S T O , R E L A Ç Õ E S I N T E R G R U P A I S E R E S P O N S A B I L I Z A Ç Ã O D E V Í T I MA S

MO D E S T O & P I L A T I ( 2 0 1 7 )

Este estudo investigou, de um modo geral, o processo de responsabilização de vítimas no


contexto das relações intergrupais a partir da hipótese do mundo justo. Mais concretamente,
estudou o papel moderador da categoria social da vítima na relação entre as dimensões explícita
e implícita das crenças no mundo justo (CMJ) e o processo de responsabilização de vítimas.

De acordo com a hipótese do mundo justo (Lerner, 1980), o quanto as pessoas acreditam que
o mundo é um lugar justo é um fator que ajuda a explicar a reação a episódios de vitimização.
Não é qualquer situação de vitimização que gera uma ameaça à manutenção da CMJ: diferentes
vítimas oferecem diferentes ameaças à CMJ dos indivíduos. Uma vítima inocente, cujo sofrimento
persiste, parece ser o tipo mais ameaçador à manutenção da CMJ (Correia & Vala, 2003; Lerner

Mª Matilde Silva | ISPA


149

& Simmons, 1966). Por outro lado, usualmente as pessoas estão interessadas no que ocorre em
“seu próprio mundo”, de modo que o confronto com vítimas de outros contextos e grupos parece
ser menos ameaçador (Lerner & Miller, 1978)

Verificou-se que a categoria social da vítima interfere na relação da CMJ com a


responsabilização, uma vez que a CMJ (explicita e implícita) influenciou a responsabilização
apenas de vítimas do endogrupo. Estes dados corroboraram a hipótese de que vitimas do
endogrupo são mais ameaçadoras para crença no mundo justo, indicando a importância de
considerar a categoria social da vítima para um adequado entendimento da hipótese no mundo
justo. Esse efeito restrito a membros do endogrupo pode ser interpretado pelo entendimento
que membros de grupos-alvo de estereótipos e preconceito podem ser percebidos como fora do
escopo da justiça. Desse modo, injustiças que ocorrem com esses membros não ameaçam a CMJ
dos indivíduos.

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150

REVISÃO
Esta componente constitui um resumo dos tópicos abordados, na unidade curricular, ao longo do semestre.
Não deve ser entendida como uma indicação quanto ao que possa ser considerado “mais” ou “menos
importante” nem quanto ao que possa ser alvo de avaliação em contexto de exame. Para este, tudo o que
foi lecionado, quer nas aulas teóricas, quer nas aulas teórico-práticas, é elegível.

INFLUENCIA SOCIAL
FACILITAÇÃO E INIBIÇÃO SOCIAL
· Introdução à influência social (conceitos, processos);
· A “intenção” e a “consciência de” na inibição social;
· A facilitação social (Triplett, Allport, Efeitos de audiência e de coacção);
· A inibição social;
· Explicações para estes dois processos opostos (Zajonc e a activação fisiológica x acessibilidade
das tarefas, explicações para a alteração dos níveis de activação fisiológica: os outros levam
à distracção e apreensão);
· Implicações e aplicações.

ASH E O CONFORMISMO
· A experiência original;
· Tipologia de sujeitos críticos;
· Algumas das variações experimentais.

OBEDIÊNCIA E DINÂMICAS GRUPAIS


· Estudos de campo (e.g., “The Hofling Hospital Experiment”), História da humanidade;
· O que leva as pessoas a obedecerem cegamente? (e.g., estado agêntico e difusão de
responsabilidade, motivação para a consistência e escalada, normas sociais, legitimidade da
autoridade, auto-justificação e condenação da vítima, outros fatores);
· Fenómenos e dinâmicas grupais (The Standford Prison Experiment: os papéis socias,
desindividualização e anonimato, difusão de responsabilidade, pensamento grupal e
polarização colectiva);
· Implicações e aplicações.

MILGRAM E A OBEDIÊNCIA
· A experiência original;
· Resultados vs. as previsões dos especialistas;
· Algumas das variações experimentais.

NORMAS SOCIAIS
· Definições, dupla faceta e tipos de normas (reciprocidade social, responsabilidade social e
compromisso social; obediência à autoridade);
· Sherif e os estudos sobre a normalização (objectivos, ponto de partida, método, resultados e
conclusões das experiências Individuais e experiências de grupo)

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O BYSTANDER EFFECT
· O assassínio de Kitty Genovese;
· Definição;
· Conflito entre normas prescritiva e descritiva;
· O estudo de Darley e Latané (1968): explicações dos autores para a apatia dos bystanders;
· Modelo de tomada de decisão de 5 etapas (Latané & Darley, 1970).

INOVAÇÃO
· Os indivíduos possuem apenas duas alternativas (independência e conformismo)? Então,
como é que o sistema muda?;
· Do paradigma funcionalista (controlo social: normalização, conformismo, obediência) ao
paradigma genético (mudança social: inovação);
· Como Moscovici revisita Asch “de pernas para o ar”
· A experiência de Moscovici, Lage e Naffrechoux (1969) (método, resultados, conclusões);
· Dois tipos de minorias (activa e anômica);
· Factores determinantes para a influência minoritária (estilo comportamental percebido:
consistência sincrónica e diacrónica e auto-confiança);
· Definição de inovação e fases do processo (Revelação, Incubação e Conversão);
· Síntese da IS;
· Dois tipos de influência social (informativa e normativa).

DESVIACCIONISMO
· A experiência de Schachter (1951);
· Desvio, rejeição e comunicação;
· Operacionalização das variáveis, método, resultados;
· A replicação de Wesselmann et al. (2014).

RELAÇÕES INTERGRUPAIS
ABORDAGEM DA IS E ESCOLA DE GENEBRA
· Definição de grupo social (perspectiva das relações intergrupais);
· Conceitos introdutórios (auto-conceito, auto-estima, identidade social,…);
· A abordagem da Identidade Social e a categorização social;
· Questões que motivaram Tajfel e Turner e pressupostos;
· A hipótese da competição social (Turner, 1972, 1973, 1978);
· Limitações da TIS;
· A Escola de Genebra (Efeito do cruzamento das pertenças categoriais e Modelo das Relações
de Poder Simbólico)

O PARADIGMA DOS “GRUPOS MÍNIMOS”


· Objetivo;
· Situação socialmente “vazia”;
· Experiência (método e principais resultados).

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GÉNESE E REDUÇÃO DO PRECONCEITO


· Preconceito e discriminação social negativos: definições (Allport), interligação e
origens/causas;
· Teorias acerca da origem do preconceito (nível intra-individual: frustração-agressão,
personalidade autoritária, espírito fechado; nível inter-individual: congruência de crenças;
nível intergrupal: privação relativa; conflitos realistas);
· Redução do preconceito (Descategorização, Recategorização e Diferenciação mútua);
· A abordagem de Gaertner et al. (2000) à Caverna dos Ladrões.

TCR E “A CAVERNA DOS LADRÕES”


· A Teoria dos conflitos realistas e os estudos de Sherif et al. (Ratlers vs. Eagles);
· Cada etapa;
· Objectivos supra-ordenados e condições para a cooperação.

RESPOSTAS A UMA IS DESADEQUADA


· Definição de minoria social e consequências da pertença a grupos minoritários. O caso
particular da auto-estima;
· Como defender a auto-estima?;
· Estratégias de defesa da auto-estima individual ou de auto-protecção (processos de
atribuição causal e comparações intra-grupais vs. intergrupais);
· Mobilidade social (psicológica e física): caracterização, benefícios, custos e requisitos:
· Mudança social (criatividade social, recategorização, competição social).

O “EFEITO DA OVELHA NEGRA”


· Em que consiste;
· O trabalho de Marques et al. (1988, Estudo 2): objectivo, hipótese geral e específica, método,
principais resultados, conclusões).

NOVAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO


· Mudanças no contexto social (normas e valores) relativamente à expressão aberta do
racismo;
· Consequências: do racismo flagrante para o racismo subtil (o conflito interno segundo
Allport, a desejabilidade social);
· Os racismos moderno, aversivo e ambivalente;
· Implicações em termos de mensuração e novas medidas: essencialização e infrahumanização
dos exogrupos.

NOVAS EXPRESSÕES DO RACISMO


· O racism moderno;
· O estudo de Monteith & Spicer (2000): Contents and correlates;
· “Bystander effect”: O estudo de Gaertner & Dovidio (1977);
· Decisões em contexto jurídico: O estudo de Hodson et al. (2005);
· Branqueamento: O estudo de Lima & Vala (2005).

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FENÓMENOS INTERPESSOAIS
ATRAÇÃO INTERPESSOAL
· Conceptualização;
· Fatores/variáveis que influenciam a atração interpessoal;
· Alguma evidência empírica (proximidade física e frequência de interacção, estado de espírito
positivo, activação fisiológica);
· Abordagens e teorias explicativas (teorias da consistência cognitiva).

FATORES DA ATRAÇÃO INTERPESSOAL


· Personal ads e diferenças de género;
· Procura de semelhança vs. Distintividade;
· Diferenças de género x Parceiros de curta vs. longa duração;
· Outros fatores que promovem a atração interpessoal.

ATRAÇÃO INTERPESSOAL E BIG FIVE


· O papel da personalidade do observador, criador do ad;
· Análise geral das categorias mais mencionadas;
· Comparação da probabilidade de menção das categorias em estudantes do sexo feminino e
masculino;
· Análise da associação entre características de personalidade e probabilidade de menção das
categorias.

CRENÇA NO MUNDO JUSTO


CRENÇA NO MUNDO JUSTO
· A teoria;
· Mensuração;
· Função;
· Mecanismos de construção;
· Abalos e consequências;
· Reparação, conserto.

VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA
· Definição;
· Vitimização Secindária enquanto estratégia de manutenção da CMJ;
· Formas e mensuração;
· O caso das vítimas de violação (o estudo de Sá, 2020; a expressão do PCF segundo Martins,
2011; Kennedy & Prock, 2016).

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FICHAS
FICHA 2
“OS MEMBROS DO ENDOGRUPO SÃO SEMPRE AVALIADOS DE FORMA MENOS EXTREMADA DO QUE
OS MEMBROS DO EXOGRUPO, MESMO QUANDO SE TRATAM DE MEMBROS INDESEJÁVEIS.” COMENTE
A FRASE (VERIFICANDO A SUA VERACIDADE), JUSTIFICANDO À LUZ DO EFEITO “OVELHA NEGRA”
ESTUDADO POR MARQUES E COLABORADORES (1988) – FOCANDO A FORMA COMO O SEU ESTUDO
FOI OPERACIONALIZADO E OS RESULTADOS QUE SUSTENTAM ESTE EFEITO.

De acordo com a Teoria da Identidade Social podemos concluir que a afirmação é falsa pois
esta teoria diz-nos que os indivíduos avaliam de um modo mais extremo os membros desejáveis
e indesejáveis do endogrupo comparativamente aos membros desejáveis e indesejáveis do
exogrupo, e não que os membros do endogrupo são avaliados de forma menos extremada que
os do exogrupo. Desta forma, os membros desejáveis do endogrupo são avaliados de forma mais
positiva do que os membros desejáveis do exogrupo e os membros indesejáveis do endogrupo
são avaliados de forma mais negativa do que os membros indesejáveis do exogrupo. Este efeito
surge porque existe uma tendência para desvalorizar os membros do próprio grupo cujo
comportamento/atitudes possa afetar negativamente a identidade social do grupo. Esta
desvalorização dos membros do endogrupo indesejáveis ocorre como uma estratégia cognitiva
utilizada para preservar um sentido de identidade positiva do grupo como um todo.

A hipótese geral de Marques e colaboradores era de que o “Efeito Ovelha Negra” se deve à
relevância do comportamento dos membros do endogrupo, comparativamente aos membros do
exogrupo, para a identidade social dos sujeitos.

Para testar a hipótese, juntaram um grupo de participantes belgas que se teriam voluntariado
para participar num estudo sobre vários aspetos da vida dos estudantes no campus universitário.
Foi dito aos participantes que um inquérito anterior havia demonstrado que os estudantes do
campus universitário viam uma série de comportamentos exibidos por determinados grupos de
pessoas como sendo importantes e frequentes, sendo os sujeitos depois convidados a avaliar
esses comportamentos numa escala com 7 pontos, onde 1 significava “discordo” e 7 “concordo”,
com base em 5 traços: simpático, sociável, acolhedor, alegre, comunicativo.

De seguida, e no que toca à manipulação experimental da experiência, foi solicitado aos


sujeitos que julgassem estudantes, africanos ou belgas, que aderiam ou não à norma genérica ou
exclusiva (design fatorial 2x2). Assim, as condições experimentais eram: norma genérica x
situação favorável (aderir à norma); norma genérica x situação desfavorável (desviar da norma);
norma exclusiva x situação favorável (aderir à norma); norma exclusiva x situação desfavorável
(desviar da norma);

Assim, as variáveis manipuladas foram o grupo de pertença dos estudantes descritos –


africanos (exogrupo) ou belgas (endogrupo); a adesão (condição favorável) ou desvio (condição
desfavorável) à norma; e o tipo de norma – genérica (facultar os apontamentos das aulas aos seus
colegas) ou exclusiva (colocar o estudo acima do divertimento). Estas normas foram selecionadas
com base num pré-teste que identificou quais os comportamentos mais representativos da
categoria geral de estudantes e quais os exclusivos dos estudantes belgas daquela universidade.

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155

A norma genérica aplicava-se a uma categoria geral que incluía membros do endogrupo e do
exogrupo (categoria supraordenada dos “estudantes”). A norma exclusiva aplicava-se,
exclusivamente, a membros do endogrupo.

Resumidamente, os resultados do estudo demonstram que os sujeitos avaliaram de forma


muito mais negativa os elementos indesejáveis do endogrupo do que os elementos indesejáveis
do exogrupo. Na condição de norma genérica não se verificou diferenças significativas entre a
avaliação dos membros desejáveis e indesejáveis do endogrupo e do exogrupo, no entanto, na
condição de norma exclusiva, os sujeitos avaliaram os os elementos desejáveis do endogrupo de
forma mais favorável do que os elementos desejáveis do exogrupo e depreciaram os sujeitos
indesejáveis do endogrupo, verificando-se assim um extremismo avaliativo. A hipótese dos
autores de que o efeito de Ovelha Negra ocorreria apenas para a norma exclusiva do endogrupo
foi sustentada, uma vez que somente esta será relevante para a identidade social dos sujeitos no
contexto em análise.

Em conclusão, verifica-se que os sujeitos indesejáveis do endogrupo são avaliados mais


negativamente do que membros indesejáveis do exogrupo, especialmente quando os seus
comportamentos são relevantes para a identidade social do grupo, realçando assim a flexibilidade
das pessoas relativamente aos aspetos da identidade social que são usados num julgamento. O
favoritismo é também evidente, uma vez que os sujeitos avaliam de forma mais extrema, tanto
positiva como negativamente - em relação aos membros desejáveis, no endogrupo estes são
avaliados de forma mais positiva do que os do exogrupo, já os membros indesejáveis do
endogrupo são avaliados de forma mais negativa do que os membros do exogrupo, pois estes
põem em causa da identidade social dos sujeitos.

FICHA 3
DE ACORDO COM MOSCOVICI, LAGE E NAFFRECHOUX (1969), PODEMOS CONSIDERAR QUE A
SEGUINTE AFIRMAÇÃO É FALSA, UMA VEZ QUE, E SEGUNDO O PARADIGMA QUE DESCREVEREMOS
ABAIXO, UMA MINORIA DE INDIVÍDUOS É CAPAZ DE PROMOVER TANTO A ACEITAÇÃO PRIVADA.

Moscovici reinterpretou as investigações de Asch, virando-as “de pernas para o ar”. Enquanto
Asch demostrou que a maioria tem um impacto significativo no comportamento da minoria,
Moscovici chamou a atenção para o facto dessa maioria laboratorial (i.e., os comparsas do
paradigma de Asch), no mundo real, serem de facto uma minoria. Foi, então, esta minoria
extralaboratorial (minoria de facto) que, por um lado, teve influência na aceitação pública do
sujeito crítico, mas, por outro lado, não modificou em grande escala a aceitação privada destes
últimos. Para Moscovici, isto é explicado pelo facto do sujeito crítico, embora minoritário num
contexto laboratorial, ser uma maioria de facto no contexto fora do laboratório. Assim, e de
acordo com Moscovici, Asch foi o primeiro a demostrar que a minoria consistente pode modificar
o comportamento de uma minoria, e foi com base neste reinterpretação que desenvolveu o seu
paradigma experimental mais conhecido.

Neste seu estudo, p autor dividiu os participantes (estudantes de arte, direito e ciências
sociais, todos do sexo feminino), em dois grupos, sendo estes o grupo experimental e o grupo de
controlo. Ambos grupos tinham 6 sujeitos, no entanto, o Grupo Experimental era composto por
4 sujeitos ingénuos (sujeitos cíticos) e 2 comparsas do experimentador, enquanto o Grupo de

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Controlo era composto por 6 sujeitos ingénuos. A experiência foi apresentada aos sujeitos como
um estudo sobre a perceção de cores e era constituída por 4 fases.

A primeira fase consistia num teste de acuidade visual, cujos principais objetivos eram eliminar
indivíduos com problemas de visão e levar os participantes a perceber que todos possuíam uma
visão normal (isto era relevante para a interpretação das respostas dos comparsas por parte dos
sujeitos ingénuos). A segunda fase consistiu na projeção de 24 diapositivos com 2 graus de
luminosidade e de cor de filtro azul – nesta fase o experimentador perguntava qual a cor do
diapositivo, e os participantes tinham de responder, em voz alta (contexto público), a cor e a
luminosidade, estimando numa escala de 1-5 – é também importante referir que os comparsas,
na condição do grupo experimental, estavam sempre no 1º e 2º lugar OU em 1º e 4º lugares e
respondiam sempre “verde” à primeira pergunta do experimentador (e respondiam à segunda
pergunta segundo a sua perceção). Nesta fase é possível identificar a 1ª variável dependente, isto
é, o número de respostas “verde” fornecidas pelos sujeitos ingénuos. Na terceira fase era passado
aos participantes o teste de Farsnworth, apresentando a prova como um teste para estudar os
efeitos da fadiga na perceção das cores (contexto privado), nesta fase percebemos a 2ª variável
dependente, sendo esta as respostas fornecidas pelos sujeitos ingénuos, especialmente no caso
das séries de círculos que variavam gradualmente do azul para o verde. Na quarta, e última fase,
era administrado um questionário individual (avaliação da minoria), e havia uma breve explicação
da situação. Na quarta fase, a minoria foi negativamente avaliada pelos participantes críticos,
sendo vistos como menos competentes, mas mais autoconfiantes.

Comparativamente ao grupo de controlo, o grupo experimental obteve uma maior


percentagem de respostas “verde”, o que permite verificar uma aceitação pública da influência
da minoria. Esta influência pode ainda ser visível, uma vez que na condição de controlo mais de
95% dos participantes responderam com consistência “azul” a todos os diapositivos, sendo que
essa percentagem baixou para 43% na condição experimental. Por sua vez, no teste de
Farnsworth os participantes da condição experimental designavam um maior número de círculos
da gama azul/verde como “verdes” do que os participantes da condição de controlo. Esta
diferença entre condições deve ser considerada como uma medida de aceitação privada da
maioria da influência da minoria.

Nas variações experimentais ao paradigma original, os autores verificaram que esta minoria
necessita de apresentar um conjunto de características, ou seja, não pode ser uma minoria
qualquer. Desta forma, primeiramente a minoria deverá ter a capacidade de induzir a perceção
da sua consistência nas suas respostas e em seguida deverá ser capaz de responder com
autoconfiança. No que toca à consistência, esta deverá ser tanto sincrónica (uma vez que
apresenta unanimidade entre elementos da minoria), como diacrónica (pois ao longo do tempo
a minoria apresenta-se consistente).

Conclui-se então, e no que toca aos tipos de aceitação, que um emissor minoritário
consistente, mesmo que percebido como incompetente, mas autoconfiante, pode levar à
aceitação privada da sua influência, independentemente da sua aceitação pública. Estes
resultados demonstram também que uma minoria de indivíduos pode ter um impacto
(moderado) nas respostas públicas de uma maioria em relação a um objeto de julgamento que
se pode considerar como objetivamente não ambíguo.

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FICHA 4
EXPLIQUE EM QUE CONSISTE A ATRAÇÃO INTERPESSOAL (TENDO EM CONTA O DESENVOLVIMENTO
DESTE CONCEITO AO LONGO DO TEMPO) E INDIQUE – COM BASE EM EVIDÊNCIA EMPÍRICA – DE QUE
FORMA A PROXIMIDADE FÍSICA PODERÁ INFLUENCIAR A PROBABILIDADE DE NOS SENTIRMOS
ATRAÍDOS POR ALGUÉM. DESCREVA O ESTUDO EM QUE BASEAR A SUA RESPOSTA.

A atração interpessoal começa por ser conceptualizada como atitude, sendo definida por
Newcomb em 1961, como orientação avaliativa de A relativamente a B (Newcomb, 1961). O
conceito de atitude, que implica a localização de um objeto do pensamento numa dimensão
avaliativa, constituía um molde ideal para a conceptualização da atração interpessoal, sendo
apenas necessário especificar que o objeto de pensamento se referia a uma outra pessoa. As 3
componentes (cognitivo, afetivo e comportamental), tradicionalmente incluídas sob a noção de
atitude, passaram a constituir as 3 dimensões da atração interpessoal. Muito sucintamente, a
componente cognitiva remete para crenças acerca da outra pessoa, a componente
afetiva para sentimentos e emoções positivas que uma pessoa experimenta na interação com
outra pessoa e relativamente a essa outra pessoa e a componente comportamental as ações de
uma pessoa que objetivamente a aproximam de e/ou favorecem uma outra pessoa, isto é,
as intenções comportamentais de uma pessoa relativamente à outra pessoa.

Ao longo do tempo, os autores vieram complementando esta conceptualização atitudinal


através da ênfase nos aspetos motivacionais da atração, fazendo notar que a atração caracteriza
tanto as avaliações que os percipientes (pessoa que experiência atração) fazem dos alvos (pessoa
que inspira atração numa outra pessoa), como o seu desejo de iniciarem contacto ou de
estabelecerem intimidade com eles. A atração é, então, definida como a tendência para avaliar
positivamente e buscar proximidade com um alvo ao qual não somos ainda próximos.

A atração interpessoal tende a aumentar com a proximidade física entre as pessoas e a


frequência com que estas interagem, fatores que, muitas vezes, estão associados. Um estudo que
demostra bem este facto é o realizado por Newcomb, em 1963. Newcomb ofereceu estadia numa
residência a dois grupos de 17 estudantes do sexo masculino da Universidade de Michigan, em
troca de serem observados durante períodos de 4 meses em 2 anos sucessivos. Em cada grupo,
os estudantes, de início totalmente estranhos entre si, passaram a viver e a tomar as refeições
juntos nessa residência. O interesse do investigador centrou-se nas relações intragrupais que se
formaram posteriormente, sendo o objetivo do estudo o de estudar o fenómenos por detrás das
pessoas se conhecerem e tornarem próximas (i.e., getting acquainted).

A atração foi medida por meio de uma classificação que consistia em ordenar os membros do
grupo por preferência, e por uma escala de avaliação de 100 pontos relativa à “favorabilidade de
sentimento” para cada membro do grupo. As atitudes mútuas em relação a determinados objetos
eram medias regularmente (quase todas as semanas). Para o propósito deste estudo, os fatores
que definem uma relação equilibrada para um indivíduo são, de acordo com Heider (1958): o seu
grau de atração, positivo ou negativo, face a outro indivíduo; a sua atitude, favorável ou
desfavorável, face a algum objeto (pessoas, questões, e abstrações como valores gerais) e; a
atitude do segundo indivíduo, tal como percebida pelo primeiro indivíduo, em relação ao mesmo
objeto. Existe um estado de equilíbrio entre estes fatores enquanto a atração for positiva e o
indivíduo perceber que as suas atitudes são semelhantes com as dos outros. Os resultados

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mostraram um desenvolvimento de atitudes mútuas favoráveis e ainda preferência por relações


psicológicas equilibradas, entre os três elementos de Heider acima mencionados (nota: existe
uma relação equilibrada quando P gosto de O, O gosta de X, P gosto de X).

Outro estudo que demostra a influencia da proximidade física e da frequência de interação é


o estudo clássico de Festinger e companheiros, de 1950), onde foram usadas entrevistas e outras
técnicas de mensuração sociométricas para estudar a amizade e comunidade num grupo de 260
estudantes casados foi temporariamente realocado para um projeto de alojamento construído e
gerido pelo M.I.T.. Os resultados mostraram uma forte relação entre a escolha sociométrica de
amigos e a distância física, sendo o maior número de escolhas feito pelas pessoas que viviam
próximas umas das outras. À medida que esta distância aumentava, os contactos sociais
diminuíam. Assim, estes fatores determinavam o desenvolvimento de relações de amizade.
Ainda, os residentes mais populares eram aqueles cujos apartamentos estavam localizados perto
das escadas ou perto da área da caixa de correio, onde tinham oportunidades extras de interagir
com outras pessoas. Os benefícios da proximidade são particularmente importantes se não
houver outras razões pelas quais as pessoas possam se reunir

Desta forma, a proximidade física aumenta a probabilidade de as pessoas se conhecerem,


gostarem umas das outras e desenvolverem atitudes interpessoais positivas.

EXAME
ESTRUTURA

Bloco A Bloco B Bloco C

3 questões de 3 valores cada 4 questões de 2 valores cada 6 questões de 0,5 valores cada
desenvolvimento (9 valores total) resposta crítica (8 valores total) escolha multipla (3 valores total)

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