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SOCIAL II
Mª Matilde Silva
ISPA | 2021/2022
1
INFLUÊNCIA SOCIAL
AULA TEÓRICA 2
Comportamento
Comportamento
do sujeito
do sujeito foi
MODIFIOU-SE
INFLUENCIADO
na PRESENÇA
SOCIALMENTE
DE OUTREM
DEFINIÇÃO
Neste sentido, a influencia social não se trata, necessariamente, de influência de grupo, pois
muitos dos sujeitos que integraram as experiências não funcionaram como tal – ainda que seja
um fenómeno importante no funcionamento de grupos 3 . Não obstante, é uma componente
extremamente importante e frequente da/na nossa vida quotidiana!
A investigação no âmbito da influência social não tem incidido tanto sobre a definição deste
conceito, os processos psicológicos que lhe são inerentes e os fenómenos que podem ser
explicados recorrendo ao mesmo, mas antes sobre as possíveis explicações para o que ocorreu
e ocorre nos diversos paradigmas experimentais que lhe deram origem e as suas replicações.
1 O comportamento deve ser entendido no seu SENTIDO LATO, referindo-se a ATITUDES, OPINIÕES, CRENÇAS, etc.
2 (Garcia-Marques, Ferreira & Garrido, 2017, p. 246)
3 Nota: contudo, é quase certo que o grupo pode contribuir em muito para a estabilidade das crenças individuais.
RELAÇÃO EMISSOR-RECETOR
Quando a influencia social ocorre inconsciente, subtil e não intencional mente (i.e., quando o
emissor não tem intenção e o recetor não tem consciência), denominamos de INFLUÊNCIA SOCIAL
INCIDENTAL. Um processo típico de influência social incidental é a FACILITAÇÃO SOCIAL.
FACILITAÇÃO SOCIAL
A P R E S E N Ç A D E O U T R O S ME L H O R A O D E S E MP E N H O D A S P E S S O A S N U MA T A R E F A
Fenómeno primeiramente observado por Norman Triplett em 1898. Este reparou que os
ciclistas quando iam sozinhos pedalavam mais devagar do que quando iam acompanhados.
Tendo verificado isto, Triplett questionou se a presença de outros tem um efeito benéfico geral
no desempenho. Para descobrir isto levou a cabo uma experiência onde pediu a crianças que
enrolassem linhas de pesca em carretes o mais rapidamente possível, com e sem outros
presentes. Verificou que a velocidade (desempenho) das crianças era positivamente afetada pela
presença de outras crianças, ou seja, o desempenho das crianças melhorou na presença de
outros. Concluiu que A PRESENÇA DE CO-ATORES TEM UM EFEITO BENÉFICO NO DESEMPENHO
MOTRIZ DAS PESSOAS e que isto está relacionado com a COMPONENTE COMPETITIVA.
Social Facilitation
REPLICAÇÕES DO EFEITO
Floyd Henery Allport, em 1924, replicou o efeito junto de estudantes de Harvard, usando
tarefas diversas como riscar vogais de um texto, multiplicar números com dois algarismos,
associar palavras em cadeia e designou-o de FACILITAÇÃO SOCIAL. Fê-lo com o objetivo de separar
o conceito de competição social de Triplett, da facilitação social.
Em suma, a mera presença dos outros, em situação de observador ou coator, tem um efeito
benéfico, i.e. pode melhorar o nosso desempenho numa variedade de tarefas/atividades simples,
desde correr até à resolução de problemas aritméticos simples (e.g., Aiello & Douthitt, 2001;
Grant & Dajee, 2003; Guerin, 1986).
MA S S E R Ã O O S E F E I T O S D E A U D I Ê N C I A E D E C O A Ç Ã O ( P R E S E N Ç A D E O U T R O S ) S E MP R E
BENÉFICOS/ÚTEIS?
INIBIÇÃO SOCIAL
A mera presença dos outros pode piorar (dificultar) o nosso desempenho em várias atividades
(Zajonc, 1965), quer como audiência, quer como coatores sem interação direta. Em muitas
tarefas difíceis e complicadas, de labirintos, a problemas matemáticos a um serviço de ténis
recentemente aprendido, o nosso desempenho muitas vezes declina quando outros estão
presentes.
C O MO É Q U E A P R E S E N Ç A D E O U T R O S P O D E T A N T O A J U D A R C O MO P I O R A R A N O S S A
P E R F O R MA N C E ? C O MO E X P L I C A MO S A P O S S I B I L I D A D E D E S T E S 2 P R O C E S S O S O P O S T O S ?
Em suma:
Quando nos concentramos no que as outras pessoas pensam sobre nós, isso provoca ativação
fisiológica, com efeitos por vezes positivos e por vezes negativos no desempenho. Na maioria das
vezes, queremos que outras pessoas nos valorizem, incluam, e gostem de nós. Na verdade, a
nossa autoestima é grandemente afetada pelo que os outros pensam de nós. Por estas razões,
podemos preocupar-nos se os espectadores nos estão a julgar de alguma forma. Isto porque,
com a experiência social, aprendemos que os espectadores não são neutros e que nos avaliam
constantemente (Cottrell, 1968).
A presença de outros que estão em posição de nos julgar produz apreensão de avaliação, o
que muda o nosso desempenho. Essa apreensão pode melhorar o desempenho em aspetos
simples de uma tarefa e inibi-la em aspetos complexos da mesma tarefa (ver exemplo abaixo).
Não é de admirar que se nós esperamos ter sucesso numa tarefa (porque é fácil, ou porque
envolve uma resposta acessível, ou porque fomos sucedidos nesta tarefa no passado) nós iremos
ter um melhor desempenho quando somos observados, enquanto o oposto é verdade se
esperarmos falhar.
Exemplo:
Bartis, Szymanski, & Harkins (1988) pediram a grupos de participantes para listar vários possíveis usos para uma faca. A uns
participantes foi pedido que listassem o máximo de usos possível (tarefa simples), a outros que listassem os usos mais criativos
possíveis (tarefa complexa). Ainda, dentro de cada grupo, uns participantes achavam que iam ser avaliados individualmente pelo
experimentador, e outros achavam que as suas respostas iriam para uma lista comum (i.e., que não iam ser avaliados individualmente.
Os resultados demostraram que a possibilidade de serem avaliados aumentou o output nas tarefas simples, mas diminuiu o output
das tarefas intelectualmente mais difíceis, mais uma vez demostrando as conclusões acima descritas.
DISTRAÇÃO
GERADA PELA PRESENÇA DOS OUTROS
Outras pessoas podem afetar o nosso desempenho não apenas quando nos observam e
avaliam, mas também quando nos distraem. A sua mera presença constitui uma distração na
medida em que nos leva a pensar acerca deles, a reagir-lhes ou a monitorizar o que eles estão a
fazer levando ao desvio ou redução da atenção prestada à tarefa que temos entre mãos.
Os nossos impulsos para fazer duas coisas diferentes ao mesmo tempo – concentramo-nos na
tarefa e reagirmos aos outros –, começam a entrar em conflito um com o outro, ficamos agitados
e aroused. Esta ativação, tal como a causada pela apreensão quanto à avaliação, vai normalmente
melhorar o nosso desempenho em tarefas simples, e piorá-lo em tarefas difíceis.
A necessidade de dividir a atenção entre as outras pessoas e a tarefa que estamos a realizar
faz com que o nosso feixe de atenção reduza (i.e., scope of attention narrowes). No entanto, se
limita a atenção, seria de esperar que a distração melhore o nosso desempenho em tarefas
difíceis que requeiram selecionar uma pista relevante para a tarefa entre outras que são
irrelevantes (ver exemplo abaixo). Neste sentido, em alguns casos, a presença dos outros pode
melhorar o nosso desempenho em tarefas difíceis.
Exemplo:
Huguet e colegas (1999) testaram esta hipótese e descobriram que os participantes que eram distraídos por outras pessoas (para
descartar a hipótese de apreensão quanto à avaliação, estas pessoas não conseguiam ver o desempenho do participante,), tinham
melhor desempenho que os participantes que faziam a mesma tarefa sozinhos.
EM SUMA:
A presença de outros pode conduzir à ativação fisiológica tanto por apreensão quanto à
avaliação, como por distração. A ativação fisiológica aumenta a probabilidade das pessoas
acederam às respostas dominantes. Com uma tarefa simples ou bem aprendida, as respostas
dominantes tendem a ser corretas e a ativação melhora o desempenho na tarefa. Já com tarefas
complexas ou nocas, as respostas dominantes não serão as mais corretas, e a ativação social
prejudicará o desempenho na tarefa. A ativação fisiológica pode ainda estreitar o foco atencional.
Neste caso, se a tarefa exigir que se selecionem pistas relevantes de entre outras irrelevantes
então o desempenho pode melhorar.
ABORDAGEM CONTINGENCIAL
APLICAÇÕES/IMPLICAÇÕES
CONFORMISMO
AULA PRÁTICA 2
DEFINIÇÃO
GOAL DE MANTER UM
GOAL DE ACCURACY GOAL DE AFILIAÇÃO
AUTOCONCEITO POSITIVO
A maior parte das vezes as pessoas demonstram conformismo privado face às normas do
grupo, aceitando-as como suas próprias normas, porque as julgam corretas e apropriadas.
Contudo, por vezes as pessoas conformam-se publicamente às normas que pessoalmente não
aceitam.
https://www.youtube.com/watch?v=fbyIYXEu-nQ&list=PL-D2eb2vBV7LzsXkzeinc7v1eZ-
22AaCs&index=2
OBJETIVO
O Objetivo deste estudo de Asch era estudar as condições pessoais e sociais que levam os
indivíduos a resistir ou, pelo contrário, a submeter-se a pressões coletivas quando são por eles
percecionadas como contrárias à realidade. Como tal, procurou demonstrar que a influencia
social é mediada pelo papel ativo e interpretativo que as pessoas têm na sua construção da sua
própria realidade social. Para este fim, criou uma situação com as seguintes características:
PARTICIPANTES
Sete estudantes voluntários para participar numa “experiência sobre a perceção”, de uma
universidade americana, entre os quais colocou U M desses indivíduos (sujeito crítico) numa
relação de conflito com todos os outros membros de um grupo (comparsas):
PROCEDIMENTO
TAREFAS
O paradigma experimental originalmente desenvolvido por Asch consiste numa tarefa de
discriminação/comparação do comprimento de segmentos de reta com uma linha-padrão. Os
estímulos eram trios de linhas negras que deveriam ser comparados com uma linha padrão. Trata-
se de uma tarefa EXTREMAMENTE SIMPLES E FÁCIL para que o efeito da influência social pudesse
ser facilmente QUANTIFICÁVEL. Asch esperava que nestas condições a influencia do grupo fosse
minimizada.
INSTRUÇÃO DO EXPERIMENTADOR:
ENTREVISTA PÓS-EXPERIMENTAL
A experiência não se limitava à sessão de estimativas, existindo uma segunda fase na qual os
sujeitos críticos eram entrevistados acerca das suas impressões sobre a situação. Primeiro
participavam numa discussão de grupo, seguindo-se uma entrevista com o entrevistador e, por
fim, era-lhes explicada a situação e os seus objetivos.
CONDIÇÕES DA EXPERIÊNCIA
GRUPO EXPERIMENTAL GRUPO CONTROLO
Julgamento com conhecimento das Participantes da mesma população
respostas dos outros (respostas em voz alta). julgavam os mesmos estímulos sem
conhecimento das respostas dos outros
(respostas por escrito). Esta condição permite
obter índice quantitativo do grau de influência
social, através da diferença entre número de
erros efetuados nas condições controlo e
experimental.
ENSAIOS (18)
NEUTROS (6) CRÍTICOS (12)
Comparsas davam a resposta certa. Comparsas davam respostas com diversos
graus de erro (moderado ou extremo). Nos 2
primeiros ensaios dão respostas corretas, a
partir do 3º começam propositadamente a
dar algumas respostas erradas.
PADRÃO COMPARAÇÃO
RESULTADOS
COMO REAGIRÍAMOS?
PENSAMENTOS PRIVADOS E SENTIMENTOS MAIS COMUNS DO SUJEITO CRÍTICO
1. Primeiro, seria impossível ignoras as respostas dos outros, uma vez que o desacordo tem
implicações diretas para a validade de cada julgamento e que o antagonismo de opiniões
implica necessariamente que alguém está errado.
2. Desenvolveria esforços para reestabelecer o equilíbrio, isto é, tentaria arranjar uma
explicação simples e banal para o desacordo, podendo até perguntar aos colegas ou ao
experimentador.
3. Faria a atribuição da razão de ser da divergência a si próprio, ou seja, tomasse a seu cargo
explicar porquê que o grupo divergia de si.
4. Desenvolveria esforços para alcançar uma solução, construindo explicações que tornariam a
situação compreensível.
5. Prestaria provavelmente total atenção ao objeto de julgamento.
6. Sentiria um crescendo de dúvidas sobre si próprio.
7. Depende.
Não obstante, pelos dados da Tabela abaixo apresentada, podemos verificar que, apesar de o
impacto da maioria ser considerável, no total de estimativas a condição experimental apresenta
apenas 1/3 dos erros (36.80%), enquanto na condição controlo esse número é inferior a 1%
(0.70%).
Mais ainda, se fizermos a média ponderada para o número de respostas certas, vemos que
resulta num total de 7.60, quase o dobro da média ponderada de erros (4.41). Neste sentido,
embora considerável, o impacto da maioria está longe de ser absoluto. Se considerarmos que a
situação representa, no essencial, um conflito entre o duas tendências – a de seguir os dados
sentidos e dar a resposta certa, e a de seguir a maioria e dar a resposta errada –, a primeira dessas
tendências foi quantitativamente maior mais forte.
GRUPO CONTROLO
NÚMERO DE ERROS GRUPO EXPERIMENTAL (N=123)
(N=37)
0 35 (94.50%) 29 (23.50%)
1 1 (2.70%) 8 (6.50%)
2 1 (2.70%) 10 (8.13%)
3 17 (13.8%)
4 6 (4.87%)
5 7 (5.69%)
6 7 (5.69%)
7 4 (3.25%)
8 13 (10.56%)
9 6 (4.87%)
10 6 (4.87%)
11 4 (3.25%)
12 6 (4.87%)
MÉDIA PONDERADA 0.08 4.41
MEDIANA 0 3
MÉDIA PERCENTUAL PONDERADA 0.70% 36.80%
Ainda, os dados indicaram que não existiu qualquer relação sistemática tanto entre a sucessão
de ensaios e o número de erros cometidos, como entre o os dois tipo de magnitude de erros
(moderado ou extremo). No entanto, no que toca à magnitude do erro, registaram-se RESPOSTAS
DIVERGENTES INCORRETAS (ou RESPOSTAS DE COMPROMISSO, i.e., apesar de darem uma resposta
errada, dão uma resposta diferente da maioria) nos casos onde a maioria cometia um erro de
magnitude extrema, o que reflete uma tendência para o compromisso.
VARIAÇÃO INDIVIDUAL
TIPOLOGIA DOS PARTICIPANTES CRÍTICOS
Com base tanto nos resultados das entrevistas (dados qualitativos), como nos resultados
quantitativos, Asch procurou esclarecer melhor a variação individual verificada neste paradigma.
Para isso, construiu uma tipologia dos participantes críticos, com os seguintes critérios:
NÚMERO DE ERROS
O primeiro critério usado foi o número de erros cometidos por cada sujeito.
PARTICIPANTES INDEPENDENTES
VERDADEIRAMENTE INDEPENDENTES FALSOS INDEPENDENTES
PARTICIPANTES CONFORMISTAS
CONFORMISTAS A NÍVEL CONFORMISTAS A NÍVEL DO CONFORMISTAS A NÍVEL
PERCETIVO JULGAMENTO COMPORTAMENTAL
Estes participantes não Estes participantes Eram classificados nesta
reconheciam que algo de reconheciam que haviam categoria aqueles que
estranho se tinha passado na dado respostas em desacordo indicavam saber estarem eles
situação experimental, com o que tinham visto. No certos e a maioria errada,
afirmaram simplesmente que entanto, justificavam-se justificando o seu
haviam respondido de acordo
dizendo que, se todos os comportamento com a
com o que tinham visto. Esta
outros respondiam de forma vontade de não sobressair.
categoria foi pouquíssimo
frequente. diferente, tinha de ser ele Esta categoria teve uma
aquele que estava a realizar frequência intermédia (entre
INCONSCIENTE. julgamentos errados – caso os conformistas a nível
ESTIMATIVA DISTORCIDA. contrário, poderiam percetivo e de julgamento).
“interferir” com o desenrolar CONSCIENTE.
da experiência. Esta foi a CONFIANÇA.
categoria mais frequente dos NÃO QUERIAM PARECER
DIFERENTES OU INFERIORES
participantes conformistas.
AOS OUTROS ELEMENTOS.
CONSCIENTE.
FALTA DE CONFIANÇA.
“RESPOSTA DA MAIORIA É
SUPERIOR”.
CONCLUSÃO
Verificou-se uma influência social da maioria, ainda que não absoluta, até porque se verificou
uma significativa variação inter-individual no número de erros cometidos. Não obstante, foi
evidente, tanto quantitativa como qualitativamente que os participantes se encontraram num
conflito entre o conformismo (seguir resposta da maioria) e a independência (seguir o que lhes
era ditado pelo que viam). Esse conflito resultou na maior parte dos casos, em independência.
No entanto, a influencia da maioria foi indiscutível.
A partir do seu paradigma original, Asch realizou diversas variações experimentais que
procuraram esclarecer questões relativas à generalidade destes resultados. Quer dizer, o autor
pretendeu descobrir quais as condições que, no seu paradigma original, eram responsáveis tanto
pelo conformismo como pela independência. Com esse fim, manipulou uma série de variáveis
que suponha terem impacto direto na intensidade das tendências antagónicas subjacentes à sua
situação experimental.
I . MA N I P U L A Ç Ã O D E V A R I Á V E I S S U B J A C E N T E S À S I T U A Ç Ã O E X P E R I ME N T A L
Até que ponto os resultados da experiência original se devem ao material usado? O que
aconteceria se, com base no mesmo tipo de paradigma, se usassem objetos de julgamento muito
diferentes?
Asch fez variar os objetos de julgamento, mas manteve o carácter absolutamente objetivo do
julgamento pedido. Para isso, numa experiência o autor usou dois grupos de discos coloridos
(OBJETO). A TAREFA do participante era apenas a de escolher o mais brilhante, sendo mais uma
vez uma tarefa extremamente fácil. Em tudo o resto a situação experimental era idêntica ao
paradigma original
No entanto, esta replicação mantinha o objeto na ordem dos estímulos visuais, levando a que
se tenha realizado milhares de experiências com todo o tipo de objetos de julgamento (e.g.,
crenças, opiniões populares e pessoais, etc.) , nas quais os resultados, no geral, foram idênticos
com os da experiência original, concluindo que: os resultados são independentes dos objetos de
julgamento.
Na experiência original Asch tinha verificado que não existia nenhuma relação sistemática
entre o número de erros cometidos pelo sujeito critico, e a magnitude do erro cometido pela
maioria. No entanto, ao manipular a discrepância entre a estimativa maior e a realidade,
percebeu que existe uma relação negativa entre a magnitude do erro da maioria e o número de
erros cometidos pelos participantes críticos (i.e., quanto maior a magnitude do erro, menor a
probabilidade de erro por parte dos sujeitos críticos), corrigindo a conclusão original.
Numa variação desta experiência, Bello et al., 1986 tornaram disponível uma régua durante a
sucessão de estimativas, dizendo que o mais importante era não errar, e como tal, se houvesse
dúvidas, cada pessoa era livre de se levantar e medir os estímulos antes de responder (os
comparsas fizeram-no alternadamente em certos ensaios). Os RESULTADOS mostraram que esta
hipótese (a de usar a régua) foi pouquíssimo usada pelos participantes e que o conformismo
aumentou! Provavelmente porque, ao dotarmos o sujeito crítico da possibilidade de maior
objetividade nos seus julgamentos, estamos também a fazê-lo em relação aos julgamentos dos
comparsas. Ora, como o sujeito era o penúltimo a responder, na maior parte dos ensaios já os
comparsas tinham utilizado a régua e com isso ganho maior capacidade de persuasão. Ainda
houve sujeitos críticos que depois de irem eles próprios medir, deram a resposta errada: que so
reforça a convicção de que a existência de respostas conformistas não necessita de convicção na
veracidade destas respostas.
DIMENSÃO DO GRUPO
Como sabemos, os erros cometidos no paradigma original de Asch são devidos à presença de
um grupo de participantes que dão respostas erradas. Mas será que esse efeito se deve à
dimensão do grupo? Para responder a tal questão, Asch manipulou sistematicamente o número
de comparsas na condição experimental (foram usados grupos de 1, 2, 3, 4, 8 e 16 comparsas).
Os RESULTADOS demostraram que com 1 comparsa o conformismo é praticamente anulado (i.e.,
quase nulo); com 2 comparsas o conformismo aumenta bastante e; com 3 comparsas o
conformismo atinge aproximadamente o seu limite máximo. Daqui retirou que não é a dimensão
da maioria o fator explicativo essencial para o conformismo.
Nas entrevistas pós-experimentais, muitos dos participantes críticos afirmaram existir uma
divergência entre aquilo que afirmaram publicamente e aquilo que julgam certo. Se assim foi,
então é de esperar que uma das razões do conformismo seja o caráter público do contexto em
que as respostas eram dadas.
Para estudar diretamente esta questão, Asch criou uma situação em que os participantes
críticos, por chegarem “atrasados” à experiência, não poderiam participar nela. Apenas deveriam
observar e registar as suas respostas num papel quando o experimentador o assinalasse. Claro
que o sujeito respondia sempre em penúltimo. Assim, os comparsas emitiam as respostas em voz
alta, mas o sujeito crítico registava-as numa folha de papel, quando chegava a sua vez.
No que toca aos RESULTADOS, em primeiro lugar verificou-se que o conformismo diminuiu
(diminuição apreciável do número de erros cometidos pelos participantes críticos de 33% para
12.5%), mas que esse número de erros continuava a diferir significativamente do cometido na
condição controlo. Em segundo, verificou-se que a influencia da maioria só se registava em
relação a erros moderados da maioria, não em relação a erros extremos.
Este conjunto de resultados permite-nos concluir que a influência da maioria se faz sentir de
modo diferente, em intensidade, aos níveis público e privado e; as variáveis que afetam um dos
níveis (e.g., grau de distorção da norma grupal) podem não afetar o outro da mesma forma.
I I . MA N I P U L A Ç Ã O D O A P O I O S O C I A L : Q U E M N O S L I V R A D O S O U T R O S ? O S O U T R O S !
Asch inverteu a situação experimental original, introduzindo apenas um comparsa num grupo
de participantes críticos. Os RESULTADOS demostraram que a influencia do comparsa foi nula, e
que os participantes críticos encaravam o comparsa com humor e desprezo.
QUEBRA DA UNANIMIDADE
Asch pretendia estudar o efeito da quebra da unanimidade nas respostas dos participantes
críticos. Para tal, de entre os 7 comparsas, o que respondia em quarto lugar respondia sempre
corretamente, opondo-se, por isso, nos ensaios críticos, à maioria. A esse comparsa deu a
designação de “aliado”, na medida em que responde de acordo com o que o sujeito crítico vê.
Os RESULTADOS demostraram que o que o conformismo baixou de 33% para 5.5%, anulando-
se quase completamente a influência da maioria. Assim, enquanto variações na maioria têm um
impacto nulo ou, no mínimo, modesto, a quebra da unanimidade na maioria, seja qual for a
dimensão da dissidência, é decisiva para a manifestação de conformismo!
OU SUBMISSÃO DO ALIADO?
Será que a redução do conformismo ocorreu porque o sujeito crítico deixou de estar exposto
a um grupo unânime, conseguindo por isso libertar-se e responder autonomamente? Ou será
que a situação se deve a um novo conformismo – a submissão ao aliado?
Para distinguir entre estas alternativas, Asch instruiu um comparsa para, num caso, fornecer
apenas respostas de compromisso (os restantes comparsas cometiam erros extremos em todos
os ensaios críticos), e, noutro, para cometer erros extremos (enquanto a maioria só cometia erros
moderados). Assim, se a redução do conformismo anterior tivesse ocorrido por submissão ao
aliado, nestas duas condições essa redução não deveria ocorrer.
Até que ponto é necessária consistência da parte do aliado para garantir a sua eficiência na
redução do conformismo? Quer dizer, será que uma vez quebrada a unanimidade o aliado se
torna dispensável?
Para responder a esta questão, Asch criou uma situação em que, depois de responder
corretamente durante metade dos ensaios críticos, o aliado adere à norma da maioria. Neste
caso, os RESULTADOS mostram que o conformismo se restabelece imediatamente e a níveis
superiores ao habitual. Asch defendeu que a explicação se encontra na “traição” que os sujeitos
críticos sentem e, se porventura este sujeito se visse de novo só, mas não traído, o conformismo
não seria restabelecido. Para confirmar tal hipótese, criou uma situação onde depois de
responder corretamente durante metade dos ensaios críticos, o aliado sai da sala com um
pretexto. Como esperado, o conformismo não se restabelece.
Numa situação onde o aliado começa por aderir à maioria e a meio da sequência de ensaios
passa a responder diverge, a sua eficiência na redução do conformismo emerge rapidamente,
isto é, o conformismo diminui imediatamente.
Os resultados parecem indicar que a experiência de uma quebra de unanimidade, desde que
o responsável por essa quebra não fraqueje na sua resistência, é suficiente para a redução do
conformismo e ainda que o aliado serve de exemplo na resistência ao conformismo.
Asch demonstrou que o comportamento individual pode variar de acordo com a pressão de
um grupo, mesmo em condições em que o individuo dispõe de indicações objetivas que, em
princípio, dispensariam o recurso à consideração do comportamento dos outros. Mais: o
comportamento dos outros pode introduzir ambiguidade na realização de tarefas em
circunstâncias totalmente não ambíguas. Daí que as experiências de Asch forneçam um
complemento inesperado às conclusões de Sherif.
Mais concretamente, os resultados de Asch demonstraram como uma norma grupal arbitrária
pode fazer com que os participantes realizem um número bastante apreciável de erros de
julgamento. Demonstraram ainda que, apesar desse impacto indiscutível, os julgamentos dos
participantes mantêm-se maioritariamente corretos. Demonstraram finalmente como esse
impacto pode ser minimizado através do apoio social para o não conformismo.
Este estudo tinha o objetivo de replicar o clássico Asch Effect no contexto cultural de bosnia-
herzegovina e explorar o potencial impacto da group similarity no conformismo. Para responder
a esta pergunta os participantes realizaram a tarefa clássica de Asch de julgamento de linhas na
presença de 5 comparsas que eram ostensivamente ou de origem étnica parecida (ingroup) ou
de origem étnica diferente (outgroup) ou de origem étnica não saliente .
Os resultados mais uma vez verificaram o poderoso efeito de Asch: em 35.4% dos ensaios
críticos os participantes seguiram a maioria. Mais ainda que este efeito foi moderado pela group
similarity, nos sentido que, em comparação com a condição identidade de grupo não saliente, o
conformismo foi maximizado na condição in-group majority e minimizada na condição out-group
majority.Assim, os resultados apoiam o “Asch Effect” e fornecem clara evidencia de que a
semelhança com a maioria desempenha um importante papel no fenómeno do conformismo.
São vários os fatores sociais e psicológicos que se combinam na criação das condições para a
obediência à autoridade, para a obediência cega e para as atrocidades sociais. Não é próprio de
pessoas imorais, mas sim decorrente da interação de vários fatores psicológicos e sociais.
ESTADO AGÊNTICO
Estado onde o indivíduo não se sente Milgram (1974) diferencia este estado
como autor dos seus atos, mas vê-se agêntico de outro estado, o estado
meramente como agente executivo das autónomo, onde o indivíduo assume-se como
vontades de outrem, como agente da figura o autor dos seus atos, não sendo o mero
de autoridade. Assim sendo, outras atitudes, veículo de execução.
normas ou valores que normalmente podem
guiar o seu comportamento não são tidos em
conta. Em suma, quando toda a
responsabilidade é cedida à autoridade os
indivíduos entram naquilo a que Milgram
chamou estado agêntico. O estado agêntico
permite que a autoridade se exerça sem
grande resistência.
Os sujeitos experimentais de Milgram, por
exemplo, quando o experimentador afirmava
assumir a responsabilidade pelo que
acontecesse ao “aluno”, entravam neste
estado.
DIFUSÃO DA RESPONSABILIDADE
C O N S I S T Ê N C I A , C O MP R O MI S S O S O C I A L E E S C A L A D A
Assim que a obediência se inicia, outros processos ajudam mantê-la ou até mesmo a escalá-
la. Na tarefa do “professor” de Milgram, por exemplo, de início as consequências da obediência
não eram muito negativas para os participantes: era-lhes pedido que fizessem algo bastante
benigno, os choques eram muito fracos e tinham um objetivo positivo, isto é, o de melhorar a
aprendizagem. Apenas gradualmente é que era pedido aos participantes que agissem de uma
forma que pudesse provocar danos ao aluno, mas por esta altura eles já tinham obedecido,
confirmando na sua mente o direito do experimentador e a sua autoridade para dirigir as suas
ações, e ativando a norma do compromisso de cumprir o seu acordo de participar no estudo.
Para além disso, a motivação para a consistência com os nossos comportamentos anteriores,
leva a que os mantenham o comportamento, continuando a obedecer. Ao ter reconhecido o
experimentador como autoridade legitima e tendo já obedecido, os participantes tiveram cada
vez mais dificuldade em recusar as suas ordens que escalavam gradualmente. Os participantes
em experiências de obediência, e muitos outros que cometem crimes políticos e/ou considerados
maléficos, são levados do aceitável para o impensável, gradualmente. A escalada gradual da
obediência reforça a legitimidade da autoridade e a aceitação da norma da obediência.
Milgram (1974), relatou que muitos dos seus participantes, depois de terem dado a potência
máxima de choque, censuraram cruelmente o “aluno” pelos erros cometidos, com comentários
como "ele era tão estúpido e teimoso, que merecia ser chocado". Como Milgram observou,
"depois de terem agido contra a vítima, estes sujeitos acharam necessário vê-lo como um
indivíduo indigno cujo castigo foi tornado inevitável pelas suas próprias deficiências de intelecto
e carácter".
Muitos dos fenómenos que se seguem constituem condições para a obediência à autoridade
sendo explicáveis à luz das DINÂMICAS GRUPAIS. Estes fenómenos são implicados ou aplicados em
contextos como, por exemplo, em tribunais onde pode ocorrer a polarização e pensamento
grupal nos grupo de jurados; em trabalhos de grupo nos quais há um acento tónico no consenso
podem verificar-se o fenómeno de pensamento grupal; em claques de futebol onse se podem
verificar fenómenos de desindividualização; etc.
DESINDIVIDUALIZAÇÃO E ANONIMATO
Ocorre quando em grupo se dá o enfraquecimento ou perda da autoconsciência do indivíduo.
Aqui, a identidade grupal ou social domina completamente a identidade pessoal ou individual, de
modo que as normas do grupo se tornem acessíveis ao máximo: deixamos de nos
autopercecionar como indivíduos, e sim com um membro do grupo.
“The only thing group members think about is what the other group members
around them are thinking, saying, and doing.”
O anonimato, isto é, o facto de em grupo nós estarmos sobre uma identidade grupal e não
pessoal (quem fez foi o grupo, não o Gaspar), facilita este estado na medida em que aumenta o
sentimento de pertença partilhada a um grupo.
DIFUSÃO DA RESPONSABILIDADE
A difusão de responsabilidade advém também do anonimato. No fundo, em grupo, não foi o
individuo A, B ou C a assumir a responsabilidade, mas sim o conjunto. Assim, temos a
responsabilidade a ser difundida no grupo. É por esta razão que, quando em grupo, nós tendemos
a adotar comportamentos mais extremados (assumir mais risco), seja decisões financeiras mais
arriscadas, seja num contexto jurídico emitirmos uma pena mais grave. Acabamos por não
ponderar tanto as consequências negativas porque, no fundo, não são diretamente para nos
como indivíduos, mas sim para o grupo como coletivo.
PENSAMENTO GRUPAL
Tipo de pensamento exibido pelos membros de um grupo que, movidos pela busca intensa de
consenso, perdem a eficiência mental, a análise dos factos/realidade e o julgamento moral,
chegando a decisões enviesadas que se podem revelar catastróficas. (Groupthink; Janis, 1972).
Este fenómeno tem maior probabilidade de emergir em situações caracterizadas por:
Nestas circunstâncias, os membros do grupo têm relutância em levantar objeções mesmo que
as tenham, bem como a examinar os aspetos negativos da posição preferida, ignorando possíveis
alternativas e não desenvolvendo planos de contingência.
POLARIZAÇÃO COLETIVA
Tendência para o grupo adotar uma decisão final mais extrema que a média das decisões
individuais prévias à discussão de grupo. Este fenómeno denominava-se, Inicialmente, de desvio
para o risco (Risky shift; Stoner, 1961). Se, ao início, a maioria das pessoas prefere risco, as
discussões em grupo promovem mais risco. Se a maioria dos membro, ao início, são radicalmente
preconceituosos , a interação e discussão do grupo tende a aumentar o preconceito.
OUTROS FATORES
OBEDIÊNCIA
AULA PRÁTICA 3
A T É O N D E É C A P A Z D E I R U MA P E S S O A C O MU M Q U E S E L I MI T A A O B E D E C E R A O U T R E M?
PARTICIPANTES
No estudo original, participaram 40 sujeitos do sexo masculino com idades entre os 20 e os
50 anos, que se apresentaram em resposta a um anúncio no jornal de New Haven sobre um
“estudo sobre a memória e aprendizagem”, para o qual pagariam 4$ aos participantes
voluntários. As suas profissões iam desde carteiro e professor liceal até ao engenheiro e vendedor
(amostra representativa de uma série de ocupações profissionais e de habilidades literárias). A
experiência decorreu na Universidade de Yale, nos EUA, num elegante laboratório.
PROCEDIMENTO
Uma vez chegados ao laboratório, o sujeito crítico era apresentado a um homem de meia-
idade, o comparsa (aluno), que pretendia ser um participante. Ambos recebiam a seguinte
explicação: “Presentemente sabemos muito pouco acerca do efeito da punição na aprendizagem,
por não se terem realizado praticamente nenhuns estudos verdadeiramente científicos com
participantes humanos. Por exemplo, não sabemos que quantidade de punição é mais benéfica
para a aprendizagem – e também não sabemos que importância tem o tipo de pessoa que pune,
se um adulto aprende melhor com alguém mais novo ou mais velho que ele – e muitas mais coisas
do género. Por isso, neste estudo estamos a juntar uma série de adultos com diferentes ocupações
e idades, e estamos a pedir a alguns deles que sejam professores e a outros que sejam aprendizes.
Queremos saber que efeito pessoas diferentes têm umas nas outras, enquanto professores e
alunos, e qual o efeito que a punição terá na aprendizagem, nesta situação.” Neste sentido, a
suposta questão de investigação era: qual nível de castigo que é melhor para aprendizagem?; e
o suposto objetivo era: estudar os efeitos do castigo na aprendizagem.
novo erro. Era ainda pedido que, antes de administrar o choque, corrigisse o erro do “aluno” e
anunciasse em voz alta a sua voltagem.
RESULTADOS
A principal variável dependente era a intensidade ou choque máximo que cada sujeito crítico
administrou antes de se recusar a continuar (de 0 a 30 choques). Tendo em conta a variável
dependente foram definidos dois tipos de sujeitos críticos/ingénuos (“professores”):
OBEDIENTES DESOBEDIENTES
Interrompe, em qualquer ponto, antes do
Até aos 450V.
30º Choque.
PREVISÕES
Foi pedido a duas amostras de participantes que dessem uma previsão da até onde os
“professores” iriam na intensidade dos choques, que estimaram um total de 150V, talvez um
pouco mais, mas que nunca ultrapassariam os 300V. Também foram interrogados para o mesmo
fim, mas em relação à condição “feedback de voz” ou “voz audível”, 40 qualificados psiquiatras
que previram que o número de pessoas dispostas a chegar aos 450V não ultrapassaria os 0.2%
(seria de 0.125%), por 0.2% ser a percentagem média de psicopatas na população.
Como podemos ver na tabela abaixo, 26 dos 40 participantes críticos (65%) foram até o
máximo dos choques, isto é, OBEDECERAM. Sendo que apenas 14 dos 40 (35%), DESOBEDECERAM.
Ainda, 35 dos 40 (87.5%) ultrapassou os 300V.
QUESTÕES ÉTICAS
Primeiro, as incitações-padrão ameaçam escolha dos participantes de abandonar experiência
assim que quisesse. Ainda, críticos afirmam que o stress a curto-prazo e o potencial dano a longo-
prazo nos participantes não podia ser justificado pelos contributos da experiência para o
conhecimento psicológico
Em sua defesa, Milgram apontou os dados do questionário de follow-up que indicavam que
maioria dos participantes (83.7%) não só estava contente por ter participado no estudo, como
também dissera ter aprendido algo importante com a sua participação e acreditar que os
psicólogos deveriam conduzir mais estudos deste tipo no futuro.
PROXIMIDADE DA VÍTIMA
Milgram fez variar o grau de contacto do sujeito crítico com a vítima, acrescentando três
condições ao paradigma original, que seria agora de controlo. Assim A proximidade da vítima foi
operacionalizada em 4 condições:
PROXIMIDADE AUTORIDADE
Como a proximidade à vítima fez decrescer a obediência, Milgram quis verificar se a
proximidade à autoridade teria o efeito inverso. Para tal, criou uma nova experiência com 3
condições:
PRESTÍGIO AUTORIDADE
Será que o que contribuiu para os resultados da experiência original foi o prestígio elevado de
que a Universidade de Yale dispõe nos EUA? Se assim tivesse sido, a replicação desta experiência
num laboratório de menor prestígio deveria atenuar o grau de obediência verificado. Milgram
testou esta hipótese num laboratório com aspeto velho e desleixado, em nome de uma
organização desconhecida: a Research Associates of Bridgeport.
Os resultados mostraram que não houve redução apreciável do grau de obediência, apesar
de, nas entrevistas pós-experimentais, os sujeitos terem colocado em dúvida a credibilidade da
instituição.
Os resultados mostraram então que a influência dos outros foi mais eficaz na facilitação da
desobediência do que na promoção da obediência (impacto libertador do apoio social).
CONSISTÊNCIA DA AUTORIDADE
Noutras variações experimentais, Milgram fez, num caso, com que o sujeito crítico se
confrontasse com 2 experimentadores com opiniões divergentes sobre a continuação da
administração dos choques; noutro, as funções do experimentador foram delegadas num sujeito
(sem bata) (comparsa do experimentador). Em ambos os casos, o nível de obediência baixou
consideravelmente.
EM SUMA
· Proximidade vítima exerce efeito bastante forte sobre obediência à autoridade (diminuindo
esta à medida que a primeira aumenta).
· Relação positiva fortíssima entre a proximidade da autoridade e os níveis de obediência à
mesma.
· Prestígio da autoridade parece não afetar o nível da obediência (não parece ser fator
explicativo).
· Apoio social mais eficaz na facilitação da desobediência do que na promoção de obediência.
· Nível obediência diminui consideravelmente com o decréscimo da consistência da
autoridade.
· Nenhum dos fatores caráter, cultura ou tempo explicam os resultados de Milgram: Milgram
convenceu-se de que a explicação assentava no poder da situação social para ativar uma
norma de obediência.
Burger (2009), conduziu uma replicação do estudo de Milgram, com modificações para
cumprir com os requerimentos éticos. Assim, no decorrer da experiência, aos 150V há protesto
verbal por parte do “aluno”, que diz não querer continuar o estudo, uma vez que tem um
problema cardíaco e sente que os choques estão a afetar o seu coração. Esta é a potência
máxima, na medida em que, ainda que haja botões até à voltagem 450, a experiência termina
assim que os sujeitos leem a pergunta após terem dado um choque de 150V.
Uma vez que 74.2% dos sujeitos na experiência de Milgram que continuaram a experiência
após ouvirem o protesto verbal aos 300V iam até à voltagem máxima, podem ser feitas
estimativas razoáveis quanto ao que os sujeitos do presente estudo que liam a pergunta que
seguia o choque de 150V, fariam se pudessem continuar a experiência.
Numa replicação da experiência de Burger, Dolinski et. Al (2015) verificaram novamente níveis
de obediência semelhantes aos de Milgram (elevados). Os sados relativos à influência da
diferença de género (sexo de participantes e do “aluno”) e das características pessoais foram
mais uma vez não conclusivos (ainda que 6 tenham desobedecido ao “aluno” mulher).
Estudo de campo onde 21 de 22 enfermeiras (95%) sobre medicaram um paciente por ordem
do médico, indo contra os procedimentos do hospital. Desde logo, um dos pontos do
regulamentos indicava que as ordens deviam ser dadas pessoalmente, que não deviam responder
a ordens da parte de pessoas que, mesmo se apresentando como médicos, não eram familiares.
Mais ainda, o medicamento não constava na lista de medicamentos que podiam ser
administrados. O contacto do medico foi estabelecido através do telefone e tratava-se de uma
voz não familiar.
O médico, que se apresentava como Dr. Smith, telefonava para a enfermaria e dizia que
pretendia visitar o paciente novamente ao fim do dia, e pedia que a enfermeira administrasse x
dose do tal medicamento (na realidade, placebo). Aquilo que foi verificado foi que, por mera
indicação telefónica da autoridade, as enfermeiras davam o medicamento ao paciente, mesmo
indo contra o regulamento.
HISTÓRIA DA HUMANIDADE
Se experiência faltassem, com base na história da humanidade temos a clara indicação que
sim, nós obedecemos, e muitas vezes essa obediência é destrutiva, como é o exemplo do
Holocausto, da URSS, da Venezuela, etc. No fundo, o que Milgram fez, foi replicar em laboratório
aquilo que fora do laboratório já era conhecido.
NORMAS SOCIAIS
AULA TEÓRICA 4
As normas sociais são regras formais ou informais, explícitas ou implícitas, definidas por um
grupo (cultura, sociedade) acerca dos comportamentos, valores e crenças aceitáveis, como por
exemplo a distância social (i.e., espaço vital), a saudação, o vestuário, etc. Uma norma social é
então uma forma geralmente aceite de pensar, sentir ou comportar-se que a maioria das pessoas
num grupo concorda e endossa como correta e adequada.
Neste sentido, as normas sociais são semelhantes às atitudes: ambas são representações
mentais de formas apropriadas de pensar, sentir e agir. No entanto, enquanto as atitudes
representam as avaliações positivas ou negativas de um indivíduo, as normas refletem avaliações
de grupo partilhadas do que é verdadeiro ou falso, bom ou mau, apropriado ou inapropriado.
As normas sociais são adquiridas e interiorizadas muito PRECOCEMENTE, uma vez que são
transmitidas desde muito cedo (deliberada ou não deliberadamente) pelas ENTIDADES
SOCIALIZADORAS (i.e., família, escola, igreja, etc.). Estas entidades socializadoras seguem uma
ESTRUTURA HIERÁRQUICA, isto é, muitas das vezes as normas são passadas “de cima para baixo”,
principalmente durante o nosso desenvolvimento.
As normas sociais têm uma DUPLA FACETA, na medida em que, para além de serem muito
úteis podem ter consequências negativas:
Algumas das normas mais poderosas refletem crenças profundas sobre como as pessoas se
devem tratar umas às outras:
Esta norma pode ser usada para nossa desvantagem. Por exemplo, quando nos oferecerem
algo valioso vemo-nos obrigado a dar algo em troca, isto é, a devolver presentes, favores e
elogios, mesmo quando não solicitados. Vendedores, gerentes de mercado e investigadores
estão bem cientes do poder de presentes que não são solicitados, sendo esta norma utilizada
pelo marketing e é o que está por trás das amostras grátis, de sessões abertas num novo ginásio,
que nos fazem sentir que devemos dar algo em troca, neste caso comprar o produto e inscrever
no ginásio.
Exemplo:
Numa experiência, foi oferecido a alguns participantes uma garrafa de coca-cola por um colaborador simpático e a outros por
um não-simpático. Mais tarde, o mesmo colaborador tentou vender rifas aos participantes. Os resultados mostraram que os
participantes que tinham recebido um presente não solicitado (coca-cola) compraram mais rifas, mesmo sabendo que o preço das
rifas era superior ao da coca-cola. Note-se que o grupo de participantes que recebeu o presente de um colaborador menos simpático
também comprou mais rifas do que os participantes que não receberam a coca-cola.
Door-In-The-Face Technique
Perspetiva partilhada de que devemos honrar os nosso acordos, promessas e obrigações. Esta
norma e tão prevalente e universal como a norma de reciprocidade, pelas mesmas razões. Os
“contratos sociais” ajudam a garantir que os membros de um grupo ou sociedade façam a sua
parte, quando ações coordenadas são necessárias para atingir um determinado objetivo. Da
mesma forma, como o compromisso social tudo tem a ver com a confiança, a adesão à norma
une os membros de um grupo. Assim, a norma do compromisso social torna possível a
cooperação e o comportamento coordenado em grupos e aumenta a capacidade das pessoas de
controlar o seu ambiente. São a base da reputação social positiva, fomentando a conexão social.
Exemplo:
Numa praia lotada em Nova Iorque, um experimentador pediu a sujeitos sentados ao pé dele, que fariam parte do grupo
experimental, para darem uma vista de olhos no seu rádio, enquanto ele “ia ali e já vinha”. No grupo controlo, não fez nenhum
contrato social explicito com os sujeitos, apenas interagiu com eles e perguntou as horas antes de sair, deixando o rádio na toalha.
Uns minutos depois, um comparsa fingiu roubar o rádio. 95% dos sujeitos do grupo experimental impediram o roubo, enquanto
apenas 20% do grupo controlo fez o mesmo.
Tal como a norma da reciprocidade, a norma do compromisso social pode ser usada como
vantagem por uns, para desvantagem de outros.
Low-Ball Technique
Na experiência de Milgram, por exemplo, a bata branca do experimentador fez com que as
pessoas o considerassem como uma autoridade legitima: alguém com o direito de dar ordens no
contexto experimental.
A legitimidade não é, então, algo que esteja inerente à autoridade, até porque há autoridades
que consideramos como ilegítimas. Portanto, embora o facto de a autoridade existir derivar do
estatuto, é o grupo que atribui essa legitimidade (ou não) a essa figura de autoridade com o
direito de fornecer ordens e atribui aos seus membros a responsabilidade de obedecer.
Há ainda todo um campo de estudo sobre a perceção de justiça, que demostra que as
autoridades são consideradas legitimas, as suas ações são aceites e que ocorre obediência
voluntária quando usam procedimentos justos e tratam as pessoas com respeito. Algo necessário
para que a autoridade seja percecionada como legitima é, então, a perceção de justiça.
Não obstante, a figura de autoridade não precisa de estar fisicamente presente para que a
norma fique acessível – pensar meramente sobre a figura de autoridade seria provavelmente o
suficiente. Contudo, quanto mais obvia a figura de autoridade na experiência de Milgram (estar
sempre presente em comparação com estar presente e sair ou com ser um participante a dar
instruções), maior a probabilidade da acessibilidade da norma de obediência e maior a
probabilidade de as pessoas obedecerem. A presença do experimentador manteve os
participantes concentrados exclusivamente na norma da obediência à autoridade, mesmo
quando alguns deles questionavam o que estava a acontecer. Os seus incitamentos-padrão (e.g.,
"Tem de continuar"), fizeram com que a obediência parecesse uma resposta apropriada à
situação.
NORMALIZAÇÃO
A S E X P E R I Ê N C I A S D E MU Z A F E R S H E R I F ( 1 9 3 5 , 1 9 3 6 )
Normalização
Criação de uma norma através de
concessões/influências recíprocas. Os individuos
interinfluenciarem-se explica como pessoas chegam a
normas comuns.
Sherif procurou estudar os processos psicológicos elementares que pudessem estar na base
da formação das normas culturais. Verificou que a formação de normas culturais era um
fenómeno generalizado, na medida em que há uma grande variação intercultural de normas. É
evidente que as regras de conduta e costumas variam imenso de povo para povo, de região para
região, mas não é menos evidente que existe algo de constante nessa variação, e esse algo é a
existência de regras de conduta e costumes em todos os povos e regiões: há uniformidade de
padrões intraculturais. A universalidade das normas (o facto de todos os povos e regiões as
terem) era, para Sherif, um sintoma de um fundamento psicológico comum.
Nas suas experiências, Sherif tomou como ponto de partida um conceito central da psicologia,
o de “QUADRO DE REFERÊNCIA”. Este conceito refere-se à:
Um exemplo que ajuda a perceber este conceito é: se pusermos a mão em água fria e de
seguida em água morna, esta última parecer-nos-á quente. Por outro lado, se colocarmos a mão
em água quente e depois mudarmos para água fria, a água parecer-nos-á fria. Isto acontece
porque as sensações não dependem apenas das qualidades da estimulação, mas também, em
muito, da situação de cada sensação num dado quadro de referência subjacente, onde se
relaciona outras experiências relevantes e acessíveis ao individuo. Assim, a temperatura da água
depende sempre de uma comparação implícita com a experiência imediatamente anterior.
Tomando este ponto de partida, Sherif estava interessado em tornar mais claro este processo,
ilustrando o mais precisamente possível o papel da atividade subjetiva de cada individuo na
criação destes quadros de referência. Este era o problema psicológico básico, mas Sherif não
ficava por aqui, considerava este processo como o fundamento psicológico que se encontrava na
base da formação de normas culturais como fenómeno generalizado. Assim, ao estudar a
formação de quadros de referência, Sherif pretendia aclarar o modo como as atitudes e as
crenças (QUADROS DE REFERÊNCIA INDIVIDUAIS) se interrelacionavam, desde a sua génese, com
as normas grupais e culturais (QUADROS DE REFERÊNCIA SOCIAIS).
faltavam tanto padrões aprendidos de conduta como consistência objetiva e, se mesmo assim o
comportamento dos indivíduos exibisse coerência, esta só poderia advir desta tendência
subjetiva para a organização.
Sherif usou então um fenómeno percetivo: o EFEITO “AUTOCINÉTICO”. Este efeito foi pela
primeira vez identificado na astronomia por Humboldt. Para reproduzir este efeito autocinético
basta colocar um sujeito numa sala completamente escura e acender uma luz fraca durante um
momento. Este verá a luz mover-se. Se se repetirmos a experiência por várias vezes, o individuo
verá a luz mover-se por diversos pontos da sala e em diversas direções quando, na verdade, a luz
permanece sempre imóvel.
Sherif replicou este efeito pedindo aos sujeitos que estimassem a extensão do movimento da
luz. Para tal, usou sempre o mesmo dispositivo experimental, mas fazendo as adaptações
necessárias para abordar diversas questões:
NO LABORATÓRIO ÀS ESCURAS
EXPERIÊNCIAS
INDIVIDUAIS GRUPO
EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS
Os RESULTADOS mostraram que apesar de ter sido registada uma enorme variação
interindividual nas estimativas apresentadas (i.e., as estimativas entre indivíduos foram muito
diferentes), cada participante definiu um intervalo idiossincrático para os seus juízos, oscilando à
volta de um ponto médio cedo encontrado (e.g., distância vai oscilar à volta do valor 8, sendo o
intervalo entre 7 e 10; 8, 8.5, 7, 8.1, 10, 9.5). Assim podemos afirmar que os sujeitos criaram um
quadro de referência idiossincrático.
EXPERIÊNCIAS DE GRUPO
Foi omitido o pedido de um diagrama do movimento, para que os participantes não dessem conta
da ilusão.
direção das dos outros, embora essa convergência fosse menos forte do que quando os
indivíduos não partiam de nenhum quadro de referência. De notar ainda que a convergência
individual em sessões de grupo, apesar de variar em extensão, foi universal.
CONCLUSÕES
NO LABORATÓRIO ÀS ESCURAS
O conjunto de situações verificado nas experiências de Sherif pode ser conceptualizado como
ilustrando o processo geral do modo como os indivíduos e grupos organizam uma realidade
incerta num todo coerente. Basta tomar o padrão individual como um análogo de uma atitude e
o padrão grupal como o análogo de uma norma. Vemos assim que as atitudes tanto podem
basear-se em experiências individuais como em interações com os outros indivíduos. Vemos
também que um conjunto de indivíduos em interação constrói, espontaneamente, normas que
regulam tanto o seu comportamento como a sua perceção da situação. É de notar que o fazem
espontaneamente , mesmo quando não existe qualquer sugestão ou premência em fazê-lo.
Por fim, e como nota, a experiência de Sherif demonstra que numa tarefa de julgamento
ambígua, se verifica influencia social. Preocupado com a facilidade com que os participantes do
Sherif pareciam ser influenciados, Solomon Asch (1951, 1955) decidiu mostrar que se uma tarefa
de julgamento fosse não-ambígua, a influência social seria eliminada. Na realidade, a sua agora
famosa experiência demonstrou precisamente o contrário.
O “BYSTANDER EFFECT”
AULA PRÁTICA 4
Kitty Genovese foi atacada por Winston Moseley quando estava a regressar a casa depois do
seu turno noturno no trabalho. Conseguiu cambalear até a esquina de uma rua, encharcada de
sangue das várias facadas que levou, onde implorou por ajuda. Enquanto as luzes dos
apartamentos da zona se ligavam, o assassino voltou e esfaqueou-a mais uma vez, desta vez
fatalmente. Os relatórios do crime 4da época alegaram pelo menos 38 testemunhas oculares e/ou
auditivas identificadas pela polícia: 38 pessoas que ouviram os gritos de socorro e/ou viram parto
do ataque, sem responder nem mesmo telefonar para a polícia. Apenas uma destas testemunhas
chamou a polícia, cerca de 30’ depois.
Mas mantém-se em falta da explicação que justifique o que aconteceu com as testemunhas.
Serão estas maléficas? Insensíveis? Apáticas? Não. Mais uma vez, o comportamento das
testemunhas nada tem que ver com as características pessoais das mesmas, mas sim com as
NORMAS SOCIAIS e DINÂMICAS GRUPAIS. Justificar os seus comportamentos comos seus fatores
pessoais, seria incorrer no erro fundamental da atribuição.
BYSTANDER EFFECT
DARLEY & LATANÉ (1968)
4
Investigações recentes vieram desmentir alguns dados destes relatórios: provavelmente havia menos de
38 expetadores, a maioria dos quais só ouviu o ataque – as evidências sugerem que apenas 3 deles
realmente viu o assassino e a vitima juntos; o segundo ataque ocorreu numa escada de um prédio, fora da
vista de quaisquer testemunhas, e mais importante; alguns dos espetadores agiram: um gritou pela janela,
afastando
Mª Matilde Silva | ISPA Moseley após o primeiro ataque, e pelo menos um chamou a polícia, que chegou antes de
Genovese morrer.
43
Bystander Effect
No caso do Bystander Effect, parece haver um conflito entre a norma descritiva e a norma
prescritiv. Se, por uma lado, no que toca à norma prescritiva, a norma da responsabilidade social
dita que devemos ajudar os outros quando se encontram numa situação de emergência/perigo;
por outro, no que toca à norma descritiva inferimos que não devemos ajudar aquela pessoa, dado
observarmos que ninguém está a ajudar a pessoa que se encontra em emergência/perigo.
1. A situação devia permitir que uma emergência pudesse ocorrer de forma plausível.
2. Cada sujeito devia estar fisicamente impedido de comunicar com outros para prevenir
que obtivesse informação acerca do seu comportamento durante a emergência.
3. A situação experimental devia permitir a avaliação da velocidade e frequência da reação
dos sujeitos face à emergência.
Neste sentido, os 72 participantes que participaram neste estudo, achavam que se tinham
inscrito num grupo de discussão acerca de problemas pessoais associados à vida académica na
faculdade. Para preservar o suposto anonimato, cada participante foi colocado num cubículo com
um intercomunicador, em vez de face-a-face. Foi-lhes dito também que os microfones iam estar
ativos 2 minutos de cada vez, dando a cada membro do grupo oportunidade de falar enquanto
os outros membros, mas não o experimentador, ouviam.
Na realidade, participou um sujeito de cada vez e foi-lhes dito alternadamente que havia mais
1, 2 ou 5 membros do grupo (representados por gravações de voz). Durante a suposta discussão,
um dos outros membros do grupo (o comparsa), que já teria dito ter suscetibilidade para
epilepsia, começa a fingir estar a sofrer uma convulsão nervosa. Antes de ficar em silencio, fala
com imensa dificuldade e pede ajuda.
Nesta experiência, a VARIÁVEL DEPENDENTE em estudo era a rapidez com que os sujeitos
reportavam a emergência ao experimentador (i.e., o tempo decorrido entre o início da crise da
vítima e o momento em que o sujeito
saía do cubículo experimental), e a
VARIÁVEL INDEPENDENTE o número de
pessoas no grupo de discussão (2, 3 e
6 pessoas: o sujeito critico, a vítima e
os restantes).
E N T Ã O P O R Q U Ê Q U E O S S U J E I T O S N Ã O R E P O R T A R A M A E ME R G Ê N C I A ?
No caso dos sujeitos da ‘condição 2 pessoas’, o conflito foi facilmente resolvido dado o
sofrimento da vítima e a sua necessidade de ajuda. No caso dos sujeitos que sabiam que estavam
presentes outros bystanders, o custo de não ajudar apresentou-se menor e o conflito em que se
encontravam mostrou-se mais agudo.
Note-se que, neste caso, os membros do grupo não interagiam, sendo que o efeito da
dimensão do grupo se deveu à mera perceção da presença de outros e não da influência das suas
ações.
Segundo Latané e Darley o Bystander Effect e, mais concretamente, a inação dos bystanders,
é explicada por dois processos psicológicos: a difusão de responsabilidade e a influencia social.
A DIFUSÃO DA RESPONSABILIDADE diz respeito ao fenómeno de, quando outras pessoas estão
presentes, cada sujeito percecionar uma menor responsabilidade para ajudar, já que a
responsabilidade é entendida como sendo “dividida por todos”. Assim sendo, quanto maior o nº
de testemunhas, maior a inibição social.
uma emergência, para então assumir responsabilidade e conhecer formas apropriadas de assistir
a pessoa em perigo e, só aí, implementar a decisão.
INTERPRETAR O EVENTO
NÃO AJUDA ASSUME A
ENQUANTO EMERGÊNCIA RESPONSABILI
DADE
O sujeito, vendo que os restantes
bystanders não agem, pode inferir que NÃO SIM
a norma descritiva informa que não é
para ajudar aquela pessoa, decidindo
NÃO AJUDA
DECIDE COMO
seguir a norma e interpretar aquele AJUDAR
evento enquanto uma não-emergência
(ignorância pluralista). Assim sendo, o
sujeito não irá intervir. NÃO SIM
ASSUMIR A RESPONSABILIDADE
NÃO AJUDA
IMPLEMENTA
A DECISÃO
Pode verificar-se um processo de
difusão de responsabilidade, i.e.,
perante a presença de múltiplos
bystanders, os sujeitos podem AJUDA!
Os sujeitos podem sentir que não têm o conhecimento ou capacidade necessária para
oferecer uma ajuda apropriada, não intervindo.
IMPLEMENTAÇÃO DA DECISÃO
INOVAÇÃO
AULA TEÓRICA 5
Até agora temos discutido situações em que um sujeito exposto a um emissor de influência
(grupo, autoridade, etc.) se confronta com duas alternativas: manter a independência ou
conformar-se.
Normalização
Conformismo Controlo Social
Obediência
Mas será que, na realidade, o alvo da influência social só dispõe destas alternativas de ação?
A ser assim, as questões de saber porque é que, e como é que, os grupos humanos mudam parece
surgir como mistérios de difícil solução. Mas talvez não sejam a manutenção da independência e
o conformismo as únicas alternativas para a ação, se assim fosse, seria muito difícil explicar como
e porque é que os grupos humanos mudam. Pelo menos em certas condições parece concebível
que o alvo da influência considere uma terceira alternativa: justamente a tentativa de fazer o
grupo mudar., isto é, promover a mudança dos grupos maioritários! Um alvo de influência pode
também tornar-se num emissor de influência bem sucedido.
SERGE MOSCOVICI
Moscovici indaga-se quanto às possibilidades de ação de um sujeito exposto a um emissor de
influência, sendo o primeiro a defender explicitamente que a influência social não se esgota no
conformismo do indivíduo em relação a um grupo majoritário, mas pode envolver igualmente
inovação, ou seja, a mudança da maioria como resultado da influência de uma minoria
consistente, isto é, que influência social envolve também fenómenos em que a pressão social é
exercida por grupos minoritários. Ao conformismo está subjacente um processo psicossocial de
comparação com a maioria e de aceitação pública do comportamento desta; à inovação está
subjacente um processo de validação do julgamento da minoria e de aceitação privada (ou
latente) do julgamento desta.
Moscovici firmou o seu próprio terreno numa critica à perspetiva vigente em influência social,
à qual designou por “funcionalismo” (perspetiva vigente em influência social antes de Moscovici),
e que assenta nos seguintes pressupostos: a influencia social é desigualmente distribuída e
exercida de forma unilateral; a função da influência social é a de manter e reforçar o controlo
social; as relações de dependência determinam a direção e a quantidade de influencia social
exercida num grupo; os estados de incerteza e a necessidade de reduzir a incerteza determinam
as formas tomadas pelo processo de influencia; o consenso almejado pelos intercâmbios de
influencia é baseado na norma da objetividade; todos os processos de influencia social são cistos
sob a perspetiva do conformismo, e o conformismo, por si, é tido como subjacente às
características essenciais deste processo. Estes seis pressupostos promoveram a um lugar central
variáveis secundárias como a dependência e a incerteza, e fizeram negligenciar as funções que a
divergência ocupa na vida normal dos grupos humanos e das sociedades.
Por contraste com esta perspetiva, Moscovici desenvolveu uma nova abordagem dos
fenómenos de influência que designou por TEORIA GENÉTICA. Esta abordagem pode ser
sintetizada da seguinte forma:
i) A distinção entre realidade objetiva e social é negada: a realidade é perspetivada como uma
construção social;
ii) A influência social não é necessariamente resultado de informação objetiva insuficiente ou
ambígua, necessidade de aceitação ou medo de rejeição pelo grupo. A influência social é uma
forma de negociação, a partir da qual se conserva ou modifica uma dada definição mais ou
menos consensual da realidade.
iii) As funções da influência não são apenas de controlo social, são também as de mudança
social (a influência social não conduz, apenas, à instituição de uniformidades sociais, a
modificação destas uniformidades inclui-se, também, entre os seus efeitos).
iv) Esta negociação envolve três processos de gestão do conflito que ocorrem na génese,
manutenção e desenvolvimento dessa definição da realidade:
a) Normalização: o conflito advém da criação de uma norma, e sua resolução faz-se
através de concessões recíprocas (e.g., experiências de Sherif);
b) Conformismo: o conflito gera-se na manutenção na definição de uma dada norma e
é resolvido através da submissão do indivíduo ao grupo (e.g., experiências de Asch).
Este processo ocorre principalmente nos casos em que a maioria é nómica e a
minoria (ou o indivíduo isolado) é anómica;
c) Inovação: o conflito surge a partir da contestação por parte de uma minoria nómica
das normas vigentes e é frequentemente resolvido através da mudança das normas
grupais.
v) Os processos psicossociais subjacentes ao conformismo e à inovação são distintos.
a) Ao conformismo, subjaz um processo de comparação em que a minoria compara o
seu comportamento com o da maioria.
b) À inovação, subjaz um processo de validação em que a maioria tenta adquirir nova
informação que valide o seu comportamento.
Por outro lado, as diferença entre inovação e conformismo conduzirão a que a atenção do
alvo de influência esteja centrada no objeto de julgamento ou estímulo, no caso da inovação, e
no comportamento da maioria, no caso do conformismo. Daí que Moscovici preveja que a
aceitação pública da influência seja maior no conformismo do que na inovação, mas que suceda
o contrário em relação à aceitação privada. No cerne do conformismo estará, portanto, a
submissão, enquanto a inovação implicará conversão.
Mas se não são, nem a dependência, nem a ambiguidade objetiva das situações, as variáveis
cruciais na explicação dos fenómenos de influência, qual é então, para Moscovici, a variável
decisiva na determinação das condições de sucesso ou de insucesso de um dado emissor de
influência? A proposta do autor incide sobre o que ele designou por "ESTILO COMPORTAMENTAL".
Estilo comportamental é a "organização intencional dos sinais verbais e/ou não verbais, que
exprime o significado do estado presente e a evolução futura daqueles que o exibem. Como toda
a sequência de comportamentos comporta dois aspetos: o seu aspeto instrumental fornece uma
informação sobre o objeto que é julgado; o seu aspeto simbólico informa-nos sobre a pessoa que
adota esse estilo". Os estilos comportamentais mais estudados têm sido a flexibilidade, mas
sobretudo a consistência, definida em termos da repetição de afirmações, evitamento de
contradições, etc..
Asch criou uma situação em que uma minoria de indivíduos (um, mais exatamente) era
submetida à pressão implícita provocada pelo comportamento de uma maioria unanime de
indivíduos (comparsas do experimentador). Os resultados demonstraram que essa maioria tem
um impacto significativo no comportamento da minoria. Moscovici, no entanto, chama a atenção
para o facto de que essa “maioria” laboratorial é considerada como uma “minoria”
relativamente à totalidade dos outros seres humanos, uma vez que a grande maioria dos
sujeitos críticos continua provavelmente convencida da correção da sua perceção da situação e
que, portanto, “lá fora”, o resto do mundo estaria de acordo consigo e não com aquela estranha
“maioria de laboratório”. Daí que o sujeito crítico seja minoritário naquela situação (“minoria”
laboratorial), mas representante de uma “maioria de facto” (maioria extralaboratorial). Só
assim se compreendem, segundo Moscovici, a não aceitação privada da influência dos comparsas
manifestada nos resultados das entrevistas pós-experimentais de Asch.
Mas a que se deve então o impacto dessa “minoria de facto”? De acordo com Moscovici, esse
impacto fica a dever-se à consistência sincrónica (todos os comparsas respondiam o mesmo) do
seu comportamento, quer dizer, à unanimidade das suas respostas. Note-se que basta que o
individuo disponha de um aliado (ou seja, que a consistência sincrónica seja quebrada) para
que o impacto dessa “minoria de facto” se reduza dramaticamente.
Houve, então, uma influência de uma minoria de facto (minoria extralaboratórial). Asch, sem
saber, foi o primeiro a demonstrar que uma minoria consistente pode modificar o
comportamento de uma maioria (ou, pelo menos, de um seu “representante”).
OS PRIMEIROS ESTUDOS
A E X P E R I Ê N C I A D E MO S C O V I C I , L A G E E N A F F R E C H O U X ( 1 9 6 9 )
O paradigma experimental mais conhecido de Moscovici consistia numa tarefa de acuidade visual
seguida do teste de perceção de cores de Farnsworth. Seis participantes (dois dos quais comparsas do
experimentador) deviam identificar a cor (azul ou verde) de 24 diapositivos. Embora todos os diapositivos
fossem azuis, as minorias de dois comparsas respondiam sempre "verde". As respostas dadas nesta tarefa,
pelos participantes que constituíam a maioria, medem a aceitação pública da minoria; as respostas no teste
de Farnsworth medem a aceitação privada.
Participaram estudantes de arte, direito e ciências sociais, do sexo feminino, e a situação era
apresentada como um estudo sobre perceção das cores. A CONDIÇÃO EXPERIMENTAL
desenrolava-se em quatro fases:
Existia ainda uma CONDIÇÃO DE CONTROLO, em tudo igual à condição experimental, mas que
não incluía comparsas. Ou seja, na condição de controlo os grupos eram constituídos por seis
participantes "críticos".
Mas mais importante ainda: verificou-se uma diferença significativa nos limiares de
diferenciação entre o azul e o verde dos participantes das condições controlo e
experimental. Mais concretamente, no teste de Farnsworth, os participantes críticos que
participaram na condição experimental designavam um maior número de círculos da gama
azul/verde como "verdes" do que os participantes da condição controlo. Esta diferença entre
condições deve ser considerada como uma medida da aceitação privada da influência da minoria.
Merece realce um outro resultado: não existiram diferenças no desempenho do referido teste
entre os participantes críticos pertencentes a um grupo com relativamente grande aceitação
pública da influência e os que participaram em grupos em que essa aceitação foi
relativamente pequena. Quer isto dizer que a aceitação privada revelou os seus efeitos,
independentemente da aceitação pública da influência da minoria.
Estes resultados demonstram que uma minoria de indivíduos pode ter um impacto
(moderado) nas respostas públicas de uma maioria em relação a um objeto de julgamento que
se pode considerar como objetivamente não ambíguo. Mais: estes resultados demonstram que,
ao contrário do que acontece geralmente no paradigma de Asch, um emissor minoritário pode
levar à aceitação privada da sua influência, independentemente da sua aceitação pública.
VARIAÇÕES EXPERIMENTAIS
F A T O R E S D E T E R MI N A N T E S P A R A A MI N O R I A E X E R C E R I N F L U E N C I A
A CONSISTÊNCIA DA MINORIA
Moscovici, Lage e Naffrechoux (1969) realizaram uma experiência idêntica em tudo ao
anteriormente citado, exceto num detalhe: a minoria, em vez de fornecer apenas respostas
“verde”, fornecia respostas “verde” e “azul” em igual número. Alteraram, então, o grau de
consistência dos comparsas. Mais concretamente, os comparsas responderam 14 vezes "verde"
e 12 vezes "azul", sendo a dispersão das respostas "azul" aleatorizada.
Os resultados mostraram que, nessa circunstância, a minoria não teve qualquer impacto nas
respostas dos participantes críticos. Assim, a consistência sincrónica é condição necessária para
Parece que não. De facto, o que parece essencial é a consistência percebida de dada
sequência de comportamentos minoritários, mesmo se isso implicar variabilidade de
respostas. Nemeth, Swedlund e Kanki, realizaram uma variação do paradigma de Moscovici, em
que eram possíveis, não só as respostas "azul" e "verde", mas também uma resposta intermédia:
"verde-azul". Introduziram cinco tipos de condições: condição "verde": a minoria só dava
respostas "verde"; condição "verde-azul": a minoria respondia sempre "verde-azul"; condição
"aleatória": a minoria respondia metade das vezes "azul" e a outra metade "verde", em sucessão
aleatória; condição "correlação": a minoria respondia metade das vezes "azul" e a outra metade
"verde", mas existia uma correlação perfeita entre a utilização de cada uma das cores e a
luminosidade dos 28 diapositivos; e condição "controlo": sem influência minoritária (sem
comparsas do experimentador).
Resumindo: uma minoria respondendo de forma diversificada, embora coerente, foi mais
eficaz do que uma minoria que manteve continuamente a mesma resposta ou do que uma
minoria que apresentou sempre uma resposta que indicava compromisso. Portanto, uma minoria
não deve a sua eficiência à sua capacidade do conflito nem à sua capacidade de compromisso,
mas à habilidade que tiver de induzir a perceção da sua consistência., isto é, o estilo
comportamental percebido da minoria é importante para o impacto que esta tem numa maioria.
Tentando estudar esta questão, Nemeth, Wachtler e Endicott, fizeram variar a dimensão da
minoria, mantendo constante o número de participantes críticos em cada grupo. Os resultados
foram bastantes interessantes. Por um lado, quanto maior é a minoria, maior é a sua competência
percebida e menor é a autoconfiança percebida. Por outro lado, foi demonstrado que ambas as
variáveis, se tomadas simultaneamente, preveem o impacto da minoria (a sua influência cresce
até aos três indivíduos e decresce a partir daí). Resumindo: O IMPACTO DE UMA MINORIA É
DETERMINADO CONJUNTAMENTE PELA CONSISTÊNCIA PERCEBIDA DO SEU COMPORTAMENTO E
PELA AUTOCONFIANÇA PERCEBIDA NAS SUAS RESPOSTAS.
CONCLUSÕES
Será que é uma qualquer minoria que pode ter impacto numa maioria? Não! A minoria tem
de ser: ativa (i.e., nómica), e o seu estilo comportamental tem de ser percecionado como
consistente, sincrónica (unanimidade dos elementos...) e diacronicamente (...ao longo do
tempo), e autoconfiante.
DEFINIÇÃO DE INOVAÇÃO
O QUE É, AFINAL, A INOVAÇÃO? E COM SE PROCESSA?
The members of the majority change their minds, adopting the minority point
of view without overtly yielding. At first they may not be aware of what has
happened, because of the taboos in place, and yet everyone begins to see, think
and even act differently.
Fase da Revelação
•Uma minoria consistente e resoluta emerge e confronta a maioria com um sistema de
crenças ou práticas anti normativas.
•Supera as críticas e oxs obstáculos iniciais até se fazer ouvir.
Fase da Incubação
•As novas mensagens são repetidas e divulgadas, tornam-se familiares e começam a
penetrar na linguagem quotidiana.
•A polémica em torno delas confere-lhes uma intensidade especial e imbui-as de
paixão.
•Os indivíduos, mesmo que inconscientemente (não intencionalmente), começam,
então, a incorporar as crenças e práticas da minoria, uma vez que são muito
prevalentes e repetidas por quase todos.
•O estilo comportamental da minoria é decisivo nesta fase, em especial a consistência,
porque a consistência confere às palavras e aos gestos um significado psicológico
adicional e densidade emocional.
Fase da Conversão
•A maioria internaliza o ponto de vista da minoria.
A distinção entre os vários tipos de motivações que podem levar um individuo a ser
influenciado por outros tem sido uma das preocupações clássicas no estudo da influência social
e também um dos pontos de maior convergência. A distinção mais geral e mais conhecida é a de
Deutsch e Gerard. Basicamente estes autores defendem que o grau de influência que um
emissor terá sobre um alvo é mediado pela relação de dependência que se estabelece entre
o primeiro e o segundo.
Estes autores distinguem dois tipos de influência social: influência social normativa e
influência social informativa.
A distinção entre influencia informativa e normativa não pode ser considerada como definindo
duas categorias mutuamente exclusivas de influência.
DESVIACCIONISMO
AULA PRÁTICA 5
Par Schachter, nos grupos sociais existem pressões para a uniformidade do comportamento e
das atitudes por parte dos seus membros. As pressões para a uniformidade no seio dos grupos
são influenciadas pela coesão interna (quanto maior a coesão, maior a pressão) e pela pertinência
da tarefa quanto maior a pertinência, maior a pressão). Desta forma, o objetivo do autor foi
avaliar a influência das variáveis coesão do grupo, pertinência da tarefa e magnitude do desvio
sobre a rejeição dos membros do grupo.
Foram criados quatros tipos de clube: estudos de casos, jornalismo, cinema e rádio. Cada
clube formava uma condição:
No total, formaram-se 32 clubes (8 de cada tipo), cada um com 8 a 10 participantes, três dos
quais eram comparsas. Os participantes eram todos estudantes da Universidade de Michigan do
sexo masculino, convidados para a participação em clubes de discussão.
Depois do caso ser lido, cada membro do grupo anunciava a sua posição de acordo com a
escala. Um dos comparsas, o “desviante”, adotava uma posição completamente desviante e
mantinha-a ao longo da discussão (posição 7 da escala: disciplina extrema); o comparsa
“conformista” adotava e mantinha a posição modal desde início e só alterava a sua posição se o
consenso do grupo alterasse para outra resposta (posição 2 a 4 da escala: amor e simpatia); o
comparsa “convertido” alterava a sua posição a meio da discussão, de castigo extremo para
posição modal. O caso foi escrito de uma forma “simpática” para assegurar que o primeiro
comparsa fosse mesmo desviante.
A discussão teve um tempo limite de 45 minutos, sendo que o experimentador (o “líder”) aos
20 minutos tomava a palavra para ter a certeza que todos os membros tinham noção da posição
adotada por cada um. Fora isso, o experimentador não intervinha a não ser que lhe fizessem
perguntas diretamente. No final da discussão o experimentador mudava de assinto para o futuro
do clube, e foi pedido aos participantes que preenchessem um formulário de nomeação de
membros do grupo para comissões de estatuto variável (Executiva, Direção, Administrativa) e um
questionário sociométrico (escolha dos elementos a permanecer no grupo caso fosse necessário
excluir alguns membros).
As variáveis dependentes eram, então, o grau de rejeição de cada comparsa pelos outros
membros do grupo na nomeação dos membros do grupo para comissões e nos questionários
sociométricos e a comunicações dirigidas a cada comparsa medidas através de um registo
assegurado por observadores com base em grelhas (“quem falou com quem”; “quem
atacou/defendeu quem”).
Em ralação aos RESULTADO, e no que toca à variável dependente grau de rejeição dos
comparsas, estes mostraram que o desviante foi o elemento mais indicado para as comissões
administrativas (menor estatuto) e esta tendência aumentou nos grupos em que a tarefa
assumia uma elevada pertinência. Também nos questionários sociométricos o desviante foi
o elemento mais fortemente rejeitado, e verificou-se o aumento desta tendência nos grupos
com elevada coesão. Já no caso da variável dependente processo de comunicação, o desviante
foi o elemento alvo de um maior número de comunicações, as quais tenderam a aumentar
para o final da reunião. Por outro lado, o convertido passou a ser alvo de um menor número
de comunicações a partir do momento em que adotou a posição da maioria, estado o número
de comunicações com ele sempre entre as comunicações com desviante e conformista. O
conformista foi alvo de um número de comunicações reduzido.
Verificou-se, então, a principal descoberta de Schachter (no que toca ao teste sociométrico),
embora com uma magnitude de efeito menor. Uma possibilidade intrigante é que encontraram
reações algo mais fracas aos desviantes, porque a sociedade pode estar a tornar-se mais
tolerante a indivíduos que têm opiniões divergentes.
RELAÇÕES INTERGRUPAIS
Existe uma multiplicidade de definições para o conceito de “grupo”, que diferem consoante
os autores e consoante as perspetivas teóricas que adotam. Contudo, existem alguns atributos
consensuais quanto à definição este conceito:
Já um grupo social, define-se como um conjunto de duas ou mais pessoas que partilham uma
determinada característica SOCIALMENTE SIGNIFICATIVA para elas ou para os outros (Shaw, 1976;
Tajfel & Turner, 1979; Turner, 1981). O termo chave nesta definição é “socialmente significativa”,
uma vez que retira da qualificação como grupo social pessoas que partilham um qualquer
atributo, como peões que estão à espera no mesmo lugar para atravessar a mesma rua. As
categorias socialmente significativas variam com o tempo e com a cultura.
Os grupos podem ser de muitos tipos: por um lado, indivíduos que acreditam partilhar
atributos socialmente significativos são um grupo, mesmo que outros não pensem neles
dessa forma; por outro pessoas que são vistas pelos outros como partilhando semelhanças
significativas também são um grupo, mesmo que eles próprios não tenham essa opinião.
Assim, um conjunto de pessoas pode simultaneamente considerar-se como membro do grupo
“ambientalistas” e ser, por outros, considerado como membro do grupo “imigrante”.
A forma como os grupos são percecionados pode ser investigada à luz de uma perspetiva
centrada nas relações intergrupais e desenvolvida a partir das perspetivas da identidade e da
categorização social. Na perspetiva da identidade social, os observadores perdem o estatuto de
neutralidade, de “puros” processadores de informação, querendo isto dizer que os observadores
pertencem, eles próprios, a grupos, e é a partir dessa condição que percecionam tanto o
seu próprio grupo (endogrupo) como os outros grupos (exogrupos) com os quais se
relacionam.
Autoestima
Avaliação, positiva ou negativa, de um indivíduo acerca
de si próprio: como é que o indivíduo se sente acerca
de si próprio?
Há uma tendência para preservar ou amplificar a auto-
estima (e.g., self-serving bias: self-protecting e self-
enhancing).
IDENTIDADE SOCIAL
A identidade social engloba os aspetos do autoconceito que derivam do nosso conhecimento
e sentimentos acerca das pertenças grupais que partilhamos com outros, transformando o “eu”
em “nós”. Esta identidade é influenciada pela identidade de género, regional, nacional,
profissional, etc..
Influenciados pelos estudos de Sherif, entre os quais “a caverna dos ladrões” (que manipulou
as relações intergrupais, induzindo competição entre os grupos da experiência), duas das
questões que motivaram Tajfel e Turner a desenvolver a Teoria da Identidade Social foram: “a
competição intergrupal pode ser suficiente para gerar hostilidade, mas será necessária?” e “quais
serão as condições mínimas que produzirão este enviesamento grupal?”.
Desta forma, Tajfel e Turner (1979) reconheceram, em primeiro lugar, a importância da Teoria
dos Conflitos Realistas para a Psicologia Social:
É esta atenção á questão da identificação com o endogrupo, no quadro de uma relação entre
grupos, que vai permitir o desenvolvimento da Teoria da Identidade Social e das Relações
Intergrupais. A Teoria da Identidade Social (TIS) baseia-se no pressuposto de que todos os
indivíduos têm necessidade de um autoconceito positivo, e que a nossa pertença a grupos
nos ajuda a conseguir definir e a manter positivo esse autoconceito.
Autoconceito
Conjunto de crenças do sujeito acerca das suas
características pessoais: O que é que o indivíduo sabe
acerca de si próprio?
Assim, os indivíduos tendem a afiliar-se num grupo quando este pode fornecer-lhe
aspectos positivos para a sua identidade (procura de uma auto-estima positiva através da
pertença a grupos). Relembrando um pressuposto da psicologia social, o individuo valoriza o “eu”
e do “meu” e necessita de uma avaliação positiva de si próprio (mecanismo motivacional).
Com efeito, a teoria defende que a motivação das pessoas para obter um autoconceito
positivo mediante a pertença a grupo, isto é, a motivação para obter uma identidade social
positiva, constitui uma força motriz por detrás do enviesamento endogrupal (“fenómeno
laboratorial análogo ao etnocentrismo do mundo real”). Este favoritismo ou ENVIESAMENTO
ENDOGRUPAL é definido como a tendência para favorecer membros do endogrupo em
detrimento de membros do exogrupo em domínios percetuais, atitudinais ou comportamentais.
Assim, pode ser considerado uma estratégia de self-enhancement através da componente social
do autoconceito de um individuo. O enviesamento endogrupal surge então como uma forma de
preservar uma diferenciação positiva do endogrupo em relação ao exogrupo em dimensões
de comparação relevantes.
apenas na inclusão das pessoas em categorias. Implicam, também, a atribuição do valor que é
socialmente reconhecido a essa categoria. Assim se entende que a CATEGORIA SOCIAL (coleção
de dois ou mais indivíduos que têm, pelo menos, um atributo em comum que os distingue
dos membros de outras categorias) seja vista enquanto constructo social. Note-se que os
próprios indivíduos “categorizadores” se situam no interior do sistema de categorias.
Categorização social
Processo de identificar pessoas individuais como
membros de um grupo social porque partilham certas
características típicas do grupo. Pode ser: auto-
categorização (o processo de se ver a si próprio como
membro de um grupo social); e/ou hetero-
categorização.
Assim, se eu pensar nos europeus acharei que têm muitas coisas em comum e por isso
encontrarei sobretudo semelhanças entre eles. Mas, se em seguida, forem salientes as perceções
de que pertenço ao grupo dos portugueses, e de que os outros europeus pertencem ao grupo
dos Italianos, muito provavelmente sobrestimarei as diferenças entre portugueses e italianos e
acentuarei as semelhanças dentro de cada um destes grupos nacionais.
O paradigma dos grupos mínimos foi uma situação experimental criada por Tajfel e
colaboradores, para estudar o enviesamento ou favorecimento endogrupal, e testar a sua teoria
da Identidade social, uma vez que até então visava a perspetiva de que o enviesamento
intergrupal resultava de um conflito de interesses entre os grupos (competição social). Este
paradigma alargou consideravelmente o conceito de grupo, o qual passou a abranger toda e
qualquer situação resultante de uma categorização social.
Foi criada uma situação socialmente vazia de modo a isolar a variável categorização
enquanto condição mínima da emergência da discriminação intergrupal. Os 48 sujeitos
pertenciam todos ao mesmo sexo e faixa etária (adolescentes) e, embora se conhecessem pois
pertenciam à mesma turma, não houve interação entre eles em nenhuma das fases da
experiência. A categorização ou criação artificial dos grupos foi induzida através de um critério
totalmente abstrato e sem qualquer significado (“Grupo Klee” vs. “Grupo Kandinsky”, pintores
contemporâneos estrangeiros). O objetivo não era apurar efetivamente a preferência estética,
mas sim a forma que os autores arranjaram para criar 2 grupos, desprovidos de significado. A
identidade dos membros aos quais os sujeitos atribuíam a quantia era desconhecida
(identificados por um número e pelo grupo a que pertenciam).
Assim, num primeiro momento, os sujeitos manifestaram a sua preferência estética por um
de dois quadros apresentados numa série de 12 diapositivos. Posteriormente, um
experimentador procedeu (supostamente) ao tratamento das respostas dos sujeitos, simulando
a classificação das respostas para depois apurar em qual dos grupos é que os sujeitos seriam
incluídos em função das suas preferências (na realidade esta distribuição foi aleatória). Depois
desta tarefa, foi solicitado aos alunos que participassem num estudo sobre os processos de
tomada de decisão. Para tal, foi-lhes distribuído um caderno com o nome do pintor supostamente
preferido na primeira página para designar o grupo de pertença de cada sujeito. No interior do
caderno, cada folha apresentava uma matriz de números que representavam um valor em
dinheiro, e a tarefa era decidir a quantia que queriam atribuir a um membro do grupo de
pertença e a um membro do outro grupo, ambos designados por números. A variável
dependente é, então, a estratégia de escolha adotada pelo aluno: se tendia a favorecer o
endogrupo, o exogrupo, ou se era uma escolha equitativa.
O caderno com as 44 matrizes incluía 2 diferentes tipos de matriz, que implicavam diferentes
raciocínios de escolha, distribuídas de forma aleatória em cada caderno.
EXEMPLO DE MATRIZ A
GPM
Endogrupo 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE
Recompensa Comum 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Diferença 18 15 12 9 6 3 0 3 6 9 12 15 18 RMC
DM
EXEMPLO DE MATRIZ B
GPM
Endogrupo 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE
Recompensa Comum 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44
Diferença 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 RMC
DM
ESTRATÉGIAS DE RESPOSTA
ESTRATÉGIA DE DIFERENCIAÇÃO
BENEFICIANDO O GRUPO PRÓPRIO
AUTOFAVORITISMO ABSOLUTO
EXEMPLO NA MATRIZ A
GPM
Endogrupo 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE
Recompensa Comum 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Diferença 18 15 12 9 6 3 0 3 6 9 12 15 18 RMC
DM
AUTOFAVORITISMO RELATIVO
Com base na diferença máxima possível entre o grupo próprio e o outro grupo, que favoreça
o grupo próprio, mesmo significando ganhar menos em termos absolutos (i.e., à custa de
perdas objetivas para o membro do endogrupo). Por outras palavras, só se preocupa com o
que o outro grupo recebe, no sentido competitivo de procurar que o exogrupo receba o menos
possível, mesmo que isso implique que o endogrupo receba menos.
Preferência pela diferença máxima entre os grupos (DM), em detrimento da recompensa
máxima para o próprio grupo (GPM) e da recompensa máxima comum (RMC).
EXEMPLO NA MATRIZ B
GPM
Endogrupo 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE
Recompensa Comum 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44
Diferença 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 RMC
DM
ESTRATÉGIAS DE INDIFERENCIAÇÃO
Preferência pela recompensa máxima comum (RMC), em detrimento da recompensa máxima
para o próprio grupo (GPM) e diferença máxima entre os grupos (DM).
EXEMPLO NA MATRIZ A
GPM
Mª Matilde Silva | ISPA
65
Endogrupo 19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE
Recompensa Comum 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32
Diferença 18 15 12 9 6 3 0 3 6 9 12 15 18 RMC
DM
Preferência pela recompensa máxima comum (RMC) e recompensa máxima para o próprio
grupo (GPM) em detrimento da diferença máxima entre os grupos (DM).
EXEMPLO NA MATRIZ B
GPM
Endogrupo 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Exogrupo 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 GOM
DE
Recompensa Comum 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44
Diferença 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 RMC
DM
Desta forma, conclui-se que a categorização é suficiente para que haja enviesamento
endogrupal. Este paradigma dos grupos mínimos foi determinante para mostrar os efeitos da
categorização e sua relativa independência em relação à natureza das relações de cooperação ou
de competição entre grupos, uma vez que o processo de discriminação encontrado se justifica
não pela procura de uma recompensa monetária, mas sim pela procura de uma identidade social
positiva.
Uma hipótese básica para explicar os resultados obtidos é que as pressões da identidade
social para avaliar o endogrupo positivamente, através de comparações entre o endogrupo
e um exogrupo relevante, levam os grupos socias a tentarem diferenciar-se uns dos outros.
As fotografias alvo das crianças foram apresentadas uma de cada vez, com uma
ATITUDE EXPLICITA
ordem aleatória, e as crianças indicaram a sua preferência para cada estímulo.
ALOCAÇÃO DE Foi dito às crianças que podiam distribuir até 5 moedas entre as duas crianças (do
RECURSOS grupo vermelho vs. do grupo azul) da forma que quisessem.
"Ouvirão falar de algo que alguém fez. O vosso trabalho é decidir quem o fez.”
ATRIBUIÇÃO Foi descrito um breve comportamento, ou com valência positiva (e.g., “quem fez
COMPORTAMENTAL biscoitos para todos os seus amigos?”) ou com valência negativa (e.g., “quem levou
algum dinheiro sem pedir?”).
ATITUDE IMPLÍCITA Implicit Association Test (IAT)
Era contada à criança uma de duas histórias, ou sobre um membro do endogrupo ou
sobre um membro do exogrupo. Em ambas as histórias o protagonista (um membro do
FREE-RECALL
mesmo sexo ou do endogrupo ou do exogrupo) apresentava quatro comportamentos
MEMORY TEST
positivos e quatro comportamentos negativos. Depois de contada a história era
perguntado à criança o que é que ela se lembrava da história.
Recent studies have reported that the variable of social categorization per se is sufficient for intergroup
discrimination. This paper presents an explanation of these findings in terms of the operation of social
comparison processes between groups based on the need for a positive ingroup identity. The relationship
between perceived social identity and intergroup comparison is elaborated theoretically, and it is argued
that social comparisons give rise to processes of mutual differentiation between groups which can be
analysed as a form of ‘social’ competition. Social competition is distinguished from realistic competition
(conflict of group interests). New data is reported which strengthens this interpretation of the ‘minimal’
categorization studies. It is found that minimal intergroup discrimination takes place in the distribution of
meaningless “points” as well as monetary rewards and that social categorization per se does not lead to
intergroup behaviour where the subjects can act directly in terms of ‘self‘.
CONDIÇÃO SO CONDIÇÃO OO
Cada escolha revertia para o próprio e Os participantes apenas podiam escolher
para um outro sujeito, que era um membro ou dois outros sujeitos (“Situação Tajfel”).
do endogrupo ou do exogrupo.
Foi ainda encontrada uma discriminação eu-outro, mas não uma discriminação intergrupal,
tanto na “condição M” como na “condição V”, na condição SO-OO. Quando a situação
experimental o permitiu, o autofavoritismo substituiu o favoritismo pelo endogrupo e a
discriminação interindividual substituiu a discriminação intergrupal. Foi então possível
delinear as condições sob as quais a categorização em grupos não é suficiente para a
discriminação intergrupal.
Em suma, os resultados obtidos por Turner evidenciaram o efeito da competição social por
uma identidade pessoal positiva, a qual explicaria os resultados das experiências dos “grupos
mínimos”. O grupo de pertença seria então uma entidade temporária e arbitrária que serviria à
satisfação da necessidade de um self positivamente distintivo.
Ainda, a Teoria da Identidade Social toma a identidade social como variável explicativa da
diferenciação e da discriminação intergrupal. No entanto, os processos associados à
diferenciação e à discriminação intergrupal devem ser explicados no contexto das relações
interpessoais e de poder. Então, como explicar, à luz do Modelo da Identidade Social da Escola
de Bristol, determinadas relações intergrupalis Por exemplo, como explicar as relações
intergrupais que envolvem as categorias “masculino” e “feminino”? É que, no contexto destas, a
distintividade positiva do próprio e do seu grupo correspondem a um padrão percetivo e
comportamental mais do sexo masculino do que do sexo feminino.
A ESCOLA DE GENEBRA
D E S C H A MP S & D O I S E
5
O CASO PARTICULAR DAS RELAÇÕES ENTRE SEXOS
D E S C H A MP S & D O I S E
5
note-se que no PGM os participantes pertenciam todos ao sexo masculino.
ASSIMETRIAS DE PODER
P Ó L O D O MI N A N T E V S . P Ó L O D O MI N A D O
AULA TEÓRICA 7
O preconceito é um dos processos que leva à discriminação, uma vez que os processos que
conduzem à discriminação incluem, por norma, o preconceito (e.g., preconceito baseado na raça
(racismo), no sexo (sexismo) e noutras categorias sociais (outros “-ismos”). Não obstante, o
preconceito pode ser positivo ou negativo, havendo uma preocupação fundamental com o
preconceito negativo, na medida em que é este que se encontra na base de muitos dos
fenómenos de discriminação social negativa. Assim, o preconceito define-se como avaliação,
positiva ou negativa, de um grupo social e dos seus membros.
CATEGORIZAÇÃO ESTEREÓTIPO
Está na origem dos estereótipos e do Estruturas cognitivas que enformam os modos
preconceito. O pensamento humano tem de de pensar, sentir e agir. É uma crença exagerada
utilizar categorias para pensar, e uma vez associada a uma categoria. A sua função é justificar
formadas, essas categorias constituem a base dos a nossa conduta em relação a essa categoria, não
preconceitos. A cognição através de categorias faz sendo idêntico a uma categoria, mas mais uma
parte do processo cognitivo normal, e as ideia fixa que a acompanha. Tem a função,
categorias mais relevantes para gerar socialmente partilhada, de justificação dos
preconceitos são as que contêm, para além do preconceitos.
conceito, a sua avaliação.
6
A discriminação pode ter várias manifestações, que podem ir desde: a antilocução (verbalização negativa),
até ao extermínio, passando por evitamento, segregação e ataque físico.
Mª Matilde Silva | ISPA
73
NÍVEL INTRAINDIVIDUAL
TEORIA DA FRUSTRAÇÃO-AGRESSÃO
DOLLARD ET AL. (1939)
Dollard evocou como exemplo deste fenómeno o antissemitismo que grassou na Alemanha
entre as duas guerras mundiais do século XX. e que culminou com a subida ao poder da ideologia
nazi. Segundo ele, Hitler só teve possibilidade de achar eco na nação alemã para a sua proposta
nacionalista e de purificação étnica da “raça ariana”, exterminando massivamente, entre outros
grupos, os judeus, porque a Alemanha tinha sofrido um colapso económico muito grave como
perdedora da guerra de 1914-1918, o que teria constituído uma enorme frustração em relação
às expectativas e ambições imperiais do povo alemão.
LIMITAÇÕES DA TEORIA
Apesar de alguma evidência empírica que lhe ofereceu suporte (e.g., Miller & Bugelski, 19487;
Tanter, 1966 8 ) e das alterações introduzidas por Berkowitz (e.g., 1922, 1969, 1989), a teoria
apresenta limitações no que toca à dificuldade em predizer qual o alvo a agredir pelo
deslocamento da agressão (nomeadamente quando se trata de relações intergrupais). Ainda, a
investigação mostrou que a frustração objetiva não é necessária nem suficiente para que
ocorra a resposta agressiva, limitando assim a aplicação da teoria a um número bem mais
restrito de situações.
Tentou explicar as atrocidades cometidas pelo regime nazi, e o preconceito em geral, através
de uma disposição interna aprendida no decurso do processo educativo e internamente
estruturante de um tipo de personalidade — a “PERSONALIDADE AUTORITÁRIA”. Ao contrário
de Dollard e colaboradores, que faziam depender a agressão de condições externas identificadas
como frustrações, a proposta de Adorno, Frenkel-Brunswik, Levinson e Sanford (1950), embora
também partilhe a hipótese do deslocamento da hostilidade contra alvos mais fracos e
inocentes, situa a origem dessa hostilidade numa constelação de características atitudinais
7
Miller e Bugelski (1948) estudaram essa hipótese com rapazes num campo de férias, privando um dos
grupos de uma saída noturna para responderem a uma série de testes propositadamente desinteressantes,
o que constituiu a situação de frustração. A medida da esperada hostilidade não se verificou em relação
aos experimentadores, enquanto causadores da frustração, mas deslocou-se, também como esperado,
para dois grupos minoritários no campo de férias. Em comparação com um grupo que pôde sair à noite, a
medida das atitudes do grupo "frustrado", antes e depois do incidente noturno, mostrou que, depois da
frustração, os estereótipos sobre aqueles dois grupos se tornaram mais negativos.
8
Num âmbito social alargado, Tanter (1966) tentou relacionar o grau de conflitualidade interna com o grau
de conflitualidade externa em 83 países, esperando uma correlação negativa numa análise sincrónica e
Mª Matilde Silva
uma| ISPA
correlação positiva numa análise diacrónica. Os resultados mostraram que, quando existem
dificuldades internas graves, são mais prováveis, no mesmo âmbito temporal (análise sincrónica), os
conflitos internos e não os externos; mas quando a conflitualidade interna traz graves dificuldades ao país,
é provável que, na sequência destas (análise diacrónica), a conflitualidade se desloque para alvos externos
— como Dollard e colegas sugeriram em relação ao desencadeamento da Segunda Guerra Mundial pela
Alemanha — diminuindo então a conflitualidade interna.
75
aprendidas, derivadas dos efeitos de amor-ódio criados por uma educação repressiva
parental: essa constelação integra a obediência, o respeito rígido e a admiração pelas figuras
da autoridade e pela ordem, a intolerância à ambiguidade na definição da hierarquia social
e dos valores que lhe estão associados e a necessidade de identificar “bodes expiatórios”
nos membros de grupos minoritários desviantes. Mais concretamente, esse processo
educativo traduz-se numa educação parental repressiva que “ensina” valores fascistas.
Para verificar esta hipótese sobre a origem e a natureza das atitudes preconceituosas, Adorno
e os seus colegas construíram uma escala de atitudes (a F scale), uma escala de atitudes que
pretendia medir a dimensão fascista da “personalidade autoritária”, composta por quatro
subescalas: (1) etnocentrismo; (2) antissemitismo; (3) pró-fascismo; e (4) conservadorismo
político-económico.
LIMITAÇÕES DA TEORIA
Apesar do sucesso persistente desta teoria na psicologia, apoiado em vários estudos que
utilizaram a F-scale enquanto medida de tendências fascistas e racistas, algumas críticas lhe têm
sido dirigidas. Estas críticas sublinham sobretudo a insuficiente atenção, dada pela teoria, a
fatores de natureza social e cultural. Além disso, apesar de a “personalidade autoritária” poder
predispor algumas pessoas a serem preconceituosas em determinados contextos, a cultura do
preconceito, traduzida em normas sociais que o legitimam, é suficiente para explicar as
atitudes intergrupais preconceituosas.
Hostilidade e
Agressão
Origem
Frustração Ideologia
Cognição
Dollard Et Al. Adorno Et. Al.
Rokeach (1948)
(1939) (1950)
NÍVEL INTER-INDIVIDUAL
TEORIA DA CONGRUÊNCIA DE CRENÇAS
ROKEACH (1960)
Sendo crucial na teoria do espírito fechado a hipótese de que na origem do preconceito está
o desenvolvimento de um sistema de crenças rígido e impermeável a nova informação,
Rokeach desenvolveu paralelamente a Teoria da Congruência de Crenças, que prevê que a
perceção de semelhança entre os sistemas de crenças de dois indivíduos confirma a validade do
seu sistema de crenças individual. Ademais, esta perceção de semelhança ou congruência
determinaria a atração interindividual e, por sua vez, a probabilidade de desenvolvimento de
atitudes interindividuais positivas. Nas palavras de Rokeach, “a crença é mais importante do
que a pertença étnica ou racial como determinante da discriminação social”.
NÍVEL INTER-GRUPAL
TEORIA DA PRIVAÇÃO RELATIVA
STOUFFER ET AL. (1949)
O conceito de privação relativa foi cunhado por Stouffer no seu estudo “O Soldado
Americano”, realizado nos EUA no decurso da Segunda Guerra Mundial. O fenómeno que chamou
a atenção dos autores foi o elevado grau de insatisfação expresso pelo pessoal da Força Aérea,
em relação ao qual se constatou a existência de um ritmo rápido de promoções, em comparação
com a satisfação relativamente elevada do pessoal da Polícia Militar, em que as promoções
se processavam a um ritmo lento e descontínuo. Os autores encontraram a explicação para
este fenómeno, aparentemente contraintuitivo, na discrepância entre o elevado nível de
expectativas dos primeiros e o baixo nível de expectativas dos últimos: enquanto para os
membros da Força Aérea as promoções rápidas e alargadas dificilmente conseguiam
corresponder ao que aspiravam, para os membros da Polícia Militar, mesmo as poucas
promoções produziam satisfação, já que excediam as suas expectativas. A interpretação deste
fenómeno deu origem ao conceito de privação relativa, definido como um sentimento de
privação decorrente da comparação entre um recurso a que se aspira e a que se julga ter direito
(e.g., poder, dinheiro, prestígio) e aquilo que se obtém.
AULA PRÁTICA 7
Esta hipótese da importância da natureza das relações que os grupos estabelecem para
atingir os seus objetivos e das suas consequências nas atitudes e comportamentos dos seus
membros foi alvo de atenção de vários psicólogos, mas o seu enunciado teórico deve-se a
Campell, na sua Teoria dos Conflitos Realistas. No centro da teoria está a proposição de que essas
atitudes e comportamentos (de conflito ou cooperação) decorrem dos interesses objetivos
dos grupos naquela situação. Sempre que os recursos forem divergentes, mas os grupos
precisarem de interagir para os defender, ou sempre que os interesses forem convergentes, mas
os recursos forem limitados ou indivisíveis, é possível predizer que se desenha uma RELAÇÃO DE
CONFLITO, traduzida em atitudes intergrupais etnocêntricas e competitivas que podem atingir
formas elevadas de hostilidade, de discriminação ou mesmo de agressão (grupos competem
por recursos limitados). Pelo contrário, quando os interesses objetivos de dois grupos forem
convergentes e os recursos suficientes, é possível predizer que se desenha uma RELAÇÃO DE
COOPERAÇÃO, sendo então os comportamentos e as atitudes menos etnocêntricos, mais
centrados na resolução dos problemas do que nas características estereotípicas dos grupos
e na sua diferenciação.
Esta teoria põe então a ênfase no papel das relações de interdependência negativa, “reais”
ou “imaginadas”, entre grupos. No centro da teoria está a proposição de que o preconceito, a
hostilidade e o conflito (bem como as atitudes e comportamentos de cooperação) não têm
origem em características individuais, mas antes decorrem dos interesses objetivos dos
grupos em situação.
Muito sucintamente, verificou no primeiro caso (competição por objetivos só alcançáveis por
um dos grupos), a formação de estereótipos hostis ao exogrupo e comportamentos intergrupais
de discriminação e mesmo agressão; no segundo caso (contacto e cooperação sem
interdependência), pôde observar a manutenção da hostilidade intergrupal; e no terceiro caso,
em que utilizou objetivos supra-ordenados (objetivos importantes convergentes, tornando-os
interdependentes), pode observar a redução de atitudes de descriminação associadas a
estereótipos hostis ao exogrupo.
Abaixo estão descritas de forma mais detalhadas as 3 etapas pelas quais os participantes
passaram, elaboradas através do tipo de atividades utilizadas:
1ª ETAPA
IDENTIFICAÇÃO INTRAGRUPAL
BONDING STAGE
2ª ETAPA
CONFLITO INTERGRUPAL
COMPETITION STAGE
Será que os sujeitos numa situação de conflito realista, onde que há recursos limitados,
entram numa situação de competição e desenvolvem preconceito negativo, hostilidade
intergrupal e mesmo agressão? Esta segunda etapa visou responder a esta questão, tendo o
objetivo de provocar de tensão intergrupal e a duração de 4 a 6 dias. As atividades que foram
feitas nesta fase tinham implícita a competição por objetivos só alcançáveis por um dos grupos,
isto é, jogos e torneios que implicavam que houvesse uma equipa vencedora e uma equipa
3ª ETAPA
COOPERAÇÃO INTERGRUPAL
REDUCING FRICTION PERIOD
O objetivo desta fase foi reduzir do conflito, através de atividades não competitivas, como
tomarem refeições juntos e lençar fogo e artificio, e atividades com objetivos supra-ordenados,
como a desempanagem de uma camioneta de transporte de bens para o campo de férias que se
encontrava enterrada na lama e limpar o fornecimento de água.
Objetivos Supra-ordenados
Acima dos interesses da cada um dos grupos. Objetivos
importantes convergentes, inatingíveis sem a
cooperação entre os grupos, tornando-se estes
interdependentes. Ou seja, objetivos partilhados pelos
grupos, que apenas podem ser alcançados se estes
trabalharem em conjunto. Ou cooperam para atingir o
objetivo, ou não o atingem sozinhos.
Assim, podemos concluir que. se o contacto entre os grupos não estiver enquadrado em
atividades regidas por objetivos supra-ordenados, os canais de comunicação entre os dois grupos
tenderão a servir como veículos para a expressão de hostilidade mútua. Pelo contrário, a
REDUÇÃO DO PRECONCEITO
Para além do estabelecimento de objetivos supra-ordenados que promovem a cooperação,
têm aparecido soluções diferentes baseadas na categorização para a redução do conflito
intergrupal que têm recebido atenção empírica substancial. Desta forma, a redução do conflito
passa por: descategorização, recategorização e diferenciação mútua. Estes processos não são
necessariamente independentes, cada um deles pode contribuir para a redução do conflito
intergrupal e também facilitar-se reciprocamente uns aos outros.
Este artigo examina como é que a cooperação entre os dois grupos nas experiências de Sherif
e colaboradores contribuiu para a redução do conflito e enviesamento intergrupal, isto é,
produziu harmonia intergrupal.
O MODELO DA DESCATEGORIZAÇÃO
Aumento da atratividade
Perceção de maior
em relação aos membros do
semelhança entre membros
ex-exogrupo e diminuição
do ex-endogrupo e do ex-
do enviesamento
exogrupo
endogrupal
“(…) The first pull did not “start” the truck. ... On the second pull, the members
of both groups were thoroughly intermixed on both ropes. ... Finally the truck
started. (...) Allen (R) shouted: “We won the tug-of-war against the truck!”
Bryan (E) repeated, “Yeah! We won the tug-of-war against the truck.” This cry
was echoed with satisfaction by others from both groups. Immediately
following this success, there was much intermingling of groups, friendly talk,
and backslapping. Four boys went to the pump and pumped water for each
other” (Sherif et al., 1961, p.171)
Gaertner e Dovidio (2000) propuseram uma estratégia para reduzir preconceito e conflito
intergrupal baseada na premissa de reduzir a saliência das distinções entre categorias. Este
processo, em contraste com a descategorização, é delineado, não com o objectivo de reduzir ou
eliminar a categorização, mas sim de estruturar uma definição de categorização grupal a um
nível mais alto de inclusão categorical, isto é, da transformação da representação cognitiva
do contacto intergrupal. Uma abordagem da recategorização envolve criar ou aumentar a
saliência das associações a grupos que são transversais, tornando consciente que os
membros de outro grupo são, também, membros do nosso próprio grupo numa outra
dimensão.
Através da ativação de uma categoria supra-ordenada dos grupos, eliminando, deste modo,
as categorias iniciais, a representação cognitiva de dois grupos transforma-se em um grupo.
Desta forma, quando o endogrupo é comum, a identidade social é também comum, resultando
num tratamento igualitário de todos os membros.
"Nós"
Perceção da pertença a um
Perceção de pertença a
Recategorização só grupo de natureza
dois grupos
inclusiva (supra-ordenada)
“Some Rattlers suggested pushing the truck, but the truck was facing uphill.
Someone suggested, “Let's get "our" tug-of-war rope and have a tug-of-war
against the truck. … Someone said, “20 of us can pull it for sure” (Sherif et al.,
1961, p. 171).
Hewstone e Brown (1986) propuseram uma estratégia de interdependência dos grupos, mas
mantendo a saliência da identidade grupal, ou seja, a distintividade intergrupal (contrariamente
ao Modelo dos Conflitos Realistas). Em vez de reduzir a saliência das categorias sociais, como a
descategorização e a recategorização, este processo encoraja os grupos a enfatizar o que os
distingue, mas no contexto de uma interdependência cooperativa. Adicionalmente, ao dividir
tarefas de maneira complementar de forma a capitalizar, ao máximo, as superioridades e
inferioridades relativas de cada grupo, os membros de cada grupo passam a reconhecer e a
valorizar a contribuição indispensável do outro grupo. Na tentativa de obter resultados
favoráveis para ambos os membros, as ações de cada grupo seriam agora realisticamente
consideradas como contribuindo para objetivos mútuos de ambos os grupos. Desta forma,
relações de cooperação “win-win” dão origem a sentimentos e perceções favoráveis face aos
membros de outros grupos, ao mesmo tempo que enfatizam a distintividade positiva de cada
grupo.
Saliência de
competências de
recursos diferentes,
Manutenção da mas complementares,
mútua distintividade sem os quais os
objetivos de ambos os
grupos não poderão
ser atingidos.
A diferenciação mútua pode incluir: a apreciação mais respeitosa das diferenças entre os
grupos; e soluções para problemas coletivos que reconheçam respeitosamente os limites do
grupo.
“The staff explained that renting this appealing film would cost $15.00 and that
the camp could not afford to pay the whole amount. Because 2 boys became
homesick and left camp early, there were 11 Rattlers and only 9 Eagles at this
time. Although more grossly unfair solutions were initially considered, the boys
decided that each group would pay $3.50 and the camp would pay $8.00.” “It
is worth noting that in individual terms this was not equitable. But it was an
equitable solution between the two groups” (Sherif et al., 1961, p. 166)
Esta solução foi considerada justa por ambos os grupos, o que sugere um processo de
diferenciação mútua intergrupal porque os grupos eram cooperativos, e começavam a tratar-se
mutuamente de forma justa e respeitosa ao nível do grupo.
IDENTIDADE SOCIAL
D E S A D E Q U A Ç Ã O E R E P O S T A S | O C A S O D A MI N O R I A S O C I A L
AULA TEÓRICA 8
MINORIA SOCIAL
DEFINIÇÃO
S I MP S O N & Y I N G E R , 1 9 6 5
Os efeitos das relações de poder entre maioria e minoria levaram alguns autores a designar
estes grupos como “minorias vigilantes e maiorias distraídas”, dada a assimetria das suas
atitudes intergrupais: a maioria, dado o seu estatuto superior, presta pouca atenção à relação
com a minoria, e exprime menos frequentemente a sua pertença maioritária.
“Human beings ... whose daily experience tells them that almost nowhere in
society are they respected and granted the ordinary dignity and courtesy
accorded to others, will, as a matter of course, begin to doubt their self worth”
Embora fosse expectável que quem pertence a um grupo estigmatizado e discriminado tivesse
menos autoestima do que aqueles que não pertencem a estes grupos, tal não acontece. Alguns
membros de grupos estigmatizados são capazes de defender e aumentar a sua autoestima,
dando valor a si mesmos, mesmo que a sociedade desvalorize o seu grupo.
Belonging to a group that is disliked and discriminated against by others can have a major impact on
the individual. But this experience does not inevitably lead to lowered selfesteem, because people can
attribute negative reactions to others’ prejudice or compare themselves to fellow in-group members.
Assim, atribuir outcomes negativos ao preconceito dos outros (em relação ao seu grupo) em
vez de aos seus fracassos pessoais pode proteger a autoestima individual (contra os efeitos
psicológicos negativos do fracasso). Um estudo demostrou isto muito bem, ao dividir sujeitos do
sexo masculino em dois grupos experimentais: um dos grupos tinha de comer um mentol, outro
um dente de alho inteiro. Depois disso, puserem os rapazes a falar individualmente com uma
rapariga atraente que, no final da conversa, lhes deu (a todos) feedback negativo. O rapazes do
grupo a quem lhes tinha sido dado de comer um dente de alho, atribuíram a sua rejeição ao seu
hálito em vez de, por exemplo, às suas capacidades sociais.
descoberto num estudo, por exemplo, que crianças negras que se comparavam maioritariamente
com crianças da mesma etnia tinham uma maior autoestima do que aquelas que se comparavam
com crianças.
MOBILIDADE SOCIAL
A teoria da identidade social, no âmbito da sua atenção à questão das minorias sociais,
preocupou-se com a resposta das minorias a uma identidade social negativa. Tajfel refere que,
em circunstâncias psicológicas e contextuais favoráveis ao abandono do grupo, a mobilidade
social, ou seja o movimento físico e/ou psicológico de fuga à pertença a um grupo visto
negativamente e de inclusão num grupo de estatuto mais elevado, constitui uma importante
estratégia para a eliminação da identidade social negativa.
MOBILIDADE PSICOLÓGICA
ME D I A N T E A D E S I D E N T I D I C A Ç Ã O
A mobilidade social pode ser puramente psicológica, quando uma pessoa se desidentifica ou
minimiza as conexões pessoais com o grupo. A mobilidade psicológica corresponde então ao
aumento da distância psicológica da pessoa relativamente ao grupo, pelo que constitui um
processo cognitivo.
Por fim, considerar-se uma exceção ao invés de um membro típico do grupo é também uma
estratégia de desidentificação. Poe exemplo, muitas mulheres reconhecem que as mulheres no
geral são discriminadas, mas insistem que a discriminação não as afeta pessoalmente. Estas
crenças são também encontradas em muitos outros grupos.
MOBILIDADE FÍSICA
ME D I A N T E A D I S S O C I A Ç Ã O
Embora a dissociação, por um lado, tenha como benefício libertar o individuo de muito dos
custos da pertença grupal, nomeadamente da discriminação; tem, por outro lado, alguns custos.
Primeiro, novos membros de um grupo sofrem frequentemente do isolamento no contexto desse
novo grupo, dado não serem vistos ou pensados da mesma forma que os que nele foram
“nascidos”. Em segundo lugar, podem ter de se confrontar com e participação em “piadas”
discriminatórias acerca do grupo próprio. Ainda, e em terceiro lugar, membros que se afastam do
seu grupo tendem a desperdiçar ou desistir da possibilidade de influenciar os outros relativamente
à forma como pensam acerca do grupo de pertença. Por fim, há uma avaliação mais desfavorável
por parte dos outros, concretamente no caso dos indivíduos que minimizam as suas pertenças
grupais (desidentificação).
MUDANÇA SOCIAL
Social Change
The strategy of improving the overall societal situation
of a stigmatized group.
Segundo a Teoria da Identidade Social, o emprego de estratégias de mudança social exige uma
crença sobre a falta de alternativas de mobilidade social decorrente da perceção de
impermeabilidade das fronteiras entre grupos. Desta forma, quando a mobilidade individual não
é socialmente ou psicologicamente possível, Tajfel enuncia quatro possibilidades de “fuga” à
pertença de uma minoria desvalorizada, sendo a primeira designada de competição social, e as
três restantes de criatividade social.
As principais estratégias empregues para a mudança social são então a competição social (a
que mais efeitos e mudança produz para o grupo com um todo), a criatividade social e a
recategorização (i.e., estratégia que consiste na mudança da definição do endogrupo, através de
pertenças categoriais cruzadas e leva a diminuição da discriminação intergrupos, mas, no
entanto, leva à exclusão de alguns membros e à não extinção de pertenças anteriores).
CRIATIVIDADE SOCIAL
Social Creativity
The strategy of introducing and emphasizing new
dimensions of social comparison, on which a negatively
regarded group can see itself as superior.
Existem três tipos de respostas de criatividade social. Por um lado, os membros do grupo
estigmatizado podem reinterpretar ou redefinir as características do seu grupo que foram
anteriormente vistas como inferiores, de modo que não apareçam como inferiores, mas antes
adquiram um valor positivo, isto é, uma distintividade positivamente valorizada em relação ao
grupo de estatuto superior. Para que esta estratégia tenha sucesso, são necessários o acordo no
endogrupo e a aceitação do novo valor da característica pelo exogrupo, o que requer esforço do
grupo desvalorizado. Por outro lado, os membros podem usar novas dimensões para
comparação, em que o grupo de estatuto inferior é melhor do que o grupo de estatuto superior.
Por outras palavras, podem criar, através da ação e da difusão de novas “ideologias”, novas
características grupais que tenham uma distintividade positiva em relação ao grupo de estatuto
superior. Ainda, os membros do grupo desfavorecido podem procurar uma distintividade positiva
mudando o exogrupo com o qual está a ser comparado, evitando utilizar o grupo de estatuto
superior como quadro de referência para a comparação. Se o outro exogrupo tiver um status
ainda pior o endogrupo vai parecer mais favorecido. Os indivíduos podem ainda comparar-se com
elementos piores que eles do endogrupo.
São vários os exemplos para a criatividade social. Ficou celebre dito do grupo negro norte-
americano “Black Power”, nos anos 60 do século XX, ao liderar uma resposta à discriminação de
que o seu grupo era alvo por parte das comunidades Brancas: “Black is beautiful!”, significando
que aceitavam a dimensão de comparação utilizada pelo grupo de estatuto superior, mas que
reivindicavam, nessa comparação, uma orgulhosa paridade com o exogrupo. Um grupo de
meninos franceses num acampamento de verão demostrou este tipo de criatividade social
quando numa competição de construção de cabanas com outra equipa que tinha melhores
materiais de construção, criaram um jardim ao redor da sua cabana medíocre (mais pequena e
menos robusta que a da competição) e pediram aos juízes que os considerassem os vencedores
da construção de jardins. Ao introduzir uma nova dimensão de competição, o grupo manteve
superioridade e distinção. Da mesma forma, os jogadores em último lugar nas ligas de futebol
não se podem distinguir pelas sias habilidades, mas podem considerar-se mais “limpos” e mais
“fair players” que as outras equipas. Algumas mulheres demostram criatividade social ao
aceitarem a definição de feminilidade da sociedade (feminismo cultural) e procurarem uma
identidade de grupo positiva por via das suas características positivas distintas. Por exemplo,
podem enfatizar as dimensões que consideram especificamente femininas, como cuidar e
pacificar. Na mesma linha, surgiu o movimento do orgulho gay, com enfase na celebração das
conquistas de pessoas homossexuais principalmente nos domínios artísticos e culturais.
COMPETIÇÃO SOCIAL
Social Competition
The strategy of directly seeking to change the
conditions that disadvantage the in-group, for example
by building group solidarity and challenging the out-
group.
A competição social pode assumir diversas formas, como associações, movimentos ou até
mesmo confrontos e críticas diretas. São exemplos o confronto a que assistimos do mundo
islâmico com o mundo cristão, ou a ofensiva concertada de movimentos e associações de
homossexuais em vários países para a obtenção de um estatuo paritário com os heterossexuais.
Ainda, as mulheres que usam estratégias de competição social para com os homens tendem a ser
vistas pelos homens como uma ameaça. Hogg e Abrams (1988) sugerem que as mulheres que
escolhem a competição social (e percecionam a situação do endogrupo como ilegítima)
aparentam ter o seu género mais saliente porque elas envolvem-se mais em “diferenciação
positiva”. A discriminação e a saliência de género são associadas mais a competição social porque
são mais ameaçadoras para a posição do exogrupo do que a mobilidade social ou a criatividade.
Não são só as minorias que encetam estratégias de mudança do seu status quo. A mudança do status
quo das minorias pode ser conseguida através de grupos maioritários, sociedade civil, media, líderes de
opinião e cultura/arte.
AULA PRÁTICA 8
O presente estudo propõe uma extensão ao fenômeno do favoritismo do grupo interno, com base na
hipótese de que julgamentos sobre membros do grupo interno podem ser mais positivos ou mais negativos
do que julgamentos sobre membros semelhantes do grupo externo. Este estudo contrasta as previsões
emitidas a partir da hipótese da extremidade da complexidade (Linville, 1982; Linville e Jones, 1980), da
hipótese do favoritismo do grupo (Tajhel, 1982) e do modelo de polarização de atitude de Tesser (1978;
Millar e Tesser, 1986). A nossa principal previsão, com base na Teoria da Identidade Social, é que
julgamentos agradáveis e desagradáveis sobre membros do endogrupo são mais extremos do que
julgamentos sobre membros do exogrupo. Este fenômeno, chamado de Efeito Ovelha Negra, é visto como
devido à relevância que o comportamento dos membros do grupo interno, em comparação com os
membros do grupo externo, tem para a identidade social dos sujeitos. Três experiências vão de acordo com
as nossas previsões. O estudo 1 mostrou que as correlações entre as características eram mais fortes para
o endogrupo do que para o exogrupo. O estudo 2 mostrou que o efeito ovelha negra ocorre apenas quando
as pistas de julgamento são relevantes para a identidade social dos sujeitos, e o estudo 3 mostrou que os
níveis de informação sobre o alvo do julgamento eram ineficazes para gerar extremidades de julgamento.
Os resultados são discutidos à luz de uma explicação alternativa cognitivo-motivacional para uma
interpretação puramente cognitiva da homogeneidade do exogrupo.”
C O MO É Q U E O S S U J E I T O S L I D A M C O M O S ME MB R O S D O E N D O G R U P O Q U E A ME A Ç A M A S U A
IDENTIDADE SOCIAL POSITIVA?
Desta forma, o OBJETIVO do estudo de Marques, Yzerbyt e Leyens foi o de analisar as reações
ao desvio no interior do grupo. A sua HIPÓTESE GERAL era de que o “Efeito Ovelha Negra” se
deve à relevância do comportamento dos membros do endogrupo, comparativamente aos
membros do exogrupo, para a identidade social dos sujeitos. Assim, os comportamentos dos
membros do endogrupo são mais importantes para a identidade social dos sujeitos, do que
os comportamentos dos membros do exogrupo.
MANIPULAÇÕES EXPERIMENTAIS
Foi solicitado aos sujeitos que Foi solicitado aos sujeitos que
FAVORÁVEL julgassem estudantes julgassem estudantes
(belgas/africanos) que facultavam (belgas/africanos) que colocavam
ADERIAM À
N O R MA sempre os apontamentos das aulas o estudo acima do divertimento.
aos seus colegas.
Foi solicitado aos sujeitos que Foi solicitado aos sujeitos que
DESFAVORÁVEL julgassem estudantes julgassem estudantes
DESVIARAM DA
(belgas/africanos) que nunca (belgas/africanos) que colocavam
N O R MA facultavam os apontamentos das o divertimento acima do estudo.
aulas aos seus colegas.
RESULTADOS
Estes últimos resultados sustentaram a hipótese específica dos autores, de que o “Efeito
Ovelha Negra” ocorrerá apenas para a norma exclusiva do endogrupo dado que somente esta se
revelará relevante para a identidade social dos sujeitos no contexto em questão.
CONCLUSÕES
Conclui-se então que membros indesejáveis do endogrupo são avaliados mais negativamente
do que membros indesejáveis do exogrupo quando os seus comportamentos são relevantes para
a identidade social do grupo. Estes resultados realçam a flexibilidade das pessoas relativamente
aos aspetos da identidade social que são usados num julgamento.
novos membros. Já no caso dos membros efetivos, estava associada uma intenção punitiva (e.g.,
“como acha que o grupo deve lidar com este membro?” “dando tarefas de baixo prestígio a este
membro desviante”). Quanto mais negativamente os participantes avaliaram o membros efetivos
desviante do endogrupo, mais defenderam uma reação punitiva em relação a este alvo.
Conclui-se então que não basta pertencer ao grupo e ir contra um comportamento relevante
para a identidade social do grupo para se dar o efeito de ovelha negra, mas é também necessário
ser-se um membro efetivo desse mesmo grupo. Desta forma, os resultados parecem ser
consistentes com o pressuposto dos autores de que os membros efetivos do grupo, mais do
que os novos membros ou membros marginais, são particularmente relevantes para definir
a imagem do grupo.
Etnocentris Heterossexis
Xenofobia Racismo Chauvinismo Sexismo Homofibia
mo mo
Discirminaçã
Discirminaçã Discirminaçã Discirminaçã E muitos
Transfobria o por classe
o etária o religiosa o política outros ismos
social
EUROBARÓMTERO 2019
E S T A R Ã O , O S E U R O P E U S , MA I S T O L E R A N T E S À D I F E R E N Ç A ?
Parece que mais tolerantes, no sentido em que as atitudes são menos desfavoráveis face a
membros do exogrupo. Apesar disso, o número de crimes de odio aumentou. Acontece que o
eurobarómetro usa medidas para racismo flagrante e não de racismo subtil, sendo que nos dias
de este é o tipo de racismo mais presente.
RACISMO
P A P E L D O S V A L O R E S N A O R G A N I Z A Ç Ã O D A S A T I T U D E S E C O MP O R T A ME N T O S R A C I S T A S :
Durante muito tempo e em muitos contextos o racismo foi normativo em muitos ambientes
sociais: as normas sociais eram de rejeição dos nervos, o racismo constituía uma modalidade de
relação que não era objeto de censura publica e as manifestações de racismo eram flagrante.
Mas algo mudou entretanto deu-se a alteração das normas e valores relativos à expressão
aberta do racismo, passando a ser objeto de censura social e legal. Vários movimentos históricos
contribuíram para que tal acontecesse: os movimentos pelos direitos civis nos EUA; os
movimentos de libertação das antigas colónias europeias; as consequências do nazismo; etc.
Hoje, na generalidade dos países que subscreveram a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, o racismo é objeto de censura social e legal.
CONFLITO INTERNO
“Há uma voz racional em mim que me diz que o Negro é tão bom, tão decente,
tão sincero e tão humano como o Branco, mas não consigo deixar de notar
uma divisão entre a minha razão e o meu preconceito” (Allport, 1979/1954, p.
327).
Podem ser vistas enquanto diferentes formas que o preconceito assume para lidar com o
conflito interno (nota: a ambivalência é um elemento ubíquo a todas elas):
· RACISMO SIMBÓLICO (Sinders & Knder, 1971; Kinder & Sears, 1981; EUA); e RACISMO
MODERNO (McConahay, 1986; Austrália e EUA)
· RACISMO AVERSIVO (Gaertner & Dovidio, 1986; Dovidio & Gaertner, 1998; EUA)
· RACISMO AMBIVALENTE (Katz & Hass, 1986; EUA)
RACISMO MODERNO
O racismo moderno é uma forma de racismo subtil que surge nos Estados Unidos após o
movimento dos Direitos Civis entre os anos 50 e 60. Este movimento tornou inaceitáveis as
crenças relativas às expressões mais abertas e flagrantes de racismo, caracterizada pela ideia de
que os negros eram parte de uma raça inferior e que a discriminação e segregação era
considerada uma política aceitável. O racismo moderno veio então substituir esta forma mais
flagrante de preconceito (note-se que esta forma de preconceito ainda existe, mas foi
maioritariamente substituída pelo racismo moderno). Assim, o que ocorre não é uma extinção do
racismo, mas sim uma substituição para uma forma mais “subtil” de comportamentos de
preconceito, caracterizado pela crença de que o racismo não é um problema que continua a
ocorrer, mas que demonstra um afeto negativo em relação a negros (Sears, 1988).
O “racismo moderno” sumaria os princípios acerca da raça: “o movimento dos direitos civis
permitiu que a discriminação fosse algo do passado e, por isso, os afro-americanos devem fazer
esforços para ultrapassar a sua situação na sociedade sem qualquer tipo de ajuda especial, isto
é, devem fazer esforços para ter as mesmas oportunidades que os outros. Assim, as suas
exigências não são democráticas nem justas, e recebem mais atenção de instituições e da
sociedade do que aquilo que merecem”.
Esta forma de racismo foi originalmente definida, não como o resultado de um conflito interno
(entre valores e sentimentos), ou como um conflito entre pressões internas e externas
(sentimentos e normas sociais), mas como a expressão de um sistema de crenças, mais
abstrata e apoiada em princípios do que enraizada na experiência (daí a sua designação
também como racismo simbólico), apoiado na tradição da ética protestante dos EUA. Segundo
McConahay (1986), este sistema de crenças, que emergiu após o movimento das Liberdades Civis
permitiu, por um lado, censurar as minorias, neste caso os Negros norte-americanos, por
atitudes e comportamentos que violavam os valores moralistas do trabalho, do esforço e da
meritocracia individualista da ética protestante, e, por outro, reduzir os sentimentos de culpa
de muitos norte-americanos Brancos em relação ao racismo vigente. Esse sistema de crenças
integraria as seguintes ideias:
a) A discriminação é uma coisa do passado, porque agora os Negros têm a liberdade de competir
no mercado de trabalho e de gozar coisas que aí podem obter;
b) Os Negros estão a pressionar de modo muito forte, muito rápido e para alcançar lugares onde
não são desejados;
c) Essas tácitas e exigências não são corretas;
d) Por isso, os ganhos recentes que obtiveram não são merecidos, e há prestigiadas instituições
sociais de beneficência que estão a dar aos Negros mais atenção e estatuto do que eles
merecem.
“O racismo é mau, mas estas ideias não são racistas, porque são factos
empíricos”
A consequência mais importante deste sistema de crenças é, como estamos a ver, que as
pessoas que o perfilham não se consideram racistas, mas sim pessoas que se indignam contra as
injustiças e as imoralidades das atitudes dos Negros ou de outras minorias estigmatizadas na
Nota:
Só chamamos racismo moderno ao que aconteceu no
contexto americano face aos negros. Esta forma de
racismo baseia-se em sentimentos e crenças de que os
negros violam os valores tradicionais americanos do
individualismo ou da ética protestante (obediência,
ética do trabalho, disciplina e sucesso).
Apesar da sua vasta utilização, a ERM apresentou alguns problemas. Por um lado, foi
construída com base em dados recolhidos nos anos 70 e alguns dos itens originais da escala
tornaram-se inadequados (e.g., referentes à desagregação escolar com base na raça). Por outro
lado, a maior parte dos itens foram construídos numa forma através da qual a concordância
reflete maiores níveis de racismo moderno, estando assim a escala vulnerável a enviesamentos
de aquiescência. Ainda, a possibilidade de a escala não medir uma forma de racismo moderno
mas sim a sensibilidade das pessoas em dar respostas politicamente corretas e as suas
motivações para parecerem não ter preconceitos. Tais limitações levaram ao desenvolvimento
da Symbolic Racism 2000 Scale (Henry & Sears, 2002):
1. It’s really a matter of some people not trying hard enough; if blacks would only try harder, they could be just
as well off as whites.
2. Irish, Italian, Jewish and many other minorities overcame prejudice and worked their way up. Blacks should do
the same.
3. Some say that black leaders have been trying to push too fast. Others feel that they haven’t pushed fast enough.
What do you think?
4. How much of the racial tension that exists in the United States today do you think blacks are responsible for
creating?
5. How much discrimination against blacks do you feel there is in the United States today, limiting their chances
to get ahead?
6. Generations of slavery and discrimination have created conditions that make it difficult for blacks to work their
way out of the lower class.
7. Over the past few years, blacks have gotten less than they deserve.
8. Over the past few years, blacks have gotten more economically than they deserve.
RACISMO AVERSIVO
GAERTNER & DOVIDIO (1986, 1998)
Caracteriza-se pelo facto de os sujeitos que o partilham possuírem fortes valores igualitários,
sendo que simpatizam com a vítimas e apoiam as políticas sociais a favor dos negros, políticas
publicas que, em princípio, promovem a igualdade racial. Ainda, consideram-se pessoas não
preconceituosas, não discriminatórias. Contudo, possuem sentimentos e crenças negativas
sobre os negros que procuram negar e excluir da consciência. É, então, um sentimento
negativo em relação aos negros não toma as formas de hostilidade ou de ódio, características do
formato tradicional de racismo. Envolve, sobretudo, emoções de nojo, de desconforto e, por
vezes, de medo, que provocam mais o AFASTAMENTO ou EVITAMENTO de contacto do que
comportamentos hostis diretos.
RACISMO AMBIVALENTE
KATZ & HASS (1986)
Esta perspetiva do racismo ambivalente propõe que as atitudes anti negro e pró-negro nos
EUA derivam da ambivalência resultante dos dois valores básicos americanos: o INDIVIDUALISMO
e o IGUALITARISMO. Estas duas orientações podem produzir um conflito, gerando uma
ambivalência de sentimentos e atitudes dentro dos indivíduos ou, dito de outra forma, a tensão
entre estes dois valores gera ambivalência. Esta ambivalência, por sua vez, gera emoções
negativas a nível da representação do eu, levando a uma tensão emocional e, de modo a
reduzir esta tensão emocional, os indivíduos tendem a amplificar as suas atitudes raciais. A
direção da amplificação das atitudes raciais é orientada por fatores contextuais, consoante a
saliência dos valores do Individualismo e Igualitarismo.
Por exemplo, um dia, num programa infantil na TV, houve uma situação na qual uma
apresentadora branca colocava no colo crianças do auditório, mais concretamente, pegava em
cada criança, fazia um ligeiro mimo, e entregava-a a uma das suas assistentes. Ela fez isto com
seis ou sete crianças brancas uma atrás da outra, mas, quando a criança seguinte foi uma menina
negra, a apresentadora mudou todo o seu esquema gestual: além do pequeno miminho, beijou
repetidamente a criança, antes de a entregar à sua assistente. Este comportamento é típico de
uma nova forma de racismo ou, melhor dizendo, de um elemento omnipresente em todas as
“novas formas” de racismo: a AMBIVALÊNCIA.
A P R O B L E MÁ T I C A D A S P R E O C U P A Ç Õ E S A S S O C I A D A S À D E S E J A B I L I D A D E S O C I A L
ESSENCIALIZAÇÃO E INFRA-HUMANIZAÇÃO
LEYENS (2000)
Então, o que Leyens e companheiros (2000) vêm propor de novo? Que o etnocentrismo pode
conduzir as pessoas a percecionar o grupo próprio (endogrupo) como mais humano do que
os exogrupos, e baseiam a sua hipótese geral no essencialismo psicológico. A abordagem de
Leyens constitui então uma abordagem emocional ao preconceito e racismo, tanto que Iniciam
o artigo citando Buffon (1833-1834), argumentando que a maioria das pessoas é, às vezes,
tentada a pensar como Buffon e a tratar outros grupos como “INFRA-HUMANOS”:
“(…) there would be two very distinctive species: the Negro would be to the man
what the donkey is to horse; or rather, if the white was the man, the Negro
would no longer be a man, it would be a special animal like the ape.”
O objetivo da sua investigação foi então investigar a ideia de que as emoções secundárias
são tipicamente características humanas, e como tal, devem ser especialmente associadas
e atribuídas ao endogrupo. Por outras palavras, verificar se existem diferenças na atribuição de
emoções primárias e sentimentos aos grupos sociais.
ESSENCIALISMO PSICOLÓGICO
A distância psicológica entre o “meu” grupo e “outros” podem ser reificados pelo
essencialismo subjetivo. As pessoas tendem a atribuir diferentes essências (e.g., genéticas,
culturais, linguísticas) às categoriais sociais, e estas essências servem tanto para diferenciar
radicalmente entre grupos como para unir membros de um determinado grupo numa
entidade. Se as pessoas favorecem o seu endogrupo, pensam que o seu grupo é superior a outros
exogrupos, estão especialmente preocupadas com o seu próprio grupo e atribuem diferentes
essências a diferentes grupos, então a essência do endogrupo deve ser superior à essência
dos exogrupos. Logo, as pessoas devem acreditar que “a” essência humana pertence ao seu
grupo e que uma essência infra-humana caracteriza (alguns) dos exogrupos.
Quando a ESSENCIALIZAÇÃO é aplicada aos exogrupos ou aos grupos minoritários, i.e., atribui-
se a estes grupos uma essência diferente à atribuída ao endogrupo, nega-se, em maior ou menor
grau, determinadas características que compõem a “essência humana” ao exogrupo,
procedendo-se, assim, a uma infra-humanização.
Uma análise da trajetória empírica da infra-humanização na Psicologia Social pode seguir três
eixos: a infra-humanização no plano dos VALORES; a infra-humanização no plano dos TRAÇOS
CULTURAIS E NATURAIS e; a infra-humanização no plano das EMOÇÕES. De uma maneira mais
específica, os principais indicadores de infra-humanização utilizados nos estudos são:
Os resultados do artigo de Leyens et al. (2000) resumem uma série de experiências que
mostram que as pessoas: associam mais facilmente o endogrupo às emoções secundárias e um
exogrupo às emoções primárias do que o inverso; são mais suscetíveis de atribuir
espontaneamente emoções secundárias ao endogrupo do que a um exogrupo; e parecem negar
à categoria "outros" a possibilidade de ter emoções secundárias. Assim, percebe-se que as
emoções secundárias podem mesmo ser negadas aos exigrupos e que estas associações e
atribuições diferenciais de emoções especificamente humanas a endogrupos versus exogrupos
devem afetar as relações intergrupais.
Pettigrew e Meertens (1995) sugeriram a distinção entre duas formas de preconceito que
designaram por racismo flagrante e racismo subtil. Estamos na presença de RACISMO FLAGRANTE
quando os indivíduos são abertamente hostis e expressam crenças de que as minorias
étnicas são inferiores. Já o RACISMO SUBTIL integra os valores do individualismo tradicional
norte-americano e as crenças de que as minorias sociais têm mais do que merecem e fazem
exigências desapropriadas, como acontece com o Racismo Moderno. Mas acrescenta a este
conteúdo três novos fatores, utilizados como justificação da discriminação das minorias: a adesão
a valores tradicionais, a perceção extremada de diferenças culturais entre o endogrupo e o
exogrupo, e a recusa de expressão de emoções positivas em relação a membros do
exogrupo. A acentuação de diferenças culturais desloca a diferença intergrupal das tradicionais
características estereotípicas dos membros dos grupos para uma área mais impessoal, a das
"culturas", consensualmente hierarquizadas em termos de, por exemplo, valores políticos,
religiosos ou educacionais. Por seu lado, a recusa de expressão de emoções positivas em relação
a membros do exogrupo traduz o “conflito interno” enunciado por Allport entre as crenças
positivas e as emoções de evitamento de contacto com os grupos estigmatizados.
Desta forma, os indivíduos negam ter qualquer preconceito em relação às minorias, mas não
têm empatia pela sua situação e culpam as iniquidades sociais com base em características
inadequadas da sua cultura e costumes. Percecionam os membros do exogrupo como
estando a agir de maneira incorreta ou mesmo condenável na procura da realização social,
creem que os membros do exogrupo não se esforçam o suficiente ou não possuem os
valores adequados (e.g., “algumas pessoas não se esforçam o suficiente, se se esforçassem mais
eles poderiam ser tão bem sucedidos quanto os nacionais”) e exageram as diferenças culturais,
percecionando o exogrupo como sendo culturalmente muito diferente do endogrupo (e.g.,
“possuem valores e comportamentos sexuais muito diferentes dos cidadãos nacionais”).
Segundo Pettigrew, o estudo do racismo subtil é cada vez mais importante na sociedade atual
devido à redução do número pessoas que se encaixam no perfil de um racismo flagrante. Não
obstante, a investigação tem demonstrado que é mais difícil medir e identificar racismo subtil
porque opera a um nível automático, não consciente e não intencional (Devine,1989), uma
vez que o racismo subtil normalmente envolve omissão, ausência de ação, ou a não ter
comportamentos de ajuda em vez de um desejo consciente de magoar ou agredir. Por exemplo,
uma meta-análise de Saucier, Miller, and Doucet (2005) demonstrou que, embora os brancos
expressem uma ausência de racismo em relação a negros, é mais provável que racionalizem a sua
decisão de não ajudar os negros (e.g., se ajudar envolve mais tempo, risco ou esforço) em
comparação com comportamentos de ajuda a brancos.
O traço comum a todos os itens da escala de racismo subtil é o "encobrimento", ou seja, o seu
carácter ostensivamente não racista. De facto, a natureza racista do racismo subtil passa
despercebida àqueles que expressam estas crenças. No entanto, é através do encobrimento que
esta nova forma de racismo evita a censura da norma social que condena as expressões flagrantes
de discriminação intergrupal.
A Escala de Preconceito Subtil, exemplificada pelos próprios autores com o alvo minoritário
“Antilhanos” (Federação Britânica das Índias Ocidentais), integra duas subescalas de racismo
flagrante e três subescalas de racismo subtil (avaliadas de 1 “Discordo totalmente” a 7 “Concordo
totalmente”).
Whites’ and Blacks’ intergroup attitudes were examined across four samples. Participants wrote essays
describing their racial attitudes that were later coded for recurring themes. Coding revealed that Whites
and Blacks had similar positive themes but diverged for negative themes. White participants most
frequently expressed negative attitudes were consistent with the tenets of modern racism theory
(McConahay, 1986). These essay themes, as well as modern racism scores, were more strongly related to
antiegalitarian sentiments than to the Protestant ethic. Black participants’ negative attitudes were
described in terms of reactions to perceived racism, and their essay themes were unrelated to both
egalitarianism and the Protestant ethic. Discussion focuses on the salient contents of intergroup attitudes,
measurement issues, and the potentially different underlying roots of Whites’ and Blacks’ racial attitudes
Para codificar as redações, estas foram examinadas para identificar a presença de tópicos,
definindo um “tópico” como “qualquer ideia ou pensamento completo que se relaciona com as
atitudes do respondente” (Herek, 1987, p. 287). Os tópicos foram também classificados como
refletindo atitudes positivas ou negativas. Foram identificados 14 tópicos na Amostra 1. Apenas
8 redações não manifestaram nenhum desses tópicos, e o maior número de tópicos numa
determinada redação foi cinco. 13 temas foram identificados na Amostra 2. Apenas 5 redações
não incluíram nenhum desses tópicos, e o maior número de tópicos numa determinada redação
foi 7. Os mesmos 13 tópico estiveram presentes em ambas as amostras, com um tópico adicional
na Amostra 1. Nas Amostras 3 e 4, foram identificados 17 tópicos. 23 redações não incluíram
nenhum desses tópicos e o maior número de tópicos numa determinada redação foi cinco.
Em relação à comparação dos conteúdos dos tópicos POSITIVOS, a codificação das respostas
revelou que brancos e negros escreveram acerca de tópicos atitudinais positivos semelhantes.
Uma diferença interessante refere-se ao facto de os brancos terem apresentado uma maior
probabilidade de escrever acerca de atitudes refletindo uma “negação da diferença”. Na
comparação dos conteúdos dos tópicos NEGATIVOS, contrariamente ao observado para os
tópicos positivos, verificou-se uma distinção notável entre o conteúdo dos tópicos negativos
entre participantes brancos e negros. Nos participantes brancos, os conteúdos salientes das
atitudes negativas de brancos parecem partilhar muito em comum com os princípios do racismo
moderno.
A1 A2 Tópicos e Exemplos
8. Negative Stereotypes/Generalizations
To me, it seems as if Blacks look for ways to start trouble. They often start riots, protests
13% 15%
and make as much noise as possible. Blacks are always trying to act bad, shooting people
and being in gangs. I realize that Whites do this too but Blacks do it all the time.
9. Blacks Get More Than They Deserve
They get jobs just because they’re Black in order to fill some ratio standard. They get
scholarships for less work and effort simply because they are Black. And, every year they
8% 17% come up with a new word to describe themselves. Most Blacks want Whites to give them
something for nothing and this is wrong. If something doesn’t go their way it’s racial. They
get jobs just because they are Blacks and Whites can’t get these jobs even if they are more
qualified.
10. Denial of Responsibility for Past or Present Discrimination
I have generally negative attitudes toward Blacks because I don’t feel I owe the Black
generation any excuses or apologies for what my ancestors may have done. I feel that
12% 11%
Blacks hold me responsible for what happened years ago.
I don’t think blacks should hold a grudge against the Whites because of what happened
many years before their or my time. Slavery is over and in most places so is discrimination.
Já nos participantes negros, a análise do conteúdo das atitudes sugeriu que muitos dos
tópicos negativos resultam de reações à perceção de racismo e discriminação.
A3 A4 Tópicos e Exemplos
8. Negative Personal Experience with Whites
I have generally negative attitudes toward Whites because I hear and see how a lot of
Whites’ actions are toward Blacks. One time I got close to a White person, but when she
10% 9%
got around her White friends, she wouldn’t want to talk to me and that made me very mad.
I remember working at a job where I was the only African American male. They gave me all
the hard jobs, terrible hours, and treated me differently from the other employees.
9. Negative Stereotypes/Generalizations
I have generally negative attitudes toward Whites because they are sneaky and still try to
14% 15%
treat Blacks as slaves . . . Whites are generally selfish people. My belief is that all whites
have a general nature of selfishness, hatred, and spitefulness.
12. Negative about Whites Because Whites Negative about or Disrespectful toward
Blacks
13% 11%
They seem to me to always have negative thoughts about Blacks.
They don’t trust me, so I don’t like or trust most of them!
17. Whites’Acts of Entitlement/Superiority
They always attempt to be superior to me.
12% 9%
I have generally negative attitudes toward Whites because they feel that their race is
superior to other races.
No que toca à associação entre prevalência dos tópicos e atitudes explícitas (medidas por
escalas), foi analisado se os scores nas escalas aplicadas (escala de Racismo Moderno,
Igualitarismo e Ética protestante) se relacionaram com o conteúdo dos tópicos das redações.
Observou-se que os scores na escala de racismo moderno (com valores mais elevados refletindo
atitudes mais negativas) em participantes brancos correlacionaram-se negativamente com a
prevalência de tópicos positivos e positivamente com tópicos negativos. O padrão oposto foi
observado para a medida de Igualitarismo. Os tópicos das redações não se relacionaram com os
scores nas medidas para os participantes negros.
Bancos Negros
Ética Ética
ERM Igualitarismo Igualitarismo
Protestante Protestante
Número Total de Tópicos Positivos -.40 .28 -.09 .06 .06
Número Total de Tópicos Negativos .36 -.24 .01 -.01 -.12
BYSTANDER INTERVENTION
THE SUBTLETY OF WHITE RACISM, AROUSAL, AND HELPING BEHAVIOR
GAERTNER & DOVIDIO (1977)
Two hypotheses were tested: (a) White bystanders are more likely to discriminate against black victims
in situations in which failure to intervene could be attributable to factors other than the victim's
race, (b) There is a causal relationship between arousal induced by witnessing an emergency and
bystander responsiveness. Consistent with the first hypothesis, Study 1 found that black victims were
discriminated against when the subject had the opportunity to diffuse responsibility; however, blacks
and whites were helped equally when the subject was the only bystander. Study 2 failed to
demonstrate a predicted interaction between the victim's race and the ambiguity of the emergency.
Nevertheless, when arousal due to the unambiguous emergency could be misattributed to the effects
of a placebo, blacks were helped less than whites. In Study 1, cardiac measures of arousal were
correlated with latency to intervene in an emergency . The more arousal subjects experienced, the more
quickly they helped. In addition, consistent with the proposed causal relationship, Study 2 demonstrated
that bystanders given the opportunity to misattribute emergency-generated arousal to an "arousing"
placebo helped the victim more slowly than did subjects administered a "nonarousing" placebo.
são mais propensos para discriminar vítimas negras em situações em que a falta de
intervenção pode ser atribuível a outros fatores que não a raça da vítima.
No que toca à frequência da ajuda, os RESULTADOS mostraram que os sujeitos que tiveram a
oportunidade de difundir a responsabilidade ajudaram a vítima menos frequentemente do que o
fez aqueles que ouviram a emergência sozinhos. Quando os sujeitos julgavam que duas outras
testemunhas estavam presentes, a vítima negra foi ajudada com menos frequência do que a
vítima branca (37.5% vs. 75%). Em relação à rapidez da ajuda, os sujeitos ajudaram mais
rapidamente quando julgavam que eram a única testemunha da emergência. Já quando os
sujeitos julgavam que duas outras testemunhas estavam presentes, a vítima negra foi ajudada
com menos rapidez do que a vítima branca. Conclui-se então que quando o sujeito que precisa
de ajuda é negro o intervalo de tempo que demora até pessoa intervir é superior. No entanto, há
estudos mais recentes que encontram resultados no sentido oposto.
The aversive racism framework suggests that bias against Blacks is most likely to be expressed by Whites
when it can be explained or justified along non-racial grounds. The present experiment adopted a 2
(Evidence: admissible vs. inadmissible) x 2 (Defendant Race: White vs. Black) between subject’s design,
asking White participants, whose self-reported prejudice was assessed, to judge a legal case. As predicted,
increased guilt ratings and longer sentencing recommendations were forwarded for the Black (vs.
White) defendant only when DNA evidence linking the defendant to the crime had previously been
ruled inadmissible. This result was not qualified by self-report racial attitudes. The implications for
evidence inadmissibility in interracial contexts are considered, along with the repercussions of finding
experimental evidence of aversive racism outside of North America.
Em relação aos resultados, os participantes classificaram o arguido negro como sendo mais
culpado, recomendaram sentenças mais longas, estimaram uma maior probabilidade de
reincidência e uma menos probabilidade de sucesso de eventual reabilitação. Apesar da
incorporação de elementos processuais recomendados por estudiosos do Direito para aumentar
a compreensão dos jurados sobre o processo legal e, assim, a adequação das suas decisões, foram
observados preconceitos raciais subtis nas perceções e decisões dos participantes.
DESEMPENHO SOCIOECONÓMICO
SUCESSO FRACASSO
BRANCO História de sucesso de um branco História de insucesso de um branco
COR DA PELE
NEGRO História de sucesso de um negro História de insucesso de um negro
CONCLUSÃO
FENÓMENOS INTERPESSOAIS
ATRAÇÃO INTERPESSOAL
AULA TEÓRICA 10
DIFICULDADES NA DEFINIÇÃO
Por existirem vários tipos de atração interpessoal (e.g., social, física, sexual,
passional/romântica), sobreposição entre sentimentos interpessoais (e.g., amor x amizade x
paixão) e falta de consenso entre os académicos, é difícil discernir uma definição de atração
interpessoal.
A atração interpessoal começa por ser conceptualizada como atitude, sendo definida como:
orientação avaliativa de A relativamente a B (Newcomb, 1961). O conceito de atitude, que implica
a localização de um objeto do pensamento numa dimensão avaliativa, constituía um molde
ideal para a conceptualização da atração interpessoal, sendo apenas necessário especificar que
o objeto de pensamento se referia a uma outra pessoa. Os 3 componentes (cognitivo, afetivo e
comportamental), tradicionalmente incluídos sob a noção de atitude, passaram a constituir as 3
dimensões da atração:
COMPONENTE
COMPONENTE COGNITIVA COMPONENTE AFETIVA
COMPORTAMENTAL
Crenças acerca da outra Sentimentos e emoções Ações de uma pessoa que
pessoa (objeto de atração). positivas que uma pessoa objetivamente a aproximam
Por exemplo, “acho que é experimenta na interação de e/ou favorecem uma outra
uma pessoa honesta”. com outra pessoa e pessoa, isto é, as intenções
relativamente a essa outra comportamentais de uma
pessoa. Por exemplo, “sinto- pessoa relativamente à outra
me feliz e apoiado quando pessoa. Por exemplo,
estou com esta pessoa” ou “pretendo vir a viajar com
“gosto desta pessoa”. ela”.
Pessoa Outro
Contexto
Interação
Semelhança objetiva (*)
Proximidade física Reciprocidade de sentimentos
Frequência de interação Autorrevelação
ATRATIVIDADE FÍSICA
A atração por outras pessoas é fortemente influenciada pelas perceções de atratividade
física. Algumas características, como sinais de saúde e de acesso a recursos, são consideradas
atraentes em todas as culturas. Outras dependem mais da experiência, exposição e expetativa.
A beleza física constitui um dos fatores ou atributos pessoais cuja influência na génese das
relações interpessoais tem sido sistematicamente investigada durante as duas últimas décadas
(é o fator mais estudado). De acordo com a generalidade dos estudos, os efeitos positivos da
beleza física sobre a atração revelam-se consistentes através das idades, dos sexos e das
categorias socioeconómica.
A beleza física promove a atração. Por exemplo, num estudo, os investigadores criaram um
evento de “speed dating” no qual as pessoas puderam falar com vários outros indivíduos para um
“date” de 4 minutos (Eastwick & Finkel, 2008). Uma ou duas semanas antes dos encontros, os
alunos participantes avaliaram a atratividade e potencial financeiro desejados nos seus dates.
Posteriormente, nos próprios encontros, avaliaram cada parceiro nessas mesmas dimensões e
registaram o seu grau de interesse romântico. No questionário pré-encontro, os homens
disseram que a atratividade era mais importante num parceiro de speed dating do que as
mulheres, e as mulheres disseram que o potencial financeiro era mais importante que os homens.
Essas diferenças de sexo não se mantiveram quando avaliado o seu grau de interesse romântico.
Avaliações de atratividade física e potencial financeiro predisseram o interesse igualmente nos
homens e nas mulheres. Num outro estudo clássico, Elaine Walster e colaboradores (Walster,
Aronson, Abrahams, & Rottman, 1966) emparelharam aleatoriamente universitários para uma
noite de conversas e dança. Os investigadores avaliaram discretamente a atratividade e as
habilidades sociais de cada aluno, juntamento com as suas notas e classificações em testes de
inteligência e personalidade. Após o fim da noite, os investigadores perguntaram aos alunos o
quão satisfeitos estavam com seus encontros. A atratividade física do parceiro foi de longe o fator
que mais influenciou a satisfação de homens e mulheres. A atratividade também influenciou
fortemente a probabilidade de os homens entrarem em contato com as mulheres para marcar
um segundo encontro. Nenhuma das outras variáveis medidas neste estudo – inteligência,
habilidades sociais ou personalidade – teve uma influência semelhante na atração pelo parceiro.
os estereótipos da forma como é tipicamente interpretado. Em vez disso, eles podem refletir a
projeção de desejos intensificados de se relacionar com pessoas bonitas.
Quais são os processos explicativos dos efeitos da beleza na atração interpessoal? Para além da
evidência dos efeitos diretos, a resposta a esta questão passa pela verificação da existência generalizada
de estereótipos sociais associados a variáveis morfológicas. Mais exatamente, os indivíduos tendem a
associar a beleza a traços de personalidade positivos. O estereótipo segundo o qual “o belo é bom” foi
realçado por um conjunto impressionante de estudos empíricos (Eagly, Ashmore, Makhijani e Longo, 1991;
Jackson, Hunter e Hodge, 1995). São as educadoras de infância e os professores em geral que tendem a
valorizar e a tratar diferencialmente os alunos (Dion, 1972); as próprias mães das crianças atraentes a
dispensarem-lhes mais afeto e atenção (Langlois, Ritter, Casey e Sawin, 1995); os juízes que tendem a ser
mais indulgentes para com os réus mais atraentes (Efran, 1974), salvo se as suas características físicas
foram diretamente instrumentais na prossecução do crime (Sigall Ostrove, 1975): são, enfim, e entre outros
exemplos possíveis, os entrevistadores que fazem da aparência física um critério de seleção profissional
(Cash, Gillen e Burns, 1977).
A atração foi medida por meio de uma classificação que consistia em ordenar os membros do
grupo por preferência, e por uma escala de avaliação de 100 pontos relativa à “favorabilidade de
sentimento” para cada membro do grupo. As atitudes mútuas em relação a determinados objetos
eram medias regularmente (quase todas as semanas). Para o propósito deste estudo, os fatores
que definem uma relação equilibrada para um indivíduo são: o seu grau de atração, positivo ou
negativo, face a outro indivíduo; a sua atitude, favorável ou desfavorável, face a algum objeto
(pessoas, questões, e abstrações como valores gerais) e; a atitude do segundo indivíduo, tal
como percebida pelo primeiro indivíduo, em relação ao mesmo objeto (Heider, 1958). Existe um
estado de equilíbrio entre estes fatores enquanto a atração for positiva e o indivíduo perceber
que as suas atitudes são semelhantes com as dos outros.
This total set of findings, in support of our predictions, suggests (1) that
agreement concerning attitudes which change very little during the
acquaintance process becomes a significant determinant of attraction
preferences; and (2) that high-attraction preferences ... change, from early to
late acquaintance, in such manner that agreement concerning other House
members also becomes a significant determinant of high pair attraction
(Newcomb, 1961). As group members interact with one another, each of them
selects and processes information-about objects of common interest, about
one another as objects of attraction in such ways that the inconsistencies and
conflicts involved in imbalanced relationships tend to be avoided ... the
consequence of reciprocal adaptation is a mutual relationship that is in fact
maximally satisfying to both or all of them-that is maximally within the limits
of what is possible (Newcomb, 1963).
Existe uma maior probabilidade de nos sentirmos atraídos quando nos encontramos com um
estado de espírito positivo.
Foi pedido a participantes, todas do sexo feminino, que avaliassem fotos de indivíduos do sexo
masculino (atraentes vs. não atraentes) enquanto ouviam música que gerava afeto positivo (rock)
versus música que gerava afeto negativo (avant-garde), ou ainda não ouviam música (grupo
controlo).
Fotografias
Avaliação Individuo Não Atraente Individuo Atraente p-value
Inteligência 3.53 4.27 .01
Moralidade 3.47 4.10 .005
Ajustamento 3.53 4.80 .001
Atração interpessoal 8.13 10.00 .001
Atratividade física 4.06 5.27 .01
Condição Musical
Avaliação Avant-garde Sem Música Rock p-value
Inteligência 3.60 3.70 4.40 .05
Moralidade 3.40 4.10 4.30 .05
Atração interpessoal 7.70 9.60 9.90 .01
Atratividade física 4.00 4.60 5.40 .05
Efeito de Halo
Propensão dos juízes para avaliarem as pessoas em
termos de uma impressão geral positiva ou negativa. Se
formamos uma impressão positiva de alguém temos
tendência a avaliar os seus outros traços como
positivos, i.e., se uma pessoa tem uma caracteristica
positiva vejo todas como positivas, e vice-versa.
ATIVAÇÃO FISIOLÓGICA
Quando o percipiente se encontra fisiologicamente ativado pode percecionar o alvo como
mais atrativo por via de uma atribuição errónea das sensações fisiológicas cuja causa não
consegue identificar.
Neste estudo, os participantes (n=85), todos do sexo masculino com idades entre os 18 e os
35 que estavam a passear sem a companhia de uma outra mulher, foram contactados por uma
mulher ou homem atrativos aquando da travessia de uma ponte de madeira que lhes pedia que
preenchessem um questionário e que criasse uma breve história com base numa figura ambígua
do TAT. Depois de finalizarem, o entrevistador entregava-lhes um papel com o seu nome e
número de telefone para o caso de quererem conversar posteriormente.
Aceitaram o Pontuação de
Preencheram o Questionários
Entrevistador Contacto Telefonaram Conteúdos
Questionário Usáveis
Telefónico Sexuais (TAT)
Mulher
Ponte
22/33 16/22 2/16 18 1.41
Controlo
Ponte
23/33 18/23 9/18 20 2.47
Experimental
Homem
Ponte
22/42 6/22 1/6 20 .61
Controlo
Ponte
23/51 7/23 2/7 20 .80
Experimental
Desta forma, e de acordo com os autores, a excitação resultante do estímulo ambíguo (ponte
de madeira que provocava diversas sensações) pode ter sido atribuída a outra fonte presente no
meio ambiente (a mulher atrativa) e aumentado a sua atratividade percebida.
9
Algumas explicações para a atração interpessoal e para a influencia de determinados fatores ou variáveis.
Muitas destas explicações e fatores ou variáveis reforçam-se mutuamente.
Mª Matilde Silva | ISPA
122
Porque é que a interação aumenta a atração? Como é claro, as interações podem variar, desde
um simples cumprimentar com a cabeça quando dois caminhos se cruzam, por via de várias
sessões de trocas de mensagens online de 15 minutos numa investigação, até às interações mais
complexas entre um veterano e o novo funcionário em treino. Mesmo as interações mínimas
podem aumentar o gosto e, à medida que a interação se torna mais frequente ou complexa,
processos adicionais contribuem para o efeito da familiaridade.
A INTERAÇÃO TORNA OS OUTROS FAMILIARES. A familiaridade não gera desprezo. Em vez disso,
a familiaridade, que resulta do ver algo repetidamente, aumenta o gosto pelo outro (Bornstein e
outros, 1987). Richard Moreland e Scott Beach (1992) demonstraram o efeito da familiaridade
quando pediram a participantes de um estudo do sexo feminino que assistissem a um número
variável de aulas numa turma grande. Os outros alunos da turma classificaram as mulheres que
compareceram com mais frequência como mais simpáticas e atraentes. A familiaridade também
é importante quando a interação é mais complexa – os efeitos positivos que os vários chats no
computador tiveram sobre o gosto também se deviam ao aumento da familiaridade que os
participantes sentiam com seus parceiros.
A INTERAÇÃO AJUDA A SENTIRMO-NOS CONECTADOS. Interagir com alguém que nos trata com
ternura, aceitação e respeito pode confirmar nossa sensação de estar conectado aos outros
(McAdams & Bryant, 1987; Reis & Patrick, 1996). Essa sensaão de relacionamento e apego à outra
pessoa é outra recompensa importante da interação – uma recompensa que aumenta de
importância à medida que os relacionamentos se aprofundam. Um contributo importante para
esses sentimentos de conexão é o mimetismo. Quando duas pessoas interagem, começam a
imitar os padrões de fala, postura, maneirismos e assim por diante uma da outra, geralmente
sem que nenhuma das pessoas perceba que está a acontecer (Chartrand & van Baaren, 2009).
Mesmo pessoas entre si desconhecidas podem imitar-se uns aos outros durante uma breve
interação, seguindo o exemplo quando o outro balança um pé ou coloca as mãos na cara
(Chartrand & Bargh, 1999). Mimetismo torna as interações mais confortáveis e aumenta o gosto
(Lakin, Jefferis, Cheng, & Chartrand, 2003).
Para levar ao aumento da atração, a INTERAÇÃO TEM DE SER POSITIVA. Quando a interação
não satisfaz as nossas necessidades, contraria os nossos interesses ou magoa-nos, conduzindo-
nos a “não gostar de” (“disliking”). É natural, no entanto, que ocorram interações negativas, mas
as pessoas parecem ser tendencialmente mais simpáticas do que importunas, pelo que,
geralmente, uma maior frequência de interação conduz a um resultado favorável (atração
interpessoal).
Positive interaction with another person...
Creates feelings of connectedness
and belonging, sometimes
triggered by mimicry.
Resulting in
attraction to
the person
SEMELHANÇA
Similarity of many kinds increases attraction and liking because of our natural tendency to see anything
connected to the self as positive, because similarity makes things seem familiar, and because similarity also
contributes to fulfilling needs for mastery and connectedness.
Tendemos a sentir-nos atraídos por outras pessoas semelhantes a nós, na medida em que a
semelhança promove interação, que por sua vez, aumenta a atração. Tendemos a interagir com
pessoas semelhantes, já que os interesses em comum criam oportunidades nesse sentido. Para
além disso, a semelhança aumenta a probabilidade de a interação ser positiva, aqueles que nos
são semelhantes tendem a validar as nossas crenças e atitudes. Ainda como nós gostamos
daqueles que nos são semelhantes, assumimos que aqueles que nos são semelhantes irão gostar
de nós, o que constitui um forte motivo para gostarmos deles. De forma inversa, assumimos que
aqueles de quem gostamos são semelhantes a nós.
Por que a similaridade aumenta o gosto? Assim, a similaridade ajuda-nos a passar da atração
inicial para o gosto por uma série de razões:
SEMELHANÇA SINALIZA QUEM É "EU E MEU". Uma das razões pelas quais gostamos de pessoas
semelhantes, é por tendermos a ver as nossas próprias características como desejáveis. Isso é
válido tanto no nível interpessoal quanto no nível do grupo. A similaridade é geralmente um fator
significativa para a inclusão no grupo e, como vimos com frequência, tendemos a preferir os
membros do endogrupo (que são como eu) a membros do grupo externo (que não fazem parte
do meu “tipo”). Talvez esta seja uma das razões pelas quais os rostos “médios” – rostos gerados
por computador que se assemelham à maioria de muitos outros rostos em uma determinada
população – são vistos como mais atraentes do que rostos com características extremas ou não
representativas (Galton, 1879; Langlois & Roggman, 1990). Este efeito mantém-se além dos
efeitos de simetria, que é mais alto para rostos médios e está independentemente associado à
atratividade. Da mesma forma que gostamos de pessoas semelhantes, quando sabemos que
alguém é semelhante a nós, geralmente assumimos que essa pessoa gostará de nós (E. Aronson
& Worchel, 1966; Singh, Yeo, Lin, & Tan, 2007). Ser amado por alguém é uma das razões mais
fortes para gostar dessa pessoa (Condon & Crano, 1988; Montoya & Insko, 2008).
A SIMILARIDADE CONTRIBUI PARA O “DOMÍNIO”. “Pássaros iguais voam juntos” faz parte
daqueles ditados antigos que são, na verdade, verdade: as pessoas tendem a interagir com outras
que lhes são semelhantes. Interesses compartilhados criam claramente oportunidades de
interação, por exemplo, alunos com motivação académica encontram outros com os mesmos
princípios na biblioteca, jogadores de golfe fanáticos encontram seus semelhantes no campo e
ambientalistas encontram-se nas reuniões do Sierra Club. A similaridade torna mais provável que
essas interações sejam positivas. Em primeiro lugar, a semelhança torna o mimetismo mais
provável (Miles e outros, 2011), o que torna as interações com outras pessoas semelhantes ainda
mais fáceis, levando à atração. Em segundo lugar, a semelhança é um indicador chave de
cooperação, confiança e ajuda (Krupp, DeBruine, & Barclay, 2008), aumentando as recompensas
da interação com outras pessoas semelhantes e, novamente, aumentando o gosto.
TEORIAS EXPLICATIVAS
Ainda que não exista uma correspondência termo a termo entre as conceptualizações da
atração e as principais teorias explicativas, podemos afirmar que estas se podem classificar em
função das componentes atitudinais que privilegiam e da maior ou menor importância que
atribuem aos aspetos afetivos. Assim, podemos considerar que existem duas grandes categorias
ou grupos de teorias da atração interpessoal. O primeiro grupo é o das TEORIAS DA ORGANIZAÇÃO
COGNITIVA, onde a tónica é colocada nas relações entre cognições e sentimentos e a atração é
explicada pela necessidade de consistência interna entre estes elementos. O segundo é o das
TEORIAS DA TROCA SOCIAL E DO REFORÇO, onde a tónica é colocada na relação entre os
componentes afetivo e comportamental e a atração é explicada pela inevitável interdependência
comportamental e afetiva que caracteriza as relações interpessoais.
O sistema está em equilíbrio (tríade equilibrada) se, havendo relações de unidade entre P, O
e X, não se verificar qualquer incompatibilidade entre as 3 relações de sentimento (e.g., P gosta
de O e ambos são militantes do partido X). Verifica-se um estado de desequilíbrio (tríade
desequilibrada) se: coexistirem 2 relações de
sentimento positivas com uma negativa (e.g.,
P ama O e é correspondido, contudo, O gosta
de X, que é, por sua vez, detestado por P); ou
de 3 negativas, isto é, P, O e X detestam-se
reciprocamente.
No caso de Newcomb, trata-se dum prolongamento da teoria de Heider que permite integrar
os processos de equilibração ao nível dos próprios grupos. Além disso, Newcomb procedeu a uma
diferenciação entre os estados ditos de desequilíbrio, atribuindo um valor diferencial à relação
de unidade entre P e O: só se verifica uma tendência para o equilíbrio nos casos em que a relação
de sentimento correspondente é positiva. Nos casos em que não gosto do outro é-me indiferente
a concordância dos nossos sentimentos relativamente a um terceiro objeto ou pessoa.
TEORIAS DO REFORÇO
LOTT & LOTT (1974)
Nesta teoria, a atração é concebida como resposta antecipatória do objetivo (ou meta)
adquirida pelo mecanismo de reforço secundário: qualquer pessoa associada com uma situação
reforçante, torna-se alvo de atração, independentemente de ter ou não contribuído diretamente
para a produção da situação em causa.
A perspetiva é então que os percipientes são atraídos por alvos que os recompensam e,
consequentemente, o gostar de uma pessoa irá resultar das condições em que o individuo
experimenta um reforço na presença dessa pessoa, independentemente da relação entre a
pessoa e a situação reforçante ou state of affairs (Lott & Lott, 1974, p. 172). Para que o indivíduo
funcione como reforço secundário, ao qual passam a estar associados as atitudes e os
sentimentos positivos desencadeados pela satisfação da necessidade primária que especifica a
situação reforçante, basta, pois, nesta perspetiva, a sua presença (como a campainha). Assim,
qualquer pessoa associada com uma situação reforçante torna-se alvo de atração,
independentemente de ter ou não contribuído diretamente para a produção da situação em
causa; não é, pois, necessário que o indivíduo gratifique o outro, nem direta (e.g., elogio), nem
indiretamente (e.g., função instrumental).
Um exemplo de investigação ilustrativa desta perspetiva são trabalhos que evidenciam que
percipientes em ambientes desconfortáveis (e.g., salas com temperaturas extremas, elevada
densidade populacional) sentem-se menos atraídos por estranhos do que percipientes em
ambientes confortáveis.
Contudo, não são os valores individuais das “perdas” ou dos “ganhos” que determinam
diretamente a atração. De acordo, com o princípio da equidade, apenas as relações em que
existisse proporcionalidade entre os “investimentos” (que podem ser conceptualizados como o
somatório das “punições” e das recompensas desperdiçadas) e os “lucros” (recompensas obtidas
mais punições evitadas) para cada um dos envolvidos gerariam atração.
ATRAÇÃO INTERPESSOAL
D I F E R E N Ç A S D E G É N E R O , S E ME L H A N Ç A E P E R S O N A L I D A D E
AULAS PRÁTICAS 10 E 11
DIFERENÇAS DE GÉNERO
A importância da beleza física em função do sexo foi igualmente objeto de investigação. Ainda
que diversos estudos indiquem que os homens, comparativamente às mulheres, dão maior
importância aos atributos físicos do sexo oposto, tais diferenças podem vir a atenuar-se à medida
que se assiste ao declínio do duplo padrão sexual.
K O E S T N E R & WH E E L E R ( 2 0 1 5 )
Anúncios pessoais heterossexuais de dois jornais semanais geograficamente separados foram analisados
quanto ao conteúdo. Emergiram três padrões significativos de descobertas, que lançam luz sobre as
diferenças de gênero no estilo de autoapresentação. Em primeiro lugar, constatou-se que as mulheres
eram relativamente mais propensas a oferecer traços instrumentais ou "valorizados pelos homens" nos
seus anúncios e a procurar características expressivas ou "valorizadas pelas mulheres", enquanto os
homens apresentavam o padrão inverso. Essa descoberta paradoxal foi interpretada como refletindo a
influência de noções implícitas de atração e expectativas de papel. Em segundo lugar, as mulheres eram
relativamente mais propensas a oferecer peso e procurar altura, enquanto os homens eram relativamente
mais propensos a oferecer altura e procurar peso. Esse padrão foi interpretado como um reflexo da
influência da "norma masculino mais alto" na seleção do parceiro, bem como um viés social em relação à
magreza nas mulheres. Finalmente, como em estudos anteriores deste tipo, as mulheres mostraram-se
relativamente mais propensas a oferecer atratividade física e procurar estatuto profissional, enquanto os
homens foram relativamente mais propensos a oferecer estatuto profissional e a procurar atratividade.
Este padrão foi interpretado como consistente com as expectativas tradicionais dos papéis sexuais, onde a
aparência é enfatizada para as mulheres e o estatuto para os homens. No geral, os resultados mostram
que os anunciantes exibem uma compreensão das teorias implícitas da atração: homens e mulheres
tendem a oferecer precisamente os atributos que são procurados pelo sexo oposto.
Os “anúncios pessoais” têm vindo a se tornar numa forma popular de conhecer parceiros
amorosos/sexuais (ver: biografias do tinder). Regra geral, estes anúncios tendem a incluir
descrições de ambos o anunciante e do respondente ideal. Para além da habitual informação
demográfica, como o sexo e idade, estas descrições incluem também atributos físicos, de
personalidade e de conquistas. Fora isso, estes anúncios são também uam fonte de dados
excelente para a investigação, pois: 1) os sujeitos não têm noção quê estão a ser estudados; 2)
as consequências de partilhar anúncios pessoais são mais representativas de cenários naturalistas
e não laboratoriais; e 3) os anunciantes são bons representantes da população geral, do que
estudantes universitários. Ainda, as estratégias usadas na descrição destes anúncios geralmente
baseiam-se em assunções sobre o que potenciais parceiros podem achar desejável e,
consequentemente, tendem a refletir estereótipos relativos ao que os homens e mulheres
procuram numa relação.
Neste estudo, anúncios pessoais foram extraídos de dois jornais semanais locais em duas
cidades dos EUA. Uma amostra preliminar de 50 anúncios foi retirada do jornal de Rochester e
foi avaliada independentemente pelos 2 investigadores, um dos quais não tinha conhecimento
das hipóteses experimentais, de modo a fornecer uma medida de confiabilidade entre
experimentadores. A percentagem de concordância para categorias específicas foi: traços
expressivos 88%, traços instrumentais 93%, altura 95%, peso 95%, atratividade 93%, status 92%.
Com isto, e a partir desta concordância média de 93%, as seções pessoais do jornal de Rochester
da primeira edição de cada um dos primeiros 6 meses de 1983 foram consecutivamente
selecionadas até que 200 anúncios (100 escritos por mulheres e 100 por homens) fossem
encontrados. O mesmo foi feito para o jornal de Mineápolis. Os critérios de escolha dos anúncios
englobavam: os anúncios tinham de especificar claramente o sexo do anunciante e o sexo da
pessoa procurada; e os anúncios nos quais os anunciantes especificaram que eram casados ou
estavam à procuram parceiro de namoro do mesmo sexo foram excluídos da amostra. Os
resultados abaixo apresentados foram então baseados em 400 anúncios, 200 para cada jornal,
equilibrados por sexo.
Oferece Procura
Características Homens Mulheres Homens Mulheres
Expressivo 49 40 38 48
Traços de Personalidade
Instrumental 31 40 38 48
Altura 42 27 7 14
Características Físicas
Peso 30 31 22 5
Atratividade 37 61 38 20
Características Permutáveis
Estatuto 39 27 19 37
Como esperado, os resultados demostraram uma preferência, por parte dos homens, por
atributos físicos comparativamente com o género oposto (e.g., Bercheid, Dion, Walster, &
Walster, 1971). Homens tendem a procurar a atratividade física e a oferecer estabilidade (e.g.,
estatuto), enquanto as mulheres tendem a oferecer a atratividade física e a procurar alguém que
ofereça estabilidade (Koestner & Wheeler, 1988).
Participaram 70 alunos, equilibrados por sexo, com idades entre os 17 e os 25. Nenhum dos
alunos era casado, sendo que 85.7% dos mesmos reportou já ter estado apaixonado numa aluta
da sua vida, e 44.3% reportou estar apaixonado no momento do estudo. Todos os 70
participantes eram exclusivamente heterossexuais, 51 dos mesmos já estiveram sexualmente
com algum parceiro e 48.6% disseram-se sexualmente ativos no momento do estudo.
Foi então pedido aos participantes que ordenassem individualmente as 22 características por
ordem de preferência, para um potencial parceiro sexual ou para um potencial conjugue. O
estudo constou de um design fatorial 2 (sexo do participante) x 2 (tipo de parceiro: sexual ou
conjugue). A tabela abaixo mostra os resultados do estudo, mais concretamente, a preferência
de característica como função do sexo do sujeito e tipo de parceiro. Os valores representam a
média das posições atribuídas à importância de cada atributo, sendo que quando mais baixo o
valor, mais importante é.
As qualidades consideradas desejáveis num parceiro sexual de curto prazo podem ser
diferentes daquelas procuradas num parceiro conjugal de longa duração. Os resultados do
presente estudo sugerem que homens e mulheres de facto preferem características diferentes
nos seus potenciais parceiros sexuais do que nos seus potenciais parceiros de casamento.
Especificamente, ao considerar o que é desejável em alguém com quem pretendem ter um
relacionamento romântico sério, os participantes estavam mais preocupados com atributos
internos, como traços de caráter ou características de personalidade. Ao avaliar um potencial
parceiro sexual, no entanto, as características internas foram depreciadas em favor de atributos
físicos como uma aparência atraente e saúde. Assim, as diferenças de género tendem a ocorrer
sobretudo quando as pessoas estão motivadas para parceiros de longa duração. Para parceiros
de curta duração, ambos os sexos tendem a procurar atributos como a atratividade física porque
é isso que vai suprir as suas necessidades do momento.
Em suma
Dadas as conjunturas da sociedade actual, as diferenças
de sexo para parceiros de longa duração começam a
desvanecer-se, sobretudo porque as mulheres têm
mais poder financeiro e são mais independentes (não
estando tão dependentes do salário do parceiro para
subsistirem e providenciarem recursos aos seus filhos).
A ausência de diferenças entre os sexos na procura de
parceiros de curta duração mantém-se na sociedade
atual.
PARTNER PREFERENCES
WH A T C H A R A C T E R I S T I C S D O ME N A N D WO ME N D E S I R E I N T H E I R S H O R T- T E R M S E X U A L A N D
L O N G - T E R M R O MA N T I C P A R T N E R S ?
Este estudo estende investigações recentes que examinaram o grau em que vários traços são preferidos
num relacionamento sexual de curto prazo versus um relacionamento romântico de longo prazo.
Estudantes universitários (N = 561) expressaram as suas preferências por 23 traços ou características num
potencial parceiro para um relacionamento "sexual de curto prazo" ou "romântico de longo prazo"
(atribuídos aleatoriamente). Em todos os tipos de relacionamento, os participantes preferiram qualidades
internas (e.g., personalidade, inteligência) num maior grau do que qualidades externas (e.g., riqueza,
atratividade física). Além disto, foram encontradas duas diferenças de sexo. Como esperado, os homens
enfatizaram os atributos relacionados à desejabilidade sexual mais do que as mulheres, e as mulheres
valorizaram as características pertencentes ao estatuto social mais do que os homens. Finalmente, tanto
homens quanto as mulheres concentraram-se na desejabilidade sexual (e.g., atratividade, saúde, desejo
sexual, atletismo) ao avaliar um parceiro sexual de curto prazo e deram mais importância à semelhança e
às características de personalidade socialmente atraentes (e.g.,, inteligência, honestidade, calor) ao
considerar um relacionamento romântico de longo prazo.
Neste estudo participaram 562 alunos (55% do sexo feminino e 45% do sexo masculino). Cada
participante recebeu um questionário de uma página intitulado de “Estudo sobre os traços
desejados num parceiro”, que incluía uma lista de 23 atributos ou características. A metade dos
participantes foi pedido que indicassem as suas preferências para um potencial parceiro sexual
de curto prazo, e à outra metade foi pedido que indicassem as suas preferências em relação a
um potencial parceiro amoroso de longo prazo, o que resultou num design fatorial 2 (sexo do
participante) x 2 (tipo de potencial parceiro). A preferência foi dada numa escala com dez pontos
percentuais onde 90% ou superior significava “gostaria que o meu parceiro fosse superior a 90%
das outras pessoas do mesmo sexo nesta dimensão”, 50% significava “gostaria que o meu
parceiro fosse igual a metade das outras pessoas do mesmo sexo nesta dimensão” e inferior a
40% significava “gostaria que o meu parceiro fosse inferior a 90% das outras pessoas do mesmo
sexo nesta dimensão”.
Na tabela abaixo estão os resultados gerais dos 562 participantes, no que toca às preferências
das características geral e em função do tipo de parceiro, ordenadas por ordem decrescente de
preferência.
Da tabela anterior, foram retidos apenas os itens com cargas fatoriais altas (superiores a .45),
como representado na tabela abaixo apresentada. As cargas fatoriais indicam quanto um fator
explica uma variável, podendo variar entre -1 a 1. Para este fim e para facilitar a interpretação
das cargas fatoriais, a análise fatorial foi feita com recurso a uma rotação varimax dos fatores.
Um dos itens, “criativo e artístico”, não obteve uma carga elevada em nenhum dos fatores e por
isso não foi analisado posteriormente.
Cargas Fatoriais
Fatores 1 2 3 4 5
Estatuto Social
Wealthy .831 - - - -
Acesso a posses materiais .785 - - - -
Alto potencial salarial .724 - - - -
Alto estatuto social .714 - - - -
Apelo Social
Inteligente - .823 - - -
Ambicioso - .688 - - -
Alto nível educacional - .610 - - -
Honesto e confiável - .543 - - -
Caloroso e gentil - .500 - - -
Desejabilidade Sexual
Aparência sensual - - .812 - -
Aparência física atraente - - .784 - -
Atlético - - .585 - -
Sexualmente apaixonado (elevado desejo sexual) - - .570 - -
Saudável - - .539 - -
Semelhante ao Próprio
Semelhante ao próprio em características do passado - - - .747 -
Semelhante ao próprio em valores e atitudes - - - .723 -
Semelhante ao próprio em interesses e atividades de lazer - - - .702 -
Semelhante ao próprio em habilidades sociais - - - .624 -
Personalidade Expressiva e Extrovertida
Personalidade excitante - - - - .733
Expressivo e aberto - - - - .659
Sentido de Humor - - - - .628
Amigável e social - - - - .465
Por fim, foi examinado se as preferências diferiam em função do sexo dos participantes e do
tempo de relação. Os resultados estão apresentados na seguinte tabela:
Como visto no estudo acima apresentado, os participantes mostraram uma procura pela
semelhança inter-individual ao nível das atitudes, opiniões, interesses, traços de personalidade,
competências cognitivas e socioeconómicas em potenciais parceiros. Outros estudos (e.g.,
Klohnen & Luo, 2003; Singh, Ng, Ong, & Lin, 2008) mostraram que a semelhança ao nível das
atitudes e variáveis demográficas parecem ter a capacidade de atrair as pessoas. Não obstante,
diferentes tipos de semelhança pode ser mais ou menos importantes para diferentes pessoas
(Michinov & Michinov, 2001).
Pessoas semelhantes podem atrair-se uma vez que escolhem o mesmo tipo de situações. Tal
pode aumentar a probabilidade de estas se conhecerem, interagirem e/ou tornarem-se
familiares, e, assim, tornarem-se atraídas uma pela outra.
Por outro lado, existe evidência que as pessoas tendem a preferir assimetrias em dimensões
específicas. Por exemplo, Dryer & Horowitz (1997) mostraram que a combinação entre uma
pessoa dominante e uma pessoa submissa parece permitir que ambos se comportem de acordo
com a sua preferência. Outro exemplo tem a ver com o desempenho, uma vez que, quando no
mesmo domínio (e.g., profissional), o bom desempenho de um parceiro pode ser uma ameaça à
competência percebida do outro. Assim, em determinadas situações, sentimo-nos mais
confortáveis à volta de pessoas que sejam distintas de nós em domínios de performance, e somos
mais atraídos por este tipo de pessoas (Beach, Whitaker, Jones, & Tesser, 2001)
Desta forma, a compreensão da opção pela semelhança versus pelos contrastes implica a
consideração de vários fatores, como o tipo de dimensão em estudo, os significados sociais e
motivos associados ao tipo de relação, etc. Normalmente, a procura de semelhança remete para
a procura de complementaridade, e está mais associada a relações de longa duração e com a
busca de validação social. Já a procura de opostos, ou distintividade, remete para relações de
curta duração e o interesse por situações novas e excitantes.
PERSONALIDADE
Este modelo considera que a personalidade pode ser descrita em função de um conjunto de
cinco dimensões correspondentes ao mais elevado nível de abstração, que por sua vez são
compostas por vários traços específicos:
· Responsabilidade
Organização A conscienciosidade, tem a ver com o grau em
CONSCIENCIOSIDADE ·
· Disciplina que a pessoa é escrupulosa, autodisciplinada,
The degree to which a · Perseverança organizada, cuidadosa e perseverante. Uma pessoa
person is willing to comply · Competência baixa em conscienciosidade é descrita como
with conventional rules, · Consideração impulsiva, descuidada e desorganizada.
norms, and standards. · Orientação para os
resultados
· Imaginação A abertura à experiência, refere-se ao grau em
ABERTURA À EXPERIÊNCIA · Curiosidade que a pessoa tem um campo alargado de interesses
· Originalidade
The degree to which a · (curiosa e independente) versus um número limitado
Inteligência
person needs intellectual · Sensibilidade de atividades a que se dedica (prática e
stimulation, change, and artística convencional), é original ou conservadora, assume o
variety. · Ações risco ou prefere evitá-lo.
· ideias
O papel da personalidade do observador nas características desejadas num parceiro não tem
sido alvo de investigação. Por outro lado, pessoas tendem a procurar, principalmente para
relações de longa duração, potenciais parceiros com quem partilham semelhanças a nível de
personalidade (e.g., Hoffman, 1958; Coates & Mazur, 1969; Matsuki & Matsumoto, 2020). Neste
sentido, poderá ser colocada a hipótese de que a personalidade do criador do anúncio se
correlacionará com a probabilidade de mencionar determinadas características
(especificamente, características que reflitam a sua personalidade). Por outro lado, na medida
em que, para algumas dimensões, as pessoas tendem a preferir pessoas dissemelhantes (i.e., com
traços que refletem assimetria/distintividade), será interessante analisar que traços de
personalidade se relacionam negativamente com estas características.
Para testar tais hipóteses, foi pedido a 204 estudantes universitários do ISPA (164 do sexo
feminino e 40 do sexo masculino) que, numa primeira instância, preenchessem um anúncio
pessoal e, terminado o anuncio, respondessem à escala de personalidade BFI-44 (Big-FIve
Inventory).
Para a análise dos dados, foi necessário analisar os conteúdos dos anúncios e criar categorias
de características procuradas no parceiro ideal. Depois, foi feita uma análise geral das categorias
mais mencionadas e comparada a probabilidade de menção das categorias em estudantes do
sexo feminino e masculino. Por fim, foi analisada a associação entre características de
personalidade e a probabilidade de menção das categorias.
Amostra total
Características N %
Semelhança 136 66.7%
Amabilidade 114 55.9%
Sentido de humor 111 54.4%
Leal, fiel, respeitador, compreensivo 71 34.8%
Inteligência 59 28.9%
Características físicas 55 27.0%
Estabilidade 41 20.1%
Comunicação 36 17.6%
Artes 33 16.2%
Viajar, aventureiro 24 11.8%
Lutador, resiliente 24 11.8%
Ajudar os outros 24 11.8%
Descrever fisicamente 17 8.3%
Relação a longo prazo 17 8.3%
Semelhança e opostos 17 8.3%
Gostar de animais 13 6.4%
Romântico 13 6.4%
Extroversão, sociabilidade 11 5.4%
Desporto 9 4.4%
Descrever estabilidade 5 2.5%
Trabalhador 5 2.5%
Opostos 4 2.0%
A Teoria da Crença no Mundo Justo Foi concebida por Melvin Lerner. Lerner iniciou os seus
trabalhos em meados dos anos 60, tendo partido da sua experiência com doentes mentais,
enquanto psicólogo clínico, e com alunos de que era professor na faculdade de medicina.
Reparou que os médicos do hospital desvalorizavam e culpabilizavam os doentes mentais pela
situação em que estes últimos se encontravam e pelas dificuldades com que se confrontavam.
Observou também que os alunos tinham a mesma atitude em relação às pessoas pobres, ou seja,
consideravam que essas pessoas desfavorecidas eram responsáveis pela situação em que
estavam. O que o surpreendeu foi o facto de pessoas aparentemente “normais”, “bem
adaptadas”, em termos intelectuais e relacionais, têm estas reações que lhe parecem cruéis e
perversos10. Este facto de pessoas bem adaptadas terem comportamentos que aparentemente
pareciam perversos levou Lerner a procurar uma explicação para estes comportamentos no
campo dos fenómenos normais. A resposta de Lerner foi a formulação da teoria do mundo justo.
“(...) most people cannot afford, for the sake of their own sanity, to believe in a
world governed by a schedule of random reinforcements, (p. 203)”
“People want to and have to believe they live in a just world so that they can
go about their daily lives with a sense of trust, hope, and confidence in their
future. (Lerner, 1980, p. 14)”
Estes comportamentos têm sido também observados por outros autores. Um dos exemplos mais conhecidos é o de
10
Ryan (1971), que constatou uma tendência para os americanos da classe média culparem os pobres por estes não
tentarem ultrapassar a situação em que se encontram. Outros estudos mostram que muitas pessoas explicam a
pobreza com base nas características e no comportamento dos indivíduos dessas classes menos favorecidas (no Reino
Unido, Hcwstone, 1989; nos Estados Unidos, Lem er & Goldberg, 1999; em Portugal, Vala, 1993). Também Wittig (1996)
refere a tendência para os observadores culpabilizarem as vítimas de injustiça social e realça o importante papel das
organizações de ajuda às vítimas para contrariar essa tendência. Estes exemplos sugerem que, muitas vezes, as vítimas,
além de terem de se confrontar com as consequências negativas provocadas pelo fenómeno que as vitimizou
Mª Matilde Silva | ISPA primária, Brickman, Rabinowitz, Karuza, Coates, Cohen & Kidder, 1982), são ainda desvalorizadas, evitadas
(vitimização
e culpabilizadas pelos observadores, ou seja, são vitimizadas uma segunda vez. Estes comportamentos dos
observadores em relação às vítimas têm sido denominados como culpabilização da vítima (Ryan, 1971) ou como
vitimização secundária (Brickman et a i, 1982).
141
(Lerner, 1965b), ou, de uma maneira mais geral, que existe uma relação entre os seus atos ou as
suas características e o seu destino (Lerner & Simmons, 1966). E essa crença tem de aplicar-se a
toda a gente, pois só essa condição lhe confere um carácter objetivo (Festinger, 1954). Se assim
for, cada pessoa tem o que merece e os acontecimentos ocorrem por razões boas e
compreensíveis. Esta crença foi designada por Lerner (Lem er e Simmons, 1966) como a crença
no mundo justo (CMJ), ou seja , os indivíduos acreditam ou que cada pessoa tem o que merece
(Lerner & Simmons, 1966), ou no merecimento, isto é, que “as coisas boas acontecem a pessoas
boas” (Lerner, 1987, p. 110) e “as coisas más acontecem a pessoas más” (Lerner, 1998, p. 251).
“(...) the belief that people get what they deserve or, conversely, deserve what
they get (...). (Lerner & Simmons, 1966, p. 204).”
MENSURAÇÃO
Para quantificar e medir a CMJ, é comumente utilizada a escala geral da CMJ de Dalbert,
Montada e Schmitt (1987), traduzida e utilizada por Correia (2001). Esta escala contém seis itens
medidos num intervalo de 1 (“discordo totalmente”) a 5 (“concordo totalmente”).
FUNÇÃO
Lerner (1971a) considera que a CMJ se desenvolve quando a criança deixa de viver pelo
"princípio do prazer" para passar a viver de acordo com o "princípio da realidade". Este princípio
leva a que a criança seja capaz de desistir de uma recompensa imediata para obter uma
recompensa superior num momento posterior. Quando o faz está a acreditar que o mundo é justo,
na medida em que os seus custos e investimentos se traduzirão no resultado esperado. Assim, a
criança acredita que, se merecer o que pretende, de certeza que o obterá. Consequentemente,
segundo a teoria da CMJ, é a crença no mundo justo que está subjacente ao desenvolvimento do
“contrato pessoal” (Lerner, 1971a), através do qual as pessoas planeiam as suas ações de acordo
com o princípio do merecimento, isto é, fazem investimentos e têm custos para passarem a
merecer o que desejam e assim terem mais probabilidade de o obter. O sentimento de que se
tem direito a algo (entitled to) enquanto resultado do merecimento é, segundo Lerner (1987),
sentido como um imperativo. Quando as expectativas do sujeito são goradas surgem fortes
reações emocionais associadas à injustiça, como a raiva.
Assim, a CMJ assume uma importante função adaptativa. De facto, alguns estudos mostraram
que, quando as pessoas se sentem impotentes para afectar o seu próprio destino, ocorre uma
deterioração da integridade física e emocional do organismo (Seligman, 1975; Leftcourt, 1976;
Wortman & Brehm, 1975).
MECANISMOS DE CONSTRUÇÃO
Lerner (1980) propõe dois mecanismos para a construção da CMJ: as generalizações da
experiência passada, entre as quais se incluem a experiência pessoal (a associação entre atos
reprováveis e resultados negativos), bem como a sabedoria cultural e as histórias tradicionais
(e.g., a fábula da cigarra e da formiga); e o equilíbrio cognitivo que procuramos, tendendo a
agrupar o que é positivo com o que é positivo e o que é negativo com o que é negativo, de modo
a conferir harmonia aos vários elementos (Heider, 1958). Como o próprio Heider (1958) refere,
tendemos a associar a bondade e a felicidade, assim como a maldade e a punição.
Segundo a teoria da CMJ, a crença no mundo justo não desaparece com a idade adulta, e
consequentemente, todas as pessoas acreditam em certo grau no mundo justo, embora a
intensidade desta crença possa variar de indivíduo para indivíduo. Assim, segundo a teoria da
CMJ, na idade adulta, as pessoas mantêm a necessidade de diminuir a perturbação associada aos
acontecimentos injustos com que se deparam.
ABALOS E CONSEQUÊNCIAS
A crença no mundo justo pode ser ameaçada quando as pessoas se confrontam com situações
de injustiça, perdas emocionais e vivências negativas (e.g., divórcio, morte de pessoa próxima,
desemprego, doença) ou quando possuem conhecimento indireto (e.g., através dos meios de
comunicação social) de que muitas pessoas se confrontam com tragédias de natureza diversa.
Estes abalos que ameaçam a crença no mundo justo têm consequências negativas como
ameaçarem também os nossos sentimentos de segurança pessoal, de tranquilidade e de
invulnerabilidade e recorda-nos (“torna presente”) que muitos dos aspetos da nossa existência
que valorizamos e tentamos preservar podem deixar de estar presentes no futuro.
MECANISMOS DE MANUTENÇÃO
Perante estas consequências, surge então uma motivação para o restabelecimento desta
crença no mundo justo, que permitirá às pessoas diminuir a sua perceção de vulnerabilidade
relativamente a situações ameaçadoras e prosseguir as suas atividades quotidianas.
Segundo Lerner (1980), existem estratégias “racionais” e estratégias “irracionais” para evitar
que essa crença seja eliminada. As estratégias “racionais” são aquelas em que o sujeito diminui o
seu sentimento de injustiça, tentando diminuir a injustiça sofrida pela vítima, por exemplo,
através de serviços de ajuda às vítimas ou a grupos desfavorecidos. Como Lerner e Goldberg
(1999) afirmam:
“(...) if people have the needed resources and were given the opportunity to use
them, they would try to restore justice by coming to the aid of the innocent
victims, (p. 628)”
Um estudo que mostra que as pessoas tendem a recorrer a estratégias racionais quando estas
estão disponíveis foi o realizado por Lincoln e Levinger (1972). Estes autores mostraram que,
quando os sujeitos sabem que as suas avaliações podem ter influência no destino da vítima, e
assim têm possibilidade de reduzir a injustiça a que esta foi sujeita, avaliam a vítima tanto mais
positivamente quanto maior acham que foi a injustiça que esta sofreu. Pelo contrário, se é dito
aos sujeitos que os dados são apenas para um estudo do experimentador e os sujeitos sentem
então que não podem afetar o destino da vítima, verifica-se uma culpabilização da vítima, quer
pelos que acham que ocorreu uma injustiça, quer pelos que acham que a vítima não foi alvo de
uma injustiça. Assim, quando o observador não pode eliminar o sofrimento da vítima, pode tentar
aliviar o seu próprio sofrimento, recorrendo a estratégias “irracionais”, de modo a pensar que
nenhuma injustiça ocorreu. Referindo-se à CMJ, Lerner e Goldberg afirmam:
“People will arrange their cognitions so as to maintain the belief that people
get what they deserve or, conversely, deserve what they get. (…) They are seen
as deserving if they have behaved in an appropriate or recommendable fashion,
and, in another sense, are considered deserving if they are personally good and
desirable” (Lerner & Simmons, 1966, p. 204).
Estes mecanismos podem então conduzir a uma avaliação distorcida das situações de
vitimização e das vítimas e, consequentemente, à vitimização secundária. A vitimização
secundária é uma das estratégias usadas para reestabelecer a crença no mundo justo.
MINIMIZAÇÃO OU
DESVALORIZAÇÃO DA NEGAÇÃO DO CULPABILIZAÇÃO DA
EVITAÇÃO DA VÍTIMA
VÍTIMA SOFRIMENTO DAS VÍTIMA
VÍTIMAS
Stein, em 1973 Snyder, Kleck, Rosenberg em Borgida & Brekke
mostrou Strenta & Mentzer em 1994 evidenciou que em 1985 mostraram
experimentalmente, 1979 observam que as muitas vezes os que muitas vezes os
que uma pessoa a pessoas tendem a observadores observadores
quem acontece algo evitar o contacto com exteriores acreditam que as
de mau, embora deficientes. minimizavam o vítimas de violação
considerada menos sofrimento de crianças agiram de modo
responsável por esse maltratadas. sedutor em relação ao
destino, é avaliada violador.
como menos atraente
do que uma pessoa
que se confronta com
um destino neutro.
Estas estratégias “irracionais” são consideradas por Lerner como defesas psicológicas que
reduzem a perturbação associada ao testemunho de uma injustiça ao diminuírem a perceção de
vulnerabilidade do observador.
I came to realize that this defense was needed for anyone to be able to function
for so long with so many people who were suffering, hurt, and would stay that
way for a long time (...). It was obvioulsy a self-protective device, broken
through and at times voluntarily set asside when there was a real possibility for
trying something new (...). (Lerner, 1980, p. 2).
É esta necessidade de redução da perturbação que motiva a crença no mundo justo. Assim,
segundo este autor, existe uma motivação para a reorganização das cognições quando existe
discrepância entre as características ou os atos de uma pessoa e o seu destino. A crença no
mundo justo é, portanto, motivada.
(...) people have a great need to believe in a good and just world. (Lerner &
Simmons, 1966, p. 209)
Diversos estudos de Lerner e colaboradores (e.g. Lerner & Simmnos, 1966) mostraram o
recurso a estas estratégias “irracionais” para restabelecer a CMJ, nomeadamente o recurso à
desvalorização da vítima e à culpabilização da vítima. A negação do sofrimento da vítima e a
evitação da vítima têm sido menos estudados.
Não obstante, este fenómeno tem sido identificado em situações de vitimização muito
diversas tais como: vítimas de assédio sexual; vítimas de pobreza; vítimas de cancro; vítimas
seropositivas; vítimas de desemprego; vítimas de violação; vítimas do processo de
envelhecimento.
Child sexual abuse (CSA), sexual assault (SA), and intimate partner violence (IPV) occur within social
contexts that shape how survivors judge themselves and are evaluated by others. Because these are
gendered sexual and intimate crimes that violate social norms about what is appropriate and acceptable,
survivors may experience stigma that includes victim-blaming messages from the broader society as well
as specific stigmatizing reactions from others in response to disclosure: this stigmatization can be
internalized among survivors as self-blame, shame, and anticipatory stigma. Stigma and stigmatization play
an important role in shaping survivors' thoughts, feelings, and behaviors as they recover: their risk of
revictimization and their help-seeking and attainment process. In this review, we synthesize recent CSA,
SA. and IPV research (N=123) that examines female survivors' self-blame, shame, internalized stigma, and
anticipatory stigma as well as negative social reactions in response to survivors’ disclosure. We highlight
critical findings as well as implications for research, practice. and policy, and we note gaps in our current
knowledge.
O presente estudo tem como objetivo dar a conhecer a interação entre as vítimas de violência nas
relações de intimidade e o Sistema de Justiça Criminal (polícia, ministério publico e tribunal), bem como se
desta interação resulta o fenómeno da vitimização secundária.
Através de 71 questionários respondidos por vítimas divididas em dois grupos – um com acesso a um
programa especializado e outro sem – retiramos algumas conclusões no que toca ao contacto das vítimas
com o sistema e ao resultado que estas obtiveram.
Com o conhecimento obtido acerca desta interação, chegamos à conclusão de que, embora sem
diferenças significativas entre grupos, o grupo experimental tende a apresentar resultados mais positivos
relativamente à polícia mas não em relação ao Ministério Público e Tribunal, sendo nesta última entidade
onde se concentra o volume mais elevado de vitimização secundária.
Descobrimos que a vitimização secundária se traduz muito mais em emoções negativas do que através
dos comportamentos desadequados praticados pelas entidades.
Por fim, a vitimização secundária está negativamente correlacionada com o contacto positivo com as
entidades e o resultado positivo da ação institucional, o que significa que quanto melhor forem for a
avaliação das vítimas acerca do contacto com as vítimas e melhor for o resultado, menor será a vitimização
secundária. Por outro lado, a vitimização secundária está positivamente relacionada com a reincidência e
o sentimento de insegurança, sugerindo que os casos com mais vitimização secundária são também os
casos mais reincidentes e em que as vítimas se sentem menos seguras.
MA R T I N S ( 2 0 1 1 )
Desde o trabalho basilar de Kahneman e Tversky (1982a) que múltiplos estudos se têm desenvolvido,
debruçando-se, em particular, sobre três vertentes distintas: as leis que governam esta forma de proceder
à reversão do passado, as suas consequências e funções e a sua relação com a atribuição causal.
Quanto à primeira, tem sido possível concluir que existem constrangimentos ao nível do pensamento
contrafactual, ou seja, que o mesmo é regido por regras, as quais determinam a maior ou menor
mutabilidade de uns antecedentes relativamente a outros.
No que respeita à segunda, verifica-se que o processo referido não é psicologicamente inócuo pois,
uma vez ativado, afeta um vasto leque de julgamentos e sentimentos, servindo, paralelamente, várias
funções. À abordagem funcional do pensamento contrafactual veio juntar-se a asserção, e posterior
comprovação empírica, de que este poderia ser nefasto para alguns sujeitos, nomeadamente para aqueles
que se encontrassem deprimidos, como é o caso das vítimas de violação.
Por fim, os estudos dedicados à sua relação com o processo de atribuição causal têm defendido
posições díspares, compondo uma controvérsia ainda persistente.
Paralelamente, inspirados nos trabalhos de Byrne (2005) e de Mandel e Lehman (1996), estudámos o
grau de mutabilidade dos comportamentos proibidos da vítima em termos do não cumprimento de normas
de segurança, explorando, desta forma, uma variável escassamente abordada, a qual designámos de fator
prevenção.
CENTRAÇÃO
Os pensamentos contrafactuais podem ser categorizados em termos do seu elemento focal,
ou seja, do alvo sobre o qual versam: O próprio, os outros ou elementos alheios, inerentes à
situação ou característicos da envolvente.
DIREÇÃO
A direcção constitui uma dimensão avaliativa, segundo a qual é possível classificar os
pensamentos contrafactuais em dois subtipos: ascendentes (upward) e descendentes
(downward). Os contrafactuais ditos ascendentes são aqueles que representam uma situação
Foram realizados dois estudos que analisaram as reações das pessoas ao sofrimento de
vítimas pertencendo ao endogrupo e ao exogrupo. Os resultados de ambos os estudos
demonstraram que a vítima do endogrupo é mais ameaçadora para a crença no mundo justo do
que a vítima do exogrupo. A vitimização secundária esperada da vítima do endogrupo foi obtida
apenas no segundo estudo quando foi utilizada uma non-obtrusive derogation measure.
MO D E S T O & P I L A T I ( 2 0 1 7 )
De acordo com a hipótese do mundo justo (Lerner, 1980), o quanto as pessoas acreditam que
o mundo é um lugar justo é um fator que ajuda a explicar a reação a episódios de vitimização.
Não é qualquer situação de vitimização que gera uma ameaça à manutenção da CMJ: diferentes
vítimas oferecem diferentes ameaças à CMJ dos indivíduos. Uma vítima inocente, cujo sofrimento
persiste, parece ser o tipo mais ameaçador à manutenção da CMJ (Correia & Vala, 2003; Lerner
& Simmons, 1966). Por outro lado, usualmente as pessoas estão interessadas no que ocorre em
“seu próprio mundo”, de modo que o confronto com vítimas de outros contextos e grupos parece
ser menos ameaçador (Lerner & Miller, 1978)
REVISÃO
Esta componente constitui um resumo dos tópicos abordados, na unidade curricular, ao longo do semestre.
Não deve ser entendida como uma indicação quanto ao que possa ser considerado “mais” ou “menos
importante” nem quanto ao que possa ser alvo de avaliação em contexto de exame. Para este, tudo o que
foi lecionado, quer nas aulas teóricas, quer nas aulas teórico-práticas, é elegível.
INFLUENCIA SOCIAL
FACILITAÇÃO E INIBIÇÃO SOCIAL
· Introdução à influência social (conceitos, processos);
· A “intenção” e a “consciência de” na inibição social;
· A facilitação social (Triplett, Allport, Efeitos de audiência e de coacção);
· A inibição social;
· Explicações para estes dois processos opostos (Zajonc e a activação fisiológica x acessibilidade
das tarefas, explicações para a alteração dos níveis de activação fisiológica: os outros levam
à distracção e apreensão);
· Implicações e aplicações.
ASH E O CONFORMISMO
· A experiência original;
· Tipologia de sujeitos críticos;
· Algumas das variações experimentais.
MILGRAM E A OBEDIÊNCIA
· A experiência original;
· Resultados vs. as previsões dos especialistas;
· Algumas das variações experimentais.
NORMAS SOCIAIS
· Definições, dupla faceta e tipos de normas (reciprocidade social, responsabilidade social e
compromisso social; obediência à autoridade);
· Sherif e os estudos sobre a normalização (objectivos, ponto de partida, método, resultados e
conclusões das experiências Individuais e experiências de grupo)
O BYSTANDER EFFECT
· O assassínio de Kitty Genovese;
· Definição;
· Conflito entre normas prescritiva e descritiva;
· O estudo de Darley e Latané (1968): explicações dos autores para a apatia dos bystanders;
· Modelo de tomada de decisão de 5 etapas (Latané & Darley, 1970).
INOVAÇÃO
· Os indivíduos possuem apenas duas alternativas (independência e conformismo)? Então,
como é que o sistema muda?;
· Do paradigma funcionalista (controlo social: normalização, conformismo, obediência) ao
paradigma genético (mudança social: inovação);
· Como Moscovici revisita Asch “de pernas para o ar”
· A experiência de Moscovici, Lage e Naffrechoux (1969) (método, resultados, conclusões);
· Dois tipos de minorias (activa e anômica);
· Factores determinantes para a influência minoritária (estilo comportamental percebido:
consistência sincrónica e diacrónica e auto-confiança);
· Definição de inovação e fases do processo (Revelação, Incubação e Conversão);
· Síntese da IS;
· Dois tipos de influência social (informativa e normativa).
DESVIACCIONISMO
· A experiência de Schachter (1951);
· Desvio, rejeição e comunicação;
· Operacionalização das variáveis, método, resultados;
· A replicação de Wesselmann et al. (2014).
RELAÇÕES INTERGRUPAIS
ABORDAGEM DA IS E ESCOLA DE GENEBRA
· Definição de grupo social (perspectiva das relações intergrupais);
· Conceitos introdutórios (auto-conceito, auto-estima, identidade social,…);
· A abordagem da Identidade Social e a categorização social;
· Questões que motivaram Tajfel e Turner e pressupostos;
· A hipótese da competição social (Turner, 1972, 1973, 1978);
· Limitações da TIS;
· A Escola de Genebra (Efeito do cruzamento das pertenças categoriais e Modelo das Relações
de Poder Simbólico)
FENÓMENOS INTERPESSOAIS
ATRAÇÃO INTERPESSOAL
· Conceptualização;
· Fatores/variáveis que influenciam a atração interpessoal;
· Alguma evidência empírica (proximidade física e frequência de interacção, estado de espírito
positivo, activação fisiológica);
· Abordagens e teorias explicativas (teorias da consistência cognitiva).
VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA
· Definição;
· Vitimização Secindária enquanto estratégia de manutenção da CMJ;
· Formas e mensuração;
· O caso das vítimas de violação (o estudo de Sá, 2020; a expressão do PCF segundo Martins,
2011; Kennedy & Prock, 2016).
FICHAS
FICHA 2
“OS MEMBROS DO ENDOGRUPO SÃO SEMPRE AVALIADOS DE FORMA MENOS EXTREMADA DO QUE
OS MEMBROS DO EXOGRUPO, MESMO QUANDO SE TRATAM DE MEMBROS INDESEJÁVEIS.” COMENTE
A FRASE (VERIFICANDO A SUA VERACIDADE), JUSTIFICANDO À LUZ DO EFEITO “OVELHA NEGRA”
ESTUDADO POR MARQUES E COLABORADORES (1988) – FOCANDO A FORMA COMO O SEU ESTUDO
FOI OPERACIONALIZADO E OS RESULTADOS QUE SUSTENTAM ESTE EFEITO.
De acordo com a Teoria da Identidade Social podemos concluir que a afirmação é falsa pois
esta teoria diz-nos que os indivíduos avaliam de um modo mais extremo os membros desejáveis
e indesejáveis do endogrupo comparativamente aos membros desejáveis e indesejáveis do
exogrupo, e não que os membros do endogrupo são avaliados de forma menos extremada que
os do exogrupo. Desta forma, os membros desejáveis do endogrupo são avaliados de forma mais
positiva do que os membros desejáveis do exogrupo e os membros indesejáveis do endogrupo
são avaliados de forma mais negativa do que os membros indesejáveis do exogrupo. Este efeito
surge porque existe uma tendência para desvalorizar os membros do próprio grupo cujo
comportamento/atitudes possa afetar negativamente a identidade social do grupo. Esta
desvalorização dos membros do endogrupo indesejáveis ocorre como uma estratégia cognitiva
utilizada para preservar um sentido de identidade positiva do grupo como um todo.
A hipótese geral de Marques e colaboradores era de que o “Efeito Ovelha Negra” se deve à
relevância do comportamento dos membros do endogrupo, comparativamente aos membros do
exogrupo, para a identidade social dos sujeitos.
Para testar a hipótese, juntaram um grupo de participantes belgas que se teriam voluntariado
para participar num estudo sobre vários aspetos da vida dos estudantes no campus universitário.
Foi dito aos participantes que um inquérito anterior havia demonstrado que os estudantes do
campus universitário viam uma série de comportamentos exibidos por determinados grupos de
pessoas como sendo importantes e frequentes, sendo os sujeitos depois convidados a avaliar
esses comportamentos numa escala com 7 pontos, onde 1 significava “discordo” e 7 “concordo”,
com base em 5 traços: simpático, sociável, acolhedor, alegre, comunicativo.
A norma genérica aplicava-se a uma categoria geral que incluía membros do endogrupo e do
exogrupo (categoria supraordenada dos “estudantes”). A norma exclusiva aplicava-se,
exclusivamente, a membros do endogrupo.
FICHA 3
DE ACORDO COM MOSCOVICI, LAGE E NAFFRECHOUX (1969), PODEMOS CONSIDERAR QUE A
SEGUINTE AFIRMAÇÃO É FALSA, UMA VEZ QUE, E SEGUNDO O PARADIGMA QUE DESCREVEREMOS
ABAIXO, UMA MINORIA DE INDIVÍDUOS É CAPAZ DE PROMOVER TANTO A ACEITAÇÃO PRIVADA.
Moscovici reinterpretou as investigações de Asch, virando-as “de pernas para o ar”. Enquanto
Asch demostrou que a maioria tem um impacto significativo no comportamento da minoria,
Moscovici chamou a atenção para o facto dessa maioria laboratorial (i.e., os comparsas do
paradigma de Asch), no mundo real, serem de facto uma minoria. Foi, então, esta minoria
extralaboratorial (minoria de facto) que, por um lado, teve influência na aceitação pública do
sujeito crítico, mas, por outro lado, não modificou em grande escala a aceitação privada destes
últimos. Para Moscovici, isto é explicado pelo facto do sujeito crítico, embora minoritário num
contexto laboratorial, ser uma maioria de facto no contexto fora do laboratório. Assim, e de
acordo com Moscovici, Asch foi o primeiro a demostrar que a minoria consistente pode modificar
o comportamento de uma minoria, e foi com base neste reinterpretação que desenvolveu o seu
paradigma experimental mais conhecido.
Neste seu estudo, p autor dividiu os participantes (estudantes de arte, direito e ciências
sociais, todos do sexo feminino), em dois grupos, sendo estes o grupo experimental e o grupo de
controlo. Ambos grupos tinham 6 sujeitos, no entanto, o Grupo Experimental era composto por
4 sujeitos ingénuos (sujeitos cíticos) e 2 comparsas do experimentador, enquanto o Grupo de
Controlo era composto por 6 sujeitos ingénuos. A experiência foi apresentada aos sujeitos como
um estudo sobre a perceção de cores e era constituída por 4 fases.
A primeira fase consistia num teste de acuidade visual, cujos principais objetivos eram eliminar
indivíduos com problemas de visão e levar os participantes a perceber que todos possuíam uma
visão normal (isto era relevante para a interpretação das respostas dos comparsas por parte dos
sujeitos ingénuos). A segunda fase consistiu na projeção de 24 diapositivos com 2 graus de
luminosidade e de cor de filtro azul – nesta fase o experimentador perguntava qual a cor do
diapositivo, e os participantes tinham de responder, em voz alta (contexto público), a cor e a
luminosidade, estimando numa escala de 1-5 – é também importante referir que os comparsas,
na condição do grupo experimental, estavam sempre no 1º e 2º lugar OU em 1º e 4º lugares e
respondiam sempre “verde” à primeira pergunta do experimentador (e respondiam à segunda
pergunta segundo a sua perceção). Nesta fase é possível identificar a 1ª variável dependente, isto
é, o número de respostas “verde” fornecidas pelos sujeitos ingénuos. Na terceira fase era passado
aos participantes o teste de Farsnworth, apresentando a prova como um teste para estudar os
efeitos da fadiga na perceção das cores (contexto privado), nesta fase percebemos a 2ª variável
dependente, sendo esta as respostas fornecidas pelos sujeitos ingénuos, especialmente no caso
das séries de círculos que variavam gradualmente do azul para o verde. Na quarta, e última fase,
era administrado um questionário individual (avaliação da minoria), e havia uma breve explicação
da situação. Na quarta fase, a minoria foi negativamente avaliada pelos participantes críticos,
sendo vistos como menos competentes, mas mais autoconfiantes.
Nas variações experimentais ao paradigma original, os autores verificaram que esta minoria
necessita de apresentar um conjunto de características, ou seja, não pode ser uma minoria
qualquer. Desta forma, primeiramente a minoria deverá ter a capacidade de induzir a perceção
da sua consistência nas suas respostas e em seguida deverá ser capaz de responder com
autoconfiança. No que toca à consistência, esta deverá ser tanto sincrónica (uma vez que
apresenta unanimidade entre elementos da minoria), como diacrónica (pois ao longo do tempo
a minoria apresenta-se consistente).
Conclui-se então, e no que toca aos tipos de aceitação, que um emissor minoritário
consistente, mesmo que percebido como incompetente, mas autoconfiante, pode levar à
aceitação privada da sua influência, independentemente da sua aceitação pública. Estes
resultados demonstram também que uma minoria de indivíduos pode ter um impacto
(moderado) nas respostas públicas de uma maioria em relação a um objeto de julgamento que
se pode considerar como objetivamente não ambíguo.
FICHA 4
EXPLIQUE EM QUE CONSISTE A ATRAÇÃO INTERPESSOAL (TENDO EM CONTA O DESENVOLVIMENTO
DESTE CONCEITO AO LONGO DO TEMPO) E INDIQUE – COM BASE EM EVIDÊNCIA EMPÍRICA – DE QUE
FORMA A PROXIMIDADE FÍSICA PODERÁ INFLUENCIAR A PROBABILIDADE DE NOS SENTIRMOS
ATRAÍDOS POR ALGUÉM. DESCREVA O ESTUDO EM QUE BASEAR A SUA RESPOSTA.
A atração interpessoal começa por ser conceptualizada como atitude, sendo definida por
Newcomb em 1961, como orientação avaliativa de A relativamente a B (Newcomb, 1961). O
conceito de atitude, que implica a localização de um objeto do pensamento numa dimensão
avaliativa, constituía um molde ideal para a conceptualização da atração interpessoal, sendo
apenas necessário especificar que o objeto de pensamento se referia a uma outra pessoa. As 3
componentes (cognitivo, afetivo e comportamental), tradicionalmente incluídas sob a noção de
atitude, passaram a constituir as 3 dimensões da atração interpessoal. Muito sucintamente, a
componente cognitiva remete para crenças acerca da outra pessoa, a componente
afetiva para sentimentos e emoções positivas que uma pessoa experimenta na interação com
outra pessoa e relativamente a essa outra pessoa e a componente comportamental as ações de
uma pessoa que objetivamente a aproximam de e/ou favorecem uma outra pessoa, isto é,
as intenções comportamentais de uma pessoa relativamente à outra pessoa.
A atração foi medida por meio de uma classificação que consistia em ordenar os membros do
grupo por preferência, e por uma escala de avaliação de 100 pontos relativa à “favorabilidade de
sentimento” para cada membro do grupo. As atitudes mútuas em relação a determinados objetos
eram medias regularmente (quase todas as semanas). Para o propósito deste estudo, os fatores
que definem uma relação equilibrada para um indivíduo são, de acordo com Heider (1958): o seu
grau de atração, positivo ou negativo, face a outro indivíduo; a sua atitude, favorável ou
desfavorável, face a algum objeto (pessoas, questões, e abstrações como valores gerais) e; a
atitude do segundo indivíduo, tal como percebida pelo primeiro indivíduo, em relação ao mesmo
objeto. Existe um estado de equilíbrio entre estes fatores enquanto a atração for positiva e o
indivíduo perceber que as suas atitudes são semelhantes com as dos outros. Os resultados
EXAME
ESTRUTURA
3 questões de 3 valores cada 4 questões de 2 valores cada 6 questões de 0,5 valores cada
desenvolvimento (9 valores total) resposta crítica (8 valores total) escolha multipla (3 valores total)