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Cooperativa de Trabalho Interdisciplinar dos Profissionais da Área Social Ltda.

Rua Pinto Bandeira, 357 Conj. 67 – Centro - Porto Alegre/RS CEP: 90030-150.
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EDUCADOR(A) SOCIAL

“Me movo como educador, porque, primeiro,


me movo como gente.”
(Paulo Freire)
SUMÁRIO

1. Apresentação institucional ...................................................................................... 5

2. O(a) Educador(a) Social ........................................................................................... 5

2.1. Competências do(a) Educador(a) Social ......................................................... 7

2.2. Regulamentação/Profissionalização da ocupação de Educadores(as) Sociais10

2.3. Código Deontológico (ou de ética) do(a) Educador(a) Social......................... 14

3. Cidadania ................................................................................................................ 18

4. Direitos Humanos ................................................................................................... 19

5. Vulnerabilidade ....................................................................................................... 19

5.1 Vulnerabilidade social .................................................................................... 20

5.2 Vulnerabilidade institucional .......................................................................... 21

5.3 Vulnerabilidade individual .............................................................................. 22

6. Políticas Sociais Públicas ...................................................................................... 23

6.1 Assistência Social .......................................................................................... 24

6.2 Sistema Único de Saúde – SUS .................................................................... 28

6.3 Educação ...................................................................................................... 29

6.4 Meio Ambiente – Educação Ambiental .......................................................... 30

7. Serviços .................................................................................................................. 32

7.1 Proteção Social Básica .................................................................................. 33

7.1.1 Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ..................................... 33

7.1.2 Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos................... 34

7.2 Proteção Social Especial ............................................................................... 35

7.2.1 Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) ............ 36

7.2.2 Centro de Referência de Atendimento à Mulher ............................................ 36

7.2.3 Centro de Referência Especializado para População de Rua ........................ 36

7.3 Entidades Assistenciais na Área da Saúde.................................................... 37

7.3.1 Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) ....................................................... 37

7.3.2 Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Droga (CAPS-AD) ......................... 37

8. Usuários das Políticas Publicas ............................................................................ 38


8.1 Famílias ......................................................................................................... 38

8.2 Crianças e Adolescentes ............................................................................... 39

8.3 Mulheres – Lei Maria da Penha ..................................................................... 42

8.4 Idosos ............................................................................................................ 43

8.5 Estatuto da Igualdade Racial ......................................................................... 43

8.6 Pessoas com Deficiência ............................................................................... 44

9. Programas e Projetos Sociais ............................................................................... 45

9.1 Cadastro Único – CAD ÚNICO ...................................................................... 45

9.2 Bolsa Família ................................................................................................. 46

9.3 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) ..................................... 47

9.4 Benefício de Prestação Continuada (BPC) .................................................... 47

9.5 Serviço Especializado em Abordagem Social (Ação Rua) ............................. 48

9.6 Programa Mais Educação.............................................................................. 49

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 51
Educador(a) Social – COOPAS-RS

1. Apresentação institucional

A Cooperativa de Trabalho Interdisciplinar dos(as) Profissionais da Área Social (COOPAS-


RS) foi fundada em 1999 por profissionais com formação para atuar na área das políticas
sociais. Somos uma entidade não governamental, de utilidade pública, sem fins lucrativos e auto
gestionada1.
Nossa missão é ser um instrumento difusor de construção permanente da solidariedade
humana e da conquista do bem estar e da justiça social.
Temos como objetivo promover a melhoria da qualidade de vida das populações por meio
da implementação e execução de programas, projetos e serviços sociais.
Dentre as suas ações, a COOPAS-RS visa formar trabalhadores(as) para atuar como
Educadores(as) Sociais nas mais diversas políticas públicas.
O(a) Educador(a) Social formado(a) pela COOPAS-RS estará preparado(a) para agir na
inclusão social, nas inadaptações sociais, no favorecimento de autonomias e do bem-estar social.
Contribuirá para o desenvolvimento comunitário, para a construção de projetos de vida, se
envolverá nas necessidades formativas da população em diversos contextos sociais. Atenderá
também a grupos sociais em situações de risco pessoal ou social. Desempenhará funções
educativas, informativas, de orientação, de animação, de gestão, de desenvolvimento local
comunitário, desenvolverá projetos de intervenção e de mediação, entre outras atividades.

2. O(a) Educador(a) Social

Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), a atividade ocupacional de


Educadores(as) Sociais visa garantir a atenção, defesa e proteção de pessoas em situações de
risco pessoal ou social. Seu trabalho objetiva assegurar os direitos fundamentais das pessoas,
abordando-as, sensibilizando-as e identificando suas necessidades e demandas sociais. São
trabalhadores(as) que desenvolvem atividades culturais, esportivas, educativas, laborativas,
recreativas e ressocializadoras.
Porém, essa descrição sumária, contida no Relatório da Família Ocupacional 5351 da CBO
(Trabalhadores de atenção, defesa e proteção a pessoas em situação de risco e adolescentes em
conflito com a lei), que incluí também em sua composição agentes de ação social, monitores(as) de
dependentes químicos, conselheiros(as) tutelares, socioeducadores(as) e monitores(as) de

1 Conjunto de práticas organizacionais que buscam distribuir a autoridade, dando clareza de responsabilidades e o
máximo de autonomia a cada integrante da organização. Nesse caso, as pessoas deixam de se reportar a um(a)
superior(a), porém seguem um conjunto de regras e acordos firmados coletivamente. Esses acordos formam uma
estrutura organizacional que não exige que todos(as) tenham o mesmo poder de decisão e autoridade, apenas deixa claro
como isso é feito e busca minimizar relações de subordinação. (https://targetteal.com/pt/blog/o-que-e-autogestao/)

5
ressocialização prisional, não dá conta (e nem tem esse objetivo)2 de explicitar todas as atividades
realizadas por Educadores(as) Sociais no cotidiano de seus trabalhos.
O(a) Educador(a) Social estabelece-se nos espaços de trabalho intervindo por meio de
práticas educativas intencionalizadas com as mais diversas faixas etárias (crianças, adolescentes,
jovens, adultos, idosos) e nos mais diferentes contextos sociais, culturais, educativos e econômicos.
O(a) Educador(a) Social trabalha a partir de realidades concretas, exercendo atividades em diversos
contextos, sejam eles instituições públicas ou privadas de assistência social (CRAS, CREAS, SCFV,
etc.), de educação, de saúde (UBS, CAPS, etc.), estabelecimentos prisionais (FASE, presídios) ou
mesmo em associações comunitárias ou movimentos sociais. Nesses espaços, o(a) Educador(a)
Social realiza intervenções em vários níveis: individuais, em grupos espontâneos, com grupos
criados pelo(a) Educador(a) Social, em comunidades ou grupos sociais inteiros, etc. Em geral, no
Brasil, seus espaços de trabalho estão ligados ao campo social, ou seja, às diversas políticas
públicas (saúde, educação, justiça, arte e cultura, assistência social), em especial, às políticas
públicas de Assistência Social, conforme demonstra a tabela abaixo.

Tabela 1 - Número de trabalhadores(as) do SUAS em Porto Alegre por categoria ocupacional e


serviço socioassistencial, segundo o Censo SUAS 2016
Número de trabalhadoras(es) por categoria ocupacional no SUAS (Porto Alegre) - Censo SUAS 2016
Acolhimento CentroDIA CentroPOP Convivência CRAS CREAS Totais por categoria
Coordenadora(or) 73 4,7% 17 3,6% 2 3,6% 116 8,2% 22 5,0% 8 2,7% 238 5,6%
Diretora(or) 4 0,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 0,1%
Apoio Administrativo 143 9,1% 45 9,5% 2 3,6% 107 7,5% 30 6,9% 13 4,3% 340 8,0%
Educadora(or) Social 391 24,9% 38 8,0% 16 29,1% 570 40,1% 64 14,6% 122 40,8% 1201 28,2%
Técnica(o) de nível superior 237 15,1% 143 30,0% 9 16,4% 147 10,3% 89 20,4% 96 32,1% 721 16,9%
Técnica(o) de nível médio 2 0,7% 2 0,0%
Serviços Gerais 230 14,7% 33 6,9% 6 10,9% 211 14,8% 40 9,2% 11 3,7% 531 12,5%
Estagiária(o) 15 1,0% 18 3,8% 5 9,1% 6 0,4% 117 26,8% 19 6,4% 180 4,2%
Outras(os) 129 8,2% 156 32,8% 15 27,3% 264 18,6% 75 17,2% 23 7,7% 662 15,6%
Cuidadora(or) 173 11,0% 24 5,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 197 4,6%
Cuidadora(or) Residente 99 6,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 99 2,3%
Auxiliar de cuidadora(or) 9 0,6% 2 0,4% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 11 0,3%
Cozinheira(o) 48 3,1% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 48 1,1%
Motorista 17 1,1% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 17 0,4%
Não informado 5 1,7% 5 0,1%

1568 100,0% 476 100,0% 55 100,0% 1421 100,0% 437 100,0% 299 100,0% 4256 100,0%
Totais
36,8% 11,2% 1,3% 33,4% 10,3% 7,0%
Fonte:
Fonte: Produção do autor com Autores(as),
base nas com- Ministério
informações do MDS base nas informaçõesSocial
do Desenvolvimento do Ministério do Desenvolvimento
e Combate à Fome. Social eSocial
Secretaria Nacional de Assistência Combate à Fome
- Censo SUAS (MDS),
2016 (2016).
Secretaria Nacional de Assistência Social - Censo SUAS 2016.

O(a) Educador(a) Social é um(a) agente de transformação social que utiliza estratégias de
intervenção educativa intencionalizadas. Ele(ela) age na inclusão social, nas inadaptações sociais,
no favorecimento de autonomias e do bem-estar social de indivíduos e grupos. Contribui para o
desenvolvimento comunitário, para a construção de projetos de vida, envolve-se nas necessidades
formativas da população em diversos contextos sociais e desenvolve a adaptação sociolaboral.
Atende também a grupos sociais com vivências de riscos pessoais e sociais. Desempenha funções

2 A CBO é um documento normalizador do Ministério do Trabalho. Seu objetivo é identificar e catalogar as ocupações
existentes no mercado de trabalho brasileiro para fins classificatórios (nomeação e codificação dos títulos e conteúdos
das ocupações), a fim de reconhecer juridicamente a atividade laboral como uma ocupação. A CBO não tem a função de
regulamentação profissional das ocupações, mas seu conteúdo serve de guia para orientar as relações formais de
trabalho e pode servir de guia para a elaboração de propostas de regulamentação profissional das ocupações.

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

educativas, reeducativas, informativas, de orientação, de animação, de gestão, de desenvolvimento


local, de desenvolvimento de projetos sociais, de intervenção, de mediação, entre outras.

2.1. Competências do(a) Educador(a) Social

Competências são o conjunto de saberes ou habilidades mínimas, teóricas e práticas,


compreendidas como necessárias para a execução da atividade ocupacional (trabalho). Elas estão
diretamente relacionadas com a complexidade das atividades exercidas e as responsabilidades
do(a) trabalhador(a) no exercício do trabalho. A CBO, descreve e organiza as competências
ocupacionais de Educadores(as) Sociais em nove grandes áreas, conforme o quadro abaixo.

Quadro 01 – Competências do(a) Educador(a) Social segundo a CBO

GRANDE ÁREA DE
COMPETÊNCIAS / ATIVIDADES
COMPETÊNCIA

A.1 - Identificar direito violado dos assistidos/usuários/educandos/internos


A.2 - Orientar assistidos/usuários/internos/familiares e educandos sobre e os
direitos e/ou deveres
A.3 - Requisitar serviços
A.4 - Encaminhar assistidos/usuários/internos/familiares a entidades e
serviços
A.5 - Denunciar situação de risco
A.6 - Solicitar resgate de assistidos/usuários/internos
A.7 - Resgatar assistidos/usuários/internos
A.8 - Fazer recâmbio de assistidos/usuários/educandos
A.9 - Acompanhar assistidos/usuários/educandos/internos a atendimentos
A.10 - Fiscalizar entidades de atendimento a crianças e adolescentes
A - Desenvolver ações para
A.11 - Assessorar poder público na implantação de programas e projetos
garantir direitos dos(as) A.12 - Informar ministério público e/ou poder judiciário os direitos violados
assistidos(as) / usuários(as) / A.13 - Recepcionar educando/interno
educandos(as) / internos(as) A.14 - Acolher educando
A.15 - Solicitar encaminhamento de educandos/internos
A.16 - Verificar a ocorrência de violação de direitos
A.17 - Acompanhar a rotina diária do educando/interno
A.18 - Revistar o interno e visitantes
A.19 - Realizar atividades utilizando cão
A.20 - Verificar o conteúdo das correspondências dos internos (recebidas e
enviadas)
A.21 - Realizar rondas
A.22 - Revistar as celas
A.23 - Acompanhar visitantes (familiares, advogados)
A.24 - Conduzir internos para as atividades pedagógicas, laboral e de lazer

B.1 - Criar vínculos


B.2 - Conscientizar sobre riscos
B.3 - Despertar nos assistidos/usuários/educandos desejo para mudar de
vida
B - Sensibilizar assistidos(as) / B.4 - Aconselhar assistidos/usuários/educandos/internos
usuários(as) / internos(as) B.5 - Resgatar autoestima
B.6 - Apontar alternativas
B.7 - Despertar aptidões, habilidades
B.8 - Conscientizar sobre regras e normas

7
C.1 - Receber denúncias
C.2 - Receber informações sobre violação de direitos
C.3 - Observar necessidades de assistidos/usuários/educandos
C.4 - Dialogar com assistidos/usuários/educandos
C.5 - Dialogar com familiares e/ou vizinhança
C.6 - Levantar dados estatísticos
C - Identificar necessidades / C.7 - Pesquisar histórico familiar
demandas C.8 - Avaliar adesão ao tratamento
C.9 - Monitorar comportamento
C.10 - Participar da elaboração do diagnóstico polidimensional
C.11 - Avaliar a adesão a medida socioeducativa
C.12 - Identificar se os internos estão sendo atendidos
C.13 - Identificar internos em situação de risco

D.1 - Realizar visitas domiciliares


D.2 - Verificar denúncias
D.3 - Receber pedidos de ajuda da família
D.4 - Receber demanda espontânea
D.5 - Atender solicitações dos assistidos/usuários/educandos/internos
D - Abordar assistidos(as) / D.6 - Percorrer perímetros e áreas
usuários(as) / educandos(as) / D.7 - Observar comportamento de assistidos/usuários/educandos/internos
internos(as) D.8 - Avistar assistidos/usuários
D.9 - Aproximar-se dos assistidos/usuários
D.10 - Acompanhar educandos e/ou técnicos em visitas domiciliares
D.11 - Conferir o número de internos nas celas

E.1 - Convidar assistidos/usuários para participar de atividade socioeducativa


E.2 - Acompanhar reuniões socioeducativas
E.3 - Desenvolver dinâmica de grupo
E.4 - Construir hábitos
E.5 - Aconselhar mudanças de comportamento
E.6 - Realizar terapias em grupo
E.7 - Desenvolver oficinas
E.8 - Realizar atividades artísticas
E - Desenvolver atividades E.9 - Realizar atividades de lazer e cultura
socioeducativas E.10 - Realizar atividades de laborterapia
E.11 - Realizar atividades voltadas para a espiritualidade
E.12 - Realizar atividades recreativas e esportivas
E.13 - Realizar atividades pedagógicas lúdicas
E.14 - Realizar acompanhamento pedagógico
E.15 - Realizar reuniões para avaliação dos assistidos/usuários
E.16 - Acompanhar educando nas atividades socioeducativas
E.17 - Participar de equipes multidisciplinares
E.18 - Realizar procedimentos de segurança

F.1 - Definir objetivos


F.2 - Definir metodologia de trabalho
F.3 - Definir metas
F.4 - Definir estratégias
F.5 - Estabelecer cronograma
F.6 - Identificar público-alvo
F - Planejar o trabalho F.7 - Mapear público-alvo
F.8 - Mapear perímetros ou áreas
F.9 - Estabelecer roteiro de visitas
F.10 - Planejar eventos
F.11 - Estabelecer parcerias com entidades públicas e/ou privadas
F.12 - Participar do planejamento do trabalho (PPP, PIA, PIR, etc.)
F.13 - Participar do planejamento de revista geral (surpresa)

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

G.1 - Analisar resultados


G.2 - Analisar casos
G.3 - Avaliar ações
G.4 - Analisar práticas
G - Avaliar processos de G.5 - Trocar experiências
trabalho G.6 - Avaliar reinserção dos assistidos/usuários
G.7 - Acompanhar reinserção familiar e social dos assistidos/usuários
G.8 - Alterar estratégias
G.9 - Avaliar o comportamento dos internos
G.10 - Avaliar a produtividade dos internos

Y.1 - Abrir procedimento de atendimento


Y.2 - Elaborar relatórios de atendimento e acompanhamento
Y.3 - Cadastrar assistidos/usuários/educandos/ internos
Y.4 - Preencher documentos
Y.5 - Encaminhar documentação oficial
Y.6 - Notificar pessoas e entidades
Y.7 - Participar da elaboração das normas
Y - Comunicar-se Y.8 - Participar da elaboração de questionários
Y.9 - Agendar visitas
Y.10 - Definir rotina administrativa
Y.11 - Fazer devolutiva
Y.12 - Informar sobre a violação das regras pelos internos
Y.13 - Passar o plantão
Y.14 - Registrar ocorrências
Y.15 - Subsidiar as equipes técnicas com informações sobre os internos

Z.1 - Trabalhar em equipe


Z.2 - Servir de exemplo
Z.3 - Inspirar confiança
Z.4 - Buscar identificação e empatia
Z.5 - Despertar esperança
Z.6 - Exercitar atividade de escuta
Z.7 - Agir sob pressão
Z.8 - Demonstrar capacidade de compreensão
Z.9 - Contornar situações adversas
Z.10 - Demonstrar entusiasmo
Z.11 - Respeitar diferenças
Z - Demonstrar competências
Z.12 - Demonstrar criatividade
pessoais Z.13 - Assumir riscos
Z.14 - Demonstrar coragem
Z.15 - Demonstrar persistência
Z.16 - Tomar decisões
Z.17 - Demonstrar facilidade de comunicação
Z.18 - Administrar conflitos
Z.19 - Demonstrar autocontrole
Z.20 - Demonstrar capacidade de negociação
Z.21 - Permanecer em estado de alerta
Z.22 - Demonstrar pró atividade
Z.23 - Demonstrar flexibilidade

Fonte: BRASIL, 2018.

Dentre todas estas competências, queremos destacar:


• Prestar apoio de caráter pedagógico, cultural, social e recreativo a indivíduos, grupos e
comunidades abrangidos por equipamentos sociais, com vista à melhoria das condições de vida.
• Prospectar, estudar e avaliar planos de promoção social e comunitária, identificar
necessidades de preenchimento de tempos livres e estudar a caracterização do meio social.

9
• Promover, desenvolver e/ou apoiar atividades de caráter cultural, educativa ou
recreativa na ocupação de tempos livres de crianças, adolescentes, jovens e pessoas idosas.
• Dinamizar e/ou apoiar atividades de caráter formativo mediante a realização de cursos
ou campanhas de educação sanitária e formação familiar.
• Assegurar, de acordo com as normatizações definidas, a articulação entre os
equipamentos sociais, as famílias e as outras instituições e serviços da comunidade, dinamizando
e/ou participando em reuniões, programas de promoção ou outras ações desenvolvidas a nível
comunitário.

Ainda, dentre as competências (saber ser, saber fazer, saber estar) que o(a) futuro(a)
Educador(a) Social deve adquirir ao longo do curso, salientam-se capacidades tais como:

• Construir projetos educativos individuais e coletivos;


• Desenvolver a autonomia e a participação das pessoas e grupos;
• Facilitar a integração para o bem-estar das pessoas;
• Promover, apoiar e orientar atividades de caráter cultural, recreativo e de tempos livres;
• Trabalhar em equipes multidisciplinares com psicólogos(as), médicos(as), assistentes sociais,
advogados(as), professores(as), entre outros(as).

2.2. Regulamentação/Profissionalização da ocupação de Educadores(as) Sociais

Antes de falarmos sobre o processo, as discussões e as lutas pela regulamentação e


possível profissionalização da ocupação de Educadores(as) Sociais no Brasil é necessário
compreender a distinção que a Sociologia das Profissões propõe entre ocupações e profissões.

Ocupações
São as atividades exercidas pelas pessoas em um emprego ou outro tipo de relação de trabalho
para terceiros (autônomo, por exemplo) e que lhes garantem a possibilidade contínua de
abastecimento (renda) e aquisição (estima social) (WEBER, 1999; CBO, 2018).

Profissões
São ocupações que detêm as seguintes características: processo de formação/preparação para
o trabalho amplo e formalizado; autonomia teórica (saber) e prática (saber fazer) em seu campo
de atuação (controle dos pares); reconhecimento social da importância para o bem-comum, da
qualidade e da eficácia do serviço prestado para a sociedade; e reconhecimento jurídico (CARR-
SAUNDERS e WILSON, 1933).

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

Sendo assim, por não possuir um processo de formação/preparação para o trabalho


formalizado e reconhecido juridicamente pelo Estado brasileiro, e ter muitas questões discutíveis
sobre autonomia no trabalho e reconhecimento social da importância, qualidade e eficácia de seu
trabalho, a atividade de Educadores(as) Sociais é, atualmente no Brasil, descrita como uma
ocupação não regulamentada, e não como uma profissão.
Mas o que é regulamentar uma ocupação e o que isso muda, na prática, o trabalho e as
condições de trabalho de Educadores(as) Sociais? Regulamentar significa criar regras. Regras de
acesso, regras de comportamento, regras de ação, definir limites de ação ocupacional e de
responsabilidades, definir atribuições. De certa forma, regulamentar é delimitar o campo da prática
do trabalho. Atualmente, no Brasil, o trabalho de Educadores(as) Sociais não é regulamentado. Isso
não significa que ele é desprovido de qualquer delimitação ou orientação, vimos algumas dessas
delimitações e orientações nas descrições das grandes áreas de competências da CBO, mas que
esses limites são muito flexíveis, principalmente no que diz respeito às atribuições,
responsabilidades e direitos de Educadores(as) Sociais.
A Constituição Federal, em seu inciso XIII do art. 5º e no art. 170 § único, estabelece o
princípio básico da liberdade de exercício de qualquer trabalho, ofício, profissão ou atividade
econômica, desde que lícita e de que sejam atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer. Ou seja, em teoria, para se exercer um ofício, uma ocupação, um trabalho, não é
necessária uma autorização, a não ser que o exercício desse trabalho exija o domínio de um
conjunto de conhecimentos (teóricos e práticos) cuja ausência de um treinamento prévio ofereça
riscos a quem recebe ou depende do serviço. Nesse caso, conforme vimos anteriormente,
estaríamos falando de uma ocupação profissionalizada, com processo de formação formalizado,
uma profissão3.
A regulamentação da ocupação do(a) Educador(a) Social já há algum tempo vem ganhando
espaços nos encontros de Educação e Pedagogia Social no Brasil, sobretudo numa perspectiva de
sensibilizar o poder público para a implementação de uma lei que regulamente ou profissionalize
o(a) trabalha de Educadores(as) Socias. Hoje existem dois Projetos de Lei (PLs) tramitando nas
casas legislativas federais brasileiras que objetivam regulamentar ou profissionalizar a atividade de
trabalho de Educadores(as) Sociais no Brasil. O mais antigo é o PL nº 5.346, de 2009, de autoria
do deputado federal do Ceará Chico Lopes. O segundo é o PL nº 328, de 2015, de autoria do
senador de Roraima Telmário Mota. Uma das principais distinções entre as duas propostas é
justamente o estabelecimento da escolaridade mínima para o exercício da profissão. Mas a
discussão sobre a regulamentação ou profissionalização da ocupação de Educadoras(es) Sociais
no Brasil não pode ser reduzida a esta questão. Vejamos como estão redigidos atualmente os dois
PLs.

3 Mais sobre os critérios para a profissionalização de ocupações no Brasil em: BRASIL. Congresso. Câmara dos
Deputados. Projeto de Lei nº 2686, de 2007. Dispõe sobre a regulamentação de novas profissões. 2007. Disponível em:
http://www.camara.gov.br/sileg/integras/533924.pdf

11
PROJETO DE LEI DA CÂMARA LEGISLATIVA FEDERAL
Nº 5346 de 2009

Regulamenta a Educação Social como profissão.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º - A Educação Social é a profissão do educador social, pedagogo social e de


profissionais com formação específica em Pedagogia Social, nos termos desta Lei.

Art. 2º - A Educação Social possui caráter sociocultural, sociopedagógico e sociopolítico


e relaciona-se com a realização de ações afirmativas, mediadoras e formativas.

Art. 3º - Fica estabelecido o Ensino Médio como o nível de escolarização mínima para o
exercício da atividade.

Art. 4º - São atribuições do Educador Social, em contextos educativos situados fora do


âmbito escolar, as atuações que envolvem:

I – as pessoas e comunidades em situação de risco ou vulnerabilidade social,


violência, exploração física e psicológica;
II – a preservação cultural e promoção de povos e comunidades remanescentes e
tradicionais;
III – os segmentos sociais prejudicados pela exclusão social: mulheres, crianças,
adolescentes, negros, indígenas e homossexuais;
IV – a realização de atividades socioeducativas, em regime fechado, semiliberdade
e meio aberto, para adolescentes e jovens envolvidos em atos infracionais;
V – a realização de programas e projetos educativos destinados à população
carcerária;
VI - as pessoas portadoras de necessidades especiais;
VII - o enfrentamento à dependência de drogas;
VIII – as atividades socioeducativas para terceira idade;
IX - a promoção da educação ambiental;
X – a promoção dos direitos humanos e da cidadania.

Art. 5º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Deputado Federal Chico Lopes
PCdoB/CE

• Começa e tramitar em 03 Jun de 2009.


• Já foi aprovado por todas as comissões: Comissão de Educação e de Cultura (CEC) e
Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) e Comissão de
Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).
• Situação atual: Aguarda deliberação do recurso na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados
desde 28/09/2017.

Mais informações em:


http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=437196

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

PROJETO DE LEI DO SENADO


Nº 328 de 2015

Dispõe sobre a regulamentação da profissão


de educadora e educador social e dá outras providências.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º - Fica regulamentada a profissão de Educadora e Educador Social, nos termos


desta Lei.
Parágrafo único: A profissão que trata o caput deste artigo possui caráter pedagógico e
social, devendo estar relacionada à realização de ações afirmativas, mediadoras e formativas.

Art. 2º - Ficam estabelecidos como campo de atuação das educadoras e educadores


sociais, os contextos educativos situados dentro ou fora dos âmbitos escolares e que envolvem
ações educativas com diversas populações, em distintos âmbitos institucionais, comunitários e
sociais, em programas e projetos educativos sociais, a partir das políticas públicas definidas pelos
órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal ou municipais.

Art. 3º - São atribuições dos profissionais de que trata esta Lei ações de educação e
mediação que envolvam os direitos e deveres humanos, a justiça social e o exercício da cidadania
com pessoas de qualquer classe social, gênero, idade, etnia, cultura, nacionalidade dentre outras
particularidades, por meio da promoção cultural, política e cívica.

Art. 4º Os profissionais de que trata esta Lei serão formados em cursos de educação
superior, em nível de graduação, admitida a escolaridade mínima de nível médio para aqueles
que exercerem a profissão até o início de vigência desta Lei.

Art. 5º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Senador Telmário Mota


PDT/RR

• Começa e tramitar em 01 Jun de 2015.


• Já passou por duas das três comissões Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ)
e Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).
• Situação atual: está em análise na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) desde 17 Maio de
2016. Aguarda providências pois em reunião extraordinária da CAS, realizada em 07.02.2018,
a mesma solicitou consulta à CCJ "acerca dos limites constitucionais, legais e do processo
legislativo na apreciação de proposições de iniciativa legislativa que tenham como objeto a
regulamentação de profissões ou de atividades ocupacionais". Autora do pedido, Senadora
Ana Amélia Lemos – PP/RS.

Mais informações em: https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/121529

Os dois PLs, de certa forma, exemplificam a discussão nacional sobre a regulamentação e


profissionalização da ocupação de Educadores(as) Sociais no Brasil, discussão essa que vem
ocorrendo de forma mais organizada desde 2004, quando foi fundada a Associação dos(as)
Educadores(as) Sociais do Ceará (AESC), a primeira associação da categoria no Brasil de que se
tem registro. No rastro da AESC temos outras iniciativas autônomas de mobilização e organização

13
de Educadoras(es) Sociais brasileiros(as) na busca de uma tomada de consciência e do
desenvolvimento e apropriação de uma identidade como categoria ocupacional/profissional que
compreende a importância e o impacto do seu trabalho na e para a sociedade e busca estratégias
para divulgar publicamente essa importância com o objetivo de reivindicar formação profissional,
melhores condições de trabalho e renda e, principalmente, maior prestígio social do seu trabalho.
São elas: Associação dos Educadores Sociais de Curitiba e Região Metropolitana [2005-06];
Associação Brasileira de Educadores Sociais [2006], que depois torna-se Associação Brasileira de
Pedagogia Social [2010]; Associação dos Educadores e Educadoras Sociais do Estado de São
Paulo [2009]; Associação dos Educadores Sociais de Maringá [2012]; Associação Brasileira de
Educação Social e Pedagogia Social - EdusoBrasil [2017]; Associação Nacional de Educadores e
Educadoras Sociais [2017]; Fórum Municipal de Educadoras e Educadores Sociais de São Leopoldo
[????]; Associação dos(as) Educadores(as) Populares de Porto Alegre (AEPPA) [2000]; Fórum
Municipal de Educadoras e Educadores Sociais de Porto Alegre [2016]; e o Encontro Estadual de
Educação Social do Rio Grande do Sul [2016-2017-2018]4.

2.3. Código Deontológico (ou de ética) do(a) Educador(a) Social

A deontologia se refere ao conjunto de princípios e regras de conduta inerentes a uma


determinada profissão. Dessa forma, cada pessoa pertencente à comunidade profissional está
sujeito(a) a uma deontologia própria que regula o exercício de sua prática profissional, conforme o
Código de Ética de sua categoria. Este texto pretende trazer para o debate o papel do(a)
Educador(a) Social nos diferentes campos de atuações. Vale ressaltar que esse texto foi formulado
pelos(as) Educadores(as) Sociais de Portugal, país no qual a ocupação já foi profissionalizada. Ele
não tem validade jurídica no Brasil, mas pode nos servir como modelo para reflexão.

Ponto 1- Em relação a si mesmo e à profissão


✓ O Educador Social deve reger o seu trabalho pelo critério da eficiência e competência
profissional, tomando como referência as técnicas e metodologias reconhecidas pela prática
social e interventiva e pela ética profissional.
✓ O Educador Social tem o direito e o dever ao seu desenvolvimento profissional, através de
atividades de formação permanente, sendo também promotor da sua auto-formação e
atualização científica e metodológica tal como agente ativo na inovação e investigação sócio-
educativa.
✓ O Educador Social deve assumir responsabilidade profissional nas matérias para as quais
esteja capacitado pessoal e tecnicamente e com as quais se compromete.

4Para saber mais sobre essa história: DIAS, Santiago Pavani. Educadoras e educadores sociais de Porto Alegre em
busca de reconhecimento. 2018. Disponível em: http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/8164

14
Educador(a) Social – COOPAS-RS

✓ O Educador Social deve desenvolver uma atitude de análise crítica e reflexiva permanente em
relação a si próprio e ao seu desempenho profissional.
✓ O Educador Social não deve praticar e tem o dever de denunciar às entidades competentes
qualquer exercício sócio-educativoanti-ético, prejudicial ou com efeitos nocivos quer para o
utente, para as instituições ou para a sociedade, praticados por Educadores Sociais ou por
outros profissionais.
✓ O Educador Social deve contribuir através da sua ação profissional para a dignificação social
da sua profissão.
✓ O Educador Social deve defender e fazer respeitar os direitos e deveres inerentes à sua
profissão, tal como os constantes neste código.
✓ O Educador Social deve ter para com os seus colegas respeito, consideração e solidariedade
que fortaleçam o bom conceito da categoria.
✓ O Educador Social deve esforçar-se para desenvolver em si qualidades pessoais que otimizem
o seu desempenho profissional, tais como a paciência, a tolerância, o autocontrole, a empatia,
o altruísmo, o equilíbrio.
✓ O Educador Social deve associar-se e prestigiar as associações e órgãos representativos da
profissão, contribuindo para a harmonia e coesão profissional e para o desenvolvimento da
profissão, enriquecendo-a através da investigação e da partilha de resultados.
✓ O Educador Social deve programar e planificar as suas intervenções sócio-educativas não as
deixando ao acaso e à aleatoriedade, recolhendo o maior número possível de informação que
fundamente a sua intervenção.
✓ Deve-se considerar Educador Social o profissional que detém uma formação adequada, de
acordo com os diversos graus formativos previstos e ministrados e a devida comprovação pelas
entidades competentes.
✓ O Educador Social deve gozar de privacidade na sua vida particular, devendo, no entanto ser
coerente com a sua postura profissional durante o seu relacionamento informal, considerando
a pedagogia do exemplo.
✓ O Educador Social tem direito ao exercício autônomo e reconhecido da sua profissão nas
instituições públicas e privadas.

Ponto 2- Em relação aos utentes

Utente significa usuário, aquele que possuiu ou desfruta de


alguma coisa pelo direito de uso. Do latim utente, que significa
usuário. A palavra utente é um adjetivo de dois gêneros e também
substantivo masculino que faz referência àquele indivíduo que possui
ou frui alguma coisa por direito proveniente do uso. Utente é uma

15
expressão pouco utilizada no nosso vocabulário. Um utente é um utilizador, é cada um daqueles que usam
ou desfrutam de alguma coisa coletiva, ligada a um serviço público ou particular.

✓ É dever do Educador Social informar, esclarecer e promover a participação dos utentes nos
diversos momentos do processo pedagógico.
✓ O Educador Social deve procurar desenvolver nos utentes competências que lhes permitam
uma positiva integração social no contexto em que vivem. Deve procurar o desenvolvimento
integral da pessoa sustentado em atitudes de respeito, criatividade, iniciativa, reflexão,
coerência, sensibilidade, autonomia, fomentando a confiança e autoestima.
✓ Durante a relação educativa o Educador Social não deve manter um relacionamento com o
utente que condicione nocivamente a boa prestação do seu desempenho profissional.
✓ O Educador Social deve consciencializar o utente do problema que ele atravessa e esclarecer
os objetivos e a amplitude da sua atuação profissional.
✓ O Educador Social deve desenvolver com os utentes uma relação educativa ideologicamente
desinteressada que promova o autoconhecimento cultural e o reconhecimento da
multiculturalidade.
✓ O Educador Social deve guardar o sigilo profissional, não utilizando indevidamente as
informações que dispõe sobre os utentes e as famílias, só podendo ser transmitidas em
situação de trabalho multidisciplinar, quando daí advenha benefício para a ação socioeducativa.
✓ O Educador Social não deve usar metodologias que afetem a dignidade dos utentes,
respeitando a sua integridade.
✓ O Educador Social deve ser cauteloso, mas objetivamente crítico nas afirmações que profere
e nos juízos que efetua sobre questões que possam dar azo a generalizações e a
estigmatizações.
✓ O Educador Social não deve na sua prática profissional criar expectativas no utente que não
sejam possíveis de concretizar.
✓ O Educador Social deve respeitar os direitos educativos das famílias com relação aos utentes
numa postura de cooperação entre a família e a equipe socioeducativa, entendendo a família
como agente de socialização essencial ao utente.
✓ O Educador Social deve ser conhecedor do contexto familiar da sua intervenção,
desenvolvendo o contato direto e contínuo de forma coordenada com a família.
✓ O Educador Social tem o direito ao respeito por parte dos utentes e das famílias.

Ponto 3 - Com relação às instituições


✓ O Educador Social deve respeitar de forma plena os compromissos assumidos com os
contratadores, assim como, cumprir as normas institucionais vigentes.

16
Educador(a) Social – COOPAS-RS

✓ O Educador Social deve salvaguardar a autonomia de critérios e procedimentos essenciais ao


desempenho da sua função profissional, podendo recusar tarefas que comprometam a sua
integridade profissional.
✓ O Educador Social não deverá aceitar substituir profissionalmente um colega que tenha sido
exonerado por defender os princípios e normas deste código no exercício da profissão.
✓ O Educador Social deverá ver garantida a confidencialidade dos documentos e arquivos do seu
uso profissional, assim como a inviolabilidade do local de trabalho.
✓ O Educador Social tem direito a um contrato de trabalho e remuneração adequados às funções
que desempenha, assim como de usufruir de condições e recursos adequados à sua prática
profissional e de ser corretamente informado das tarefas que deverá desempenhar.
✓ O Educador Social deve assumir a identificação com os objetivos e com o projeto institucional,
desde que não contrariem os seus princípios deontológicos.
✓ O Educador Social deverá ser promotor de princípios de parceria e intersetorialidade entre
instituições, quando essa estratégia for ao encontro dos objetivos da prestação profissional.
✓ O Educador Social tem direito a despender de algumas horas do seu horário de trabalho para
atualização das suas competências profissionais através de experiências formativas.

Ponto 4 - Com relação aos outros profissionais


✓ O Educador Social deverá manter em relação aos outros profissionais, princípios de
cooperação interdisciplinar, sem desrespeito pela autonomia e pelas competências específicas
de cada profissional.
✓ O Educador Social não deve tecer comentários pejorativos e desvalorizadores em relação ao
trabalho desenvolvido por outros profissionais. A sua crítica deve ser construtiva e dirigida ao
profissional, assumindo o educador plena responsabilidade por ela.
✓ O Educador Social não deverá compactuar com o exercício ilegal da profissão,
correspondendo-lhe o direito de denunciar atos ilícitos, usurpadores ou faltas éticas dos outros
profissionais.
✓ É dever do Educador Social fornecer à equipe ou seu substituto, toda a informação necessária
à prossecução e continuidade positiva do trabalho socioeducativo.
✓ O Educador Social não deve prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro
profissional, nem imiscuir-se na prestação e no relacionamento profissional dos outros
profissionais.
✓ No seu desempenho profissional o Educador Social deve atribuir prioridade ao profissionalismo
em detrimento da afetividade no relacionamento com os elementos da equipa de trabalho.
✓ O Educador Social deve assumir como suas atuando da implementação, as decisões apuradas
em equipa de trabalho, mesmo quando haja manifestado a sua discordância no momento da
decisão.

17
✓ O Educador Social deve elaborar e planificar em parceria com os outros profissionais da equipa
socioeducativa um projeto educativo que oriente a sua intervenção.
✓ O Educador Social tem direito ao apoio, à informação sobre o trabalho, à participação como
elemento de voz ativa e a ser consultado e informado das decisões, em contexto de trabalho
de equipa.

Ponto 5 - Com relação à sociedade em geral


✓ O Educador Social deve caracterizar a sua relação pelo critério da igualdade, sem aceitar ou
permitir discriminações em função do sexo, idade, raça, ideologia, credo, origem social e
cultural, condições socioeconômicas, nível intelectual, promovendo o respeito pela
multiculturalidade e pela diferença.
✓ O Educador Social deve manter uma postura isenta valorizando equitativamente e procurando
um relacionamento equilibrado com os diversos atores sociais, individuais ou coletivos, com os
quais se cruza na sua prestação profissional.
✓ O Educador Social deve ser sensível à sua participação ativa nos programas de socorro à
população vitimada sem requerer remuneração ou outra compensação, nas situações de
calamidade pública.
✓ O Educador Social deve participar e contribuir ativamente para a dinamização do movimento
sociocultural no contexto social envolvente à sua intervenção, numa perspectiva de valorização
e promoção dos aspectos socioculturais locais.
✓ O Educador Social deve subordinar a sua atuação profissional a princípios como a igualdade
de direitos, o exercício da liberdade, a promoção da paz, a prática da justiça, o exercício da
tolerância e o respeito para com a Natureza.

3. Cidadania

A história da cidadania entrelaça-se em muito com a história das lutas pelos direitos
humanos. A cidadania esteve e está em permanente construção, é um referencial de conquista da
humanidade, por meio daqueles(as) que sempre lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores
garantias individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes, seja do
próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que não desistem de privilégios, de opressões
e de injustiças contra uma maioria desassistida e que não se consegue fazer ouvir, exatamente por
que se lhe nega a cidadania plena cuja conquista, ainda que tardia, será efetivada.
Ser cidadão(ã) é ter consciência de que se é sujeito de direitos. Direitos à vida, à liberdade,
à propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas este é um dos lados da
moeda. Cidadania pressupõe também deveres. O(a) cidadão(ã) tem de ser cônscio(a) das suas
responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo organismo que é a

18
Educador(a) Social – COOPAS-RS

coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom funcionamento todos(as) têm de dar sua parcela de
contribuição. Somente assim se chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais
amplo, ou seja, o bem comum e geral.

4. Direitos Humanos

Os Direitos Humanos são direitos fundamentais da pessoa humana. Esses direitos são
considerados fundamentais porque sem eles a pessoa não é capaz de se desenvolver e de
participar plenamente da vida.
O direito à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, o direito ao afeto e à livre
expressão da sexualidade estão entre os Direitos Humanos fundamentais.
Não existe um direito mais importante que o outro. Para o pleno exercício da cidadania,
é preciso a garantia do conjunto dos Direitos Humanos. Cada cidadão deve ter garantido todos os
Direitos Humanos, nenhum deve ser esquecido.
Respeitar os Direitos Humanos é promover a vida em sociedade, sem discriminação de
classe social, de cultura, de religião, de raça, de etnia, de orientação sexual. Para que exista a
igualdade de direitos, é preciso respeito às diferenças.

5. Vulnerabilidades

No trabalho social muito se ouve a palavra vulnerabilidade ou a expressão em situação de


vulnerabilidade. Originário do movimento de Direitos Humanos, o termo vulnerabilidade difundiu-se
na década de 80 no campo da Saúde Pública ao tratar da epidemia da AIDS. As características
dessa epidemia, a maneira como ela foi atingindo grupos – de diversas formas e em diferentes
países – fez com que se articulasse a incidência do vírus com o contexto socioeconômico, buscando
esclarecer quais grupos sociais e indivíduos poderiam estar mais ou menos vulneráveis a
vitimização pela epidemia. A partir dessa articulação os termos riscos e população de risco foram,
gradativamente, substituídos pelo termo vulnerabilidade. Em “Capacitação Solidária: Um olhar
sobre a juventude e sua vulnerabilidade social”, Adorno explica:

É preciso destacar que a noção de vulnerabilidade originada no âmbito das


discussões sobre a epidemia de AIDS buscou incorporar a idéia do direito que todas
as pessoas deveriam ter de alterar suas condições de vida para tornarem-se menos
vulneráveis e, assim, promover a igualdade para todos. (ADORNO, 2001, p.12).

Vale ressaltar, portanto, que a construção do conceito é resultado da confluência das áreas
de Saúde Pública e das Ciências Humanas preocupadas com as múltiplas dimensões da epidemia,
suas consequências e impacto social (Paulilo e Jeolás, 2000, p.40). Adorno explica o conceito

19
relacionando-o a rede de oportunidades disponíveis e as efetivas possibilidades de acesso por parte
da população.

O termo vulnerabilidade carrega em si a ideia de procurar compreender


primeiramente todo um conjunto de elementos que caracterizam as condições de
vida e as possibilidades de uma pessoa ou de um grupo – a rede de serviços
disponíveis, como escolas e unidades de saúde, os programas de cultura, lazer e
de formação profissional, ou seja, as ações do Estado que promovem justiça e
cidadania entre eles – e avaliar em que medida essas pessoas têm acesso a tudo
isso. Ele representa, portanto, não apenas uma nova forma de expressar um velho
problema, mas principalmente uma busca para acabar com velhos preconceitos e
permitir a construção de uma nova mentalidade, uma nova maneira de perceber e
tratar os grupos sociais e avaliar suas condições de vida, de proteção social e de
segurança. É uma busca por mudança no modo de encarar as populações-alvo dos
programas sociais. (ADORNO, 2001, p.12).

A divisão em categorias de fato ajuda a melhor operacionalizar o conceito, perceber


particularidades e conjunturas. Nesse sentido, percebemos que a vulnerabilidade não é uma
essência ou algo inerente a algumas pessoas ou grupos, mas diz respeito a determinadas
condições e circunstâncias, que podem ser minimizadas ou revertidas.

5.1 Vulnerabilidade social

Os primeiros trabalhos ancorados na perspectiva da vulnerabilidade social foram


desenvolvidos, motivados pela preocupação de abordar de forma mais integral e completa não
somente o fenômeno da pobreza, mas também as diversas modalidades de desvantagens sociais.
Assim, essa categoria de vulnerabilidade diz respeito à própria estrutura da sociedade, de direitos
e acessos desiguais. Adorno (2001) explica:

Mais usualmente utilizada em nossos dias pelos movimentos sociais e de direitos


humanos, a expressão vulnerabilidade social sintetiza a idéia de uma maior
exposição e sensibilidade de um indivíduo ou de um grupo aos problemas
enfrentados na sociedade e reflete uma nova maneira de olhar e de entender os
comportamentos de pessoas e grupos específicos e sua relação e dificuldades de
acesso a serviços sociais como saúde, escola e justiça. (ADORNO, 2001, p.11).

Vignoli (2001) comenta que a condição de vulnerabilidade social constitui-se a partir da


interação de diferentes componentes – tais como posse e controle de recursos materiais e
estruturas de oportunidades provindas da sociedade e do Estado – e refere-se à situação em que
o conjunto de características, recursos e habilidades inerentes a um grupo social se revelam
insuficientes, inadequados ou difíceis para lidar com o sistema de oportunidades oferecido pela
sociedade, de forma a ascender a maiores níveis de bem-estar ou diminuir probabilidades de
deterioração das condições de vida de determinados atores sociais (In Abramovay, 2002, p.30). É
grande o reconhecimento, entre pesquisadores e autoridades governamentais, de que os jovens
constituem hoje uma parcela da população particularmente vulnerável aos problemas sociais e

20
Educador(a) Social – COOPAS-RS

econômicos no país. Na América Latina, indicadores como o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) e o Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH) evidenciam que a
juventude ainda está sujeita a sérias limitações, relacionadas a direitos básicos como: o acesso ao
conhecimento disponível e adequado às modernas necessidades sociais, ou um direito de uma vida
longa e saudável, muitos dos quais percebidos nos déficits educacionais, nas formas e inserção no
mercado de trabalho e nos padrões de mortalidade.
Abramovay (2002) observa que a violência, tendo os jovens como vítimas ou agentes, está
intimamente ligada a condição de vulnerabilidade destes indivíduos.

Atualmente, esses atores sofrem um risco de exclusão social sem precedentes


devido a um conjunto de desequilíbrios provenientes do mercado, Estado e
sociedade que tendem a concentrar a pobreza entre os membros desse grupo e
distanciá-los do “curso central” do sistema social. (ABRAMOVAY, 2002, p.33).

Assim, o conceito de vulnerabilidade social se articula com a percepção de que o local de


moradia e as condições de vida da família podem ser fatores de dificuldade, de obstáculo na
realização dos projetos pessoais do jovem, ao mesmo tempo em que favorecem estilos de vida e
de integração social que podem adicionar riscos à sua trajetória.

5.2 Vulnerabilidade institucional

Segundo a definição dada pela Unesco, vulnerabilidade institucional diz respeito às


limitações e dificuldades do Estado em fornecer igualitariamente para todos(as) insumos
fundamentais para o desenvolvimento dos recursos materiais e simbólicos. No entanto, esse
conceito vai além ao reconhecer na omissão do poder público um fator agravante de riscos e
vulnerabilidades, quando este não é o próprio causador.
Gilberto Velho (2002) lembra que o poder público é responsável por injustiças geradoras de
violência, pela sua dificuldade em atender às necessidades básicas da população, principalmente
dos grupos sociais mais empobrecidos. Além de frustrar em seu papel de garantir os direitos de
cidadania a toda população, frequentemente o Estado tem sido promotor de violências e violações
de direitos.
Como exemplo, Peralva (2002, p.91) comenta que “a ineficiência das instituições
responsáveis pela ordem pública não só abriu oportunidade para o desenvolvimento do crime, mas
favoreceu também a privatização da segurança”. A autora destaca duas principais formas de
manifestação do fenômeno: forças profissionais privadas de segurança, que agem frequentemente
à margem da lei, e o desenvolvimento da justiça ilegal no âmbito da própria sociedade civil, ou seja,
justiçamentos, execuções.
A privatização da segurança coloca em cena um dado ainda mais perverso: o da
culpabilização da vítima. Peres (2007) diz que “a crescente mortalidade por homicídios e o

21
alastramento dos casos para além das periferias urbanas deram ensejo a um discurso que transfere
aos indivíduos a responsabilidade por sua segurança”. Diante da ineficiência dos aparatos de
segurança pública e a ausência do Estado, lança-se a ideia de que “cada um de nós deve fazer sua
parte para se proteger”. É evidente que prudência e cautela sempre foram aconselhadas, sobretudo
no ir e vir das grandes metrópoles, entretanto o que essa máxima esconde é a declaração da
máquina pública da sua dificuldade de combater a violência e promover ainda que, a passos lentos,
a instauração de uma cultura de paz e segurança.
Outro produto sombrio da violência urbana é o endurecimento da atuação das instituições
de segurança pública. Ocorre que diante do caos e do medo o desempenho da polícia é
comprometido. Nesses casos, a passividade dá lugar à efervescência e reabrem-se velhas
questões da área de segurança pública. A mais comum, é a do mito de que o problema é
basicamente a leniência da legislação. Nessa linha de raciocínio o endurecimento penal resolveria
o problema. Entretanto o Brasil é o país onde o número de pessoas mortas pela polícia é
provavelmente o mais alto do mundo. Nesse sentido, a própria reação do poder público, no seu
empenho em “derrotar o inimigo”, tem contribuído para o incremento da insegurança.
A questão da segurança pública é só um exemplo de vulnerabilidade institucional, as
mesmas reflexões e críticas poderiam ser feitas para as áreas de saúde, educação, cultura e lazer
e justiça.

5.3 Vulnerabilidade individual

Para Lipovetsky (2004), modos de vida irresponsáveis, comportamentos compulsivos,


excessos de toda ordem, violência gratuita e toxicomanias5 são frutos nocivos da hipermodernidade.
Ainda segundo o autor, o hedonismo individual fomentado pela lógica individualista e a cultura do
consumo comum ao nosso tempo favorecem um relativismo desenfreado de valores, permitindo o
livre curso de toda sorte de elucubrações e de ações possíveis. Os jovens formam um grupo
especialmente atingido por essa lógica reinante. É comum em seus discursos e ações a
exteriorização dos sentimentos de urgência, angústia, ousadia associada à revolta, desassossego
e não pertencimento. A busca pelo risco surge como meio de despressurização dessas sensações.
Em “O Vestígio e a Aura”, Jurandir Freire Costa (2005) afirma que dois fenômenos sociais
captaram a atenção da vida urbana brasileira, na última década: o culto ao corpo e a violência. “O

5Hábito patológico (doença) de consumir doses crescentes de substâncias tóxicas ou estupefacientes (éter,
morfina, cocaína, ópio, por exemplo) por prazer ou dependência química das sensações anômalas que eles
produzem.

"toxicomania", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,


https://dicionario.priberam.org/toxicomania [consultado em 07-02-2019].

22
Educador(a) Social – COOPAS-RS

primeiro é, sobretudo, uma preocupação dos grupos economicamente privilegiados; o segundo uma
preocupação de todos”. Entretanto, para o autor, ambos os fenômenos dizem respeito à ascensão
da lógica individualista a re-hierarquização dos valores morais”.
Pais (2005) ressalta que, para alguns jovens nas condutas de risco, parece ser a
possibilidade que têm de, numa fase de vida em que a maioria dos discursos dominantes lhes utorga
um vazio de poder, se entregarem a atividades cuja visibilidade é incrementada pelos riscos (reais
ou pressentidos) que lhes aparecem associados”. Não raro, no entanto, a busca desesperada pela
dignidade de existir concretiza-se e forma trágica na aniquilação do próprio ser. O risco a que os
jovens se submetem é uma expressão paradoxal de um querer viver.
Assim, trata-se, também, de compreender o sentido social do risco em suas dimensões
objetivas e subjetivas, ou seja, o papel que as situações de risco emodo de enfrentá-las têm no
processo de formação identitária. As situações de vulnerabilidade surgem quando diante do risco,
ocorre uma cisão no processo de formação identitária que pode resultar na adoção do risco como
parte da identidade ou do processo de sua formação. (Peres, 2007, p.138)
Vulnerabilidade é, portanto, conceito que pede recorrência a diversas unidades de análise –
indivíduos, domicílios e comunidades –, além de se recomendar que identifiquem cenários e
contextos. Pede, portanto, olhares para múltiplos planos e, em particular, para estruturas sociais
vulnerabilizantes ou condicionamentos de vulnerabilidades (Castro e Abramovay, 2005, p.55).
Cabe ressaltar que as categorias de vulnerabilidade estabelecidas e definidas na pesquisa
têm como propósito auxiliar a compreensão da pluralidadedo termo e especificar âmbitos e
panoramas. Não há, entretanto, intenção ou mesmo interesse de „engessar‟ a realidade pesquisada
em divisões e conceitos que possam restringir o olhar para a questão. É evidente que embora seja
possível perceber diferenças entre os contextos de violência e vulnerabilidade, fica claro também
que estas realidades se perpassam e dialogam constantemente.

6. Políticas Sociais Públicas

Políticas Públicas são diretrizes (regras, princípios, procedimentos) que norteiam a ação do
poder público nas questões públicas (da sociedade como um
todo); São explicitadas em Leis, Programas, Linhas de
Financiamento que orientam um conjunto de ações e a aplicação
de recursos públicos; São materializadas num CONJUNTO DE
AÇÕES que devem ser desenvolvidas pelo Município, Estado e
União para atender necessidades básicas da sociedade, com os
bens e serviços que garantam uma vida digna.

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Políticas Sociais são as Políticas que asseguram à população o exercício de direito de
cidadania: Educação, Saúde, Trabalho, Assistência Social, Previdência Social, Justiça, Agricultura,
Saneamento, Habitação Popular e Meio Ambiente.

6.1 Assistência Social

A assistência social, política pública não contributiva, é dever do Estado e direto de todo
cidadão que dela necessitar. Entre os principais pilares da assistência social no Brasil estão
a Constituição Federal de 1988, que dá as diretrizes para a gestão das políticas públicas, e a Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993, que estabelece os objetivos, princípios e diretrizes
das ações.
A LOAS determina que a assistência social seja organizada em um sistema descentralizado
e participativo, composto pelo poder público e pela sociedade civil. A IV Conferência Nacional de
Assistência Social deliberou, então, a implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Cumprindo essa deliberação, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)
implantou o Suas, que passou a articular meios, esforços e recursos para a execução dos
programas, serviços e benefícios socio assistenciais.
O SUAS organiza a oferta da assistência social em todo o Brasil, promovendo bem-estar e
proteção social a famílias, crianças, adolescentes e jovens, pessoas com deficiência, idosos –
enfim, a todos que dela necessitarem. As ações são baseadas nas orientações da nova Política
Nacional de Assistência Social (PNAS), aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS) em 2004.
A gestão das ações sócio assistenciais segue o previsto na Norma Operacional Básica do
Suas (NOB/Suas), que disciplina a descentralização administrativa do Sistema, a relação entre as
três esferas do Governo e as formas de aplicação dos recursos públicos. Entre outras
determinações, a NOB reforça o papel dos fundos de assistência social como as principais
instâncias para o financiamento da PNAS.
A gestão da assistência social brasileira é acompanhada e avaliada tanto pelo poder público
quanto pela sociedade civil, igualmente representados nos conselhos nacional do Distrito Federal,
estaduais e municipais de assistência social. Esse controle social consolida um modelo de gestão
transparente em relação às estratégias e à execução da política.
A transparência e a universalização dos acessos aos programas, serviços e benefícios sócio
assistenciais, promovidas por esse modelo de gestão descentralizada e participativa, vem
consolidar, definitivamente, a responsabilidade do Estado brasileiro no enfrentamento da pobreza
e da desigualdade, com a participação complementar da sociedade civil organizada, através de
movimentos sociais e entidades de assistência social.

24
Educador(a) Social – COOPAS-RS

Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) – Lei 8.742

Aprovada em 07/12/1993 por um movimento nacional envolvendo gestores municipais,


estaduais, organizações não governamentais, Governo Federal e representantes no Congresso, a
LOAS passou a operar sob estrutura de uma política pública de Estado. Tinha início um processo
de construção da gestão pública e participativa da assistência social.
A partir da aprovação da LOAS, a Assistência Social ganhou um conjunto de normas que
possibilitam a universalização do atendimento. O Sistema Único de Assistência Social (Suas)
implementa os artigos 203 e 204 da Constituição Federal de 1988, que estabelecem que a
assistência social será prestada “a quem dela necessitar, independentemente de contribuição
à seguridade social”.

Sistema único de Assistência Social (SUAS)

Criado a partir das deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social e previsto


na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), o Suas teve suas bases de implantação consolidadas
em 2005, por meio da sua Norma Operacional Básica do Suas (NOB/SUAS), que apresenta
claramente as competências de cada órgão federado e os eixos de implementação e consolidação
da iniciativa.
É um sistema público que organiza, de forma descentralizada, os serviços sócio
assistenciais no Brasil. Com um modelo de gestão participativa, ele articula os esforços e recursos
dos três níveis de governo para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência
Social (PNAS), envolvendo diretamente as estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais,
municipais e do Distrito Federal.
Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o
Sistema é composto pelo poder público e sociedade civil, que participam diretamente do processo
de gestão compartilhada. Do mesmo modo, todos os Estados, comprometidos com a implantação
de sistemas locais e regionais de assistência social e com sua adequação aos modelos de gestão
e cofinanciamento propostos, assinaram pactos de aperfeiçoamento do Sistema.
O SUAS organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção social. A primeira
é a Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta
de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade
social. A segunda é a Proteção Social Especial, destinada a famílias e indivíduos que já se
encontram em situação de risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono,
maus-tratos, abuso sexual, uso de drogas, entre outros aspectos.
O SUAS engloba também a oferta de Benefícios Assistenciais, prestados a públicos
específicos de forma articulada aos serviços, contribuindo para a superação de situações de

25
vulnerabilidade. Também gerencia a vinculação de entidades e organizações de assistência social
ao Sistema, mantendo atualizado o Cadastro Nacional de Entidades e Organizações de Assistência
Social e concedendo certificação a entidades beneficentes, quando é o caso.
A gestão das ações e a aplicação de recursos do SUAS são negociadas e pactuadas nas
Comissões Intergestores Bipartite (CIBs) e na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). Esses
procedimentos são acompanhados e aprovados pelo Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS) e seus pares locais, que desempenham um importante trabalho de controle social. As
transações financeiras e gerenciais do SUAS contam, ainda, com o suporte da Rede SUAS, sistema
que auxilia na gestão, no monitoramento e na avaliação das atividades.

Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS)

O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS foi instituído pela Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS (Lei 8742, de 07 de dezembro de 1993), como órgão superior de
deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública Federal
responsável pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social (atualmente, o Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome), cujos membros, nomeados pelo Presidente da
República, têm mandato de 2 (dois) anos, permitida uma única recondução por igual período.
O CNAS é composto por 18 (dezoito) membros e respectivos suplentes, cujos nomes são
indicados ao órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da Política
Nacional de Assistência Social, de acordo com os critérios seguintes:
I - 9 (nove) representantes governamentais, incluindo 1 (um) representante dos Estados e 1 (um)
dos Municípios;
II - 9 (nove) representantes da sociedade civil, dentre representantes dos usuários ou de
organizações de usuários, das entidades e organizações de assistência social e dos trabalhadores
do setor, escolhidos em foro próprio sob fiscalização do Ministério Público Federal.
O CNAS é presidido por um de seus integrantes, eleito dentre seus membros, para mandato
de 1 (um) ano, permitida uma única recondução por igual período, e conta também com uma
Secretaria Executiva, com sua estrutura disciplinada em ato do Poder Executivo (vide
organograma).
As principais competências do Conselho Nacional de Assistência Social são: aprovar a
Política Nacional de Assistência Social; normatizar as ações e regular a prestação de serviços de
natureza pública e privada no campo da assistência social; zelar pela efetivação do sistema
descentralizado e participativo de assistência social; convocar ordinariamente a Conferência
Nacional de Assistência Social; apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social a
ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública Federal responsável pela coordenação da
Política Nacional de Assistência Social; divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas decisões,

26
Educador(a) Social – COOPAS-RS

bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e os respectivos pareceres
emitidos.

Política Nacional de Assistência Social (PNAS)

É uma política que junto com as políticas setoriais, considera as desigualdades


socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de
condições para atender à sociedade e à universalização dos direitos sociais. O público dessa
política são os cidadãos e grupos que se encontram em situações de risco. Ela significa garantir a
todos, que dela necessitam, e sem contribuição prévia a provisão dessa proteção.
A Política de Assistência Social vai permitir a padronização, melhoria e ampliação dos
serviços de assistência no país, respeitando as diferenças locais.
Em consonância com o disposto na LOAS, capítulo II, seção I, artigo 4º, a Política Nacional
de Assistência Social rege-se pelos seguintes princípios democráticos:

I – Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade


econômica;
II – Universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial
alcançável pelas demais políticas públicas;
III – Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de
qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação
vexatória de necessidade;
IV – Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza,
garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais;
V – Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos
recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.
A organização da Assistência Social tem as seguintes diretrizes, baseadas na Constituição
Federal de 1988 e na LOAS:
I - Descentralização político-administrativa, cabendo à coordenação e as normas gerais à esfera
federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal,
bem como a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o comando único das ações
em cada esfera de governo, respeitando-se as diferenças e as características socioterritoriais locais;
II – Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das
políticas e no controle das ações em todos os níveis;
III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política de Assistência Social em cada
esfera de governo;

27
IV – Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas
e projetos.
A Política Pública de Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais,
considerando as desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos
mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à
universalização dos direitos sociais. Sob essa perspectiva, objetiva:
• Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou,
especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem;
• Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando
o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural;
• Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família,
e que garantam a convivência familiar e comunitária.
Constitui o público usuário da Política de Assistência Social, cidadãos e grupos que se
encontram em situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou
fragilidade de vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades
estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências;
exclusão pela pobreza e, ou, no acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias
psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção
precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas
diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social.

6.2 Sistema Único de Saúde – SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS) é a denominação do sistema público de saúde no Brasil.


Considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, segundo informações
do Conselho Nacional de Saúde, é descrito pelo Ministério da Saúde na cartilha Entendendo o
SUS como "um sistema ímpar no mundo, que garante acesso integral, universal e igualitário à
população brasileira, do simples atendimento ambulatorial aos transplantes de órgãos.
Foi instituído pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 196, como forma de efetivar
o mandamento constitucional do direito à saúde como um “direito de todos” e “dever do Estado” e
está regulado pela Lei nº. 8.080/1990, a qual operacionaliza o atendimento público da saúde.

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

Com o advento do SUS, toda a população brasileira passou a ter direito à saúde universal e
gratuita, financiada com recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, conforme rege o artigo 195 da Constituição. Fazem parte do Sistema
Único de Saúde, os centros e postos de saúde, os hospitais públicos - incluindo os universitários,
os laboratórios e hemocentros (bancos de sangue), os serviços de Vigilância Sanitária, Vigilância
Epidemiológica, Vigilância Ambiental, além de fundações e institutos de pesquisa acadêmica e
científica, como a FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz - e o Instituto Vital Brasil.

6.3 Educação

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) define e regulariza o sistema de


educação brasileiro com base nos princípios presentes na Constituição. Foi citada pela primeira vez
na Constituição de 1934.
A primeira LDB foi criada em 1961, seguida por uma versão em 1971, que vigorou até a
promulgação da mais recente em 1996.
Principais características:
➢ Gestão democrática do ensino público e progressiva
autonomia pedagógica e administrativa das unidades
escolares (art. 3 e 15)
➢ Ensino fundamental obrigatório e gratuito (art. 4)
➢ Carga horária mínima de oitocentas horas distribuídas em
duzentos dias na educação básica (art. 24)
➢ Prevê um núcleo comum para o currículo do ensino fundamental e médio e uma parte
diversificada em função das peculiaridades locais (art. 26)
➢ Formação de docentes para atuar na educação básica em curso de nível superior,
sendo aceito para a educação infantil e as quatro primeiras séries do fundamental
formação em curso Normal do ensino médio (art. 62)
➢ Formação dos especialistas da educação em curso superior de pedagogia ou pós-
graduação (art. 64)
➢ A União deve gastar no mínimo 18% e os estados e municípios no mínimo 25% de
seus respectivos orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público
(art. 69)
➢ Dinheiro público pode financiar escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas
(art. 77)
➢ Prevê a criação do Plano Nacional de Educação (art. 87)

Possui 92 artigos, organizados da seguinte maneira:

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Título I - Da educação
Título II - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
Título III - Do Direito à Educação e do Dever de Educar
Título IV - Da Organização da Educação Nacional
Título V - Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino
Capítulo I - Da Composição dos Níveis Escolares
Capítulo II - Da Educação Básica
Seção I - Das Disposições Gerais
Seção II - Da Educação Infantil
Seção III - Do Ensino Fundamental
Seção IV - Do Ensino Médio
Seção V - Da Educação de Jovens e Adultos
Capítulo III - Da Educação Profissional
Capítulo IV - Da Educação Superior
Capítulo V - Da Educação Especial
Título VI - Dos Profissionais da Educação
Título VII - Dos Recursos Financeiros
Título VIII - Das Disposições Gerais
Título IX - Das Disposições Transitórias

6.4 Meio Ambiente – Educação Ambiental

No Brasil, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) estabelecida pela Lei No. 6.938 de
31 de agosto de 1981 e regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de 6 de junho de1990 define meio
ambiente como "o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas".
Educação ambiental é um processo de educação responsável por formar indivíduos
preocupados com os problemas ambientais que busquem a conservação e preservação dos
recursos naturais e a sustentabilidade, considerando a temática de forma holística, ou seja,
abordando os aspectos econômicos, sociais, políticos, ecológicos e éticos. Dessa forma, ela não
deve ser confundida com Ecologia, sendo essa área apenas um aspecto da questão ambiental.
A educação ambiental tenta despertar em todos, a consciência de que o ser humano é parte
do meio ambiente. Ela tenta superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se sentisse
sempre o centro de tudo esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante. Desde
muito cedo na história humana para sobreviver em sociedade, todos os indivíduos precisavam
conhecer seu ambiente. O início da civilização coincidiu com o uso do fogo e outros instrumentos

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

para modificar o ambiente. Com os avanços tecnológicos, esquecemos que nossa dependência da
natureza continua.
Os problemas causados pelo crescimento populacional, urbanização,
industrialização, desmatamento, erosão, poluição atmosférica, aquecimento
global, destruição da camada de ozônio, dentre outros, obrigaram o mundo
a refletir sobre a necessidade de impulsionar a educação ambiental. O
cenário é muito preocupante e deve ser levado a sério, pois as
consequências vão atingir a todos, sem distinção.
Muitos países já possuem leis que regulamentam a Educação Ambiental. No Brasil, a
Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) foi proposta em 27 de abril de 1999, pela Lei nº
9.795. Essa lei, em seu Art. 2° afirma: "A educação ambiental é um componente essencial e
permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis
e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”.
De acordo com os fundamentos da Educação Ambiental e da PNEA, a Educação Ambiental
deve ser abordada de forma interdisciplinar, abrangendo todas as áreas do conhecimento, não
devendo se restringir a uma disciplina específica no currículo. Apenas nos cursos de pós-
graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental é que
é facultada a criação de disciplina específica, se for necessário. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais - PCN - sugerem que o tema meio ambiente seja de cunho transversal.
Deve ocorrer como um processo pedagógico participativo permanente para incutir uma
consciência crítica sobre a problemática ambiental, estendendo à sociedade a capacidade de captar
a gênese e a evolução de problemas ambientais. Não deve ficar restrita a ações pontuais, apenas
em datas comemorativas.
No Brasil, a Educação Ambiental assume uma perspectiva mais abrangente, não
restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando
fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis.
É uma metodologia de análise que surge a partir do crescente interesse do ser humano em
assuntos como o ambiente devido às grandes catástrofes naturais que têm assolado o mundo nas
últimas décadas.
"A educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa
têm a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relações que os seres humanos
estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas
profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o educando com a comunidade,
valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido a transformação superadora dessa
realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as
habilidades e atitudes necessárias para dita transformação."

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A educação ambiental tenta despertar em todos a consciência de que o ser humano é parte
do meio ambiente. Ela tenta superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se sentisse
sempre o centro de tudo esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante. Desde
muito cedo na história humana para sobreviver em sociedade, todos os indivíduos precisavam
conhecer seu ambiente. O início da civilização coincidiu com o uso do fogo e outros instrumentos
para modificar o ambiente, devido aos avanços tecnológicos, esquecemos que nossa dependência
da natureza continua.
"A educação ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de
conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao
meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus
meios biofísicos. A educação ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de
decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida.”
"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade."

7. Serviços

Cada uma das situações de fragilidade enfrentadas pelos cidadãos deve receber um tipo de
atenção diferenciada, de acordo com as necessidades de cada um. Além disso, as potencialidades
das famílias devem ser ponto de partida para a organização dos serviços de proteção básica de
assistência social, que estimulam a participação social.
Em razão disso, foi aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS) a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistencias que institui, na Proteção Básica, quatro
serviços de convivência e fortalecimento de vínculos. Eles são organizados por faixa etária e têm
como objetivo prevenir possíveis situações de risco da população em geral, visando à melhoria da
qualidade de vida.

Todos os serviços de convivência e fortalecimento


de vínculos organizam-se em torno do Serviço de
Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), sendo
a ele articulados. Previnem a institucionalização e a
segregação de crianças, adolescentes, jovens e idosos e
oportunizam o acesso às informações sobre direitos e
participação cidadã. Ocorrem por meio do trabalho em grupos ou coletivos e organizam-se de modo

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

a ampliar trocas culturais e de vivências, desenvolver o sentimento de pertença e de identidade,


fortalecer vínculos familiares e incentivar a socialização e a convivência comunitária.
Podem ser ofertados nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), em outras
unidades públicas ou em entidades privadas sem fins lucrativos, desde que referenciadas ao CRAS,
sempre supervisionados por uma equipe de profissionais capacitada para atender as demandas
específicas de cada faixa etária.

7.1 Proteção Social Básica

A Proteção Social Básica tem como objetivo a prevenção de situações de risco por meio do
desenvolvimento de potencialidades e aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários. Destina-se à população que vive em situação de fragilidade decorrente da pobreza,
ausência de renda, acesso precário ou nulo aos serviços públicos ou fragilização de vínculos
afetivos (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras).
Essa Proteção prevê o desenvolvimento de serviços, programas e projetos locais de
acolhimento, convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme identificação da
situação de vulnerabilidade apresentada. Esses serviços e programas deverão incluir as pessoas
com deficiência e ser organizados em rede, de modo a inseri-las nas diversas ações ofertadas. Os
Benefícios Eventuais e os Benefícios de Prestação Continuada (BPC) compõem a Proteção Social
Básica, dada a natureza de sua realização.
Os programas qualificam e incentivam os benefícios e serviços socioassistencias, como
o Programa Nacional de Promoção do Acesso ao Mundo do Trabalho -
ACESSUAS/TRABALHO, que busca a autonomia das famílias usuárias da politica de assistência
social, por meio do incentivo e da mobilização à integração ao mundo do trabalho.
A Proteção Social Básica atua por intermédio de diferentes unidades. Dentre elas, destacam-
se os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e a rede de serviços socioeducativos
direcionados para grupos específicos, dentre eles, os Centros de Convivência para crianças, jovens
e idosos.

7.1.1 Centro de Referência de Assistência Social (CRAS)

O CRAS é uma unidade pública estatal descentralizada da Política Nacional de Assistência


Social (PNAS). O CRAS atua como a principal porta de entrada do Sistema Único de Assistência
Social (Suas), dada sua capilaridade nos territórios e é responsável pela organização e oferta de
serviços da Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social.

33
Além de ofertar serviços e ações de proteção básica, o CRAS possui a função de gestão
territorial da rede de assistência social básica, promovendo a organização e a articulação das
unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos processos nele envolvidos.

O principal serviço ofertado pelo CRAS é o Serviço de Proteção e


Atendimento Integral à Família (Paif), cuja execução é obrigatória e
exclusiva. Este consiste em um trabalho de caráter continuado que visa
fortalecer a função protetiva das famílias, prevenindo a ruptura de
vínculos, promovendo o acesso e usufruto de direitos e contribuindo para
a melhoria da qualidade de vida.

7.1.2 Centro de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos

Segundo a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS n.°


109/2009), o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos é um Serviço da
Proteção Social Básica que tem por foco o desenvolvimento de atividades que contribuam no
processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no
fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações de
risco social.
A intervenção social deve estar pautada nas características, interesses e demandas dessa
faixa etária e considerar que a vivência em grupo, as experimentações artísticas, culturais,
esportivas e de lazer e a valorização das experiências vividas constituem formas privilegiadas de
expressão, interação e proteção social. Devem incluir vivências que valorizam suas experiências e
que estimulem e potencializem a condição de escolher e decidir.
Além de objetivos gerais referentes ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos,
a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS n.° 109/2009), define
objetivos específicos para o serviço para idosos:
✓ Contribuir para um processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo;
✓ Assegurar espaço de encontro para os idosos e encontros intergeracionais de modo a
promover a sua convivência familiar e comunitária;
✓ Detectar necessidades e motivações e desenvolver potencialidades e capacidades para
novos projetos de vida;
✓ Propiciar vivências que valorizam as experiências e que estimulem e potencializem a
condição de escolher e decidir. Isso contribuirá para o desenvolvimento da autonomia social
dos usuários.

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais


(Resolução CNAS n.° 109/2009) define os seguintes usuários para
este Serviço:
Idosos (as) com idade igual ou superior a 60 anos, em
situação de vulnerabilidade social, em especial:
✓ Idosos beneficiários do Benefício de Prestação
Continuada;
✓ Idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda;
✓ Idosos com vivências de isolamento por ausência de acesso a serviços e oportunidades
de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, interesses e disponibilidade
indiquem a inclusão no serviço.

7.2 Proteção Social Especial

A Proteção Social Especial (PSE) destina-se a famílias e indivíduos em situação de risco


pessoal ou social, cujos direitos tenham sido violados ou ameaçados. Para integrar as ações da
Proteção Especial, é necessário que o cidadão esteja enfrentando situações de violações de direitos
por ocorrência de violência física ou psicológica, abuso ou exploração sexual; abandono,
rompimento ou fragilização de vínculos ou afastamento do convívio familiar.
Diferentemente da Proteção Social Básica que tem um caráter preventivo, a PSE atua com
natureza protetiva. São ações que requerem o acompanhamento familiar e individual e maior
flexibilidade nas soluções. Comportam encaminhamentos efetivos e monitorados, apoios e
processos que assegurem qualidade na atenção.
As atividades da Proteção Especial são diferenciadas de acordo com níveis de complexidade
(média ou alta) e conforme a situação vivenciada pelo indivíduo ou família. Os serviços de PSE
atuam diretamente ligados com o sistema de garantia de direito, exigindo uma gestão mais
complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, o Ministério Público e com outros órgãos e ações
do Executivo. Cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em
parceria com governos estaduais e municipais, a promoção do atendimento às famílias ou
indivíduos que enfrentam adversidades.
O Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS) é a unidade pública
estatal que oferta serviços da proteção especial, especializados e continuados, gratuitamente a
famílias e indivíduos em situação de ameaça ou violação de direitos. Além da oferta de atenção
especializada, o CREAS tem o papel de coordenar e fortalecer a articulação dos serviços com a
rede de assistência social e as demais políticas públicas.

35
7.2.1 Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS)

De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços


Socioassistenciais, pactuada na Comissão Intergestora Tripartite – CIT e
aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social, por meio da
Resolução nº 109 de 11 de dezembro de 2009, o CREAS pode ofertar os
seguintes serviços:

7.2.2 Centro de Referência de Atendimento à Mulher

Os Centros de Referência são estruturas essenciais do programa de prevenção e


enfrentamento à violência contra a mulher, uma vez que visa promover a ruptura da situação de
violência e a construção da cidadania por meio de ações globais e de atendimento interdisciplinar
(psicológico, social, jurídico, de orientação e informação) à mulher em situação de violência. Devem
exercer o papel de articuladores dos serviços organismos governamentais e não-governamentais
que integram a rede de atendimento às mulheres em situação de vulnerabilidade social, em função
da violência de gênero

7.2.3 Centro de Referência Especializado para População de Rua

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Educador(a) Social – COOPAS-RS

O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP),


previsto no Decreto nº 7.053/2009 e na Tipificação nacional de Serviços Socioassistenciais,
constitui-se em unidade de referência da PSE de Média Complexidade, de natureza pública e
estatal. Diferentemente do CREAS, que atua com diversos públicos e oferta, obrigatoriamente, o
PAEFI, o Centro POP volta-se, especificamente, para o atendimento especializado à população em
situação de rua, devendo ofertar, obrigatoriamente, o Serviço Especializado para Pessoas em
Situação de Rua. O Centro POP representa espaço de referência para o convívio grupal, social e
para o desenvolvimento de relações de solidariedade, afetividade e respeito. Na atenção ofertada
no Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua deve-se proporcionar vivências para
o alcance da autonomia, estimulando, além disso, a organização, a mobilização e a participação
social.

7.3 Entidades Assistenciais na Área da Saúde

7.3.1 Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

Os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS


são serviços da Rede de Atenção Psicossocial abertos
destinados a prestar atenção diária a pessoas com
transtornos mentais. Os CAPS oferecem atendimento à
população, realizam o acompanhamento clínico e a
reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Os CAPS também atendem aos usuários em
seus momentos de crise.

7.3.2 Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Droga (CAPS-AD)

O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas é um serviço específico para o cuidado,


atenção integral e continuada às pessoas com necessidades em decorrência do uso de álcool, crack
e outras drogas.
Seu público específico são os adultos, mas também podem atender crianças e adolescentes,
desde que observadas as orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Os CAPS AD oferecem atendimento à população, realizam o acompanhamento clínico e a
reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e
fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Os CAPS também atendem aos usuários em
seus momentos de crise, podendo oferecer acolhimento noturno por um período curto de dias.

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O CAPS apoia usuários e famílias na busca de independência e responsabilidade para com
seu tratamento.
Os projetos desses serviços, muitas vezes, ultrapassam a própria estrutura física, em busca
da rede de suporte social, que possam garantir o sucesso de suas ações, preocupando-se com a
pessoa, sua história, sua cultura e sua vida cotidiana.
Dispõe de equipe multiprofissional composta por médico psiquiatra, clínico geral, psicólogos,
dentre outros.

8. Usuários das Políticas Publicas

8.1 Famílias

A qualificação da família como principal agente da socialização primária e de locus


privilegiado para o desenvolvimento da cidadania, da proteção e do cuidado de seus membros
certamente foi determinante para sua primazia na concepção e implementação da política de
assistência social, posto que, para assumir esse papel que lhe é socialmente atribuído, faz-se
necessário que ela seja alvo de atenção pelo Estado. Todavia, para além da centralidade da família,
a PNAS estabelece a matricialidade sociofamiliar, colocando em foco as necessidades e
peculiaridades das famílias, entendendo-as como sujeito coletivo, conforme referencia Sposati
(2009). Conjecturamos que pensar a matricialidade sociofamiliar significa compreender o momento
e a situação social da família, com a perspectiva de gerir tais aspectos a partir de suas
especificidades.
O princípio da matricialidade sociofamiliar constitui um avanço na assistência social, que
anteriormente à aprovação da PNAS e da instauração do SUAS se detinha, mais diretamente, ao
atendimento dos indivíduos, de forma isolada da família. Neste sentido “a matricialidade
sociofamiliar surge como antidoto à fragmentação dos atendimentos, como sujeito à proteção de
uma rede de serviços de suporte à família” (Teixeira, 2010, p. 05). Atualmente, considera-se a
família, com seus membros, inclusos em um contexto social e econômico, que reflete diretamente
na forma de organização e dinâmicas familiares.
Conhecer a família significa pensá-la na inserção com seu meio social, em suas
configurações contemporâneas e em suas funções, sem deixar de considerar sua historicidade.
Assim, é fundamental entendê-la em seu contexto histórico-social e adentrar os vários fatores que
compõem sua formação na atualidade.
Refletir sobre a família é, portanto, refletir sobre uma unidade relacional plural e mutável, de
suporte a seus membros e também de confronto entre eles, marcada por movimentos que denotam
as transformações que ocorrem na sociedade. Nesse sentido, o casamento embasado na escolha
mútua dos parceiros, a separação entre sexualidade e reprodução, as novas tecnologias

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reprodutivas, a presença cada vez mais forte da mulher no mercado formal de trabalho, a união
entre pessoas do mesmo sexo e a adoção de crianças por esses casais, além dos constantes
rompimentos de laços conjugais, resultaram em novas formas de ser família. Diante dessa
complexidade, definir, mesmo que precariamente, essa que continua sendo vista como a primeira
e mais importante referência social do indivíduo tem merecido dos estudiosos certo cuidado. De um
lado, é necessário diferenciá-la de outros agrupamentos humanos e, de outro, é importante não
restringi-la ao parentesco e à coabitação.
Para Sarti (2005), a família é um grupo social que concretiza vínculos de parentesco (de
consanguinidade entre irmãos, de descendência entre pai e filho e mãe e filho, e de afinidade, por
meio do casamento). Acrescente-se a isso o compartilhamento de um mesmo cotidiano, da união
por afeto e com objetivos de vida comuns, as trocas intersubjetivas e de experiências de cuidado
mútuo, além da transmissão de tradições de um indivíduo para outro (SZYMANSKI, 2002). Também
são assumidas como instituições sociais, construídas a partir da dialética que se processa entre as
pessoas que vivem em grupo e a estrutura social na qual estão inseridas (MIOTO, 1997).
É preciso ressaltar, ainda, que lidar com famílias significa superar preconceitos, desmistificar
a ideologia de família como núcleo natural e padronizado e aprofundar o conhecimento de sua
realidade social, adentrando suas vicissitudes, vulnerabilidades e potencialidades.

8.2 Crianças e Adolescentes

No século XX surgiram as primeiras escolas para os mais pobres,


em face do progresso da indústria e da necessidade de mão-de-obra
qualificada. Nessa época, as crianças eram submetidas a trabalhos
pesados nas minas e fábricas, com uma carga horária tão pesada que
chegava a treze horas por dia, como a dos adultos. Nessa época, o tempo
de aprendizagem começou a ser valorizado em razão da industrialização, e a adolescência passou
a ser considerada uma fase da vida. A criança passou a ser vista como um sujeito de direito.
Ao final do século XX, com a constituição de 1988, em seu artigo 227; o Governo Federal
lançou o Estatuto da Criança e do Adolescente, um conjunto de leis com o objetivo de defender os
direitos dos pequenos.
A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069, de 13 de julho de 1993),
com inúmeros títulos, capítulos e artigos que garantem a imagem da nossa última Constituição,
direitos fundamentais – respeito à vida e à saúde, à liberdade e à dignidade, à convivência familiar
e comunitária, à educação, cultura, esporte e lazer, à profissionalização e proteção no trabalho, à
prevenção, vem não só ratificar a Declaração Universal da Criança, mas reconhecer e consagrar a
criança e o adolescente como indivíduos e, portanto, cidadãos.

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O ECA resgata o valor da criança e do adolescente como seres humanos – sujeitos de
direitos – que devem receber o máximo de dedicação, em virtude de sua condição peculiar de
pessoas em desenvolvimento.
A criança e o adolescente passam a ser percebidos como seres em desenvolvimento, tanto
do ponto de vista físico quanto psicológico e social, com necessidades que precisam ser supridas
nestas três esferas.
O Estatuto da Criança e do Adolescente exige um tratamento especial, prioritário, e, para
garanti-lo, obriga o conjunto da política, da economia e da organização social a operar um
reordenamento; a revisar prioridades políticas e de investimentos; a colocar em questão o modelo
de desenvolvimento e respectivo projeto da sociedade, excludente e perverso, que desconhece, na
prática, estes seres sujeitos de direitos: a criança e o adolescente.
Esse reordenamento tem uma configuração legal, formal, que deve expressar-se ao longo
de um processo em todos os campos da vida social: das organizações governamentais e não
governamentais, das políticas sociais básicas e da organização familiar.
Para o cumprimento do chamado Sistema de Garantia de Direitos, introduzido pelo Estatuto,
o art. 86 desta Lei propõe uma nova gestão desses direitos, “através de um conjunto articulado de
ações governamentais e não governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios”.

Conselho Tutelar

O Conselho Tutelar é composto por cinco membros, eleitos pela comunidade para
acompanharem as crianças e adolescentes e decidirem em conjunto sobre qual medida de proteção
para cada caso. Devido ao seu trabalho de fiscalização a todos os entes de proteção (Estado,
sociedade e família), o Conselho goza de autonomia funcional, não tendo nenhuma relação
de subordinação com qualquer outro órgão do Estado. O primeiro conselho tutelar foi criado pelo
ex-prefeito de Maringá no Paraná Ricardo Barros em sua gestão.
Importante esclarecer que a autonomia do Conselheiro funcional não é absoluta. No tocante
às decisões, estas devem ser tomadas de forma colegiada por no mínimo três Conselheiros.
No tocante a questões funcionais: fiscalização do cumprimento de horário de trabalho e
demais questões administrativas o Conselheiro tem o dever da publicidade ao órgão administrativo
ao qual vincula o Conselho Tutelar, assim como é dever e função do CMDCA - Conselho Municipal
dos Direitos da Criança e do Adolescente - fiscalizar a permanência dos pré-requisitos exigidos
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA - aos Conselheiros Tutelares; Claro em
observância a autonomia do Conselho Tutelar que não se sujeita a fiscalização do CMDCA em
sentido amplo, pois visto ser um órgão autônomo é regido no aspecto funcional pelo seu próprio

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estatuto , o qual deve conter os critérios de punição inclusive o critério para perca de mandato de
Conselheiro Tutelar.
Conhecer os direitos da criança e do adolescente não é pré-requisito para candidatar-se ao
cargo de Conselheiro Tutelar. Desconhecê-los porém pode ser motivo para não concorrer a eleição,
visto que em muitos municípios Brasileiros, é feito um teste antes da efetiva candidatura para a
eleição popular.
Para ser Conselheiro Tutelar, segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) a
pessoa deve ter mais de 21 anos, residir no município e possuir reconhecida idoneidade moral, mas
cada município pode criar outras exigências para a candidatura a Conselheiro, como carteira
nacional de habilitação ou nível superior. Há controvérsia sobre isso, havendo entendimento
majoritário de que o Município não pode acrescentar critérios aos já estabelecidos pelo legislador
federal.
Conforme o art. 133. do ECA:
Art. 133 - Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar, serão exigidos os seguintes
requisitos: reconhecida idoneidade moral; idade superior a vinte e um anos; e residir no município.
Não há que se exigir formação superior, porque Conselheiro Tutelar não é técnico e não tem
que fazer atendimento técnico, para isto deve requisitar o atendimento necessário. O que o
Conselheiro Tutelar precisa é ter bom senso para se fazer presente onde há violação de direitos ou
indícios e possibilidades de violação, e agir para cessá-la ou eliminar o risco de que ocorra. Para
isto não deve fazer, mas requisitar os meios necessários a que se faça. Conselheiro Tutelar não é
policial, não é técnico, não é Juiz, é apenas o zelador dos direitos da criança e do adolescente e
deve requisitar ações que os garanta ou representar contra sua inobservância ao Ministério Público
e Poder Judiciário para que estes façam os mesmos valer, quando administrativamente não
conseguirem tal intento.
O exercício efetivo da função de Conselheiro Tutelar constitui serviço público relevante e lhe
assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até definitivo julgamento.

Atribuições do Conselho Tutelar

✓ Atender crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts.98 e 105, aplicando as
medidas previstas no art. 101, I a VII;
✓ Atender e aconselhar pais ou responsáveis, aplicando as medidas previstas no art.129, I a VII;
✓ Promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:
✓ Requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência,
trabalho e segurança;
✓ Representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas
deliberações;

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✓ Encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal
contra os direitos da criança e do adolescente;
✓ Encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;
✓ Providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101,
de I a VI, para o adolescente autor do ato infracional;
✓ Expedir notificações;
✓ Requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário;
✓ Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e
programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
✓ Representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art.
220, §3º, inciso II, da Constituição Federal;
✓ Representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda ou suspensão do pátrio
poder.

8.3 Mulheres – Lei Maria da Penha

A Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, ganhou este nome em homenagem
à Maria da Penha Maia Fernandes, que por vinte anos lutou para ver seu agressor preso.
Maria da Penha é biofarmacêutica cearense, e foi casada com o professor universitário
Marco Antonio Herredia Viveros. Em 1983 ela sofreu a primeira tentativa de assassinato, quando
levou um tiro nas costas enquanto dormia. Viveros foi encontrado na cozinha, gritando por socorro,
alegando que tinham sido atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da Penha saiu
paraplégica A segunda tentativa de homicídio aconteceu meses depois, quando Viveros empurrou
Maria da Penha da cadeira de rodas e tentou eletrocutá-la no chuveiro.
Apesar da investigação ter começado em junho do mesmo ano, a denúncia só foi
apresentada ao Ministério Público Estadual em setembro do ano seguinte e o primeiro julgamento
só aconteceu 8 anos após os crimes. Em 1991, os advogados de Viveros conseguiram anular o
julgamento. Já em 1996, Viveros foi julgado culpado e condenado há dez anos de reclusão mas
conseguiu recorrer.
Mesmo após 15 anos de luta e pressões internacionais, a justiça brasileira ainda não havia
dado decisão ao caso, nem justificativa para a demora. Com a ajuda de ONGs, Maria da Penha
conseguiu enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA), que, pela
primeira vez, acatou uma denúncia de violência doméstica. Viveiro só foi preso em 2002, para
cumprir apenas dois anos de prisão.
O processo da OEA também condenou o Brasil por negligência e omissão em relação à
violência doméstica. Uma das punições foi a recomendações para que fosse criada uma legislação
adequada a esse tipo de violência. E esta foi a sementinha para a criação da lei. Um conjunto de

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entidades então reuniu-se para definir um anti-projeto de lei definindo formas de violência doméstica
e familiar contra as mulheres e estabelecendo mecanismos para prevenir e reduzir este tipo de
violência, como também prestar assistência às vítimas.
Em setembro de 2006 a lei 11.340/06 finalmente entra em vigor, fazendo com que a violência
contra a mulher deixe de ser tratada com um crime de menos potencial ofensivo. A lei também
acaba com as penas pagas em cestas básicas ou multas, além de englobar, além da violência física
e sexual, também a violência psicológica, a violência patrimonial e o assédio moral.

8.4 Idosos

No Brasil, o Estatuto do idoso, de iniciativa do Projeto de lei nº 3.561 de 1997 e de autoria


do então deputado federal Paulo Paim, foi fruto da organização e mobilização dos aposentados,
pensionistas e idosos vinculados à Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas
(COBAP), resultado de uma grande conquista para a população idosa e para a sociedade.
aprovado em setembro de 2003
Após oito anos tramitando no Congresso, o Estatuto do Idoso foi aprovado em setembro de
2003 e sancionado pelo presidente da República no mês seguinte, ampliando os direitos dos
cidadãos com idade acima de 60 anos. Mais abrangente que a Política Nacional do Idoso, lei de
1994 que dava garantias à terceira idade, o estatuto institui penas severas para quem desrespeitar
ou abandonar cidadãos da terceira idade.

8.5 Estatuto da Igualdade Racial

O Estatuto da Igualdade Racial é uma lei especial do Brasil, sendo um conjunto de regras e
princípios jurídicos que visam coibir a discriminação racial e estabelecer políticas para diminuir a
desigualdade social existente entre os diferentes grupos raciais.
No Brasil, a Lei nº 12.288/10, de autoria do Senador Paulo Paim, instituiu o Estatuto da
Igualdade Racial. Segundo o artigo 1º, o Estatuto da Igualdade Racial tem por objetivo “combater a
discriminação racial e as desigualdades raciais que atingem os afro-brasileiros, incluindo a
dimensão racial nas políticas públicas desenvolvidas pelo Estado”. Discriminação racial é definida
pelo texto legal como “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o
reconhecimento, gozo, ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades
fundamentais” (art. 1º, § 1º). Já desigualdades raciais, por sua vez, como sendo “situações
injustificadas de diferenciação de acesso e gozo de bens, serviços e oportunidades, na esfera
pública e privada”.

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Segundo o autor do projeto:
“Não queremos a cultura afro-brasileira vista, sentida e experimentada somente nas práticas
religiosas, música ou alimentação. Queremos a cultura do negro inserida nas escolas, no mercado de
trabalho, nas universidades, pois o negro faz parte do povo brasileiro. Cultivar as raízes da nossa formação
histórica evidentes na diversificação da composição étnica do povo é o caminho mais seguro para garantirmos
a afirmação de nossa identidade nacional e preservarmos os valores culturais que conferem autenticidade e
singularidade ao nosso país. É imprescindível que haja união entre as pessoas, povos, nacionalidades e
culturas. Todos os esforços para combater as barreiras discriminatórias são subsídios concretos para a
formação de um novo ser humano, capaz de elevar-se à altura de seu destino e evitar destruir a si mesmo.”

8.6 Pessoas com Deficiência

No dia 06/07/2015 foi sancionado pela Presidente da Republica a Lei Brasileira de Inclusão
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Destacamos:

CAPÍTULO II
DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
Art. 4o Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as
demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando,
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
Art. 7o É dever de todos comunicar à autoridade competente qualquer forma de ameaça ou
de violação aos direitos da pessoa com deficiência.

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9. Programas e Projetos Sociais

9.1 Cadastro Único – CAD ÚNICO

O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (Cadastro Único) é um


instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, entendidas como aquelas que
têm:
✓ renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa; ou
✓ renda mensal total de até três salários mínimos.

O Cadastro Único permite conhecer a realidade socioeconômica dessas famílias, trazendo


informações de todo o núcleo familiar, das características do domicílio, das formas de acesso a
serviços públicos essenciais e, também, dados de cada um dos componentes da família.
O Governo Federal, por meio de um sistema informatizado, consolida os dados coletados
no Cadastro Único. A partir daí o poder público pode formular e implementar políticas específicas,
que contribuem para a redução das vulnerabilidades sociais a que essas famílias estão expostas.
O Cadastro Único é coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome (MDS), devendo ser obrigatoriamente utilizado para seleção de beneficiários de programas
sociais do Governo Federal, como o Bolsa Família.
Suas informações são regulamentadas pelo Decreto nº 6.135/07, pelas Portarias nº 177, de
16 de junho de 2011, e nº 274, de 10 de outubro de 2011, e Instruções Normativas nº 1 e nº 2, de
26 de agosto de 2011, e as Instruções Normativas nº 3 e nº 4, de 14 de outubro de 2011, e podem
também ser utilizadas pelos governos estaduais e municipais para obter o diagnóstico
socioeconômico das famílias cadastradas, possibilitando o desenvolvimento de políticas sociais
locais.
Famílias com renda superior a meio salário mínimo também podem ser cadastradas, desde
que sua inserção esteja vinculada à inclusão e/ou permanência em programas sociais
implementados pelo poder público nas três esferas do Governo.
O Governo Federal utiliza a base de dados do Cadastro Único para Programas Sociais para
identificar potenciais beneficiários de programas sociais. Do mesmo modo, governos estaduais e
municipais também utilizam o Cadastro Único para identificação do público-alvo de programas
locais.
A utilização de um único banco de dados pelas três esferas de governo – União, estados e
municípios – permite a focalização dos programas sociais, para integrar esforços de todos os entes
federados no enfrentamento da pobreza. Dessa forma, evita-se o desperdício de recursos e otimiza-
se a gestão dos programas.

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O cadastramento não significa a inclusão automática em programas sociais. A seleção e o
atendimento da família por esses programas ocorrem de acordo com os critérios e procedimentos
de cada um deles.

9.2 Bolsa Família

O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em


situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país. O Bolsa Família integra o Plano Brasil
Sem Miséria, que tem como foco de atuação os milhões de brasileiros com renda familiar per capita
inferior a R$ 77 mensais e está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos
serviços públicos.
O Bolsa Família possui três eixos principais: a transferência de renda promove o alívio
imediato da pobreza; as condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas
de educação, saúde e assistência social; e as ações e programas complementares objetivam o
desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de
vulnerabilidade.
Todos os meses, o governo federal deposita uma quantia para as famílias que fazem parte
do programa. O saque é feito com cartão magnético, emitido preferencialmente em nome da mulher.
O valor repassado depende do tamanho da família, da idade dos seus membros e da sua renda.
Há benefícios específicos para famílias com crianças, jovens até 17 anos, gestantes e mães que
amamentam.
A gestão do programa instituído pela Lei 10.836/2004 e regulamentado pelo Decreto nº
5.209/2004, é descentralizada e compartilhada entre a União, estados, Distrito Federal e municípios.
Os entes federados trabalham em conjunto para aperfeiçoar, ampliar e fiscalizar a execução.
A seleção das famílias para o Bolsa Família é feita com base nas informações registradas
pelo município no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, instrumento de
coleta e gestão de dados que tem como objetivo identificar todas as famílias de baixa renda
existentes no Brasil.
Com base nesses dados, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)
seleciona, de forma automatizada, as famílias que serão incluídas para receber o benefício. No
entanto, o cadastramento não implica a entrada imediata das famílias no programa e o recebimento
do benefício.

Benefícios

O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que


atende famílias pobres (renda mensal por pessoa entre R$ 77,01 e R$ 154) e extremamente pobres

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(renda mensal por pessoa de até R$ 77). Ele possui vários tipos de benefícios, utilizados para
compor a parcela mensal que os beneficiários recebem. Esses benefícios são baseados no perfil
da família registrado no Cadastro Único. Entre as informações consideradas, estão: a renda mensal
por pessoa, o número de integrantes, o total de crianças e adolescentes de até 17 anos, além da
existência de gestantes.

9.3 Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti)

O Peti articula um conjunto de ações para retirar crianças e adolescentes com idade inferior
a 16 anos da prática do trabalho precoce, exceto quando na condição de aprendiz, a partir de 14
anos. O programa compreende transferência de renda – prioritariamente por meio do Programa
Bolsa Família –, acompanhamento familiar e oferta de serviços socioassistenciais, atuando de forma
articulada com estados e municípios e com a participação da sociedade civil.
O Peti está estruturado estrategicamente em cinco eixos de atuação: informação e
mobilização, com realização de campanhas e audiências públicas; busca ativa e registro no
Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal; transferência de renda, inserção das
crianças, adolescentes e suas famílias em serviços socioassistenciais e encaminhamento para
serviços de saúde, educação, cultura, esporte, lazer ou trabalho; reforço das ações de fiscalização,
acompanhamento das famílias com aplicação de medidas protetivas, articuladas com Poder
Judiciário, Ministério Público e Conselhos Tutelares; e monitoramento.

9.4 Benefício de Prestação Continuada (BPC)

O Benefício de Prestação continuada da Assistência Social - BPC foi instituído pela


Constituição Federal de 1988 e regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei
nº 8.742, de 7/12/1993; pelas Leis nº 12.435, de 06/07/2011 e nº 12.470, de 31/08/2011, que alteram
dispositivos da LOAS e pelos Decretos nº 6.214, de 26 de setembro de 2007 e nº 6.564, de 12 de
setembro de 2008.
O BPC é um benefício da Política de Assistência Social, que integra a Proteção Social Básica
no âmbito do Sistema Único de Assistência Social – SUAS e para acessá-lo não é necessário ter
contribuído com a Previdência Social. É um benefício individual, não vitalício e intransferível, que
assegura a transferência mensal de 1 (um) salário mínimo ao idoso, com 65 (sessenta e cinco) anos
ou mais, e à pessoa com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas. Em ambos os casos, devem comprovar não possuir meios de garantir o próprio

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sustento, nem tê-lo provido por sua família. A renda mensal familiar per capita deve ser inferior a ¼
(um quarto) do salário mínimo vigente.
A gestão do BPC é realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(MDS), por intermédio da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), que é responsável pela
implementação, coordenação, regulação, financiamento, monitoramento e avaliação do Benefício.
A operacionalização é realizada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os recursos para o custeio do BPC provêm da Seguridade Social, sendo administrado pelo
MDS e repassado ao INSS, por meio do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). Atualmente
são 3,6 milhões (dados de março de 2012) beneficiários do BPC em todo o Brasil, sendo 1,9 milhões
pessoas com deficiência e 1,7 idosos.

9.5 Serviço Especializado em Abordagem Social (Ação Rua)

Criado em 2007, o serviço aborda e identifica crianças e adolescentes em situação de rua


em todas as regiões da cidade. Ao todo, são 98 profissionais que mantêm contato com os jovens
até estabelecerem vínculos de confiança com eles. Estes vínculos possibilitam a intervenção do
profissional na inserção da criança ou do adolescente no retorno para suas famílias ou na rede de
serviços. O objetivo do trabalho é desenvolver no público-alvo a vontade de sair da rua e elaborar
um novo projeto de vida, sem precisar tirá-lo à força das ruas. O serviço é executado por meio do
convenios da FASC com entidades, organizações não governamentais (ONGs).

Objetivos Específicos:
✓ Realizar abordagens e acompanhamentos descentralizados no Município, de acordo com a
territorialização prevista;
✓ Propor plano de intervenção individual e familiar;
✓ Incidir no complexo de proteção, visando a construção de processos alternativos junto a
crianças e adolescentes em situação de rua e suas famílias;
✓ Consolidar o atendimento na rede de proteção da região de origem de forma integral,
transversal e com foco na família;
✓ Contribuir para a articulação da rede de serviços sócio-assistenciais de proteção básica e
especial com as demais políticas públicas e instituições que compõem o Sistema de Garantia
de Direitos e Movimentos Sociais, buscando a ampliação e qualificação dos serviços;
✓ Manter atualizado mapa situacional e diagnóstico quantitativo e qualitativo da realidade de
crianças e adolescentes em situação de rua, com vistas a subsidiar propostas de intervenção;
✓ Realizar processos de Mobilização Social, divulgando e sensibilizando a população quanto à
situação de crianças e adolescentes em situação de rua, trabalhando a superação de

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preconceitos, co-responsabilidade e compromisso da sociedade para construção de


alternativas de enfrentamento à situação de rua e proteção à infância;
✓ Contribuir com a produção de conhecimento sobre a realidade de crianças e adolescentes em
situação de rua e suas famílias, subsidiando a qualificação dos serviços.

9.6 Programa Mais Educação

O Programa Mais Educação, criado pela Portaria Interministerial nº 17/2007 e


regulamentado pelo Decreto 7.083/10, constitui-se como estratégia do Ministério da Educação para
indução da construção da agenda de educação integral nas redes estaduais e municipais de ensino
que amplia a jornada escolar nas escolas públicas, para no mínimo 7 horas diárias, por meio de
atividades optativas nos macro campos: acompanhamento pedagógico; educação ambiental;
esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes; cultura digital; promoção da
saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das ciências da natureza e
educação econômica.
De acordo com o projeto educativo em curso na escola, são escolhidas seis atividades, a
cada ano, no universo de possibilidades ofertadas. Uma destas atividades obrigatoriamente deve
compor o macro campo acompanhamento pedagógico. O detalhamento de cada atividade em
termos de ementa e de recursos didático-pedagógicos e financeiros previstos é publicado
anualmente em manual específico relativo à Educação Integral, que acompanha a resolução do
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do FNDE. O caderno Passo a Passo Mais Educação
detalha de forma objetiva, dentre outras orientações, o público alvo do Programa, os profissionais
responsáveis, o papel do professor comunitário/professor coordenador, os macro campos e as
atividades.
Diferentes experiências pedagógicas indicam o papel central que a escola tem na construção
de uma agenda de Educação Integral articulando, a partir da ampliação da jornada escolar, políticas
públicas, equipamentos públicos e atores sociais que contribuam para a diversidade e riqueza de
vivências que tornam a Educação Integral uma experiência inovadora e sustentável ao longo do
tempo.
O Programa conta, em sua estrutura, com Comitês Metropolitanos ou Regionais,
constituídos por representantes das secretarias, gestores escolares e outros parceiros, entre os
quais as universidades, e Comitês Locais, formados por sujeitos do Programa Mais Educação na
escola e representantes da comunidade escolar e do entorno. Esta estratégia de implementação e
fortalecimento do Mais Educação constitui-se como espaço de articulação das ações e experiências
e de construção de planos de ação coletivos.
A definição de um paradigma contemporâneo de educação integral entende que o território
da educação escolar pode expandir-se para além dos muros da escola, alcançando seu entorno e

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a cidade em suas múltiplas possibilidades educativas. É desejável que os conteúdos da base
nacional curricular, Lei 9.394/96 (LDB), dialoguem organicamente com temas estruturantes e
contemporâneos para a vida em uma sociedade que se afirma como republicana e democrática.
O Programa Mais Educação é coordenado pela Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC),
em parceria com as Secretarias Estaduais e/ou Municipais de Educação.
Os territórios do Programa foram definidos inicialmente para atender, em caráter prioritário,
as escolas que apresentam baixo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), situadas
em capitais e regiões metropolitanas.
As atividades tiveram início em 2008, com a participação de 1.380 escolas, em 55 municípios
nos 26 estados e no Distrito Federal, atendendo 386 mil estudantes. Em 2009, houve a ampliação
para 5 mil escolas, 126 municípios, de todos os estados e no Distrito Federal com o atendimento a
1,5 milhão de estudantes, inscritos pelas escolas e suas respectivas redes de ensino. Em 2010, o
Programa foi implementado em 389 municípios, atendendo cerca de 10 mil escolas e beneficiando
2,3 milhões de alunos a partir dos seguintes critérios: escolas contempladas com PDDE/Integral no
ano de 2008 e 2009; escolas com baixo IDEB e/ou localizadas em zonas de vulnerabilidade social;
escolas situadas nas capitais e nas cidades das nove regiões metropolitanas, bem como naquelas
com mais de 90 mil habitantes.
Em 2011, aderiram ao Programa Mais Educação 14.995 escolas com 3.067.644 estudantes
a partir dos seguintes critérios: escolas estaduais ou municipais de baixo IDEB que foram
contempladas com o PDE/Escola 2009; escolas localizadas em territórios de vulnerabilidade social
e escolas situadas em cidades com população igual ou superior a 18.844 habitantes.
Compreende-se que a educação integral em jornada ampliada no Brasil é uma política
pública em construção e um grande desafio para gestores educacionais, professores e
comunidades que, ao mesmo tempo, amplia o direito à educação básica e colabora para reinventar
a escola.

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REFERÊNCIAS

ADORNO, Rubens de Camargo Ferreira. Os jovens e sua vulnerabilidade social. 1ª ed. – São
Paulo: AAPCS – Associação de Apoio ao Programa Capacitação Solidária, 2001. Disponível em:
< http://dspace.fsp.usp.br/xmlui/bitstream/handle/bdfsp/673/ado001.pdf?sequence=1>.

ALBUQUERQUE, Diana. A Educação Social e o Terceiro Sector. 2010. Disponível em:


<http://educacaosocialacrescer.blogspot.com/2010/02/educacao-social-e-o-terceiro-sector.html>.
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