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Rogério Gleiser
Department of Paediatric Dentistry and Orthodontics, School of Dentistry, Federal University of Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
CORRESPONDING AUTHOR:
INTRODUÇÃO
(Pinkham, 1990; Klatchoian, 1999). Assim, o sucesso na Odontopediatria não depende somente da
comportamento da criança (Wright e Alpern, 1971; Wright et al., 1973), principalmente durante
local (Melamed, 1986, 1983; Kunzelmann & Dunninger; 1990). Esses fatores podem gerar
atendimento odontológico (Frankl et al., 1962; Sarnat et al., 1972; Koenigsberg e Johson, 1975;
Venham e Quatrocelli, 1977; Shinohara et al., 2005). Entretanto, o comportamento infantil pode diferir
de um país para outro devido a diferenças socioeconômicas, culturais e demográficas (Folayan et al.,
2002) e de uma época para outra devido a mudanças nos valores, organização social e educação
(Caldana e Biasoli Alves, 1990). Dessa forma o objetivo deste artigo foi avaliar o comportamento de
METODOLOGIA
Amostra
Foram selecionadas todas as crianças que compareceram, durante um período de 7 meses, a Clínica
de Odontopediatria de uma Instituição de Ensino Superior do Rio de Janeiro para seu primeiro
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atendimento odontológico, excluindo aquelas que necessitavam de atendimento de emergência.
Somente foram incluídas crianças sem experiência prévia com anestesia local odontológica e foram
excluídos pacientes com limitação visual, auditiva ou mental. Seguindo esses critérios, a amostra
contou com 56 crianças (Tabela 1). A pesquisa foi iniciada após aprovação pelo Comitê de Ética Local,
Coleta de dados
O comportamento das crianças foi avaliado durante duas consultas odontológicas (M1 – consulta
inicial e M2 – consulta de tratamento), com intervalo de uma semana entre elas. Na anamnese em M1,
também foi avaliado se o paciente tinha conscientização de seu problema odontológico (Tabela 7). Na
sala de espera, em ambos os momentos, o paciente tinha a seu alcance jogos, lápis, canetas e papel para
brincar, enquanto era realizada a anamnese com a mãe. Após a pesquisa, as crianças, quando
tratamento.
Durante M1 e M2, as crianças foram atendidas por um único dentista em um mesmo consultório,
utilizando-se a técnica Dizer/ Mostrar/ Fazer (Addelston, 1959), exceto durante a técnica anestésica, e
tiveram o seu comportamento avaliado por três observadores treinados (psicóloga, dentista e higienista
independentes (por profissional). A cada situação vivenciada pela criança (Tabela 2), um escore de
comportamento foi atribuído (Sarnat, 1972) (Tabela 3), podendo este variar desde um comportamento
M2. Além disso, foram calculados a média e o desvio padrão do escore total de comportamento de cada
paciente (soma dos escores atribuídos a cada uma das situações) para cada momento.
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O Índice de correlação intraclasse (ICC) foi calculado entre os observadores utilizando-se a média
dos escores totais de comportamento. Para testar a diferença entre as médias dos escores de
comportamento nas cinco situações clínicas que se repetiam em M1 e M2, foi utilizado o teste
Wilcoxon. O teste Mann-Withney foi utilizado para a comparação das médias dos escores de
odontológico. O teste Kruskall Wallis foi utilizado para a comparação das médias de escores de
comportamento entre as idades. Todos os testes foram utilizados com nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Considerando-se a similaridade das análises das três observadoras (ICC em M1=0,99 e M2=0,98),
optou-se por utilizar somente os dados referentes à avaliação realizada pela psicóloga.
variações de escores de comportamento foram detectadas nas situações, desde um comportamento não
mais freqüente, tanto em M1, como em M2, seguido pelo não colaborador (escore 1) em M2.
Na progressão das situações clínicas, de maneira geral, observou-se uma diminuição da freqüência
neutro/indiferente (escore 3), com um leve desvio para aversivo (escore 2) e não cooperador (escore 3),
principalmente durante e após a realização da técnica anestésica, porém retornando a valores próximos
Nas situações clínicas que se repetiam em ambos os momentos (entrar na sala de espera, durante
nenhum dos momentos. Porém, foi observado uma menor variabilidade de comportamentos no decorrer
das idades, demonstrados pela diminuição dos valores de desvio padrão no aumentar da idade.
DISCUSSÃO
O propósito desta pesquisa foi avaliar o comportamento dos pacientes infantis durante o
atendimento odontológico. Com esse objetivo, os escores preconizados por Sarnat (1972), que
Na análise dos resultados, apenas os dados referentes à avaliação da psicóloga foram usados devido
a pouca variabilidade entre os observadores, confirmado pelo alto valor encontrado no ICC (Fleiss e
Cohen, 1973), e por ser esta a responsável pelo treinamento com os demais avaliadores.
Apesar de todas as variações de comportamento terem sido observadas neste estudo, a maioria das
momentos (Tabela 1). Assim, medo e ansiedade, fatores reportados na literatura como geradores de
comportamento negativo durante o primeiro atendimento da criança (Wright, 1975), parecem não terem
influenciado o comportamento dessas crianças, embora estes não foram avaliados nesta pesquisa.
Assim, pode-se supor a abordagem inicial com as crianças, tanto em M1, quanto em M2, em um
ambiente não ameaçador, tranqüilo e acolhedor da sala de espera, evitou o contato direto da criança
odontológico.
Essa primeira impressão positiva do ambiente odontológico pode ter beneficiado a mudança da sala
de espera para sala de tratamento, pois mesmo durante a separação materna, possível fator gerador de
medo nas crianças desta idade (Klatchoian,1999; Papalia e Olds, 2000), e ao sentar na cadeira
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odontológica, a maioria das crianças continuou cooperando passivamente (Tabela 1). Além disso, a
técnica Dizer/ Mostra/ Fazer (Addelston, 1959) foi utilizada durante todo o atendimento (exceto
durante a técnica anestésica), possibilitando ao profissional construir uma relação de confiança com a
criança. Talvez seja por esses mesmos motivos, que a maioria dos comportamentos desfavoráveis foi
neutro/ indiferente (escore 3), somente uma categoria abaixo do cooperador passivo (escore 4).
Na presente pesquisa, de uma forma geral, a medida que as situações tornavam-se mais invasivas, a
mais evidente durante a após a técnica anestésica. Este fato pode ser explicado pelas dificuldades
inerentes a faixa etária das crianças, tais como permanecer imoveís por um período de tempo com a
boca aberta (Possobon et al, 2003) ou por uma maior sensilidade a dor (Klatchoian, 1999).
Estudos (Frankl et al., 1962; Koenigsber e Jonhson, 1975; Olivieri e Alves, 2001) avaliando o
comportamento de crianças na mesma faixa etária e sem experiência odontológica prévia, como no
Embora, em nenhum dos momentos, não tenha sido encontrada diferença estatisticamente
significante entre as idades em relação ao comportamento, foi possível observar uma menor
variabilidade de comportamentos no decorrer das idades, demonstrados pela diminuição dos valores de
desvio padrão no aumentar da idade (Tabela 5). A isso pode ser atribuído o fato das crianças maiores,
principalmente as de 6 anos, cooperadoras passivas em todas as situações nos dois momentos, serem
mais maduras, possuírem uma maior vivência social, mais experiências com a dor e mais contato com
associado ao comportamento não colaborador (Bailey et al, 1973; Wright e Alpern, 1971). Um paciente
infantil que acredita ter um problema requerendo tratamento ou com dor pode estar mais ansioso do
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que um que acredita estar indo ao dentista para examinar e limpar seus dentes (RIPA & BARENIE,
1979). Entretanto, neste estudo, o comportamento das crianças foi semelhante para aquelas que sabiam
Pode-se concluir que a maioria das crianças comportaram-se cooperando passivamente nas
diferentes situações clínicas a que foram expostas, não havendo diferença entre as idades, gênero e
RESUMO
prévia com anestesia local odontológica. O comportamento foi avaliado por três observadores, em
tratamento), utilizando-se escores preconizados por Sarnat (1972). Também foi avaliado se o paciente
comportamento não colaborador até um comportamento cooperador ativo. Durante e após a realização
comportamento, em nenhum dos momentos. Conclui-se que a maioria dos pacientes comportou-se
AGRADECIMENTOS
À psicóloga, Neide Moura, e a técnica em higiene dental, Mariwangle, pela colaboração neste
trabalho.
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Ao Professor Ronir Raggio Luiz pela colaboração nas análises estatísticas.
Gênero
Idade Total
Masculino Feminino
3 3 8 11
4 11 10 21
5 7 7 14
6 3 7 10
Total 24 32 56
SITUAÇÕES EM M1 SITUAÇÕES EM M2
1A – Ao entrar na sala de espera 2A – Ao entrar na sala de espera
1B – Durante a anamnese 2B – Durante a separação materna
1C – Durante a separação materna 2C – Ao sentar na cadeira odontológica
1D – Ao sentar na cadeira odontológica 2D – Durante o exame clínico
1E – Durante a profilaxia 2E – Após ser informado que será anestesiado
1F – Durante o exame clínico 2F – Durante anestesia tópica
2G – Durante a realização da técnica anestésica
1G – Durante o exame radiográfico
(punção + injeção do anestésico no local)
1H – Após realização do atendimento 2H – Após a realização da técnica anestésica
odontológico 2I – Após realização do atendimento odontológico
Tabela 5 – Média e desvio padrão dos escores totais de comportamento em relação a idade em M1 e
M2
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M1 M2
Idade
Média DP Média DP
3 30,36 7,25 30,09 11,67
4 31,90 3,96 35,71 3,88
5 32,42 1,45 36,35 6,55
6 * * 33,50 1,58
* Todas as crianças de 6 anos, em M1, mantiveram comportamento cooperador passivo em todas as
situações clínicas.
Tabela 6 - – Média e desvio padrão dos escores totais de comportamento em relação ao gênero em M1
e M2
M1 M2
Média DP Média DP
Masculino 31,58 3,69 34,87 6,05
Feminino 31,87 4,33 34,62 6,29
REFERENCES
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