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ISSN: 2525-3621
RESUMO
A insônia é um problema comumente relatado nas unidades de Atenção Primária à Saúde
(APS), sendo descrita como uma insatisfação com o sono que deve estar acompanhada
de sofrimento e/ou prejuízos funcionais importantes. Seu manejo terapêutico
frequentemente utiliza benzodiazepínicos, a despeito dos riscos descritos e
recomendações de que seu uso deve ser limitado a um curto período de tempo. Objetivou-
se identificar recomendações consistentes para a abordagem da insônia na APS e
esclarecer demandas quanto ao uso de benzodiazepínicos nesse contexto. Trata-se de uma
revisão integrativa, utilizando os descritores “Distúrbios do Início e da Manutenção do
Sono”, “Hipnóticos e Sedativos”, “Atenção Primária à Saúde” e suas associações em
português e em inglês, nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e
PubMed. Os critérios de inclusão foram artigos publicados na língua inglesa ou
portuguesa, texto completo e congruência com a pergunta norteadora. Foram excluídos
estudos repetidos nas bases de dados selecionadas. Foram analisadas 10 publicações. Os
resultados mostram que a abordagem não farmacológica deve ser a escolha inicial. O uso
de benzodiazepínicos, quando necessário, deve ser restrito a um curto espaço de tempo e
levar em consideração outros fatores, como a presença de comorbidades. A utilização
prolongada da referida classe de medicamentos associa-se a prejuízos na qualidade de
vida dos pacientes. Compreende-se a relevância do manejo adequado da insônia na APS,
sendo necessário capacitar os profissionais e fortalecer a importância da abordagem
holística no cuidado dos pacientes.
Brazilian Applied Science Review, Curitiba, v.5, n.1, p. 358-371, jan-fev 2021
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ISSN: 2525-3621
ABSTRACT
Insomnia is a problem commonly reported in Primary Health Care (PHC) units, being
described as dissatisfaction with sleep that must be accompanied by suffering and / or
important functional impairments. Its therapeutic management frequently uses
benzodiazepines, despite the risks described and recommendations for their use should
be limited to a short period of time. The objective was to identify consistent
recommendations for the management of insomnia in primary health care (PHC) and
explain issues about the use of benzodiazepines in this context. This is an integrative
review, using the descriptors “Sleep Initiation and Maintenance Disorders”, “Hypnotics
and Sedatives”, “Primary Health Care” and their associations in Portuguese and English,
in the databases of the Virtual Health Library (VHL) and PubMed. The inclusion criteria
were published articles in English or Portuguese, full text and congruence with the
guiding question. Repeated studies in the selected databases were excluded. Ten
publications were analyzed. The results show that the non-pharmacological therapy
should be the initial option. The use of benzodiazepines, whenever necessary, should be
restricted to a short time and consider other factors, such as the presence of comorbidities.
Prolonged use of this class of drugs is associated with losses in quality of life of patients.
The relevance of adequate management of insomnia in PHC is understood, and it is
necessary to train professionals and strengthen the importance of a holistic approach in
patient care.
Keywords: Sleep Initiation and Maintenance Disorders, Primary Health Care, Hypnotics
and Sedatives.
1 INTRODUÇÃO
A insônia é descrita como um transtorno do sono-vigília caracterizado pelo
descontentamento do indivíduo com a quantidade ou a qualidade do sono, apresentando
queixas relacionadas a dificuldades para adormecer, manter o sono ou o despertar
precoce. Esta insatisfação com o sono deve estar acompanhada de sofrimento e/ou
prejuízos funcionais importantes (DSM-5, 2014).
É um problema frequentemente relatado nas unidades de Atenção Primária à
Saúde (APS), sendo um dos mais prevalentes transtornos do sono. Aproximadamente um
terço da população adulta apresenta queixa de insônia e cerca de 10 a 15% revelam
prejuízos funcionais decorrentes (DSM-5, 2014). Atinge com maior frequência as
mulheres, indivíduos de classes com menor nível socioeconômico, divorciados e idosos
(NASCIMENTO; SANTOS, 2020). O diagnóstico pode ser feito de forma independente
ou associado a outra condição clínica. Em ambas as situações, nota-se uma influência
mútua: pacientes comórbidos apresentam maior risco para o desenvolvimento da insônia
e o transtorno de insônia parece aumentar o risco de outras patologias (DSM-5, 2014).
Existem duas modalidades para a abordagem terapêutica da insônia: tratamento
farmacológico e não farmacológico. É determinante que o profissional da saúde conheça
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2 MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, visando à identificação de
publicações sobre o uso de benzodiazepínicos no manejo da insônia na Atenção Primária
à Saúde. A escolha do método ponderou a possibilidade de inclusão de estudos com
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Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção dos artigos nas bases de dados BVS e PUBMED.
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3 RESULTADOS
Nos Quadros 1, 2 e 3 é demonstrada uma perspectiva geral dos artigos
selecionados, enfatizando a caracterização, metodologias e categorização das
publicações.
Não foi estabelecida restrição temporal para a busca dos artigos. Entretanto,
observa-se que o maior número de publicações ocorreu após o ano 2000 (90%; n=9). Em
relação ao idioma, todas foram publicadas na língua inglesa (Quadro 1).
As publicações selecionadas foram realizadas em periódicos de excelência
internacional (A1- 30%; n=3) e excelência nacional (B1 e B2 - 40%; n=4), conforme
classificação Qualis Capes. Ademais, constata-se que a maioria dos estudos são oriundos
do Estados Unidos da América (EUA), com o total de quatro artigos (40% da amostra
final) (Quadro 1).
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population-based
study.
Hajak e Geisler (2004) Experience with Revisão da Pacientes de cuidados Mais de 3.000
zolpidem 'as Literatura primários pacientes
needed' in primary
care settings.
Lader (2011) Benzodiazepines Revisão da Pacientes usuários de Não identificado
revisited--will we Literatura Benzodiazepínicos
ever learn?
Kageyama et al. Prevalence of use Estudo Mulheres japonesas 3600
(1998) of medically Transversal adultas que vivem em
prescribed áreas urbanas
hypnotics among
adult Japanese
women in urban
residential areas.
Doghramji (2014) Integrating Revisão da Pacientes com Não identificado
modern concepts Literatura insomnia
of insomnia and
its contemporary
treatment into
primary care.
Falloon et al. (2011) The assessment Revisão da Pacientes com insônia Não identificado
and management Literatura
of insomnia in
primary care.
Fonte: SOUZA, F.V.P. et al., 2021.
Percepção sobre o
uso de
Benzodiazepínicos Favoráveis ao uso ▪ Limandri (2018)
com restrições ▪ Simon e Ludman (2006)
▪ Hajak e Geisler (2004)
▪ Doghramji (2014) 5 33,3
▪ Falloon et al. (2011)
Relacionados aos ▪ Cheung et al. (2014)
pacientes ▪ Simon e Ludman (2006)
▪ Johnson et al. (2016)
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4 DISCUSSÃO
A questão do uso de Benzodiazepínicos no manejo da insônia e as implicações
referentes aos potenciais riscos do uso de tal classe foi largamente mencionada na
literatura selecionada. Este fato pode ser explicado pela notoriedade do transtorno de
insônia no âmbito da Atenção Primária à Saúde, uma vez que esta apresenta-se como um
distúrbio comum entre adultos (DOGHRAMJI, 2014). Além disso, seu manejo
farmacológico é associado a utilização desmedida e prolongada de benzodiazepínicos
(NASCIMENTO; SANTOS, 2020). Observa-se que os problemas relacionados ao uso e
incertezas sobre riscos versus benefícios dos benzodiazepínicos perpassam gerações e
reforçam a necessidade de constante vigilância sobre o tema (LADER, 2011).
Ainda que a descrição da prevalência elevada da insônia seja bastante consistente
na literatura, deve-se salientar que muitos pacientes não relatam suas queixas de sono aos
médicos (DOGHRAMJI, 2014). Consequentemente, uma parcela importante de pacientes
insatisfeitos com o sono não recebem tratamento (KAGEYAMA et al., 1998). Tal
realidade ressalta a necessidade de aperfeiçoamento do manejo do transtorno da insônia,
tanto no que diz respeito ao seu reconhecimento quanto à terapêutica a ser instituída.
O tratamento não medicamentoso deve ser a opção inicial para a abordagem da
insônia, devendo-se reservar o uso de medicamentos àqueles que não tiveram resultado
satisfatório ou nos quais há urgência para a resposta (FALLOON et al., 2011). Entretanto,
apesar da terapia cognitivo-comportamental ser apontada como o tratamento de escolha
(DOGHRAMJI, 2014), esta é comumente menos utilizada em comparação aos hipnóticos
sedativos benzodiazepínicos e não-benzodiazepínicos (LIMANDRI, 2018).
De forma congruente, considera-se os fatores que influenciam a decisão pelo uso
de benzodiazepínicos, reportados por seis dos dez estudos avaliados. A busca por uma
resolução rápida para a insônia pode favorecer a escolha de determinados fármacos e
desconsiderar efeitos adversos, riscos de tolerância e dependência dos mesmos
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5 CONCLUSÃO
A insônia é uma queixa prevalente nas unidades de Atenção Primária à Saúde e
afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. O seu manejo terapêutico pode
envolver modalidades farmacológicas e não farmacológicas. A abordagem não
farmacológica deve ser, preferencialmente, a escolha inicial. Reserva-se a farmacoterapia
àqueles casos que não atingiram respostas suficientes com a introdução de medidas não
farmacológicas de forma isolada ou nos quais há necessidade de melhora imediata. Entre
as classes de medicamentos, destacam-se os benzodiazepínicos, havendo a recomendação
de que seu uso não ultrapasse um curto período de tempo e que sejam ponderados outros
fatores, como a presença de comorbidades, para a escolha do fármaco a ser prescrito.
Entretanto, percebe-se ainda uma elevada utilização a longo prazo de
benzodiazepínicos para o manejo da insônia dentro do contexto dos cuidados primários à
saúde. Paralelamente, destaca-se a associação entre o uso prolongado de
benzodiazepínicos com prejuízos à cognição, além dos riscos de tolerância e dependência.
Compreende-se a relevância do manejo adequado da insônia na Atenção Primária
à Saúde, tanto pelo prejuízo causado pelo distúrbio quanto pelos riscos presentes a
depender da escolha terapêutica. É necessário capacitar os profissionais e fortalecer a
importância da abordagem holística no cuidado dos pacientes.
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REFERÊNCIAS
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of insomnia: a pilot study. Australian Journal of Primary Health, v. 20, n. 1, p. 103-112,
2014. Disponível em: https://www.publish.csiro.au/py/pdf/PY12021. Acesso em 20 set.
2020.
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https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4871306/pdf/bjgpjun-2016-66-647-
e410.pdf. Acesso em 20 set. 2020.
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17, n. 69, p. 1-10, 2016. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4896036/pdf/12875_2016_Article_469
.pdf. Acesso em 20 set. 2020.
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