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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

Técnico integrado de Informática

Álex Tércio Lopes Xavier


Bruno Pereira de Souza
Maria Clarisse Teixeira Cardoso
Thamires Vitória Teixeira
Thiago Morais Silva

O que são pontos de não retorno das mudanças climáticas.

Pau dos Ferros/RN


2022

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1. O QUE É UM PONTO DE NÃO RETORNO?
Basicamente um ponto de não retorno é quando uma determinada situação
ou estado é atingido e não pode voltar para seu estado de origem. Outro conceito
utilizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, uma
organização que foi criada em 1998, por uma iniciativa do Programa das Nações
Unidas para tratar sobre o meio ambiente, diz que o ponto de não retorno é “O
momento em que as mudanças climáticas não poderão mais serem revertidas.”
Esse termo “ponto de não retorno” vem se tornando cada vez mais frequente no
Brasil nesses últimos anos, pelo fato das previsões científicas que falam sobre a
questão da possibilidade da Floresta Amazônica se tornar um ambiente seco, com
uma vegetação dispersa e rala.( MARTINS, 2021).

2. AÇÕES DESESTABILIZADORAS
Neste trabalho sobre essas ações desestabilizadoras serão abordadas quatro
situações de ponto de não retorno e suas interações. Essas ações acabam surtindo
efeitos que são desestabilizadores para outros sistemas estabilizadores, ou que
ainda não foram compreendidos. Também há a questão da força e número dessas
interações desestabilizadoras, que acabam sendo maiores do que os vínculos não
estabilizadores.

2.1. DERRETIMENTO DE GELO NA GROENLÂNDIA E NA ANTÁRTIDA


OCIDENTAL
Nos últimos anos, o gelo do planeta está derretendo em um ritmo muito
acelerado e, por esse motivo, devemos entender o que está causando esse
fenômeno que está se aproximando de um ponto de não retorno. O causador disso
tudo é o aquecimento global decorrente de vários fatores, em especial, da atividade
humana. O degelo no planeta aumentou muito a partir do século XX, época pós
segunda guerra mundial.
O professor de mudança climática e sistemas globais na Universidade de
Exeter, no Reino Unido, Tim Lenton (2021), explica que observações mostram que a
massa de gelo na Groenlândia está diminuindo num ritmo muito acelerado em razão
do derretimento da superfície, aliado ao desprendimento acelerado dos icebergs.
Segundo ele, existe um estudo que mostra que parte do gelo da Groenlândia está
mostrando sinais de que se aproxima de um ponto de não retorno e isso tudo é
decorrente do aquecimento do planeta. Um outro estudo publicado pela nature
mostra que o derretimento de gelo na Groenlândia já chegou a um ponto
irreversível. Segundo a glaciologista Michalea D. King et al. (2020), estamos
perdendo mais gelo agora do que foi ganho com o acúmulo de neve anteriormente.
De acordo com o estudo, mesmo que o aquecimento global seja freado o
derretimento irá continuar, o que faz com que o nível dos oceanos aumente, em
média, um milímetro ao ano. Em relação ao degelo na Antártida Ocidental, existem

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evidências de que parte da sua plataforma de gelo (a Geleira da Ilha Pine e a
Geleira Thwaites, na região do mar de Amundsen) pode ter passado de um ponto
de não retorno devido aos níveis atuais de aquecimento do oceano e que a perda
dessa parte do gelo pode influenciar em grande parte do resto.
Como vimos anteriormente, a atividade humana é a principal causadora do
aquecimento global, que se dá através da liberação de gás carbônico e gás metano
na atmosfera. O dióxido de carbono (CO2) é emitido, principalmente, pelo uso de
combustíveis fósseis que são: o petróleo, carvão e o gás natural. A emissão de gás
metano (CH4) na atmosfera também aumentou muito com a revolução industrial, e a
maior parte de sua emissão é decorrente da produção de: óleo e gás; atividades
agropecuárias; e aterros sanitários. Segundo Marcos Siqueira Neto et al. (2011), as
alterações realizadas em vegetações nativas pelo ser humano alteram a dinâmica
da matéria orgânica do solo com aumentos na emissão dos gases do efeito estufa.
O derretimento em si ocorre da seguinte forma: com o aumento da
temperatura, ocorre mais incidência de luz solar nas geleiras, e por este motivo, elas
começam a derreter na superfície e isso faz com que a altura do gelo diminua, o que
deixa ele exposto ao ar mais quente que fica nas altitudes mais baixas e isso faz
com que o gelo derreta ainda mais. Outro motivo é que o gelo, por ter a cor branca,
reflete mais a luz solar. Ao derreter, essa água se mistura com a água do mar que
possui vários outros componentes que fazem com que ela tenha uma coloração
diferente, na maioria das vezes, azul escuro. Dessa forma, a água do mar irá, ao
invés de refletir, absorver cerca de 90% da luz solar, o que por si só, impulsiona o
derretimento de gelo nas costas marinhas.
Outro ponto a destacar é que as geleiras que estão intactas a muito tempo podem
ter animais mortos congelados que, por sua vez, possuem gás carbônico. Se essas
geleiras derreterem, elas irão expor esses animais ao meio ambiente e isso irá
causar mais liberação de CO2 na atmosfera, ocasionando ainda mais o aumento da
temperatura do planeta. Portanto, vemos que o aquecimento do planeta está
aumentando mais e mais e, dessa forma, o degelo do planeta também sofre uma
crescente e se aproxima de um ponto onde o recuo é irreversível.

2.2. AMOC
AMOC é a abreviação de Atlantic Meridional Overturning Circulation (em
português, Circulação Meridional do Atlântico), que é um importante sistema de
circulação de águas do oceano Atlântico, que está entre os 2 pólos do planeta.
O seu ciclo consiste basicamente em transportar águas quentes (com a
temperatura de cerca de 1.3 PW) e com alta taxa de salinidade de zonas tropicais
do Oceano Atlântico, da região Sul até o Norte na bacia do Atlântico, onde as águas
vão passando e levando calor para os continentes, conforme a água vai sendo
levada e aquecendo essas regiões, a sua temperatura vai baixando e ela tende a se
tornar mais densa, afundando assim sobre os volumes de água mais quentes,
retornando para o Sul e reiniciando seu ciclo.

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Como dito anteriormente, esse sistema é de extrema importância para o
aquecimento dos continentes que ele passa, pois ele regula o clima através das as
águas que levam calor para essas regiões, impedindo assim, por exemplo, que o
Continente Europeu congele. Ele também é um importante regulador de chuvas que
cai no Brasil.
A AMOC vem demonstrando sinais de enfraquecimento nas últimas décadas,
o principal motivo desta ocorrência se dá ao derretimento de geleiras, liberando
água doce na superfície, que é menos densa que as salgadas, não permitindo que
as águas que resfriaram, fiquem densas o suficiente para afundar. Caso não
tomemos os cuidados necessários para impedir que essa situação se agrave cada
vez mais, a AMOC pode atingir o seu ponto de não retorno, resultando no
congelamento generalizado de todo o Continente Europeu. (Chris A. Boulton et al.,
2014)

2.3. MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AMAZÔNIA


Conforme um estudo realizado por Carlos Nobre et al. , 2019 se cerca de
20% e 25% da floresta amazônica desaparecer, a temperatura e o período da
estação de seca irão aumentar e isso poderá fazer com que a floresta dê origem a
uma vegetação diferente, de savana. Dessa forma, dará origem a um tipo de
vegetação típica de regiões de clima tropical com solos pobres e ácidos e com
período de seca prolongada.
Essa mudança na vegetação ocorre devido a um fator importante: a floresta
Amazônica fornece parte de sua própria chuva. Quando a chuva cai, as raízes das
árvores absorvem parte dessa água e a devolvem para a atmosfera através da
transpiração, onde formarão nuvens e chuvas novamente. Em razão dessa
reciclagem de água, quando parte da floresta tropical desaparece, as chuvas
diminuem, o que prolonga o período de estiagem. Desse modo, a floresta está
perdendo a sua capacidade de reciclar água (NOBRE et al,. 2018).
Na região da Amazônia, está aumentando a taxa de mortalidade de árvores
do clima úmido amazônico, motivo que revela que não está muito longe de um
tipping point (ponto de não retorno). Este ponto seria quando a Amazônia alcançar
um estágio de desmatamento e distúrbios climáticos que não viabilize mais
conservar a cobertura vegetal. Com isso, não vai mais ter a reciclagem de chuva
necessária para a manutenção da floresta (WINDELMANN et al., 2021) É
importante destacar que a floresta tropical é capaz de se adaptar às mudanças das
condições climáticas até certo ponto (SAKSCHEWSKI et al., 2016). Entretanto,
essa capacidade adaptativa pode ser superada se a mudança climática progredir
muito rapidamente (WUNDERLINHl et al., 2020).

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3. POSSÍVEIS INTERCONEXÕES
A Groenlândia está localizada a mais de 8 mil quilômetros da Amazônia e a
mais de 18 mil quilômetros da Antártida, e, mesmo assim, é possível perceber
conexão entre esses pontos de não retorno (WUNDERLING, 2021). Segundo Nobre
(2016), "O sistema terrestre está todo interligado: atmosfera, oceanos, continentes,
vegetação, biodiversidade e ações humanas que interferem no equilíbrio planetário".
Um estudo, realizado por Kriegler et al. (2009), observou que as interações
entre os pontos de não retorno tendem a desestabilizar a rede de elementos. As
calotas polares são consideradas como iniciadoras; o sistema de correntes do
Atlântico como mediador; e a Amazônia como um seguidora dessa cascata.
O manto de gelo da Groenlândia e o manto de gelo da Antártida Ocidental
influenciam um ao outro pelo aumento do nível do mar. Além disso, o rápido
derretimento do gelo na Groenlândia está tornando a AMOC mais lenta, pois ela é
impulsionada pelo afundamento da água salgada e densa do mar, e a água das
geleiras é doce, a qual é mais leve e não afunda. Com o enfraquecimento da
AMOC, podem aparecer irregularidades na temperatura da superfície do mar,
conforme o transporte de calor para o Norte diminui. Dessa forma, o Norte ficará
mais frio e o Sul mais quente. Isso ocasionará diversos problemas como:
aquecimento das plataformas de gelo na Antártida; Furacões mais fortes no norte; e
mudanças sazonais na Índia que causam fortes chuvas (WUNDERLING, 2021;
KRIEGLER et al., 2009).
Ademais, outro problema que é causado pelo enfraquecimento da AMOC são
secas mais extremas, que são provadas pela circulação de Hadley. Na Amazônia a
precipitação da estação chuvosa diminui, enquanto há um aumento da duração da
estação seca e da temperatura. Isso agregado às queimadas e ao desmatamento,
podem provocar a transformação da vegetação da floresta amazônica em savana
(JACKSON et al., 2015; PARSONS, 2014).

4. QUÃO CERTO É QUE ESSAS MUDANÇAS PODEM OCORRER E EM


QUANTO TEMPO?
A hipótese de que pontos de não retorno aconteçam depende do nível de
aquecimento global que o planeta terra alcance (WUNDERLING et al., 2020 b ).
Há diversas diferenças de magnitude e ordem entre os tipping-point. Por
exemplo, para as geleiras da Groenlândia derreter totalmente, levariam vários
séculos ou milhares de anos. Já no caso da Floresta amazônica ou da AMOC, o
tempo é muito menor, na ordem de décadas ou séculos. No entanto, não é possível
determinar com precisão a qual temperatura, ou em quanto tempo, ou como
ocorrerá esses efeitos dominó (WUNDERLING, 2021; KRIEGLER et al., 2009 ).
Ainda que não haja certeza, temos que considerar os pontos de não retorno e
suas possíveis interações como um dos maiores perigos que a humanidade encara,
pois, geralmente, são irreversíveis e seus impactos são enormes (LENTON et al.,
2008 ).

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5. CÚPULA MUNDIAL DE LÍDERES PELO CLIMA 2021

Na Cúpula Mundial dos Líderes pelo Clima, mais de 20 líderes mundiais foram
reunidos, juntamente com outros chefes do estado de Glasgow. Com o propósito de
debater e anunciar suas metas para redução dos impactos ao clima. Dentre essas
metas pode-se citar algumas como:

● A China mostrou seu novo compromisso climático, que tem como objetivo
atingir o pico de emissões de gases até o ano de 2030 e chegar até a
neutralidade de carbono antes de 2060;
● A Nova Zelândia também apresentou um plano climático, que tem como meta
a redução de emissões de gases até 2030.

Dessa forma, no geral, os anúncios que foram feitos pelos países, tiveram um
maior peso na questão das metas do zero líquido. No entanto, já nas metas novas
de curto prazo, foram menos rigorosas. (MOUNTFORD, et al., 2021)

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