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O tratamento e a disposição dos resíduos sólidos gerados

pelos processos de tratamento de águas de abastecimento


têm recebido atenção no Brasil apenas nos últimos anos.

Enquanto nos EUA e em certos países da Europa, o problema


de tratamento e disposição dos resíduos sólidos gerados em
ETAs tem sido estudado extensivamente desde a década de
1970, no Brasil, apenas recentemente, os órgãos de controle
ambiental têm dado importância a seu tratamento e
disposição final.
Uma das grandes dificuldades na escolha de alternativas de
engenharia que contemplem o tratamento de resíduos
gerados em ETAs é a escassez de dados e de bibliografia
nacional a respeito, basicamente porque, no Brasil, poucas
ETAs têm apresentado soluções que objetivem a
minimização da quantidade de resíduos sólidos gerados,
seu tratamento e sua disposição final.
A maior parte das ETAs no Brasil ainda efetua a disposição
de seus resíduos no sistema de drenagem de águas pluviais,
os quais, posteriormente, são direcionados para o corpo
receptor, acarretando assoreamento dos corpos d’água e
problemas estéticos e visuais relevantes.
Novas ETA’s exigem a implantação do tratamento de sua fase
sólida. Entretanto, ainda existem inúmeras ETAs construídas
antes da década de 1990, sem sistemas de tratamento da fase
sólida e cuja implantação é enormemente dificultada.

DESAFIO: solução quanto ao tratamento desses resíduos,


devidos não apenas pela necessidade de implantação de
obras, aquisição de equipamentos e operação do sistema,
mas, também, por seus custos operacionais elevados, bem
como pelas dificuldades impostas na disposição final do lodo.
De modo geral, os resíduos gerados em ETAs podem ser
divididos nas quatro grandes categorias:
• provenientes de processos de tratamento de água visando a
remoção de cor e turbidez, que costumam englobar os lodos
gerados nos decantadores (ou, eventualmente, de flotadores
com ar dissolvido) e a água de lavagem dos filtros.
 ETA’s convencionais
de ciclo completo

• provenientes de processos de abrandamento.


De modo geral, os resíduos gerados em ETAs podem ser
divididos nas quatro grandes categorias:
• provenientes de processos de tratamento não convencionais,
visando a redução de compostos orgânicos presentes na água
bruta, como por exemplo, carvão ativado granular saturado.

• resíduos líquidos gerados durante processos visando a


redução de compostos inorgânicos presentes na água bruta,
tais como processos de membrana (osmose reversa,
ultrafiltração, nanofiltração etc.).
Os resíduos sólidos das ETA’s convencionais costumam
passar por etapas de adensamento e desidratação, a fim de
elevar seus teores de sólidos para valores que permitam seu
manuseio de modo adequado, visando sua destinação final.

Já quanto aos líquidos, devido à baixa concentração de SST e


considerando que seu consumo se situa entre 2% e 5% do
volume de água bruta aduzido por dia, justifica-se, sempre
que possível, o reaproveitamento da água de lavagem dos
filtros pelo processo de tratamento.
As alternativas mais comuns para o adensamento desses
lodos são: adensadores por gravidade, adensadores
mecanizados ou flotação por ar dissolvido.
Os adensadores por gravidade são empregados há bastante
tempo, existindo parâmetros de projeto que possibilitam um
dimensionamento adequado das unidades.
O uso de adensadores do tipo mecanizados é mais recente,
sendo que o sucesso de sua aplicação depende,
fundamentalmente, da escolha de equipamentos de fabricantes
idôneos e de boa reputação no mercado.
Os adensadores por gravidade são, geralmente, de geometria
circular e dotados de sistemas de remoção mecânica de lodos
com operação relativamente simples.
Quando operados de modo adequado, esse tipo de adensador
pode alcançar valores de teor de sólidos no lodo adensado em
torno de 2% a 3%, sendo mais comum algo mais próximo a
2%.
Suas taxas de captura de sólidos tendem a variar entre 85% e
95%, o que permite retornar o líquido clarificado ao início do
processo de tratamento.
Para que a etapa de adensamento possa ocorrer de maneira
satisfatória, é necessário o pré-condicionamento do lodo
com polímero, sendo que as dosagens mais usuais se situam
em torno de 2 a 6 g/kg ST.

Como há uma grande variedade de polímeros disponíveis no


mercado, a definição do produto mais indicado e de sua
respectiva dosagem é função das características do lodo a ser
adensado.
⚫ Lodo de ETA não deve ser lançado in natura em corpos
d’água, devido a possíveis impactos ambientais;
⚫ ETAs que possuem UTR - lodo não é um rejeito e, portanto,
não deveria ser disposto em aterro,
⚫ A Lei 12305/2010 considera o reúso e reciclagem como
prioridades na gestão de resíduos.
⚫ A atual forma de destinação e disposição final do lodo gerado
na grande maioria das ETAs se contrapõe às diretrizes da Lei
12.305/2010
Os lodos gerados pela ETA devem ser destinados para locais
onde o meio ambiente não seja afetado, como lagoas de
tratamento de esgoto e olarias que usam esse material na
fabricação de seus produtos.

Lodo é um Resíduo Sólido – compatível à Lei 12.305/2010


◦ Destinação ambientalmente adequada;
◦ Gestão - Priorizando: redução, reúso e reciclagem.

DESAFIO: diagnóstico atual x Legislação


SST produtos químicos

Coagulação Floculação Sedimentação Filtração Desinfecção


SST
água
bruta Lodo

Tanque de equalização
de AL

Tanque de equalização Lodo


de lodo

Filtrado Filtrado
Adensamento

Filtrado Filtrado
Desidratação

Volume de controle
Torta
 Sólidos gerados devido à precipitação do coagulante na
forma de hidróxido metálico
 Sólidos oriundos da água bruta (argilas, silte, algas, etc...)
 Outros aditivos (CAP, polímeros, etc...)

COAGULANTE ESTADO FÍSICO DOSAGEM (mg/L)


Sulfato de alumínio sólido ou líquido 5 a 100
Cloreto férrico líquido 5 a 80
Sulfato férrico líquido 5 a 80
Coagulantes orgânicos
sólido ou líquido 1a4
catiônicos
 Sólidos gerados devido a precipitação do coagulante na
forma de hidróxido metálico

𝐀𝐥+𝟑 + 𝟑𝐎𝐇− + 𝐧𝐇𝟐 𝐎 → 𝐀𝐥(𝐎𝐇)𝟑 𝐧𝐇𝟐 𝐎

1 mg Al/L corresponde a 4,22 a 5,56 mg lodo/L

𝐅𝐞+𝟑 + 𝟑𝐎𝐇− + 𝐧𝐇𝟐 𝐎 → 𝐅𝐞(𝐎𝐇)𝟑 𝐧𝐇𝟐 𝐎

1 mg Fe/L corresponde a 2,55 a 3,20 mg lodo/L


𝐏𝐋 = 𝐐 × (𝟒, 𝟖𝟗𝐃𝐀𝐥 + 𝐒𝐒 + 𝐂𝐀𝐏 + 𝐎𝐀) × 𝟏𝟎−𝟑

𝐏𝐋 = 𝐐 × (𝟐, 𝟖𝟖𝐃𝐅𝐞 + 𝐒𝐒 + 𝐂𝐀𝐏 + 𝐎𝐀) × 𝟏𝟎−𝟑

PL= produção de lodo seco em kg/dia


Q = vazão de água bruta em m3/dia
DAl = dosagem de sais de alumínio, expresso como Al em mg/L,
DFe = dosagem de sais de ferro, expresso como Fe em mg/L
SS = concentração de sólidos em suspensão totais na água bruta em mg/L
CAP = concentração de carvão ativado em pó em mg/L
OA = outros aditivos em mg/L (sílica ativada, polímeros, etc...)
Valores de taxa de captura de sólidos, TC (%)
Decantadores convencionais e de alta taxa 85% a 95%
Flotadores por ar dissolvido 90% a 95%
Filtros rápidos por gravidade 100%
Adensadores por gravidade 85% a 95%
Adensadores mecanizados 90% a 98%
Leitos de secagem e drenagem 90% a 98%
Unidades de desidratação mecanizadas 90% a 98%
Unidades de desidratação do tipo “bags” 90% a 95%
Teor de Sólidos, TS (%)
Decantadores convencionais e de alta taxa dotados de sistemas de
0,4% a 0,8%
remoção semi-contínua de lodo
Decantadores convencionais e de alta taxa dotados de remoção de
Varável
lodo em batelada
Sistemas de clarificação de água de lavagem 0,4% a 0,6%
Flotadores por ar dissolvido 2% a 3%
Adensadores por gravidade 1,5% a 2,5%
Adensadores mecanizados 2% a 4%
Leitos de secagem e drenagem 30% a 40%
Unidades de desidratação do tipo “bags” 18% a 25%
Unidades de desidratação mecanizadas do tipo centrífugas, filtro
18% a 25%
prensa de esteira ou filtro prensa parafuso
Filtro prensa de placas 28% a 35%
Massa específica do lodo, 𝜌𝑙𝑜𝑑𝑜 (kg/m3)
Decantadores convencionais e de alta taxa dotados de
1.000 kg/m3 a 1.020 kg/m3
sistemas de remoção semicontínua de lodo
Flotadores por ar dissolvido 1.020 kg/m3 a 1.060 kg/m3
Adensadores por gravidade 1.020 kg/m3 a 1.060 kg/m3
Adensadores mecanizados 1.020 kg/m3 a 1.060 kg/m3
Lodo desidratado em leitos de secagem 1.100 kg/m3 a 1.300 kg/m3
Lodo desidratado por meio de equipamentos mecanizados 1.100 kg/m3 a 1.300 kg/m3
Lodo desidratado em “bags” do tipo membrana filtrante 1.100 kg/m3 a 1.300 kg/m3
Ql,a Ql,e
Qs,a
Unidade Qs,e

Ql,lodo Qs,lodo

𝑇𝐶(%) 𝑄𝑠,𝑙𝑜𝑑𝑜
=
100 𝑄𝑠,𝑎

𝑄𝑠,𝑒 = 𝑄𝑠,𝑎 − 𝑄𝑠,𝑙𝑜𝑑𝑜


Ql,a Ql,e
Qs,a
Unidade Qs,e

Ql,lodo Qs,lodo

100. 𝑄𝑠,𝑙𝑜𝑑𝑜
𝑄𝑙,𝑙𝑜𝑑𝑜 =
𝑇𝑆 % . 𝜌𝑙𝑜𝑑𝑜

𝑄𝑙,𝑒 = 𝑄𝑙,𝑎 − 𝑄𝑙,𝑙𝑜𝑑𝑜


Estudo de Caso – ETA CAPIVARI
DADOS DE ENTRADA
Vazão 380 L/s
Turbidez 192 UNT
Coagulante Sulfato Férrico
Dosagem 60,7 mg Fe2(SO4)3/L
Relação SST/Turbidez 1,0
SST 192 mg/L
Outros Aditivos 0,0 mg/L
CAP 13,0 mg/L
Dados de Entrada
Número de filtros 8
Área de cada filtro 14 m2
Carreira de Filtração 32 horas
Velocidade ascensional de água de lavagem 0,70 m/min
Duração da operação de lavagem dos filtros 20 minutos
DADOS DE ENTRADA
Porcentagem de água empregado na lavagem dos
3,5819 %
filtros
Taxa de captura dos sólidos no sistema de filtração 100 %
Taxa de captura de sólidos no sistema de
0%
equalização
Teor de sólidos no lodo da equalização 0,5 %
Massa específica do lodo gerado na unidade de
1.000 kg/m3
equalização
DADOS DE ENTRADA
Taxa de captura de sólidos nos decantadores 90 %
Teor de sólidos no lodo proveniente dos
0,4 %
decantadores
Massa específica do lodo gerado nos
1.000 kg/m3
decantadores
Taxa de captura de sólidos nos adensadores 90 %
Teor de sólidos no lodo proveniente dos
1,8 %
adensadores
Massa específica do lodo gerado nos adensadores 1.020 kg/m3
DADOS DE ENTRADA
Taxa de captura de sólidos no sistema de
95 %
desidratação
Teor de sólidos no lodo proveniente da desidratação 22 %
Massa específica do lodo gerado no sistema de
1.060 kg/m3
desidratação
32.832 m3/dia 1.783,65 kg/dia 36.465,76 m3/dia
426,82 kg/dia 11.062,94 kg/dia 36.465,76 m3/dia
6.303,74 kg/dia
11.062,94 kg/dia

Manancial Coagulação Floculação Decantadores


2.489,16 m³/dia 33.976,60 m³/dia
9.956,64 kg/dia 1.106,29 kg/dia
1.176,01 m3/dia
1.106,29 kg/dia
Equalização Filtração

2.001,09 m3/dia 1.176,01 m³/dia 32.800,59 m³/dia


995,66 kg/dia 0,0 m³/dia 1.106,29 kg/dia 0,0 kg/dia
0,0 kg/dia
Adensamento
488,07 m³/dia Torta
8.960,98 kg/dia
Desidratação
36,50 m³/dia
457,89 m3/dia 8.512,93 kg/dia
448,05 kg/dia 38.695,14 kg/d
Manancial Coagulação Floculação Decantadores

Equalização Filtração

Adensamento

Desidratação Torta
ADENSAMENTO DE LODOS DE ETA’S
• Adensamento por gravidade
• Adensadores mecanizados
• Adensadores do tipo tambor rotativo
• Adensadores do tipo mesa adensadora
PARÂMETROS DE PROJETO DE ADENSADORES
POR GRAVIDADE EM ETA’s E ETE’s
Carga de Sólidos Teor de Sólidos no
Tipo de Lodo
Aplicada (kg/m2/dia) Lodo Adensado (%)

Lodo Primário 100 a 150 5 a 10

Lodo Biológico
20 a 40 2a3
(Lodos Ativados)
Primário mais Lodo
40 a 80 3a7
Ativado
Lodo Biológico
40 a 50 3a6
(Filtros Biológicos)
Primário mais Filtro
60 a 100 5a9
Biológico
PARÂMETROS DE PROJETO DE ADENSADORES
POR GRAVIDADE EM ETA’s E ETE’s

Carga de Sólidos Teor de Sólidos no


Tipo de Lodo
Aplicada (kg/m2/dia) Lodo Adensado (%)
Hidróxidos de
20 a 50 1,5 a 3,0
Alumínio

Hidróxidos de Ferro 20 a 50 1,5 a 3,0

Abrandamento 100 a 150 10 a 30


PARÂMETROS DE PROJETO DE
ADENSADORES MECÂNICOS DE
ESTEIRA EM ETA’s E ETE’s
Largura da esteira Carga Hidráulica Carga Hidráulica
(metros) (L/s) (L/m.min)

1,0 6,0 a 16 380 a 960

1,5 9,5 a 24,0 380 a 960

2,0 12,7 a 32,0 380 a 960

3,0 18,0 a 47,0 380 a 960

Na ausência de dados experimentais, a carga de sólidos deve situar-se entre de


200 a 600 kg/m/h e vazão hidráulica em torno de 800 L/m/min
DESIDRATAÇÃO DE LODOS
DE ETA’s e ETE’s
DESIDRATAÇÃO DE LODOS
DE ETA’s e ETE’s

➢ Redução dos custos de transporte e disposição final


➢ Facilidades para o manuseio do lodo desidratado quando
comparado com lodos adensados
➢ A desidratação é etapa necessária quando considerada a
possibilidade de incineração do lodo
➢ Redução do volume de chorume quando os lodos são
dispostos em aterros sanitários ou aterros industriais
DESIDRATAÇÃO DE LODOS
DE ETA’s e ETE’s
• Desidratação Natural
• Leitos de Secagem
• Desidratação Mecânica
• Filtros Prensa de Esteira
• Centrífugas
• Filtro Prensa Parafuso
• Filtros Prensa de Placas
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
Construção do diagrama de fluxo para avaliação de risco:
todas as etapas e possibilidades devem ser abordadas
DE ETA’s
Gerar um diagnóstico de sua situação atual, em conjunto com
uma avaliação da evolução da ETA ao longo de um tempo de
estudo. Esta avaliação pode ser feita através da:
i) análise de parâmetros hidráulicos reais da ETA e sua comparação
com os estipulados em projeto ou na NBR 12216 (1992);
ii) análise dos processos operacionais da ETA;
iii) análise dos dados de qualidade da água e comparação com as
legislações vigentes, e
iv) cálculo da eficiência de remoção de alguns parâmetros na
decantação e filtração.
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
Construção do diagrama de fluxo para avaliação de risco:
todas as etapas e possibilidades devem ser abordadas
DE ETA’s

Possibilita, ainda, identificar falhas operacionais, de projeto e


no processo de tratamento, fornecendo informações para se
tomar medidas corretivas.

A crescente escassez de água no mundo obriga os


profissionais que atuam nas ETAs a terem um controle maior
das perdas, por meio de ações destinadas a encontrar e
corrigir vazamentos.

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