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A IGREJA CATOLICA É ABARBADA PELA PROSA REALISTA

DE EÇA DE QUEIRÓS EM O CRIME DO PADRE AMARO.

Giliany Viana de Morais1

Héctor Guilherme Silva Freitas1

Leandro Victor Pereira Guimarães1

Naara Vitoria Regis de Oliveira1

Paulo Alberto Regis Neto1

Rodolpho Patrick de Albuquerque Filho1

Raniére Ricardo Fernandes de Andrade Cabral2

RESUMO

“O Crime do Padre Amaro” é uma das obras mais famosas de Eça de


Queirós, escrita no século XIX, em pleno Realismo português, cuja principal temática
era o celibato e a quebra de tal regra pelo jovem padre Amaro. O presente trabalho
tem como objetivo estabelecer uma relação da obra com o realismo especificando e
analisando os aspectos marcantes da obra. Identificamos o contexto em que a obra
se encontra e a crítica transmitida por ela.

1Discente da 2ª série B – Ensino Médio – Sesi Escola – DR/RN – Unidade Mossoró.


2Docente de Língua Portuguesa – Sesi Escola – Ensino Médio – DR/RN – Unidade
Mossoró. Orientador.
O CRIME DO PADRE AMARO

Em Leiria, Portugal, o pároco Jose Migueis morre acometido por um derrame


cerebral. Para substituir o padre Migueis, seria enviado um jovem que acabara de sair
do seminário. O seu nome era Amaro Vieira.

Nos fins de agosto, Amaro Vieira chega em Leiria, sendo recebido pelo
Conego Dias, outrora mestre de Amaro, que se encarregou da recepção do jovem,
que seria alocado na casa S. Joaneira, com quem Dias mantinha uma relação
próxima. No dia seguinte a chegada de Amaro em Leiria, as beatas da cidade foram
na casa de S. Joaneira, curiosas quanto ao novo pároco. Enquanto isso, o padre
encontrava-se com o governante local para apresentar a recomendação do Conde
Ribamar, casado com a filha da Marquesa de Alegro. Os dois passearam pela região
e a noite retornaram à casa da S. Joaneira para jantar.

No jantar, estavam presentes as beatas, avidas para conhecer o novo padre,


Sr. João Eduardo que namorava Amélia e Artur com um violão. Enquanto
conversavam, Amaro tomou conhecimento sobre a Santa da Arregassa, uma mulher
acamada que sempre tinha suas rezas atendidas. Foi durante sua estadia que
conheceu Amélia, uma jovem moça que se tornaria depois sua maior paixão.

Contudo, João Eduardo era um empecilho para Amaro. Isso porque, o senhor
pretendia se casar com Amélia e, além disso, escreveu uma carta que denunciava a
“quebra de valores” de padres e bispos, dentre eles, Amaro, que era ameaçado de ser
entregue às autoridades.

Posteriormente, D. Josefa recebe a visita do Padre. Eles começam a


conversar sobre a escrita do comunicado, Amaro estava empenhado em difamar a
imagem de João Eduardo afirmando que ele não se confessava há 6 anos e para a
salvação de Amélia ela precisava de confessar.

João Eduardo ainda confiante no casamento vai entregar amostras de papel


de parede para Amélia escolher, no entanto quem abre a porta é Ruça, a criada, que
lhe entrega um bilhete escrito pela menina contando sobre o fim do relacionamento.
Ele encontrou Amélia na Rua da Misericórdia e tentou pedir desculpas, mas não
obteve sucesso.
Em outro momento, João Eduardo partiu ao encontro da menina Amélia, que
não estava em casa, então seguiu caminhada até se deparar com os clérigos. Nesse
momento, João afoitou um soco no ombro do Padre Amaro, por conta desses atos, o
escrivão da administração com o cabo de polícia levara ele para a administração, que
não reagiu. No tribunal, entretanto, o discurso de Padre Amaro libera João de toda a
acusação, alegando dar-lhe o benefício do perdão. Mais tarde, toda a cidade estava
situada e debatendo sobre o acontecido, o que não impediu Padre Amaro de seguir
rumo à casa de S. Joaneira, onde se chegaram notícias de que João Eduardo havia
sido banido e excomungado.

Na missa, Dionísia descobre a relação amorosa de Amélia e Amaro. Para


proteger seu segredo, ofertou generosamente meia libra para que ela guardasse
segredo, descobrindo ter uma grande aliada: a dona tinha vivência com romances
proibidos e sugeriu que o casal passasse a se encontrar na casa do sineiro da igreja.
Tio Esguelhas era o sineiro, e para convencê-lo, Padre Amaro disse que necessitava
do espaço para treinar em segredo a menina em algo que ela apresentava ter bastante
vocação: ser freira. Enquanto que para Amélia, a desculpa seria estar indo ensinar o
alfabeto e as orações católicas à filha paralítica do sineiro, Totó.

Num bilhete, Amaro contou sua ideia a Amélia, que concordou. Os encontros
aconteciam até duas vezes por semana: Amélia ensinava algumas lições a Totó e
depois subia para planar sobre os prazeres cárneos com o Padre. Os movimentos dos
dois eram notados pela paralítica, que, com ciúmes, passou a se tornar arisca com a
professora.

Fora da casa, Amélia, que escondia seu desejo por Amaro, visitou a igreja
temente pelos seus pecados e motivações. No entanto, Amaro compartilhava das
mesmas intenções. Em um dado momento, ambos se beijam, mas Amélia o
interrompe.

No outro dia, S. Joaneira estava transtornada e ansiosa devido as constantes


visitas a Totó. Em uma conversa com Cônego, ela pede para que ele visite a paralítica.
Ao observar Totó, contudo, ele descobre pelos relatos da garota a relação amorosa
de Amaro e Amélia. Enfurecido, sai para encontrar o Padre e confrontá-lo. No entanto,
Amaro revela a hipocrisia de Cônego, pois este último tinha um caso amoroso com a
S. Joaneira. Inconformado, mas ciente da verdade, Cônego acata os pedidos de
Amaro e ambos juram manter segredo.

A relação íntima de Amaro e Amélia resultou em uma gravidez. No entanto, a


relação secreta de ambos ainda não poderia ser exposta apesar disso e, dessa forma,
o póncora necessitava agir. Desesperado com o caso que já havia de completar 1
mês, Amaro corre em busca de ajuda para o cônego e este sugere ao padre que case
a moça, mas com outro homem. Mesmo descontente com a provável única solução,
Amaro contém seus ânimos e tenta convencer Amélia, que chora aos prantos. Ainda
assim, Amélia aceita com muita tristeza e ambos juram nunca esquecer das manhãs
felizes de outrora e sempre lembrar dessa relação.

A tristeza de Amaro se tornava evidente ao descobrir a viagem de Amélia e


João Eduardo para o Brasil. Contudo, a gravidez sobrepujava os problemas
emocionais do Padre. Era o momento de iniciar os preparativos para o parto. Para
manter o sigilo, Amaro e Cônego convencem D. Josefa e a S. Joaneira para ajudarem
no “grande plano”: Amélia ficaria meses em um casarão da Ricoça com D. Josefa.

Com a morte de Totó, por recomendações de Cônego, Amaro não foi visitar
Amélia nas primeiras semanas para evitar suspeitas. Enquanto isso, Amélia passava
por uma má experiência na Ricoça. Os sons e barulhos da madrugada chegavam a
deixa-la paranoica. Esse constante desconforto continuou até contar para Abade.
Apesar de descrente das razões e do medo de Amélia, o abade a conforta, alegava
ele que esses fatos se tratavam apenas dos castigos da própria consciência. Esse
consolo que a tempos não sentia, cativou Amélia que o visitara na manhã seguinte.

João Eduardo voltou ao Brasil e vivia na mesma região que Amélia estava
hospedada. Padre Amaro se dirigiu à Ricoça para ordenar a moça que não tivesse
relações com o jovem. D. Josefa não gostava da companhia do abade e se sentia
punida por viver com uma alma impura. Amélia lutava para se livrar de seus pecados.

Com o parto de Amélia, Amaro precisava decidir o que ia ser feito da criança.
Dionísia deu duas possibilidades, amar e cuidar do bebê, ou uma "tecedeira de anjos".
Sentimental com o final de sua gravidez, Amélia já decidira o nome do filho, que seria
Carlos, e desejava poder visitá-lo constantemente. Durante as manhãs recebia o
padre Amaro, de quem exigia cuidados e carinho. À tarde o abade Ferrão surgia e a
garota o indagava sobre João Eduardo, dizendo que se adotasse a criança, casaria
com ele.

Chegou o dia do nascimento. Padre Amaro tomou sua decisão final, contratou
a "tecedeira de anjos" para fazer seu trabalho, com receio que a sobrevivência da
criança pudesse o incriminar. Na hora marcada Amaro esteve em frente à fazenda e
recebeu seu filho nos braços. Num instante o pároco se arrependeu do destino que
daria a criança e entregou a "tecedeira" com ordem de mantê-lo vivo.

Amélia pede pelo seu bebê, entra em pânico, convulsiona. Após horas de
sofrimento, a jovem mãe recebe a extrema unção do abade, falecendo logo em
seguida. No dia seguinte, após uma cerimônia de batismo, Amaro recebeu a notícia
da morte de Amélia. Desolado, o padre decide recuperar seu filho e criá-lo em um
lugar distante. Ao encontrar a tecedeira, descobre que a criança morreu
"naturalmente". Abalado com tantas perdas, padre Amaro resolve viver isolado em
alguma paróquia distante, deixando uma carta ao cônego Dias em que compartilha
seus planos. Ele diz ir a Lisboa visitar sua irmã que estaria doente.

No dia após a partida de Amaro, um cortejo fúnebre leva o corpo de Amélia,


cuja morte é justificada com um aneurisma rebentado. Abade Ferrão procede ao
enterro, que é acompanhado com muita dor por João Eduardo.

Em maio de 1871, em Lisboa, as notícias do massacre da Comuna de Paris


agitam a sociedade. Defensores do proletariado criticam o governo, capitalistas
lamentam a destruição da cidade-luz. No meio de alvoroço cônego Dias chama por
Amaro, que não o via desde sua partida. O padre conta que desistiu de se isolar e
morou na cidade com o apoio do conde Ribamar. Dias relata a normalidade em Leiria.
Ambos conversam sobre os acontecimentos na França, onde vários clérigos foram
fuzilados.

O conde Ribamar participa da conversa, fazendo previsões políticas de


restabelecimento dos poderes conservadores e enaltecendo a situação estável e
próspera de Portugal, cujo sucesso ele atribui grandemente à atuação de sacerdotes
como os que ele tem diante dele.

Nascido em 25 de novembro de 1845, Eça de Queirós é considerado um dos


mais importantes escritores do realismo português e representante da Prosa Realista.
O escritor inovou a prosa realista representando os ideais influenciados pelas
propostas do positivismo e determinismo, junto com a influência de Heine, Michelet e
Victor Hugo. Se distanciando dos ideais românticos, suas obras retratavam
criticamente a conduta da burguesia e a corrupção religiosa. Entre as suas obras a
que mais se destacou foi “O Crime do Padre Amaro” que não só marcou o início do
Realismo em Portugal, como também, chocou a sociedade portuguesa da época e a
igreja católica. “Apoiando-se nas ideias de Proudhon, prega a revolução que se vinha
operando na política, na ciência e na vida social. Para tanto, havia que considerar a
literatura um produto social, condicionado a determinismos rígidos.” (MOISÉS, 2006,
p. 161)

Passado na segunda metade do século XIX, “O Crime do Padre Amaro” sofreu


influência dos ideais racionalistas e cientificistas que serviram de base para os
movimentos anticlericalistas que se desenvolviam em Portugal entre 1860 e 1870. A
nova perspectiva racionalista e materialista direcionou os intelectuais a estudarem os
impactos sociais da industrialização e do liberalismo. Nessa perspectiva, o autor
visava abordar e descrever, criticamente, os problemas sociais da época, passando a
discutir as desigualdades e a opressão sofrida pelo proletariado. A obra teve como
uma das características mais marcantes a retratação de aspectos como a
sexualidade, paixão e contradições existentes nos costumes da esfera clerical. O
romance contem duras críticas a corrupção religiosa e a quebra da regra celibatária.
“A obra caracteriza-se pelo combate ao idealismo romântico que se estabelecia até
então, em prol de uma visão mais crítica da sociedade. Sua versão definitiva foi
publicada em 1880.” (GUIA DO ESTUDANTE, 2018).

Eça de Queiroz criou uma narrativa que problematizava a mera oposição entre
“liberais/progressistas” X “conservadores/reacionários”. Como o conflito entre João
Eduardo e o Padre Amaro: O rapaz percebeu que o interesse de sua noiva pelo jovem
padre ultrapassava a questão religiosa e resolveu realizar um ataque ao padre Amaro
e os demais; por meio do jornal da cidade, enviou uma carta em que se dizia liberal,
criticava os padres, em especial o Amaro e, além disso, desmascara a Igreja Católica.

Deste modo, o livro demonstrou não só a rivalidade das diferentes vertentes


políticas da época seu romance, mas nos levou a pensá-las como partes integrantes
de uma realidade complexa onde surgia os primeiros indícios da quebra de
paradigmas. “O “homem real” e o mundo por ele construído podem ser compreendidos
também por meio das elaborações mentais e dos processos cognitivos de
organização e significação do mundo. (BACZKO, 1985, p.297 apud BRANDÃO&
OLIVEIRA JR, 2014, p.74)

Segundo (ARAUJO (org.), 2017) A premissa da obra evidencia um crime


cometido pelo padre Amaro, a quebra do seu voto de celibato. No decorrer da
narrativa, Amaro se apaixona perdidamente por Amelia e passa a ter um caso secreto
com a mesma. Amaro possuía total ciência de que nunca poderia proporcionar uma
boa vida em família para ela, manchando sua reputação e sua carreira como padre.
Assim podemos perceber que não existia uma autentica vocação, tendo sido
influenciado durante toda a sua vida e não tendo nenhuma opção de escolha. Dessa
forma, o romance ainda ressalta que o dogma relacionado ao celibato não resulta em
nenhuma conclusão, uma vez em que se houvesse, por parte da igreja, medida de
flexibilização da obrigatoriedade do celibato, Amaro poderia assumir Amelia como sua
esposa e o desfecho da história não envolveria uma tragedia.
REFERÊNCIAS

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 10. ed. São Paulo: Cultrix,
2005.

COSTA (org.), Flavia de Araújo. O CRIME DO PADRE AMARO: REFLEXOS DO


CELIBATO NA ATUALIDADE. 4º Congresso de Educação. 3º Seminário de Letras. 3º
Simpósio de Psicologia do Esporte. 2º Diálogos em Psicologia, Educação, Diversidade
e Inclusão. ISSN 2318-759X. 2017. Disponível em:
https://www.fag.edu.br/novo/pg/congressoeducacao/arquivos/2017/O_CRIME_DO_P
ADRE_AMARO_REFLEXOS_DO_CELIBATO_NA_ATUALIDADE.pdf. Acesso em:
19 de maio de 2021.

Crime do Padre Amaro: resumo e análise da obra de Eça de Queirós. Guia do


Estudante, 2018. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-crime-
do-padre-amaro-resumo-e-analise-da-obra-de-eca-de-queiros/. Acesso em: 18 de
março 2021.

DE SÁ BRANDÃO , Marcela; DE OLIVEIRA JÚNIOR, Virgílio Coelho. Por uma estética


da conciliação: O Crime do Padre Amaro e a dinâmica político-social portuguesa
oitocentista. Diálogos , Maringá, v. 18, p. 67-102, 1 dez. 2014. DOI
10.4025/dialogos.v18supl.96. Disponível em:
https://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/33867. Acesso em:
24 dez. 2014.

FRAZÃO, Dilva. Eça de Queirós. Ebiografia, 2020. Disponível em:


<https://www.ebiografia.com/eca_queiroz/L>. Acesso em: 18 de março 2021.

MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2006, p. 161.


Disponível em: https://www.livrebooks.com.br/livros/a-literatura-portuguesa-
massaud-moises-xcqysxj0xn0c/baixar-ebook. Acesso em: 19 de maio de 2021

QUEIRÓS, Eça de. O Crime do Padre Amaro. Portugal: Livraria Internacional de


Ernesto Chardron, 1880 (3.ª versão). 351 p.

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