Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Paulo Martinez - Reforma Agraria-Moderna Paradidático (1997)
Paulo Martinez - Reforma Agraria-Moderna Paradidático (1997)
Empresas de Marília-SP
REFORMA AGRÁRIA
Coleção Polêmica
editora morderna
Coordenação editorial: José Carlos de Castro Preparação de texto: Didier
D.C. Dias de Moraes Capa: foto de Nalr Bencdicto/F4
LWRFSSÀO E ACABAMENTO
ISBN 85-16-00156-3
Sâo Pauto SP Brasil - CEP 03303-904 Vendas e Atendimento: Tel. (0_ _11)
6090-1500 Fax (0_ _11) 6090-1501
www.modema.com.br 2002
Impresso no Brasil
SUMÁRIO
Introdução ........................................................................................... 5
INTRODUÇÃO
Também morre muita gente, de forma violenta, no campo. Mui- tos morrem
por doenças e desnutrição no abandono das secas nordestinas; outros são
mortos nas disputas com grileiros e jagunços; outros perecem nos acidentes
com o transporte precário em caminhões de
boias-frias.
A Igreja Católica está comprometida com uma opção pelos pobres, adotada
na 3.a Conferência Episcopal Latino-Americana (Ceiam), realizada em
Puebla, no México, em 1979. Mas sua condição de grande proprietária e a
falta de hábito de lutar pelos pobres não lhe têm permitido defender um
projeto estruturado com a profundidade e com a extensão que os problemas
agrários requerem.
1. ORIGENS HISTÓRICAS DO
Localização no tempo
Para não remontar a épocas mais distantes nem discutir ideias e programas
que pouco interesse despertam no público, fixamos como ponto de partida
para este estudo a década de 1920.
Essa escolha se justifica por várias razões, das quais se destacam duas. A
primeira delas é que a partir dessa época ocorrem no Brasil movimentos
sociais liderados pela nova classe emergente, a burguesia, composta pelos
capitalistas do comércio, da indústria, dos bancos e outros.
Essa distribuição de terras seria anulada, alguns anos mais tarde, a partir de
1928 e na década de trinta, através de um programa de coletivização da
terra e da produção agrícola na URSS. Mas enquanto durou o modelo
baseado na repartição das terras entre milhões de
Outro exemplo da abundância de terras foi dado pelo governo de São Paulo,
quando da instalação da "Nova República", em 1985, com suas promessas
de reformas efetivas. Imediatamente o governo desse Estado, dirigido por
Franco Montoro, providenciou o tombamento de extensas faixas do litoral
"por motivos ecológicos". Medidas realmente eficazes de proteção do meio
ambiente não foram tomadas, mas as valiosas terras litorâneas ficaram
legalmente protegidas contra qualquer programa de repartição e de
ocupação.
2. A TERRA NA SOCIEDADE
CAPITALISTA MODERNA
BRASILEIRA
Uma das grandes vantagens que a nação oferecia aos investimentos, tanto
aos internos como aos vindos de fora, era a abundância de mão-de-obra
barata e praticamente sem direitos trabalhistas.
Um dos motivos por que a velha sociedade resistia tanto aos projetos de
NlilesoR ocsicna
Fr
de
Foto
lias de aparentados ou agregados. Sob certos aspectos este fato poeria ser
altamente positivo, mas o desfalque que iria causar na disponibilidade de
mão-de-obra é, e sempre foi, inaceitável por todos os ramos da economia.
O segundo aspecto é o de que a indústria brasileira consome excessiva mão-
de-obra. Em razão de os processos industriais utilizarem tecnologias e
instalações em grande parte superadas e até obsoletas, da alta rotatividade
da mão-de-obra praticada pelas indústrias e da seletividade usada na
contratação de operários, a indústria necessita de uma reserva de
trabalhadores muito maior do que o número efetivamente empregado.
4. OS INTELECTUAIS E A
REFORMA AGRÁRIA
Referência especial a esse respeito deve ser feita ao trabalho de Caio Prado
Jr., que com o peso da sua incontestável autoridade intelectual e o seu poder
de divulgação muito contribuiu para a compreensão da questão agrária no
Brasil, com análises, comentários e informações de indiscutível valor,
sobretudo os seus artigos da década de 1960.
Numa de suas análises (v. Sugestões de leitura, à p. 72), Caio Prado Jr.
5. O PROJETO DO GOVERNO
A ideologia do poder
Foi nessa linha de raciocínio que se alicerçou, em grande parte, desde a
década de vinte, a ideologia da classe dominante.
Essa ideologia tem revelado sua eficiência de forma concreta toda vez que
medidas drásticas de transferência ou de aumento de encargos para a
população assalariada e outras categorias de reduzido poder econômico são
adotadas para equilibrar ou aumentar a
Alguns exemplos recentes bastam para ilustrar esse fato. A política salarial
adotada desde 1979, mais ditatorial do que todas as anteriores, cobrou dos
salários a maior contribuição para enfrentar os problemas da dívida externa,
da inflação, do déficit público e da recessão econômica, tudo debaixo da
maior crise de desemprego que o país já conheceu. Após um curto período
de recuperação dos salários em 1985, a implantação do Plano Cruzado em
1986 novamente cobrou dos salários a maior contribuição para garantir o
congelamento dos preços. E os bancos foram compensados por algumas
perdas, através de outros ganhos autorizados e da livre demissão de
funcionários.
Para recuperar prestígio e ser útil ao sistema, a sua “opção pelos pobres”
tinha de se expressar por alguma forma concreta de atuação em favor dos
necessitados.
Não parece correto falar em justiça social quando apenas uma parte dos
trabalhadores viesse a receber lotes de terra, enquanto a maioria estaria
condenada a ser sempre assalariada.
F/ot
ciden
iraN
ed o
Fo '
7. OS PARTIDOS POLÍTICOS E A
REFORMA AGRÁRIA
4F/otcideneBir aN de
Foto
ou 19 milhões de camponeses).
A proposta não esclarece de onde vai sair a terra necessária a todos esses
projetos, uma vez que as desapropriações não seriam suficientes e, ponto
fundamental, de onde vai sair a mão-de-obra exigida pelos
empreendimentos agropecuários e por todos os outros ramos de atividade
econômica.
A classe dominante até o fim da Primeira República, que tem o ano de 1930
como marco principal, mas não definitivo, podia ser chamada uma
“oligarquia agrária”, porque era constituída pelos senhores da agropecuária.
Na atualidade, porém, os donos da agropecuária não formam uma classe à
parte. Eles são membros da mesma classe que domina outros setores da
vida social, como a economia e a política.
O PT e a reforma agrária
Dada a grande similaridade entre elas, não há por que estender-se na análise
da proposta do PT, sendo suficiente salientar algu-
mas poucas diferenças e manter, no essencial, os comentários já feitos
anteriormente.
Quanto ao mais, a proposta não apresenta qualquer inovação, a não ser uma
visão um pouco mais realista do cotidiano e das limitações existentes nos
planos oficiais de reforma agrária.
8. O TRABALHADOR RURAL E A
REFORMA AGRÁRIA
Desapropriação e repartição
e) terras da União.
4F/
akoa
kih
Cleu
Mi
de
Foto
hectares de terra. Sem atrair para o seu convívio outras três ou quatro
famílias, ou contratar mão-de-obra assalariada
— não se sabe de onde nem sob quais condições —, isso não seria possível.
Com base no exposto até aqui podem ser formuladas três conclusões sobre
o projeto de reforma agrária do movimento sindical.
A primeira conclusão é que a reforma agrária está colocada como um fim
em si mesmo, como o objetivo mais importante, ao qual devem subordinar-
se outros objetivos e interesses da nação como um todo e os dos
trabalhadores rurais em particular, como criaturas humanas. A reforma
agrária como meio para atingir outros fins mais altos só aparece vagamente
expressa, sem fundamentação, em reduzido número de proposições e
comentários. Especialmente a juventude trabalhadora, os filhos dos bóias-
frias, não foi considerada em nenhum momento.
O próprio 4.° Congresso dos trabalhadores rurais veio confirmar essa ideia:
ele não foi promovido para resolver os problemas da massa trabalhadora do
campo.
9. A SÍNTESE DO PENSAMENTO
REFORMISTA
Propostas alternativas
ha; Amapá, 5 462 560 ha; Goiás, 3 472 594 ha; Maranhão, 812 632 ha;
Mato Grosso do Sul, 215 828 ha; Paraná, 62 534 ha; Santa Catarina, 17 047
ha; Rio Grande do Sul, 10 958 ha; Acre, 2 869 883 ha.
AGRÁRIA
A linha mestra da economia agrícola tende a ser, cada vez mais, a empresa
rural mecanizada, eletrificada e articulada com outras empresas, em
sistemas fechados de financiamento, abastecimento, processamento e
industrialização ou comercialização da produção.
Um dos motivos por que esse anteprojeto foi duramente criticado pelos
setores mais conservadores da sociedade é justamente por admitir a
possibilidade, embora remota, de desapropriação da empresa rural para fins
de reforma agrária.
Assim, o artigo 336 desse anteprojeto estabelece que serão definidos em lei
complementar os casos em que se permitirá a desapropriação de empresas
rurais mediante prévia indenização em dinheiro.
F/sni
tra
M ac
uJ
de
Foto
nomeados por eles ou eleitos pelo povo, procedem como donos das coisas e
das pessoas, decidindo sozinhos o que é bom para o país.
agrícola
improdutiva e
com
fins meramente
Por ora basta deixar claras nossas opiniões em torno da questão da estrutura
fundiária e do sistema de produção agropecuária, que parecem mais
próximas da realidade.
Nesse sentido foram salientados aqui dois pontos da questão. No primeiro
ponto manifestamos opinião favorável à pequena propriedade, até ao nível
do minifúndio, em determinado número de casos e localizações geográficas.
No segundo ponto salientamos a preferência pela produção extensiva e
intensiva em grande escala.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dessa fusão conciliatória, entre o que era velho e o que deveria ser novo,
resultou um sistema socioeconômico extremamente conservador, dotado de
uma ideologia astutamente liberal, onde as teorias intelectualizadas de
liberdade, progresso, bem-estar etc. seguem caminhos paralelos com a
prática efetiva de procedimentos retrógrados, autoritários e ditatoriais em
todos os níveis de organização da vida econômica, política, social, cultural e
educacional do país.
Compreendendo esse quadro fica mais fácil entender que não acontece a
reforma agrária “ampla e massiva” pretendida por ingênuos reformadores
sociais.
A massa trabalhadora da agricultura
A estrutura agrária, malgrado a sua grande importância e as distorções que
apresenta, é apenas uma entre outras estruturas sobre as quais assenta toda a
vida nacional, com suas virtudes e defeitos.
— para adquirir uma propriedade agrária. Pior do que isso, eles não têm
garantia de emprego, remuneração digna, assistência previdenciária, nem
quase nada do que necessitam para viver decentemente.
Também é preciso reconhecer que esse fenômeno é antigo. Ele tem a idade
do Brasil. Mas a feição do problema que interessa enfrentar e resolver é a
atual, essa que atinge concretamente, a cada dia e nas perspectivas de
existência futura, a população de hoje e as gerações vindouras.
a propriedade fundiária e
a apropriação da
renda,
Já não é mais esse o caso, como querem fazer crer algumas campanhas de
reforma agrária. Hoje, o problema agrário tem o tamanho do Brasil em
extensão territorial e o tamanho de metade do mundo na complexidade das
relações capitalistas de propriedade, de produção, de trocas e
principalmente de controle e uso da força de trabalho existente em milhões
de seres humanos.
Qualquer coisa nesse sentido poderia ter sido ao menos tentada quando o
Presidente Tancredo Neves, ao ser eleito, e depois o Presidente José Sarney,
ao ser empossado, propuseram a celebração de pactos e acordos. As
propostas foram sumariamente rejeitadas sem nem ao menos mobilizar-se e
ouvir-se o povo trabalhador.
SUGESTÕES DE LEITURA
VEIGA, José Eli. O que é reforma agrária. São Paulo, Brasiliense, 1986.