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GESTÃO SUSTENTÁVEL DE

BACIAS HIDROGRÁFICAS:
CENÁRIOS DO BRASIL E DA AUSTRÁLIA

Organização:
Vassiliki Boulomytis
GESTÃO SUSTENTÁVEL DE
BACIAS HIDROGRÁFICAS:
CENÁRIOS DO BRASIL E DA AUSTRÁLIA

Organizadora:
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

1º Edição

2021

1
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - IFSP

Rua Pedro Vicente, 625 – Canindé. São Paulo, SP, CEP: 01109-010
Telefone +55 (11) 3775-4502
https://www.ifsp.edu.br

Elaboração, distribuição e informações:


Editora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - EDIFSP

Coordenação:
Rubens Lacerda de Sá

Organização:
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Autores:
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis, Cristina Elsner de Faria, Iara Bueno Giacomini, Janice
Peixer, Antonio Carlos Zuffo, Urânia Tuan Cardozo, Luiza Ishikawa Ferreira, David Hamilton,
Gabriela Sponchiado Hein, Carmen Regina Mendes de Araújo Correia, Thalita Panegassi
Caporali, Ashantha Goonetilleke, Evanilde Benedito, Luciene Pimentel da Silva, Zaki Shubber,
Nick R. Bond, André Luís Sotero Salustiano Martim, Andreia Isaac, Denise Maria Elisabeth
Formaggia, Giane Cendron, Jaqueline Gil, Karoline Victor Serpa, Larissa Corteletti da Costa,
Matheus Maximilian Ratz Scoarize, Rafaela Faria e Yara Moretto

Revisão:
Cíntia Zorattini, Luís Cláudio Prudente Cicci e Marcelo Rosa Hatugai

Tradução:
Marina Pereira Pires de Oliveira

Pareceristas:
Adriana Marques, Bruno Franco de Souza, Ricardo Luiz Mangabeira e
Ruan Larisson Toninatto Vilela

Colaboração:
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – Câmpus Caraguatatuba,
Embaixada da Austrália no Brasil e Aliança Tropical de Pesquisa da Água
(TWRA, do inglês, Tropical Water Research Alliance)

Projeto gráfico, diagramação e finalização:


Ary Almeida Normanha, Carlos José Takachi e Jun Ilyt Takata Normanha

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Elaborada por Elis Regina Alves dos Santos – CRB 8/8099

Gestão sustentável de bacias hidrográficas : cenários do Brasil e da Austrália [recurso


eletrônico] / Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis, organizadora.
São Paulo, SP : EDIFSP, 2021
176 p. : il.
Publicação eletrônica.
ISBN 978-65-5823-072-4
1. Bacias hidrográficas. 2. Sustentabilidade. 3. Gestão dos recursos hídricos.
I. Boulomytis, Vassiliki Terezinha Galvão. II. Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de São Paulo (IFSP)
CDD 551.48
(23.ed.)

Este trabalho está licenciado sob uma Licença Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional
Para ver uma cópia desta licença, visite https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/legalcode.pt

2
SUMÁRIO

PREÂMBULOS 7
INTRODUÇÃO 11
1 ÁGUA E SOCIEDADE 15
1.1 Introdução à gestão dos recursos hídricos no Brasil
1.2 Importância dos Comitês de Bacias Hidrográficas
1.3 Panorama dos recursos hídricos no Brasil
1.4 Estruturação da gestão dos recursos Hídricos no Brasil
1.5 Participação social na gestão das águas
1.6 Educação ambiental na gestão das águas
1.7 Inovação social e trilha para a sustentabilidade

ESTUDO DE CASO: PROJETOS, PROGRAMAS E SISTEMAS PARA A


IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SUBSÍDIO À GESTÃO
DOS RECURSOS HÍDRICOS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

2 PLANOS PARA A GESTÃO DOS RECURSOS


HÍDRICOS 36
2.1 Contextualização histórica da gestão hídrica do Brasil
2.2 Instrumentos de gestão dos recursos hídricos
2.3 Gerenciamento versus planejamento dos recursos hídricos
2.4 Estratégias de planejamento dos recursos hídricos

3
3 GESTÃO DE CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA 53
3.1 Definição no contexto hídrico
3.2 Relevância da gestão de conflitos pelo uso da água
3.3 Principais causas de conflitos pelo uso da água
3.4 Conflitos como janela de oportunidades
3.5 Ciclo de vida dos conflitos
3.6 Ferramentas para análise de conflito
3.7 Gestão de conflitos na prática
3.8 Solução de conflitos pelo uso da água no Brasil
3.9 Dicas valiosas para a gestão de conflitos pelo uso da água

ESTUDO DE CASO: GESTÃO DE CONFLITOS HÍDRICOS NA


BACIA DE MURRAY-DARLING, AUSTRÁLIA
O aumento da demanda da água
A necessidade de reforma hídrica
Conflitos atuais na bacia
Impactos futuros das mudanças climáticas
Lições aprendidas

4 SEGURANÇA HÍDRICA 79
4.1 Definição de segurança hídrica
4.2 Paradigma do conceito de segurança hídrica
4.3 Impactos da escassez hídrica na sociedade
4.4 A segurança hídrica e o desenvolvimento social e econômico
4.5 Cidadania hídrica
4.6 Formas de aprimorar a segurança hídrica
4.7 Plano nacional de segurança hídrica

ESTUDO DE CASO: MODELO DE PRIORIZAÇÃO DE INVESTIMENTO EM


INFRAESTRUTURA VERDE DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA

4
5 GESTÃO URBANA DAS ÁGUAS 96
5.1 Ocupação desordenada e contaminação hídrica
5.2 Abastecimento de água para as áreas urbanas
5.3 Propriedades da água para cada tipo de consumo
5.4 Integração de políticas públicas para gestão hídrica e urbana

ESTUDO DE CASO: MANEJO DE RECURSOS HÍDRICOS URBANOS


NA AUSTRÁLIA

6 ESPÉCIES INVASORAS NOS ECOSSISTEMAS


AQUÁTICOS 113
6.1 Ecossistemas aquáticos
6.2 Introdução de espécies
6.3 Invasões biológicas
6.3.1 Impactos das espécies invasoras
6.3.2 Ações mitigadoras para a invasão biológica

6.4 Preservação e conservação


6.4.1 Ecossistemas terrestres e aquáticos
6.4.2 Recuperação e revitalização
6.4.3 Mata ciliar: importância e revitalização
6.4.4 Ações de revitalização das bacias hidrográficas
6.4.5 Monitoramento
6.4.6 Compromissos assumidos pelo Brasil

7 BIOINDICADORES 126
7.1 Tipos de bioindicadores
7.1.1 Microrganismos
7.1.2 Protozoários ciliados
7.1.3 Algas
7.1.4 Macroinvertebrados bentônicos
7.1.5 Macrófitas aquáticas
7.1.6 Peixes

5
7.2 Ferramentas de bioindicação
7.2.1 Índices
7.2.2 Medidas de diversidade funcional
7.2.3 Índices multimétricos

ESTUDO DE CASO: COMPREENDENDO A QUALIDADE DA ÁGUA


PARA ARMAZENAGEM EM NÍVEIS BAIXOS OU VARIÁVEIS

8 ARTICULAÇÃO DE ATORES E COMUNICAÇÃO


SOCIAL 139
8.1 Análise e categorização de atores políticos
8.2 Jogo de interesses nos processos de tomada de decisão
8.3 A colaboração e o poder da ação coletiva

ESTUDO DE CASO: ARTICULAÇÃO ENTRE PRODUTORES,


UNIVERSIDADES E EMPRESAS EM SHARK BAY NA AUSTRÁLIA

8.4 Comunicação e ações conjuntas entre a universidade e


a comunidade

ESTUDO DE CASO: COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTOS PARA A


TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL NO GRUPO SOS RIACHOS

8.5 Instrumentos para comunicação – capacitações,


cartilhas e mídias sociais
8.6 Disseminação de conhecimento e participação da
comunidade

ESTUDO DE CASO: PLÁSTICOS DESCARTÁVEIS E SEU IMPACTO NA


BIODIVERSIDADE - O TURISMO COMO GERADOR DE POLUIÇÃO OU
CATALISADOR DE TRANSFORMAÇÕES PARA A SUSTENTABILIDADE?

ESTUDO DE CASO: MOSTRA ARTÍSTICA VIRTUAL “OLHAR DO JOVEM


CUIDADOR DAS ÁGUAS”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 158


Referências dos textos e figuras

Referências dos QR codes

6
PREÂMBULO PELA COORDENADORIA DE RECURSOS
HÍDRICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO

O
conceito de gestão de recursos hídricos é recente no Brasil e vem sendo conso-
lidado desde meados da década de 1980. Até então, o planejamento se dirigia
principalmente às iniciativas setoriais voltadas ao aproveitamento dos recursos
hídricos, dando ênfase às audaciosas obras de engenharia.
Neste cenário, a gênese do modelo de gestão vigente no país deu-se a partir de um
conflito de uso na metrópole paulista, envolvendo a operação do sistema hidráulico
do Alto Tietê, composto basicamente de um reservatório na serra do mar (atual represa
Billings) e do canal retificado do rio Pinheiros, que reverte parte da vazão do rio Tietê
até a Billings para aproveitar a queda de 700 m, e assim gerar energia na Usina Henry
Borden. Por décadas, a oferta de energia garantiu a industrialização e urbanização da
região, porém, a ocupação desordenada e a falta de saneamento levaram à poluição
acelerada dos rios e da represa Billings em níveis alarmantes nas décadas de 60 e 70.
Este conflito fomentou o Acordo entre o Ministério de Minas e Energia e o Governo
do Estado de São Paulo. Inspirado no modelo francês de gestão de recursos hídricos,
implantado em 1964, criou o embrião do primeiro Comitê de Bacias do Brasil, em
1976, na região do Alto Tietê. O modelo foi adaptado e replicado em outras bacias e
discussões nacionais, em meados dos anos 80, levaram à proposição do Projeto de Lei
que originou a Lei nº 9433/1997, consolidando os princípios, diretrizes, instrumentos e
arranjos institucionais da moderna política nacional de recursos hídricos, que até hoje
segue sendo aprimorada sob a égide da participação, integração e descentralização.
Essa obra faz parte do esforço acadêmico de clarear os conceitos fundamentais para
a adequada compreensão da gestão hídrica e se revela como literatura recomendada
para aqueles que desejam conhecer ou fazer parte da gestão dos recursos hídricos.
Embora a gestão de recursos hídricos seja, por definição, transversal, implicando na
visão holística e na articulação de políticas públicas para garantir o uso sustentável das
águas, a adjetivação da gestão como sustentável se justifica por identificar pontos re-
levantes e atuais, que nem sempre são lembrados nos processos de tomada de decisão.
O esforço dos autores em entregar cuidadosa pesquisa, organizando as informações de
forma didática, precisa ser aproveitado, pois a apropriação do conhecimento sistema-
tizado qualifica a participação.
Desejo que todos possam aproveitar os conteúdos do livro, os quais são aplicáveis às
diferentes peculiaridades das bacias hidrográficas de nosso país.
Eng. Rui Brasil Assis
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo
Coordenador de Recursos Hídricos

7
Preâmbulo

PREÂMBULO PELA ALIANÇA TROPICAL DE PESQUISA


DA ÁGUA

E
sta obra é fruto do projeto de extensão “Práxis Educativa na Gestão Sustentável
dos Recursos Hídricos”, no contexto do Edital IFSP PRX Nº196 e da interação
de diversos profissionais brasileiros e australianos com apoio da Embaixada da
Austrália no Brasil e da Associação Aliança Tropical de Pesquisa da Água.
As reflexões aqui trazidas estabelecem a gestão como a base para a solução de pro-
blemas relativos aos recursos hídricos. O Brasil tem notória dificuldade de estabelecer
gestões eficientes na iniciativa pública, que pode ser demonstrada pelas diversas “crises
hídricas” espalhadas em todo o território, bem como “apagões de luz” decorrentes
da matriz energética brasileira ser majoritariamente dependente da disponibilidade
hídrica. No entanto, o problema de gestão não é exclusivamente público, basta citar
as inúmeras barragens em risco de rompimento em todo o território, que colocam em
alerta as nossas bacias hidrográficas, como ocorrido nos acidentes de Brumadinho (Rio
Paraopeba - afluente da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco) e Mariana (Bacia
Hidrográfica do Rio Doce).
Vale lembrar que o homem, como indivíduo e cidadão, também é responsável por este
sistema, e assim, tem a obrigação de cobrar dos responsáveis, cuidar daquilo que lhe
compete e compartilhar racionalmente as suas demandas e soluções. No entanto, fica
evidente a necessidade de conhecimento e educação da população. Diante disso, a
produção deste livro trás inúmeras reflexões constituídas por diversas áreas do conhe-
cimento que qualificam esta obra com uma perspectiva transdisciplinar para a solução
dos problemas relacionados à água. Além disso, tentar cumprir a missão de iluminar
as mentes para mudar a realidade de nossa sociedade e estimular o aprimoramento
do sentimento humano pelo respeito ao bem comum. Assim, um livro construído
por muitas mãos guiadas pela troca da experiência e doação de seu saber, leva com
generosidade aos leitores, a possibilidade de aprimoramento e o esclarecimento sobre
as consequências dos impactos ambientais sobre as bacias hidrográficas. Além disso,
aponta caminhos e soluções através do compartilhamento de experiências na tentativa
de um diálogo democrático e plural sensibilizando desde crianças aos mais experientes
de que não há mais tempo para começar a pensar em novos horizontes.
Em nome de todos os pesquisadores da TWRA parabenizo a todos os autores pelo
exemplo de coragem, dedicação e amor expressado em cada capítulo deste trabalho,
que só traz orgulho e estímulos para novas obras inspiradoras como esta. Que todos os
leitores possam se inspirar nos conhecimentos trazidos para transformarmos a nossa
sociedade e consequentemente, um país mais equilibrado para a construção de um
desenvolvimento sustentável.
Prof. Dr. José Francisco Gonçalves Jr.
Fundador e Presidente da TWRA

8
Preâmbulo

PREÂMBULO PELA EMBAIXADA DA AUSTRÁLIA


NO BRASIL

A
Austrália e o Brasil compreendem a importância da água para garantir a segu-
rança, a prosperidade e o estilo de vida de seus cidadãos. Como grandes produ-
tores de energia, contamos com a água para manter as luzes acesas nas casas
e as indústrias em produção. Como grandes exportadores agrícolas, dependemos da
água para cultivar grãos, vegetais e proteína animal necessários para colocar alimentos
nos pratos de uma crescente população global.
Ambos os países também estão na linha de frente para o enfrentamento das mudan-
ças climáticas. Temos desafios comuns relacionados à água ao lidar com os efeitos de
secas, enchentes e outros eventos climáticos extremos. Se quisermos preservar nossos
recursos hídricos, e tudo o que deles depende para as gerações futuras, a cooperação
internacional e o compartilhamento de conhecimento são essenciais.
Reconhecendo a centralidade de executar ações colaborativas para enfrentar os desa-
fios relacionados aos recursos hídricos, os governos do Brasil e da Austrália renovaram
recentemente seu Memorando de Entendimentos bilateral sobre Cooperação na Área
de Gestão da Água. O Memorando fornece um arcabouço importante para fomentar
a cooperação técnica entre ambos os países em temáticas relacionadas à escassez de
água e à gestão eficiente dos recursos hídricos.
O Memorando já trouxe resultados tangíveis, incluindo o apoio para o estabeleci-
mento da Aliança Tropical de Pesquisa da Água (TWRA) no Brasil, com o objetivo de
promover conexões entre acadêmicos e pesquisadores brasileiros e australianos. Outro
resultado é o projeto “Práxis Educativa na Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos”
implementado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo
(IFSP), Câmpus Caraguatatuba, pelo qual foi ofertado o curso de formação à distância
“Problemas e Soluções para Gestão de Bacias Hídricas”. Para a produção e publicação
deste livro “Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas”, a participação do IFSP, Câm-
pus Caraguatatuba, e da TWRA foram fundamentais.
A Embaixada da Austrália no Brasil tem orgulho de apoiar esta iniciativa, motivo pelo
qual parabenizo a todos os pesquisadores envolvidos. Seus esforços são uma contri-
buição importante para aprimorar a gestão dos recursos hídricos em ambos os países
e um marco para o relacionamento Brasil-Austrália.
Timothy Kane
Embaixador da Austrália no Brasil

9
Foto: Tourism Australia

Rio Burketown e pântanos de Queensland, Austrália.

10
Introdução

O
presente livro é fruto de um projeto colaborativo desenvolvido entre professores,
pesquisadores e demais profissionais comprometidos com a gestão eficiente dos
recursos hídricos. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São
Paulo (IFSP), com o apoio da Embaixada da Austrália no Brasil e da rede de pesquisa-
dores brasileiros e australianos do Tropical Water Research Alliance (TWRA), concebeu
em 2020 o projeto de extensão “Práxis Educativa na Gestão Sustentável dos Recursos
Hídricos”, no contexto do Edital IFSP PRX Nº196. O projeto foi coordenado pela Profa.
Dra. Vassiliki T. G. Boulomytis com a colaboração da equipe formada pela Profa. Dra.
Janice Peixer, Prof. Dr. Leandro C. de L. Peixoto, Prof. Me. Marcelo Hatugai, Prof. Me.
Mauro R. Chaves, Prof. Esp. Renan Mendes e Profa. Me. Vivian A. de Oliveira. Como
alunos e alunas bolsistas do IFSP Câmpus Caraguatatuba (CAR) participaram do proje-
to: João Victor G. Chagas, Lucas P. Stoppa, Michael P. R. de Souza, Rafael F. de Morais,
Thalita P. Caporali e Urânia T. Cardozo.
Por meio do projeto foram promovidos 13 webinários intitulados “Desafios para a Ges-
tão Sustentável de Bacias Hidrográficas”, que contou com a participação de mais de
50 palestrantes brasileiros e australianos. O ciclo de webinários compôs parte do curso
EaD “Problemas e Soluções para a Gestão de Bacias Hidrográficas”, que foi ofertado
para 80 alunos, entre eles diversos membros de Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs)
de todo o Brasil.
Assim, esse livro sistematiza os principais debates técnicos e as boas práticas de gestão
das águas discutidas no projeto. O objetivo é compartilhar boas práticas e disseminar
conhecimento para subsidiar os processos de tomada de decisão dos membros de
CBHs de forma sustentável e participativa.

A Água e os Comitês de Bacias Hidrográficas


A água é um recurso essencial para a manutenção da vida. Todavia, equilibrar o uso
da água para as diversas finalidades é um grande desafio. Os conflitos decorrentes do
uso da água são históricos, porém tornam-se mais evidentes em regiões com menor
disponibilidade hídrica e maior desigualdade social.
Uma gestão descentralizada, participativa e representativa é a chave para a o uso cons-
ciente da água e para a prevenção e resolução de conflitos. Com o intuito de conceber

11
Introdução

um ambiente colaborativo para a formulação de políticas públicas para a gestão dos re-
cursos hídricos, desde a década de 1980 foram criados os CBHs. Os membros dos comitês
são responsáveis por discutir e avaliar os reais interesses e demandas pelo uso das águas.
Dessa forma, é indispensável conhecer e discutir questões técnicas, sociais, políticas,
econômicas, ecológicas e culturais para subsidiar os processos de tomada de decisão.
Conhecer a evolução das ferramentas utilizadas para a gestão dos recursos hídricos; as
formas de gerir os conflitos pelo uso da água; os desafios encontrados para obter segu-
rança hídrica, com foco especial para a gestão das águas urbanas; as particularidades dos
ecossistemas aquáticos; e as práticas para a condução de diálogos construtivos à rotina
dos Comitês de Bacias Hidrográficas são alguns dos assuntos explorados nesse livro.

Colaboração em Rede e Parcerias Internacionais


Para a implantação do projeto e posterior elaboração do livro, a equipe do IFSP CAR
contou com a colaboração de pesquisadores brasileiros e australianos, entre eles mui-
tos membros da TWRA. A TWRA é uma aliança entre pesquisadores, profissionais e
acadêmicos do Brasil e da Austrália que visa buscar soluções para os problemas rela-
cionados à água em ecossistemas tropicais.
O projeto também foi apoiado pela Embaixada da Austrália no Brasil que, por meio do
Departament of Education, Skills and Employment (DESE) e do Departament of Foreign
Affairs and Trade (DFAT), dedicou tempo e recursos para a execução das atividades e
sistematização dos resultados alcançados. Também é importante ressaltar o trabalho
voluntário dos professores, autores, ilustradores e colaboradores, que contribuíram
com um olhar crítico sobre os temas analisados e ajudaram na identificação de boas
práticas utilizadas no Brasil e na Austrália.

Apresentação do Livro
O livro “Gestão Sustentável das Bacias Hidrográficas” materializa o conhecimento e a
sinergia entre pesquisadores brasileiros e australianos, com o intuito de refletir sobre
problemas comuns, causas e possíveis soluções. A proposta é propiciar aos membros dos
CBHs o conhecimento básico essencial para participar de processos coletivos de tomada
de decisão, representando sua comunidade de forma efetiva, democrática e transparente.
Pensando nas temáticas abordadas pelos CBHs, o livro foi estruturado em 8 capítulos que
tratam de assuntos técnicos e metodologias para gestão das águas. O primeiro capítulo
discute sobre os conceitos básicos de gestão dos recursos hídricos, a importância dos CBHs
para as tomadas de decisão e a necessidade de ações de educação ambiental para disse-
minação de conhecimento na sociedade. O segundo capítulo contextualiza a história da
gestão dos recursos hídricos no Brasil e apresenta os instrumentos a serem utilizados pelos
membros de CBHs para fins de gerenciamento e planejamento das águas. No terceiro capí-
tulo são apresentados os desafios para a gestão de conflitos pelo uso da água, com várias
técnicas sugeridas para resolução dos mesmos. O capítulo 4 explana sobre a segurança
hídrica necessária para o atendimento de todas as demandas ao uso da água. A gestão
das águas urbanas é tradada no capítulo 5, mostrando a problemática do uso e ocupação

12
Introdução

irregular do solo, além das possíveis soluções para minimizar os impactos no bem estar das
comunidades e na qualidade dos ecossistemas aquáticos. Os capítulos 6 e 7 discutem sobre
as espécies invasoras e os indicadores biológicos dos ecossistemas aquáticos, respectivamen-
te. Primeiramente, são relatados os tipos das espécies invasoras comumente encontradas
nas águas e os impactos que elas podem representar ao meio. No capítulo conseguinte, os
bioindicadores são apresentados como forma de indicar o padrão de qualidade das águas.
No oitavo e último capítulo, são apresentadas diversas formas de promover a articulação
entre os diferentes atores, que ocorrem por meio de ações colaborativas e de uma comuni-
cação eficaz para o acesso à informação e sensibilização das comunidades.
O padrão inovador do livro, com o uso de “QR codes” (códigos de resposta rápida, do
inglês, Quick Response), possibilita ao leitor o acesso a diversos materiais disponibilizados
gratuitamente online, de forma a se aprofundarem nos assuntos de maior interesse.
A riqueza de figuras visa mostrar o contexto real de cada um dos assuntos abordados ao
longo do livro, além de cenários deslumbrantes do contexto hídrico do Brasil e da Austrália.
A disponibilização do livro digital gratuito nos sites institucionais dos colaboradores é um
exemplo de prática sustentável, promovendo também o acesso ilimitado ao conhecimento.
Por fim, esperamos que este livro auxilie no trabalho dos membros de CBH, enrique-
cendo o debate sobre o uso consciente da água e facilitando o intercâmbio de soluções
e boas práticas para a gestão dos recursos hídricos.
Boa leitura!
Foto: Tourism Australia

Horseshoe Bend Strahan, Tasmânia, Austrália.

13
Foto: Anderson Souza

Barragem de Sobradinho, Sobradinho, BA, Brasil


1 Água e Sociedade

1.1 INTRODUÇÃO À GESTÃO DOS RECURSOS


HÍDRICOS NO BRASIL

A
Carmen Regina Mendes de Araújo Correia
Luciene Pimentel da Silva
Urânia Tuan Cardozo
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

água é um recurso essencial para a manutenção da vida. Por isso, os conflitos


pelo uso da água têm sido históricos e mais evidentes nas regiões com maior de-
sigualdade social. Portanto, quanto maior a participação da comunidade, mais
igualitária e eficiente será a gestão das águas e a resolução de conflitos.
Foto: Rogério Ribeiro Marinho

Crianças na terra indígena do Alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, AM, Brasil.

15
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

A Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) e o Conselho Nacional de Recur-


sos Hídricos (CNRH) integram o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos
Hídricos (SINGREH). Após o fim do regime militar, a Constituição de 1988 marcou o
início dos processos democráticos e participativos no País. Esses processos também
sofreram influência de uma tendência internacional no final da década de 1970, o
que resultou em avanços nas questões ambientais, inclusive das águas. O SINGREH e a
Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foram instituídos nesse contexto, com a
promulgação da Lei das Águas (Lei nº 9.433/1997) que substituiu o Código das Águas
de 1934. A PNRH estabeleceu que a gestão seja realizada por unidades territoriais
constituídas por bacias hidrográficas, de forma participativa e integrada, considerando
os aspectos de quantidade e qualidade das águas.
A partir da PNRH, o domínio das bacias passou a ser federativo para os casos em que
a trajetória dos rios percorresse mais do que um estado, nos quais leis com objetivos
semelhantes aos da Lei nº 9.433/1997 foram constituídas. Assim, à semelhança do
CNRH, foram estabelecidos os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos (CERHs).
A ANA (antes denominada Agência Nacional de Águas) teve suas competências am-
pliadas desde 2020. A agência também passou a ser responsável pela instituição das
normas de referência para regulação dos serviços públicos de saneamento básico, por
meio da Lei nº 14.026/2020, a partir da efetivação do novo marco de saneamento. A
ANA é uma autarquia sob regime especial, com autonomia administrativa e financeira.
Em 2019, passou a ser vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
O MDR substituiu o extinto Ministério da Integração Nacional a partir de janeiro de
2019 e também agregou o extinto Ministério das Cidades.

CNRH CERH CONSELHOS

Governo
MDR SNSH GOVERNOS
Estadual
Fonte: ANA (2020)

Órgão ou ÓRGÃOS
ANA Entidade GESTORES
Estadual

Comitê FÓRUM DE
de Bacia DEBATES

ESCRITÓRIO
Agência TÉCNICO
de Água

Matriz Institucional dos integrantes do SINGREH.

16
Água e Sociedade Capítulo 1

Para a formulação da PNRH, além da ANA, das agências estaduais e dos conselhos, o QUADRO 1-01
SINGREH conta também com as agências de bacias hidrográficas e seus respectivos
Comitês de Bacia Hidrográfica (CBHs). As agências se articulam com os comitês, que, Vídeo “CBH:
junto com o CNRH e CERH, constituem os organismos colegiados onde é institucio- O que é e o
nalizada a participação social. Os CBHs são grupos colegiados formados pelos setores que faz?”
usuários da água, da sociedade civil e do poder público.

1.2 IMPORTÂNCIA DOS COMITÊS DE BACIAS


HIDROGRÁFICAS
Foi estabelecido que os membros dos CBHs devem discutir e avaliar os interesses reais
e distintos sobre o uso das águas e têm papel fundamental na elaboração das polí-
ticas de gestão hídrica, sobretudo em regiões com problemas de escassez hídrica ou
má qualidade da água. Dessa forma, é essencial que os membros dos CBHs tenham
conhecimento, sob perspectivas inter e transdisciplinares para a gestão integrada dos
recursos hídricos, as quais não se limitam aos aspectos físicos da água (qualidade e
quantidade), mas também incorporam e transpassam os aspectos sociais, políticos,
econômicos, ecológicos e culturais.
Foto: Tourism Australia

Lago Eacham, Atherton Table, QLD, Austrália.

Os membros dos CBHs representam o poder público e a sociedade civil, mas nem
sempre são especialistas na área de recursos hídricos. Por outro lado, também há
membros que são especialistas focados em um único aspecto da água, desconsideran-
do os demais que são igualmente relevantes para a discussão. Assim sendo, para que
ocorra uma gestão participativa eficiente, torna-se necessário que as diferentes áreas
de conhecimento, dimensões de gestão e escalas espaço-temporais sejam considera-

17
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

das. Além de gerir no âmbito de suas competências e áreas de atuação, os membros


dos CBHs devem acompanhar eventos não previstos em seus planejamentos, como por
exemplo, as consequências das mudanças climáticas e dos eventos extremos.
O processo de capacitação e atualização direcionado aos membros dos CBHs é to-
talmente amparado pela importância da sua atuação e pelo impacto que pode ser
causado por tomadas de decisão que não considerem a totalidade dos aspectos rela-
cionados aos recursos hídricos. Tomadas de decisão equivocadas podem comprometer
a sustentabilidade das bacias hidrográficas e, consequentemente, comprometer a im-
plementação da PNRH.
Outro fator importante é que o processo de participação nos CBHs deve ser democrá-
tico e, portanto, muito dinâmico, com a possibilidade de atuação de diferentes mem-
bros da comunidade ao longo do tempo. Isso justifica a necessidade de uma ampla
discussão sobre os desafios referentes à gestão das águas, em um processo de conhe-
cimento colaborativo, articulado, continuado e permanente. Esse processo deve contar
com a representação efetiva dos diferentes grupos da comunidade, destacando-se os
jovens, que vêm a evidenciar o seu pertencimento na sociedade e potencializar ações
positivas de intervenção no ambiente.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Palestra do IFSP sobre alagamentos para os jovens da zona sul de Caraguatatuba, SP, Brasil.

1.3 PANORAMA DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL


O Brasil tem água em abundância. Aproximadamente 12 % das reservas de água do
Planeta estão no País. No entanto, processos associados ao ciclo natural da água e as
demandas pelo uso da água não são uniformes. Dessa forma, a situação dos recursos
hídricos no Brasil vem chamando atenção nos últimos anos pela degradação da quali-
dade das águas dos rios, sobretudo nas cidades e regiões metropolitanas.
O crescimento desordenado das áreas urbanizadas e de suas populações interfere no
ciclo natural da água, devido à ocupação irregular de áreas ribeirinhas, redução das

18
Água e Sociedade Capítulo 1

áreas permeáveis e maior demanda no abastecimento de água. Além disso, o aumento


do volume de resíduos e efluentes, nem sempre sujeitos a um tratamento de qualidade
ou gestão efetiva das políticas públicas, comprometem ainda mais os ecossistemas.
Foto: Luciene Pimentel da Silva

Lançamento de esgoto in natura no Rio Perequê-Açu, Paraty, RJ, Brasil.

O manejo inadequado das áreas rurais também prejudica a oferta hídrica, devido à
compactação do solo e, por consequência, aumento do escoamento superficial, da
erosão e da perda de nutrientes dos solos. Esses sedimentos são escoados para as QUADRO 1-02
partes mais baixas dos terrenos e para os córregos, rios e lagos, promovendo blo-
queios nas calhas e aumento de nutrientes nas águas. Isso acaba potencializando Cartilha “A poluição
o risco de inundações e de eutrofização. Nos sistemas agropecuários, onde o uso das águas e as
de produtos agroquímicos é intenso, também ocorrem a degradação e poluição dos cianobactérias”
sistemas hídricos.
Foto: Luciene Pimentel da Silva

Dragagem das calhas do Rio Perequê-Açu, Paraty, RJ, Brasil.

19
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 1-03 A eutrofização é a proliferação de algas devido ao aumento da quantidade de nutrien-


tes nos corpos d’água, principalmente nitrogênio e fósforo, que são comuns em pro-
Livro “Nitrato nas dutos agroquímicos ou esgoto. Além de contaminar as águas superficiais, os nitratos
águas subterrâneas: também podem impactar as águas subterrâneas, muitas vezes utilizadas para consumo
desafios frente ao sem qualquer tipo de tratamento nas áreas rurais.
panorama atual”
No entanto, a eutrofização também pode ser natural, ocorrendo de forma lenta e
espontânea, devido aos próprios elementos da natureza. Ela é muito comum em
áreas pantanosas, onde as planícies inundadas têm pequena profundidade, baixa
capacidade de escoamento e são cercadas de vegetação densa com grandes porções
em decomposição.

Foto: Nick R. Bond

Eutrofização natural nos pântanos das florestas de eucaliptos, Albury, VIC, Austrália.

Os recursos hídricos têm sofrido também com as irregularidades que os eventos de


precipitação vêm apresentando nas diferentes regiões do país e do mundo nos últimos
anos. Essas ocorrências são descritas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC, do acrônimo da língua Inglesa). Os regimes pluviométricos têm se
apresentado de forma mais variável, espacial e temporalmente, e interferem direta-
mente com o ciclo hidrológico.
As interferências das ações antrópicas e os fenômenos das mudanças climáticas nos
recursos hídricos desequilibram o ecossistema natural e aumentam os riscos frente aos
desastres naturais. As chuvas têm-se apresentado mais volumosas e intensas, tornando
mais frequente o fenômeno natural das cheias.

20
Água e Sociedade Capítulo 1
Foto: Rogério Ribeiro Marinho

Cheia do Rio Negro de 2021 na Vila de Moura, Barcelos, AM, Brasil.

Por outro lado, os períodos de estiagem têm sido mais longos, mesmo durante o verão,
quando antes eram esperados os maiores volumes pluviométricos. Com isso, tende a
ser observada a ocorrência mais frequente de níveis d’água críticos nos reservatórios
brasileiros, levando às crises hídricas, como as de 2014 e 2021 em diversas regiões
brasileiras.
A escassez de recursos hídricos também interfere no sistema energético brasileiro, uma
vez que a geração de energia depende, predominantemente, das usinas hidrelétricas.
Além disso, afeta o agronegócio, pelas demandas crescentes por irrigação e avanço das
fronteiras agrícolas, constituindo o chamado nexo água, energia e alimento.
Outro grande problema para a agricultura refere-se ao uso de hidrovias para o transpor-
te de grãos. Quando os níveis d’água estão baixos, as hidrovias tornam-se impróprias
para a navegação. Tudo isso faz com que as crises hídricas estremeçam as relações
entre os usos sociais e econômicos da água, com potencial de geração de conflitos.
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Nível baixo da Represa de Igaratá durante a crise hídrica de 2021, SP, Brasil.

21
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 1-04 No Brasil, a evolução da situação dos recursos hídricos é documentada no Relatório
de Conjuntura dos Recursos Hídricos. O relatório faz um balanço atualizado da im-
“Relatório de plementação dos instrumentos de gestão, dos avanços institucionais do sistema e da
Conjuntura dos política nacional de gerenciamento dos recursos hídricos. O documento é elaborado
Recursos Hídricos pela ANA, conforme consta na Resolução nº 58/2006 do CNRH, e sua primeira versão
no Brasil “ foi publicada em 2009.

1.4 ESTRUTURAÇÃO DA GESTÃO DOS RECURSOS


HÍDRICOS NO BRASIL
Os conselhos de recursos hídricos são organismos colegiados consultivos, normativos e
deliberativos. O CNRH ocupa a instância mais alta na hierarquia do SINGREH e é cons-
tituído por câmaras técnicas que tratam de temas específicos. Em função da mudança
da estrutura do SINGREH em 2019, o CNRH passou a ser vinculado à Secretaria Nacio-
nal de Segurança Hídrica (SNSH) do MDR. Até dezembro de 2018 o gerenciamento dos
recursos hídricos no governo federal era efetuado pela Secretaria de Recursos Hídricos
e Qualidade da Água (SRHQ), do Ministério do Meio Ambiente (MMA). A Medida pro-
visória nº 870/2019 criou o MDR, ao qual passaram a ser vinculados a ANA, o CNRH e
a Secretaria Nacional de Segurança Hídrica (SNSH).
A atuação dos comitês e das agências está associada às bacias hidrográficas, conforme
define a PNRH, estabelecendo as bacias como as unidades territoriais de gerenciamen-
to dos recursos hídricos. Os CBHs constituem os fóruns de debate para a tomada de
decisões sobre as questões relacionadas à gestão dos recursos hídricos de uma bacia
hidrográfica específica. Até 2019, no âmbito dos Estados havia o total de 223 comitês,
registrando assim um crescimento de aproximadamente 643% desde a promulgação
da Lei 9.433, em 1997.
Cada CBH possui regimento próprio para definir a atuação e a composição de seus
membros. No entanto, todos são regidos por leis nacionais que estabelecem diretrizes
gerais à área de atuação, às funções e à composição dos CBHs, conforme o que consta

COMPOSIÇÃO DOS COMITÊS INTERESTADUAIS POR SETOR DE REPRESENTAÇÃO

Poder Público Municipal


19,9 %
Usuários de Água
Poder Público Estadual
30,3 %
17,1 %

Poder Público Federal Sociedade Civil


2,8 % 29,8 %

Fonte: ANA (2020)

22
Água e Sociedade Capítulo 1

nos artigos nº 38 e 39 da Lei nº 9433/1997. A Resolução do CNRH nº 05/2000, com


vistas a uma representatividade equitativa nos segmentos dos CBH, definiu regras de
modo a garantir a participação de todos os atores envolvidos: sociedade civil, usuários
de água e poder público.

1.5 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA GESTÃO DAS ÁGUAS


No Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos do Brasil de 2020, entre as princi-
pais dificuldades apontadas pelos CBHs interestaduais, destacam-se:
• Baixa prioridade política por parte do Governo (28,3 %)
• Falta de recursos financeiros (17,6 %)
• Reuniões muito esparsas (14,6 %)
• Divergência nas opiniões, dificultando o consenso (11,2 %)
• Excesso de burocracia (9,3 %)
Foi observado ainda que para 6,3 % dos CBHs, há uma limitação de passagens e diárias
para participação nas reuniões. Aproximadamente 7 % dos CBHs apontaram a falta
de quórum como o principal problema referente à participação efetiva dos membros.
O total de 2,9 % relatou que a pauta é disponibilizada com pouca antecedência, o
que pode causar certa dificuldade para os membros se inteirarem sobre os assuntos a
serem discutidos e decisões a serem tomadas. A pesquisa observou ainda que a área de
formação da maioria dos membros (35 %) é a engenharia. Esse percentual significativo
pode atribuir um peso maior da visão técnica da engenharia no que se refere à tomada
de decisões, e não de forma multidisciplinar, como seria o desejado.
O mesmo relatório trouxe a questão de gênero e revelou que em todos os comitês
interestaduais a participação masculina se sobrepõe à feminina. O CBH Verde Grande/
MG é o que conta com a maior participação do gênero feminino (44,1 %), e a menor,
foi a do CBH Paranapanema/SP (19,1 %).
“As mulheres, principalmente nas classes sociais mais inferiores, têm protago-
nismo no manejo com a água. São as que lidam mais diretamente com esse re-
curso no dia a dia, à medida que são também as que mais sofrem com a falta
do recurso. Caso não a tenham em casa, elas a buscam em açudes ou outros
mananciais para utilizá-la nas várias atividades domésticas. São estratégicas na
promoção da conservação e do uso racional da água” (ANA, 2020, p.72).
Essa questão, embora gere oportunidade para o protagonismo da mulher na partici-
pação social em prol da preservação e conservação das águas, expõe a problemática
atual relacionada às questões de gênero, equidade e justiça social. Também ilumina
questões sociais de criticidade como a atribuição dos serviços domésticos exclusiva
ou majoritariamente às mulheres, sobretudo as mais pobres, e a provável dupla jor-
nada de trabalho.

23
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Foto: Rogério Ribeiro Marinho


Mulheres na terra indígena do Alto Rio Negro, São Gabriel da Cachoeira, AM, Brasil.

Em 2013, a ANA lançou o Programa de Consolidação do Pacto Nacional pela Gestão


das Águas (PROGESTÃO) para promover a articulação entre os processos de gestão das
águas e de regulação de seus usos, nos níveis estadual e federal, além de fortalecer o
modelo de governança das águas, de forma integrada, descentralizada e participativa.
Já o Programa Nacional de Fortalecimento dos Comitês de Bacias Hidrográficas (PRO-
COMITÊS), lançado pela ANA em 2016, visou regular a implementação de ações para
fortalecer os CBHs.
A participação é voluntária em ambos os programas, mas é preciso que sejam assumi-
das metas formais para serem, posteriormente, acompanhadas e auditadas. No último
relatório de auditoria, em 2019, foi sugerida a fusão dos dois programas devido às
similaridades e superposições. O PROCOMITÊS tem fortalecido a atuação e os meios
QUADRO 1-05 para reconhecimento dos comitês por parte da sociedade. Esse programa criou tam-
bém o Cadastro de Instâncias Colegiadas (CINCO), que é um banco de dados com
registros da composição dos comitês e de documentos, cujo acesso é compartilhado
REBOB
nacionalmente.
Fundada em 1998, a Rede Brasil de Organismos de Bacias Hidrográficas (REBOB) é
uma Associação Civil de pessoa jurídica, sem fins lucrativos, constituída por associa-
ções e consórcios de municípios, CBHs, entre outros, com a finalidade de representar,
nacional e internacionalmente, os membros dos comitês para a discussão de temas
com interesse comum, realizar atividades e apoiar a cobrança pelo uso da água na
forma de gestão descentralizada dos recursos hídricos.

24
Água e Sociedade Capítulo 1

1.6 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DAS ÁGUAS


A educação ambiental (EA) é uma parte essencial da educação de toda a sociedade e
seus cidadãos. O termo surgiu pela primeira vez em 1965, durante a Conferência em
Educação da Universidade de Keele na Grã-Bretanha. O estabelecimento da EA é uma
estratégia para propiciar a preservação e a conservação do ambiente. Em 1972, na
Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) em Estocolmo, Suécia, foram
acordados princípios comuns e uma visão global para a preservação e melhoria do
ambiente. Foi então recomendado o desenvolvimento de um Programa Internacional
de Educação Ambiental.
Destaca-se também a Carta de Belgrado, de 1975, que foi o resultado do Encontro
Internacional sobre Educação Ambiental, realizado na antiga Iugoslávia. Nesse con-
texto, foram formulados princípios e orientações para o Programa Internacional de
Educação Ambiental. Outro marco importante foi a Declaração de Tbilisi, produzida na
Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em 1977, que ocorreu em
Tbilisi, na Geórgia, uma das Repúblicas da antiga União Soviética. Nessa conferência
foram estabelecidos os princípios básicos da EA.
A Carta de Belgrado aborda que a EA deve ser contínua, permanente, interdisciplinar e
considerar o ambiente em sua totalidade. Além disso, a EA deve enfatizar a participa-
ção ativa na prevenção e na solução dos problemas ambientais. Ela pode ser dividida
em duas perspectivas: a formal, que se dá nos currículos escolares e na formação
superior; e a não formal, para jovens e adultos, tanto individual quanto coletiva, de
todos os segmentos da população que dispõem ou não de poder. A EA não formal tem
foco prioritário naqueles que não foram expostos ao currículo escolar formal.
Foto: Giovani Fonseca Ferreira

Curso de extensão sobre saneamento ambiental nas comunidades da Bacia do Rio Jacu, SP, Brasil.

25
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

O desenvolvimento da EA como uma prática educativa no Brasil foi previsto na Política


Nacional de Meio Ambiente (PNMA) regulamentada pela Lei nº 6.938/1981). Assim,
deve ocorrer em todos os níveis de ensino para que a comunidade participe de forma
ativa na preservação do meio ambiente. Posteriormente, a Constituição Federal de
QUADRO 1-06 1988 endossou os princípios da PNMA, visando também promover a EA e a conscien-
tização pública para a preservação ambiental.
Artigo sobre a Em 1992, ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas para
transição dos ODMs o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92. Em sua fase preparatória foi esti-
para os ODS mulado o diálogo entre vários grupos envolvidos com a EA. Isso permitiu o estabeleci-
mento da definição de elementos conceituais e articulações políticas importantes para
o desenvolvimento da EA. Nesse evento foi lançada a Agenda 21, que apresentou um
programa de ação abrangente e internacional, constituído por 40 capítulos, sendo o
36º dedicado ao ensino, à conscientização social e à capacitação no campo da EA. As
propostas da Agenda 21 foram precursoras dos Objetivos de Desenvolvimento do Mi-
lênio (ODMs) e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030,
sendo ambos elaborados pela ONU.

Fonte: ONU Brasil (2021)


ODS da Agenda 2030.

Os 17 ODS são integrados para promover de forma equilibrada as três dimensões da


sustentabilidade: econômica, social e ambiental. Os ODS visam estimular e apoiar
ações, as quais são divididas em cinco grandes áreas, também chamadas de 5 Ps da
QUADRO 1-07
sustentabilidade.
• Pessoas (ODS 1, 2, 3, 4, 5 e 10)
Plano de Ações
“Agenda 2030” • Planeta (ODS 6, 7, 12, 13, 14 e 15)
• Prosperidade (ODS 8, 9 e 11)
• Paz (ODS 16)
• Parceria (ODS 17)
O ODS 4 refere-se à educação de qualidade, que associada aos ODS do Planeta, abordam
os conceitos de EA para a sensibilização da sociedade e preservação do meio ambiente.

26
Água e Sociedade Capítulo 1
Fonte: ONU Brasil (2021)

5 P’s da Sustentabilidade

A Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS), cria-


da por meio do Decreto nº 8.892/2016, é o principal mecanismo institucional para
a implementação da Agenda 2030, da ONU, no Brasil. A comissão é uma instância
colegiada paritária, de natureza consultiva, responsável por conduzir o processo de
articulação, mobilização e diálogo com os entes da federação e a sociedade civil, ob-
jetivando internalizar, disseminar e conferir transparência à Agenda 2030. Em 2018,
a Comissão Nacional para os ODS era composta por 16 membros representantes dos
governos federal, estaduais, distrital e municipais e da sociedade civil.

No contexto dos compromissos assumidos pelo Brasil como membro da ONU e dos
marcos normativos e legais da Eco-92, foi estabelecida a Política Nacional de Educa-
ção Ambiental (PNEA) instituída pela Lei nº 9.795/1999. O enfoque é humanista, ho-
lístico, democrático e participativo. A PNEA envolve em suas esferas de ação, órgãos e
entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), instituições
educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, órgãos públicos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de organizações não governa-
mentais com atuação em EA. Na regulamentação da PNEA, está prevista a inclusão da
EA em todos os níveis e modalidades de ensino, tendo como referência os Parâmetros
Curriculares Nacionais, integrada às demais disciplinas de forma transversal, contínua
e permanente.

1.7 INOVAÇÃO SOCIAL E TRILHA PARA A


SUSTENTABILIDADE
As mudanças climáticas, o crescimento populacional e o aumento da demanda por
recursos hídricos, energia e alimento, assim como o aumento dos resíduos e da urba-
nização, representam um desafio para a garantia de segurança hídrica no futuro. Nos
países em desenvolvimento, como o Brasil, ressaltam-se ainda os desafios impostos

27
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

pelas questões sociais, entre eles a lacuna na equidade e justiça social. As emergên-
cias pandêmicas em 2020 e 2021 evidenciaram a grande lacuna entre os mais pobres
e os mais ricos.
Há um contingente considerável no Brasil que vive em locais degradados, sem garan-
tias das necessidades básicas dos serviços de saneamento e saúde, ou em áreas susce-
tíveis a desastres naturais. O número de moradias em assentamentos informais quase
dobrou entre 2010 e 2019 (IBGE, 2019).

Foto: Giovani Fonseca Ferreira


Falta de saneamento básico nas comunidades da Bacia do Rio Jacu, SP, Brasil.

A ideia de inovação social tem sido apontada como um dos caminhos para o enfrenta-
mento das questões sociais, promovendo geração de renda, inclusão social e melhoria
da qualidade de vida da população mais vulnerável. Assim como as empresas podem
inovar com tecnologias, medicamentos e ciência para responder às demandas atuais,
cada sujeito pode também responder aos desafios socioambientais e econômicos por
meio da mudança de comportamento e da forma como se relaciona com o meio am-
biente e a sociedade, ou seja, aderindo à inovação social.
Na questão da água, observa-se a necessidade da mudança de paradigmas e a necessidade
de se promover o seu uso racional, o reúso das águas pluviais e de efluentes, a universaliza-
ção do saneamento básico, assim como a adesão às soluções baseadas na natureza. Foto: Rogério Ribeiro Marinho

Sistema de captação de água de chuva nas comunidades do Rio Uaupês, AM, Brasil.

28
Água e Sociedade Capítulo 1

A educação ambiental transversal, participativa e crítica é essencial para a obtenção


dessas metas. Dessa forma, torna-se necessário que a sociedade tenha um envolvi-
mento direto com os recursos naturais e o meio na qual ela se encontra. O sentimento
de pertencimento faz com que as pessoas se sintam responsáveis pela preservação do
meio. Isso também gera maior conhecimento sobre as suas características e discussão
sobre os seus problemas, auxiliando na identificação de medidas de adaptação e miti-
gação às mudanças climáticas.
A PNRH enumera seus objetivos, dispondo sobre a necessidade de assegurar à atual
e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade
adequados aos respectivos usos, dentro dos princípios da sustentabilidade ambiental.
No contexto dos ODS, a água e suas diferentes dimensões estão contidas nas áreas das
Pessoas, do Planeta e da Prosperidade, destacando-se os seguintes ODS:
• ODS 1 - erradicação da pobreza
• ODS 2 - fome zero e agricultura sustentável
• ODS 3 - saúde e bem-estar
• ODS 6 - água potável e saneamento
• ODS 11 - cidades e comunidades sustentáveis
• ODS 13 - ação contra a mudança global do clima

QUADRO 1-08

Livro “Visão da
ANA sobre os
indicadores”
Fonte: ANA (2020)

Metas do ODS 6 (Água potável e saneamento).

29
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Foto: Flávia de Campos Martins


Dessedentação de animais em lagoa sazonal de Petrolina, PE, Brasil.

QUADRO 1-09

Assistam ao I Webinário IFSP “Água


e Agenda 2030: A sociedade na
Gestão das Águas”

ESTUDO DE CASO

PROJETOS, PROGRAMAS E SISTEMAS PARA A


IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM
SUBSÍDIO À GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Por meio da Resolução nº 39/ 2004, o CNRH instituiu a Câmara Técnica de Educação,
Capacitação, Mobilização Social e Informação em Recursos Hídricos (CTEM), que visa
promover e articular a EA em relação aos RHs.
Entre 2007 e 2018, o Projeto Hidrocidades foi desenvolvido pela equipe da Universi-
dade Estadual do Rio de Janeiro, o qual abordava tópicos relacionados à conservação
da água em meios urbanos e periurbanos.

30
Água e Sociedade Capítulo 1
Foto: Luciene Pimentel da Silva

Campanha de mobilização da comunidade de Vargem Grande, RJ, Brasil.

Foram realizados experimentos e monitoramentos de qualidade da água, incluindo o


uso de medidas compensatórias para a drenagem. Ações de conservação da água eram
vinculadas ao contexto social das bacias hidrográficas, no intuito de gerar renda e
promover a inclusão.
Foto: Luciene Pimentel da Silva

Agricultura urbana em telhados verdes – Escola Teófilo Moreira da Costa, RJ, Brasil.

31
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

As atividades do Projeto Hidrocidades foram desenvolvidas em parceria com os


moradores da Vila Cascatinha em Vargem Grande e na Escola Municipal Professor
Teófilo Moreira da Costa, da região hidrográfica da baixada de Jacarepaguá, área
de expansão da cidade do Rio de Janeiro. Na escola, foram realizados os experi-
mentos com o telhado verde e as ações de EA.

Em 2009, o Programa Agenda Água na Escola foi uma iniciativa da Secretaria


de Estado do Ambiente (SEA) do Rio de Janeiro e foi implantada em 24 escolas
na Região dos Lagos. O programa foi executado pelo Grupo de Educação para o
Meio Ambiente (GEMA). O envolvimento dos alunos, professores e monitores fez
com que o projeto fosse um dos mais atuantes do interior do estado do Rio de
Janeiro. Além de promover diversas ações de EA, também foi possível levantar um
diagnóstico da experiência das comunidades envolvidas.

Já em 2011, o Programa Agenda Água na Escola foi desenvolvido em parceria


com o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) do Rio de Janeiro e a continuidade
do projeto foi aprovada pela Câmara Técnica de Educação Ambiental (CTEA) e
recebeu recursos do CBH Lagos São João. No projeto, estudantes e profissionais
da educação participaram de expedições ambientais de monitoramento da quali-
dade da água de rios, próximos à unidade de ensino, e de campanhas de educação
ambiental que incentivavam escolas a adotar trechos de rios.

Além da EA formal, que fortalece um engajamento participativo de toda socieda-


de, é necessário que essas ações sejam discutidas em outros espaços de formação,
o que constitui a EA não formal. Essas iniciativas são ainda mais importantes para
a população que não frequentou a escola ou que não esteve sujeita a quaisquer
outras agendas de EA, cujas iniciativas não formais contam com a participação
importante de organizações não governamentais. No entanto, são ações fragmen-
tadas e descentralizadas no País.

O Sistema de Avaliação de Programas/Projetos de Educação Ambiental para a ges-


tão integrada dos recursos hídricos (Sapea-Água) foi proposto por Chacon-Pereira
et al. (2020). Essa proposta apoia-se na EA crítica, na gestão integrada dos recur-
sos hídricos e no monitoramento de indicadores socioambientais. O sistema foi
constituído em categorias de análise, entre elas, a participação e a comunicação.

Em cada categoria de análise é atribuída uma pontuação de acordo com os meios


de verificação de cada indicador da categoria. São 15 indicadores e 43 meios de
verificação no total. De acordo com o somatório de pontos, o programa/projeto
pode ser classificado como ótimo, bom, regular e insuficiente. A categoria de
análise participação tem peso 2 no somatório de pontos.

O Sapea-Água também pode ser adotado em termos de referência para o desen-


volvimento de programas e projetos de EA, e poderá, a partir da constituição de
um banco de dados, favorecer a elaboração de um conjunto de boas práticas para
a EA voltada à gestão integrada dos recursos hídricos.

32
Água e Sociedade Capítulo 1

Categorias Comunicação e Participação do Sistema de avaliação de programas e projetos de educação ambiental para
gestão de recursos hídricos – Sapea-Água.

COMUNICAÇÃO
INDICADORES MEIOS DE VERIFICAÇÃO
Divulgação de informações sobre Descreve as ações de comunicação indicando o
as ações do programa/projeto e título, os meios de comunicação, assim como
sobre a conservação e gestão dos seus períodos de divulgação, finalidade e perfil
recursos hídricos locais por meio do público alvo.
de diversos meios de comunicação
com a finalidade de ampliar a par-
ticipação da população local em Apresenta materiais textuais, digitais e fotográ-
processos decisórios e de controle ficos produzidos nas ações de comunicação.
social dos recursos hídricos locais.
O número e o perfil do público alvo atingido
pelas ações de comunicação estão em conso-
nância com as metas previstas.

Ações de educomunicação, que Apresenta quantitativo, descrição do perfil, pe-


consistem em aumentar a parti- ríodo de realização e contatos dos participantes,
cipação da população local em assim como registro fotográfico das ações de
processos decisórios e de controle educomunicação no contexto da gestão de re-
social dos recursos hídricos. cursos hídricos local.

Apresenta materiais textuais e digitais produzi-


dos nas ações de educomunicação.

O número e o perfil do público alvo atingido


pelas ações de educomunicação estão em con-
sonância com as metas previstas.

Formação ou fortalecimento de Apresenta quantitativo, descrição de perfil, pe-


redes sociais vinculadas ao progra- ríodo de realização e contatos dos participan-
ma/projeto de Educação Ambien- tes, assim como registro fotográfico das redes
tal (real ou virtual). sociais que interconectam instituições e práticas
sociais em torno dos recursos hídricos.
Fonte: Chacon-Pereira et al. (2020)

Apresenta materiais produzidos pelas redes so-


ciais e homepage das redes sociais virtuais.

O número e o perfil do público alvo atingido


através das redes sociais estão em consonância
com as metas previstas.

33
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

PARTICIPAÇÃO
INDICADORES MEIOS DE VERIFICAÇÃO

Proposta de ações educativas do Relata as demandas apontadas e negociadas


programa/projeto com a partici- com os atores sociais locais em situação de
pação dos atores sociais locais em vulnerabilidade em relação à conservação e à
situação de vulnerabilidade. gestão das águas.

Apresenta quantitativo, descrição do perfil, lis-


tagem de presença e contatos dos participan-
tes, assim como registro fotográfico dos encon-
tros para a proposta das ações educativas do
programa/projeto.

Capacitação e instrumentalização Apresenta quantitativo, descrição do perfil,


de atores sociais locais em situa- período de realização, listagem de presença e
ção de vulnerabilidade para par- contatos dos participantes, assim como registro
ticipação em processos decisórios fotográfico das atividades de capacitação e ins-
e no controle social da aplicação trumentalização dos atores sociais locais para
dos recursos financeiros arreca- intervenção qualificada em processos decisórios
dados com a cobrança pelo uso e no controle social relacionados aos recursos
dos recursos hídricos e financia- hídricos.
mentos públicos na bacia hidro-
gráfica.
Apresenta materiais produzidos nas atividades
de capacitação, instrumentalização e controle

Foto: Chacon-Pereira et al. (2020)


social das comunidades locais.

O número e o perfil dos participantes nas ati-


vidades de capacitação, instrumentalização e
controle social estão em consonância com as
metas previstas.
Fonte: Luciene Pimentel da Silva

Vertentes da bacia hidrográfica do rio Perequê-Açu, RJ, Brasil.

34
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Foz do Rio Juqueriquerê, Caraguatatuba-SP, Brasil


2
Planos para a Gestão
dos Recursos Hídricos

A
Antônio Carlos Zuffo
Rafaela Silva de Faria
Thalita Panegassi Caporali
Urânia Tuan Cardozo
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA GESTÃO


HÍDRICA DO BRASIL
gestão dos recursos hídricos no Brasil começou a ser realizada desde os
primórdios da colonização portuguesa, mesmo que de forma tímida e não
especificamente. Em 1500, na então Ilha de Vera Cruz, o primeiro nome
da terra recém-descoberta, vigoravam os mesmos códigos e leis vigentes em
Portugal. Nessa época, eram vigentes em Portugal as Ordenações Afonsinas (Rei
Afonso V, reinou entre 1438-1481) e as Ordenações Manuelinas (Rei Dom Ma-
nuel I, reinou entre 1495-1521). Não existia, porém, um código específico para
regulamentar as atividades que utilizavam as águas no País, mas sim, várias
ordenações gerais.
As Ordenações Afonsinas formaram o primeiro Código de Leis escrito no continente
europeu (1446). Essas ordenações estavam baseadas nos Direitos Canônico e Romano
e traziam em seu texto alguns princípios ambientais e sociais. Já as Ordenações Ma-
nuelinas (1521) incorporavam o princípio do zoneamento ambiental e vigoraram até
o início do Século XVII.
Durante o período em que a Espanha reinou sobre Portugal e suas colônias, conhecido
como União Ibérica, o Rei Philippe II da Espanha (Rei Philippe I de Portugal) ordenou
que todas as leis portuguesas, que estavam dispersas em vários documentos, fossem
atualizadas e reunidas em um único livro e deveriam ser aplicadas exclusivamente em
Portugal e suas colônias. A esse compêndio de leis foi dado o nome de Ordenações
Filipinas (1603) e vigoraram no Brasil até 1916.

36
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2
Foto: Jean-Baptiste Debret

Passagem de um rio vadeável do livro “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839)” QUADRO 2-01

As Ordenações Filipinas previam a determinação de programas de obras públicas para a Legislação


construção de calçadas, chafarizes e pontes, que definiam as obras públicas. Também apre- Portuguesa
sentavam o conceito de poluição, proibiam que qualquer pessoa jogasse algum resíduo que no Brasil:
pudesse provocar a morte de peixes ou sujar as suas águas. Esses códigos foram mantidos Ordenações
nos Códigos Civil e Criminal do Império do Brasil (1824) e somente foram revogados com o
advento do Código Civil da República em 1916, como citado anteriormente.

A partir de 1920, surgiram as exigências de medidas reguladoras específicas para a água,
pois era cada vez mais necessário o aproveitamento hidroenergético brasileiro, e havia um
crescente número de conflitos pelo uso da água. Assim, em 1920, foi criada a Comissão de
Estudos de Forças Hidráulicas no âmbito do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.
Em 10 de julho de 1934 foi promulgado o Decreto nº 24.643, criado como força de
lei, que instituiu o Código das Águas, que viria a ser o mais avançado de sua época
no que se referia à gestão das águas, pois preconizava alguns dos princípios adotados
pelo gerenciamento de recursos hídricos atualmente, como por exemplo:
• O uso direto para garantir as necessidades essenciais à vida.
• Outorga para derivação das águas públicas emitida pelo Estado.
• Responsabilidade penal e financeira para atividades que comprometessem a qua-
lidade dos mananciais hídricos, conceito conhecido atualmente como poluidor-
-pagador.
A partir da promulgação do Código das Águas, a administração pública no Brasil passa
a ter duas políticas distintas: a primeira, foi implementada por meio de programas e
projetos voltados principalmente para o semiárido nordestino, priorizando o uso da
água para o consumo humano e dessedentação de animais; já a segunda tinha um
caráter mais genérico, de efeitos limitados, direcionado principalmente aos aproveita-
mentos para uso hidroenergético (ZUFFO; ZUFFO, 2016). O uso prioritário dos recursos
hídricos no Brasil, durante a vigência do Código das Águas, era para a geração de
energia elétrica e a para a gestão dos recursos hídricos.

37
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Foto: José Augusto Rocha Mendes


Pequena Central Hidrelétrica de Poços de Caldas, MG, Brasil.

QUADRO 2-02 Em 1972, foi realizada em Estocolmo, Suécia, a Conferência das Nações Unidas so-
bre o Meio Ambiente Humano. Essa conferência é reconhecida como um marco nas
“Códigos das tentativas das Nações Unidas em melhorar as relações do ser humano com o meio
Águas” ambiente, visando a busca por um equilíbrio entre crescimento econômico e redução
da degradação ambiental, em busca de um desenvolvimento sustentável. Ela teve um
papel fundamental na inserção das problemáticas ambientais nas agendas dos países,
além da conscientização da população. Pela primeira vez, o mundo dirige sua atenção
para os problemas relacionados ao crescimento da população mundial absoluta, da
superexplotação dos recursos naturais e da poluição atmosférica.

Nessa mesma época, com influência da Conferência de Estocolmo, o Brasil criou a


Secretaria Especial do Meio Ambiente, vinculada ao Ministério do Interior, que incor-
porou alguns princípios desta Conferência. A bacia hidrográfica foi então estabelecida
como unidade padrão de gerenciamento, pois os limites, definidos pelos divisores to-
pográficos, definem um sistema fechado se considerado o ponto de vista hidrológico,
quando focado nos recursos hídricos superficiais (ZUFFO; ZUFFO, 2016).

No final da década de 1980, foram criados os primeiros comitês de bacias hidrográficas


(CBHs), como os comitês de bacias dos rios Paraíba do Sul, Paranapanema e Doce. A
partir de então, iniciaram-se algumas discussões sobre pontos críticos do gerencia-
mento dos recursos hídricos no Brasil. Em 1986, foi criado o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama), que estabeleceu a classificação das águas doces, salobras e
salinas, em todo o território nacional, em nove classes, como definido pela Resolução
Conama nº 20/1986 (ZUFFO; ZUFFO, 2016).

A partir de 1988, com a promulgação da nova constituição brasileira, foi possível


ampliar as formas de negociação social para a resolução de conflitos, adotadas na
definição da Política Nacional de Recursos Hídricos. A Constituição modificou alguns
aspectos importantes no Código de Águas, até então vigente no País. Essa fixou como
competência da União, a instituição de um Sistema Nacional de Gestão dos Recursos
Hídricos e definiu aspectos relativos à cobrança e outorga de direitos do uso da água,
trazendo ainda o direito legislativo sobre os recursos hídricos para a União (ZUFFO;
ZUFFO, 2016).

38
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Em 1997 é promulgada a Lei nº 9.433, que define a Política Nacional de Recursos Hídricos, QUADRO 2-03
também conhecida como Lei das Águas. A partir de então, todos os agentes envolvidos em
atividades relacionadas ao gerenciamento de recursos hídricos passaram a gozar de legitimi- Sistema
dade necessária para prosseguir em seus respectivos cursos de ação (MORAES, 2009). Nacional de
Gerenciamento
Em julho de 2000 é promulgada a Lei nº 9.984, que dispôs sobre a criação da Agência Na- de Recursos
cional de Águas (ANA), entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos
Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

2.2 INSTRUMENTOS DE GESTÃO DOS RECURSOS


HÍDRICOS
A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) é o marco de uma grande evolução
institucional e legal no que diz respeito à gestão sustentável de um recurso tão valioso
como a água. Vale ressaltar que essa nova lei conduziu o Brasil a um posto de prestí-
gio, pois nesse ponto, o país passou a fazer parte do grupo de nações com a legislação
mais avançada e moderna de Gestão dos Recursos Hídricos (GRH).
Dentre as inovações introduzidas pela Lei das Águas, podemos dar ênfase aos seus
fundamentos, que rompem com paradigmas enraizados na cultura brasileira quando se
trata da água, começando pela constatação que é um recurso natural finito e dotado
de valor econômico. Outros fundamentos dessa lei são:
• A água é um bem de domínio público.
• O uso múltiplo das águas.
• A bacia hidrográfica como unidade básica de implementação da PNRH.
• O uso prioritário da água para o consumo humano e a dessedentação de animais.
A gestão de recursos hídricos deve ser descentralizada e deve ter participação do poder
público, usuários de água e da sociedade civil.

39
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 2-04

Vídeo “Lei das
A gestão dos recursos hídricos no Brasil abrange vários componentes do planejamento
Águas do Brasil”
e gerenciamento dos corpos d’água no espaço da bacia hidrográfica conjuntamente
com a questão política, econômica e social do território. Ela envolve aspectos institu-
cionais como legislação, diagnóstico e planejamento dos usos da água, estratégias e
metas de desenvolvimento, preservação e conservação ambiental.

A bacia hidrográfica corresponde à área de drenagem definida pelo divisor topo-


gráfico, que capta as águas das chuvas e conduz (a parte que não infiltrou para
o subsolo e que não evaporou para a atmosfera), por meio dos cursos d’água até
o seu exutório, ou seja, o ponto de cota mais baixa.

nascente

cursos d’água

divisor de águas

exutório
direção do escoamento

Ilustração: Antonio Carlos Zuffo

Bacia hidrográfica: Delimitação, cursos d’água, nascentes e exutório.

No Brasil, existem 12 regiões hidrográficas, sendo que cada região pode envolver bacias,
sub-bacias ou um grupo de bacias hidrográficas próximas, possuindo características
geográficas, sociais e econômicas similares, sendo definidas pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH). Essa divisão tem por objetivo orientar o planejamento e o
gerenciamento de recursos hídricos no País.

40
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2
Fonte: SIGRH (2018)

Amazônica Paraguai

Atlântico Leste Paraná

Atlântico NE Ocidental Parnaíba

Atlântico NE Oriental São Francisco

Atlântico Sudeste Tocantins-Araguaia

Atlântico Sul Uruguai

Regiões Hidrográficas Brasileiras

Sabe-se que a água é um elemento fundamental para a vida. Entretanto, a má ges-


tão, o uso inconsciente e as variações climáticas podem provocar eventos hidrológicos
críticos, colocando em risco a segurança hídrica. Para evitar um quadro de escassez
hídrica, é necessário investir em infraestrutura adequada, no aperfeiçoamento da ges-
tão dos recursos hídricos e, principalmente, na incorporação de medidas para a gestão
de riscos em respostas às crises.
Foto: David Hamilton

Lago Manchester - Área de abastecimento de Brisbane, QLD, Austrália

Outro ponto importante refere-se aos instrumentos que estabelecem meios de aplica-
ção da gestão de forma a garantir a qualidade e a racionalidade no seu uso, tais como
os planos de recursos hídricos, o enquadramento dos corpos de água em classes, a
outorga dos direitos de uso destes recursos, a cobrança pelo seu uso e o Sistema de
Informações sobre Recursos Hídricos:

41
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

• A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um instrumento que permite


que a administração pública autorize o usuário a utilizar as águas de seu domí-
nio, por tempo determinado e com condições preestabelecidas. Também permite
que a administração pública assegure e gerencie a forma que os recursos hídricos
são utilizados e, ainda, garante o acesso à água com um controle quantitativo e
qualitativo.
• A cobrança pelo uso dos recursos hídricos é um instrumento que busca obter
recursos financeiros para o financiamento de programas, intervenções e ações
incluídos nos planos de recursos hídricos da bacia geradora. A cobrança tem
como finalidade induzir o comportamento da sociedade, por meio da fixação
de valores. Nesse caso, visa dar ao usuário a real indicação do valor do recurso e
ainda promover o seu uso racional. A cobrança é implementada pelos comitês de
bacias, que têm, em seu colegiado, representantes dos poderes públicos, munici-
pal e estadual. Possui o conceito de que a água é um bem público e é necessário
incentivar a racionalização dos seus usos. Esses princípios estão fundamentados
nos conceitos de usuário-pagador e poluidor-pagador, visando combater a po-
luição e o desperdício.
• O sistema de informações visa a implantação de um sistema de coleta, trata-
mento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e
fatores intervenientes em sua gestão. É de suma importância para a aplicação
dos demais instrumentos legais, pois para uma implementação mais eficiente e
correspondente à realidade de cada uma das bacias hidrográficas, é essencial a
existência de uma base de dados confiável. Há, no Brasil, um grande banco de
dados e de informações sobre as águas no país, denominado Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), que realiza a coleta, a organização
e a transmissão de dados e informações para o público em geral.
• O enquadramento dos corpos de água, segundo os usos preponderantes, é um
instrumento de planejamento que estabelece o nível de qualidade a ser alcança-
do ou mantido ao longo do tempo. É responsável pelo planejamento, pois deve
adotar os níveis de qualidade a serem mantidos, objetivando compatibilizar o
uso sustentável da água com o desenvolvimento econômico de uma bacia hi-
drográfica. Objetiva garantir a qualidade da água compatível com o uso mais
exigente a que for destinada, relacionado à gestão sustentável desse recurso,
e, ainda, diminuir os custos de remediação da poluição das águas por meio de
QUADRO 2-05 ações preventivas. O enquadramento é referência a outros instrumentos (outorga
e cobrança) e importante elo entre o SINGREH e o Sistema Nacional de Meio
Sistema Nacional Ambiente (SISNAMA).
de Informações
• Os planos de recursos hídricos são a ferramenta mais importante da GRH, cujas
sobre Recursos
ações previstas devem ser compiladas em um documento. É um instrumento pre-
Hídricos (SNIRH)
visto pela PNRH que define a agenda dos recursos hídricos, incluindo dados sobre
obras, projetos, investimentos preferenciais e ações de gestão. Esses planos po-
dem ser estabelecidos em três esferas diferentes: a bacia hidrográfica, a estadual
e a nacional, e contam com participação de diferentes instituições relacionadas à
gestão de recursos hídricos, órgãos governamentais e da sociedade civil.

42
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2

A PNRH também estabelece os membros que são integrantes do SINGREH, sendo eles:
o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; a ANA; os conselhos de recursos hídricos
dos Estados e do Distrito Federal; os CBHs; os órgãos dos poderes públicos federal,
estaduais, municipais e do Distrito Federal, cujas competências se relacionem com a
gestão de recursos hídricos.

ÓRGÃO FUNÇÃO
Conselho Nacional de Recursos Hídricos Desenvolve regras de mediação entre os
(CNRH) diversos usuários da água. Aprova e esta-
belece diretrizes para implementação da
PNRH.
Conselhos de recursos hídricos dos esta- Encaminham questões para serem delibe-
dos e do Distrito Federal radas pelo Conselho Nacional de Recur-
sos Hídricos. Deliberam sobre assuntos
relacionados às acumulações, derivações,
captações e lançamentos de pouca ex-
pressão, para efeito de isenção da obri-
gatoriedade de outorga de direitos de uso
de recursos hídricos.
Comitês de bacias hidrográficas (CBHs) Espaço em que representantes da comu-
nidade de uma bacia hidrográfica discu-
tem e deliberam a respeito da gestão dos
recursos hídricos.
Secretaria Nacional de Segurança Hídrica Integração de políticas, sustentabilidade
(SNRH) socioambiental e no controle e participa-
ção social.
Agência Nacional de Águas e Saneamen- Regula o acesso e uso dos recursos hídri-
to Básico (ANA) cos, emite e fiscaliza o cumprimento das
normas e elabora ou participa de estudos
estratégicos.
Agências de Água Secretaria executiva do Comitê de Bacia
Hidrográfica.
Funções dos órgãos de gestão hídrica

Com base nas atribuições estabelecidas pela PNRH, em parceria com o Ministério de
Desenvolvimento Regional, a ANA desenvolveu o Plano Nacional de Segurança Hídri-
ca (PNSH) de forma a garantir ao Brasil um planejamento integrado e consistente de
infraestrutura hídrica de forma a reduzir os impactos de secas e cheias. Uma grande
inovação relacionada ao PNSH é a apresentação de um índice de segurança hídrica (ISH) QUADRO 2-06
que engloba quatro dimensões: ecossistêmica, econômica, humana e de resiliência. Para
garantir a segurança hídrica é essencial a atuação de uma gestão integrada dos recursos Acervo da ANA
hídricos, que no Brasil, é norteada pela PNRH.
A ANA disponibiliza um acervo virtual com cartilhas, livros e vídeos que tratam sobre
o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e Instrumentos da PNRH.
O acervo tem informações detalhadas que incluem desde a definição dos comitês de
bacias hidrográficas até os sistemas de informação utilizados na gestão das águas.

43
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Outra legislação importante para a GRH é a Política Nacional de Segurança de Barra-


gens (PNSB), instituída pela Lei n.º 12.334 de 2010, que tem como objetivos garantir
a observância de padrões de segurança; regulamentar as ações de segurança nas fases
de planejamento, projeto, operação, construção, desativação, descaracterização e usos
QUADRO 2-07
futuros. A partir desses objetivos, a lei apresenta as dimensões e características das
barragens submetidas à PNSB; os instrumentos, tais como o Plano de Segurança de
Cartilha Barragens e o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB);
“Segurança de e as competências, tanto dos empreendedores quanto das entidades fiscalizadoras.
Barragens
de Água” •
As barragens são estruturas que têm por objetivo a contenção ou acumulação de água
para quaisquer usos, por exemplo, para reter rejeitos de mineração, geração de energia
(hidrelétricas) e para abastecimento de água (reservatórios). Elas podem ser construídas
basicamente com terra, terra e pedra ou em estrutura de concreto.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis


Usina Hidrelétrica de Itaipu, PR, Brasil.

2.3 GERENCIAMENTO VERSUS PLANEJAMENTO DOS


RECURSOS HÍDRICOS
O planejamento muitas vezes é confundido com gerenciamento, ou vice-versa, ou
ainda como se fossem sinônimos. Na verdade, são muito diferentes.
Podemos comparar grosseiramente um plano de bacia com uma sinfonia e o maestro
com o órgão gestor da bacia. Diferentemente de uma sinfonia, que pode ser composta
por um único compositor, o plano de bacia não pode ser concebido por um único
profissional, mas é elaborado por um grupo multidisciplinar de profissionais, das mais
diferentes áreas do conhecimento. Além do fato que, antes de o plano ser aprovado,
ele deve ser apresentado em audiências públicas, com a participação da sociedade que
pode decidir por modificações.
Para subsidiar a elaboração do plano de bacias, muitas informações devem ser produ-
zidas a partir de um grande banco de dados. Esse banco de dados possui diferentes

44
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2

características e, quando detalhado, possibili-


tará a geração de informações a respeito da
bacia, tais como o dos usos preponderantes, da
qualidade e quantidade existente dos recursos
hídricos, sua variação temporal e espacial, uso
e ocupação do solo, vegetação, fauna e flora,
poluição, drenagem, taxa de crescimento po-
pulacional, taxa de desenvolvimento humano,
saúde, educação, diferentes cenários futuros e
variações climáticas (não significa mudanças
climáticas, mas, sim, uma variabilidade natural
do ciclo hidrológico), entre outros.
Porém, o planejamento dos recursos hídricos,
por envolver variáveis naturais (clima, tempe-
ratura, pressão atmosférica, evapotranspiração,
precipitações, ventos etc.) é muito mais com-
plexo que a composição de uma sinfonia, que
depende do talento e da genialidade do seu
compositor. A composição, uma vez finaliza-
da, pode ser reproduzida em qualquer lugar
do nosso mundo e ao longo dos séculos. Um

Foto: David Hamilton


planejamento de recursos hídricos é único por-
que possui características peculiares locais que
o diferem de quaisquer outras bacias. Por isso,
a unidade de gestão para o gerenciamento de
recursos hídricos é a Bacia Hidrográfica. Teste do efeito de diferentes coagulantes para tratamento de lagos
com algas Hugh Muntz, Gold Coast, QLD, Austrália.
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Réguas linimétricas para leitura do nível d’água do Rio Yarra – Abbotsford, VIC, Austrália

45
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Diferentemente de uma partitura, o plano de bacia tem prazo de validade, uma vez
que há a necessidade de atualizações. Uma bacia é dinâmica e o que se busca é o seu
desenvolvimento sustentável e integral. O que foi realidade no passado pode não servir
no presente, justamente por causa dessa dinâmica.

Foto: David Hamilton


Reabilitação do Córrego Laidley para minimizar o efeito das inundações em Brisbane, QLD, Austrália

Uma outra diferença entre o planejamento de recursos hídricos e a composição de uma


sinfonia é que, no plano de bacia, o processo de elaboração não termina, é contínuo
porque novas informações vão sendo geradas com o passar do tempo e precisam ser
incorporadas ao plano. Verificadas, essas informações permitem a manutenção ou
indicam a necessidade de alterações desses estudos. Há a necessidade de adaptação,
de acompanhamento e de um ordenamento de estratégias definidas para viabilizar um
gerenciamento ou uma gestão. O planejamento elabora um plano a ser seguido pelo
gerente (ou gestor), para que este exerça sua atividade, da melhor maneira possível,
com menores perdas e maior eficiência.
Para promover esse planejamento são criados vários cenários hipotéticos, utilizando
muitas ferramentas com a utilização do cruzamento de informações e da elaboração de
hipóteses. Enfim, o planejamento é um procedimento organizado que objetiva a escolha
de uma melhor alternativa para atingir um determinado objetivo.
O processo de planejamento se desenvolve por meio de uma sequência de etapas. A Lei das
Águas, em seu artigo sétimo, estabelece oito etapas com o objetivo de orientar e funda-
mentar a implementação e o gerenciamento do plano e da política nacional ou estadual de
recursos hídricos, as quais são:
• Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos: nesta etapa, é realizado todo
o levantamento das condições físicas da bacia, identificando os problemas exis-
tentes, a disponibilidade hídrica, a qualidade da água, o uso e a ocupação da

46
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2

terra, as atividades econômicas desenvolvidas e quais os usos preponderantes,


quais os mais impactantes, o nível socioeconômico da região, os planos e os
programas existentes.
• Balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em
quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais.
• Análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades pro-
dutivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo. Essa etapa é de funda-
mental importância no processo de elaboração do plano de recursos hídricos, pois
serão propostas as intervenções necessárias para sanar os problemas identificados
na etapa de diagnóstico, a fim de permitir a proposição de novas ações.
• Metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade
dos recursos hídricos disponíveis.
• Medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem
implantados para o atendimento das metas previstas.
• Prioridades para outorga de direitos de uso dos recursos hídricos.
• Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.
• Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, objetivando a pro-
teção dos recursos hídricos.

Foto: Nick R. Bond

Reservatório de Hume, NSW, Austrália

Após a conclusão de todas as etapas, buscando alternativas de melhor compromisso,


é possível escolher a estratégia de ação através do plano. A implantação desse plano
é seguida por um acompanhamento do processo de gerenciamento para verificar se a
estratégia implementada está funcionando de acordo com o esperado ou se ela mos-
trou-se deficiente.

47
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Nesse último caso, procura-se identificar quais foram os problemas ou limitações ob-
servadas, se houve alguma mudança interna ou externa que possa ter alterado as
condições inicialmente consideradas. Assim, procede-se a uma reavaliação do plano e
estratégias procurando resolver o problema anteriormente identificado, realimentando
o processo de planejamento com novas informações decorrentes dessa avaliação ini-
cial, fechando-se o ciclo, que é repetido continuadamente e visando sempre o aperfei-
çoamento da estratégia de ação e, consequentemente, melhorando a gestão.

2.4 ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO DOS


RECURSOS HÍDRICOS
O planejamento dos recursos hídricos é a ferramenta mais importante de gerencia-
mento, cujas ações previstas devem ser compiladas em um documento chamado de
Plano de Recursos Hídricos, o qual deverá ser o norteador da gestão do recurso por um
determinado período (compatível com o período de implantação de seus programas
e projetos). Os planos devem ser revistos a cada 3 anos, onde devem constar as ações
estratégicas, estruturais e não estruturais, previstas para o desenvolvimento da bacia
hidrográfica.
As informações que devem constar em um plano de recursos hídricos devem ser, ao
menos, demandas atuais e projetadas pelos usos da água por setor. Algumas infor-
mações relevantes são: geração de energia, uma vez que sua matriz energética é de
hidrogeração; abastecimento público, industrial e agrícola; projeção populacional; es-
timativa de crescimento industrial; agrícola, por tipo de cultura, por possuírem deman-
das hídricas distintas; da pecuária, por tipo, (ou seja, bubalino, caprino, bovino, suíno,
equino, entre outros); mapeamento dos reservatórios e das infraestruturas hídricas
existentes, com respectivas capacidades; informações sobre a quantidade dos recursos
hídricos superficiais e subterrâneos; qualidade das águas superficiais e subterrâneas
(obtidos por meio de monitoramento); enquadramento dos corpos d’água; outorgas
vigentes e prazo de vigências das mesmas. Essas informações são essenciais para o pla-
nejamento das ações necessárias para o uso racional dos recursos hídricos, garantindo
assim a possibilidade de abastecer as demandas prioritárias. Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Área Agrícola e açude para dessedentação de animais - Bueno Brandão, MG, Brasil

48
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2

No Brasil, além das bacias nacionais, existem as bacias estaduais, que podem até
mesmo ser interestaduais. Nesse caso, há uma gerência estadual e outra federal. Estas
devem ter seus planos elaborados da mesma maneira. Como exemplo, cita-se o Esta-
do de São Paulo, que é composto por 22 bacias, institucionalizadas por 22 unidades
de gerenciamento de recursos hídricos (UGRHI). Essas UGRHIs deverão produzir seus
planos de bacias individuais, que deverão subsidiar as ações estratégicas previstas no
Plano Estadual de Recursos Hídricos, que, juntamente com os outros planos estaduais,
nortearão os Planos das Regiões Hidrográficas, que, por sua vez, nortearão o Plano
Nacional de Recursos Hídricos. Isso equivale dizer que o planejamento deve partir de
um universo micro para um universo macro, pois as partes deverão compor o todo.
BARTH (1987) apresenta uma definição para o planejamento bastante perspicaz, quando
diz: “Planejamento no conceito da ciência econômica, onde é bastante empregado, é a forma de
conciliar recursos escassos e necessidades abundantes”. Assim, o planejamento dos recursos
hídricos, considerando a disponibilidade restrita desse recurso, envolve um conjunto de pro-
cedimentos organizados que permite a orientação do atendimento das demandas de água.
O gerenciamento dos recursos hídricos tem por objetivo assegurar a disponibilidade de
água em quantidade e qualidade suficientes e satisfatórias para a atual e as próximas
gerações. Para isso, deve ser resultante de um processo de planejamento, fundamental
para esse modelo de gerenciamento, que busca o uso racional da água e das medidas
necessárias para minimizar problemas relacionados à disponibilidade desse recurso. O
processo de planejamento dos recursos hídricos é desenvolvido a partir do meio social
e político através dos meios técnicos e decisórios para atender as demandas socioeco-
nômicas, em consonância com as diretrizes político-administrativas.

Meio Social e Político


Demandas socioeconômicas Diretrizes político-administrativas

Metas de uso, controle e


proteção da água
Meio Técnico • Enquadramento qualitativo
• Enquadramento quantitativo
Fonte: Adaptado de SMA/CEPLEA (2004).

• Cenários alternativos de demandas Intervenções


• Políticas, planos ou intenções setoriais dos recursos hídricos • Medidas estruturais
• Políticas e planos relacionados à proteção ambiental • Instrumentos de gestão

Indicadores para análise


• Econômicos
• De impactos ambientais
Análise Multicriterial • De visibilidade política
• De risco

Comitê de Bacia Hidrográfica Meio Decisório Outras entidades com atribuições


Órgão gestor de Recursos Hídricos

Plano de Recursos Hídricos

Processo de Planejamento de Recursos Hídricos

49
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Considerando que o uso da água afeta os padrões quantitativos e qualitativos, o ge-


renciamento desse recurso deverá ser realizado com base em um plano multisetorial
de uso, controle e proteção das águas. O plano deve estabelecer limites aos diversos
planos setoriais de uso dos recursos hídricos, ao mesmo tempo em que vincula a si os
planos setoriais, estabelecendo diretrizes e restrições gerais. Deve ter em vista a racio-
nalização da apropriação do recurso hídrico e equacionar os potenciais conflitos de
usos intersetoriais e dos setores de usuários com o ambiente.
Os planos de recursos hídricos visam orientar a implementação dos instrumentos da
Política Nacional de Recursos Hídricos, como também indicar diretrizes de interação e
articulação desses instrumentos:

Cobrança
pelo uso da
água

Sistema de
Enquadramento informações
dos corpos
d’água Plano de
Recursos
Hídricos

Fonte: Adaptado de Moraes (2009).


Compensação Outorgas
aos dos Direitos
Municípios de Uso

Relações entre os instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos

O espaço decisório para as deliberações setoriais deve ser organizado de forma a assegu-
rar o suprimento aos usos já estabelecidos, de acordo com o previsto por regras pré-es-
tabelecidas, no que se refere à quantidade e à qualidade da água (ANEEL e ANA, 2001).
O conteúdo mínimo previsto na Lei está complementado pelas Resoluções nº 17/2001
e nº 22/2002 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos. A primeira estabelece as
diretrizes para os planos por bacias hidrográficas, detalhando e recomendando os oito
tópicos que o integrarão, além de apresentar um fluxograma do processo de elabora-
ção desses planos.
A segunda resolução diz respeito às diretrizes para inserção dos estudos das águas sub-
terrâneas nos planos de recursos hídricos, incorporando a temática dos usos múltiplos
da água, as peculiaridades dos aquíferos e os aspectos relacionados não só em relação
à quantidade, mas também à qualidade.

50
Planos para a Gestão dos Recursos Hídricos Capítulo 2

Os planos de recursos hídricos de bacias hidrográficas serão elaborados pelas agências


de bacias e submetidos à apreciação e à aprovação pelos respectivos CBHs. Quando
não houver agências de água, os planos poderão ser elaborados pelas entidades ges-
toras detentoras do poder outorgante.
Na inexistência do comitê de bacia hidrográfica, a entidade competente ou o órgão da
administração pública deverá elaborar uma proposta de plano, juntamente com a par-
ticipação dos usuários da água e das entidades civis de recursos hídricos, que deverá
incluir, em sua implementação, as ações necessárias à criação do respectivo comitê. O
comitê, depois de instituído, será responsável pela aprovação do referido plano.

QUADRO 2-08

Assistam ao II Webinário IFSP


“Instrumentos para a gestão integrada
dos recursos hídricos”
Foto: Tourism Australia.

Manning Gorge ao longo do Rio Gibb, Kimberley, Austrália Ocidental.

51
Foto: Flávia Campos Martins

Lagoa sazonal no sertão nordestino, PE, Brasil


3 Gestão de conflitos
pelo uso da água

3.1 DEFINIÇÃO NO CONTEXTO HÍDRICO

D
resolver conflitos já estabelecidos”.
Iara Bueno Giacomini
Zaki Shubber

iplomacia hídrica, hidrodiplomacia ou gestão de conflitos pelo uso da água são


termos recentes, oriundos da esfera internacional, que atualmente também se
aplicam às esferas regionais para se referir à “ciência e à arte de identificar e
prevenir conflitos pelo uso da água, bem como à capacidade de negociar, mediar e

Ciência e arte se complementam, porquê a hidrodiplomacia por um lado, exige a


presença de especialistas hídricos para tratar as questões hidrológicas e hidráulicas
presentes na situação. Por outro lado, isso demanda a capacidade dos envolvidos de
se conectarem com as necessidades das partes interessadas. Essa capacidade de se
conectar é considerada a “arte” da diplomacia.

QUADRO 3-01

Vídeo “Atuando
na gestão de
conflitos”
Foto: Tourism Australia.

Cachoeira do Monte Mulligan, QLD, Austrália.

53
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 3-02 Fala-se em “arte” porque vai além da ciência a capacidade de se conectar com os
usuários concorrentes, ouvi-los e compreender seus posicionamentos, justificativas e
Vídeo “Poder interesses, vislumbrando zonas de possíveis convergências e acordos. Também é uma
da Empatia” arte a habilidade de transmitir a própria posição de forma construtiva, permitindo às
partes interessadas irem além do conflito para alcançar espaços de busca de soluções
(SHUBBER, 2017).

Assim, como ponto de partida para fazer gestão de conflito pelo uso da água é ne-
cessário ter um arcabouço de qualificações, técnicas e não técnicas. Isso porque as
disputas hídricas geralmente ocorrem entre atores que possuem diferentes:
• Posicionamentos (querem coisas distintas), interesses (por motivos distintos) e
valores (baseados em necessidades distintas);
• Entendimentos, conhecimentos e relações com a água;
• Níveis de poder para influenciar a resolução do conflito.

3.2 RELEVÂNCIA DA GESTÃO DE CONFLITOS PELO


USO DA ÁGUA
Historicamente os sistemas hídricos, ao longo de suas trajetórias, cruzam fronteiras
culturais, políticas e administrativas, encontrando diferentes necessidades e interesses
(SADOFF; GRAY, 2002). Enquanto as populações humanas eram pequenas e as ativida-
des econômicas estavam restritas aos seus respectivos territórios, a demanda pela água
não era uma grande questão. Entretanto, devido ao crescente aumento da população,
da agricultura, da urbanização e da industrialização, tanto a demanda pela água como
a poluição hídrica têm aumentado significativamente e, consequentemente, conflitos
e disputas envolvendo o seu uso têm-se tornado mais frequentes.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Irrigação na área rural de Bueno Brandão, MG, Brasil.

54
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

Diante desse cenário, é necessário buscar cooperação entre as partes envolvidas para
minimizar perdas (MITCHELL; ZAWAHRI, 2015) e aumentar benefícios. Entretanto,
estabelecer arranjos de cooperação hídrica, que acomodem os usos competitivos de
todos os usuários interessados, não é uma tarefa simples. Por exemplo, apesar da
existência de 310 bacias hidrográficas internacionais (transfronteiriças), distribuídas
em 148 países, que drenam 80% das águas fluviais do mundo e abastecem 40% da
população global (MCCRACKEN et al., 2018a; MCCRACKEN; WOLF, 2019), apenas
140 tratados de rios internacionais (WOLF, 1997) e 119 organizações internacionais de
bacias hidrográficas foram formalizados até recentemente (SCHMEIER, 2012).
Entre as complexidades inerentes à gestão e governança da água estão o aumento pela
demanda hídrica com padrões mínimos de qualidade, a diminuição da disponibilidade
e a escassez de acordos e protocolos de cooperação hídrica. Assim, considerando tais
complexidades, incorporar a gestão de conflitos à gestão das águas é uma necessidade
urgente. O mesmo ocorre com a capacitação dos representantes dos comitês de bacias
hidrográficas (CBHs), dos gestores hídricos e dos tomadores de decisão nessa área do
conhecimento.
Segundo Wolf (1997) a gestão das águas é, por definição, gestão de conflitos. As ra-
zões dessa afirmação são as seguintes:
• Ao contrário de outros recursos escassos e consumíveis, a água é utilizada para
atender uma longa lista de demandas da sociedade, que variam da biologia à
economia, da estética à espiritualidade e da ecologia à política (WOLF, 1997);
• A sua administração é geralmente fragmentada e, muitas vezes, está sujeita a
princípios legais vagos, misteriosos e contraditórios (WOLF, 1997);
• A água é o único elemento que possui três atributos (mostrados no quadro a
seguir) que a caracterizam ao mesmo tempo como bem público, privado e patri-
mônio de uso comum (VAN DER ZAAG, 2015).

ATRIBUTO CONSEQUÊNCIA CARACTERÍSTICA


Recurso essencial à vida, Confere (alto) valor à água Bem público: direito de
Fonte: Adaptado de Van der Zaag (2015)

para o qual não há subs- todos


tituto
Recurso renovável, porém O uso por um indivíduo Bem privado: pode ser ad-
finito pode impedir o uso por quirido, estocado e apre-
outro indivíduo ciado
Recurso fugidio, flui sem Difícil prever a variação no Patrimônio de uso comum:
controle preciso no espaço estoque e fluxo bem como difícil excluir usuários e
e no tempo definir seus limites usos
Atributos da água

Assim, não existe gestão da água para um único objetivo. Toda gestão hídrica é mul-
tiobjetiva e baseia-se no desenvolvimento de interesses e usos concorrentes, mui-
tos dos quais estão constantemente em desacordo. A inserção de limites regionais,
estaduais e internacionais aumenta substancialmente a complexidade para obter
soluções mutuamente aceitáveis, devido a um número maior de partes interessadas
(MCCRACKEN; WOLF, 2009).

55
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

3.3 PRINCIPAIS CAUSAS DE CONFLITOS PELO USO


DA ÁGUA
Ao observar as causas e os problemas dos conflitos relacionados à água, nota-se que
as relações entre os atores e os usos são geralmente moldadas por assimetrias hídri-
cas naturais, proporcionadas pela geografia. Por exemplo: a forma que os usuários
à montante utilizam a água, frequentemente gera impacto sobre os usuários que se
encontram à jusante, criando disputas entre as partes altas e baixas da bacia.
Outros elementos, como o histórico de ocupação e desenvolvimento da região, as
relações das partes interessadas e a cultura que compartilham também podem exercer
influência na manutenção, resolução e prevenção dos conflitos hídricos.

Foto: Anderson Souza


(a) (b)

Riacho Vitória – Petrolina, PE, Brasil, durante o período (a) da seca e (b) das chuvas.
QUADRO 3-03

Filme “Ruivaldo, •
o homem que
salvou a terra” 3.4 CONFLITOS COMO JANELA DE OPORTUNIDADES
Se por um lado o uso da água pode gerar conflitos, por outro também pode oferecer
benefícios, como melhoria na qualidade do solo, oportunidades de comércio, turismo
e recreação, entre outros. Isso significa que o uso da água pode desencadear ambos,
conflitos e cooperação, e é a consciência dos potenciais benefícios e oportunidades
que determina qual dinâmica prevalecerá (SADOFF; GRAY, 2002).
Para desenvolver essa consciência e identificar potenciais benefícios e oportunidades
latentes em uma disputa hídrica (ou em uma ausência de cooperação) é importante
entender como a situação se desenvolveu sob diferentes perspectivas. Tendo em mente
que na base dos conflitos estão as pessoas, observa-se que a gestão de conflitos vai
além das questões técnicas e envolve também aspectos subjetivos das emoções hu-
manas, como: frustração, raiva, ansiedade, expectativa, confiabilidade, desconfiança,
rancor, entre muitas outras.

56
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Atividades recreativas na Represa de Paraibuna, SP, Brasil.

Dessa forma, os processos de gestão de conflitos são pluralistas, multifacetados e en- QUADRO 3-04
volvem complexas dimensões dos relacionamentos humanos que vão muito além dos
aspectos superficiais do conflito. Por isso, organizar momentos para os atores de um Vídeo “Como
conflito hídrico passarem um período de descontração juntos, de maneira informal (al- conviver com as
moços, jogos, coffee-breaks, caminhadas etc.), geralmente cria oportunidades para se diferenças?”
conectarem de alguma forma, o que consequentemente facilita a negociação.

Assim, soluções técnicas nem sempre são suficientes para encerrar uma disputa ou iniciar
uma cooperação. Mágoas históricas, falta de confiança, erros não assumidos e problemas
não endereçados são exemplos que podem minar a resolução de um conflito quando
ficam de fora das negociações. Nesse contexto destaca-se um conceito central para ges-
tão de conflitos: a percepção. Isso porque os conflitos se desenvolvem muito mais pelas
percepções que as partes têm em relação ao problema ou às outras partes envolvidas, do
que em relação às atitudes ou comportamentos das partes em si. Essas percepções ten-
dem a ser subjetivas. Isso determina a principal regra da gestão de conflitos: não assumir
premissas e sempre perguntar, para validar os entendimentos junto às partes envolvidas.

3.5 CICLO DE VIDA DOS CONFLITOS


O ciclo de vida dos conflitos, apresentado por Swanström e Weissmann (2005), evi-
dencia como o fator tempo é importante na gestão de conflitos pelo uso da água, pois
a água tende a ser o recurso escasso no centro do conflito. Quanto antes a disputa
for gerenciada, maior será a chance de sucesso e cooperação entre as partes. Avaliar o
fator tempo e compreender o ciclo dos conflitos é essencial para definir onde e quando
aplicar diferentes estratégias de prevenção e gestão.
Um conflito não é uma situação estática, mas sim, dinâmica, na qual o nível de inten-
sidade muda ao longo do tempo. Em princípio, a prevenção de conflitos é projetada

57
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

para as fases iniciais, ou seja, antes que um conflito se instale. As medidas de gestão
de conflitos são aplicadas quando ele já se instalou, mas antes que episódios de vio-
lência tenham ocorrido. Já as medidas de resolução de conflitos são aplicadas na fase
de apaziguamento, após a ocorrência de um conflito violento.

Nível de intensidade Fase de agravamento Fase de abrandamento


do conflito

Fonte: Adaptado de Swanstorm e Weissman (2005)


Guerra ESFORÇO DE PAZ

Crise GESTÃO DE CRISE MANUTENÇÃO DA PAZ

Conflito aberto GESTÃO DE CONFLITOS GESTÃO DE CONFLITOS

Paz instável PREVENÇÃO DIRETA CONSTRUÇÃO DA PAZ

Paz estável PREVENÇÃO ESTRUURAL CONSOLIDAÇÃO DA PAZ

Duração
Estágio inicial Estágio médio Estágio final do conflito
Ciclo de conflitos

A curva do ciclo de conflitos mostra cinco níveis de intensidade (paz estável, paz
instável, conflito aberto, crise e guerra), que correspondem a um total de nove fases
cronológicas. O nível de paz estável é uma situação em que a tensão entre as partes
é baixa e existem diferentes formas de conexões e cooperação entre elas, incluindo
áreas temáticas não sensíveis. Em um período de paz instável, a tensão aumenta, é
uma situação em que, embora o cenário seja pacífico, existem graves tensões entre as
partes e a paz não está mais garantida. Conflito aberto é definido quando um conflito
é instalado e as partes tomam providências para lidar com isso. Na fase de crise, o risco
de ações militares é iminente e provável, podendo haver violência esporádica entre as
partes. No entanto, não há violência aberta e de forma regular. Na fase de guerra, por
outro lado, existe violência generalizada e intensa. Na fase de abrandamento, o padrão
é revertido, passando da guerra para a crise, por meio de conflito aberto e paz instável
para finalmente alcançar uma situação de paz estável.
É importante ter em mente que, na fase de paz estável, medidas de prevenção estrutu-
ral são recomendadas e visam endereçar questões como o desenvolvimento econômi-
co, a participação política ou a autonomia de alguns grupos. O benefício principal das
medidas estruturais, em um estágio inicial de prevenção de conflitos, é simplesmente
que a aceitação de medidas preventivas tende a ser maior na ausência de disputas e
de desconfianças, ou seja, é a fase mais fácil de atuar. Em adição, a implementação de
medidas estruturais em estágios iniciais de prevenção de conflitos diminui a probabi-
lidade do conflito se estabelecer. Quanto mais pronunciado um conflito se torna, mais
as medidas estruturais perdem importância como estratégia e mais necessárias são as
medidas específicas. No dito popular, é na fase da lua de mel que se deve decidir quais

58
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

são as regras para as fases de desentendimentos. São exemplos de medidas de preven-


ção estrutural de conflitos: o estabelecimento de instituições, o desenvolvimento da
confiança, a criação de oportunidades de cooperação.
Na fase de paz instável, as medidas preventivas diretas são direcionadas a problemas com
um objetivo de curto prazo em mente, ou seja, de reduzir a tensão e criar confiança entre
os atores. Simultaneamente, a janela de oportunidade para iniciativas de longo prazo, QUADRO 3-05
como a construção de instituições, desaparece lentamente e a solução do conflito tor-
na-se mais específica e mais cara em termos financeiros e políticos. Medidas preventivas Audio do livro
diretas podem, por exemplo, ser dinâmicas de grupo formais ou informais, lidando com “Comunicação
possíveis questões do conflito e utilizando técnicas de comunicação não violenta. não violenta”

Foto: Tourism Australia.


Rio Hodgkinson com vista para o Monte Mulligan, QLD, Austrália.

A gestão de conflitos e a gestão de crises, por outro lado, envolvem táticas que são
aplicadas quando um conflito com violência é considerado provável (gestão de con-
flitos violentos) ou iminente (gestão de crises), mas antes de se transformar em uma
guerra (ápice). As medidas de gestão de conflitos podem ser aplicadas tão logo um
conflito seja identificado pelos atores, como um esforço para reduzir a tensão e evitar
mais escaladas. Medidas diretas como facilitação, mediação, negociação e intervenção
de terceiros (formal e informal), podem ser utilizadas para lidar com o conflito e rever-
ter um comportamento destrutivo, em construtivo.
As medidas de gestão de crises precisam ser empregadas em curto intervalo de tempo, antes
de uma guerra irromper, cenário que ocorre quando o conflito aumenta rapidamente e o
tempo para gerenciamento das medidas é limitado. Esse período é caracterizado por uma
escassez de tempo e de outros recursos para enfrentar a situação, bem como por infor-
mações inadequadas. Ele envolve medidas mais drásticas, que visam conter a eclosão de
conflitos militarizados com todos os meios disponíveis. Exemplos de tais medidas incluem a
intervenção formal de atores externos, como mediadores ou negociadores.
As fases da construção da paz e da reconciliação da paz costumam ser dispendiosas,
requerendo enormes compromissos políticos e econômicos, compromisso da comuni-
dade, bem como dos atores envolvidos. Isso sem falar nos custos econômicos e sociais

59
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

que afetam a população em geral, mas especialmente as camadas mais vulneráveis da


sociedade. Desse modo, o investimento em medidas preventivas de gestão de conflitos,
bem como os esforços para apaziguar conflitos, o mais breve possível, são fortemente
recomendáveis.

Ilustração: Shutterstock
Esforços para apaziguar conflitos

3.6 FERRAMENTAS PARA ANÁLISE DE CONFLITO


Para analisar e entender um conflito pelo uso da água é necessário um conjunto de
ferramentas cujos resultados integrados geram uma visão abrangente dos conflitos
latentes ou instalados. Existem diversas ferramentas que auxiliam na identificação da
causa e da natureza dos conflitos e cada uma delas fornece pistas de como lidar com
eles em determinados aspectos. Não existe uma ferramenta que forneça todas as infor-
mações necessárias de uma única vez. Portanto, ignorar a complementariedade dessas
ferramentas pode culminar na negligência de fatores-chave de um conflito, dificultan-
do a tomada de decisão de forma efetiva, o consenso, ou o avanço das negociações.
Algumas ferramentas são descritas a seguir.
Escuta ativa - Escutar de forma ativa é diferente de ouvir. É o modo de entender e
tentar mudar algo em função daquilo que se escuta. Ou seja, é entender porque certas
coisas são ditas de um jeito e porque há outras que não são ditas. Na escuta ativa ob-
serva-se a linguagem corporal e o lugar. O tempo e o ritmo de fala do outro são respei-
tados. A possibilidade de escutar o outro parte do princípio que o nosso conhecimento
sobre qualquer situação é incompleto, que existe parte do enredo que desconhecemos
e que, portanto, devemos aprender com o outro. Essa aprendizagem pode ser difícil,

60
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

já que é necessário entender o conhecimento do outro. Também implica compreender QUADRO 3-06
que buscar soluções por meio da perspectiva do outro é uma das ferramentas mais
promissoras que existem na resolução de conflitos (BOAVENTURA, 2015). Vídeo
“A escuta ativa”
Para praticar o processo de resolução de conflitos, devemos abandonar
completamente o objetivo de levar as pessoas a fazerem aquilo que nós
queremos. Marshall Rosemberg (1934-2015)

Dinâmica de conflito - Essa ferramenta contribui na identificação das causas do con-
flito em diferentes momentos, da manifestação ao escalonamento, e permite checar
possíveis pontos de intervenção. Ela vislumbra três tipos de causas:
a) Causas estruturais (básicas) – fatores-chave de tensão que levam ou podem levar a
conflitos, como a exclusão socioeconômica ou o protagonismo de instituições fracas.
b) Causas circunstanciais - desencadeiam maior escalonamento do conflito, como elei-
ções ou alto índice de desemprego.
c) Causas gatilho - imediatamente após o escalonamento do conflito, facilitam a ma-
nifestação externa do conflito ou aumentam a sua intensificação, como a violência ou
a depredação de estruturas, que podem potencializar o conflito.
Árvore de conflito – Essa ferramenta contribui com a identificação de sinais que vão além
dos sinais visíveis do conflito, possibilitando identificar suas causas primárias (raiz do proble-
ma), suas manifestações (tronco) e suas consequências diretas (galhos) e indiretas (frutos).
Consequentemente, ela permite decidir se é mais eficiente agir nas causas do conflito ou nas
suas consequências. É útil também para separar as pessoas dos problemas e ajudar os en-
volvidos a relacionar causas e efeitos. É possível definir estratégias de ação direcionadas para
as causas e para os efeitos, por meio de soluções e não de culpados. O fator limitante dessa
ferramenta é que ela não permite visualizar diferentes perspectivas sobre a mesma disputa.

Frutos:
Consequências Indiretas

Galhos:
Consequências Diretas
Ilustração: Iara Bueno Giacomini

Tronco:
Manifestação do Problema (Foco)

Raiz: Causas Primárias do Problema

Árvore de problemas

61
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Linha do tempo – Essa ferramenta que oferece a representação dos eventos distribuí-
dos ao longo do tempo, lista as datas e os eventos em ordem cronológica, evidencia
as diferentes perspectivas das partes envolvidas e considera o contexto histórico dos
acontecimentos. É útil para esclarecer e compreender a percepção de cada parte en-
volvida ao longo dos eventos. Também auxilia a identificar quais eventos são mais
relevantes para cada parte e permite desenvolver percepções comuns, destacando as
percepções divergentes. No entanto, não apresenta os nexos causais e nem a relação
entre os atores envolvidos.
Mapa de conflito – Essa ferramenta auxilia na identificação dos tipos de relação
existentes entre os atores envolvidos no conflito, ou seja, se são aliados, se um tem
influência sobre o outro, se as relações estão rompidas e assim por diante. Dessa
forma, norteia as melhores estratégias de comunicação e ação para avançar rumo às
soluções.

Relação
Relação Desconhecida
Conflituosa

Aliança
Forte

Ilustração: Iara Bueno Giacomini


Influência
Relação Direta
Rompida

Aliança
Muito
Forte

Relação Interna

Mapa de conflitos

Técnica da cebola – Permite aprofundar o entendimento em relação às demandas


do conflito a partir da analogia de uma cebola e suas camadas. As camadas superfi-
ciais da cebola representam o que as partes envolvidas dizem que querem. Conforme
são aprofundadas as análises e os diálogos, identificam-se os interesses por trás das
posições, ou seja, os motivos pelos quais se almeja algo. Os interesses seriam as ca-
madas intermediárias da cebola, que só podem ser encontradas quando as camadas
superficiais são removidas. Aprofundando-se ainda mais nas análises e nos diálogos,
encontram-se as necessidades reais que estão por trás do interesse, ou seja, o porquê
daquilo ser, de fato, importante. Frequentemente as necessidades estão relacionadas
com os valores pessoais ou institucionais das partes envolvidas. Essa ferramenta não
vislumbra a questão temporal ou a relação entre os envolvidos, mas permite identificar
se existe algum ponto de convergência entre os atores.

62
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

POSIÇÃO
(O QUE EU QUERO)
Ilustração: Iara Bueno Giacomini

INTERESSE
(PORQUE EU QUERO/
O QUE REALMENTE EU QUERO)

NECESSIDADES
(O QUE EU PRECISO)

Técnica da cebola

Toda violência é a manifestação trágica de uma necessidade não atendida.


Marshall Rosemberg (1934-2015)

Entrevistas – Permite dialogar com as partes envolvidas ou com os especialistas nas


causas do conflito. Consequentemente, pode-se esclarecer dúvidas e narrativas que
tenham ocorrido ao longo da utilização das ferramentas anteriormente mencionadas.
Para a aplicação de entrevistas é importante estar atento ao princípio de confidencia-
lidade, haja vista que algumas questões sensíveis podem ser mencionadas.
Siga a água – Ferramenta que faz analogia ao fluxo da água, na forma como ele
ocorre, identificando quem tem e quem não tem acesso à mesma, bem como quem
determinou e como determinou essa distribuição. Auxilia na identificação dos atores
envolvidos na disputa, dos níveis de influência que esses atores exercem e do nível de
interesse que possuem em administrar o conflito (ZWARTEVEEN, 2017).

3.7 GESTÃO DE CONFLITOS NA PRÁTICA


Conflitos pelo uso da água são contextos específicos, ou seja, são lapidados e influenciados
por circunstâncias regionais e temporais de forma que não existe uma receita única para
lidar com eles. Cada conflito tem sua especificidade e peculiaridade. Cabe aos gestores QUADRO 3-07
combinarem a experiência e o conhecimento dos atores envolvidos com experiências bem
sucedidas de gestão de outros conflitos, com ferramentas de resolução de conflitos e comu- Notícia “Crescem
nicação não violenta a fim de moldar uma estratégia viável para a situação que se apresenta. conflitos devido
ao uso da água
Uma das abordagens disponíveis para gerir conflitos hídricos é chamada de “3 passos da no Brasil”
diplomacia hídrica” (SHUBBER; CAUWENBERGH, 2017), e pode ser utilizada tanto para a
gestão de conflitos pelo uso da água quanto para a cooperação. Essa abordagem foi desen-
volvida com base em práticas reconhecidas e amplamente utilizadas de análise de conflito,
diplomacia da água e planejamento de recursos hídricos. A sua aplicação é recomendada
devido à versatilidade de adaptação aos diferentes contextos e situações, respeitando, por-
tanto, a pluralidade inerente dos conflitos hídricos. Os três passos são descritos a seguir.

63
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Passo 1: Antes de resolver o problema, é preciso entender o problema


É fundamental identificar todos os atores envolvidos e analisar a situação a partir de
diferentes perspectivas, sob a ótica do próprio recurso hídrico, dos atores e das insti-
tuições envolvidas, da legislação, da história, da hidrologia, da fisiografia, da cultura,
da política, dos aspectos sociais, ecológicos e biofísicos, das diferentes áreas do conhe-
cimento e assim por diante.
Esse primeiro passo fornece uma visão geral dos diferentes elementos relativos à si-
tuação. Ele, consequentemente, influencia a percepção e as emoções de todos os
envolvidos, além de permitir a identificação dos tópicos convergentes e das zonas
de possíveis acordos e intervenções, as quais podem ser propostas e implementadas.
Negligenciar alguns atores pode ser uma tentativa para economizar o tempo investido
na descrição e na análise da situação, mas compromete seriamente o desenvolvimento
dos próximos passos, o que vem a demandar ainda mais tempo. Mais adiante serão
apresentadas ferramentas para o desenvolvimento desse estágio.
Para iniciar essa etapa, é fundamental conversar com os envolvidos, buscar reportagens
na mídia e ler artigos científicos que tratem sobre a região do conflito.
QUADRO 3-08
Passo 2: Negociação e tomada de decisão
Vídeo “Agressivo,
Com base na análise da situação são determinadas as estratégias de negociação ade-
passivo ou
quadas e os possíveis processos de intervenção para enfrentar a situação. É nesse
assertivo?”
estágio que as cartas são postas na mesa e que todos os envolvidos negociam as so-
luções. Também é importante que as posições e interesses estejam claros. A clareza na
comunicação é imprescindível nesse momento.

Passo 3: Implementação
Após a tomada de decisão, é fundamental que as partes envolvidas reflitam sobre a
realidade do local e sobre o momento ideal para que a tomada de decisão seja im-
plementada. Ou seja, é necessário identificar os desafios e as oportunidades de se
colocar em prática as decisões tomadas anteriormente. Esse exercício ajuda a moldar o
resultado final do processo, pois considera de forma antecipada as potenciais sinergias
e limitações dos aspectos práticos e das soluções propostas. Ao focar nos desafios e
oportunidades de se colocar em prática as decisões negociadas, as partes envolvidas
também antecipam e previnem possíveis conflitos futuros (medidas de prevenção es-
trutural). Esse passo também pode influenciar nas negociações em andamento, pois
soluções previamente concebidas podem precisar de adaptações para lidar com ques-
tões que surgem apenas na execução das ações.
O foco explícito na tomada de decisão e implementação dessa abordagem pode fa-
cilitar o alinhamento de diferentes políticas para prevenir ou evitar conflitos ou, ain-
da, estabelecer cooperações. Nesse contexto, uma atenção especial deve ser dada ao
alinhamento dos objetivos intersetoriais, pois eles geralmente apresentam interesses
divergentes, os quais se caracterizam como possíveis fontes de conflito.
Por fim, essa abordagem deve ser vista como um processo interativo, haja vista que
raramente os três passos ocorrem perfeitamente um após o outro. Por exemplo: pode
haver sobreposição se novos elementos do conflito forem descobertos, o que deman-

64
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

dará revisão na análise da situação (Passo 1) e consequente ajuste nas negociações e


nas tomadas de decisão (Passo 2). Ou então, novos desafios podem surgir durante o
processo de implementação das decisões (Passo 3), o que por sua vez, demandarão
novas discussões e acordos por meio da retomada do processo de negociação e de
tomada de decisão. Portanto, deve-se agir de forma flexível para a condução dos tra-
balhos da gestão de conflitos.
Foto: Tourism Australia.

Rio Coomera, Gold Coast, QLD, Austrália.

3.8 SOLUÇÃO DE CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA NO


BRASIL
No Brasil, a Lei nº. 9.433/1997, instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e
criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Nessa lei estão pre-
vistos três dispositivos para arbitrar os conflitos:
• Art. 32. Fica criado o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
tendo como um dos objetivos arbitrar administrativamente os conflitos relacio-
nados com os recursos hídricos; QUADRO 3-09
• Art. 35. Compete também ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos arbitrar,
em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos Esta- Livro “Solução
duais de Recursos Hídricos; de conflitos pelo
uso da água”
• Art. 38. Aos Comitês de Bacia Hidrográfica, no âmbito de sua área de atuação,
compete também arbitrar, em primeira instância administrativa, os conflitos rela-
cionados aos recursos hídricos.

De acordo com publicação da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA),
arbitrar conflitos hídricos significa construir pactos com a participação do governo,
dos usuários de água e da sociedade civil. Esses pactos devem:

65
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

• Definir prioridades de uso e grau de atendimento das demandas hídricas;


• Limitar a demanda, ampliar a oferta hídrica e gerir o risco;
• Escolher e promover ações que maximizem o bem-estar da coletividade;
• Garantir a manutenção e a preservação dos ecossistemas.
Em 1991, a Política de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo instituiu os primeiros
Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) no Brasil, e em 1997, a Política Nacional de
Recursos Hídricos institui os CBHs nacionalmente, determinando que nestes fóruns
sejam tratados, administrativamente e em primeira instância, os conflitos pelo uso da
água em sua área de atuação.

Foto: Anderson Souza


(a) (b)

Transposição do Rio São Francisco – Reservatório Negreiros, Salgueiro, PE, Brasil: (a) em construção e (b) depois de construído.
QUADRO 3-10

A Experiência
de Alocação de Apesar da previsão legal, a necessidade de rapidez e efetividade na busca de soluções em
Água no Ceará torno de diversos conflitos pelo uso da água exigiu a criação de outros agrupamentos,
permanentes ou provisórios, para auxiliar na resolução dos conflitos. Por exemplo, o Es-
tado do Espírito Santo, que possui 13 comitês de bacias hidrográficas e criou o Comitê
Hídrico Governamental para enfrentar a crise hídrica que assolou o Estado no biênio
2015-2016. Esse comitê era composto pelos representantes de diversas entidades:
• Companhia Espírito-Santense de Saneamento
• Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca
• Secretaria de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano
• Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
• Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal
• Instituto Capixaba de Pesquisa
• Assistência Técnica e Extensão Rural

66
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3
QUADRO 3-11
• Agência Estadual de Recursos Hídricos
E-book
• Prefeituras dos municípios de Colatina, Santa Maria de Jetibá, Cachoeiro de Ita- “Construindo
pemirim e Domingos Martins. pactos pelo uso
da água”

Outro exemplo é o caso da bacia do Rio Paraíba do Sul, cuja grave escassez hídrica
demandou a formação de um grupo formado pela ANA, o Departamento de Águas
e Energia Elétrica do Estado de São Paulo, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas
e o Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro. Essas entidades se reuniram e
coletivamente editaram a Resolução ANA 1.382/2015, que determina as condições de
operação no sistema hidráulico (reservatórios) e da transposição do sistema Guandu na
bacia. Esse acordo para a gestão compartilhada da bacia do Paraíba do Sul foi homo- QUADRO 3-12
logado pelo Supremo Tribunal Federal.
• Vídeo “Exemplos
de alocação
de água para
gestão de
3.9 DICAS VALIOSAS PARA A GESTÃO DE CONFLITOS conflitos”
PELO USO DA ÁGUA
Como foi dito anteriormente, não existe uma receita pronta de técnicas que atenda
de forma satisfatória e adequada as peculiaridades de todos os conflitos pelo uso da
água. Por essa razão, foi apresentada uma visão geral sobre a gestão de conflitos, no
contexto geral e hídrico. Foram indicadas ferramentas e abordagens para a gestão de
conflitos com o intuito de que o leitor, ao participar de uma disputa hídrica, possa
avaliar quais são mais adequadas para serem aplicadas no momento a partir de sua
experiência e conhecimento.
Para sintetizar, são apresentadas 13 recomendações básicas para a gestão de conflitos
pelo uso da água. Apesar de parecerem simples, determinam impacto positivo signifi-
cativo quando são utilizadas.
1. Ambiente: o recebimento de uma reunião para lidar com o conflito hídrico de
forma presencial requer a preparação de um ambiente acolhedor e agradável para
receber os atores. As características do local são importantes porque os atores
precisam sentir-se confortáveis e seguros para abordar questões sensíveis. A re-
comendação é manter as cadeiras em forma de U ou em círculo, pois facilitam a
comunicação e diminuem os constrangimentos das diferentes escalas de poder
das partes envolvidas.
2. Transparência: manter quadro branco, lousa ou flipchart para registrar os enca-
minhamentos em tempo real e deixá-los visíveis durante todo o tempo. Isso con-
fere transparência e participação ao processo. Também auxilia o grupo quando
questões já definidas voltam à pauta.
3. Regras de conduta: no início do primeiro encontro é fundamental convidar os
atores presentes a definirem regras de conduta das reuniões e discussões. Essa
prática é muito valiosa para gerir momentos de falas acaloradas ou de desenten-
dimentos. Exemplos de regras de conduta são: tempo de fala, todas as opiniões

67
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

são bem-vindas, confidencialidade, desrespeito não será tolerado, pontualidade,


intervalos, guardiões do tempo, dentre outros. As regras de conduta devem ser es-
critas em letras grandes e devem ficar visíveis para todos, durante todo o tempo.
Essa conduta ajuda a manter o bom desenvolvimento das discussões.
4. Nunca assuma premissas, pergunte: premissas assumidas unilateralmente são
equivocadas na maioria das vezes e, frequentemente, geram atritos, atrasam ou
paralisam as negociações. Valide seus entendimentos junto às partes envolvidas
perguntando clara e objetivamente se o seu entendimento sobre determinada
questão está correto. Essa prática, além de trazer clareza ao processo, ajuda no
desenvolvimento da confiança entre as partes e, consequentemente, cria um am-
biente mais propenso à cooperação. Uma maneira simples de validar seu enten-
dimento é confirmar isso com a outra parte: “Eu entendi que ... Esse entendimento
está correto?”
5. Conceitos importam: é crucial verificar se os atores envolvidos têm o mesmo en-
tendimento sobre os conceitos das palavras-chave envolvidas na disputa hídrica
ao iniciar qualquer discussão. Isso evita conflitos desnecessários e permite ganhar
tempo nas negociações. Se os conceitos forem distintos, é fundamental investir
tempo para encontrar o consenso e só a partir dele avançar nas discussões.
6. O ótimo é inimigo do bom: quando os recursos (tempo/dinheiro) forem escassos
é relevante perguntar: qual é a quantidade mínima de dados necessários para
uma decisão razoavelmente boa? A gestão da água é um tema bastante com-
plexo. Trabalhar com poucos dados e conseguir algum avanço é melhor do que
trabalhar com muitos dados e não produzir os avanços esperados.
7. A solução sempre vem de dentro: é extremamente relevante engajar atores e con-
siderar os conhecimentos dos que vivem no local ao longo das tratativas dos confli-
tos. As tomadas de decisão mais efetivas e estáveis ao longo do tempo são aquelas
que envolvem as pessoas que vivem o conflito e suas consequências no dia a dia.
8. Conhecer uns aos outros: a promoção de situações nas quais os representantes
QUADRO 3-13 das partes envolvidas possam se conhecer e conversar de forma descontraída e
informal, como coffee-breaks, almoços e intervalos de reuniões, permite o desen-
Vídeo “Como volvimento de relações pessoais que geralmente facilitam as negociações formais.
aprender a
escutar o outro?” 9. Escutar os outros: é preciso ser um bom ouvinte para ser um bom mediador/
facilitador de conflitos. É valido investir em capacitação de escuta ativa ou pro-
funda, comunicação não violenta, mediação e facilitação para desenvolver e apri-
morar as habilidades de ouvir.

10. Conhecer os seus gatilhos: é comum ao longo das tratativas dos conflitos pelo
uso da água que algumas falas ou comportamentos tragam à tona emoções for-
tes, experimentadas pelos envolvidos, de forma emocional e descontrolada. Ao
participar do gerenciamento de um conflito, é recomendável que tanto os atores
envolvidos quanto os mediadores identifiquem questões sensíveis que possam
ativar os seus gatilhos emocionais (ataques de raiva ou de choro, ou impaciência,
por exemplo), para minimizar mal-entendidos, falhas de comunicação e atrasos
no andamento das discussões.

68
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

Nós nunca ficamos com raiva por causa do que os outros dizem ou fazem. É
o nosso pensamento que nos deixa com raiva. Marshall Rosemberg (1934-2015)
11. É na lua de mel que se definem as regras do divórcio: a precaução sugere não
esperar um conflito se configurar para então definir as regras de conduta que
serão adotadas. O mais prudente e vantajoso, em qualquer situação que envolva
duas partes ou mais, é prever, logo de início, os mecanismos e ferramentas que
serão utilizados em caso de disputa.
12. Judicializar é difícil, caro e lento: é mais fácil, barato e rápido negociar e ge-
renciar conflitos hídricos nos comitês e fóruns locais do que apostar em ações na
justiça. A judicialização de conflitos, além de demandar grande aporte financeiro
para as despesas administrativas e contratação de advogados, retira as partes
envolvidas da tomada de decisão e pode implicar em atraso até a sentença final.
Se não houver êxito na busca pelo consenso, é recomendável a contratação de
mediadores especializados em conflitos pelo uso da água para ajudar no desen-
volvimento e no encaminhamento das discussões
• O significado da água: lembrar que quando um rio atravessa fronteiras ou li-
mites, transporta mais que volumes de água. Ele transporta valores, tradições,
cultura, religiosidade e práticas ancestrais. Reconhecer, validar e respeitar esses
aspectos durante a gestão de conflitos hídricos faz jus a premissa dos usos múl-
tiplos da água, garante a participação social e, geralmente, aumenta a vida útil
das soluções encontradas

Assistam ao IV Webinário
IFSP “Gestão de águas QUADRO 3-14
superficiais e subterrâneas,
interestaduais e
Foto: Tourism Australia

transfronteiriças”

Rio Babinda, QLD, Australia

69
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

ESTUDO DE CASO

GESTÃO DE CONFLITOS HÍDRICOS NA BACIA DE


MURRAY-DARLING, AUSTRÁLIA
Nick R. Bond

O aumento da demanda da água

A Bacia de Murray-Darling é a maior e mais importante região agrícola da Austrália,


cobrindo mais de 1 milhão de quilômetros quadrados (km2) com áreas irrigadas produ-
zindo o equivalente a AU$ 8 bilhões por ano. Aproximadamente 2 milhões de pessoas
vivem ali, sendo 8 % da população local composta por povos nativos da Austrália.
A Bacia de Murray-Darling é composta por diversos sistemas e ecossistemas aquáticos:
rios, áreas alagadas e várzeas, incluindo 16 áreas de importância internacional, reco-
nhecidas como Pântanos de Ramsar (BOND et al. 2021). Embora seja muito variada, do
ponto de vista geográfico, a bacia apresenta pluviosidade relativamente baixa (média
anual de 457 mm), sendo que o volume total de chuva varia consideravelmente de um
ano para o outro com ciclos de seca muito frequentes.

Foto: Nick R. Bond

Áreas pantanosas na Bacia de Murray-Darling em VIC e NSW, Austrália

70
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

A irrigação desempenhou papel importante para viabilizar a produção agrícola na QUADRO 3-15
região desde o final do século 19, mas devido à grande variação da precipitação, a
segurança hídrica do setor agrícola tornou-se um grande desafio. Ocorreu então, entre Mapa da bacia de
1950 e 1960, a construção de grandes reservatórios de água, que por sua vez fomen- Murray-Darling
tou significativamente a expansão de áreas irrigadas. O resultado dessa dinâmica é o
aumento dramático do uso da água para fins de irrigação no período seco.

A figura a seguir apresenta o crescimento da demanda hídrica na Bacia de Murray–
Darling no período de 1920-2020, o uso total de água e também os limites desse uso
(teto) estabelecido em 1994 como o primeiro passo para reduzir o declínio da saúde
dos rios (WILLIAMS, 2017).

14000 Vazão natural média


Total de outorgas para o uso da água
Total
12000
Limite máximo
Desvio anual (Gigalitros/ano)

10000

8000
1994
1988

NSW
6000

Vitória
4000
Fonte: Williams (2017)

2000 Austrália do Sul

Queensland
0 ACT
1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020

Crescimento uso da água na Bacia de Murray–Darling no período de 1920-2020

Os tipos de uso da água variam entre as partes norte e sul da bacia. A maior parte das
grandes represas para armazenamento de água estão no sul, que mantém a água nas
cabeceiras dos rios, liberando os fluxos de forma controlada para o atendimento das
demandas de irrigação da horticultura, cultura de vegetais e produção de laticínios.
Em contraste, na região norte da bacia, a maior parte da água utilizada na agricultura
é bombeada diretamente dos rios ou capturada em sistemas de armazenamento nas
planícies de inundação, sobretudo durante as enchentes, para serem utilizadas princi-
palmente no cultivo de algodão. Nas duas regiões, o aumento da estocagem de água
e os padrões de uso alteraram significativamente o volume e o fluxo dos rios. Isso cau-
sou uma série de impactos negativos ao ecossistema de rios e várzeas, que dependem
de enchentes sazonais para a manutenção de seus processos (BOND et al. 2021) e os
conflitos pelo uso e qualidade da água apareceram.

71
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

A necessidade de reforma hídrica

Na década de 90, surge a consciência crescente de que a saúde dos rios na bacia de Mur-
ray-Darling estava declinando em função dos níveis de extração de água praticados. Em
1991, registrou-se uma das maiores proliferações de cianofíceas (algas azuis) observadas
na região, cobrindo uma extensão superior a 1.000 km do Rio Darling (DONNELLY et
al. 1997). A constatação de que os volumes captados haviam se tornado insustentáveis
inaugurou, assim, o período da “Reforma Hídrica”, que continua até hoje. Como primei-
ro passo, um limite máximo (teto) foi estabelecido em 1994, com o objetivo de limitar
o uso futuro da água (HART et al. 2021). Pouco tempo depois, as “Secas do Milênio”
(1997-2009) reduziram drasticamente o volume de água dos rios da bacia. Os volumes
se mantiveram baixos nos anos posteriores, mesmo naqueles de alta pluviosidade, como
foi o caso de 2010. Desde o ano 2000, a média da vazão dos rios da bacia estão quase 50
% abaixo da média histórica de longo prazo. A média de vazão da bacia Murray-Darling
de 2000 até 2020 foi de 6.841 Gigalitros/ano comparado com 11.234 Gigalitros/ano
de 1900 até 2000 (MDBA, 2020). Adicionalmente, espera-se uma redução contínua da
vazão em função dos impactos das mudanças climáticas.

vazão média
para 1999/2000
11.234 vazão média dos
Gigalitros/ano últimos 20 anos
6.841
Gigalitros/ano
Gigalitros/ano

Fonte: MDBA (2020).

volume de vazão média para vazão média dos 10% mais seco dos
vazão anual 1999/2000 últimos 20 anos anos da série

Crescimento da demanda hídrica na Bacia de Murray–Darling no período de 1920-2020

Em 2007, como resposta ao declínio constante da saúde dos rios da bacia de Mur-
ray- Darling, o Parlamento Australiano aprovou, com apoio dos governos dos es-
tados localizados na bacia de Murray-Darling, o Ato da Água de 2007 (Water Act
2007), cujo objetivo era melhorar os resultados da gestão de água na região.

72
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

Os elementos-chave desse ato incluíam a elaboração do Plano da Bacia, a determi-


nação formal do volume permitido de captação para uso na irrigação e o estabele-
cimento de duas novas agências do governo: 1) Agência ....Authority), que ajuda a
coordenar...da bacia; 2) Suporte Ambiental... CEWH), que atua como gestor das ou-
torgas de uso da água com a missão de maximizar os resultados ambientais oriundos
do manejo hídrico na bacia (HART et al. 2021). Ao mesmo tempo, um pacote finan-
ceiro de AU$ 10 bilhões foi anunciado para ajudar a restaurar a segurança hídrica
na região por meio da recuperação da qualidade e quantidade da água da bacia em
áreas superexplotadas, nas quais os níveis de uso ultrapassavam o limite sustentável.

Em meados de 1980, o setor agrícola precisava de um mecanismo para transferir os


direitos da água de um usuário para outro, e junto com alguns formuladores de polí-
ticas, defenderam a separação dos direitos de uso da água dos direitos de uso da terra.
Criou-se então o mercado de água, o qual permite que outorgas de direito de uso da
água fossem negociadas, por meio de contratos de compra e venda, entre usuários da
água, de acordo com seus interesses. Isso ajudou a sociedade aceitar a separação dos
direitos de uso da água e da terra (AUSTRALIA, 2021).

Conflitos atuais na bacia

Mesmo com tantos esforços e regulações, concordar e restaurar os níveis adequados


para o equilíbrio entre o uso da água para irrigação e as necessidades do meio ambien-
te têm sido motivo de muita polêmica e discussões, altamente politizadas, na região
da bacia de Murray-Darling.

O Plano de Bacia tornou-se efetivo em 2012 e, entre outros elementos, estabele-


ceu metas claras para a recuperação da vazão ecológica, restringindo a captação
de água de importantes rios da bacia para uso na irrigação. Como os irrigadores
precisavam de um mecanismo para transferir os direitos da água de um usuário
para outro, surgiu a demanda de separação dos direitos de uso da água dos di-
reitos da terra.

Nesse sentido, visando poupar as águas superficiais da bacia, o governo incen-


tivou a renovação das outorgas de direito (ou seja, a recompra) de uso da água
para poços e para outras formas de captação ligadas à agricultura. Apesar dos
embasamentos técnicos, essa política foi muito polêmica, devido aos possíveis
impactos sociais e econômicos que a restrição de uso da água poderia causar para
agricultura.

Como resultado, a política governamental tem evitado comprar outorgas de uso da


água, passando a investir em medidas de aumento de eficiência hídrica, como a re-
dução de perdas físicas de água sem diminuir o volume total utilizado na irrigação.
Até 2021, aproximadamente AU$ 6 bilhões foram gastos na recuperação de 70 % do
volume de água necessário para a manutenção da sustentabilidade hídrica, a qual foi
prevista no Plano de Bacia de Murray-Darling (GRAFTON; WHEELER, 2018).

73
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Foto: Nick R. Bond


Florestas de Eucalyptus ao longo do Rio Murray, Victoria, Austrália.

Até o momento as metas do Plano de Bacia de Murray-Darling para recuperação da


disponibilidade hídrica não foram plenamente atingidas. Primeiramente, porque mui-
tas das metas para melhoria dos ecossistemas precisam de tempo para se tornarem
evidentes. Um exemplo disso é o prazo para o repovoamento das populações ripárias.
E também porque as condições de extrema seca, que persistem desde 1997 na região,
anularam parte dos esforços realizados.
Nesse sentido, desde 2014 têm sido realizados investimentos significativos no monito-
ramento das alterações dos padrões da hidrologia para acompanhar a disponibilidade
hídrica e dos ecossistemas ripários para verificar a evolução da sua saúde (HALE et
al. 2020). Além disso, tem-se focado no uso adaptativo de princípios de manejo para
melhorar os resultados ambientais obtidos ao longo do tempo, os quais demonstram
como os ecossistemas respondem às mudanças hidrológicas dos rios e várzeas (HALE
et al. 2020). Um resultado relevante é que as reduções catastróficas da saúde das
matas de várzea, verificadas durante o período das “Secas do Milênio”, nunca mais
ocorreram. E ainda existem fortes evidências de aumento de segurança hídrica, parti-
cularmente em algumas regiões de várzea da bacia de Murray-Darling.
A recuperação da disponibilidade hídrica é apenas um dos fatores que afetam as co-
munidades da bacia. Os mercados de água aumentaram efetivamente a produção
econômica geral na região, apesar da vazão decrescente nos rios nos últimos 20 anos.
No entanto, isso aconteceu com o prejuízo de algumas indústrias em relação a outras,
como por exemplo, a irrigação de pastagem para gado leiteiro ao invés das plantações
de amêndoas. Tais resultados foram consequência do lucro relativo de diferentes com-
modities como resultado do aumento do preço da água.

74
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

Outras questões referentes à gestão dos recursos hídricos na bacia de Murray-Darling


estão relacionadas a outras indústrias (como as do ecoturismo e da pesca, por exem-
plo). Agora elas reconhecem que a conservação das águas e dos ecossistemas dos rios
pode trazer benefícios econômicos significativos (AUD 8 bilhões/ano). Também há um
entendimento crescente da relação entre a saúde humana e ambiental que, embora
seja ainda muito incipiente, segue um conceito de “Saúde Holística”. Não menos re-
levante, existe o reconhecimento do grande valor cultural da água para as populações
nativas da região e da ausência de voz dessas populações, no passado, em relação à
gestão de recursos hídricos na bacia. Algo que só agora começa a ser corrigido e que
se configura como uma temática relevante para desenvolvimento de futuras políticas
no âmbito da reforma hídrica.
Finalmente, cabe mencionar que a flutuação nos preços das commodities e a mecani-
zação da agricultura também são fatores indutores de conflitos na bacia, pois, apesar
de impactarem a sociedade de maneira geral, esses fatores normalmente são ignorados
nos debates públicos no âmbito do Plano da Bacia de Murray-Darling.

Foto: Tourism Australia

Peixe Barramundi do Extremo Norte de Queensland, Austrália.

Impactos futuros das mudanças climáticas

A baixa vazão dos rios da bacia de Murray-Darling desde o início dos anos 2000
exemplificam os desafios futuros trazidos pelas consequências das mudanças climáti-
cas. Modelos preditivos atuais apontam para a redução significativa da disponibilidade
hídrica na bacia (CSIRO, 2008). A tendência é de que seja cada vez mais difícil, e em
alguns pontos da bacia praticamente impossível, sustentar valores econômicos, sociais,
culturais e ambientais praticados no passado, haja vista que alguns modelos preveem
perdas significativas de espécies de peixe de água doce devido às reduções na vazão
dos rios e ao aumento da temperatura das águas (OLIVEIRA et al. 2020).

75
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

141.00ºE 150.00ºE
26.00ºS

Presente 2050 4.5 2080 4.5


35.00ºS

Bacia de Murray-Darling

Rios

Fonte: Oliveira et al. (2020)


2050 8.5 2080 8.5
Riqueza de espécies
0
0-3
0-6
0-9
0 - 12
0 - 16
200 0 200 400 600 800 km

Mudanças previstas na riqueza de espécies de peixes de água doce na bacia Murray-Darling entre 2050 e 2080, com
cenário intermediário (RCP4.5) e de alta emissão (RCP8.5)

Além da possibilidade de perda da biodiversidade na ictiofauna, outros modelos indi-


cam que algumas culturas agrícolas também passarão por declínio significativo devi-
QUADRO 3-16
do à baixa disponibilidade de água e ao custo crescente da água (ABARES, 2018). A
morte trágica de peixes no baixo Rio Darling em 2018 e 2019 (VERTESSY et al. 2019),
Vídeo “Investigation mostrada no noticiário internacional, é um exemplo que bem ilustra como algumas
of the causes of previsões catastróficas tendem a se confirmar na medida que as condições climáticas
mass fish kills” se tornam mais severas.

Sumário e lições

Em resumo, as políticas hídricas e a tomada de decisão em regiões com estresse hí-


drico, como a bacia de Murray-Darling, são complexas e desafiadoras. O processo é
polêmico e muito contestado na esfera setorial, pública e política, e geralmente favo-
recendo um setor em detrimento de outro. Todavia, em nível institucional, os arranjos
para a gestão dos recursos hídricos da bacia se tornaram bastante sofisticados, com
modelos de governança bem desenvolvidos e arcabouços regulatórios estabelecidos
que subsidiam a tomada de decisão.

76
Gestão de conflitos pelo uso da água Capítulo 3

A principal lição aprendida com o caso de Murray-Darling é que, uma vez que um
sistema hídrico é superexplotado, restaurar seu equilíbrio ecológico por meio da re-
dução das atividades econômicas intensivas se torna difícil e custoso. Assim, é reco-
mendado que a partir da premissa dos usos múltiplos, sejam definidos e escalonados,
de forma descentralizada e participativa, os níveis, fluxos e volumes sustentáveis dos
corpos hídricos. E ainda estabelecer os monitoramentos quantitativo dos corpos hí-
dricos para evitar que esses limites sejam atingidos. Em outras palavras, é identificar
a vazão necessária para sustentar o ecossistema ribeirinho (ARTHINGTON et al. 2018),
vulgo vazão ecológica. Ao mesmo tempo, é importante estabelecer regras claras para
determinar como as concessões e outorgas de direito pelo uso da água podem ser
adaptadas às mudanças de longo prazo da disponibilidade hídrica.
Por fim, o caso evidencia uma tendência recente da necessidade de abordagens cada
vez mais holísticas para reconhecer e validar os múltiplos valores associados à água,
incluindo aqueles de natureza cultural, social e ambiental, que vão além dos valores
econômicos e materiais, nos quais as discussões do passado estiveram focadas. Apesar
de esse reconhecimento ter ampliado a complexidade da gestão e políticas hídricas, ele
possibilita reparar injustiças, entregar mais benefícios para a comunidade, e diminuir
as contestações entre os diversos usuários do mesmo sistema hídrico.
Foto: Nick R. Bond

Encostas do Rio Murray com Eucalyptus, Victoria, Austrália.

77
Foto: José Augusto Rocha Mendes.

PCH Engº Pedro Affonso Junqueira, Poços de Caldas, MG, Brasil


4 Segurança hídrica

4.1 DEFINIÇÃO DE SEGURANÇA HÍDRICA

O
Antonio Carlos Zuffo
Denise Maria Elisabeth Formaggia
Iara Bueno Giacomini
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

conceito de segurança hídrica surgiu em 2013, quando a Organização das Na-


ções Unidas (ONU) sugeriu ao seu Conselho de Segurança, que o incluísse na
agenda com a seguinte definição:

“Segurança hídrica é a capacidade de uma população salvaguardar o acesso


sustentável às quantidades adequadas de água e de qualidade aceitável para
sustentar a subsistência, o bem-estar humano e o desenvolvimento socioe-
conômico, para garantir a proteção contra a poluição hídrica e desastres
relacionados à água e para preservar os ecossistemas em um clima de paz e
estabilidade política”.

Os principais impulsionadores do surgimento do conceito de segurança hídrica foram


o crescimento populacional, a urbanização, a industrialização e a poluição hídrica.
Esses fatores vêm reduzindo a disponibilidade per capta de água em diversas regiões
do Brasil e do mundo, configurando-se como uma das maiores ameaças tangíveis
para a manutenção da sociedade moderna. Atualmente, a segurança hídrica integra
a agenda dos grandes desafios do século XXI, demandando esforços sólidos para ga-
rantir que a utilização da água e dos serviços ecológicos associados, sejam técnica,
econômica e socialmente eficazes.

Durante a gestão da escassez hídrica, que assolou diversas regiões do Brasil entre 2014
e 2015, o termo começou a ser utilizado pelos órgãos gestores nacionais e estaduais,
sendo oficializado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA) em 2019, por
meio do Plano Nacional de Segurança Hídrica.

79
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis


Rio das Antas na área urbana de Bueno Brandão, MG, Brasil.

4.2 PARADIGMA DO CONCEITO DE SEGURANÇA


HÍDRICA
Apesar da ANA ter adotado a mesma definição proposta pela ONU, muitos acadêmicos
e gestores afirmam que o termo “segurança hídrica”, abrangente e complexo, ainda
está em desenvolvimento, podendo incluir novos aspectos.
As relações entre o meio e a sociedade vêm sendo enfatizadas, cada vez mais, com a
segurança humana. A escassez de água de boa qualidade, como recurso crucial e rela-
tivamente raro, pode ser definida de duas formas: escassez física – que é estabelecida
pela circulação atmosférica em que as zonas de alta pressão definem as regiões secas e
as zonas de baixa pressão definem as que são úmidas; escassez econômica – que é de-
corrente da falta de recursos financeiros para possibilitar a construção da infraestrutura
hídrica adequada para a captação, armazenamento, tratamento e distribuição da água.
Sua inter-relação com outras demandas de segurança lhe dão um caráter primordial
e exclusivo. A água é tão importante para a sociedade moderna que as crises hídricas
afetam diretamente outras áreas também sensíveis à sobrevivência humana.
Os debates sobre o conceito de segurança hídrica são baseados nas características intrín-
secas da água por ser um recurso essencial à vida, não ter substitutos, requerer grandes
recursos para ser armazenada em quantidades e por permear todas as atividades e áreas da
sociedade. Logo, a segurança hídrica não deve estar compartimentada apenas na subsistên-
cia de grupamentos populacionais, mas no contexto de nações inteiras. Este é o paradigma,
pois a segurança é definida pelas necessidades dos indivíduos e não pela dos Estados.
Seguindo esta linha de raciocínio, é importante destacar que as relações entre o meio
e a sociedade vem sendo cada vez mais reconhecidas, evidenciando a dependência que
a qualidade de vida da sociedade humana tem em relação à água. Essa dependência
se caracteriza não apenas em relação à sobrevivência humana, mas também à manu-
tenção da sociedade, com suas atividades e serviços, o que confere à água um caráter
ainda mais primordial e exclusivo.

80
Segurança hídrica Capítulo 4

4.3 IMPACTOS DA ESCASSEZ HÍDRICA NA SOCIEDADE


A escassez hídrica pode afetar diversos setores que se relacionam à sobrevivência da
sociedade humana, alguns deles são apresentados a seguir.

Segurança Segurança
Energética Alimentar

Segurança Segurança
Segurança Transporte
Econômica
Ilustração: Antonio Carlos Zuffo

Hídrica e Turismo

Segurança Segurança
Ambiental Sanitária

Interconexões entre segurança hídrica e as demais seguranças.

• A falta de água impacta a produtividade agropecuária, diminuindo a oferta e


aumentando os preços dos alimentos ao consumidor. A redução das precipitações
e a ocorrência de secas prolongadas diminuem a umidade ideal do solo. Assim, a
produtividade das espécies cultivadas diminui, especialmente daquelas que con-
têm maiores valores agregados de água. As produções de carne e leite também
são prejudicadas, pois o gado é dependente do pasto e das rações produzidas a
partir do trigo, milho e algodão. Os registros acerca das recorrentes secas no ser-
tão nordestino, nos quais o gado morre de fome e sede, são históricos, como já
descrito nas músicas de Luiz Gonzaga (Asa Branca) e de Carlinhos Brown (Segue
o seco), além das literaturas consagradas de Graciliano Ramos (Vidas Secas) e
João Guimarães Rosa (Grande Sertão Veredas).
• Um dos impactos mais imediatos sentidos em uma crise hídrica, especialmente no
Brasil, é a redução da produção de energia hidrelétrica. Mesmo antes de afetar o
abastecimento público ou a produção agrícola a escassez hídrica afeta a estabili-
dade energética impactando diversos setores econômicos. Atualmente, 63,8% da
energia elétrica produzida no Brasil é obtida a partir da ativação das turbinas das
usinas hidroelétricas, de forma que a segurança energética nacional é dependen-
te de uma complexa rede de estruturas e infraestruturas hídricas. Desta rede se
destacam os grandes reservatórios acumuladores de água, que ao mesmo tempo
que promovem a regularização de vazões dos rios, também produzem energia nas
usinas hidrelétricas (UHEs) ou pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Em cenários
de escassez hídrica, não existe água em quantidade suficiente para manter a pro-

81
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

dução hidrelétrica e atender as demandas da sociedade moderna, pois os usos são


conflitantes entre si. Para poder atender a demanda de eletricidade de forma con-
trolada e em grande quantidade, a única alternativa disponível é o acionamento
das usinas termoelétricas (UTEs). Estas usinas utilizam carvão, óleo combustível
ou gás para a geração de vapor d’água, que irá acionar as turbinas geradoras de
eletricidade. Como a geração de energia termoelétrica utiliza combustível fósseis
para aquecer a água, o custo de produção da energia é mais caro, não renová-
vel e poluente. Dessa forma, o aumento das tarifas de energia ao consumidor
também eleva o preço dos bens de consumo. Além disso, a produção de energia
termoelétrica pode causar a diminuição da qualidade do ar, o impacto à saúde
pública, o aumento da emissão de gases de efeito estufa e a intensificação das
chuvas ácidas.

Foto: José Augusto Rocha Mendes.


Usina Hidrelétrica de Barra Bonita, São Paulo, Brasil

• A restrição de acesso à água pode comprometer e até interromper a produção


industrial. Com isso, pode ocasionar o aumento do preço dos bens e serviços e
QUADRO 4-01 também colocar em risco o emprego dos trabalhadores.
• A redução das vazões dos rios leva ao aumento da concentração de contaminan-
Vídeo “Baixa
tes, provenientes do lançamento dos efluentes domésticos e industriais, devido
histórica do Rio
à menor diluição desses contaminantes nas águas, comprometendo a saúde dos
Paraná amplia
ecossistemas e dos mananciais. O nível d’água baixo nos rios também inviabiliza
debate sobre
o transporte fluvial, já que a profundidade da calha passa a não ser suficiente
privatização”
para o calado das embarcações, impossibilitando assim o seu deslocamento.

• A escassez hídrica afeta o setor do turismo, uma vez que inviabiliza as atividades
recreativas nos rios e os passeios de barco. Consequentemente, o setor hoteleiro é
afetado, haja vista que deixa de oferecer os principais atrativos aos seus clientes
e, nessa reação em cadeia, o setor dos transportes também tem suas atividades
reduzidas.

82
Segurança hídrica Capítulo 4
Foto: Tourism Australia.

Cânion Nitmiluk, Território Norte, Austrália.

• Em longos períodos de seca a vazão dos sistemas hídricos é reduzida, podendo ul-
trapassar os limites mínimos necessários para a manutenção do equilíbrio ecológico.
Em outras palavras, não ocorre a manutenção da vazão ecológica, que consequente
acarreta prejuízos para a biodiversidade e para os serviços ecossistêmicos. A va-
zão ecológica pode ainda ser impactada pela ação do homem, para regular o nível
dos reservatórios ou para a produção de energia hidrelétrica, de forma a maximizar
a vazão que passa pelas turbinas. As atividades relacionadas à pesca e aquicultura
ficam inviabilizadas e suas matrizes reprodutivas correm risco de vida.
Foto: Luiza Ishikawa Ferreira

Jacarés no bioma do Pantanal

83
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 4-02

Assistam ao “VI Webinário IFSP:


Escassez Hídrica e reúso de água
em áreas rurais. Contaminação das
águas por agroquímicos”

O aumento dos preços dos alimentos, dos bens e dos serviços, associado à instabi-
lidade econômica, à falta de saneamento e ao aumento da taxa de desemprego em
diversos setores da economia cria e sustenta um ciclo de pobreza generalizado, que
resulta em maiores índices de violência. As populações tradicionais são particular-
mente afetadas nesses cenários, pois geralmente não dispõem de outras atividades
geradoras de renda além daquelas conectadas com a água. Mas como não tem poder
para influenciar as decisões e negociações, raramente são convidadas para participar
da busca por soluções.
Quando a transversalidade da água é levada em consideração, fica evidente que as
situações de escassez hídrica prejudicam toda a sociedade, direta e indiretamente. Para
lidar com os tensos cenários de estiagem e garantir segurança hídrica aos indivíduos
da bacia hidrográfica é necessário adotar a gestão integrada dos recursos hídricos e a
diplomacia hídrica como pilares básicos da governança.

Foto: Vassiliki Terezinha Gavão Boulomytis

Atividades de aquicultura na represa de Paraibuna, SP, Brasil.

84
Segurança hídrica Capítulo 4

4.4 A SEGURANÇA HÍDRICA E O DESENVOLVIMENTO


SOCIAL E ECONÔMICO
Apesar da água ser a substância mais abundante no planeta, ocupando 2/3 da área da
Terra somente 2,5% da água são constituídos por água doce, dos quais 68,7% encon-
tram se nas geleiras e calotas polares; 30,1% são águas subterrâneas e apenas 1,2%
estão na superfície. Desse 1,2%, 69% encontram-se em solos congelados (permafrost);
20,9% em lagos; 3,8% na umidade do solo; 3,0% na umidade da atmosfera; 2,6% nos
pântanos e brejos; 0,49% nos rios; e 0,26% na biomassa dos seres vivos.
A água é essencial para as atividades humanas e a manutenção dos ecossistemas. Os
grandes centros urbanos, a agricultura e a indústria necessitam desse recurso natural
para sua existência e atividades. Necessitamos da água para nossa saúde física e mental,
para a produção de bens e serviços, ou seja, para a manutenção da vida.
Foto: Tourism Australia

Lago Dobson, Parque Nacional Mount Field, Tasmânia, Austrália

A ocorrência da água, assim como sua variabilidade no tempo e no espaço, costumam


ser definidas pelo clima de uma região. Essa regularidade entretanto é frágil, e é co-
mum que sofra variações bruscas e inesperadas, provocando excesso ou carência de
água em diferentes regiões. Essas variações não são somente sazonais (que ocorrem ao
longo das estações do ano), mas podem ocorrer em qualquer intervalo de tempo (se-
manas ou anos), com características cíclicas ou quase cíclicas, que vão se intercalando
em sequências não regulares.
As variações climáticas sempre atingiram a humanidade, que nunca conseguiu prever varia-
ções bruscas do clima e sofreram suas mais nefastas consequências, como a fome, as guerras
e as epidemias, responsáveis pelas migrações de populações inteiras, como relata a história.

85
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas
QUADRO 4-03


Artigo
“Segurança A falta de planejamento limita ações institucionais coordenadas e de investimentos em
hídrica em infraestrutura hídrica e saneamento são grandes responsáveis pelos cenários de insegu-
tempos de rança hídrica. O conhecimento dos fatos passados nos possibilitam entender o presente
pandemia de e nos preparar para o futuro. O banco de dados de variáveis climáticas, hidrológicas,
COVID-19” ambientais e socioeconômicas são a base para a construção de soluções para problemas
futuros, que muitas vezes ocorreram no passado e ceifaram milhares de vidas.
Para estimar a disponibilidade hídrica em uma bacia hidrográfica, o monitoramento e a
coleta de dados pluviométricos (de chuva) e fluviométricos (de vazão) são imprescindí-
veis. A indisponibilidade desses dados aumenta as incertezas nos cálculos, dificultando
o processo de tomada de decisão e a destinação dos recursos financeiros. Nesse senti-
do, a utilização de séries hidrológicas confiáveis, representativas e consistentes e com
longos períodos de dados são determinantes no planejamento da segurança hídrica.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Medição de vazão no Rio Juqueriquerê, Caraguatatuba, SP, Brasil.

QUADRO 4-04

Assistam ao “XI Webinário IFSP:


Tecnologias e metodologias de apoio à
Gestão Integrada dos Recursos Hídricos”

86
Segurança hídrica Capítulo 4

4.5 CIDADANIA HÍDRICA


A segurança hídrica procura garantir o acesso sustentável à água, em quantidades
e qualidade adequadas ao desenvolvimento socioeconômico e bem-estar humano,
mesmo nos períodos mais adversos, ou seja, visa diminuir vulnerabilidade da sociedade
humana a esses eventos.
O aumento desordenado da população humana e da urbanização tem ameaçado o
balanço hídrico, e consequentemente, a segurança hídrica da humanidade e ecossis-
temas, pois estes fatores estão relacionados com o atual uso e ocupação do solo (des-
matamento, impermeabilização, retificação de rios dentre outros) e com as grandes
emissões de gases de efeito estufa.
Foto: Anderson Souza

Presença de lixo no Rio Ipanema em trecho urbano, Batalha, AL, Brasil.

O crescimento econômico acelerado tem ampliado na mesma proporção a demanda


pelo uso da água. Apesar dos desenvolvimentos tecnológicos em busca de maior efi-
ciência hídrica serem bastante animadores para os mais diferentes setores, eles não
estão disponíveis para todos os usuários, devido principalmente a questões econômicas
e políticas. Dessa forma, enquanto algumas regiões dispõem de segurança hídrica, ou-
tras não têm a mesma possibilidade, deixando de ter acesso à cidadania hídrica.
A cidadania hídrica é uma forma de pertencimento à sociedade, determinada pela
possibilidade de acesso à infraestrutura de água, que por sua vez depende dos fluxos
inconstantes e mutáveis da água, das relações sociais através das quais as reivindica-
ções são reconhecidas, e das infraestruturas que permitem aos indivíduos terem acesso
à água de boa qualidade (ANAND, 2011).

87
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

4.6 FORMAS DE APRIMORAR A SEGURANÇA HÍDRICA


QUADRO 4-05
As crises de escassez hídricas têm se mostrado cada vez mais complexas de serem ge-
Livro renciadas, representando desafios hercúleos aos gestores, formuladores de políticas e
“A crise hídrica de agências governamentais.
na Região
Metropolitana A incorporação de análise e gestão de riscos (conhecimento aprofundado da vulnera-
de São Paulo bilidade e da exposição do ambiente a eventos de diferentes magnitudes) na gestão
em 2013- das águas permite minimizar a insegurança hídrica enquanto aumenta a resiliência dos
2015: Origens, sistemas hídricos.
impactos e
soluções” •

As medidas de adaptação “sem arrependimento” (no regrets) promovem a adaptação


e resiliência aos impactos causados pelos eventos extremos para o aprimoramento da
segurança hídrica. Ou seja, enfrentando-se os problemas atuais, aumenta-se a capa-
cidade da sociedade e da economia de lidar com as alterações esperadas. As medidas
de adaptação incluem:

• Adoção de um sistema flexível de alocação de água para prever formas ágeis de


realocação em anos secos.

• Adoção de um sistema de oferta hídrica que disponha de mananciais e sistemas


alternativos.

• Fomento ao reúso da água.

• Recuperação e conservação da qualidade das águas.

• Aprimorar a capacidade de transporte da água disponível.

• Aprimorar os sistemas de operação de reservatórios incorporando as incertezas


oriundas da variabilidade e mudança climática.

• Identificar e recuperar áreas de recarga hídrica em áreas rurais e no perímetro


urbano, de forma a diminuir a velocidade do escoamento superficial da água
pluvial, retardando e minimizando alagamentos.

• Desenvolver estratégias que integrem princípios da engenharia civil com soluções


baseadas na natureza.

• Em síntese, o cenário ideal de segurança hídrica dispõe de infraestrutura bem


planejada, dimensionada, implementada e adequadamente gerida, permitindo a
manutenção do equilíbrio entre a oferta e a demanda da água, mesmo em situa-
ções críticas e adversas.

Assim, as soluções devem compreender a sinergia entre as medidas estruturais e não


estruturais, por meio da implementação de políticas públicas e da participação da so-
ciedade, devidamente sensibilizada sobre o problema e potenciais soluções.

88
Segurança hídrica Capítulo 4
Foto: Anderson Souza

Agricultura irrigada às margens do Rio São Francisco, Sobradinho, BA, Brasil.

QUADRO 4-06
Sob a ótica da oferta, a ANA recomenda que investimentos em infraestrutura com
foco na ampliação da capacidade de reservação e de adução de água, incluindo re-
Livro “Segurança
dundância de fontes de abastecimento devem ser priorizados. Ações de conservação de
hídrica: novo
mananciais também são medidas de aumento da resiliência dos sistemas hídricos, que
risco para a
permitem maior segurança na oferta de água. Em relação à demanda, bons resultados
competitividade”
poderão ser obtidos a partir da adoção de soluções locais, como o reúso da água e o
aproveitamento da água de chuva, mas principalmente, pela redução de perdas nos
sistemas de distribuição, pela diminuição no desperdício e de hábitos de consumo.

4.7 PLANO NACIONAL DE SEGURANÇA HÍDRICA


O Plano de Segurança Hídrica faz parte de um arcabouço institucional que visa atingir os
objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos. Desse arcabouço destacam-se também
o Plano de Recursos Hídricos e o Plano de Segurança da Água. Apesar desses três planos
terem relação entre si e serem elaborados de acordo com a legislação, metodologia e fóruns
específicos de discussão, aprovação e implementação próprios, é importante entender a
diferença entre eles para que as respectivas implementações sejam otimizadas.
• Plano de Recursos Hídricos: constitui um dos instrumentos preconizados para a
gestão desses recursos conforme determina a Política Nacional de Recursos Hídri-
cos (lei nº 9.433/1997), em conjunto com o enquadramento dos corpos de água

89
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

em classes segundo os usos preponderantes da água; a outorga dos direitos de


uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compensa-
ção a municípios e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
• Plano de Segurança da Água: documento que identifica e prioriza riscos poten-
ciais que podem ser verificados em um sistema de abastecimento, incluindo todas
as etapas do processo, desde o manancial até à torneira do consumidor. Estabelece
medidas de controle para reduzir ou eliminar riscos, além de constituir processos
para verificar a eficiência da gestão dos sistemas de controle e a qualidade da
água produzida.
• Plano de Segurança Hídrica: instrumento de tomada de decisões para manter e apri-
QUADRO 4-07 morar a segurança hídrica. Materializado por meio de um programa de investimentos,
apresenta intervenções selecionadas que foram objeto de análise criteriosa quanto à
Plano Nacional sua relevância, prioridade e efeito sobre os principais problemas de segurança hídrica
de Segurança do País. É considerado um novo marco na política pública, mas que demanda o en-
Hídrica gajamento das demais esferas de governo e da parceria fundamental dos Estados no
direcionamento dos esforços requeridos para a sua implementação.

O Plano Nacional de Segurança Hídrica busca, em síntese, traçar o caminho para a
segurança hídrica do Brasil priorizando a resolução dos problemas mais latentes. Tam-
bém aborda sobre os passos necessários e indispensáveis para a efetividade das inter-
venções recomendadas e o acesso à água como condição essencial à manutenção da
vida e das atividades produtivas. Todavia, o Plano ressalta que não há como gerenciar
a infraestrutura e os recursos hídricos, enquanto persistirem os problemas estratégicos
no território, que impõem riscos de desabastecimento ou de perdas humanas e econô-
micas derivadas de eventos de secas e cheias. Nesse sentido, a premissa básica do Plano
está em consonância com a meta global do acesso à água da Agenda 2030 para que
“ninguém seja deixado para trás”, ao priorizar o atendimento às demandas efetivas
como condição essencial ao desenvolvimento sustentável.

Garantia do acesso
à água adequada às
necessidades básicas e
bem estar da população

Garantia de Preservação de
suprimento ecossistemas
de água para e da água em
atividades benefício da
produtivas e natureza e das
usos mútiplos pessoas
Fonte: ANA (2019)

Resiliência a eventos
extremos, como secas
e inundações

Dimensões da Segurança Hídrica.

90
Segurança hídrica Capítulo 4

QUADRO 4-08

Vídeo “Conheça
Nesse sentido, cabe destacar que o sistema de governança de recursos hídricos no
o Plano Nacional
Brasil, ainda está se apropriando do conceito de segurança hídrica, bem como de suas de Segurança
ferramentas de planejamento e gestão. Da mesma forma, ele também está se adequan- Hídrica – PNSH”
do ao próprio Plano Nacional de Segurança Hídrica. Para que isso ocorra de forma
adequada é necessário que haja a integração dos princípios norteadores do Plano Na-
cional de Segurança Hídrica, do Plano Nacional de Recursos Hídricos e do Plano de Se-
gurança da Água. O caminho para a integração desses planos é uma tarefa complexa,
que demanda esforços da sociedade civil, dos estados, dos municípios e dos usuários
de recursos hídricos. Alguns desafios-chave da integração são apresentados a seguir:

• Compreender a dinâmica que rege o sistema climático responsável pelos períodos


de chuvas e secas nas bacias hidrográficas no âmbito Nacional, Estadual e nas
microbacias, ou seja, do macro ao micro;

• Conhecer o balanço hídrico das bacias hidrográficas;

• Utilizar ferramentas que possibilitem mensurar e estimar o impacto das alterações


climáticas nos ambientes aquáticos;

• Possibilitar que os comitês de bacia participem da elaboração dos Planos de Se-


gurança da Água;

• Sensibilizar os gestores hídricos sobre a interdependência desses Planos;

• Sensibilizar os gestores municipais sobre a necessidade de conhecer a situação de


segurança hídrica do município e sua relação com os Planos Diretores Municipais
e os Planos de Saneamento, visando conhecer as limitações no desenvolvimento
urbano impostas pela disponibilidade hídrica existente;

• Inserir as universidades e demais órgãos de pesquisa aplicada que desenvolvem


trabalhos na área de segurança hídrica para que possam fornecer subsídios na
elaboração de planos de recursos hídricos de forma integrada;

• Conscientizar a população sobre os mecanismos existentes para a gestão dos re-


QUADRO 4-09
cursos hídricos e os meios existentes para a participação efetiva da comunidade.

Em 2013, a ANA criou o Sistema de Acompanhamento de Reservatórios (SAR) com o Site do


intuito de conceber um sistema operacional que reunisse e organizasse os dados ope- “Sistema de
racionais dos reservatórios do Brasil. O SAR consiste em uma plataforma web que per- Acompanhamento
mite, de maneira simples, o acompanhamento da operação dos principais reservatórios de Reservatórios”
do Brasil. Ele está dividido em três módulos: (i) Sistema Interligado Nacional – SIN; (ii)
Nordeste e Semiárido; e (iii) Outros Sistemas Hídricos.

Nesse sentido, é possível observar que o aumento da segurança hídrica é um desafio


complexo, para o qual não existe solução simples. A busca por resultados efetivos passa
por diversas áreas das ciências exatas, sociais e biológicas, além de demandar articulação
política e controle social. Construir pontes entre tantos atores e áreas do conhecimento
torna-se, portanto, a ação principal rumo ao aumento da segurança hídrica.

91
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis


Nível baixo na represa de Paraibuna: crise hídrica
de 2021 - SP, Brasil

QUADRO 4-10

Assistam ao “V Webinário IFSP:


Plano Nacional de Segurança
Hídrica, Plano nacional de Recursos
Hídricos e Política Nacional de
Segurança de Barragens”

ESTUDO DE CASO

MODELO DE PRIORIZAÇÃO DE INVESTIMENTO EM


INFRAESTRUTURA VERDE DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA
David Hamilton

A resiliência hídrica é a habilidade das áreas alagadas de manterem funções críticas


atribuídas tais como biodiversidade, funções de ecossistema e regulação de inun-
dações, em face do aumento de pressões externas. Muitos mananciais pelo mundo
afora encontram-se ameaçados face ao declínio das disponibilidades hídricas, como
consequência da capacidade limitada de resistência às pressões das mudanças climá-
ticas e de uso do solo. Modificações nas margens, uso excessivo do pasto pelo gado
nas cabeceiras, desvios de curso de água e incêndios têm impactado negativamente a
disponibilidade e a qualidade da água, resultando em eventos como secas e enchentes

92
Segurança hídrica Capítulo 4

e reduzida resiliência hídrica. Há um reconhecimento crescente sobre a necessidade de


investir em projetos de remediação na captação de água como parte de uma aborda-
gem de longo prazo na gestão desse tema.
Em Queensland, na Austrália, duas enchentes ocorridas nos anos 2000 resultaram em
dano substancial ao meio ambiente, devido à perda de solo por erosão, e consequente-
mente à infraestrutura regional. Houve perda significativa do solo de melhor qualidade
utilizado pela agricultura, além dos sedimentos afetarem a operação das estações de
tratamento de água. Grandes volumes de sedimento se depositaram em reservatórios,
reduzindo a capacidade de armazenamento, e obstruíram áreas costeiras, atracadouros
e baías, fechando canais de transporte e secando várzeas produtivas.

Fotos: Donghwan Kim


Tributários alagados do Riacho Laidley no sudeste de Queensland, Austrália aumento de volume em função da falta de
gestão da vegetação ribeirinha e comprometimento da infraestrutura (março de 2021).

Essa catástrofe fomentou o desenvolvimento do Projeto de Fortalecimento da Resiliência


Hídrica, que resultou no desenvolvimento de um modelo de priorização que disponibiliza
ferramentas de visualização para guiar decisões de investimento e maximizar benefícios
de mananciais e suas estruturas de captação de água. O modelo leva em consideração
variáveis relacionadas à mitigação de enchentes, à manutenção da biodiversidade, à ma-
nutenção da qualidade da água (mais especificamente no que diz respeito a sedimentos
e nitrogênio) e à contenção de enchentes. Essas ferramentas possibilitam aos gestores
checar o alcance de medidas diversas de proteção e restauração ambiental, e assim se-
lecionar aquelas mais efetivas em termos de ação, localização e escala do investimento.
Estudos anteriores identificaram os problemas-chave de ocorrência mais comuns em
pontos de captação de água e essas informações foram utilizadas para o desenvol-
vimento desse modelo de priorização de ação, que permite otimizar benefícios em
termos de valores ambientais e a efetividade dos custos.
A interface de visualização do modelo permite aos usuários explorar as sinergias e op-
ções representadas pelas diferentes propostas de ação, refletindo prioridades voltadas
a minimizar custos, depósitos de sedimentos, de nitrogênio e ocorrência de enchentes.
O modelo está sendo utilizado para fornecer subsídios à priorização de investimentos
na captação do manancial de Laidley, no Sudeste de Queensland e que é o ponto
focal de investimento e de ações de gestão para mitigação dos danos causados pelas
enchentes de 2011 e 2013.

93
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Esse manancial possui grande parte de sua vegetação ribeirinha em estado de conser-
vação variando entre moderado e ruim, trechos com alta concentração de sedimentos
e nutrientes, e trechos com acentuada perda de sedimento. Os gestores locais afirmam
que, devido a relevância do manancial para o abastecimento de água, todo esforço
para a restauração de sua resiliência hídrica é necessário, especialmente para lidar com
os eventos extremos do clima, esperados com frequência crescente no futuro.
O Projeto de Fortalecimento da Resiliência Hídrica é pluri-institucional, liderado pelo
Instituto de Rios Australianos da Universidade Griffith e apoiado pela Universidade de
Tecnologia de Queensland que também é a responsável pela interface de visualização.
O projeto conta com o financiamento da Fundação Ian Potter, com aporte direto de
fundos por parte do governo, da indústria e de parceiros de pesquisa, incluindo: Go-
verno do Estado de Queensland, Water Technology, Serviços Urbanos de Queensland,
Seqwater, Porto de Brisbane, Organização Healthy Land and Water, Conselho de Pre-
feitos do Sudeste de Queensland e Conselho Regional do Vale de Lockyer.

Foto: David Hamilton


Exemplo de modelagem no Projeto de Fortalecimento da Resiliência Hídrica

QUADRO 4-11

Assistam ao “X Webinário IFSP:


Mitigação, adaptação e resiliência
aos eventos extremos e mudanças
climáticas”

94
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Lago do Taboão na área urbana de Bragança Paulista, SP, Brasil


5
N
Gestão Urbana
das Águas

5.1 OCUPAÇÃO DESORDENADA E CONTAMINAÇÃO


HÍDRICA
André Luis Sotero Salustiano Martim
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

as áreas urbanizadas de forma desordenada é muito comum verificar a ocupa-


ção predial nas margens dos corpos hídricos. Além da instabilidade das mar-
gens e possíveis riscos de desabamento, também passa a ser maior a ocorrência
de inundações. Isso ocorre porque as áreas, que antes serviam de forma natural para
amortecer as cheias, tornaram-se, reduzindo as taxas de infiltração e aumentando o
escoamento superficial.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis.

Ocupação nas margens dos cursos d’água da área urbana de Munhoz, MG, Brasil.

96
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5

Com o fluxo intenso das águas de chuva nas áreas urbanas impermeáveis, os sedi-
mentos ou resíduos são lançados diretamente para os corpos hídricos ou por meio das
galerias de drenagem. Assim, além dos efluentes clandestinos (como esgotos domés-
ticos ou industriais), os rios também recebem as águas de chuvas contaminadas por
sedimentos e resíduos.
Foto : André Luis Sotero Salustiano Martim

Foto: Giovani Fonseca Ferreira


Escoamento de efluentes para os corpos hídricos.

Quando os corpos hídricos urbanos se tornam alvos para atividades clandestinas de


despejo de resíduos e lançamento de esgotos domésticos, as águas passam a ter odor
indesejado e propagação de vetores, comprometendo drasticamente a saúde pública
da comunidade.
Foto: Amanda Cristina Gonçalves.

Foto: Giovani Fonseca Ferreira.

Contaminação hídrica nas margens do Rio Jacu, SP, Brasil.

97
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Vale a pena lembrar que, o lançamento de resíduos ou efluentes domésticos nos corpos
hídricos ocorre em função da falta de esgotamento sanitário que ainda advém dessas
áreas urbanizadas. O déficit no saneamento brasileiro é abordado pelo Plano Nacional de
Saneamento Básico (Plansab). Esse plano é o principal instrumento da política pública
nacional de saneamento básico e contempla todos os serviços desse segmento:
• Abastecimento de água potável;
• Esgotamento sanitário;
QUADRO 5-01
• Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos;
“Plansab • Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas.
de 2019”

O déficit em saneamento brasileiro é determinado em função da infraestrutura, e
serviços disponibilizados, no quesito qualitativo e quantitativo, além dos aspectos
socioeconômicos, ambientais e culturais de cada região.

População que
recebe serviço
com qualidade
(atendimento
adequado)
População
que usa
o serviço
coletivo
População que
População recebe serviço
com oferta com qualidade
de serviço inadequada
coletivo (atendimento
precário)
População
que não usa
o serviço
coletivo

População População que


total tem solução
sanitária adequada
(atendimento
adequado)
População que
usa solução
sanitária
individual
Fonte: MDR (2019)

População que
População tem solução
sem oferta sanitária precária
de serviço (atendimento
coletivo precário)

População sem
solução sanitária
(sem atendimento)

Caracterização do déficit em saneamento básico no Brasil.

98
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5

Para a elaboração do Plansab foram considerados os seguintes princípios fundamentais:


• Universalização do acesso – deve garantir o acesso para todos os domicílios e a
todos os brasileiros com integralidade de todos os serviços de saneamento.
• Equidade – objetiva superar as diferenças a partir do entendimento de como
ocorrem as desigualdades nas condições e qualidades de vida ou no acesso e con-
sumo de bens e serviços, priorizando as coletividades e os que mais necessitam de
forma a obter a universalização do acesso.
• Integralidade – representa o conjunto de todas as atividades e componentes de
cada um dos serviços de saneamento.
• Intersetorialidade – mantém a sintonia para a transversalidade dos fenômenos,
considerando a sua complexidade e interdisciplinaridade, de forma a manter a
gestão articulada e não fragmentada com os demais tipos de gestão (i.e. de ocu-
pação do solo, recursos hídricos e ambiental) integrado às comunidades rurais e
populações tradicionais.
• Sustentabilidade – promove uma gestão democrática e participativa em todas as
dimensões (ambiental, social, econômica e cultural).
• Participação e Controle Social – promove a inserção da comunidade para ampliar
as práticas democráticas e a construção de relações entre a cidadania e governa-
bilidade.
• Matriz tecnológica – norteia o planejamento e a política setorial a longo prazo
prospectando inovações tecnológicas.

Universalização

Matriz tecnológica
Equidade

Princípios
fundamentais
Participação e do PLANSAB
controle social Integralidade
Fonte: MDR (2019)

Sustentabilidade Intersetorialidade

Princípios Fundamentais do Plansab.

99
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Os princípios do Plansab foram estabelecidos de acordo com as diretrizes nacionais


para o saneamento básico descritas na Lei nº 11.445/2007, sendo necessária a sua
avaliação anual e revisão a cada quatro anos. Em 15 de julho de 2020, foi atualizado
o marco legal do saneamento básico por meio da Lei nº 14.026/2020, atribuindo à
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) a edição das normas de refe-
rência sobre o saneamento.

5.2 ABASTECIMENTO DE ÁGUA PARA AS ÁREAS URBANAS

No último século, o consumo de água aumentou seis vezes no planeta, com taxa apro-
ximada de 1% ao ano, motivado pelo crescimento populacional, desenvolvimento eco-
nômico e pelas alterações nos padrões de consumo (ONU, 2021). Quando o volume de
chuvas não é suficiente para atender as demandas de uso da água, a redução de oferta
pode ocasionar a escassez desse recurso. Nesse caso, focando no contexto urbano,
várias regiões são então impactadas pelo racionamento, rodízio e desabastecimento de
água para uso humano, o qual deveria ser prioritário, segundo a Política Nacional de
Recursos Hídricos deveria ser prioritário.
A partir da escassez hídrica, a ocorrência de conflitos é intensificada e torna-se cada
QUADRO 5-02
vez mais difícil tomar decisões e priorizar um em detrimento do outro, na medida em
que o consumo para irrigação e indústria tem forte relação com a manutenção das
Livro atividades humanas e com a economia, da qual dependem as populações.
“Gestão da crise
hídrica 2016-2018: •
experiências do
No que se refere aos sistemas de abastecimento público, quando ocorre escassez hí-
Distrito Federal”
drica, os municípios menos preparados, ou seja, com maiores perdas e sistemas de
distribuição ineficientes, sofrem primeiro e de forma mais atenuada do que outros com
sistemas mais eficientes.

Foto: André Luis Sotero Salustiano Martim

Protesto da comunidade contra o racionamento de água - Itu, SP, Brasil.

100
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5

Infelizmente, em muitos locais, os rios urbanos não são valorizados e a população


deixa de desfrutar dos benefícios que seriam proporcionados pelos cursos d’água. Os
pequenos ribeirões e córregos são retificados e canalizados, fazendo com que a po-
pulação desconheça os valores históricos e culturais atrelados aos antigos riachos. Os
traçados e nomes originais acabam desaparecendo ao longo do tempo, perdendo não
somente a contribuição hídrica, como também a própria identidade local.
Foto: André Luis Sotero Salustiano Martim

Retificação de rio na área urbana de Várzea Paulista, SP, Brasil.

No que se refere às águas subterrâneas, o total utilizado e os tipos de controle e prote-


ção das zonas de recarga são aspectos que deveriam ser amplamente conhecidos pelos
gestores das águas urbanas. As políticas públicas tendem a ignorar o fato de que a
vazão mínima dos períodos de seca é mantida pelas águas subterrâneas. Em situações
de crise e rodízio no abastecimento, há pouca disponibilidade de águas superficiais e
superexplotação das águas subterrâneas. Com isso, apesar das diversas formas de con-
trole e limitação sobre o uso da água, fornecida pela rede pública para cada residência
ou empresa, não há redução alguma sobre a água subterrânea consumida.

Outro aspecto a ser abordado pelos gestores é que os sistemas eficientes devem con-
trolar as perdas de vazão e pressão ao longo da distribuição por meio de sensores e
modelos computacionais. Para muitos municípios eles são pouco acessíveis. Isso oca-
siona grandes perdas na distribuição, tornando-se necessária a implantação de medi-
das pontuais, como de rodízios no abastecimento, que muitas vezes não reduzem o
consumo de água. Ou seja, os consumidores acabam reservando maiores quantidades
de água para suprir o período que estarão sem o fornecimento do recurso pela rede
pública. No entanto, os mais prejudicados são os munícipes que não têm condições
financeiras para a aquisição de reservatórios maiores.

101
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Políticas públicas de incentivo


para o uso de sistemas alterna-
tivos para captação de águas
pluviais podem oferecer gran-
des benefícios, não somente
no quesito de abastecimento,
mas também para a retenção
temporária do recurso hídrico
minimizando a taxa de escoa-

Foto: André Luis Sotero Salustiano Martim


mento superficial direcionada
aos sistemas de drenagem.

Captação de água pluvial para


reúso no (a) IFSP Câmpus
Caraguatatuba, SP, Brasil, e na
(b) escola Trinity Grammar, zona (a)
rural do norte de Vitória, Austrália.

Foto: Escola Trinity Grammar.

(b)

O plano diretor de abastecimento público também provém de uma política pública


e visa auxiliar no entendimento do problema de aumento da demanda e falta de
recurso, como também na busca de alternativas mitigadoras preventivas, corretivas
ou compensatórias para aprimorar o sistema e atender as necessidades da população.
No entanto, poucos municípios elaboram e implantam um plano com programa efe-

102
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5

tivo para a gestão dos recursos hídricos, que contemple práticas e metas de conser-
vação, recuperação e ampliação da matriz de mananciais. Com isso, esses municípios
não conseguem se planejar para serem adaptados e resilientes aos períodos de seca
e estiagem.
De forma geral, podemos elencar algumas medidas norteadoras que são importantes
e positivas para a melhoria da qualidade dos serviços de abastecimento de água no
município, e que a princípio, não exigem mais recursos financeiros dos que são nor-
malmente empregados:
1. Execução e atualização do balanço hídrico para quantificar as entradas e saídas
de água de uma região em um determinado intervalo de tempo.
2. Gestão setorizada para que o sistema de abastecimento de água (SAA) como um
todo seja dividido em subsistemas nos quais as perdas possam ser calculadas
individualmente.
3. Métodos de avaliação das perdas por meio de medição e análise das vazões
noturnas, dos vazamentos (quanto aos números de ocorrências, tipos, vazões
médias observadas e durações), além do uso de modelagem computacional para
simular os efeitos das perdas de vazão e pressão (LAMBERT, 2000).
4. Gestão, monitoramento e controle de pressão.
5. Gestão da hidrometria, assegurando o seu funcionamento ideal ou estabelecen-
do-se critérios para priorizar as trocas.
6. Balanço das demandas e projeção de crescimento associado às metas de redução
de perdas.
Foto: André Luis Sotero Salustiano Martim

Condições inadequadas de instalação e funcionamento de hidrômetros.

103
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Na engenharia de processos entende-se que não se controla o que não se mede, e não
há gerenciamento sem controle. Dessa forma, a implantação de sistemas inteligentes
para o abastecimento de água otimiza o uso do recurso disponível, promove a sua
alocação da melhor forma possível, aprimora a eficiência ao longo da sua distribuição
e aumenta a disponibilidade hídrica por habitante.

5.3 PROPRIEDADES DA ÁGUA PARA CADA TIPO DE


CONSUMO

A potabilidade da água é definida por lei e regulamentada pela portaria do Ministério


da Saúde nº 888 de 2021. Para cada tipo de manancial, a portaria recomenda um nú-
mero mínimo de amostras e frequência para o controle da qualidade da água, sendo
QUADRO 5-03 que a exigência do monitoramento das águas superficiais de abastecimento é mais fre-
quente, pois são mais suscetíveis à contaminação hídrica e mudanças rápidas de qua-
Artigo com a análise lidade. Já as águas subterrâneas são submetidas ao monitoramento menos frequente.
da nova Portaria
MS 888/21 •

Considerando a reutilização, aplicada para usos que não exigem água potável (como a
descarga e a irrigação), são necessários parâmetros mínimos de controle, para garantir
a segurança das instalações e prevenir acidentes com vazamentos ou contato humano
com a água utilizada, bem como garantir parâmetros mínimos exigidos pelo controle
de processos industriais quando aplicados.

No caso de aproveitamento de água de chuva, além da portaria de qualidade, tam-


bém são fornecidas diretrizes de qualidade nas Resoluções CONAMA nº 274/2000 e
nº 357/2005 (alteradas pelas Resoluções nº 393/2007, nº 397/2008, nº 410/2009 e nº
430/2011).

A norma brasileira NBR 15527/2019 estabelece parâmetros mínimos de qualidade de


água para usos não potáveis, previstos na norma como:

• Turbidez menor que 5 para todas as amostras.

• p
H entre 6 e 9 para proteção das redes e dispositivos hidráulicos, e quando ne-
cessário, pode ser previsto uma etapa de ajuste do pH.

• Contagem de E. coli por volume de 100 mL inferior a 200 organismos.

• R
ecomenda ainda que, no caso de uso de cloro como agente de desinfecção, haja
manutenção de um residual livre mínimo de 0,5 a 2 mg/L.

A Norma Técnica Brasileira NBR 13969/1997 define também que o grau de tratamen-
to necessário dos esgotos deve ser conforme o uso mais restrito quanto à qualidade.
Estabelece ainda a necessidade de tratamento para a porção necessária, com graus
progressivos de tratamento, e não do tratamento de todo o volume no grau máximo.

104
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Área de recreação às margens da foz do Rio Santo Antônio - Caraguatatuba, SP, Brasil.

A NBR 13969/1997 classifica os usos em classes, sendo a Classe 1 as que requerem


contato direto com o usuário da água (lavagem de carros, por exemplo) e que podem
ter risco de contato ou aspiração de aerossóis pelos operadores. A Classe 2 refere-se à
lavagem de pisos, calçadas e irrigação de jardins. A Classe 3 compreende as descargas
de vasos sanitários. E por último, a Classe 4, para irrigação de pomares e pastagens,
através de escoamento superficial. A norma também descreve que usos distintos re-
querem reservatórios separados.
De forma geral, a legislação brasileira apresenta parâmetros e diretrizes suficientes para
a implantação de sistemas de reúso. Os estudos indicam a prática do uso de água cinza
como o mais frequente no Brasil, e com predominância de técnicas convencionais de
tratamento, as quais envolvem menor custo.

5.4 INTEGRAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA GESTÃO


HÍDRICA E URBANA

De acordo com a Constituição Brasileira, para o planejamento das cidades devem ser
utilizados os instrumentos de planejamento ambiental, que compreendem o Zonea-
mento Ecológico-Econômico (ZEE), o Plano Diretor Municipal, o Plano de Bacia Hi-
drográfica, o Plano Ambiental Municipal, a Agenda Local e o Plano de Gestão Integra-
da da Orla (no caso de áreas costeiras). Além disso, também devem ser utilizados todos

105
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 5-04
os planos setoriais que são interligados às demandas dos munícipes como saneamento
Artigo “Integração básico, moradia, transporte e mobilidade. Esses instrumentos devem envolver ações
de políticas públicas institucionais preventivas e normativas para controlar os impactos negativos dos in-
no Brasil: o caso dos vestimentos público-privados sobre os recursos naturais das cidades.
setores de recursos
hídricos, urbano e •
saneamento”
No que se refere aos corpos hídricos urbanos, somente após a década de 1960, foram
iniciados os estudos dos impactos negativos causados pelo aumento populacional
(GARRIDO NETO et al., 2019). Isso fez com que a drenagem das águas pluviais pudesse
ser considerada não somente como uma proteção das áreas urbanas, mas também dos
serviços ecossistêmicos.

Tucci (2016) afirma que o controle dos impactos deve ser feito com o uso de medidas
não estruturais integradas às estruturais, as quais normalmente causam um elevado
QUADRO 5-05 custo ao poder público. Entre as medidas não estruturais estão às políticas públicas
adotadas em consonância com as diretrizes dos instrumentos de planejamento urba-
Vídeo sobre as no, com intuito de mitigar o aumento das taxas de escoamento superficial e maximi-
soluções baseadas zar a eficiência dos sistemas de drenagem.
na natureza para a
segurança hídrica •

As medidas compensatórias de drenagem urbanas propiciam o equilíbrio entre as taxas


de infiltração e as de escoamento, aumentando a possibilidade de retenção das águas
de chuvas em momentos críticos. Entre as principais medidas compensatórias estão os
jardins de chuva, os telhados verdes, os pavimentos permeáveis drenantes, as cisternas
para coleta de águas pluviais, as bacias de infiltração, retenção e detenção.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Jardins de chuva ao longo da Avenida Irymple - Kew East, VIC, Austrália.

106
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5

A sinergia entre as medidas estruturais e as não estruturais, com o uso de medidas


compensatórias para a drenagem sustentável das águas de chuvas, propiciam melhoria
na qualidade de vida dos habitantes e também nos ecossistemas das áreas urbanizadas.
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Área de recreação no Rio Yarra, Parque Studley - Kew, VIC, Austrália.

ESTUDO DE CASO

MANEJO DE RECURSOS HÍDRICOS URBANOS


NA AUSTRÁLIA
Ashantha Goonetilleke

Até o final das próximas décadas, 91% da população australiana viverá em áreas urba-
nas (UNDESA, 2018). Na medida em que tais áreas se expandem, terras agrícolas são
convertidas em áreas construídas, tornando as cidades cada vez mais congestionadas.
Uma das abordagens-chave para garantir o bem-estar de comunidades urbanas é pro-
ver acesso adequado e seguro à água. Isso demanda a proteção de preciosos recursos
hídricos disponíveis nas cidades, que também funcionam como importantes bens co-
munitários e ecológicos.

A importância das águas receptoras nas cidades cresce junto com o adensamento po-
pulacional e os ambientes aquáticos tornam-se ainda mais significativos como recur-
sos para propiciar recreação e embelezar os centros urbanos (ASAKAWA et al., 2004).
A necessidade de “ilhas de tranquilidade”, tais como corredores ecológicos no meio de
ambientes construídos e movimentados, tem sido claramente abordada na literatura
científica (GOBSTER et al., 2004).

107
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Os ambientes aquáticos urbanos australianos têm ainda papel fundamental para o


habitat da vida selvagem. Davies (1983) verificou que 60% da vida selvagem nativa de
Queensland se faz presente nos corredores ecológicos urbanos da região. Assim, estra-
tégias inovadoras são essenciais para garantir que bens essenciais como esses estejam
devidamente protegidos.
Na Austrália, a drenagem das águas de chuva e os sistemas de coleta de esgoto são
geridos de forma separada, trazendo benefícios importantes para o manejo pragmá-
tico dos recursos hídricos urbanos. O manejo prudente das águas de chuva é crítico
para proteger o ecossistema aquático urbano. Dessa forma, a manutenção dos canais
naturais de drenagem, a proteção da qualidade do ecossistema aquático, por meio
do controle da poluição, e a sua preservação para finalidades recreativas são medidas
essenciais para a gestão das águas urbanas.

Foto: Ashantha Goonetilleke

Rio Coomera na área urbana de Gold Coast, Queensland, Austrália.

A abordagem australiana do manejo de águas urbanas busca criar uma cidade habitá-
vel ao promover a sustentabilidade, a resiliência e a produtividade das fontes hídricas
disponíveis. Isso dá origem ao conceito de “Cidades Hidricamente Sustentáveis” (CHS)
(FORSSBERG; MALMQVIST; SÖRELIUS, 2015), que defende a integração do manejo de
água e oferece princípios para o planejamento das cidades, pensando na contribuição
da água, tanto para a economia quanto para os serviços ecossistêmicos. Assim, fica ga-
rantido que a proteção urbana das vias hídricas sirva para diversas finalidades: padrão
estético das paisagens, canais para usos múltiplos, sistemas de drenagem e controle
de enchentes.

108
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5

Uma das principais características das CHS é a aplicação de Soluções Baseadas na


Natureza (SBNs) para o manejo do escoamento e da mitigação da poluição das
águas pluviais. As SBNs são medidas passivas que não exigem esforços externos.
Com relação ao manejo de águas pluviais, as SBNs são baseadas no conceito de
Projeto Urbano Sensível à Água (WSUD, na sigla em inglês) como uma transição
para cidades “sensíveis” à água. Tais medidas são também conhecidas em diferentes
partes do mundo como:
QUADRO 5-06
• Desenvolvimento de Baixo Impacto (LID, na sigla em inglês);
Artigo “Desenhando
• Sistemas de Drenagem Urbana Sustentáveis (SUDS, na sigla em inglês);
cidades com
• Dispositivos para a Melhoria da Qualidade das Águas Pluviais (SQIDs, na sigla em Soluções baseadas
inglês); na Natureza”

• Melhores Práticas de Manejo (BMP, na sigla em inglês).



O conceito de WSUD tem como principais fundamentos:
• Proteção dos ecossistemas aquáticos no processo de conversão de terras cobertas
por vegetação em áreas construídas.
• Aumento da qualidade da água jogada nos corpos hídricos urbanos.
• Garantia de que toda a água urbana seja manejada como fonte para reúso ou
para criação de paisagens esteticamente agradáveis.
• Integração de medidas de tratamento de águas pluviais no processo de incorpo-
ração de novos espaços, permitindo corredores ecológicos que sirvam tanto para
preservação da vida selvagem quanto para a realização de atividades recreativas.
• Mitigação de mudanças extremas no escoamento das águas a partir da ocupação
de novos espaços, por meio do aumento da infiltração e da recarga de aquíferos.
• Integração da água no planejamento das paisagens urbanas, aumentando assim
o seu valor visual, social, cultural e ecológico para a população. QUADRO 5-07

• Projeto de tratamento de águas pluviais, economicamente viável, para ser colo-


Diretrizes para
cado em prática.
gestão de águas
• pluviais de Brisbaine
no conceito WSUD
Uma característica do manejo hídrico urbano australiano é que ele se baseia, essencial- (em inglês)
mente, no reúso da água. Pesquisas mostram que tanques domésticos de captação de
água de chuva, por exemplo, podem representar uma contribuição significativa para
o abastecimento, tanto para demandas internas como externas à própria edificação.
Estudos de larga escala na Austrália relataram que armazenamentos de quantidades
típicas de água podem ser superiores a um terço do consumo diário das famílias
(COOMBES; BARRY, 2008). Entretanto, a reutilização de águas pluviais requer uma
mudança significativa no modelo mental da população.
Comumente, águas pluviais urbanas são consideradas como um problema por cau-
sarem enchentes, as quais poluem e degradam a saúde do sistema aquático. Conse-

109
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

quentemente, as autoridades municipais fazem um esforço significativo para coletar e


remover as águas pluviais das áreas urbanas o mais rapidamente possível. Entretanto,
muitos ignoram o fato de que as águas pluviais urbanas são a última fonte de recursos
hídricos em muitas cidades e que a urbanização crescente faz escalar a demanda por
água potável. O reúso das águas pluviais depende do conceito-chave de “uso adequa-
do ao propósito”.
Isso se relaciona essencialmente ao uso da água com diferentes níveis de qualidade
para atender demandas específicas. Por exemplo, o uso de água de boa qualidade para
beber e cozinhar, e o de qualidade inferior, para a descarga sanitária. Na Austrália, o
armazenamento e o reúso de água das chuvas têm sido realizado crescentemente em
áreas urbanas e nas que se desenvolveram recentemente para minimizar o uso da água
potável, principalmente nas regiões em que a mesma é mais escassa.
Outra aplicação vital das águas pluviais é na Recarga Gerenciada de Aquíferos (MAR,
na sigla em inglês) (DILLON, 2010), realizada por meio do seu armazenamento em
estratos geológicos permeáveis e superficiais evitando a necessidade de instalar um
coletor para a água. A MAR coleta água da chuva por meio de áreas alagadas ou ba-
cias de detenção, recarregando os aquíferos por intermédio dos poços injetores por
bombeamento ou via infiltração natural. Entre os benefícios da MAR estão: a proteção
contra a salinização do aquífero, que normalmente ocorre devido à extração constante
de água subterrânea; o melhor gerenciamento da demanda por águas subterrâneas; e
o aumento do fluxo de água em áreas alagadas. Entretanto, a MAR exige condições
hidrogeológicas favoráveis para permitir o armazenamento de grandes volumes de
água em pequenas profundidades.
Foto: Ashantha Goonetilleke

Bacia de bioretenção em Gold Coast, Queensland, Austrália.

110
Gestão Urbana das Águas Capítulo 5

Por fim, um aspecto central do manejo de águas urbanas é o papel do planejamento


no uso do solo, particularmente em relação ao controle de enchentes. Medidas estru-
turais sozinhas são insuficientes para a mitigação de enchentes quando o desenvolvi-
mento urbano segue ocupando planícies aluviais. O planejamento prudente garante
o uso adequado do solo ao considerar como os assentamentos humanos podem ser
projetados para suportar eventos de enchentes. Isso pode ocorrer, por exemplo, ao lo-
calizar terrenos com riscos reduzidos de alagamento para abrigar novas áreas de cres-
cimento da cidade, ou locais onde os efeitos das enchentes possam ser administrados.
Deve ser priorizada a incorporação de canais para o escoamento das águas de chuvas,
sem obstáculo, prevendo também a implantação de corredores de uso múltiplo e espa-
ços para infraestruturas de drenagem. Corredores de uso múltiplo se relacionam com
os muitos usos das áreas sujeitas ao alagamento, podendo funcionar como espaços
abertos ou parques para recreação e em períodos de enchentes, servirem como bacias
de detenção de água.

Dessa forma, o manejo efetivo do ciclo de águas urbanas é essencial para garantir o
bem-estar da população das áreas urbanizadas e para proteger os ecossistemas natu-
rais. A abordagem australiana desse manejo é baseada em conceitos de um desenvolvi-
mento urbano sensível às águas, produzindo cidades hidricamente sustentáveis a partir
do entendimento de que é necessário promover interdependência entre o uso dos
recursos hídricos e a realização das atividades humanas no contexto das cidades. Esses
conceitos têm-se provado efetivos para melhorar a saúde humana e a dos ecossistemas
e, ao mesmo tempo, contribuir com o crescimento econômico do país.
Foto: Ashantha Goonetilleke

Bacia de detenção para águas de chuva, Gold Coast, Queensland, Austrália.

111
Foto: Luiza Ishikawa Ferreira

Aguapé (Eichhornia crassipes) no Pantanal: Rio Paraguai, MT, Brasil


6
Espécies invasoras nos
Ecossistemas Aquáticos

6.1 ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS

O
Andreia Isaac
Gabriela Sponchiado Hein
Janice Peixer
Karoline Serpa
Larissa Corteletti da Costa
Luiza Ishikawa Ferreira

ecossistema representa o conjunto formado por uma comunidade biótica (seres


vivos) e os componentes abióticos (fatores físicos, geológicos e químicos, como
energia solar, temperatura, solo, água, ar, nutrientes, etc.) que interagem, propi-
ciando troca de matéria e energia entre seres vivos e elementos não vivos.
Em um ecossistema aquático continental, tem-se a região litorânea, que é a área em
contato direto com o ambiente terrestre. Há também a região limnética ou pelágica,
que, segundo Esteves (1988), é a área que não sofre influência direta do ecossistema
terrestre adjacente.

Em ambientes aquáticos, como nas bacias hidrográficas, há vários problemas. En-
tre eles têm-se as invasões biológicas (ou bioinvasões), que são caracterizadas pela
entrada de organismos que antes não ocorriam ali de forma natural. Esse processo
pode acontecer naturalmente ou por intermédio de ações antrópicas. Por exemplo,
o aumento da temperatura, causado pelas mudanças climáticas, pode fazer com que
organismos que antes se encontravam apenas em locais quentes consigam expandir
sua distribuição para locais com temperaturas mais amenas (agora mais aquecidos). No
QUADRO 6-01

Livro “Ecossistemas
aquáticos: tópicos
especiais”

novo local, a espécie invasora, pode causar prejuízos relacionados à biodiversidade, à


saúde e à economia, por isso, a invasão biológica vem sendo caracterizada como um
dos graves problemas ambientais da atualidade.

113
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 6-02

Caderno
Cada espécie biológica ocupa um determinado território, que pode ser tão extenso
“Espécies Exóticas
quanto um oceano ou tão pequeno quanto a nascente de um rio. A extensão geográ-
Invasoras”
fica ocupada por muitas espécies é limitada por barreiras climáticas e ambientais como
oceanos, desertos, montanhas e rios, que são barreiras que restringem a movimentação
das espécies resultando no isolamento geográfico das mesmas.

Usa-se o termo espécie nativa para se referir a uma espécie quando ela está presente
em seu ambiente de origem. O tucunaré (Cichla sp.), por exemplo, é uma espécie de
peixe nativa da Bacia Amazônica. O mexilhão-dourado (Limnoperma fortunei) é uma
espécie de molusco nativa do sul da Ásia. Quando essas mesmas espécies são encon-
tradas em regiões diferentes das originais, são chamadas de espécies exóticas. Então,
o tucunaré é uma espécie nativa na Bacia Amazônica, mas é uma espécie exótica na
Bacia do Rio Paraná. Assim como o mexilhão-dourado é nativo no Sul da Ásia, mas é
uma espécie exótica no Brasil.

Tucunaré (Cichla sp.) peixe nativo Mexilhão-dourado (Limnoperma


da bacia Amazônica. fortunei) do sul da Ásia.
Ilustração: Mávani Lima Santos - LAIC Ilustração: Allicia Cibely dos Santos Moura - LAIC

Em algumas bacias hidrográficas, há também ocorrência de espécie criptogênica, ou


QUADRO 6-03 seja, aquelas cuja origem biogeográfica é incerta ou para a qual não existe evidência
que permita a conclusão de que a espécie é nativa ou exótica. As cianobactérias Doli-
Livro “Manual de chospermum circinale e Mycrocystis aerugionosa, bastante comuns em muitos reserva-
Cianobactérias tórios de água doce do Brasil, são exemplos desse caso.
Planctônicas:
Legislação, •
Orientações para
Algumas espécies de cianobactérias são importantes na oxigenação da água e também
o Monitoramento
e Aspectos no processo de autodepuração natural dos corpos hídricos, mantendo assim a boa
Ambientais” qualidade da água. No entanto, algumas espécies têm a reprodução potencializada
causando um desequilíbrio ecológico: a eutrofização. Esse desequilíbrio é causado
pelo excesso de matéria orgânica na água e, geralmente, ocorre como consequência
de despejo de esgoto doméstico.

As cianotoxinas (hepatotoxinas, dematotoxinas e neurotoxinas) produzidas pelas cia-


nobactérias são o maior problema na água de consumo humano porque implicam em
sérios riscos à saúde pública. Essas substâncias são hidrossolúveis, passam pelo sistema

114
Espécies inovadoras nos Ecossistemas Aquáticos Capítulo 6

QUADRO 6-04
de tratamento convencional e resistem mesmo na água fervida. Assim, o monitoramento
das cianobactérias tóxicas e cianotoxinas nos mananciais de água para abastecimento “Manual para
público é imprescindível para identificar os locais com risco potencial (CETESB, 2013). estudo de
cianobactérias
• planctônicas em
Infelizmente, as atividades humanas estão prejudicando e degradando muitos serviços mananciais de
ecológicos e econômicos prestados pelos rios, lagos e zonas úmidas. Por exemplo: abastecimento
barragens e canais, diques de controle de inundações, cidades e plantações que adicio- público”
nam poluentes e excesso de nutrientes resultando no aumento significativo de algas
e cianobactérias. As áreas aterradas ou drenadas para agricultura também afetam o
fluxo das águas e causam alterações nos ecossistemas, assim como as áreas cobertas
por concreto, por asfalto e demais construções (MILLER; SPOOLMAN, 2015).

6.2 INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES


A introdução de espécies exóticas aquáticas ocorre desde o descobrimento do Brasil,
mas em relação às espécies aquáticas continentais, têm-se registro apenas a partir da QUADRO 6-05
década de 1960. O século XX foi marcado por grandes avanços econômicos e tecno-
lógicos no país e no mundo. Nesse período, quando houve intensificação do comércio Livro
marítimo, alguns organismos incrustantes e outros oriundos da água de lastro, que “Água de lastro:
passou a ser largamente utilizada (SOUZA; CALAZANS; SILVA, 2009), passaram a via- Gestão e Controle”
jar entre os oceanos. Águas de lastro podem transportar espécies de algas, pequenos
peixes e diversas espécies de animais invertebrados.

As espécies podem se deslocar para novas áreas geográficas naturalmente, sem a inter-
ferência humana, por exemplo, eventos de grandes inundações e balsas de vegetação
(“ilhas” flutuantes). No entanto, as atividades antrópicas aumentaram a ocorrência
desse fenômeno (TOWNSEND; BEGON; HARPER, 2006).
Atualmente, um número muito grande de espécies animais e vegetais já foi trans-
portado do seu local de origem para novos ambientes. A introdução de espécies tem
ocorrido ao longo do tempo de diversas maneiras, sendo que algumas ocorreram, e
ainda ocorrem, de forma acidental e outras de forma intencional. QUADRO 6-06

Um exemplo importante de transporte acidental ocorreu com o mexilhão-dourado (Lim- Livro


noperna fortunei). Esse molusco de pequeno porte, de 3 a 4 centímetros (cm), chegou “Mexilhão-dourado
acidentalmente ao continente sul-americano em meados da década de 1990. Ele foi tra- (Limnoperma
zido juntamente com as águas utilizadas como lastro em navios cargueiros. Inicialmente, fortunei)”
o mexilhão ocupou a Bacia do Rio da Prata, onde conseguiu se estabelecer e passou a
se reproduzir com sucesso. A partir daí, chegou até as bacias dos rios Paraguai e Paraná.

As introduções intencionais ocorrem há centenas de anos para fins ornamentais, para
fins de controle biológico e, principalmente, para fins alimentares, como é o caso da
piscicultura. Esta é uma atividade que merece destaque como fonte de introdução de
espécies exóticas nas bacias hidrográficas do Brasil. A tilápia-do-Nilo (Oreochromis

115
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

niloticus), por exemplo, ocorre naturalmente em rios do continente africano, mas foi
introduzida no Brasil para cultivo e atualmente é a espécie mais produzida no nosso
território. Ao longo do tempo, as falhas no manejo dessa espécie vêm permitindo que
ocorram escapes dos tanques de cultivo para os riachos e rios adjacentes aos mesmos.
Como resultado, hoje a tilápia pode ser encontrada em diversos rios brasileiros e sua
presença é preocupante por gerar desequilíbrio ambiental em função da competição
com as espécies nativas podendo causar a diminuição ou extinção das mesmas.
A produção de peixes ornamentais é outra fonte de introdução de espécies exóticas
nos riachos, rios, lagos e reservatórios brasileiros. A liberação desses peixes nos corpos
d’água pode ocorrer de forma acidental durante o manejo, ou intencionalmente. O
plati (Xiphophorus helerii), o barrigudinho (Poecilia reticulata) e o tetra (Hyphessobrycon
eques), são exemplos de peixes ornamentais encontrados em rios brasileiros.

Tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) Plati (Xiphophorus helerii) Tetra-serpae (Hyphessobrycon eques)


Ilustração: Maria Juliana Santos da Silva - LAIC Ilustração: Mirele da Silva Moreira - LAIC Ilustração: Jeová da Rocha Santos - LAIC

Barrigudinho (Poecilia reticulata) Barrigudinho (Poecilia reticulata)


machos do Ribeirão das Cabras fêmeas do Ribeirão das Cabras
Ilustração: CJT Ilustração: CJT

6.3 INVASÕES BIOLÓGICAS


Quando uma espécie é introduzida em um novo ambiente, pode não se adaptar e
desaparecer ou resistir ao ambiente novo e permanecer. Se a espécie permanecer no
novo ambiente, conseguir se reproduzir e ainda se dispersar para outros locais (como
o mexilhão-dourado), destacando-se no ambiente e causando prejuízo às espécies
nativas, ela passa a ser chamada de espécie invasora. Um outro exemplo de espécie
invasora é a macrófita submersa conhecida como falsa-elódea (Hydrilla verticillata) de
origem asiática.
No novo ambiente, muitas espécies invasoras não encontram predadores nem parasitas
especializados e por isso são favorecidas. Porém, deve-se lembrar que nem todas as
Hydrilla (Hydrilla verticillata )
espécies exóticas tornam-se invasoras. Na verdade, poucas delas completam o processo
Ilustração: Jhonyd Jhonata de
de invasão. Para completar esse processo, a espécie exótica precisa passar pelas seguin-
Oliveira Marmo - LAIC tes etapas: transporte, introdução, estabelecimento e dispersão.

116
Espécies inovadoras nos Ecossistemas Aquáticos Capítulo 6

1ª Etapa - Transporte: movimento da espécie (acidental ou intencional) até um novo


local, onde não ocorria naturalmente;
2ª Etapa - Introdução: Entrada no novo ambiente;
3ª Etapa - Estabelecimento: Após introduzida, a espécie precisa se estabelecer no
meio, ou seja, ter a capacidade de sobreviver e se reproduzir no novo local;
4ª Etapa - Dispersão: A dispersão é o movimento da espécie exótica para áreas ainda
não ocupadas. As espécies podem vir a ocupar grandes áreas, até mesmo
continentes inteiros.
O processo de bioinvasão pode ser interrompido se alguma das etapas acima impedir
a sobrevivência, a reprodução ou a dispersão da espécie.
As espécies que se tornam invasoras, normalmente apresentam algumas características
em comum, como alta taxa de reprodução e de crescimento. Além das espécies já citadas,
têm-se a planta aquática lírio-do-brejo (Hedychium coronarium,) originária da região do
Himalaia; o hidrozoário (Cordylophora caspia), nativo do Mar Cáspio e do Mar Negro; a
amêijoa-asiática (Corbicula fluminea); a pescada-do-Piauí (Plagioscion squamossissimus);
e o tucunaré (Cichla ocellaris), uma das espécies mais comuns em introdução.

Amêijoa-asiática, (Corbicula
flumínea): Conchas fechadas
(vivas) e abertas nas margens
do Ribeirão das Cabras,
Campinas, SP.
Foto: Luiza Ishikawa Ferreira

117
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

6.3.1 Impactos das espécies invasoras

As espécies invasoras, além de competirem com espécies nativas e causarem desequi-


líbrios ecológicos, podem trazer prejuízos à irrigação, ao abastecimento de água, à
geração de energia elétrica e podem comprometer a pesca de peixes nativos. Também
podem causar risco à saúde pública, como é o caso do molusco caracol-bexiga (Physa
acuta), potencial hospedeiro dos parasitas trematódeos Fasciola hepatica e Echinostoma
Gastrópode (Physa acuta) spp., que causam doenças em humanos.
Ilustração: Leticia Targino
Borges de Carvalho - LAIC

6.3.2 Ações mitigadoras para a invasão biológica

Após a invasão biológica é extremamente difícil e oneroso realizar o controle destes


organismos. Algumas técnicas empregadas são a remoção manual, a diminuição dos
escapes/introduções, o uso de métodos químicos para a alteração do pH da água, a
anoxia (privação total do oxigênio dentro dos tecidos ou órgãos), a hipoxia (insuficiên-
cia de oxigênio nos tecidos para manter as funções corporais), o uso do cloro gasoso, a
utilização de herbicidas, entre outros. Porém, mesmo com a utilização dessas técnicas,
a eliminação das espécies invasoras é considerada praticamente impossível. Portanto, o
melhor é levar em conta o princípio da precaução e prevenir a introdução de espécies
exóticas nas bacias hidrográficas.

6.4 PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO


As ações de preservação visam salvar espécies, áreas naturais, ecossistemas e biomas.
Nesse sentido, tais ações representam uma forma de proteger a natureza, indepen-
dentemente do interesse utilitário para o ser humano e do valor econômico que possa
representar (PÁDUA, 2006).

Mata ciliar em
ambiente preservado:
Cataratas do Iguaçu,
PR, Brasil. Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

118
Espécies inovadoras nos Ecossistemas Aquáticos Capítulo 6

Já a conservação envolve ações de cuidado e respeito à natureza, onde é possível o


uso sustentável dos seus recursos naturais. Nesse caso, a participação humana deve ser
harmoniosa e com intenção de proteção (PÁDUA, 2006).

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis


Ambiente aquático
usado para recreação:
Em virtude das mudanças que o ser humano vem promovendo no ambiente, fica claro Geelong, VIC, Austrália.
que a sociedade precisa rever seu modo de produção e adaptar as formas de extração
e consumo, a fim de garantir a disponibilidade dos recursos para as gerações futuras e
mitigar impactos já observados. QUADRO 6-07

Os cientistas já têm muitos dados que comprovam que estamos alterando as con- Artigo
dições naturais do nosso planeta e que as consequências já podem ser observadas “O Sol, o motor
nesta geração: inundações frequentes, aumento da temperatura em muitas regiões das variabilidades
do planeta com a ocorrência de temperaturas próximas a 40 graus ou mais, onde re- climáticas”
gistros dessa magnitude eram pouco frequentes ou raras; eventos climáticos extremos
mais frequentes como tufões, secas prolongadas e chuvas fortes. Naturalmente, alguns
eventos são cíclicos (efeito José e Noé) e que devido às ações antrópicas, em algumas
localidades, têm se acelerado ou potencializado.

6.4.1 Ecossistemas terrestres e aquáticos


QUADRO 6-08

Quando conservamos partes do continente, também conservamos os rios, lagos e as


Notícias
espécies que vivem neles. Como comprova um estudo recente de Leal et al. (2020)
“Importância da
os pesquisadores da Rede Amazônia Sustentável avaliaram mais de 1,5 mil espécies
conservação da
de água doce e terrestre na Amazônia brasileira. Eles estudaram peixes, libélulas,
biodiversidade”
besouro rola-bosta, entre outros e concluíram que os projetos de ações integradas
sobre ecossistemas terrestres e aquáticos podem aumentar em 600% a proteção dos
ecossistemas de água doce. Outra conclusão foi que sem o sistema integrado, ou
seja, utilizando apenas dados sobre a vida terrestre, cerca de 20% da biodiversidade
aquática é preservada.

119
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 6-09

Livro “Bacias
Hidrográficas:
fundamentos e 6.4.2 Recuperação e revitalização
aplicações”
A recuperação, a conservação e a preservação das águas e do meio ambiente são um
grande desafio para todas as bacias hidrográficas do Brasil e do mundo. A revitaliza-
ção, então, viria como uma nova abordagem para a gestão dos recursos hídricos. Ela
representa o conjunto de ações planejadas para adequar a gestão dos recursos hídricos
às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais da bacia.
Essas ações incluem a despoluição das águas, a conservação dos solos, a adaptação à
diversidade climática, a gestão e o monitoramento das bacias, a gestão integrada dos re-
síduos sólidos, a educação ambiental, a criação e o manejo de unidades de conservação,
a preservação da biodiversidade, o reflorestamento e a recomposição das matas ciliares.
Os programas de revitalização das bacias hidrográficas, em geral, possuem entre as suas
ações, a recuperação de áreas degradadas em regiões de mata ciliar e nascentes.

6.4.3 Mata ciliar: importância e revitalização


QUADRO 6-10
A mata ciliar é a vegetação nativa que fica às margens de rios, igarapés, lagos e repre-
“Manual de sas. Quando não impactada, ela forma uma área bastante rica em biodiversidade. Essa
Recuperação de vegetação desempenha o papel de filtro entre as partes mais altas da bacia hidrográ-
Matas Ciliares para fica, utilizadas geralmente pelo homem para a agricultura e urbanização, e a rede de
Produtores Rurais” drenagem, onde se encontra o recurso mais importante para o suporte da vida: a água.
As matas ciliares desempenham um importante papel na proteção dos rios, tornando
fundamental a sua conservação e recuperação.

Dentre as funções da mata ciliar, destacam-se:
• Proteger os mananciais;
• Filtrar os poluentes;
• R
egular a chegada de nutrientes, sedimentos, adubos e inclusive dos fertilizantes
e agrotóxicos;
• C
ontrolar processos erosivos das ribanceiras que provocam o assoreamento dos
corpos hídricos;
• Servir de corredor ecológico para muitas espécies;
• P
roporcionar a integração com a superfície da água, proporcionando proteção e
alimentação para peixes e outros componentes da fauna aquática;
• Regular a temperatura da água;
• Controlar a entrada de luz solar;
• Aumentar o acúmulo de água no lençol freático.

120
Espécies inovadoras nos Ecossistemas Aquáticos Capítulo 6

QUADRO 6-11

Livro
Para o trabalho de restauração da mata ciliar, devemos considerar a importância da “Mata Ciliar:
participação dos produtores rurais. Na maioria das vezes, as áreas estão em suas pro- Recuperações
priedades e o sucesso dessa ação só ocorrerá com um trabalho conjunto, inclusive com bem-sucedidas”
o poder público, que deverá elaborar o projeto e participar dos editais dos Programas
da Política de Mananciais e das Agências das Bacias Hidrográficas. Segundo Gomes et
al. (2011) para a recuperação e conservação de mata ciliar, dentro do manejo de bacias,
deve-se considerar, durante todo o planejamento, o produtor e a importância dessas
áreas para a sua sobrevivência.

Quando se observam as diversas funções que a mata ciliar exerce, nota-se que é es-
sencial a integração entre os meios terrestre e aquático, pois o equilíbrio entre ambos
proporciona uma melhor qualidade de vida para todos os organismos que dependem
direta e indiretamente dos recursos naturais disponíveis. A análise mais minuciosa das
condições das bacias hidrográficas nos dá indicativos de como são as condições locais
em relação à qualidade geral desses ambientes.

Foto: Luiza Ishikawa Ferreira.

Rio com presença da mata ciliar: Bonito, MS, Brasil.

6.4.4 Ações de revitalização das bacias hidrográficas

Quando se trata de ações de revitalização das bacias hidrográficas, é preciso conhecer


as causas da perda da qualidade ambiental e da degradação da natureza no entorno
e na bacia hidrográfica.

121
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Entre essas causas pode-se citar:


• Avanço descontrolado da agricultura intensiva por meio da irrigação;
• Desmatamento;
• Supressão da mata ciliar;
• Superexploração dos mananciais;
• Construção de barragens e hidrelétricas;
• Mineração e siderurgia;
• Falta de saneamento básico na bacia (poluição).
Barragem
Maroondah:
Healesville, VIC,
Austrália.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis


Após ações de revitalização, é possível avaliar se uma bacia hidrográfica foi realmente
revitalizada utilizando três métodos de análise. São eles:
• Métodos quantitativos: oxigênio dissolvido, pH, turbidez;
• Métodos qualitativos: materiais flutuantes, óleos, graxas, sabor e odor;
• Métodos quali-quantitativos: por meio de bioindicadores.
Parque Estadual
da Serra do Mar:
Caraguatatuba,
SP, Brasil.
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

122
Espécies inovadoras nos Ecossistemas Aquáticos Capítulo 6

6.4.5 Monitoramento

O monitoramento das condições de uma bacia


hidrográfica deve ser constante, pois ao notar
algo irregular é possível procurar o quanto antes
as fontes poluidoras, que podem ser pontuais
ou difusas. Atualmente, o uso de recursos tec-
nológicos, como drones e demais equipamentos
portáteis disponíveis no mercado, ajudam na
identificação da fonte do problema e, conse-
quentemente, permitem o rápido combate à
causa, com a eliminação ou minimização dos
danos ao meio ambiente.
Observar o entorno da área e alguns bioindicado-
res pode ajudar a obter respostas mais imediatas,
que auxiliam nas tomadas de decisões a curto
prazo para diminuir os impactos negativos. Um
olhar mais atento, ao comportamento de muitos
animais que dependem diretamente dos corpos
d’água, ajuda a perceber algumas alterações am-
bientais. Por exemplo: a observação de eventuais

Foto: Luiza Ishikawa Ferreira


mudanças nos hábitos de algumas espécies de
peixes ou o excesso de macrófitas aquáticas, nas
lagoas marginais, nos reservatórios e nos demais
corpos d’água fornecem indicativos de que há
muita matéria orgânica, geralmente em conse-
quência da descarga de esgoto doméstico.
Aguapé
As macrófitas aquáticas, como o aguapé (Eichhornia crassipes), têm um papel essen- (Eichhornia crassipes).

cial na fitorremediação, que é o processo em que as plantas degradam, extraem ou


imobilizam os poluentes. No entanto, em grande quantidade, essa espécie prejudica
a dinâmica do ecossistema. Sua reprodução acelerada pode chegar a cobrir todo o
espelho d’água, impedindo a chegada de luz solar para os demais organismos, além de
causar a eutrofização.

6.4.6 Compromissos assumidos pelo Brasil

Não só a degradação ambiental, mas também a presença das espécies invasoras, pre-
judicam a biodiversidade. E, infelizmente, há um grande prejuízo nessa relação. As es-
pécies bioinvasoras competem diretamente ou indiretamente com as espécies nativas,
causando a diminuição ou levando à extinção das mesmas.
Levando-se isso em consideração, devemos lembrar que a preocupação é mundial.
Durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-
10), em 2010, realizada na cidade de Nagoya, Província de Aichi, no Japão, foi apro-
vado o Plano Estratégico de Biodiversidade para o período de 2011 a 2020. Esse docu-
mento prevê um quadro global sobre a diversidade biológica e busca estabelecer ações

123
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

concretas para deter a perda da biodiversidade planetária. O plano serve de base para
estratégias do sistema das Nações Unidas e para todos os outros parceiros envolvidos
na gestão da biodiversidade. As Metas de Aichi 2011-2020 trazem, em cinco objetivos
estratégicos, as vinte metas que fazem referência à conservação da biodiversidade.
QUADRO 6-12
Elas são a base do planejamento vigente relacionado à implementação da Convenção
Livro “Metas de sobre Diversidade Biológica (CDB), assinada por 193 países, inclusive o Brasil. Uma das
Aichi: Situação atual metas, a de número nove, refere-se às espécies exóticas invasoras: “em 2020, espécies
no Brasil - Diálogos exóticas invasoras e rotas de introdução devem estar identificadas e priorizadas; espé-
sobre Biodiversidade: cies prioritárias devem estar controladas ou erradicadas e devem ser adotadas medidas
Construindo a para gerenciar as rotas, prevenindo a introdução e o estabelecimento de espécies exóti-
Estratégia Brasileira cas invasoras”. Assim, é importante a continuidade de trabalhos sobre o levantamento
para 2020” das espécies invasoras nas bacias hidrográficas brasileiras.

A realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvi-
mento, na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, foi um grande passo para conscientizar
a população sobre a necessidade da mudança de comportamento e o modo como o
ser humano se relaciona com o Planeta Terra.

QUADRO 6-13
Algumas ações antrópicas modificam de forma negativa ou causam a morte de mui-
tos dos organismos dos ecossistemas aquáticos que são importantes ecologicamente,
“Declaração do
como no caso dos microrganismos, protozoários, fungos e plantas responsáveis pela
Rio de Janeiro”
autodepuração natural dos rios e demais corpos d’água. Nesse contexto, tem-se tam-
bém a introdução de espécies exóticas que competem de forma direta ou indireta com
os demais organismos do ambiente aquático.
Enquanto não ocorrerem de fato mudanças positivas de comportamento iniciando-se
pelo individual, passando pela coletividade e por decisões políticas assertivas, de nada
adiantam os acordos firmados quanto às mudanças climáticas, CDB e Metas de Aichi
2011-2020.

QUADRO 6-14

Assistam ao “VII Webinário IFSP –


Introdução de espécies e invasões
biológicas: conceitos, fontes de
introdução e ações mitigadoras”

124
Foto: Luiza Ishikawa Ferreira.

Macrófitas em um jardim filtrante: Distrito de Sousas, Campinas, SP, Brasil.


7
QUADRO 7-01

“Manual do
Saneamento”
A
Bioindicadores
Andreia Isaac
Gabriela Sponchiado Hein
Janice Peixer
Karoline Serpa
Larissa Corteletti Da Costa
Yara Moretto

s bacias hidrográficas próximas de áreas com alta urbanização são as mais vul-
neráveis ao despejo de efluentes industriais e domésticos, que carreiam, respec-
tivamente, grande quantidade de metais pesados e elevada carga orgânica de
poluentes. Isso reduz drasticamente a qualidade dos recursos hídricos superficiais e,
em consequência, a qualidade de vida das populações que habitam o entorno desses
cursos d’água.

A realidade dos corpos e cursos d’água vizinhos aos agrupamentos humanos torna
essencial a adoção de ferramentas e métodos que possibilitem a identificação da si-
tuação desses ecossistemas aquáticos. O biomonitoramento consiste, exatamente, em
coletar e analisar informações sobre a qualidade do meio ambiente, baseando-se na
estrutura das comunidades biológicas ali presentes.
Foto: Jaqueline Aparecida Bória Fernandez

Afluente do Rio Jacu: Córrego do Tone, Jd. Helian, SP, Brasil.

126
Bioindicadores Capítulo 7

Nesse sentido, o biomonitoramento da qualidade da água é o processo por meio do


qual temos informações sobre as condições dos ambientes aquáticos, como rios, lagos
e lagoas, a partir da presença, ausência e tipo de organismos que vivem ali. E é por isso
que esses seres vivos recebem o nome de bioindicadores.
QUADRO 7-02

Capítulo
Bioindicadores ou indicadores biológicos, são espécies, ou grupos de espécies, que
“Indicadores
permitem detectar e entender modificações ou perturbações no ambiente em que
Biológicos de
vivem. Estes organismos respondem rapidamente às alterações no meio devido às
Qualidade”
suas características biológicas, dentre elas, a sensibilidade. As espécies podem ser
sensíveis, tolerantes ou resistentes aos estressores (por exemplo, poluentes), agentes
ou condições causadores das mudanças. Por isso, alterações no habitat podem ser
percebidas e compreendidas a partir da presença ou ausência dos bioindicadores;
quantidade de indivíduos (escassez ou abundância); número de espécies (biodiver-
sidade); e ampliação ou o encolhimento da sua área de distribuição. Assim, para
serem considerados bons bioindicadores, esses grupos de seres vivos precisam possuir
elevada abundância; fácil identificação; pouca mobilidade (movimentação); limites
de tolerância estreitos (serem sensíveis às pequenas alterações ambientais); e ser bem
conhecidos (ecologia e biologia).

Foto: Luiza Ishikawa Ferreira

Águas turvas do Ribeirão dos Pires: Distrito de Sousas, Campinas, SP, Brasil.

127
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

Para realizar o biomonitoramento, analisa-se nos ambientes aquáticos atributos como


presença e ausência, abundância e riqueza, e características morfológicas e fisiológicas
dos bioindicadores. O resultado da análise é, então, comparado aos padrões ambientais
esperados para áreas não impactadas, ou seja, a condição impactada versus a esperada
em condição natural, possibilitando assim, avaliar se houve alguma mudança. Alguns
grupos de espécies bioindicadoras estão tão intimamente relacionados a algum fator
de alteração, que sua resposta ambiental consegue mostrar se os distúrbios foram
causados por agentes naturais ou se têm origem antrópica.

O uso de bioindicadores tem sido frequente e é considerado uma ferramenta de


avaliação de impactos muito útil, já que algumas características desses organismos
permitem, por exemplo, uma avaliação segura e confiável, podendo fornecer res-
postas rápidas sobre os problemas ambientais, mesmo antes do ser humano saber
da sua ocorrência ou magnitude. Permitem também a avaliação da efetividade de
medidas preventivas tomadas para contornar os problemas criados pelo homem e a
identificação das causas e dos efeitos entre os agentes estressores e as respostas dos
organismos aquáticos.

7.1 TIPOS DE BIOINDICADORES


Os bioindicadores aquáticos podem ser divididos em seis grupos principais: micro-
-organismos, protozoários ciliados, algas, macroinvertebrados bentônicos, macrófitas
aquáticas e peixes.

7.1.1 Micro-organismos

Os micro-organismos são seres não visíveis a olho nu, como bactérias e fungos, que
atuam de maneira ativa nos ecossistemas. A qualidade microbiológica da água pode
ser avaliada, por exemplo, através da busca por bactérias indicadoras. A presença de
alguns tipos de micro-organismos em grande quantidade pode ser prejudicial à saúde,
além de servir como evidência de que aquele ambiente aquático está poluído.

Os micro-organismos tradicionalmente usados para monitorar a qualidade das águas


recreativas ou potáveis são um grupo de bactérias patogênicas, usualmente – mas
não necessariamente – encontradas no trato gastrointestinal dos animais de sangue
quente. A Escherichia coli, por exemplo, é um microrganismo existente na microbiota
normal do corpo humano, principalmente no trato gastrointestinal e está presente em
grandes quantidades em esgotos, efluentes, águas naturais e solos que receberam con-
taminação recente. É também uma das espécies mais abundantes de coliformes termo-
tolerantes e usualmente vem sendo muito utilizada como indicadora de poluição fecal.
Outras bactérias, como Pseudomonas aeruginosa e enterococos, que também fazem
parte da microbiota normal do ser humano, principalmente do trato gastrointestinal,
têm sido isoladas de águas recreacionais, sugerindo riscos à saúde, seja pelo contato
corporal, ingestão ou inalação. Essas bactérias são também indicadoras de qualidade
das águas, complementarmente aos coliformes.

128
Bioindicadores Capítulo 7

7.1.2 Protozoários ciliados

São seres unicelulares que se locomovem por meio do batimento de cílios. Esses orga-
nismos respondem rapidamente à presença de poluentes, graças à sua sensibilidade e à
rápida reprodução. Os ciliados bentônicos são frequentemente utilizados como bioin-
dicadores da poluição orgânica de riachos e rios pois, por possuírem um contato estreito
com o sedimento, respondem de maneira rápida às modificações que ocorrem nesses locais.

7.1.3 Algas

As algas são organismos morfologicamente simples. Podem ser uni ou pluricelulares,


não possuem raízes, caules ou folhas verdadeiras e são autótrofas fotossintetizantes.
Constituem um dos grupos de organismos ecologicamente mais importantes nos ecos-
sistemas aquáticos, pois além de serem a base da cadeia alimentar, são consideradas boas
indicadoras, devido ao seu curto ciclo de vida, taxa de reprodução rápida e sensibilidade
às alterações em variáveis limnológicas. Dentre as variáveis limnológicas podemos citar a
temperatura, o pH, a luminosidade, a salinidade, a turbidez, os sólidos em suspensão e o
enriquecimento de nutrientes – essa última variação, geralmente, provoca eutrofização.
O monitoramento das algas é uma ferramenta positiva que pode ser usada para avaliar a
presença de contaminantes nocivos à vida aquática e, consequentemente, aos organis-
mos que ocupam outros níveis tróficos, como os seres humanos.

Foto: Luigi Liberati

Afluente do Rio Juqueriquerê: Caraguatatuba, SP, Brasil

7.1.4 Macroinvertebrados bentônicos

Os macroinvertebrados bentônicos são organismos aquáticos que habitam o fundo de


rios e lagos. Nestes locais podem estar aderidos às pedras, aos cascalhos e às folhas
ou enterrados na lama ou areia. Esses seres vivos participam da degradação da matéria

129
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 7-03
orgânica no ecossistema aquático, disponibilizando energia para os níveis tróficos su-
Livro periores. Assim, desempenham um papel de grande importância para a ciclagem de
“Macroinvertebrados nutrientes. Dentro desse grupo estão alguns artrópodes em sua fase juvenil, pequenos
Bentônicos: crustáceos e moluscos. Por fazerem parte de um segmento diverso, que apresenta di-
Biomonitoramento de ferentes graus de tolerância às mudanças no ambiente e, também pela fácil coleta, são
Qualidade da Água” constantemente utilizados como bioindicadores.

Os macroinvertebrados podem ser classificados em:
• Sensíveis ou intolerantes - são os organismos que estão presentes em ambientes
com pouca ou nenhuma alteração no ecossistema. São exigentes e vivem onde
a água tem boa qualidade. Exemplos: Grupo EPT - efêmeras (Ephemeroptera),
mosca das pedras (Plecoptera) e mosca d’água (Trichoptera).
• Tolerantes - são os organismos que suportam ambientes que sofreram um distúr-
bio moderado em suas condições iniciais. Exemplos: lacraia d’água (Megaloptera),
besouro da água (Coleoptera), libélula (Odonata) e barata d’água (Heteroptera).
• Resistentes - são os organismos resistentes a profundas modificações no ecossis-
tema. Eles são capazes de sobreviver em locais altamente degradados e poluídos.
Exemplos: larva de mosquito (Diptera), caramujo (Mollusca) e minhoca da água
(Annelida).
Macroinvertebrados bentônicos
libélula (Odonata).
Ilustração: Douglas Matheus
Cavalcante - LAIC

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

QUADRO 7-04 Caramujo (Mollusca)

Cartilha “A poluição
das águas e as 7.1.5 Macrófitas aquáticas
cianobactérias”
As macrófitas ou plantas aquáticas são vegetais que permanecem total ou parcial-
mente submersas na água doce ou salobra. Elas desempenham diversas funções nos
ecossistemas, como acelerar a ciclagem de nutrientes e fornecer alimento e proteção
para organismos aquáticos, possuindo inclusive a capacidade de absorver o excesso de
poluentes da água.

130
Bioindicadores Capítulo 7

Essas plantas podem indicar a qualidade do ambiente em que estão inseridas, depen-
dendo, por exemplo, da sua presença e abundância. O aguapé (Eichhornia crassipes),
a alface-d’água (Pistia stratiotes) e a orelha-de-rato (Dichondra repens) são espécies
que podem indicar ambientes poluídos, pois costumam se desenvolver melhor em
ambientes eutrofizados, ou seja, enriquecidos por nutrientes, com altas concentra-
ções de matéria orgânica. A presença do lírio-d’água (Nymphaea alba), elódea (Elodea
canadenses) e algumas espécies de Nymphoides (estrela-branca, prato-d’água, pata-
-de-burro) são indicadoras de ambientes menos poluídos.

Foto: Ashantha Goonetilleke

Pântano Construído: Gold Coast, QLD, Austrália.

7.1.6 Peixes

Os peixes podem ser utilizados como bioindicadores e são uma importante ferramenta
para o monitoramento de ambientes impactados. Esses animais são capazes de arma-
zenar em seus tecidos certa quantidade de substâncias químicas (bioacumulação) sem
sofrer danos graves imediatos e, por isso, podem revelar a contaminação da água por

131
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 7-05 substâncias como o mercúrio (Hg) e o fósforo (P). A bioacumulação tende a aumentar
nos níveis tróficos mais elevados da cadeia alimentar. Assim, organismos que estão no
Cartilha “Peixes topo das cadeias alimentares, como é o caso dos peixes no ambiente aquático, podem
como Bioindicadores apresentar maior quantidade dessas substâncias, uma vez que as acumulam dos orga-
na Bacia do nismos que lhes serviram de alimento.
Rio das Velhas”

Como exemplo de espécies de peixes que apresentam bioacumulação de mercúrio
em seus tecidos, podemos citar a traíra (Hoplias malabaricus), a piranha (Serrasalmus
rhombeus), o flecheiro (Hemiodus immaculatus) e o tucunaré-açu (Cichla temensi).
Além da bioacumulação, outras características das assembleias de peixes podem ser
utilizadas no monitoramento da qualidade ambiental, como a presença e abun-
dância de espécies de peixes sensíveis ou tolerantes à poluição e a proporção entre
espécies de peixes que ocupam diferentes níveis na cadeia alimentar (carnívoros,
herbívoros, insetívoros, onívoros, detritívoros), pois a disponibilidade de alimento
afeta as populações de peixes. O cascudo (Hypostomus francisci) é um exemplo de
peixe utilizado como bioindicador em estudos que relacionam a disponibilidade de
alimento com a presença da espécie no ambiente.

Cascudo (Hypostomus
francisci): peixe utilizado
como bioindicador
Ilustração: Mávani Lima
Santos- LAIC

7.2 FERRAMENTAS DE BIOINDICAÇÃO


Os métodos biológicos de monitoramento ambiental são baseados na utilização da comuni-
dade aquática como indicadora da qualidade do ambiente. As principais vantagens da utili-
zação das comunidades são: a) diferentes sensibilidades e taxas de recuperação e b) capaci-
dade de concentrar e armazenar substâncias em seus tecidos. Para que esses métodos sejam
utilizados com eficácia, é necessário que informações como a taxonômica (identidade das
espécies), por exemplo, sejam traduzidas por meio de valores numéricos, em informações
que caracterizem as relações ecológicas no ambiente, a fim de facilitar sua interpretação e
de fornecer subsídios para a elaboração de critérios de classificação da qualidade das águas.

7.2.1 Índices

Os índices podem facilitar a interpretação de conjuntos de dados gerados durante o


biomonitoramento da qualidade da água. Os índices mais comumente utilizados para
avaliar o impacto de poluentes sobre as comunidades aquáticas são de três tipos:
bióticos; de diversidade; e de comparação da comunidade. Os índices bióticos esta-

132
Bioindicadores Capítulo 7

belecem a alteração em termos da tolerância ou sensibilidade relativa dos organismos


presentes a uma dada situação de poluição; os índices de diversidade avaliam os efei-
tos da poluição em termos de estrutura da comunidade; os índices de comparação da
comunidade, também denominados índices de similaridade ou dissimilaridade, estabe-
lecem os efeitos de poluentes sobre a composição da comunidade.

7.2.2 Medidas de diversidade funcional

Medir a diversidade funcional significa medir a variedade de funções desempenhadas pe-


las espécies no ambiente, independentemente da identidade dos organismos. Por exem-
plo: ao invés de comparar dois riachos considerando o número de espécies de peixes que
encontramos em cada um, comparamos os dois considerando o número de guildas ali-
mentares (carnívoro, herbívoro, detritívoro, onívoro, entre outros). Assim, em um riacho
“A” podemos encontrar dez espécies de peixes e essas dez espécies serem somente oní-
voras ou carnívoras (duas guildas alimentares). Enquanto isso, em um riacho “B” pode-
mos encontrar sete espécies de peixes, mas entre essas sete espécies, algumas podem ser
detritívoras, outras herbívoras, onívoras e algumas espécies podem ser carnívoras (quatro
guildas alimentares). Apesar do riacho “A” ter um número maior de espécies, o riacho “B”
apresenta maior diversidade funcional e essa informação da diversidade funcional pode
ser mais importante para caracterizar um riacho quanto ao seu grau de preservação do
que o número de espécies presentes em cada um.

7.2.3 Índices multimétricos

Atualmente, os índices multimétricos têm sido muito utilizados na avaliação da integridade


ecológica de ambientes aquáticos por permitirem integrar várias informações de uma co-
munidade biológica para fornecer um diagnóstico do grau de degradação do ecossistema
estudado. O uso desse tipo de índice baseia-se na comparação entre áreas livres de influência
humana (áreas de referência), e áreas sujeitas a impactos gerados por atividades humanas.
As métricas utilizadas em índices multimétricos variam de acordo com o bioindicador.
São exemplos de métricas para cada tipo de bioindicador:
• Peixes: número total de espécies nativas; tamanho das populações de peixes; estru-
tura etária das populações; número e identidade de espécies tolerantes à poluição;
porcentagem de indivíduos com tumores, doenças ou anomalias nas populações.
• Macroinvertebrados bentônicos: número total de espécies; número de es-
pécies de Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera; porcentagem de larvas de
insetos e outros invertebrados resistentes.
• Macrófitas: número total de espécies; cobertura de espécies de macrófitas an-
fíbias; cobertura de espécies de macrófitas flutuantes; porcentagem de espécies
dominantes; porcentagem de espécies tolerantes.
• Perifíton (algas aderidas a substratos): número total de espécies; número
de espécies do grupo das diatomáceas; porcentagem de diatomáceas vivas; por-
centagem de diatomáceas tolerantes; porcentagem de espécies sensíveis.

133
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 7-06 As métricas selecionadas devem mostrar claramente as modificações que ocorrem na
biota quando há um aumento do distúrbio no ambiente, seja esse distúrbio prove-
Capítulos “Índices niente de um único fator de impacto ou de efeitos cumulativos da influência humana.
multimétricos São exemplos de índices multimétricos o “índice de integridade biótica (IIB)”, utilizado
para Avaliação de em estudos com peixes, e o “índice BMWP (do inglês, Biological Monitoring Working
Integridade Biótica” Party)”, utilizado em estudos com macroinvertebrados bentônicos.

O uso de bioindicadores como ferramenta de avaliação da qualidade da água é de
extrema importância por serem capazes de detectar impactos ambientais de diversas
origens, assim como suas consequências a longo prazo. Torna-se cada vez mais neces-
sário o desenvolvimento de índices que se utilizem de organismos para o biomonito-
ramento. Nesse contexto, políticas públicas podem ser estabelecidas tendo por base o
uso dessa ferramenta.

Foto: Tourism Australia.


Áreas pantanosas de Mareeba, Atherton Tableland, QLD, Austrália.

QUADRO 7-07

Asistam ao “VIII Webinário


IFSP – Bioindicação: conceitos
e ferramentas para avaliação da
qualidade abiental”

134
Bioindicadores Capítulo 7

ESTUDO DE CASO

COMPREENDENDO A QUALIDADE DA ÁGUA PARA


ARMAZENAGEM EM NÍVEIS BAIXOS OU VARIÁVEIS
David Hamilton

A s mudanças climáticas e hídricas que vêm ocorrendo recentemente na Austrália


são cada vez mais frequentes devido ao aquecimento global. Sabe-se que os ní-
veis de água em represas e reservatórios serão mais baixos e variáveis no clima futuro,
devido aos níveis reduzidos e ocorrências mais esporádicas de precipitação em muitas
áreas do país. A demanda por abastecimento de água e recreação também tende a se
intensificar em áreas de mudanças demográficas, com o aumento do uso recreativo
da água. Ainda será necessário manter o nível de água para abastecer o ecossistema
de sua capacidade para suportar a vida. Tais mudanças devem apresentar desafios
enormes para a indústria de abastecimento, tanto em termos de gestão de quantidade
quanto de qualidade da água.
Fonte: Bureau of Meteorology (2020)

*Decis é a classificação
de um intervalo de tempo
da precipitação por meio
Decis* da Chuva da divisão de uma série
em 10 partes iguais.
1 2-3 4-7 8-9 10

Níveis mais Muito Abaixo Na média Acima Muito acima Níveis mais
baixos abaixo da da média da média da média altos observados
observados média desde 1911
desde 1911

Precipitação anual em 2018-2019 comparada com a dos registros históricos (1911-2019).

135
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

As represas e reservatórios são reconhecidos atualmente como importantes barreiras


para reduzir os riscos de contaminação do abastecimento de água. Eles são uma medi-
da preventiva de baixo custo que podem resultar em múltiplas reduções de concentra-
ções de contaminantes e de agentes patogênicos, desempenhando importante função
no ecossistema para o suprimento da água. Os níveis de água vêm exercendo papel
importante na eficiência representada por essas barreiras de contenção, com potencial
de afetar o processo de tratamento e seus custos, bem como a saúde humana.
No entanto, há possibilidade da qualidade da água ser impactada quando os níveis
dos reservatórios forem mais baixos e variáveis. Há evidências de que a recuperação
da qualidade da água em níveis extremamente baixos de armazenamento pode ser
retardado ou até mesmo deixar de ocorrer. Os sintomas da baixa qualidade da água se
relacionam com a maior ocorrência de florescimento das cianobactérias, alta turbidez,
elevada concentração de ferro e manganês, e por fim, aumento na concentração de
partículas, como sedimentos inorgânicos e materiais orgânicos dissolvidos, além da
presença de compostos que produzem gosto e cheiro na água.
No desenho esquemático a seguir, observe que onde os níveis de água se tornam mui-
to baixos, a separação pode ser reduzida na medida em que a camada da superfície
se estende para as áreas mais profundas de armazenagem. Nos níveis muito baixos os
níveis de turbidez são mais altos.

Redução da
capacidade de
Aumento da salinidade drenagem
e de nitrato nas águas de água
subterrâneas

Aumento da Aumento da
evaporação proliferação
de algas
aumento do tempo
de retenção da água
Perda de
macrófitas
Aumento da
temperatura
da água
Aumento da estratificação*

Ilustração: Australian Rivers


Institute - Griffith University.
Aumento
da anoxia

Aumento da capacidade de
Parede da
processamento interno (ex.
barragem
Ressuspensão de sedimentos,
liberação de nutrientes)
Mudanças que ocorrem devido ao armazenamento de água em níveis mais baixos.

136
Bioindicadores Capítulo 7

Os baixos níveis dos reservatórios aumentam o potencial para a redução da extensão


do fluxo, que agentes patogênicos e outros contaminantes precisam percorrer desde
a entrada da represa até o local de armazenamento de água para o consumo. O cli-
ma futuro irá requerer um monitoramento mais rigoroso da qualidade da água nos
reservatórios. Ou seja, a segurança hídrica precisará ser pensada não só em termos de
quantidade, mas também de qualidade.

Técnicas específicas e adicionais de manejo podem ser necessárias para o armazena-


mento, incluindo a separação artificial para gerir o florescimento de cianobactérias e
mudanças químicas produzidas pela anoxia (isto é, ausência de oxigênio) da água no
fundo do reservatório, além de cortinas para administrar os fluxos túrbidos de entrada,
separando águas contaminadas logo na entrada da barragem. O manejo da captação
para manter a qualidade e o volume dos fluxos de entrada serão também críticos com
o advento das mudanças climáticas, e o fortalecimento da resiliência a enchentes, se-
cas e ondas de calor serão parte integral constituinte desse trabalho.

O Instituto Australiano de Rios da Universidade de Griffith (Australian Rivers Institute


da Griffith University) lidera um projeto focado em impacto na qualidade da água de
secas estendidas e níveis baixos ou variáveis em reservatórios, financiado pelo Water
Research Australia, que é o órgão responsável pela coordenação de pesquisas para
apoiar os objetivos e desafios de longo prazo da indústria de fornecimento de água.
Nesse projeto específico, o Water Research Australia reúne várias autoridades hídricas
tais como Seqwater (do Sudeste de Queensland), Melbourne Water (de Vitória), SA Wa-
ter (da Austrália do Sul), WaterNSW e Hunter Water e o Griffith Council (de Nova Gales
do Sul). A equipe de pesquisa incluí especialistas da Universidade de Adelaide e de
Queensland. A habilidade de coordenar gestores hídricos e pesquisadores na Austrália
está criando ao mesmo tempo mecanismos efetivos da relevância das pesquisas, bem
Parque Nacional
como sua aplicação direta nas políticas de gestão hídrica em todos os níveis. Kosciuszko, NSW,
Autrália.

Foto: Tourism Australia.

137
Foto: Janice Peixer
8
Articulação de atores
e comunicação social

O
Cristina Elsner de Faria
Evanilde Benedito
Jaqueline Gil
Matheus Maximilian Ratz Scoarize
Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

objetivo deste capítulo é tratar das dinâmicas socioeconômicas e políticas,


ocultas e evidenciadas, que ocorrem quando diferentes grupos de interesses
– ou atores – se inserem e participam de um fórum político para debater e
negociar a formulação de programas ou políticas públicas, a exemplo dos comitês
de bacias hidrográficas. Embora os comitês não assumam responsabilidades gover-
namentais no fomento de políticas públicas, nem respondam pelo posicionamento
e deliberações finais do estado, eles atendem formalmente aos anseios da sociedade
por maior transparência política, participação nos processos decisórios e oportuni-
dades para controle social.

É no intuito de fortalecer os processos decisórios que as boas práticas de comunicação
social ganham relevância. Cada vez mais a universidade deve se fazer presente junto
à comunidade, traduzindo a experiência e o saber científico para propostas de valores
e práticas que sejam capazes de promover a transformação social e do modo como o
indivíduo lida com o meio ambiente, bem como impulsionar uma estratégia de cres-
cimento econômico ambientalmente responsável e sustentável. Saber compartilhar o
conhecimento científico de forma simples e aplicada é ainda um grande desafio a ser
superado por membros especializados dos comitês de bacias hidrográficas.

8.1 ANÁLISE E CATEGORIZAÇÃO DE ATORES POLÍTICOS


QUADRO 8-01

Organização,
Processos e Tomada
de Decisão

Existe uma pluralidade de atores que interagem entre si no contexto do processo de


tomada de decisões políticas, seja em um contexto local, regional ou global. Cada ator
possui uma lógica própria de atuação, defendendo sua perspectiva técnica, prioridades

139
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

econômicas, interesses políticos ou de grupos específicos, dentre outros. Cada ator


identifica os problemas e considera alternativas a partir de seu posicionamento no
contexto socioeconômico e político.

QUADRO 8-02

Assistam ao “III Webinário IFSP -


Princípios econômicos e sociais, políticas
públicas e processos participativos”

Para melhor compreender essa pluralidade de grupos de interesses, podemos caracteri-


zar os atores em dois grandes grupos. O primeiro é composto por indivíduos internos
à estrutura do estado, incluindo os representantes eleitos como também funcionários
do poder público. O segundo grupo agrega atores externos a essa parcela vinculada
ao poder público. Nesse caso, diversos perfis são agregados, desde representantes de
comunidades, mídia, especialistas técnicos e pesquisadores, ambientalistas, partidos
políticos, grupos de profissionais liberais, empresários, produtores rurais, entre outros.
Embora se possa categorizar os atores em dois grandes grupos e seus subgrupos (tabe-
la abaixo), isso não significa que haja uma agenda ou uma perspectiva única sobre as
mesmas questões que sejam comuns aos diversos grupos de atores (KINGDON, 2011).
Ou seja, as percepções multidimensionais e os conflitos são condições inerentes à vida
em coletividade e ao jogo político.
Por exemplo, entre atores internos à estrutura do estado, a visão de representantes da po-
lítica ambiental, econômica, rural e de desenvolvimento urbano sobre a temática da água,
em específico a conservação e o uso de recursos hídricos, reflete posicionamentos distintos.
O mesmo ocorre entre grupos de empresários, produtores rurais, ambientalistas, acadêmi-
cos e pesquisadores. Cada grupo ou subgrupo específico de atores identifica um conjunto
de problemas específicos e considera alternativas de acordo com seu histórico formativo e
interesse de uso da água. Logo, quando se posicionam em um fórum coletivo para tomada
de decisões, cada grupo irá defender seu posicionamento, buscará se alinhar com grupos
cujos interesses sejam convergentes e, juntos, formarão coalizões visando maximizar os
resultados alcançados no processo de formulação de políticas públicas.
É um grande desafio para os tomadores de decisão obter uma solução técnica e financei-
ramente viável, que seja aceitável pela maioria dos grupos representados, a fim de otimi-
zar os resultados esperados. Assim, torna-se relevante que cada participante de comitês
de bacias hidrográficas faça um exercício de autocrítica e analise o perfil dos membros
de seu comitê. Algum ator relevante não está representado? Todos os atores que usam
recursos hídricos estão envolvidos nas discussões? Qual grupo ficou marginalizado? Qual
seria a relevância de incluir esse grupo de atores?

140
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8

QUADRO 8-03

• Artigo “Participação,
representação e
O processo decisório também está sujei- representatividade
to a questionamento. As ideias e as pro- no processo de
postas de ação deliberadas pelo comitê tomada de decisão
foram o resultado de uma construção em Comitês de
coletiva dos atores envolvidos? Como Bacia Hidrográfica:
foi a tentativa de cada ator para influen- conceitos, reflexões
ciar o processo decisório? Quais visões e discussões”
ou posicionamentos foram defendidos?
Suas demandas foram contempladas na
proposição formulada? Quais atores ti-
veram as suas ideias e propostas consi-
Autora: Cristina Elsner

deradas? E quais ficaram de fora? Isso


pode gerar algum conflito, disputa ou
até mesmo inviabilizar a execução dessa
proposta?

8.2 JOGO DE INTERESSES


NOS PROCESSOS DE
TOMADA DE DECISÃO
Por que é importante entender esse
quadro de atores, suas categorias e po-
sicionamentos específicos? Vive-se em

141
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

um ambiente democrático, com mecanismos instituídos para assegurar a partici-


pação de cidadãos no processo de formulação das políticas públicas e também na
tomada de decisões, em especial quando se trata de programas e políticas com exe-
cução local – a exemplo das questões referentes às bacias hidrográficas.

Ilustração: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis


Nesse contexto, cada grupo de atores tem o direito de expressar sua voz e opinião,
cabendo aos demais participantes desenvolver a maturidade necessária para escutar as
posições de outras partes, ainda que não compartilhem da mesma visão. Cada grupo
específico possui um conjunto de valores e interesses próprios, nem sempre conver-
gentes com o posicionamento da maioria ou de outros grupos de atores (FARIA, 2017;
KINGDON, 2011), provocando, por vezes, situações conflituosas e desentendimentos
entre as partes. Apesar das aparentes divergências de posicionamento, não se deve
partir do princípio que as visões de mundo são irreconciliáveis.
De modo geral, alguns posicionamentos de setores produtivos específicos não incorpo-
ram temáticas relativas ao uso da água, seu manejo e preocupações com a conservação,
em sua agenda central de interesses. Por vezes os interesses expressos por grupos especí-
ficos refletem uma preocupação exclusiva com o benefício individualizado desse grupo,
sem preocupações com o impacto de suas escolhas ou com perspectivas distintas de ou-
tros grupos de atores. Em outros casos, a posição defendida reflete não apenas um olhar
unilateral do problema, mas também expressa um desejo de excluir atores específicos
com os quais possa ter havido desentendimentos anteriormente, o que torna o debate
acalorado. Há, inclusive, situações em que os posicionamentos expressos refletem visões
ambíguas ou incertezas no argumento apresentado e defendido (MARCH, 2009).
Na prática, as distintas visões representam perspectivas multidimensionais da realida-
de. A verdade é que nenhum grupo de atores possui informação completa sobre uma
determinada situação, problema ou alternativa do processo decisório. A racionalidade
humana é limitada, seja pela trajetória individual percorrida, pelo panorama multi-
disciplinar do problema enfrentado ou, ainda, pela transitoriedade de determinados
eventos. Cada ator percebe a realidade a partir de seu ponto de vista, o que reflete uma
fatia do contexto percebido.
O processo de decisões precisa considerar as diversas perspectivas, os múltiplos pontos
de vista de cada ator, permitindo assim captar um maior número de elementos de uma

142
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8

realidade complexa e multifacetada. A despeito das aparentes divergências e eventuais


conflitos, deve-se buscar uma certa complementaridade nas visões expressas pelos
diversos atores. É necessário compreender a situação e os problemas sob seus diversos
ângulos e, de forma colaborativa, formular um conjunto de alternativas viáveis para
serem implementadas.
Foto: Iara Bueno Giacomini

Plenário do Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí

Cabe aos tomadores de decisão perceberem que a realidade é complexa, com cená-
rios interligados, em que múltiplas perspectivas refletem fatias da verdade, sendo
cada uma delas expressa por atores legítimos no processo decisório (FARIA, 2017;
MARCH, 2009). Do contrário, corre-se o risco de que as decisões gerem um conflito
acentuado ou, ainda, que haja um descompasso entre a visão defendida pelos comi-
tês de bacias hidrográficas e a prática implementada pelos diversos grupos de atores
em seu território.

8.3 COLABORAÇÃO E O PODER DA AÇÃO COLETIVA


Os comitês de bacias hidrográficas representam instrumentos formais de interação
dos diversos atores, internos e externos ao estado, para discutir e deliberar sobre o
uso e a conservação de recursos hídricos no contexto local. A sua concepção remete
aos princípios de participação, transparência e controle social, primando pela cola-
boração de seus diversos membros e grupos representados. Logo, é indispensável ins-
tituir protocolos para os debates, assegurando a existência de uma plataforma que

143
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

permita a exposição dos posicionamentos de diversos grupos de atores e o debate


dos diversos cenários, perspectivas e alternativas, de modo que a tomada de decisões
ocorra no melhor interesse dos atores envolvidos.

O entendimento corriqueiro é que as condições requeridas para a preservação do meio


ambiente e as demandas por consumo de água para as atividades produtivas ou para o
abastecimento das aglomerações urbanas são incompatíveis, refletindo posicionamentos
extremos, e que não seria possível construir uma convergência no processo decisório. É
urgente desmistificar essa visão e abrir o ambiente dos comitês para o diálogo. Nem sem-
pre será possível construir consensos, mas a complementaridade das visões apresentadas
permitirá a compreensão dos posicionamentos e, idealmente, o respeito e a consideração
entre os diferentes grupos de atores (FARIA, 2017). Especialistas e pesquisadores, edu-
cadores e ambientalistas, políticos e gestores públicos, produtores rurais e industriais,
grupos comunitários e representantes dos diversos setores econômicos; todos devem
encontrar no comitê um espaço para dialogar e conhecer outras visões.

É importante ressaltar que o processo decisório deve ser representativo, sem perder de
vista a ética, as regulações vigentes e a fundamentação tecnocientífica das argumen-
tações e decisões. Por vezes, não será possível construir um posicionamento comum
ou alcançar o consenso. Ao menos, deve-se almejar o apoio dos diversos grupos para
as decisões tomadas e iniciativas a serem implementadas. O sucesso das iniciativas
promovidas pelos comitês de bacias hidrográficas reside na colaboração e no apoio dos
diversos grupos de atores às deliberações, ainda que seus posicionamentos individuais
não estejam necessariamente refletivos em alguma ação específica.

Portanto, é importante pensar em plataformas de diálogo e negociação que sejam


capazes de viabilizar o apoio dos diversos atores às decisões tomadas em um deter-
minado momento e contexto. Em um contexto de pluralidade de interesses e visão
QUADRO 8-04
multifacetada da realidade, é necessário aprender a jogar um jogo de ganha-ganha.
Não se pode jogar um jogo de ganha-perde, pois essa situação sempre gera conflito
Cartilha
“Gestão das águas e disputas, resultando no insucesso ou na descontinuidade de uma iniciativa. Quando
no Brasil: vamos grupos específicos são marginalizados no processo decisório, os riscos políticos de uma
participar?” decisão aumentam e isso tem como consequência, em geral, a falta de colaboração.

O poder de um comitê participativo e deliberativo reside na ação coletiva de seus ato-


res (PATEMAN, 1992). Se todos ganham, as iniciativas formuladas prosperam. É desse
modo que se provoca uma mudança na cultura política, usualmente caracterizada
pela apatia, desinteresse ou barganhas no estilo “toma lá, dá cá”. Nada impede que
alguma decisão tomada conjuntamente venha a ser reavaliada no futuro. Assim como
a racionalidade humana é limitada e não há um grupo de atores cuja posição seja a
única certa, também não há decisões que não sejam passíveis de mudanças e ajustes
ao longo de seu percurso de execução. O contexto muda, nossa compreensão sobre os
fatos e situações evolui, e o avanço da ciência e da tecnologia permite que soluções
distintas venham a ser adotadas.

144
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8

ESTUDO DE CASO

ARTICULAÇÃO ENTRE PRODUTORES, UNIVERSIDADES


E EMPRESAS EM SHARK BAY NA AUSTRÁLIA
Nononon noon

O caso analisado teve origem em Shark Bay, pequena cidade no Noroeste da Austrália,
onde há fazendas produtoras de pérolas. Junto com o turismo, os recursos gerados por
esse mercado são fundamentais para a economia da cidade. Em 2000, depararam-se
com uma praga biológica altamente tóxica e causadora de mortalidade em diversos seres
vivos, que atingiu toda a costa oeste da Austrália. Dessa forma, os produtores da fazenda
Blue Lagoon Pearls desenvolveram uma série de experimentos visando buscar soluções
para esse problema. Nesse processo de experimentação, nasceu a empresa Marine Easy
Clean, que desenvolveu um composto de hidrocarbonetos inertes em água, contendo
oligoelementos essenciais para os seres vivos. Essa estratégia foi capaz de conter a con-
taminação e conseguiu salvar algumas fazendas. Outras não tiveram a mesma sorte.
Foto: Sonia Masarova

Emus caminhando em Shark Bay, Austrália Ocidental.

Cientes da dimensão dos problemas enfrentados na região, os produtores de Shark Bay


buscaram a Curtin University of Technology para validar sua descoberta e aprimorar o
produto. Pesquisadores da universidade puderam analisar a solução proposta e identi-
ficaram que a tecnologia desenvolvida em Shark Bay é um potente bioestimulador dos
micro-organismos que agem no processo de regeneração natural, quando o próprio
meio elimina a poluição das águas em rios, lagos, lagoas e outros corpos hídricos.

Com um pouco de investimento e muito aporte de conhecimento científico, foi possí-


vel aprimorar essa nova tecnologia capaz de regenerar ambientes aquáticos por meio
do consumo de carga orgânica de forma simples e rápida, sem a utilização de produ-

145
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

tos químicos ou geração de nenhum grau de toxicidade no ambiente. Essa tecnologia


consiste em uma placa de hidrocarbonetos, microfilamentado com oligoelementos.
Estudos da Curtin University of Technology comprovaram que a tecnologia é capaz de
regenerar corpos hídricos ao estimular a proliferação de bactérias benéficas que já es-
tão no próprio meio, consumindo materiais orgânicos e inorgânicos.

A eficácia obtida a partir do uso dessa tecnologia desencadeou novos estudos e pes-
quisas baseadas nos mesmos princípios, que resultou na concepção de quatro novos
produtos e registro de patentes. Também foram constituídas empresas para comer-
cializar tais produtos, dando uma escala global para a solução desenvolvida pelos
produtores de Shark Bay, inclusive no Brasil. Atualmente, há uma linha de pesquisa em
desenvolvimento pelo Centro de Pesquisa Barry Marshall, vencedor do Prêmio Nobel
(Fisiologia/Medicina) em 2005, dando assim seguimento a uma parceria de sucesso
entre: comunidade, universidade e empresa.

QUADRO 8-05

Assistam ao “XII Webinário IFSP


- Articulação Interinstitucional:
parceria entre universidade,
indústria e comunidade”

4. COMUNICAÇÃO E AÇÕES CONJUNTAS ENTRE


UNIVERSIDADE E COMUNIDADE
O volume de conhecimento resultante das pesquisas desenvolvidas nas diferentes áreas
de conhecimento é grande e crescente. Os planos táticos estabelecidos para a pesquisa
no Brasil (CNPQ, 2014) permitem vislumbrar ainda mais a ampliação da produção de
conhecimento no horizonte temporal até 2025. Muitos dos resultados das pesquisas
obtidos demarcam fronteiras científico-tecnológicas no uso dos recursos naturais e da
biodiversidade na saúde e bem-estar humano e animal (AMATO-LOURENÇO, 2016;
MOREIRA ET AL., 2020).

É nesse ponto que reside uma das maiores frustrações dos pesquisadores: a dificul-
dade de compartilhar os conhecimentos científicos e gerar a transformações social
e ambiental esperadas. Informações que subsidiam as ações das autoridades são
comumente apresentadas em artigos científicos e muitas delas constituem-se em sé-
rios riscos diretos à saúde pública quando da exploração e transformação ambiental
(VORMITTAG, 2021).

146
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8

Em geral, as informações produzidas na academia (ou seja, universidade ou centros de


pesquisa) são ignoradas ou mal interpretadas fora do meio científico, em grande parte
devido a dois aspectos que se constituem em desafios associados à comunicação das
informações científicas produzidas na academia ao público em geral. A primeira delas
refere-se a como as informações são divulgadas. As pessoas sentem-se pouco atraídas
e sem compreensão direta da linguagem e do formato dos produtos, disponibilizados
muitas vezes, apenas, por meio de apresentações em eventos e na forma de artigos
científicos. Um segundo desafio, que impede a acessibilidade aos resultados científicos,
ocorre quando os gestores necessitam de informações sobre um determinado tema e
não as encontram. O mesmo ocorre quando tais informações possuem muitos termos
técnicos e complexos o entendimento dos gestores. Juntos, esses desafios fazem com
que os formuladores de políticas e a comunidade, em geral, sejam menos responsivos
às informações científicas (LUPIA, 2013).
Ilustração: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Linguagem científica versus linguagem popular

Essa falta de compreensão dificulta a comunicação entre as partes envolvidas, que são
os pesquisadores e a comunidade em geral, além de desestimular a criação de novos
investimentos. Entretanto, quando a comunidade se sente diretamente afetada pelos
prejuízos gerados devido ao uso desordenado dos recursos ambientais, ela própria se
organiza e busca resolver as questões da forma como compreende os mecanismos e
o funcionamento do ecossistema em que está integrada. Do mesmo modo, frente aos
cortes enfrentados pelos cientistas para financiar programas de pesquisa e monitora-
mento a longo prazo, os pesquisadores e a comunidade se encontram em um cenário
de busca de resolução dos problemas ambientais (FADINI; FERNANDES, 2017).

147
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

ESTUDO DE CASO

COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTOS PARA A


TRANSFORMAÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL NO GRUPO
SOS RIACHOS
n

Os riachos urbanos localizados em fundos de vale correspondem a um dos ecossis-


temas aquáticos mais direta e prontamente afetados pelo crescimento das cidades.
Quer seja por suas cabeceiras ou por partes de seu curso se encontrarem soterrados
por edificações ou vias públicas, quer seja pelo lançamento irregular de resíduos
domésticos, de construções e de poluentes industriais. Esses ambientes impactados,
por estarem próximos a moradias, geram incômodo, não apenas pelo aspecto cênico
desagradável, mas pelo aparecimento e concentração de agentes nocivos à saúde
humana. O aparecimento de doenças, como por exemplo a dengue, é comum em
locais próximos aos fundos de vale.

Nesse contexto, uma comunidade residente em um bairro próximo a fundo de


vale, no município de Maringá (PR), decidiu por se organizar no Grupo de Estudos
e Ações Comunitárias (Geac), com o apoio de líderes comunitários e religiosos,
para trabalhar em prol da conservação e da restauração desses ambientes degrada-
dos. Entre as ações desenvolvidas se destacam a limpeza dos riachos, a orientação
aos moradores do bairro sobre os riscos do lançamento de resíduos nos fundos de
vale, o monitoramento de ações danosas ao meio ambiente da região e até mes-
mo a produção de uma cartilha sobre as consequências da poluição dos riachos.
Do outro lado, encontram-se cientistas de um núcleo de pesquisas com estudos
focados no ambiente aquático, o Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia
e Aquicultura (Nupélia), de uma universidade pública, a Universidade Estadual de
Maringá (UEM). O pessoal do Nupélia vem despendendo esforços para estudar a
biodiversidade e estabelecer formas de conservação e manejo. O encontro desses
dois segmentos da sociedade e a soma de esforços permitiu avanços locais e re-
gionais na busca da mudança de um cenário ambiental caótico. A comunicação
tornou-se estreita em atividades de extensão realizadas, não apenas no bairro,
mas em outros pontos do município. Esse processo deu início a um grupo cons-
tituído por pesquisadores, estudantes e a comunidade em geral denominado SOS
Riachos. Os resultados das pesquisas e as necessidades da comunidade permiti-
ram um diálogo com os gestores do município que conduziu ao atendimento e à
implementação de melhorias que trouxeram qualidade de vida para a população.
Servem de exemplo a criação de ecoponto, de viveiros para a produção de flores e
de um parque linear. Portanto, as ações da academia junto à comunidade podem
transformar locais, outrora degradados, em exemplos de iniciativas de conserva-
ção ambiental que, por meio da divulgação e da ação conjunta, podem inspirar
comunidades em outros municípios brasileiros.

148
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8
Foto: Matheus Maximilian Ratz Scoarize

Viveiro de Flores do Jardim Piatã, Maringá, PR, Brasil.

5. INSTRUMENTOS PARA COMUNICAÇÃO –


CAPACITAÇÕES, CARTILHAS E MÍDIAS SOCIAIS
O caso SOS Riachos demonstra que o diálogo entre a academia e a comunidade é ne-
cessário e torna-se cada vez mais imprescindível. Entretanto, como buscar e atingir esse
encontro de forma rápida e precisa? Uma das respostas deve partir do primeiro ator
que, por produzir conhecimento continuamente, deve difundir as informações de forma
acessível, por meio do maior número de veículos possível. Assim, o diálogo com a comu-
nidade e seus atores é facilitado e pode ser iniciado numa simples publicação.
A oferta de cursos de capacitação constitui-se em ferramenta básica e amplamente domina-
da pela comunidade científica. Cursos e eventos oferecidos aos gestores de bacias, prefeitu-
ras e professores, desde o ensino básico, podem promover a capacitação e a disseminação de
conteúdos científicos numa linguagem apropriada e acessível. Em parceria, a comunidade
realiza uma troca de conhecimentos do local e de suas experiências. Assim, o diálogo fun-
ciona como um catalisador de demandas e soluções, que podem ser mais bem pensadas e
implementadas por todos os atores da sociedade, democraticamente.
Foto: Simone Regiane de Almeida Cuba

Curso de capacitação aos educadores para a redução de risco aos desastres naturais do Litoral Norte de São Paulo, Brasil

149
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

A elaboração de cartilhas pode atingir vários segmentos da sociedade e promover a


consolidação de conceitos científicos numa abordagem mais simples e ilustrativa. No
caso SOS Riachos, a própria comunidade elaborou uma cartilha distribuída em escolas,
com foco no problema que estavam enfrentando: a dengue. A cartilha referiu-se então
à importância da conservação das nascentes em áreas urbanas e à destinação ade-
QUADRO 8-06
quada dos resíduos. Portanto, o objetivo foi claro e a linguagem utilizada foi simples
e objetiva para que o leitor pudesse se sensibilizar e entender a sua inserção e o seu
papel na resolução do problema apresentado.
Cartilhas
educacionais do Dessa forma, é muito importante que o material a ser produzido tenha o tipo de pú-
Instituto Estadual blico que se quer atingir de forma bem definida. Por exemplo: a cartilha será utilizada
do Ambiente – por crianças? Qual será a faixa etária? Será utilizada por educadores? Será utilizada
Rio de Janeiro pela comunidade de modo geral? Esses detalhes auxiliam no processo de desenvolvi-
mento do material, para saber a profundidade que deve ser adotada em cada assunto,
se deve ter mais ou menos ilustrações, se a linguagem deve ser mais simples e se deve
envolver mais conceitos teóricos ou práticos.

Os materiais divulgados em mídias sociais têm um alcance ainda maior. Os cientistas


necessitam atuar neste ambiente virtual e tornarem-se disseminadores de informações
verdadeiras por meio de linguagem e imagens atraentes (GALLETI; PEREIRA, 2017). É
QUADRO 8-07
esclarecendo fatos e reduzindo a subjetividade que os resultados científicos diminuirão
as distâncias entre a comunidade e o meio científico.
Guia “De cientista
para jornalista •
– noções de
comunicação
com a mídia” 6. DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTO E
PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE
O emprego de ferramentas de disseminação de informações pelos gestores comunitá-
rios é fundamental e mais importante ainda é o conteúdo que está sendo disseminado.
Portanto, para que a comunicação se torne realmente efetiva, o recomendável é a bus-
ca de informações atualizadas, estabelecendo forte credibilidade do canal estabelecido
entre os interlocutores. Nesse sentido, o estabelecimento de parcerias com instituições
de pesquisa, organizações não governamentais (ONGs) e profissionais capacitados são
imprescindíveis. A elaboração e a alimentação dos instrumentos de comunicação de-
vem ser constantes a fim de que o vínculo da informação seja mantido. E, ainda, cur-
sos de capacitação, quando oferecidos, devem ser atualizados periodicamente, visando
atender às necessidades regionais e às mudanças globais.
Foto: Evanilde benedito

Uma população sensibilizada não apenas entende o seu papel no momento e no local
em que vive. Também permite que as próximas gerações possam desfrutar de uma
melhor qualidade de vida. Sabe-se que o mundo lida com rápidas mudanças am-
bientais globais, mas o agir local pode reduzir riscos e desastres ainda maiores, como,
por exemplo, as alterações na temperatura que geram mudanças no ciclo de chuvas e
Cartilha SOS Riachos conduzem à indesejável crise hídrica.

150
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8

QUADRO 8-08

Assistam ao “XIII Webinário IFSP -


Difusão, compartilhamento e acesso
ao conhecimento para a transformação
social”

Por meio das mídias sociais, as ONGs ou grupos organizados, conseguem expor para
a sociedade o que está ocorrendo de forma equivocada, além de boas práticas para
minimizar os impactos. As ações comunitárias não representam somente uma forma
de reflexão, mas também motivam a comunidade a desenvolver os mesmos tipos de
práticas. Portanto, quando tais ações são realizadas de forma bem-estruturada e de-
vidamente divulgadas nas mídias, a abrangência das mesmas se torna mais ampla e a
conscientização da comunidade mais efetiva.

Mutirão de limpeza da
comunidade em área de
mata nativa
Foto: Wladimir Marques Domingues

151
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

QUADRO 8-09 A participação da comunidade junto à academia na produção de conteúdo, visando a


disseminação do conhecimento, é uma combinação perfeita. É quando a comunidade
Livro “Programa de passa de coadjuvante para protagonista das ações, que se tornam ainda mais efetivas
Comunicação Social no processo de sensibilização e conscientização. Tais ações unem o conhecimento
do Comitê de Bacia dos pesquisadores com a vivência prática da população da região. Por meio da mídia,
Hidrográfica da quando a comunidade é convidada para participar dessas ações (por meio de concur-
Baixada Santista” sos, reuniões, grupos de trabalho) os produtos gerados passam a ter um alcance maior.
O nível de interesse aumenta, pois a comunidade passa a ser um participante de peso
em um projeto, garantindo assim, maiores possibilidades de transformação social e
ambiental.

Uma vez que os ambientes aquáticos são espelhos de uma região, nos quais os as-
pectos positivos e negativos se mesclam e refletem a realidade da dinâmica local e da
conduta de seus cidadãos. Em regiões muito poluídas, a água será o reflexo de como é
essa poluição. De forma simétrica, se for limpa, assim será a água. Os ambientes aquá-
ticos não apenas atuam como arquétipos para evidenciar a dinâmica de uma região,
mas também se revelam como excelentes meios de sensibilização para outros proble-
mas ambientais. A articulação entre universidade, empresas e comunidade encoraja as
pessoas a protegerem esses ecossistemas e oportuniza o compartilhamento do saber
científico em prol da transformação social e ambiental. Seja por meio de conversas ou
de ações realizadas em conjunto, diversos grupos de atores de igual importância têm a
chance de interagirem e se conhecerem, trocando experiências e saberes, e assim cres-
cerem juntos. Por esse motivo, a articulação e a comunicação podem ser consideradas
peças essenciais para a gestão eficiente e sustentável dos recursos hídricos.

Foto: Fábio Prado Fula

Ato simbólico: 1050 máscaras coletadas em 500 m de estrada (de setembro de 2020 a junho de 2021). Serrinha da Enseada, São Sebastião, SP,
Brazil.

152
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8

ESTUDO DE CASO

PLÁSTICOS DESCARTÁVEIS E SEU IMPACTO NA


BIODIVERSIDADE: O TURISMO COMO GERADOR DE
POLUIÇÃO OU CATALISADOR DE TRANSFORMAÇÕES
PARA A SUSTENTABILIDADE?
O volume de rejeitos plásticos no litoral, que se espalha pelos oceanos, já era uma grande
preocupação de comunidades, comitês gestores de bacias hidrográficas, governos e orga-
nismos internacionais, sobretudo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA). Com a pandemia de Covid-19, o lixo plástico cresceu em quantidade, sobretudo
devido aos produtos de proteção descartáveis, como máscaras e luvas jogadas em rios e no
mar, ao longo de 2020 e adentrando 2021. Isso tem resultado em problemas com propor-
ções alarmantes. A estimativa é de que 8 milhões de toneladas de plásticos sejam lançadas
no mar anualmente. Desse total, 80 % podem ser provenientes da poluição terrestre, advin-
da da má administração dos resíduos, segundo o World Wild Fund (WWF). A produção mun-
dial de plásticos é crescente e alcançou 396 milhões de toneladas, em 2019. Das 9 bilhões
de toneladas de plástico produzidas no mundo até hoje, apenas 9 % foram recicladas. No
Brasil, de todo o lixo gerado, o plástico representa 13,5 %. Disso, um terço é descartável,
a exemplo de bitucas, garrafas, copos, embalagens, sacolas, tampas, canudos e talheres.
Até 2030, se nada for feito, a previsão é que a poluição plástica no planeta possa dobrar
de quantidade, quando chegará a 300 milhões de toneladas métricas, segundo o WWF. A
pergunta é inevitável: haverá vida no mar em meio a tanto plástico?

O turismo é, historicamente, uma atividade econômica muito presente em todo o litoral


brasileiro. Entre os dez principais destinos de turismo mais visitados pelos 6,3 milhões de
turistas estrangeiros que visitaram o país em 2019 e que aqui deixaram US$ 5,9 bilhões
em receitas, oito são litorâneos – as exceções são São Paulo (SP) e Foz do Iguaçu (PR).
Dependendo de como for planejado e gerenciado, o turismo pode afetar negativa-
mente a biodiversidade em decorrência da poluição, da superexploração de recursos
naturais e dos impactos da visitação, entre os quais está o aumento da geração de lixo.
Nos meses de verão, há maior acúmulo de lixo nas praias, inclusive de plásticos, porque
os turistas tendem a consumir produtos descartáveis em quantidade muito maior do
que os moradores do local. Isso acontece no mundo todo, não só no Brasil.

Coleta de Resíduos
asiáticos em São
Sebastião, SP, Brasil.
Foto: Fábio Prado Fula

153
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas

No entanto, o turismo pode também ser um agente transformador rumo à sustenta-


bilidade. Quando a pandemia de coronavírus interrompeu severamente a mobilidade
internacional, muitas localidades, antes lotadas de turistas, viram-se frente a frente com
a natureza. Golfinhos voltaram aos canais de Veneza e tartarugas gigantes, em extinção,
voltaram a desovar em praias brasileiras. Isso chamou a atenção de muitas comunidades
em relação ao próprio futuro. Será que preferem as montanhas de lixo e de plástico ou
querem natureza exuberante, convivendo de forma planejada, com a atividade econômi-
ca gerada pelo turismo, mas praticada com mais respeito ao meio ambiente?
Uma análise de outras crises do passado, quando também houve restrições nas viagens,
como na época na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e na pandemia de gripe suí-
na (2009), mostra que, quando possível, o turismo retorna com muito vigor. Daí que é
preciso acelerar as decisões no âmbito das comunidades e dos comitês em relação ao
futuro do turismo que se quer ter no litoral do Brasil.
Há projeções para que, em meados deste século, uma em cada duas pessoas viaje
pelo mundo, o que poderia chegar a 5 bilhões de viajantes. Isso indica que os grandes
gargalos para a atividade turística em 2050 serão o acesso a recursos naturais e a dis-
ponibilidade de espaços físicos com qualidade ambiental. Assim, é urgente pensar no
modelo de turismo que se quer: aquele altamente gerador de resíduos, inclusive plás-
ticos; ou um outro, que gere riquezas, em linha com a sustentabilidade? A notícia boa
é que há várias soluções para a segunda opção e uma delas é implementar a economia
circular no âmbito dos serviços de turismo de uma localidade, por exemplo.
A economia circular é um sistema em que produção e distribuição são organizadas para
usar e reutilizar os mesmos recursos várias vezes. O foco está na redução dos impactos
ambientais, da extração de matéria-prima e na adoção da logística reversa de modo que
produtos, componentes e materiais mantenham seu máximo valor e utilidade. Ao final
da primeira vida de cada produto, ele retorna à reciclagem e não se torna lixo. Uma par-
ceria entre universidades, governos e comunidades pode ser o ponto de partida para essa
mudança, já que implementar a economia circular pode ser uma excelente decisão, mas
vai demandar dedicação, conhecimento e o envolvimento de todos.

Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis


Foto: Fábio Prado Fula

Praia do Topo – São Sebastião, SP, Brasil Praia Half Moon Bay, Melbourne, VIC, Austrália

154
Articulação de Atores e Comunicação Social Capítulo 8

ESTUDO DE CASO

MOSTRA ARTÍSTICA VIRTUAL “OLHAR DO JOVEM


CUIDADOR DAS ÁGUAS”
São muitos os desafios para aprimorar os processos de gestão compartilhada dos re-
cursos hídricos. A gestão inadequada ou ineficiente dos recursos hídricos pode ocorrer
devido à falta de acesso à informação, sensibilidade às causas da própria comunidade
ou participação ativa nos processos de tomada de decisão. Acrescenta-se a esse cenário
a baixa participação da população jovem, o que fragiliza ainda mais esse processo e
torna distante uma perspectiva e desenvolvimento sustentável para o futuro próximo,
no qual os jovens desempenham um papel protagonista.
O Estatuto da Juventude (BRASIL, 2013) reconhece os direitos dos jovens à participa-
ção, à cidadania e ao meio ambiente de qualidade. Por isso, é de extrema importância
que os jovens sejam incentivados a participar dos espaços coletivos de decisões. Desta
forma, eles poderão entender que fazem parte da sociedade e que suas ações tem
consequências diretas sobre a sua vida individual e do coletivo.
Como parte do Projeto de Extensão “Práxis educativa na Gestão Sustentável dos Re-
cursos Hídricos”, desenvolvido no 2º semestre de 2020, foi promovida a Mostra Artís-
tica Virtual “Olhar do Jovem Cuidador das Águas”. Essa ação teve como objetivo de-
senvolver de forma criativa a sensibilidade, o exercício da cidadania, a reflexão crítica
sobre as questões ambientais e, em específico, despertar o interesse dos estudantes de
13 a 18 anos de idade pela preservação dos
recursos hídricos. Para tanto, os jovens parti-
ciparam do ciclo de webinários “Desafios para
a Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas”
visando produzir desenhos coerentes com as
temáticas discutidas nos encontros virtuais.
Nesse sentido, um dos resultados esperados
do projeto de extensão é justamente tornar
o conhecimento científico acessível e instigar
nos jovens um olhar crítico sobre os desafios e
oportunidades encontrados na gestão das ba-
cias hidrográficas. O jovem passa a ter o sen-
timento de pertencimento ao seu território e
que se empodere de discussões locais, tornan-
do-se um ator ativo no processo de transfor-
mação socioambiental de suas comunidades.
Daí a importância da educação como elemento
constituinte da categoria práxis no processo de
formação e transformação (NORONHA, 2005).
A exposição de 65 trabalhos foi realizada de
forma virtual e mostrou a contextualização
da temática dos webinários, vista com o olhar
dos jovens. Banner para inscrição na Mostra Virtual

155
Gestão Sustentável de Bacias Hidrográficas
QUADRO 8-10

Exposição de
Trabalhos da •
Mostra Virtual

Ilustração: Larissa Prado Ilustração: Isabella Gobetti

Ilustração: Thainá Silva Ilustração: Wallison Lazaro

Ilustração: Taciane Morales Ilustração: Bruna Salvador

156
Foto: Vassiliki Terezinha Galvão Boulomytis

Rio Corrente em Munhoz, MG, Brasil

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públicas e processos participativos, 2020. Vídeo. Disponível em: https://youtu.be/
pbuXem83rQs?list=PLFUsBrEsuFPApymSNX4QkGdPWzzojNcdG Acesso em: 20
out. 2021.

• QR 8-03 BARBOSA, F. D.; HANAI, F. Y.; SILVA, P. A. R. E. Participação,


representação e representatividade no processo de tomada de decisão em Comitês de
Bacia Hidrográfica: conceitos, reflexões e discussões. Sustentabilidade em Debate,
Brasília, 7, Dezembro 2016. 34-46. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.
php/sust/article/view/16427/14711 Acesso em: 20 out. 2021.

• QR 8-04 VIEIRA, D. C.; GIANASI, L. M.; PINHEIRO, T. M. M. Gestão das águas


no Brasil: vamos participar? Belo Horizonte: Instituto Guaicuy – SOS Rio das Velhas,
2013. Disponível em: https://manuelzao.ufmg.br/wp-content/uploads/2018/08/
gestao-das-aguas-no-brasil.pdf Acesso em: 20 out. 2021.

• QR 8-05 TWRA. XII Webinário IFSP - Articulação Interinstitucional: parceria


entre universidade, indústria e comunidade, 2020. Vídeo. Disponível em: https://
youtu.be/1T-O8hhkc6M?list=PLFUsBrEsuFPApymSNX4QkGdPWzzojNcdG
Acesso em: 20 out. 2021.

• QR 8-06 INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE DO RIO DE JANEIRO


(INEA). Cartilhas: INEA. Site do Instituto Estadual do Ambiente. Disponível em:
http://www.inea.rj.gov.br/publicacoes/publicacoes-inea/cartilhas/ Acesso em: 20 out.
2021.

• QR 8-07 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP). De cientista para jornalista


- noções de comunicação com a mídia. [S.l.]: [s.n.], 2018. Disponivel em: https://
jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/11/de-cientista-para-jornalista-FINAL.pdf
Acesso em: 20 out. 2021.

• QR 8-08 TWRA. XIII Webinário IFSP - Difusão, compartilhamento e acesso ao


conhecimento para a transformação social, 2020. Vídeo. Disponível em: https://
youtu.be/uFFN7pBxk7o?list=PLFUsBrEsuFPApymSNX4QkGdPWzzojNcdG
Acesso em: 20 out. 2021.

• QR 8-09 FUNDO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (FUNBEA).


Programa de Comunicação Social do Comitê de Bacia Hidrográfica da Baixada
Santista. São Carlos: Diagrama Editorial, 2019. Disponivel em: https://www.funbea.
org.br/wp-content/uploads/user-files/prog-com-social-cbh-bs.pdf. Acesso em: 20
out. 2021.

• QR 8-10 PROJETO DE EXTENSÃO RECURSOS HIDRÍCOS. Olhar de


um jovem cuidador das águas, 2020. Disponível em: https://padlet.com/
projetorecursoshidricos2020/ibkh8hftktuk6nz6 Acesso em: 18 out. 2021.

170
Foto: Tourism Australia

Parque Kings e Jardim Botânico em Perth, Austrália

171
Autores
ORGANIZADORA Vice-Diretora do Comitê Atuou na Companhia
Regional da TWRA do de Saneamento Básico
Estado de São Paulo (2020- do Estado de São Paulo
2021) e Coordenadora (SABESP) por mais de
do Projeto de Extensão uma década na execução
“Práxis Educativa na e gestão dos sistemas de
Gestão Sustentável dos abastecimento público,
Recursos Hídricos”. É coleta e tratamento de
Coorientadora do Programa efluentes. Atualmente é
de Pós-Graduação da Diretor do Comitê Regional
Faculdade de Engenharia da TWRA do Estado de São
Mecânica de Guaratinguetá Paulo.
Antonio Carlos Zuffo
da Universidade Estadual Possui Graduação em
Vassiliki Trezinha Galvão Paulista “Júlio de Engenharia Civil pela
Boulomytis Mesquita Filho” (UNESP), UNICAMP, Mestrado
Possui Graduação em do Programa de Pós- em Engenharia Civil pela
Engenharia Civil pela Escola Graduação em Engenharia Universidade de São
Politécnica da Universidade de Sistemas Agrícolas Paulo (USP), Doutorado
de São Paulo, Mestrado da Escola Superior em Engenharia Hidráulica
em Engenharia Civil na de Agricultura Luiz de e Saneamento pela USP
área de Saneamento e Queiroz (ESALQ) da e Pós-doutorado na
Ambiente pela Universidade USP e do Programa de Universidade de Toronto,
Estadual de Campinas Pós-Graduação em Meio Canadá. É Professor
(UNICAMP) e Doutorado Ambiente da Universidade Associado da UNICAMP e
em Engenharia Civil na do Estado do Rio de já atuou como Engenheiro
área de Recursos Hídricos, Janeiro (PPGMA/UERJ). Andreia Isaac Civil na área de recursos
Energéticos e Ambientais Possui Graduação em hídricos, planejamento e
pela UNICAMP, em Ciências Biológicas pela gerenciamento de recursos
cotutela com a Swinburne Universidade Estadual
AUTORES hídricos e ambientais,
University of Technology, de Maringá (UEM), com ênfase em Análise
Austrália. Desde 2010 é Especialização em Biologia Multicritério. Foi Diretor do
docente no Instituto Federal da Conservação e Manejo Comitê Regional da TWRA
de Educação, Ciência e da Vida Selvagem pela do Estado de São Paulo
Tecnologia de São Paulo, Pontifícia Universidade (2020-2021) e, atualmente,
Câmpus Caraguatatuba. Católica do Paraná é coordenador temático
Sua especialidade é (PUCPR), Mestrado e de Segurança Hídrica da
nas áreas de Hidráulica, Doutorado em Ecologia TWRA e do Laboratório
Hidrologia, Saneamento De Ambientes Aquáticos de Apoio Multicritério
e Análise Multicritério. Continentais pela UEM. à Decisão Orientada
Atualmente é Coordenadora Ao longo da trajetória à Sustentabilidade
do Curso de Engenharia profissional, tem se Empresarial e Ambiental
Civil e Líder do Grupo de dedicado à pesquisas em
André Luís Sotero (LADSEA) na UNICAMP.
Engenharia, Tecnologia, ecologia de parasitos de
Inovação e Sustentabilidade Salustiano Martim
peixes, parasitologia de
(GETIS). Foi Pesquisadora Possui Graduação em
espécies de peixes exóticas
Visitante da San Diego Engenharia Civil, mestrado
e invasoras, ecologia
State University, EUA, e em Engenharia Civil e
trófica de peixes, entre
atualmente é Pesquisadora doutorado em Engenharia
outros temas. Atualmente,
Colaboradora do Programa Civil pela UNICAMP.
atua no Departamento
de Pós-Graduação da É Professor na área de
de Biodiversidade da
Faculdade de Engenharia Recursos Hídricos na
Universidade Federal do
Civil da UNICAMP. Faculdade de Engenharia
Paraná (UFPR), no Setor
Em 2020, foi Secretária- Civil, Arquitetura e
Palotina.
Geral da Tropical Water Urbanismo da UNICAMP.
Research Alliance (TWRA),

172
Sistemas de Irrigação para o Mercosul do Sua pesquisa envolveu
pela UFG, Especialização Ministério testes e modelagem de
em Educação à Distância da Educação do Governo ações de restauração de
pela Universidade de da Austrália. Especializada lagos, documentando a
Brasília (UnB), Mestrado na experimentação de trajetória de recuperação
em Agronomia (Solos e projetos pilotos para de ecossistemas de
Nutrição de Plantas) pela o desenvolvimento água doce. Nos últimos
Universidade Federal de políticas públicas anos, esteve intimamente
de Viçosa e Doutorado inovadoras, já envolvido na gestão e
em Ecologia pela UnB. foi responsável implementação de políticas
Trabalhou com fertilidade pela formulação e para ecossistemas de água
Ashantha Goonetilleke do solo e adubação, implementação de doce, tendo compromissos
É Professor de Engenharia lidando principalmente diversos projetos de com o Ministério do Meio
Hídrica e Ambiental da com a ecologia de solos, cooperação internacional Ambiente da Nova Zelândia
Queensland University of micorrizas, paisagismo, em temáticas relacionadas e funções consultivas para
Technology (QUT), Austrália. jardinagem, recuperação ao desenvolvimento conselhos regionais e
Por 5 anos, foi Diretor de de áreas degradadas, socioeconômico grupos industriais da Nova
Pesquisa em Infraestrutura compostagem, produção de populações em Zelândia e da Austrália.
da QUT e por 10 anos, de plantas nativas do vulnerabilidade, educação
atuou como consultor Cerrado, arborização profissional e ensino
em sustentabilidade urbana, educação superior. Mais recentemente
para o Aeroporto de ambiental e popularização tem desenvolvido projetos
Brisbane, Austrália. Sua da ciência. Pertence ao colaborativos de pesquisas,
especialidade como Grupo de Pesquisa CNPq no contexto acadêmico,
pesquisador, consultor AquaRiparia e, atualmente, envolvendo universidades
e educador é no nexo é Diretora do Comitê do Brasil e da Austrália.
entre recursos hídricos, Regional da TWRA no
mudanças climáticas Distrito Federal.
e sustentabilidade,
particularmente na Gestão
Integrada de Recursos
Hídricos, adaptação às Denise Maria Elisabeth
mudanças climáticas, Formaggia
reúso de águas pluviais É Graduada em Engenharia
e residuais e soluções Civil pela Universidade
baseadas na natureza. Presibiteriana Mackenzie e
especialista em Engenharia
de Saúde Pública pela
USP. Atuou na Secretaria
David Hamilton de Estado da Saúde de
É Vice-Diretor e Professor São Paulo na área de
Cristina Elsner de Faria do Australian Rivers Saneamento de 1983
É Cientista política, Institute, na Griffith a 2011. Foi Consultora
Especialista em Gestão University. Atuou nas do Ministério da Saúde
Estratégica de Negócios Faculdades de Engenharia e da Organização Pan-
pela Fundação Dom Cabral Ambiental da University Americana da Saúde
e Doutora em Políticas of Western Australia e (OPAS) de 1988 a 2008,
Públicas e Desenvolvimento de Ciências Biológicas na área de qualidade
Internacional pela na University of Waikato, das águas para consumo
Carmen Regina Mendes Universidade de Brasília. Nova Zelândia. Em 2002, humano. Atualmente
de Araújo Correia Tem 20 anos de experiência foi nomeado Presidente integra o Comitê de Bacias
Possui Graduação em em Análise Política, do Conselho Regional Hidrográficas do Litoral
Engenharia Agronômica Planejamento e Gestão inaugural de Bay of Plenty norte de São Paulo
pela Universidade de Projetos. Desde 2017, para a restauração de (CBH-LN/SP). É membro do
Federal de Goiás (UFG), ocupa a posição de lagos da Universidade Comitê Regional da TWRA
Especialização em Gerente de Educação e de Waikato e ocupou do Estado de São Paulo.
Pesquisas no Escritório este cargo por 15 anos.

173
Autores
qual estudou um semestre processo de cooperação
na Universidade do Minho hídrica entre Etiópia e
(UMinho), Campus Gualtar, Sudão pelas águas do
Portugal. Atualmente é Rio Nilo. É Especialista
mestranda no Programa Ambiental do Estado
de Pós-Graduação em de São Paulo há 12
Ecologia de Ambientes anos, onde atualmente
Aquáticos Continentais coordena os diagnósticos
(PEA), no Laboratório de e planos estaduais de
Lagos Rasos e Invasões do recursos hídricos e atua
Nupelia/UEM. na implementação das
políticas de recursos
Evanilde Benedito
hídricos e legislações Jaqueline Gil
É Graduada em Biologia
correlatas. É membro do Tem mais de 15 anos de
pela UEM, mestrado
Comitê Regional da TWRA experiência com políticas
pelo Programa de Pós-
do Estado de São Paulo. públicas, gestão de
Graduação em Zoologia
da UFPR e Doutorado projetos e inovação em
pelo Programa de Pós- serviços no Brasil e no
Graduação em Ecologia exterior. Estudou Marketing
e Recursos Naturais da em Harvard, e Inovação
Universidade Federal de e Empreendedorismo
São Carlos Docente da em Stanford, EUA. É
UEM, pesquisadora do especialista em Relações
Conselho Nacional de Internacionais pela UnB.
Desenvolvimento Científico Giane Cendron É Mestre em Gestão
e Tecnológico (CNPq), É Graduanda em Ciências de Turismo e Marketing
atuando no Núcleo de Biológicas pela UFPR, Setor Internacional pela
Pesquisas em Limnologia, Palotina. Tem experiência Universidade de Alicante,
Ictiologia e Aquicultura na área de ecologia de Espanha, e Doutoranda
(Nupelia/UEM) e TWRA. ecossistemas aquáticos. Janice Peixer em Desenvolvimento
É orientadora do Programa Possui graduação em Sustentável pela UnB.
de Pós-Graduação em Ciencias Biológicas Leciona Planejamento
Biologia Comparada e pelas Faculdades Unidas de Cenários Futuros
do Programa de Pós- Católicas de Mato Grosso, no Departamento de
Graduação em Ecologia mestrado e doutorado Administração da UnB.
de Ambientes Aquáticos em Ciências Biológicas É CEO da empresa de
Continentais da UEM. (Zoologia) pela UNESP. consultoria Amplia Mundo.
Tem experiência na área Trabalhou para governos
de Zoologia, com ênfase estaduais, federal, iniciativa
em Utilização dos Animais, privada, organismos e
atuando principalmente nos governos internacionais,
seguintes temas: Pantanal, principalmente na Nova
Bacia do Alto Paraguai, Zelândia.
Iara Bueno Giacomini pesca de pequena escala,
É Bacharel em Oceanologia pesca esportiva, pesca
e Mestre em Biologia de profissional, turismo
Ambientes Aquáticos de pesca e valoração
Continentais pela ambiental. Desde 2010,
Universidade Federal do Rio é Docente do IFSP,
Grande (FURG). É Mestre Câmpus Caraguatatuba.
em Gestão e Governança Participou da elaboração
Gabriela Sponchiado Hein
das Águas pelo Instituto e implementação do
É Licenciada em Ciências
de Educação Hídrica Projeto de Extensão “Práxis
Biológicas pela UFPR,
(IHE-Delft), Holanda, e Educativa na Gestão
Setor Palotina. Participou
Mestre em Biologia de Sustentável dos Recursos
do programa de Mobilidade
Ambientes Aquáticos Hídricos”.
Acadêmica UFPR
Internacional, durante o Continentais. Atuou no

174
de Desenvolvimento
Tecnológico e Industrial
FAPES (Modalidade DTI-A)
do Projeto “Aliança Tropical
de Pesquisa da Água -
Uma Rede Internacional
para a Conservação
da Biodiversidade
e Desenvolvimento
Sustentável em Bacias
Hidrográficas Tropicais”. Faz Luiza Ishikawa Ferreira
parte da Secretaria Geral Graduada em Ciências
Karoline Victor Serpa Matheus Maximilian Ratz
da TWRA e é membro do Biológicas pela Pontifícia
Possui Bacharelado Scoarize
Comitê Regional da TWRA Universidade Católica de
em Ciências Biológicas É Licenciado e Bacharel
do Estado do Espírito Campinas (PUC-Campinas),
pela Universidade Vila em Ciências Biológicas
Santo. Mestre e Doutora pelo
Velha UVV) É Mestre em pela UEM. Participante
Instituto Oceanográfico do programa Ciência
Ecologia de Ecossistemas
da Universidade de São Sem Fronteiras (CSF) do
pelo Programa de Pós
Paulo (USP). Docente da CNPq, tendo realizado
Graduação da UVV.
PUC-Campinas há 40 intercâmbio de um ano na
Atualmente é Pesquisadora
anos, com experiência University of Stirling, Reino
Associada ao Laboratório
em zoologia, biologia para Unido. Participante dos
de Ecologia de Insetos
engenharia ambiental e programas Universidade
Aquáticos (LEIA) da UVV.
sanitária, ciências naturais Sem Fronteiras (USF) e
Faz parte da Secretaria
para pedagogia, ciência Paraná Mais Ciência da
Geral da TWRA e é membro
do ambiente para as Secretaria de Estado da
do Comitê Regional da
engenharias elétrica e Ciência, Tecnologia e
TWRA do Estado do
química, etologia e bem- Ensino Superior do Paraná
Espírito Santo.
estar animal para medicina (SETI). Mestre em Ciências
Luciene Pimentel da Silva veterinária, biologia marinha Ambientais pelo Programa
É Professora do Programa e educação ambiental. de Pós-Graduação em
de Pós-Graduação em Representante da ONG Ecologia de Ambientes
Gestão Urbana da Pontifícia Jaguatibaia na Câmara Aquáticos Continentais
Universidade Católica do Técnica de Conservação (PEA) e Doutorando no
Paraná (PPGTU/PUCPR) e e Proteção de Recursos mesmo programa, no
Colaboradora do Programa Naturais (CT-RN) do Comitê NUPELIA/UEM. É Membro
de Pós-Graduação em Meio das Bacias Hidrográficas do Comitê Regional
Ambiente da Universidade dos rios Piracicaba, da TWRA do Estado
do Estado do Rio de Capivari e Jundiaí (CBH- do Paraná, da Câmara
Janeiro (PPGMA/UERJ). PCJ) e do Grupo de Deliberativa do NUPELIA,
É Doutora em Engenharia Trabalho Mananciais do Instituto BiodiverCidade
Civil e Hidrologia pela e GT Indicadores e
Larissa Corteletti da Costa e do Movimento ODS
Newcastle University, Reino Monitoramento. É membro
É Doutora em Ecologia de Paraná.
Unido. Atua nas áreas de do Comitê Regional da
Ecossistemas, atuando hidrologia, meio ambiente TWRA do Estado de São
no LEIA/UVV. Possui e sistemas urbanos. Atua Paulo.
experiência na área de no ClimateLabs/PUCPR
Limnologia, com ênfase (ERASMUS+) em medidas
em ecologia e comunidade para mitigação e adaptação
de macroinvertebrados às mudanças climáticas
bentônicos, decomposição através da inovação social.
de detritos foliares em Recebeu o prêmio Jabuti,
riachos, bioindicadores em 2016, na categoria
de qualidade de água e Livros de Engenharia, para
crustáceos dulcícolas. “Hidrologia, Engenharia e
Atualmente, é Pós- Meio Ambiente”.
Doutoranda Associada
ao LEIA/UVV e bolsista

175
Autores
desde 2011 e Professora
do Programa de Pós-
Graduação em Aquicultura
e Desenvolvimento
Sustentável. Atualmente,
é Diretora de Setor no
Campus Palotina da
Universidade Federal do
Paraná.

Nick R. Bond Rafaela Faria Urânia Tuan Cardozo


Diretor do Centre for É Graduada em Engenheira É Graduanda no curso de
Freshwater Ecosystems Florestal pela Universidade Bacharelado em Engenharia
da La Trobe University, Federal do Recôncavo da Civil IFSP, Câmpus
no Instituto de Ciências Bahia (UFRB). Participou Caraguatatuba. Tem sido
Biológicas de Wodonga, de projetos de pesquisa Representante Discente
Victoria, Austrália. Tem voltados para a área de do Conselho do Câmpus
mais de 20 anos de anatomia e tecnologia (CONCAM) desde 2019.
experiência nas áreas de da madeira e estagiou Participou como bolsista
ecologia e hidrologia de na Organização de no Projeto de Extensão
rios e pântanos, com foco Conservação de Terras “Práxis Educativa na Gestão
Zaki Shubber
nas regiões de conflito (OCT). É Mestre em Gestão Sustentável dos Recursos
É Advogada especialista
hídrico da Austrália. É e Regulação de Recursos Hídricos”.
em direito nacional e
Doutor pela Universidade Hídricos (ProfÁgua) pela
internacional da água e
de Melbourne, Austrália UnB e, atualmente, trabalha
em resolução de conflitos
e Professor Adjunto no como apoio técnico no
pelo uso da água, sendo
Australian Rivers Institute da Projeto AquaRiparia, da
mediadora certificada.
Griffith University, Austrália. UnB. Integra a Secretaria
Exerceu advocacia
Ele ocupou cargos de Geral da TWRA e é membro
empresarial em Londres,
liderança em vários Centros do Comitê Regional da
Inglaterra, e em Genebra,
Cooperativos de Pesquisa, TWRA do Distrito Federal.
Suíça. Ingressou no Instituto
ajudando a estabelecer
de Educação Hídrica
fortes vínculos entre a
(IHE-Delft), Holanda, onde
pesquisa e a indústria,
coordenou cursos em
e traduzindo pesquisas
direito e diplomacia da
para orientar a gestão
água. Colaborou com a
e a política de recursos Yara Moretto modernização da legislação
hídricos. Atualmente, ele Possui Graduação em hídrica de vários países
participa de vários painéis Ciências Biológicas do sul e sudeste asiático e
consultivos científicos para pela UEM, Mestrado e orientou o estabelecimento
agências estaduais e da Doutorado em Ecologia do Programa de
Commonwealth, incluindo o de Ambientes Aquáticos Mestrado Integrado em
Comitê Consultivo da Bacia Continentais através Cooperação e Diplomacia
Hidrográfica Murray-Darling do Programa de Pós- Hídrica, desenvolvido
nas áreas de Ciências Thalita Panegassi graduação em Ecologia pela Universidade para
Sociais, Econômicas e Caporali de Ambientes Aquáticos a Paz, Costa Rica, pela
Ambientais. É Técnica em Edificações Continentais (PEA) da Universidade Estadual de
pela ETEC Presidente UEM. Tem experiência Oregon, EUA, e pelo IHE-
Vargas e Graduanda no na área de Ecologia de Delft, Holanda. Atualmente
curso de Bacharelado em Ecossistemas aquáticos, é pesquisadora da Queen
Engenharia Civil pelo IFSP, atuando principalmente Mary, University of London,
Câmpus Caraguatatuba. nos seguintes temas: Inglaterra.
Participou como bolsista macroinvertebrados
no Projeto de Extensão bentônicos, bioindicadores
“Práxis Educativa na Gestão e gestão ambiental. É
Sustentável dos Recursos Professora Associada I
Hídricos”. da UFPR, Setor Palotina,

176
apoio:

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