Você está na página 1de 107

ALMANAQUE PITINGA ALMANAQUE PITINGA

Por que um almanaque? (2) Por que um almanaque? (2) Por que um almanaque? (1)

Nordeste. Gerardo Luiz de Souza . tinta acrílica sobre madeira . acervo Museu de Folclore Edison Carneiro/CNFCP
realização

Mas guardou várias peculiaridades. Trabalha Mas guardou várias peculiaridades. Trabalha Quem, na sua vida, não folheou um almanaque?

ALMANAQUE PITINGA

ALMANAQUE PITINGA
com diferentes saberes que conversam e se com-
regional
parceria parceria
e apoio financeiro
parceria institucional
com diferentes saberes que conversam e se com- E, curiosamente, buscou, além do calendário, as
plementam. Não há saberes superiores e inferio- plementam. Não há saberes superiores e inferio- novidades, as dicas de beleza, seções de humor,
res, eles se somam para esquentar a conversa e res, eles se somam para esquentar a conversa e receitas culinárias, de saúde, indicações dos
circular suas atrações. Traz tanto o registro da circular suas atrações. Traz tanto o registro da plantios e colheitas etc.
distanciamentos, a cada nova leitura.
oralidade como conceitos mais elaborados. A oralidade como conceitos mais elaborados. A
diferenças e semelhanças, entre aproximações e
fronteira é aberta. Outra especificidade é a voca-
conhecer elementos de outros lugares, descobrir
fronteira é aberta. Outra especificidade é a voca- Mas de onde veio a ideia de uma publicação
ção da leitura partilhada. Antigamente isso era
dem se reconhecer em diversos traços culturais e
ção da leitura partilhada. Antigamente isso era que não se apresenta como um livro, com um
forçoso, porque poucos sabiam ler e os grupos
para os leitores da Várzea do Aritapera, que po-
forçoso, porque poucos sabiam ler e os grupos índice ordenador da sequência de assuntos? Pa-
se faziam em torno daquele que dominava a lei-
dialogam com aquele material, ele volta agora
se faziam em torno daquele que dominava a lei- rece mais um caleidoscópio que permite sempre
tura. Mas, mesmo hoje, é mais gostoso e rende
a inclusão de conteúdos que complementam e
tura. Mas, mesmo hoje, é mais gostoso e rende combinações diferentes; e nos garante essa liber-
mais uma boa roda de leitura.
ria da região. Carinhosamente preparado, com
mais uma boa roda de leitura. dade de abrir na página que quisermos e ler o
estudantes de Santarém sobre a cultura e memó- que nos interessar mais de perto. É uma leitura
A principal, certamente, é a identidade. Um al-
a partir do material das pesquisas realizadas por A principal, certamente, é a identidade. Um al- de muitas vezes. Não se esgota. De onde veio?
manaque precisa saber, de antemão, a quem se
Este é o Almanaque Pitinga, que foi construído manaque precisa saber, de antemão, a quem se
dirige e para que ele quer existir. A partir daí é dirige e para que ele quer existir. A partir daí é Pesquisemos. Entre as diversas contribuições
que se escolhem linguagens, textos, imagens, e a
por seus leitores preferidos.
que se escolhem linguagens, textos, imagens, e a que os árabes agregaram à nossa cultura estão
roupagem que vai ganhar para ser reconhecido
roupagem que vai ganhar para ser reconhecido
roupagem que vai ganhar para ser reconhecido os números que nos facilitam a vida, e está o

Nordeste. Gerardo Luiz de Souza . tinta acrílica sobre madeira . acervo Museu de Folclore Edison Carneiro/CNFCP
almanaque. A palavra, dizem os entendidos, é

Parque de diversões. Ernane Cortat . tinta acrílica sobre tela . acervo Museu de Folclore Edison Carneiro/CNFCP
por seus leitores preferidos. por seus leitores preferidos.
que se escolhem linguagens, textos, imagens, e a
dirige e para que ele quer existir. A partir daí é derivada de al-manaj, que, em árabe, significa “o
Este é o Almanaque Pitinga, que foi construído
manaque precisa saber, de antemão, a quem se Este é o Almanaque Pitinga, que foi construído círculo dos meses”, a passagem do sol no zodía-
a partir do material das pesquisas realizadas por
A principal, certamente, é a identidade. Um al- a partir do material das pesquisas realizadas por co. Por isso o calendário é tão importante: mar-
estudantes de Santarém sobre a cultura e memó- estudantes de Santarém sobre a cultura e memó- ca o caminho do tempo, as estações, as luas e as
ALMANAQUE PITINGA

ALMANAQUE PITINGA
ria da região. Carinhosamente preparado, com ria da região. Carinhosamente preparado, com marés. Outros contam que al-manaj quer dizer
mais uma boa roda de leitura.
a inclusão de conteúdos que complementam e a inclusão de conteúdos que complementam e “estação de parada”, também trazendo consigo
tura. Mas, mesmo hoje, é mais gostoso e rende
dialogam com aquele material, ele volta agora dialogam com aquele material, ele volta agora a noção do zodíaco, que tem doze estações de
se faziam em torno daquele que dominava a lei-
para os leitores da Várzea do Aritapera, que po- para os leitores da Várzea do Aritapera, que po- parada. Mas, de modo geral, é tido como lugar
forçoso, porque poucos sabiam ler e os grupos
dem se reconhecer em diversos traços culturais e dem se reconhecer em diversos traços culturais e em que o camelo ajoelha e descansa; onde os
ção da leitura partilhada. Antigamente isso era
conhecer elementos de outros lugares, descobrir conhecer elementos de outros lugares, descobrir condutores de caravanas param para descansar,
fronteira é aberta. Outra especificidade é a voca-
diferenças e semelhanças, entre aproximações e diferenças e semelhanças, entre aproximações e trocar notícias, fatos pitorescos, e olhar as estre-
oralidade como conceitos mais elaborados. A
distanciamentos, a cada nova leitura. distanciamentos, a cada nova leitura. las, assim como num almanaque.
circular suas atrações. Traz tanto o registro da
res, eles se somam para esquentar a conversa e
plementam. Não há saberes superiores e inferio- Depois de um percurso pela Europa, o almana-
parceria institucional parceria
com diferentes saberes que conversam e se com-
e apoio financeiro
parceria
regional
parceria institucional
e apoio financeiro
parceria parceria
regional que chega ao Brasil no século XIX, via França e
ALM
Mas guardou várias peculiaridades. Trabalha
realização
ALMANAQUE PITINGA realização
Portugal. No seu abrasileiramento se fez veículo
de propaganda de laboratórios, indústrias farma-
Por que um almanaque? (2) cêuticas e de produtos agrícolas. Eram inúmeros.
ALMANAQUE PITINGA
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional
2011

ALMANAQUE PITINGA
Os rios que eu encontro vão seguindo comigo.
João Cabral de Melo Neto [95]

S/ título
Sergio Vidal Niroche
Rio de Janeiro/RJ
tinta acrílica, tela, madeira
Acervo Museu de Folclore Edison Carneiro/CNFCP
Presidência da República Programa de Promoção do Artesanato de Tradição
Presidenta: Dilma Vana Rousseff Cultural – Promoart
Coordenação Técnica: Ricardo Gomes Lima
Ministério da Cultura Coordenação Administrativa: Elizabete Vicari
Ministra: Ana de Hollanda Polo: Cuias de Santarém (PA)
Programa Mais Cultura Supervisora: Zenilda Maria Bentes
Agente local: Rúbia Goreth Almeida Maduro
Realização
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Parceria local
Presidente: Luiz Fernando de Almeida Associação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém – Asarisan
Departamento de Patrimônio Imaterial Presidente: Lélia Almeida Maduro
Diretora: Célia Maria Corsino
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular Parceria regional
Diretora: Claudia Marcia Ferreira Universidade Federal do Oeste do Pará – Ufopa
Associação de Amigos do Museu de Folclore Projeto Memória, Identidade e Patrimônio Cultural em
Edison Carneiro Comunidades Ribeirinhas de Santarém
Presidente: Lygia Segala Coordenação: Luciana Carvalho

Parceria institucional e apoio financeiro


Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Presidente: Luciano Coutinho

parceria institucional parceria local parceria regional


e apoio financeiro

realização
Almanaque Pitinga Éderson Almeida Caldeira
Edevaldo Correa Morais
Produzido a partir de materiais resultantes do curso Cultura Edilane Lisboa Rego
e Educação Patrimonial, realizado pela Associação das Edinalva Sousa da Silva
Artesãs Ribeirinhas de Santarém – Asarisan, no âmbito Elaine Patrícia Ferreira Martins
do Projeto Cultura Ribeirinha de Santarém, com recursos Elielson Lopes Duarte
obtidos através do edital 2004 do Programa Cultura Viva, Eliésio Rego Pereira
Ministério da Cultura, e apoio técnico do Centro Nacional de Elilson José Sousa Correa
Folclore e Cultura Popular – CNFCP. Elivandro dos Santos Sousa
Emanuel Caldeira Lisboa
Projeto Cultura Ribeirinha de Santarém Georgina Souza da Costa
Gilmara Lopes da Silva
Coordenação Givanildo Oliveira Rodrigues
Lélia Almeida Maduro Gizeli Azevedo Almeida
Júnio Caldeira de Sousa
Apoio local Luis Antonio Rego
Rúbia Goreth Almeida Maduro Luziana Pereira Caldeira
Manoel Hermógenes Caldeia Duarte
Curso Cultura e Educação Patrimonial (2005-2006) Maria Sebastiana Caldeira Correa
Coordenação técnica Miguel Barroso Silva
Lucia Yunes Natalina Castro da Silva
Luciana Carvalho Otávio Pereira Lisboa
Patrícia Bentes Pereira
Coordenação de campo Raimunda Lígia Pereira da Silva
Maria das Graças Tapajós Raimundo Stélio Sousa Correa
Zenilda Maria Bentes Renisson Rego Correa
Rosilda Correa Sousa
Pesquisas de campo e entrevistas Rosimar Pereira Pinto
Adelane Ferreira Azevedo Rosinete Rego Martins
Adrielson Viana Pereira Samuel Azevedo Ferreira
Bazília Rego Oliveira Sandra Silva do Rosário
Cleiton Sebastião do Rego Maduro Suelen Cristina Pereira Maciel
Dariana Silva Rego Uderlan Carlos Vinholte Caldeira
Darlisson Rego Correa Valdiane Caldeira de Sousa
Douglas Sousa da Silva Wirlande de Almeida Rego
Digitação das entrevistas Produção editorial e diagramação
Iannuzzy Mota Avellar e Duarte Consultoria Cultural Ltda.
Rafael Rocha
Desenhos
Adelane Ferreira Azevedo Revisão de textos
Alessandra Pereira Ferreira Ana Clara das Vestes
Bazília Rego Oliveira Fátima S. de Oliveira
Gizeli Azevedo Almeida
Luziana Pereira
Maria Lucinelma Pereira
Marlisson Pereira
Raimunda Lígia Pereira
Renisson Rego Correa
Sandra Silva do Rosário
Suelen Cristina Pereira Maciel
Valdiane Sousa

Pré-seleção das entrevistas


Maria das Graças Tapajós
Zenilda Maria Bentes
Luciana Carvalho

Pesquisa complementar de textos e imagens (2010-2011)


José Renato Costa Oliveira Júnior (bolsista Ufopa)
A445 Almanaque Pitinga / organização de Aída Bezerra e
Construção do Almanaque Renato Costa. -- Rio de Janeiro : IPHAN, CNFCP, 2011.
Coordenação: 100 p. : il.
Aída Bezerra
Renato Costa
ISBN 978-85-7334-203-1
Equipe
Claudia Duarte 1. Folclore – Santarém, PA. 2. Cultura popular –
Lucia Yunes (CNFCP)
Almanaques. I. Bezerra, Aída, org. II. Costa, Renato, org.
Lucila Silva Telles (CNFCP)

Luciana Carvalho (consultora – UFOPA) CDU 398(811.5)(059)


A nossa várzea merece!
A Associação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém
– Asarisan, localizada na comunidade Centro do Ari-
tapera, à margem direita do rio Amazonas, foi criada
em maio de 2003 por artesãs de cinco comunidades:

Keiliane de Lima Bandeira. Acervo PEPCA/UFOPA


Cabeça d’Onça, Surubim-Açu, Carapanatuba, Cen-
tro do Aritapera e Enseada do Aritapera. Sua criação
foi motivada pelo Centro Nacional de Folclore e Cul-
tura Popular e a Associação de Amigos do Museu
de Folclore Edison Carneiro e parceiros. Em 2005,
conveniou com o Ministério da Cultura, no âmbito
do Programa Cultura Viva, para implantação de sua 7
sede e ações de pesquisa junto a jovens das cinco co-
munidades. Como ação integrada ao Ministério do
Trabalho, Emprego e Renda, 44 bolsistas realizaram registro das Cuias como Patrimônio Cultural de Na-
estudo sobre a cultura local, concluído em 2006. tureza Imaterial do Brasil, na iminência de ser oficia-
Parte do rico material produzido naquela ação apre- lizado em breve, reconhecimento que irá valorizar e
sentamos agora neste Almanaque, graças ao Pro- salvaguardar o saber e modo de fazer cultural tão
grama de Promoção do Artesanato de Tradição Cul- particular de mulheres de comunidades tradicionais
tural – Promoart, em 2011, ano de muita realização do Baixo Amazonas, que têm esta atividade como
para a Associação, com a conclusão de seu ponto fonte de renda que lhes propicia bem-estar e grati-
de cultura, com sala de leitura para receber também dão por satisfazer a todos que apreciam e dignificam
esta obra, que estará disponível para os colaborado- ainda mais seu ofício.
res da pesquisa, bem como para o público em geral. Boa leitura!
Lélia Almeida Maduro
Para coroar este momento, as artesãs aguardam o Presidente Associação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém – Asarisan
JANEIRO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
D S T .Q . Q . S S .D . S . T . Q . Q . S . S . D . S . T . Q . Q .S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T .

«««
∙ Dia da ∙ Dia do ∙ Dia do ∙ Dia de São Sebastião ∙Dia do
Confraternização Astronauta Compositor ∙ Dia do Farmacêutico Mágico
Universal (feriado)
Primeira quinzena:
∙ Criação do 1º Estatuto
festa de São
««
«
para as Colônias de
Pesca (1923)
∙ Dia da ∙ Fundação Sebastião e ∙ Cândido Mariano ∙Dia do ∙ Dia da
Liberdade da cidade de Santíssima Trindade da Silva Rondon Carteiro Saudade
de Cultos Belém/PA (1616) no Centro do – Marechal Rondon
Aritapera

∙ Dia de Reis ∙ Dia do Controle ∙ Dia Internacional ∙ Dia Nacional ∙ Dia do Portuário
∙ Dia da Gratidão da Poluição por do Riso do Aposentado
Agrotóxicos

8
« A região da atual cidade de Belém «« Sertanista que se destacou pela ««« São Sebastião (França,
era primitivamente ocupada pelos instalação de milhares de quilômetros 256 d.C.-286 d.C). De acordo com
Tupinambás. Seu núcleo original de linhas telegráficas nos pontos mais registros antigos, ele era um soldado
remonta ao contexto da conquista distantes do país. Fez levantamentos do exército romano que ajudava
da foz do rio Amazonas pelas forças cartográficos, topográficos, zoológicos, os cristãos enfraquecidos pelas
luso-espanholas sob o comando do botânicos, etnográficos e linguísticos torturas. Sua conduta branda com
capitão Francisco Caldeira Castelo da região. Registrou novos rios, os prisioneiros levou o imperador
Branco, que, em 12 de janeiro de corrigiu o traçado de outros e ainda Diocleciano a julgá-lo sumariamente
1616, fundou o Forte do Presépio. [21] entrou em contato com numerosas como traidor, ordenando a sua
sociedades indígenas. [68] execução a flechadas. [119]

:: Pra quem viaja ao encontro do sol, é sempre madrugada (Helena Kolody)


FEVEREIRO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29
Q. Q .S S .D . S . T . Q . Q . S . S . D . S . T . Q . Q .S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T . Q .

« «««
∙ Dia de ∙ Dia do ∙ Dia do ∙ Carnaval ∙ Dia do Idoso
Iemanjá Zelador Esportista

««
∙ Nascimento de Padre Antônio ∙ Dia da Paz Mundial
Vieira (1608)

9
«Orixá africana, cujo nome deriva «« Nascido em Lisboa, veio para ««« O carnaval – festa da carne, em
das palavras “Yèyé omo ejá", em o Brasil criança e aqui ingressou latim – começou a ser comemorado
iorubá. Ou seja: "Mãe cujos filhos são na Companhia de Jesus. Tornou-se na Idade Média em contraposição ao
peixes". É saudada com a expressão conhecido por sua oratória e seu rigor da Quaresma. Teve origem nas
Odoyá que quer dizer: Odò (rio) e yá estilo de pregar a fé cristã. De seus festas da Grécia Antiga, nas danças
(mãe). Filha de Olokum, a dona do sermões, publicados entre 1679 e da Idade Média e nos bailes de
mar, é por isso mesmo referida como 1748, destaca-se o que convoca máscara do Renascimento. Na Antiga
sendo a rainha do mar. [81] os baianos a resistirem à invasão Roma, as atividades e negócios eram
holandesa no Nordeste brasileiro. [23] suspensos, as restrições morais eram
relaxadas, e os escravos ganhavam
liberdade para fazer o que quisessem. [3]

:: O homem é fogo, a mulher é estopa; vem o diabo e sopra (ditado popular)


MARÇO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Q .S S .D . S . T . Q . Q . S . S . D . S . T . Q . Q .S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T . Q Q S .S .

∙ Dia Mundial ∙ Dia do ∙ Dia da Escola ∙ Dia Mundial ∙ Dia da Saúde


da Oração Bibliotecário do Combate à e da Nutrição
Tuberculose
«««
∙ Dia Nacional ∙ Dia Nacional ∙ Dia Mundial da ∙ Dia do Circo
do Turismo da Poesia Água
∙ Dia do Telefone
∙ Dia do Sogro
« ««
∙ Dia Internacional ∙ Dia da Chuva ∙ Dia de São José ∙ Dia Mundial da Juventude ∙ Dia Mundial da Floresta
da Mulher ∙ Dia do Artesão ∙ Dia do Contador de Histórias ∙ Dia do Turismo Ecológico
∙ Dia do Carpinteiro ∙ Início do outono (hemisfério sul)
10 e da primavera (hemisfério norte)

« No dia 8 de março de 1917, um ««A Festa Anual das Árvores, ««« O "Dia Mundial da Água" foi
grande número de operárias soviéticas, em razão das diferentes criado pela Assembleia Geral da
contrariando as ordens do Partido características fisiográfico-climáticas ONU em 21 de fevereiro de 1993,
Comunista, para o qual ainda “não era do Brasil, pode ser realizada para destacar a necessidade de
a hora”, saiu às ruas de Petrogrado, durante a última semana de março se preservar o precioso líquido.
precipitando a revolução russa. A – sobretudo nos estados do Norte A escassez da água, devido ao
origem da data, portanto, está ligada e Nordeste – ou na semana que desperdício e à poluição, acarreta
não a um sacrifício, mas a uma vitória começa em 21 de setembro mudanças climáticas, secas e
das mulheres, cuja mensagem dizia: nos estados do Sudeste, Sul inundações, afetando os rios, as
“nós podemos fazer isso.” [125] e Centro-Oeste. [52] nascentes, os mananciais de água
potável, sem a qual não pode existir
vida no planeta. [51]

:: Só se sente a falta d’água quando o pote está vazio (ditado popular)


ABRIL
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
D. S .T . Q . Q . S . S .D . S . T . Q . Q .S . S . D . S . T . Q Q S .S . D . S . T Q. Q .S S D .S .

∙ Dia do Humorista ∙ Dia da ∙ Dia Internacional ∙ Dia do


∙ Dia da Mentira Conservação do Jovem Ferroviário
do Solo Trabalhador Encerramento do
∙ Dia Mundial ano letivo na região
∙ Paixão de Cristo do Desenhista ∙ Dia de São Jorge ∙ Dia da da Várzea, em
(feriado) Educação Santarém/PA (último
∙ Dia do ∙ Dia do Planeta Terra ∙ Dia da dia útil de abril)
Beijo ∙ Chegada dos ««« Sogra
portugueses ao Brasil
« ««
∙ Dia Nacional ∙ ∙
Dia do Índio (Semana Assassinato de ∙ Tiradentes (feriado) ∙ Dia da
do Livro dos Povos Indígenas) Galdino Pataxó ∙ Dia do Metalúrgico Empregada
Doméstica

11
«Comemorado em todo o continente ««Liderança do povo Pataxó Hã-Hã- «««“(...) Neste mesmo dia, a horas
americano desde 1940, quando se Hãe, foi assassinado enquanto dormia de véspera, houvemos vista de terra!
realizou, no México, o I Congresso num abrigo de ônibus em Brasília, a saber, primeiramente de um grande
Indigenista Interamericano, que reuniu após participar de manifestações pelo monte, muito alto e redondo; e de
líderes indígenas e representantes de Dia do Índio. [70] outras serras mais baixas ao sul
diversos países. No Brasil, a Semana dele; e de terra chã, com grandes
dos Povos Indígenas constitui não arvoredos; ao qual monte alto o
só um período de celebração, mas capitão pôs o nome de O Monte
também de luta e reivindicação das Pascoal e à terra A Terra de Vera
cerca de 215 sociedades indígenas Cruz! (...)” Trecho da Carta de Pero
existentes no país. [5] Vaz de Caminha [124]

:: É sabendo de onde se vem que se pode saber para onde se vai (provérbio africano)
MAIO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
T . Q . Q . S . S .D . S . T .Q . Q .S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T . Q Q S .S D . S T . Q. Q

««««
∙ Dia da ∙ Dia do ∙ Dia da Abolição ∙ Dia da Luta ∙Dia do ∙Dia do
Comunidade Campo da Escravatura Antimanicomial Apicultor Ceramista
∙ Dia de Nossa ∙ Dia Nacional
Senhora de Fátima dos Museus

∙ Dia do Sol
«««
∙ Dia do Armistício, ∙ Dia da ∙ Dia do ∙Coroação de
∙ Dia do Solo fim da 2ª Guerra Mundial
Fraternidade Brasileira
Trabalhador Rural Maria
∙ Dia do Sertanejo (1945)
∙ ∙ ∙ Dia da Costureira
∙ Aniversário da ∙ Dia da Cruz Vermelha
Dia Internacional da
Comunicação e das
Dia da Língua
Nacional
Asarisan ««
Telecomunicações

∙ Dia Mundial«do ∙ Dia do ∙ Dia do ∙ Dia do


Trabalho (feriado) Silêncio Enfermeiro Faxineiro
∙ Dia do Gari

12
« O Decreto-Lei 2.162, criando «« Asarisan – Associação das ««« Nessa data é relembrado o fim ««««“ E pendido através de dois
o salário mínimo, foi assinado no Artesãs Ribeirinhas de Santarém, da Segunda Guerra Mundial (1939- abismos,
dia 1º de maio de 1940, mas só fundada em 2003. 1945). Armistício é a ocasião na qual Com os pés na terra e a fronte no
entrou em vigor dois meses depois, as partes envolvidas num conflito infinito,
beneficiando 60% dos trabalhadores. armado concordam com o seu fim Traze a benção de Deus ao cativeiro,
Os estudos indicaram a necessidade definitivo. A palavra deriva do latim: Levanta a Deus do cativeiro o grito!”
de uma remuneração mínima para arma (arma) e stitium (parar). [50] (Castro Alves) [7]
cobrir as despesas mensais com
alimentação, habitação, vestuário,
higiene e transporte, com base numa
família composta por dois adultos e
duas crianças. [77]

:: O mato alto encobre os gansos, mas não consegue abafar seus gritos (provérbio peul)
JUNHO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
S S .D . S . T . Q . Q . S . S . D . S . T .Q .Q .S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T . Q Q . S . S .

«««
∙ Primeiro aniversário ∙ Dia de ∙ Dia do Caboclo ∙ Dia de São
do Ponto de Cultura Santo ∙ Dia de São João Batista Marçal
das Artesãs Antônio
Ribeirinhas de de Pádua
««««
∙ Eclipse parcial Santarém – Asarisan
∙ Dia dos ∙ Dia do ∙ Aniversário de Santarém – 1661 ∙ Dia de São Pedro
da Lua Namorados Paleontólogo ∙ Separação total de Igreja e Estado e São Paulo
pelo Decreto 119-A, de 1890 ∙ Dia do Pescador
∙ Assembleia dos pescadores
em Santarém
« ««
∙Dia Mundial do ∙ Dia da Liberdade ∙ Dia do Educador ∙ Dia de Combate ∙ Dia da ∙ Fundação ∙ Início do inverno ∙ Dia
Meio Ambiente de Imprensa Sanitário à Desertificação e Imigração da CPT no hemisfério sul Internacional
∙Dia da Geologia ∙ Corpus Christi (feriado) à Seca Japonesa ∙ Dia do Cinema e do verão no do Orgulho Gay
Brasileiro hemisfério norte
13
« O Dia Mundial do Meio Ambiente «« Comissão Pastoral da Terra, ««« Procissão fluvial no Centro do ««««Nas festas juninas,
foi estabelecido pela Assembleia criada em 1975. Aritapera. introduzidas no Brasil pelos
Geral das Nações Unidas, em 1972, portugueses, o culto a São João
marcando a abertura da Conferência é o que ganha mais destaque.
de Estocolmo sobre Ambiente O imaginário cristão conta que a
Humano. Cataliza a atenção e a fogueira surgiu porque a mãe de
ação política de povos e países para São João, Santa Isabel, para avisar
aumentar a conscientização e a à sua prima, a Virgem de Nazaré,
preservação ambiental. [53] do nascimento de seu filho, mandou
acender uma fogueira no alto do
morro onde moravam. [5]

:: Os olhos da gente não têm fim (Guimarães Rosa)


A várzeA se move O canto do pajé
Heitor Villa-Lobos (música)
Na várzea, o movimento de subida e descida da
C. Paula Ramos (letra)
água domina a vida. A alternância entre os mun-
dos aquáticos e terrestres determina o que aconte-
Ó manhã de sol, anhangá fugiu
ce no ambiente. O rio se mexe e tudo mais se mexe
com ele. O ciclo de vida dos peixes, das árvores e dos varzeiros acompa- * Anhangá ê, ê
Ah! Foi você quem me fez sonhar
nha a dança do rio, e essa dinâmica é responsável pela grande fartura * Para chorar a minha terra
existente na região. Conhecer como isso acontece é fundamental para
aproveitar todo o potencial de riqueza que é a várzea do rio Amazonas. * Guaraci, ê ê
* Anhangá fugiu

14
Às vezes, as pessoas nem conseguem acompanhar o que se passa no
silêncio das águas e dos solos. Mas sabem que os peixes desovam no tem-
* Ó manhã de sol
Anhangá fugiu
po da cheia e passeiam nos lagos e florestas se deliciando com frutas e Canta a voz do rio
sementes da floresta ala- Canta a voz do mar
gada. Os capins crescem Tudo a sonhar
Desenho de Maria Lucinelma Pereira

nos lagos e o sedimento O céu, o mar, o campo, as flores


assenta na água. Na seca Ó manhã de sol
são outros os movimen- Anhangá fugiu
tos: os vegetais, aprovei-
tando os solos enrique- Ó Tupã, deus do Brasil
cidos, se fortalecem; as Que o céu enche de sol
famílias das tartarugas e De estrelas, de luar e de esperança
dos passarinhos vivem, Ó Tupã, tira de mim essa saudade
nas praias e campos, a Anhangá me fez sonhar
alegria da reprodução; Com a terra que perdi [92]
e os cardumes de peixes
lisos viajam rio acima. [36]
[103]

:: Os grandes momentos da vida vêm por si mesmos. Não tem sentido esperá-los (Thornton Wilder)
As florestas tropicais
As florestas tropicais estão situadas perto da linha do Equador. Elas já ocuparam
um quinto da superfície da Terra. Abrigam, aproximadamente, 1,5 milhão de
espécies de plantas e de animais, que constituem mais da metade da variedade
biológica conhecida no mundo. A maior floresta tropical do mundo se localiza
no Brasil, na bacia amazônica, e ocupa uma área de 5,3 milhões de km2.

O clima quente e úmido e a ampla luz do sol dão às plantas tudo que elas precisam
para se desenvolver. As árvores têm os recursos para crescer a alturas espetaculares
e vivem por centenas, e até milhares, de anos. Algumas árvores grandes, chamadas
emergentes, crescem mais de 75 metros e chegam a cobrir a copa das outras árvores.
[88]
(continua na página 82)
15

o que a gente
come mais
[57]
O que a gente come, na maioria das vezes, com certeza, é peixe. Os peixes que
a gente pega aqui por perto, pega mais pra comer. Quando a gente pega muito,
quando passa da comida, a gente vende, mas isso é difícil porque já não tem mais
Atirei um limão n’água quase. Caçar aqui é mais difícil.
e caiu enviesado.
Agora, de vez em quando, a gente come um frango, uma carne. Essas carnes,
Ouvi um peixe dizer:
frango, a gente compra na cidade. Quando a gente vai lá, a gente traz. O que
Melhor é o beijo roubado. [9]
a gente compra é só mesmo a cesta básica do mês. A farinha a gente tem aqui,
Carlos Drummond de Andrade porque faz e guarda. Tem também cheiro-verde, banana e outras frutas, graças a
Deus, a gente tem. [107]
Francisco Pimentel da Silva
Agricultor, Cabeça d’Onça

:: Filho de onça já nasce pintado


Partindo do centro, encontre a saída

Gosto mais
Gosto mais do fogão a le-
nha, do torrador de café.
E da minha criação de ani- sumaúma-da-
mais (pato, cachorro, gatos), várzea
e gosto muito também das
minhas plantas. [107] Árvore muito grande, mede
Maria Sebastiana Pereira de 40 a 50m de altura, por
16 Carapanatuba
1,5 a 2m de diâmetro. Suas
sementes pequenas dão um
óleo amarelo-claro, que é
comestível e serve também
para iluminação.
[4]

Ela tem a característica de


QuAndO O Peixe ficA escAssO ficar por cima de tudo. Na
Com certeza, a situação no verão é uma coisa, na enchente, é outra. A dificuldade que te- Amazônia, em geral, flo-
mos agora é muita água e o peixe fica escasso. Tem muita água pra onde eles se saírem. No resce de agosto a setem-
verão você pega mais fácil porque fica em poço. Então, ele tem mesmo que baixar, aí você bro, quando está quase
pega mais rápido. [107] sem folhagem; e os frutos
Antonio Jacinto Ferreira da Costa amadurecem de outubro a
Pescador, Surubim-Açu
novembro. Cresce em so-
los profundos, com textura
franca e argilosa. [31]

:: Se está muito difícil encontrar o caminho, faça-o!


Duas festas

Na festa do time se come carne de boi, se bebe refrigerante, suco, quando tem, e
bolo. E na festa do padroeiro se vende garapa, suco, refrigerante, também a cerveja,
galinha caipira, pato, carne de boi e outras comidas típicas da época.
A importância que tem a festa do time é que vêm pessoas de outras comunidades
que a gente conhece. É bom rever os amigos, até mesmo parentes. Na festa do santo
Dica de saúde
é que é o momento de meditação para ter a palavra de Deus e se reunir com outras
famílias da comunidade. [107]
Maria Lucinelma Pereira
Enseada do Aritapera
No meu terreiro, eu tenho a
corama, o jambu e a hortelã.
17
O jambu serve para intoxica-
ção no fígado. A corama ser-
ve para inflamação e espe-
cialmente para mulheres. A
hortelã é para tosse. [107]
Raimunda Santana de Azevedo
Lavradora e artesã,
Enseada do Aritapera

trava-língua
Um sapo dentro do saco.
O saco com o sapo dentro.
O sapo batendo papo,
O papo cheio de vento. [15] [66]

:: Eu não sou a alegria do povo. O povo é que é a minha alegria (Garrincha)


Os pescadores e o boto
Tinha dois pescadores, pescavam juntos. Então, quando foi um dia, aconteceu que um dos
pescadores feriu o boto. Estavam pescando. Aí, passou uns dias... aconteceu que nesse dia,
o outro não foi com ele pescar. Ele foi só. Aí, então, ele estava muito longe, e veio aquela
canoa cheia de soldado. Aí, foi encostando a canoa. Aí, encostou junto dele e disse:
– Mas por quê? O que eu fiz?
– Não sei o quê, mas você está preso, e vamos logo.
Aí, ele embarcou na canoa e saiu, quando chegou no meio do rio, ele disse:
[4]
– Agora, feche os olhos.

RECEITA Aí, ele fechou o olho, e quando mandaram ele abrir... quando ele abriu, diz que tinha um
18 palácio. Mas tudo era boto. Só era boto, e chegou lá no quarto, estava o boto deitado.
Cabeça de pirarucu Estava doente e com ferimento, e disse:

no tucupi – Você está vendo esse boto, aí? É aquele que, aquele dia que você andava pescando, você
Agora, um prato que é preferido mes- furou. Acertou ele. Ele está doente. Você vai tratar dele, se ele ficar bom, você volta; se ele
mo aqui em casa é uma cabeça de pi- não ficar, você vai ficar aqui.
rarucu no tucupi. Para fazer, é fácil. Tu Tinha uma velha, se deu com ele, aí ensinava remédio pra ele. Aí, tudo que a velha ensinava
pegas o tucupi e coloca pra ferver bem, ele fazia, e o boto foi se recuperando.
junto com o jambu. Ferve o primeiro E deixa, que lá, a falta do pescador... Aí foram perseguir o outro, para dar conta do
dia, o segundo dia, e aí, na terceira fer- amigo, que pescavam junto. E ele, sem saber, foi preso esse rapaz.
vida, já ferve junto com a cabeça do pi-
Quando ninguém mais se lembrava, ele apareceu. Aí contava a história. Amarelo, cabeludo,
rarucu. Mas, meu amigo, aqui em casa
aí, contava:
só sobra os ossos, mesmo porque não
tem jeito. O bicho é bom demais! [107] – Olha, eu estava tratando daquele boto. Contava pra eles que nós estava pescando, aí
Bernaldo Caldeira Correa
acertamos ele. E eu só voltei porque ele ficou bom, se ele não tivesse ficado bom, eu tinha
Cabeça d’Onça ficado lá. [121]

:: Mentir e comer pescado pedem cuidado


BrincAdeirA do JudAs – PAsquim
O pasquim é um bilhete que a gente põe no bolso do Judas. cando, ou a gente põe ele sem nome de ninguém. Judas foi
Ele sempre tem uma finalidade: às vezes pedindo emprego, o discípulo que traiu Jesus na sexta-feira da Paixão, então
às vezes pedindo alguém em casamento ou namoro, às vezes a gente faz o Judas simbólico e põe na casa da pessoa, no
para dar uma notícia e outras coisas para a pessoa que a gen- sábado de Aleluia.
te quiser. Esse Judas é o traidor que leva o pasquim no bolso.
Ele é feito de tronco de bananeira. A gente pega dois peda- Essa brincadeira aqui nunca deu briga, porque sempre quem
ços da bananeira e enfia um no outro. Põe uma cuia seca recebe não descobre quem fez e colocou, também porque é
como se fosse a cabeça e, nessa cuia, a gente põe um chapéu mais bandalheira e as pessoas levam isso como uma tradição
velho. Veste uma roupa nele, geralmente uma calça com- e como brincadeira. Só que, às vezes, o que tem escrito no
prida também. O Judas pode ser feito também de boieira, bilhete é verdade e quem se ferra é a pessoa dona do nome
umas plantas que são fofas. Depois de pronto, a gente põe que está no bilhete. Hoje em dia ainda se faz essa brincadei- 19
na casa da pessoa que a gente quiser, só que a gente não põe ra, mas é pouco, antigamente se fazia muito, quase todas as
o nosso nome, põe o nome de outra casas amanheciam com o Judas, e agora é só um, dois. [107]
pessoa, tipo, como se Agripino Almeida
Sousa
fosse ela que tá Pescador,
lá se identifi- Carapanatuba

[101]

“ naquele dia, fazia um azul tão límpido, que eu me sentia


perdoado pra sempre.
não sei de quê.

Mario Quintana [111]

:: Sempre que choveu, parou


Panelas e cuias

A minha panela que eu gosto muito é de barro. Tenho muito ciúme dela
e não gosto que ninguém mexa. Minhas canecas de fazer café também.
Mas, minha panela de barro que eu cozinho meu peixe pra eu comer é a
[48]
principal, porque a boia que é feita na panela de barro é mais gostosa.

A cuia serve pra beber mingau, pra beber água, pra lavar a mão, tirar água dicionário do PArAense
do pote pra gente se servir. Consigo a cuia daqui mesmo de casa, duma A linguagem regional foi reconhecida
cuieira que plantei. Quando eu quero, apanho e preparo pra eu usar. como patrimônio cultural de natureza ima-
terial para o Estado do Pará, nos termos do
Eu carrego água nos baldes de plástico, na panela de alumínio, nas latas. art. 286, da Constituição do Estado do Pará
20 Antigamente, eu usava baldes de cuia. Fazia aqueles baldes e um pau de (em 12 de setembro de 2011).
balde. Enchia os baldes e de lá ia tirando a água pra eu usar. A gente enchia Borimbora! – Vamos embora!
e botava nas vasilhas. Deixava assentar. Quando assentava bem, coava num Bora logo – Se apresse.
pano e colocava no pote pra poder beber e pra fazer outras bebidas. [107] Buiado – Com muito dinheiro.
Maria José Pereira Boró – Dinheiro trocado, moedas.
Enseada do Aritapera
Carapanã – Mosquito.
Égua! – Puxa vida! Bacana! Legal!
Mas quando... já! – Quem disse? Até pa-
rece! Que nada!
Pai d’égua – Excelente.
Pôpôpô – Embarcação pequena.
Papudinho – Cachaceiro.
Desenho de Miguel

Papa-chibé – Autêntico paraense.


Barroso Silva

Pitiú/pixé – Cheiro de peixe.


Tá, cheiroso – Conta outra.
[127]
Tucandeira – Calça curta.

:: Devagar com o andor que o santo é de barro


Copaíba

A copaíba, conhecida como


o antibiótico da mata, é uma
das plantas medicinais mais
usadas na Amazônia, prin-
cipalmente para tratar infla-
mações. Para essa finalidade,
não há nenhum substituto.
Os índios descobriram o po-
der de cura do óleo de co- [15]
paíba e desde então ela tem
salvado a vida de muitas pes- 21
PEIxE, bOTO Ou OnçA D’águA?
soas seriamente feridas. Mui-
tos dizem “longe do hospital Rapaz, vou contar uma história. Ela é um pou- gal, perto de onde eu estava. Aí eu aguentei,
ou da farmácia, o óleo de co simples, mas eu vou contar. porque esses pescadores mais antigos falavam
copaíba serve até melhor do Eu pescava ali, no lago Garapé, e tinha um pei- que era onça d’água, que boia que nem boto.
que um médico”. [120] xe grande que boiava do outro lado. Ele fez Fiquei quieto, e o peixão lá. Mas eu não tinha
três boiadas e eu disse: se ele boiar mais uma secundador, não podia fazer nada. Fiquei es-
vez, eu vou lá. Aí deu. Foi assim: o peixe vinha piando o peixe, e ele saía com o queixo de
de fora, direto em mim. Ele chegou na posição fora, e tornou a dar outra boiada. E eu parado.
boa e eu meti o arpão. Aí ele correu um pouco Depois, não vi mais nada da boiada do bicho
Menina dos olhos grandes e eu tentei aguentar na linha. Mas a linha as- pra lá. Quando eu consegui chegar no arpão,
Não olha tanto pra mim sou minha mão e eu soltei de novo. Então ele não tinha nem escama. Não sei o que aconte-
Se não queres meu amor fez um rodopio e eu enxergava ele dançando ceu. Só sei que o peixe foi embora e que eu
Por que me olhas assim? [15] lá embaixo. Um peixão. Aquela emoção toda também vi esse negócio lá. [107]
lá, e eu animado com ele. Nisso, escutei uma Antonio Jacinto Ferreira da Costa
boiada, igual a do boto, lá do meio do anin- Pescador, Surubim-Açu

:: Cada rio tem seu dono (Elisabeth Pereira Lopes, artesã e pescadora, Surubim-Açu)
embarcações tradicionais do Brasil

No Brasil, que é um dos países com maior riqueza em embarcações tra-


dicionais do mundo, pouco se conhece sobre a história, as tradições e a
diversidade deste universo.

Com uma extensa costa litorânea, foi colonizado e explorado com base
na atividade náutica tradicional, cujas embarcações, construídas com
técnicas europeias, africanas e orientais trazidas pelos colonizadores e
integradas às técnicas indígenas, resultaram em diversos modelos adap-
tados às condições de navegabilidade locais, com soluções originais que
vêm sendo passadas através de gerações de mestres-carpinteiros navais.
22
A substituição por meios mais rápidos, como os barcos a motor, de fibra
ou alumínio, está condenando este patrimônio ao desaparecimento. O
fim de um modelo ou a morte de um mestre significam perdas irreversí-
veis de tecnologias desenvolvidas ao longo de séculos. [100]
[19]

O quE é O quE é? Atirei um limão n’água,


fez-se logo um burburinho.
Essa moça é delicada
Nenhum peixe me avisou
Não tem boca, mas mastiga. da pedra no meu caminho. [9]
Come muito e não engorda
Carlos Drummond de Andrade

~~~~~~~~
Corta, fura e nunca briga? [15]

Resposta: A tesoura
[27]

:: Se atravessamos o rio juntos, não há por que temer o crocodilo (provérbio africano)
brinCadeira que passa um caso de
de pai para filho assombração
Eu gosto de brincar de barco. Quando meus Foi assim: um menino estava jogando bola com outros. Para ir
primos estão aqui, eu brinco com eles e quan- pra casa, ele tinha que atravessar uma matinha perto de sua
do eles não estão, brinco só eu. Aqui tem casa. Já era tarde e a mãe veio buscar com um cipó para
um brinquedo que eu mesmo fiz que bater nele. Ele correu, chamando nome, rumo à
é um barco de isopor. [107] matinha. Então, a mãe foi pra casa pensando
Jerfeson (8 anos) que ele já tivesse chegado. Perguntou para
Estudante, Centro do Aritapera o marido, e nada dele chegar.

Aí, foram buscar um curador que disse


que ele estava na matinha e pôs-se a
fumar um charuto. Soltou a fumaça 23
no mato e falou que era para o pesso-
al ficar para o lado do rio, que quan-
do ele aparecesse ia correr no rumo
do rio. O pessoal ficou, e ele começou

?
a soltar fumaça. Não demorou muito e
voCê sabia? o menino apareceu igual a um cão brabo,
correndo no rumo do rio e querendo mor-
O deserto do Saara é o der os que queriam pegar ele. Aí seu João o
mais extenso da Terra [76] segurou e o curador fez o trabalho. Ele se acalmou
e contou que as pessoas passavam perto dele, mas ele não
O deserto mais extenso da Terra é o Saara. Cobre uma área conseguia gritar porque tinha um homem alto e preto do seu
de 7 milhões e 780 mil quilômetros quadrados, desde o Mar lado. Desde que isso aconteceu, ele foi embora daqui. Ele
Vermelho até o Mediterrâneo. Apresenta desníveis espetacu- ainda é vivo e o senhor que pegou ele, seu João, também. [107]
lares. Alguns trechos situam-se a 134 metros abaixo do nível
Jerfeson (8 anos)
do mar; outros registram altura de até 3.300 metros. [41] Estudante, Centro do Aritapera

:: É mais fácil acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão


Mapinguari –
lenda ou história?
Fábio Marques Aprile
João Tristan Vargas

Há quem diga que do mundo das fadas ele veio


Ou teria saído das trevas... de tão feio?
Seria ele um demônio encarnado...
Ou apenas um velho pajé abandonado?

Besta malcheirosa, peludo e de bocarra


Ateia medo até mesmo em quem vos narra
Garras afiadas e com pés de pilão
24 Engole tudo que vê... até um homenzarrão

[122]
Na Amazônia é monstro lendário
Povoando as histórias e o imaginário
Não há quem zombe de sua existência
nAS OnDAS Dica de saúde
Até o mais valente teme sua aparência DO RáDIO
O primeiro transmissor de ondas de rádio no Bra-
Seu grito na floresta aturde e confunde Arruda serve pra mal pe-
sil de que se tem notícia foi instalado no ano de
Até o mais avisado dos caçadores se ilude gado. Erva-cidreira e ana-
1913, por Paul Forma Godley, na região Amazô-
A menção do seu nome congela o coração dor servem para calmante.
nica, a pedido do governo brasileiro. Ao retornar
Mapinguari! Mapinguari! A besta-assombração E boldo serve para dor de
para a América do Norte, em 1914, ele conhe-
ceu Edwin Howard Armstrong numa reunião do estômago. [107]
Edilene Lisboa
Clube de Rádio da América e se surpreendeu ao Centro do Aritapera
saber que Armstrong conseguia escutar essas es-
tações brasileiras com regularidade. [126]

:: É preciso ter o caos dentro de si para dar a luz a uma estrela bailarina (Nietzche)
São Francisco meu destino (fala 1)
Carlos Rodrigues Brandão
Foi assim. ouve o som do meu cair? Este ruído, que águas frias de nascer na serra até che-
Você está vendo esta cachoeira? Esta estrada afora me acompanha, das águas gar aqui nesta taça verde-e-azul escuro,
cascata alta que cai paredão abaixo, de despencadas desde o momento sem fim quase um cinza chumbo quando chove?
cima da serra até aqui, onde eu começo a que eu venho sendo, quando, lá do alto, Você me ouve? Me vê daí de onde está,
correr mais sereno o meu caminho? Você derramo as minhas águas claras, minhas beira-mata, beira-rio? [26]

golfinho- um BArco de
do-ganges verdAde

O golfinho-do-ganges é uma es- Quando eu era criança brin- 25


pécie de golfinho de água doce cava de bola, de barco, de
encontrado no subcontinente in- canoa e de curral. De todos o
diano. Conta com duas subespé- que eu mais gostava de brin-
cies, uma habitando as águas do car era de barco, porque meu
rio Ganges, na Índia, e outra no rio pai tinha um barco de ver-
Indo, no Paquistão. [73] dade e me dava vontade de
brincar com um igual ao dele.
Eu gostava de fazer o barulho
da máquina com a boca. Era
assim, a gente cortava um
pau, amarrava o barquinho,
puxava e fazia o barulho da
máquina com a boca. [107]
Zequinha, pai do Jerfeson
[4] Centro do Aritapera

:: O mundo do rio não é o mundo da ponte (Guimarães Rosa)


comunicação AntigAmente, o trAnsPorte
entre pescadores PArA sAntArém
Essa comunicação é pra gente saber pra onde os peixes vão, Para ir a Santarém, antigamente, era de canoa, chamada ba-
que horas a maré vai encher, que horas ela vaza, pra poder a telão, vela e remo, com o toldo grande, de palha e madeira.
gente estar mais por dentro. A comunicação é pessoalmente: Levava muito tempo, dependendo da rota e do vento. Só os
a gente se topa por ali e conversa. No caso, por exemplo, que homens é que remavam. Podia sair às 6, 7 ou 12 horas da
a gente quer saber se tem alguém pescando próximo que a manhã, não tinha horário fixo. Não levavam só passageiros.
gente não esteja vendo, a gente ron- Levavam também produtos como:
ca como onça. Existe uma diferença, o feijão, o milho, o leite, o queijo,
assim, entre o ronco pra saber se tem a cuia, sernambi (o leite da seringa
alguém próximo e o ronco pedindo endurecido), a cana de açúcar, a
socorro. Quando, por exemplo, es- juta e a lenha. A lenha era utiliza-
26 tiver sendo atacado por um animal. da para queimar nos navios a vapor.
Deus defenda! Se um bicho me ata- Na época das canoas a vela, já exis-
car, vou logo gritar, pedir socorro. tiam alguns barcos pequenos.

Já pesquei muito com meu cunha- Agora, a gente não enfrenta mui-
do e quando ele picava um pira- ta dificuldade, pois os barcos são
rucu, então a gente já estava certo: grandes. Mas, antes, era mais difí-
se eu roncar onça uma vez, você cil devido aos temporais. As cano-
vem; se eu roncar duas, é porque as eram pequenas, movidas a força
eu piquei o peixe. Aí, quando ele humana. Ruim mesmo era a traves-
fazia hum-hum, aí eu já ia com sia do Urubu para a Prainha porque
mais de mil pra lá, porque ele já ali corre muito e é largo. Até com
estava com o pirarucu no arpão. É o barco a motor é preciso ter um
essa diferença que tem. [107] pouco de cuidado. [107]

Antonio Jacinto Ferreira da Costa Maria Sebastiana Pereira


Pescador, Surubim-Açu [86] Doméstica, Carapanatuba

:: Existo porque insisto (para-choque de caminhão)


Lagarta
pintada
Lagarta pintada
Quem foi que te pintou?
Foi uma velha
[65]
Que por aqui passou.

No tempo da eira Rabo


Jogava poeira
quente
Tira lagarta
Da tua orelha. [65] Esse foi um termo que apa-
receu no Brasil, entre o final
dos anos 40 e início da dé- 27
nossos visitantes cada de 50, para nomear os
rádios alimentados por ten-
Os turistas vêm principalmente de Santarém. Raras vezes são de 110 ou 220 volts sem
aparecem turistas vindos dos Estados Unidos. Esses visitan- transformador. Para alimen-
tes tiram fotos de aves, de árvores, etc. Com certeza, vêm tar os filamentos das vál-
porque esse Ponto de Cultura vai ser um lugar fixo para as vulas que eram ligadas em
pessoas visitarem e conhecerem um pouco mais sobre as série, usava-se um resistor
comunidades. Gostaria que viessem mais brasileiros, por- de fio que ficava ao longo
que entendemos a língua. [107] do cordão de alimentação.
Laurivaldo Campos da Silva (80 anos)
Após algumas horas de fun-
Carapanatuba cionamento, o cordão de
alimentação aquecia, princi-
palmente quando usado em
220 volts. Daí o termo ”rabo
quente”. [126]
[55]

:: O sorriso custa menos que a eletricidade e dá mais luz


Já falamos outras línguas RECEITA

Omelete de
Entre os séculos XVI e XVII duas línguas francas se desenvol-
sobremesa
veram no país: o nheengatu, ou língua geral amazônica, e
a língua geral paulista, que predominou no sul. As duas se Ingredientes
originaram da formulação gramatical, feita por missionários • 2 pães tipo francês
jesuítas, de línguas do tronco tupi usadas por tribos da cos- amanhecidos e picados
ta, e se disseminaram pelo interior. • 1 xícara de chá de leite

• ½ xícara de açúcar
A língua geral paulista era usada pelos bandeirantes • 3 ovos
que colonizaram São Paulo e Minas Gerais, mas caiu • 1 pitada de sal
em declínio após seu uso ter sido proibido pelo Mar- • 1 colher de sopa de canela

28 quês de Pombal em 1758. Embora existam registros em pó com ½ xícara de açúcar.


de falantes no interior de São Paulo até o fim do
Preparo
século XIX, ela hoje está extinta.
O nheengatu, no entanto, ainda Coloque os pães picados de
é falado por poucas pessoas na molho no leite fervente e
Amazônia. [46] reserve. Bata levemente os
ovos com o açúcar. Misture
com os pães reservados.
Coloque porções em uma
espírito de porco frigideira pequena, untada
[76] com manteiga, em fogo mé-
Nos tempos coloniais, os escravos faziam todo tipo de dio. Assim que ficarem dou-
trabalho, do mais leve ao mais pesado. Mas um causa- radas, vire com o auxílio de
va terror: negavam-se a abater porcos. Achavam que os espí- uma espátula. Deixe dourar
ritos suínos lhes atormentariam à noite. A expressão passou a os dois lados. Polvilhe com
designar quem incomoda, atrapalha, é inconveniente. [10] canela e açúcar. [40]

:: Ainda que seja doce o mel, a picada da abelha é cruel


Hino do Çairé Rio Ganges
Oscar Lobato, Aparício Garcia, Terezinha Lobato
Viva, viva o Çairé A festa do nosso Çairé O Ganges é um dos principais rios do subcontinente indiano. Suas águas se
Salve, salve Alter do Chão Atraindo muitos visitantes deslocam na planície do Ganges até Bangladesh. Com 2.510km de exten-
Festejando no mês de junho É um escudo ornamentado são, nasce no Himalaia ocidental e deságua na Baía de Bengala. É considera-
O folclore de tradição Com as cores deslumbrantes do um rio sagrado para os hindus, que o veneram na forma da deusa Ganga.

O Çairé era símbolo de fé Esta festa era celebrada O Ganges e seus afluentes formam uma bacia hidrográfica fértil, com área
Dos índios em comunidade Por nossos antepassados de cerca de um milhão de quilômetros quadrados e que possui uma das
Representando as três pessoas Esquecida há 30 anos mais altas densidades populacionais de seres humanos em todo o planeta.
A Santíssima Trindade Volta agora a ser lembrada [61] A profundidade média do rio é de 16m, e a máxima é de 30. [117]

29

?
voCê sabia?

Lendo de trás
para frente

Na frase “SOCORRAM-ME
SUBI NO ÔNIBUS EM MAR-
ROCOS”, a ordem das letras
é a mesma lendo-se da es-
querda para a direita ou da
direita para a esquerda. [126] [128]

:: O rio atinge seus objetivos porque aprende a contornar seus obstáculos


inventAndo o
PróPrio Brinquedo

Eu gosto de brincar de barquinho. O


barquinho é feito aqui mesmo na co-
munidade por alguns meninos, ele é
feito de pau. Um brinquedo que eu
mesmo faço é o boi de cuia verde. Eu
pego a cuia verde e alguns pedacinhos
de pau. Com os paus eu faço as per-
nas, os chifres e o rabo da cuia. [107]
Edson Rego (10 anos)
Estudante

30
[67]

O papangu assusta
Esse personagem faz parte da cultura carnavalesca pernambucana. Foliões usam Lá no fundo do quintal
fantasias com máscaras criadas para assustar outros foliões. Alguns defendem que Tem um tacho de melado
papangu vem do costume de comer angu no carnaval e outros dizem que angu, no Quem não sabe cantar verso
Nordeste, é sinônimo de criança. O papangu assusta, sobretudo, os pequenos. É melhor ficar calado [15]

Câmara Cascudo conta que “o papangu tomava parte nas extintas procissões de
cinzas, caminhando a sua frente, armado de um chicote de couro torcido, com que
ia fustigando o pessoal que impedia sua marcha”. A Câmara do Recife o proibiu,
mas os papangus não morreram. As máscaras eram de pano, papel e goma. A
grande diversão consiste em não ser reconhecido por amigos e parentes. [10]

:: A imaginação é a memória que enlouqueceu (Mario Quintana)


A invasão das africanas carrancas

Foi uma vez, no Lago Grande... mas não é história, foi caso Vulto de coisa grande e medonha: é um modo de descrever a carranca. Na
real. Eu estava pescando com meu irmão. Botamos a malha- verdade, é uma escultura de madeira que mistura traços de gente, bichos
deira lá e, na hora de puxar, as africanas invadiram. Fomos e entes fantásticos, geralmente com olhos esbugalhados e vasta cabeleira.
pra água e eu mergulhei lá longe. Meu irmão ficou embaixo Sua origem remonta a figuras de proa encontradas em embarcações fení-
da proa da canoa, só se batendo com o chapéu e as africanas cias, assírias e egípcias.
invadindo, em cima dele. Eu mergulhei longe e cheguei em-
baixo de uma ilha. De lá, eu gritava para ele soltar a canoa e No Brasil, são encontradas nos barcos do rio São Francisco. Conta-se que
ir para onde eu estava, e ele nada. Até que ele resolveu deixar a primeira intenção era a de distinguir uma embarcação da outra, mas sur-
a canoa e ir ao meu encontro. Ele chegou muito baqueado giram lendas. Passaram a atribuir às carrancas o poder de proteger contra
porque as africanas tinham ferrado tanto que ele já estava tempestades, maus presságios, de afastar animais e monstros que à noite
com a cabeça toda inchada. [107] saem das águas para assombrar os navegantes. Ao visitar o São Francisco, 31
Raimundo Rego de Almeida
ainda se pode ouvir barqueiros antigos afirmarem que elas avisam sobre os
Pescador, Enseada do Aritapera
perigos com três gemidos. [115]

Desenho de Alessandra
Pereira Ferreira
[60]

O quE é O quE é?
Qual o pássaro que em gaiola não se prende,
só se prende quando se solta,

~~~~~~~~~~
por mais alto que ele voe, preso vai e preso volta? [1]

Resposta: Papagaio de papel (pipa)

[4] :: Andar com calma não impede de chegar (provérbio africano)


São Francisco meu destino
(fala 2)
Carlos Rodrigues Brandão
Todo o grande rio nasce como os pequeninos: de um filete de
água. De um punhado de gotas reunidas, que saem do cor-
po da terra. Alguns, como eu agora, mas não antes, correm
riachos apressados e cantantes. Descem depressa no meio
de matos e de sombras, entre cipós e araras e onças. Fazem
corredeiras de piaparas e, de vez em quando, cascateiam sal-
tos: formam cachoeiras, descem em despenhadeiros e rugem
no silêncio trovões que não se acabam. Alegria de rio meni-
no são esses cantares, essas cantilenas alegres de flautas e
32 tambores. Depois, rios crescidos, águas que se ajuntam pelo
[108]
caminho a outras águas, serenam o corpo. Viajam em planos
e vão devagar. Rios de remansos como eu sou adiante, aqui
e ali. Vagaroso... mas nem sempre. Veja. [27]

o cuidAdo com os
AnimAis nA cHeiA
Desenho de Suelen Cristina Pereira Ferreira
No tempo da cheia, é preciso levar o gado pra colônia e lá
o dono do campo cuida. O gado passa mais ou menos seis
meses na colônia e, de vez em quando, a gente vai ver. Os
outros animais domésticos ficam na várzea mesmo, em cima
das marombas. Maromba, pra quem não sabe, é um jirau fei-
to de pau partido e tirado no mato daqui mesmo da várzea. [62]
É muito ruim, mas é assim que se passa, durante o inverno,
com os animais domésticos na várzea. [107]
Clenildo

:: Tudo que vive quer viver (São Francisco de Assis)


o perigo das esponjas
Dr. Joacir Stolarz de Oliveira, Dra. Mariana M. Martinez
Quiroga, Ana Maria Coelho e Mayara Duarte da Silva
As esponjas são os invertebrados mais simples do reino animal. Seus corpos são
constituídos de um material calcário parecido com gesso ou sílica, que forma es-
pinhos pontiagudos, chamados espículas. Esses espinhos são os principais respon-
sáveis pela irritação da pele das pessoas que esbarram nas esponjas. Em alguns
casos, o veneno das esponjas induz a liberação de substâncias no nosso corpo que
provocam fortes reações alérgicas.

O diretório dos índios Para se proteger dessas espículas, o melhor é não entrar nas águas quando estas
estão provocando irritações nos olhos (geralmente no período de seca). Caso a
Nesse documento, de 1757, o Marquês de Pom- pessoa necessite entrar na água ela deve manter os olhos fechados, de maneira a 33
bal, primeiro-ministro de Portugal, proibia o ensi- evitar a entrada das espículas no olho. Se a água do rio é utilizada para o banho ou
no, no Brasil, de qualquer língua que não fosse a para beber, deve antes ser filtrada com pano bem fechado para retirar as espículas
portuguesa, argumentando: e não provocar irritação na pele ou envenenamento por ingestão.
Sempre foi máxima inalteravelmente prati-
cada em todas as Nações, que conquistaram
novos domínios, introduzir logo nos povos
conquistados o seu próprio idioma, por ser
indisputável que este é um dos meios mais
eficazes para desterrar dos povos rústicos a
barbaridade dos seus antigos costumes; e
ter mostrado a experiência que ao mesmo
passo que se introduz neles o uso da Língua
do Príncipe, que os conquistou, se lhes radi-
ca também o afeto, a veneração e a obedi-
ência ao mesmo Príncipe. [16] [33]

:: Cheio de vogais pelas pernas, vai o caranguejo soletrando-se (Manoel de Barros)


instrumentos de pesca

O que a gente usa é a malhadeira, a flecha, porque é mais gostoso mesmo. Aquele mo-
o caniço e o arpão. Trabalhar com o arpão mento de ficar trabalhando com ele ali: faz
é mais emocionante, porque se você pes- aquela força e afrouxa a linha. É isso que é
ca um pirarucu, ele corre bonito, e é muito mais emocionante.
movimentado. Você matar um peixe desses
é mais gratificante em todos os setores. Pri- No caso da pescaria com a flecha existe uma
meiro, porque ele dá mais renda e depois importância e uma diferença muito grande,
[25]
porque a flecha você pesca com ela,
e com esse tipo de arreio, você não
escabreia o peixe de maneira algu-
34 Pragas ma. Você passa flechando por ali e,
nas cuias quando você volta pelo mesmo ca-
minho, já tem peixe pra você pescar
As pragas que atacam a de novo. O curimatá é mais fácil de
plantação de cuia são: a bro- flechar porque ele vem pra cima da
ca, o camaleão (iguanas), o água pra comer limo, ele só come
vaga-lume e o toró. limo. Aí dá pra você flechar ele ba-
cana: enxerga ele comendo e mete
As brocas perfuram as cuias
o bico nele.
de dentro para fora, fazen-
do nós; o camaleão come os
botões das cuieiras, o vaga- A malhadeira é muito diferente:
lume rói as cascas da cuia e você arria aqui seu pano de malha-
o toró se alimenta das cuias, deira, você tira, e no outro dia você
ele rói as cuias. [107] vai, não tem mais peixe. [107]
Maria da Conceição Caldeira Rego Antonio Jacinto Ferreira da Costa
Artesã de cuia, Carapanatuba [4] Pescador, Surubim-Açu

:: Em rio de piranha, macaco toma água em canudo (José Candido de Carvalho)


tecnologia no
plantio das cuias
As cuias, eu plantei, acho que bem umas duas vezes. O melhor
tempo pra plantar cuias, pra mim, é na época do inverno, por-
que o clima é frio. Nessa época elas dão as frutas mais limpas,
vamos dizer, não dá muita broca. Plantando no inverno elas
dão fruto mais graúdo. Tinha época que eu tirava muitos ga-
lhos, só que era ruim quando eu plantava. Depois foi que eu
peguei um jeito que me ensinaram e plantei de outra forma.
Foi aí que elas vingaram. Eu descasquei os tocos dos galhos e
coloquei na terra. Quando eu plantava os galhos sem descas-
car, elas não pegavam, ou melhor, elas pegavam, mas depois
morriam. Hoje eu tenho um cuial de umas 400 cuieiras, mais
35
ou menos. [107]
Matias de Sousa
Agricultor, Surubim-Açu Cuia pitinga
Cuia pitinga é quando a
gente raspa, alisa e bota no
[34] sol. Ela fica branquinha. Não
é uma cuia pintada. [107]
Cleremilda Campos (79 anos)
Artesã, Centro do Aritapera

Muita gente, Muitas falas

Afora as diferenças religiosas, a diversidade de idiomas impede a Índia de pacificar


os vários povos que integram a sua população de mais de um bilhão de habitantes.
Lá se fala nada menos do que duzentas línguas autônomas e cerca de quinhentos
[91]
dialetos diferentes. É a versão moderna da Torre de Babel. [41]

:: Gente é pra brilhar (Maiakóvski)


o proCesso da Construção

Vou falar do processo desse trabalho. Tinha uns que faziam a


massa, tinha quem carregava, tinha quem botava na parede.
A massa era feita em qualquer terra. Aguava aquele monte
de terra e tinha gente que sabia preparar bem o barro, até
ficar no ponto de carregar. Aliás, o barro não era muito mole
assim; tinha o ponto, eles sabiam como era o ponto.

Tinha a madeira da parede que fazia os esteios em pé e tinha


a ripa de atravessando. E, justamente, tudo em quadrinho,
que era para aguentar o barro.
36
[12] A cobertura era com palha e, no fim, tinha o tal de pindaúna
que punha pra rematar. São umas palhas tecidas para tapar
bem, pra poder ficar tudo bem tapadinho em cima da casa.
Essa palha é da árvore de uma palmeira chamada urucurizeiro.
Tipos de cuia O que se faz com elas
Cuias grandes (peixe-boi) Xaxim, fruteira grande, vaso
As casas eram do mesmo tipo de agora. Só que as portas
grande, bolsa grande
hoje, na maior parte, são de madeira. E, naquele tempo,
Cuia paraná Bandas (beiras lisas e recor-
pra fazer a porta, a maior parte era da palha, que chamava
tadas), bolsinhas, vaso mé-
japá. Japá é a porta que chamavam. Só que agora é porta,
dio, sobremesa
e era japá. [107]
Cuia maracá Copos, rodinhas (apoios), Hilário Maciel
Enseada do Aritapera
baldinhos
Cuia comprida Jarra, travessa, roda (apoios),
copos
Cuia cuitita Copinhos [107]
[27]

:: Quem mora em submarino não dorme de janela aberta


Aprendi com minha mãe! Fogão a lenha e
panela de barro
O trabalho com o barro eu aprendi com minha mãe e minha avó mater- A comida ficava mais gostosa quando era feita no
na. Depois, quando elas se foram, acabou o nosso trabalho de preparar fogão a lenha e na panela de barro. Gosto muito
a louça, embora ainda tenha pessoas fazendo essa atividade. de comida feita na panela de barro e quero man-
ter esse costume de antigamente. Até mesmo
Para a fabricação dessas louças temos que tirar o barro, mas tem que ser um barro porque louças de alumínio trazem doenças. [107]
especial. A gente cava o buraco para achar o barro próprio, tira e coloca de molho Pedro Maduro Sousa
Centro do Aritapera
a argila. Depois prepara a mistura, que é o caripé, para começar a fazer a louça.
Depois de feita, a gente penteia com a peça de cuia-peua, coloca no sol pra secar,
queima, quando fica vermelha aí é que nós passamos a jutaicica. Aí ela fica prepa-
rada. Essas louças são mais procuradas pelas pessoas que gostam de fazer comida
nesse tipo de panela. [107] 37
Maria Ione Caldeira de Sousa
Artesã de cuias e barro, Centro do Aritapera [76]

PEIxE FRITO COm FEIJãO E OvO

A comida que predomina aqui na região da várzea é o peixe.


Mas como já contamos com uma escassez de peixe, estamos
apelando para o frango e até mesmo para a carne. Para valo-
rizar nossa cultura, vou dar uma receita de peixe.

Colocamos o feijão no fogo e, enquanto ele está fervendo,


põe o tempero seco, a batata, uma fatia de jerimum, cebola,
dois dentes de alho e sal a gosto. Deixa cozinhar até ficar
mole. Em seguida, fritamos o peixe e o ovo. Colocamos tudo
junto em um prato. Está pronto para comer. [107]
Eraldo Morais
Professor, Centro do Aritapera

:: Eu sou apenas uma, mas há uma multidão que me habita (Marguerite Youcenar)
Boi da cara preta

Boi, boi, boi


Boi da cara preta
Pega esta criança
Que tem medo de careta

Há no Brasil uma literatura


oral de louvação às façanhas e
manhas do boi, sua agilidade,
força e decisão. O boi é temi-
do e respeitado.
38 [76]

Câmara Cascudo diz que, no Nordeste, quando não se cer-


As diferentes marombas
cavam terras, criavam os bois soltos. Todo ano os vaqueiros
Maromba tem de diversos tipos. Tem gente que faz de ma- separavam as boiadas pelas marcas impressas a ferro. Alguns
deira, tem gente que faz de entulho, de pau podre. Capim escapavam, criando fama de ariscos.
pra galinha é resistente.
O boi está tão presente na cultura dos brasileiros que sua
O pau a gente encontra aqui pelas beiradas, acha pelos roça- figura se apresenta em folguedos folclóricos, canções, lite-
dos velhos. O capim a gente arranca; vai nas moitas, arranca, ratura de cordel e tantas outras manifestações: boi-bumbá,
coloca na canoa e depois joga em cima do entulho para for- bumba-meu-boi, boi de reis, reisado, boi de mamão, boi-
mar a maromba. [107] calemba. [10]
Sebastião
Centro do Aritapera

:: Existo porque insisto (para-choque de caminhão)


mEmóRIAS DAS bRInCADEIRAS DE InFânCIA

Eu e meus primos brincávamos de santo es- de esconde-esconde e repetia as brincadeiras.


molando: a gente batia lata e cantava no ca- Também brincava muito de saltar na água e de
minho. Nos domingos não tinha culto e no dia bole-bole com cinco caroços de tucumã. [107]
de algum santo se fazia ladainha, mas, antes, Geralda Sousa da Costa (61 anos)
a gente brincava de roda, brincava também Lavradora, Carapanatuba
[28]

A enchente 39
aumentando
Antigamente, havia enchente sim,
mas era bem menor. E a cada época
que vai passando, vai aumentando,
aumentando, e fica como a gente
está vendo: bem grande!

Quando o assoalho vai pro fundo, a


gente faz maromba. Corta pau do
mato atrás da casa da gente, coloca
em cima do assoalho verdadeiro e
põe tábua por cima. [107]
Maria José Pereira
[67] Enseada do Aritapera

:: A felicidade não é uma estação de chegada, mas uma maneira de viajar (M. Rumbeck)
ArmAdilHA PArA casas sem
mosquito divisões
Materiais necessários As casas eram feitas de forma mui-
• 200 ml de água quente to simples: não existia sala, quarto,
• 50 gramas de açúcar mascavo nada. Só era uma casa grande, porque
• 1 grama de levedura (fermento as famílias eram grandes. Só tinha a
biológico de pão) cozinha e uma parede que dividia a
• 1 garrafa plástica de 2 litros casa grande. Eram construídas pelos
Passo a passo próprios moradores da comunidade,
1. Corte uma garrafa de plástico no que se reuniam em grupos. Nesse gru-
meio. Guarde a parte de cima. po que se chamava puxirum, é que
2. Misture o açúcar mascavo com construíam essas casas. E os tipos de
40 água quente e deixe esfriar. Depois material usados nas casas eram muito
de frio, despeje na metade de bai- simples. A cobertura e a parede eram
xo da garrafa. de palha, os esteios eram de árvores
3. Acrescente a levedura. Não há necessidade de misturar. e tirados do mato, o piso não existia,
4. Coloque a parte do funil virada para baixo dentro da outra metade da garrafa. o que existia eram somente aterros e
assoalhos. [107]
5. Enrole a garrafa com algo preto, menos a parte de cima, e coloque em algum João Rosa da Silva (95 anos)
canto de sua casa. [11] Cabeça d’Onça

[96]

:: Ele acreditava em anjos e, porque acreditava, eles existiam (Clarice Lispector)


Plantio da juta A cidAde
dOs BOtOs

(continuação da página 70). Então, era feita uma ou duas A história que eu sei é que, bem na
capinas no roçado da juta e com uns quatro meses ela frente da igreja aqui do Centro, exis-
estava pronta pra ser cortada. Se ela estivesse em terra, te uma cidade grande no fundo. De
tinha que ser cortada e carregada para a água. Lá, era acordo com o que eu ouvi dizer, é uma
empilhada e afogada com um pau em cima. Com uns cidade muito bonita, muito iluminada
15 ou 20 dias, a fibra já estava boa para ser retirada dos e é o boto que vive nela. [107]
Tomás
[27] paus e, nesse momento, era feita a lavagem. Depois de Centro do Aritapera
lavá-las, colocava-se no varal com um pau apertando-
-as e, depois de enxuta, se faziam os fardos, amarrados com as cordas
das próprias fibras.
41
É importante lembrar que a juteira podia atingir três me-
tros de altura e, se chovesse muito no crescimento dela,
ela podia entanguir, ou seja, não crescer, porque dava
limo no toco. Se a água chegasse ao roçado antes da
juta estar madura, ela era retirada verde e “afogada”,
podendo apodrecer, ficar leve e feia. Existiam alguns pés
de juta, plantados especificamente para retirar as se-
mentes. Os frutos, depois de maduros, eram colocados em
um encerado e batidos para a retirada das sementes.

Havia, ainda, alguns animais que atacavam as pessoas


nos roçados, como o puraquê, a piramboia, a jararaca
d’água e, algumas vezes, a piranha. [107]
Maria Sebastiana Pereira, doméstica
Adisantos Pereira Caldeira, pescador, Carapanatuba [76]

:: O tempo e a maré não esperam por ninguém


Desenho de Miguel Barroso Silva
tiCo, o levantador
Eu tenho 36 anos. Venho trabalhando samos fazer um cálculo: um tambor
na profissão de carpinteiro desde a ida- de 200 litros, seco, tem a capacidade
de de 20 anos. Levei a vida de pescador de botar 300 quilos em cima dele para
de 12 até 20 anos. Meu pai era carpin- ele afundar. Então teria que multiplicar,
teiro e, com alguns meses que eu traba- para ver qual a quantidade de tambor
[85]
lhava com ele, ele faleceu. Depois é que necessária. Agora, para suspender uma
do jeito que a gente começou nessa função de le- casa no verão, tem que ter bastante cui-
a gente é vantar casa. Não fui exatamente eu que dado. Precisamos usar macaco hidráuli-
desenvolvi essa tecnologia. Um colega co, desses que usa para suspender car-
Acordo de manhã cedinho, nosso, ele passou a primeira casa. Nós ro. Quanto mais a obra é segura, melhor
tomo o rumo do igarapé. começamos a trabalhar em 1998 e o de trabalhar.
42
Vou olhar no espelho d’água, pessoal começou a confiar nesse traba-
flores de mururé. lho. Agora tem mais colegas que fazem Aqui neste trabalho do Ponto de Cul-
esse trabalho lá, mas o pessoal confia tura nós éramos seis pessoas traba-
Catando os frutos da mata, no meu trabalho. lhando, comigo. Não há perigo, nunca
vou ouvindo o passarim cantar. houve acidente. A gente já trabalhou
Semeando na roça e várzea, Primeiro a gente tem que ter bastante com pessoas dentro da casa. Além de
antes da vida tardar. cuidado. Uma obra desse tamanho tem levantar a casa, se você precisar, a gen-
30 toneladas. Por exemplo, se fosse mu- te move ela também. Levanta, coloca
Num mote pego a canoa, dar a casa de um local pra outro, nós tambor embaixo dela, joga ela em cima
vou de acordo com a maré. íamos usar tambores de 200 litros para e move: solta ela no rio, engata no bar-
botar embaixo dela para mover. Preci- co e leva.
Para dizer numa boa,
do jeito que a gente é. [107]

Ronaldo Farias e José Felix


Grupo Curuperé

:: O galo canta, mas não faz nascer a madrugada (provérbio libanês)


de Casas
Para vir aqui no Aritapera, eu recebi o dente. Se acontecesse, claro que eu ia
convite, até que eu fiquei pensando em pagar. Por isso que eu digo que o profis-
vir, porque era muito distante da minha sional que tem experiência é diferente.
família. Depois eu aceitei o convite e
vim. A gente desenvolveu muito traba- É uma briga com a natureza, porque,
lho aqui. Nas casas ribeirinhas, as pes- a cada ano que passa, a água é muito
soas ficaram muito contentes. Muitas grande. Quando o pessoal construiu as
casas que foram no fundo... casas, a água era mais baixa, era menor.
E foi por isso que eles chamaram a gen-
O valor de uma casa dessa é grande. te para alterar a altura das casas. Aqui
Para você construir paga um preço mui- a gente levou dez dias. Primeiro tira as
43
to alto. Então, levantar a casa numa telhas, suspende a casa e, quando ela
[76]
altura que a água não venha é muito está bem segura, recoloca as telhas.
importante. Ano passado a gente con-
O apelido Tico é de colégio. Eu era pe-
seguiu levantar umas 20 casas na re-
queno, e até sou pequeno! Então foi
gião do Aritapera.
assim que aconteceu o apelido. O pes-
soal diz: será que esse camarada tão Não há tinta nessa rua
Aqui a gente está começando a traba-
pequeno dá conta de suspender uma
lhar, mas lá no meu município (Prainha)
casa dessa grande? Nem papel nessa cidade
isso já é brincadeira. A gente leva, vai
Odilson Lopes, nascido em Prainha, PA,
embora, chega lá, coloca a casa... Gra- suspendeu a casa do Ponto de Cultura do
ças a Deus, nunca aconteceu um aci- Aritapera a 2,20 metros do chão
Nem caneta que consiga

Descrever minha saudade[15]

:: As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender (Paulinho da Viola)


galeto refogado A ARte dO BARRO

O que a gente come mais é peixe. A gente tira o barro, lá atrás da casa
Quando não tem peixe, come galinha da gente. De lá a gente bota de mo-
caipira, ovo, sardinha ou conserva em lho, amassa, faz a louça, bota no sol
lata. Faço muito peixe cozido ou frito, pra secar, depois queima e aí passa a ju-
ovo com macarrão, galinha assada, taicica. Então, tá pronta a vasilha. Faço
cozida ou então guisada. E, quando a muitas peças, como panela, alguidar,
gente vai a Santarém sempre traz ga- torrador, frigideira, tigela, tudo o que
leto ou carne. Mas tenho o meu modo quiser inventar do barro eu faço. [107]
de fazer galeto. Maria José Pereira
Artesã de barro, Enseada do Aritapera
Primeiro, corto o galeto, tirando toda
44 [4]
aquela pelanca que tem, e escaldo os

?
pedaços. Depois, deixo no escorredor
para tirar a água. Enquanto escaldo, voCê sabia?
logo corto o cheiro-verde. Quando está A corda é
seco, coloco numa panela junto com o
cheiro-verde, a cebola, o alho, o óleo, muito antiga
o colorau e o tempero seco. Deixo refo-
A corda é um dos utensílios mais anti-
gar e depois coloco um pouco de água
gos fabricados pelo homem. Em restos
e um pouquinho de sal. Cozinha até fi-
da Idade da Pedra, foram encontradas
car com um pouco de molho. Daí fica
cordas feitas de fibras torcidas e refor-
pronto. Então, é só colocar no bom que
çadas com um material resinoso. Os
é o prato para comer! [107]
egípcios já as fabricavam de algodão,
Mariângela Pereira Ferreira
Enseada do Aritapera
cerca de três mil anos antes da Era Cris-
tã. Sem cordas, não poderiam ter cons- [86]

truído as pirâmides. [43]

:: A aranha vive do que tece


O aningal lenda da Atlântida
encantado
Há muito tempo atrás, quando eu es- O mito da Atlântida – a cidade submer-
tava de parto do meu filho, minha filha sa – baseia-se, desde o princípio dos
mais velha, Maria Delmira, foi buscar tempos, na existência de uma ilha que,
água lá na baixa, bem próximo do anin- com todos os seus habitantes, fora en-
gal. Então, sua avó, d. Idalina, que esta- golida pelo oceano. Situada no Oceano
va olhando pra ela, disse: “minha filha, Atlântico, essa terra possuía uma civili-
por que você está baixando sozinha aí?” zação mais antiga do que a dos arianos
e mais avançada do que a egípcia. O
Quando foi à noite, nela atacou muita
império próspero de Atlântida estendia-
dor de cabeça, dor no estômago, ago-
se por uma vasta região, com bosques,
nia. Então, o finado Romualdo, que era
montes e templos de grande beleza, 45
um curador muito bom, foi trazido pra
rios, lagos e estradas sem fim, onde pa-
cá pra casa. Ele disse que era o espírito
lácios maravilhosos, jardins suspensos e
do finado Valdomiro que, quando ele
torres de cúpulas douradas espelhavam
bebia, ficava incorporado. Esse espírito
o orgulho de um povo. Sua perfeição
tinha pegado na menina.
e felicidade eram tão grandes que os
Nesse aningal, ninguém podia ir buscar próprios deuses ficaram invejosos e re-
água em certos horários: meio-dia, de solveram seduzir os habitantes com a
manhã cedo ou de tardezinha, porque ambição do poder e das conquistas. [87]
[75]
ficava adoentado.

Romualdo usava tabaco – cigarro de


tauari – e cachaça. Tinha um servente
com ele nos momentos de fazer suas
sessões. [107]
Rosomira Rego da Silva (76 anos)
Lavradora, Carapanatuba

:: Ama-me quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso (provérbio chinês)
Pirâmides do Egito

Conhecidas como pirâmides de Gizé, as pirâmides do Egito ocupam a primeira posição entre
as maravilhas do mundo antigo. São monumentos contruídos em pedra e estão localizadas
no planalto de Gizé ao lado esquerdo do rio Nilo.

Foram erguidas por volta do ano 2700 a.C. pelos faraós Miquerinos, Quéfren e Quéop e
são cercadas de mistérios e grandes riquezas históricas e arqueológicas acerca da civilização
egípcia. Os egípcios acreditavam na vida após a morte e por isso tinham a preocupação de [76]

conservar o corpo e os pertences. A função das pirâmides era abrigar e proteger o corpo
mumificado do faraó, bem como seus objetos pessoais. [90] Açaí
Aproveitando a maré, antes mesmo
46 de o sol nascer, milhares de ribei-
rinhos da Amazônia vão empalhar
suas rasas de açaí para vender nas
grandes feiras. Quando o barco se
aproxima do Ver-o-Peso, o vende-
dor grita “sangue de vaca!”. Você
vai ver os compradores corren-
do para os barcos, metendo suas
unhas nos frutos para verificar se
são de boa qualidade. “Sangue de
vaca” é o açaí carnudo, cor de vi-
nho e fresquinho. Com seis meses
de idade, as crianças já tomam “vi-
nho” de açaí. Segundo um feirante,
“os intestinos dos paraenses já es-
tão acostumados a tomar açaí”. [120]
[32]

:: Aproveite bem as pequenas coisas; algum dia você vai saber que elas eram grandes (Robert Brault)
Florestania

No final do século XX, surgiu no Acre um conceito novo cha-


mado Florestania. E muitos indagaram que coisa era essa:
"Cidadania? Isso é coisa de gente da cidade. Aqui na Ama-
zônia o que nós precisamos é de Florestania".

Mas o que é, afinal, essa tal florestania? "A cidadania na


floresta" – costuma ser a resposta simples e apressada. É isso
sim, mas é algo mais. Além de um conjunto de relações so-
ciais, direitos, deveres, leis e conquistas, a florestania é um
sentimento que pode ser expresso da seguinte forma: a flo-
resta não nos pertence, nós é que pertencemos a ela. Esse 47
sentimento nos induz a estabelecer não apenas um novo pac-
[15]
to social, mas um novo pacto natural baseado no equilíbrio
de nossas ações e relações no ambiente em que vivemos. É
O quE é O quE é? um sentimento orientador para nossas escolhas econômicas,
políticas e sociais – e por isso inclui a cidadania – mas orienta
São luzes, mas não têm fio também nossas escolhas ambientais e culturais – e por isso a
transcende. [63]
São quietas e agitadas

Se dormem durante o dia

A noite passam acordadas? [15]

~~~~~~~~~~ Resposta: As estrelas


[102]

:: O direito do outro é como brasa: se o seguras, ele te queima


História de santarém
A história da Amazônia é marcada por uma ocupação cheia de
conflitos e interesses de muitos. Expedições militares, missio-
nárias, de sertanistas e pesquisadores povoam essa trajetória.

De Santarém, sabe-se que são os índios da etnia Tupaiús ou


Tapajós seus primeiros habitantes. A colonização da região
aconteceu no século XVII, na década de 1660, quando, se-
gundo historiadores, os portugueses chegaram ao local para
impedir uma invasão inglesa. Alguns relatam que, antes dis-
so, o espanhol Francisco Orellana andou por essa região. Cla-
[54]
ro que, como a maioria das histórias da colonização brasilei-
48 ÉÉÉÉÉgua!!! ra, não foi sem luta por terras entre índios e brancos.

A data de fundação de Santarém é 22 de junho de 1661 e foi


O maior inseto do mundo o padre jesuíta João Felipe Bettendorf quem instalou a missão
Os maiores insetos que já existiram foram as religiosa na Aldeia dos Tapajós, dando origem ao que seria a
libélulas gigantes, cuja envergadura podia che- cidade. Vale lembrar que numa certa época, o país era dividido
gar a 70cm. Esses insetos gigantes viveram en- em províncias, uma delas denominada Grão-Pará, que tinha
tre 320 a 250 milhões de anos atrás. [29] como governador Francisco Xavier de
Mendonça Furtado. Foi esse gover-
nador que, em 1758, transformou
a Aldeia dos Tapajós, que perten-
O quE é O quE é? cia a essa província, em vila, re-
cebendo então o nome de
Que para ser direito tem que ser torto?

~~~~~~~~~~ Resposta: O anzol


Santarém. Só em 24 de ou-
tubro de 1948 a vila passa
à condição de cidade. [109] [35]

:: Melhor para entardecer é encostar em árvore (Manoel de Barros)


O susto com o jacaretinga 49
Um dia eu fui ver a minha malhadeira. E che-
CAbEçA D’OnçA gando lá, peguei na ponta da malhadeira e ela
[27]
estava pesada. Pensava que era um surubim
O fundamento dela que nós encontramos aqui, de Cabeça
grande e, quando acabou, era um enorme de
d’Onça, era um local que existia demais de onça. Parece-
um jacaretinga, que me deu um besta de um
me que acontece o seguinte: o cara saiu com o garoto, o
susto, e que ainda meteu água no bote! [107]
garoto foi andando e disse “papai, olha uma cabeça aqui”. Rosemiro Correa da Silva
“Não, meu filho, isto é uma cabeça de onça”. Então, de lá, Pescador de Carapanatuba

?
ficou Cabeça d’Onça. Mas aqui não tem mais onça assim.
Aqui tem muita cuieira, isso é direto. A gente pega um ga- voCê sabia?
lho desse, finca ele na terra, e outro e outro. Se esse não
A árvore símbolo da várzea é a sumaúma, que atinge
nascer, aquele nasce. [35]
Depoimento constante do catálogo [18]
até 50 metros de altura e o tronco chega a um diâ-
As cuias de Santarém metro acima de dois metros.

:: Corta tuas correntes e serás livre, corta tuas raízes e morrerás (provérbio suaíli)
surubim-açu

Era só uma terra cheia de mato, um


senhor chamado Pau Ferro passou a
morar nesta terra. Construiu sua casa
feita de pau de embaubeira coberta
de capim, chamado muri, e as paredes
também. No decorrer do tempo, che-
gou uma senhora chamada Senurinha
Pontes, que veio de Urucará; ela tam-
bém tomou um pedaço de chão para
ela. Eles sobreviveram do alimento da
50 caça; quando eles iam descansar à noi-
te, eles arrodeavam a maloca de tocha
de fogo, por causa de muitas onças.

Devido à terra ser muito alta, eles fa-


ziam funil de folha do pau pra apanhar
água. Aí foram aumentando os mora-
dores e também as terras foram caindo.
Foram formando uma praia no meio do
Amazonas, onde um senhor pegou um [72]
surubim muito grande. Aí se espalhou
a notícia para os moradores por cau- o tesouro das águas
sa desse peixe que deram o nome de As águas que descem do alto das montanhas e, também, as que brotam das entranhas da terra,
Surubim-Açu. [35] além de indispensáveis à sobrevivência e reprodução de todas as criaturas, são caminhos. As estra-
das das águas convidaram os homens a conhecer novos mundos, a se comunicar com diferentes
Depoimento
Catálogo As cuias de Santarém povos e a descobrir belezas monumentais criadas por seus movimentos.

:: Eu não sei o que existe no mundo, mas o invento enquanto espero (criança de 11 anos)
enseada do aritapera

As primeiras famílias que habitavam nessa comunidade eram as seguintes: Reça, Maria,
Correa, Ribeiro e Ferreira, e a partir daí a comunidade foi crescendo com a participação de
todos na Igreja de São Sebastião. Quando Dona Maria se entendeu, a bisavó dela já cuidava
em cuias e aí foi passando para filho e netos e as pessoas foram aprendendo a trabalhar nas
cuias e continuam a trabalhar nas cuias, e campos continuar trabalhando sem parar. Com
muita garra e união, hoje há colégios, sede, clubes de futebol, clubes de jovens, clube de
mães, associações e, finalmente, hoje, temos o grupo de artesãs com 11 participantes. [35] [48]

InTERIOR
Rosinha de Valença 51
Maninha me mande um pouco
Do verde que te cerca
Um pote de mel
Meu coleiro cantor,
meu cachorro veludo
E umas jaboticabas
Maninha me traga meu pé de laranja-da-terra
Me traga também um pouco de chuva
Com cheiro de terra molhada
Um gosto de comida caseira,
Um retrato das crianças
E não se esqueça de me dizer
Como vai indo minha madrinha
[113] E não se esqueça de uma reza forte
Contra mau olhado [93]

:: A vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada (Guimarães Rosa)


l Cabeça d'Onça
l Carapanatuba
l Surubim Açu
l Enseada do Aritapera
l Centro do Aritapera

nas
a zo
Am
o
Ri

[116]
zonas
Ama
Rio

l
l l
l l
ll l
jós

l
apa
T
Rio

l l Santarém
l monte Alegre
l Alenquer
l belterra
l Curuá
ALMANAQUE PITINGA
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional
2011

ALMANAQUE PITINGA
O segredo é não correr
atrás das borboletas...
é cuidar do jardim para que
elas venham até você. [111]

Mario Quintana

Vivendo em meu jardim


Edson Pereira Lima
Rio de Janeiro/RJ
tinta a óleo, tela
Pitinga, sim!
Você pode decidir começar sua leitura de qualquer um do de viabilizar compromisso de uma publicação previs-
dos lados do Almanaque. Deste lado, quem começa a ta no projeto do Ponto de Cultura do Aritapera a partir
contar esta história é o Centro Nacional de Folclore e da pesquisa realizada naquele período de sua implanta-
Cultura Popular, que vivenciou mais de perto a constru- ção. Só agora em 2011 foi possível conceber uma pro-
ção da edição. Do outro lado falam nossas parceiras da posta desse porte e devolver aos moradores, às artesãs
Asarisan. O rio que corta esta publicação e a permeia e aos estudantes pesquisadores da Enseada e do Centro
não é um divisor de águas, expressa antes um encontro do Aritapera, de Carapanatuba, do Surubin-Açu e de
com a cultura ribeirinha de Santarém, na seca ou na Cabeça D’Onça uma parte dos resultados do árduo tra-
vazante dessas águas tão intensamente povoadas de balho de então, do qual tanto nos orgulhamos todos.
expressões da vida de seus moradores.
Construir esta publicação foi um desafio grande de se-
Pitinga, cuia branca, ainda por ser tingida, sem pintu- lecionar textos e imagens em meio ao rico material que
ra, talvez a ser trabalhada, inscrita. Assim pretendemos a pesquisa desses meninos e meninas levantou. Desa-
o Almanaque que apresentamos a você, leitor. Uma fio e prazer, tantas eram as opções de depoimentos, de
publicação que tem para o Centro conotação muito experiências narradas nos textos recebidos. A equipe
especial porque expressa o conceito de educação com de trabalho costumava chamar os encontros de traba-
o qual trabalhamos desde sempre. Educação como lho de “reuniões boas”, tamanha a vontade de fazer
cultura, educação como processo, como construção parte dessa experiência e vê-la realizada.
que vai se concretizar no momento em que as páginas
Agora é desdobrar essas páginas em vivências de sala
ganharem função nas mãos daqueles que dão sentido
de aula, em conversas de pescaria ou de bar ou ain-
a esse esforço coletivo, alunos e professores especial-
da em rodas de leituras, propondo outras páginas que
mente. Manuseadas e vivenciadas como objeto de tra-
poderão contar novas e diferentes histórias. O convite
balho, de estudo e crítica.
posto, repetimos, é pintar, desenhar, inscrever.
Lucia Yunes
O Almanaque Pitinga se insere no Programa de Apoio Coordenação Técnica
ao Artesanato de Tradição Cultural – Promoart no senti- Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Fontes 36. Centro de Capacitação do Pescador Artesanal. Curso de Manejo, Ecologia e Pesca Módulo 1: Ecologia da Várzea. Instituto de Pesquisa
Ambiental da Amazônia; Projeto de Recursos Naturais da Várzea: Santarém, PA, [21--?].
37. CENTRO NACIONAL DE FOLCLORE E CULTURA POPULAR. Pêssankas: ovos escritos, poemas imagéticos. Rio de Janeiro: Ministério da
1. ADIVINHAS. [S.I.]: Conceição Magalhães, 2010. Disponível em: <http://www.arteducacao.pro.br/Cultura/adivinhas.htm#todas>. Acesso Cultura, IPHAN, 2008.
em: 04 nov. 2011. 38. COMUNIDADES Ribeirinhas Amazônicas: modos de vida e uso dos recursos naturais: Projeto Piatam. [S.I.]: UFAM, 2007.
2. ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: Fundação de Assistência ao Estudante, 1986. 39. CONFERÊNCIA Darwin e a aventura em Paraty. [S.I.:s.n.], 2009. Disponível em: <http://www.revistamundoeco.com.br/mundoeco-
3. ALMANAQUE ABRIL. Rio de Janeiro: Abril, 1995-. conferencia_darwin_e_a_aventura_em_paraty.html>. Acesso em 27 set. 2011.
4. ALMANAQUE DO ALUÁ, n. 1. Rio de Janeiro: Serviço de Apoio à Pesquisa em Educação; Fundação Nacional de Arte, Centro Nacional de 40. CORALINA Cora doceira e poeta. São Paulo: Global, 2009.
Folclore e Cultura Popular, 1998. 41. CURIOSIDADES. [S.I.:s.n.], [2005]. Disponível em: <http://www.terra.com.br/curiosidades/lugares/lugares.htm>. Acesso em: 02 out. 2011.
5. ALMANAQUE DO ALUÁ, n. 2. Brasília: Ministério da Educação; Rio de Janeiro: Serviço de Apoio à Pesquisa em Educação, 2006. 42. CURIOSIDADES. [S.I.:s.n.], 2005. Disponível em: <http://www.terra.com.br/curiosidades/comes/comes_03.htm>. Acesso em: 02 out. 2011.
6. ALMEIDA, Cícero Nobre de. Mosaicos de Monte Alegre. [S.I.:s.n.], [21--?]. 43. CURIOSIDADES. [S.I.:s.n.], [2005]. Disponível em: <http://www.terra.com.br/curiosidades/objetos/objetos_03.htm>. Acesso em: 14
7. ALVES, Castro. Antologia poética. Rio de Janeiro: Biblioteca Manancial/1, José Aguilar, MEC, 1971. set. 2011.
8. AMAZONAS: pátria da água. [S.I.:s.n.], [21--]. Disponível em: <http://www.suplementocultural.com/thiago.htm>. Acesso em: 22 ago. 2011. 44. CURIOSIDADES. [S.I.:s.n.], 2002. Disponível em: <http://www.terra.com.br/curiosidades/cur_recordes_1.htm>. Acesso em: 04 jul. 2011.
9. ANDRADE, Carlos Drummond de. [Frase]. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/autor/carlos_drummond_de_ 45. CURIOSIDADES. [S.I.:s.n.], 2005. Disponível em: <www.terra.com.br/curiosidades/variedades/variedades_02.htm>. Acesso em: 07
andrade/>. Acesso em: 12 jul. 2011. dez. 2011.
10. ANDREATO, Elifas; RODRIGUES, João da Rocha (Org.). Brasil – Almanaque da cultura popular: todo dia é dia. São Paulo: Ediouro, 2009. 46. CZICHOS, Joachim et al. 1001 Perguntas e respostas sobre ciência. Tradução Ana Claudia Krause et al. Rio de Janeiro: Reader’s Digest, 2008.
11. APRENDA a fazer uma armadilha ecológica para os mosquitos. [S.I.:s.n.], 2011. Disponível em: <http://casa-e-jardim.hagah.com.br/ 47. DEBATA, descubra e divulgue! [website]. Disponível em: <http://debatadesvendeedivulgue.com/ddd2/?p=3067>. Acesso em: 12 jun. 2011.
especial/rs/decoracao-rs/19,0,3196905,Aprenda-a-fazer-uma-armadilha-ecologica-para-os-mosquitos.html>. Acesso em: 24 out. 2011. 48. DEBRET, Jean Baptiste. Caderno de Viagem. Org. Julio Bandeira. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 2006.
12. ASSUNTA SÓ: revista do cerrado, n. 17. Goiânia, 16 nov. 2007. Disponível em: <http://www.altiplano.com.br/071116Assunta17.html>. 49. DECLARAÇÃO universal dos direitos humanos. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/
Acesso em: 11 set. 2011. integra.htm>. Acesso em: 22 set. 2011.
13. Atulho. (autor não identificado). Santarém, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens das cinco comunidades: Cabeça d’Onça, 50. DIA do armistício. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_do_Armistício>. Acesso em: 23 ago. 2011.
Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005. 51. DIA mundial da água. [S.I.]: Wikipedia, 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_Água>. Acesso em: 23
14. AZEVEDO, I. M. (Org.). Puxirum: memória dos negros do oeste paraense. Belém: IAP, 2002. out. 2011.
15. AZEVEDO, Ricardo. Armazém do Folclore. São Paulo: Ática, 2000. 52. DIA mundial da árvore. [S.I.]: Wikipedia, 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_mundial_da_floresta>. Acesso em:
16. BAGNO, Marcos. A utopia lingüística da norma-padrão: por que uniformizar a língua. In: COSTA, Renato Pontes; CALHÁU, Socorro (Org.). 07 out. 2011.
“... E uma Educação pro povo, tem?”. Rio de Janeiro: Caetés, 2010. p. 73-74. 53. DIA mundial do meio ambiente 2009. [S.I.]: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, [21--]. Disponível em: <http://www.
17. BAIXA.LA: downloads rápidos. [website]. Disponível em: <http://www.baixa.la/arquivo/6490399/Encontro-das-aguas-jpg>. Acesso em: ipc-undp.org/dmma/evento.htm>. Acesso em: 25 jul. 2011.
02 set. 2011. 54. DIBUJOS para colorear: Educima.com. Disponível em: <http://www.educima.com/dibujo-para-colorear-libelula-i6823.html>. Acesso em:
18. BAIXAKI [website]. Disponível em: <http://www.baixaki.com.br/papel-de-parede/30299-sumauma.htm>. Acesso em: 12 jun. 2011. 10 set. 2011.
19. BARRAULT, Jean-Michel. O mar: eu sei tudo sobre o mar. Trad. Raul de Sousa Machado. Lisboa: Verbo, 1979. 55. A DRAWING a day for a year. Disponível em: <http://mbsdailydrawing.blogspot.com/2011/04/april-22-2011-monarch-caterpillar.html>.
20. BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1977. Acesso em: 25 jun. 2011.
21. BELÉM. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Belém>. Acesso em: 02 out. 2011. 56. DÜCHTING, Hajo. Wassily Kandinsky (1866-1944): a revolução da pintura. Rio de Janeiro: Taschen, Paisagem, 1994.
22. BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. Imaginário do Novo Mundo. In: _____. O Brasil dos viajantes. Salvador: Fundação Odebrecht; São 57. ESCHER, M. C. Três mundos. In: ______. Estampas y dibujos: introducción y comentários de M. C. Escher. Trad. Felix Treumund. Colonia,
Paulo: Metalivros, 1994. v. 1. Alemania: Taschen, 1994. Litografia.
23. BIOGRAFIA: Antonio Vieira. In: UOL Educação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/antonio-vieira.jhtm>. Acesso em: 58. ESCOLAR, Hiposito. História universal del libro. Madri: Fund. Germán Sánchez Ruipérez, 1993.
04 out. 2011. 59. FAIM DÉVELOPPEMENT MAGAZINE, n. 250. Paris: Commité Catholique contre la Faim et pour le Développement – Terre Solidaire, juin/
24. BLOCK, J. R.; YUKER, Harold E. Can you believe your eyes?: over 250 illusions and other visual oddities. New York: Brunner Mazel, 1992. juil. 2010.
25. BLUE Moon Palette. Disponível em: <http://bluemoonpalette.blogspot.com/2010_04_01_archive.html>. Acesso em: 22 set. 2011. 60. FERREIRA, Alessandra Pereira. [Frente da comunidade com barcos e canoas]. Enseada do Aritapera, PA, 2006. Desenho. PESQUISA
26. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Abecedário dos bichos que existem e não existem. Com ilustrações das crianças e dos jovens das beiras do desenvolvida por 44 jovens das cinco comunidades: Cabeça d’Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-
Rio São Francisco nos sertões de Minas Gerais. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. (Ciranda de Letras) Açu, no âmbito da implantação do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005.
27. ______. São Francisco meu destino. Campinas: Mercado de Letras, 2002. 48 p. 61. FERREIRA, Edilberto. O Berço do Çairé. Santarém: [s.n.], 2008.
28. BRASIL. Ministério da Cultura. Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural/Promoart. Rio de Janeiro, 2011. Folder. 62. FERREIRA, Suelen Cristina Pereira. [Gado na vazante]. Enseada do Aritapera, PA, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens
29. BURNIE, David et al. Livro dos fatos surpreendentes: um guia do mundo para crianças. Rio de Janeiro: Reader’s Digest, 2008. das cinco comunidades: Cabeça d’Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação
30. CÂMARA aprova plebiscito para dividir o estado do Pará. [S.I.]: Agência Amazônia de notícias, 2010. Disponível em: <http://www. do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005.
agenciaamazonia.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=956:camara-aprova-plebiscito-para-dividir-o-estado-do-para& 63. FLORESTANIA. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível em: <
catid=1:noticias&Itemid=704>. Acesso em: 21 set. 2011. http://www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br>. Acesso em: 11 out. 2011.
31. CANTO verde: seu site verde na internet. [S.I.:s.n.], [2009]. Disponível em: <http://www.cantoverde.org/150plantas/s.html>. Acesso 64. FONSECA, Wilson. Pastorinhas de Santarém. Santarém: Tiagão, 1986.
em: 29 jul. 2011. 65. ______. Santarém Brincando de Roda. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e
32. CARLOS, Jean. Geolegrias. Disponível em: <http://jeangrafia.blogspot.com/2010/05/o-misterio-das-piramides-do-egito.html>. Acesso de Extensão, 1983.
em: 11 out. 2011. 66. FOX, Charles Philip. Old-time circus cuts. New York: Dover, 1979.
33. CARTA FUNDAMENTAL: a revista do professor, n. 25. São Paulo: Confiança, 2011. 67. FROTA, Lélia Coelho. Mitopoética de 9 artistas brasileiros: vida, verdade e obra. Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Arte, 1978.
34. Carranca. GUARANY [Francisco Biquiba de la Fuente Guarany]. Santa Maria da Vitória, BA, s/d. Acervo Museu de Folclore Edison 68. FUNAI. Marechal Rondon. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível em: http://www.funai.gov.br/indios/personagens/rondon.htm. Acesso em: 13
Carneiro/CNFCP. set. 2011.
35. CARVALHO, Luciana. Cuias de Santarém. Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Arte, Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, 69. GABUNZI, David. Agenda perpétuel mémoire du monde noir. Paris: Fondation pour le Progrès de l'Homme, 1995.
2003. (Sala do Artista Popular, 108). Catálogo da exposição realizada no período de 09 de janeiro a 09 de fevereiro de 2003. (*) Depoimentos 70. GALDINO Jesus dos Santos. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Galdino_Jesus_dos_Santos>. Acesso
colhidos durante a Oficina de Reconstrução da Identidade Étnico-Cultural dos Ribeirinhos da Amazônia (novembro de 2002) em: 24 out. 2011.
71. GANVIÉ: a vila construída sobre palafitas. [S.I.:s.n.], 2012. Disponível em: <http://www.zevariedades.com/curiosidades/ganvie-a-vila- 102. PEREIRA, Maria Lucielma. [Entretenimento na comunidade: escutando o rádio] (detalhe). Santarém, 2006. Desenho. PESQUISA
construida-sobre-palafitas/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+ZVariedades+%28Z%E9+Variedad desenvolvida por 44 jovens das cinco comunidades: Cabeça d'Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-
es%29>. Acesso em: 22 set. 2011. Açu, no âmbito da implantação do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005.
72. GEOGRAFIA10 [website]. Disponível em: <http://geografia10.webnode.com.br/transporte/>. Acesso em: 01 out. 2011. 103. ______. [Fartura de peixes que antes existia]. Enseada do Aritapera, PA, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens das
73. GOLFINHO-do-Ganges. [S.I.:s.n.], 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Golfinho-do-ganges>. Acesso em: cinco comunidades: Cabeça d'Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação
14 set. 2011. do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005.
74. GRABIANOWSKI, Ed. Como funciona o aquecimento global. [S.I.:s.n.], 2012. Disponível em: <http://ambiente.hsw.uol.com.br/ 104. ______. Pirarucu (detalhe). Santarém, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens das cinco comunidades: Cabeça
aquecimento-global.htm/printable>. Acesso em: 05 jul. 2011. d'Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação do Ponto de Cultura do
75. GRELIER, Robert. As crostas do sol. Rio de Janeiro: Index; Recife: Massangana, 1995. Aritapera, 2005.
76. GRUBER, Jussara Gomes. O livro das árvores. 2. ed. Amazonas: Organização Geral dos Professores Ticuna Bilingues, Instituto Benjamin 105. PEREIRA, Marlisson. Boi Doradinho. Cabeça d'Onça, PA, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens das cinco comunidades:
Costant, 1998. Cabeça d'Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação do Ponto de Cultura
77. HÁ 70 anos Vargas anunciava em São Januária a criação do salário mínimo. [S.I.]: Vasco da Gama Online, [21--]. Disponível em: <http:// do Aritapera, 2005.
www.vgol.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=4762:-01052010-sab-1108-ha-70-anos-vargas-anunciava-em-sao- 106. ______. Casa de madeira coberta com palha. Cabeça d'Onça, PA, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens das cinco
januario-a-criacao-do-salario-minimo&catid=36:pagina-inicial>.Acesso em: 08 out. 2011. comunidades: Cabeça d'Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação do Ponto
78. HERDEG, Walter (editor): Graphis Film + TV Graphics 2. Zurich: Graphis Press, 1976. First edition. de Cultura do Aritapera, 2005.
79. A HISTÓRIA da organização. [S.I.]: Nações Unidas, 2011. Disponível em: <http://onu.org.br/conheca-a-onu/a-historia-da-organizacao/>. 107. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens das cinco comunidades: Cabeça d'Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do
Acesso em: 08 set. 2011. Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005.
80. HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. Cemitério de castanheiras. [S.I.:s.n.], [21--?]. 108. PICASSO, Pablo. Le visage de la paix. Genève: Musée de L’Athénée, 1974. Catálogo de exposição.
81. IEMANJÁ. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Iemanjá>. Acesso em: 03 nov. 2011. 109. PREFEITURA de Santarém. Origem do nome: Santarém. PARÁ: [s.n.], [21--?]. Disponível em: <http://www.santarem.pa.gov.br/
82. IMACULADA Conceição. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Imaculada_Conceição>. Acesso em: 08 conteudo/?item=115&fa=60>. Acesso em: 27 nov. 2011.
jul. 2011. 110. QUINO. Toda a Mafalda. Tradução de Andréa Stahel M. da Silva e outros. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
83. INSTITUTO CHICO MENDES. Biografia de Francisco Alves Mendes Filho “Chico Mendes”. Acre: [s.n.], [210-?]. Disponível em: <http:// 111. QUINTANA, Mário. [Frase]. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível: em <http://pensador.uol.com.br/autor/mario_quintana/>. Acesso em:
www.chicomendes.org.br/Biografia/bio.html>. Acesso em: 28 set. 2011. 24 jun. 2011.
84. JECUPÉ, Kaka Werá. Oré awé roiru'a ma = Todas as vezes que dissemos adeus = Whenever we said goodbye. Fotos Adriano Gambarini. 112. Radio do senhor Raimundo Viana. (sem indicação de autoria). Cabeça D’Onça, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens
2. ed. São Paulo: Triom, 2002. das cinco comunidades: Cabeça d’Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação
85. ‘Jirau onde se acomodam as galinhas na época da enchente. Referente à Cuia.’ (Sem autor identificado). PESQUISA desenvolvida por do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005.
44 jovens das cinco comunidades: Cabeça d’Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da 113. REDE de saberes: alfabetização de pescadores artesanais: informações, reflexões e pistas metodológicas na formação de educadores.
implantação do Ponto de Cultura do Aritapera, 2005. Brasília: SEAP, MTbE, 2006.
86. JONES, David M. The myths & religion of the Incas. Londres: Anness, 2008. 114. REFORMA protestante. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante>. Acesso em: 28
87. LENDA da Atlântida. [S.I.]: Infopedia, 2012. Disponível em: <http://www.infopedia.pt/$lenda-da-atlantida>. Acesso em: 24 set. 2011. out. 2011.
88. LIVRO dos Fatos Surpreendentes de Seleções: um guia do mundo para crianças. Rio de Janeiro: Readers Digest, 2008. 280 p. 115. RIBEIRO, Luiz. Três gemidos dão sinal de perigo nas águas. [S.I.]: Andreato comunicação e cultura, 2010. Disponível em: <http://www.
89. LOUREIRO, João de Jesus Paes. Obras Reunidas. São Paulo: Escrituras, 2000. almanaquebrasil.com.br/curiosidades-cultura/5660-tres-gemidos-dao-sinal-de-perigo-nas-aguas>. Acesso em: 12 out. 2011.
90. LUIZ, Antônio. Pirâmides do Egito: história e fotos. [S.I.:s.n.], 2011. Disponível em: <http://www.sempretops.com/informacao/piramides- 116. RIO Amazonas. Imagem desenhada por Luciana Gennari. In: CARVALHO, Luciana. Cuias de Santarém. Rio de Janeiro: Fundação Nacional
do-egito/>. Acesso em: 03 out. 2011. de Arte, Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, 2003. (Sala do Artista Popular, 108). Catálogo da exposição realizada no período de
91. Malhadeira. Disponível em: http://www.zsee.seplan.mt.gov.br/divulga/Sócio Econômico e Jurídico Institucional/Ictofauna e Economia 09 de janeiro a 09 de fevereiro de 2003.
Pesqueira/figuras/502 - (C. MALHADEIRA DE CERCO - TAPAGEM-).bmp. Acesso em: 02 jun. 2011. 117. RIO Ganges. [S.I.:s.n.], 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Ganges>. Acesso em: 24 ago. 2011.
92. MARIA Bethânia: o canto do pajé. [S.I.]: Youtube, 2009. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=tIskI4bPLG8&tracker=Fal 118. RIO Nilo. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Nilo>. Acesso em: 22 set. 2011.
se>. Acesso em: 21 ago. 2011. 119. SÃO Sebastião. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/São_Sebastião. Acesso em: 23 nov. 2011.
93. MARIA Bethânia. Interior. [S.I.:s.n.], [21--]. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/maria-bethania/interior.html#ixzz1LV8Hx7f7>. 120. SHANLEY, Patrícia. Frutíferas e plantas úteis na vida Amazônica. Belém: CIFOR, Imazon, 2005.
Acesso em: 23 set. 2011 121. SIMÕES, Maria do Socorro; GOLDER, Christophe. Santarém conta... narrativas e recriações. Belém: Cejup, Universidade Federal do
94. MEDICINA tradicional. [S.I.]: Wikipedia, 2011. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Medicina_tradicional>. Acesso em: Pará, 1995.
19 set. 2011. 122. THEVET, Frei André. Fera que vive de vento. In: BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. Imaginário do Novo Mundo. Salvador: Fundação
95. MELO NETO, João Carvalho de. [Frase]. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/autor/joao_cabral_de_melo_neto/. Odebrecht, 1994. Xilogravura.
Acesso em: 23 out. 2011. 123. TRATADO de cooperação amazônica. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Cooperação_
96. MIRÓ, Joan. Poeme. Disponível em: <http://www.viaggiandofacile.it/fr/2011/07/29/il-percorso-espositivo-joan-miro-poeme/>. Acesso Amazônica>. Acesso em: 02 jul. 2011.
em: 11 jun. 2011. 124. Universidade da Amazônia. A carta de Pero Vaz de Caminha. Belém: Nead, [21--?]. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
97. MONTE, Marjean. A história de Alenquer. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível em: <http://www.vitrinereal.com/cpainel/arquivos/alenqueremos/ download/texto/ua000283.pdf>. Acesso em: 08 set. 2011.
microsoft_word__a_historia_de_alenquer_por_marjean_ii.pdf>. Acesso em: 02 out. 2011. 125. VASCONCELOS, A. Naúmia. Quem tem medo do 8 de março?. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 08 mar. 1994. Seção Opinião.
98. MUNDO ECO: turismo + ecologia. [website]. Disponível em: <http://www.revistamundoeco.com.br/mundoeco-conferencia_darwin_e_a_ 126. VOCÊ sabia?. [S.I.:s.n.], [21--?]. Disponível em: <http://www.bn.com.br/radios-antigos/sabia.htm>. Acesso em: 23 out. 2011.
aventura_em_paraty.html>. Acesso em: 10 jun. 2011. 127. VIANA, Raimundo. Pau de balde. Cabeça d’Onça, PA, 2006. Desenho. PESQUISA desenvolvida por 44 jovens das cinco comunidades:
99. NOSSA Senhora da Conceição. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Nossa_Senhora_da_Conceição_ Cabeça d’Onça, Carapanatuba, Centro do Aritapera, Enseada do Aritapera e Surubim-Açu, no âmbito da implantação do Ponto de Cultura
Aparecida>. Acesso em: 28 jul. 2011. do Aritapera, 2005.
100. ORIGENS. [S.I.]: Embarcações do Brasil, 2009. Disponível em: <http://www.embarcacoesdobrasil.com.br/site/mostra_secao. 128. WAJÃPI: expressão gráfica e oralidade entre os Wajãpi do Amapá. Edição de texto: Regina Stela Braga. Brasília: Instituto do Patrimônio
php?secao=1>. Acesso em: 24 set. 2011. Seção do site. Histórico e Artístico Nacional, 2006. (Dossiê IPHAN, n. 2).
101. PEIXES do rio Guaporé. In: Pousada Paço das Onças [website]. Disponível em: <http://www.pousadapacodasoncas.com.br/peixes. 129. ZUMBI dos Palmares. [S.I.]: Wikipedia, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Zumbi_dos_Palmares>. Acesso em: 22
htm>. Acesso em: 10 jun. 2011. out. 2011.
JULHO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
D . S . T .Q .Q . S. S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T . Q Q S .S D . S T . Q. Q S . S . D . S . T

∙ Dia Nacional ∙ Dia do ∙ Dia do Amigo No último fim


do Pesquisador Comerciante ∙ Chegada do homem de semana de
∙ Dia do Panificador à Lua (1969) julho acontece
o Festival das
Tribos, em Juruti
∙ Dia Internacional do ∙ Dia do Engenheiro Sanitarista
Cooperativismo ∙ Dia dos Cantores
∙ Dia dos Compositores
Sertanejos

∙ Dia do ∙ Dia do « ∙ Dia do ∙ Dia Nacional do Futebol ∙ Dia de Sant’Ana


Bombeiro Tratado de Engenheiro ∙ Morte de Túpac Amaru «« e Dia da Avó
Brasileiro Cooperação Florestal
Amazônica
97
« O Tratado de Cooperação «« A revolta dos descendentes
Amazônica foi celebrado, em incas (Peru), liderados pelo cacique
Brasília, 1978, pelos oito países Túpac Amaru, foi a maior insurgência
amazônicos. Seus objetivos são: indígena da história da América
o desenvolvimento harmonioso e Latina. [5]
integrado da bacia amazônica; a
plena integração da região amazônica
às suas respectivas economias
nacionais; a troca de experiências
quanto ao desenvolvimento regional
e o crescimento econômico com
preservação do meio ambiente. [123]

:: Invisto no futuro porque nele pretendo passar a maior parte do meu tempo (Woody Allen)
AGOSTO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
Q . Q . S . S .D . S . T .Q .Q .S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T . Q Q . S . S D. S . T . Q Q . S .

«« «««
∙ Dia Mundial ∙ Dia do ∙ Assunção de Nossa Senhora ∙ Dia Nacional ∙ Dia ∙ Dia Africano
da Amamentação Estudante ∙ Dia de Nossa Senhora da Glória do Folclore Nacional de da Medicina
Segundo fim de ∙ Dia dos Solteiros « Combate Tradicional
semana: festa ∙ Adesão do Pará à Independência ao Fumo ∙ Início do ano
Domingão dos da Sociedade do Brasil (assinada em 1823) letivo: último
Filhos de Surubim- Esportiva dia útil de
agosto
Açu radicados em
Santarém (sem
Cabeça d’Onça ∙ Dia do Combate ∙ Dia da
à Poluição Habitação
data fixa)

∙ Dia dos ∙ Dia do Feirante ∙ Dia do ∙ Nascimento de Madre


Encarcerados ∙ Dia do Soldado Catequista Tereza de Calcutá (1910)
(último domingo ∙ Festa de São Francisco
de agosto) no Centro do Aritapera
96
« Belém, a primeira capital da «« O folclore reúne conhecimentos, «««Segundo a Organização Mundial
Amazônia, era fortemente ligada crenças e tradições populares, de Saúde, a medicina tradicional é
a Portugal, e distante dos núcleos algumas de origem religiosa e outras o total de conhecimento técnico e
decisórios das regiões Nordeste ligadas às tradições regionais ou procedimentos baseados nas teorias,
e Sudeste do Brasil. Por isso, nacionais. O afoxé, o bumba-meu-boi, crenças e nas experiências indígenas
reconheceu a independência do o Círio de Nazaré, as congadas, de diferentes culturas, sejam ou
Brasil apenas a 15 de agosto de o fandango, as festas juninas, não explicáveis pela ciência, usados
1823, quase um ano após a sua o maracatu, o peão boiadeiro são para a manutenção da saúde, como
proclamação. [21] algumas das principais manifestações também para a prevenção, diagnose
do folclore brasileiro. [4] e tratamento de doenças físicas e
mentais. [94]

:: Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente até onde os outros já foram (Graham Bell)
SETEMBRO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
S .D . S . T .Q Q S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T Q. Q .S S D .S T Q. Q .S S D .

∙ Dia Nacional ∙ Dia Mundial da ∙ Terceiro sábado ∙ Dia da Fauna ∙ Dia de


das Organizações Alfabetização de setembro: festa Início da São Cosme
Populares de Santo Antônio primavera no e Damião
∙ Dia do Biólogo na Enseada do hemisfério sul
Aritapera e do outono no
Primeiro sábado Segundo fim de
hemisfério norte
∙ Dia da
de setembro: festa semana de setembro: Navegação
de São Raimundo festa do Sairé em
(Pantera) na Alter do Chão
Enseada do
Aritapera « ∙ Independência do Brasil ««
∙ Dia da Amazônia (feriado nacional) ∙ Passeio dos filhos ∙ Dia da Árvore ∙ Dia do Rádio ∙ Último sábado
∙ Marcha comemorativa dos do Cabeça d’Onça de setembro: festa
estudantes do Cabeça d’Onça e radicados em Santarém do Botafogo no
(sem data fixa) Carapanatuba
95 comunidades vizinhas

« A Amazônia representa um «« A primeira emissão


vasto patrimônio socioambiental radiofônica brasileira aconteceu
e tem um papel fundamental para em 7 de setembro de 1922, nas
a estabilidade da vida no planeta. comemorações do centenário
Sabe-se que os seus rios são da Independência. A segunda só
responsáveis por cerca de 20% aconteceu no ano seguinte, com a
de toda a água doce despejada Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,
nos oceanos. [5] fundada pelo antropólogo Roquette
Pinto e Henry Moriz. [4]

:: Economizemos a natureza: ela é o combustível da vida (para-choque de caminhão)


OUTUBRO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
S .T . Q . Q . S . S .D .S . T . Q . Q .S . S . D . S . T . Q Q S .S . D . S . T . Q Q S .S D . S . T . Q.

∙ Dia de São Francisco ∙ Dia do ∙ Dia da ∙ Dia da Dona


de Assis Construtor Civil Democracia de Casa
∙ Dia do Agente ∙ Dia do ∙ Dia da «««
Comunitário de Saúde Sapateiro Reforma
Protestante
∙ Dia Mundial da ∙ Dia Nacional
Alimentação do Livro

«
∙ Nossa Senhora Aparecida ««
∙ Nascimento ∙ Dia Pan-Americano ∙ Dia do – padroeira do Brasil (feriado ∙ Segundo domingo ∙ Dia do ∙ Dia Mundial da ∙ Dia das Nações
de Mahatma do Dentista Deficiente nacional) de outubro: Professor Oração pela Paz Unidas
Gandhi Físico ∙ Dia da Criança Festividades do
∙ Dia do Mar Círio de Nazaré
94
« No dia 16 de julho de 1930, o «« A Organização das Nações ««« O movimento reformista
papa Pio XI declarou Nossa Senhora Unidas foi criada em 1945, depois cristão, iniciado no século XVI por
Aparecida padroeira do Brasil. [99] da Segunda Guerra Mundial, para Martinho Lutero, protestava contra
manter a paz e promover a cooperação diversos pontos da doutrina da Igreja
Festa comemorativa do Dia da internacional na solução dos problemas Católica, propondo uma reforma.
Criança em Surubim-Açu. econômicos, sociais e humanitários. [79] O resultado da Reforma Protestante
foi a divisão da Igreja do Ocidente
entre os católicos romanos e
os reformados ou protestantes,
originando assim o protestantismo. [114]

:: Mudam os tempos, mudam os pensamentos (ditado popular)


NOVEMBRO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Q S . S . D . S T .Q Q S . S . D . S . T Q. Q . S S D .S T Q. Q .S S D .S T Q. Q .S .

∙ Dia do Segundo fim de ∙ Dia da ∙ Dia do ∙ Dia do Doador ∙ Dia do Estatuto


Radialista semana: festa Criatividade Músico de Sangue da Terra
de N. Sra. do ∙ Dia da «««
Desterro no Reforma Agrária
Cabeça d’Onça
∙ Dia Internacional ∙ Dia da Último fim de semana: ∙ Eclipse
da Tolerância Homeopatia festa do Internacional, penumbral
no Carapanatuba da Lua
« ««
∙ Dia de ∙ Dia de ∙ Instituição do ∙ Dia Nacional ∙ Proclamação da ∙ Dia da ∙ Dia de Zumbi
Todos os Finados direito de voto da Cultura República – 1889 Bandeira dos Palmares
Santos (feriado das mulheres (feriado nacional) Nacional ∙ Dia Nacional da
nacional) (1930) ∙ Momento cívico Consciência Negra
da escola-polo do
93 Centro do Aritapera

« O Brasil foi o quarto país, em todo «« Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, ««« No Brasil, a questão da terra
mundo, a assegurar o voto feminino. [5] livre, no ano de 1655. Tornou-se líder do continua sendo um grave problema
Quilombo dos Palmares e é, hoje, para social, em função da grande
determinados segmentos da população desigualdade na distribuição de
brasileira, um símbolo de resistência. Em propriedades e recursos, envolvendo
1995, a data de sua morte foi adotada promessas de governos, tensões entre
como o Dia da Consciência Negra. [129] fazendeiros e trabalhadores rurais e
disseminando muita violência. [4]

:: Cavalo que voa não carece de espora (ditado popular)


DEZEMBRO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
S .D .S . T .Q .Q S . S . D . S . T . Q Q S . S . D . S . T . Q Q S .S D . S . T . Q Q S .S D . S

∙ Dia de Santa ∙ Dia de Nossa ∙ Dia do Marinheiro ∙ Natal (feriado nacional) ∙ Dia da
Bárbara Senhora de ∙ Dia de Santa Luzia Festa de N. Sra. Esperança
∙ Criação do Guadalupe, ∙ Dia do Cego do Bom Parto em
Sindicato dos padroeira da Semana do 13 de Surubim-Açu (sem
Trabalhadores América Latina dezembro: festa data fixa)
Rurais de de Santa Luzia,
Santarém (1973) no Carapanatuba

« «««
∙ Dia ∙ Dia Nacional ∙ Dia de Nossa ∙ Dia do Palhaço ∙ Dia do ∙ Início do verão ∙ Morte de ∙ Dia do ∙ Dia
Mundial do do Samba Senhora da ∙ Dia Universal dos «« Mecânico no hemisfério sul Chico Mendes Vizinho Universal
Combate à Semana do 8 de Conceição Direitos Humanos e do inverno no do Perdão
AIDS dezembro: Círio hemisfério norte
da Conceição
92
« O dia 8 de dezembro é marcado «« “Todos os seres humanos ««« "No começo, pensei que
pela celebração do dogma da nascem livres e iguais em dignidade estivesse lutando para salvar
Imaculada Conceição definido pelo e em direitos. Dotados de razão e de seringueiras, depois pensei que
papa Pio IX en 1854. Essa data, consciência, devem agir uns para com estava lutando para salvar a floresta
em decorrência da devoção popular, os outros em espírito de fraternidade.” amazônica. Agora, percebi que estava
é festejada em quase todo o Declaração Universal dos Direitos lutando pela humanidade.”
território nacional. [82] Humanos: Artigo 1º [49] (Chico Mendes) [83]

:: A vida só é possível reinventada... (Cecília Meireles)


ponto de Cultura
A Associação das Artesãs Ribeirinhas de financiou nosso projeto, para equipar a A história deste Ponto de Cultura começou
Santarém (Asarisan) foi criada em 2003 Associação, produzir peças de divulgação em 2005, quando a Asarisan assinou con-
por 33 mulheres das comunidades Centro e comercialização de artesanato. O Cen- vênio com o Ministério da Cultura para re-
do Aritapera, Carapanatuba, Enseada do tro Nacional de Folclore e Cultura Popular alizar o projeto Cultura Ribeirinha de San-
Aritapera, Surubim-Açu e Cabeça d’Onça, foi parceiro desde quando começamos a tarém, com recursos do Programa Cultura
situadas na várzea do Rio Amazonas. Em nos organizar, colaborando de muitas for- Viva. Concebido como um espaço cultu-
comum, além da produção de cuias para mas, destacadamente com investimentos ral e de trabalho, reunião, exposição e ven-
incrementar a renda familiar, tínhamos, que fez, pelo Promoart, para finalização da de artesanato, de pronto ele enfrentou
naquele momento e sempre, o desejo de da obra do Ponto de Cultura que mante- um intenso verão amazônico, e sua cons-
ver valorizado nosso artesanato, do pon- mos no Centro do Aritapera. trução teve de ser interrompida em fins de
91 to de vista econômico e cultural, e de sentir
orgulho dos objetos que produzimos, as-
sim como da identidade profissional das
artesãs, que somamos a outras, como la-
vradoras, pescadoras, donas de casa.

Em meio a inúmeros desafios e dificulda-


des, mas com muita coragem e determi-
nação, conquistamos aos poucos a con-
fiança e o apoio de pessoas e instituições
públicas e privadas para nossa busca por
reconhecimento e inclusão social. O Ser-
viço Alemão de Cooperação Técnica e So-
cial ajudou a formalizar a Asarisan, junto
com o Sebrae, que também ofereceu vá-
rios cursos e oficinas. A Brazil Foundation [35]

:: Uma andorinha só não faz verão


do aritapera
2005. Rios e lagos secaram, peixes morre- ram maiores que em 2006
ram, a terra rachou nas várzeas de Santa- e invadiram mais de um
rém, e não se podia transportar os mate- metro da casa.
riais para a obra.
Felizmente, o verão de 2010 trou-
Não bastassem as dificuldades desses pri- xe com o Promoart a esperança de con-
meiros passos, quando ainda mal se sus- cluir a obra: faltavam acabamentos e repa- tizada Som-
tentava nas palafitas erguidas logo que ros, e também era preciso proteger a casa bra da cuieira. Ela funcio-
o rio voltou a ser trafegável, recebeu em das enchentes. O Programa disponibili- na, atualmente, com a colabo-
2006 os excessos das águas, que o inva- zou materiais e serviços e, em meados de ração da Universidade Federal
diram cerca de 70 centímetros acima do 2011, o Ponto de Cultura ficou pronto, er- do Oeste do Pará, que envolve 90
assoalho. Com os trabalhos de constru- guido a cerca de 2,20 metrosdo chão. alunos e professores em projetos
ção suspensos, os atrasos e contratempos de apoio à leitura e à cultura da vár-
nos impossibilitaram de atender aos ter- Desde então, tem atraído mais parceiros. zea. Este almanaque, feito com o
mos do convênio com o Minc, e, por con- O Instituto Meio focou na divulgação das CNFCP, é uma joia no acervo da bi-
seguinte, foi suspenso o repasse do recur- cuias em eventos e meio digital, o que foi re- blioteca.
so para a associação finalizar a construção. forçado pelo ArteSol, que também atuou
pela inclusão de nosso espaço e comunida- Por toda essa história, a Asarisan or-
Ficou a casa levantada, sem portas e sem des em roteiros turísticos. O Ministério do gulha-se da trajetória feita até aqui,
janelas, com uma ponte que levava para Desenvolvimento Agrário, com o progra- e seu Ponto de Cultura alegra-se
um banheiro que não existia. Quase “era ma Arca das Letras, nos agraciou com um a cada dia por receber o visitante
uma casa muito engraçada”... Só que não conjunto de livros e revistas que, somados de toda e qualquer parte, que, em
tinha graça, não. Como era triste ver o lu- a outros doados pelo Instituto Itaú Cultu- suas dependências, acha conforto,
gar vulnerável a chuvas, morcegos, ninhos ral, Iphan, CNFCP, pela Fundação Tancre- trabalho, conhecimento e lazer.
Izanilde Correa Lisboa
de maribondos! Mais tristeza ainda veio do Neves e editoras comerciais, compõem Membro da Asarisan e moradora
no inverno de 2009, porque as águas fo- a sala de leitura do Ponto de Cultura, ba- do Centro do Aritapera [120]

:: Não há domingo sem missa, nem segunda sem preguiça


a cidade encantada
Os mais velhos contam que, antigamente, os recessem não era para comer. Senão, ele não
botos saíam em forma de gente, de homem, e voltava mais. Ele foi. Nessa altura, conta que
dançavam com as mulheres. Essas histórias dos já estava com o terçado. Com isso, ele andou.
mais velhos daqui foram contadas de pai pra E disse que aí na frente de Pariçó tem uma ci-
filho. Até hoje, os filhos dos que já se foram dade encantada. Ele andou a cidade todinha.
contam essas histórias. Quando foi mais ou menos seis horas da tarde,
O finado Tomasinho, quando era vivo, contava retornou os tempos.
que um dia ele perdeu um terçado e resolveu As pessoas contavam que ele tinha alguma coi-
cair atrás. Nessa caída, ele caiu às seis da ma- sa com os botos porque ele brincava com os bo-
[4] nhã e voltou às seis da tarde. Quando ele caiu, tos na beira d’água. Ele caía n’água e os botos
89 que chegou lá, veio a encontrar uma bota que brincavam com ele e ele fazia como um boto.
disse que ia dar uma volta por onde ele estava. Morreu com essa história. [107]
Elias
Só que nada ele podia comer, tudo que ofe-
Artesão, Vila do Pariçó

Torneio esportivo
As festas esportivas, desde que me entendi, são feitas assim:
com muita música, muitos jogos de bola, etc. E vêm outras
pessoas de outras partes, de outras comunidades. Vêm tra-
zer seus times pra jogar bola. Quando eles não colocam boi
como prêmio, colocam dinheiro mesmo. Muita gente se en-
volve com isso. Depois, eles vão para outras comunidades
para pagar a visita dos que vêm pra cá. Aqui, eles chamam
isso de torneio esportivo. [107]
Lenil Correa (72 anos)
Enseada do Aritapera
[4]

:: Felicidade se acha é em horinhas de descuido (Guimarães Rosa)


Pastorinhas Cumatê com tapeuá

Trecho do pastor Além da peua, a gente faz assim, com a mão. cesso, colocava em cima da vasilha, colocava
Música de José Agostinho Antigamente a gente pegava a cuia, partia, urina embaixo e, depois disso, estava pron-
da Fonseca raspava direitinho, pegava o caimbé e alisa- to o processo. Desse modo, as cuias ficavam
va ela. Depois, misturava o cumatê com o bem pretinhas e a pintura ficava também
Que visão seria esta? tapeuá até formar uma pasta. Em seguida, pretinha, não precisava passar outras vezes,
Me parece que sonhava esfregava bem na cuia e ela ficava pretinha. como as pessoas mais antigas faziam com a
Que um anjo junto a mim Só que quando secava, a gente pegava só o tinta. Nesse processo que a gente fazia não
Um mistério anunciava. tapeuá (que era o pau) e esfregava e ficava precisava passar tanto, somente uma vez. [107]
Sim! eu ouvi uma voz assim, ele sem a outra mistura, sem o líquido, Elias
Que mansamente dizia: só mesmo o pau pra secar. Depois desse pro- Artesão, Vila do Pariçó

“A boa nova que trago


88
Causará grande alegria”.
[35]
Vou depressa, vou correndo
Aos companheiros contar
A boa nova que tive
NOssOs tAleNtOs
Que muito os há de alegrar. Como o Ponto de Cultura está relacio-
nado com a cultura, e não só com o
Vinde, correi, ouvir pastores artesanato, acredito que muitas pesso-
Que maravilha aconteceu! as que têm seus talentos possam de-
Longe de vós os vãos temores, senvolver os mesmos. É uma forma de
Vinde comigo, Jesus nasceu! [64] colocarem em prática, de expor, para
mostrar que não é porque vivemos aqui
numa comunidade ribeirinha que não
temos talentos. [107]
Raimunda
[4]
Enseada do Aritapera

:: Faz mais quem quer do que quem pode


Qualquer vida é MEu lugAr é
AssIM...
muita dentro
da floresta
Se a gente olha de cima, parece tudo Aqui é um lugar cheio da
parado. beleza da natureza em co-
Mas por dentro é diferente. res verdes. É um lugar com
A floresta está sempre em movimento. histórias que podem en-
Há uma vida dentro dela que se cantar o turista. Pra mim é
transforma sem parar. um lugar maravilhoso! [107]
Vem o vento. Francinelma Pereira Maciel
Vem a chuva. Estudante, Enseada do Aritapera

87 Caem as folhas.
E nascem novas folhas.
rECEITA
Das flores saem os frutos.
E os frutos são alimento.
Os pássaros deixam cair as sementes. farinha de jatobá
Das sementes nascem novas árvores.
Raspe as sementes com uma faca
E vem a noite.
para obter a polpa. Em seguida,
Vem a lua.
soque a polpa no pilão ou bata no
E vêm as sombras
liquidificador e penere. A farinha
que multiplicam as árvores.
resultante serve para fazer bolos,
As luzes dos vagalumes
biscoitos,
são estrelas na terra.
pães e li-
E com o sol vem o dia.
cores. [120]
Esquenta a mata.
Ilumina as folhas.
Tudo tem cor e movimento. [76] [35]

:: Na hora da maré, tudo se mexe (Antônio Jacinto Ferreira, pescador, Surubim-Açu)


santarém
Paes Loureiro
O presente
riocorrente
entre barrancos do passado.

À frente
o rei dos rios
que o Tapajós, de súbito, destrona.

Raios de luz
traçam a linha
que une e separa duas águas.
86
Raios de amor
traçam outra linha
não faço magia
que une e separa duas almas. [89]

Minha sobrinha estava doente. Cheguei lá e ela estava assim imóvel. Fiquei olhando, vendo a criança
que não chorava, que nem gemia. Aí, eu fiz uma oração: rezei três ave-marias e uma salve-rainha. A
criança melhorou mesmo. Então, começou a se dizer que eu sabia alguma coisa. Mas não era uma
oração de benzedeira, foi uma oração que eu fiz.

Às crianças sempre digo pra voltar aqui em três dias, e torno a rezar. Sempre a pessoa volta com três dias.
Não cobro nada porque não faço magia pra ninguém. [107]
Lenil Silva Maia
Artesã, Enseada do Aritapera

[24]

:: Viver ultrapassa todo entendimento (Clarice Lispector)


Comidas de festa A luta dos seringueiros
Aqui, na festa, vêm pessoas de outras comu- Há mais de 100 anos, milhares de seringueiros saíam
nidades, até de Alenquer. A gente contrata de casa no escuro da madrugada para extrair látex
uma banda de música de Santarém pra animar a da seringueira. Naquela época, a exploração do látex
moçada. Pra comer, a gente vende churrasquinho gerava muito dinheiro e grandes construções em Belém
de carne de boi, bebidas e sucos. Tem prêmios na der- e Manaus, como teatros e praças, foram pagas com
ruba do mastro, tem missa com o padre, e ainda o dinheiro da borracha. Barões da borracha transfor-
fazemos o show de calouros com prêmios tam- maram as cidades amazônicas na tentativa de recriar a
bém. E mais: vende cerveja, refrigerante, sucos de [76] cultura europeia no meio da floresta.
muruci, acerola, maracujá, cupuaçu, abacaxi; e ou-
tros, a gente manda comprar na cidade a polpa da fruta e faz. Boa parte da população de nordestinos que hoje vive na Amazônia migrou
Também oferece outras iguarias: vatapá, mungunzá, bolo, do- para explorar o látex. O Estado do Acre só pertence ao Brasil porque os
85
cinhos, cascalho, coxinha, e a falada maçã do amor. [107] seringueiros lutaram por ele. Mais recentemente, a ideia de criar reservas ex-
Ednelson Bentes Pereira
trativistas surgiu da luta dos seringueiros para proteger a floresta do avanço
Enseada do Aritapera da pecuária. [120]

[110]

:: Herói é aquele que faz a sua parte


Um dia novo para
Santo Antônio
Quando a gente conseguiu essa imagem
de Santo Antônio pra cá, a gente nem
imaginava que, no mês dedicado a ele,
ia estar tudo cheio d’água, tudo alagado.
Ia ser uma dificuldade pra gente chegar
lá. Eu mesma, até para ir dia de domingo
no culto, enfrento muita dificuldade. En-
tão, a gente se reuniu e passou a festejar
Desenho de Miguel Barroso Silva

o santo no terceiro sábado de setembro.


Porque, nesse período, é tempo de verão
e está tudo bem sequinho. [107] 84
Lenil Correa (72 anos)
Enseada do Aritapera
[105]

Visita dos gringos Florestas tropicais


Aqui já vieram gringos, mas vieram rá- (continuação da página 13) Do que comemos, cerca de 80% vêm originalmente
pido. Na última visita, eles vieram com das florestas tropicais. Mais de três mil frutas aí encontram seu berço e os povos do
o pessoal lá de Santarém, da Igreja da mundo ocidental apenas fazem uso de aproximadamente 200 delas, mas as tribos
Paz. Levaram muita cuia! E eu ainda indígenas das selvas se servem de mais de 2 mil. O conhecimento que essas tribos
dei várias cuias de presente. Eles fica- detêm sobre plantas medicinais, de longe, ultrapassa o mundo ocidental.
ram muito alegres e disseram que em
breve vão voltar. [107] Os pássaros têm um papel importante em relação à dispersão de sementes. Quan-
Rosenilda Campos da Silva do excretam as sementes das frutas com que se alimentaram, os pássaros podem
Artesã, Cabeça d’Onça já ter voado vários quilômetros desde a árvore de onde eles comeram a fruta. [107]

:: A simplicidade é o último degrau da sabedoria (Vitor Hugo)


Criação de
padrões
Quando me entendi, eu já via mi-
nha mãe fazendo desenhos nas
cuias. Só que esses desenhos que
faço agora, a minha mãe nunca
fez. Nunca vi ela fazer. Agora, de-
pois que já estou nessa idade, já tiro
as coisas da minha cabeça. Quando
saio de casa por aí, eu vejo as coisas
e trago na minha mente aquilo. Eu
[35]
faço o que vejo e depois vou multi-
83 plicando na minha mente. [107]
Maria Domingas dos Santos Menezes
o lobisomem
Artesã e agricultora, Surubim-Açu
A história é essa: na beira de uma mata, tinha no cachorro. O cachorro, com raiva, rasgou o
uma casa. Nessa casa morava um casal de gente xale com os dentes e depois foi embora.
e a mulher estava grávida de sete meses. Certa
Com pouco tempo, o marido apareceu, su-
noite, o homem chegou para a mulher e dis-
ado, e foram embora para casa juntos. Che-
se que queria sair com ela. A mulher estranhou
garam, foram dormir, e quando foi no outro
porque eles nunca saíam juntos. Mas ela foi.
dia cedo, a mulher acordou o marido, que era
O quE é O quE é?
acostumado a dormir de boca aberta e ronca-
Quando chegaram em uma mata, o homem va muito. A mulher olhou para o marido e viu
Tem pescoço e não tem perna
pediu para urinar. Ele foi pro mato e com nos dentes dele os fios do xale dela. Assim,
Tem braço mas não tem mão
pouco tempo apareceu um cachorro muito acabou descobrindo que aquele cachorro
Tem corpo e não tem cabeça
grande e correu atrás da mulher que estava que queria morder ela, na mata, era o marido
Fantasma ela não é não? [107]

~~~~~
na beira da mata. Ela não sabia o que fazer. dela que virava lobisomem. [107]
Então, viu uma árvore grande perto e subiu.
Gernilane Caldeira Sousa (12 anos)
Resposta: Camisa
Tirou do ombro um xale e começou a bater Estudante, Carapanatuba

:: O artesanato faço porque gosto e também porque é o meu trabalho (Maria José Pereira, artesã, Enseada do Aritapera)
As escolhas do
desenvolvimento
Cotidiano
A partir do final da década de 1960,
baseado no princípio de que o gado
da pesCa
renderia mais que a mata em pé, o De manhã, eu destranço as minhas ma-
governo começou a apoiar a agrope- lhadeiras e saio pra colocar na água. E,
cuária. Muitos posseiros e fazendeiros enquanto elas estão na água, eu vou fazer
começaram a se estabelecer, mesmo outro tipo de pescaria. E assim o dia a dia
em área remotas da região. A flores- vai se passando.
ta foi sendo substituída pelo plantio
de culturas anuais e pastos, iniciando Pra mim, o mais importante é quando eu
uma onda de desmatamento.
[47]
pego bem peixe. Aí, eu vendo e divido 82
com meus vizinhos, isso pra mim é muito
Depois do ciclo da pecuária começou uma nova fase de valorização dos importante. [107]
recursos naturais da região – dois tipos de ouro foram descobertos: o ouro Rosemiro Correa da Silva
Pescador, Carapanatuba
amarelo da Província Mineral de Carajás e o ouro verde, ou seja, a madeira
(primeiro o mogno e depois outras espécies, como a castanheira). Como
resultado, até 1977, cerca de 70% das áreas de castanhais já haviam sido
desmatadas no sudeste paraense. [80]

animais velozes
Em corridas curtas, o guepardo alcança uma velocidade de até 120km/h e é
o mais rápido em terra. Em trechos mais longos, entretanto, o título do mais
veloz fica com o antílope americano, que consegue manter uma velocidade [26]

de 88 km/h por grandes distâncias. [46]

:: Por fora bela viola, por dentro pão bolorento


o pará e o projeto de divisão

A grande extensão territorial do Brasil explica o agrupamento


dos estados por regiões, o que se dá dentro de uma lógica: eles
se assemelham por aspectos físicos, questões ligadas à natureza,
mas especialmente por características humanas, como o modo
de vida da população e ações do homem sobre a natureza.

O tamanho do país tem sido importante argumento utilizado


nas discussões em torno da divisão territorial de várias regiões e
[84]
estados. Em 1975, o Estado da Guanabara foi transformado em
município do Rio de Janeiro. Em 1979, Mato Grosso foi dividido,
81 vEnCEDOr x CruzADOr dando origem ao Estado do Mato Grosso do Sul, e, em 1988,
Gosto de brincar mais é de bola. Eu brinco com Emerson, Goiás foi desmembrado e se criou o Tocantins.
Raimundo, Liliane, Eucilene e Eliton (Tom Tom), Eli, Vilton (Vi-
tinho). Essa molecada daqui. Desse lado do rio forma um Esses processos resultam da adaptação a questões econômicas
time, que é o Vencedor, de vermelho e preto e, do outro lado e sociais. Nesse sentido surgiu também o projeto de desmem-
forma o time Cruzador, que é de azul. Eu sou do Cruzador. O bramento do Pará em três territórios, com a criação de dois no-
técnico é o Vitinho, e é ele o presidente também. O apitador vos estados: Carajás e Tapajós. Essa discussão parece recente,
é o Lucas, que joga e apita o jogo. Eu sou o goleiro do meu mas, conta a história, vem desde o tempo do Brasil Império,
time. O campo é o terreiro da minha casa. quando se pensava a divisão da Amazônia, com a criação da
“província do Tapajós”.
A gente come melancia, quando tem, toma refrigerante e
cerveja, que é a água que a gente põe no litro. Também tem O fato é que há sempre muitos prós e contras, e no plebiscito do
um bar e uma banda. O nome da banda é Forró do Tom Tom dia 11 de dezembro de 2011, os cidadãos paraenses decidiram
porque os donos do forró são o Vitinho e o Tom Tom. [107] pela não divisão do estado: 66,59% votaram contra a criação
Leonardo Caldeira de Sousa (6 anos)
do Estado de Carajás e 66,08% rejeitaram a criação do Estado
Carapanatuba de Tapajós. [30]

:: Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela (George Bernard Shaw)
?
brincadeiras de
Você sabia? ontem e de hoje
Cacau era moeda As crianças de antigamente brincavam de curralzinho no
chão e com cuinhas como se fossem gado. Os meus filhos
entre os maias brincavam antes assim. Nas brincadeiras de roda se juntavam
várias mocinhas, se davam as mãos, formavam uma roda e
As sementes de cacau tinham grande valor para os maias, povo na-
cantavam as músicas como essa:
tivo da América Central. Além de usá-las para fazer o "tchocolath",
bebida de rituais sagrados, cerimônias, e considerada medicinal, as
“Que lindo botão de rosa
sementes tinham função de moedas. 400 delas formavam um zontli,
que aquela roseira tem,
enquanto o portador de oito mil sementes tinha na verdade um xi-
por cima ninguém alcança
quipilli. Quanto isso representava? O preço de um coelho era oito se-
por baixo não vai ninguém,
mentes, já um escravo podia ser adquirido por apenas 100 unidades
(ou 0,25 xiquipillis). [42] 80
Bela pastora, entra na roda
veja lá o que vai fazer,
ponha um verso bem bonito
e abraçai o seu amor,

Padeiro vai, padeiro vem,


Padeiro é festa de quem quer bem.”

Hoje em dia, as crianças brincam de amarelinha (macaca), de


bola e de cavalo de pau com o sabugo de milho para fazer a
cabeça. [107]

Geralda Sousa da Costa


Lavradora, Carapanatuba

[56]

:: Melhor que acrescentar anos à vida é dar sentido a eles


Ééééégua!!!

São necessários três satéli-


tes de comunicações para
enviar um sinal que dê a
volta na terra. Ondas de
rádio viajam na velocidade
da luz – 299.792 km/s –, e
em menos de um segundo
sua voz viaja numa chama-
da telefônica da Inglaterra
à Austrália. [29]
[98]
79
História de repórter radialista

Quando começamos a fazer rádio, sempre surgia aquela expectativa: será que vou me sair
bem, será que vou fazer correto? Gravávamos o programa e aos domingos ele era apresenta-
do. Então, íamos para junto do rádio escutar, depois a alegria tomava conta da gente. “Poxa,
me saí bem!”, eu pensava. As pessoas nos encontravam pela rua e elogiavam nosso trabalho,
mas o que queríamos era fazer melhor, principalmente quando nos confrontávamos com os
profissionais, aqueles que já faziam rádio, televisão, há muitos anos. Certo dia, uma repórter
de televisão, já acostumada a dar notícias, se deparou com um grande acidente em uma
avenida da cidade. Então ela deu a seguinte reportagem “Estamos aqui, na avenida tal, onde
ocorreu um acidente e nos deparamos com um defunto morto na avenida”. Ela nem percebeu
por que a notícia chamava tanto a atenção da população. Você já pensou um defunto vivo? [107]
Nilson Corrêa
Agente de comunicação, Centro do Aritapera

:: Não me acompanhe que eu não sou novela (para-choque de caminhão)


O bARCO TOCORiMé

Na língua nativa da tribo Kulina, que vive no coração da Amazônia, “Tocorimé Pamatojari” significa
“Espírito Aventureiro”, ou seja, nome que traduz a essência da embarcação que faz parte do Red Bull
Music Armada. Apelidada de “Toco” pela sua tripulação, o barco foi construído em plena Amazônia,
próximo a Santarém/PA, sendo o maior veleiro brasileiro totalmente construído em madeira. No seu
histórico náutico consta um título especial, o de veleiro oficial das comemorações dos 500 anos do
Brasil, em 2000. Um dos fundadores da embarcação, Markus Lehmann – um estrangeiro que escolheu
o Brasil para viver, atualmente radicado em Paraty/RJ – pretende ficar embarcado durante todo o tra-
jeto do Red Bull Music Armada. Perguntado sobre o que faz o “Toco” ser tão especial, ele diz: “Esse
barco é especial porque é brasileiro, foi construído a mão na Amazônia, com a melhor madeira do
mundo – de reflorestamento. O 'Toco' é uma plataforma que demonstra todo o potencial das ações
[102] de sustentabilidade." [39] 78

O que eles querem saber o que é o que é?

As pessoas mais procuradas para dar informações sobre o artesanato das cuias são
Um pau de doze galhos
principalmente as artesãs que trabalham em grupo. Apesar de já estarem acostuma-
Cada galho tem seu ninho
das com essas visitas, às vezes, elas ficam surpresas. Sentem-se contentes por saber
Cada ninho tem seu ovo
que outras pessoas estão, cada vez mais, buscando conhecer o artesanato da cuia,
Cada ovo um passarinho? [1]
mas, ao mesmo tempo, ficam preocupadas por não terem um conhecimento sufi-
ciente para responder com segurança. Outros visitantes vêm somente passear, como
no caso dos conterrâneos. São muito diferentes os interesses, mas os comunitários
ficam alegres com a presença deles. [107]
Francinelma Pereira Maciel
~~~~~
Estudante, Enseada do Aritapera
Resposta: O ano

:: Mais vale ser cego dos olhos que do coração


Os mistérios da maré
Saio de casa, mais ou menos, às três e meia, quatro e meia. peixe se mexe. Nessa hora, a maré enche e aí a água fica
Dependendo do tempo, quando a madrugada está boa, eu bonita. Então, o peixe se mexe. Dá fome no peixe. É o mes-
saio às três e meia. mo que se passa com qualquer animal. Se, nessa
hora, você for atrás de capturar uma capivara
O peixe cai na hora da maré. A maré tra- é a mesma coisa. Você tem que ir atrás
balha por lua. Por exemplo, se a maré por maré. Pode perguntar a qualquer
enche às seis horas, seis horas é a caçador ou pescador. Nessa hora,
hora que o peixe está melhor de tudo se mexe. [107]
pegar. Em qualquer parte que se Antonio Jacinto Ferreira da Costa
for pescar, é nessa hora que o Pescador, Surubim-Açu

77

?
o uso do que Você sabia?
plantamos Plebiscito e referendo
Bem, da mandioca a gente produz a fari- Plebiscito (plebis = povo e scitum = deci-
nha e o beiju só para o consumo. Do jerimum, [84] são, decreto) e referendo são duas formas
a gente faz mingau com arroz, cozinha com peixe diretas de consulta para saber se um povo aprova
salgado, coloca na carne, no feijão e outras comidas. Já ou rejeita certas decisões de seu governo. O plebiscito
com o milho, faz mingau, pamonha, tira para o sustento consulta o eleitor antes da decisão ser tomada e o re-
da galinha, do pasto, do porco, e vende uma parte. [107] ferendo depois. [45]
José Emídio Rego
Centro do Aritapera

:: A lua não fica cheia em um dia


rIbEIrInhO

Ribeirinho se diz daquele que anda pelos rios,


porque na verdade eles são a base de sua so-
brevivência, fonte de alimento e via de trans-
porte, graças, sobretudo, às terras mais férteis
de suas margens. As comunidades ribeirinhas
na Amazônia são aqueles moradores da região
que transitam entre a agricultura e a pesca ar-
tesanal.

“As populações tradicionais não indígenas na


Desenhos de Maria Lucinelma Pereira

Amazônia caracterizam-se, sobretudo, por suas 76


atividades extrativistas, de origem aquática ou
florestal terrestre, onde vivem em sua maioria,
à beira de igarapés, igapós, lagos e várzeas.
Quando as chuvas enchem os rios e riachos,
esses inundam lagos e pântanos, marcando o
período das cheias que, por sua vez, regula a
vida dos ribeirinhos.” [38]
Pescar pirarucu é emociante!
O mais especial do que faço é arpoar um pirarucu. É divertido arpoar um pirarucu
porque ele corre pra lá e corre pra cá, e a gente vai pra cima. Ele é pesado, grande.
A outra coisa, claro, é que a renda é muito maior do que a de outro peixe menor.
O especial não é só a renda que ele causa, mas a emoção também. [107]
Antonio Jacinto Ferreira da Costa
Pescador, Surubim-Açu

:: Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas, é de poesia que estão falando (Manoel de Barros)
a festa acabou
Uma vez, fui com minha prima colocar um espinhel porque no outro dia eu ia pra
festa e tinha o compromisso de deixar comida para minha família. E aí, quando fo-
mos tirar o espinhel, tinha dois tambaquis: um estava numa ponta e o segundo na
outra ponta do espinhel. No momento que a minha prima foi tirar o primeiro tam-
baqui, o que estava na outra ponta rebanou. Então, a canoa se afastou e o anzol
entrou na coxa da minha prima. Vendo que ela estava anzolada, fui socorrer. Cortei
o fio do espinhel para poder matar os tambaquis. Depois de matá-los, fui com ela
pra casa para tirar o anzol de sua coxa e me preparar para ficar em casa porque, pra
nós, a festa já tinha acabado. [107]
Ana Eliete
Pescadora, Centro do Aritapera
75 [69]

Muito, muito Dica de saúde


pequeno
A arruda, sempre fazem pra criança
O beija-flor é a menor ave da natureza. quando está com dor no estômago. O
É tão leve que pode se empoleirar em boldo é pro estômago mesmo, inclusive
uma simples folha de capim. Seus ovos eu tomo muito boldo. E a mangarataia
não são maiores que uma ervilha de é por causa de garganta que dá tosse
tamanho médio. Os filhotes, logo que e a gente alivia com mangarataia. [107]
nascem, são menores que um gafanho- Lenil Silva Maia
Enseada do Aritapera
to comum. Uma ninhada cabe inteira
dentro de uma colher de chá. [44]

:: O destino embaralha as cartas (Schopenhauer)


sabugo padroeiros
de milho
Gosto de brincar de barco de pau, de A história em si é que é a Santíssima Trindade que é o padroeiro. A Trindade é formada pelo Pai,
bola, de carro, etc. Tenho um sabugo pelo Filho e pelo Espírito Santo, mas também não esquecendo o São Sebastião, que auxilia também
de milho que eu amarro um fio nele e nessa, como padroeiro. Ele é um santo que é comemorado nesse mês. Então foi se juntando os dois.
puxo na água. Eu chamo ele de milho. A Trindade porque a nossa comunidade, onde ela é formada, é uma ilha. Antes de ser Aritapera ela
Também tenho um sonzinho que é as- era chamada Ilha da Trindade. Daí foi que, como já existia esse nome, as pessoas daquela época, dos
sim: eu abro duas caixas de fósforo, co- nossos antepassados que aqui viviam, conseguiram uma imagem da Santíssima Trindade pra colocar
loco um pedaço de fita dentro delas e como padroeiro; e é por isso que a gente vivencia até hoje. [107]
amarro na travessa da casa. [107] Natalina Arlete
Centro do Aritapera
Diego Alexander Pereira Caldeira (6 anos)
Estudante, Carapanatuba

74

[78]

elAs NãO mOrrerAm cOm A eNcheNte


Achamos importante a Associação. O traba- É uma atividade que envolve várias famílias e
lho está revivendo cada vez mais e está sendo essas famílias estão tendo um meio de sobre-
valorizado não somente aqui, mas também viver. Vale ressaltar também que as cuieiras
nacionalmente. Pois é através da Asarisan (As- aqui na várzea não morrem com a enchente.
[106] sociação das Artesãs Ribeirinhas de Santarém) Isso significa que o trabalho é perfeito. [107] [106]

que pode ir tão longe esse reconhecimento. Senhora Francisca Vieira


Pariçó, Monte Alegre

:: É a chuva que cai, gota a gota, que enche o rio (provérbio africano)
desafios Promessa: doação
enfrentados de trabalho

Quando fui lotada para trabalhar Muitas das vezes, as pesso-


com a 1ª série, juntamente com as vêm pra cumprir pro-
a 3ª, pela primeira vez, como eu messas. Fazem promessa
não tinha experiência de trabalho quando estão doentes
com a 1ª série, fiquei muito preo- ou por algo que querem
cupada, chorei muito, me revoltei alcançar como uma graça.
com o assessor, reivindiquei os meus Uma vez que alcançaram, se
direitos, mas não adiantou. Ele perguntou dedicam a cumprir determinado
73 se eu não confiava no meu trabalho, se eu me acha- tipo de promessa. Se conseguiu o almeja-
va competente. Falei que sim, pois já havia trabalha- do, vêm também pra desenvolver um tipo
do com a 2ª e 3ª séries, o difícil seria encarar de trabalho, ou alguma doação,
aquela nova realidade, visto que a 1ª série inclusive na cozinha. Todo ano
não era alfabetizada. Fui pra casa choran- acontece doação de trabalho
do! Passei quase a noite pensando nessa si- [76] de pessoas para retribuir a sua
tuação, mas me conformei com essa ideia. graça. Mas além das pessoas que
Comecei o ano letivo e, com o decorrer dos bimestres, fui fazem a sua doação de trabalho como pagamento
me surpreendendo. No final do ano, todos os alunos foram de promessas, existem outras pessoas na comu-
aprovados para outra série com bastante aprendizado. Desde nidade que doam seu trabalho quando o número
esse dia nunca mais tive medo de encarar as dificuldades que de pessoas é pouco. Porque, no final da festa, é
aparecem no meu trabalho. [107] muito agitado, o trabalho acumula. [107]
Ana Trindade Pereira Natalina Arlete
Professora, Carapanatuba Centro do Aritapera

:: A necessidade é a mãe do engenho


Importância do
ponto de Cultura
Com o Ponto de Cultura, acredito que terão um
local determinado para obter as informações
sobre a cultura. Vai se tornar mais fácil a divul-
gação do nosso artesanato. Como também será
uma forma de aproximação das pessoas desta
comunidade com outras pessoas da comunida-
de mesmo e com outras que vierem atrás de in- [128]
formações. [107]
Francinelma Pereira Maciel
Estudante, Enseada do Aritapera PlANtiO De jutA
72
Segundo o que contam Maria Sebastia- Se a agulha liberasse muitas sementes,
na Pereira e o jovem Adisantos Pereira ela era apertada, se liberasse poucas,
Caldeira, para o plantio da juta, fazia- era afrouxada. A distância de uma cova
se primeiro o roçado, derrubando as ár- para outra era de 30 centímetros para
vores. Isso acontecia logo no início da o lado e cinco centímetros para frente.
plantação aqui na comunidade. Em se- Fazendo isso, esperava-se chover para
guida, colocava-se fogo e o restante dos molhar a terra. Se não chovesse logo,
paus eram amontoados e queimados. a semente ficava conservada no solo,
Esse processo era chamado de coivara. mas caso chuviscasse, ou chovesse pou-
Dessa forma o local para o plantio fica- quinho, ela germinava e posteriormen-
va bem limpo, para não embaraçar a ju- te morria. Também se chovesse forte a
teira. Então os plantadores usavam um semente podia enterrar, custando uma
aparelho de pau, graduando uma agu- semana pra nascer, visto que com a chu-
lha, para a liberação das sementes, que va normal ela podia nascer até com três
variava de três até quatro em cada cova. dias. [107] (continua na página 39)
[57]

:: Você me abre seus braços e a gente faz um país (Marina Lima)


A Asarisan e o
Quando a Associação das Artesãs Ribei- conhecimento dos processos educati-
rinha de Santarém iniciou o processo de vos na região, os jovens do Aritapera
implantação de seu Ponto de Cultura, foram incumbidos de uma tarefa que
em meados de 2005, visando à melho- constituía uma oportunidade ímpar de
ria das condições de trabalho e vida das se autopesquisarem, gerando informa-
produtoras de cuias, uma ação impor- ção e contribuindo para dar visibilidade
tante e inesperada se desenhou no Ari- a suas realidades num contexto local
tapera. O foco da ação eram as histórias, marcado pela escassez de informação
os modos de vida, os saberes e fazeres acerca das comunidades ribeirinhas.
das cinco comunidades onde residiam as
71 associadas*. Os jovens foram selecionados nas cinco
[58]
comunidades produtoras de cuias, numa
Os principais agentes dessa iniciativa, reunião envolvendo artesãs e lideranças,
denominados “Agentes Cultura Viva”, e passaram a trabalhar regularmente em
Rio Nilo foram cerca de 40 jovens, com idade en- seus locais de moradia, com supervisão e
O Nilo é um grande rio do nordeste do tre 16 e 24 anos, estudantes ou recém- apoio das educadoras. Alguns roteiros de
continente africano. Nasce ao sul da li- egressos do nível médio, incluindo aí pesquisa, com temas considerados rele-
nha do Equador e deságua no Mar Medi- muitos filhos e parentes das artesãs. Eles vantes para as comunidades, foram pro-
terrâneo. A sua bacia hidrográfica ocupa se iniciaram no ofício de pesquisadores postos e submetidos à apreciação conjun-
uma área de 3.349 000 km² abrangendo no âmbito de um trabalho educativo vol- ta dos envolvidos no projeto do Ponto de
Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quénia, Re- tado para a valorização do saber local. Cultura. Ajustados os roteiros, cada um,
pública Democrática do Congo, Burun- de volta à sua comunidade, começou a
di, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia e Egito. Sob supervisão de duas educadoras, fazer as entrevistas. Visitando as casas
Até 2008, era considerado o maior rio as professoras Zenilda Bentes, espe- de moradores, trabalhando em dupla ou
do mundo, perdendo o posto para o Rio cialista em Sociologia, e Graça Tapa- trio, ora portando lápis e papel, ora, com
Amazonas, 140km mais extenso. [118] jós, pedagoga, ambas com profundo sorte, um gravador.

:: A vida é meio difícil, mas é divertida (morador de São Gabriel da Cachoeira)


projeto de autopesquisa CAprIChO
(trechos)
No caminhar, percebeu-se que, para pessoas com quem conversavam e reali- Castro Alves
aplicação dos roteiros, os jovens em zavam as entrevistas. Ai! Quando
campo não só coletavam informações, Brando
O fator mais positivo foi que o projeto de
mas acabavam por fazer intervenções no Vai o vento
autopesquisa proporcionou a esses jovens
cotidiano dos moradores: despertavam Lento
a oportunidade de ampliar sua visão de
boas lembranças, faziam chorar, faziam À lua
mundo, conhecer histórias e memórias
rir, contar piada, provocavam saudade Nua
de seu lugar e sua gente, colhidas entre
do passado, temor diante do presente/ Perpassar sutil;
os mais velhos e personalidades da região,
futuro; enfim, mexiam com as (...)
que, por sua vez, gostaram de ser
acionados como detentores de
conhecimentos pouco bus-
Num leito 70
Feito
cados no dia a dia.
De cheirosas
Percebia-se, assim, que Rosas,
desse processo de auto- Risonhos
pesquisa emergia orgu- Sonhos
lho e reconhecimento a Sonharemos nós;
respeito de um passado (...)
que estava escondido.
Zenilda Maria Bentes Celuta,
Educadora, Santarém Escuta
* A iniciativa surgiu da parceria do Cen-
Do meu seio
tro Nacional de Folclore e Cultura Popu- O enleio ...
lar com a Asarisan no sentido de propor Vem, linda,
ações educativas naquela região no âm-
bito da implantação do Ponto de Cultura Ainda
do Aritapera. Há solidões aqui. [7]
[35]

:: Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem preço (Clarice Lispector)
pêssAnkAs

Em 1895, imigrantes ucranianos se estabeleceram Natal e à Páscoa, ocasião em que são produzi-
no interior do município de Itaiópolis (SC), for- das as pêssankas.
mando a comunidade de Iracema.
A palavra pêssanka deriva do verbo ucra-
Nos dias de hoje, vários costumes da niano pessati, que significa escrever. Po-
tradição ucraniana foram preservados, demos dizer, então, que as pêssankas
como a alimentação, as canções, o uso são “ovos escritos” ou “poemas ima-
de trajes típicos em comemorações, a géticos”. Cada traço, figura e cor das
língua (hoje fluente apenas entre os pêssankas tem um significado especial,
mais velhos), os bordados e, principal- sendo que alguns esão presentes em
69 mente, os rituais religiosos ligados ao toda a Ucrânia. [37]

[37] Galinhas penduradas

As galinhas têm a casa própria delas, inclusive a casa delas


chama atenção porque, agora, recente, a casa delas está no
[27] fundo. Elas mesmas estão aí penduradas e trepadas nos ga-
lhos de pau. Eu ajeitei até uma maromba, mas
Tempo perdido... mesmo assim não foi necessário. [107]

Certa vez fiz um alguidar grande, aí na hora de queimar, Douglas Sousa da Silva
quebrou tudo. Espocava tanto que parecia um foguete, pois Estudante, Centro do Aritapera

eu tinha feito com o cauixi e não com caripé. Foi só tempo


perdido. [107]
Laurivaldo Campos da Silva (80 anos)
Centro do Aritapera [26]

:: Quem, junto ao poço, sabe ter paciência, um dia matará sua sede (provérbio senegalês)
processo de produção da cuia

Meu trabalho é assim: eu pego a cuia, serro, aí eu tiro o bucho e ponho ela um dia
pra secar. Então eu coloco pra cozinhar, depois pra raspar dentro e fora e deixo secar
novamente. Com uns quatro ou cinco dias, quando ela está bem sequinha, aí eu co-
meço a passar a tinta de axuazeiro. Eu passo a tinta três ou quatro vezes; só paro de
passar quando ela fica bem vermelhinha.
[35]

Então eu ponho pra secar e, quando ela tá bem sequinha, eu limpo o chão, semeio a
O uará
cinza e espirro o material, não pode dizer, né? Espirro, ensopo bem a cinza, aí venho O uará é uma casa de um tipo de cupim, que
com um pedaço de pano grosso, ensopo de novo com o material, espremo e coloco tem por nome uará. Ele faz a casa de terra,
em cima da cuia. Quando é no outro dia de manhã, que eu vou ver, ela está brilhando umas casas grandes que servem bem para fa-
que é uma beleza! [107] zer a maromba. [107] 68
Xerondina Amir Pereira
Pariçó, Monte Alegre Enseada do Aritapera

a associação: o que mudou na vida das artesãs

A compra do artesanato era pouca. um tipo de fibra que era comerciali-


As pessoas tinham dificuldade na ven- zado, e, com isso, sustentavam suas
da: tinham que andar um pouco, car- famílias. Hoje, por conta das cheias
regar o artesanato em sacas, colocar serem muito grandes, as pessoas fo-
na cabeça, ir pra beira do Amazonas ram ficando cansadas. Assim, já não
e, de lá, viajar pra Santarém pra que se planta mais a juta, que até mesmo
fosse vendido o artesanato. Com a perdeu o valor, e o artesanato melho-
Associação que fundamos, agora fa- rou o valor. Hoje em dia, todo mundo
cilitou mais a venda dos nossos pro- vende o artesanato. [107]
dutos. Antes, antigamente as pesso-
Raimunda
[67] as também plantavam a juta, que é Enseada do Aritapera

:: Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende (Leonardo da Vinci)
memórias das brincadeiras de criança

A brincadeira de casinha e de boneca era assim: a gente fazia de roda era assim: a gente juntava várias meninas e fazia uma
as nossas casinhas no chão, colocava umas tábuas, fazia parede roda pegando uma na mão da outra. Depois começava a ro-
de saco plástico e colocava os poucos brinquedos que a gente dar e a cantar umas musiquinhas que agora eu não lembro. As
tinha lá dentro. Aí a gente levava nossas bonecas e quando não crianças de hoje já não brincam como antigamente. Agora é
tinha boneca a gente brincava com garrafa, feito filho. Então a mais televisão, rádio, joguinho, festas e outras coisas mais que
gente brincava de comadre, uma ia visitar a outra. Além disso, hoje já existem. [107]
Nilza Correa Sousa
eu também brincava de roda, fazia brinquedo de barro, como Lavradora, Carapanatuba
panelinha, potinho, frigideira, alguidarinha, etc. A brincadeira Desenhos de Maria Lucinelma Pereira

67 O ataque das cabas


Um dia eu e minha vizinha saímos para
tirar lenha. Chegando próximo da mata
encontramos logo um pau bom de lenha
e eu comecei a cortar. Dando os primeiros
golpes, algumas cabas começaram a voar
ao nosso redor, mas eu pensava que fos-
se outro tipo de caba e continuei a cortar.
Quanto mais eu cortava, mais elas se as-
sanhavam. Nesse momento foi que eu vi
que era caba África, então, para não sair-
mos inchadas, viemos pra casa sem trazer
nenhum pedaço de lenha. [107]
Ana Luzia Silva
Centro do Aritapera
[59]

:: Quem queimou a língua nunca esquece de soprar a sopa (provérbio alemão)


MArAMbIré

O marambiré é festejado na Vila do Qui- em 17 de dezembro, e termina no primeiro


lombo de Pacoval, no bairro Loanda, na Vila dia de Natal. O segundo ciclo começa em
[113] Cuipéua, na Vila Apolinário e em Curumu, 31 de dezembro e vai até a festa dos San-
e em outras localidades. tos Reis. O último ciclo acontece no dia 20
A colônia de
de janeiro, dia da festa de São Benedito, o
pescadores É uma dança com ritmos bem marcados e santo padroeiro.
Eu sou associado à Z-20. que representa um cortejo de reis negros. A
Nós, sócios, temos vários dança reflete a origem africana do povoado, O grupo de dançarinos é composto por de-
benefícios. Mas só que eu que se estabeleceu com escravos foragidos zoito varões primogênitos, um contrames-
não tenho utilizado, graças das fazendas e das senzalas de Santarém tre, sete mulheres auxiliares, sete tocado-
a Deus! Por exemplo, se e Óbidos, onde puderam desenvolver toda res, além do Rei e da Rainha do Congo. Na 66
você for ferrado por uma a cultura originária da Mãe África. Inicia-se dança, Rei e Rainha são considerados “enti-
arraia ou se você pegar um o primeiro ciclo da festa com uma novena, dade una e absoluta”. [14]
golpe e adoecer, você tem
direito de receber um bene-
fício. Para mim não foi pre-
ciso ainda e espero em Deus Cauixi
que não seja preciso! Mas,
sendo sócio, você tem seu ou caripé?
direito de chegar lá e exigir
Quando não é o cauixi é o caripé. O caui-
seu benefício da entidade
xi é aquela cabecinha que a gente tira pelo
que é a Z-20. E tem também
gapó, e o caripé é da terra firme, é a casca
o seguro quando os peixes
do pau, do caripezeiro. A gente queima e
estão no defeso. [107]
soca pra coar e tirar aquele polvilho. [107]
Antonio Jacinto Ferreira da Costa [84]
Ana Oliveira
Pescador, Surubim-Açu Artesã de barro, Centro do Aritapera

:: Há uma primavera em cada vida. É preciso cantá-la assim florida. Que Deus nos deu voz foi pra cantar (Florbela Espanca)
as danças de antes
e as de hoje
A valsa é uma dança lenta, em que o casal dança só
com o toque da música; e o xote é uma dança em
que dança o casal e é mais agitado que a valsa. Na
maioria das músicas de hoje tem a voz da pessoa. Antiga-
mente, tinha o lundu, a dança do baião, a desfeiteira, e a
dança era mais no toque, não tinha a voz das pessoas. Era
só o toque dos instrumentos. Os senhores, os que tinham
os instrumentos, faziam essas danças na casa de qualquer
pessoa que quisesse. Era o clarinete, o saxofone, a flauta, o
cavaquinho, o acordeão, o violão, o pandeiro, etc. A quadri-
[71]

65 lha, hoje ainda se dança; só que não é animada como antes.


Era muito bom. ganvié – A vila construída
Hoje, as bandas já possuem as vozes das pessoas. Os instru-
sobre palafitas
mentos são o teclado, a guitarra, a bateria, percussão, trom- Ganvié é uma vila localizada sobre o Lago Nokoué, no Benin (África). A his-
bone, trompete, violão, contra- tória dessa construção começou no século XVIII, quando uma tribo pacífica
baixo. Em algumas bandas, o chamada Tofinu, cansada de correr da tribo negreira de Dom Homey, deci-
saxofone são as pessoas. diu construir uma casa no Lago Nokoué. A tribo de Dom Homey acreditava
que um demônio terrível vivia no lago e os seus guerreiros implacáveis não
Antes os instrumentos funcio- ousavam pôr os pés em suas águas. Os Tofinu tinham finalmente encon-
navam só com a força humana, trado a sua paz.
e hoje é também com a forca
humana mas, se não tiver a for- Ganvié tem atualmente uma população de 30 mil habitantes, todos vivendo
ça elétrica, não tem festa. [107] em casas de bambu construídas sobre palafitas. Mover-se em torno da vila
só é possível em pirogas. Esta aldeia africana é única e sustentável, raramen-
Maria da Conceição Caldeira
Artesã e pescadora, Carapanatuba te eles vão à terra para vender o seu peixe. [71]
[5]

:: Quando um não quer, dois não brigam


DEsfEITEIrA, bOI E Dica de saúde
pAsTOrInhA
Era assim: tinha a valsa, tinha o bolero, o samba, a marcha e, receitas para
também, o xote, o merengue, e o mais não me lembro. Havia hepatite e azia
também a desfeiteira: a música era parada, em determinado
momento, para que o casal que tivesse dançando colocasse Em algumas regiões, o chá
um verso. Para entender melhor: o homem colocava um ver- do ouriço da castanha é
so pra mulher e vice-versa. Em junho, havia brincadeira nas considerado um ótimo re-
festas juninas, como a dança do boi, a pastorinha. [107] médio para hepatite, ane-
mia e problemas intestinais.
Maria Lucinelma Pereira
Catequista, Enseada do Aritapera Limpe o ouriço e deixe-o
descansar na água por duas
a três horas, ou até obter
64
cor de sangue. Tome o chá
diariamente. Além disso, as
mulheres grávidas com mui-
matando lagartas ta azia dizem que comendo
1 a 2 castanhas por dia o
Fazendo as flechas Aconteceu comigo uns dois anos atrás. Minha plantação de
mal estar desaparece. [120]
feijão estava muito bonita, era a minha alegria. Certo dia,
Sou eu mesmo que faço minhas fle- ao nascer o sol, eu fui visitá-la e, para meu azar, olha que
chas. A mão de obra é minha mes- pena!, as lagartas estavam devorando tudo. Então eu pensei:
mo. Mas uma flecha, para deixar ela “o que fazer?” Decidi: “venho todos os dias matá-las!” Foi o
completa, levo uma hora. Aí ela fica que fiz e deu certo. Matei tanto, até elas deixarem de comer
no jeito. Minha flecha tem o com- a plantação. Novamente as plantas se desenvolveram e me
primento de oito palmos e o arco é deram uma boa colheita. Mas deu também bastante traba-
de uma braça e meia. [107] lho e por isso é que ficou marcado para mim. [107]
Antonio Jacinto Ferreira da Costa Adisantos Pereira Caldeira (31 anos)
Pescador, Surubim-Açu Agricultor e pescador, Carapanatuba

:: O único homem que não erra é aquele que nunca faz nada (Roosevelt)
.
A casa das galinhas
Alterações Temos umas duas cabeças de gado e, na enchente, meu pai
leva pra terra firme. Bem, essa terra firme é um local distante
naturais do clima
daqui, e pra chegar pra lá é necessário o transporte de bar-
Milhares de anos podem co. Chegando lá, o gado é desembarcado e depois vamos
passar até que a Terra es- levando ele, já por terra, a toque de cavalo. Até chegar lá em
quente ou esfrie apenas cima, no local onde o animal vai ficar no campo alugado, é
um grau. E isso, de fato, bem distante da margem do rio. Por isso é que é terra onde
acontece de forma natural. a água não invade, nem no período da seca, nem da cheia.
Além dos recorrentes ciclos As galinhas têm a casa própria delas. Inclusive a casa delas
de eras glaciais, o clima da
Dica de saúde
chama a atenção porque, agora mesmo, recente, estão no
Terra pode se modificar por fundo, e elas estão aí penduradas, trepadas nos galhos do
63
causa da atividade vulcâni- pau. Já ajeitei até uma maromba pra elas, mas, mesmo as- O amor-crescido faz o chá que é
ca, das diferenças na vida sim, ainda não foi necessário usar. bom para o fígado e o sumo serve
vegetal que cobre a maior Maromba é um assoalho improvisado que a gente faz quan- pra baque. Japana é bom pra diar-
parte do planeta, das mu- do o assoalho real mesmo está no fundo. Aí, a gente já im- reia e para ameba. Babosa é bom
danças na quantidade de provisa: joga tábua em cima pra formar um novo assoalho. pra caspa. [107]
radiação que o Sol emite e Só quando a água descer e o assoalho definitivo aparecer é
Ednalda de Sousa da Silva
das mudanças naturais na que a gente tira a maromba. É uma espécie de assoalho pré- Centro do Aritapera
química da atmosfera. [74] moldado. [107]
Douglas Sousa da Silva
Estudante, Centro do Aritapera

[27]

:: O homem é como uma bicicleta: parou, caiu (Câmara Cascudo)


construção das casas e mudança no tempo
As casas eram feitas a chão. Suas paredes eram de barro, e nidade para realizar o trabalho. O material usado para mon-
cobertas de palha. Na sua maioria, eram de madeira comum tarem as casas era o pau comum, o barro e a palha.
e armadas de um modo que os paus não eram pregados um Elas eram grandes, feitas com tacaniça: os paus que arriam
no outro, apenas embutidos. Os encaixes eram feitos por car- da cumeeira, a parte central da casa. Quase sempre do mes-
pinteiros que usavam como ferramenta somente um serrote, mo modelo, porque era o modelo que tínhamos o costume
um martelo e um terçado. de fazer naquela época.
Para fazer a cobertura e a parede dessas casas eram realiza- As mudanças que houve foram para melhor, porque naquela
dos os puxiruns, isto é, reuniam-se vários homens da comu- época não tínhamos condições financeiras para fazer uma casa
como as de hoje. E até mesmo por-
que as cheias não eram grandes
como hoje, e havia mais possibili- 62
dade das casas serem de barro.
Minha casa está dividida em um
quarto, uma cozinha e banheiro,
pois ainda está por acabar. Anti-
gamente as casas tinham divisões
somente da cozinha para dentro,
onde era somente um salão ou, às
vezes, era dividida em dois quartos
e a cozinha. [107]
Pedro Maduro Sousa
Centro do Aritapera

[13]

:: É mais fácil acender uma vela que amaldiçoar a escuridão


A fOrçA DA multimisturA
Uma criança que, na época, devia ter seus quatro anos de
idade sofria de um tipo raro de desnutrição. Tinha edemas
nas faces, nas mãos, nos pés e na barriga. Em conversa com
sua mãe, percebi que o problema era alimentar. Propus à
mãe que seguisse um rígido calendário de refeições com ali-
mentos alternativos existentes na própria comunidade, como
verduras, leite, ovos, frutas e a multimistura, que consiste
61 num preparo feito de farelo de trigo e de milho, folha de
macaxeira e casca de ovos. Essa mistura, torrada e triturada,
transforma-se em pó e, a cada refeição da criança, é acres-
centado um pouquinho.

A cada 20 dias a criança retornava ao posto. No início do tra- [26]

tamento, teve uma baixa de peso, por causa do edema que


desapareceu. Depois, ganhou peso e, com quatro meses de
tratamento, ela estava sadia, forte e com peso normal. Hoje, Os baldes de cuias
essa criança é um rapaz adulto e saudável. [107]
Antigamente eram usados somente baldes de cuias. Eram feitos assim: pri-
Francisca Sousa Rego meiramente se apanhavam as cuias, e em seguida, elas eram furadas com
Auxiliar de enfermagem, Centro do Aritapera
um ferro chamado compasso. Compasso é um ferro dobrado ao meio e tem
duas pontas finas. Essas pontas têm a facilidade de fazer o buraco na cuia
do tamanho que se quiser. [107]
Pedro Maduro Sousa
Centro do Aritapera

:: O amor é como a lua, se não cresce, mingua (provérbio chinês)


Telhados o atulho

É muito difícil no tempo da cheia, porque tem que fazer uns chiqueiros altos
As casas onde a gente dorme de noite, para os porcos, e um atulho pras galinhas, para elas poderem passar a enchen-
como a gente diz, não são mais cobertas te. O atulho é feito assim: vai colocando paus ao redor de uma árvore ou em
de palha, mas têm cozinha coberta de outro local, e depois põe a premembeca, que é um capim, por cima dos paus.
palha. Acho que é porque acham a palha As galinhas até gostam de comer esse capim. É assim o atulho.
feia ou por pavulagem, porque, antiga- Mesmo assim, pode acontecer do sucuri pegar as galinhas, e
mente, eram todas cobertas com palha e quando a gente não vai ver, ele levou a galinha. [107]
todos moravam felizes nelas. A palha vem Mariângela Pereira Ferreira
[27] Dona de casa, Enseada do Aritapera
da terra firme, principalmente das comu-
nidades do Arapiuns. Um homem chama-
do Piota vem trazer para vender pra nós. 60
Desenho de Marlisson Pereira

Sempre digo aos meus filhos que a telha


de Eternit causa doença, como asma e
brotoeja. Digo porque, quando está muito
quente, cai um sujo da telha. Mas, quan-
do chove, sai um cheiro que meio que su-
foca. Antes, não tinha tanta gente sofren-
do com asma como agora, porque a palha
era fresca.

Também, antes tinha menos gente para


poluir o nosso rio com imundícies. E ago-
ra, é lixo pra todo lado. [107]

Maria José Pereira


Artesã e aposentada, Enseada do Aritapera [106]

:: Sol e chuva, vou sair de guarda-chuva


produção da
farinha
No tempo da colheita a gente vai
colher mandioca. A gente arranca
a mandioca, coloca uma parte de
molho e deixa essa mistura. A ou-
tra parte a gente raspa, rala e tira a
tapioca. O melhor é trabalhar com
Lago Titicaca, Peru

motor ou rodete, mas também tem


o processo manual, que é o ralo.
Depois a gente vai pra que tá na
[86] água, tira, descasca e coloca na va-
59 silha para misturar com a outra. Em
NAsce O AmAzONAs seguida ela vai pra fase de espre-
Thiago de Mello meção. Espreme no tipiti, peneira e
Da altura extrema da cordilheira, onde as neves são eternas, a água se desprende e traça um coloca no forno. Então a gente co-
risco trêmulo na pele antiga da pedra: o Amazonas acaba de nascer. A cada instante ele nas- zinha a massa e depois vai pra fase
ce. Descende devagar, sinuosa luz, para crescer no chão. Varando verdes, inventa seu cami- secativa. Aí torra ela. [107]
nho e se acrescenta. Águas subterrâneas afloram para se abraçarem com a água que desceu Hilário Maciel (43 anos)
Enseada do Aritapera
dos Andes. Do bojo das nuvens alvíssimas, tangidas pelo vento, desce a água celeste. Reuni-
das, elas avançam, multiplicadas em infinitos caminhos, banhando a imensa planície cortada
pela linha do Equador. Planície que ocupa a vigésima parte da superfície deste lugar chamado
Terra, onde moramos. Verde universo equatorial, que abrange nove países da América Latina
e ocupa quase a metade do chão brasileiro. Aqui está a maior reserva mundial de água doce,
ramificado em milhares de caminhos de água, mágico labirinto que de si mesmo se recria
incessante, atravessando milhões de quilômetros quadrados de território verde...
É a Amazônia,
A pátria da água. [8] [5]

:: Nas árvores mais frondosas é que se aninham os passarinhos (provérbio africano)


lago Titicaca alimenta O argolão do ouro
300 mil índios
O lago Titicaca, situado a mais de 3.800 Antigamente, as pessoas diziam que na nossa comunidade o que existia era só
metros de altura, no planalto que se um mato muito grande. Realmente, tinha muitos cacaueiros, e se falava que
estende pela Bolívia e Peru, afora ser o no meio dessa mata tinha muito ouro. Só que as pessoas tinham medo de tirar.
lago navegável mais alto do mundo, é
também um dos mais ricos em peixes. Uma vez, o compadre Zezé, que já morreu, vinha de noite andando por debaixo da
Calcula-se em 300 mil o número de ín- mata. De repente, ele viu um argolão enterrado e disse que era ouro que tinha em-
dios que se alimentam dos peixes captu- baixo daquele argolão. Então ele foi e convidou um parceiro para irem lá tirar. Mas
rados em suas águas. [41] só que quando chegaram, não viram mais nada no lugar, só as folhas das árvores.

As pessoas falavam que eles não acharam nada porque o ouro era só para o
compadre tirar. E, para ele voltar com o parceiro e tirar o ouro, antes ele tinha
que furar o dedo e pingar o sangue dele lá, que era para deixar marcado 58
o lugar. Ele não fez isso.

Contam ainda que onde tivesse ouro aparecia um assobio e também


chamas de fogo. Aí o povo tinha medo. Mas, agora, tudo mudou. A
comunidade é mais habitada e não tem mais aquela grande mata
como tinha antigamente.

Diziam também que quando a pessoa tirava o ouro, depois ela


não tinha mais sossego. Via assombrações, tinha que se mudar
para bem longe e sua vida tinha curto prazo. O povo ficava com
medo e não queria deixar a vida que tinha. Aí não tirava o ouro.

A gente ouvia essas histórias de nossos pais, parentes e outras pesso-


as que aqui viviam. [107]
Laurivaldo Campos da Silva (81 anos)
Lavrador, Carapanatuba

:: Nunca conseguirás convencer um rato de que um gato traz boa sorte (Clarice Lispector)
História de alenquer

A história da fundação de Alenquer começa em 1729, com margem esquerda do rio Surubiú e formaram uma aldeia à
a chegada dos Capuchos da Piedade, vindos de Portugal qual deram o mesmo nome do rio.
com a missão de catequizar os índios que habitavam aque- Só em 1758, com a visita do governador-capitão do Pará e
les sertões. Instalaram-se à margem direita do rio Curuá e Rio Negro, Francisco Xavier Mendonça Furtado, que a al-
construíram uma aldeia à qual deram o nome de Arcozelos. deia de Surubiú foi elevada à categoria de vila, recebendo o
Adiante, por conta das epidemias e dificuldades de comu- nome de Alenquer.
nicação, os catequistas resolveram mudar a sede para lugar Em 1881, durante o governo de Manoel Pinto de Sousa Dan-
"mais farto e sadio". Com ajuda dos índios, se situaram à tas Filho, Alenquer foi promovida a cidade pela Lei nº 1050. [97]

57

[17]

Por que eles não se abraçam?


Fábio Marques Aprile e Manoel Bentes
Por que, no encontro de suas águas, os rios Tapajós e Amazonas, bem
como do Negro e Solimões não se misturam? Isso ocorre devido prin-
cipalmente às diferentes propriedades físicas, em especial à tempera-
tura e concentração de sedimentos, que fazem com que estas águas
tenham densidades diferentes.
ICTA – Instituto de Ciência e Tecnologia das Águas: Laboratório de Biologia
Ambiental. Universidade Federal do Oeste do Pará

:: O rei de um homem é a sua alma (provérbio do Burundi)


uma História de monte rECEITA
alegre e das Cuias
galinha caipira
O primeiro nome de Monte Alegre era Gurupatuba,
que era o nome dos índios que viviam por aqui. Então, Essa galinha é bem fá-
quando Mendonça Furtado chegou, nesse mesmo cil até. É um prato bem
dia, baixou um decreto transformando Gurupa- constante que as pes-
tuba em Monte Alegre. Os primeiros habitan- soas costumam comer
tes daqui são considerados os primeiros habi- aqui no interior. Ga-
tantes da América. O que se sabe é que essa linha caipira é uma
região foi habitada de 10 mil até 12 mil anos ave nativa da comuni-
atrás. Este homem, dessa época, que viveu dade. Então, em todas
aqui, era chamado paleoíndio. Agora se pesquisa as casas, as famílias criam.
este homem do período Paleoíndio pra saber como ele 56
vivia, o que comia, como era a época dele, como era o É simples: mata a galinha,
clima, qual era a organização familiar. [107] pela, ou seja, tira as penas,
Nelsy Nelf Sadeck
depois corta, lava bacana e
Engenheiro civil, acompanhou a arqueóloga Anna Roosevelt
em pesquisas e escavações em Monte Alegre tempera. Põe ela pra refogar
e, em seguida, acrescenta
Pinta-cuias mais um pouquinho d’água.
A produção de cuias já foi tão importante em Monte Alegre que, até Coloca pra ferver até amole-
hoje, os nascidos nessa localidade são chamados de pinta-cuias. O escri- cer e, quando está mole, às
tor monte-alegrense Cícero Nobre de Almeida esclarece que essa alcunha vezes, ainda põe uma ervi-
vem dos tempos em que as cuias pintadas eram feitas e usadas lha, uma batata, pra ficar as-
pelos índios Aparaís ou Urucuiunas, pertencentes à nação Ca- sim aquele molho grosso. E,
raíba, que habitavam o território do município. Segundo ele, o depois, é só saborear. É uma
segredo do tingimento das cuias, que era guardado pela tribo, [76] delícia! [107]
foi ensinado a uma moça negra em agradecimento por ela ter cuidado de Douglas Sousa da Silva
um indígena ferido em acidente na mata. [6] Estudante, Centro do Aritapera

:: Viver é desenhar sem borracha (Millôr Fernandes)


Distrito do Aritapera ou a morada de Ari

“A comunidade Aritapera deu-se início em homenagem a um de terras que inundam durante as cheias de inverno, quando
índio chamado Ari que morava em uma maloca chamada Ta- as árvores e construções “vão pro fundo” e os campos ala-
pera e assim foi fundada em 1821” (relato colhido na Oficina gam, misturando-se com o rio e obrigando a população local
de Reconstrução da Identidade Étnico-Cultural dos Ribeirinhos a se deslocar quase exclusivamente por meio de canoas e ra-
da Amazônica, promovida pelo grupo Consciência Indígena). betas mesmo entre casas vizinhas. Muitas delas, aliás, ficam
a poucos centímetros de ter suas palafitas completamente
O Aritapera compõe-se de um conjunto de comunidades situ- encobertas pelas águas barrentas do rio. Pode-se até pescar
adas em áreas de várzeas ao longo do rio Amazonas. Trata-se sentado no assoalho de casa. [35]

Desejar ser
55
A ciência pode classificar e nomear os órgãos
de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
TrAvA-línguA
A ciência não pode calcular quantos cavalos
de força existem Lá em cima daquela serra
nos encantos de um sabiá. Tem uma arara loura.
Quem acumula muita informação perde o Aquela arara loura falará?
condão de advinhar: divinare. Falarás, arara loura?
Os sabiás divinam. [20]
Manoel de Barros

[56]

:: Não pode saber o que é doce quem nunca experimentou o amargo (anônimo)
Carapanatuba O sucuriju barrigudo

Antigamente havia Um dia, fui pescar e encontrei um su-


várias famílias. Es- curiju. Ele havia comido um homem,
sas famílias viviam um porco, um banco e um cacho de
fazendo seus traba- banana. Aí, continuei pescando e ma-
lhos de agricultura, tei esse sucuriju. Então, convidei três
com banana, cacau; parceiros para irmos buscar o sucuriju.
riscando seringueira Ele, o sucuriju, vinha muito barrigudo,
para fazer sernambi e ninguém sabia o que ele tinha. Che-
(látex); plantando [2] gando em casa, fomos partir o bucho
juta, roça, manga e do bicho e encontramos: um homem
pescando somente sentado no banco, comendo banana, 54
para alimentação. A e jogando as cascas pro porco. [107]
partir de 1953 hou-
Rogério Lopes Marciel
ve a primeira enchente que inundou as terras; teve espaço de mais 17 anos e as Pescador e agricultor, Enseada do Aritapera
enchentes voltaram a inundar as terras e as plantações acabaram, ficando mais
difícil. Continuou com outras plantações temporárias, como plantio de feijão,
milho, e a continuação do artesanato de cuias já existente. [35]

A arte da cuia
Eu preparo a cuia do começo ao fim. ros, garça, gavião no galho do pau,
Eu sei florar com faca, eu sei florar com qualquer bicho. Tudo eu desenho. [107]
compasso. Tudo riscadinho! Eu mes- [35]
Maria Domingas dos Santos Menezes
mo faço os desenhos. Desenho pássa- Artesã e agricultora, Surubim-Açu

:: Nasci com uma rosa na mão; nunca morreu, nunca murchou (Helena Meirelles, violeira)

Você também pode gostar