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MAURO SCHIAVI

Manual de DIREITO
PROCESSUAL
do TRABALHO
CONFORME
• Lei14.112/2020 – Alteração da Lei de Falências
• Lei 14.020/2020 – Institui o Programa Emergencial de Manutenção do
Emprego e da Renda em razão da pandemia de covid-19
• Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em matéria trabalhista

18ª
• Lei 14.195/2021 - Institui a citação por meio eletrônico e trouxe alte-
rações na prescrição intercorrente prevista no Código de Processo Civil
• Resolução354/ 2020 do CNJ – Audiências Telepresenciais
• Resolução 313/2021 do CSJT – Dispõe sobre o procedimento a ser edição
observado na gravação de audiências na Justiça do Trabalho
• ADI5766/STF – Gratuidade da Justiça revista, atualizada
e ampliada
• ADC 58/STF – Correção monetária de débitos trabalhistas
• DECRETO10.854/ 2021 – Institui o Programa Permanente de Conso-
lidação, Simplifi cação e Desburocratização de Normas Trabalhistas
Infralegais

2022
Capítulo XII
Da Audiência Trabalhista

1. CONCEITO
Ensinam Márcio Túlio Viana e Luiz Otávio Linhares Renault1:

“A palavra ‘audiência’ vem de audire, e literalmente significa ‘coisas (que são)


ouvidas’. De um modo geral, serve para que as autoridades possam ouvir
os que querem lhes falar. Em Roma, as audiências tinham regras variadas,
segundo o status das pessoas. Com o tempo se tornaram cada vez mais so-
lenes e minuciosas, com porteiros, criados de câmara, nomenclatores para
identificar os presentes e velarii para correr as cortinas.”2

Segundo Athos Gusmão Carneiro3:

“Na audiência, segundo a definição de Eliézer, se instrui, discute e decide a


causa. Sem dúvida, em audiência se instrui a causa, no caso de recepção de
prova oralmente produzida, sob os princípios da imediação e concentração; já
nem sempre se discute a causa em audiência, em face da permissão da subs-
tituição do debate oral pelas razões finais escritas; e a prolação de sentença, o
comando decisório, poderá ser realizada após o encerramento da audiência. Em
audiência, igualmente, a segunda tentativa de conciliação, de autocomposição
da lide, atuando o julgador como qualificado mediador entre os litigantes.”

A audiência trabalhista é um ato formal, solene, que conta com o compare-


cimento das partes, advogados, funcionários da Justiça e do Juiz do Trabalho, em

1. Manual da audiência trabalhista. São Paulo: LTr, 1997. p. 11.


2. Segundo Francisco Antonio de Oliveira, “o termo ‘audiência’ (audientia) provém do verbo audire, cujo signi-
ficado é ouvir, atender a quem deve, ou quer e vai falar. Define-se como a sessão pública que o magistrado
preside em dias previamente designados, para ouvir as partes, por si e por seus procuradores, bem como para
realização de certas formalidades do processo que a lei exigia fossem praticadas em audiência”(Manual das
audiências trabalhistas. 2. ed. São Paulo: RT, 1999. p. 18).
3. CARNEIRO, Athos Gusmão. Audiência de instrução e julgamento e audiências preliminares. 12. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2005. p. 13.
616 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

que são realizadas as tentativas de conciliação, o reclamado poderá apresentar sua


resposta (contestação, exceção e reconvenção), se ouvem as partes e testemunhas
e se profere a decisão.
O Processo do Trabalho, na expressão popular, é um processo de audiência,
pois os atos principais da fase de conhecimento se desenvolvem neste ato. Além
disso, a lei determina que todos os atores principais do processo estejam presentes
na audiência. De outro lado, o Juiz do Trabalho, como regra geral, toma contato
com a inicial pela primeira vez na audiência e também com a defesa, que é apre-
sentada em audiência (escrita ou verbal), tenta a conciliação, instrui e julga a causa.
Na audiência, quase todos os atos da fase de conhecimento são praticados, quais sejam:
a) o juiz toma contado com o processo (inicial, defesa e documentos);
b) são realizadas as tentativas de conciliação;
c) o processo é saneado, suprindo-se eventuais nulidades;
d) a causa é discutida pelas partes, juízes e advogados;
e) são fixados os pontos controvertidos e as provas a serem produzidas;
f) posteriormente, haverá a instrução da causa com oitiva de partes e
testemunhas;
g) as partes, após a prova, poderão aduzir as razões finais;
h) finalmente, o processo será sentenciado.

Apesar de algumas vicissitudes que o procedimento de audiência pode causar,


como atrasos constantes, desgaste das partes e do magistrado, grande deslocamento
de partes e advogado nos fóruns, os benefícios da audiência trabalhista são visíveis
e contudentes, quais sejam:
a) torna o processo do trabalho mais democrático e humanizado;
b) economia dos atos processuais pela concentração deles na audiência una;
c) maior potencialidade de obtenção da conciliação;
d) maior publicidade do procedimento;
e) participação mais ativa das partes e advogado, tornando o contraditório
mais vísivel e efetivo;
f) maior interação do juiz com as partes e advogados;
g) melhor conhecimento da causa por todos que nela atuam;
h) maior efetividade na colheita e valoração da prova.

Como nos traz Carlos Henrique da Silva Zangrando4, “no Brasil, o CPC de
1939 substituiu as antigas concepções, e organizou o Direito Processual brasileiro,

4. ZANGRANDO, Carlos Henrique da Silva. Processo do trabalho: processo de conhecimento. vol II. São Paulo:
LTr, 2009. p. 1057.
Cap. XII • DA AUDIÊNCIA TRABALHISTA 617

fazendo da audiência um ato processual ordenado e importantíssimo. A CLT im-


plementou enorme importância à audiência, pois que no Processo do Trabalho
esse é um ato processual de suprema importância. De certo modo, pode-se afirmar
que a audiência é uma das atividades mais antigas de toda a história do Direito
Processual. Muito antes de se cogitar sobre actio, ‘processo’ ou ‘procedimento’, já
havia se estabelecido como noção basilar a imperiosa necessidade recíproca de se
permitir a todos os envolvidos no litígio, partes e julgadores, a possibilidade de
falar e ouvir sobre as questões da causa. A audiência, no Estado Democrático de
Direito, se constitui, assim, em uma das mais importantes garantias fundamentais,
sendo parte integrante do devido processo legal.”
Distingue-se a audiência da sessão. Sessão é a realização de várias audiências
ou julgamentos, em que são decididos vários processos5.
Como destaca Erotilde Ribeiro S. Minharro6:

“Audiência é a sessão solene, a princípio pública, na qual o juiz ouvirá as


partes, as testemunhas ou os peritos e praticará todos os atos destinados a
solucionar o feito, solução esta que pode ser negociada – conciliação – ou
imposta – julgamento do feito.”

2.  PRINCÍPIOS DA AUDIÊNCIA TRABALHISTA

A audiência trabalhista tem princípios próprios. São eles:

2.1. Presença obrigatória das partes


Já é frequente na doutrina se dizer que o Processo do Trabalho é um processo
de partes, diante da importância do comparecimento destas para o Processo.
A CLT exige o comparecimento pessoal das partes em audiência (arts. 843
e 844 da CLT), somente admitindo a ausência em casos específicos e justificados.
Além disso, se o empregador for se fazer substituir por preposto, este deve ter co-
nhecimento dos fatos (art. 843, § 1º, da CLT).
Com a presença das partes em audiência, a potencialidade da conciliação é
mais elevada, há possibilidade de ampla discussão da causa de forma democrática,
depoimentos pessoais e maior possibilidade de compreensão da causa pelo Juiz do
Trabalho. Além disso, ninguém melhor que as próprias partes para esclarecer os
fatos controvertidos em juízo.

5. MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 264.
6. MINHARRO, Erotilde Ribeiro S. In: CLT interpretada: artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. Organizador:
Costa Machado. Coordenador: Domingos Sávio Zainaghi. São Paulo: Manole, 2007. p. 767.
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2.2. Concentração dos atos processuais numa única audiência


(audiência una)
Como destaca José Augusto Rodrigues Pinto7:

“A audiência, por seu lado, é o ato unitário e contínuo determinado pelo


Juízo processante para conhecer, instruir e julgar dissídio individual de sua
competência. Logo, uma vez aberta, não se interrompe, devendo prosseguir
até o desfecho do processo, ocupando tantas datas sucessivas quantas sejam
necessárias. É possível suspendê-la, diante da ocorrência de fatores diversos,
como a falta material de tempo para concluí-la, a realização de diligências, a
realizar fora de seu recinto, a exemplo da prova técnica etc. Mas, diante da
ideia de unidade que lhe é adequada, a audiência só tem dois extremos, de
abertura e de encerramento, o que subtrai seu fracionamento de qualquer
significado de pluralidade em relação a um mesmo dissídio.”

Pela sistemática da CLT, a audiência é una ou única, na qual o Juiz do Trabalho


toma conhecimento da inicial, faz a proposta de conciliação, o reclamado apresenta
a defesa, são produzidas as provas e, em seguida, é prolatada a sentença.
Não obstante, se não for possível concluir a audiência no mesmo dia, a CLT
possibilita que ela seja adiada para data posterior. Nesse sentido, o art. 849 da CLT,
in verbis:

“A audiência de julgamento será contínua; mas, se não for possível, por


motivo de força maior, concluí-la no mesmo dia, o juiz ou presidente mar-
cará a sua continuação para a primeira desimpedida, independentemente
de nova notificação.”

Embora o referido dispositivo se refira à força maior, a jurisprudência e a praxe


trabalhista têm flexibilizado a interpretação do art. 849 consolidado para possibilitar
que o juiz adie as audiências ou até as fracione em inicial, instrução e julgamento,
quando o número de processos na Vara impeça a realização de audiências unas
ou até mesmo quando a matéria for complexa e exija um estudo mais apurado do
Processo.
O Juiz do Trabalho, como diretor do Processo (art. 765 da CLT), deve avaliar o
custo-benefício e, discricionariamente, decidir pela unicidade ou fracionamento das
audiências, embora seja conveniente, sempre que possível, adotar a audiência una.
Como bem advertem Francisco Ferreria Jorge Neto e Jouberto de Quadros Pessoa
Cavalcante8: “O legislador consolidado adota a audiência una, com três fases, inicial,
instrução e julgamento, como forma de valorização do procedimento oral, além do

7. RODRIGUES PINTO, José Augusto. Processo trabalhista de conhecimento. 7. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 389.
8. JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito processual do trabalho.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 605-606.
Cap. XII • DA AUDIÊNCIA TRABALHISTA 619

respeito ao princípio da concentração. Contudo, a prática indica que nem todos os


órgãos realizam a audiência una. O que se tem é a cisão da audiência em várias
distintas: a inicial, a instrução e o julgamento. A cisão da audiência não viola o texto
legal, logo, a sua ocorrência não é motivo de nulidade processual. Isso, porque: (a)
o adiamento permite ao reclamante a análise da resposta e dos documentos, o que
viabiliza, com maior objetividade, a ocorrência da conciliação, que também é um do
princípios peculiares ao processo do trabalhista (art. 764, da CLT); (b) o adiamento
não viola os direitos processuais dos litigantes, com destaque ao contraditório e
ampla defesa; (c) o não prejuízo ao reclamante na elaboração da sua estratégia de
defesa (produção de provas orais etc.). O adiamento possibilita ao reclamante ter a
noção concreta de quais são os fatos efetivamente relevantes e controvertidos e que
desafiam a realização de provas orais (relatos pessoais, testemunhais etc.).”
Nesse sentido, destaca-se a seguinte ementa:

“Audiência contínua – Previsão legal contida na CLT – Inexistência de nu-


lidade. No processo trabalhista a audiência é contínua. O art. 849 admite,
por motivo de força maior, continuação em outra data. Límpido, portanto,
que o legislador pretendeu procedimento célere e, sempre que possível,
conciso. Assim, receber defesa e ouvir as partes na mesma data é seguir a lei,
não é ofendê-la.” (TRT – 10ª R. – 2ª T. – RO n. 2241/96 – rel. Juiz Libânio
Cardoso – DJDF 10.10.97 – p. 24.111)

De outro lado, há algumas situações em que a audiência tem de ser adiada em


razão do não comparecimento de testemunha (art. 825 da CLT), para realização da
prova pericial, ou por ausência justificada das partes (arts. 843 e 844, ambos da CLT).

2.2.1. Do rito com fracionamento de audiências


Nestes tempos de pandemia, principalmente, no ano de 2020, adaptações ao
procedimento trabalhista foram necessárias. Com a suspensão dos atos presenciais,
houve a necessidade de se formular ajustes ao procedimento, aplicando-se o chamado
“rito processual emergencial trabalhista”, onde os atos postulatórios (inicial e con-
testação) são realizados antes da audiência, principalmente a defesa que está sendo
enviada por meio do Processo Judicial Eletrônico, sem necessidade de marcação de
audiência para tal finalidade. Após o reclamante se manifestar sobre a contestação,
o magistrado faz o saneamento do processo, e avalia a necessidade de audiência de
instrução por videoconferência.
No aspecto, dispõe o art. 6º do Ato n. 11 da GCGJT, DE 23 DE ABRIL DE 2020:

“Preservada a possibilidade de as partes requererem a qualquer tempo, em


conjunto (art. 190 do CPC), a realização de audiência conciliatória, fica
facultado aos juízes de primeiro grau a utilização do rito processual estabe-
lecido no artigo 335 do CPC quanto à apresentação de defesa, inclusive sob
pena de revelia, respeitado o início da contagem do prazo em 4 de maio de
620 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

2020. § 1º. Na hipótese do caput, deverá o(a) magistrado(a) possibilitar vista


à parte autora dos documentos apresentados com a(s) defesa(s), e assinalar
prazo para que as partes especifiquem as provas que pretendem produzir, sua
pertinência e finalidade, para então proferir julgamento conforme o estado do
processo ou decisão de saneamento e, se necessário, audiência de instrução.
§ 2º Os prazos processuais para apresentação de contestação, impugnação a
sentença de liquidação, embargos à execução, inclusive quando praticados
em audiência, e outros que exijam a coleta prévia de elementos de prova
somente serão suspensos se, durante a sua fluência, a parte informar ao juízo
competente a impossibilidade de prática do ato, de modo que o prazo será
considerado suspenso na data do protocolo da petição com essa informação.”

A apresentação da contestação antes da audiência no processo do trabalho


não se trata de novidade. No processo judicial eletrônico, a contestação deve ser
encaminhada, como regra, antes da audiência (art. 10 da Lei n. 11.419/06), podendo
ser protocolada no PJe até a relização da proposta conciliatória infrutífera. Nesse
sentido, dispõe o art. 22, da Resolução n. 185/17, do CSJT, in verbis:

“A contestação ou a reconvenção e seus respectivos documentos deverão ser


protocolados no PJe até a realização da proposta de conciliação infrutífera,
com a utilização de equipamento próprio, sendo automaticamente juntados,
facultada a apresentação de defesa oral, na forma do art. 847, da CLT. (Artigo
alterado pela Resolução CSJT n° 241/2019 – DeJT 6/6/2019) § 1º No expe-
diente de notificação inicial ou de citação constará recomendação para que
a contestação ou a reconvenção e os documentos que as acompanham sejam
protocolados no PJe com pelo menos 48h de antecedência da audiência. §
2º O autor poderá atribuir segredo de justiça ao processo no momento da
propositura da ação, cabendo ao magistrado, após a distribuição, decidir
sobre a manutenção ou exclusão dessa situação, nos termos do art. 189 do
CPC e art. 770, caput, da CLT. § 3º Com exceção da petição inicial, as partes
poderão atribuir sigilo às petições e documentos, nos termos do parágrafo
único do art. 773 do CPC. § 4º Com exceção da defesa, da reconvenção e
dos documentos que os acompanham, o magistrado poderá determinar a
exclusão de petições e documentos indevidamente protocolados sob sigilo,
observado o art. 15 desta Resolução. § 5º O réu poderá atribuir sigilo à con-
testação e à reconvenção, bem como aos documentos que as acompanham,
devendo o magistrado retirar o sigilo caso frustada a tentativa conciliatória.”

Nos termos do art. 847, parágrafo único, da CLT, com a redação dada pela
Lei n. 13.467/17: “A parte poderá apresentar defesa escrita pelo sistema de processo
judicial eletrônico até a audiência.” Diante da referida previsão legislativa, que está
em compasso com o art. 22 da Resolução n. 185/17 do CSJT a contestação pode
ser apresentada até o momento da audiência, inclusive após a primeira proposta
conciliatória, sendo uma regra processual protetiva em benefício do reclamado.
A tendência do procedimento trabalhista pós-pandemia será a apresentação
da defesa antes da audiência, sem prejuízo do comparecimento do reclamado em
Cap. XII • DA AUDIÊNCIA TRABALHISTA 621

audiência, com oportunidade para o reclamante de manifestação sobre ela em prazo


razoável antes da audiência. Isso propicia a implementação do contraditório pleno ao
procedimento trabalhista, com o efetivo conhecimento dos elementos da causa pelas
partes e pelo Juiz do Trabalho, maior celeridade nos autos de audiência, redução das
hipóteses de adiamento de audiência e potencialidade mais acentuada de obtenção
da conciliação. Embora se possa argumentar que, tendo o reclamante acesso à defesa
antes da audiência, poderá deixar arquivar o processo não comparecendo a audiência
e, posteriormente, alterar sua tese inicial, pensamos que no atual estágio da teoria geral
do processo e do direito constitucional processual, há mecanismos para se coibir tal
conduta (tais como as sanções por falta de boa-fé processual), pois se for franqueado
o acesso à contestação, caso o autor não compareça na audiência, o processo não será
mais arquivado, aplicando-se, no aspecto, a Súmula n. 74, do TST (confissão ficta).
Por outro lado, também é possível o fracionamento da audiência, que é una,
em três atos, que, na verdade, são três audiências, quais sejam:
a) inicial: Neste ato, as partes são qualificadas, e o magistrado faz a tentativa
de conciliação. As partes formulam seus requerimentos e o reclamado
apresenta sua resposta;
b) instrução: Neste ato, há a colheita de provas, com os depoimentos das
partes e testemunhas. Encerrada a instrução, o magistrado renovará a
proposta de conciliação e as partes apresentam suas razões finais;
c) julgamento: Neste ato, o magistrado trabalhista profere a sentença. Embora
chamada audiência de julgamento, a praxe é o magistrado proferir a sen-
tença no próprio gabinete, sem a presença das partes e depois notifica-las
do resultado do julgamento.

2.3. Publicidade
O princípio da publicidade dos atos processuais e da audiência é um manda-
mento constitucional, conforme dispõe o art. 93, IX, da CF, in verbis:

“Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fun-


damentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade
do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.”

Como destaca Cândido Rangel Dinamarco9:

“Como toda audiência, a de instrução e julgamento é sempre um ato pú-


blico, pelo simples fato de ser um ato do processo, o qual em si mesmo é

9. DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. V. III. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 633.
622 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

uma instituição de direito público. Mas ela é também pública, no sentido de


que deve ser realizada a portas abertas, com livre ingresso de quem queria
assistir a ela, ressalvados os casos de segredo de justiça e de circunstâncias
que possam conturbar os trabalhos [...].”

Desse modo, qualquer pessoa pode ingressar nos recintos da audiência e assisti-la.
Pelo presente princípio, todos têm direito de assistir às audiências trabalhistas,
bem como consultar os autos do processo. As Varas que adotam o processo judicial
eletrônico devem propiciar amplo acesso ao processo pelos advogados durante a
audiência.
Não obstante, o princípio da publicidade não é absoluto, pois a própria Consti-
tuição Federal determina que em certas hipóteses ele pode deixar de ser observado,
para proteção da intimidade de uma das partes ou de ambas.
No mesmo sentido, é a redação do art. 189 do CPC:

“Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os


processos: I – em que o exija o interesse público ou social; II – que versem
sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável,
filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III – em que constem
dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; IV – que versem
sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
§ 1º O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de
justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus pro-
curadores. § 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer
ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de
partilha resultantes de divórcio ou separação.”

Conforme o referido dispositivo do CPC, o juiz também pode decretar o chamado


“segredo de justiça”, quando o exigir o interesse público ou social. Acreditamos que
a expressão interesse público deva ser avaliada discricionariamente pelo magistrado
considerando as circunstâncias do caso concreto e o bom andamento do processo.
Desse modo, em casos em que não haja violação da intimidade das partes, mas a
presença do público possa atrapalhar o bom andamento da audiência e a qualidade
da instrução do processo, poderá o juiz decretar o “segredo de justiça”, com suporte
no poder de polícia que possui sobre as audiências (art. 360, I, do CPC).
No mesmo lastro, sustentam Francisco Fereira Jorge Neto e Jouberto de Qua-
dros Pessoa Cavalcante10: “como a lei processual civil não disciplina o que vem a
ser interesse público, caberá ao magistrado trabalhista, em face do caso concreto,
estabelecer ou não o segreso de justiça. A título exemplificativo: a discussão judi-
cial quanto a uma justa causa vexatória para o empregado; a reintegração de um

10. JORGE NETO, Francisco Ferreira; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Direito processual do trabalho.
6. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 598.
Cap. XII • DA AUDIÊNCIA TRABALHISTA 623

trabalhador portador do vírus da AIDS ou informações comerciais da empresa


e seus clientes.”
Na esfera das relações de trabalho, há muitas hipóteses em que o Juiz do Tra-
balho pode determinar o chamado segredo de justiça e impedir que outras pessoas,
além de partes e procuradores, ingressem na sala de audiências, como nas hipóteses
em que se instrui “assédio sexual” no âmbito trabalhista, casos de incontinência
de conduta, empregados portadores do vírus HIV etc., mas sempre avaliando a
necessidade do segredo.
O segredo de justiça pode ser determinado de ofício pelo juiz ou a requerimento
das partes em decisão devidamente fundamentada (art. 93, IX, da CF) e irrecorrível.

2.4. Oralidade
A audiência trabalhista é oral, em que a defesa é apresentada de forma oral,
são ouvidas as testemunhas e são apresentadas as razões finais orais.
Tanto o juiz como partes e advogados se utilizam das palavras para praticar
os atos processuais em audiência.
Deve o Juiz do Trabalho, de forma oral, sempre que possível, sanear o processo
na audiência, resolver eventuais incidentes e fixar os pontos controvertidos para a
produção da prova.
Além disso, no Processo do Trabalho, a defesa é oral (art. 847 da CLT), o juiz
inquire diretamente as testemunhas, bem como o advogado tem direito a repergun-
tas (art. 820 da CLT), assim, também as razões finais são orais (art. 850 da CLT).
Diante das singularidades do processo do trabalho e do próprio direito do
trabalho, onde as controvérsias giram em torno quase sempre da matéria fática, o
sucesso das partes no processo depende de uma boa atuação em audiência, prin-
cipalmente na boa compreensão da controvérisa e na produção da prova oral. Por
isso, a atuação do advogado em audiência pode definir os destinos do processo.
Nesse sentido nos adverte, com sabedoria, Francisco Antonio de Oliveira11:

“A audiência, na prática, é o lugar em que, quase sempre, tem melhor de-


sempenho o profissional mais estudioso, mais preparado. Ali tem o causídico
a oportunidade de testar sua desinibição, conhecimento da matéria – prin-
cipalmente do ônus da prova –, argúcia, senso de oportunidade, agilidade
mental, tranquilidade, visão global e equilíbrio emocional. Sem enfeixar tais
requisitos, suas dificuldades se avultarão. Dotado, pois de tais requisitos,
procurará, com tranquilidade, fazer prova tão somente daquilo que lhe
compete. Nâo se afastará do que restou firmado pela litiscontestatio nem
fará perguntas que em nada aproveitarão ao seu cliente, mas que poderão
favorecer a parte adversa. Não é fato incomum a parte perder o processo,
total ou parcialmente, por querer provar demais.”

11. OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Manual de audiências trabalhistas. 6. ed. São Paulo: RT, 2008. p. 32.
624 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

2.5. Imediação
Por este princípio, o Juiz do Trabalho aproxima-se mais das partes, tendo um
contato mais estreito com elas em audiência, principalmente quando estas postulam
sem advogado.
A Justiça do Trabalho, na expressão do cotidiano, é uma justiça popular, em
que o Juiz do Trabalho tem um contato maior com as partes, buscando o esclare-
cimento dos fatos da causa e também a conciliação.

2.6. Poderes mais acentuados ao Juiz do Trabalho na condução da


audiência (inquisitivo)
O Juiz do Trabalho tem ampla liberdade na direção da audiência. Ele preside
as sessões e também os atos que se praticam durante a audiência.
Nesse sentido, são os arts. 76512 e 852-D da CLT13.

2.7. Conciliação
Conforme já manifestado anteriormente, a conciliação é um mandamento central
de solução dos conflitos trabalhistas, tanto individuais como coletivos. Historicamente,
os primeiros órgãos de solução de conflitos trabalhistas foram, eminentemente, de
conciliação. Atualmente, os tribunais, diante do crescente número de processos, têm
estimulado ao máximo a solução consensual do conflito trabalhista, como medida
de solução pacífica e eficaz das demanas.
Mesmo a EC n. 45/04 tendo retirado do caput do art. 114 da Constituição a
expressão “conciliar e julgar”, a conciliação continua sendo um mandamento da
CLT, conforme se constata da redação do art. 764 consolidado:

“Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do


Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.”

O Juiz do Trabalho deve envidar os seus bons esforços em busca da conciliação,


exigindo a Lei que faça a primeira proposta conciliatória antes do recebimento da
defesa (art. 846 da CLT) e após as razões finais (art. 850 da CLT).
Mesmo determinando o art. 846 da CLT que o juiz proponha a conciliação
antes de receber a defesa, já na abertura da audiência, pensamos que o Juiz do

12. Art. 765 da CLT: “Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão
pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento
delas.”
13. Art. 852-D da CLT: “O juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas,
considerando o ônus probatório de cada litigante, podendo limitar ou excluir as que considerar excessivas,
impertinentes ou protelatórias, bem como para apreciá-las e dar especial valor às regras de experiência comum
ou técnica.”
Capítulo XVIII
Recursos no Processo
do Trabalho

1ª PARTE – TEORIA GERAL DOS RECURSOS TRABALHISTAS

1.1. Dos recursos – conceito, fundamentos e natureza jurídica


O Código de Processo Civil brasileiro não nos dá o conceito de recurso, apenas
no art. 994 diz quais são as espécies de recursos cabíveis no âmbito do Processo
Civil1. Tampouco a Consolidação das Leis do Trabalho define o conceito de recurso
(art. 893 da CLT2).
Como a Lei não define o conceito de recurso, esta árdua tarefa cabe à doutrina.
O termo recurso vem do latim recursus, que significa andar para trás, retorno,
reapreciação.
Para José Carlos Barbosa Moreira3, “pode-se conceituar recurso, no direito
processual civil brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do
mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de
decisão judicial a que se impugna. Atente-se bem: dentro do mesmo processo, não
necessariamente dentro dos mesmos autos.”
Ensina Nelson Nery Junior4: “Recurso é o meio processual que a lei coloca à
disposição das partes, do Ministério Público e de um terceiro, a viabilizar, dentro

1. Art. 994 do CPC: “São cabíveis os seguintes recursos: I – apelação; II – agravo de instrumento; III – agravo
interno; IV – embargos de declaração; V – recurso ordinário; VI – recurso especial; VII – recurso extraordinário;
VIII – agravo em recurso especial ou extraordinário; IX – embargos de divergência.”
2. Art. 893 da CLT: “Das decisões são admissíveis os seguintes recursos: I – embargos; II – recurso ordinário;
III – recurso de revista; IV – agravo.”
3. BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2005. p. 233.
4. NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 212.
966 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

da mesma relação jurídica processual, a anulação, a reforma, a integração ou o


aclaramento da decisão judicial impugnada.”
Conforme as definições dos mestres Barbosa Moreira e Nery Júnior, os recursos
se destinam, dentro da mesma relação jurídico-processual, à anulação, nos casos em
que a decisão contém um vício processual, à reforma, quando visa à alteração do
mérito da decisão, ou à integração ou aclaramento, quando a prestação jurisdicional
não foi completa, ou está obscura ou contraditória.
Existem duas correntes sobre a natureza jurídica dos recursos. Uma que as-
severa ser o recurso ação autônoma de impugnação da decisão, e outra, como um
meio de impugnação dentro da própria relação jurídico-processual.
Diante da sistemática do Direito Processual Civil brasileiro, os recursos não
constituem meio de impugnação autônomo, mas sim instrumento de impugnação
da decisão dentro da mesma relação jurídico-processual em que foi prolatada a
decisão, pois pressupõe a lide pendente na qual ainda não se formou a coisa julgada.
Nesse sentido, relevante destacar as conclusões de Carlos Henrique Bezerra
Leite5: a) recurso constitui corolário, prolongamento, do exercício do direito de
ação; b) essa concepção é aplicável tanto no processo comum quanto no trabalhista.
No mesmo diapasão, argumenta Manoel Antonio Teixeira Filho6:

“O recurso, enfim, não é uma ação autônoma; é um direito subjetivo, que


se encontra implícito no direito público, também subjetivo e constitucional,
que é o de ação. Está certa a doutrina quando, sob outro ângulo óptico, vê no
recurso um ônus processual, visto que, em verdade, para que a parte obtenha
a desejada reforma ou anulação de decisão desfavorável, há necessidade de
que tome a iniciativa de exercer a pretensão recursória; se não o fizer, a sua
sujeição à coisa julgada, como qualidade da sentença, será inevitável, ressalvada
a hipótese de remessa obrigatória, quando for o caso (Decreto-lei n. 779/69).”

De outro lado, os recursos constituem também uma forma de controle dos


atos jurisdicionais pelas instâncias superiores.
A doutrina costuma apontar como fundamentos dos recursos: a) aprimoramento
das decisões judiciais; b) inconformismo da parte vencida; e c) falibilidade humana.
Como bem adverte Wagner D. Giglio7, “o juiz, como todo ser humano, está
sujeito a falhas: pode errar, enganar-se, julgar mal. E de fato erra, por vezes. A
sociedade não o ignora, e por isso ninguém se satisfaz, psicologicamente, com um
único julgamento, preferindo acreditar num erro judiciário, em vez de admitir que
não tinha razão, para preservar o próprio amor.”
Com a possibilidade dos recursos, principalmente os juízes de primeiro grau e
os mais novos irão se esmerar e cada vez mais aprimorar suas decisões. Além disso,

5. BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Curso de direito processual do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 628.
6. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Sistema dos recursos trabalhistas. 10. ed. São Paulo: LTr, 2003. p. 84-85.
7. GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 435.
Cap. XVIII  •  RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 967

os recursos serão apreciados por juízes mais experientes e também em composição


colegiada.
Por outro lado, nem sempre as decisões de segunda instância têm maior justiça
que as decisões de primeiro grau. Para alguns, a justiça de primeiro grau é mais
justa, pois o juiz de primeira instância teve contato com as partes, viveu na pele o
problema. O juiz de segunda instância está mais distante.
O inconformismo, colocado pela doutrina como fundamento dos recursos,
talvez seja um dos argumentos mais contundentes para justificar a existência dos
recursos, pois dificilmente alguém se conforma com uma decisão desfavorável. É
da própria condição humana buscar impor os próprios argumentos e tentar reverter
uma decisão desfavorável.
Por derradeiro, acreditamos que o argumento mais forte a justificar a existência
dos recursos é a falibilidade humana, pois os juízes, como homens, estão sujeitos a
erros, que podem ser corrigidos pelo recurso, principalmente nos grandes centros
urbanos, onde a quantidade de serviços muitas vezes impede que o juiz proceda a
uma reflexão mais detalhada sobre o processo.
Não obstante, a possibilidade de falhas também acontece nas instâncias supe-
riores, e muitas vezes estes erros são mais nocivos ao jurisdicionado, pois as chances
de correção são reduzidas.
Como bem adverte Manoel Antonio Teixeira Filho8:
“[...] Recorre-se, porque a lei reconhece à parte esse direito; logo, aquela é
o fundamento deste. Já os motivos que aconselharam o legislador instituir
leis assecuratórias desse direito compreendem um amalgamado de fatores,
cujas raízes remotas, como dissemos, são de ordem política.”

A doutrina também sustenta que a existência dos recursos propicia maior equi-
líbrio e justiça do processo, oferecendo às partes maiores oportunidades, buscando
uma decisão com a menor incidência de falhas possíveis.
Não obstante todas as vicissitudes que enfrenta o sistema recursal brasileiro,
inclusive tem sido apontado pelos estudiosos como um dos vilões que emperram
a máquina judiciária, pensamos que os recursos são necessários e constituem um
instrumento democrático do Estado de Direito e uma forma democrática de se
propiciar o acesso real do cidadão à Justiça.

1.1.1. Classificação dos recursos


A doutrina tem classificado os recursos, quanto à finalidade, em ordinários e
extraordinários. Quanto à fundamentação, em recursos de fundamentaçao livre e
recursos de fundamentação vinculada. Com relação à extensão do inconformismo
da parte, o recurso pode ser parcial ou total.

8. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Sistema de recursos trabalhistas. 10. ed. São Paulo: LTr, 2003. p. 82.
968 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

Os recursos ordinários são destinados a impugnar todos os capítulos da decisão


e à correção tanto dos erros de procedimento (matéria processual), como incorreções
do julgamento do mérito da causa (erros de julgamento), com ampla possibilidade
de discussão do material probatório do processo. Também se destinam à obtenção
de uma decisão justa do processo.
No processo do trabalho, são de natureza ordinária os seguintes recursos:
ordinário (art. 895 da CLT), embargos de declaração (art. 897-A da CLT), Agravo
de Instrumento (art. 897, alínea b), Agravo de Petição (art. 897, alínea b, da CLT),
e o pedido de revisão (art. 2º da Lei n. 5.584/70).
Os recursos extraordinários não se destinam à correção dos erros de proce-
dimento ou de julgamento, tampouco à justiça da decisão. Eles têm por objetivo a
uniformização da intepretação da legislação Constitucional e Federal no âmbito da
competência da Justiça do Trabalho.
No processo do Trabalho, são de natureza extraordinária os seguintes recursos:
recurso de revista (art. 896, da CLT) e recurso de embargos para o TST (art. 894,
da CLT e Lei n. 7.701/88).
Embora não seja um recurso trabalhista propriamente dito, o recurso ex-
traordinário para o Supremo Tribunal Federal (art. 102, III, da CF) tem natureza
extraordinária e também se destina a impugnar decisões de única ou de última
instâncias proferidas pelos Tribunais Trabalhistas.
Os recursos de fundamentação livre, como o próprio nome indica, são aque-
les em que a lei não exige que o recorrente aponte um erro ou vício específico na
decissão recorrida. Todos os tópicos da decisão podem ser livremente impugnados
pelo recorrente. Como destaca Júlio César Bebber9, “o mero inconformismo com a
decisão, tal qual proferida, é suficiente para o cabimento.”
No processo do trabalho, são de fundamentação livre os seguintes recursos:
ordinário (art. 895 da CLT) e agravo de petição (art. 897, alíena a, da CLT).
Já os recursos de fundamentação vinculada são aqueles em que a lei exige
que o recorrente aponte um vício específico na decisão, preencha algum pressu-
posto específico de recorribilidade ou faça a impugnação de matéria específica
da decisão.
Como bem adverte Bebber10, “nos recursos de fundamentação vinculada, o
recorrente precisa invocar o erro indicado como relevante (ou alguns deles se há
mais de um) para que o recurso caiba e precisa demonstrar-lhe a efetiva ocorrência
na espécie para que o recurso proceda.”
No processo do trabalho, são de fundamentação vinculada os seguintes recursos:
embargos de declaração (art. 897-A da CLT), recurso de revista (art. 896 da CLT)
e de embargos para o TST (art. 894 da CLT e Lei n. 7.701/88).

9. Recursos no processo do trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2011. p. 49.


10. Op. cit., p. 50.
Cap. XVIII  •  RECURSOS NO PROCESSO DO TRABALHO 969

Quanto à extensão do inconformismo com a decisão, o recurso pode ser


parcial ou total. Será parcial quando impugnar parte da decisão, e total quando a
impugnação atacar a integralidade da decisão.
Nesse sentido, é o art. 1.002 do Código de Processo Civil, in verbis:

“A decisão pode ser impugnada no todo ou em parte.”

Como bem adverte Cássio Scarpinella Bueno11, “como todos os recursos, no


direito positivo brasileiro, pressupõem o elemento volitivo, não há imposição para
que as partes e eventuais terceiros interponham das decisões que lhe são desfavoráveis
quaisquer recursos, e, caso o façam, também não existe nenhuma obrigatoriedade
de que toda a decisão, em todas as partes (capítulos) que lhes sejam desfavoráveis,
seja questionada.”

1.2. Princípios dos recursos trabalhistas

Os princípios recursais são as diretrizes básicas e os preceitos fundamentais


dos recursos trabalhistas. Violar um princípio é mais que violar uma norma, pois
viola todo um sistema de normas.
Os recursos trabalhistas seguem basicamente as mesmas diretrizes dos princípios
recursais do Código de Processo e também da Constituição Federal.
De outro lado, a CLT e a legislação processual trabalhista extravagante elencam
os recursos de forma taxativa no Processo do Trabalho. Portanto, não é possível se
aplicar ao Processo do Trabalho um recurso previsto no Código de Processo Civil
ao argumento de que a Consolidação é omissa a respeito.
Sob outro enfoque, como bem adverte Wagner D. Giglio12, a taxatividade se
restringe, porém, somente ao arrolamento em si, dos recursos admissíveis, e não a
toda a regulamentação da matéria. Assim incidem no Processo Trabalhista as demais
normas do Código de Processo Civil referentes a recurso, para suprir omissões da
Legislação consolidada (CLT, art. 769).

1.2.1. Duplo grau de jurisdição

Como destaca Nelson Nery Junior13, “o princípio do duplo grau de jurisdição


tem íntima relação com a preocupação dos ordenamentos jurídicos em evitar a
possibilidade de haver abuso de poder por parte do juiz, o que poderia, em tese,
ocorrer se não estiver a decisão sujeita à revisão por outro órgão do Poder Judiciário.”

11. Curso sistematizado de direito processual civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 38.
12. GIGLIO, Wagner D. Direito processual do trabalho. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 438.
13. NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 37.
970 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

Como nos relata Júlio César Bebber14, “foi a Revolução Francesa que imorta-
lizou o princípio do duplo grau de jurisdição, com ele pretendendo possibilitar a
reforma de sentença de juízes corruptos, que eram a maioria. Este tempo passou
e o fundamento perdeu validade. A conduta criminosa pode ser praticada tanto
pelos juízes de primeiro quanto de segundo grau. Além disso, a prevaricação e a
corrupção em segundo grau são mais eficazes, uma vez que a decisão deste juízo
substitui a do primeiro grau”.
O princípio do duplo grau de jurisdição assenta-se na possibilidade de con-
trole dos atos jurisdicionais dos órgãos inferiores pelos órgãos judiciais superiores e
também na possibilidade de o cidadão recorrer contra um provimento jurisdicional
que lhe foi desfavorável, aperfeiçoando, com isso, as decisões do Poder Judiciário.
A doutrina ainda aponta o duplo grau de jurisdição com um requisito neces-
sário para a justiça das decisões.
Em sentido contrário, argumenta-se que o duplo grau de jurisdição provoca
uma demora desnecessária na tramitação do processo, propiciando, principalmente
ao devedor inadimplente, uma desculpa para não cumprir sua obrigação.
Como destacam Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart15:
“Nas hipóteses de ‘causas de maior simplicidade’ não há razão para se insistir
em duplo juízo sobre o mérito. Se o duplo grau dilata o prazo para a prestação
da tutela jurisdicional, não há dúvida que a falta de racionalidade no uso do
duplo grau – ou sua sacralização – retira do Poder Judiciário a oportunidade
de responder mais pronta e efetivamente aos reclamos do cidadão. Além disto,
em sistema que a sentença apenas excepcionalmente pode ser executada na
pendência do recurso interposto para o segundo grau em que todas as causas
devem ser submetidas à revisão, a figura do juiz de primeiro grau perde muito
em importância. Isso porque se retira da decisão do juiz a qualidade que é
inerente à verdadeira e própria decisão, que é aquela de modificar a vida das
pessoas, conferindo tutela concreta ao direito do autor. O duplo grau tem nítida
relação com a ideia de que o juiz de primeiro grau não merece confiança e,
assim, não deve ter poder para decidir sozinho as demandas.”

Diz o art. 5º, LV, da CF:

“Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e re-
cursos a ela inerentes.”

Conforme se denota do referido dispositivo constitucional, estão assegurados


como direitos fundamentais o contraditório, a ampla defesa, bem como os meios e
recursos a ela inerentes. Diante disso, questiona-se: o duplo grau de jurisdição tem
assento constitucional?

14. Recursos no Processo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2011. p. 235.
15. Processo de conhecimento. 6. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 491.
Capítulo XX
Da Execução na
Justiça do Trabalho

1.  INTRODUÇÃO E ASPECTOS CRÍTICOS


A legislação vigorante na Roma antiga era extremamente rigorosa em rela-
ção à pessoa que deixasse de cumprir a obrigação assumida: ao contrário do que
ocorre nos tempos atuais, porém, os credores romanos não podiam fazer com que
a execução incidisse no patrimônio do devedor, pois as medidas previstas naquela
legislação prisca tinham como destinatária, em regra, a pessoa do próprio devedor.
A execução era, portanto, corporal e não patrimonial1.
Atualmente, com o avanço da sociedade, a execução não mais incide sobre
a pessoa do devedor, e sim sobre seu patrimônio (princípio da humanização da
execução que tem início em Roma, no século V, com a Lex Poetelia). Diz-se que a
execução tem caráter patrimonial. Nesse sentido, é o que dispõe o art. 789 do CPC,
in verbis: “O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os
seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.”
Como destaca Araken de Assis2: “O art. 5913 culmina notável evolução histó-
rica. Rompendo com as tradições romana e germânica, convergentes ao imprimir
responsabilidade pessoal ao obrigado, a regra dissociou a dívida e responsabilidade.
Esta última se relaciona com inadimplemento, que é o fato superveniente à forma-
ção do vínculo obrigacional, pois somente após descumprir o dever de prestar, o
obrigado sujeitará seus bens à execução.”
Um dos capítulos do Processo do Trabalho, que tem sido apontado como
grande entrave ao acesso real e efetivo à Justiça do Trabalho, do trabalhador, é o
da execução.

1. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Execução no processo do trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 52.
2. ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. 7. ed. São Paulo: LTr, 2001. p. 363.
3. O art. 591 citado pelo autor é do CPC/73, atualmente o CPC, no art. 789, tem idêntica redação.
1214 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

Mesmo a CLT, prevendo um procedimento simplificado para a execução, a


cada dia vem perdendo terreno para a inadimplência, contribuindo para falta de
credibilidade da jurisdição trabalhista.
Ainda que tenha um título executivo judicial nas mãos, o credor trabalhista
tem enfrentado um verdadeiro calvário para satisfazer seu crédito e muitas vezes o
executado, tendo numerário para satisfazer o crédito do autor, prefere apostar na
burocracia processual e deixar para adimplir o crédito somente quando se esgotar
a última forma de impugnação.
Em nosso país, onde a litigiosidade é intensa e a estrutura do Poder Judiciário
propicia ao jurisdicionado diversas instâncias recursais, a cada dia, a sentença de
primeiro grau vai perdendo prestígio, principalmente para os litigantes de maior
poder econômico. Por isso, muitos chegam a afirmar que o 1º grau de jurisdição
é apenas um “rito de passagem” do processo. Com isso, há significativa dilatação
no curso do processo, gasto excessivo de direito público e falta de credibilidade e
efetividade das sentenças de primeiro grau.
Como bem adverte Rodolfo de Camargo Mancuso4, “essa crise de efetividade
dos comandos condenatórios ou prestacionais, além de ser muito grave em si mesma
– na medida em que a Constituição Federal erige a eficiência dentre os princípios
retores do setor público (art. 37, caput) – ainda projeta inquietantes externalidades
negativas: desprestigia a função judicial do Estado, na medida em que não oferece
aos jurisdicionados a devida contrapartida por haver criminalizado a justiça de mão
própria (CP, art. 345); desestimula o acesso à Justiça dos que têm os seus direitos
injustamente resistidos ou contrariados; penaliza aqueles que, embora tendo obtido
o reconhecimento judicial de suas posições de vantagem, todavia não conseguem
usufruí-las concretamente, ante as postergações e resistências consentidas na fase
jurissatisfativa; fomenta a hostilidade entre os contraditores, ante a dilação excessiva
das lides; exacerba a contenciosidade social, ao insuflar os bolsões de frustração e
de insatisfação ao interno da coletividade.”
Neste triste cenário, a cada dia mais, o Processo do Trabalho carece de ins-
trumentos processuais eficazes que lhe façam realizar a promessa de efetividade da
legislação social.
Atualmente, o Código de Processo Civil passa por reformas significativas,
eliminando a burocracia da execução, visando a atender aos princípios da simpli-
cidade, da celeridade e da efetividade do procedimento.
Em razão disso, pensamos que são medidas de justiça, razoabilidade, efetividade
e preocupação com o cumprimento da legislação material trabalhista, reconhecer a
importância das recentes alterações do Código de Processo Civil, rumo ao aperfei-
çoamento da execução, visando a aniquilar o estigma do processo de execução do
ganha mas não leva a transportá-las para a execução trabalhista.

4. Acesso à Justiça: condicionantes legítimas e ilegítimas. São Paulo: RT, 2011. p. 111.
Cap. XX  •  DA EXECUÇÃO NA JUSTIÇA DO TRABALHO 1215

Deve caminhar o Processo do Trabalho atual para a simplificação da execu-


ção, a fim de que esta seja uma fase processual de satisfação do crédito do credor
trabalhista e de efetividade dos direitos sociais.
Como destaca Pedro Paulo Teixeira Manus5:

“Mais do que nunca, acreditamos que a execução há de ser objeto de uma


revisão, simplificando-a e tornando-a mera fase administrativa de um pri-
meiro título executivo. Se este for decorrente de sentença, a matéria que se
poderá debater deverá ser simplesmente o acerto da sua quantificação e, caso
seja título extrajudicial, poderá o legislador elastecer o rol de temas possíveis
de defesa pelo executado. Isso, sim, significaria avanço no processo do tra-
balho pois a execução, do modo que hoje se processa, permite ao devedor
retardar o cumprimento da coisa julgada injustificadamente, ocorrendo em
certos casos de a execução prolongar-se por muito mais tempo que a fase
de conhecimento, o que é inadmissível.”

2.  DO CONCEITO DE EXECUÇÃO TRABALHISTA


Ensina José Augusto Rodrigues Pinto6:

“Executar é, no sentido comum, realizar, cumprir, levar a efeito. No sentido


jurídico, a palavra assume significado mais apurado, embora conservando
a ideia básica de que, uma vez nascida, por ajuste entre particulares ou
por imposição sentencial do órgão próprio do Estado, a obrigação deve
ser cumprida, atingindo-se no último caso, concretamente, o comando da
sentença que a reconheceu ou, no primeiro caso o fim para o qual se criou.”

No conceito clássico de Chiovenda7:

“Chama-se execução processual a atuação prática, da parte dos órgãos


jurisdicionais, de uma vontade concreta da lei que garante a alguém um
bem da vida e que resulta de uma verificação; e conhece-se por execução o
complexo dos atos coordenados a esse objetivo.”

A sentença não voluntariamente cumprida dá ensejo a uma outra atividade


jurisdicional, destinada à satisfação da obrigação consagrada em um título. Essa
atividade estatal de satisfazer a obrigação consagrada num título que tem força exe-
cutiva, não adimplido voluntariamente pelo credor se denomina execução forçada.

5. Op. cit., p. 18.


6. RODRIGUES PINTO, José Augusto. Execução trabalhista: estática – dinâmica – prática. 11. ed. São Paulo: LTr,
2006. p. 23.
7. Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1969. vol. 1, p. 285.
1216 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

Como bem adverte Enrico Tullio Liebman8, “a execução é feita para atuação
de uma sanção justificada pelos fatos ocorridos entre as partes, isto é, para satis-
fazer direito efetivamente existente. Por isso, não pode proceder-se à execução
senão depois de verificada legalmente a existência dos fatos que a justificam e
que constituem a sua causa em sentido jurídico. Não se pode, pois, começar pela
execução: ad executione no est encoandum. Ao contrário, deve, em regra, preceder
o conhecimento e julgamento da lide. Mas isso também não quer dizer que a todo
processo de cognição se segue necessariamente o processo de execução, pois em
muitos casos, com a prolação da sentença, o assunto termina definitivamente e não
há lugar para a execução.”
A Consolidação das Leis do Trabalho disciplina a execução no Capítulo V,
arts. 876 a 892.
No nosso sentir, a execução trabalhista consiste num conjunto de atos praticados
pela Justiça do Trabalho destinados à satisfação de uma obrigação consagrada num
título executivo judicial ou extrajudicial, da competência da Justiça do Trabalho, não
voluntariamente satisfeita pelo devedor, contra a vontade deste último.

3. DOS PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO TRABALHISTA


Os princípios da execução trabalhista não diferem dos princípios da execução
no Processo Civil, entretanto, em face da natureza do crédito trabalhista e da hi-
possuficiência do credor trabalhista, alguns princípios adquirem intensidade mais
acentuada na execução trabalhista, máxime os da celeridade, da simplicidade e da
efetividade do procedimento.
Com suporte na melhor doutrina, acreditamos que a execução trabalhista é
norteada pelos seguintes princípios:

3.1. Primazia do credor trabalhista


A execução trabalhista se faz no interesse do credor. Desse modo, todos os
atos executivos devem convergir para satisfação do crédito do exequente.
Nesse sentido, dispõe o art. 797 do Código de Processo Civil, aplicável subsi-
diariamente ao Processo do Trabalho:

“Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concur-


so universal, realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire,
pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados. Parágrafo
único. Recaindo mais de uma penhora sobre o mesmo bem, cada exequente
conservará o seu título de preferência.”

8. LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de execução. São Paulo: Bestbook, 2001. p. 17.
Cap. XX  •  DA EXECUÇÃO NA JUSTIÇA DO TRABALHO 1217

Na execução, o presente princípio se destaca em razão da natureza alimentar do


crédito trabalhista e da necessidade premente de celeridade do procedimento executivo.
Este princípio deve nortear toda a atividade interpretativa do Juiz do Trabalho
na execução. Por isso, no conflito entre normas que disciplinam o procedimento
executivo, deve-se preferir a interpretação que favoreça o exequente.

3.2. Princípio do meio menos oneroso para o executado


Diante da potencialidade lesiva que a execução possa ter sobre o patrimônio
do devedor, faculta a lei que, quando por mais de um modo a execução possa ser
realizada, com a mesma eficácia para o credor, se preferirá o meio menos gravoso
ao devedor, como forma de proteção à dignidade do devedor e tornar a execução
mais humanizada.
Nesse sentido, dispõe o art. 805 do CPC, de aplicação subsidiária (arts. 889,
da CLT e 15 do CPC), in verbis:

“Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz


mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o executado. Pará-
grafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais gravosa
incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de
manutenção dos atos executivos já determinados.”

O Código de Processo Civil de 2015 aperfeiçoou o anterior (art. 620 do CPC/73),


acrescentando, corretamente, o parágrafo único, que determina ao executado que alegar o
benefício da execução menos lesiva, o dever indicar outros meios executivos mais eficazes
que os atuais, sob consequência de manutenção dos atos executivos já determinados.
Trata-se, inegavelmente, de um significativo avanço, já que o art. 805 do CPC
deve ser interpretado e aplicado à luz do princípio da primazia do credor, discipli-
nado pelo art. 797 do CPC.
Ao contrário do que vinha entendendo parte da jurisprudência, com suporte no
art. 620 do CPC/739, este dispositivo não poderia ser interpretado, isoladamente, e
nem servir de suporte para que o devedor se esquivasse de cumprir a obrigação ou
lhe criar embaraços, ou deixar de colaborar, uma vez que, conforme já mencionado,
o princípio cardeal da execução é a primazia do credor.
O Tribunal Superior do Trabalho, corretamente, sob a vigência do Código
anterior, se pronunciou sobre a questão, conforme se constata pela redação da
seguinte ementa:

“RECURSO DE REVISTA – DANO MATERIAL – PENSIONAMENTO DE-


CORRENTE DE INCAPACIDADE PARA O TRABALHO – CONSTITUIÇÃO

9. Art. 620 do CPC/73: “Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se
faça pelo modo menos gravoso para o devedor.”
1218 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

DE CAPITAL – ART. 475-Q DO CPC – OBRIGAÇÃO DE FAZER DESTINADA


A GARANTIR O CUMPRIMENTO DA CONDENAÇÃO – PRESTAÇÃO
ALTERNATIVA – INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO (§ 2º DO
ART. 475-Q DO CPC) – MEDIDA QUE DEVE ATENDER AOS INTERESSES
DO CREDOR (ART. 612 DO CPC) E DO DEVEDOR (ART. 620 DO CPC) –
ALEGAÇÃO DA RECLAMADA DE QUE O SEU PORTE FINANCEIRO
COMPORTA A INCLUSÃO DO RECLAMANTE EM FOLHA DE PAGA-
MENTO – PREMISSA FÁTICA NÃO EXAMINADA PELO TRIBUNAL DE
ORIGEM – ACOLHIMENTO DA PRETENSÃO RECURSAL – PERIGO À
EFICÁCIA DA EXECUÇÃO DA SENTENÇA – INVIABILIDADE – OFENSA
AO POSTULADO DO ACESSO À JUSTIÇA (ART. 5º, XXXV E LXXVIII,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). Certificado o direito na fase de conheci-
mento, é chegada a hora de conferir efetividade ao pronunciamento jurisdi-
cional. A execução de sentença, procedimento destinado a dar concretude ao
comando emanado do Poder Judiciário, move-se no interesse do credor (art.
612 do CPC), que, neste momento, busca apenas a satisfação material de sua
pretensão. A exceção contida no art. 620 do CPC somente pode ser aplicada,
caso o meio proposto pelo devedor não se afigure, de qualquer forma, lesivo
ao interesse do credor (que, na execução, ostenta posição de superioridade
jurídica reconhecida na fase de conhecimento). Nessa senda, a determinação
de constituição de capital a que alude o art. 475-Q do CPC somente pode ser
substituída pela inclusão em folha de pagamento, naquelas situações em que
o porte econômico da empresa afaste qualquer perigo de não adimplemento
do crédito autoral (ou seja, naquelas situações em que os postulados dos arts.
612 e 620 do CPC encontram-se harmonizados). Na hipótese dos autos, a
alegação da reclamada de que o seu porte econômico permite a dita substi-
tuição não restou analisada pelo Tribunal de origem, que sequer foi instado
a fazê-lo via embargos de declaração. Assim, o seu acolhimento, por colocar
em potencial perigo a satisfação do crédito do autor, não se afigura possível.
Do contrário, vilipendiado restará o princípio do acesso à justiça, consagrado
no art. 5º, XXXV e LXXVIII, da Constituição Federal, dada a possibilidade
de futuro inadimplemento dos valores devidos ao autor. Ressalte-se, apenas
para finalizar, que nenhum provimento, emanado de quaisquer dos poderes
constituídos, pode ser contrário aos direitos e garantias fundamentais, o que
inclui as sentenças proferidas pelo Poder Judiciário, órgão este que, em seus
pronunciamentos, deve sempre buscar a concretização dos valores previstos
na Carta Federal de 1988. Recurso de revista não conhecido.” (TST – Proces-
so: RR – 33400-79.2005.5.15.0036 – Data de Julgamento: 15.2.2012, relator
Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, 1ª Turma, Data de Publicação:
DEJT 24.2.2012)

3.3. Princípio do título
Segundo Carnelutti, enquanto o processo de conhecimento se contenta com
uma pretensão, entendida como vontade de submeter o interesse alheio ao próprio,
bem mais exigente é o processo executivo que reclama, para sua instauração, uma
pretensão conforme o direito. Em outras palavras: o juiz, no processo de execução,
Cap. XX  •  DA EXECUÇÃO NA JUSTIÇA DO TRABALHO 1219

necessita de âncora explícita para ordenar atos executivos e alterar a realidade em


certos rumos, do mesmo modo que o construtor de edifícios sem o respectivo
projeto não saberia como tocar o empreendimento. Como jamais se configurará a
certeza absoluta em torno do crédito, a lei sufraga a relativa certeza decorrente de
certo documento, que é o título. Faz o título prova legal ou integral do crédito10.
Toda execução pressupõe um título, seja ele judicial ou extrajudicial. A execução
é nula sem título (“nulla executio sine titulo”).
Conforme destaca Araken de Assis11, a ação executória sempre se baseará no
título executivo. Célebre metáfora ao título designou de bilhete de ingresso, ostentado
pelo credor para acudir ao procedimento in exutivis.
Nesse sentido, dispõe o art. 783 do CPC, in verbis:

“A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de


obrigação certa, líquida e exigível.”

Os títulos trabalhistas que têm força executiva estão previstos no art. 876 da CLT.
Outrossim, o título a embasar a execução deve ser líquido, certo e exigível.
O requisito da certeza está no fato de o título não estar sujeito à alteração
por recurso (judicial); ou que a lei confere tal qualidade, por revestir o título das
formalidades previstas em lei (extrajudicial).
Exigível é o título que não está sujeito à condição ou termo, ou seja, a obri-
gação consignada no título não está sujeita a evento futuro ou incerto (condição)
ou a um evento futuro e certo (termo).
Líquido é o título que individualiza o objeto da execução (obrigação de entre-
gar), ou da obrigação (fazer ou não fazer), bem como delimita o valor (obrigação
de pagar).

3.4. Redução do contraditório
O contraditório na execução é limitado (mitigado), pois a obrigação já está
constituída no título e deve ser cumprida: ou de forma espontânea pelo devedor,
ou mediante a atuação coativa do Estado, que se materializa no processo.
A questão, no entanto, não é pacífica. Autores há que sustentam a versão de
que o contraditório permanece forte também na fase executiva, principalmente em
se tratando de título executivo extrajudicial, devendo sempre o juiz dialogar com as
partes, e estas terem sempre a oportunidade de participar, ativamente, do procedi-
mento. De outro lado, ao devedor deve sempre ser oportunizado manejar os meios
legais para resistir às medidas executivas. O novel Código de Processo Civil, nos
arts. 9º, 10, 133 a 137, indiscutivelmente, robustece o contraditório na fase executiva.

10. ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 143-144.
11. Ibidem, p. 99.
Capítulo XXII
Ações Civis Admissíveis no
Processo do Trabalho

1. DAS TUTELAS DE URGÊNCIA PREVISTAS NO CÓDIGO DE


PROCESSO CIVIL E O PROCESSO DO TRABALHO
A fim de que seja observado o devido processo legal, que é um mandamento
constitucional e uma garantia da cidadania, o processo deve obedecer aos trâmites
legais, passando por todas as fases até atingir uma decisão definitiva, com o trânsito
em julgado.
Não obstante, situações há em que o direito postulado não pode aguardar o
regular desenrolar do processo, sob consequência de perecimento. Desse modo, há
instrumentos processuais destinados a tutelar pretensões que não podem esperar a
tramitação do processo, muitas vezes, nem sequer aguardar a citação do réu. Tais
medidas processuais são chamadas pela doutrina de tutelas de urgência, que têm por
objetivo resguardar direito (tutela cautelar), antecipar o próprio provimento de mérito
(tutela antecipatória) ou impedir que um dano iminente aconteça (tutela inibitória).
Como destaca José Roberto dos Santos Bedaque1:

“Os provimentos antecipatórios urgentes são cabíveis em qualquer forma


de tutela e podem antecipar totalmente os efeitos da tutela final. Essa
circunstância confere à instrumentalidade, característica fundamental das
cautelares, conotação pouco diversa daquela atribuída tradicionalmente a
essa modalidade de tutela, se analisadas as medidas meramente conservati-
vas. Aliás, exatamente em razão desse fator, passou a doutrina a pensar em
outra categoria de proteção jurisdicional – a tutela de urgência – destinada
a abranger todas as medidas necessárias a evitar risco de dano ao direito.
Caracterizam-se não pela sumariedade da cognição, circunstância também

1. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência. 3.
ed. São Paulo: Malheiros, 2003. p. 158.
1574 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

presente em tutelas não cautelares, mas pelo periculum in mora. Analisa-se


a situação substancial e verifica-se a necessidade de proteção imediata, em
sede cautelar, ante a impossibilidade de se aguardar o tempo necessário para
a entrega da tutela final.”

O Código de Processo Civil de 2015 disciplina, no Livro V, a chamada Tutela


Provisória, que é um gênero que abrange tanto a tutela de urgência, como a tutela
da evidência.
Nesse sentido, dispõe o art. 294 do CPC: “A tutela provisória pode fundamen-
tar-se em urgência ou evidência.”
A tutela de urgência segundo o parágrafo único do referido dispositivo pode
ser de natureza cautelar ou antecipatória.
As tutelas de urgência foram disciplinadas em capítulo único, simplificando o
procedimento, possibilitando maior flexibilidade para sua efetivação, desburocra-
tizando o processo a fim de facilitar o acesso à justiça sob o enfoque da proteção
e prevenção da tutela dos direitos. Foi extinto o chamado “processo cautelar”, que
no CPC de 1973 era disciplinado em livro próprio.
O Título II do Livro V disciplina disposições comuns tanto para a tutela an-
tecipada como a cautelar e, posteriormente disposições específicas sobre as tutelas
antecipatória e cautelar. Por fim, o Título III disciplina a chamada tutela da evidência,
que faz parte do gênero tutela provisória.
A Consolidação das Leis do Trabalho contém disposição sobre tutela de ur-
gência no art. 659, incisos IX e X, que têm a seguinte redação:

“Competem privativamente aos Presidentes das Juntas, além das que lhes
forem conferidas neste Título e das decorrentes de seu cargo, as seguintes
atribuições:
IX – conceder medida liminar, até decisão final do processo em reclama-
ções trabalhistas que visem a tornar sem efeito transferência disciplinada
pelos parágrafos do art. 469 desta Consolidação. (Acrescentado pela Lei n.
6.203/75 – DOU 18.4.75)
X – conceder medida liminar até decisão final do processo, em reclamações
trabalhistas que visem reintegrar no emprego dirigente sindical afastado,
suspenso ou dispensado pelo empregador.” (Acrescentado pelo Decreto n.
9.270/96 – DOU 18.4.96)

Conforme o referido dispositivo legal, o Juiz do Trabalho poderá conceder


liminares, antes da decisão final, a fim de evitar a transferência abusiva do empre-
gado, ou para reintegrar dirigente sindical.
Há divergência na doutrina sobre a natureza da liminar mencionada nos incisos
IX e X, do art. 659, da CLT, não obstante, conforme acertadamente se posicionou
a doutrina majoritária, não se trate de tutela cautelar, pois não é providência de
cautela a fim de assegurar a efetividade da tutela jurisdicional, mas de concessão
Cap. XXII  •  AÇÕES CIVIS ADMISSÍVEIS NO PROCESSO DO TRABALHO 1575

da própria tutela de mérito, antes da sentença. Em razão disso, tal liminar tem
contornos de tutela antecipada.
Nesse sentido, destacamos a seguinte ementa:

“A antecipação de tutela prevista no art. 273 do CPC é instituto do Processo


Civil, que deve sofrer adaptação no Processo do Trabalho. Segundo o art. 769
da CLT, o Processo Civil é fonte subsidiária do Processo do Trabalho, sendo que
a transposição de seus institutos deve se dar em consonância com as normas,
princípios e peculiaridades a ele inerentes. O art. 659 da CLT, que, em seus
incisos IX e X, contempla providência cuja natureza é verdadeira antecipação
de tutela, atribui ao juiz presidente das Juntas a competência privativa para
concedê-la” (TST, RO-MS 417.142/98.7, Milton de Moura França, Ac. SBDI-2)2

1.1. Da fungibilidade das tutelas de urgência


Considerando-se o caráter urgente das tutelas antecipatórias, cautelares e
inibitórias, o resultado útil de tais medidas, a instrumentalidade do processo, e a
efetividade processual, a moderna doutrina, à luz das recentes alterações do Código
de Processo Civil pelas Leis ns. 10.444/2002 e 11.280/06 e o CPC de 2015, consa-
graram o chamado princípio da fungibilidade das tutelas de urgência.
Ensina Plácido e Silva3:

“Coisa fungível é substituível. A coisa consumível é a que se anula ou desaparece


desde que cumpra a sua finalidade ou dela se tenha tirado a sua utilidade. Mas
o direito emprega fungível para significar substitutibilidade de uma coisa por
outra, sem alteração de seu valor, desde que possa contar, medir ou pesar.”

Pelo princípio da fungibilidade das tutelas de urgência é possível que o juiz


possa conceder uma medida de urgência no lugar de outra postulada, desde que
presentes os requisitos para concessão.
Como bem adverte Cândido Rangel Dinamarco4, a fungibilidade entre duas
tutelas deve ser o canal posto pela lei à disposição do intérprete e do operador para
a necessária caminhada rumo à unificação da teoria das medidas urgentes – ou seja,
para a descoberta de que muito há na disciplina explícita das medidas cautelares
que comporta plena aplicação às antecipações de tutela.
Nesse sentido, é o art. 305 do CPC:

“A petição inicial da ação que visa à prestação de tutela cautelar em caráter


antecedente indicará a lide e seu fundamento, a exposição sumária do direito
que se objetiva assegurar e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil

2. In: CARRION, Valentin. Comentários à CLT. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 674.
3. Vocabulário jurídico. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996. v. II, p. 336.
4. DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da reforma. São Paulo: Malheiros, 2002. p. 91.
1576 MANUAL DE DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO  •  Mauro Schiavi

do processo. Parágrafo único. Caso entenda que o pedido a que se refere o


caput tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto no art. 303.”5

Conforme o referido dispositivo, é possível ao juiz, de ofício, converter o pedido


de tutela antecipada em cautelar, desde que presentes os requisitos para concessão
da medida cautelar. Pensamos que o referido dispositivo é de mão dupla, vale dizer:
se o autor pedir provimento cautelar, mas se estiverem presentes os requisitos da
tutela antecipada, o juiz poderá conceder o provimento antecipatório.
Nesse teor é a visão de Dinamarco6:

“O novo texto não deve ser lido somente como portador da autorização
a conceder uma medida cautelar quando pedida a antecipação de tutela.
Também o contrário está autorizado, isto é: também quando feito um pedido
a título de medida cautelar, o juiz estará autorizado a conceder a medida a
título de antecipação de tutela, se esse for seu entendimento e os pressupostos
estiverem satisfeitos. Não há fungibilidade em uma só mão de direção. Em
direito, se os bens são fungíveis isso significa que tanto se pode substituir
um por outro, como outro por um.”

No mesmo diapasão, é a redação do art. 969 do CPC, in verbis:

“A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão


rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória.”

O referido dispositivo ratificou a existência do princípio da fungibilidade das


tutelas de urgência, consignando que é possível tanto a concessão de tutela anteci-
pada como da cautelar, desde que presentes os requisitos legais, a fim de suspender
o cumprimento da sentença que está sendo objeto de ação rescisória.
O Tribunal Superior do Trabalho consagrou o princípio da fungibilidade,
conforme a redação da Súmula n. 405, de sua jurisprudência, in verbis:

5. Art. 303 do CPC:” Nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição inicial
pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a exposição
da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo. § 1º
Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput deste artigo: I – o autor deverá aditar a petição inicial,
com a complementação de sua argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de
tutela final, em 15 (quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar; II – o réu será citado e intimado para
a audiência de conciliação ou de mediação na forma do art. 334; III – não havendo autocomposição, o prazo
para contestação será contado na forma do art. 335. § 2º Não realizado o aditamento a que se refere o inciso
I do § 1º deste artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito. § 3º O aditamento a que se refere o
inciso I do § 1º deste artigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas custas processuais. § 4º Na
petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em
consideração o pedido de tutela final. § 5º O autor indicará na petição inicial, ainda, que pretende valer-se do
benefício previsto no caput deste artigo. § 6º Caso entenda que não há elementos para a concessão de tutela
antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de
ser indeferida e de o processo ser extinto sem resolução de mérito.”
6. Op. cit., p. 92.
Cap. XXII  •  AÇÕES CIVIS ADMISSÍVEIS NO PROCESSO DO TRABALHO 1577

“AÇÃO RESCISÓRIA. TUTELA PROVISÓRIA. Em face do que dispõem


a MP n. 1.984-22/2000 e o art. 969 do CPC de 2015, é cabível o pedido de
tutela provisória formulado na petição inicial de ação rescisória ou na fase
recursal, visando a suspender a execução da decisão rescindenda.”

Também, diante do princípio da fungibilidade, pensamos ser possível a con-


cessão de tutela inibitória (preventiva) quando presentes os requisitos, quando o
autor equivocadamente formular pedido de tutela antecipada ou cautelar.

2. DA TUTELA ANTECIPADA E O PROCESSO DO TRABALHO


Segundo Carnelutti: o tempo é um inimigo do Direito contra o qual o juiz deve
travar uma guerra sem tréguas.
Antes da existência da tutela antecipada, doutrina e jurisprudência utilizavam
o art. 798 do CPC/73 como válvula de escape para a adoção de medidas cautelares
com natureza satisfativa.
Consiste a tutela antecipada na concessão da pretensão postulada pelo autor,
antes do julgamento definitivo do processo, mediante a presença dos requisitos
legais. Trata-se de medida satisfativa, pois será entregue ao autor o bem da vida
pretendido antes da existência do título executivo judicial7.
Conforme a definição de Nelson Nery Junior8:

“Tutela antecipatória dos efeitos da sentença de mérito, espécie do gênero


tutelas de urgência, é providência que tem natureza jurídica mandamental,
que se efetiva mediante execução lato sensu, com o objetivo de entregar ao
autor, total ou parcialmente, a própria pretensão deduzida em juízo ou os seus
efeitos. É tutela satisfativa no plano dos fatos, já que realiza o direito, dando
ao requerente o bem da vida por ele pretendido com a ação de conhecimento.”

Como bem adverte Luiz Guilherme Marinoni9, a tutela antecipatória produz o


efeito que somente poderia ser produzido ao final. Um efeito que, por óbvio, não
descende de uma eficácia que tem a mesma qualidade e eficácia da sentença. A
tutela antecipatória permite que sejam realizadas antecipadamente as consequências
concretas da sentença de mérito. Essas consequências concretas podem ser identifi-
cadas com os efeitos externos da sentença, ou seja, com aqueles efeitos que operam
fora do processo e no âmbito das relações de direito material.

7. Para Chiovenda, só haverá jurisdição onde houver coisa julgada. A tutela antecipada rompe com o mito da
coisa julgada material. As novas exigências do mundo contemporâneo não mais podem esperar a coisa julga-
da material. A cognição sumária também pode dar guarida à pretensão, dentro da moderna teoria geral do
processo que prima pelo resultado útil do processo e sua efetividade.
8. Código de Processo Civil comentado. 10. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 523.
9. MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação da tutela. 9. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 50.

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