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Vamos aproveitar as passagens bíblicas que a

liturgia nos oferecerá nos próximos três domingos


para refletir sobre a importância da formação.
Neste domingo, procurando entender porque
Jesus explicava as coisas em parábolas, tiraremos
algumas consequências.
No próximo, veremos que um cristão bem
formado é condição de eficácia no meio do mundo.
Finalmente, veremos a importância de um
conhecimento que, ademais de ser fruto do
estudo, é também fruto da instrução do Espírito
Santo.
O que é uma parábola? É aquilo que
chamávamos antes de “estória”, ou seja, uma
historinha inventada da qual se podem deduzir
diversas verdades importantes. Jesus contava
muitas estórias. Era uma maneira pedagógica de
explicar-se aos seus ouvintes.
As parábolas de Jesus não são difíceis. No
entanto, quando se lê que era concedido aos
Apóstolos conhecer os mistérios do Reino, mas
aos demais não ou quando se observa que Jesus
se dirigia ao povo com parábolas, dá a impressão
que ele não quer que as multidões entendam a
sua mensagem. Até parece que a doutrina de
Jesus é para um grupinho selecionado e
formado por alguns privilegiados. E não é
assim.
Ora, concedamos que, diante da dureza de
coração do povo, Jesus, pedagogicamente, cite o
profeta Isaias e se lamente de que ainda que fale
em parábolas o povo parece encontrar-se tão
torpe para as coisas do Espírito que não entende
as realidades do Reino.
E, no entanto, as parábolas eram altamente
instrutivas, fáceis de captar e muito oportunas no
contexto: “Tudo isso disse Jesus à multidão em
forma de parábola. De outro modo não lhe falava,
para que se cumprisse a profecia: Abrirei a boca
para ensinar em parábolas; revelarei coisas
ocultas desde a criação do mundo” (Mt 13, 34-35).
Portanto, as parábolas são reveladoras de
realidades arcanas, escondidas. Jesus as utiliza
porque sabe que são muito importantes para levar
o povo, paulatinamente, a adentrar nas realidades
do Reino de Deus.
A parábola de hoje é maravilhosa: O
SEMEADOR. Jesus é o semeador que lança em
terra a semente, isto é, a palavra de Deus. Ele a
semeia por todas as partes, em todos os campos,
porque a salvação é para todos. Todos devem ter
acesso à felicidade eterna.
No entanto, os terrenos são diversos. Alguns
estão muito expostos, estão à beira do caminho;
outros não têm profundidade, trata-se duma terra
pedregosa na qual as raízes não podem estender-
se. Mas nem tudo está perdido, também há
terra boa. Isso não significa que as sementes que
caíram à beira do caminho ou em solo pedregoso
não possam produzir frutos.
O terreno seria relativamente indiferente
quando preparado para a plantação. O importante
é trabalhar bem o terreno, mais ainda quando hoje
em dia há técnicas agrônomas eficazmente
comprovadas.
Aí está a missão do cristão: preparar o
terreno, ser terra boa e fazer de tudo para que os
outros terrenos recebam a Palavra de Deus com
generosidade.
Jesus fala com uma linguagem acessível aos
seus ouvintes. É preciso que falemos aos demais
das coisas do Reino de uma maneira cada vez
mais inteligível. Talvez não o façamos porque
nem nós mesmos entendemos aquilo que
gostaríamos de transmitir. Daí a importância do
estudo, da formação contínua, das boas leituras. O
cristão tem que ter muito cuidado para não ser
um “bicho raro”: sabe muito sobre a ciência
humana na qual trabalha (física, química,
matemática, etc.), mas não sabe nada ou quase
nada da ciência de Deus; sabe muito do mundo,
mas não do Criador do mundo; pensa saber muito
sobre a liberdade, mas sem entender
verdadeiramente o que significa o respeito à
liberdade dos seus irmãos.
A nossa evangelização dependerá muito
dessa capacidade de transmissão que
tenhamos. Por outro lado, não se pode pensar
que isso é simplesmente um dom que se tem ou
não se tem. Cada cristão deve ser
evangelizador e por isso deve procurar,
segundo a sua capacidade, crescer no
conhecimento da doutrina cristã, ter uma
verdadeira empatia – uma capacidade de
identificar-se – com as coisas de Deus e com as
coisas dos homens.
Nesse contexto, a amizade é muito importante
para que seja possível compreender os próprios
amigos e ajudá-los falando “a mesma língua” que
eles. Quando se conhece bem a uma pessoa
através da amizade, se lhe poderá falar de Deus
através daquelas realidades humanas nas quais
se encontra mais inserida.
A evangelização é tarefa de todos. No
entanto, hoje eu gostaria de destacar a função dos
leigos. Deus tem um campo, um terreno enorme, e
ele pede que muitos homens e mulheres realizem
a sua vocação cristã no campo do trabalho
profissional, da família, das diversões, da amizade.
Nestes campos terão que lançar a semente,
falar com simplicidade e de maneira
compreensível, utilizar as diversas parábolas
que tenham base no cotidiano dos demais.
Deus lhes ajudará a colher abundantes frutos
em todos os ambientes nos quais devem viver lado
a lado com os demais, implicados em realizar a
sociedade atual na qual também Deus tem direito
a ter o seu lugar.

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