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5. SEGURANÇA

As estruturas de concreto armado devem ser projetadas de modo que apresentem


segurança satisfatória. Podemos definir segurança como o afastamento de uma estrutura
entre a situação prevista em projeto da situação de ruína.

Para verificação de segurança nas estruturas, a ABNT NBR 6118:2014 estabelece o método
dos estados limites, ou seja, uma situação limite a partir da qual a estrutura deixa de atender
a uma das finalidades da construção. A ABNT NBR 6118:2014 descreve no item 10 sobre a
segurança e estados-limites. (Ler item 10 da ABNT NBR 6118:2014)

5.1 Estados-limites últimos (ELU)

É uma situação limite em que haverá ruptura da estrutura. A ABNT NBR 6118:2014 nos
fornece as diretrizes para o estado limite último no item 10.3.

“A segurança das estruturas de concreto deve sempre ser verificada em relação aos
seguintes estados-limites últimos:

a) estado-limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo rígido;

b) estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo


ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais, admitindo-se a redistribuição de
esforços internos, desde que seja respeitada a capacidade de adaptação plástica definida
na Seção 14, e admitindo-se, em geral, as verificações separadas das solicitações normais
e tangenciais; todavia, quando a interação entre elas for importante, ela estará
explicitamente indicada nesta Norma;

c) estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo


ou em parte, considerando os efeitos de segunda ordem;

d) estado-limite último provocado por solicitações dinâmicas (ver Seção 23);

e) estado-limite último de colapso progressivo;

f) estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo


ou em parte, considerando exposição ao fogo, conforme a ABNT NBR 15200;

g) estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, considerando


ações sísmicas, de acordo com a ABNT NBR 15421;

h) outros estados-limites últimos que eventualmente possam ocorrer em casos especiais.”

O dimensionamento das estruturas de concreto armado é feito no Estado Limite Último


(ELU), onde os elementos estruturais são calculados como se estivessem em tese prestes a
romper. No entanto, para evitar que a ruptura ocorra, todas as estruturas são projetadas
com uma margem de segurança, isto é, uma folga relativa aos carregamentos externos
aplicados, de tal forma que, para ocorrer a ruptura a estrutura teria que estar submetida a
carregamentos superiores àqueles a que foi projetada. A margem de segurança no

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dimensionamento dos elementos estruturais ocorre com a consideração dos “coeficientes de


ponderação” ou “coeficientes de segurança”, que farão com que, em serviço, as estruturas
trabalhem a uma determinada “distância” da ruína. Para os coeficientes de segurança são
adotados valores numéricos de tal forma que as ações sejam majoradas, e as resistências
dos materiais sejam minoradas. Existem basicamente três coeficientes de segurança, um
que majora o valor das ações, e consequentemente os esforços solicitantes, e outros dois
que minoram as resistências do concreto e do aço.

Em resumo, segurança é quando todo o conjunto da estrutura, bem como as partes que a
compõe, resiste às solicitações externas na sua combinação mais desfavorável, durante
toda a vida útil, e com uma conveniente margem de segurança.

5.2 Estados-limites de serviço (ELS)

É uma situação limite em que a construção torna-se inadequada para uso. A ABNT NBR
6118:2014 nos fornece as diretrizes para o estado limite último no item 10.4.

“Estados-limites de serviço são aqueles relacionados ao conforto do usuário e à


durabilidade, aparência e boa utilização das estruturas, seja em relação aos usuários, seja
em relação às máquinas e aos equipamentos suportados pelas estruturas. A segurança das
estruturas de concreto pode exigir a verificação de alguns estados-limites de serviço
definidos na Seção 3.”

Os Estados Limites de Serviço definidos pela ABNT NBR 6118:2014 são:

a) “Estado-limite de formação de fissuras (ELS-F) estado em que se inicia a formação de


fissuras. Admite-se que este estado-limite é atingido quando a tensão de tração máxima na
seção transversal for igual a fct,f.” (ABNT NBR 6118:2014, item 3.2.2)

b) “Estado-limite de abertura das fissuras (ELS-W) estado em que as fissuras se


apresentam com aberturas iguais aos máximos especificados na ABNT NBR 6118:2014.”
(ABNT NBR 6118:2014, item 3.2.3)

As estruturas de concreto armado trabalham fissuradas, porque essa é uma de suas


características básicas, porém, no projeto estrutural as fissuras devem ter aberturas
pequenas, não prejudiciais à estética e à durabilidade.

c) “Estado-limite de deformações excessivas (ELS-DEF) estado em que as deformações


atingem os limites estabelecidos para a utilização normal, estabelecidos na ABNT NBR
6118:2014.” (ABNT NBR 6118:2014, item 3.2.4)

Os elementos fletidos como as vigas e as lajes apresentam flechas em serviço. O cuidado


que o projetista estrutural deve ter é de limitar as flechas a valores aceitáveis, que não
prejudiquem a estética e causem insegurança aos usuários.

d) “Estado-limite de vibrações excessivas (ELS-VE) estado em que as vibrações atingem os


limites estabelecidos para a utilização normal da construção.” (ABNT NBR 6118:2014, item
3.2.8)

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O projetista deverá eliminar ou limitar as vibrações de tal modo que não prejudiquem o
conforto dos usuários na utilização das estruturas.

Além de analisar o estado limite último, as estruturas também devem ser analisadas quanto
às deformações, fissurações e vibrações excessivas de seus elementos, visando garantir à
estética e a boa utilização da construção. Esses aspectos são tratados pelos Estados
Limites de Serviço.

5.3 Condição de Segurança

“As condições analíticas de segurança estabelecem que as resistências não podem ser
menores que as solicitações e devem ser verificadas em relação a todos os estados-limites
e todos os carregamentos especificados para o tipo de construção considerado, ou seja, em
qualquer caso deve ser respeitada a condição:” (ABNT NBR 6118:2014, item 12.5.2)

Rd ≥ Sd

Valores de resistências de cálculo podem ser obtidos a partir da equação:

fk
fd=
γm

fk é a resistência característica do material;

γm é o coeficiente de ponderação do material;

Conforme a ABNT NBR 6118:2014 no item 12.4 as resistências devem ser minoradas pelo
coeficiente:

γm=γm 1∗γm 2∗γm 3

onde:

γm1 – considera a variabilidade da resistência dos materiais envolvidos;

γm2 – considera a diferença entre a resistência do material no corpo de prova e na


estrutura;

γm3 – considera os desvios gerados na construção e as aproximações feitas em projeto do


ponto de vista das resistências.

Os coeficientes de ponderação podem assumir diferentes valores quando se tratam dos


Estados Limites Últimos e de Serviço. Para o Estado Limite Último os coeficientes de
ponderação das resistências são apresentados de acordo com a tabela abaixo:

Tabela 4 – Valores dos coeficientes γc e γs

Combinações Concreto (γc) Aço (γs)

Normais 1,4 1,15

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Especiais ou de construção 1,2 1,15

Excepcionais 1,2 1,0

Fonte: adaptada da tabela 12.1 da NBR 6118 (2014)

Os coeficientes de segurança assumem valores diferentes em função do tipo de


combinação das ações. Porém, para a maioria das construções a combinação normal é a
mais frequente.

Para verificação dos elementos estruturais nos Estados Limites de Serviço as resistências
dos materiais não necessitam de minoração, portanto, γm = 1,0.

Os valores das solicitações de cálculo são obtidos a partir das combinações das ações uma
vez que temos diversos tipos de ações aos quais devemos aplicar os coeficientes de
segurança necessários. As combinações das ações são tratadas no item 11.8 da ABNT
NBR 6118:2014.

5.3.1 Combinações de ações

“Um carregamento é definido pela combinação das ações que têm probabilidades não
desprezíveis de atuarem simultaneamente sobre a estrutura, durante um período
preestabelecido. A combinação das ações deve ser feita de forma que possam ser
determinados os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura; a verificação da segurança em
relação aos estados-limites últimos e aos estados-limites de serviço deve ser realizada em
função de combinações últimas e de combinações de serviço, respectivamente.” (ABNT
NBR 6118:2014, item 11.8.1)

a) Combinações últimas usuais

Tabela 5 – Combinações últimas

Combinações
últimas Descrição Cálculo das solicitações
(ELU)

Normais Esgotamento da
capacidade
resistente para
elementos Fd=γgFgk + γεgFεgk+ γq ( Fq 1 k +∑ ψojFqjk ) +γεqψoεFεqk
estruturais de
concreto armado
a

Esgotamento da Deve ser considerada, quando necessário, a força de


capacidade protensão como carregamento externo com os valores
resistente para Pkmáx e Pkmín para a força desfavorável e favorável,
elementos
respectivamente, conforme definido na Seção 9
estruturais de
concreto
protendido

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Perda do
equilíbrio como Fnd=γgnGnk + γqQnk−γqsQs , min , onde :Qnk=Q1 k +∑ ψojQjk
corpo rígido

Especiais ou de
Fd=γgFgk + γεgFεgk+ γq ( Fq 1 k +∑ψojFqjk ) +γεqψoεFεqk
construção b

Excepcionais b Fd=γgFgk + γεgFεgk+ Fq1 exc + γq ∑ ψojFqjk+ γεqψoεFεqk

onde

Fd é o valor de cálculo das ações para combinação última;

Fgk representa as ações permanentes diretas;

Fεk representa as ações indiretas permanentes como a retração Fεgk e variáveis como a temperatura Fεqk;

Fqk representa as ações variáveis diretas das quais Fq1k é escolhida principal;

γg, γεg, γq, γεq ver Tabela 11.1;

ψoj, ψoε ver Tabela 11.2;

Fsd representa as ações estabilizantes;

Fnd representa as ações não estabilizantes;

Gsk é o valor característico da ação permanente estabilizante;

Rd é o esforço resistente considerado estabilizante, quando houver;

Gnk é o valor característico da ação permanente instabilizante;

m
Qnk=Q 1 k +∑ ❑ ψojQjk ;
j=2

Qnk é o valor característico das ações variáveis instabilizantes;

Q1k é o valor característico da ação variável instabilizante considerada principal;

ψoj e Qjk são as demais ações variáveis instabilizantes, consideradas com seu valor reduzido;

Qs,mín é o valor característico mínimo da ação variável estabilizante que acompanha obrigatoriamente uma
ação variável instabilizante.

a No caso geral, devem ser consideradas inclusive combinações onde o efeito favorável das cargas
permanentes seja reduzido pela consideração de γg = 1,0. No caso de estruturas usuais de edifícios, essas
combinações que consideram γg reduzido (1,0) não precisam ser consideradas.

b Quando Fq1k ou Fq1exc atuarem em tempo muito pequeno ou tiverem probabilidade de ocorrência muito
baixa, ψ0j pode ser substituído por ψ2j. Este pode ser o caso para ações sísmicas e situação de incêndio.

Fonte: adaptada da tabela 11.3 da NBR 6118 (2014)

No cálculo das estruturas em concreto armado geralmente utilizamos a combinação última


normal para o esgotamento da capacidade resistente dos elementos estruturais, ou seja, a
primeira equação da tabela de combinações últimas.
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b) Combinações de serviço

“São classificadas de acordo com sua permanência na estrutura e devem ser verificadas
como estabelecido a seguir:

a) quase permanentes: podem atuar durante grande parte do período de vida da estrutura, e
sua consideração pode ser necessária na verificação do estado-limite de deformações
excessivas;

b) frequentes: repetem-se muitas vezes durante o período de vida da estrutura, e sua


consideração pode ser necessária na verificação dos estados-limites de formação de
fissuras, de abertura de fissuras e de vibrações excessivas. Podem também ser
consideradas para verificações de estados-limites de deformações excessivas decorrentes
de vento ou temperatura que podem comprometer as vedações;

c) raras: ocorrem algumas vezes durante o período de vida da estrutura, e sua


consideração pode ser necessária na verificação do estado-limite de formação de fissuras.”
(ABNT NBR 6118:2014, item 11.8.3.1)

Para a verificação da flecha (estado limite de serviço de deformações excessivas) utilizamos


a combinação quase-permanente, para a verificação da fissura (estado limite de serviço de
abertura de fissuras e formação de fissuras) utilizamos as combinações freqüente e rara e
para a verificação da vibração (estado limite de serviço de vibrações excessivas) utilizamos
a combinação freqüente.

Tabela 6 – Combinações de serviço

Combinaçõe
s de serviço Descrição Cálculo das solicitações
(ELS)

Combinaçõe Nas combinações quase


permanentes de serviço, todas
s quase
as ações variáveis são
permanentes
consideradas com seus
Fd , serv=∑ Fgi , k+ ∑ψ 2 jFqj , k
de serviço valores quase permanentes
(CQP) ψ2 Fqk

Nas combinações frequentes


de serviço, a ação variável
Combinaçõe principal Fq1 é tomada com
s freqüentes seu valor frequente ψ1 Fq1k
Fd , serv=∑ Fgi , k+ ψ 1 Fq1 , k +∑ψ 2 jFqj , k
de serviço e todas as demais ações
(CF) variáveis são tomadas com
seus valores quase
permanentes ψ2 Fqk

Combinaçõe Nas combinações raras de Fd , serv=∑ Fgi , k+ Fq1 , k +∑ ψ 1 jFqj , k


s raras de serviço, a ação variável
serviço (CR) principal Fq1 é tomada com
seu valor característico Fq1k e
todas as demais ações são
tomadas com seus valores
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frequentes ψ1 Fqk

onde

Fd,ser é o valor de cálculo das ações para combinações de serviço;

Fq1k é o valor característico das ações variáveis principais diretas;

ψ1 é o fator de redução de combinação frequente para ELS;

ψ2 é o fator de redução de combinação quase permanente para ELS.

Fonte: adaptada da tabela 11.4 da NBR 6118 (2014)

5.3.2 Coeficientes de ponderação das ações

As ações devem ser majoradas pelo coeficiente γf, cujos valores encontram-se
estabelecidos em 11.7.1, 11.7.2 e Tabelas 11.1 e 11.2 da ABNT NBT 6118:2014.

Tabela 7 – Coeficiente γf = γf1.γf3

Permanentes Variáveis Protensão Recalques de


Combinações apoio e retração
(g) (q) (p)
de ações
D F G T D F D F

Normais 1,4 a 1,0 1,4 1,2 1,2 0,9 1,2 0

Especiais ou 1,0 0,9 0


1,3 1,0 1,2 1,2 1,2
de construção

Excepcionais 1,2 1,0 1,0 0 1,2 0,9 0 0

onde

D é desfavorável, F é favorável, G representa as cargas variáveis em geral e T é a temperatura.

a Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das estruturas, especialmente
as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido para 1,3.

Fonte: adaptada da tabela 11.1 da NBR 6118 (2014)

Tabela 8 – Valores o coeficiente γf2

γf2
Ações
ψ0 ψ 1a ψ2

Cargas Locais em que não há predominância de


acidentais pesos de equipamentos que permanecem
0,5 0,4 0,3
de edifícios fixos por longos períodos de tempo, nem
de elevadas concentrações de pessoas b

Locais em que há predominância de 0,7 0,6 0,4


pesos de equipamentos que permanecem

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fixos por longos períodos de tempo, ou de


elevada concentração de pessoas c

Biblioteca, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6

Pressão dinâmica do vento nas estruturas


Vento 0,6 0,3 0
em geral

Variações uniformes de temperatura em


Temperatura 0,6 0,5 0,3
relação à média anual local

a Para os valores de ψ1 relativos às pontes e principalmente para os problemas de fadiga, ver Seção 23.

b Edifícios residenciais.

c Edifícios comerciais, de escritórios, estações e edifícios públicos.

Fonte: adaptada da tabela 11.2 da NBR 6118 (2014)

Exercício 3

Seja um edifício hipotético de concreto armado de uso residencial submetido às seguintes


ações:

• Peso próprio (Pp)

• Alvenarias e revestimentos (G)

• Carga variável de uso (Q)

• Vento (V)

Faça a combinação normal última das ações para a verificação do estado limite último
(E.L.U) e as combinações de serviço (combinação quase-permanente, combinação
freqüente e combinação rara) para verificação do estado limite de serviço (E.L.S).

BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2014 - Projeto de


estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, ABNT, 2014.

BASTOS, P. S. S. Notas de Aula Concreto Armado 1 - Fundamentos. Bauru: UNESP,


2015. Disponível em:
<http://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/concreto1/Fundamentos.pdf>. Acesso em: 18 fev. 2018.

CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e Detalhamento de


Estruturas Usuais de Concreto Armado: Segundo a NBR 6118:2014. 4. ed. São Carlos:
EdUFSCar, 2013.

PINHEIRO, L. M. Fundamentos do concreto e projeto de edifícios. São Carlos: USP,


2007. Disponível em:
<http://coral.ufsm.br/decc/ECC1006/Downloads/Apost_EESC_USP_Libanio.pdf>. Acesso
em: 18 fev. 2018.

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