Você está na página 1de 3

Literatura Professora Sara Eglle

POEMAS DE MANOEL BANDEIRA

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada


Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica


Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo


É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste


Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Poética

Estou farto do lirismo comedido


Literatura Professora Sara Eglle
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

O Último Poema

Assim eu quereria meu último poema


Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

O Anel de Vidro
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
— Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,


Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, —
Aquele pequenino anel que tu me deste,
— Ai de mim — era vidro e logo se quebrou

Não me turbou, porém, o despeito que investe


Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste

Porquinho-da-Índia
Literatura Professora Sara Eglle
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…

— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.

PROPOSTA DE ATIVIDADE

A primeira fase do modernismo na poesia brasileira, também conhecida como "Fase


Heroica", foi marcada por uma ruptura com a estética parnasiana e simbolista, buscando
uma linguagem mais coloquial, livre e experimental.

Uma colagem poética é uma forma de expressão artística que combina trechos de
diferentes poemas, textos ou palavras para criar um novo poema. Assim como um
colagem visual, que combina imagens, fotografias ou recortes para formar uma nova
composição, a colagem poética utiliza fragmentos de diferentes fontes para criar uma
nova obra.

No contexto da poesia modernista, a colagem poética refletiu a ideia de ruptura e


experimentação com a linguagem. Os poetas modernistas buscavam romper com as
convenções poéticas estabelecidas e explorar novas formas de expressão. Ao utilizar
trechos de diferentes poemas, eles podiam criar uma colagem de palavras, ritmos,
imagens e ideias que desafiavam as estruturas tradicionais da poesia.

Os poetas modernistas utilizavam a colagem para criar um efeito de fragmentação,


contraste e diversidade de vozes em seus poemas. Eles exploravam a colagem como
uma forma de expressar a complexidade e a pluralidade da vida moderna, bem como
para questionar a noção de uma identidade ou voz poética unificada.

Portanto, a colagem poética é uma técnica que permite aos poetas criar novas obras a
partir da reunião de fragmentos de diferentes fontes, promovendo a experimentação, a
intertextualidade e a liberdade criativa na poesia.

Colagem poética: O modernismo foi marcado por experimentações e pela quebra de


padrões estabelecidos. Cada equipe deve criar uma colagem, na qual devem
selecionar trechos de diferentes poemas modernistas e combiná-los para criar um
novo poema. Podem ser trechos de seus próprios poemas ou de poetas
consagrados.

Você também pode gostar