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PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO, LETRAS E ARTES
RIO BRANCO
2023
ALEXANDRE MELO DE SOUSA
RIO BRANCO
2023
DEDICATÓRIA
Aos meus pais (in memoriam), aos meus irmãos, ao meu esposo, aos
meus amigos e colegas de trabalho, aos meus alunos e alunas (desde os
primeiros, na Educação Básica), à comunidade surda de Rio Branco,
dedico esta pesquisa.
Cada um/a de vocês ajudaram a construir minha carreira profissional e
humana.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa não seria possível sem o apoio de muitas pessoas que listo aqui:
A minha amiga-irmã, Rosane Garcia, que sempre incentivou meu trabalho com a
pesquisa, que acompanhou a investigação (desde a ideia inicial) e produziu as tabelas com tanto
capricho e carinho;
Agradeço aos meus alunos, bolsistas e orientandos, surdos e ouvintes, por sempre me
ensinar e me construir como professor e pesquisador.
RESUMO
A Onomástica é a disciplina linguística que se dedica ao estudo dos nomes próprios em geral.
As pesquisas onomásticas em Língua Brasileira de Sinais (Libras) são recentes e têm
demonstrado a relação entre língua e cultura na análise do léxico das línguas sinalizadas.
Considerando que o ato de nomear é inerente ao homem e que estão envolvidos fatores
motivacionais, o sujeito surdo nomeia aquilo e aqueles que fazem parte do seu universo social
e cultural (SOUSA, 2022a): espaços, pessoas, animais. A presente pesquisa parte da seguinte
questão: quais as características formais e semântico-motivacionais dos sinais zoonímicos em
Libras? A pesquisa tem principal objetivo caracterizar formal e semanticamente os sinais
atribuídos por surdos aos animais de estimação. Os participantes da pesquisa são surdos, de
ambos os sexos, com idades variando entre 10 e 20 anos. Os dados foram coletados por meio
de entrevistas realizadas em Rio Branco (28 entrevistas) e em Campinas (24 entrevistas), e
totalizaram 106 sinais. A pesquisa, de natureza aplicada, abordagem quali-quanti e documental.
A fundamentação teórica tomou como base os estudos de Biderman (2001), Dick (1990), Sousa
(2022a; 2022b), para tratar sobre o léxico e a Onomástica; Quadros e Karnopp (2004), Quadros
(2019) e Taub (2000), para as bases estruturais, funcionais e icônicas das línguas de sinais.
Quantos aos aspectos formais, 92,45% dos sinais apresentaram o tipo simples, 1,89%
apresentaram o tipo simples híbrido e 0,94% dos sinais foram compostos. Não houve
ocorrências de sinais compostos híbridos. Os resultados mostraram que houve pouca influência
da língua portuguesa na produção estrutural dos sinais. Quanto aos aspectos semântico-
motivacionais, 62,26% dos sinais foram motivados por aspectos físicos dos animais
(especialmente tipos de pelos e marcas no pelo); 24,53% dos sinais zoonímicos foram
motivados por aspectos comportamentais dos animais (como a maneira de caminhar ou o
temperamento do animal); 2,83% dos sinais foram motivados por empréstimo da língua oral.
Além desses motivadores, 8,49% dos sinais foram influenciados por outros aspectos, como
acessórios, metáforas etc. Com isso, vemos que os aspectos visuais predominam nos processos
de nomeação por sujeitos surdos, como ocorreu com as nomeações zoonímicas. Com base nas
análises, foi possível propor um conjunto de taxes para as classificações dos zoonimos em
Libras: Aspectos Zooanatômicos (para os sinais zoonímicos influenciados pelas características
físicas do animal); Aspectos Zooetológicos (para os sinais zoonímicos influencias pelas
características comportamentais e temperamentais do animal); e Aspectos Zooextrínsecos (para
os sinais influenciados por elementos externos ao animal, como a língua oral, acessórios,
personagens ou artistas, metáforas, entre outras). A pesquisa conclui que a cultural e experiência
visual do surdo se reflete no ato de nomear os animais de estimação.
Onomastics is the linguistic discipline dedicated to the study of proper names in general.
Onomastic research in Brazilian Sign Language (Libras) is recent and has demonstrated the
relationship between language and culture in the analysis of the lexicon of signed languages.
Considering that the act of naming is inherent to man and that motivational factors are involved,
the deaf subject names that and those that are part of his social and cultural universe (SOUSA,
2022a): spaces, people, animals. This research starts from the following question: what are the
formal and semantic-motivational characteristics of zoonymic signs in Libras? The main
objective of this research is to formally and semantically characterize the signs attributed by
deaf people to pets. The research participants are deaf, of both sexes, aged between 10 and 20
years. Data were collected through interviews carried out in Rio Branco (28 interviews) and in
Campinas (24 interviews), and totaled 106 signals. The research, of applied nature, quali-quanti
and documental approach. The theoretical foundation was based on the studies of Biderman
(2001), Dick (1990), Sousa (2022a; 2022b), to deal with the lexicon and Onomastics; Quadros
and Karnopp (2004), Quadros (2019) and Taub (2000), for the structural, functional and iconic
bases of sign languages. As for the formal aspects, 92.45% of the signs presented the simple
type, 1.89% presented the simple hybrid type and 0.94% of the signs were composed. There
were no occurrences of hybrid composite signals. The results showed that there was little
influence of the Portuguese language on the structural production of signs. As for the semantic-
motivational aspects, 62.26% of the signs were motivated by physical aspects of the animals
(especially types of fur and marks on the fur); 24.53% of the zoonymic signs were motivated
by behavioral aspects of the animals (such as the way they walked or the animal's temperament);
2.83% of the signs were motivated by oral language borrowing. In addition to these motivators,
8.49% of the signs were influenced by other aspects, such as accessories, metaphors, etc. With
this, we see that visual aspects predominate in naming processes by deaf subjects, as occurred
with zoonymic naming. Based on the analyses, it was possible to propose a set of taxes for the
classification of zoonyms in Libras: Zooanatomical Aspects (for zoonymic signs influenced by
the physical characteristics of the animal); Zooethological aspects (for zoonymic signs
influenced by the behavioral and temperamental characteristics of the animal); and Zooextrinsic
Aspects (for signals influenced by elements external to the animal, such as oral language,
accessories, characters or artists, metaphors, among others). The research concludes that the
cultural and visual experience of the deaf is reflected in the act of naming pets.
4 METODOLOGIA ..................................................................................... 66
4.1 Caracterização da pesquisa ...................................................................... 66
4.2 Das áreas de estudo ................................................................................... 68
4.3 Da seleção de participantes da pesquisa ................................................... 69
4.4 Da coleta, transcrição dos dados .............................................................. 71
4.5 Dos procedimentos de análise ................................................................... 75
Minha saída da Escola Piamarta se deu quando fui aprovado no Mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Linguística (PPGL), da Universidade Federal do Ceará, em 2002. Sob a
orientação do professor Dr. Paulo Mosânio Teixeira Duarte (in memoriam), concluí a pesquisa
com 1 ano e 6 meses, defendendo a Dissertação em 2003.
A experiência na pós-graduação ampliou minha visão de ensino. Passei a entender que,
como descreve Veiga (2006, p. 13), “ensinar e aprender envolvem o pesquisar. E essas três
dimensões necessitam do avaliar. Esse processo não se faz de forma isolada. Implica interações
entre sujeitos ou entre sujeitos e objetos”.
No mesmo ano de 2003, fiz seleção para o Doutorado, no PPGL, e fui aprovado. A
pesquisa foi orientada, inicialmente, pelo mesmo professor. Contudo, por razões pessoais, o
orientador pediu descredenciamento do Programa.
Esse fato fez com que eu mudasse de orientador e de área de pesquisa. A professora
Dra. Maria do Socorro Silva de Aragão passou a me orientar com temática voltada para as
relações entre o léxico e a cultura.
Em 2003, fui aprovado como professor substituto na Universidade Estadual do Ceará
(UECE), atuando no Curso de Letras, em disciplinas de Língua Portuguesa, Linguística e
Práticas de Ensino. Nesta Universidade permaneci até 2005, quando prestei concurso para a
área de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Acre (UFAC). Tomei posse no dia 5 de
dezembro de 2005.
A mudança geográfica coincidiu com a mudança de orientadora no Doutorado e,
estando em terras acreanas, passei a pesquisar sobre os nomes de espaços geográficos
(toponímia) do Acre. Vale lembrar que eu já tinha concluído os créditos das disciplinas no
PPGL e estava em fase de escrita da Tese – que foi defendida no dia 7 de abril de 2007.
Devo dizer que minha inserção nos estudos toponímicos foi um “divisor de águas” em
minha carreira como pesquisador. Passei a publicar artigos e capítulos de livros sobre a temática
e orientar pesquisas de Iniciação à Pesquisa (PIBIC) e de Mestrado. Além disso, é de minha
autoria o primeiro trabalho de aplicação da toponímia em salas de aula da Educação Básica –
estudo que me dá muito orgulho.
Mas considero o ano de 2013 um marco em minha vida que provocou mudança pessoal
e profissional, e que mudou a trajetória da minha carreira acadêmica (no ensino, na pesquisa e
na extensão). Fui convidado para compor a Comissão de Criação do Curso de Licenciatura em
15
Veiga (2006, p. 24) explica que “para o professor concretizar seu ato de ensinar de
forma satisfatória, o vínculo afetivo é uma dimensão indispensável, uma vez que emoções,
interesses pessoais, sonhos permeiam toda relação pedagógica”. No meu entender, os vínculos
educacionais são estabelecidos, de modo especial, por meio da língua.
Devido ao contato com os alunos surdos, os professores bilingues e os TILSP, eu era
constantemente incentivado a aprender Libras. Em 2015, fiz o Curso Básico de Libras, com a
professora Anna Jamilly Santos Martins Pontes (que era TILSP no Letras Libras). Após esse
curso, concluí o Curso Intermediário de Libras, o Curso Avançado de Libras – com a mesma
professora – e o Curso de Tradutor-Intérprete de Língua de Sinais, ministrado pelo professor
Israel Queiroz.
Agora, conseguindo interagir com os discentes surdos do Letras Libras, passei a
orientar os bolsistas de PIBIC. Fui orientador das discentes surdas: Manuella Trindade Bezerra
e Fernanda Albuquerque da Silva – as primeiras surdas participantes do Programa de Bolsas de
Iniciação Científica CNPq da Universidade Federal do Acre.
Em 2016, acompanhado do professor Israel Queiroz, fiz uma visita técnica à
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para conhecer o funcionamento dos Cursos de
Letras Libras (Licenciatura e Bacharelado). Recebidos pela professora Karin Strobell,
conhecemos as instalações onde o curso funcionava: salas de aula, laboratórios, sala de TILSP
etc. Essa oportunidade foi fundamental para implementarmos mudanças organizacionais no
Letras Libras da UFAC. Em mim, despertou também, o desejo de realizar estágio pós-doutoral
com foco em Libras.
Em conversa com a bolsista PIBIC Manuella Trindade, iniciamos as pesquisas sobre
a toponímia em Libras do Acre. Era uma ideia ainda embrionária, pois ainda não tinha
amadurecido os processos de formação dos sinais toponímicos em suas dimensões estruturais
e semânticas. Mas os estudos começaram... e tomaram uma dimensão que nunca imaginei.
Iniciamos catalogando os sinais, elaborando as fichas-lexicográfico toponímicas e comparando
os processos de análise das línguas orais e de sinais.
Como participante do Grupo da ANPOLL de Lexicologia, Lexicografia e
Terminologia, apresentei no encontro de 2017, apresentei os primeiros resultados desse projeto.
Para alguns pesquisadores, a análise toponímica em Libras causou estranheza. Mas permaneci
firme, pois acreditava que a área ficaria mais enriquecida com a ampliação dos estudos
toponímicos em línguas de sinais. Neste mesmo encontro, em conversa com a professora Dra.
Enilde Faustich, tomei conhecimento da pesquisa desenvolvida pelo professor Edinilson Souza
17
Júnior, da UFSC, que ela orientou na Universidade de Brasília (UnB). Retornei ao Acre ainda
mais motivado a prosseguir com as pesquisas onomásticas em Libras.
Em 2018, enviei mensagem à professora Dra. Ronice Müller de Quadros, da UFSC,
principal referência em estudos linguísticos da Libras no Brasil, e lhe falei sobre o projeto de
toponímia em Libras e meu desejo de que ela fosse minha supervisora de Pós-Doutorado. Sua
resposta foi positiva e muito animadora.
Coincidentemente, foi publicado edital de Bolsa de Pós-Doutorado Sênior do CNPq.
Concorri e fui aprovado. Passei a organizar meu afastamento da UFAC – aprovado pela
Assembleia de Centro de Educação, Letras e Artes (CELA). E parti para Florianópolis para
iniciar o estágio na UFSC.
Tudo ia bem até que o inesperado aconteceu: minha mãe descobriu um câncer e
precisou iniciar um tratamento muito doloroso. Não tive escolha: conversei com a professora
Ronice Quadros, que prontamente, me motivou a acompanhar minha mãe e iniciar as leituras e
a pesquisa de Fortaleza. Infelizmente, minha mãe faleceu. Retornei à Florianópolis e mergulhei
nos estudos e na pesquisa para preencher meu coração.
O período que estive na UFSC, aproveitei todas as oportunidades para imergir na
comunidade surda e nos ambientes de ensino e pesquisa: assisti aulas na Graduação com os
professores Alexandre Bet, João Paulo Ampessan e Rodrigo Custódio; assisti aulas na Pós-
Graduação com as professoras Ronice Quadros, Marianne Stumpf e Débora Wanderley;
participei de eventos na área da Libras e da Educação de Surdos, publiquei capítulos de livros,
artigos.
Retornando à UFAC, e passei a me dedicar, ainda mais, às atividades relacionadas à
educação de surdos e à Língua Brasileira de Sinais. Direcionei minha atuação nas atividades de
ensino, pesquisa e extensão na UFAC à Libras. Essas experiências nas pesquisas com os alunos
surdos foram transformadoras na minha constituição como educador. E pude perceber que os
alunos também foram transformados. Aprendemos e ensinamos, reciprocamente. Como bem
afirma Veiga (2006, p. 105): “professor e alunos transformam-se e transformam o
conhecimento em aprendizagem”.
Perlin e Rezende (2011) destacam que as posições e práticas escolares precisam
considerar a cultura surda, o conhecimento dos surdos, as experiências dos surdos e tornar esses
ambientes educacionais em espaços de construção de identidades, de representação cultural e
de valorização da língua de sinais. Essas experiências transformam os sujeitos e as práticas
educacionais.
18
Em 2019, fui eleito para a Academia Acreana de Letras (AAL), ocupando a cadeira nº
1. Foi um momento muito significativo na minha trajetória profissional, pelo reconhecimento
do meu trabalho acadêmico no estado do Acre. Em meu discurso, enfatizei a importância de
tronar as obras acessíveis aos Surdos acreanos e de abrir os espaços da AAL para os artistas
Surdos.
Numa replicação do Projeto Inventário Nacional de Libras, coordenado pela
professora Dra. Ronice Quadros, passei a coordenar o projeto Inventário de Libras da Região
de Rio Branco, Acre – aprovado na UFAC e no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP): (CAAE
35002620.9.0000.5010).
Outro projeto – Onomástica em Libras – foi ampliado e passou a acomodar pesquisas
de Iniciação Científica, de Trabalho de Conclusão de Curso, de Mestrado e de Doutorado. E foi
a partir dessas reflexões que surgiu a ideia da presente pesquisa.
A Onomástica estuda os nomes próprios em geral. No Brasil, os estudos onomásticos
estão centrados na Antroponímia (nomes próprios de pessoas) e na Toponímia (nomes próprios
de lugares). Quanto às línguas de sinais, a realidade é a mesma. Em Sousa (2022a), apresentei
outras subáreas onomásticas que possibilitariam pesquisas interessantes: nomes próprios de
corpos celestes (Astronímia), nomes próprios de fenômenos atmosféricos (Metereonímia),
nomes próprios de estabelecimentos comerciais e produtos (Onionímia) e nomes próprios de
animais de estimação (Zoonímia).
Os animais de estimação são considerados membros da família. Como tais, recebem
cuidados e são batizados como nomes: Totó, Lilica, Bia, Milu entre outros. Alguns animais
ficam famosos e são reconhecidos por seus nomes: Beethoven (cachorro), Dolly (ovelha), Babe
(porco), Tião (chipanzé) entre outros.
Certa vez, em visita do professor surdo João Renato dos Santos Junior (naquele
momento, meu orientando de mestrado) meus dois gatinhos foram batizados: um com um sinal
em referência à cor dos seus olhos e a outra com um sinal em referência a duas marcas no pelo
próximas (na lateral) aos seus olhos.
Passei a relacionar as nomeações em Libras individuais dos animais de estimação de
surdos, às nomeações em Libras de pessoas e de lugares. Em Sousa (2022a), propus que os
sinais próprios de animais de estimação pudessem ser analisados quanto à estrutura e quanto às
motivações semânticas. Como um estudo piloto, convidei a discente surda Monalisa de Abreu
Teixeira para coletar alguns sinais de estimação com seus amigos surdos para que pudéssemos
verificar as nomeações na perspectiva no surdo. O resultado foi publicado em Teixeira (2022).
19
Os dados coletados por Teixeira (2022) foram analisados a partir das categorias que
propomos em Sousa (2022a). Os participantes foram escolhidos aleatoriamente, mas os
resultados foram importantes para que eu pudesse pensar num estudo com mais rigor científico.
Em 2022, iniciei um estágio pós-doutoral na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), sob a supervisão da professora Dra. Ivani Rodrigues de Lima. A interlocução
com a professora Ivani Rodrigues contribuiu significativamente para a constituição da pesquisa
que ora apresentamos e que parte da seguinte questão: quais as características formais e
semântico-motivacionais dos sinais zoonímicos em Libras?
A pesquisa tem por objetivo precípuo caracterizar formal e semanticamente os sinais
atribuídos por surdos aos animais de estimação. Os participantes da pesquisa são surdos, de
ambos os sexos, com idades variando entre 10 e 20 anos. Os dados foram coletados por meio
de entrevistas realizadas em Rio Branco (28 entrevistas) e em Campinas (24 entrevistas), e
totalizaram 106 sinais.
A pesquisa, de natureza aplicada, abordagem quali-quantitativa e documental, tem
como objetivo geral: descrever (formalmente e semanticamente) os sinais utilizados por surdos
para nomear seus animais de estimação. Para atingir esse objetivo, traçamos os seguintes
objetivos específicos: (a) traçar o perfil dos participantes da pesquisa, com base no processo de
aquisição da Libras e das relações com os animais de estimação; (b) classificar os sinais
zoonímicos em Libras, com base nos tipos de formação; (d) identificar os aspectos
motivacionais que influenciam os surdos no ato de nomeação dos animais de estimação em
Libras; (e) elaborar taxes para a classificação dos sinais zoonímicos, com base nas
características dos dados obtidos; (f) quantificar os dados da pesquisa.
A Tese está organizada em 5 partes principais: na primeira, trataremos sobre a Libras
e o léxico. Nessa parte, descreveremos o léxico em Libras a partir dos níveis: fonético-
fonológico, morfológico e lexical, e semântico. Esses níveis serão importantes para as análises
dos sinais zoonímicos.
Na segunda parte, nosso interesse será quanto à Lexicologia e a Onomástica com foco
nas línguas de sinais. Utilizaremos aportes teóricos de pesquisadores nacionais e internacionais,
além de destacar pesquisas realizadas no Brasil e, de modo especial, no estado do Acre.
Na terceira parte, apresentaremos o desenho metodológico deste estudo: a
caracterização geral da pesquisa, o lócus do estudo, a seleção dos participantes, o processo de
entrevistas (geração dos dados), de catalogação e transcrição dos dados, além dos
procedimentos de análise.
20
Antes desse reconhecimento legal, havia poucas pesquisas sobre a Libras, Ferreira-
Brito (1984; 1990; 1995), Quadros (1995; 1999), Karnopp (1994; 1999) – contudo, como
apontam Quadros e Stumpf (2018, p. 21), essas pesquisas iniciais provocaram “um impacto
importante na proposição do reconhecimento da Libras, pois subsidiaram cientificamente os
argumentos quanto ao estatuto linguístico desta língua na elaboração da Lei de Libras,
reivindicada pelos movimentos surdos” organizados pela Federação Nacional de Educação e
Integração dos Surdos (FENEIS).
No âmbito acadêmico-científico, atualmente, há um crescente número de pesquisas
(desenvolvidas por estudiosos surdos e ouvintes) decorrente dos espaços conquistados pelos
surdos, em níveis de graduação e pós-graduação. Stumpf e Quadros (2019) apresentam um
panorama das pesquisas desenvolvidas no Brasil por surdos e ouvintes bilingues. Só na UFSC,
até a data da publicação, foram formados 12 doutores surdos. Segundo as autoras, “em 2004,
houve ações pioneiras que deram início ao empoderamento de surdos na academia” (STUMPF;
QUADROS, 2019, p. 227).
Nesta pesquisa, interessa-nos a constituição lexical da Libras, mais detidamente a sua
dimensão onomástica. Desse modo, convém estabelecer o conceito de léxico e, dentro dele, o
lugar dos nomes próprios.
Biderman (1998; 2001) afirma que o léxico tem relação, tanto com o processo de
nomeação, quanto com a cognição da realidade. Comecemos com a primeira relação: como
dissemos em trabalho anterior, “nomear é fazer existir” (SOUSA, 2022a, p. 6). Quando o
homem dar nomes às coisas do mundo, ele registra “o conhecimento do universo”
(BIDERMAN, 2001, p. 13). Nesse processo o léxico de uma língua é gerado por meio de “atos
sucessivos de cognição da realidade e de categorização da experiência, cristalizada em signos
linguísticos: as palavras” (BIDERMAN, 2001, p. 13).
Nas palavras de Sousa e Dargel (2017, p. 7-8):
Cada grupo linguístico e cultural gera seu léxico e o compartilha a partir das interações,
das necessidades comunicativas e classificatórias, por meio de um processo criativo.
Assim, Biderman (2001, p. 14) conclui “[...] o léxico de uma língua natural pode ser
identificado com o patrimônio vocabular de uma dada comunidade linguística ao longo de sua
história”. E completa:
Villalva e Silvestre (2014) explicam que aquilo que entendemos por léxico de uma
língua constitui um processo em que às palavras utilizadas por um dado falante, dentro de uma
comunidade de outros falantes,
Desse modo, entendemos que o léxico está em constante renovação e novos itens são
criados, seja na sua forma, seja no seu significado. Lamb (1974) já afirmava que o léxico é um
componente da língua aberto, dinâmico e, por essa razão, precisa ser documentado para exames
futuros. Basílio (2004, p. 9) diz que o léxico é “uma espécie de banco de dados previamente
classificados, um depósito de elementos de designação, o qual fornece unidades básicas para a
construção de enunciados”.
E Antunes (2007, p. 42-43) conclui:
[...] o léxico é mais do que uma lista de palavras à disposição dos falantes. É
mais do que um repertório de unidades. É um depositário dos recortes com
que cada comunidade vê o mundo, as coisas que o cercam, o sentido de tudo.
Por isso é que o léxico expressa, magistralmente, a função da língua como
elemento que confere às pessoas identidade: como indivíduo e como membro
pertencente a um grupo.
24
No caso das línguas de sinais, Sousa (2022b) diz que, acompanhando as definições de
Biderman (2018; 2001) e Antunes (2007), o léxico pode ser definido como o conjunto de sinais
à disposição dos falantes, acumulado ao longo do tempo. Inicialmente, é necessário definir
sinal. Para Johnston e Schembri (1999, p. 117):
1
A sign is defined as a relatively stable, identifiable visual-gestural act with anassociated
meaning which is reproduced with consistency by native signers and forwhich, consequently, particular
agreed values can be given for handshape,orientation, location and movement (including lack of
movement). Signs may alsoinclude nonmanual features (such as a particular facial expression, mouth
pattern, or movement of the head and/or trunk).
25
A configuração de mão corresponde à forma que a mão (ou as mãos, no caso dos sinais
bimanuais) assumem na produção do sinal. No caso da figura 2, temos 2 configurações de mão:
nº 02 (mão passiva) e nº 67 (mão ativa), cujas numerações são indicadas no quadro a seguir:
26
De acordo com Klima e Bellugi (1979, p. 50), trata-se do “segundo dos principais
parâmetros de sinais lexicais da ASL é o locus de movimento do sinal, seu ponto de
articulação”2.
Com base em Battison (1978), Ferreira-Brito e Langevin (1995) apresentam as
seguintes locações utilizadas na produção dos sinais em Libras: Cabeça (topo da cabeça, testa,
rosto, orelha, olhos, nariz, boca, bochechas e queixo), tronco (pescoço, ombro, busto, estômago,
cintura, braços, antebraço, cotovelo, pulso), mão (palma, dorso, dedos) e espaço neutro.
O movimento corresponde à “atividade empregada na composição da mão em
determinada localização” (QUADROS, 2019, p. 42). Os movimentos são identificados a partir
de conjuntos, como mostra Quadros (2019): Movimentos de trajetória (retilíneo, sinuoso,
angular), movimentos circulares (circular, semicircular, helicoidal) e movimentos internos dos
sinais (dos dedos, das mãos).
Na figura 2, o movimento do sinal é retilíneo, unidirecional para baixo, quando a mão
ativa vai em direção à mão passiva (que está com a palma da mão para cima) e faz 3 contatos
intensos.
Klima e Bellugi (1979) ressaltam que o movimento é um parâmetro que se constitui a
partir de um produtivo conjunto de formas e direções. E Ferreira-Brito (1995), sobre a Libras,
explica que é necessário observar, ainda) a direcionalidade do movimento (unidirecionais,
bidirecionais, multidirecionais), a velocidade, a frequência (repetições) entre outros traços.
Como dissemos, esses três parâmetros anteriores foram descritos por Stokoe (1960)
em seu estudo sobre a ASL. Atribui-se ao trabalho do linguista americano o início das pesquisas
científicas com foco nas línguas de sinais, a partir de sua proposta de análise fonológica. Após
Stokoe, Battison (1978) incluiu mais um parâmetro fonológico distintivo para a descrição da
ASL: a orientação da palma da mão.
Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 59), “orientação é a direção para a qual a palma
da mão aponta na produção do sinal”. As autoras explicam que a inclusão desse parâmetro se
justifica por haver pares mínimos em sinais que apresentam mudanças de significado por
apresentar diferença da orientação da palma da mão.
Sandler (1989), considerando que a orientação da palma da mão sempre está
combinada com a configuração de mão, propôs agrupar os dois parâmetros, conforme ilustração
a seguir:
“The second major parameter os ASL lexical signs is the locus os a sign’s movement, its
2
Faria-Nascimento (2009, p. 60) afirma que os empréstimos podem ocorrer tanto entre
línguas de sinais, quanto da língua oral para a língua de sinais – especialmente pela proximidade
geográfica e o contato com a língua escrita. Apresentamos uma síntese dos tipos de
empréstimos descritos pela pesquisadora:
a) Empréstimo por transliteração: a transliteração constitui “a representação de
letras de uma língua oral por CMs de uma língua de sinais” (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p.
61);
b) Empréstimo por transliteração pragmática: é uma subcategoria do empréstimo
de transliteração e ocorre pela datilologia (soletração manual) da palavra inteira ou parte dela
por meio de CMs correspondentes às letras do alfabeto. Numa apresentação pessoal, por
exemplo, geralmente o nome próprio da pessoa, em língua oral, é “soletrado” (ex. A-L-E-X-A-
N-D-R-E) e, em seguida, é apresentado o sinal-nome correspondente (como mostramos na
figura 1);
c) Empréstimo por transliteração lexicalizada: é também conhecido como
“datilologia rítmica”. Embora utilize as CMs correspondentes às letras que compõem a palavra
em língua oral, a datilologia incorpora movimentos e altera, na maioria das vezes, o local de
produção da datilologia pragmática. Assim, uma soletração pragmática de N-U-N-C-A, no
processo de lexicalização, associa um ritmo e ocorre a perda de uma CM, sendo produzida N-
U-N-U.
d) Empréstimo por transliteração da letra inicial: este tipo de empréstimo ocorre
quando se utiliza a CM da letra inicial do referente, contudo, a construção do item lexical segue
as regras próprias das formações morfológicas das línguas sinalizadas. Trata-se de uma
formação híbrida, como pontuou Ferreira-Brito (1995);
33
De acordo com Polguère (2018, p. 29), a semântica de uma língua constitui “o conjunto
de sentidos exprimíveis nesta língua, bem como o conjunto de regras de expressão e de
combinação desses sentidos”. É, portanto, um dos níveis estruturais e funcionais de uma língua,
seja oral, seja sinalizada. Essa definição também é defendida por Valli, Lucas e Mulrooney
(2005) ao tratar sobre a semântica na Língua de Sinais Americana (ASL).
34
O significado social, por sua vez, corresponde aos significados construídos por sinais
ou frases a partir de marcas identitárias ou sociais dos sinalizantes. Isso ocorre, por exemplo,
quando determinados sinais são marcados por grupos de usuários (como as gírias).
Sobre essa questão, algumas pesquisas foram desenvolvidas com foco nas gírias em
Libras: Silva (2015), por exemplo, estuda as gírias utilizadas por surdos do Rio Grande do
Norte, dividindo-as em gírias internas (as criadas dentro do grupo de surdos, a partir da Libras,
com o objetivo de sigilo ou eufemismo), e gírias externas (criadas a partir de empréstimos do
português); e Cruz (2020) descreve as gírias utilizadas por surdos de Palmas (TO) em um grupo
3
Since meaning is determined by a specifc community os users, the same combination os
features, or the same sign, may have diferente meanings to diferente communities (VALLI; LUCAS;
MULROONEY, 2005, p. 141).
4
“is the idea, thing, os state of affairs described by the signo or sentence” (VALLI; LUCAS;
MULROONEY, 2005, p. 142).
5
“[...] the sign CAT refers to a four-legged mammal with a tail, whiskers, and so forth. The
meaning os the sign CALIFORNIA is the western state that has the Pacifc Ocean to the West, Mexico
to the South, Oregon to the north, and so forth. That state is the referente os the sign” (VALLI; LUCAS;
MULROONEY, 2005, p. 142).
35
6
“A methafor is generally defined as an extension os the use os a word ou sign beyond its
primary meaning to describe referentes that are similar to the word or sign1s primary refrent” (VALLI;
LUCAS; MULROONEY, 2005, p. 148).
37
Assim, Ferrarezi Jr. (2019) explica que há nomes cujas motivações não podem ser
recuperadas pelos falantes, e há aqueles cujas motivações podem ser recuperadas. Nesse
segundo grupo, as motivações podem ser de ordem extralinguística (metafórica ou icônica), ou
por motivação sistêmica (ou intralinguística), baseada nos recursos gramaticais da própria
língua. As mesmas associações podemos atribuir aos sinais (em línguas visuais-espaciais).
O autor destaca, ainda, o fato de as motivações ativarem recursos culturais, pois
“atuam sobre a configuração que fazemos de nosso mundo, sobre nossa visão dos elementos
que o constituem” (FERRAREZI JR., 2019, p. 113).
Assim, é importante considerar que:
Desse modo, é muito importante considerar o fator cultural na construção dos significados
atribuídos aos itens lexicais, sejam os comuns (genéricos), sem os próprios (específicos). Na
próxima seção, trataremos da Lexicologia e da Onomástica. Daremos destaque aos processos
de nomeação em línguas de sinais e suas relações com a cultura surda. Os aspectos fonético-
fonológicos, morfológicos e semânticos destacados até aqui darão suporte às análises realizadas
mais adiante.
7
Cultural models are constructed as mental representations in the same way as any mental
models with the importante exception that the internalization of cultural models is based on more
socially constrained experiences that is the case for idiosyncratic models (SHORE, 1996, p. 190).
39
3 LEXICOLOGIA E ONOMÁSTICA
3.1 A Onomástica
8
Onomastic studies harken back to our past, to our origins, and thus always awaken curiosity,
not only of scholars, but also of people in general. Surpassing the mere function of nomenclature, the
names of people and places are products of a system of denomination that reflect the way of life of a
42
Rossi (1989) também destaca que o nome próprio não deve ser visto apenas pela óptica
da Linguística, uma vez que, por possuir um significado preenchido pela motivação, certamente
ele se vale de aspectos extralinguísticos na sua constituição como signo linguístico. Além disso,
o nome próprio pode, ainda, ser estudado pela dimensão mística, mágica (BIDERMAN, 1998;
MEXIAS-SIMON; OLIVEIRA, 2004), mas não trataremos desse viés na presente pesquisa.
É comum, os dicionários de linguística e os trabalhos que se dedicam às descrições e
análises de nomes próprios atribuírem à Onomástica apenas duas subáreas 9: Antroponímia
given culture and how this represents their values. Although they may appear to us as familiar, because
we know them and routinely make use of them, when we stop to contemplate the nature of the proper
names of people and places, we almost always realize that these stem from incomprehensible meanings
that are strange to us, even when they refer known people and places.
9
O International Congress of Onomastic Sciences (ICOS 2011) utiliza as terminologias
Antroponomástica e Toponomástica para se referir ao estudo dos nomes próprios de pessoas e ao estudo
43
(estudo dos nomes próprios de pessoas) e Toponímia (estudo dos nomes próprios de lugares) –
como pode ser consultado em Dubois (1973), Câmara Jr (1996) e Trask (2004) – no entanto,
Leite de Vasconcelos (1928), em Antroponímia Portuguesa, conceituou e estabeleceu as
classificações da Onomástica nestes termos:
dos nomes próprios de lugares, respectivamente. No entanto, no presente estudo, optamos por usar
Antroponímia e Toponímia.
44
11
A figura foi elaborada a partir de manchetes extraídas dos sites O Globo (2016), Veja
(2012), Jornal da USP (2021) e UOL (2023).
45
3.1.1 A Antroponímia
Amaral e Seide (2020), após detalhada descrição dos aspectos formais, semânticos,
históricos e legais inerentes aos nomes próprios de pessoas, apresentam a seguinte tipologia:
46
3.1.2 A Toponímia
E acrescenta:
12
A Tese de Dick foi defendida em 1980, mas seu trabalho mais difundido foi publicado em
1990.
48
13
Zinkin (1969) já havia proposto a mesma classificação estrutural para os topônimos
norteamericanos.
49
Isquerdo, sediado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); o Projeto Atlas
Toponímico do Estado de Minas Gerais (ATEMIG), coordenado por Maria Cândida Trindade
Costa de Seabra, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); o Projeto Atlas
Toponímico do Tocantins (ATT) e o Projeto Atlas Toponímico de Origem Indígena do
Tocantins (ATITO), ambos coordenados por Karylleila dos Santos Andrade, sediados na
Universidade Federal do Tocantins (UFT); o Projeto Atlas Toponímico do Estado do Maranhão
(ATEMA), coordenado por Maria Célia Dias de Castro, sediado na Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA); o Projeto Atlas Toponímico da Bahia (ATOBAH), coordenado por Celina
Márcia de Souza Abbade, sediado na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e o Projeto
Atlas Toponímico da Amazônia Ocidental Brasileira (ATAOB), coordenado por Alexandre
Melo de Sousa, sediado na Universidade Federal do Acre (UFAC).
O Projeto ATAOB foi o primeiro a contemplar os dados toponímicos em Libras e a
incluir pesquisadores surdos (bolsistas de Iniciação Científica: PIBIC/CNPq). Esse fato
possibilitou a produção de pesquisas sobre a toponímia em línguas de sinais – o que culminou
com o desmembramento do projeto e tornando o projeto Toponímia em Libras independente.
Feitas as exposições sobre a Antroponímia e a Toponímia, num âmbito geral, na
próxima seção, trataremos da Onomástica em línguas de sinais. Trataremos, também, sobre as
outras subáreas da Onomástica: Onionímia, Teonímia e Zoonímia. Daremos destaque às
pesquisas desenvolvidas na área, com especial atenção, às investigações realizadas no estado
do Acre.
Sousa (2022a) afirma que o estudos dos nomes próprios é muito produtivo nas línguas
de sinais e que em Libras, há sinais próprios para pessoas (sinais antroponímicos ou sinais-
nome), lugares (sinais toponímicos), estabelecimentos comerciais, educacionais e produtos
(sinais onionímicos), fenêmenos atmosféricos (sinais metereonímicos), corpos celestes (sinais
astronímicos), animais (sinais zoonímicos), deuses (sinais teonímicos), que os singularizam ou
os particularizam na comunidade surda, nas interações entre seus pares.
51
Quanto ao sinal onomástico, é preciso considerar, segundo Sousa (2022a), seu caráter
interdisciplinar associado a outros fatores inerentes às línguas de sinais e ao nomeador (o sujeito
surdo). O pesquisador, então, propõe o seguinte esquema:
Desse modo, além das relações entre a Linguística, a História, a Geografia, a Biologia
etc., é preciso observar a criação do sinal onomástico quanto às especificidades de formação de
itens lexicais em línguas de sinais (iconicidade, formação morfológica, por exemplo), quanto
às experiências visuais dos surdos (o modo como os surdos sentem o mundo, sentem as
representações pessoais e espaciais, por exemplo), a cultura surda (a formação da sua
identidade, o protagonismo surdo, sua atuação em grupo, por exemplo) e o contexto social em
52
que estão em constante contato com a Língua Portuguesa escrita e com ouvintes (e, portanto,
ocorrem empréstimos linguísticos).
Stokoe, Casterline e Croneberg (1965), na obra A Dictionary of American Sign
Language on Linguistic Principles destacam a questão motivacional dos sinais que nomeiam
espaços e pessoas em ASL, distribuindo-os em duas naturezas: física e cultural. Além disso, os
pesquisadores destacam o fenômeno do empréstimo linguístico na formação dos sinais
(especialmente quanto ao uso de CM referente às letras iniciais dos nomes próprios em línguas
orais).
Sutton-Spence e Woll (2006), em estudo sobre a Língua de Sinais Britânica,
identificaram empréstimos na constituição dos sinais onomásticos, tanto empréstimos da língua
oral, quanto empréstimos de outras línguas de sinais. No caso dos empréstimos das línguas
orais, ocorrem usos de CMs referentes à palavra inteira ou parte dela. Outra observação
ressaltada pelos pesquisadores foi em relação à iconicidade dos sinais onomásticos a partir de
representações visuais dos espaços geográficos nomeados.
No Brasil, especialmente a partir de 2012, os estudos onomásticos têm crescido no
Brasil. Souza-Júnior (2012) e Aguiar (2012) foram os primeiros a apresentarem pesquisas com
foco em sinais que nomeiam lugares em Libras: o primeiro apresentou uma descrição dos
topônimos em Libras das principais cidades do Brasil e os analisou com base na proposta
classificatória de Dick (1990; 1992); e a segunda analisou sinais toponímicos a partir de duas
perspectivas: os empréstimos das línguas orais e a iconicidade.
A primeira Tese de Doutorado sobre esse tema foi defendida por Chaibue (2022), que
descreveu e analisou a estrutura e as motivações de sinais onomásticos da cidade de Formosa
(GO). A pesquisadora selecionou e catalogou 141 sinais a partir de entrevistas com 10 surdos
e 3 ouvintes, todos pertencentes à comunidade surda local. Os resultados do estudo mostraram
forte motivação icônica dos sinais analisados.
No Acre, desde 2015, os estudos onomásticos têm ganhado força com a entrada de
pesquisadores surdos no projeto ATAOB, como dissemos anteriormente, e diversas
investigações têm sido concluídas. A seguir, apresentaremos alguns estudos desenvolvidos no
Brasil (e no Acre de modo particular), distribuídos por cada uma das subáreas da onomástica.
(sinal-nome) como um item lexical, que tem a função de referenciar alguém, de modo particular
(específico) na comunidade surda, tal como ocorre com a nomeação em língua oral. Embora
não tenham detalhado e aprofundado o assunto, os pesquisadores possibilitaram que Supalla
(1992) apresentasse a primeira proposta de categorização dos sinais-nome.
Supalla (1992), a partir de um corpus constituído de sinais-nome em ASL, classifica
os itens lexicais em dois tipos: arbitrários (Arbitrary Name Sign) e descritivos (Descriptive
Name Sign). No primeiro grupo estariam os sinais motivados pelas letras do nome da pessoa
em língua oral; no segundo, os sinais motivados por características físicas ou comportamentais
do sujeito nomeado).
base em Taub (2000), Carmo (2021) mostrou o processo de criação de sinais icônicos a partir
das etapas de seleção da imagem, esquematização e codificação do sinal.
Já Zegarra (2023) estudou os sinais usados por surdos acreanos para nomear os países
do Continente Americano. O pesquisador partiu da forma do sinal para estabelecer a relação
semântica inerente à motivação dos sinais toponímicos. Os dados foram armazenados em fichas
lexicográfico-toponímicas digitais e as descrições e análises foram realizadas partindo da
proposta de Sousa (2019).
Em Sousa (2022b), temos a primeira publicação em livro sobre a toponímia em Libras.
A obra faz uma ampla revisão bibliográfica dos estudos realizados no Brasil, desde 2012 até
2021, ressaltando as contribuições de cada pesquisa. Além disso, o autor trata sobre a
aplicabilidade da toponímia na educação de surdos, numa perspectiva interdisciplinar.
Somado a isso, Sousa (2002b) discute sobre a estrutura dos topônimos em línguas de
sinais, inspirado nas ideias de Zinkin (1969), Dick (1990) e Faria-Nascimento (2009); e no
componente semântico-motivacional dos sinais toponímicos. Ele parte das ideias de Dick
(1990) e mostra como as categorias propostas pela pesquisadora podem ser aplicadas aos dados
em Libras, ressaltando as especificidades das línguas sinalizadas.
Para Sousa (2022b), o sintagma toponímico apresenta a seguinte formação:
O termo específico, por sua vez, pode apresentar os seguintes tipos de formação,
segundo Sousa (2022b):
58
A proposta de Sousa (2022b) pode ser visualizada a seguir, com exemplos extraídos
do Projeto ATAOB e de Carmo (2021):
14
Sousa (2019) chama formante os sinais que, numa dada comunicação, podem funcionar
sozinhos e possuem sentido. Trata-se de uma forma livre – como ensinaram Bloomfield (1933) e Câmara
Jr. (1970) – mas considerando as especificidades das línguas sinalizadas.
59
Sousa (2022b) lembra que os sinais formados por empréstimos foram classificados por
Faria-Nascimento como “empréstimo por transliteração”. A partir dos dados da pesquisa,
quando o estudioso identificou formações por empréstimo originadas de outros símbolos
gráficos (como numerais, @ e #), ele propôs a classificação por transemiotização, que agruparia
um maior número de empréstimos.
Quanto ao componente semântico-motivacional, Sousa (2022b) utiliza estudos de
diversos pesquisadores nacionais para exemplificar, em Libras, as taxionomias propostas por
Dick (1990). São utilizados os estudos de Santos (2020), Jesus (2019), Ferreira (2019), Carmo
(2021), Miranda (2020), Souza-Junior (2012) e Aguiar (2012), além dos dados do Projeto
ATAOB.
Os sinais toponímicos, segundo Sousa (2022b), podem ter motivações de natureza
física – como propõe Dick (1990) – quando refletem características do lugar nomeado. Vejamos
o exemplo apresentado pelo autor:
O sinal BRASILÉIA, por exemplo, faz referência às árvores que existem no município
acreano. Trata-se, portanto, de um fitotopônimo – como classificou Dick (1990).
Outros sinais toponímicos podem apresentar reflexos da cultura, da história ou da visão
de mundo do povo que habita o lugar nomeado. A seguir, podemos observar um exemplo de
topônimo de natureza antropocultural.
60
No exemplo, temos o sinal BUJARI, que nomeia uma cidade acreana. Bujari é um
município conhecido pela produção do peixe Mandi (bagre). Esse foi o elemento referencial
para a produção do sinal. Nas etapas, temos a seleção da imagem (o peixe, suas características
físicas e a ação de nadar), e esquematização (quando são representados pela configuração de
mão o referente PEIXE e o movimento do nado) e, por fim, a codificação do sinal (o sinal
toponímico).
61
O primeiro a tratar da Onionímia foi Guérios (1973) que incluiu essa subárea nos
domínios da Onomástica. Souza (2019, p. 27) diz que:
Em Libras, podemos apresentar dois trabalhos que tratam sobre os oniônimos: Morais
(2022) e Venancio (2023). No primeiro caso, a pesquisadora analisou os sinais em Libras
atribuídos às instituições bancárias, a partir de surdos de Rio Branco.
Os surdos participantes informaram os sinais a partir de imagens das agências
bancárias. Em seguida, Morais (2022) comparou os sinais com as logomarcas das instituições
e descreveu as produções dos itens lexicais. Os resultados mostraram que 80% dos sinais foram
motivados para identidade visual do banco: sejam as letras, sejam as cores, sejam os símbolos
identificadores.
Venancio (2023), por sua vez, pesquisou sobre os sinais dos estabelecimentos
comerciais do Via Verde Shopping (de Rio Branco). Os dados foram obtidos por meio de
entrevistas com surdos que trabalham e/ou frequentam o shopping.
O estudo revelou que, das 110 lojas, apenas 29 possuem sinais em Libras. Esses sinais
foram apresentaram motivações diversas, distribuídas, quantitativamente, da seguinte forma:
82,7% dos sinais apresentaram relação com as logomarcas das lojas, 13,7% apresentaram
relação com os produtos que eram vendidos ou os serviços que eram oferecidos, e 3,4% não foi
possível identificar a motivação.
Moreira (2023) selecionou os sinais no canal Axé Libras (YouTube) e convidou surdos
para reconhecer os itens lexicais. Em seguida, gravou os sinais e os catalogou em fichas
elaboradas para a pesquisa.
Sousa (2022a) mostrou que os animais domésticos recebem nomes tanto em línguas
orais quanto em línguas de sinais. Há, segundo o pesquisador, inúmeros animais que ficaram
famosos e tiveram seus nomes divulgados nos meios de comunicação.
Laika (uma cadela), que foi o primeiro animal a viajar para o espaço, em 1957;
e Dolly (uma ovelha), que foi o primeiro mamífero a ser clonado, em 1996;
Tião (um chipanzé), que, nas eleições de 1988, recebeu mais de 400 mil votos
para a vaga de Prefeito do Rio de Janeiro (a candidatura não era oficial, mas
o macaco ficou em terceiro colocado entre os mais votados); Bandido (um
touro), que teve reconhecimento internacional por derrubar todos os peões que
tentavam montar nele (SOUSA, 2022a, p. 16).
Do mesmo modo, animais de surdos recebem sinais próprios. O mesmo autor apresenta
o seguinte exemplo:
O sinal ilustrado faz referência a uma marca no pelo do felino, localizado próxima aos
olhos do animal. Diante disso, Sousa (2022a) propõe que, tal como ocorre com os sinais-nome
65
de pessoas, os sinais próprios dos bichos domésticos também possam ser influenciados por
aspectos físicos dos nomeados.
Teixeira (2022), num projeto inicial, reuniu sinais utilizados por surdos para nomear
seus animais de estimação. A pesquisadora, em período pandêmico, conversou com surdos via
Meet, e perguntou se eles tinham animal de estimação e se eles tinham sinais em Libras. O
trabalho foi proposto pelo autor do presente estudo e foi importante para estabelecer a
metodologia adequada para o desenvolvimento desta investigação que ora propomos.
A Zoonímia em Libras é o interesse central desta pesquisa. Queremos saber como os
surdos nomeiam seus animais de estimação, quais as características linguísticas desses sinais e
propor categorias classificatórias para os estudos zoonímicos em línguas de sinais. Desse modo,
na próxima seção, descreveremos a metodologia utilizada para, em seguida, descrever e analisar
os dados.
66
4 METODOLOGIA
Pesquisar tem muito de desafio e de aventura. É uma luta por saber e para
demonstrar o que se sabe. É sempre uma decisão árdua desentranhar o
conhecimento para, com a discrição e o equilíbrio devidos, pô-lo em
circulação e torná-lo acessível aos demais (SERRANO, 2011, p. 11).
A natureza da pesquisa que ora se apresenta é definida como uma pesquisa aplicada,
de acordo com as concepções de Laville e Dionne (1999), Marconi e Lakatos (2003) e Gil
(2002), por singularizar sua finalidade na aquisição de conhecimentos, tendo como principal
motivação a constituição de um desenho metodológico para as pesquisas zoonímicas em Libras,
a partir de dados (sinais em Libras de animais de estimação de surdos) fornecidos por
participantes surdos de Rio Branco (AC) e de Campinas (SP).
Quanto à abordagem a pesquisa se classifica como quali-quantitativa, pois se utiliza
de métodos qualitativos e quantitativos. A pesquisa qualitativa é aquela que busca descrever,
interpretar e explicar determinados fenômenos, a partir de análise de experiências (sejam
individuais, sejam coletivas), de documentos (textos, imagens, entrevistas etc.) entre outras
fontes (PAIVA, 2019).
A pesquisa quantitativa, por sua vez, se utiliza de meios quantificáveis para explicar
determinados fenômenos. Geralmente, o pesquisador recorre à coleta de dados, e realiza
experimentos, comparando dados e “busca padrões que podem ser generalizados para contextos
semelhantes” (PAIVA, 2019, p. 13).
67
Campinas, por sua vez, está localizada da Região Sudeste do Brasil e possui população
estimada em 1.223.237 pessoas (IBGE, 2023). De acordo com a Faculdades de Ciências
15
Informação fornecida pelo Presidente da Associação, Lucas Vargas Machado da Costa,
conforme documento (ANEXO I).
16
Informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Educação (ANEXO II).
17
Informações fornecidas pela Secretaria de Educação do Estado do Acre (ANEXO III).
18
Informações fornecidas pelo Núcleo de Apoio à Inclusão da Universidade Federal do Acre
(ANEXO IV).
69
residência deles. Também deixamos a cargo dos participantes a escolha dos melhores horários
para as gravações.
As entrevistas, em Rio Branco, ocorreram no mês de janeiro de 2023, distribuídas da
seguinte forma:
Importante lembrar que eram critérios para participar da pesquisa: a) ser natural da
cidade de Campinas (SP) ou Rio Branco (AC), ou residir nas respectivas cidades; b) ter se
apropriado da Língua Brasileira de Sinais (interagir em Libras); c) ter entre 10 e 20 anos de
idade.
Só participaram do projeto os sujeitos e/ou seus responsáveis (no caso de participantes
menores de 18 anos) que consentiram, sem quaisquer limitações, a todas as definições de uso e
de disposição de suas imagens, estabelecido no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (APÊNDICE I).
Por recomendação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), foram produzidos Termos
de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) para os participantes de 10 a 13 anos (APÊNDICE
II) e para os participantes de 14 a 17 anos (APÊNDICE III), com adequações linguísticas.
Considerando as dificuldades que grande parte da comunidade surda tem com a Língua
Portuguesa, o TCLE e os TALE foram traduzidos para a Língua Brasileira de Sinais, em
formato de vídeo, de forma que ficassem claros os objetivos, os riscos, as contribuições e a
importância das suas participações na pesquisa.
glosagem dos sinais manuais, com o Identificador de Sinais para a mão direita e para a mão
esquerda e b) tradução de enunciados para a Língua Portuguesa”19.
Foi utilizado o software ELAN, que torna possível uma análise mais detalhada dos
sinais por meio de trilhas específicas no processo de análise das entrevistas. O ELAN foi
fundamental para a realização das transcrições dos vídeos. Por meio do software, foi possível
fazer as marcações de trechos e identificação de lexias (termos genéricos e termos específicos)
para as análises propostas neste estudo.
Figura 35 – ELAN
19
“a) thorough glossing of manual signs, with a Sign Identification for right hand and for left
hand; b) translation of utterances into Portuguese” (QUADROS; SOUSA, 2021, p. 820).
75
Os dados serão analisados quanto aos tipos de formação: sinais simples (constituído
por um único formante em língua nativa), simples híbrido (constituído por um único formante
com empréstimo da língua oral), composto (constituído por mais de um formante em língua
nativa) e composto híbrido (constituído por mais de um formante, sendo um deles por
empréstimo da língua oral); e quanto aos fatores semântico-motivacionais.
76
Nesse último caso, observaremos quais os aspectos que motivam a criação dos sinais
para os animais de estimação dos participantes surdos. Essa etapa tem o objetivo de propor
taxionomias próprias para os sinais próprios (específicos) de cães, gatos, pássaros, peixes ou
quaisquer outros animais que forem informados nas entrevistas.
Para as análises optamos pelo método de análise de conteúdo, tal como proposto por
Bardin (2011, p. 47) que assim define o procedimento:
Nesta seção, apresentaremos a análise dos dados deste estudo. Como já foi dito, nosso
objetivo principal é descrever (formalmente e semanticamente) os sinais utilizados por surdos
para nomear seus animais de estimação. Contudo, antes de tratar dos itens zoonímicos,
consideramos importante discutir questões relacionadas ao perfil dos participantes – os sujeitos
surdos nomeadores.
Em seguida, daremos atenção às questões relacionadas aos itens zoonímicos:
inicialmente, trataremos dos aspectos formais; na sequência, analisaremos a questão semântico-
motivacional inerente aos itens lexicais selecionados.
5.1 Do nomeador
A ideia inicial era termos 60 participantes (30 em Rio Branco e 30 em campinas) e que
as distribuições etárias fossem equilibradas. No entanto, não conseguimos o quantitativo de
participantes esperado devido a inúmeros fatores, mas o principal foi que o período escolar
estava se encerrando e, na maioria das escolas, as aulas tinham acabado e iniciado as férias
escolares.
De todo modo, os números percentuais não ficaram distantes: 53,85% dos
participantes (28 pessoas surdas) foram da capital do Acre e 46,15% (24 pessoas surdas), de
78
Como se pode observar na tabela anterior, apenas 21,15% dos participantes adquiriram
surdez após o nascimento. E todos afirmaram que a perda auditiva ocorreu até os 7 anos de
idade, como podemos verificar em alguns trechos das entrevistas 20:
Minha mãe falou que eu tive uma febre muito alta e me levou ao hospital. Eu
tinha 3 anos. Mas eu não lembro. Minha mãe contou pra mim
(CPQ_GC_F_Ent37).
Eu não lembro de nada. Não lembro do som. Eu fiquei surdo com 2 anos. Eu
era bebezinho muito pequeno e bonito (RBR_GA_M_Ent01).
Eu nasci ouvinte, mas depois fiquei surdo. Tinha 7 anos. Eu fiquei doente de
Meningite, no hospital. Eu lembro alguns sons e palavras.
(CPQ_GC_M_Ent40).
Estudos sobre narrativas com mães de surdos – como os de Furtado (2008) e Kelman
et al (2011) – mostram que a surdez não-congênita ocorre entre os 3 e os 6 anos de idade, em
consequência de doenças como febre e infecções.
Strobel (2018) lembra que para muitos pais, a surdez só é percebida na fase do
balbucio, pois, quando a criança nasce surda, ela “desenvolve inicialmente as mesmas fases de
linguagem que o bebê ouvinte: grito de satisfação, choro de dor e fome, sons sem significados”
(STROBEL, 2018, p. 53).
A autora acrescenta, ainda, após esse primeiro momento, os bebês ouvintes e surdos
começam a apresentar diferenças, uma vez que os primeiros – na possibilidade de ouvir sons
ambientes, inicia as tentativas de se comunicar por meio de sons. Como os bebês surdos não
ouvem sons, “as primeiras “palavras” não surgem. Consequentemente, fica com a aquisição de
linguagem atrasada e limitada por falta de continuidade e acesso aos conhecimentos e
informações externas” (STROBEL, 2018, p. 54).
20
Para os trechos das entrevistas, utilizaremos as fontes em itálico e a referência semelhante
às indicadas no armazenamento dos vídeos: (CIDADE_GRUPO_SEXO_EntrevistaX).
80
Eu aprendi Libras com 12 anos. Eu via outros surdos usando Libras e fiquei
curioso e queria aprender a conversar em Libras. Agora eu me comunico em
Libras com meus amigos surdos de muitos lugares e minha tia que sabe Libras
também (RBR_GC_M_Ent29).
Comecei a usar língua de sinais tarde, com 15 anos, porque eu não tinha
contato com outras crianças surdas ou pessoas que usassem Libras. Era
muito ruim porque ninguém me entendia porque eu não sabia como explicar
as coisas, o que eu queria, o que eu gostava. Agora eu uso Libras e é muito
bom (CPQ_GC_M_Ent50).
Tinha um surdo perto da minha casa e ele me ensinou Libras. Mas meus pais
tinham medo que eu usasse Libras. Eles queriam que eu aprendesse
português. Eu não gosto de português. Eu aprendi Libras com 11 anos
(CPQ_GC_M_Ent30).
Skliar (2005, p. 27) ressalta que todas as crianças surdas têm potencialidades para a
aquisição das línguas de sinais e que “elas têm direito de se desenvolverem numa comunidade
de pares, e de construírem estratégias de identificação no marco de um processo sócio-histórico
não fragmentado, nem cerceado”. Como o primeiro núcleo social é a família, perguntamos aos
participantes se havia outros surdos entre seus familiares mais próximos. O resultado segue na
tabela a seguir:
Como se vê, a grande maioria dos participantes não tinham familiares surdos: 76,92%.
Em Rio Branco, o quantitativo de surdos que tinham parentes próximos surdos somou 9,62%;
em Campinas, 13,46%. Quando os participantes afirmaram que havia outros surdos na família,
as respostas sempre continham as informações sobre quais membros da família eram surdos ou
deficientes auditivos (D.A.). Algumas respostas positivas são apresentadas a seguir:
Minha mãe é surda. Eu tenho contato com Libras desce cedo porque minha
mãe me ensino. Minha irmã é ouvinte, mas aprendeu Libras depois.
(RBR_GC_M_Ent13)
Meu pai é D.A. e minha mãe é surda. Em casa sempre usamos Libras. Aprendi
Libras antes de ir pra escola. (CPQ_GB_F_Ent41)
Na minha casa só meu tio é surdo. Ele mora vizinho perto e me ensinou Libras
bem pequeno. (RBR_GA_M_Ent18)
82
Quadros e Cruz (2011) afirmam que a criança adquire a linguagem por meio das
relações com o ambiente e das interações, de forma natural. Segundo as autoras, “embora a
linguagem envolva processos complexos, a criança “sai falando” ou “sai sinalizando” quando
está diante de oportunidades de usar a língua (ou as línguas) (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 15).
E Strobel (2018, p. 54) complementa:
membros. Skliar (2005) explica que “são numerosos e cada vez mais explícitos, os testemunhos
de surdos que, ao fazerem referência ao seu passado educativo, invocam imagens ligadas ao
fato de se verem como estrangeiros, forasteiros, exilados (SKLIAR, 2005, p. 29).
Na entrevista, perguntamos em contexto os participantes aprenderam Libras. A maior
parte dos surdos afirmaram adquiriu a língua de sinais em contexto escolar: 51, 92%. Desses,
25% eram de Rio Branco e 26,92% de Campinas, conforme podemos visualizar na tabela a
seguir.
Minha mãe me levou para uma escola e lá eu aprendi Libras com a intérprete.
Tinha outra professora que sabia também e sempre estava junto.
(RBR_GA_M_Ent02)
Na escola tinha uma professora bilingue e ela me ensinou Libras. Minha mãe
também aprendeu com ela. (RBR_GA_F_Ent08)
No caso das crianças surdas, muitas vezes, a Libras ainda não foi adquirida ao chegar à escola.
Isso é muito diferente do acontece com as crianças ouvintes, que chegam com a língua portuguesa, a
84
língua de convívio, já adquirida. Quando chega à escola, a criança já sabe sua língua. [...] Para as crianças
surdas que nascem em famílias de pais surdos, isso também acontece. Elas chegam à escola já sabendo
sua língua, a Libras, e vão aprender a usá-la em outros domínios.
Mas a pesquisadora conclui que isso não é regra, pois a grande maioria dos surdos
nascem em famílias de ouvintes, que não se comunicam em língua de sinais; e é na escola que
essas crianças terão o primeiro contato com a Libras, “uma situação de aquisição bastante
atípica” (QUADROS, 2019, p. 157).
Com relação aos surdos, participantes deste estudo, que aprenderam Libras em
contexto escolar, tivemos os seguintes resultados quantitativos:
Em Rio Branco, 28,85% dos surdos disseram que tinham aprendido Libras com os
Intérpretes ou com professores bilíngues; em Campinas, esse número somou 21,15%. Alguns
participantes, contudo, informaram que tinham aprendido Libras com outros surdos no contexto
escolar: 1,92% em Rio Branco, e 5,77% em Campinas. Destaco, sobre essa questão, duas falas
de nossos participantes:
Quando entrei na escola e conheci a intérprete fiquei com muito medo porque
ela ficava sempre perto de mim e queria me ensinar língua de sinais. Depois,
fui tendo curiosidade em aprender a Libras. Devagar eu comecei a aprender.
A intérprete ficou minha melhor amiga até hoje. (RBR_GB_M_Ent15)
O surdo sempre vinha ficar perto de mim na escola. Eu olhava para ele
falando com as mãos e queria também. Na escola não tinha intérprete de
Libras. Eu ia sempre com meus pais visitar a Associação. Mas com o meu
amigo surdo era diferente. (CPQ_GC_F_Ent48)
língua de instrução, com as atividades bilingues que lhes são oferecidas, nas práticas de
traduções e interpretações de textos” (PIMENTA; STROBEL; MAESTRI, 2021, p. 262).
E Quadros (2019) fala da importância de professores surdos e dos TILSP nos
ambientes escolares. Os professores surdos “desempenham um papel fundamental para
concretizar relações constituidoras das crianças ao longo de seu desempenho linguístico e
sociocultural” (QUADROS, 2019, p. 168). Quanto aos TILSP, Quadros (2019) destaca a
importância desses profissionais e evidencia a necessidade de conhecerem a comunidade surda,
suas experiências visuais para que possam interagir com os alunos surdos de forma adequada.
Descritos os perfis dos participantes da pesquisa, passaremos agora, à descrição e
análise dos sinais zoonímicos. Trataremos dos aspectos formais e semântico-motivacionais dos
itens lexicais coletados na pesquisa.
Para nossa pesquisa, que tem interesse nos sinais próprios dos animais, consideramos
os participantes que tinham animais de estimação no momento da entrevista ou que já tiveram
em algum momento da vida. Segue alguns trechos das entrevistas dos participantes surdos.
Sim, tenho. Amo meus gatos! Tenho três muito lindos. Eu achei numa caixa
quando voltava da escola com meu pai. Ele não queria levar pra casa, mas
eu pedi “por favor” e ele deixou. Eu brinco com eles toda hora. Mas tem um
muito quieto que só gosta de dormir. (RBR_GA_F_Ent03)
Eu tenho um cachorro que dorme comigo. Uma vez ele fugiu e foi me procurar
na escola. Não sei como ele encontrou a escola. Acho que ele sentiu meu
cheiro. Ele tem três anos. (RBR_GA_M_Ent06)
Eu tenho um hamster, [risos]mas minha mãe não gosta dele. Ele fica
quietinho, mas ela não gosta. Antes eu tinha dois peixes, mas eles morreram.
Não sei como aconteceu. Eu fui dormir e quando acordei eles tinham morrido.
Eu fiquei muito mal. Depois, meu irmão trouxe um cachorro. Ele é bravo com
as pessoas, mas comigo ele é amigo. (CPQ_GC_M_Ent35)
Cada vez mais as pessoas estão vivendo sozinhas. Como o animal doa-se
completamente sem cobrar nada em troca, aceita os fatos sem julgamento, não
apresenta os problemas e as exigências da comunidade humana e, não tem o
atributo da vontade tão desenvolvido, a compensação da solidão e a
transferência do apego de uma pessoa a um animal podem ser mais fáceis do
que com outro ser humano, criando um vínculo forte e duradouro
(TATIBANA; COSTA-VAL, 2009, p. 15).
Meu avô me deu um cavalo e eu vou para a fazenda e paço muito tempo lá.
Às vezes meus pais não gostam de ir e eu fico bravo porque o cavalo é meu
melhor amigo. Ele me entende muito bem. (CPQ_GB_M_Ent36)
Ao tratar sobre o artefato cultural “família”, Strobel (2018) deixa evidente que as
dificuldades de um surdo numa família de ouvintes que não se comunicam em línguas de sinais
são enormes. Então, para alguns surdos, os animais de estimação são considerados familiares e
amigos.
Pesquisas como as de Kidd e Kidd (1997) e Miranda (2011) têm revelado como os
animais têm sido considerados membros das famílias por seus tutores. Kidd e Kidd (1997)
relatam que indivíduos que conviveram com animais de estimação desde a infância, quando
adultos, influenciam os filhos a terem o mesmo comportamento.
Nossos dados revelaram uma diversidade de animais de estimação entre nossos
participantes: cachorro, gato, cavalo, coelho, hamster, jabuti, peixe e pássaro. Então,
verificamos, quantitativamente, os tipos de animais a partir dos grupos etários.
88
Os dados revelaram que cachorros e gatos são os animais mais presentes nas vidas dos
participantes: 35,85% e 34,91% dos dados, respectivamente. Mullin (1999) identificou que os
89
animais mais presentes nas famílias são cães e gatos. Para a pesquisadora, isso se dá por
inúmeros fatores, especialmente a adaptação dos animais aos ambientes e às rotinas domésticas
e aos laços afetivos facilmente estabelecidos entre humanos e animais.
Os cachorros foram os mais citados em Rio Branco e em Campinas. No entanto, houve
diferenças entre os grupos etários: os números do Grupo A foram mais expressivos em Rio
Branco: 18,42%, enquanto em Campinas, o grupo C apresentou o maior número de caninos:
15,79%.
Em relação aos gatos, tiveram quantitativos iguais nas duas localidades e no mesmo
grupo etário – C – totalizando 8,49% das respostas. Os pássaros foram o terceiro grupo de
animais mais citado: 10,38%. Tanto em Rio Branco, quanto em Campinas, o Grupo C
apresentou o maior quantitativo entre os grupos etários: 4,72%.
Os números relacionados aos jabutis somaram 5,66%. Vale ressaltar que esse animal
foi informado pelos participantes de Rio Branco e de Campinas – o que nos surpreendeu, uma
vez que, por ser um animal silvestre, não é comum encontrá-los em ambientes domésticos (dada
a necessidade de autorização pelo IBAMA).
O animal menos citado foi o cavalo. Apenas um participante, do Grupo B, de
Campinas, informou possuir esse animal – que é criado na fazenda do avô.
A seguir, apresentamos uma tabela com uma síntese quantitativa dos animais
domésticos apresentados nas entrevistas que realizamos.
A seção anterior nos ofereceu informações sobre os sinais genéricos dos animais de
estimação dos participantes. Com exceção do sinal GATO, não foi identificada nenhuma
variação na produção do sinal entre os participantes. A referida variação será apresentada na
seção relacionada às características formais dos sinais zoonímicos.
Nossa pergunta de pesquisa, vale lembrar, é: quais as características formais e
semânticas dos sinais atribuídos por surdos aos seus animais de estimação? Para respondê-la,
após sabermos dos participantes se eles possuíam animais de estimação, o próximo passo foi
perguntar se os animais possuíam sinais próprios. Em termos quantitativos, a tabela 12, a seguir,
apresenta a distribuição percentual, entre Rio Branco e Campinas:
Como se vê, a maioria dos participantes de Rio Branco (46%) e Campinas (36,54%)
afirmaram que seus animais possuíam sinais próprios – o que soma 82,69% dos participantes.
5,77% dos participantes afirmaram que alguns de seus animais tinham sinais e outros não. E
5,77% dos participantes responderam que seus animais não possuíam sinais.
Sim. Todos os maus animais têm sinal. Como tenho 2 cachorros e 2 gatos, se
acontece algo ou algum deles some, eu aviso minha mãe e ela sabe qual
sumiu. (RBR_GB_F_Ent17)
Tem sinal sim. Mas tenho 2 gatos ainda pequenos que não têm sinal. Vou
esperar crescer um pouco para ver se são bagunceiros ou calmos. Também o
91
pelo muda a cor. Aconteceu com meu cachorro: mudou o pelo depois de um
tempo. (CPQ_GC_M_Ent43)
Eu tenho um cachorro mas não dei sinal. Meu amigo surdo pergunta qual o
sinal dele e eu respondo que é CACHORRO. (risos) (CPQ_GB_M_Ent51)
Biderman (2001) afirma que nomeamos aquilo que faz parte da nossa vida. Ao nomear,
o indivíduo organiza o seu mundo e categoriza os itens lexicais a partir de semelhanças e
diferenças, por isso a “nomeação da realidade pode ser considerada como a etapa primeira no
percurso científico do espírito humano de conhecimento do universo” (BIDERMAN, 2001, p.
13). Daí ser possível afirmar que “ao nomear, o indivíduo se apropria do real” (BIDERMAN,
2001, p. 13).
Sobre os nomes próprios – que identificam e singularizam as pessoas, os lugares, as
coisas – Martins (1991) lembra que se tratam de um produto pessoal e cultural ao mesmo tempo.
Segundo o autor:
Carvalhinhos (2007, p. 17) afirma que “[...] o nome próprio é muito mais que um mero
identificador ou uma etiqueta, é antes um vasto campo de estudo e um convite a entender as
sociedades que o geraram, numa perspectiva diacrônica, e as que o utilizam, em perspectiva
sincrônica”. E esse entendimento do item onomástico deve levar em consideração, como
ressaltamos anteriormente, seu caráter interdisciplinar.
O nome próprio, portanto, não deve ser compreendido apenas na sua faceta linguística,
mas nas suas relações com as outras áreas do conhecimento. Como vimos nas falas dos
participantes, ao considerar o animal como um membro da família ou um amigo, os surdos
acabam por lhes atribuir um sinal que, além de identificador, constrói um laço afetivo, amistoso
entre o nomeador e o nomeado. Essa aproximação afetiva poderá ser refletida na criação do
sinal para o animal. Portanto, precisamos entender o nome próprio numa intersecção entre a
Linguística e a Psicologia.
Dos 52 participantes da pesquisa, apenas 3 afirmaram não possuir (ou nunca ter
possuído) animal de estimação. Dos que possuíam (ou possuíram), somente 3 surdos relataram
não ter atribuído sinal próprio aos seus animais. Nossos dados mostram que a nomeação a
animais de estimação é uma prática cultural entre os surdos pesquisados – foram selecionados
92
De posse dos 106 sinais zoonímicos, procedemos à análise e classificação quanto aos
tipos de formação e o resultado quantitativo foi o seguinte:
O maior quantitativo foi identificado quanto ao tipo simples: 92,45% dos dados. Dessa
soma, 48,11% dos sinais simples foram informados por participantes de Rio Branco, e 44,34%,
por participantes de Campinas. A seguir, exemplificamos uma dessas ocorrências.
21
Como os exemplos estão ilustrados com as descrições dos sinais em SignWriting, nos demais
exemplos desta pesquisa não descreveremos as produções dos sinais no corpo do texto.
95
O participante surdo, durante a entrevista, explica que a letra F faz menção à palavra
Flecha, numa relação irônica ao jabuti que se locomove devagar (exatamente contrário à
flecha).
Tenho um jabuti. O nome dele é Flecha. Meu pai chama de flecha porque ela
é muito rápida. (Risos) Brincadeira. Esse é o sinal dela: FLECHA.
(RBR_GB_M_Ent10)
Contudo, essa configuração de mão aparece na mão ativa que toca o antebraço do
sinalizante em dois pontos, num movimento curvo, fazendo referência ao formato do casco do
96
animal. Trata-se de um sinal com um único formante, mas que apresenta uma CM influenciada
pela língua oral.
Os sinais compostos totalizam 2,83% dos dados. Desse total, 1,89% foi de Rio Branco
e 0,94%, de Campinas. Foi o tipo de formação menos expressiva nos dados (uma vez que não
houve ocorrências de sinais do tipo composto híbrido. A seguir, apresentamos um exemplo de
sinal composto:
Eu dei esse sinal porque ele tem umas marcas aqui no rosto [ela marca o
local] e tem umas penas amarelas grandes assim [ela marca novamente o
local]. É diferente do outro que é todo preto. Então esse ficou o sinal do meu
pássaro. (RBR_GB_F_Ent04)
A figura 42, a seguir, apresenta com detalhes a estrutura do sinal, a partir dos
parâmetros de formação. Importante notar que o sinal possui dois formantes em língua nativa:
Libras, sem influência da língua oral.
97
Com base nas formações dos sinais apresentadas nos vídeos, vemos que, ao contrário
do que ocorre com os topônimos e os antropônimos, não são muito recorrentes os empréstimos
da língua oral nos sinais zoonímicos. Sousa e Quadros (2021) ressaltaram que os topônimos em
Libras tendem a ser influenciados pelos nomes dos locais em língua portuguesa. Da mesma
forma, as pesquisas de Aguiar (2012), Souza-Júnior (2012) e Miranda (2020) demonstraram
que o fenômeno de inicialização (como os pesquisadores chamaram) foi evidente nos dados por
eles analisados.
As pesquisas antroponímicas em Libras também revelaram algo semelhante. Os
estudos de Barros (2018), Sousa et al (2020) e Menezes (2021) destacaram, também, a
influência no nome das pessoas em língua portuguesa na formação dos sinais-nome em Libras.
No caso dos sinais zoonímicos, verificamos que o quantitativo de sinais simples
somado ao quantitativo de sinais compostos – ambos formados em língua nativa – totalizam
95,28% dos dados selecionados no presente estudo. Passaremos, na próxima seção, às
descrições e análises dos aspectos semântico-motivacionais dos dados.
98
Ao tratar sobre o sistema onomástico, Dick (2000) explica que ele, embora tenha suas
bases no sistema linguístico vocabular, interage com diferentes “segmentos culturais, num
aparato de relações e procedências diversas” (DICK, 2000, p. 246), refletindo experiências de
outros domínios e reformulando bases conceituais “intra-código e extra-código”. Dick (2000,
p. 246-7) conclui:
É nesse ângulo que se revela, de modo mais explícito, a forma pela qual o
grupo gerador de designativo manifesta seu entendimento quanto à percepção
do real e à qualidade do dado recebido, garantindo, ao mesmo tempo, a
simultaneidade da geração dos processos gramaticais e da elaboração dos
sociofatos. Estes suportes sociais, a que denominamos referentes onomásticos,
são, de fato, modelos capazes de assumir a função de marcadores semânticos
ou elementos significativos do meio/núcleo retratado
22
“[...] is developed to provide an institution or group with a common structure of concepts
and relationships between these concepts, to structure the lexical elements of language, producing a
common semantic network. [...] allows the elaboration of a controlled vocabulary to retrieve
information, create metadata” (CONWAY et al, 2002, p. 52).
100
23
Pelo ou escamas ou penas.
24
Focinho ou bico.
101
Meu cachorro tem uns pelos arrepiados aqui no peito [Aponta o local], Ele é
todo preto e aqui no peito é diferente. É branco. Aí eu dei o sinal. [Eu
perguntei: o sinal é porque o pelo é branco?] Não. Porque é arrepiado,
diferente. (CPQ_GC_F_Ent42)
A descrição do sinal a partir dos parâmetros de formação pode ser visualizada a seguir,
em SignWriting:
informados pelos participantes como motivadores dos sinais atribuídos aos animais de
estimação.
Como se pode observar, o modo de caminhar (ou voar ou nadar) foi o principal
motivador para a atribuição dos sinais zoonímicos: 7,55% - sendo o número mais expressivo
em Campinas, 4,72%.
O modo de brincar e o temperamento dos animais foram os segundos motivadores
mais citados na criação dos sinais zoonímicos entre os participantes da pesquisa: 5,66% cada
um. Os participantes indicaram, também, o mal comportamento do animal, o modo de dormir
e o modo de comer dos seus animais de estimação.
Selecionamos um trecho de entrevista que apresenta a característica comportamental
como influenciadora no ato do batismo do animal.
Esse jabuti já existia há muito tempo na minha casa, mas não tinha sinal. Um
dia eu pensei em dar um sinal para ele porque meus dois cachorros tinham
sinal. Eu fiquei olhando pra ele pensando num sinal. Então, depois de um
tempo, eu vi que ele andava muito devagar, assim olhando para os lados
[Mostrando o jeito de caminhar]. Então esse ficou o sinal dele.
(CPQ_GC_F_Ent52)
25
Modo de caminhar, voar ou nadar.
104
A descrição do sinal a partir dos parâmetros de formação pode ser visualizada a seguir,
em SignWriting, foi apresentada na figura 5, na seção 1.1.1 deste estudo, quando falamos sobre
a formação fonético-fonológica dos sinais em Libras.
Outro participante também fala sobre o que motivou a atribuir o sinal a seu animal de
estimação:
Um aspecto que percebemos foi que, quando o sinal faz referência a um aspecto
comportamental, o parâmetro ENM é presente na estrutura fonológica (cf. figuras 47 e 48).
Os dados revelaram que alguns sinais zoonímicos foram criados por influências
externas ao animal: como a língua oral, uso de acessórios, metáforas entre outras. Aqui, vamos
individualmente de cada grupo. Iniciamos pela influência da língua oral. Embora em menor
expressividade, quando comparado com os sinais toponímicos e antroponímicos, foram
identificadas algumas ocorrências, como podem ser verificadas na tabela 16 a seguir:
entre as duas línguas e pelo fato de os surdos serem bilíngues, usando a Libras como a primeira
língua (L1) e a língua portuguesa escrita como segunda língua (L2).
Nos dados da pesquisa, 3,77% dos sinais apresentaram empréstimo associado: quando
a referência à letra do nome em português é incorporada (ou aglutinada) na estrutura do sinal
em Libras. A seguir, mostramos um trecho da entrevista em que a participante explica a
motivação do sinal zoonímico.
Meu cachorro se chama M-A-X. Foi o nome que meu pai deu. Mas eu queria
um sinal em Libras pra ele. Então, percebi que ele franzia a testa assim
[Mostrando a testa franzida]. Então dei o sinal com o M na testa e o X no lado
do rosto. O sinal ficou assim. (RBR_GC_F_Ent11)
Apenas uma participante fez a soletração manual do sinal, com base no nome do
animal em língua portuguesa.
Minha gata se chama M-I-L-A. Eu deixei esse sinal para ela. Não quis criar
outro. Deixei assim mesmo. Eu gosto. (CPQ_GC_F_Ent44)
Eu ganhei um coelho. Ele era pequeno e bem calmo. Mas ele foi crescendo
muito. Ficou assim [Mostrando o tamanho do animal] Ele começou a
bagunçar tudo, comer as coisas pela casa. Então eu dei o sinal pra ele
CACHORRO. Ele parece um cachorro. E não tem medo dos meus dois
cachorros. Parece irmãos. O sinal ficou CACHORRO então.
(CPQ_GC_F_Ent52)
As metáforas em Libras foram estudadas por Silva-Junior (2018, p. 49) que explica:
“os surdos possuem relação com o mundo e suas experiências, revelando suas intenções e
produções de sentido. Entre os recursos utilizados para a significação dessas experiências
(sociais, emocionais e sensório-motoras) está o uso das metáforas.
O conceito de metáfora, utilizado pelo autor (e que assumimos neste estudo) é o
formulado por Lakoff e Johnson (2002, p. 93): “a metáfora é principalmente um modo de
conceber uma coisa em termos de outra e sua função principal é a compreensão”. Assim,
quando a participante dá o sinal CACHORRO ao seu coelho, ela relaciona as características do
cachorro “bagunceiro, comilão” ao outro animal.
Outro sinal zoonímico atribuído a um animal foi motivado pela raça do cão, como
podemos perceber no trecho a seguir:
Meu cachorro é um Pitbull. Mas ele é calmo e fica o tempo todo comigo. Não
ataca ninguém. É calmo. Eu dei o sinal dele PITBULL [Apontando para as
orelhas – que o sinal atribuído à raça] (CPQ_GC_M_Ent34)
Durante as entrevistas, identificamos 3 sinais motivados pela raça do animal. Nos três
casos, os participantes se referiam à raça Pitbull. Os três participantes informaram que o sinal
bimanual realizado no espaço neutro, próximo à orelha se refere à raça em questão.
Em outros três casos, tivemos sinais motivados por artistas ou personagens de filmes.
As motivações foram relacionadas aos sinais em Libras dos artistas e/ou personagens de filmes
(e não de seus nomes em língua oral). Foi o caso do sinal FRIDA KHALO, ARIEL e XUXA.
A seguir, mostraremos o trecho da entrevista em que a participante explica a motivação do sinal
do seu peixe.
O sinal dela é esse [Indicando o local do lado direito acima da cabeça] porque
ela gosta de usar um lacinho. Sempre, desde pequena, ela usa.
(CPQ_GC_F_Ent38).
Além do lacinho, nos dados apareceu, também, um sinal motivado pela coleira usada
pelo gato de um dos participantes. Vale destacar que os exemplos apresentados nas figuras são
recortes das entrevistas. Selecionamos apenas alguns itens onomásticos para ilustrar a pesquisa,
mas que representam o conjunto de taxes e subtaxes do léxico onomástico zoonímico em Libras.
Concluídas as análises, organizamos uma síntese dos dados na tabela 18, a seguir, de
modo a termos uma visão geral das taxionomias gerais e seus respectivos números percentuais.
1) Aspectos Zooanatômicos: sinais que são motivados por aspectos relacionados ao corpo
do animal, e que são captados visualmente pelos surdos. Neste grupo, estão os sinais
motivados por características do pelo (ou penas, escamas, peles): tipo, tamanho, cor,
formato ou algum outro aspecto evidente; por características do focinho (ou bico, ou
boca): formato, cor, tamanho; por características da orelha (formato, tamanho, cor), por
características das patas (tamanho, formato), das asas (formato, cor), das barbatanas e
das caldas (formato, cor); das crinas (formato, tamanho, cor), da carapaça (formato,
altura, cor) entre outras. Além dessas subtaxes, podemos incluir as deficiências
observadas no corpo do animal e que motivam a criação do sinal zoonímico (como o
rabo quebrado, por exemplo). Esses sinais apresentam forte iconicidade e são,
geralmente, marcados (produzidos) no corpo do sinalizante.
2) Aspectos Zooetológicos: sinais que são motivados por características comportamentais
e temperamentais observadas nos animais de estimação. Estão refletidas nos modos
como os animais interagem com os humanos e com o ambiente que os cerca. Esses
aspectos influenciam os surdos no ato de nomeação do animal, com base nas suas
percepções visuais. Nesse grupo, estão os sinais motivados pela maneira que o animal
caminha (ou rasteja, ou voa, ou nada), pela maneira que o animal dorme, se alimenta,
brinca; pelo modo como o animal interage com o tutor, pela forma como o animal late,
ronrona, canta26; pelo olhar do animal, ou a forma como ele rosna. Também são
incluídas nessas subtaxes, as manifestações de carinho ou de agressividade doa animais.
3) Aspectos Zooextrínsecos: sinais que são motivados por aspectos externos ao físico e/ao
ao comportamento do animal. Nessa taxe, são incluídos os sinais zoonímicos
influenciados pela língua oral (datilologia, inicialização, empréstimo associado); sinais
criados a partir de relações metafóricas; sinais influenciados por personagens de filmes,
desenhos e novelas; sinais que homenageiam artistas; sinais motivados pelos acessórios
que os animais usam (lacinhos, coleiras, sela, roupas etc.) entre outros motivadores
externos ao animal.
26
Embora essas características sejam percebidas pelos sons emitidos, há percepções visuais do animal
que estimulam os nomeadores no ato de atribuir o sinal próprio.
112
Vale lembrar que alguns sinais podem apresentar motivações agrupadas. Há nomeações
zoonímicas, por exemplo, que associam a letras do nome do animal em língua portuguesa com
uma característica física (como ocorreu no sinal zoonímico exemplificado na figura 50 deste
estudo).
Esse fenômeno também foi observado, por exemplo, por Barros (2018), quando estudou
as motivações dos sinais de pessoas; e por Sousa e Quadros (2021), ao descrever os sinais
toponímicos do Acre.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
gatos (34,91%), pássaros (10,38%) e jabutis (5,66%). Foram citados, ainda, peixes, hamster,
cavalo e coelho. Desses animais, 88,46% possuem um sinal próprio que os singulariza.
O convívio com os animais e a afetividade dos participantes (demonstrada durante a
entrevista) confirmam o que Tatibana e Costa-Val (2009) defendem a respeito dos laços que
são estabelecidos entre humanos e animais – especialmente crianças e adolescentes. As
pesquisadoras destacam que as relações entre as pessoas e os animais domésticos estimulam o
desenvolvimento da sensibilidade e do senso de responsabilidade.
O segundo objetivo foi classificar os sinais zoonímicos em Libras, com base nos tipos
de formação. Partimos da proposta de Sousa (2019) e verificamos que 92,45% dos dados são
do tipo simples e 2,83% do tipo composto. Esse resultado evidencia que a criação dos sinais
zoonímicos valorizou a “pureza” da língua de sinais, uma vez que não houve influência da
língua oral na soma entre os dois tipos de formações. Apenas 4,72% dos sinais atribuídos aos
animais de estimação possuíam caráter híbrido.
O terceiro objetivo foi identificar os aspectos motivacionais que influenciam os surdos
no ato de nomeação dos animais de estimação em Libras. Os dados mostraram que o aspecto
físico foi o preponderante: 62,26% dos dados. Em segundo lugar apareceram os sinais
zoonímicos motivados por aspectos comportamentais dos bichos: 24,53%. Os sinais que foram
motivados pela língua oral totalizaram 4,72%.
Entre os motivadores, é interessante destacar os sinais criados a partir de relações
metafóricas e os sinais criados com base em referentes como personagens de filmes (Sinal em
Libras da personagem Arial, do filme A Pequena Sereia) ou artistas, como Frida Khalo e Xuxa).
Além disso, alguns sinais foram motivados por acessórios usados pelos animais, como lacinhos
e coleiras. Os dados mostram a diversidade e a criatividade no processo de expansão lexical em
Libras – fenômeno destacado por Biderman (1998; 2001), Sousa (2019; 2022a; 2022b), entre
outros pesquisadores do léxico.
O quarto objetivo foi elaborar taxes para a classificação dos sinais zoonímicos, com
base nas características dos dados obtidos. O conjunto de motivações para a escolha dos sinais
dos animais de estimação foram agrupadas em 4 grandes grupos taxionômicos (Aspecto Físico,
Aspecto Comportamental, Empréstimo da Língua Oral e Outros Motivadores) que, por sua vez,
geraram subtaxes.
E, por fim, intentamos quantificar os dados da pesquisa. Ao logo de toda a análise os
resultados foram quantificados, em números percentuais, e distribuídos em tabelas com as
informações de Rio Branco e Campinas. Essa estratégia foi importante para compreendermos,
115
ao final, que não houve diferenças substanciais entre os processos de nomeação, ainda que os
espaços culturais entre os participantes fossem distantes geograficamente.
Desse modo, consideramos que nosso objetivo foi alcançado uma que as respostas de
cada objetivo específico respondem nossa questão de pesquisa: quais as características formais
e semântico-motivacionais dos sinais zoonímicos em Libras? Em síntese, podemos afirmar que
os sinais zoonímicos pesquisados são formados, em sua grande maioria, a partir das
especificidades da Libras e, semanticamente, privilegiam as características físicas e
comportamentais dos animais nomeados.
De acordo com o Decreto 5626/2005, em seu Art. 2º, a pessoa surda é aquela que
“compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua
cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras”. Strobel (2018) afirma
que a cultura surda “é o jeito de o surdo entender o mundo [...] ajustando-o com a suas
percepções visuais. [...] Isso significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes
e os hábitos do povo surdo” (STROBEL, 2018, p. 29).
Assim, podemos concluir que a geração do léxico zoonímico se dá a partir da
percepção do surdo ao identificar marcas visuais do seu animal, que os aproximam por meio de
uma afetividade refletida no sinal (nome próprio). Como afirmamos em Sousa (2022a, p. 6):
“Nomear é fazer existir”. Portanto, ao dar um nome em sua língua, o sujeito surdo dá existência
aos animais em seu universo linguístico e humano, pois a língua – seja sinalizada, seja oral – é
ponte que nos aduna ao mundo.
116
REFERÊNCIAS
AGUIAR, M. C. Descrição e análise dos sinais topônimos em Libras. In: ALBRES, N. A.;
XAVIER, A. N. (org.). Libras em estudo: descrição e análise. São Paulo: FENEIS, 2012. p.
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https://veja.abril.com.br/mundo/furacao-sandy-se-intensifica-e-mata-dois-no-caribe/ Acesso
em: 26 fev. 2023.
APÊNDICE I
Zoonímia em Libras: proposta metodológica para a pesquisa com sinais próprios que
nomeiam animais de estimação de surdos
APRESENTAÇÃO DA PESQUISA:
Você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa Zoonímia em Libras:
proposta metodológica para a pesquisa com sinais próprios que nomeiam animais de
estimação de surdos, que será realizada na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, sob
a responsabilidade do pesquisador Alexandre Melo de Sousa e Ivani Rodrigues Silva. As
informações presentes neste documento foram fornecidas pelo pesquisador Alexandre Melo de
Sousa.
Este documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus
direitos como participante e é elaborado em duas vias, uma que ficará com você e outra que
ficará com o pesquisador.
Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se tiver
perguntas antes ou mesmo depois assinar o Termo, você poderá esclarecê-las com o
pesquisador. Se preferir, você pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou
outras pessoas antes de decidir participar. Não haverá qualquer tipo de penalização ou prejuízo
se você não quiser participar ou se retirar sua autorização em qualquer momento, mesmo depois
de iniciar sua participação na pesquisa. É importante realizar esta pesquisa porque você é
usuário de Libras e irá contribuir para a pesquisa na subárea da onomástica.
Objetivos: O objetivo desta pesquisa será coletar amostras de sinais zoonímicos para análise e
produção de uma proposta metodológica em Libras. Com isso, nós queremos documentar os
sinais de animais de estimação em Campinas (SP) e em Rio Branco (AC) e analisá-los em
termos formais e semântico-motivacionais.
Desconfortos e riscos previstos: Como a pesquisa será realizada com seres humanos, durante o
processo de realização, poderá apresentar riscos para os participantes da pesquisa:
d) Social/cultural: pode ser que durante a pesquisa o participante altere sua visão de
mundo, de relacionamento e de comportamento.
1. Com relação ao medo ou insegurança por parte dos docentes, o pesquisador interage
bem em Libras e participa ativamente da comunidade surdos, no âmbito educacional e social,
o que dará, aos participantes mais segurança durante as atividades de filmagem. Serão evitadas,
ainda, interrupções durante a coleta dos dados.
3. Como forma de evitar possível cansaço mental e/ou estresse para os participantes da
pesquisa o pesquisador realizará conversas informais, com os participantes, e, se for o caso,
dividirá a etapa de filmagens em etapas, com dias alternados e de acordo com a disponibilidade
dos participantes.
Além dessas providências e cautelas, esclarecemos que todos os dados coletados serão
arquivados no computador pessoal do pesquisador coordenador da investigação, protegido por
senha, com previsão de descarte de cinco anos após a coleta.
Benefícios do estudo: O Participante não terá benefícios diretos, mas presente estudo tem os
seguintes benefícios indiretos a seguir.
127
Forma de contato com os pesquisadores: Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá
entrar em contato com os pesquisadores Alexandre Melo de Sousa, Endereço Rodovia BR 364,
Km 04, Distrito Industrial, Campus Universitário, Rio Branco – AC, Email:
alexlinguista@gmail.com, Celular: (68) 99601-0260, Fone profissional (68) 3901-2500,
Lotação como Servidor: Centro de Educação, Letras e Artes/Campus de Rio
Branco/Universidade Federal do Acre; Ivani Rodrigues Silva, Email: ivanirs@unicamp.br,
celular: (19) 99478-7762 ou (19) 3521-8805, Lotação como Servidor: Faculdade de Ciências
Médicas, DDHR/CEPRE, UNICAMP, Rua Tessália Vieira de Camargo, 126 - Cidade
Universitária, Campinas – SP.
Forma de contato com Comitê de Ética em Pesquisa (CEP): O papel do CEP é avaliar e
acompanhar os aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos, protegendo os
participantes em seus direito e dignidade. Em caso de dúvidas, denúncias ou reclamações sobre
sua participação e sobre seus direitos como participante da pesquisa, entre em contato com a
secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Odontologia de
Piracicaba/UNICAMP: Av Limeira 901, FOP-Unicamp, CEP 13414-903, Piracicaba – SP.
Fone/Fax 19-2106.5349, e-mail cep@fop.unicamp.br e Web Page www.fop.unicamp.br/cep.
Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e as
informações obtidas durante a pesquisa só serão acessadas pelos pesquisadores. Na divulgação
dos resultados desse estudo, informações que possam identificá-lo não serão mostradas ou
publicadas. Os participantes da pesquisa poderão receber um pseudônimo substituindo o nome
e informações pessoais na identificação da gravação dos participantes da pesquisa,
independentemente de sua imagem aparecer na gravação. O participante da pesquisa indicará
essa informação no Termo de Cessão de Filmagens. Importante mencionar que os participantes
serão informados que o pesquisador poderá utilizar os dados dos participantes da pesquisa para
fazer apresentações e publicações com os resultados do estudo, mas sem apresentar as suas
128
informações pessoais, caso o participante da pesquisa assim solicite. Com relação à imagem
dos participantes da pesquisa, ela poderá ser veiculada nessas apresentações e publicações,
tendo em vista a importância das expressões faciais e corporais na produção em Libras. Todos
os clips ou frames que incluem a sua imagem serão para apresentar exemplos da Libras, sem
nunca comprometer a sua imagem pessoal, caso haja o consentimento do participante. Em caso
de riscos e constrangimentos, as imagens serão descartas da pesquisa.
Ressarcimento e indenização: Você não terá qualquer despesa por participar na pesquisa. Você
não receberá nenhum pagamento, mas também não terá nenhum custo, uma vez que a coleta
ocorrerá em seu local de estudo em horário previamente agendado.
Tratamento dos dados: Esta pesquisa prevê o armazenamento dos dados coletados por 5 (cinco)
anos, em repositório de dados, em local virtual de acesso público, com o objetivo de possível
reutilização, verificação e compartilhamento em trabalhos de colaboração científica com outros
grupos de pesquisa. Sua identidade não será revelada nesses dados, pois os dados só serão
armazenados de forma anônima (isto é, os dados não terão identificação), utilizando
mecanismos que impeçam a possibilidade de associação, direta ou indireta com você. Cabe
ressaltar que quem compartilhar os dados também não terá possibilidade de identificação dos
participantes de quem os dados se originaram. Sendo assim, não haverá possibilidade de
reversão da anonimização.
Autorização de uso de imagem: Ao assinar este Termo, o participante autoriza o uso de suas
imagens cedendo os direitos aos pesquisadores (LEI N. 9.610/98). Como os dados são em
Libras (Língua Brasileira de Sinais) – uma língua de modalidade visual-espacial – os dados
serão gravados e fotografados durante as entrevistas.
Entrega de via do TCLE: Você receberá uma via deste Termo assinada e rubricada pelo
pesquisador.
Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,
benefícios previstos, potenciais riscos e desconfortos que esta pode acarretar, aceito participar
e ceder direitos de imagens, e declaro ter recebido uma via original deste documento rubricada
em todas as folhas e assinada ao final, pelo pesquisador e por mim:
Contato telefônico:
_____________________________________________________________
e-mail (opcional):
______________________________________________________________
129
_______________________________________________________
Data: ____/_____/______.
Responsabilidade do Pesquisador:
______________________________________________________
Data: ____/_____/______.
(Assinatura do pesquisador)
130
APÊNDICE II
Você poderá escolher um outro nome para nós identificarmos você. Suas informações
serão guardadas apenas para os pesquisadores. Fique tranquilo, não há risco previsível
nenhum para você mas se houver incômodo em alguma fase da pesquisa e você desejar
não mais participar, você estará livre, e todos os seus direitos serão respeitados.
Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas
131
do estudo, você pode informar aos seus pais ou responsáveis. Há atendimento em Libras
na Unicamp na Central TILS (tradutores e Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais)
da Unicamp (site https://wwwprg,unicamp.br/tils/) e no Núcléo de Apoio à Inclusão
(NAI) da Univeersidade Federal do Acre (site https://www.ufac.br/site/ufac/proaes/nai).
O Comitê de Ética em Pesquisa(CEP) é responsável pela avaliação e acompanhamento dos
aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos, visando a salvaguardar a
dignidade, os direitos, a segurança e o bem-estar dos participantes da pesquisa. O participante
surdo será entrevistado em libras pelo pesquisador.
Recebi uma via deste termo de assentimento e li, e concordo em participar da pesquisa.
Participante
Pesquisador
132
APÊNDICE III
Recebi uma via deste termo de assentimento e li, e concordo em participar da pesquisa.
Participante
Pesquisador