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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO, LETRAS E ARTES

ALEXANDRE MELO DE SOUSA

ZOONÍMIA EM LIBRAS: ANÁLISE FORMAL E SEMÂNTICO-MOTIVACIONAL


DE SINAIS ATRIBUÍDOS A ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO POR SURDOS

RIO BRANCO
2023
ALEXANDRE MELO DE SOUSA

ZOONÍMIA EM LIBRAS: ANÁLISE FORMAL E SEMÂNTICO-MOTIVACIONAL DE


SINAIS ATRIBUÍDOS A ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO POR SURDOS

Tese apresentada ao Centro de Educação, Letras e


Artes (CELA) como requisito parcial para a
progressão para a carreira de Professor Titular da
Universidade Federal do Acre.

RIO BRANCO
2023
DEDICATÓRIA

Aos meus pais (in memoriam), aos meus irmãos, ao meu esposo, aos
meus amigos e colegas de trabalho, aos meus alunos e alunas (desde os
primeiros, na Educação Básica), à comunidade surda de Rio Branco,
dedico esta pesquisa.
Cada um/a de vocês ajudaram a construir minha carreira profissional e
humana.
AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa não seria possível sem o apoio de muitas pessoas que listo aqui:

Aos participantes da pesquisa – Surdos e Surdas de Rio Branco e Campinas – por


aceitarem contribuir com o estudo e confiaram em mim, mesmo sem me conhecerem;

À professora Dra. Ivani Rodrigues da Silva, que aceitou supervisionar a pesquisa em


Campinas e me deu todo suporte para que as atividades tivessem êxito. Nossas conversas foram
sempre muito animadas e cheia de trocas de conhecimentos!

A minha amiga-irmã, Rosane Garcia, que sempre incentivou meu trabalho com a
pesquisa, que acompanhou a investigação (desde a ideia inicial) e produziu as tabelas com tanto
capricho e carinho;

Aos Tradutores-Intérpretes, Diemes Farias de França e Fábio Junior Pinheiro da Silva,


que me acompanharam nos momentos das entrevistas com os participantes surdos de Rio
Branco;

Ao professor Israel Queiroz de Lima, pelas conversas descontraídas e de troca de


experiências sobre a educação de Surdos, por produzir os quadros de Escrita de Sinais e por ler,
com atenção, as descrições de sinais ao longo do estudo;

Aos Tradutores-Intérpretes das escolas públicas de Rio Branco, onde realizamos as


entrevistas, pela disponibilidade, pelas intermediações com os gestores escolares e os familiares
dos participantes surdos;

À equipe do Cepre (Unicamp), pela receptividade e a disponibilidade em colaborar


com o estudo e acompanhar as entrevistas com os participantes surdos de Campinas;

À banca examinadora – professor Dr. Mark Clark Assen de Carvalho (UFAC),


professora Dr. Ronice Müller de Quadros (UFSC), professora Dra. Ana Célia Clementino
Moura (UFC), professor Dr. Patrício Nunes Barreiros (UEFS) – Professores/as Titulares em
suas respectivas Universidades – pelo aceite de fazer parte deste momento tão especial da minha
vida e ler com tanto esmero esta investigação;

À equipe de pesquisadores (docentes e discentes) do Grupo ESLIN (Educação de


Surdos, Libras e Inclusão), pelas discussões tão proveitosas e os ensinamentos compartilhados;

Agradeço aos meus alunos, bolsistas e orientandos, surdos e ouvintes, por sempre me
ensinar e me construir como professor e pesquisador.
RESUMO

A Onomástica é a disciplina linguística que se dedica ao estudo dos nomes próprios em geral.
As pesquisas onomásticas em Língua Brasileira de Sinais (Libras) são recentes e têm
demonstrado a relação entre língua e cultura na análise do léxico das línguas sinalizadas.
Considerando que o ato de nomear é inerente ao homem e que estão envolvidos fatores
motivacionais, o sujeito surdo nomeia aquilo e aqueles que fazem parte do seu universo social
e cultural (SOUSA, 2022a): espaços, pessoas, animais. A presente pesquisa parte da seguinte
questão: quais as características formais e semântico-motivacionais dos sinais zoonímicos em
Libras? A pesquisa tem principal objetivo caracterizar formal e semanticamente os sinais
atribuídos por surdos aos animais de estimação. Os participantes da pesquisa são surdos, de
ambos os sexos, com idades variando entre 10 e 20 anos. Os dados foram coletados por meio
de entrevistas realizadas em Rio Branco (28 entrevistas) e em Campinas (24 entrevistas), e
totalizaram 106 sinais. A pesquisa, de natureza aplicada, abordagem quali-quanti e documental.
A fundamentação teórica tomou como base os estudos de Biderman (2001), Dick (1990), Sousa
(2022a; 2022b), para tratar sobre o léxico e a Onomástica; Quadros e Karnopp (2004), Quadros
(2019) e Taub (2000), para as bases estruturais, funcionais e icônicas das línguas de sinais.
Quantos aos aspectos formais, 92,45% dos sinais apresentaram o tipo simples, 1,89%
apresentaram o tipo simples híbrido e 0,94% dos sinais foram compostos. Não houve
ocorrências de sinais compostos híbridos. Os resultados mostraram que houve pouca influência
da língua portuguesa na produção estrutural dos sinais. Quanto aos aspectos semântico-
motivacionais, 62,26% dos sinais foram motivados por aspectos físicos dos animais
(especialmente tipos de pelos e marcas no pelo); 24,53% dos sinais zoonímicos foram
motivados por aspectos comportamentais dos animais (como a maneira de caminhar ou o
temperamento do animal); 2,83% dos sinais foram motivados por empréstimo da língua oral.
Além desses motivadores, 8,49% dos sinais foram influenciados por outros aspectos, como
acessórios, metáforas etc. Com isso, vemos que os aspectos visuais predominam nos processos
de nomeação por sujeitos surdos, como ocorreu com as nomeações zoonímicas. Com base nas
análises, foi possível propor um conjunto de taxes para as classificações dos zoonimos em
Libras: Aspectos Zooanatômicos (para os sinais zoonímicos influenciados pelas características
físicas do animal); Aspectos Zooetológicos (para os sinais zoonímicos influencias pelas
características comportamentais e temperamentais do animal); e Aspectos Zooextrínsecos (para
os sinais influenciados por elementos externos ao animal, como a língua oral, acessórios,
personagens ou artistas, metáforas, entre outras). A pesquisa conclui que a cultural e experiência
visual do surdo se reflete no ato de nomear os animais de estimação.

Palavras-chave: Onomástica; Zoonímia; Libras; Taxionomias.


ABSTRACT

Onomastics is the linguistic discipline dedicated to the study of proper names in general.
Onomastic research in Brazilian Sign Language (Libras) is recent and has demonstrated the
relationship between language and culture in the analysis of the lexicon of signed languages.
Considering that the act of naming is inherent to man and that motivational factors are involved,
the deaf subject names that and those that are part of his social and cultural universe (SOUSA,
2022a): spaces, people, animals. This research starts from the following question: what are the
formal and semantic-motivational characteristics of zoonymic signs in Libras? The main
objective of this research is to formally and semantically characterize the signs attributed by
deaf people to pets. The research participants are deaf, of both sexes, aged between 10 and 20
years. Data were collected through interviews carried out in Rio Branco (28 interviews) and in
Campinas (24 interviews), and totaled 106 signals. The research, of applied nature, quali-quanti
and documental approach. The theoretical foundation was based on the studies of Biderman
(2001), Dick (1990), Sousa (2022a; 2022b), to deal with the lexicon and Onomastics; Quadros
and Karnopp (2004), Quadros (2019) and Taub (2000), for the structural, functional and iconic
bases of sign languages. As for the formal aspects, 92.45% of the signs presented the simple
type, 1.89% presented the simple hybrid type and 0.94% of the signs were composed. There
were no occurrences of hybrid composite signals. The results showed that there was little
influence of the Portuguese language on the structural production of signs. As for the semantic-
motivational aspects, 62.26% of the signs were motivated by physical aspects of the animals
(especially types of fur and marks on the fur); 24.53% of the zoonymic signs were motivated
by behavioral aspects of the animals (such as the way they walked or the animal's temperament);
2.83% of the signs were motivated by oral language borrowing. In addition to these motivators,
8.49% of the signs were influenced by other aspects, such as accessories, metaphors, etc. With
this, we see that visual aspects predominate in naming processes by deaf subjects, as occurred
with zoonymic naming. Based on the analyses, it was possible to propose a set of taxes for the
classification of zoonyms in Libras: Zooanatomical Aspects (for zoonymic signs influenced by
the physical characteristics of the animal); Zooethological aspects (for zoonymic signs
influenced by the behavioral and temperamental characteristics of the animal); and Zooextrinsic
Aspects (for signals influenced by elements external to the animal, such as oral language,
accessories, characters or artists, metaphors, among others). The research concludes that the
cultural and visual experience of the deaf is reflected in the act of naming pets.

Keywords: Onomastic; Zoonymy; Pounds; Taxonomies.


RESUMEN

La onomástica es la disciplina lingüística dedicada al estudio de los nombres propios en general.


La investigación onomástica en Lengua de Signos Brasileña (Libras) es reciente y ha
demostrado la relación entre lengua y cultura en el análisis del léxico de las lenguas de signos.
Considerando que el acto de nombrar es inherente al hombre y que intervienen factores
motivacionales, el sujeto sordo nombra eso y los que forman parte de su universo social y
cultural (SOUSA, 2022a): espacios, personas, animales. Esta investigación parte de la siguiente
pregunta: ¿cuáles son las características formales y semántico-motivacionales de los signos
zoonímicos en Libras? El objetivo principal de esta investigación es caracterizar formal y
semánticamente las señas atribuidas por las personas sordas a las mascotas. Los participantes
de la investigación son sordos, de ambos sexos, con edades entre 10 y 20 años. Los datos fueron
recolectados a través de entrevistas realizadas en Rio Branco (28 entrevistas) y en Campinas
(24 entrevistas), y totalizaron 106 señales. La investigación, de carácter aplicado, enfoque cuali-
cuantitativo y documental. La fundamentación teórica se basó en los estudios de Biderman
(2001), Dick (1990), Sousa (2022a; 2022b), para tratar el léxico y la onomástica; Quadros y
Karnopp (2004), Quadros (2019) y Taub (2000), para las bases estructurales, funcionales e
icónicas de las lenguas de signos. En cuanto a los aspectos formales, el 92,45% de los rótulos
presentó el tipo simple, el 1,89% presentó el tipo híbrido simple y el 0,94% de los rótulos fueron
compuestos. No hubo casos de señales compuestas híbridas. Los resultados mostraron que hubo
poca influencia de la lengua portuguesa en la producción estructural de signos. En cuanto a los
aspectos semántico-motivacionales, el 62,26% de las señales estuvieron motivadas por aspectos
físicos de los animales (especialmente tipos de pelaje y marcas en el pelaje); El 24,53% de los
signos zoonímicos estaban motivados por aspectos conductuales de los animales (como la
forma de caminar o el temperamento del animal); El 2,83% de los signos fueron motivados por
el préstamo del lenguaje oral. Además de estos motivadores, el 8,49% de los signos estaban
influenciados por otros aspectos, como accesorios, metáforas, etc. Con esto, vemos que los
aspectos visuales predominan en los procesos de denominación por parte de los sujetos sordos,
tal como ocurría con la denominación zoonímica. Con base en los análisis, fue posible proponer
un conjunto de impuestos para la clasificación de zoónimos en Libras: Aspectos Zooanatómicos
(para signos zoonímicos influenciados por las características físicas del animal); Aspectos
zooetológicos (para signos zoonímicos influenciados por las características conductuales y
temperamentales del animal); y Aspectos Zooextrínsecos (para señales influenciadas por
elementos externos al animal, como lenguaje oral, accesorios, personajes o artistas, metáforas,
entre otros). La investigación concluye que la experiencia cultural y visual de los sordos se
refleja en el acto de nombrar mascotas.

Palabras llave: Onomástica; zoonimia; Libras; Taxonomías.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAL Academia Acreana de Letras


AC Acre
AC Aspecto Comportamental
AF Aspecto Físico
CAS Centro de Apoio ao Surdo
CM Configuração de Mão
DA Deficiente Auditivo
ELO Empréstimo da Língua Oral
ENM Expressão Não-Manual
ICOS International Congress of Onomastic Sciences
LIBRAS Língua Brasileira de Sinais
M Movimento
O Orientação
PA Ponto de Articulação
SEE Secretaria de Educação
SP São Paulo
TALE Termo de Assentimento Livre e Esclarecido
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TILSP Tradutor Intérprete de Língua de Sinais e Português
UFAC Universidade Federal do Acre
UFC Universidade Federal do Ceará
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Sinal-nome ALEXANDRE .......................................................... 15


Figura 2 Sinal COBRAR/EXIGIR.............................................................. 25
Figura 3 Configurações de mão .................................................................. 26
Figura 4 Orientação da mão + configuração da mão ................................... 28
Figura 5 Estrutura fonético-fonológica em SignWriting ............................. 29
Figura 6 O léxico na Libras ........................................................................ 31
Figura 7 Empréstimos em Libras ................................................................ 32
Figura 8 Significados denotativos e conotativos ......................................... 35
Figura 9 Etapas da formação do sinal icônico ............................................. 37
Figura 10 Nomes e motivação ...................................................................... 38
Figura 11 Domínios das ciências do léxico ................................................... 40
Figura 12 Nome próprio: conexões .............................................................. 42
Figura 13 Onomástica em manchetes midiáticas .......................................... 44
Figura 14 Onomástica e suas subáreas.......................................................... 45
Figura 15 Sinal ONOMÁSTICA .................................................................. 51
Figura 16 O sinal onomástico e a interdisciplinaridade ................................. 51
Figura 17 Sinal ANTROPONÍMIA .............................................................. 53
Figura 18 Proposta Classificatória de Barros (2018) ..................................... 54
Figura 19 Sinal TOPONÍMIA ...................................................................... 55
Figura 20 Sintagma Toponímico: termo genérico e termo específico ............ 57
Figura 21 Tipos de formações do termo específico ....................................... 58
Figura 22 Sinal BRASILÉIA ....................................................................... 59
Figura 23 Sinal XAPURI ............................................................................. 60
Figura 24 Formação do sinal icônico ............................................................ 60
Figura 25 Sinal ONIONÍMIA ...................................................................... 61
Figura 26 Oniônimo em Libras .................................................................... 62
Figura 27 Sinal TEONÍMIA......................................................................... 62
Figura 28 Sinal IANSÃ ................................................................................ 63
Figura 29 Sinal ZOONÍMIA ........................................................................ 64
Figura 30 Exemplo de zoonimo ................................................................... 64
Figura 31 Áreas de estudo: Rio Branco e Campinas ..................................... 68
Figura 32 Entrevistas de Rio Branco ............................................................ 72
Figura 33 Entrevistas em Campinas ............................................................. 72
Figura 34 Organização dos vídeos ................................................................ 73
Figura 35 ELAN .......................................................................................... 74
Figura 36 Vocabulário Controlado e Tipos Linguísticos ............................... 75
Figura 37 Sinal do tipo simples .................................................................... 93
Figura 38 Sinal do tipo simples em SignWriting .......................................... 94
Figura 39 Sinal do tipo simples híbrido ........................................................ 95
Figura 40 Sinal do tipo simples híbrido em SignWriting .............................. 95
Figura 41 Sinal do tipo composto ................................................................. 96
Figura 42 Sinal do tipo composto em SignWriting ....................................... 97
Figura 43 Sinal zoonímico com característica física I ................................... 101
Figura 44 Sinal zoonímico com característica física I em SignWriting ......... 101
Figura 45 Sinal zoonímico com característica física II .................................. 102
Figura 46 Sinal zoonímico com característica física II em SignWriting ........ 102
Figura 47 Sinal zoonímico com característica comportamental I .................. 104
Figura 48 Sinal zoonímico com característica comportamental II ................. 104
Figura 49 Sinal zoonímico com característica comportamental II em
SignWriting .................................................................................. 105
Figura 50 Sinal zoonímico por Empréstimo da Língua Oral ......................... 106
Figura 51 Sinal zoonímico por Empréstimo da Língua Oral em SignWriting 106
Figura 53 Sinal zoonímico formado por metáfora......................................... 108
Figura 54 Sinal zoonímico motivado pela raça ............................................. 108
Figura 55 Sinal zoonímico motivado por artistas e/ou personagens .............. 109
Figura 56 Sinal zoonímico motivado por acessórios....................................... 110
Figura 57 Taxionomias Zoonímicas ............................................................. 111
LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 Morfologia simultânea e morfologia sequencial .................................. 30


Quadro 2 Datas e quantidades de entrevistas (Rio Branco) ................................. 70
Quadro 3 Datas e quantidades de entrevistas (Campinas) ................................... 70

Tabela 1 Distribuição de participantes por localidade e sexo ............................. 77


Tabela 2 Distribuição de participantes por faixa etária e localidade ................... 78
Tabela 3 Origem da surdez por localidade ......................................................... 79
Tabela 4 Aquisição da Libras por localidade ..................................................... 80
Tabela 5 Histórico familiar da surdez por localidade ......................................... 81
Tabela 6 Parentesco relacionado à surdez por localidade ................................... 82
Tabela 7 Contexto de aprendizagem de libras por localidade ............................. 83
Tabela 8 Aprendizagem de libras no contexto escolar por localidade ................ 84
Tabela 9 Histórico de animais de estimação por localidade ............................... 85
Tabela 10 Sinais próprios de animais por localidade ........................................... 88
Tabela 11 Animais de estimação faixa etária e localidade ................................... 89
Tabela 12 Resumo: Animais de estimação por localidade ................................... 90
Tabela 13 Tipos morfológicos dos sinais por localidade ...................................... 93
Tabela 14 Características físicas por localidade ................................................... 100
Tabela 15 Características comportamentais por localidade .................................. 103
Tabela 16 Empréstimo da língua oral por localidade ........................................... 105
Tabela 17 Outros motivadores por localidade ...................................................... 107
Tabela 18 Resumo: categorias por localidade ...................................................... 110
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO: O CAMINHO ATÉ AQUI ........................................... 13

2 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E LÉXICO ................................... 21


2.1 O Léxico e o léxico em Libras ................................................................... 22
2.1.1 O sinal: nível fonético-fonológico ............................................................. 25
2.1.2 O sinal: nível morfológico e léxico ............................................................ 30
2.1.3 O sinal: nível semântico ............................................................................ 33

3 LEXICOLOGIA E ONOMÁSTICA ........................................................ 39


3.1 A Onomástica ............................................................................................ 41
3.1.1 A Antroponímia.......................................................................................... 45
3.1.2 A Toponímia .............................................................................................. 47
3.2 A Onomástica em línguas de sinais .......................................................... 50
3.2.1 Antroponímia em línguas de sinais ............................................................ 52
3.2.2 Toponímia em línguas de sinais ................................................................. 55
3.2.3 Onionímia em línguas de sinais ................................................................. 61
3.2.4 Teonímia em línguas de sinais ................................................................... 62
3.2.5 Zoonímia em línguas de sinais ................................................................... 63

4 METODOLOGIA ..................................................................................... 66
4.1 Caracterização da pesquisa ...................................................................... 66
4.2 Das áreas de estudo ................................................................................... 68
4.3 Da seleção de participantes da pesquisa ................................................... 69
4.4 Da coleta, transcrição dos dados .............................................................. 71
4.5 Dos procedimentos de análise ................................................................... 75

5 ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................... 77


5.1 Do nomeador ............................................................................................. 77
5.2 Dos nomeados ............................................................................................ 85
5.3 Das nomeações .......................................................................................... 90
5.3.1 Sinais zoonímicos: aspectos formais .......................................................... 92
5.3.2 Sinais zoonímicos: aspectos semântico-motivacionais ............................... 98
5.3.2.1 Características Físicas ................................................................................. 99
5.3.2.2 Características Comportamentais ................................................................ 102
5.3.2.3 Influências da Língua Oral .......................................................................... 105
5.3.2.5 Propostas taxionômicas ............................................................................... 110

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 113

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 116

APÊNDICE I – TCLE ............................................................................. 125


APÊNDICE II – TALE (10 – 13 anos) ..................................................... 130
APÊNDICE III – TALE (14 – 17 anos) .................................................... 132

ANEXO I – DOCUMENTO ASSACRE .................................................. 134


ANEXO II – DOCUMENTO SEME ........................................................ 135
ANEXO III – DOCUMENTO SEE .......................................................... 136
ANEXO IV – DOCUMENTO NAI .......................................................... 137
13

1 INTRODUÇÃO: O CAMINHO ATÉ AQUI

Nasci em Fortaleza, capital do Ceará, em 1975. Minhas lembranças da infância dão


conta das brincadeiras de “escola” com os primos, usando as tarefas mimeografadas que minha
tia, professora, trazia da escola pública em que trabalhava. Os traços azuis e o cheiro de álcool
ainda estão guardados na minha memória visual e olfativa. Nesta mesma escola (Escola de 1º
Grau Nossa Senhora Aparecida – conhecida, carinhosamente, por Igrejinha), anos depois,
passei a estudar durante o 1º grau (hoje, Ensino Fundamental). Concluída a 8ª série, fui
contemplado com uma bolsa de estudos numa escola particular: Colégio Mesquita Mendes. Os
custos com material escolar e livros didáticos impossibilitaram que eu continuasse lá. Então,
passei a estudar na Escola Municipal de 2º Grau Professor Filgueiras Lima, até 3º ano Científico
(hoje, Ensino Médio).
Antes de concluir o Ensino Básico, retornei à Igrejinha como professor “tapa-buraco”:
eu assumia as salas de aula na falta de professores. Nesse período, tive oportunidade de entrar
em todas as turmas da escola (desde a alfabetização até a 8º Série) em todas as disciplinas.
Naquela época, em Fortaleza, as escolas públicas viviam em greve e os docentes eram
pouco valorizados. Isso fazia com que, mesmo sonhando com a sala de aula, eu tivesse medo
de buscar formação em qualquer área de licenciatura. Então, resolvi prestar vestibular para
Enfermagem, na Universidade Federal do Ceará (UFC). Aprovado, não consegui me identificar
com o curso. Prestei novo vestibular, em 1996, para o Curso de Letras, na mesma instituição.
Logo nos primeiros meses, a sintonia com o curso, com os conteúdos, com os
professores foi imediata. O prazer em assistir às aulas, em ler, em pesquisar, em apresentar
seminários, em estagiar me acompanhou durante toda a formação (1996-2000). No primeiro
ano do curso – em 1997 – fui contratado pela Escola Profissional Padre João Piamarta como
professor de Língua Portuguesa. Entendo que minha formação se deu a partir dos dois espaços:
a Universidade Federal do Acre e a Escola Profissional Padre João Piamarta. Neste último
espaço de educação permaneci de 1997 até 2002 e lecionei em turmas da 5ª à 8ª Série.
Quando me vi inserido no espaço educacional, passei a entender a educação como um
fenômeno social, cultura e universal. Como afirma Libâneo (2013, p. 15): “Não há sociedade
sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade”. E continua o pedagogo:

A prática educativa não é apenas uma exigência da vida na sociedade, mas


também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e experiências
culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em
14

função de necessidades econômicas, sociais, políticas da coletividade


(LIBÂNEO, 2013, p. 15).

Minha saída da Escola Piamarta se deu quando fui aprovado no Mestrado do Programa
de Pós-Graduação em Linguística (PPGL), da Universidade Federal do Ceará, em 2002. Sob a
orientação do professor Dr. Paulo Mosânio Teixeira Duarte (in memoriam), concluí a pesquisa
com 1 ano e 6 meses, defendendo a Dissertação em 2003.
A experiência na pós-graduação ampliou minha visão de ensino. Passei a entender que,
como descreve Veiga (2006, p. 13), “ensinar e aprender envolvem o pesquisar. E essas três
dimensões necessitam do avaliar. Esse processo não se faz de forma isolada. Implica interações
entre sujeitos ou entre sujeitos e objetos”.
No mesmo ano de 2003, fiz seleção para o Doutorado, no PPGL, e fui aprovado. A
pesquisa foi orientada, inicialmente, pelo mesmo professor. Contudo, por razões pessoais, o
orientador pediu descredenciamento do Programa.
Esse fato fez com que eu mudasse de orientador e de área de pesquisa. A professora
Dra. Maria do Socorro Silva de Aragão passou a me orientar com temática voltada para as
relações entre o léxico e a cultura.
Em 2003, fui aprovado como professor substituto na Universidade Estadual do Ceará
(UECE), atuando no Curso de Letras, em disciplinas de Língua Portuguesa, Linguística e
Práticas de Ensino. Nesta Universidade permaneci até 2005, quando prestei concurso para a
área de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Acre (UFAC). Tomei posse no dia 5 de
dezembro de 2005.
A mudança geográfica coincidiu com a mudança de orientadora no Doutorado e,
estando em terras acreanas, passei a pesquisar sobre os nomes de espaços geográficos
(toponímia) do Acre. Vale lembrar que eu já tinha concluído os créditos das disciplinas no
PPGL e estava em fase de escrita da Tese – que foi defendida no dia 7 de abril de 2007.
Devo dizer que minha inserção nos estudos toponímicos foi um “divisor de águas” em
minha carreira como pesquisador. Passei a publicar artigos e capítulos de livros sobre a temática
e orientar pesquisas de Iniciação à Pesquisa (PIBIC) e de Mestrado. Além disso, é de minha
autoria o primeiro trabalho de aplicação da toponímia em salas de aula da Educação Básica –
estudo que me dá muito orgulho.
Mas considero o ano de 2013 um marco em minha vida que provocou mudança pessoal
e profissional, e que mudou a trajetória da minha carreira acadêmica (no ensino, na pesquisa e
na extensão). Fui convidado para compor a Comissão de Criação do Curso de Licenciatura em
15

Libras/Língua Portuguesa como Segunda Língua da UFAC. Naquele momento, meu


conhecimento sobra a Língua Brasileira de Sinais era mínimo e confesso que me causou medo
participar daquela equipe. Eu sabia da importância do curso para a sociedade e para a
comunidade surda, mas a minha falta de conhecimento provocava insegurança.
Os trabalhos começaram. A cada encontro de trabalho eu me sentia provocado a ler e
descobrir mais sobre a educação de surdos. As especificidades linguísticas daquela língua que
era falada com as mãos me deixavam fascinados e me impulsionavam a pesquisar mais sobre
sua estrutura, seu funcionamento. Por diversas vezes me sentia confuso tentando entender como
uma língua “sem sons” poderia ser analisada fonético-fonologicamente, ou como as mãos
poderiam ser morfemas. Não foi fácil!
O projeto foi concluído e aprovado em todas as instâncias da UFAC. Em 2014, as
iniciaram com primeira turma do Curso. Naquele momento, o professor Israel Queiroz de Lima
foi indicado como coordenador e eu como vice coordenador. Logo nos primeiros meses de
curso, o professor Israel declinou da coordenação do curso e eu a assumi, sempre contando seu
apoio (uma vez que ele era professor de Libras e sempre se colocou como parceiro na
estruturação do curso).
Na primeira turma, fui professor de Introdução aos Estudos Linguísticos. Nesta turma
havia 6 discentes surdos. Como coordenador e como professor foi um grande desafio porque a
comunicação com eles não era estabelecida pelo meu desconhecimento da Libras. Embora
contasse com os Tradutores-Intérpretes de Libras-Português (TILSP), eu sentia que necessitava
interagir diretamente com eles. Os alunos surdos da primeira turma me batizaram com o sinal-
nome a seguir.

Figura 1 – Sinal-nome ALEXANDRE

Fonte: Produzido pelo autor.


16

Veiga (2006, p. 24) explica que “para o professor concretizar seu ato de ensinar de
forma satisfatória, o vínculo afetivo é uma dimensão indispensável, uma vez que emoções,
interesses pessoais, sonhos permeiam toda relação pedagógica”. No meu entender, os vínculos
educacionais são estabelecidos, de modo especial, por meio da língua.
Devido ao contato com os alunos surdos, os professores bilingues e os TILSP, eu era
constantemente incentivado a aprender Libras. Em 2015, fiz o Curso Básico de Libras, com a
professora Anna Jamilly Santos Martins Pontes (que era TILSP no Letras Libras). Após esse
curso, concluí o Curso Intermediário de Libras, o Curso Avançado de Libras – com a mesma
professora – e o Curso de Tradutor-Intérprete de Língua de Sinais, ministrado pelo professor
Israel Queiroz.
Agora, conseguindo interagir com os discentes surdos do Letras Libras, passei a
orientar os bolsistas de PIBIC. Fui orientador das discentes surdas: Manuella Trindade Bezerra
e Fernanda Albuquerque da Silva – as primeiras surdas participantes do Programa de Bolsas de
Iniciação Científica CNPq da Universidade Federal do Acre.
Em 2016, acompanhado do professor Israel Queiroz, fiz uma visita técnica à
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para conhecer o funcionamento dos Cursos de
Letras Libras (Licenciatura e Bacharelado). Recebidos pela professora Karin Strobell,
conhecemos as instalações onde o curso funcionava: salas de aula, laboratórios, sala de TILSP
etc. Essa oportunidade foi fundamental para implementarmos mudanças organizacionais no
Letras Libras da UFAC. Em mim, despertou também, o desejo de realizar estágio pós-doutoral
com foco em Libras.
Em conversa com a bolsista PIBIC Manuella Trindade, iniciamos as pesquisas sobre
a toponímia em Libras do Acre. Era uma ideia ainda embrionária, pois ainda não tinha
amadurecido os processos de formação dos sinais toponímicos em suas dimensões estruturais
e semânticas. Mas os estudos começaram... e tomaram uma dimensão que nunca imaginei.
Iniciamos catalogando os sinais, elaborando as fichas-lexicográfico toponímicas e comparando
os processos de análise das línguas orais e de sinais.
Como participante do Grupo da ANPOLL de Lexicologia, Lexicografia e
Terminologia, apresentei no encontro de 2017, apresentei os primeiros resultados desse projeto.
Para alguns pesquisadores, a análise toponímica em Libras causou estranheza. Mas permaneci
firme, pois acreditava que a área ficaria mais enriquecida com a ampliação dos estudos
toponímicos em línguas de sinais. Neste mesmo encontro, em conversa com a professora Dra.
Enilde Faustich, tomei conhecimento da pesquisa desenvolvida pelo professor Edinilson Souza
17

Júnior, da UFSC, que ela orientou na Universidade de Brasília (UnB). Retornei ao Acre ainda
mais motivado a prosseguir com as pesquisas onomásticas em Libras.
Em 2018, enviei mensagem à professora Dra. Ronice Müller de Quadros, da UFSC,
principal referência em estudos linguísticos da Libras no Brasil, e lhe falei sobre o projeto de
toponímia em Libras e meu desejo de que ela fosse minha supervisora de Pós-Doutorado. Sua
resposta foi positiva e muito animadora.
Coincidentemente, foi publicado edital de Bolsa de Pós-Doutorado Sênior do CNPq.
Concorri e fui aprovado. Passei a organizar meu afastamento da UFAC – aprovado pela
Assembleia de Centro de Educação, Letras e Artes (CELA). E parti para Florianópolis para
iniciar o estágio na UFSC.
Tudo ia bem até que o inesperado aconteceu: minha mãe descobriu um câncer e
precisou iniciar um tratamento muito doloroso. Não tive escolha: conversei com a professora
Ronice Quadros, que prontamente, me motivou a acompanhar minha mãe e iniciar as leituras e
a pesquisa de Fortaleza. Infelizmente, minha mãe faleceu. Retornei à Florianópolis e mergulhei
nos estudos e na pesquisa para preencher meu coração.
O período que estive na UFSC, aproveitei todas as oportunidades para imergir na
comunidade surda e nos ambientes de ensino e pesquisa: assisti aulas na Graduação com os
professores Alexandre Bet, João Paulo Ampessan e Rodrigo Custódio; assisti aulas na Pós-
Graduação com as professoras Ronice Quadros, Marianne Stumpf e Débora Wanderley;
participei de eventos na área da Libras e da Educação de Surdos, publiquei capítulos de livros,
artigos.
Retornando à UFAC, e passei a me dedicar, ainda mais, às atividades relacionadas à
educação de surdos e à Língua Brasileira de Sinais. Direcionei minha atuação nas atividades de
ensino, pesquisa e extensão na UFAC à Libras. Essas experiências nas pesquisas com os alunos
surdos foram transformadoras na minha constituição como educador. E pude perceber que os
alunos também foram transformados. Aprendemos e ensinamos, reciprocamente. Como bem
afirma Veiga (2006, p. 105): “professor e alunos transformam-se e transformam o
conhecimento em aprendizagem”.
Perlin e Rezende (2011) destacam que as posições e práticas escolares precisam
considerar a cultura surda, o conhecimento dos surdos, as experiências dos surdos e tornar esses
ambientes educacionais em espaços de construção de identidades, de representação cultural e
de valorização da língua de sinais. Essas experiências transformam os sujeitos e as práticas
educacionais.
18

Em 2019, fui eleito para a Academia Acreana de Letras (AAL), ocupando a cadeira nº
1. Foi um momento muito significativo na minha trajetória profissional, pelo reconhecimento
do meu trabalho acadêmico no estado do Acre. Em meu discurso, enfatizei a importância de
tronar as obras acessíveis aos Surdos acreanos e de abrir os espaços da AAL para os artistas
Surdos.
Numa replicação do Projeto Inventário Nacional de Libras, coordenado pela
professora Dra. Ronice Quadros, passei a coordenar o projeto Inventário de Libras da Região
de Rio Branco, Acre – aprovado na UFAC e no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP): (CAAE
35002620.9.0000.5010).
Outro projeto – Onomástica em Libras – foi ampliado e passou a acomodar pesquisas
de Iniciação Científica, de Trabalho de Conclusão de Curso, de Mestrado e de Doutorado. E foi
a partir dessas reflexões que surgiu a ideia da presente pesquisa.
A Onomástica estuda os nomes próprios em geral. No Brasil, os estudos onomásticos
estão centrados na Antroponímia (nomes próprios de pessoas) e na Toponímia (nomes próprios
de lugares). Quanto às línguas de sinais, a realidade é a mesma. Em Sousa (2022a), apresentei
outras subáreas onomásticas que possibilitariam pesquisas interessantes: nomes próprios de
corpos celestes (Astronímia), nomes próprios de fenômenos atmosféricos (Metereonímia),
nomes próprios de estabelecimentos comerciais e produtos (Onionímia) e nomes próprios de
animais de estimação (Zoonímia).
Os animais de estimação são considerados membros da família. Como tais, recebem
cuidados e são batizados como nomes: Totó, Lilica, Bia, Milu entre outros. Alguns animais
ficam famosos e são reconhecidos por seus nomes: Beethoven (cachorro), Dolly (ovelha), Babe
(porco), Tião (chipanzé) entre outros.
Certa vez, em visita do professor surdo João Renato dos Santos Junior (naquele
momento, meu orientando de mestrado) meus dois gatinhos foram batizados: um com um sinal
em referência à cor dos seus olhos e a outra com um sinal em referência a duas marcas no pelo
próximas (na lateral) aos seus olhos.
Passei a relacionar as nomeações em Libras individuais dos animais de estimação de
surdos, às nomeações em Libras de pessoas e de lugares. Em Sousa (2022a), propus que os
sinais próprios de animais de estimação pudessem ser analisados quanto à estrutura e quanto às
motivações semânticas. Como um estudo piloto, convidei a discente surda Monalisa de Abreu
Teixeira para coletar alguns sinais de estimação com seus amigos surdos para que pudéssemos
verificar as nomeações na perspectiva no surdo. O resultado foi publicado em Teixeira (2022).
19

Os dados coletados por Teixeira (2022) foram analisados a partir das categorias que
propomos em Sousa (2022a). Os participantes foram escolhidos aleatoriamente, mas os
resultados foram importantes para que eu pudesse pensar num estudo com mais rigor científico.
Em 2022, iniciei um estágio pós-doutoral na Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), sob a supervisão da professora Dra. Ivani Rodrigues de Lima. A interlocução
com a professora Ivani Rodrigues contribuiu significativamente para a constituição da pesquisa
que ora apresentamos e que parte da seguinte questão: quais as características formais e
semântico-motivacionais dos sinais zoonímicos em Libras?
A pesquisa tem por objetivo precípuo caracterizar formal e semanticamente os sinais
atribuídos por surdos aos animais de estimação. Os participantes da pesquisa são surdos, de
ambos os sexos, com idades variando entre 10 e 20 anos. Os dados foram coletados por meio
de entrevistas realizadas em Rio Branco (28 entrevistas) e em Campinas (24 entrevistas), e
totalizaram 106 sinais.
A pesquisa, de natureza aplicada, abordagem quali-quantitativa e documental, tem
como objetivo geral: descrever (formalmente e semanticamente) os sinais utilizados por surdos
para nomear seus animais de estimação. Para atingir esse objetivo, traçamos os seguintes
objetivos específicos: (a) traçar o perfil dos participantes da pesquisa, com base no processo de
aquisição da Libras e das relações com os animais de estimação; (b) classificar os sinais
zoonímicos em Libras, com base nos tipos de formação; (d) identificar os aspectos
motivacionais que influenciam os surdos no ato de nomeação dos animais de estimação em
Libras; (e) elaborar taxes para a classificação dos sinais zoonímicos, com base nas
características dos dados obtidos; (f) quantificar os dados da pesquisa.
A Tese está organizada em 5 partes principais: na primeira, trataremos sobre a Libras
e o léxico. Nessa parte, descreveremos o léxico em Libras a partir dos níveis: fonético-
fonológico, morfológico e lexical, e semântico. Esses níveis serão importantes para as análises
dos sinais zoonímicos.
Na segunda parte, nosso interesse será quanto à Lexicologia e a Onomástica com foco
nas línguas de sinais. Utilizaremos aportes teóricos de pesquisadores nacionais e internacionais,
além de destacar pesquisas realizadas no Brasil e, de modo especial, no estado do Acre.
Na terceira parte, apresentaremos o desenho metodológico deste estudo: a
caracterização geral da pesquisa, o lócus do estudo, a seleção dos participantes, o processo de
entrevistas (geração dos dados), de catalogação e transcrição dos dados, além dos
procedimentos de análise.
20

Na quarta parte, procederemos à análise, propriamente dita. Dividimos essa parte em


3 seções: inicialmente, traçaremos o perfil dos participantes da pesquisa; em seguida, trataremos
sobre as formações dos sinais (aspecto formal); e por fim, discutiremos sobre as questões
motivacionais identificadas nos sinais zoonímicos.
Como última parte da Tese, apresentaremos nossas considerações finais (ou quase
finais), ressaltando os resultados alcançados em cada objetivo específico e a proposta
taxionômica gerada a partir dos dados analisados.
21

2 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E LÉXICO

As línguas são constituídas de léxico e gramática (MALMBERG, 1976; POLGÈRE,


2016) – conjuntos de conhecimentos interdependentes que possibilitam a comunicação
(interação) entre seus falantes. Esses conhecimentos, segundo Malmberg (1976), são formados
a partir de modelos sociais e culturais refletidos nas diferentes línguas, pois a constituição do
elemento linguístico se dá a partir de experiências, de crenças, de convenções sociais e visões
de mundo, tanto individuais, quanto coletivas.
Diniz (2013, p. 61) afirma que “toda língua tem sua vida própria e “alimenta-se” a
partir da comunicação dos falantes, quando entram em contato com seus pares”. Assim,
podemos afirmar que além das regras de combinação (gramática) entre os signos (unidades
lexicais) e de formação dessas unidades (POLGÈRE, 2016), há que se levar em consideração
os conhecimentos construídos entre os falantes e os automatismos desenvolvidos necessários
na comunicação espontânea.
Biderman (2001, p. 13), por sua vez, afirma que a língua é “um patrimônio social,
preexistente aos indivíduos, [...] uma realidade heterogênea, sujeita aos outros fatores que
compõem a herança social, como a cultura e a estrutura da sociedade”.
Embora até bem pouco tempo a ciência linguística só tomasse como objeto de estudo
as línguas de modalidade oral-auditiva, a partir de estudos de Stokoe (1960) – que desenvolveu
um modelo de análise fonológica para a Língua de Sinais Americana (ASL) – as diversas
línguas de sinais existentes no mundo passaram a ter status linguístico e constituíram objetos
de investigações científicas.
No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a língua da comunidade surda.
Trata-se de uma língua visual-espacial “que utiliza o corpo, as mãos, os espaços e a visão para
ser produzida e percebida” (QUADROS, 2019, p. 17) e que pode ser descrita e analisada em
todos os níveis linguísticos, desde as unidades mínimas (nível fonético-fonológico) até as
produções textuais-enunciativas, em perspectivas sociolinguísticas, etnolinguísticas, estilísticas
– tanto em perspectivas teóricas, quanto em perspectivas aplicadas.
A Libras foi reconhecida legalmente pela Lei 10.436/2002 e implementada a partir de
ações constantes no Decreto 5.626/2005 – que provocou: a) a inclusão da Libras como
componente curricular nas formações de professores, b) a criação de cursos superiores de Letras
Libras, de Pedagogia Bilíngue, c) a presença de tradutores-intérpretes em janelinhas de
acessibilidade, em apresentações culturais, religiosas, políticas, entre outras.
22

Antes desse reconhecimento legal, havia poucas pesquisas sobre a Libras, Ferreira-
Brito (1984; 1990; 1995), Quadros (1995; 1999), Karnopp (1994; 1999) – contudo, como
apontam Quadros e Stumpf (2018, p. 21), essas pesquisas iniciais provocaram “um impacto
importante na proposição do reconhecimento da Libras, pois subsidiaram cientificamente os
argumentos quanto ao estatuto linguístico desta língua na elaboração da Lei de Libras,
reivindicada pelos movimentos surdos” organizados pela Federação Nacional de Educação e
Integração dos Surdos (FENEIS).
No âmbito acadêmico-científico, atualmente, há um crescente número de pesquisas
(desenvolvidas por estudiosos surdos e ouvintes) decorrente dos espaços conquistados pelos
surdos, em níveis de graduação e pós-graduação. Stumpf e Quadros (2019) apresentam um
panorama das pesquisas desenvolvidas no Brasil por surdos e ouvintes bilingues. Só na UFSC,
até a data da publicação, foram formados 12 doutores surdos. Segundo as autoras, “em 2004,
houve ações pioneiras que deram início ao empoderamento de surdos na academia” (STUMPF;
QUADROS, 2019, p. 227).
Nesta pesquisa, interessa-nos a constituição lexical da Libras, mais detidamente a sua
dimensão onomástica. Desse modo, convém estabelecer o conceito de léxico e, dentro dele, o
lugar dos nomes próprios.

2.2 O Léxico e o léxico em Libras

Biderman (1998; 2001) afirma que o léxico tem relação, tanto com o processo de
nomeação, quanto com a cognição da realidade. Comecemos com a primeira relação: como
dissemos em trabalho anterior, “nomear é fazer existir” (SOUSA, 2022a, p. 6). Quando o
homem dar nomes às coisas do mundo, ele registra “o conhecimento do universo”
(BIDERMAN, 2001, p. 13). Nesse processo o léxico de uma língua é gerado por meio de “atos
sucessivos de cognição da realidade e de categorização da experiência, cristalizada em signos
linguísticos: as palavras” (BIDERMAN, 2001, p. 13).
Nas palavras de Sousa e Dargel (2017, p. 7-8):

Nomeia-se e se particulariza “coisas” sobre as quais se têm poder cognitivo


ao se atribuir um designativo por meio de ações como identificar, categorizar,
delimitar e singularizar, ou seja, aplicam-se noções para se demonstrar que
algo, dentre outras existências no universo, tem características próprias e, por
isso, é diferente. Para tanto, o nomeador lança mão de aspectos internos e
externos da língua com o intuito de refletir e expressar, no que foi designado,
a realidade cultural assimilada pela vivência em sociedade.
23

Cada grupo linguístico e cultural gera seu léxico e o compartilha a partir das interações,
das necessidades comunicativas e classificatórias, por meio de um processo criativo.
Assim, Biderman (2001, p. 14) conclui “[...] o léxico de uma língua natural pode ser
identificado com o patrimônio vocabular de uma dada comunidade linguística ao longo de sua
história”. E completa:

Os modelos formais dos signos linguísticos preexistem, portanto, ao


indivíduo. No seu processo individual de cognição da realidade, o falante
incorpora o vocabulário nomeador das realidades cognoscentes juntamente
com os modelos formais que configuram o sistema lexical (BIDERMAN,
2001, p. 14).

Villalva e Silvestre (2014) explicam que aquilo que entendemos por léxico de uma
língua constitui um processo em que às palavras utilizadas por um dado falante, dentro de uma
comunidade de outros falantes,

[...] juntam-se as palavras em uso por outras comunidades linguísticas falantes


da mesma língua; às palavras em uso na contemporaneidade, somam-se as que
estiveram em uso em sincronias passadas, de que temos notícias pela
documentação escrita e que, por vezes, ressurgem; aos dados da escrita, unem-
se os da oralidade, quando é possível apreendê-la, dada a muito maior fluidez
da oralidade face à escrita (VILLALVA; SILVESTRE, 2014, p. 23).

Desse modo, entendemos que o léxico está em constante renovação e novos itens são
criados, seja na sua forma, seja no seu significado. Lamb (1974) já afirmava que o léxico é um
componente da língua aberto, dinâmico e, por essa razão, precisa ser documentado para exames
futuros. Basílio (2004, p. 9) diz que o léxico é “uma espécie de banco de dados previamente
classificados, um depósito de elementos de designação, o qual fornece unidades básicas para a
construção de enunciados”.
E Antunes (2007, p. 42-43) conclui:

[...] o léxico é mais do que uma lista de palavras à disposição dos falantes. É
mais do que um repertório de unidades. É um depositário dos recortes com
que cada comunidade vê o mundo, as coisas que o cercam, o sentido de tudo.
Por isso é que o léxico expressa, magistralmente, a função da língua como
elemento que confere às pessoas identidade: como indivíduo e como membro
pertencente a um grupo.
24

No caso das línguas de sinais, Sousa (2022b) diz que, acompanhando as definições de
Biderman (2018; 2001) e Antunes (2007), o léxico pode ser definido como o conjunto de sinais
à disposição dos falantes, acumulado ao longo do tempo. Inicialmente, é necessário definir
sinal. Para Johnston e Schembri (1999, p. 117):

Um sinal é definido como um ato visual-gestual relativamente estável e


identificável com um significado associado que é reproduzido com
consistência por sinalizantes nativos e para o qual, consequentemente, valores
particulares acordados podem ser dados para formato de mão, orientação,
localização e movimento (incluindo falta de movimento). Os sinais também
podem incluir características não manuais (como uma determinada expressão
facial, padrão de boca, ou um movimento de cabeça e/ou pescoço) 1.

Os sinais (chamados pelos autores de “lexemas”) são claramente identificáveis e


replicáveis, tem regularidade e é associado a um significado, independente do contexto em que
está inserido. Sousa (2022b) considera que a noção de palavra se aproxima da de sinal. Leite
(2021, p. 192) afirma:

[...] em relação ao termo “sinais’, parece-me pertinente que os estudos nos


campos da linguística geral e da semiótica tematizem o fato de que, quando
utilizado no contexto das línguas de sinais faladas pelas pessoas surdas, os
“sinais” devem ser compreendidos como possuindo o mesmo estatuto verbal
das palavras nas línguas orais, não devendo ter a sua significação confundida
com as acepções não linguísticas e não verbais tradicionais. Mais do que isso,
sob a ótica de uma semiótica da corporeidade, podemos avançar na direção de
rompermos definitivamente com esse fosso aparente entre as línguas orais e
as línguas de sinais, reconhecendo não apenas que os sinais são em essência
palavras manuais, mas também que as palavras são em essência gestos vocais.

As línguas de sinais, como explicam Lillo-Martin e Gejewsky (2014), são línguas


naturais que se comportam de acordo com os universais linguísticos e que são adquiridas e
processadas no cérebro (tal como ocorre com as línguas orais). Neste estudo, olharemos para o
sinal a partir de três níveis: fonético-fonológico, morfológico e semântico.

1
A sign is defined as a relatively stable, identifiable visual-gestural act with anassociated
meaning which is reproduced with consistency by native signers and forwhich, consequently, particular
agreed values can be given for handshape,orientation, location and movement (including lack of
movement). Signs may alsoinclude nonmanual features (such as a particular facial expression, mouth
pattern, or movement of the head and/or trunk).
25

2.1.1 O sinal: nível fonético-fonológico

As línguas de sinais são de modalidade visual-espacial, que utilizam as mãos


(articuladores primários) e outras partes do corpo (braços, face, tronco por exemplo) para
articular e produzir os sinais (LIDDELL, 2003; QUADROS; KARNOPP, 2004; QUADROS,
2019).
Os sinais são formados, em nível fonético-fonológico, a partir de cinco parâmetros:
configuração de mão, locação (ponto de articulação), movimento – propostos por Stokoe (1960)
– além da orientação da mão – propostos por Battison (1978) e das expressões não-manuais.
Explicaremos cada um desses parâmetros utilizando a figura 2 a seguir para exemplificação.

Figura 2 – Sinal COBRAR/EXIGIR

Fonte: Produzida pelo autor.

A configuração de mão corresponde à forma que a mão (ou as mãos, no caso dos sinais
bimanuais) assumem na produção do sinal. No caso da figura 2, temos 2 configurações de mão:
nº 02 (mão passiva) e nº 67 (mão ativa), cujas numerações são indicadas no quadro a seguir:
26

Figura 3 – Configurações de mão

Fonte: INES (2022).

O parâmetro locação corresponde ao ponto de articulação do sinal, em qual lugar (no


corpo ou no espaço neutro à frente do corpo) ele é produzido. No caso do sinal ilustrado na
figura 2, o ponto de articulação é o espaço neutro.
27

De acordo com Klima e Bellugi (1979, p. 50), trata-se do “segundo dos principais
parâmetros de sinais lexicais da ASL é o locus de movimento do sinal, seu ponto de
articulação”2.
Com base em Battison (1978), Ferreira-Brito e Langevin (1995) apresentam as
seguintes locações utilizadas na produção dos sinais em Libras: Cabeça (topo da cabeça, testa,
rosto, orelha, olhos, nariz, boca, bochechas e queixo), tronco (pescoço, ombro, busto, estômago,
cintura, braços, antebraço, cotovelo, pulso), mão (palma, dorso, dedos) e espaço neutro.
O movimento corresponde à “atividade empregada na composição da mão em
determinada localização” (QUADROS, 2019, p. 42). Os movimentos são identificados a partir
de conjuntos, como mostra Quadros (2019): Movimentos de trajetória (retilíneo, sinuoso,
angular), movimentos circulares (circular, semicircular, helicoidal) e movimentos internos dos
sinais (dos dedos, das mãos).
Na figura 2, o movimento do sinal é retilíneo, unidirecional para baixo, quando a mão
ativa vai em direção à mão passiva (que está com a palma da mão para cima) e faz 3 contatos
intensos.
Klima e Bellugi (1979) ressaltam que o movimento é um parâmetro que se constitui a
partir de um produtivo conjunto de formas e direções. E Ferreira-Brito (1995), sobre a Libras,
explica que é necessário observar, ainda) a direcionalidade do movimento (unidirecionais,
bidirecionais, multidirecionais), a velocidade, a frequência (repetições) entre outros traços.
Como dissemos, esses três parâmetros anteriores foram descritos por Stokoe (1960)
em seu estudo sobre a ASL. Atribui-se ao trabalho do linguista americano o início das pesquisas
científicas com foco nas línguas de sinais, a partir de sua proposta de análise fonológica. Após
Stokoe, Battison (1978) incluiu mais um parâmetro fonológico distintivo para a descrição da
ASL: a orientação da palma da mão.
Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 59), “orientação é a direção para a qual a palma
da mão aponta na produção do sinal”. As autoras explicam que a inclusão desse parâmetro se
justifica por haver pares mínimos em sinais que apresentam mudanças de significado por
apresentar diferença da orientação da palma da mão.
Sandler (1989), considerando que a orientação da palma da mão sempre está
combinada com a configuração de mão, propôs agrupar os dois parâmetros, conforme ilustração
a seguir:

“The second major parameter os ASL lexical signs is the locus os a sign’s movement, its
2

place os asticulation” (KLIMA; BELLUGI, 1979, p. 50).


28

Figura 4 – Orientação da mão + configuração da mão

Fonte: Quadros (2019, p. 44).

Na Libras, segundo Ferreira-Brito (1995), há seis tipos de orientações da palma da


mão: para cima, para baixo, para o corpo, para a frente, para a direita e para a esquerda. Barreto
e Barreto (2015), em estudo sobre as escritas de sinais (registros gráficos das línguas
sinalizadas), acrescentam as seguintes orientações: diagonal esquerda para cima, diagonal
esquerda para baixo, diagonal direita para cima, diagonal direita para baixo.
Na estrutura articulatória dos sinais, segundo Quadros (2019), podem estar presentes
expressões não-manuais – movimentos do corpo (como cabeça e tronco), da face (levantamento
e abaixamento das sobrancelhas, movimentos de olhos, lábios, bochechas) – usadas, por
exemplo, para marcar negação, superlativação. Quadros e Karnopp (2004, p. 60) destacam que
“duas expressões não-manuais podem ocorrer simultaneamente”, como é o caso das marcações
de interrogação e negação.
Na figura 2, é possível observar o parâmetro expressão não-manual marcado na face
do sinalizante, que está com a cabeça levemente abaixada, os ombros erguidos, e as
sobrancelhas franzidas.
Descritos os parâmetros de formação de um sinal em Libras, ilustramos a seguir a
estrutura do sinal apresentado na figura 5, que constitui um dos dados do nosso corpus. O item
lexical foi apresentado como um sinal próprio de um jabuti (animal de estimação da participante
52). Para melhor visualização, a estrutura é apresentada em SignWriting (escrita de sinal) para
os parâmetros: Configuração de Mão (CM), Ponto de Articulação (PA), Movimento (M),
Orientação da Mão (O) e Expressão Não-Manual (ENM).
29

Figura 5 – Estrutura fonético-fonológica em SignWriting

Fonte: Produzido pelo autor.

Como se pode observar, o sinal é produzido com as duas mãos em CM nº 05 (conferir


figura 3), em espaço neutro, executando movimentos repetidos de duas formas: os articuladores
primários (as mãos) fazem movimentos circulares alternados, e a cabeça gira da esquerda para
a direita e vice-versa (no ângulo de 180º). As palmas das mãos estão orientadas para baixo (em
direção ao chão) e o sinal apresenta expressão não-manual nos olhos e nos lábios – fazendo
referência ao modo lento como o jabuti se locomove.
Ainda sobre o aspecto fonético-fonológico, Battison (1978) destacou que existem
sinais produzidos com uma única mão (monomanual) ou com as duas (bimanuais). Nesse
segundo caso, Quadros (2019, p. 45) apresenta as condições:

(1) condição de simetria (as mãos apresentam a mesma configuração de mãos


e os sinais são produzidos com o mesmo padrão de movimento que pode ser
espelhado ou alternado, como em NAMORAR e TRABALHAR,
respectivamente);
(2) a condição de dominância, em que uma das mãos apresenta dominância
sobre a outra (neste caso, as configurações podem ser diferentes).
30

No caso do sinal apresentado na figura 5, temos um sinal bimanual simétrico alternado,


cujos articuladores se assemelham na Configuração de Mão e no Movimento. É válido
acrescentar, ainda, que na questão de dominância, Battison (1978) chama a mão dominante de
“mão ativa” e a mão não-dominante de “mão passiva”. Ressalte-se que é necessário observar
se o sinalizante é destro ou canhoto para identificar se a mão dominante será a mão direita ou
esquerda.
Há outros aspectos a serem considerados no nível fonético-fonológico do sinal.
Contudo, optamos por descrever os aspectos que serão considerados na análise dos dados do
presente estudo.

2.1.2 O sinal: nível morfológico e léxico

A morfologia nas línguas sinalizadas se caracteriza pela sequencialidade e a


simultaneidade (QUADROS, 2019). Esses dois tipos de morfologia implicam haver, nas
línguas de sinais, aspectos linguísticos gerais (identificados em línguas orais e sinalizadas) e
aspectos específicos decorrentes da modalidade de produção da língua (visual-espacial)
(ARONOFF, MEIER; SANDLER, 2005), como é possível visualizar no quadro a seguir:

Quadro 1 – Morfologia simultânea e morfologia sequencial


MORFOLOGIA SIMULTÂNEA MORFOLOGIA SEQUENCIAL
Morfologia complexa flexional (combinação Morfologia simples afixal (linear);
de vários elementos simultaneamente);
Morfemas concatenados;
Morfemas sobrepostos uns aos outros
Construções morfológicas sequenciais de
(produzidos ao mesmo tempo);
produtividade frequentemente limitada;
Construções morfológicas simultâneas são
Construções morfológicas sequenciais variáveis
produtivas;
entre os sinalizantes;
Construções morfológicas simultâneas são
Variação individual considerável;
mais estáveis entre os sinalizantes;
Morfologia menos semanticamente coerente.
Morfologia semanticamente coerente.

Fonte: Quadros (2019, p. 62).

A morfologia simultânea constitui “a superposição da estrutura morfológica na


unidade canônica locação-movimento-locação” (QUADROS, 2019, p. 65). Desse modo, a
flexão morfológica ocorre quando um movimento se sobrepõe a outro já existente,
determinando “marcações de concordância, ou aspectual, ou de número” (QUADROS, 2019,
p. 65), por exemplo.
31

Aronoff, Meier e Sandler (2005) consideram a morfologia simultânea complexa e


estruturada por meio da modalidade de transmissão, algumas vezes, motivada iconicamente.
Quadros (2019) acrescenta que esse tipo de morfologia é presente em determinadas flexões,
derivações e nos classificadores (descritivos visuais e imagéticos).
A morfologia sequencial, por sua vez, é mais comum nas línguas orais, mas pode
ocorrer, como destacou Faria-Nascimento (2013), ao estudar os morfemas livres e presos em
Libras. A autora observou, por exemplo, que há formações em Libras derivadas por um
morfema-base, em que morfemas “sobrefixos” (como a estudiosa os denomina) se combinam
formando outros sinais na mesma base de significação morfológica.
Quadros e Karnopp (2004) ressaltam que a estrutura dos sinais em Libras é complexa
e que é necessário considerar as propriedades próprias da modalidade visual-espacial que são
determinantes no processo de construção do léxico. Para ilustrar, as autoras recorrem ao que
propõem Brentari e Padden (2001).

Figura 6 – O léxico na Libras

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 88).

A soletração manual constitui um conjunto de configurações de mão que representam


o alfabeto português, mas “não é uma representação direta do português” (QUADROS;
KARNOPP, 2004, p. 88). Há, ainda, a incorporação de configurações de mão (representando
uma letra) que pode constituir a estrutura morfológica de um sinal. Faria-Nascimento (2009)
classifica como empréstimos da Língua Portuguesa para a LSB. Na figura, a seguir, mostramos
os tipos de empréstimos apresentados pela pesquisadora.
32

Figura 7 – Empréstimos em Libras

Fonte: Faria-Nascimento (2009, p. 70).

Faria-Nascimento (2009, p. 60) afirma que os empréstimos podem ocorrer tanto entre
línguas de sinais, quanto da língua oral para a língua de sinais – especialmente pela proximidade
geográfica e o contato com a língua escrita. Apresentamos uma síntese dos tipos de
empréstimos descritos pela pesquisadora:
a) Empréstimo por transliteração: a transliteração constitui “a representação de
letras de uma língua oral por CMs de uma língua de sinais” (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p.
61);
b) Empréstimo por transliteração pragmática: é uma subcategoria do empréstimo
de transliteração e ocorre pela datilologia (soletração manual) da palavra inteira ou parte dela
por meio de CMs correspondentes às letras do alfabeto. Numa apresentação pessoal, por
exemplo, geralmente o nome próprio da pessoa, em língua oral, é “soletrado” (ex. A-L-E-X-A-
N-D-R-E) e, em seguida, é apresentado o sinal-nome correspondente (como mostramos na
figura 1);
c) Empréstimo por transliteração lexicalizada: é também conhecido como
“datilologia rítmica”. Embora utilize as CMs correspondentes às letras que compõem a palavra
em língua oral, a datilologia incorpora movimentos e altera, na maioria das vezes, o local de
produção da datilologia pragmática. Assim, uma soletração pragmática de N-U-N-C-A, no
processo de lexicalização, associa um ritmo e ocorre a perda de uma CM, sendo produzida N-
U-N-U.
d) Empréstimo por transliteração da letra inicial: este tipo de empréstimo ocorre
quando se utiliza a CM da letra inicial do referente, contudo, a construção do item lexical segue
as regras próprias das formações morfológicas das línguas sinalizadas. Trata-se de uma
formação híbrida, como pontuou Ferreira-Brito (1995);
33

e) Empréstimo da “configuração” visual dos lábios: trata-se da “pista visual


referente a uma dada unidade fonológica articulada pelos falantes de línguas orais
simultaneamente à articulação do referente equivalente em LSB” (FARIA-NASCIMENTO,
2009, p. 67). Em alguns casos, devido ao contato entre surdos e ouvintes, a articulação do lábio
realizada por falantes passa a ser “copiada” no momento que o surdo sinaliza o referente;
f) Empréstimo semântico: trata-se de uma tradução do empréstimo que se costuma
classificar como decalque. Segundo Faria-Nascimento (2009), o decalque é a “adoção do
conteúdo semântico que o lexema ou expressão tem na língua de origem substituído por um
lexema ou expressão da língua receptora com significação equivalente” (FARIA-
NASCIMENTO, 2009, p. 69). Esse tipo de empréstimo é comum em conceitos metafóricos e
em expressões idiomáticas do português;
g) Empréstimo estereotipado: é o empréstimo que se estabelece na língua de sinais
“a partir da cópia do formato global de um objeto, de um símbolo gráfico convencionado, aceito
e socialmente utilizado pelos falantes das diversas culturas” (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p.
69). São exemplos: as formas geométricas, os símbolos matemáticos etc.;
h) Empréstimo cruzado: ocorre no “emprego de um significante x’ decalcado na
LSB para denominar um significante y’ que mantém como única relação com o referente que
designa, a semelhança visual de seu significante na língua de origem” (FARIA-
NASCIMENTO, 2009, p. 69). Por exemplo, o sinal referente a Sapucaia (Cidade do Rio Grande
do Sul) é SAPO^CAIR.

Esses tipos de empréstimos serão retomados, em parte, quando tratarmos das


formações de sinais onomásticos, na próxima seção. Outros aspectos da dimensão morfológica
da Libras não foram considerados aqui, uma vez que o objetivo é dar atenção aos aspectos que
serão utilizados nas discussões dos dados que selecionamos para a presente pesquisa.
Trataremos, a seguir, dos aspectos semânticos da Libras.

2.1.3 O sinal: nível semântico

De acordo com Polguère (2018, p. 29), a semântica de uma língua constitui “o conjunto
de sentidos exprimíveis nesta língua, bem como o conjunto de regras de expressão e de
combinação desses sentidos”. É, portanto, um dos níveis estruturais e funcionais de uma língua,
seja oral, seja sinalizada. Essa definição também é defendida por Valli, Lucas e Mulrooney
(2005) ao tratar sobre a semântica na Língua de Sinais Americana (ASL).
34

Para esses pesquisadores, cada sinal, ou seja, a combinação de parâmetros de formação


específica de cada signo, adquire um significado (seja isoladamente, seja numa combinação de
sentenças) dentro de um sistema linguístico específico, em cada uso pelos membros de
comunidade linguística. Portanto, “como o significado é determinado por uma comunidade
específica de usuários, a mesma combinação de características, ou o mesmo signo, pode ter
significados diferentes para diferentes comunidades 3” (VALLI; LUCAS; MULROONEY,
2005, p. 141).
Liddell (2004, p. 87) afirma que “a semântica depende do conhecimento enciclopédico
do falante, sem uma linha nítida entre o conhecimento linguístico e o conhecimento não
linguístico”. Os sentidos são construídos com a língua em uso e os diversos conhecimentos dos
sinalizantes serão acionados no ato comunicativo, a partir de representações mentais.
Segundo Valli, Lucas e Mulrooney (2005), há três tipos de significados: referencial,
social e efetivo. O primeiro diz respeito “à ideia, a coisa ou estado de coisas descritos pelo signo
ou pela sentença4” (VALLI; LUCAS; MULROONEY, 2005, p. 142). Por exemplo:

[...] o sinal CATO refere-se a um mamífero de quatro patas com cauda,


bigodes e assim por diante. O significado do signo CALIFÓRNIA é o estado
ocidental que tem o Oceano Pacífico a oeste, México ao sul, Oregon ao norte
e assim por diante. Esse estado é o referente do signo 5 (VALLI; LUCAS;
MULROONEY, 2005, p. 142).

O significado social, por sua vez, corresponde aos significados construídos por sinais
ou frases a partir de marcas identitárias ou sociais dos sinalizantes. Isso ocorre, por exemplo,
quando determinados sinais são marcados por grupos de usuários (como as gírias).
Sobre essa questão, algumas pesquisas foram desenvolvidas com foco nas gírias em
Libras: Silva (2015), por exemplo, estuda as gírias utilizadas por surdos do Rio Grande do
Norte, dividindo-as em gírias internas (as criadas dentro do grupo de surdos, a partir da Libras,
com o objetivo de sigilo ou eufemismo), e gírias externas (criadas a partir de empréstimos do
português); e Cruz (2020) descreve as gírias utilizadas por surdos de Palmas (TO) em um grupo

3
Since meaning is determined by a specifc community os users, the same combination os
features, or the same sign, may have diferente meanings to diferente communities (VALLI; LUCAS;
MULROONEY, 2005, p. 141).
4
“is the idea, thing, os state of affairs described by the signo or sentence” (VALLI; LUCAS;
MULROONEY, 2005, p. 142).
5
“[...] the sign CAT refers to a four-legged mammal with a tail, whiskers, and so forth. The
meaning os the sign CALIFORNIA is the western state that has the Pacifc Ocean to the West, Mexico
to the South, Oregon to the north, and so forth. That state is the referente os the sign” (VALLI; LUCAS;
MULROONEY, 2005, p. 142).
35

de Whatsapp restrito. O pesquisador categoriza os dados selecionados como sinais inéditos,


sinais modificados para indicar humor, ironia etc.
O significado afetivo, por sua vez, diz respeito às marcas pessoais (sentimentos, juízos
de valor) do sinalizante identificadas nas escolhas dos sinais ou nas construções de sentenças.
Valli, Lucas e Mulrooney (2005) explicam que sinalizantes diferentes podem transmitir uma
mesma informação básica de duas maneiras (ou mais) diferentes: uma fazendo escolhas de
sinais com carga negativas sobre o fato, e outra selecionando sinais positivos sobre o
acontecimento. Em ambos os casos, a escolha dos sinais e os arranjos frasais demonstrarão a
afetividade do sinalizante.
Os três tipos de significados, demonstrados por Valli, Lucas e Mulrooney (2005), são
assim distribuídos:

Figura 8 – Significados denotativos e conotativos

Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

Valli, Lucas e Mulrooney (2005), então, chamam os significados referenciais de


denotativos, e os significados sociais e afetivos de conotativos e acrescentam que as relações
de denotação e conotação são efetivadas tanto nos itens lexicais isolados quanto nas construções
de sentenças (aqui estendemos para as construções textuais, interacionais). Por vezes, somente
nas construções textuais é possível identificar os tipos de significados que os sinais adquirem
ou manifestam. Exemplo disto é o caso das metáforas.
A metáfora é “definida como uma extensão do uso de uma palavra ou sinal além de
seu significado primário para descrever referentes que são semelhantes ao referente primário
36

da palavra ou do sinal”6 (VALLI; LUCAS; MULROONEY, 2005, p. 148). Lakoff e Johnson


(2002) e Silva Júnior (2018) relacionam a metáfora às construções cujos significados naturais
são substituídos por outros, e cujas compreensões ou recuperações semânticas dependem de
fatores de ordem cultural.
Por isso, para Eder (2009), a metáfora tem relação direta com a cultura, pois a
construção dos sentidos muda de grupo para grupo a partir de da visão de mundo inerente e
compartilhada entre seus falantes (sinalizantes). O processo metafórico inclui, além dos
aspectos linguísticos, marcas temporais, geográficas, emocionais, mentais, políticas,
valorativas entre outras. Taub (2000), ao pesquisar sobre a metáfora em línguas de sinais,
identificou uma forte relação entre o processo metafórico e o processo icônico.
A iconicidade é a relação direta estabelecida entre a forma linguística e seu referente
(TRASK, 2004; DUBOIS et al., 1973). Nas línguas sinalizadas, a iconicidade é considerada
uma característica universal (SILVA-JUNIOR; XAVIER, 2021), um traço partícipe da
estrutura da língua (PERNISS, 2007; PERNISS; THOMPSON; VIGLIOCCO, 2010) pois o
modo de produção, que utiliza articuladores (corporais, como mãos, braços, etc.) em
movimento num espaço tridimensional associa a construção sinalizada (seja do sinal, seja das
senteças, por exemplo) diretamente ao seu referente (TAUB, 2000; LILLO-MARTIN;
GAJEWSKAY, 2014; QUADROS, 2019).
Para Lillo-Martin e Gajewskay (2014), a iconicidade nas línguas de sinais tem papel
importante em muitos aspectos: a) no processamento lexical (morfológico e semântico), b) no
esboço de estruturas conceituais abstratas, c) no estabelecimento das referências espaciais,
pronominais, etc.
Taub (2000) explica o processo de formação de itens lexicais icônicos a partir de um
processo que envolve três etapas: a etapa da seleção, que corresponde à escolha de uma
imagem representativa e coerente com o referente; a etapa da esquematização, que corresponde
à reformulação da imagem representativa, em seus aspectos mais relevantes, que possam se
estruturar na articulação fonética e na construção semântica da língua; e a etapa da codificação,
que corresponde à materialização da forma linguística – o sinal propriamente dito. O processo
de formação descrito por Taub (2000) pode ser visualizado a seguir:

6
“A methafor is generally defined as an extension os the use os a word ou sign beyond its
primary meaning to describe referentes that are similar to the word or sign1s primary refrent” (VALLI;
LUCAS; MULROONEY, 2005, p. 148).
37

Figura 9 – Etapas da formação do sinal icônico

Fonte: Taub (2000, p. 73).

Na criação do sinal ÁRVORE, a primeira etapa consiste na seleção da imagem


referente: uma árvore com raiz, tronco e copa. No segundo momento, esses elementos são
relacionados aos articuladores corporais: a mão espalmada faz referência à copa ou os ramos
da árvore (branching), o braço faz referência ao tronco (tall), e a mão passiva – na qual o
cotovelo se apoia – faz referência ao solo/raiz (flat). Por fim, o sinal passa pela etapa de
codificação, como se observa em d), que é a criação do sinal, propriamente dito.
Taub (2000), além de concluir que a iconicidade é mais presente nas línguas
sinalizadas que nas línguas orais, justifica que isso se dá pelos elementos articulatórios e
espaciais que estão envolvidos na produção dos sinais que possibilitam o mapeamento entre a
forma e o referente.
Outro fator a se considerar, de acordo com a pesquisadora, é o conteúdo motivacional
que depende de fatores de ordem cultural no grupo sinalizante. A questão metafórica, por
exemplo, constitui uma associação motivacional complexa formada a partir da combinação
representativa de conceitos concretos e abstratos, possíveis a partir de articuladores corporais,
dos movimentos a eles associados, num dado espaço tridimensional.
Ferrerezi Jr. (2019), ao tratar sobre o processo de nomeação no léxico das línguas
naturais, destaca que os nomes de uma língua podem ser distribuídos em dois grupos principais,
conforme ilustração a seguir.
38

Figura 10 – Nomes e motivação

Fonte: Adaptado de Ferrarezi Jr. (2019, p. 112).

Assim, Ferrarezi Jr. (2019) explica que há nomes cujas motivações não podem ser
recuperadas pelos falantes, e há aqueles cujas motivações podem ser recuperadas. Nesse
segundo grupo, as motivações podem ser de ordem extralinguística (metafórica ou icônica), ou
por motivação sistêmica (ou intralinguística), baseada nos recursos gramaticais da própria
língua. As mesmas associações podemos atribuir aos sinais (em línguas visuais-espaciais).
O autor destaca, ainda, o fato de as motivações ativarem recursos culturais, pois
“atuam sobre a configuração que fazemos de nosso mundo, sobre nossa visão dos elementos
que o constituem” (FERRAREZI JR., 2019, p. 113).
Assim, é importante considerar que:

Os modelos culturais são construídos como representações mentais da mesma


forma que qualquer modelo mental, com a importante exceção de que a
internalização dos modelos culturais é baseada em experiências socialmente
mais restritas, como é o caso dos modelos idiossincráticos 7 (SHORE, 1996, p.
190).

Desse modo, é muito importante considerar o fator cultural na construção dos significados
atribuídos aos itens lexicais, sejam os comuns (genéricos), sem os próprios (específicos). Na
próxima seção, trataremos da Lexicologia e da Onomástica. Daremos destaque aos processos
de nomeação em línguas de sinais e suas relações com a cultura surda. Os aspectos fonético-
fonológicos, morfológicos e semânticos destacados até aqui darão suporte às análises realizadas
mais adiante.

7
Cultural models are constructed as mental representations in the same way as any mental
models with the importante exception that the internalization of cultural models is based on more
socially constrained experiences that is the case for idiosyncratic models (SHORE, 1996, p. 190).
39

3 LEXICOLOGIA E ONOMÁSTICA

Como vimos na seção anterior, o léxico é o conjunto de todas as palavras ou sinais de


uma língua por meio do qual é possível gerar sentenças e textos. O léxico pode ser estudado
segundo a associação de seus componentes: estrutural (fonético-fonológico e morfológico) e
semântico (MALMJAER, 1991).
Biderman (2001) afirma que a geração do léxico de uma língua constitui o resultado
de “atos sucessivos de cognição da realidade e de categorização da experiência, cristalizada em
signos linguísticos: as palavras” (BIDERMAN, 2001, p. 13).
Krieger (2010, p. 169-70) assim define léxico:

[O léxico é] um componente que, ao cumprir o papel maior de denominação


e designação do mundo humano, torna-se expressão de identidade pessoal e
coletiva, manifestada ao longo da história já que é um sistema aberto e
dinâmico. E, como tal, renova-se, funcionando como o pulmão das línguas,
mas também assegura a permanência do pilar comum das palavras, condição
necessária à comunicação, independente de tempos, regiões e outras
peculiaridades do uso das línguas.

Há, na linguística, três disciplinas principais que se ocupam do estudo do léxico: a


Lexicologia, a Lexicografia e a Terminologia.
A Lexicologia interessa-se pelo “estudo e análise da palavra, a categorização lexical e
a estruturação do léxico” (BIDERMAN, 2001, p. 16). Assim, a Lexicologia faz fronteira com
a Morfologia (por considerar a estruturação da palavra), com a Semântica (por considerar a
dimensão significativa do léxico), com a Dialetologia (por considerar a evolução do léxico e
suas fronteiras geográficas), com a Etnolinguística (por considerar as relações entre léxico e
cultura) entre outras áreas como Psicolinguística, Neurolinguística (BIDERMAN, 2001),
Linguística de Corpus etc.
A Lexicografia, por sua vez, se dedica à análise e organização de dicionários,
glossários e vocabulários. De acordo com Biderman (2001, p. 17), “a análise da significação
das palavras tem sido objeto principal da Lexicografia”. Já Krieger (2010, p. 170) destaca que
a Lexicografia “cobre diversos aspectos de registros lexicais. Problematiza a constituição e
tratamento de unidades simples complexas, além de outras faces do léxico geral, quando
registrado em dicionários de língua”. Além disso, é interesse dessa disciplina, também, aspectos
metodológicos envolvidos na produção de dicionários (macroestrutura e microestrutura)
monolíngues, bilíngues, trilíngues etc.
40

Atualmente, um dos ramos da Lexicografia que tem se destacado no âmbito acadêmico


aplicado diz respeito à Lexicografia Pedagógica (produção e usos), e a relação entre a
construção de dicionários e as tecnologias (inclusive assistivas).
A Terminologia trata do léxico de especialidade. Ela nasce, segundo Cabré (2010),
concomitante ao crescimento tecnológico e a necessidade de transferis conhecimentos, serviços
e produtos de determinada área.
Em obra anterior, Cabré (1993, p. 32-33) difere o terminógrafo do lexicógrafo:
Os terminógrafos, que são os práticos da Terminologia, têm por objeto a atribuição de
denominações aos conceitos; os lexicógrafos, práticos da Lexicografia, partem da
denominação, que é a entrada de dicionário, e a caracterizam funcional e semanticamente:
movem-se na direção contrária, do termo para o conceito.
A Terminologia, portanto, tem caráter referencial, ao propor um modelo descritivo e
classificatório de conceitos, além da geração de taxionomias técnico-científicas. Krieger (2010)
lembra que a Terminologia tem interesse, ainda, “pelas fraseologias, pela definição, bem como
a constituição e o funcionamento da linguagem das ciências, das técnicas e das tecnologias”
(KRIEGER, 2010, p. 172).
A figura, a seguir, sintetiza os domínios de interesse descritos sobre as ciências do
léxico: Lexicologia, Lexicografia e Terminologia. Baseamo-nos em Biderman (2001 e Kriger
(2010).

Figura 11 – Domínios das ciências do léxico

Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

Como o esquema mostra, o tratamento do léxico será desenvolvido a partir do objetivo


do pesquisador. Os regionalismos, por exemplo, embora sejam prioritariamente objeto da
Lexicologia, se o interesse o pesquisador for a produção de dicionários de regionalismos, ele
41

será estudado na perspectiva da Lexicografia, por exemplo. Na presente pesquisa, daremos


destaque à Onomástica, numa perspectiva lexicológica. Importante fazer essa observação
porque o léxico onomástico pode ser tratado, também, nas perspectivas lexicográfica e
terminológica.

3.1 A Onomástica

O ato de nomeação da realidade (coisas, pessoas, lugares, sentimentos etc.) acompanha


o homem desde tempos remotos, em diferentes lugares e culturas (BIDERMAN, 1998). Trata-
se de uma forma de organizar o universo e categorizar as realidades, singularizar pessoas e
espaços, a partir das diferentes visões de mundo e da cultura manifestada e compartilhada no
seio do agrupamento humano. Sapir (1969, p. 20) entende que “a trama de padrões culturais de
uma civilização está indicada na língua em que essa civilização se expressa. A linguagem é um
guia para a realidade social”. Portanto, para o autor, “não há duas línguas iguais que sejam
bastante semelhantes para que se possa dizer que representam a mesma realidade social”
(SAPIR, 1969, p. 20).
No universo lexical criado e compartilhado linguística-socio-culturalmente
encontram-se os nomes próprios que têm (diferentemente dos nomes comuns) o objetivo de
particularizar e identificar o que e/ou quem é nomeado. Segundo Dick (2000, p. 249), “os traços
mais marcantes no conteúdo do nome próprio: ser denotativo e referencial, contextualizado nas
situações-objeto, exercer a função de identificação [...] examinando-se o nome próprio como
um termo indicial multifacetado”.
No âmbito da Lexicologia, a Onomástica é a disciplina que se dedica ao estudo dos
nomes próprios em geral. De acordo com Seabra e Isquerdo (2018, p. 993):

Os estudos onomásticos remontam ao nosso passado, às nossas origens e


assim sempre despertam a curiosidade, não só dos estudiosos, mas também
das pessoas em geral. Ultrapassando a mera função de nomenclatura, os
nomes de pessoas e lugares são produtos de um sistema de denominações que
refletem o modo de vida de uma determinada cultura e como isso representa
seus valores. Embora possam nos parecer familiares, porque os conhecemos e
fazemos uso delas rotineiramente, quando paramos para contemplar a
natureza os nomes próprios de pessoas e lugares, quase sempre percebemos
que estes decorrem de significados incompreensíveis que nos são estranhos,
mesmo quando se referem a pessoas e lugares conhecidos 8.

8
Onomastic studies harken back to our past, to our origins, and thus always awaken curiosity,
not only of scholars, but also of people in general. Surpassing the mere function of nomenclature, the
names of people and places are products of a system of denomination that reflect the way of life of a
42

Por isso, consideramos que os nomes próprios constituem possibilidades de


conhecimento e resgates de histórias, movimentos geográficos de povos, transformações da
sociedade, costumes de uma época, reflexos ideológicos entre outros caminhos que unem a
língua e a cultura. O nome próprio, portanto, pode ser entendido para além de um item lexical
– o nome próprio é um texto. E mais: um texto com camadas interdisciplinares que conjugam
saberes, práticas e técnicas de outras áreas do conhecimento (além da linguística).
Sousa e Dargel (2020) ressaltam o caráter interdisciplinar da Onomástica, que busca
na História, na Geografia, na Antropologia, na Psicologia, na Biologia subsídios para o estudo
dos nomes próprios. A figura, a seguir, ilustra as conexões entre as diversas áreas na análise do
nome próprio (léxico onomástico).

Figura 12 – Nome próprio: conexões

Fonte: elaborado pelo pesquisador.

Rossi (1989) também destaca que o nome próprio não deve ser visto apenas pela óptica
da Linguística, uma vez que, por possuir um significado preenchido pela motivação, certamente
ele se vale de aspectos extralinguísticos na sua constituição como signo linguístico. Além disso,
o nome próprio pode, ainda, ser estudado pela dimensão mística, mágica (BIDERMAN, 1998;
MEXIAS-SIMON; OLIVEIRA, 2004), mas não trataremos desse viés na presente pesquisa.
É comum, os dicionários de linguística e os trabalhos que se dedicam às descrições e
análises de nomes próprios atribuírem à Onomástica apenas duas subáreas 9: Antroponímia

given culture and how this represents their values. Although they may appear to us as familiar, because
we know them and routinely make use of them, when we stop to contemplate the nature of the proper
names of people and places, we almost always realize that these stem from incomprehensible meanings
that are strange to us, even when they refer known people and places.
9
O International Congress of Onomastic Sciences (ICOS 2011) utiliza as terminologias
Antroponomástica e Toponomástica para se referir ao estudo dos nomes próprios de pessoas e ao estudo
43

(estudo dos nomes próprios de pessoas) e Toponímia (estudo dos nomes próprios de lugares) –
como pode ser consultado em Dubois (1973), Câmara Jr (1996) e Trask (2004) – no entanto,
Leite de Vasconcelos (1928), em Antroponímia Portuguesa, conceituou e estabeleceu as
classificações da Onomástica nestes termos:

Temos como se vê, muitas espécies de “nomes próprios”. A secção da


Glotologia que trata d’eles (origem, razão de emprego, forma, evolução, etc.),
convieram os filólogos em a designar por “Onomatologia”, que, de acordo
com aquelas espécies, deverá decompor-se em três disciplinas secundárias: 1)
Estudo de nomes locais, ou “Toponímia”, na qual se inclui igualmente o
elemento líquido (rios, lagos, etc.), e outros produtos da natureza, como
árvores, penedos que dão freqüentemente nomes a sítios (a “Toponímia” é
pois Onomatologia geográfica). 2) Estudo dos nomes de pessoas, ou
“Antroponímia”, expressão que o autor pela primeira vez propôs e empregou
em 1887, na “Revista Lusitana”, I, 45. 3) Estudo de vários outros nomes
próprios, isto é, de astros, ventos, animais, seres sobrenaturais, navios, cousas:
“Panteonímia” (de pantóios, que quer dizer “de toda a espécie”, “variado”).
No estudo dos nomes de seres sobrenaturais nada nos impede de chamar
“Teonímia” (Theonymia) ao dos nomes de deuses. (LEITE DE
VASCONCELOS, 1928, p. 57).

A classificação de Vasconcelos (1928) propõe que, ao lado da Toponímia e da


Antroponímia, os outros nomes próprios sejam agrupados na categoria Panteonímia. Contudo,
Sousa (2022a) propõe uma subdivisão maior da Onomástica a partir do que ou de quem é
nomeado, uma vez que há pesquisas onomásticas que dão conta das nomeações próprias de
estabelecimentos comerciais e estabelecimentos educacionais; de fenômenos atmosféricos; de
obras artísticas, literárias e cinematográficas; de animais etc.
Solís Fonseca (2018, p. 11), por exemplo, afirma que “a onomástica se refere aos
nomes, e estes não são realidades naturais, são realidades idealizadas por uma atividade mental
dos homens. Os nomes se referem a realidades extralinguísticas, isto é, a seus referentes, que
são entidades da natureza e da cultura”.
Para exemplificarmos as possibilidades do léxico onomástico, selecionamos algumas
manchetes de jornais, revistas e sites 10 que apresentam nomes próprios diversos – como pode
ser visto a seguir.

dos nomes próprios de lugares, respectivamente. No entanto, no presente estudo, optamos por usar
Antroponímia e Toponímia.
44

Figura 13 – Onomástica em manchetes midiáticas

Fonte: Elaborado pelo pesquisador 11.

No site O Globo (2016) apresentou reportagem sobre os 30 anos da passagem do


cometa Halley – o corpo celeste recebe um nome próprio, cujo estudo fica a cargo da
Astronímia. Outros astros celestes conhecidos são: Quinteto de Stephan (aglomeração de 5
galáxias), Quasar (buraco negro), Estrela Wolf-Rayet (estrela) entre outras.
No site da Revista Veja (2012) noticiou sobre o furacão Sandy – o nome do fenômeno
atmosférico deve ser estudado pela Metereonímia. Há, ainda, outros fenômenos atmosféricos
que receberam nomes próprios: El Niño e La Niña, Katrina (furacão), Haima (tufão) etc.
O Jornal da USP (2021), por sua vez, apresenta manchete sobre os 25 anos da
clonagem da ovelha Dolly – o nome do mamífero clonado é objeto de estudo da Zoonímia.
Além da Dolly, outros animais ficaram famosos por seus nomes próprios: macaco Tião, Winter
(golfinho), etc.
O site UOL (2023), em reportagem recente sobre o carnaval do Rio de Janeiro, destaca
a homenagem da Escola de Samba Grande Rio ao Orixá Ogum – o nome da Entidade deve ser
estudado pela Teonímia. Na perspectiva da Teonímia, outros nomes de deuses religiosos
poderiam ser estudados: Iemanjá, Oxalá entre outros (Orixás cultuados pelo Candomblé e
Umbanda); Akuanduba (Entidade mítica dos Povos Araras/Brasil); Yorixiriamori (Entidade
mítica dos Povos Ianomâmi).
Sousa (2022a) apresenta a seguinte subdivisão da Onomástica, partindo de seus
respectivos interesses lexicais. Aqui, adaptamos o esquema do autor.

11
A figura foi elaborada a partir de manchetes extraídas dos sites O Globo (2016), Veja
(2012), Jornal da USP (2021) e UOL (2023).
45

Figura 14 – Onomástica e suas subáreas

Fonte: Adaptado de Sousa (2022a, p. 14).

Como já dissemos, a Antroponímia estuda os nomes próprios de pessoas; a Toponímia


analisa os nomes próprios de lugares geográficos; a Onionímia pesquisa os nomes próprios de
produtos e estabelecimentos comerciais, educacionais e bancários; a Teonímia estuda os nomes
próprios atribuídos a deuses das diferentes manifestações religiosas e espirituais; a Astronímia
pesquisa os nomes de astros celestes; a Metereonímia se dedica ao estudo dos fenômenos
atmosféricos; a Hidronímia tem como objeto de estudos os cursos d’água em geral; e a
Zoonímia estuda os nomes dos animais.
Como no Brasil as subáreas onomásticas mais pesquisadas são a Antroponímia e a
Toponímia, vamos descrevê-las com mais detalhes a seguir.

3.1.1 A Antroponímia

De acordo com Sousa e Dargel (2020), a Antroponímia (ou Antroponomástica) é a


subárea onomástica que investiga os nomes próprios de pessoas”. Segundo Amaral e Seide
(2020), os nomes próprios de pessoas apresentam, em geral, as seguintes características:

a) Possibilitam a identificação direta de um referente único em um universo


de conhecimento compartilhado por emissor e receptor; b) Possuem
capacidade de referir, independentemente da presença de determinante; c) Não
apresentam traços semânticos identificadores de classe. d) São grafados com
maiúscula inicial (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 58).

Amaral e Seide (2020), após detalhada descrição dos aspectos formais, semânticos,
históricos e legais inerentes aos nomes próprios de pessoas, apresentam a seguinte tipologia:
46

a) Prenome: “Antropônimo que distingue o indivíduo dentro dos grupos sociais de


maior intimidade. Antecede o sobrenome e pode ser simples, composto ou justaposto”
(AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
b) Sobrenome: “Antropônimo que identifica o pertencimento do indivíduo a uma
família. Geralmente provêm dos genitores e sucede o prenome” (AMARAL; SEIDE, 2020, p.
100);
c) Agnome: “Antropônimo que indica uma relação de parentesco com outro
indivíduo, via de regra, por via patrilinear” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
d) Apelido (alcunha ou cognome): “Antropônimo que se atribui a um indivíduo
geralmente por outra pessoa e que costuma aludir a uma característica física ou intelectual ou
ainda a um fato ou comportamento social” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
e) Hipocorístico: “Antropônimo formado a partir de uma alteração morfológica
(abreviação, diminutivo, aumentativo, etc.) de outro antropônimo. Geralmente criado em
ambientes de maior intimidade” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
f) Pseudônimo: “Antropônimo empregado por um indivíduo em lugar do seu nome
civil e escolhido pelo próprio portador do nome próprio” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
g) Codinome: “Antropônimo empregado para ocultar a identidade de um indivíduo.
Pode ser escolhido pelo próprio portador ou por outrem e frequentemente possui traço negativo”
(AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
h) Heterônimo: “Antropônimo atribuído a um indivíduo fictício, criado pelo
portador de outro antropônimo” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
i) Nome artístico (nome de palco): “Antropônimo empregado por um indivíduo em
lugar do seu nome civil e pelo qual se faz conhecido em sua atividade profissional,
especialmente em áreas como música, cinema, teatro, televisão e afins” (AMARAL; SEIDE,
2020, p. 100);
j) Nome de guerra: “Antropônimo empregado como substituto do nome civil em
ambientes restritos, especialmente no meio militar, na maçonaria, na prostituição e no crime
organizado” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
k) Nome religioso: Antropônimo empregado por membros de comunidades
religiosas em lugar do nome civil” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
l) Nome social: Antropônimo pelo qual a pessoa, especialmente transexual e
travesti, se identifica e é reconhecida socialmente” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
m) Nome de urna: “Antropônimo escolhido pelo candidato às eleições
proporcionais para registrar-se na Justiça Eleitoral” (AMARAL; SEIDE, 2020, p. 100);
47

n) Nome parlamentar: “Antropônimo escolhido pelo indivíduo eleito a cargo


legislativo para ser usado em documentos oficiais da casa legislativa” (AMARAL; SEIDE,
2020, p. 100).

À tipologia proposta por Amaral e Seide (2020), acrescentamos os sinais-nome: os


sinais próprios que identificam os indivíduos na comunidade surda. Sobre essa temática deter-
nos-emos na seção 2.2, quando discutiremos sobre o léxico onomástico em línguas de sinais.

3.1.2 A Toponímia

A Toponímia estuda os nomes próprios atribuídos aos espaços geográficos físicos


(serra, vales, cachoeiras etc.) e humanos (cidades, igarapés, parques etc.), urbanos ou rurais
(DICK, 1990; 1992; SOUSA, 2019).
No Brasil, os primeiros estudos toponímicos tratavam das contribuições indígenas na
nomeação da paisagem nacional e tinham interesse etimológico, como é o caso dos trabalhos
de Sampaio (1901), Oliveira (1957), Cardoso (1961), Drumond (1965) e Mello (1967).
Contudo, a partir da pesquisa de Dick (1990) 12, que propôs uma mudança no olhar teórico-
metodológico relacionado à análise do nome próprio de lugar, a Toponímia ganhou novos
rumos e as investigações relacionadas à área cresceram exponencialmente.
Para Dick (1990, p. 19) afirma:

A história dos nomes de lugares, em qualquer espaço físico considerado,


apresenta-se como um repositório dos mais ricos e sugestivos, face à
complexidade dos fatores envolventes. Diante desse quadro considerável dos
elementos atuantes, que se intercruzam sob formas as mais diversas,
descortina-se a própria panorâmica regional, seja em seus aspectos naturais ou
antropoculturais.

E acrescenta:

[...] os topônimos se apresentam [...] como importantes fatores de


comunicação, permitindo, de modo plausível, a referência da entidade por eles
designada. Verdadeiros “testemunhos históricos” de fatos e ocorrências
registrados nos mais diversos momentos da vida de uma população, encerram,
em si, um valor que transcende ao próprio ato de nomeação: se a Toponímia
situa-se como a crônica de um povo, gravando o presente para o conhecimento

12
A Tese de Dick foi defendida em 1980, mas seu trabalho mais difundido foi publicado em
1990.
48

das gerações futuras, o topônimo é o instrumento dessa projeção temporal


(DICK, 1990, p. 21-22).

Em outra obra, Dick (2001) caracteriza o topônimo como “iconicamente simbólico”,


cujas bases lexicais se firmam no plano objetivo da representação. Seabra e Isquerdo (2018)
explicam que isso se dá porque o topônimo, como elemento línguo-cultural, supera a função de
nomenclatura e passa a refletir a vida de quem o gera, usa e modifica.
Estruturalmente, Dick (1990) propõe que o topônimo em português seja analisado a
partir dos elementos que compõem o sintagma 13: termo genérico (que nomeia o tipo de acidente
geográfico: Serra da Capivara, Morro de Santa Luzia, Avenida Tiradentes, Seringal Cachoeira
etc.) e termo específico (que singulariza, particulariza o lugar: Serra da Capivara, Morro de
Santa Luzia, Avenida Tiradentes, Seringal Cachoeira etc.).
Quanto ao termo específico, segundo Dick (1990), há três construções possíveis:
simples (quando o termo específico possui um único formante), composto (quando há mais de
um formante em sua composição) e híbrido (quando a formação possui estratos de outras
línguas).
A toponímia, considerado por Dick (1990, p. 35-6) como “um imenso complexo
línguo-cultural, em que dados das demais ciências se interseccionam necessariamente e, não
exclusivamente”, toma uma perspectiva interdisciplinar, intrecruzando saberes da História, da
Geografia, da Antropologia, da Sociologia etc, para o tratamento do topônimo. Dick (1990)
propõe que os topônimos sejam classificados a partir de taxionomias, tomando por base sua
natureza semântico-motivacional:
Taxionomias de natureza física: Astrotopônimos: topônimos que fazem referência
aos astros (corpos celestes) em geral; Cardinotopônimos: topônimos que fazem relação às
posições geográficas em geral (norte, sul, leste, nordeste etc.); Cromotopônimos: topônimos
que fazem relação às cores em geral; Dimensiotopônimos: topônimos que fazem relação às
dimensões dos acidentes geográficos (tamanhos, alturas etc,); Fitotopônimos: topônimos que
fazem relação à flora; Geomorfotopônimos: topônimos que fazem relação às formas dos
acidentes geográficos; Hidrotopônimos: topônimos que fazem relação às águas, à hidrografia
em geral; Litotopônimos: topônimos que fazem relação aos elementos minerais ou aos
elementos do solo; Meteorotopônimos: topônimos que fazem relação aos diferentes fenômenos

13
Zinkin (1969) já havia proposto a mesma classificação estrutural para os topônimos
norteamericanos.
49

atmosféricos; Morfotopônimos: topônimos que fazem relação às formas geométricas;


Zootopônimos: topônimos que fazem relação à fauna.
Taxionomias de natureza antropocultural: Animotopônimos: topônimos que fazem
relação à vida psíquica, à cultura espiritual, aos sentimentos; Antropotopônimos: topônimos
que fazem relação aos nomes próprios (nome, sobrenome, apelidos) de pessoas;
Axiotopônimos: topônimos que fazem relação aos títulos, patentes, dignidades que
acompanham nomes próprios de pessoas; Corotopônimos: topônimos que fazem relação a
nomes de cidades, países, estados, regiões e continentes; Cronotopônimos: topônimos que
fazem relação aos marcadores de tempo (cronologia) representados pelos adjetivos novos(as),
velhos(as); Ecotopônimos: topônimos que fazem relação aos tipos de habitações em geral;
Ergotopônimos: topônimos que fazem relação aos elementos da cultura material;
Etnotopônimos: topônimos que fazem relação aos elementos étnicos (povos, tribos, castas);
Dirrematopônimos: topônimos formados por frases, orações; Hierotopônimos: topônimos que
fazem relação as nomes sagrados das diferentes crenças diversas, locais religiosos etc. Podem
ser: Hagiotopônimos: topônimos que fazem relação os nomes de santos ou santas do hagiológio
católico romano; Mitotopônimos: topônimos que fazem relação entidades mitológicas;
Historiotopônimos: topônimos que fazem relação à personalidades, datas ou fatos históricos;
Hodotopônimos: topônimos que fazem relação às vias de interligação urbana ou rural;
Numerotopônimos: topônimos que fazem relação aos numerais; Poliotopônimos: topônimos
que formam com vocábulos como: vila, aldeia, cidade, povoação, arraial; Sociotopônimos:
topônimos que fazem relação às atividades profissionais, aos locais de trabalho e aos pontos de
encontro da comunidade; Somatopônimos: topônimos que fazem relação, metaforicamente, às
partes do corpo.
Outros pesquisadores apresentaram novas taxes, como Francisquini (1998):
Acronimotopônimo: topônimos que fazem relação às siglas e abreviações; Necrotopônimos:
topônimos que fazem relação aos mortos ou características fúnebres; Igneotopônimo:
topônimos que fazem relação ao fogo; Grafematopônimo: topônimos que fazem relação às
letras do alfabeto.
De acordo com Sousa e Dargel (2021), os estudos de Dick foram basilares para a
produção de Atlas Toponímicos em quase todos os estados brasileiros, sediados em diferentes
Universidade: o Atlas Toponímico de São Paulo (Projeto ATESP), coordenado pela própria
Dick; o Projeto Atlas Toponímico do Paraná (ATEPAR), coordenado por Maria Antonieta
Carbonari de Almeida, sediado na Universidade Estadual de Londrina (UEL); o Projeto Atlas
Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul (ATEMS); coordenado por Aparecida Negri
50

Isquerdo, sediado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); o Projeto Atlas
Toponímico do Estado de Minas Gerais (ATEMIG), coordenado por Maria Cândida Trindade
Costa de Seabra, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); o Projeto Atlas
Toponímico do Tocantins (ATT) e o Projeto Atlas Toponímico de Origem Indígena do
Tocantins (ATITO), ambos coordenados por Karylleila dos Santos Andrade, sediados na
Universidade Federal do Tocantins (UFT); o Projeto Atlas Toponímico do Estado do Maranhão
(ATEMA), coordenado por Maria Célia Dias de Castro, sediado na Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA); o Projeto Atlas Toponímico da Bahia (ATOBAH), coordenado por Celina
Márcia de Souza Abbade, sediado na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e o Projeto
Atlas Toponímico da Amazônia Ocidental Brasileira (ATAOB), coordenado por Alexandre
Melo de Sousa, sediado na Universidade Federal do Acre (UFAC).
O Projeto ATAOB foi o primeiro a contemplar os dados toponímicos em Libras e a
incluir pesquisadores surdos (bolsistas de Iniciação Científica: PIBIC/CNPq). Esse fato
possibilitou a produção de pesquisas sobre a toponímia em línguas de sinais – o que culminou
com o desmembramento do projeto e tornando o projeto Toponímia em Libras independente.
Feitas as exposições sobre a Antroponímia e a Toponímia, num âmbito geral, na
próxima seção, trataremos da Onomástica em línguas de sinais. Trataremos, também, sobre as
outras subáreas da Onomástica: Onionímia, Teonímia e Zoonímia. Daremos destaque às
pesquisas desenvolvidas na área, com especial atenção, às investigações realizadas no estado
do Acre.

3.2 A Onomástica em línguas de sinais

Sousa (2022a) afirma que o estudos dos nomes próprios é muito produtivo nas línguas
de sinais e que em Libras, há sinais próprios para pessoas (sinais antroponímicos ou sinais-
nome), lugares (sinais toponímicos), estabelecimentos comerciais, educacionais e produtos
(sinais onionímicos), fenêmenos atmosféricos (sinais metereonímicos), corpos celestes (sinais
astronímicos), animais (sinais zoonímicos), deuses (sinais teonímicos), que os singularizam ou
os particularizam na comunidade surda, nas interações entre seus pares.
51

Figura 15 – Sinal ONOMÁSTICA

Fonte: Produzido pelo autor.

Quanto ao sinal onomástico, é preciso considerar, segundo Sousa (2022a), seu caráter
interdisciplinar associado a outros fatores inerentes às línguas de sinais e ao nomeador (o sujeito
surdo). O pesquisador, então, propõe o seguinte esquema:

Figura 16 – O sinal onomástico e a interdisciplinaridade

Fonte: Sousa (2022a, p. 12).

Desse modo, além das relações entre a Linguística, a História, a Geografia, a Biologia
etc., é preciso observar a criação do sinal onomástico quanto às especificidades de formação de
itens lexicais em línguas de sinais (iconicidade, formação morfológica, por exemplo), quanto
às experiências visuais dos surdos (o modo como os surdos sentem o mundo, sentem as
representações pessoais e espaciais, por exemplo), a cultura surda (a formação da sua
identidade, o protagonismo surdo, sua atuação em grupo, por exemplo) e o contexto social em
52

que estão em constante contato com a Língua Portuguesa escrita e com ouvintes (e, portanto,
ocorrem empréstimos linguísticos).
Stokoe, Casterline e Croneberg (1965), na obra A Dictionary of American Sign
Language on Linguistic Principles destacam a questão motivacional dos sinais que nomeiam
espaços e pessoas em ASL, distribuindo-os em duas naturezas: física e cultural. Além disso, os
pesquisadores destacam o fenômeno do empréstimo linguístico na formação dos sinais
(especialmente quanto ao uso de CM referente às letras iniciais dos nomes próprios em línguas
orais).
Sutton-Spence e Woll (2006), em estudo sobre a Língua de Sinais Britânica,
identificaram empréstimos na constituição dos sinais onomásticos, tanto empréstimos da língua
oral, quanto empréstimos de outras línguas de sinais. No caso dos empréstimos das línguas
orais, ocorrem usos de CMs referentes à palavra inteira ou parte dela. Outra observação
ressaltada pelos pesquisadores foi em relação à iconicidade dos sinais onomásticos a partir de
representações visuais dos espaços geográficos nomeados.
No Brasil, especialmente a partir de 2012, os estudos onomásticos têm crescido no
Brasil. Souza-Júnior (2012) e Aguiar (2012) foram os primeiros a apresentarem pesquisas com
foco em sinais que nomeiam lugares em Libras: o primeiro apresentou uma descrição dos
topônimos em Libras das principais cidades do Brasil e os analisou com base na proposta
classificatória de Dick (1990; 1992); e a segunda analisou sinais toponímicos a partir de duas
perspectivas: os empréstimos das línguas orais e a iconicidade.
A primeira Tese de Doutorado sobre esse tema foi defendida por Chaibue (2022), que
descreveu e analisou a estrutura e as motivações de sinais onomásticos da cidade de Formosa
(GO). A pesquisadora selecionou e catalogou 141 sinais a partir de entrevistas com 10 surdos
e 3 ouvintes, todos pertencentes à comunidade surda local. Os resultados do estudo mostraram
forte motivação icônica dos sinais analisados.
No Acre, desde 2015, os estudos onomásticos têm ganhado força com a entrada de
pesquisadores surdos no projeto ATAOB, como dissemos anteriormente, e diversas
investigações têm sido concluídas. A seguir, apresentaremos alguns estudos desenvolvidos no
Brasil (e no Acre de modo particular), distribuídos por cada uma das subáreas da onomástica.

3.2.1 Antroponímia em línguas de sinais

O interesse pela nomeação de pessoas em línguas de sinais não é recente. Stokoe,


Casterline e Croneberg (1965), por exemplo, já haviam identificado o sinal próprio de pessoas
53

(sinal-nome) como um item lexical, que tem a função de referenciar alguém, de modo particular
(específico) na comunidade surda, tal como ocorre com a nomeação em língua oral. Embora
não tenham detalhado e aprofundado o assunto, os pesquisadores possibilitaram que Supalla
(1992) apresentasse a primeira proposta de categorização dos sinais-nome.
Supalla (1992), a partir de um corpus constituído de sinais-nome em ASL, classifica
os itens lexicais em dois tipos: arbitrários (Arbitrary Name Sign) e descritivos (Descriptive
Name Sign). No primeiro grupo estariam os sinais motivados pelas letras do nome da pessoa
em língua oral; no segundo, os sinais motivados por características físicas ou comportamentais
do sujeito nomeado).

Figura 17 – Sinal ANTROPONÍMIA

Fonte: Produzido pelo autor.

Os estudos antroponímicos em Libras têm seguido a metodologia classificatória


proposta por Barros (2018), que selecionou e analisou sinais-nome de 113 participantes de
Goiânia e distribuiu os dados a partir de: sinais que indicam características físicas do informante
(formato do cabelo, formato dos olhos, cor da pele, presença de sinal na pele etc.), sinais
influenciados por características comportamentais do informante (humor, hábito, habilidades
cognitivas etc.), sinais motivados por características sociais do nomeado (profissão, origem
etc.), sinais influenciados pelo nome do informante em língua oral.
54

Figura 18 – Proposta Classificatória de Barros (2018)

Fonte: Sousa et al (2020, p. 117).

A pesquisa de Sousa et al (2020) segue a proposta de Barros (2018) e analisa os sinais-


nome do Inventário de Libras de Florianópolis, a partir de 34 entrevistas. Os resultados
mostraram predominância do aspecto físico como principal influenciador dos sinais-nome dos
surdos de Florianópolis, o que corresponde a 63% das ocorrências.
No Acre, 3 pesquisas foram desenvolvidas com foco nos sinais-nome de pessoas:
Menezes (2021), Souza (2022) e Souza (2023). Todas os estudos utilizaram a proposta de
Barros (2018) para a classificação dos sinais antroponímicos.
Menezes (2021) pesquisou os sinais de alunos ouvintes do curso de Letras Libras da
Universidade Federal do Acre atribuídos por surdos. Era interesse da pesquisadora, ainda,
verificar o contexto em que o “batismo” ocorreu. Os resultados mostraram que o número de
sinais influenciados pelo aspecto físico foi superior às demais categorias: 55% dos dados.
Quanto ao contexto do batismo, 75% dos participantes informaram que receberam o sinal de
forma coletiva, principalmente em salas de cursos de Libras.
Souza (2022), por sua vez, analisou os sinais-nome de jogadores da seleção brasileira
de futebol. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas com surdos, que visualizaram as
imagens dos atletas e informaram os sinais-nome. Era interesse do pesquisador, ainda, verificar
variação entre os sinais informados. Diferente das pesquisas anteriores, nos sinais-nome de
jogadores da seleção brasileira foi preponderante o aspecto comportamental: 46% dos dados.
Segundo o autor, isso pode ter ocorrido por conta da atuação dos jogadores em campo, pois as
motivações estão relacionadas, principalmente, à forma como os atletas comemoram os gols ou
às suas jogadas mais particulares.
55

Quanto à variação, Souza (2022) observou formas diferentes de produzir os sinais


entre os participantes da pesquisa, especialmente quanto à estrutura fonológica do sinal. Apenas
o sinal GABIGOL não apresentou variação.
Souza (2023) analisou os sinais-nome atribuídos aos participantes do Reality Show
Big Brother Brasil 22. O estudo partiu de vídeos disponíveis no Instagram, que foram
confirmados por sujeitos surdos de Rio Branco. A aspecto físico foi preponderante entre os
sinais-nome analisados, mas foi marcante a influência da língua oral na formação dos itens
lexicais.

3.2.2 Toponímia em línguas de sinais

Os trabalhos toponímicos em Libras foram iniciados por Souza-Júnior (2012) e Aguiar


(2012) – como mencionamos na seção 2.2. Em seguida, no âmbito do Atlas Toponímico da
Amazônia Ocidental Brasileira (ATAOB), outras pesquisas foram desenvolvidas: Bezerra
(2015; 2016), Alemão (2017), Sousa (2018; 2019), Sousa e Quadros (2019; 2021), Carmo
(2021) e Zegarra (2023).

Figura 19– Sinal TOPONÍMIA

Fonte: Produzido pelo autor.

Bezerra (2015), primeira pesquisadora surda de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq) da


UFAC, catalogou os sinais dos municípios acreanos (das Região do Alto Acre: Assis Brasil,
Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri), reconhecendo as estruturas fonológicas dos sinais
toponímicos.
Em Bezerra (2016), o estudo deu destaque às motivações semânticas dos sinais
selecionados (referentes à Região do Alto Acre) e verificou forte influência da cultura
56

amazônica na iconicidade dos sinais. O estudo apontou que apenas o sinal de


EPITACIOLÂNDIA foi influenciado pelo português.
Alemão (2017), por sua vez, elaborou uma proposta de ficha lexicográfica para o
armazenamento das informações dos topônimos em Libras. Ele partiu da ficha utilizada no
Projeto ATAOB e sugeriu adaptações considerando a visualidade característica da Libras.
Assim, as informações passaram a privilegiar imagens e vídeos.
No ano de 2017, com o avanço dos estudos lexicais em Libras na UFAC, foi criado o
Grupo de Pesquisa Educação de Surdos, Libras e Inclusão (ESLIN), que abrigou os
pesquisadores e os trabalhos realizados com foco na Libras.
Fruto das discussões dos pesquisadores do grupo ESLIN, Sousa (2018) apresenta uma
proposta metodológica preliminar para o estudo da toponímia em Libras. O pesquisador parte
das ideias de Dick (1990; 1992) – já utilizadas no ATAOB – e busca considerar as
características linguísticas da Libras na descrição formal e semântica dos topônimos em línguas
de sinais.
A projeto de pesquisa com a metodologia de Sousa (2018) foi submetido ao CNPq em
edital para em Estágio Pós-Doutorado. O estágio foi realizado na Universidade Federal de Santa
Catarina e a metodologia foi aperfeiçoada e aplicada aos dados (sinais toponímicos) do estado
do Acre. Sousa (2019) apresentou o relatório final contendo a proposta de armazenamento de
dados, descrição formal dos sinais e classificação semântica dos topônimos. Esses resultados
foram publicados em Sousa (2022b) – que serão detalhados mais adiante.
Sousa e Quadros (2019), numa perspectiva pedagógica de aplicação da toponímia em
Libras na sala de aula, propuseram o Web Software Toponímia em Libras. O produto destaca a
visualidade na manipulação do aplicativo, que tem funcionalidade intuitiva, com informação
sobre o sinal em Libras, a motivação dos sinais, o sinal em SignWriting (escrita de sinais) e a
localização geográfica do espaço nomeado a partir do Google Maps.
Em Sousa e Quadros (2021), os pesquisadores analisam os topônimos em Libras do
Acre, armazenados no Corpus de Libras, a partir das formações dos sintagmas toponímicos
(formação do sinal em termo genérico e termo específico) e o termo específico (sinal próprio
em Libras). Além disso, os pesquisadores verificam como as motivações dos sinais podem se
estabelecer em duplicidade, a partir da iconicidade dos itens lexicais em Libras.
Carmo (2021) estudou os sinais que nomeiam os espaços públicos e de lazer de Rio
Branco. Para isso, entrevistou surdos e armazenou os sinais, seguindo a proposta de Sousa
(2019). As análises mostraram que os elementos materiais presentes nesses ambientes (como
uma marca visual representativa do espaço) foram os principais motivadores. Além disso, com
57

base em Taub (2000), Carmo (2021) mostrou o processo de criação de sinais icônicos a partir
das etapas de seleção da imagem, esquematização e codificação do sinal.
Já Zegarra (2023) estudou os sinais usados por surdos acreanos para nomear os países
do Continente Americano. O pesquisador partiu da forma do sinal para estabelecer a relação
semântica inerente à motivação dos sinais toponímicos. Os dados foram armazenados em fichas
lexicográfico-toponímicas digitais e as descrições e análises foram realizadas partindo da
proposta de Sousa (2019).
Em Sousa (2022b), temos a primeira publicação em livro sobre a toponímia em Libras.
A obra faz uma ampla revisão bibliográfica dos estudos realizados no Brasil, desde 2012 até
2021, ressaltando as contribuições de cada pesquisa. Além disso, o autor trata sobre a
aplicabilidade da toponímia na educação de surdos, numa perspectiva interdisciplinar.
Somado a isso, Sousa (2002b) discute sobre a estrutura dos topônimos em línguas de
sinais, inspirado nas ideias de Zinkin (1969), Dick (1990) e Faria-Nascimento (2009); e no
componente semântico-motivacional dos sinais toponímicos. Ele parte das ideias de Dick
(1990) e mostra como as categorias propostas pela pesquisadora podem ser aplicadas aos dados
em Libras, ressaltando as especificidades das línguas sinalizadas.
Para Sousa (2022b), o sintagma toponímico apresenta a seguinte formação:

Figura 20 – Sintagma Toponímico: termo genérico e termo específico

Fonte: Sousa (2022b, p. 52).

O termo específico, por sua vez, pode apresentar os seguintes tipos de formação,
segundo Sousa (2022b):
58

a) Simples: quando possui um único formante14 (sinal) e este elemento é puro, ou


seja, na língua nativa – Libras;
b) Simples híbrido: quando possui um único formante, mas há, em sua configuração
de mão, influência da língua oral;
c) Composto: quando o sinal possui dois ou mais formantes (dois ou mais sinais),
e todos são em língua nativa;
d) Composto híbrido: quando o sinal possui mais de um formante e algum (uns)
dele (s) apresenta influência da língua oral marcada na configuração de mão.

A proposta de Sousa (2022b) pode ser visualizada a seguir, com exemplos extraídos
do Projeto ATAOB e de Carmo (2021):

Figura 21 – Tipos de formações do termo específico

Fonte: Sousa (2022b, p. 54).

14
Sousa (2019) chama formante os sinais que, numa dada comunicação, podem funcionar
sozinhos e possuem sentido. Trata-se de uma forma livre – como ensinaram Bloomfield (1933) e Câmara
Jr. (1970) – mas considerando as especificidades das línguas sinalizadas.
59

Sousa (2022b) lembra que os sinais formados por empréstimos foram classificados por
Faria-Nascimento como “empréstimo por transliteração”. A partir dos dados da pesquisa,
quando o estudioso identificou formações por empréstimo originadas de outros símbolos
gráficos (como numerais, @ e #), ele propôs a classificação por transemiotização, que agruparia
um maior número de empréstimos.
Quanto ao componente semântico-motivacional, Sousa (2022b) utiliza estudos de
diversos pesquisadores nacionais para exemplificar, em Libras, as taxionomias propostas por
Dick (1990). São utilizados os estudos de Santos (2020), Jesus (2019), Ferreira (2019), Carmo
(2021), Miranda (2020), Souza-Junior (2012) e Aguiar (2012), além dos dados do Projeto
ATAOB.
Os sinais toponímicos, segundo Sousa (2022b), podem ter motivações de natureza
física – como propõe Dick (1990) – quando refletem características do lugar nomeado. Vejamos
o exemplo apresentado pelo autor:

Figura 22 – Sinal BRASILÉIA

Fonte: Sousa (2022b, p. 59).

O sinal BRASILÉIA, por exemplo, faz referência às árvores que existem no município
acreano. Trata-se, portanto, de um fitotopônimo – como classificou Dick (1990).
Outros sinais toponímicos podem apresentar reflexos da cultura, da história ou da visão
de mundo do povo que habita o lugar nomeado. A seguir, podemos observar um exemplo de
topônimo de natureza antropocultural.
60

Figura 23 – Sinal XAPURI

Fonte: Sousa (2022b, p. 72).

O sinal XAPURI faz referência a uma atividade profissional característica do local: e


extrator de látex, que trabalha nas seringueiras. O local ficou famoso nacionalmente por ser a
terra de Chico Mendes, que também era seringueiro. Trata-se, portanto, de um sociotopônimo.
Sousa (2022b) também descreveu o processo de formação do sinal icônico, com base
nos estudos de Taub (2000). Para isso, utilizou exemplos selecionados em seus estudos
anteriores, como o que segue:

Figura 24 – Formação do sinal icônico

Fonte: Sousa (2022b, p. 70).

No exemplo, temos o sinal BUJARI, que nomeia uma cidade acreana. Bujari é um
município conhecido pela produção do peixe Mandi (bagre). Esse foi o elemento referencial
para a produção do sinal. Nas etapas, temos a seleção da imagem (o peixe, suas características
físicas e a ação de nadar), e esquematização (quando são representados pela configuração de
mão o referente PEIXE e o movimento do nado) e, por fim, a codificação do sinal (o sinal
toponímico).
61

As descrições formais e semânticas apresentadas por Sousa (2022b) serão importantes


para as análises dos dados – objetivo da presente pesquisa – observando-se as especificidades
dos sinais selecionados.

3.2.3 Onionímia em línguas de sinais

O primeiro a tratar da Onionímia foi Guérios (1973) que incluiu essa subárea nos
domínios da Onomástica. Souza (2019, p. 27) diz que:

A definição de oniônimo aponta para uma ampla percepção comercial a


respeito dos "artigos e produtos das indústrias", pois, sob essa ótica, por
oniônimo entendemos todas as mercadorias, assim como todas as atividades
relacionadas ao comércio, sejam elas bens de consumo, manufaturados ou
industrializados à disposição na sociedade para compra e venda pelos
consumidores. No que concerne às indústrias, entram, também nessa
categoria, as instituições e os serviços por elas oferecidos. Essa ampla
definição abrange, portanto, as redes produtiva e comercial de uma dada
comunidade.

Em Libras, podemos apresentar dois trabalhos que tratam sobre os oniônimos: Morais
(2022) e Venancio (2023). No primeiro caso, a pesquisadora analisou os sinais em Libras
atribuídos às instituições bancárias, a partir de surdos de Rio Branco.
Os surdos participantes informaram os sinais a partir de imagens das agências
bancárias. Em seguida, Morais (2022) comparou os sinais com as logomarcas das instituições
e descreveu as produções dos itens lexicais. Os resultados mostraram que 80% dos sinais foram
motivados para identidade visual do banco: sejam as letras, sejam as cores, sejam os símbolos
identificadores.

Figura 25 – Sinal ONIONÍMIA

Fonte: Produzido pelo autor.


62

Venancio (2023), por sua vez, pesquisou sobre os sinais dos estabelecimentos
comerciais do Via Verde Shopping (de Rio Branco). Os dados foram obtidos por meio de
entrevistas com surdos que trabalham e/ou frequentam o shopping.

Figura 26 – Oniônimo em Libras

Fonte: Venancio (2023, p. 32).

O estudo revelou que, das 110 lojas, apenas 29 possuem sinais em Libras. Esses sinais
foram apresentaram motivações diversas, distribuídas, quantitativamente, da seguinte forma:
82,7% dos sinais apresentaram relação com as logomarcas das lojas, 13,7% apresentaram
relação com os produtos que eram vendidos ou os serviços que eram oferecidos, e 3,4% não foi
possível identificar a motivação.

3.2.4 Teonímia em línguas de sinais

Leite de Vasconcelos (1928, p. 57) afirmou que “Teonímia (Theonymia) [é o estudo]


dos nomes de deuses”. Em Libras, o único trabalho desenvolvido com esta temática é de
Moreira (2023), que analisou os sinais atribuídos por surdos aos Orixás do Candomblé.

Figura 27 – Sinal TEONÍMIA

Fonte: Produzido pelo autor.


63

Moreira (2023) selecionou os sinais no canal Axé Libras (YouTube) e convidou surdos
para reconhecer os itens lexicais. Em seguida, gravou os sinais e os catalogou em fichas
elaboradas para a pesquisa.

Figura 28 – Sinal IANSÃ

Fonte: Moreira (2023, p. 29).

Os sinais dos Orixás em Libras foram registrados em SignWriting e foram gerados


QR-Code para melhor visualização dos itens lexicais teonímicos. O estudo mostrou que todos
os sinais foram motivados por elementos característicos de cada Entidade (especialmente, os
elementos presentes em imagens simbólicas disponíveis nos espaços de celebração religiosa,
como a machadinha de Xangô, o espelho de Oxum etc.).

3.2.5 Zoonímia em línguas de sinais

Segundo Cardoso (1977, p. 288), a Zoonímia é “o estudo linguístico da origem dos


nomes dos animais”: leão, elefante, cão, lobo etc. Trata-se, contudo, do nome genérico dos
animais. Sousa (2022a, p. 16), em estudo sobre a Onomástica em Libras, considera Zoonímia
“o estudo dos nomes próprios atribuídos a animais, domésticos ou não”.
As relações afetivas estabelecidas entre homens e animais (domésticos,
principalmente) são semelhantes às relações familiares (CARDOZO, 2006; BROOM;
FRASER, 2010; TAVARES, 2011) – o que favorece que os animais recebem nomes (ou sinais)
próprios.
Bazan (2015) identificou e interpretou as lexias usadas para designar as famílias dos
canídeos (cachorros, mabecos, chacais, raposas etc.) e dos hienídeos (hienas e lobos) existentes
no território das línguas bantu. O estudioso identificou 6 espécies de canídeos e 4 espécies de
hienídeos – contudo, não conseguiu identificar a fonte etimológica que designam as famílias
dos referidos animais, “isso talvez ocorra devido a características físicas, grau de parentesco
e/ou hábitos de alimentação muito semelhantes desses animais (BAZAN, 2015, p. 182).
64

Figura 29 – Sinal ZOONÍMIA

Fonte: Produzido pelo autor.

Sousa (2022a) mostrou que os animais domésticos recebem nomes tanto em línguas
orais quanto em línguas de sinais. Há, segundo o pesquisador, inúmeros animais que ficaram
famosos e tiveram seus nomes divulgados nos meios de comunicação.

Laika (uma cadela), que foi o primeiro animal a viajar para o espaço, em 1957;
e Dolly (uma ovelha), que foi o primeiro mamífero a ser clonado, em 1996;
Tião (um chipanzé), que, nas eleições de 1988, recebeu mais de 400 mil votos
para a vaga de Prefeito do Rio de Janeiro (a candidatura não era oficial, mas
o macaco ficou em terceiro colocado entre os mais votados); Bandido (um
touro), que teve reconhecimento internacional por derrubar todos os peões que
tentavam montar nele (SOUSA, 2022a, p. 16).

Do mesmo modo, animais de surdos recebem sinais próprios. O mesmo autor apresenta
o seguinte exemplo:

Figura 30 – Exemplo de zoonimo

Fonte: Sousa (2022a, p. 16).

O sinal ilustrado faz referência a uma marca no pelo do felino, localizado próxima aos
olhos do animal. Diante disso, Sousa (2022a) propõe que, tal como ocorre com os sinais-nome
65

de pessoas, os sinais próprios dos bichos domésticos também possam ser influenciados por
aspectos físicos dos nomeados.
Teixeira (2022), num projeto inicial, reuniu sinais utilizados por surdos para nomear
seus animais de estimação. A pesquisadora, em período pandêmico, conversou com surdos via
Meet, e perguntou se eles tinham animal de estimação e se eles tinham sinais em Libras. O
trabalho foi proposto pelo autor do presente estudo e foi importante para estabelecer a
metodologia adequada para o desenvolvimento desta investigação que ora propomos.
A Zoonímia em Libras é o interesse central desta pesquisa. Queremos saber como os
surdos nomeiam seus animais de estimação, quais as características linguísticas desses sinais e
propor categorias classificatórias para os estudos zoonímicos em línguas de sinais. Desse modo,
na próxima seção, descreveremos a metodologia utilizada para, em seguida, descrever e analisar
os dados.
66

4 METODOLOGIA

Pesquisar tem muito de desafio e de aventura. É uma luta por saber e para
demonstrar o que se sabe. É sempre uma decisão árdua desentranhar o
conhecimento para, com a discrição e o equilíbrio devidos, pô-lo em
circulação e torná-lo acessível aos demais (SERRANO, 2011, p. 11).

As palavras de Serrano (2011) descrevem bem o fazer científico e o desafio de


desenvolver uma pesquisa. A vontade de conhecer, ainda no plano-projeto, se alia à construção
das metas, às escolhas pelos caminhos mais adequados (seguros), com vistas ao alcance dos
resultados e à ampliação dos conhecimentos e às contribuições sociais da pesquisa. São as
escolhas metodológicas (o rigor e o método) que validarão os resultados e as contribuições que
o estudo oferecerá à ciência.
A seguir são descritos os procedimentos metodológicos que seguimos para o
desenvolvimento do presente estudo. Inicialmente, apresentaremos a caracterização geral do
estudo; em seguida, trataremos a respeito dos participantes e da seleção dos dados. Por fim,
descreveremos o processo de transcrição, armazenamento e análise.

4.1 Caracterização da pesquisa

A natureza da pesquisa que ora se apresenta é definida como uma pesquisa aplicada,
de acordo com as concepções de Laville e Dionne (1999), Marconi e Lakatos (2003) e Gil
(2002), por singularizar sua finalidade na aquisição de conhecimentos, tendo como principal
motivação a constituição de um desenho metodológico para as pesquisas zoonímicas em Libras,
a partir de dados (sinais em Libras de animais de estimação de surdos) fornecidos por
participantes surdos de Rio Branco (AC) e de Campinas (SP).
Quanto à abordagem a pesquisa se classifica como quali-quantitativa, pois se utiliza
de métodos qualitativos e quantitativos. A pesquisa qualitativa é aquela que busca descrever,
interpretar e explicar determinados fenômenos, a partir de análise de experiências (sejam
individuais, sejam coletivas), de documentos (textos, imagens, entrevistas etc.) entre outras
fontes (PAIVA, 2019).
A pesquisa quantitativa, por sua vez, se utiliza de meios quantificáveis para explicar
determinados fenômenos. Geralmente, o pesquisador recorre à coleta de dados, e realiza
experimentos, comparando dados e “busca padrões que podem ser generalizados para contextos
semelhantes” (PAIVA, 2019, p. 13).
67

No caso do nosso estudo, os dados foram quantificados e, em seguida, interpretados,


buscando descrições e explicações a respeito do modo como se constituem os sinais zoonímicos
em Libras.
Em relação aos objetivos, este estudo se caracteriza como descritivo, uma vez que
visamos a descrever (formalmente e semanticamente) os sinais utilizados por surdos para
nomear seus animais de estimação. Partimos, então, da identificação do fenômeno, da coleta e
interpretação dos dados, para descrever os sinais zoonímicos e propor uma classificação
taxionômica.
Para atingir nosso objetivo maior, foram elaborados os seguintes objetivos específicos:
(a) traçar o perfil dos participantes da pesquisa, com base no processo de aquisição da Libras e
das relações com os animais de estimação; (b) classificar os sinais zoonímicos em Libras, com
base nos tipos de formação; (d) identificar os aspectos motivacionais que influenciam os surdos
no ato de nomeação dos animais de estimação em Libras; (e) elaborar taxes para a classificação
dos sinais zoonímicos, com base nas características dos dados obtidos; (f) quantificar os dados
da pesquisa.
Gil (2008) afirma que a pesquisa descritiva tem a pretensão de ampliar ou proporcionar
novas percepções sobre a realidade em estudo. A partir dos resultados desta investigação,
apresentamos contribuições para a área de estudo do léxico em Libras, e para a descrição da
Libras de um modo geral.
Os procedimentos para a realização da pesquisa tiveram aporte documental,
fundamentado em Oliveira (2007), que compreende pesquisa documental como um
procedimento que se utiliza de métodos e técnicas para a apreensão, compreensão e análise de
diferentes tipos de documentos: documentos, entrevistas e transcrições.
Nosso estudo partiu da seguinte questão: quais as características formais e semânticas
dos sinais atribuídos por surdos aos seus animais de estimação? Para responder essa questão,
elaboramos o projeto de pesquisa e submetemos ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) que o
aprovou sob a seguinte Certificado de Apresentação de Apreciação Ética (CAAE):
64032422.0.0000.5404.
A seguir, detalharemos os espaços onde a pesquisa foi realizada, o perfil dos
participantes, os procedimentos de coleta de dados, os procedimentos de armazenamento,
transcrição e análise.
68

4.2 Das áreas de estudo

A pesquisa foi desenvolvida com participantes de Rio Branco, capital do Acre, e


Campinas, a terceira maior cidade de São Paulo, em números populacionais (IBGE, 2023).
Rio Branco está localizada na Região Norte do Brasil e possui população estimada em
419.452 pessoas (IBGE, 2023). De acordo com dados da Associação de Surdos de Surdos do
Acre (ASSACRE), há. Em Rio Branco, aproximadamente 400 pessoas surdas15. Em 2022, havia
14 alunos surdos matriculados nos anos iniciais do Ensino Fundamental16 e 87 alunos surdos
matriculados nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio 17, em Rio Branco. Na
Universidade Federal do Acre, havia, em 2022, 6 alunos surdos matriculados18.

Figura 31 – Áreas de estudo: Rio Branco e Campinas

Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

Campinas, por sua vez, está localizada da Região Sudeste do Brasil e possui população
estimada em 1.223.237 pessoas (IBGE, 2023). De acordo com a Faculdades de Ciências

15
Informação fornecida pelo Presidente da Associação, Lucas Vargas Machado da Costa,
conforme documento (ANEXO I).
16
Informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Educação (ANEXO II).
17
Informações fornecidas pela Secretaria de Educação do Estado do Acre (ANEXO III).
18
Informações fornecidas pelo Núcleo de Apoio à Inclusão da Universidade Federal do Acre
(ANEXO IV).
69

Médicas da Unicamp (2022), há, na região metropolitana de Campinas, aproximadamente


124.070 pessoas surdas ou com deficiência auditiva.
A escolha por essas duas cidades não foi aleatória: são cidades distantes
geograficamente e esse fato nos ajuda a perceber se o modo de nomear os animais em Libras
possui alguma característica local. A diferença na quantidade de surdos em cada uma das
cidades também é um fator importante, pois pode interferir nas oportunidades interativas dos
sujeitos surdos – o que impactará no seu desenvolvimento com relação à Libras. Como afirma
Quadros (2019), pode haver diferenças na aquisição da Libras por inúmeros fatores como: ter
contato (ou não) com outros surdos, nascer (ou não) em famílias de ouvintes entre outros. Como
afirma a pesquisadora, “o encontro [da criança] com a comunidade surda impacta
significativamente suas vidas, pois a relação de pertencimento é imediatamente estabelecida a
partir da condição da surdez” (QUADROS, 2019, p. 34-5).

4.3 Da seleção de participantes da pesquisa

Um dos critérios fundamentais para a composição de corpora de línguas de sinais foi


a participação de surdos de diferentes faixas etárias: 10 – 13 anos (GRUPO A) 14 – 17 anos
(GRUPO B), 18 – 20 anos (GRUPO C). Foram realizadas 52 entrevistas com surdos, assim
distribuídas: 28 surdos de Rio Branco e 24 surdos de Campinas.
Inicialmente, procuramos a Secretaria de Educação Municipal de Rio Branco, a
Secretaria Estadual de Educação do Acre e o Centro de Apoio ao Surdo do Acre para obtermos
os dados dos surdos matriculados nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos anos finais do
Ensino Fundamental e Ensino Médio. Procuramos, ainda, o Núcleo de Apoio à Inclusão, da
Universidade Federal do Acre, para conseguirmos os dados iniciais dos surdos matriculados na
Instituição.
De posse desses dados, iniciamos as visitas aos espaços educacionais para convidar os
surdos a participarem da pesquisa. O contato foi realizado com os gestores, com os Tradutores-
Intérpretes que acompanhavam os alunos, os professores bilingues e os familiares (no caso dos
participantes menores de idade).
No primeiro contato, explicamos sobre os objetivos do projeto e a importância para os
estudos da Libras. O Termo foi sinalizado para a língua de sinais e as dúvidas foram
esclarecidas. Então, agendamos as visitas para a realização das entrevistas, que foram realizadas
nas próprias escolas ou em locais escolhidos pelos próprios participantes – por exemplo, a
70

residência deles. Também deixamos a cargo dos participantes a escolha dos melhores horários
para as gravações.
As entrevistas, em Rio Branco, ocorreram no mês de janeiro de 2023, distribuídas da
seguinte forma:

Quadro 2 – Datas e quantidades de entrevistas (Rio Branco)


DATA QUANTIDADE
04 de janeiro de 2023 04
05 de janeiro de 2023 05
06 de janeiro de 2023 04
07 de janeiro de 2023 03
09 de janeiro de 2023 04
10 de janeiro de 2023 03
11 de janeiro de 2023 05
TOTAL 28
Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

Concluídas as entrevistas de Rio Branco, viajamos a Campinas para a realização das


entrevistas. Os contatos já estavam estabelecidos com a equipe do Centro de Estudos e
Pesquisas em Reabilitação (Cepre) Professor Dr. Gabriel Porto, especialmente, a professora
Dra. Ivani Rodrigues da Silva (que supervisionava o estágio pós-doutoral do autor deste
estudo). O Cepre integra a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e desenvolve atividades
com crianças até o Ensino Médio. Conta com linguistas e professores de Libras, além de
estagiários e outros profissionais bilingues (FAVORITO; SILVA, 2019).
Além das crianças e adolescentes do Cepre, contamos com outros estudantes surdos
que desenvolviam atividades no Laboratório de Ensino de Matemática e que aceitaram
participar da pesquisa.
Em Campinas as entrevistas foram realizadas, também, no mês de janeiro, conforme
distribuição no quadro a seguir:

Quadro 3 – Datas e quantidades de entrevistas (Campinas)


DATA QUANTIDADE
16 de janeiro de 2023 05
17 de janeiro de 2023 04
18 de janeiro de 2023 06
19 de janeiro de 2023 09
TOTAL 24
Fonte: Elaborado pelo pesquisador.
71

Importante lembrar que eram critérios para participar da pesquisa: a) ser natural da
cidade de Campinas (SP) ou Rio Branco (AC), ou residir nas respectivas cidades; b) ter se
apropriado da Língua Brasileira de Sinais (interagir em Libras); c) ter entre 10 e 20 anos de
idade.
Só participaram do projeto os sujeitos e/ou seus responsáveis (no caso de participantes
menores de 18 anos) que consentiram, sem quaisquer limitações, a todas as definições de uso e
de disposição de suas imagens, estabelecido no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) (APÊNDICE I).
Por recomendação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), foram produzidos Termos
de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) para os participantes de 10 a 13 anos (APÊNDICE
II) e para os participantes de 14 a 17 anos (APÊNDICE III), com adequações linguísticas.
Considerando as dificuldades que grande parte da comunidade surda tem com a Língua
Portuguesa, o TCLE e os TALE foram traduzidos para a Língua Brasileira de Sinais, em
formato de vídeo, de forma que ficassem claros os objetivos, os riscos, as contribuições e a
importância das suas participações na pesquisa.

4.4 Da coleta e transcrição dos dados

As entrevistas foram filmadas com smartphones fixados com tripé de mesa,


posicionados à frente do participante para que fossem captadas, com o máximo de clareza, as
produções dos sinais, expressões não-manuais.
As interações ocorreram no espaço escolhido pelo próprio participante ou algum
funcionário da escola (sala de aula, sala da coordenação, biblioteca etc.). Para que o estudante
ficasse mais confortável, tínhamos a companhia da/o Tradutor-Intérprete da escola (em alguns
casos, um familiar responsável).
As entrevistas iniciavam sempre com uma conversa de desinibição, com o intuito de
traçar o perfil dos participantes.
As perguntas foram as seguintes:
a) Qual seu nome? Qual seu sinal?
b) Por que você recebeu esse sinal?
c) Você nasceu surdo?
d) (Se a resposta da pergunta anterior for negativa) Com quantos anos você perdeu
a audição? Como?
e) Na sua família tem outros surdos?
72

f) (Se a resposta da pergunta anterior for positiva) Quantos? Quem são?


g) Com que idade você aprendeu Libras? Quem te ensinou?

Figura 32 – Entrevistas de Rio Branco

Fonte: Arquivo da pesquisa.

No segundo momento, fizemos perguntas relacionadas aos animais de estimação:


a) Você tem animal de estimação?
b) (Se a resposta da pergunta anterior for positiva) Quantos?
c) Seus animais possuem sinal?
d) (Se a resposta da pergunta anterior for positiva) Qual(is) sinal(is)?
e) Por que ele(s) recebeu(ram) esse(s) sinal(is)?
f) Fale um pouco sobre seu contato com os animais. Você gosta? Passa muito
tempo com eles?

Figura 33 – Entrevistas em Campinas

Fonte: Arquivo da pesquisa.


73

Em alguns casos, as perguntas precisaram ser modificadas. Os participantes


informaram que tinham animais de estimação, mas tinham morrido ou fugido. Ainda assim,
perguntamos se esses animais possuíam sinais. Outros casos, o participante informava que não
tinham animal em casa, mas tinham contato com animais de outros familiares, vizinhos etc. Do
mesmo modo, indagamos se os animais possuíam sinais e as motivações desses sinais.
Por fim, passamos para a etapa de finalização da entrevista. Nesse momento,
agradecíamos a participação e reforçávamos sobre a importância do estudo e nos
comprometemos a retornar para apresentar os resultados.
Os dados (vídeos) foram armazenados (i) em HD externo sob responsabilidade do
pesquisador; e (ii) uma em disco rígido de backup no Laboratório do Grupo Educação de
Surdos, Libras e Inclusão (ESLIN), do curso de Letras-Libras da UFAC.
Os dados foram organizados a partir da seguinte nomenclatura:
(CIDADE_GRUPO_SEXO_EntrevistaX). Para a “CIDADE”, escolhemos o código de cidades
utilizados nos aeroportos: CPQ para Campinas e RBR para Rio Branco; Na indicação
“GRUPO” foi utilizada a seguinte divisão GRUPO A (participantes de 10 a 13 anos), GRUPO
B (participantes de 14 a 17 anos) e GRUPO C (participantes de 18 a 20 anos). Para indicação
“SEXO”, marcamos M para masculino e F para feminino. Por fim, “Entrevista X” corresponde
à ordem de acontecimentos da entrevista.

Figura 34 – Organização dos vídeos

Fonte: Arquivo da pesquisa.

Em seguida, os dados foram transcritos. Seguimos as orientações do Inventário da


Libras do Acre, conforme indicado por Quadros e Sousa (2021, p. 820): “a) realização da
74

glosagem dos sinais manuais, com o Identificador de Sinais para a mão direita e para a mão
esquerda e b) tradução de enunciados para a Língua Portuguesa”19.
Foi utilizado o software ELAN, que torna possível uma análise mais detalhada dos
sinais por meio de trilhas específicas no processo de análise das entrevistas. O ELAN foi
fundamental para a realização das transcrições dos vídeos. Por meio do software, foi possível
fazer as marcações de trechos e identificação de lexias (termos genéricos e termos específicos)
para as análises propostas neste estudo.

Figura 35 – ELAN

Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

Para a utilização do instrumento, inicialmente, foram criadas 3 trilhas: (i) Sinal D –


para a transcrição individual dos sinais produzidos apenas pela mão direita; (ii) Sinal E – para
a transcrição de sinais produzidos pelas duas mãos (direita e esquerda); (iii) Zoonímia – para a
transcrição dos sinais zoonímicos (sinais genéricos e sinais específicos); (iv) Tipos de Formação
– para a identificação das formações morfológicas dos sinais zoonímicos.
Além dessas trilhas, foram utilizadas trilhas de Tradução (com o objetivo de apresentar
o sentido do enunciado da Libras para a Língua Portuguesa) e de Comentários (para incluir
anotações relevantes, tanto para o tradutor, quanto para o transcritor).
O ELAN disponibiliza, ainda, alguns recursos que foram fundamentais no processo de
tradução e transcrição:

19
“a) thorough glossing of manual signs, with a Sign Identification for right hand and for left
hand; b) translation of utterances into Portuguese” (QUADROS; SOUSA, 2021, p. 820).
75

a) Vocabulário Controlado: que indica os tipos sinais associados ao campo léxico


da zoonímia, a partir das indicações de Termo Genérico (para o nome genérico do animal: cão,
gato, peixe, jabuti etc.), Termo Específico (para o nome próprio do animal, indicado pelo
participante), e Sem sinal (para os casos de animais de estimação que não possuem sinal e são
identificados apenas pela termo genérico.
b) Tipos Linguísticos: que apresentam as classificações ou especificações contidas
no vocabulário controlado. Desse modo, foi possível, ao marcar um sinal no vídeo, indicar os
tipos linguísticos de cada um.

A seguir, apresentamos uma ilustração contendo o vocabulário controlado e os tipos


linguísticos utilizados no processo de tradução, transcrição e análise dos dados.

Figura 36 – Vocabulário Controlado e Tipos Linguísticos

Fonte: Elaborado pelo pesquisador.

Após transcrever os dados, passamos para a etapa da análise, propriamente dita.

4.5 Dos procedimentos de análise

Os dados serão analisados quanto aos tipos de formação: sinais simples (constituído
por um único formante em língua nativa), simples híbrido (constituído por um único formante
com empréstimo da língua oral), composto (constituído por mais de um formante em língua
nativa) e composto híbrido (constituído por mais de um formante, sendo um deles por
empréstimo da língua oral); e quanto aos fatores semântico-motivacionais.
76

Nesse último caso, observaremos quais os aspectos que motivam a criação dos sinais
para os animais de estimação dos participantes surdos. Essa etapa tem o objetivo de propor
taxionomias próprias para os sinais próprios (específicos) de cães, gatos, pássaros, peixes ou
quaisquer outros animais que forem informados nas entrevistas.
Para as análises optamos pelo método de análise de conteúdo, tal como proposto por
Bardin (2011, p. 47) que assim define o procedimento:

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por


procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens.

Assim, por meio das falas, buscaremos compreender as características, estruturas e


significações léxicas dos sinais que nomeiam os animais de estimação dos surdos, participantes
da pesquisa, de Rio Branco e Campinas.
As análises, como dissemos anteriormente, se darão também no âmbito quantitativo,
pois, ao selecionarmos os sinais identificadores dos animais de estimação, eles serão
quantificados, em números percentuais, para verificarmos os mais recorrentes no processo de
nomeação onomástica. Na próxima seção, procederemos às descrições e análises dos dados.
77

5 ANÁLISE DOS DADOS

Nesta seção, apresentaremos a análise dos dados deste estudo. Como já foi dito, nosso
objetivo principal é descrever (formalmente e semanticamente) os sinais utilizados por surdos
para nomear seus animais de estimação. Contudo, antes de tratar dos itens zoonímicos,
consideramos importante discutir questões relacionadas ao perfil dos participantes – os sujeitos
surdos nomeadores.
Em seguida, daremos atenção às questões relacionadas aos itens zoonímicos:
inicialmente, trataremos dos aspectos formais; na sequência, analisaremos a questão semântico-
motivacional inerente aos itens lexicais selecionados.

5.1 Do nomeador

Como lembra Biderman (2001, p. 14), “todas as palavras remetem ao conhecimento


que o homem constrói em sua experiência social com grupos e culturas de que participa”.
Partindo desse princípio, foi importante convidarmos sujeitos de espaços, geograficamente,
distantes. Selecionamos, então, Rio Branco (Acre) e Campinas (São Paulo).
Outro critério importante foi termos participantes surdos do sexo masculino e
feminino. A distribuições etárias são mostradas na tabela a seguir:

Tabela 1 - Distribuição de participantes por localidade e sexo


Mulheres Homens Total
Localidade/participantes
n % n % n %
Rio Branco 16 30,77 12 23,08 28 53,85
Campinas 13 25,00 11 21,15 24 46,15
Total 29 55,77 23 44,23 52 100
Fonte: Dados da pesquisa.

A ideia inicial era termos 60 participantes (30 em Rio Branco e 30 em campinas) e que
as distribuições etárias fossem equilibradas. No entanto, não conseguimos o quantitativo de
participantes esperado devido a inúmeros fatores, mas o principal foi que o período escolar
estava se encerrando e, na maioria das escolas, as aulas tinham acabado e iniciado as férias
escolares.
De todo modo, os números percentuais não ficaram distantes: 53,85% dos
participantes (28 pessoas surdas) foram da capital do Acre e 46,15% (24 pessoas surdas), de
78

Campinas. Em relação ao sexo, dos 52 sujeitos entrevistados, 55,77% foram mulheres e


44,23%, homens.
Pensamos também nas distribuições etárias. Era nosso interesse observar se as idades
dos participantes influenciavam, de alguma maneira, a questão da nomeação dos animais de
estimação. Tivemos, então três divisões: GRUPO A, de 10 a 13 anos; GRUPO B, de 14 a 17
anos; e GRUPO C, de 18 a 20 anos.

Tabela 2 - Distribuição de participantes por faixa etária e localidade


Rio Branco Campinas Total
Faixa etária/localidade
n % N % n %
10 - 13 anos 09 17,31 03 5,77 12 23,08
14 - 17 anos 10 19,23 02 3,85 12 23,08
18 - 20 anos 09 17,31 19 36,54 28 53,85
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Em Rio Branco, o quantitativo de participantes por grupos etários ficou mais


equilibrado quantitativamente, ainda que o GRUPO B correspondesse a 19,23% e os outros 2
grupos somassem 17,31% cada um. Em Campinas, contudo, o GRUPO C apresentou um
número de participantes maior: 36, 54%; e o GRUPO B totalizou apenas 3,85%.
As entrevistas, em Campinas, foram realizadas na Unicamp – no Cepre e no
Laboratório de Ensino de Matemática – e dependíamos da presença dos pais (ou responsáveis)
para a autorização e assinatura do TCLE. Como a grande maioria estava em período de férias,
não foi possível contar com a participação de um número maior no GRUPO A e no GRUPO B.
Nas entrevistas, perguntamos aos participantes se eles tinham nascidos surdos ou
tinham perdido a audição depois. Com relação aos participantes de Rio Branco, 44,23%,
nasceram surdos, enquanto em Campinas, 34,63 dos participantes apresentaram surdez
congênita. A soma geral dos participantes que nasceram surdos foi de 78,85%. O resultado pode
ser visualizado a seguir.
79

Tabela 3 – Origem da surdez por localidade


Rio Branco Campinas Total
Surdez/localidade
n % N % n %
Congênita 23 44,23 18 34,62 41 78,85
Adquirida até os 7 anos 05 9,62 06 11,51 11 21,15
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Como se pode observar na tabela anterior, apenas 21,15% dos participantes adquiriram
surdez após o nascimento. E todos afirmaram que a perda auditiva ocorreu até os 7 anos de
idade, como podemos verificar em alguns trechos das entrevistas 20:

Minha mãe falou que eu tive uma febre muito alta e me levou ao hospital. Eu
tinha 3 anos. Mas eu não lembro. Minha mãe contou pra mim
(CPQ_GC_F_Ent37).

Eu não lembro de nada. Não lembro do som. Eu fiquei surdo com 2 anos. Eu
era bebezinho muito pequeno e bonito (RBR_GA_M_Ent01).

Eu nasci ouvinte, mas depois fiquei surdo. Tinha 7 anos. Eu fiquei doente de
Meningite, no hospital. Eu lembro alguns sons e palavras.
(CPQ_GC_M_Ent40).

Estudos sobre narrativas com mães de surdos – como os de Furtado (2008) e Kelman
et al (2011) – mostram que a surdez não-congênita ocorre entre os 3 e os 6 anos de idade, em
consequência de doenças como febre e infecções.
Strobel (2018) lembra que para muitos pais, a surdez só é percebida na fase do
balbucio, pois, quando a criança nasce surda, ela “desenvolve inicialmente as mesmas fases de
linguagem que o bebê ouvinte: grito de satisfação, choro de dor e fome, sons sem significados”
(STROBEL, 2018, p. 53).
A autora acrescenta, ainda, após esse primeiro momento, os bebês ouvintes e surdos
começam a apresentar diferenças, uma vez que os primeiros – na possibilidade de ouvir sons
ambientes, inicia as tentativas de se comunicar por meio de sons. Como os bebês surdos não
ouvem sons, “as primeiras “palavras” não surgem. Consequentemente, fica com a aquisição de
linguagem atrasada e limitada por falta de continuidade e acesso aos conhecimentos e
informações externas” (STROBEL, 2018, p. 54).

20
Para os trechos das entrevistas, utilizaremos as fontes em itálico e a referência semelhante
às indicadas no armazenamento dos vídeos: (CIDADE_GRUPO_SEXO_EntrevistaX).
80

Diante dos números relacionados à origem da surdez, indagamos os participantes sobre


a idade que aprenderam Libras. Esse, inclusive, era um dos critérios para a participação na
pesquisa: interagir em língua de sinais. As respostam foram quantificadas, conforme a tabela a
seguir:

Tabela 4 – Aquisição da Libras por localidade


Rio Branco Campinas Total
Libras/localidade
n % n % n %
Até 10 anos 07 13,46 04 7,69 11 21,15
Acima de 10 anos 21 40,38 20 38,46 41 78,85
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Tanto os participantes de Rio Branco, quanto os participantes de Campinas tiveram


aquisição da Libras com idades superior a 10 anos, 40,38% e 38,46%, respectivamente. Quando
verificamos a quantidade total de participantes da pesquisa, esse número chega a 78,85%.
Strobel (2018) explica que para o Surdo ter acesso aos conhecimentos e construir sua
identidade, é preciso que tenha contato com outros surdos e que use a língua de sinais. Skliar
(2005) lembra que “todas as crianças surdas podem adquirir a língua de sinais, desde que
participem das interações quotidianas com a comunidade surda, como acontece com qualquer
outra criança na aquisição de uma língua ‘natural’ (SKLIAR, 2005, p. 26).
Sobre isso, disseram alguns participantes:

Eu aprendi Libras com 12 anos. Eu via outros surdos usando Libras e fiquei
curioso e queria aprender a conversar em Libras. Agora eu me comunico em
Libras com meus amigos surdos de muitos lugares e minha tia que sabe Libras
também (RBR_GC_M_Ent29).

Comecei a usar língua de sinais tarde, com 15 anos, porque eu não tinha
contato com outras crianças surdas ou pessoas que usassem Libras. Era
muito ruim porque ninguém me entendia porque eu não sabia como explicar
as coisas, o que eu queria, o que eu gostava. Agora eu uso Libras e é muito
bom (CPQ_GC_M_Ent50).

Tinha um surdo perto da minha casa e ele me ensinou Libras. Mas meus pais
tinham medo que eu usasse Libras. Eles queriam que eu aprendesse
português. Eu não gosto de português. Eu aprendi Libras com 11 anos
(CPQ_GC_M_Ent30).

Pelas falas dos participantes, vemos como a aquisição da Libras é um processo


libertador para o surdo. É a partir da Libras que o surdo consegue conhecer, aprender, se
81

construir como sujeito, e, consequentemente, construir sua identidade. Quadros (2019), ao


discutir sobre a aquisição da L1, mostra que o contato com a Libras, para a maioria dos Surdos,
ocorre tardiamente (na maioria das vezes quando chegam à escola). E Strobel (2011, p. 53)
explica:

A língua de sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo, pois


é uma das peculiaridades da cultura surda, é uma forma de comunicação que
capta as experiências visuais dos sujeitos surdos, e que vai levar o surdo a
transmitir e proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento universal.

Skliar (2005, p. 27) ressalta que todas as crianças surdas têm potencialidades para a
aquisição das línguas de sinais e que “elas têm direito de se desenvolverem numa comunidade
de pares, e de construírem estratégias de identificação no marco de um processo sócio-histórico
não fragmentado, nem cerceado”. Como o primeiro núcleo social é a família, perguntamos aos
participantes se havia outros surdos entre seus familiares mais próximos. O resultado segue na
tabela a seguir:

Tabela 5 – Histórico familiar da surdez por localidade


Histórico de Rio Branco Campinas Total
surdez/localidade n % n % n %
Positivo 05 9,62 07 13,46 12 23,08
Negativo 23 44,23 17 32,69 40 76,92
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa

Como se vê, a grande maioria dos participantes não tinham familiares surdos: 76,92%.
Em Rio Branco, o quantitativo de surdos que tinham parentes próximos surdos somou 9,62%;
em Campinas, 13,46%. Quando os participantes afirmaram que havia outros surdos na família,
as respostas sempre continham as informações sobre quais membros da família eram surdos ou
deficientes auditivos (D.A.). Algumas respostas positivas são apresentadas a seguir:

Minha mãe é surda. Eu tenho contato com Libras desce cedo porque minha
mãe me ensino. Minha irmã é ouvinte, mas aprendeu Libras depois.
(RBR_GC_M_Ent13)

Meu pai é D.A. e minha mãe é surda. Em casa sempre usamos Libras. Aprendi
Libras antes de ir pra escola. (CPQ_GB_F_Ent41)

Na minha casa só meu tio é surdo. Ele mora vizinho perto e me ensinou Libras
bem pequeno. (RBR_GA_M_Ent18)
82

As respostas foram tabuladas a seguir:

Tabela 6 – Parentesco relacionado à surdez por localidade


Parentesco de Rio Branco Campinas Total
surdez/localidade n % n % n %
Pai 00 0 01 1,92 01 1,92
Mãe 03 5,77 02 3,85 05 9,62
Ambos 01 1,92 02 3,85 03 5,77
Irmãos 00 0 00 0 00 0
Outros 01 1,92 02 3,85 03 5,77
Não se aplica 23 44,23 17 32,69 40 76,92
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Quadros e Cruz (2011) afirmam que a criança adquire a linguagem por meio das
relações com o ambiente e das interações, de forma natural. Segundo as autoras, “embora a
linguagem envolva processos complexos, a criança “sai falando” ou “sai sinalizando” quando
está diante de oportunidades de usar a língua (ou as línguas) (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 15).
E Strobel (2018, p. 54) complementa:

Os sujeitos surdos que têm acesso à língua de sinais e participação da


comunidade surda possuem maior segurança, autoestima e identidade sadia.
Por isso, é importante que as crianças surdas convivam com pessoas surdas
adultas com quem se identificam e tenham acesso às informações e
conhecimentos no seu cotidiano.

Entre os participantes de nosso estudo, como se vê na tabela 6, apenas 1 participante


tinha pai e mãe surdos, e 3 participantes tinham apenas a mãe surda. Com relação aos
participantes de Campinas, 2 tinham pai e mãe surdos e 2 tinham apenas a mãe surda. Além
disso, 1 participante de Rio Branco afirmou que tinha apenas o tio surdo na família; e 2
participantes de Campinas afirmaram que os avós maternos eram surdos.
Strobel (2018) explica que quando o surdo está inserido numa família surda, os
comportamentos são estabelecidos entre os membros a partir das percepções de mundo comuns.
Do mesmo modo, as interações são produzidas por meio da Libras e os assuntos são de
interesses culturais comuns.
De modo inverso, quando os surdos estão inseridos em famílias ouvintes as barreiras
comunicacionais constituem dificuldades para as relações familiares e as interações entre os
83

membros. Skliar (2005) explica que “são numerosos e cada vez mais explícitos, os testemunhos
de surdos que, ao fazerem referência ao seu passado educativo, invocam imagens ligadas ao
fato de se verem como estrangeiros, forasteiros, exilados (SKLIAR, 2005, p. 29).
Na entrevista, perguntamos em contexto os participantes aprenderam Libras. A maior
parte dos surdos afirmaram adquiriu a língua de sinais em contexto escolar: 51, 92%. Desses,
25% eram de Rio Branco e 26,92% de Campinas, conforme podemos visualizar na tabela a
seguir.

Tabela 7 – Contexto de aprendizagem de libras por localidade


Parentesco de Rio Branco Campinas Total
surdez/localidade n % n % n %
Familiar 09 17,31 07 13,46 16 30,77
Escolar 13 25,00 14 26,92 27 51,92
Outros 06 11,54 03 5,77 09 17,92
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Os participantes que afirmaram ter aprendido a Libras em contexto familiar somam


30,77%, sendo 17,31% de Rio Branco e 13,46% em Campinas. Outros 17,92% dos participantes
afirmaram ter aprendido a língua de sinais em outros contextos: como associações de surdos,
professores contratados pela família para ensinar Libras, com um vizinho surdo etc.
Considerando que alguns relatos de surdos que aprenderam Libras em contexto
familiar foram apresentados anteriormente, a seguir, citamos trechos das falas dos participantes
que informaram terem aprendido língua de sinais na escola ou em outros contextos.

Minha mãe me levou para uma escola e lá eu aprendi Libras com a intérprete.
Tinha outra professora que sabia também e sempre estava junto.
(RBR_GA_M_Ent02)

Na escola tinha uma professora bilingue e ela me ensinou Libras. Minha mãe
também aprendeu com ela. (RBR_GA_F_Ent08)

Meus pais me levavam para aprender Libras na associação de surdos. Eu


aprendi com outros surdos. Depois, no futuro, na minha escola tinha outro
surdo e eu aprendi mais com ele. (CPQ_GC_F_Ent48)

Quadros (2019, p. 157) afirma que:

No caso das crianças surdas, muitas vezes, a Libras ainda não foi adquirida ao chegar à escola.
Isso é muito diferente do acontece com as crianças ouvintes, que chegam com a língua portuguesa, a
84

língua de convívio, já adquirida. Quando chega à escola, a criança já sabe sua língua. [...] Para as crianças
surdas que nascem em famílias de pais surdos, isso também acontece. Elas chegam à escola já sabendo
sua língua, a Libras, e vão aprender a usá-la em outros domínios.
Mas a pesquisadora conclui que isso não é regra, pois a grande maioria dos surdos
nascem em famílias de ouvintes, que não se comunicam em língua de sinais; e é na escola que
essas crianças terão o primeiro contato com a Libras, “uma situação de aquisição bastante
atípica” (QUADROS, 2019, p. 157).
Com relação aos surdos, participantes deste estudo, que aprenderam Libras em
contexto escolar, tivemos os seguintes resultados quantitativos:

Tabela 8 – Aprendizagem de libras no contexto escolar por localidade


Aprendizagem Rio Branco Campinas Total
escolar/localidade n % n % n %
Intérprete/professor bilíngue 15 28,85 11 21,15 26 50,00
Outros surdos 01 1,92 03 5,77 04 7,69
Não se aplica 12 23,08 10 19,23 22 42,31
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Em Rio Branco, 28,85% dos surdos disseram que tinham aprendido Libras com os
Intérpretes ou com professores bilíngues; em Campinas, esse número somou 21,15%. Alguns
participantes, contudo, informaram que tinham aprendido Libras com outros surdos no contexto
escolar: 1,92% em Rio Branco, e 5,77% em Campinas. Destaco, sobre essa questão, duas falas
de nossos participantes:

Quando entrei na escola e conheci a intérprete fiquei com muito medo porque
ela ficava sempre perto de mim e queria me ensinar língua de sinais. Depois,
fui tendo curiosidade em aprender a Libras. Devagar eu comecei a aprender.
A intérprete ficou minha melhor amiga até hoje. (RBR_GB_M_Ent15)

O surdo sempre vinha ficar perto de mim na escola. Eu olhava para ele
falando com as mãos e queria também. Na escola não tinha intérprete de
Libras. Eu ia sempre com meus pais visitar a Associação. Mas com o meu
amigo surdo era diferente. (CPQ_GC_F_Ent48)

Pimenta, Strobel e Maestri (2021) ressaltam a importância do contato precoce com a


língua social do aluno surdo com vistas ao seu melhor desenvolvimento acadêmico. Para os
autores em tela, “[...] os estudantes surdos aprendem mais rapidamente por meio da Libras como
85

língua de instrução, com as atividades bilingues que lhes são oferecidas, nas práticas de
traduções e interpretações de textos” (PIMENTA; STROBEL; MAESTRI, 2021, p. 262).
E Quadros (2019) fala da importância de professores surdos e dos TILSP nos
ambientes escolares. Os professores surdos “desempenham um papel fundamental para
concretizar relações constituidoras das crianças ao longo de seu desempenho linguístico e
sociocultural” (QUADROS, 2019, p. 168). Quanto aos TILSP, Quadros (2019) destaca a
importância desses profissionais e evidencia a necessidade de conhecerem a comunidade surda,
suas experiências visuais para que possam interagir com os alunos surdos de forma adequada.
Descritos os perfis dos participantes da pesquisa, passaremos agora, à descrição e
análise dos sinais zoonímicos. Trataremos dos aspectos formais e semântico-motivacionais dos
itens lexicais coletados na pesquisa.

5.2 Dos nomeados

Após fazer as perguntas mais relacionadas ao perfil dos participantes, passamos a


indagá-los a respeito dos animais de estimação. A pergunta era: você tem animal de estimação?
Em Rio Branco, dos 28 participantes, 22 afirmaram possuir animais de estimação (o
que corresponde a 42,31% dos participantes) e 5 afirmaram que já tiveram (9,62% dos
entrevistados). Apenas 1 dos entrevistados disse que nunca teve.
Em Campinas, dos 24 entrevistados, 20 responderam possuir animais de estimação
(38,46%), 2 disseram que possuíram animais no passado (3,85%) e 2 afirmaram que nunca
tiveram animais de estimação (3,85%). Esses números percentuais podem ser melhor
visualizados na tabela 9, a seguir.

Tabela 9 – Histórico de animais de estimação por localidade


Rio Branco Campinas Total
Animais/localidade
n % n % n %
Presente 22 42,31 20 38,46 42 80,77
Passado 05 9,62 02 3,85 07 13,46
Sem antecedente 01 1,92 02 3,85 03 5,77
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa
86

Para nossa pesquisa, que tem interesse nos sinais próprios dos animais, consideramos
os participantes que tinham animais de estimação no momento da entrevista ou que já tiveram
em algum momento da vida. Segue alguns trechos das entrevistas dos participantes surdos.

Sim, tenho. Amo meus gatos! Tenho três muito lindos. Eu achei numa caixa
quando voltava da escola com meu pai. Ele não queria levar pra casa, mas
eu pedi “por favor” e ele deixou. Eu brinco com eles toda hora. Mas tem um
muito quieto que só gosta de dormir. (RBR_GA_F_Ent03)

Eu tenho um cachorro que dorme comigo. Uma vez ele fugiu e foi me procurar
na escola. Não sei como ele encontrou a escola. Acho que ele sentiu meu
cheiro. Ele tem três anos. (RBR_GA_M_Ent06)

Eu tenho um jabuti e um pássaro e um cachorro. A tartaruga eu ganhei da


minha avó surda. O cachorro, o amigo do meu pai deu pra mim. E o pássaro
chegou sozinho em casa. Eu gosto muito deles todos. Cada um tem um jeito
diferente. O cachorro é o mais bagunceiro. Ele gosta de ficar sempre perto
de mim. (CPQ_GC_F_Ent46)

Eu tenho um hamster, [risos]mas minha mãe não gosta dele. Ele fica
quietinho, mas ela não gosta. Antes eu tinha dois peixes, mas eles morreram.
Não sei como aconteceu. Eu fui dormir e quando acordei eles tinham morrido.
Eu fiquei muito mal. Depois, meu irmão trouxe um cachorro. Ele é bravo com
as pessoas, mas comigo ele é amigo. (CPQ_GC_M_Ent35)

Durante as entrevistas, percebemos o quanto os participantes se interessavam pelo


tema “animais de estimação”. Era clara a satisfação em falar sobre seus bichinhos. Quando os
participantes falavam dos animais que tinham morrido ou fugido, víamos como a expressão
facial mudava – o que refletia suas alterações emocionais. Sobre as relações entre crianças e
animais, Tatibana e Costa-Val (2009) esclarecem que o convívio estimula o desenvolvimento
da afetividade, da sensibilidade, do senso de responsabilidade e da compreensão do ciclo vida-
morte. De acordo com as pesquisadoras:

Cada vez mais as pessoas estão vivendo sozinhas. Como o animal doa-se
completamente sem cobrar nada em troca, aceita os fatos sem julgamento, não
apresenta os problemas e as exigências da comunidade humana e, não tem o
atributo da vontade tão desenvolvido, a compensação da solidão e a
transferência do apego de uma pessoa a um animal podem ser mais fáceis do
que com outro ser humano, criando um vínculo forte e duradouro
(TATIBANA; COSTA-VAL, 2009, p. 15).

A explicação das pesquisadoras ficou evidente em alguns momentos das entrevistas,


quando os participantes evidenciaram suas relações com os animais em detrimento às suas
relações com os humanos.
87

Eu gosto muito do mau cachorro. Ele me entende mais que as pessoas.


Quando estou triste ele fica perto. E quando estou feliz ele pula comigo.
Minha família não sabe Libras, mas parece que meu cachorro sabe porque
sinalizo e ele fica atento e faz o que mando. (RBR_GB_F_Ent11)

Meu avô me deu um cavalo e eu vou para a fazenda e paço muito tempo lá.
Às vezes meus pais não gostam de ir e eu fico bravo porque o cavalo é meu
melhor amigo. Ele me entende muito bem. (CPQ_GB_M_Ent36)

Ao tratar sobre o artefato cultural “família”, Strobel (2018) deixa evidente que as
dificuldades de um surdo numa família de ouvintes que não se comunicam em línguas de sinais
são enormes. Então, para alguns surdos, os animais de estimação são considerados familiares e
amigos.
Pesquisas como as de Kidd e Kidd (1997) e Miranda (2011) têm revelado como os
animais têm sido considerados membros das famílias por seus tutores. Kidd e Kidd (1997)
relatam que indivíduos que conviveram com animais de estimação desde a infância, quando
adultos, influenciam os filhos a terem o mesmo comportamento.
Nossos dados revelaram uma diversidade de animais de estimação entre nossos
participantes: cachorro, gato, cavalo, coelho, hamster, jabuti, peixe e pássaro. Então,
verificamos, quantitativamente, os tipos de animais a partir dos grupos etários.
88

Tabela 10 – Animais de estimação faixa etária e localidade


Rio Branco Campinas Total
Faixa etária/localidade
n % n % n %
Cachorro
07 18,42 05 13,16 12 11,32
10 - 13 anos
14 - 17 anos 12 31,58 03 7,89 15 14,15
18 - 20 anos 05 13,16 06 15,79 11 10,38
Subtotal 24 22,64 14 13,21 38 35,85
Cavalo
10 - 13 anos 00 0 00 0 00 0
14 - 17 anos 01 0,94 00 0 01 0,94
18 - 20 anos 00 00 00 0 00 0
Subtotal 01 0,94 00 0 01 0,94
Coelho
10 - 13 anos 01 0,94 00 0 01 0,94
14 - 17 anos 00 0 00 0 00 0
18 - 20 anos 01 0,94 02 1,89 03 2,83
Subtotal 02 1,89 02 1,89 04 3,77
Gato
10 - 13 anos 03 2,83 03 2,83 06 5,66
14 - 17 anos 08 7,55 05 4,72 13 12,26
18 - 20 anos 09 8,49 09 8,49 18 16,98
Subtotal 20 18,87 17 16,04 37 34,91
Hamster
10 - 13 anos 00 0 00 0 00 0
14 - 17 anos 01 0,94 00 0 01 0,94
18 - 20 anos 00 0 03 2,83 03 2,83
Subtotal 01 0,94 03 2,83 04 3,77
Jabuti
10 - 13 anos 01 0,94 02 1,89 03 2,83
14 - 17 anos 01 0,94 00 0 01 0,94
18 - 20 anos 00 0 02 1,89 02 1,89
Subtotal 02 1,89 04 3,77 06 5,66
Pássaro
10 - 13 anos 01 0,94 02 1,89 03 2,83
14 - 17 anos 01 0,94 02 1,89 03 2,83
18 - 20 anos 02 1,89 03 2,83 05 4,72
Subtotal 04 3,77 07 6,60 11 10,38
Peixe
10 - 13 anos 01 0,94 00 0 01 0,94
14 - 17 anos 01 0,94 01 0,94 02 1,89
18 - 20 anos 00 0 02 1,89 02 1,89
Subtotal 02 1,89 03 2,83 05 4,72
Total 56 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa

Os dados revelaram que cachorros e gatos são os animais mais presentes nas vidas dos
participantes: 35,85% e 34,91% dos dados, respectivamente. Mullin (1999) identificou que os
89

animais mais presentes nas famílias são cães e gatos. Para a pesquisadora, isso se dá por
inúmeros fatores, especialmente a adaptação dos animais aos ambientes e às rotinas domésticas
e aos laços afetivos facilmente estabelecidos entre humanos e animais.
Os cachorros foram os mais citados em Rio Branco e em Campinas. No entanto, houve
diferenças entre os grupos etários: os números do Grupo A foram mais expressivos em Rio
Branco: 18,42%, enquanto em Campinas, o grupo C apresentou o maior número de caninos:
15,79%.
Em relação aos gatos, tiveram quantitativos iguais nas duas localidades e no mesmo
grupo etário – C – totalizando 8,49% das respostas. Os pássaros foram o terceiro grupo de
animais mais citado: 10,38%. Tanto em Rio Branco, quanto em Campinas, o Grupo C
apresentou o maior quantitativo entre os grupos etários: 4,72%.
Os números relacionados aos jabutis somaram 5,66%. Vale ressaltar que esse animal
foi informado pelos participantes de Rio Branco e de Campinas – o que nos surpreendeu, uma
vez que, por ser um animal silvestre, não é comum encontrá-los em ambientes domésticos (dada
a necessidade de autorização pelo IBAMA).
O animal menos citado foi o cavalo. Apenas um participante, do Grupo B, de
Campinas, informou possuir esse animal – que é criado na fazenda do avô.
A seguir, apresentamos uma tabela com uma síntese quantitativa dos animais
domésticos apresentados nas entrevistas que realizamos.

Tabela 11 – Resumo: Animais de estimação por localidade


Rio Branco Campinas Total
Animais/localidade
n % n % n %
Cachorro 24 22,64 14 13,21 38 35,85
Cavalo 01 0,94 00 0 01 0,94
Coelho 02 1,89 02 1,89 04 3,77
Gato 20 18,87 17 16,04 37 34,91
Hamster 01 0,94 03 2,83 04 3,77
Jabuti 02 1,89 04 3,77 06 5,66
Pássaro 04 3,77 07 6,60 11 10,38
Peixe 02 1,89 03 2,83 05 4,72
Total 56 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa.
90

Concluída esta etapa das entrevistas, passamos para as informações diretamente


ligadas ao processo de nomeação dos animais de estimação – que trataremos na seção a seguir
– e que darão suporte à proposta taxionômica que apresentaremos ao final do estudo.

5.3 Das nomeações

A seção anterior nos ofereceu informações sobre os sinais genéricos dos animais de
estimação dos participantes. Com exceção do sinal GATO, não foi identificada nenhuma
variação na produção do sinal entre os participantes. A referida variação será apresentada na
seção relacionada às características formais dos sinais zoonímicos.
Nossa pergunta de pesquisa, vale lembrar, é: quais as características formais e
semânticas dos sinais atribuídos por surdos aos seus animais de estimação? Para respondê-la,
após sabermos dos participantes se eles possuíam animais de estimação, o próximo passo foi
perguntar se os animais possuíam sinais próprios. Em termos quantitativos, a tabela 12, a seguir,
apresenta a distribuição percentual, entre Rio Branco e Campinas:

Tabela 12 – Sinais próprios de animais por localidade


Rio Branco Campinas Total
Sinais próprios/localidade
n % n % n %
Positivo 24 46,15 19 36,54 43 82,69
Negativo 01 1,92 02 3,85 03 5,77
Ambos 02 3,85 01 1,92 03 5,77
Não se aplica 01 1,92 02 3,85 03 5,77
Total 28 53,85 24 46,15 52 100
Fonte: Dados da pesquisa

Como se vê, a maioria dos participantes de Rio Branco (46%) e Campinas (36,54%)
afirmaram que seus animais possuíam sinais próprios – o que soma 82,69% dos participantes.
5,77% dos participantes afirmaram que alguns de seus animais tinham sinais e outros não. E
5,77% dos participantes responderam que seus animais não possuíam sinais.

Sim. Todos os maus animais têm sinal. Como tenho 2 cachorros e 2 gatos, se
acontece algo ou algum deles some, eu aviso minha mãe e ela sabe qual
sumiu. (RBR_GB_F_Ent17)

Tem sinal sim. Mas tenho 2 gatos ainda pequenos que não têm sinal. Vou
esperar crescer um pouco para ver se são bagunceiros ou calmos. Também o
91

pelo muda a cor. Aconteceu com meu cachorro: mudou o pelo depois de um
tempo. (CPQ_GC_M_Ent43)

Eu tenho um cachorro mas não dei sinal. Meu amigo surdo pergunta qual o
sinal dele e eu respondo que é CACHORRO. (risos) (CPQ_GB_M_Ent51)

Biderman (2001) afirma que nomeamos aquilo que faz parte da nossa vida. Ao nomear,
o indivíduo organiza o seu mundo e categoriza os itens lexicais a partir de semelhanças e
diferenças, por isso a “nomeação da realidade pode ser considerada como a etapa primeira no
percurso científico do espírito humano de conhecimento do universo” (BIDERMAN, 2001, p.
13). Daí ser possível afirmar que “ao nomear, o indivíduo se apropria do real” (BIDERMAN,
2001, p. 13).
Sobre os nomes próprios – que identificam e singularizam as pessoas, os lugares, as
coisas – Martins (1991) lembra que se tratam de um produto pessoal e cultural ao mesmo tempo.
Segundo o autor:

[O nome próprio] é reconhecido na linguística moderna como sendo o


portador e exemplo maior da função de referenciação da linguagem. Ou seja,
desta capacidade de enviar diretamente a um objeto em especial, um
determinado corpo, na realidade objetiva concreta. [...] o nome, além de enviar
ao objeto, de identifica-lo, ele o significa (MARTINS, 1991, p. 55).

Carvalhinhos (2007, p. 17) afirma que “[...] o nome próprio é muito mais que um mero
identificador ou uma etiqueta, é antes um vasto campo de estudo e um convite a entender as
sociedades que o geraram, numa perspectiva diacrônica, e as que o utilizam, em perspectiva
sincrônica”. E esse entendimento do item onomástico deve levar em consideração, como
ressaltamos anteriormente, seu caráter interdisciplinar.
O nome próprio, portanto, não deve ser compreendido apenas na sua faceta linguística,
mas nas suas relações com as outras áreas do conhecimento. Como vimos nas falas dos
participantes, ao considerar o animal como um membro da família ou um amigo, os surdos
acabam por lhes atribuir um sinal que, além de identificador, constrói um laço afetivo, amistoso
entre o nomeador e o nomeado. Essa aproximação afetiva poderá ser refletida na criação do
sinal para o animal. Portanto, precisamos entender o nome próprio numa intersecção entre a
Linguística e a Psicologia.
Dos 52 participantes da pesquisa, apenas 3 afirmaram não possuir (ou nunca ter
possuído) animal de estimação. Dos que possuíam (ou possuíram), somente 3 surdos relataram
não ter atribuído sinal próprio aos seus animais. Nossos dados mostram que a nomeação a
animais de estimação é uma prática cultural entre os surdos pesquisados – foram selecionados
92

106 sinais próprios de animais de estimação. Com isso, confirmamos a viabilidade de se


estabelecer o subcampo onomástico que se dedique ao estudo dos nomes próprios de animais:
a Zoonímia.
A Zoonímia, nos termos onomásticos, estuda os nomes ou sinais em Libras particulares
dos animais – e não os nomes científicos próprios das classes animais, como fizeram Cardoso
(1977) e Bazan (2015). Aqui, tratamos dos nomes que singularizam os animais e os identificam
em meio a um conjunto de outros animais da mesma raça, e que estabelecem relações de
afetividade.
Assim, temos entre os cachorros, os nomes ou sinais em Libras que particularizam
aquele cão único, criado em uma determinada casa. Ou entre os leões, aquele nome ou sinal em
Libras que identifica aquele felino único, que habita um determinado zoológico e que é cuidado
pelos veterinários e recebe as visitas das pessoas. É sobre esses itens lexicais que estamos
falando – que além do componente linguístico, possui o componente identitário e cultural – e
que estabelece um vínculo direto entre o signo linguístico e seu referente.
Mas antes de discutimos com mais vagar as questões relacionadas à motivação para as
escolhas dos sinais dos animais de estimação, trataremos, a seguir, sobre as questões
relacionadas às características formais dos sinais zoonímicos informados pelos participantes da
pesquisa.

5.3.1 Sinais zoonímicos: aspectos formais

Em estudo anterior sobre os nomes de lugares em Libras, Sousa (2019), descrevemos


a formação dos itens lexicais a partir dos elementos morfológicos e dos empréstimos das línguas
orais. Tomamos os estudos de Zinkin (1969) e Dick (1990) que estabeleceram as relações
formativas a partir dos sintagmas (nome genérico + nome específico) que compunham os nomes
próprios (onomásticos).
Considerando os processos de formação de sinais em Libras em função onomástica
(naquele caso, toponímica), propomos 4 tipos de formação: simples (quando o sinal possui um
único formante em língua nativa); simples híbrido (quando possui um único formante, mas há
influência da língua oral na incorporação de uma configuração de mão relacionada às letras do
alfabeto); composto (quando o sinal possui dois ou mais formantes em língua nativa) e
composto híbrido (quando o sinal possui dois ou mais formante e pelo menos um deles
apresenta influência da língua oral). Essas classificações podem ser revistas na figura 21.
93

De posse dos 106 sinais zoonímicos, procedemos à análise e classificação quanto aos
tipos de formação e o resultado quantitativo foi o seguinte:

Tabela 13 – Tipos morfológicos dos sinais por localidade


Tipo Rio Branco Campinas Total
morfológico/localidade N % n % n %
Simples 51 48,11 47 44,34 98 92,45
Simples híbrido 03 2,83 02 1,89 05 4,72
Composto 02 1,89 01 0,94 03 2,83
Composto híbrido 00 0 00 0 00 0
Total 56 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa

O maior quantitativo foi identificado quanto ao tipo simples: 92,45% dos dados. Dessa
soma, 48,11% dos sinais simples foram informados por participantes de Rio Branco, e 44,34%,
por participantes de Campinas. A seguir, exemplificamos uma dessas ocorrências.

Figura 37 – Sinal do tipo simples

Fonte: Arquivos da pesquisa.

O sinal produzido pelo participante surdo tem a seguinte composição fonético-


fonológica (aqui apresentada em SignWriting):
94

Figura 38 – Sinal do tipo simples em SignWriting

Fonte: Produzido pelo pesquisador.

O sinal é produzido pelas mãos esquerda e direita, simultaneamente, com


configurações de mão (CM) nº 26. O movimento é retilíneo, unidirecional para cima e as palmas
das mãos estão orientadas da seguinte forma: a palma da mão direita está direcionada para o
lado esquerdo, enquanto a palma da mão esquerda está direcionada para o lado direito. O sinal
é realizado no espaço neutro. O sinalizante não apresenta expressões não-manuais na produção
do sinal21.
Como se vê, o sinal é do tipo simples porque possui um único formante em Libras,
sem influência da língua oral.
Os sinais do tipo simples híbrido somaram 4,72% dos dados, sendo 2,83% em Rio
Branco e 1,89% em Campinas. No próximo exemplo, vemos um sinal do tipo simples híbrido.

21
Como os exemplos estão ilustrados com as descrições dos sinais em SignWriting, nos demais
exemplos desta pesquisa não descreveremos as produções dos sinais no corpo do texto.
95

Figura 39 – Sinal do tipo simples híbrido

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A estrutura do sinal é apresentada na figura a seguir, em SignWriting, a partir dos


parâmetros de formação. Note-se a configuração de mão, nº 19, que faz referência à letra F.

Figura 40 – Sinal do tipo simples híbrido em SignWriting

Fonte: Produzido pelo pesquisador.

O participante surdo, durante a entrevista, explica que a letra F faz menção à palavra
Flecha, numa relação irônica ao jabuti que se locomove devagar (exatamente contrário à
flecha).

Tenho um jabuti. O nome dele é Flecha. Meu pai chama de flecha porque ela
é muito rápida. (Risos) Brincadeira. Esse é o sinal dela: FLECHA.
(RBR_GB_M_Ent10)

Contudo, essa configuração de mão aparece na mão ativa que toca o antebraço do
sinalizante em dois pontos, num movimento curvo, fazendo referência ao formato do casco do
96

animal. Trata-se de um sinal com um único formante, mas que apresenta uma CM influenciada
pela língua oral.
Os sinais compostos totalizam 2,83% dos dados. Desse total, 1,89% foi de Rio Branco
e 0,94%, de Campinas. Foi o tipo de formação menos expressiva nos dados (uma vez que não
houve ocorrências de sinais do tipo composto híbrido. A seguir, apresentamos um exemplo de
sinal composto:

Figura 41 – Sinal do tipo composto

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A sinalizante em destaque está informando o sinal do seu pássaro e utiliza duas


informações relacionadas à pelagem do animal: inicialmente ela marca dois pontos no rosto,
com as duas mãos em CM nº 17, em referência às marcas na face do pássaro. Em seguida, com
as mãos em CM nº 02, a sinalizante marca as penas grandes e amarelas que o pássaro possui
sobre a cabeça.

Eu dei esse sinal porque ele tem umas marcas aqui no rosto [ela marca o
local] e tem umas penas amarelas grandes assim [ela marca novamente o
local]. É diferente do outro que é todo preto. Então esse ficou o sinal do meu
pássaro. (RBR_GB_F_Ent04)

A figura 42, a seguir, apresenta com detalhes a estrutura do sinal, a partir dos
parâmetros de formação. Importante notar que o sinal possui dois formantes em língua nativa:
Libras, sem influência da língua oral.
97

Figura 42 – Sinal do tipo composto em SignWriting

Fonte: Produzido pelo pesquisador.

Com base nas formações dos sinais apresentadas nos vídeos, vemos que, ao contrário
do que ocorre com os topônimos e os antropônimos, não são muito recorrentes os empréstimos
da língua oral nos sinais zoonímicos. Sousa e Quadros (2021) ressaltaram que os topônimos em
Libras tendem a ser influenciados pelos nomes dos locais em língua portuguesa. Da mesma
forma, as pesquisas de Aguiar (2012), Souza-Júnior (2012) e Miranda (2020) demonstraram
que o fenômeno de inicialização (como os pesquisadores chamaram) foi evidente nos dados por
eles analisados.
As pesquisas antroponímicas em Libras também revelaram algo semelhante. Os
estudos de Barros (2018), Sousa et al (2020) e Menezes (2021) destacaram, também, a
influência no nome das pessoas em língua portuguesa na formação dos sinais-nome em Libras.
No caso dos sinais zoonímicos, verificamos que o quantitativo de sinais simples
somado ao quantitativo de sinais compostos – ambos formados em língua nativa – totalizam
95,28% dos dados selecionados no presente estudo. Passaremos, na próxima seção, às
descrições e análises dos aspectos semântico-motivacionais dos dados.
98

5.3.2 Sinais zoonímicos: aspectos semântico-motivacionais

Ao tratar sobre o sistema onomástico, Dick (2000) explica que ele, embora tenha suas
bases no sistema linguístico vocabular, interage com diferentes “segmentos culturais, num
aparato de relações e procedências diversas” (DICK, 2000, p. 246), refletindo experiências de
outros domínios e reformulando bases conceituais “intra-código e extra-código”. Dick (2000,
p. 246-7) conclui:

É nesse ângulo que se revela, de modo mais explícito, a forma pela qual o
grupo gerador de designativo manifesta seu entendimento quanto à percepção
do real e à qualidade do dado recebido, garantindo, ao mesmo tempo, a
simultaneidade da geração dos processos gramaticais e da elaboração dos
sociofatos. Estes suportes sociais, a que denominamos referentes onomásticos,
são, de fato, modelos capazes de assumir a função de marcadores semânticos
ou elementos significativos do meio/núcleo retratado

Desse modo, nesse processo de reflexos socioculturais, o léxico onomástico é marcado


pela motivação que se delineia a partir das escolhas denominativas que particularizam homens,
lugares, deuses, animais – com base nas subjetividades do nomeador. Por isso, Martins (1991,
p. 105) diz que o nome próprio “é fruto do desejo de um Outro”.
A questão semântico-motivacional inerente aos estudos onomásticos em Libras foi
evidenciada nos estudos de Souza-Junior (2012), Bezerra (2016), Sousa (2018; 2019, 2022a;
2022b), Miranda (2020), Sousa e Quadros (2021) – com relação aos topônimos; Barros (2018),
Sousa et al (2020), Menezes (2021) e Souza (2022) – com relação aos antropônimos; Morais
(2022) e Venâncio (2023) – em relação aos oniônimos; e Oliveira (2023) – em relação aos
teônimos.
Em Sousa (2022a), apresentamos a possibilidade da subárea onomástica Zoonímia ser
estudada com base nos nomes de animais de surdos e destacamos algumas características que
poderiam influenciar os surdos no ato de nomeação: características físicas (relacionadas às
marcas evidentes no corpo do animal); características comportamentais (relacionadas ao
temperamento ou comportamento do animal) e Empréstimo da língua oral (relacionadas às
influências do português no sinal atribuído ao animal). Teixeira (2022) aplicou essa proposta
com dados coletados informalmente com surdos do seu ciclo de amizades e constatou que, nos
dados analisados, essas características estavam presentes.
No presente estudo, pedimos aos participantes que informassem os sinais dos seus
animais de estimação e, em seguida, nos explicassem o porquê da escolha daqueles sinais
99

específicos. Em seguida, agrupamos os dados em blocos, a partir das aproximações semânticas


das respostas dadas pelos participantes para atribuir taxionomias de organização. Para Conway
e Sligar (2002, p. 53), a taxionomia:

[...] é desenvolvida para prover uma instituição ou grupo uma estrutura


comum de conceitos e relações entre esses conceitos, para estruturar os
elementos léxicos da linguagem, produzindo uma rede semântica comum. [...]
permite a elaboração de um vocabulário controlado para recuperar a
informação, criar metadados 22.

Em Terra et al (2005, p. 1), encontramos que taxionomia “é um sistema utilizado para


classificar e facilitar o acesso à informação. Seu objetivo é representar conceitos através de
termos, melhorar a comunicação entre especialistas e outros públicos [...] oferecer um mapa do
processo de conhecimento”.
A utilização de taxionomias é comum nos estudos onomásticos. Stewart (1954), por
exemplo, propôs que os topônimos (placenames) fossem categorizados a partir de 9 grupos:
Descriptive Names, Possessive Names, Incident Names, Commemorative Names, Euphemistic
Names, Manufactured Names, Shift Names, Folk Etymologies e Mistake Names. Dick (1990)
também propôs as taxionomias para os topônimos em português, distribuindo-os em
taxionomias de Natureza Física (11 taxes) e Natureza Antropocultural (16 taxes). Sousa (2022b)
usa as mesmas taxionomias de Dick para classificar os topônimos em Libras, com as devidas
adaptações para as línguas de sinais. Para os antropônimos em ASL, Supalla (1992) indicou
sinais-nome descritivos e arbitrários. E Barros (2018), para os sinais-nome em Libras, propôs:
Aspecto Físico, Aspecto Comportamental, Aspecto Social e Empréstimo da Língua Oral.
Agrupamos, então, os motivadores identificados nos dados da pesquisa, a partir de
aproximações semânticas. Ao final, apresentaremos nossa proposta taxionômica.

5.3.2.1 Características Físicas

O primeiro grupo de motivadores que identificamos em nosso estudo relacionado aos


animais de estimação foi relacionado às características físicas dos animais. Os dados podem ser
visualizados na seguinte tabela:

22
“[...] is developed to provide an institution or group with a common structure of concepts
and relationships between these concepts, to structure the lexical elements of language, producing a
common semantic network. [...] allows the elaboration of a controlled vocabulary to retrieve
information, create metadata” (CONWAY et al, 2002, p. 52).
100

Tabela 14 – Características físicas por localidade


Características Rio Branco Campinas Total
físicas/localidade N % n % n %
23
Tipo de pelo 09 8,49 08 7,55 17 16,04
Cor do pelo 07 6,60 03 2,83 10 9,43
Formato do pelo 05 4,72 03 2,83 08 7,55
Formato das orelhas 02 1,89 04 3,77 06 5,66
24
Formato do focinho 01 0,94 00 0 01 0,94
Marcas no pelo 10 9,43 09 8,49 19 17,92
Cor dos olhos 02 1,89 01 0,94 03 2,83
Cor do focinho 00 0 01 0,94 01 0,94
Outras marcas 01 0,94 00 0 01 0,94
Não se aplica 19 17,92 21 19,87 40 37,74
Total 106 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Como se vê, no conjunto de características físicas, o aspecto preponderante foi “marcas


no pelo (ou pena ou escama)”: 17,92%; seguido de “tipo de pelo (ou pena ou escama)”: 16,04%;
e em seguida, “Cor do pelo (ou pena ou escama)”: 9, 43%. Outras características apontadas
pelos participantes foram (em ordem de ocorrências): formato do pelo, formatos das orelhas,
cor dos olhos, formato do focinho (ou bico) e cor do focinho (ou bico).
As falas dos participantes, a seguir, revelam como o aspecto visual (físico) favorece a
escolha do sinal para o animal de estimação.

Quando eu olhei para o mau cachorro pela primeira vez, eu vi as marcas


assim no corpo dele [Indicando as marcas no corpo] e eu achei muito bonito.
Eu escolhi esse sinal para ele logo. É o sinal dele. (CPQ_GA_M_Ent29)

A seguir, vemos a imagem da entrevista do participante em tela, quando faz referência


ao sinal atribuído ao seu cachorro.

23
Pelo ou escamas ou penas.
24
Focinho ou bico.
101

Figura 43 – Sinal zoonímico com característica física I

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A estrutura do sinal é descrita a seguir, em SignWriting, a partir dos parâmetros de


formação.

Figura 44 – Sinal zoonímico com característica física I em SignWriting

Fonte: Produzido pelo pesquisador.

Em outra entrevista, a participante também revela o aspecto físico como motivador


para a atribuição do sinal do animal de estimação: o cachorro.
102

Meu cachorro tem uns pelos arrepiados aqui no peito [Aponta o local], Ele é
todo preto e aqui no peito é diferente. É branco. Aí eu dei o sinal. [Eu
perguntei: o sinal é porque o pelo é branco?] Não. Porque é arrepiado,
diferente. (CPQ_GC_F_Ent42)

O momento da entrevista em que a participante informa o sinal zoonímico pode ser


visualizado na figura seguir.

Figura 45 – Sinal zoonímico com característica física II

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A descrição do sinal a partir dos parâmetros de formação pode ser visualizada a seguir,
em SignWriting:

Figura 46 – Sinal zoonímico com característica física II em SignWriting

Fonte: Produzido pelo pesquisador.

5.3.2.2 Características Comportamentais

O segundo grupo de taxionomias mais recorrente foi o de características


comportamentais dos animais. Na tabela a seguir, apresentamos os aspectos comportamentais
103

informados pelos participantes como motivadores dos sinais atribuídos aos animais de
estimação.

Tabela 15 – Características comportamentais por localidade


Rio Branco Campinas Total
Comportamento/localidade
N % n % n %
Modo de caminhar25 03 2,83 05 4,72 08 7,55
Modo de brincar 02 1,89 04 3,77 06 5,66
Modo de dormir 01 0,94 01 0,94 02 1,89
Modo de comer 00 0 01 0,94 01 0,94
Temperamento 03 2,83 03 2,83 06 5,66
Mal comportamento 02 1,89 01 0,94 03 2,83
Não se aplica 45 42,45 35 33,02 80 75,47
Total 106 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa

Como se pode observar, o modo de caminhar (ou voar ou nadar) foi o principal
motivador para a atribuição dos sinais zoonímicos: 7,55% - sendo o número mais expressivo
em Campinas, 4,72%.
O modo de brincar e o temperamento dos animais foram os segundos motivadores
mais citados na criação dos sinais zoonímicos entre os participantes da pesquisa: 5,66% cada
um. Os participantes indicaram, também, o mal comportamento do animal, o modo de dormir
e o modo de comer dos seus animais de estimação.
Selecionamos um trecho de entrevista que apresenta a característica comportamental
como influenciadora no ato do batismo do animal.

Esse jabuti já existia há muito tempo na minha casa, mas não tinha sinal. Um
dia eu pensei em dar um sinal para ele porque meus dois cachorros tinham
sinal. Eu fiquei olhando pra ele pensando num sinal. Então, depois de um
tempo, eu vi que ele andava muito devagar, assim olhando para os lados
[Mostrando o jeito de caminhar]. Então esse ficou o sinal dele.
(CPQ_GC_F_Ent52)

A participante, portanto, destaca que o modo de caminhar do jabuti foi o que a


influenciou no ato de nomeação do animal de estimação. A seguir, mostramos a imagem com
o momento da entrevista em que o sinal é apresentado.

25
Modo de caminhar, voar ou nadar.
104

Figura 47 – Sinal zoonímico com característica comportamental I

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A descrição do sinal a partir dos parâmetros de formação pode ser visualizada a seguir,
em SignWriting, foi apresentada na figura 5, na seção 1.1.1 deste estudo, quando falamos sobre
a formação fonético-fonológica dos sinais em Libras.
Outro participante também fala sobre o que motivou a atribuir o sinal a seu animal de
estimação:

Meu cachorro é pequeno assim [Indicando o tamanho do animal]. Ele é muito


bagunceiro. Muito mesmo. Morde tudo: os chinelos, as roupas, tudo. Minha
mãe fica muito brava. Eu tinha dado outro sinal para ele, mas como ele é
muito agitado, o sinal ficou “trabalhoso”. Dá muito trabalho. [Risos]
(CPQ_GB_M_Emt47).

A seguir, pode ser visualizada a imagem da entrevista quando o participante informa


o sinal do animal.

Figura 48 – Sinal zoonímico com característica comportamental II

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A descrição do sinal a partir dos parâmetros de formação (CM, PA, M, O e ENM)


pode ser visualizada a seguir, em SignWriting.
105

Figura 49 – Sinal zoonímico com característica comportamental II em SignWriting

Fonte: Produzido pelo pesquisador.

Um aspecto que percebemos foi que, quando o sinal faz referência a um aspecto
comportamental, o parâmetro ENM é presente na estrutura fonológica (cf. figuras 47 e 48).

5.3.2.3 Influências externas ao animal

Os dados revelaram que alguns sinais zoonímicos foram criados por influências
externas ao animal: como a língua oral, uso de acessórios, metáforas entre outras. Aqui, vamos
individualmente de cada grupo. Iniciamos pela influência da língua oral. Embora em menor
expressividade, quando comparado com os sinais toponímicos e antroponímicos, foram
identificadas algumas ocorrências, como podem ser verificadas na tabela 16 a seguir:

Tabela 16 – Influência da língua oral por localidade


Rio Branco Campinas Total
Empréstimo/localidade
n % N % N %
Inicial do nome 00 0 00 0 0 0
Datilologia 00 0 01 0,94 01 0,94
Empréstimo associado 03 2,83 01 0,94 04 3,77
Não se aplica 53 50,00 48 45,28 101 95,28
Total 106 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa.

Faria-Nascimento (2009) mostrou que os empréstimos da língua portuguesa são muito


comuns na formação dos sinais em Libras. Sousa (2022b) diz que isso é explicado pelo contato
106

entre as duas línguas e pelo fato de os surdos serem bilíngues, usando a Libras como a primeira
língua (L1) e a língua portuguesa escrita como segunda língua (L2).
Nos dados da pesquisa, 3,77% dos sinais apresentaram empréstimo associado: quando
a referência à letra do nome em português é incorporada (ou aglutinada) na estrutura do sinal
em Libras. A seguir, mostramos um trecho da entrevista em que a participante explica a
motivação do sinal zoonímico.

Meu cachorro se chama M-A-X. Foi o nome que meu pai deu. Mas eu queria
um sinal em Libras pra ele. Então, percebi que ele franzia a testa assim
[Mostrando a testa franzida]. Então dei o sinal com o M na testa e o X no lado
do rosto. O sinal ficou assim. (RBR_GC_F_Ent11)

O trecho da entrevista pode ser visualizado a seguir.

Figura 50 – Sinal zoonímico por Empréstimo da Língua Oral

Fonte: Arquivo da pesquisa.

A seguir, apresentamos, em SignWriting, a descrição do sinal:

Figura 51 – Sinal zoonímico por Empréstimo da Língua Oral em SignWriting

Fonte: Produzido pelo pesquisador.


107

Apenas uma participante fez a soletração manual do sinal, com base no nome do
animal em língua portuguesa.

Minha gata se chama M-I-L-A. Eu deixei esse sinal para ela. Não quis criar
outro. Deixei assim mesmo. Eu gosto. (CPQ_GC_F_Ent44)

Na classificação de Faria-Nascimento (2009), trata-se de uma transliteração


pragmática, pois se utiliza das configurações manuais referentes às letras do nome em
português.
Na seleção dos sinais próprios dos animais de estimação dos participantes surdos,
verificamos que alguns sinais não se encaixavam nas taxionomias anteriores. Reunimos esses
motivadores na tabela 17 a seguir:

Tabela 17 – Outros motivadores por localidade


Rio Branco Campinas Total
Outros motivadores/localidade
n % N % n %
Metáfora 01 0,94 01 0,94 02 1,89
Raça 02 1,89 01 0,94 03 2,83
Filmes/personagens/artistas 01 0,94 02 1,89 03 2,83
Acessórios 01 0,94 00 0 01 0,94
Não se aplica 51 48,11 46 43,40 97 91,51
Total 106 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa

Para exemplificar a metáfora, vejamos o trecho da entrevista a seguir:

Eu ganhei um coelho. Ele era pequeno e bem calmo. Mas ele foi crescendo
muito. Ficou assim [Mostrando o tamanho do animal] Ele começou a
bagunçar tudo, comer as coisas pela casa. Então eu dei o sinal pra ele
CACHORRO. Ele parece um cachorro. E não tem medo dos meus dois
cachorros. Parece irmãos. O sinal ficou CACHORRO então.
(CPQ_GC_F_Ent52)

O momento da entrevista em que a participante apresenta o sinal e a motivação


semântica do sinal pode ser visualizado a seguir.
108

Figura 53 – Sinal zoonímico formado por metáfora

Fonte: Arquivo da pesquisa.

As metáforas em Libras foram estudadas por Silva-Junior (2018, p. 49) que explica:
“os surdos possuem relação com o mundo e suas experiências, revelando suas intenções e
produções de sentido. Entre os recursos utilizados para a significação dessas experiências
(sociais, emocionais e sensório-motoras) está o uso das metáforas.
O conceito de metáfora, utilizado pelo autor (e que assumimos neste estudo) é o
formulado por Lakoff e Johnson (2002, p. 93): “a metáfora é principalmente um modo de
conceber uma coisa em termos de outra e sua função principal é a compreensão”. Assim,
quando a participante dá o sinal CACHORRO ao seu coelho, ela relaciona as características do
cachorro “bagunceiro, comilão” ao outro animal.
Outro sinal zoonímico atribuído a um animal foi motivado pela raça do cão, como
podemos perceber no trecho a seguir:

Meu cachorro é um Pitbull. Mas ele é calmo e fica o tempo todo comigo. Não
ataca ninguém. É calmo. Eu dei o sinal dele PITBULL [Apontando para as
orelhas – que o sinal atribuído à raça] (CPQ_GC_M_Ent34)

A seguir, mostramos o momento da entrevista em que o participante fala da motivação


do sinal do seu cachorro.

Figura 54 – Sinal zoonímico motivado pela raça

Fonte: Arquivo da pesquisa.


109

Durante as entrevistas, identificamos 3 sinais motivados pela raça do animal. Nos três
casos, os participantes se referiam à raça Pitbull. Os três participantes informaram que o sinal
bimanual realizado no espaço neutro, próximo à orelha se refere à raça em questão.
Em outros três casos, tivemos sinais motivados por artistas ou personagens de filmes.
As motivações foram relacionadas aos sinais em Libras dos artistas e/ou personagens de filmes
(e não de seus nomes em língua oral). Foi o caso do sinal FRIDA KHALO, ARIEL e XUXA.
A seguir, mostraremos o trecho da entrevista em que a participante explica a motivação do sinal
do seu peixe.

Eu tenho um peixe também. Ele é bem colorido. Não sei se é um peixe ou


“uma peixa” mas dei o sinal ARIEL, igual ao filme. (RBR_GC_F_Ent7).

Segue, na figura 55, o momento da entrevista em que a participante apresenta o sinal


ARIEL atribuído a seu peixe, inspirado no sinal da personagem Ariel do filme A Pequena
Sereia.

Figura 55 – Sinal zoonímico motivado por artistas e/ou personagens

Fonte: Arquivo da pesquisa.

Por fim, 2 participantes da pesquisa (1 de Rio Branco e 1 de Campinas) apresentaram


sinais zoonímicos motivados por acessórios utilizados pelos animais de estimação. No trecho a
seguir, podemos verificar esse aspecto motivacional.

O sinal dela é esse [Indicando o local do lado direito acima da cabeça] porque
ela gosta de usar um lacinho. Sempre, desde pequena, ela usa.
(CPQ_GC_F_Ent38).

A seguir, apresentamos a figura 56, com a participante apresentando sinal zoonímico


do seu animal de estimação.
110

Figura 56 – Sinal zoonímico motivado por acessórios

Fonte: Arquivo da pesquisa.

Além do lacinho, nos dados apareceu, também, um sinal motivado pela coleira usada
pelo gato de um dos participantes. Vale destacar que os exemplos apresentados nas figuras são
recortes das entrevistas. Selecionamos apenas alguns itens onomásticos para ilustrar a pesquisa,
mas que representam o conjunto de taxes e subtaxes do léxico onomástico zoonímico em Libras.

5.3.2.5 Proposta Taxionômica

Concluídas as análises, organizamos uma síntese dos dados na tabela 18, a seguir, de
modo a termos uma visão geral das taxionomias gerais e seus respectivos números percentuais.

Tabela 18 – Resumo: categorias por localidade


Rio Branco Campinas Total
Categorias/localidade
n % N % n %
Físicas 37 34,91 29 27,36 66 62,26
Comportamentos 11 10,38 15 14,15 26 24,53
Influência da língua oral 03 2,83 02 1,89 05 4,72
Outros motivadores 05 4,72 04 3,77 09 8,49
Total 56 52,83 50 47,17 106 100
Fonte: Dados da pesquisa

As características físicas foram as mais expressivas, tanto em Rio Branco (34,91%),


quanto em Campinas (27,36%), somando 62,26% do total. Esse resultado foi seguido pelo
aspecto comportamental, que totalizou 24,53% dos dados – 10,38% em Rio Branco e 14,15%
em Campinas.
Os sinais agrupados como “Outros motivadores” totalizaram 8,49%. Por fim, tivemos
os influenciados pela língua oral com a soma de 4,72% - um valor muito pequeno quando
comparado a outros estudos onomásticos em Libras, que apresentam grande expressividade de
reflexos da língua portuguesa na formação dos sinais próprios de pessoas e lugares.
111

Após verificar os grupos de aproximações semânticas – com base em Conway e Sligar


(2002) e Terra et al (2005) – e considerando a natureza dos referentes e a percepção dos
nomeadores no processo de escolha dos sinais, dividimos os sinais em três grupos:

1) Aspectos Zooanatômicos: sinais que são motivados por aspectos relacionados ao corpo
do animal, e que são captados visualmente pelos surdos. Neste grupo, estão os sinais
motivados por características do pelo (ou penas, escamas, peles): tipo, tamanho, cor,
formato ou algum outro aspecto evidente; por características do focinho (ou bico, ou
boca): formato, cor, tamanho; por características da orelha (formato, tamanho, cor), por
características das patas (tamanho, formato), das asas (formato, cor), das barbatanas e
das caldas (formato, cor); das crinas (formato, tamanho, cor), da carapaça (formato,
altura, cor) entre outras. Além dessas subtaxes, podemos incluir as deficiências
observadas no corpo do animal e que motivam a criação do sinal zoonímico (como o
rabo quebrado, por exemplo). Esses sinais apresentam forte iconicidade e são,
geralmente, marcados (produzidos) no corpo do sinalizante.
2) Aspectos Zooetológicos: sinais que são motivados por características comportamentais
e temperamentais observadas nos animais de estimação. Estão refletidas nos modos
como os animais interagem com os humanos e com o ambiente que os cerca. Esses
aspectos influenciam os surdos no ato de nomeação do animal, com base nas suas
percepções visuais. Nesse grupo, estão os sinais motivados pela maneira que o animal
caminha (ou rasteja, ou voa, ou nada), pela maneira que o animal dorme, se alimenta,
brinca; pelo modo como o animal interage com o tutor, pela forma como o animal late,
ronrona, canta26; pelo olhar do animal, ou a forma como ele rosna. Também são
incluídas nessas subtaxes, as manifestações de carinho ou de agressividade doa animais.
3) Aspectos Zooextrínsecos: sinais que são motivados por aspectos externos ao físico e/ao
ao comportamento do animal. Nessa taxe, são incluídos os sinais zoonímicos
influenciados pela língua oral (datilologia, inicialização, empréstimo associado); sinais
criados a partir de relações metafóricas; sinais influenciados por personagens de filmes,
desenhos e novelas; sinais que homenageiam artistas; sinais motivados pelos acessórios
que os animais usam (lacinhos, coleiras, sela, roupas etc.) entre outros motivadores
externos ao animal.

26
Embora essas características sejam percebidas pelos sons emitidos, há percepções visuais do animal
que estimulam os nomeadores no ato de atribuir o sinal próprio.
112

Vale lembrar que alguns sinais podem apresentar motivações agrupadas. Há nomeações
zoonímicas, por exemplo, que associam a letras do nome do animal em língua portuguesa com
uma característica física (como ocorreu no sinal zoonímico exemplificado na figura 50 deste
estudo).
Esse fenômeno também foi observado, por exemplo, por Barros (2018), quando estudou
as motivações dos sinais de pessoas; e por Sousa e Quadros (2021), ao descrever os sinais
toponímicos do Acre.

Figura 57 – Taxionomias Zoonímicas

Fonte: Produzido pelo pesquisador.

O conjunto de taxionomias e os procedimentos de análise possibilitam a realização de


outras investigações sobre o léxico zoonímico em línguas de sinais. Os dados, embora tenham
sido selecionados apenas em duas cidades brasileiras – Rio Branco e Campinas – constituem
um reflexo do que ocorre nas nomeações próprias atribuídas pelos surdos aos seus animais de
estimação.
113

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É no léxico, entre os componentes da língua, onde melhor podemos perceber os


reflexos da cultura do povo que a fala. A Onomástica é a disciplina linguística que se encarrega
do estudo dos nomes próprios, que são, segundo Dick (1990), verdadeiros testemunhos da
história, das diferentes visões de mundo, de tal modo que seu valor é muito maior que seu
principal objetivo: nomear.
Em línguas de sinais, algumas pesquisas têm se debruçado a compreender a relação
entre o sinal próprio e o seu referente, e, ainda, caracterizar esse item lexical nas suas dimensões
formais e semânticas. Assim, o sinal-nome de pessoas, os sinais de lugares, os sinais de deuses,
os sinais de estabelecimentos comerciais e educacionais já foram objeto de investigações, na
Libras e em outras línguas de sinais.
Na presente pesquisa, nos propomos estudar os sinais atribuídos por surdos para seus
animais de estimação. Nossa pergunta de estudo foi: quais as características formais e
semântico-motivacionais dos sinais zoonímicos em Libras? Traçamos, então, como nosso
principal objetivo caracterizar formal e semanticamente os sinais atribuídos por surdos aos
animais de estimação.
Para atingir esse propósito, realizamos entrevistas com pessoas surdas, de ambos os
sexos, com idades variando entre 10 e 20 anos. As interações foram filmadas em Rio Branco
(28 entrevistas) e em Campinas (24 entrevistas), e totalizaram 106 sinais. As entrevistas
continham perguntas sobre o perfil dos participantes (a origem da surdez, o contexto familiar,
a aquisição da Libras, por exemplo) e sobre a relação entre o participante e o animal de
estimação – o que culminava com o nosso principal interesse: identificar o sinal do animal e a
motivação para a escolha desse sinal. Nesta investigação, adotamos a abordagem quali-quanti
e o método de análise de conteúdo para compreender o processo de nomeação – foco do nosso
estudo.
Aqui, nas considerações finais, retomaremos cada objetivo específico e mostraremos
de que forma ele foi (ou não) alcançado. O primeiro objetivo específico foi traçar o perfil dos
participantes da pesquisa, com base no processo de aquisição da Libras e das relações com os
animais de estimação. Nossos dados mostraram que a maior parte dos participantes aprenderam
Libras acima dos 10 anos (78,85%) e em contexto escolar (51,92%). Quadros (2019) já
afirmava que essa é uma realidade do contexto educacional de surdos no Brasil.
Sobre possuir animais de estimação, 94,23% responderam positivamente. Entre os
animais mais presentes na vida dos surdos participantes da pesquisa estão: cachorros (35,85%),
114

gatos (34,91%), pássaros (10,38%) e jabutis (5,66%). Foram citados, ainda, peixes, hamster,
cavalo e coelho. Desses animais, 88,46% possuem um sinal próprio que os singulariza.
O convívio com os animais e a afetividade dos participantes (demonstrada durante a
entrevista) confirmam o que Tatibana e Costa-Val (2009) defendem a respeito dos laços que
são estabelecidos entre humanos e animais – especialmente crianças e adolescentes. As
pesquisadoras destacam que as relações entre as pessoas e os animais domésticos estimulam o
desenvolvimento da sensibilidade e do senso de responsabilidade.
O segundo objetivo foi classificar os sinais zoonímicos em Libras, com base nos tipos
de formação. Partimos da proposta de Sousa (2019) e verificamos que 92,45% dos dados são
do tipo simples e 2,83% do tipo composto. Esse resultado evidencia que a criação dos sinais
zoonímicos valorizou a “pureza” da língua de sinais, uma vez que não houve influência da
língua oral na soma entre os dois tipos de formações. Apenas 4,72% dos sinais atribuídos aos
animais de estimação possuíam caráter híbrido.
O terceiro objetivo foi identificar os aspectos motivacionais que influenciam os surdos
no ato de nomeação dos animais de estimação em Libras. Os dados mostraram que o aspecto
físico foi o preponderante: 62,26% dos dados. Em segundo lugar apareceram os sinais
zoonímicos motivados por aspectos comportamentais dos bichos: 24,53%. Os sinais que foram
motivados pela língua oral totalizaram 4,72%.
Entre os motivadores, é interessante destacar os sinais criados a partir de relações
metafóricas e os sinais criados com base em referentes como personagens de filmes (Sinal em
Libras da personagem Arial, do filme A Pequena Sereia) ou artistas, como Frida Khalo e Xuxa).
Além disso, alguns sinais foram motivados por acessórios usados pelos animais, como lacinhos
e coleiras. Os dados mostram a diversidade e a criatividade no processo de expansão lexical em
Libras – fenômeno destacado por Biderman (1998; 2001), Sousa (2019; 2022a; 2022b), entre
outros pesquisadores do léxico.
O quarto objetivo foi elaborar taxes para a classificação dos sinais zoonímicos, com
base nas características dos dados obtidos. O conjunto de motivações para a escolha dos sinais
dos animais de estimação foram agrupadas em 4 grandes grupos taxionômicos (Aspecto Físico,
Aspecto Comportamental, Empréstimo da Língua Oral e Outros Motivadores) que, por sua vez,
geraram subtaxes.
E, por fim, intentamos quantificar os dados da pesquisa. Ao logo de toda a análise os
resultados foram quantificados, em números percentuais, e distribuídos em tabelas com as
informações de Rio Branco e Campinas. Essa estratégia foi importante para compreendermos,
115

ao final, que não houve diferenças substanciais entre os processos de nomeação, ainda que os
espaços culturais entre os participantes fossem distantes geograficamente.
Desse modo, consideramos que nosso objetivo foi alcançado uma que as respostas de
cada objetivo específico respondem nossa questão de pesquisa: quais as características formais
e semântico-motivacionais dos sinais zoonímicos em Libras? Em síntese, podemos afirmar que
os sinais zoonímicos pesquisados são formados, em sua grande maioria, a partir das
especificidades da Libras e, semanticamente, privilegiam as características físicas e
comportamentais dos animais nomeados.
De acordo com o Decreto 5626/2005, em seu Art. 2º, a pessoa surda é aquela que
“compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua
cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras”. Strobel (2018) afirma
que a cultura surda “é o jeito de o surdo entender o mundo [...] ajustando-o com a suas
percepções visuais. [...] Isso significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes
e os hábitos do povo surdo” (STROBEL, 2018, p. 29).
Assim, podemos concluir que a geração do léxico zoonímico se dá a partir da
percepção do surdo ao identificar marcas visuais do seu animal, que os aproximam por meio de
uma afetividade refletida no sinal (nome próprio). Como afirmamos em Sousa (2022a, p. 6):
“Nomear é fazer existir”. Portanto, ao dar um nome em sua língua, o sujeito surdo dá existência
aos animais em seu universo linguístico e humano, pois a língua – seja sinalizada, seja oral – é
ponte que nos aduna ao mundo.
116

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125

APÊNDICE I

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Zoonímia em Libras: proposta metodológica para a pesquisa com sinais próprios que
nomeiam animais de estimação de surdos

Número do CAAE: 64032422.0.0000.5404

APRESENTAÇÃO DA PESQUISA:

Você está sendo convidado a participar como voluntário da pesquisa Zoonímia em Libras:
proposta metodológica para a pesquisa com sinais próprios que nomeiam animais de
estimação de surdos, que será realizada na Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, sob
a responsabilidade do pesquisador Alexandre Melo de Sousa e Ivani Rodrigues Silva. As
informações presentes neste documento foram fornecidas pelo pesquisador Alexandre Melo de
Sousa.

Este documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa assegurar seus
direitos como participante e é elaborado em duas vias, uma que ficará com você e outra que
ficará com o pesquisador.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se tiver
perguntas antes ou mesmo depois assinar o Termo, você poderá esclarecê-las com o
pesquisador. Se preferir, você pode levar este Termo para casa e consultar seus familiares ou
outras pessoas antes de decidir participar. Não haverá qualquer tipo de penalização ou prejuízo
se você não quiser participar ou se retirar sua autorização em qualquer momento, mesmo depois
de iniciar sua participação na pesquisa. É importante realizar esta pesquisa porque você é
usuário de Libras e irá contribuir para a pesquisa na subárea da onomástica.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Objetivos: O objetivo desta pesquisa será coletar amostras de sinais zoonímicos para análise e
produção de uma proposta metodológica em Libras. Com isso, nós queremos documentar os
sinais de animais de estimação em Campinas (SP) e em Rio Branco (AC) e analisá-los em
termos formais e semântico-motivacionais.

Procedimentos e metodologias: Participando do estudo você está sendo convidado para


entrevistas de aproximadamente 20 minutos realizadas por meio de vídeos. Você vai contar
sobre você e sobre seus animais de estimação. Todas estas atividades serão filmadas. Estas
filmagens serão transcritas pelo pesquisador. Você não terá necessidade de deslocamento físico
porque o pesquisador irá até sua escola ou o local onde você escolher para realizar a entrevista.
126

Desconfortos e riscos previstos: Como a pesquisa será realizada com seres humanos, durante o
processo de realização, poderá apresentar riscos para os participantes da pesquisa:

a) Psíquicos: medo ou sentimento de insegurança durante a entrevista sinalizada, tendo em


vista que o pesquisador estará lhes observando e fazendo perguntas, propondo diálogos
enquanto estão sendo filmados.

b) Físicos: ocasionado pela duração das filmagens (coleta dos dados).

c) Emocional: cansaço mental e/ou estresse em decorrência da exposição durante as


filmagens para coleta dos dados.

d) Social/cultural: pode ser que durante a pesquisa o participante altere sua visão de
mundo, de relacionamento e de comportamento.

e) Intelectual, moral e de identificação pública dos participantes: a construção do estudo


se dá por meio de gravações em vídeos dos participantes das pesquisas, cuja língua é de
modalidade visual-espacial. Desse modo, haverá identificação dos participantes da pesquisa e
os conteúdos das gravações.

Prevenção e amenização de riscos: Buscamos alguns procedimentos para serem adotados


durante as observações, a aplicação dos instrumentos de coleta de dados e as filmagens:

1. Com relação ao medo ou insegurança por parte dos docentes, o pesquisador interage
bem em Libras e participa ativamente da comunidade surdos, no âmbito educacional e social,
o que dará, aos participantes mais segurança durante as atividades de filmagem. Serão evitadas,
ainda, interrupções durante a coleta dos dados.

2. O pesquisador conversará antecipadamente com os participantes da pesquisa para


agendar e conciliar os horários das filmagens para evitar cansaço físico dos participantes. Se
necessário, serão feitos intervalos durante as gravações para evitar a sobrecarga física.

3. Como forma de evitar possível cansaço mental e/ou estresse para os participantes da
pesquisa o pesquisador realizará conversas informais, com os participantes, e, se for o caso,
dividirá a etapa de filmagens em etapas, com dias alternados e de acordo com a disponibilidade
dos participantes.

4. Os diálogos poderão abordar temas sociais e culturais que possibilitarão mudança de


opiniões e visões de mundo. O pesquisador não interferirá nos posicionamentos dos
participantes da pesquisa.

5. Para o comprometimento com a identificação pessoal, moral e intelectual dos


participantes, embora seja impossível a não-identificação (uma vez que a modalidade da língua
exige a filmagem), o pesquisador manterá sigilo quanto aos horários de filmagem e será fiel aos
termos constantes do TCLE, inclusive, enfatizando os benefícios que o estudo trará.

Além dessas providências e cautelas, esclarecemos que todos os dados coletados serão
arquivados no computador pessoal do pesquisador coordenador da investigação, protegido por
senha, com previsão de descarte de cinco anos após a coleta.

Benefícios do estudo: O Participante não terá benefícios diretos, mas presente estudo tem os
seguintes benefícios indiretos a seguir.
127

a) criação de um corpus representativo do léxico zoonímico de Língua Brasileira de Sinais,


com o envolvimento de registros em vídeo de situações eliciadas e espontâneas de uso, e que
podem ser empregados em pesquisas e para outros propósitos aplicados;

b) criação de um conjunto de diretrizes metodológicas para registrar e para arquivar dados


e metadados concernentes aos zoonimos da Libras para que também seja empregado em outros
pesquisas zoonímicas;

c) elaboração de um instrumento de natureza didático-pedagógica para utilização em aulas


de língua portuguesa escrita com alunos surdos dos anos iniciais do Ensino Fundamental

Forma de contato com os pesquisadores: Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá
entrar em contato com os pesquisadores Alexandre Melo de Sousa, Endereço Rodovia BR 364,
Km 04, Distrito Industrial, Campus Universitário, Rio Branco – AC, Email:
alexlinguista@gmail.com, Celular: (68) 99601-0260, Fone profissional (68) 3901-2500,
Lotação como Servidor: Centro de Educação, Letras e Artes/Campus de Rio
Branco/Universidade Federal do Acre; Ivani Rodrigues Silva, Email: ivanirs@unicamp.br,
celular: (19) 99478-7762 ou (19) 3521-8805, Lotação como Servidor: Faculdade de Ciências
Médicas, DDHR/CEPRE, UNICAMP, Rua Tessália Vieira de Camargo, 126 - Cidade
Universitária, Campinas – SP.

Forma de contato com Comitê de Ética em Pesquisa (CEP): O papel do CEP é avaliar e
acompanhar os aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos, protegendo os
participantes em seus direito e dignidade. Em caso de dúvidas, denúncias ou reclamações sobre
sua participação e sobre seus direitos como participante da pesquisa, entre em contato com a
secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Odontologia de
Piracicaba/UNICAMP: Av Limeira 901, FOP-Unicamp, CEP 13414-903, Piracicaba – SP.
Fone/Fax 19-2106.5349, e-mail cep@fop.unicamp.br e Web Page www.fop.unicamp.br/cep.

GARANTIAS AOS PARTICIPANTES:

Esclarecimentos: Você será informado e esclarecido sobre os aspectos relevantes da pesquisa,


antes, durante e depois da pesquisa, mesmo se esta informação causar sua recusa na participação
ou sua saída da pesquisa. Você não receberá nenhum pagamento, mas também não terá nenhum
custo, uma vez que a coleta ocorrerá em seu local de estudo em horário previamente agendado.

Direito de recusa a participar e direito de retirada do consentimento: Você tem o direito de se


recusar a participar da pesquisa e de desistir e retirar o seu consentimento em qualquer momento
da pesquisa sem que isso traga qualquer penalidade ou represálias de qualquer natureza e sem
que haja prejuízo ao seu tratamento iniciado ou por iniciar. Basta você informar ao pesquisador
sua desistência de participar.

Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e as
informações obtidas durante a pesquisa só serão acessadas pelos pesquisadores. Na divulgação
dos resultados desse estudo, informações que possam identificá-lo não serão mostradas ou
publicadas. Os participantes da pesquisa poderão receber um pseudônimo substituindo o nome
e informações pessoais na identificação da gravação dos participantes da pesquisa,
independentemente de sua imagem aparecer na gravação. O participante da pesquisa indicará
essa informação no Termo de Cessão de Filmagens. Importante mencionar que os participantes
serão informados que o pesquisador poderá utilizar os dados dos participantes da pesquisa para
fazer apresentações e publicações com os resultados do estudo, mas sem apresentar as suas
128

informações pessoais, caso o participante da pesquisa assim solicite. Com relação à imagem
dos participantes da pesquisa, ela poderá ser veiculada nessas apresentações e publicações,
tendo em vista a importância das expressões faciais e corporais na produção em Libras. Todos
os clips ou frames que incluem a sua imagem serão para apresentar exemplos da Libras, sem
nunca comprometer a sua imagem pessoal, caso haja o consentimento do participante. Em caso
de riscos e constrangimentos, as imagens serão descartas da pesquisa.

Ressarcimento e indenização: Você não terá qualquer despesa por participar na pesquisa. Você
não receberá nenhum pagamento, mas também não terá nenhum custo, uma vez que a coleta
ocorrerá em seu local de estudo em horário previamente agendado.

Tratamento dos dados: Esta pesquisa prevê o armazenamento dos dados coletados por 5 (cinco)
anos, em repositório de dados, em local virtual de acesso público, com o objetivo de possível
reutilização, verificação e compartilhamento em trabalhos de colaboração científica com outros
grupos de pesquisa. Sua identidade não será revelada nesses dados, pois os dados só serão
armazenados de forma anônima (isto é, os dados não terão identificação), utilizando
mecanismos que impeçam a possibilidade de associação, direta ou indireta com você. Cabe
ressaltar que quem compartilhar os dados também não terá possibilidade de identificação dos
participantes de quem os dados se originaram. Sendo assim, não haverá possibilidade de
reversão da anonimização.

Indenização e medidas de reparação: Não há previsão de indenização ou de medidas de reparo,


pois não há previsão de risco ou de dano pela participação na pesquisa, mas você tem o direito
de buscar indenização e reparação se se sentir prejudicado pela participação na pesquisa.
Ressalta-se que eventuais danos não previstos, mas resultantes da sua participação na pesquisa
são passiveis de reparação/indenização, desde que haja nexo causal comprovado.

Autorização de uso de imagem: Ao assinar este Termo, o participante autoriza o uso de suas
imagens cedendo os direitos aos pesquisadores (LEI N. 9.610/98). Como os dados são em
Libras (Língua Brasileira de Sinais) – uma língua de modalidade visual-espacial – os dados
serão gravados e fotografados durante as entrevistas.

Entrega de via do TCLE: Você receberá uma via deste Termo assinada e rubricada pelo
pesquisador.

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO:

Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,
benefícios previstos, potenciais riscos e desconfortos que esta pode acarretar, aceito participar
e ceder direitos de imagens, e declaro ter recebido uma via original deste documento rubricada
em todas as folhas e assinada ao final, pelo pesquisador e por mim:

Nome do (a) participante:


________________________________________________________

Contato telefônico:
_____________________________________________________________

e-mail (opcional):
______________________________________________________________
129

_______________________________________________________

Data: ____/_____/______.

(Assinatura do participante ou nome e assinatura do seu RESPONSÁVEL LEGAL)

Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares na


elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Asseguro, também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo
que o estudo foi aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me
a utilizar o material e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades
previstas neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.

______________________________________________________

Data: ____/_____/______.

(Assinatura do pesquisador)
130

APÊNDICE II

TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PESQUISA: Zoonímia em Libras: proposta metodológica para a pesquisa com sinais


próprios que nomeiam animais de estimação de surdos

Para crianças e adolescentes (para participantes de 10 a 13 anos) e para


legalmente incapaz.

O assentimento informado para a criança/adolescente não substitui a necessidade de


consentimento informado dos pais e/ou responsáveis. O assentimento assinado pela criança
demonstra a sua cooperação na pesquisa.

Você está sendo convidado a participar da pesquisa Zoonímia em Libras: proposta


metodológica para a pesquisa com sinais próprios que nomeiam animais de estimação
de surdos, coordenada pelo professor Doutor Alexandre Melo de Sousa, da Universidade
Federal do Acre, sob a supervisão da professora Doutora Ivani Rodrigues Silva, do Centro
de Estudo e Pesquisa em Reabilitação, da UNICAMP.
Esta pesquisa quer descrever como as crianças e jovens surdos dão nomes (sinais) aos
seus animais de estimação: cachorros, gatos, peixes entre outros.
Você só participa da pesquisa se quiser, ou seja, se em algum momento não quiser
mais participar desta pesquisa você pode parar de participar. Ninguém ficará bravo com você
e não tem nenhum problema se não quiser mais participar.
A pesquisa será feita na _____________________________________onde você já
frequenta, e o pesquisador realizará entrevistas filmadas para que suas respostas fiquem bem
claras e disponíveis para siistir futuramente. Você poderá ficar na companhia de sua/seu
Tradutor-Intérprete. Se acontecer algo de errado, você poderá comunicar aos seus pais
ou responsáveis.
Há coisas legais que podem acontecer, como por exemplo, quando esta pesquisa
acabar, os resultados poderão ajudar no ensino de Libras para crianças e jovens surdos.

Você poderá escolher um outro nome para nós identificarmos você. Suas informações
serão guardadas apenas para os pesquisadores. Fique tranquilo, não há risco previsível
nenhum para você mas se houver incômodo em alguma fase da pesquisa e você desejar
não mais participar, você estará livre, e todos os seus direitos serão respeitados.
Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas
131

do estudo, você pode informar aos seus pais ou responsáveis. Há atendimento em Libras
na Unicamp na Central TILS (tradutores e Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais)
da Unicamp (site https://wwwprg,unicamp.br/tils/) e no Núcléo de Apoio à Inclusão
(NAI) da Univeersidade Federal do Acre (site https://www.ufac.br/site/ufac/proaes/nai).
O Comitê de Ética em Pesquisa(CEP) é responsável pela avaliação e acompanhamento dos
aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos, visando a salvaguardar a
dignidade, os direitos, a segurança e o bem-estar dos participantes da pesquisa. O participante
surdo será entrevistado em libras pelo pesquisador.

O pesquisador tirou minhas dúvidas e conversaram com os meus responsáveis.


Entendi que posso dizer “sim” e participar, mas que, a qualquer momento, posso dizer
“não”e desistir e que ninguém vai ficar furioso.

Recebi uma via deste termo de assentimento e li, e concordo em participar da pesquisa.

Participante

Pesquisador
132

APÊNDICE III

TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

PESQUISA: Zoonímia em Libras: proposta metodológica para a pesquisa com sinais


próprios que nomeiam animais de estimação de surdos

Para crianças e adolescentes (para participantes de 14 a 17 anos) e para


legalmente incapaz.

O assentimento informado para a criança/adolescente não substitui a necessidade de


consentimento informado dos pais e/ou responsáveis. O assentimento assinado pela criança
demonstra a sua cooperação na pesquisa.

Você está sendo convidado a participar da pesquisa Zoonímia em Libras: proposta


metodológica para a pesquisa com sinais próprios que nomeiam animais de estimação
de surdos, coordenada pelo professor Doutor Alexandre Melo de Sousa, da Universidade
Federal do Acre, sob a supervisão da professora Doutora Ivani Rodrigues Silva, do Centro
de Estudo e Pesquisa em Reabilitação, da UNICAMP.
Esta pesquisa quer descrever como as crianças e jovens surdos dão nomes (sinais) aos
seus animais de estimação: cachorros, gatos, peixes entre outros.
Sua participação na pesquisa é opcional e você poderá desistir de participar no
momento que quiser.
A pesquisa será feita na___________________________________________,onde
você já frequenta, e o pesquisador gravará as entrevistas e elas ficarão guardadas por 5 anos.
Sua identidade será preservada e voô pode escolher um nome para ser identificado nos
arquivos. Se achar mais confortável, pode pedir que sua/seu Tradutor-Intérprete lhe
acompanhe e assista às filmagens. Se acontecer algo de errado, você poderá comunicar
aos seus pais ou responsáveis.
Quando a pesquisa for concluída, os resultados contribuirão para o ensino da Libras
como primeira língua e como segunda língua. Então será legal participar!
Fique tranquilo, não há risco previsível nenhum para você mas se houver
incômodo em alguma fase da pesquisa e você desejar não mais participar, você estará livre,
e todos os seus direitos serão respeitados.Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua
participação e sobre questões éticas do estudo, você pode informar aos seus pais ou
responsáveis. Há atendimento em Libras na Unicamp na Central TILS (tradutores e
133

Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais) da Unicamp (site


https://wwwprg,unicamp.br/tils/) e no Núcléo de Apoio à Inclusão (NAI) da
Univeersidade Federal do Acre (site https://www.ufac.br/site/ufac/proaes/nai). O
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é responsável pela avaliação e acompanhamento dos
aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos, visando a salvaguardar a
dignidade, os direitos, a segurança e o bem-estar dos participantes da pesquisa. O participante
surdo será entrevistado em libras pelo pesquisador.

O pesquisador esclareceu minhas dúvidas e conversaram com os meus responsáveis.


Entendi que posso desistir de participar da pesquisa em qualquer momento e isso não trará
nenhum prejuízo para mim.

Recebi uma via deste termo de assentimento e li, e concordo em participar da pesquisa.

Participante

Pesquisador

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