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TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL NA
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
Suicídio é uma palavra de origem latina, cujo significado está, ainda hoje,
relacionado à autoeliminação, à autodestruição, ao autoassassinato e ao auto-
homicídio (Venco; Barreto, 2014, p. 294). Resmini (2004) conceitua suicídio como
um ato em que o sujeito atenta contra si próprio, havendo possibilidade de ele se
causar danos físicos e até se levar à morte. É importante ressaltar que o sujeito
não perde a consciência sobre o seu ato, porém o seu grau de consciência sobre
seu comportamento é variado. Por fim, para a Organização Mundial da Saúde
(OMS, 2013), suicídio é o ato deliberado e intencional de causar morte a si
mesmo, iniciado e executado deliberadamente por uma pessoa que tem a clara
noção (ou forte expectativa) de que dele pode resultar a sua morte.
Compreende-se, contudo, que o suicídio é mais do que um ato em si, mas,
sim, e antes de tudo, um processo, que se inicia com considerações acerca da
morte – as ideações suicidas. Tais considerações não precisam ser ainda
concretas, podem estar em estágio inicial, sendo, então, vagas. Caso esses
pensamentos evoluam, o indivíduo chega ao ponto de elaborar para si um plano
suicida que aí, então, pode levar ao desfecho de um ato fatal – o suicídio – ou que
não obtenha o resultado dele esperado – a tentativa de suicídio.
Nesse processo, para a maioria dos estudiosos do tema, devemos
compreender que há diferentes fatores que influenciam o suicídio e sua
prevenção: genética, personalidade, experiências de vida, história de transtornos
mentais, cultura, crenças nucleares, relações sociais etc. Bertolote (2012), em seu
livro O suicídio e sua prevenção, nos conta que, em meados da década de 1960,
o psicólogo Erwin Stengel distinguiu haver grupos representativos de quem
comete o ato do suicídio e quem apenas o tenta, mas sem alcançar um desfecho
fatal. Porém, com as mudanças demográficas e culturais, a linha de separação
entre esses grupos tornou-se menos visível e passou-se a usar, mais
frequentemente, a expressão comportamento suicida para designar a atitude tanto
de quem comete quanto de quem tenta cometer suicídio, numa escolha
terminológica que tem forte influência dos psicólogos norte-americanos.
Na contemporaneidade, ganhou força também o emprego do conceito de
autoagressão, o qual designa lesão ou intoxicação intencional autoinfligida, o que
se diferencia de uma lesão ou intoxicação causada por acidente. Bertolote (2012)
ainda nos conta que alguns autores incluem nessa categoria atos voluntários de
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automutilação, mesmo que não configurem intenção de morrer.
[...] por exemplo, pensar que a morte seria um alívio ou que seria bom
dormir e não acordar mais, são ideias de morte. Pode-se afirmar esses
pensamentos são comuns frente as situações vivenciadas no cotidiano,
contudo, passa a ser “um fator de risco” no momento que tais ideias
tornam-se frequentes e passam a adquirir proporções significativas.
Portanto, as ideações ou desejos de suicídio estariam no plano da
idealização, isto é, do pensamento, sem haver o planejamento ou ação.
Diferente do que se pode compreender por plano suicida, uma vez que
neste a pessoa encontra-se “decidida” a pôr fim à própria vida. A ideação
de morrer encontra-se presente e o indivíduo passa a tramar a sua
própria morte, planejando-a com detalhes tais como, método a ser
utilizado, local, horário etc. (Navasconi, 2015, p. 7)
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atribuído à loucura.
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TEMA 3 – QUEM ESTUDA O SUICÍDIO?
Bezerra Filho et al. (2012, p. 834) relata que o suicídio é tema estudado em
diferentes áreas do conhecimento, perpassando pelas artes até as ciências. Os
autores esclarecem que, “na perspectiva individual, tornou-se objeto de estudo da
psiquiatria, psicologia, psicanálise e filosofia; no coletivo, torna-se objeto da
antropologia, demografia, epidemiologia, entre outras [áreas].”
Na sociologia, para Durkheim (1982), o suicídio é um fato social, o que o
autor, por sua vez, compreende como uma força que se sobrepõe à
individualidade, com uma existência independente dessa individualidade, com
mais força e objetividade que qualquer manifestação individual. Em O suicídio,
Durkheim (1982) observa a diferença existente entre o número de suicídios
praticados entre católicos e protestantes europeus – o autor concentrou boa parte
de seus estudos nas relações entre as sociedades e seus vínculos sociais e
religiosos. Durkheim (1982) expõe que encontrou predominância de atos suicidas
entre os protestantes, explicando que o maior controle social do suicídio seria a
principal chave para que os católicos contassem com menor número de suicidas,
além de corresponderem a um grupo mais coeso e com maior integração social
que aquele dos protestantes.
Por outro lado, o autor desenvolve a ideia de que, se o crime é um fato
social tido como normal pois representa uma ação presente na sociedade, o
suicídio é interpretado como um fato social patológico, uma vez que é
compreendido como um crime que assume proporções excessivas. Para
Durkheim (1982), as vivências sociais influenciam na forma como o indivíduo
estrutura sua identidade; portanto, condições sociais opressoras, sofríveis,
perversas, entre outras, resultariam em vivências individuais mais penosas, tanto
em nível individual quanto coletivo, podendo levar a um desenvolvimento mais
pródigo de casos de ideação suicida e até mesmo de suicídio.
Venco e Barreto (2014, p. 295-296) contam que mudanças na economia
ocorreram paralelamente a transformações na forma de organizar e administrar
tanto o Estado como o mundo do trabalho. Os novos regimes e as regras impostas
impactaram a construção do eu e do outro, alterando a imagem da identidade de
si. Novos discursos foram acrescidos à história do suicídio, em presença de um
mundo em constante mutação, em que as pessoas se tornam indiferentes às
dores das outras, que estimula o consumismo desenfreado enquanto aumenta o
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desemprego, o que certamente cria um sentimento de incerteza e vazio, gerando
novos casos de suicídios. Apesar disso, continua o silêncio no que se refere ao
mundo do trabalho como possível causa de suicídio. Não obstante Venco e
Barreto (2014) falarem desse silêncio acerca da relação do suicídio com o
trabalho, Durkheim (1982) já traçara antes um paralelo entre as formas de suicídio
e a divisão do trabalho. Bezerra Filho et al. (2012) relatam que aquele autor
buscou demonstrar o quanto esse ato, em tese de responsabilidade individual, era
na verdade, resultado direto do modo de vivência das pessoas em sociedade.
Com base na análise dessas duas variáveis, integração e controle social,
Durkheim (1982) propôs haver uma tipologia do suicídio composta de quatro
categorias:
Saiba mais
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Crédito: Nashrullah Ali Fauzi/Shutterstock.
• Em países de alta renda, quase três vezes mais homens que mulheres
atentam contra a sua própria vida.
• O suicídio é a segunda principal causa de mortes entre jovens de 15 a 29
anos, atrás apenas de acidentes de trânsito, sendo muito comum entre
meninas adolescentes em condições maternas.
• Os métodos mais comuns de suicídio são enforcamento, envenenamento
por pesticidas e uso de armas de fogo.
• As principais intervenções que demonstram sucesso na redução do
número de suicídios consistem em:
a. restringir o acesso aos principais meios de se cometer suicídio – apesar
de, por exemplo, a restrição aos pesticidas ser uma estratégia subutilizada,
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ela é comprovadamente eficaz na prevenção do suicídio com emprego de
tais substâncias (a alta toxicidade de algumas substâncias implica uma
grande chance de êxito em tentativas de suicídio com pesticidas). No Sri
Lanka, uma série de proibições reduziu em 70% o número de suicídios,
tendo como resultado cerca de 93 mil vidas salvas entre 1995 a 2015. Na
Coreia do Sul, a proibição do herbicida de nome paraquat, em 2011 –
responsável pela maioria das mortes por suicídio nos anos 2000 – fez com
que o número de mortes por suicídios causados por intoxicação por
pesticidas entre 2011 a 2013 caísse pela metade;
b. orientar a mídia sobre como realizar uma cobertura responsável sobre o
tema;
c. implementar programas, entre os jovens, para desenvolvimento de
habilidades que lhes permitam lidar com o estresse da vida;
d. identificar de forma precoce e acompanhar pessoas em risco de suicídio.
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4.1 Setembro Amarelo
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Prevenção ao Suicídio, consistindo em um evento global, anual, organizado pela
Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (Iasp) e copatrocinado
pela OMS. Em 2020, as atividades educativas da campanha Setembro Amarelo
tiveram como lema: “Trabalhando juntos para a prevenção ao suicídio”. Foi um
ano de mais desafios do que os que se apresentaram em anos anteriores, uma
vez que a pandemia do coronavírus exigiu a adaptação do programa aos
protocolos de segurança necessários para a contenção da propagação do vírus.
Não se podia tocar um no outro, muitos indivíduos estavam em isolamento social
e o risco de aumento dos casos de depressão, de crises de pânico, entre outros
transtornos que desencadeassem a possibilidade do suicídio, era uma situação
que demandava bastante preocupação da organização do evento. Nesse sentido,
tornou-se ainda mais importante fazer valer o lema da campanha e encontrar
outras maneiras criativas de originar espaços de escuta e atendimento de quem
precisa. Muitos municípios e empresas criaram números de telefones para ouvir
e atender pessoas. Grupos de apoio on-line foram estabelecidos. E o Conselho
Federal de Psicologia autorizou, por meio de portaria, que se realizassem
atendimentos on-line.
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Tabela 1 – Alguns dados de suicídio no mundo, por país
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2. Há falta de foco e clareza sobre a importância do suicídio na concepção de
de políticas públicas de saúde que atuem no problema, na medida em que
as mortes por suicídio são notificadas como outras causas, como
acidentes, problemas cardiovasculares ou vasculares cerebrais, por
exemplo. Com isso, verbas que poderiam ser destinadas para programas
de prevenção e intervenção em face do suicídio são direcionadas para o
controle de doenças cuja prevalência encontra-se até hipervalorizada,
havendo, assim, desperdício de dinheiro público.
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mais letais para suas tentativas de suicídio, como uso de armas de fogo e prática
de enforcamento. É interessante lembrar também que os dados dessas décadas
supracitadas refletem números do suicídio em países industrializados europeus e
norte-americanos – os dados dos países em desenvolvimento passaram a ser
computados somente a partir de 2000, quando então é possível perceber
diminuição na taxa de suicídio entre os gêneros, seu acontecimento se
apresentando hoje em uma média de 2,8 homens para 1 mulher.
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REFERÊNCIAS
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