Você está na página 1de 16

AULA 1

TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL NA
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO

Profª Silvia Helena Brandt dos Santos


TEMA 1 – DEFINIÇÃO DO SUICÍDIO

Suicídio é uma palavra de origem latina, cujo significado está, ainda hoje,
relacionado à autoeliminação, à autodestruição, ao autoassassinato e ao auto-
homicídio (Venco; Barreto, 2014, p. 294). Resmini (2004) conceitua suicídio como
um ato em que o sujeito atenta contra si próprio, havendo possibilidade de ele se
causar danos físicos e até se levar à morte. É importante ressaltar que o sujeito
não perde a consciência sobre o seu ato, porém o seu grau de consciência sobre
seu comportamento é variado. Por fim, para a Organização Mundial da Saúde
(OMS, 2013), suicídio é o ato deliberado e intencional de causar morte a si
mesmo, iniciado e executado deliberadamente por uma pessoa que tem a clara
noção (ou forte expectativa) de que dele pode resultar a sua morte.
Compreende-se, contudo, que o suicídio é mais do que um ato em si, mas,
sim, e antes de tudo, um processo, que se inicia com considerações acerca da
morte – as ideações suicidas. Tais considerações não precisam ser ainda
concretas, podem estar em estágio inicial, sendo, então, vagas. Caso esses
pensamentos evoluam, o indivíduo chega ao ponto de elaborar para si um plano
suicida que aí, então, pode levar ao desfecho de um ato fatal – o suicídio – ou que
não obtenha o resultado dele esperado – a tentativa de suicídio.
Nesse processo, para a maioria dos estudiosos do tema, devemos
compreender que há diferentes fatores que influenciam o suicídio e sua
prevenção: genética, personalidade, experiências de vida, história de transtornos
mentais, cultura, crenças nucleares, relações sociais etc. Bertolote (2012), em seu
livro O suicídio e sua prevenção, nos conta que, em meados da década de 1960,
o psicólogo Erwin Stengel distinguiu haver grupos representativos de quem
comete o ato do suicídio e quem apenas o tenta, mas sem alcançar um desfecho
fatal. Porém, com as mudanças demográficas e culturais, a linha de separação
entre esses grupos tornou-se menos visível e passou-se a usar, mais
frequentemente, a expressão comportamento suicida para designar a atitude tanto
de quem comete quanto de quem tenta cometer suicídio, numa escolha
terminológica que tem forte influência dos psicólogos norte-americanos.
Na contemporaneidade, ganhou força também o emprego do conceito de
autoagressão, o qual designa lesão ou intoxicação intencional autoinfligida, o que
se diferencia de uma lesão ou intoxicação causada por acidente. Bertolote (2012)
ainda nos conta que alguns autores incluem nessa categoria atos voluntários de

2
automutilação, mesmo que não configurem intenção de morrer.

1.1 Comportamento suicida

Bertolote (2012) menciona que autores norte-americanos passaram a


pensar no uso da expressão comportamento suicida para definir um conjunto de
ações e pensamentos que levassem o sujeito a agir de forma suicida. Resmini
(2004) define que o comportamento suicida implica tanto o ato efetivado quanto o
não efetivado, bem como os pensamentos suicidas, que compõem a ideação, os
planos, as ameaças e os gestos suicidas. Diversos autores, como Resmini (2004),
Bertolote (2012), Meleiro e Bahls (2004), entre outros, compreendem o
comportamento suicida como um processo que vai sendo construído e evoluindo,
se não for prevenido e tratado, conforme a Figura 1.

Figura 1 – Comportamento suicida: um processo

Ideações Suicidas Plano Suicida Tentativa de Suicídio Suicídio

1.2 Tentativas de suicídio

Meleiro e Bahls (2004) afirmam que a tentativa de suicídio pode ser


entendida como um comportamento individual com o potencial de gerar
autolesões que não levem à morte, não obstante tal ato deixe evidências de que
a intenção do sujeito era atentar contra sua própria vida. Para Resmini (2004),
essa forma específica de ação é resultado de um conflito psíquico intenso vivido
por quem a engendra, que não consegue representá-lo simplesmente em palavras
ou em pensamentos. Tratando-se, então, esse de um ato que ameaça a vida, é
importante que se compreenda que ele requer atenção de uma rede de apoio ao
indivíduo.

1.3 Ideação suicida

A ideação suicida contempla pensamentos e ideias de um indivíduo sobre


o seu próprio suicídio. Pode, ainda, apresentar ameaças claras e abertas sobre a
intenção desse indivíduo de findar a própria vida. Meleiro e Bahls (2004) definem
a ideação suicida como qualquer pensamento que envolva morrer ou estar morto,
3
gerando comportamentos associados ao suicídio.
Navasconi (2015) lembra que é importante fazer uma diferenciação entre
ideais suicidas e ideias de morte:

[...] por exemplo, pensar que a morte seria um alívio ou que seria bom
dormir e não acordar mais, são ideias de morte. Pode-se afirmar esses
pensamentos são comuns frente as situações vivenciadas no cotidiano,
contudo, passa a ser “um fator de risco” no momento que tais ideias
tornam-se frequentes e passam a adquirir proporções significativas.
Portanto, as ideações ou desejos de suicídio estariam no plano da
idealização, isto é, do pensamento, sem haver o planejamento ou ação.
Diferente do que se pode compreender por plano suicida, uma vez que
neste a pessoa encontra-se “decidida” a pôr fim à própria vida. A ideação
de morrer encontra-se presente e o indivíduo passa a tramar a sua
própria morte, planejando-a com detalhes tais como, método a ser
utilizado, local, horário etc. (Navasconi, 2015, p. 7)

TEMA 2 – SENTIDO E SIGNIFICADO DO SUICÍDIO

O suicídio sempre esteve presente na história da humanidade. É possível


ver relatos acerca desse tema já nos livros sagrados e na mitologia dos povos da
Antiguidade. Porém, o sentido atribuído ao suicídio dependeu sempre de cada
cultura e época histórica. Para alguns povos, o ato de dar fim à própria vida já foi
considerado como heroico, quando relacionado a empreendê-lo para salvar
outras pessoas, em situações por que passaram personagens como Lucrécia,
Cleópatra, Catón, Bruto, Cássio, Sêneca e outros. Por outro lado, a depender da
classe social da qual o suicida fazia parte, o ato era considerado crime. Na Roma
Antiga, por exemplo, um soldado que tentasse dar cabo da própria vida era
considerado desertor, cuja penalidade, ironicamente, era a morte.
E, apesar de o suicídio também já ter sido compreendido como um ato de
honra em algumas sociedades, como quando ele era cometido pelo indivíduo por
ele não aceitar ser capturado ou morto pelo inimigo, em alguns países da Europa,
como Itália, França e Alemanha, punia-se o suicida o enterrando fora de solo
sagrado e confiscando os bens dos seus familiares. A bem da verdade, na Europa
cristã, durante muito tempo o Estado e a Igreja lucraram com o fato de se
transformar o suicídio em pecado, pois, além de se anuir com a punição do suicida
no que tange a sua não entrada, pós-morte, no Reino do Céu e se condenar sua
família à vergonha e à humilhação, aquelas instituições ainda sequestravam os
bens materiais que o suicida possuíra em vida. Na Inglaterra, por exemplo, a Lei
do Confisco permaneceu vigente até 1870 e, até o ao de 1961, o suicida que não
obtivesse sucesso em sua tentativa de suicídio estava sujeito à prisão,
posteriormente ao ato. Venco e Barreto (2014) contam que, na França, o suicida
4
era amarrado pelos pés e arrastado pelas ruas, tendo seu corpo queimado em
uma lata de lixo pública.
Contraditório? Sim. Tanto quanto os conceitos do sentido da vida e do valor
ou o porquê da morte. É, então, à medida que a sociedade vai se relacionando
com a ideia de suicídio que seu entendimento é alterado, com base nas reflexões
dos impactos que ele gera para um ou mais grupos de pessoas, bem como para
a estrutura organizacional da vida privada e pública. Um fato, em especial, nos
chama a atenção: a pandemia da peste negra que assolou a Europa, no século
XIV, ocasionando considerável baixa populacional, levou a uma reflexão acerca
da vida e despertou para a consciência da morte. Com isso, as pessoas passaram
a pensar sobre questões que abarcavam esse tema.
De todo modo, veja como algumas tradições religiosas interpretam o
fenômeno do suicídio:

• Lei judaica: apesar de condenar, ela considera o suicídio uma alternativa


viável a ser empregada em caso de prática de certos pecados capitais. Os
judeus suicidas são enterrados separadamente.
• Hinduísmo: seu entendimento sobre o tema é contraditório. Há situações
em que o hinduísmo condena o suicídio, outras em que o aceita – como na
prática do jejum voluntário que porventura leve o indivíduo à morte – e até
algumas em que o incentiva.
• Budismo: a religião não o condena, embora o considere uma prática
negativa, contrária à iluminação da alma, que é o objetivo do budismo como
filosofia.
• Cristianismo: a Bíblia relata diversos casos em que não há condenação à
prática do suicídio. No século VI, porém, a Igreja Católica passa a condenar
o ato do suicídio como pecado, colocando-o no mesmo patamar do
homicídio.
• Literatura clássica greco-romana: nessa tradição, poucas vezes o suicídio
é condenado, embora amplamente comentado e debatido, ora mencionado
como um ato de heroísmo, ora como um ato de desespero.

Bertolote (2012, p. 29) nos conta que,

[...] a partir do século XVIII, as conexões entre o suicídio e certos


transtornos mentais (em especial a melancolia e a insanidade, para usar
termos da época) se firmaram na opinião dos principais psiquiatras
europeus desse período, na medida em que qualquer óbito que não
pudesse ser atribuído a uma causa natural, acidental ou homicida era

5
atribuído à loucura.

No século XIX, Pinel, psiquiatra francês, chegou a afirmar que certas


lesões, em especial no cérebro, tornariam dolorosa a sensação de existir, o que
por sua vez poderia gerar, como consequência, o ato suicida. Alguns de seus
discípulos ratificaram seu pensamento acrescendo que o ato de suicídio era
decorrente de doença mental. Já Freud, no fim do século XIX e início do século
XX, abordou superficialmente o tema do suicídio, tendo ponderado, em sua obra,
em tal ato como fruto do predomínio do impulso de morte sobre o impulso de vida.
Quando Freud fala da depressão, relata que compreende o suicídio como uma
autopunição pelo desejo de matar outrem.
Mas é na sociologia do século XIX que o tema do suicídio vai ser mais bem
estudado, principalmente pelo seu maior representante naquele período: David
Émile Durkheim. Uma de suas obras mais conhecidas foi publicada em 1897: O
suicídio, em que o autor abarcava o suicídio como um fato social (Durkheim,
1982). No século XX, a filosofia volta a falar sobre o assunto, com Albert Camus,
que expõe que o suicídio é a questão que mais verdadeiramente deve ser levada
em consideração, pois deflagra a grande dúvida sobre a vida valer ou não a pena.
Atualmente, o comportamento suicida se inscreve no campo dos
transtornos mentais (angústias, depressão, alterações de comportamento,
bipolaridade, entre outros), adquirindo o status de patologia. Se, na Antiguidade,
o seu significado estava relacionado ao de uma morte voluntária, atualmente o
suicídio continua sendo explicado com base em crenças e mitos que se alimentam
do corpo biológico para explicar o que nos angustia (Avenco; Barreto, 2014, p.
296).
Observamos, portanto, que o sentido de apreensão do suicídio vai se
transformando ao longo da história, em um processo dialético de análise das
experiências do ato e de suas consequências sociais conforme vivenciadas pelos
indivíduos nas mais diversas culturas, uma gama de profissionais busca, até hoje,
compreender o comportamento suicida segundo, também, as mais variadas
perspectivas. E podemos concluir que o ser humano é complexo e que não se
pode atribuir a efetivação de ato de tal magnitude – fazer findar a própria vida –
apenas a uma causa, uma vez que uma decisão como essa costuma refletir o
impacto, no indivíduo, tanto de seu ambiente interno (suas condições biológicas,
psicoemocionais e físicas), quanto de seu ambiente externo (sua cultura, suas
relações sociais etc.).

6
TEMA 3 – QUEM ESTUDA O SUICÍDIO?

Bezerra Filho et al. (2012, p. 834) relata que o suicídio é tema estudado em
diferentes áreas do conhecimento, perpassando pelas artes até as ciências. Os
autores esclarecem que, “na perspectiva individual, tornou-se objeto de estudo da
psiquiatria, psicologia, psicanálise e filosofia; no coletivo, torna-se objeto da
antropologia, demografia, epidemiologia, entre outras [áreas].”
Na sociologia, para Durkheim (1982), o suicídio é um fato social, o que o
autor, por sua vez, compreende como uma força que se sobrepõe à
individualidade, com uma existência independente dessa individualidade, com
mais força e objetividade que qualquer manifestação individual. Em O suicídio,
Durkheim (1982) observa a diferença existente entre o número de suicídios
praticados entre católicos e protestantes europeus – o autor concentrou boa parte
de seus estudos nas relações entre as sociedades e seus vínculos sociais e
religiosos. Durkheim (1982) expõe que encontrou predominância de atos suicidas
entre os protestantes, explicando que o maior controle social do suicídio seria a
principal chave para que os católicos contassem com menor número de suicidas,
além de corresponderem a um grupo mais coeso e com maior integração social
que aquele dos protestantes.
Por outro lado, o autor desenvolve a ideia de que, se o crime é um fato
social tido como normal pois representa uma ação presente na sociedade, o
suicídio é interpretado como um fato social patológico, uma vez que é
compreendido como um crime que assume proporções excessivas. Para
Durkheim (1982), as vivências sociais influenciam na forma como o indivíduo
estrutura sua identidade; portanto, condições sociais opressoras, sofríveis,
perversas, entre outras, resultariam em vivências individuais mais penosas, tanto
em nível individual quanto coletivo, podendo levar a um desenvolvimento mais
pródigo de casos de ideação suicida e até mesmo de suicídio.
Venco e Barreto (2014, p. 295-296) contam que mudanças na economia
ocorreram paralelamente a transformações na forma de organizar e administrar
tanto o Estado como o mundo do trabalho. Os novos regimes e as regras impostas
impactaram a construção do eu e do outro, alterando a imagem da identidade de
si. Novos discursos foram acrescidos à história do suicídio, em presença de um
mundo em constante mutação, em que as pessoas se tornam indiferentes às
dores das outras, que estimula o consumismo desenfreado enquanto aumenta o

7
desemprego, o que certamente cria um sentimento de incerteza e vazio, gerando
novos casos de suicídios. Apesar disso, continua o silêncio no que se refere ao
mundo do trabalho como possível causa de suicídio. Não obstante Venco e
Barreto (2014) falarem desse silêncio acerca da relação do suicídio com o
trabalho, Durkheim (1982) já traçara antes um paralelo entre as formas de suicídio
e a divisão do trabalho. Bezerra Filho et al. (2012) relatam que aquele autor
buscou demonstrar o quanto esse ato, em tese de responsabilidade individual, era
na verdade, resultado direto do modo de vivência das pessoas em sociedade.
Com base na análise dessas duas variáveis, integração e controle social,
Durkheim (1982) propôs haver uma tipologia do suicídio composta de quatro
categorias:

1. Altruísta: formada por indivíduos altamente integrados em seu grupo social,


que tomam para si o suicídio como representação do benefício de sua
morte.
2. Fatalista: tipo observado em situações de extremo controle social, quando
a pessoa não é capaz de alterar as regras e normas que regem seu viver
e lhe causam demasiado sofrimento.
3. Egoísta: caracteriza-se pelo caso de indivíduos com pouca ou nenhuma
integração social, que se colocam (ou são postos) acima ou à margem dos
grupos sociais que seriam de sua convivência.
4. Anômica: em tal tipo há desorientação da pessoa em decorrência do
enfraquecimento ou inexistência de normas sociais ou falta de expectativas
de que essas regras venham a se constituir.

TEMA 4 – CONTEXTO ATUAL DO SUICÍDIO

Saiba mais

A título de introdução a este tópico, leia matéria sobre campanha da


Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com a World Federation for
Mental Health e a International Association for Suicide Prevention e United for
Global Mental Health realizada em 2019, em: <https://brasil.un.org/pt-br/84115-
um-suicidio-ocorre-cada-40-segundos-no-mundo-diz-oms> (Um suicídio, 2019).

8
Crédito: Nashrullah Ali Fauzi/Shutterstock.

De acordo com a ONU (Um suicídio, 2019), apesar de o número de países


que se propõem a criar estratégias de prevenção ao suicídio ter aumentado, ele
ainda não é o suficiente. Isso porque, de acordo com Tedros Adhanom
Ghebreyesus ([S.d.], citado por Um suicídio, 2019), diretor geral da ONU, apesar
de o suicídio ser algo evitável, a cada 40 segundos uma pessoa morre em virtude
do suicídio, e essa é uma prática que afeta familiares e comunidades por todo o
mundo. A taxa de suicídio é maior nos países de alta renda, tendo uma média de
11,5 mortes para cada 100 mil habitantes. Não obstante a taxa de suicídios por
habitantes ser elevada naqueles países, o maior percentual de suicídios (79%)
ocorre nos países de média e baixa renda, conforme dados de 2016 (Um suicídio,
2019).
Alguns dados a esse respeito nos chamam ainda mais a atenção (Um
suicídio, 2019):

• Em países de alta renda, quase três vezes mais homens que mulheres
atentam contra a sua própria vida.
• O suicídio é a segunda principal causa de mortes entre jovens de 15 a 29
anos, atrás apenas de acidentes de trânsito, sendo muito comum entre
meninas adolescentes em condições maternas.
• Os métodos mais comuns de suicídio são enforcamento, envenenamento
por pesticidas e uso de armas de fogo.
• As principais intervenções que demonstram sucesso na redução do
número de suicídios consistem em:
a. restringir o acesso aos principais meios de se cometer suicídio – apesar
de, por exemplo, a restrição aos pesticidas ser uma estratégia subutilizada,

9
ela é comprovadamente eficaz na prevenção do suicídio com emprego de
tais substâncias (a alta toxicidade de algumas substâncias implica uma
grande chance de êxito em tentativas de suicídio com pesticidas). No Sri
Lanka, uma série de proibições reduziu em 70% o número de suicídios,
tendo como resultado cerca de 93 mil vidas salvas entre 1995 a 2015. Na
Coreia do Sul, a proibição do herbicida de nome paraquat, em 2011 –
responsável pela maioria das mortes por suicídio nos anos 2000 – fez com
que o número de mortes por suicídios causados por intoxicação por
pesticidas entre 2011 a 2013 caísse pela metade;
b. orientar a mídia sobre como realizar uma cobertura responsável sobre o
tema;
c. implementar programas, entre os jovens, para desenvolvimento de
habilidades que lhes permitam lidar com o estresse da vida;
d. identificar de forma precoce e acompanhar pessoas em risco de suicídio.

A OMS (2013) afirma que os principais fatores associados ao suicídio são:


doenças mentais, principalmente depressão; abuso/dependência de álcool e
drogas; ausência de apoio social; histórico de suicídio na família; forte intenção
de se matar; convivência com eventos estressantes; e características
sociodemográficas tais como pobreza, desemprego e baixo nível educacional.
Já para a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), os principais fatos
acerca do suicídio são:

• Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos.


• Para cada suicídio, há muito mais pessoas que tentam o suicídio a
cada ano. A tentativa prévia é o fator de risco mais importante para o
suicídio na população em geral.
• O suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com
idade entre 15 e 29 anos.
• 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média
renda.
• Ingestão de pesticidas, enforcamento e armas de fogo estão entre os
métodos mais comuns de suicídio em nível global. (Suicídio, 2020)

10
4.1 Setembro Amarelo

Fonte: Carvalho, 2019.

Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção que acontece entre os


dias 1 a 30 de setembro de cada ano. Ela se iniciou no Brasil em 2015 e tem como
objetivo falar sobre o suicídio e prevenir seu acontecimento. O Setembro Amarelo
começou nos EUA, após o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometer suicídio, em
1994. Ele era um jovem que adorava carros e restaurou um automóvel Mustang
68, pintando-o de amarelo. Por conta disso, esse automóvel ficou conhecido como
Mustang Mike. Mike sofria de transtorno psicológico e não conseguia expressar o
que sentia. Sem conseguir falar a respeito – ou, como a campanha aborda, sem
encontrar palavras para se manifestar sobre seu problema –, o jovem deu cabo
da própria vida, deixando apenas um bilhete em que pedia que seus pais não se
sentissem culpados pelo fato. A mãe e os amigos de Mike, em uma conversa,
pensaram sobre como poderiam ter evitado o seu ato desesperado e perceberam
que, se Mike tivesse falado o que sentia, teria encontrado ajuda de uma rede de
apoio, que poderia contar com sua família, amigos e profissionais, e, assim, talvez
ainda estivesse vivo. E, assim, surgiu a ideia de fazer um laço, que representa
essa rede, em amarelo, por ser a cor do Mustang Mike. No dia do velório de Mike,
foi feita uma cesta com muitos cartões decorados com fitas amarelas. Dentro
deles havia a mensagem: Se você precisar, peça ajuda. A iniciativa foi o estopim
de um movimento importante de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram
realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio. Saiba mais a respeito
desse episódio em: <https://youtu.be/kqwYuITe3RQ> (Você, 2017).
Assim, em nível mundial surgiu a data de 10 de setembro para recordar
aqueles que morreram de suicídio e para que possamos lembrar da importância
de falar sobre isso. Quem precisa pedir ajuda deve ser incentivado a fazê-lo. E
quem está ao seu redor deve saber como ser cooperativo e estar atento aos sinais
do problema. Esse dia, portanto, 10 de setembro, é então o Dia Mundial de

11
Prevenção ao Suicídio, consistindo em um evento global, anual, organizado pela
Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (Iasp) e copatrocinado
pela OMS. Em 2020, as atividades educativas da campanha Setembro Amarelo
tiveram como lema: “Trabalhando juntos para a prevenção ao suicídio”. Foi um
ano de mais desafios do que os que se apresentaram em anos anteriores, uma
vez que a pandemia do coronavírus exigiu a adaptação do programa aos
protocolos de segurança necessários para a contenção da propagação do vírus.
Não se podia tocar um no outro, muitos indivíduos estavam em isolamento social
e o risco de aumento dos casos de depressão, de crises de pânico, entre outros
transtornos que desencadeassem a possibilidade do suicídio, era uma situação
que demandava bastante preocupação da organização do evento. Nesse sentido,
tornou-se ainda mais importante fazer valer o lema da campanha e encontrar
outras maneiras criativas de originar espaços de escuta e atendimento de quem
precisa. Muitos municípios e empresas criaram números de telefones para ouvir
e atender pessoas. Grupos de apoio on-line foram estabelecidos. E o Conselho
Federal de Psicologia autorizou, por meio de portaria, que se realizassem
atendimentos on-line.

TEMA 5 – SOBRE DADOS NOTIFICADOS

A OMS foi criada em 1948 e, desde então, faz um levantamento dos


números de mortalidade em todos os seus países-membros. Em relação à
mortalidade por causa de suicídio, é possível observar aumento nas taxas em
todos esses países. Porém, a partir do final da década de 1990, houve uma
pequena diminuição nos números de suicídio em países onde campanhas de
prevenção a esse fenômeno foram desenvolvidas. De acordo com a OMS (2013),
cerca de 800 mil pessoas no mundo morrem, por ano, em decorrência de suicídio,
o equivalente a uma pessoa a cada 40 segundos. Esse número é maior que todas
as causas de morte violenta juntas: homicídios, acidentes e guerras.

12
Tabela 1 – Alguns dados de suicídio no mundo, por país

Apesar de haver uma relativa paridade no aumento dos casos de suicídio,


há variações das taxas entre uma região e outra do mundo, o que, de acordo com
Bertolote (2012), decorre tanto da diferença de tamanho populacional, quanto de
fatores genéticos, bioquímicos, demográficos e psicossociais.
Como já exposto, os dados sobre suicídio são levantados pela OMS, com
base em relatórios que os países enviam. Tais informações são criteriosamente
verificadas pelos técnicos da organização, o que não acontece em relação aos
dados que não são enviados. Por isso, devemos compreender que os dados que
são divulgados sobre o suicídio são subnotificados, uma vez que os dados reais
de suicídio provavelmente sejam superiores aos registrados pela OMS. Tal
subnotificação tem diversas razões, desde culturais até econômicas, passando
por motivos

[...] religiosos, financeiros, securitários, sociais, etc. Em algumas


religiões consideram o suicídio um grave pecado ou uma ofensa à
religião (por exemplo, no catolicismo, no judaísmo e no islamismo) […].
Em algumas jurisdições, o suicídio é motivo para negação de pagamento
de benefícios funerários e seguros de vida aos sobreviventes de um
assegurado que se suicide […]. Em outras regiões o suicídio é percebido
como uma falha dos familiares, que terão grande interesse em ter o
diagnóstico de causa de morte registrado sob outra causa (por exemplo,
no Sri Lanka). Finalmente, em certos países o suicídio é considerado um
crime (como na Índia), e como tal é tratado, com longos e penosos
inquéritos dos quais os familiares e médicos têm interesse em se
esquivar. (Bertolote, 2012, p. 45-46)

Bertolote (2012) menciona ainda duas graves consequências dessa


subnotificação:

1. Programas de prevenção ficam prejudicados, com atrasos em sua


realização, ou mesmo deixam de ser elaborados e efetivados.

13
2. Há falta de foco e clareza sobre a importância do suicídio na concepção de
de políticas públicas de saúde que atuem no problema, na medida em que
as mortes por suicídio são notificadas como outras causas, como
acidentes, problemas cardiovasculares ou vasculares cerebrais, por
exemplo. Com isso, verbas que poderiam ser destinadas para programas
de prevenção e intervenção em face do suicídio são direcionadas para o
controle de doenças cuja prevalência encontra-se até hipervalorizada,
havendo, assim, desperdício de dinheiro público.

De acordo com a OMS (2013), cerca de 32 pessoas se suicidam por dia no


Brasil. O Ministério da Saúde brasileiro, em 2017, à época representado pelo
ministro Ricardo Barros, informa que, no Brasil, ocorrem cerca de 10 mil suicídios
por ano. Navasconi (2015) nos conta que o Brasil realizou um estudo dos dados
epidemiológicos acerca dos suicídios ocorridos entre 1980 a 2006, com o qual foi
possível constatar a predominância desse tipo de morte entre homens de baixo
nível educacional, sem companheiro ou companheira. Há ainda outros dados
importantes, a saber:

• A população indígena tem a maior taxa de suicídio, tendo em 2014 uma


taxa quatro vezes maior que a população brasileira como um todo.
• Entre os homens é que se observa o maior número de suicídios no Brasil,
em especial entre os que possuem mais de 70 anos.
• Entre as mulheres, apesar de o risco do suicídio ser 6 vezes menor que o
dos homens, elas apresentam maior número quando falamos em tentativas
de suicídio, cerca de 2,2 vezes mais que os homens.

5.1 Questões referentes ao gênero

Ao longo da história, em especial nos dados levantados nas décadas de


1980 e 1990, podemos perceber que a taxa de suicídio predomina, como já
mencionado, entre representantes do sexo masculino, com números entre três a
quatro vezes maiores de suicídio do que entre representantes do sexo feminino.
Entre os estudiosos, a explicação para essa diferença encontra-se no método
utilizado para a tentativa de suicídio: os considerados mais letais são em geral
escolhidos por homens e os menos letais, pelas mulheres. Porém, a partir da
década de 1990, essa diferença se atenuou, o que pode ser, talvez, resultante da
crescente cultura de igualdade. As mulheres vêm, portanto, escolhendo métodos

14
mais letais para suas tentativas de suicídio, como uso de armas de fogo e prática
de enforcamento. É interessante lembrar também que os dados dessas décadas
supracitadas refletem números do suicídio em países industrializados europeus e
norte-americanos – os dados dos países em desenvolvimento passaram a ser
computados somente a partir de 2000, quando então é possível perceber
diminuição na taxa de suicídio entre os gêneros, seu acontecimento se
apresentando hoje em uma média de 2,8 homens para 1 mulher.

5.2 Questões referentes à idade

Considerando as taxas de suicídio em nível mundial, as mais elevadas são


encontradas em pessoas idosas. Porém, ao se comparar o aspecto proporcional
da faixa etária em relação à população como um todo, é possível observar que o
suicídio entre os jovens predomina, sendo considerado, pela Opas e pela OMS,
como já informado, a segunda principal causa de morte entre jovens com idade
entre 15 a 29 anos (Suicídio, 2020; OMS, 2013).

5.3 Onde procurar ajuda?

Há locais de atendimento a pessoas que estejam pensando em cometer


suicídio, com ajuda especializada, como o Centro de Valorização da Vida (CVV) e
o Centro de Atenção Psicossocial (Caps). O CVV funciona 24 horas por dia
(inclusive nos domingos e feriados) pelo telefone 188 e também atende por e-mail,
chat e pessoalmente. Existem mais de 120 postos de atendimento do CVV em
todo o Brasil.

15
REFERÊNCIAS

BERTOLOTE, J. M. O suicídio e sua prevenção. São Paulo: Editora Unesp,


2012.

CARVALHO, D. T. W. de. Setembro Amarelo: mês de prevenção do suicídio.


TJDFT, 2019. Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/informacoes/programas-
projetos-e-acoes/pro-vida/dicas-de-saude/pilulas-de-saude/setembro-amarelo-
mes-da-prevencao-do-suicidio>. Acesso em: 28 jun. 2021.

DURKHEIM, E. O suicídio. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

MELEIRO, A. M. A. S.; BAHLS, S. C. O comportamento suicida. In: MELEIRO, A.


M. A. S.; TENG, C. T.; WANG, Y. P. (Org.). Suicídio: estudos fundamentais. São
Paulo: Segmento Farma, 2004.

NAVASCONI, P. V. P. Considerações sobre o suicídio na realidade atual. In:


CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICOLOGIA DA UEM, 6., 2015, Maringá.
Anais... Maringá: UEM, 2015.

OMS – Organização Mundial da Saúde. Prevenção e suicídio. Genebra, 2013.

RESMINI, E. Tentativa de suicídio: um prisma para compreensão da


adolescência. São Paulo: Revinter, 2004.

SUICÍDIO. Opas, 2020. Disponível em:


<https://www.paho.org/pt/topicos/suicidio>. Acesso em: 28 jun. 2021.

UM SUICÍDIO ocorre a cada 40 segundos no mundo. Nações Unidas Brasil, 9


jul. 2019. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/84115-um-suicidio-ocorre-
cada-40-segundos-no-mundo-diz-oms>. Acesso em: 17 nov. 2020.

VENCO, S.; BARRETO, M. O sentido social do suicídio no trabalho. Revista do


TST, Brasília, v. 80, n. 1, jan./mar. 2014.

VOCÊ sabe como surgiu o Setembro Amarelo? Psiquiatria UFRGS, 31 ago.


2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kqwYuITe3RQ>.
Acesso em: 28 jun. 2021.

16

Você também pode gostar