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Segundo os budistas, ou seja, de acordo com a sua religião e filosofia, a morte é o momento de
máxima consciência, e os homens iluminados lembram suas mortes e suas ou tras vidas. Então
não há só uma morte, mas várias, durante todo o processo evolutivo
As defesas ao mesmo tempo que nos protegem do medo da morte, podem nos restringir. Há
momentos em que o sujeito fica tão acuado que parece não viver. E esse não-viver, pode ser
equivalente a morrer. Então surge uma situação paradoxal, em que a pessoa "está" morta, mas
"esqueceu" de morrer: temos a chamada morte em vida..
Nos primeiros meses de vida a criança vive a ausência da mãe, sentindo que esta não é
onipresente. Estas primeiras ausências são vividas como mortes, a criança se percebe só e
desamparada. Efetivamente não é capaz de sobreviver sem a mãe. São, no entanto, breves
momentos ou, às vezes, períodos mais longos, porém logo alguém aparece. Mas esta primeira
impressão fica carimbada e marca uma das representações mais fortes de todos os tempos que é
a morte como ausência, perda, separação, e a conseqüente vivência de aniquilação e
desamparo. A experiência da relação materna tão acolhedora e receptiva, também é responsável
por outra representação poderosa da morte, ou seja, a morte como figura maternal que acolhe,
que dá conforto.
Atualmente, acredita-se que a criança não sabe nada sobre a morte e que, portanto, deve ser
poupada.
Desde todos os tempos em busca da imortalidade, o homem desafia e tenta vencer a morte.
Não nos iludamos, pois o que buscamos não é a vida eterna e sim a juventude eterna com seus
prazeres, força, beleza e não a velhice eterna com suas perdas, feiúra, dores.
Não acreditamos em nossa própria morte, agimos como se ela não existisse, fazemos planos
para o futuro, criamos obras e filhos, imaginamos que estes perpetuarão o nosso ser.
No entanto, não podemos viver a vida toda sob a esmagadora "presença da morte. Existem
várias possibilidades de ocultamento, t anto culturais, quanto psicológicas. Entre estas últimas
podem ser destacados os mecanismos de defesa: negação, repressão, intelectualização,
deslocamento.
Em muitas tentativas de suicídio há a fantasia de "se morrer só um pouco", para que o outro
possa sentir a falta, ou para que se sinta culpado. Entretanto, a própria criança começa a
compreender a irreversibilidade da morte pela própria experiência.
Racionalmente os adultos reconhecem que não é assim, mas emocionalmente é freqüente a
atribuição de culpa em relação à morte do outro, muitas vezes associada à falta de cuidados,
sentimentos exacerbados no processo de luto.
Devemos admitir que somos uma civilização adolescente, onipotente, forte, entretanto com pouca
maturidade?
O adolescente pode viver várias mortes concretas, com a perda de amigos, colegas, em
acidentes, overdose, assassinatos, doenças. Apesar de viver a concretude dessas perdas, o
pensamento adolescente conclui que a morte ocorreu por inabilidade, imperícia e que o
verdadeiro herói, que é ele próprio, não vai morrer. Aqui está representada a busca e o desejo de
imortalidade do ser humano, o seu desejo de ser herói, forte, belo e onipotente, com a grande
missão de vencer o dragão da morte.
A adolescência também é o tempo da descoberta do amor. Durante o Romantismo as pessoas se
matavam por amor, quando estavam muito apaixonadas, o que deu origem à expressão popular
"morrer de amor".
Quando se chega ao topo da montanha e se admira a paisagem à volta, a descida parece
obrigatória. Não dá para ficar todo o tempo no topo, nem que se queira, sob o risco de estancar o
processo, com conseqüências. A subida remeteu a um esforço, como vimos, o mesmo ocorrerá
com a descida. Ela representa a segunda metade da vida, potencialmente tão criativa quanto a
primeira, só que de num outro ângulo. Temos toda a experiência do nascimento, da infância, da
adolescência e da primeira fase adulta. Ao fazer um balanço dessa experiência, uma grande
transformação interna se processa em nós e a morte não se configura mais como algo que
acontece somente aos outros, mas que pode acontecer conosco também.
E assim continua a nossa descida. Em termos de desenvolvimento chegamos a uma fase
conhecida como velhice, que como vimos, não tem um início definido, mas cujo fim é claramente
a morte.A velhice é a fase do desenvolvimento humano que carrega mais estigmas e atributos
negativos.
Do ponto de vista bioquímico a morte se configura como uma falta de regeneração, mas é difícil
descobrir qual a sua causa e o seu processo. É a questão da mortalidade/imortalidade. Somos
em parte mortais e em parte imortais. Temos dentro de nós a raiz da imortalidade.
Do ponto de vista médico sempre se buscou definir com clareza o momento da morte.
Como veremos a seguir cabe atualmente ao médico definir o momento da morte, com
conseqüências sociais muito sérias. O médico confirma esse momento, constatando-ò como
definitivo e irreversível, bem como determina a sua causa. Entre os critérios que atualmente
definem a ocorrência da morte estão os seguintes (Ziegler, 1977):
1. Não-receptividade e não-reação total a estímulos externos, mesmo que dolorosos. Não há
emissão de sons, gemidos, contrações, nem aceleração da respiração.
2. Ausência de movimentos respiratórios, falta de movimento muscular espontâneo ou de
respiração ao se desligar o aparelho respiratório por um tempo mais longo.
3. Ausência de reflexos, ou coma irreversível com abo lição da atividade do Sistema Nervoso
Central. Ausência de reflexos condicionados como: reação da pupila, que fica fixa e dilatada
mesmo na presença de luz, sem reflexo na córnea, faringe e tendões.
4. Encefalograma plano, comprovando destruição cerebral plena e irreversível.
A morte clínica é definida como um estado onde todos os sinais de vida (consciência, reflexos,
respiração, atividade cardíaca) estão suspensos, embora uma parte dos processos metabólicos
continue a funcionar. A morte clínica se tornou um conceito, pois atualmente todas essas funções
vitais podem ser substituídas por máquinas, prologando a vida indefinidamente.
Do ponto de vista psicológico existem inúmeras mortes, como vimos, nas suas mais variadas
representações, inclusive podemos agir como se ela não existisse.
Watson (1974) relata que diante da morte rápida e repentina, podem ocorrer três reações em
seqüência:
a. A princípio a pessoa começa a lutar contra o perigo e o inevitável.
b. Depois ela deixa de lutar e se entrega, relembrando cenas do passado.
c. Em seguida, pode entrar num estado místico do qual, muitas vezes, não deseja voltar.
Capítulo 2 MEDO DA MORTE
O medo é a resposta psicológica mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e
atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível socioeconômico e credo
religioso.
É difícil diferenciar entre medo e ansiedade. De uma maneira geral, a ansiedade é associada a
um sentimento difuso, sem uma causa aparentemente definida. Já o medo é geralmente ligado a
uma causa mais específica.
1. A morte do outro: O medo do abandono, envolvendo a consciência da ausência e da
separação.
2. A própria morte: A consciência da própria finitude, a fantasia de como será o fim e quando
ocorrerá.
Ao pensar sobre a sua morte, cada pessoa pode relacioná-la a um dos seguintes aspectos:
a. Medo de morrer: Quanto à própria morte, surge o medo do sofrimento e da indignidade
pessoal. Em relação à morte do outro é difícil ver o seu sofrimento e desintegração, o que origina
sentimentos de impotência por não se poder fazer nada.
b. Medo do que vem após a morte: Quando se trata da própria morte e o medo do julgamento, do
castigo divino e da rejeição. Em relação à do outro, surge o medo da retaliação e da perda da
relação.
c. Medo da extinção: Diante da própria morte existe a ameaça do desconhecido, o medo de não
ser e o medo básico da própria extinção.
O medo da morte pode conter também o medo da solidão, da separação de quem se ama, o
medo do desconhecido, o medo do julgamento pelos atos terrenos, o medo do que possa ocorrer
aos dependentes, o medo da interrupção dos planos e fracasso em realizar os objetivos mais
importantes da pessoa. São tantos os medos, que algum sem dúvida faz parte de nossa vida. Em
relação ao outro, a extinção evoca a vulnerabilidade pela sensação de abandono.
Para Feifel (1959) os fatores que mais influenciam, no sentido de conter o medo da morte, são: a
maturidade psicológica do indivíduo, a sua capacidade de enfrentamento, a orientação e o
'envolvimento religiosos que possa ter e a sua própria idade.