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2020 / 2023
Vice-Presidente
Ilza Maria Urbano Monteiro
Secretária
Jaqueline Neves Lubianca
Membros
Carlos Alberto Politano
Cristina Aparecida Falbo Guazzelli
Edson Santos Ferreira Filho
Jarbas Magalhães
Luis Carlos Sakamoto
Maria Auxiliadora Budib
Mariane Nunes de Nadai
Milena Bastos Brito
Sheldon Rodrigo Botogoski
Tereza Maria Pereira Fontes
Valeria Barbosa Pontes
Zsuzsanna Ilona Katalin de Jarmy Di Bella
Descritores
Anticoncepção; Planejamento familiar; Protocolo hormonal contraceptivo
Como citar?
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Anticoncepção
hormonal combinada. São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO-Ginecologia, no 65/
Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção).
Introdução
A anticoncepção moderna ofereceu à humanidade um avanço
inestimável na qualidade de vida, principalmente às mulheres
que, hoje, conseguem planejar quando e se querem engravidar.
O advento do anticoncepcional hormonal combinado (AHC), que
marca o início dessa nova fase da anticoncepção, é resultado da
associação entre um componente estrogênico e outro progesto-
gênico, sendo esse último o principal responsável pela eficácia
contraceptiva, visto que provoca anovulação por inibição do eixo
hipotálamo-hipófise-ovariano.
Os AHCs podem ser administrados por várias vias, sendo o
contraceptivo oral combinado (COC) o mais conhecido deles e o
mais utilizado no Brasil e em quase todo o mundo.(1) Apresenta
alta eficácia quando usado de modo ideal e está associado a be-
Classificação
Podemos classificar os AHCs de acordo com sua forma de ad-
ministração, resultando em quatro grupos: injetável, vaginal,
transdérmico e oral. Com exceção da via injetável, as outras
apresentam a vantagem de não dependerem de um profissional
da saúde para seu uso. O anel vaginal disponível no Brasil libera
etonogestrel (120 µg/dia) e etinilestradiol (EE) (15 µg/dia). (2) O
adesivo libera EE (33,9 µg/dia) e norelgestromina (203 µg/dia),
sendo a única formulação de AHC transdérmico acessível em
todo o mundo.(3)
Utilizados mensalmente, dois AHCs injetáveis foram ex-
tensamente estudados pelo Programa Especial de Pesquisa,
Desenvolvimento e Treinamento em Reprodução Humana (HRP)
da Organização Mundial da Saúde (OMS). Um deles é composto
de 5 mg de valerato de estradiol e 50 mg de enantato de noretis-
terona e outro, 5 mg de cipionato de estradiol e 25 mg de acetato
de medroxiprogesterona. (4) Os COCs apresentam grande variabi-
lidade de formulações. O componente estrogênico mais comum
é o EE, utilizado em doses que variam entre 35 µg e 15 µg. Há
duas formulações mais recentes compostas de estrogênios na-
turais. Há grande variabilidade de progestagênios, o que clas-
sifica os COCs em gerações, sendo responsáveis, na maioria das
vezes, pelos benefícios não contraceptivos associados aos AHCs
(Quadro 1).
Mecanismo de ação
Os AHCs agem, primariamente, inibindo a secreção de gonadotrofi-
nas, sendo o progestagênio o principal responsável pelos efeitos con-
traceptivos observados. O principal efeito do progestagênio é a inibi-
ção do pico pré-ovulatório do hormônio luteinizante (LH), evitando,
assim, a ovulação. Além disso, espessa o muco cervical, dificultando
a ascensão dos espermatozoides; exerce efeito antiproliferativo no
endométrio, tornando-o não receptivo à implantação; altera a secre-
ção e a peristalse das tubas uterinas.(5) O componente estrogênico
age inibindo o pico do hormônio folículo-estimulante (FSH) e, com
isso, evita a seleção e o crescimento do folículo dominante. Também
age para estabilizar o endométrio e potencializar a ação do compo-
nente progestagênio por meio do aumento dos receptores de proges-
terona intracelulares.(5)
Efeitos adversos
Apesar da progressiva redução de dose hormonal, com consequen-
te diminuição dos efeitos adversos gerais e metabólicos, são funda-
mentais o conhecimento e a orientação sobre estes.
Gerais
Os principais efeitos gerais associados aos AHCs estão listados no qua-
dro 2. Dois pontos merecem destaque: alteração de humor e ganho de
peso. Um estudo observacional evidenciou discreto aumento do uso
de antidepressivos entre usuárias de contracepção hormonal (uma
em cada mil usuárias), independentemente da formulação ou da via
de administração utilizada.(6) Não foi observada relação entre ganho
de peso e uso de AHC, apesar do relato por algumas mulheres.(7)
Metabólicos
• Pressão arterial: o EE aumenta a síntese hepática de angioten-
sinogênio, que, por sua vez, eleva a pressão arterial sistêmica a
partir do sistema renina-angiotensina-aldosterona.(8) Em mu-
lheres saudáveis e normotensas, essa alteração não provoca re-
percussões clínicas.(9)
• Metabolismo dos carboidratos: o estrogênico induz resistência à
insulina, sem impacto significativo no metabolismo glicídico de
mulheres saudáveis e não diabéticas.(10)
• Sistema hemostático: os AHCs induzem aumento da resistência
à proteína C ativada, colaborando para um estado pró-trombóti-
co. Duplicam a sextuplicam o risco relativo de trombose venosa
profunda se comparados a não usuárias de AHCs, dependendo
da dose do EE e do progestagênio associado.(11)
Contraindicações
Periodicamente, a OMS atualiza os critérios de elegibilidade neces-
sários para a prescrição dos contraceptivos, com base em evidências
científicas. As categorias são classificadas conforme o quadro 2 e as
condições clínicas consideradas contraindicações absolutas estão
listadas no quadro 3.(12)
Continuação.
Enxaqueca com aura
Enxaqueca sem aura + idade ≥ 35 anos para continuar em uso do AHC
Câncer de mama atual
DM complicado com nefropatia, retinopatia, neuropatia ou outra vasculopatia, ou mais de 20
anos de doença
Cirrose descompensada, adenoma hepatocelular e hepatoma (categoria 3 se injetável)
Lactante nas primeiras seis semanas pós-parto
Puérpera não lactante, com fator de risco para TVP*, nos primeiros 21 dias
Fonte: World Health Organization (WHO). Medical eligibility criteria for contraceptive use
[Internet]. 5. ed. Genebra: WHO; 2015. [cited 2018 Aug 19]. Disponível em: http://www.who.int/
reproductivehealth/publications/family_planning/en/index.html(12)
TVP: trombose venosa profunda; EP: embolia pulmonar; IAM: infarto agudo do miocárdio; AVC:
acidente vascular cerebral; FA: fibrilação atrial; DM: diabetes melito; HAS: hipertensão arterial
sistêmica; DCV: doença cardiovascular; ACA: anticorpo antifosfolípide; HNF: hiperplasia nodular
focal.
* São considerados fatores de risco para TVP: passado de TVP, trombofilia, obesidade, hemorragia
ou transfusão sanguínea pós-parto, imobilidade, pré-eclâmpsia, tabagismo e parto cesariano
imediato.
Uso clínico
A prescrição dos AHCs deve se iniciar na fase folicular precoce,
preferencialmente até o quinto dia do ciclo menstrual. As formula-
ções orais podem ser administradas a cada 24 horas, das seguintes
formas:
Recomendações finais
1. Métodos contraceptivos hormonais combinados são seguros e
eficazes, porém devem ser prescritos por um médico, preferen-
cialmente ginecologista ou profissional da saúde que faça parte
de um Serviço de Planejamento Familiar.
2. Ao prescrever AHC, o médico deve avaliar se a mulher tem algu-
ma contraindicação. Caso tenha alguma restrição, deverão ser
oferecidas, apenas, as opções seguras para ela (categorias 1 e 2 da
OMS). (http://www.who.int/reproductivehealth/publications/
family_planning/en/index.html)
3. Ao escolher um método contraceptivo hormonal combinado, a
paciente deve ser orientada no tocante aos possíveis riscos e aos
benefícios adicionais.
4. Não é necessária a solicitação de exames subsidiários para o uso
de AHC, mas a aferição da pressão arterial e cuidadosa anamne-
se a respeito de antecedentes pessoais e familiares de trombofi-
Protocolos Febrasgo | Nº65 | 2021
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Anticoncepção hormonal combinada
Referências
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Social Affairs. Population Division. World contraceptive use. Geneva: WHO; 2015.
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3. Abrams LS, Skee DM, Natarajan J, Wong FA, Leese PT, Creasy GW, et al.
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