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Auditoria do TA confirma suspeita: FNDS é um saco azul

PCA do FNDS condenado

a devolver seis milhões
Coordenador do projecto MOZBIO deve repor cinco milhões e há outros condenados
Ao todo, TA quer que responsáveis do MOZBIO devolvam mais de 26 milhões de MT
80 Meticais

Registo: 011/GABINFO-DEP/2020
DIRECTOR: Nelson Mucandze | EDITOR: Reginaldo Tchambule | Terça-Feira, 25 de Julho de 2023 | Edição nº: 119 | Ano: 03

Valor é pago mensalmente via delegação da LAM na África do Sul

Magala mentiu:
LAM pagou
10 milhões à FMA
Ministro disse que a FMA ia meter dinheiro na LAM, mas está a tirar 5 milhões por mês
Executivos da LAM questionaram irregularidades nas facturas, mas o ministro interveio
Magala emitiu um “despacho de conforto” a ordenar pagamento imediato à FMA
Enquanto se vende narrativa de crescimento, dívidas com fornecedores estão a crescer

Montagem do Raio X do Hospital Geral da Machava

paralisada há um ano por falta de pagamento
PAGS: CENTRAIS
 2 DESTAQUE Frelimo preocupada com ameaça de membro da Renamo
à Celso Correia
“Sairá daqui sem dentes ou encaixotado”. Foram estas as pala-
vras de um membro sénior da Renamo em Nampula. Reagindo à
alegada ameaça do membro da Renamo a Celso Correia, a porta-
25 DE JULHO DE 2023 -voz da Frelimo, Ludmila Maguni, disse que, a serem verdadeiras,
as declarações do membro da Renamo são preocupantes e põem
em risco um processo eleitoral que se espera que seja pacífico.

Valor é pago mensalmente via delegação da LAM na África do Sul

Governo mentiu: FMA recebeu mais de 10 milhões de meticais
tirados da LAM
Magala disse que a FAM ia meter dinheiro na LAM, mas está a tirar 5 milhões por mês
Executivos da LAM questionaram irregularidades nas facturas, mas o ministro interveio
Magala emitiu um “despacho de conforto” a ordenar pagamento imediato à FMA

O
Governo e a Fly Modern Ark (FMA), parietária
da sul-africana Modern Ark Airline South Afri-
ca, mentiram sobre o modelo de compensação
aos consultores das Linhas Aéreas de Moçam-
bique (LAM) no âmbito da intervenção em
curso. No lugar de partilha de lucros como foi informado em
Maputo, a empresa está facturar mensalmente cinco milhões
de meticais, pelos dois gestores, por sinal, dono e marido da
directora da empresa e um especialista malawiano, que foi di-
rector comercial da quase liquidada South African Express.
O dinheiro é retirado da conta da delegação da LAM na Áfri-
ca do Sul, em facturas com irregularidades, dentre as quais a
omissão do número de Value-Added Tax (VAT, que equivale
ao NUIT em Moçambique), indiciando fuga ao fisco. A FMA
já foi condenada por fuga ao fisco no país de origem. E mais, a
emissão da primeira factura foi quase recusada pela contabili-
dade da LAM, mas o ministro de Transporte e Comunicações,
Mateus Magala, o mesmo que disse que a intervenção não
envolve custos, mas sim partilha de lucros, emitiu um despa-
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

cho de conforto, autorizando um pagamento imediato à FMA.

Evidências contactou a FAM na África do Sul, mas preferiu
não comentar sobre o assunto.
Nelson Mucandze *
No próximo dia 12 de
Agosto, irão somar-se exac-
tos quatro (04) meses desde
o início da intervenção dos
gestores da FMA, que numa
primeira fase devia durar seis
meses, mas, bem antes do ba-
lanço, o período foi estendi-
do à surdina, devendo durar
quase três anos.
Neste período, a investi-
gação do Evidências apurou
que a relação do Governo de
Moçambique e a FMA, cujo
contrato é com o Instituto
de Gestão das Participações
do Estado (IGEPE), ape-
sar desta não assumir e nem
negar, não é transparente
e tem se mostrado lesiva à
LAM, apesar de uma narrati-
va triunfalista que se resume
na “redução dos preços” e
na “abertura de novas rotas”,
duas iniciativas que, mais a
fundo, a nossa reportagem
apurou que não correm como
propalado.
Do resto, a LAM continua
com os mesmos problemas:
voos com problemas mecâni-
cos, como se verificou no voo
de Maputo – Beira no dia 11
de Julho, que estava previsto
para deixar a pistas às 7h, mas
só foi sair às 12h, ou no dia
22 de Julho, quando o voo de
Quelimane – Maputo, deixou
Mateus Magala, traria à LAM nas facturas e pelo facto de o sobre o contrato, na pessoa
dinheiro e meios, e só no fi- anúncio público do Governo da presidente do Conselho
nal do resultado positivo iria não prever qualquer paga- de Administração, disse à
mento aos dois gestores da nossa reportagem que todas
em terra passageiros que só
FMA. as questões relacionadas ao
foram viajar no dia seguinte.
Evidências apurou de fon- FMA devem ser respondidas
Para além de atrasos cícli-
tes internas que, contrarian- pela LAM.
cos que continuam a fazer
do o que disse ao parlamen-
escola, a empresa debate-se
to, o ministro Magala teve de
com falta de liquidez para
mandar um despacho a orde-
cumprir o pagamentos a for-
nar pagamento à FMA. Para
necedores diversos, mas no
o efeito de pagamento men-
meio disto há quem está a
sal de 1.4 milhão de Rands
facturar, ou seja, a já insol-
Mateus Magala é usada a delegação da LAM
vente LAM chegou ao cú-
partilhar lucros com a empre- na África do Sul, cujas recei-
mulo de ter de pagar, a cada
sa. tas mensais, de acordo com
dia 12 de cada mês, desde
“Os honorários da FMA a simulação feita pelo Jornal,
Maio, uma factura de 1 469 Ana Senda
só serão pagos com dinhei- estão muito abaixo de um mi-
580 Rands, ou seja, mais de
ro proveniente da melhoria lhão de Rands por mês, o que “O que vocês pediram
cinco milhões de meticais (ao
de eficiência e do aumento sugere que esta medida pode é informação financeira da
câmbio de 3,52 no dia 21 de
das receitas das operações da estar a colocar aquela delega- LAM, então esta informação
Julho) à mesma Fly Modern
LAM”, disse o ministro de ção formalmente autónoma não está no IGEPE, está na
Ark que o ministro Magala
Transportes e Comunicações numa situação de incapacida- LAM. É a LAM que deve res-
disse que não iria transfor-
quando foi chamado ao Par- de de pagar despesas opera- ponder”, disse Ana Senda,
mar a companhia de bandeira
lamento na última sessão de cionais. sem fazer referência ao con-
em sua vaca leiteira.
perguntas ao Governo, mas Entre as irregularidades trato entre a instituição que
não é o que está a acontecer detectadas nas facturas imi- dirige e a FMA.
Magala mentiu e saiu em
no terreno. É uma posição tadas pela FMA, que o Evi- O pedido de informação
defesa de pagamento a
que viria a ser secundada pela dências teve acesso, consta à LAM foi submetido tem-
FMA
FMA na sua primeira confe- a omissão do código de Va- pestivamente e não tivemos
rência de imprensa. Mas para lue-Added Tax (VAT), que qualquer resposta oficial ao
Na segunda semana do
surpresa de todos, a faturação equivale ao Número Único fim de 21 dias previstos na
mês em curso (Julho), foi
iniciou 30 dias depois do ini- de Identificação Tributário Lei de Direito à Informação.
paga a segunda factura à
cio da intervenção na LAM. (NUIT) e a não descrimina- Inicialmente, foi manifestada
FMA, totalizando mais de
Os pagamentos à FMA ção dos serviços prestados a vontade de responder, com
10 milhões de meticais desde
encontraram a direcção da ou que estão a ser pagos, li- um pedido de pelo menos
Maio passado. Até ao fim dos
LAM de surpresa e, tecnica- mitando-se em afirmar que é uma semana, mas passaram
seis meses, a LAM terá pago
mente, houve resistência das a luz do contrato entre FMA três semanas e a instituição
mais de 30 milhões de meti-
direcções que intervêm nos e o IGEPE. encolheu-se no silêncio.
cais para uma empresa que,
pagamentos por causa das O IGEPE, em respos-
de acordo com o ministro de
irregularidades detectadas ta ao pedido de informação Continua na pag 03
Transporte e Comunicações,
 DESTAQUE
3
Moçambique sofre 1,5 milhão de ataques de cibersegurança por mês
De acordo com o director-geral da Bravantic, Eduardo Vicente,
que falava durante a cimeira sobre cibersegurança realizada em Ma-
puto, Moçambique sofre cerca de 1,5 milhão de ataques cibernéticos
por mês. Por outro lado, Vicente referiu que é importante que as
agências que existem em Moçambique e que necessitam de apoio ou
parceiros tecnológicos como a Bravantic se associem para criar mais
25 DE JULHO DE 2023
fly works, no sentido de serem apoiadas na resolução desses eventos.

Continuação da pag 02

Há fortes indícios de tentativa de fuga ao fisco na RSA

Um contabilista sul-afri-
cano convidado pela nossa
reportagem para analisar a
documentação da empresa
em Joanesburgo e as res-
pectivas facturas disse que a
omissão de VAT configura
uma infracção. No entan-
to, pode-se ponderar a não
discriminação dos serviços
prestados porque a factura
refere que o pagamento é a
luz de um contrato.
O que para o jurista An-
dre Thomashausen não é ra-
zoável, visto que se trata de
um trabalho de consultoria.
“Esta factura surpreende
porque não é discriminada,
não tem os pormenores e
nem os pormenores costu-
meiros desse tipo de traba-
lho. É preciso especificar o
nível do pessoal envolvido
no projecto e a categoria”,
observou.
Ademais, entende que o
governo de Moçambique
precisa ser transparente e
explicar os contornos do pa-
gamento e a transição de um
modelo de partilha de lucro
para pagamentos mensais
Arson Malola
que podem ser lesivos à em-
presa, neste caso a LAM.
“O melhor modelo é o de
partilha de lucros, porque se
o exercício fiscal aumentar
em 10 por cento, eles podem
ganhar X. No momento em
que a empresa começar a
fazer lucros eles vão ganhar
mediante este sucesso, nor-
malmente a parte fixa mensal
é baixa, é para cobrir os cus-
tos da consultoria. Ou seja, a
consultoria participa no ris-
co do sucesso, porque se fos-
se diferente eles poderiam
ganhar grandes somas sem
Primeira factura emitida sem VAT e sem descriminalização dos serviços
ter o sucesso, talvez ficariam
com interesse em atrasar a
viragem da empresa, porque
no momento em que a em-
presa é estável a intervenção
ou o serviço da consultoria
não seria mais necessária”,
observa o jurista.
De acordo com dados
da Companies and Intellec-
tual Property Commission
(CIPC) sul-africano, FMA é
proprietária da Modern Ark
Airline South Africa, criada a
2016/07/05, o que significa
que tem sete anos no merca-
do, contrariando a propalada
narrativa de uma empresa
com dez anos de experiência
na aviação. Curiosamente, o
ano de 2016 coincide com
a ascensão de novos actores
empresariais em Moçambi-
que, em resultado das mu-
danças políticas em 2015.
A directora da empresa é
a Duduzile Primrose Crous,
esposa de Theunis Crous,
que representa a empresa em
Moçambique, ladeado por Ar-
son Malola, única pessoa com
créditos firmados na aviação,
apesar de não se poder dizer o
mesmo sobre suas qualidades
administrativas.
Theus Crous, que tem sua
equipa restrita na LAM, tem
um histórico de fuga fiscal e
seu percurso de empresário é
controverso, criando, em me-
dia, a cada dois anos, empre-
sas que caçam oportunidades.
Não é só na LAM onde
emite facturas que, para além
de suspeitas, violam procedi-
mentos sul-africanos com a
omissão de VAT. Em Novem-
bro de 2012, de acordo com
Theunis Crous
a imprensa sul-africana, Crous
e um funcionário seu foram
presos pela Hawks, uma espé-
cie de unidade anticorrupção,
por supostamente apresentar
reembolsos falsos de Imposto
sobre Valor Agregado (IVA).
Em 2018, o Tribunal de
Crimes Comerciais de Port
Elizabeth, na África do Sul,
veio a lhe absolver das acusa-
ções de fraude, mas foi conde-
nado por violar a Lei do IVA.
Curiosamente, a mesma
mancha na administração das
empresas acompanha o seu
colega, que lidera as interven-
ções técnicas na LAM. É que
Arson Malola foi um dos ou-
vidos, na África do Sul, pela
Comissão Judicial de Inqué-
rito sobre Alegações de Cap-
tura do Estado, Corrupção
e Fraude no Sector Público,
incluindo Órgãos do Estado
(Comissão Zondo), enquan-
to gestor comercial da South
African Express, e fracassou
em uma das empresas de que
foi gestor, a extinta Tafika
Holdings. A reputação dos
únicos funcionários da FMA,
e por coincidência gestores da
LAM no quadro da restrutu-
ração da FMA, questiona os
critérios usados para escolha
Po Jorge
de gestores que a princípio de-
viam meter dinheiro na LAM,
mas meia volta estão a tirar
cinco milhões por mês.
Crous e Malola são os úni-
cos funcionários da FMA, os
mesmos destacados para tra-
zer mudanças à LAM. A esta
equipa junta-se o moçambi-
cano Sérgio Matos, cujo papel
conhecido é de representante
da comissão gestora, a FMA.
O jurista acrescentou que
“o trabalho de consultoria
externa não é tributado, mas
precisa ser declarado às finan-
ças porque é lucro da empre-
sa”. Em termos numéricos,
partilhou que os custos de um
advogado dos mais compe-
tentes na África do Sul cobre
cinco mil Rands por hora. O
que seria, se trabalhasse oito
horas, 40 mil por dia Rands, e
880 mil por mês.
Mas, não existe qualquer
pessoa bem qualificada e mais
cara da cidade a trabalhar oito
horas por dia. E mais do que
isso, a média de cinco mil
Rands não se aplica aos con-
sultores financeiros, onde a
média está mais para metade
dos cinco mil, e é nesta onde
se enquadram os consultores
de aviação.
A tensão na LAM
As Linhas Aéreas de Mo-
çambique estão neste momen-
to em reestruturação. Para o
efeito, o governo instituiu uma
equipa de gestão, onde foram
nomeados para o Conselho de
Decisão os ministros Magala,
o ministro que super entende
das finanças e a presidente do
Conselho de Administração
do IGEPE. Mais abaixo, está
o Conselho Consultivo, onde
foi colocado o director-geral
da LAM, João Carlos Pó Jor-
ge, os vice-ministros dos dois
ministérios, entre outros. É
no Conselho Consultivo onde
está acomodado o dono da
FMA (Crous) com o seu cole-
ga de campo (Malola).
Mas tecnicamente, há pro-
blemas de coordenação e uma
sensação de perseguição. Logo
que o Evidências deu entrada
a carta de pedido de informa-
ção, no lugar de se responder,
começou a caça às bruxas.
Já perto de quatro meses
de intervenção, a FMA conti-
nua concentrada em aspectos
administrativos, e houve, até
agora, pouca intervenção no
sector operativo. Entre as so-
luções mágicas, a empresa des-
cobriu que, bem antes da sua
entrada, a direcção da LAM
aumentou salários sem o pare-
cer do IGEPE, e mais do que
isso, que há fortes indícios de
pagamentos sem a prestação
de serviços.
Uma das grandes ideias que
têm sido vendidas aos moçam-
bicanos nos últimos dias é a
de redução de tarifas, mas não
houve, em termos efectivos,
redução de preços em 30%. O
Evidências apurou numa das
Continua na pag 06
 4 DESTAQUE FMO duvida que julgamento de Chang nos EUA
produzirá informação crucial
A coordenadora do Movimento Cívico para o Fundo Sobera-
no de Moçambique, coligação composta por organizações não-
25 DE JULHO DE 2023 -governamentais que actuam na Pérola do Índico, considerou que
o julgamento do antigo ministro das Finanças Manuel Chang nos
EUA poderá produzir informação crucial sobre as dívidas ocultas.

Auditoria do TA confirma suspeita e penaliza gestores

FNDS é um saco azul e chega a executar projectos
sem aval do Banco Mundial
PCA do FNDS, Cláudio Borges, condenado a devolver seis milhões de meticais
Enquanto o coordenador do projecto MOZBIO deve repor cinco milhões
Ao todo, TA quer que responsáveis do Mozbio devolvam mais de 26 milhões

A
s suspeitas de que o Fundo Nacional de Desenvol- recer segundo o Regulamento
vimento Sustentável (FNDS) é vaca leiteira de um de Aquisições de Mutuários de
grupo selecto, e que durante muito tempo funcio- Operações de Financiamento
nou sem prestar contas a ninguém para encobertar de Projectos de Investimentos
uma festança económica, podem estar agora con- de Bens, Obras, Serviços Téc-
firmadas. O Tribunal Administrativo (TA) detectou, no exercício nicos de consultoria, datado de
económico de 2021, irregularidades financeiras de várias ordens,
Novembro de 2020, nos casos
desde a utilização e pagamentos indevidos de financiamentos,
até adendas de contratos acima do limite estabelecido pelo doa-
de contratos sujeitos a revisão
dor sem o aval deste. O nosso Tribunal de Contas, como que a prévia, o Mutuário providencia-
actuar com mão dura, decidiu “julgar irregulares”, as demons- rá a não objeção do Banco antes
trações financeiras do FNDS - Projecto de Áreas de Conserva- de concordar com a extensão
ção para Biodiversidade e Desenvolvimento (MOZBIO), por do prazo estipulado para a exe-
consequência, sancionar os responsáveis, face às irregularida- cução de um contrato que tenha
des de que as mesmas enfermam”. No acórdão 201/2022 que impacto no cronograma planea-
o Evidências teve acesso, o colectivo de juízes fixou valores que do para a conclusão do projeto
variam de dois e seis milhões de meticais, o valor que deve ser projecto ou modificações con-
devolvido, curiosamente, cabe ao presidente do Conselho de Ad- sideráveis no escopo das obras,
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ministração do FNDS, Claúdio Borges, a fatia mais alta.
Duarte Sitoe
De acordo com o relatório
que descreve as actividades rea-
lizadas em 2021, que correspon-
de ao terceiro ano da sua imple-
mentação, o MozBio 2 teve uma
execução de actividades planifi-
cadas de 58%, e uma execução
financeira anual de 21 536 221
USD (correspondente a cerca
de 80% do planificado para o
ano), dos quais 6 139 341 USD
foram executados pelo FNDS
e 15 396 880 USD executados
pela BIOFUND.
Entre 2019 e 2021 foram de-
sembolsados 30 925 549 USD,
o que representa uma execução
de 43% do orçamento global do
projecto. No entanto, segundo a
auditória do Tribunal Adminis-
trativo (TA), o grosso deste va-
lor foi usado, sendo que houve
adenda de contratos.
Depois de examinar os do-
cumentos que compõem os au-
tos e valorados os elementos da
prova, o Tribunal Administrati-
vo concluiu que os gestores do
Fundo Nacional de Desenvol-
vimento Sustentável - Projecto
de Áreas de Conservação para
a Biodiversidade e Desenvolvi-
mento (MOZBIO) cometeram
infracção financeira.
Aliás, o TA refere que ficou
cristalino que os gestores cele-
braram e executaram as adendas
aos contratos sem observância
dos ditames legais, ou seja, aci-
ma do limite estabelecido pelo
doador (Banco Mundial) e sem
o aval do TA, facto que torna os
pagamentos indevidos, tendo,
por isso, deliberado que os ges-
tores devem fazer a reposição
dos fundos desviados.
Porque os tribunais actuam
os que executam e não os que
politicamente comandam, a au-
ditoria do Tribunal Administra-
tivo confirmou irregularidades
que até aqui eram tidas como
suspeitas, e como resultado deli-
berou que os gestores do Fundo
Nacional de Desenvolvimento
Sustentável devem fazer repo-
sições de valores que variam
de dois milhões a seis milhões
meticais.
Entre os autuados, para além
do presidente do Conselho de
administração do FNDS, Cláu-
dio Borges, constam nomes de
Madyo Couto, coordenador de
projecto MozBio; Cheid Abu-
bacar, administradora do Pe-
louro Financeiro; Ilídio Martins,
gestor financeiro; Verônica Mo-
ple, assistente financeira, e Hen-
riques Conceição, coordenador
de Procurement.
Cláudio Borges, PCA do
FNDS, tido como próximo do
ministro Celso Correia, que tem
estado a arrastar o fundo pe-
los ministérios por onde passa,
deve devolver aos cofres cer-
ca de seis milhões de meticais,
enquanto Madyo Couto deve
repor cerca de quatro milhões
Cláudio Borges, PCA do FNDS
de meticais. O Tribunal Admi-
nistrativo deliberou ainda que
Cheid Abubacar e Ilídio Martins
devem fazer a reposição de cin-
co milhões de meticais e quatro
milhões de meticais, respectiva-
mente, enquanto Verônica Mo-
ple deve repor dois milhões de
meticais.
Multas penalizadoras para
Borges e companhia
Apoiando-se no estatuído
nos n°s 3 e 5 do artigo 114 da
lei n° 14/2014, na redação dada
pela lei n° 8/2015, de 6 de Ou-
tubro, pelo cometimento das
infracções, os Juízes Conselhei-
ros da subsecção de Fiscaliza-
ção Concomitante e Sucessiva
a Secção de Contas Públicas
no Tribunal Administrativo de-
terminaram que os gestores do
Fundo Nacional de Desenvol-
vimento devem pagar multas
que variam dos 500 a 900 mil
meticais.
Tal como aconteceu nas re-
posições, Carlos Borges voltou
a ter a fatia mais alta, visto que
deve pagar uma multa de 900
mil meticais. Madyo Couto e
Cheid Abubacar foram conde-
nados a pagar multas de 800 mil
meticais, enquanto Ilídio Mar-
tins e Verônica Mople foram
multados em 500 mil meticais.
Entre as causas, lê-se que
houve “violação dos preceitos e
procedimentos legalmente insti-
tuídos na gestão dos fundos pú-
blicos, pelos gestores do Fundo
Nacional de Desenvolvimento
(MOZBIO) em 2021”.
Por outro lado, existem mais
de 15 milhões de meticais pagos
sem aval do doador, no caso
o Banco Mundial, o que viola
o estabelecido na alínea c) do
ponto 10.1 do Regulamento de
Aquisições para Mutuários de
Operações de Financiamento
de Projectos de Investimentos e
Bens, Obras, Serviços Técnicos
e Serviços de Consultoria, de
Julho de 2016, Regulamento de
Aquisições do Banco Mundial
que prescreve que “no casos dos
contratos sujeitos a revisão pré-
via, o Mutuário providenciará a
não objeção do Banco antes de
concordar com c) qualquer soli-
citação de mudança ou alteração
contratual (excepto em caso de
extrema urgência), inclusive em
razão de extensão de prazo que,
de maneira isolada ou conjunta-
mente com todas as ordens de
modificação ou alterações ante-
riores, aumente o valor do con-
trato original em mais de 15%”.
Em resposta, no âmbito de
contraditório, aqueles gestores
afirmaram que “Sobre a falta de
No Objection do Banco Mun-
dial para a celebração de adendas
de contratos, cumpre-nos escla-
bens, serviços técnicos ou servi-
ços de consultoria ou mudanças
significativas diversas nas cláu-
sulas e condições do contrato
ou qualquer solicitação de mu-
dança de alteração contratual,
inclusive em razão de extensão
de prazo, que, de maneira isola-
da ou conjuntamente com todas
as ordens de modificação ou al-
terações anteriores, aumente o
valor do contrato original em
mais de 15% e ainda a rescisão
contratual proposta”.
O argumento não convenceu
o auditor, que decidiu compilar
todos os pagamentos pagos aci-
ma do tecto definido pelo doa-
dor sem o parecer deste. No to-
tal, são 26 805, 080,00 meticais,
(vinte e seis milhões e oitocen-
tos e cinco mil e oito meticais e
oitenta centavos).
“Imputar responsabilidade
financeira, traduzida no dever
de reposição aos responsáveis
do Fundo nacional de Desen-
volvimento Sustentável - Pro-
jecto de Áreas de Conservação
para a Biodiversidade e De-
senvolvimento MOZBIO, em
2021, conforme o estatuído no
n° 2 do 98 da Lei n° 14/2014,
de 14 de Agosto, republicada
pela lei n° 8/2015, de 6 de Ou-
tubro, pelo cometimento da
infração tipificada nos artigos
100 e 1001 da lei supracitada,
por ter ficado provado o alcan-
ce e pagamentos indevidos, no
valor total de 26,805,148, 80
meticais referentes a...”, lê-se
no relatório.
 DESTAQUE
5
Governo vai abrir processo disciplinar contra os médicos em greve
Em mais uma demonstração de intolerância, o Ministério da Saú-
de (MISAU) refere que os médicos que estão em greve não estão a
cumprir com os seus serviços mínimos conforme estabelece a lei.
Perante ao incumprimento dos profissionais de saúde, o Executivo
vai marcar faltas e abrir processos disciplinares contra todos os mé- 25 DE JULHO DE 2023
dicos que não forem trabalhar. Não se sabe ao certo quantas pessoas
podem ter morrido até agora por falta de cuidados específicos.

Alegou que o valor era para pagar serviços de um advogado

Reitor da UJC acusado de má gestão e desvio de
2,5 milhões meticais

O
reitor da Universidade Joaquim Chissano Central de Combate Contra a
(UJC), José Magode, é acusado de ter desvia- Corrupção (GCCC)
do cerca de 2,5 milhões de meticais da ins- “Não estamos em sede de
tituição por si liderada. Segundo denúncias, vingança porque aqueles in-
o reitor da instituição do ensino superior que divíduos são funcionários e
nasceu da fusão da Instituto Superior de Relações Interna- assumiam cargos. Eles come-
cionais (ISRI) e Instituto Superior da Administração Pública teram as irregularidades que
(ISAP) desviou o valor em alusão alegando que queria pagar cometeram e por recomenda-
o advogado que defendeu a instituição num caso de acidente, ção do Gabinete Central de
em que a UJC recebeu uma indemnização de 11 milhões de Combate Contra a Corrupção,
meticais. Estranhamente, enquanto paga milhões em servi- que fez a inspeção, foram san-
ços de um advogado, há relatos de má gestão a ponto de, no cionados. Foi respondendo
primeiro semestre do corrente ano, os estudantes terem visto essa recomendação que eles
os exames adiados porque a UJC não tinha pago a factura de foram suspensos. Depois de
energia. Na sua versão dos factos, a Universidade Joaquim sancionados eles não recorre-
Chissano rebateu todas as acusações, justificando que José ram porque é um caso que eles
Magode não tem autonomia para mexer nos fundos da insti- soas que não fazem parte do Em representação do rei- conhecem”, sublinhou.
tuição porque existem pessoas que trabalham com as finan- corpo docente da instituição, tor e da Universidade Joaquim Prosseguindo, França re-
ças e diz que a escola ficou apenas um dia às escuras porque no primeiro semestre do ano Chissano, Mateus França reba- feriu que a Universidade Joa-
um camião derrubou um poste que transporta a corrente. em curso, os estudantes não teu todas acusações que pesam quim Chissano não tem co-
realizaram exames por falta de sobre José Magode e a institui- nhecimento da partilha de
Duarte Sitoe
energia da instituição. ção, justificando que o reitor pautas com pessoas estranhas
Durante a construção da le caso, sem sequer apresentar De acordo com estudantes, não tinha como desviar 2,5 mi- porque cada estudante tem o
estrada circular, um camião da uma justificação plausível para há falta de organização dentro lhões de meticais porque não seu código para aceder às no-
empresa chinesa que era res- o desembolso daquele milioná- daquela instituição, uma vez tem competências para mexer tas, mas reconheceu que a es-
ponsável pelas obras embateu rio pagamento. que foram obrigados a trazer no dinheiro. cola ficou sem energia, porém,
num carro protocolar da Uni- Para além do valor do paga- recibos do primeiro ano por- “O reitor não desviou di- na sua versão, não foi por falta
versidade Joaquim Chissano, mento de serviços de um ad- que a secretaria perdeu uma nheiro porque não é o reitor de pagamento da factura.
tendo o caso seguido para a vogado serem extremamente parte dos documentos. que mexe no dinheiro. Isso é “A faculdade tem energia,
justiça, uma vez que não hou- inflacionados para a realidade “A escola tem a obrigação uma instituição pública como talvez pode haver um corte de
ve entendimento entre as duas do mercado nacional, fontes de ter um arquivo. Agora, es- uma estrutura orgânica. O rei- energia motivada pelas dife-
partes. do departamento financeiro tamos no terceiro ano, mas tor não tem competências de rentes avarias da empresa for-
Após o julgamento, o tri- apontam que o valor em alusão fomos obrigados a procurar mexer no dinheiro, então ele necedora. Há cortes de ener-
bunal deu razão à instituição nunca chegou a ser canalizado recibos do primeiro ano. Há não tem como desviar porque gia em qualquer coisa. Deve
do ensino superior liderada na conta do referido advogado colegas que não conseguiram não tem autonomia para isso. ter havido corte de energia
por José Magode e obrigou a sortudo. trazer os recibos. Como uma Existem pessoas que lidam na semana de exame porque
empresa chinesa a pagar uma Quando percebeu que foi instituição de ensino superior, com essas matérias. Contra- há um camião que derrubou
indemnização de cerca de 11 descoberto, José Magode de- a Universidade Joaquim Chis- tou-se um advogado que fez um dos postes da EDM e ou-
milhões de meticais. cidiu se vingar, ou seja, sus- sano tinha que ser mais orga- a prestação de serviços, na- tro de internet. Ficamos sem
No entanto, segundo de- pendeu os funcionários do nizada. Esperamos que as coi- turalmente que foi pago pe- energia e sem internet. Isso
núncias na posse do Evidên- departamento financeiro e um sas melhorem porque não será los canais apropriados, e esse durou um dia, repusemos e
cias, o reitor da Universidade professor por supostamente sempre que vamos conservar caso está na justiça. É a justi- estamos a funcionar normal-
Joaquim Chissano desviou terem vazado a informação. recibos”, disse uma estudante ça que vai tratar dos assuntos mente. Não faz parte da nossa
cerca de 2,5 milhões de meti- Por outro lado, há relatos que preferiu se identificar pelo subsequentes”, declarou, para cultura. Ninguém traz facturas
cais deste valor, alegando que de má gestão na Universidade nome de Jéssica. depois referir que os três fun- dos anos anteriores. Usa-se os
queria pagar o advogado que Joaquim Chissano. Para além “O reitor não tem compe- cionários foram suspensos por mecanismos bancários que são
defendeu a instituição naque- da partilha de pautas que pes- tência de mexer no dinheiro” recomendação do Gabinete reconhecidos”, rebateu.

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 6 SOCIEDADE
AR reúne-se em Agosto para discutir revisão
pontual da Constituição da República
A Assembleia da República (AR) vai iniciar em Agosto
próximo a revisão pontual da Constituição da República ten-
do no horizonte o adiamento das eleições distritais. O facto
25 DE JULHO DE 2023 foi tornado público pela instituição presidida por Esperança
Bias após reunião da Comissão Permanente da Assembleia
da República (CPAR).

Deslocadas com medo de denunciar violações sexuais nos

centros de acomodação em Cabo Delgado

A
delegada do Instituto Nacional de Gestão e CEF na província de Cabo
Redução do Risco de Desastres de Desastres Delgado, Hector Matanato re-
(INGD), Elizete Manuel, denunciou, recente- conheceu que existem muitos
mente, à margem de uma reunião de balanço casos violência contra menores
das lições aprendidas sobre a prevenção e acções naquela parcela do país, tendo
contra o abuso de poder no âmbito de ajuda humanitária, que destacado que o grosso das vio-
as mulheres que se encontram nos centros de acomodação da lações acontecem nos centros de
província de Cabo Delgado continuam a ser violadas por indi- acomodação para famílias víti-
víduos encarregues de canalizar ajuda humanitária. Invés de mas do terrorismo.
denunciar os abusos às autoridades da lei e ordem, as vítimas Matanato defendeu que as
optam por abraçar o silêncio por medo de represálias e de fica- crianças que vivem nos centros
rem sem o que comer. do centro de acomodação Nan- mentas para combater a violação de acomodação precisam de um
gua, no distrito de Metuge, tem de menores, com destaque para acompanhamento moral e psi-
Manuel - Pemba abusado das mulheres em troca o trabalho infantil e exploração cológico, assistiram condições
Depois de denúncias de ale- violadores. de ajuda humanitária, sendo que sexual, como a que se regista nos desumanas, ou seja, violações se-
gadas violações sexuais nos Para além das recorrentes as mesmas abraçam o silêncio centros de acomodação contra xuais e decapitações de pessoas.
centros de acomodação na denúncias de violações sexuais, para continuarem a receber ali- vítimas do terrorismo. “As crianças, principalmente
província de Cabo Delgado, as Manuel referiu que os indivíduos mentos. Durante a abertura da capaci- as que foram vítimas do terroris-
mulheres vítimas de terrorismo que trabalham nas organizações Por outro lado, há relatos que tação que junta membros senio- mo, são submetidos a trabalhos
foram instadas a denunciar os de ajuda humanitária colocam dão conta do envolvimento dos res da PRM, técnicos do Ministé- forçados, de modo a ganhar algo
casos através da linha telefônica nomes das pessoas que não fo- secretários dos bairros no es- rio do Gênero, Criança e Acção que contribua para sustento fa-
gratuita. ram afectadas pelo terrorismo quema do desvio de ajuda hu- Social bem como representantes miliar. Aliás, para o caso das ra-
No entanto, segundo revelou para desviar donativos, tendo manitária, o que de certa forma do Fundo das Nações Unidas parigas, são obrigadas pelos seus
a delegada do INGD em Pemba, referido que as mulheres que de- contribui para que alguns deslo- para Infância (UNICEF), o chefe membros famílias, a se envolve-
as mesmas preferem continuar a nunciam casos de violações não cados abandonem os centros de do Departamento da Violência e rem na prostituição em troca de
acomodação devido à fome. Gênero no Comando Provincial bens para estancar a fome que
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

sofrer em silêncio em detrimen- têm mostrado disponibilidade

to de denunciar os abusadores
que, no grosso das vezes, fazem
parte do pessoal que trabalha nas
organizações que prestam ajuda
humanitária aos deslocados.
Elizete Manuel avançou que
a Procuradoria-Geral da Repú-
blica e o Instituto Nacional de
Gestão e Redução do Risco de
Desastres de Desastres, com
o apoio dos parceiros, estão a
trabalhar afincadamente para
identificar e responsabilizar os
para dar o devido seguimento.
“Eu penso que não será
medo para fazer denúncias, isto
porque as pessoas já estão a se
libertar um pouco, mas quando
vamos atrás dessas denúncias já
feitas, as vítimas negam que são
elas que as fizeram, daí que se
torna difícil resolver estas situa-
ções”, observou a delegada do
INGD.
De acordo com fontes do
Evidências, um dos responsáveis
Agentes da PRM capacitados
em matérias VBG em
Cabo Delgado
Entretanto, agentes da polícia
da República de Moçambique
(PRM) na província de Cabo es-
tão, desde ontem (24) até o dia
28 do corrente mês de Julho, a
ser capacitados em matérias de
Violência Baseada no Gênero
(VBG), para dotá-los de ferra-
na província, Rufino Raimundo,
garantiu que os policias vão apli-
car os conhecimentos adquiridos
nas suas áreas de jurisdição.
Raimundo instou os mem-
bros da corporação para reporta-
rem evidências de casos relacio-
nados com a Violência Baseada
no Gênero com vista a facilitar
as investigações de outras enti-
dades, sobretudo do Ministério
Público.
Em representação da UNI-
se vive no seio daquelas famílias
que abandonam as suas regiões
por contas da acção macabra dos
malfeitores que até então às mo-
tivações são desconhecida”, dis-
se a fonte.
Refira-se que algumas orga-
nizações não governamentais
apontam que a falta de ajuda hu-
manitária poderá agravar a vio-
lência contra mulheres e crianças
nos centros de acomodação na
província de Cabo Delgado.

Continuação da pag 03

agências da LAM que houve
apenas aumento de assentos
para tarifas promocionais, que
antes estavam apenas limita-
dos em apenas dez assentos
por voo. A gerente da caixa
explicou, por exemplo, que os
30 por cento correspondem
ao valor da redução feita num
bilhete promocional na classe
económica.
“É um desconto que sempre
tivemos, mas antes estava limi-
tado às dez primeiras cadeiras,
é só comprar com antecedên-
cia”, explicou.
Operacionalmente, à mar-
gem da narrativa do sucesso,
a dívida com os fornecedores
mostra-se crescente. A LAM
está com dificuldades até para
pagar a South African Airways
Technical, onde a dívida chega
a 12 milhões de Rands. South
African Airways Technical é
Duduzile Primrose Crous
uma empresa de fornecimento
de peças e manutenção de ae-
ronaves e qualquer limitação da
sua intervenção pode compro-
meter as operações dos proble-
máticos aviões.
Mas, o que Magala disse?
Mateus Magala disse que a
empresa sul-africana foi a op-
ção encontrada pelo Grupo de
Aviação (equipa técnica consti-
tuída pelo Governo para avaliar
e identificar parceiro adequado
para LAM), depois de a com-
panhia aérea moçambicana ter
sido rejeitada por companhias
aéreas europeias e asiáticas de-
vido à sua crítica situação.
“Como que a confirmar isto,
contactamos as companhias
aéreas de reputação mundial e
todas elas não mostraram inte-
resse. (…) Foram contactadas
empresas do Médio Oriente, da
Europa e outras regionais, que
não se mostraram interessadas
em fazer parcerias, nem intervir
na LAM nas condições em que
se encontra”, disse Magala aos
parlamentares, sem revelar os
nomes das companhias aéreas
contactadas e muito menos o
período em que foram contac-
tadas.
Para Magala, a FMA consti-
tuía a melhor opção para a esta-
bilização da LAM, por ser uma
entidade de “reconhecida expe-
riência e, sobretudo, por assu-
mir o risco desta operação”.
Mas FMA não assume os
riscos, e por isso está ser pago
pelo serviço e não pela partilha
de lucros. Todos os indicadores
apontam que a escolha da Fly
Modern Ark não foi transpa-
rente, e que a empresa não é
reconhecida e não tem qual-
quer experiência, e mais do que
isso, foi criada com objectivo
de concorrer à gestão e equi-
par a Air Zimbabwe, que tam-
bém era rejeitada pelas grandes
companhias. A Air Zimbabwe
rejeitou a proposta da FMA.
Quando falhou a caça de ac-
ções, a FMA teve de se reinven-
tar para dedicar-se a aluguer de
aeronaves, ou seja, a mediação
de aluguer até conseguir, pela
primeira vez, a oportunidade
de intervir em uma empresa
quase falida em Maputo, no
caso a LAM.
A criação de empresa em
função das oportunidades pa-
rece ser um procedimento co-
mum do controverso empresá-
rio Crous, que tem cerca de sete
empresas, todas com a esposa
como capa, onde assume fun-
ções de directora, como são
os casos de Segers Aero Sou-
th Africa (2008), Ehang Africa
(2013), Segers Aerospace Afri-
ca (2015), Segers Corporation
SA (2017), Phakama Civils and
Projects (2018) S A Lasertech
(2019), e, claro, a Modern Ark
Airline South Africa (2016).
* Reportagem produzida no âmbito
do Programa para Fortalecimento do
Jornalismo Investigativo com enfoque
na Transparência e boa Governação
Económica – REAJIR.
 FICHA TECNICA
Registro: 011/GABINFO-DEP/2020
DIRECÇÃO | REDACÇÃO E
ADMINISTRAÇÃO
Avenida 24 de Julho; n0 4318; 10 andar
esquerdo; Cidade de Maputo
DIRECTOR EDITORIAL:
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JORNALISTAS: Duarte Sitoe,
Renato Cau e Aldo Matsinhe |
REVISOR: Wells Matsinhe |
EXPANSÃO:
Edmilson Mate Cell: 847574905 |
CORRESPONDENTES: Beira - Jossias
Sixpence | Nampula – Francisco Máquina,
Pemba - Arnaldo Portugal
COLUNISTAS EFECTIVOS: Luca Bussotti,
Afonso Almeida Brandão, Alexandre Chiure,
Teodósio Camilo
Propriedade de:
Numero de Registro de Entidade
Legais: 101353478
EDITORIAL
25 DE JULHO DE 2023
Algo está errado na intervenção
da LAM
A intervenção da Fly Modern Ark
nas Linhas Aéreas de Moçambique
tem muitas zonas de penumbra e
abre espaço para se acreditar que es-
tamos perante mais uma bolada que
interessa alguém com punhos para
mexer pauzinhos no Executivo.
Toda narrativa do sucesso não é
consistente, os dados do governo
sobre os contornos da intervenção
são mentirosos, e o que é verda-
deiro nisso tudo é que a empresa
que intervém está a facturar, e bem
mesmo, o que justifica a propagan-
da triunfalista para legitimar o tacho
pago. E antes da hora do balanço,
sonha-se em estender o contrato em
dois anos. O tacho justifica, mas os
resultados da intervenção não.
É no mínimo criminoso que uma
empresa, que da boca de um gover-
nante ouvimos que traria seus pró-
prios meios e que não seria paga,
venha a ser a mesma a tirar dinheiro
para os bolsos dos intervencionis-
tas. E não deixa de ser curioso o fac-
to de os dois únicos funcionários da
FMA, com ficha manchada, sejam
os mesmos a conduzir as operações
em Maputo. Em física seria uma
descoberta dizer que os suspeitos
atraem-se, em oposição a máxima
que diz que os opostos se atraem.
As três supostas grandes conquis-
tas da FMA, desde que chegou em
Maputo, estão alicerçadas num chão
de vidro, primeiro a redução da dívi-
da que estava escondida numa fór-
mula matemática, por “culpa” dos
financeiros “incompetentes” que
não conseguem distinguir o passivo
do activo. Depois temos a redução
das tarifas em 30%, que afinal nun-
ca existiu. Bastou um leigo estar em
frente de caixa de qualquer agência
da LAM para perceber que a empre-
sa sempre reduziu em 30 por cento
os primeiros dez assentos de classe
económica nos seus bilhetes pro-
mocionais e que o único detalhe que
houve foi aumentar as cadeiras para
bilhetes promocionais.
Agora domina a propaganda de
7
novas rotas, uma ambição que só
devemos celebrar quando efectiva-
mente se concretizar e confirmar
que de facto não sobrecarrega a
LAM, e não é campanha para alugar
mais aviões e aumentar a factura da
FMA. É que, para os mediadores,
a contratação dos serviços dá uma
margem extra, num país em que há
gente que enriquece ganhando co-
missões.
Qualquer celebração no cenário
actual não passa de distração para
delapidar mais a empresa num mo-
mento decisivo, em que o poder
pode estar em transição, e é crucial
tirar o máximo de barganha para ga-
rantir a sobrevivência após o poder.
O que os moçambicanos mais
querem não são novas rotas em
aviões cansados, mas, antes de tudo,
voos consolidados, em termos de
pontualidade, e que oferecem segu-
rança acima de tudo. Garantido isto,
que é o básico, podemos falar de
novas rotas.
E desta vez tinha que ser Magala o
mensageiro. Logo Magala, o idóneo,
competente, técnico e menos polí-
tico. E ele que garantiu a grandeza
do FMA e serviu de testemunha da
empresa cujo perfil não deixa dúvi-
da de que estamos perante pessoas
que viram na LAM oportunidade
de facturar, e logo no primeiro mês
de trabalho começaram a encher os
bolsos em surdina.
Surpreende sim a coragem de Ma-
gala, que até deu peito no parlamen-
to e chegou ao cúmulo de afirmar
que a LAM vive 90% do endivida-
mento sem se importar com a rea-
ção do mercado e da banca. Vendeu
a versão da maçã podre quando de-
via ter aproveitado o momento para
explicar os contornos da contrata-
ção da FMA, os integrantes da co-
missão que escolheu esta empresa
e retirar todo o secretismo que as-
sombra o processo. Já se vão quatro
meses, os dois aviões prometidos
ainda não foram vistos e os velhos
não aceitam mais remendos.
 8 SOCIEDADE
Escola Secundária de Namaacha em risco de desabar
A Escola Secundária de Namaacha, na província de Maputo,
está em risco de desabar devido ao estado avançado de degrada-
ção. Por conta da degradação, dez salas de aulas estão abando-
nadas, incluindo o lar, e os alunos estão a ser transferidos para
outras escolas próximas, no distrito. Por outro lado, as outras
25 DE JULHO DE 2023 treze salas que restam, com cerca de três mil alunos, também
estão na iminência de ficar sem tecto ou de desabar devido ao
mau estado físico

Profeta “garimpeiro” indiciado de tráfico de menores

em Cabo Delgado

U
m garimpeiro, que responde pelo nome de
Selemane Assane, é indiciado de tráfico de
menores no distrito de Montepuez, provín-
cia de Cabo Delgado. Assane, que também
é profeta, ficou três meses nas celas da Po-
lícia da República de Moçambique, mas viu a população
a fazer um milagre, visto que contribuiu 70 mil meticais
para pagar fiança para que o profeta “garimpeiro” fosse
restituído a liberdade.
Adolfo Manuel - Pemba
Selemane Assane deslocou-se, de Moçambique sob alegação de
há alguns anos, a Namanhumbir tráfico de menores.
com a missão de procurar pe- Numa entrevista concedida ao
dras preciosas e consta que foi Evidências, o profeta garimpeiro
dos primeiros a identificar gemas refutou todas as acusações que
com valor comercial, antes mes- pesam sobre si, tendo agradecido
mo de se implantar a Montepuez a benevolência dos seus seguido-
Ruby Mining na região, mas ao res que contribuíram para pagar
invés de garimpo transformou- os 70 mil da caução pedida pelas
-se num grande profeta, passan- autoridades da lei e ordem.
do a curar pessoas que padecem “No processo consta que se-
de várias enfermidades sem fazer questrei nove meninos, mas isso
cobranças. não corresponde à verdade. No
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

Recentemente, quando esta- dia da minha detenção estava Deus”, desmentiu o profeta. contou, por outro lado, que quan- que nos últimos dias a sua resi-
va a operar milagres, Assane foi na montanha, com mais de 100 Selemane Assane, que aguar- do estava retido curou os reclusos dência tem sido cercada por pes-
detido pela Polícia da República pessoas, a cumprir a missão de da pelo julgamento em liberdade, que estavam doentes, denunciado soas estranhas na calada da noite.

Jornalistas de Gaza inteiram-se sobre Prémio de Jornalismo em Segurança Social

J
ornalistas de diferentes órgãos de informação da A Delegação Provincial do alcance de altos índices de ins- rios (trabalhadores), sobretudo
província de Gaza estiveram reunidos, recente- INSS de Gaza espera que o crição, tanto de contribuintes os Trabalhadores por Conta
mente, na cidade de Xai-Xai, com a delegação referido encontro tenha cons- (empresas), como de beneficiá- Própria (TCP).
do INSS naquela parcela do sul do país, para se ciencializado os profissionais
inteirarem do Prémio Nacional de Jornalismo da comunicação social em re-
em Segurança Social Obrigatória (PNJSSO-2023), que ferência, sobre a sua inquestio- Banco de Moçambique readimite a Standard Bank
este ano já vai na sua terceira edição. nável importância na dissemi-
Moçambique, SA ao Mercado Cambial Interbancário

Trata-se de uma prática da
instituição, no sentido de expli-
car e esclarecer aos potenciais
participantes sobre todos os
contornos que norteiam o con-
curso, cuja iniciativa tem como
objectivo reconhecer e encora-
jar os órgãos de informação e
os seus profissionais a pautarem
pela prática de jornalismo sobre
matérias da área da Segurança
Social.
No encontro de Xai-Xai,
para além da classe jornalística
e do INSS, esteve também pre-
sente o secretariado provincial
do Sindicato Nacional de Jor-
nalistas (SNJ), um dos parceiros
do prémio, juntamente com a
Organização Internacional do
Trabalho (OIT), no qual, igual-
mente, foi feita a divulgação do
Regulamento da Segurança So-
cial Obrigatória, aprovado pelo
Decreto nº 51/2017, de 9 de
Outubro.
O Chefe do Departamento
Provincial do Seguro Social,
Aristides Alberto Chilaule, fa-
lando em representação da
delegada provincial do INSS,
sublinhou a importância da pa-
lestra aos jornalistas de Gaza,
dado que, segundo explicou, é
impossível apresentar um traba-
lho jornalístico em matérias de
Segurança Social de qualidade,
fiável, bem como, difundir os
objectivos para que foi criado o
Sistema Nacional de Segurança
Social sem o pleno domínio do
respectivo regulamento.
Aristides Alberto Chilaule
disse, ainda, que o objectivo da
Direcção Geral do INSS, ao ins-
titucionalizar o PNJSSO, é de
legitimar e reconhecer o bom
trabalho realizado por jornalis-
tas nacionais, premiando-os, de
modo a elevar o interesse, cada
vez mais, por conteúdos relati-
vos à segurança social, dado o
seu papel mobilizador, informa-
tivo e educativo na sociedade.
O
nação de matérias relacionadas
com a Segurança Social Obri-
gatória, por serem um dos Banco de Moçambique readmitiu, semana
principais elos de ligação com finda, o Standard Bank ao Mercado Cambial
o público utente do Sistema, Interbancário depois de dois anos de sus-
para o caso vertente pela difu- pensão de todas as actividades cambiais, na
são das matérias visadas para o sequência um processo de investigação por
prémio. suspeita de contravenção.
Alguns participantes no se-
minário garantiram ter já ini-
ciado com a preparação dos
trabalhos para concorrer ao
PNJSSO-2023, para além de te-
rem apresentado sugestões aos
organizadores sobre algumas
questões constantes do regula-
mento do prémio, que acham
pertinentes revisitá-las, tendo
em vista aumentar o nível de
interesse por parte dos poten-
ciais participantes, com desta-
Com efeito, a partir desta se- Interbancário.
que para os trabalhos apresen- gunda-feira, 24 de Julho, a insti- Segundo nota do Banco de
tados em línguas nacionais. tuição está autorizada a realizar Moçambique, a decisão decorre
Para o INSS, segundo Chi- todas as operações legalmente do facto de o Standard Bank ter
laule, a essência da institucio- permitidas, nos termos do Avi- adoptado significativas medidas
nalização do PNJSSO tem em so n.º 7/GBM/2021, de 22 de correctivas que visam adequar a
vista ajudar ao Sistema de Se- Dezembro, que aprova o Regu- sua actuação às normas e práti-
gurança Social e ao INSS no lamento do Mercado Cambial cas vigentes.
 POLÍTICA
9
CNE garante que já há fundos para a realização das eleições autárquicas
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) garantiu que já existe
dinheiro para a realização das eleições autárquicas, agendadas para
Outubro do ano em curso. Nós estamos a trabalhar com o Ministério
das Finanças para ver como é que podemos conseguir gerir os poucos
fundos que o país tem para cobrir onde não está coberto. Até aqui as
actividades estão a ser realizadas com normalidade e acreditamos que
nada poderá prejudicar o processo eleitoral em termos financeiros”,
25 DE JULHO DE 2023
frisou o porta-voz da CNE.

Nova Democracia entra na corrida às autárquicas

com nomes de peso

O
Eunice Andrade, em Maputo, e Rachade Carvalho, em Nampula, ameaçam hegemonia dos grandes
partido Nova Democracia (ND) apresentou MO à corrida; Manuel Rodri-
no último Sábado, dia 22 de Julho, os seus gues, actual Governador da
cabeças-de-lista para a corrida às eleições província pela Frelimo e Carlos
autárquicas agendadas para 11 de Outubro Saide do MDM.
próximo. Entre os 17 candidatos, todos jo- Já para a capital da zona cen-
tro, Beira, a ND posicionou o
vens, apresentados no último fim-de-semana, estão figuras
conhecido autor, escritor, poeta
de peso designadas para, em nome do partido, brigarem e empreendedor Lino Eustáquio,
por algumas autarquias, com destaque para as cidades de de 36 anos de idade, ex-militante
Maputo e Nampula. Em Maputo, foi escolhida a renoma- da Frelimo, onde ocupou cargos
da e carismática comunicadora e empreendedora social de de relevo na OJM e CNJ. Lino
44 anos de idade, Eunice Andrade Valgy, enquanto para o Eustáquio terá de medir forças
município de Nampula foi designado o ex-deputado da As- com Albano Carige, actual edil
sembleia da República, Rachade Carvalho, pela bancada e candidato pelo MDM, Geraldo
parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique Carvalho, candidato da RENA-
(MDM) e que dentre vários feitos tem a proeza de ter li- lutar pelo partido pela cidade de o indicado para a autarquia de MO e Stela Zeca, mandatária da
derado a campanha que levou o antigo edil de Nampula, Maputo, onde terá que digladiar Nampula, Rachade Carvalho, de Frelimo.
Mahamudo Amurane, ao poder, derrotando pela primeira com Razaque Manhique da Freli- 41 anos de idade, formado em De referir que Salomão Mu-
mo, Venâncio Mondlane da Rena- Gestão de Recursos Humanos e changa avançou no acto da apre-
vez, precisamente, um candidato da Frelimo.
mo e Augusto Mbazo do MDM. empreendedor no sector de co- sentação dos cabeças-de-lista
Renato Cau Maputo poderá ser o campo mércio. Carvalho foi deputado que o seu partido irá concorrer
de uma batalha feroz pelos votos da Assembleia da República pelo em 20 municípios, onde terá a
O partido comandado por Sa- os colossais nomes apresentados e Eunice Andrade, primeira mu- Movimento Democrático de Mo- tarefa de construir laboratórios
lomão Muchanga apresentou ofi- nas cidades de Maputo, Beira e lher a concorrer para o cargo na çambique (MDM), é mobilizador de boa governação para servi-
cialmente os seus cabeças-de-lista Nampula. capital do país, tem como princi- nato e conhece muito bem a cida- rem de exemplo ao país inteiro,
para as VI Eleições autárquicas, Diga-se que grande parte dos pais armas, para além da simpatia de pela qual pretende ir às urnas. e até então é o único partido sem
que terão a dura missão de con- moçambicanos foram pegos de que lhe é característica, carisma e No seu círculo eleitoral, Car- assento no parlamento que apre-
vencer o eleitorado de algumas surpresa quando a Nova Demo- popularidade, sobretudo entre os valho vai às urnas contra Paulo sentou os seus cabeças-de-lista
das principais cidades do país, cracia deu a saber que a apresen- mais jovens e “mamanas”. Vahanle, actual edil da cidade, para as VI Eleições Autárquicas
bem como “bater de frente” com tadora Eunice Andrade passaria a Outro candidato de peso foi que foi relançado pela RENA- de 11 de Outubro.

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 10 POLÍTICA
Irlanda reafirma compromisso de consolidar relações com Moçambique
A Irlanda, através do seu vice-primeiro-ministro e ministro dos
Negócios Estrangeiros e da Defesa da Irlanda, Micheál Martin, rea-
firmou, recentemente, no final da audiência concedida pelo Presi-
dente da República, Filipe Nyusi, o compromisso de consolidar as
relações de cooperação com o Estado moçambicano e fortalecer as
25 DE JULHO DE 2023 oportunidades para incrementar as ligações económicas, comerciais
e de investimento.

Extraparlamentares juntam-se ao MDM na Beira

Renam Democrática, Partido Ecologista e PDD vão marchar em
reconhecimento da boa governação de Albano Carige

O
Beneficiários do DDR estarão nas mesas de voto para apoiar o MDM
Movimento Democrático de Moçambique Beira, a nossa primeira acção
(MDM) está a coleccionar apoios para será uma grande marcha em
atacar as próximas eleições autárquicas. reconhecimento de boa go-
Depois do Partido Independente de Mo- vernação do MDM e Albano
çambique (PIMO), o MDM viu, durante Carige”, declarou Singano.
1ª Sessão Extraordinária da Comissão Política Nacio- Por sua vez, o presidente
nal, a Renam Democrática (RD), o Partido Ecologista do Movimento Democrático
e o Partido para a Paz e Desenvolvimento (PDD) con- de Moçambique, Lutero Si-
firmarem o seu apoio incondicional ao partido do galo mango, vincou a importância
para conquistar, mais uma vez, o município da Beira e do apoio que tem recebido
os demais municípios que já estiveram sob a gestão do dos partidos políticos e or-
partido liderado por Lutero Simango. Para além dos par- ganizações da sociedade civil,
tidos extraparlamentares, alguns ex-guerrilheiros da Re- reiterando que espera que o
namo, desmobilizados no âmbito do processo do DDR, apoio traga resultados ao par-
mostraram disponibilidade para fazer parte das listas do que passou todos anos nas Singano, que é considera- tido por si dirigido e, sobre-
MDM, tendo igualmente vincado que no dia 11 de Ou- matas e hoje está marginali- do desertor e traidor na per- tudo, para os moçambicanos.
tubro estarão nas mesas de voto a monitorar o processo. zada. Esta equipa saiu de Ma- diz, foi mais longe, anuncian- “O MDM já abriu as por-
corococho para testemunhar do que nos próximos dias tas e esse apoio é totalmente
Jossias Sixpence-Beira
esta reunião da Comissão Po- será organizada uma marcha incondicional, com ou sem
O Movimento Democrá- O presidente da Renam lítica do MDM. Nós da RD, em reconhecimento à boa coligação temos que estar
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tico de Moçambique esteve,
recentemente, a afinar a má-
quina tendo no horizonte as
próximas eleições autárqui-
cas, tendo na ocasião anun-
ciado que vai concorrer em
todos os municípios, tendo
por isso solicitado apoio dos
partidos extraparlamentares e
de algumas organizações da
sociedade civil.
Democrática, Vitano Sin-
gano, marcou presença na
1ª Sessão Extraordinária da
Comissão Política Nacional.
Para além de apresentar ex-
-guerrilheiros da Renamo que
pretendem se unir ao MDM,
Singano manifestou apoio
incondicional ao MDM nas
próximas eleições autárquicas
“Esta é uma das senhoras
no âmbito do fortalecido do
diálogo com o MDM, que
ainda não tornaremos em pú-
blico, queremos garantir que
em todo Moçambique, dos
5221 guerreiros abrangidos
pelo DDR, 80% estão com
a RD e estarão nas mesas de
votação em apoio ao MDM”,
disse Singano, presidente do
RD.
governação do actual edil da
Beira, Albano Carige.
“Queremos deixar esta
mensagem para os moçam-
bicanos: se Moçambique é
de paz, as eleições devem ser
livres, justas e transparentes.
Começamos por Beira, por
ser bastião da oposição em
Moçambique, e esta acção
será ao nível nacional. Na
unidos, porque a união faz a
força, e quero vos dizer que
o MDM continua a receber
vários apoios de partidos po-
líticos e organizações da so-
ciedade civil. Este apoio não
significa coligação, mas sim
união de vários partidos po-
líticos com único objectivo
de vencer as eleições de 11 de
Outubro”, disse Simango.

Quase 40% da população moçambicana Ministério dos Combatentes recebe lista

dos 5.221 beneficiários do DDR
é analfabeta

Q A
uase 40% da população moçambicana,
dos 30 milhões de habitantes é analfabeta,
avançou nesta segunda-feira o Presidente
de Moçambique, referindo que a maioria
são mulheres.
“Nota-se que, actualmente, a analfabetismo.
taxa de analfabetismo entre as Filipe Nyusi referiu ainda
mulheres é de 49,4% e 27,2% que o problema atinge 50,8%
nos homens, é preciso refletir- da população rural e 18% da
mos porque é isso que está a população urbana, sugerindo
acontecer”, disse Filipe Nyusi, que os governantes das provín-
durante a abertura da conferên- cias mencionadas identifiquem
cia nacional da educação que e corrijam as deficiências na
decorre em Maputo, precisando educação que estejam a contri-
que uma taxa de analfabetismo buir para as baixas taxas de al-
global no país é de 39%. Segun- fabetização.
do o chefe de Estado moçam- O Presidente moçambicano
bicano, as províncias de Niassa, manifestou ainda preocupação
Cabo Delgado e Nampula, no sobre os atrasos na conclusão
norte do país, e as províncias de dos níveis académicos, fazen-
Tete e Zambézia, no centro de do menção às estatísticas que
Moçambique, são as que apre- revelam que uma criança leva
sentam os maiores índices de em média o dobro de anos para
ministra dos Combatentes, Josefina Mpelo re-
cebeu, na tarde desta segunda-feira, em Mapu-
concluir o ensino primário e
to, a lista dos 5.221 beneficiários do Processo
que a taxa média de graduados
de Desarmamento, Desmobilização e Reinte-
em Moçambique está abaixo
gração, DDR.
de 30%. “Estes atrasos na con-
clusão dos níveis aumentam os
custos para as famílias, para a
sociedade e também compro-
metem o rácio aluno/ profes-
sor”, vincou.
Ainda de acordo com o che-
fe de Estado, há uma “grande
disparidade” no número de
estudantes universitários dis-
tribuídos pelo país, sendo que
A entrega da lista foi feita dos Combatentes para que pos-
cerca de 100 mil (42,4%), dos
pelos representantes do Gover- sam se beneficiar da pensão e
mais de 237 mil matriculados no e da Renamo na Comissão de melhor reintegração social”.
no ensino superior estão con- dos Assuntos Militares, Paulo Recorde-se que, no dia 23 de
centrados na capital, Maputo. Chachine e André Magibire, Junho, foi realizada, em Mapu-
Moçambique conta com respectivamente. to, a cerimónia oficial de En-
um total de 56 instituições de Na ocasião, Mpelo reiterou cerramento da fase de Desar-
ensino superior, das quais 22 que, com a entrega das listas, mamento e de Desmobilização
públicas e 34 privadas, de acor- “o Governo vai proceder com do processo de DDR, dirigida
do com dados avançados pelo a inscrição de todos os bene- pelo Presidente da República,
Presidente. ficiários no Cadastro Nacional Filipe Nyusi.
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25 DE JULHO DE 2023 11
 12 13
Falta de fundos condiciona regresso das vítimas de terrorismo PRM e SERNIC detiveram mais de 1200 indivíduos em

CENTRAIS CENTRAIS
Com a chegada das tropas amigas, as Forças de Defesa e Seguran- uma semana
ça (FDS) começaram a somar êxitos na guerra contra os insurgentes A Polícia da República de Moçambique (PRM) deteve,
na província de Cabo Delgado. Algumas zonas que estavam nas mãos na última semana, em coordenação com o Serviço Nacio-
dos insurgentes foram recuperadas, o que de certa forma permitiu o nal de Investigação Criminal (SERNIC), 1.241 indivíduos,
regresso da população que estava nos centros de acomodação. No en- dos quais 607 por violação de fronteiras, 292 por imigra-
25 DE JULHO DE 2023 tanto, apesar de Quissanga fazer parte da lista das zonas libertadas, os
deslocados que estão no centro de acomodação no distrito de Metuge
ção ilegal, e 324 por prática de delitos comuns. Durante 25 DE JULHO DE 2023
não podem regressar àquele distrito por falta de fundos. o mesmo período, a PRM apreendeu 12 armas de fogo.

Hospital de referência está a mais de um ano sem o equipamento

Montagem do Raio X do Hospital Geral da Machava paralisada há um ano por falta de pagamento
Utentes obrigados a fazer exames em outras unidades sanitárias
Direcção provincial da Saúde nega falta de máquina de Raio X
“Só tem problemas de impressora”, disse, mostrando desconhecimento da realidade

O
Hospital Geral da Machava é referência a nível nacional no que respeita ao ter de se movimentar com Durante o período em que tenha máquina de Raio X e
tratamento das doenças respiratórias, com destaque para a Tuberculose. Su- um doente de um lado para esteve internado naquela o da Machava não. Como
cede, porém, que há mais de um ano que esta unidade sanitária não tem o outro, Herculano viu-se unidade sanitária fazia exa- um hospital de referência
Espessômetro, ou seja, equipamento que serve para tirar radiografias, que prejudicado financeiramen- mes de Raio X no Hospital no tratamento de tubercu-
são como fotografias da parte interna do corpo (Raio X). A ausência do equi- te, pois viu-se obrigado a ir Central de Maputo ou no lose, o Hospital Geral da
pamento de Raio X deve-se a paralisação dos trabalhos de montagem de um novo Raio X, a uma clínica privada para Hospital Geral de Mavalane. Machava tinha que estar
devido a falta de pagamento aos técnicos encarregues pela instalação da máquina. A situa- fazer o exame de Raio X. Actualmente, Langa tem equipado com todos os ma-
ção faz com que doentes, alguns dos quais graves, deambulem à procura de outras unidades “Recomendaram que tí- feito consultas de rotina teriais”, sustenta.
sanitárias para fazer aquele exame. Enquanto a direcção do Hospital Geral da Machava pre- nhamos que ir ao Hospital naquela unidade sanitária Leona Mate olhava para o
feriu se fechar em copas, a Direcção Provincial de Saúde de Maputo nega a falta da máquina Central de Maputo ou ao localizada na Cidade da Ma- Hospital Geral da Machava
para o Raio X, justificando que o exame tem sido feito para os pacientes internos, sendo que Hospital Geral de Mavala- tola, província de Maputo, como uma referência, uma
os médicos têm acesso ao mesmo através de dispositivos móveis. vez que quando foi interna-
ne, mas nesses hospitais há mas quando é lhe solicitado
Duarte Sitoe sempre enchentes, por isso raio-x desloca-se a outras da não precisou de ir a ou-
optamos por uma clínica unidades sanitárias, porque tras unidades sanitárias para
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Evidências apurou que o
drama dos doentes padecendo
de tuberculose, pneumonia e
outras doenças respiratórias co-
meça em finais de 2021, quan-
do a antiga máquina do Raio
X ficou avariada, tendo sido
entregue aos técnicos afectos
ao Hospital Geral de Mavalane
para a sua reparação.
máquina foi literalmente doada.
No entanto, a máquina de úl-
tima geração, que foi comprada
para servir, além do Hospital
Geral da Machava, aos demais
hospitais da província de Ma-
puto, não chegou de funcionar
porque o Governo não honrou
o compromisso com os técni-
cos que estavam a fazer a mon-
considerada de última geração,
ainda não está operacional e en-
contra-se num estado de com-
pleto abandono, com alguns
dos componentes, como bate-
rias, em risco de ficarem obso-
letos antes mesmo de entrarem
em funcionamento, o que pode
acarretar um grande prejuízo
para o Estado.
“Paralisamos os trabalhos para
pressionarmos o governo a pagar o
que nos deve”
Longe dos discursos políticos po-
lidos, a situação do sector da saúde
não é das melhores. Para além da
falta de medicamentos, insumos di-
versos e equipamentos de protecção
para os profissionais de saúde, o sec-
tor que falhou a promessa feita na
Assembleia da República de montar
TACs e Ressonâncias magnéticas
em todo o país parece não ter sequer
dinheiro para pagar os técnicos.
Raul Ernesto fazia parte da equipa
que era responsável pela manuten-
ção da máquina que hoje se encon-
tra guardada em peças no Hospital
Geral da Machava, confessou que se
viram obrigados a paralisar as activi-
dades porque o Governo se eximiu
das suas responsabilidades.
“As pessoas olham para a repara-
ção de máquinas como um trabalho
fácil. Trabalhamos, mas até hoje não
vimos a cor do dinheiro. Preferimos
paralisar as actividades, como forma
de pressionar o Governo a pagar o
que nos deve, mas, debalde, até hoje
continua em silêncio. Conseguimos
recuperar a máquina que estava ava-
riada no Hospital Geral de Mavala-
ne, mas aquela que está no Hospital
Geral da Machava exige um trabalho
complexo”, relata, escancarando a
falta de comprometimento dos ges-
tores do sector.
Mas mais do que os prejuízos
financeiros que tem estado a so-
mar pelo facto da máquina estar a
se tornar obsoleta antes mesmo de
entrar em funcionamento, o Gover-
no arrisca-se a perder preciosas vi-
das humanas por falta de condições
para um rápido diagnóstico porme-
norizado. A situação deixa agastados
os utentes e, sobretudo, os médicos
afectos a aquela unidade de referên-
cia no tratamento das doenças respi-
ratórias no país e na África Austral.
Ao Evidências, um médico afecto
ao Hospital Geral da Machava, que
preferiu se identificar pelo nome de
Edgar, reconheceu que a ausência da
máquina de Raio X condiciona os
trabalhos dos profissionais de saúde,
admitindo que com a máquina ope-
racional teria o trabalho facilitado.
“Como médico, gostaria de ter
todos os instrumentos necessários
para executar o meu trabalho. Infe-
lizmente, não estão reunidas todas
as condições para o desenvolvimen-
to normal das nossas actividades,
mas não podemos deitar a toalha
ao chão. Temos que ir à luta com as
armas que temos. Já reclamamos vá-
rias vezes, mas nada foi feito. A nos-
sa profissão não se difere com a dos
militares. Fizemos um juramento e
mesmo com as adversidades temos
que cumpri-lo”, sublinhou.
privada, porque o médico
queria os exames com carác-
ter de urgência. Fomos obri-
gados a pagar por um servi-
ço que normalmente é grátis
no Sistema Nacional de Saú-
de por falta de vontade dos
nossos governantes. É uma
vergonha o que está a acon-
tecer no Hospital Geral da
Machava. É a nossa referên-
cia no que respeita ao trata-
mento da tuberculose, mas
não dispõe de material para
os médicos fazerem o seu
trabalho. Pedimos a quem
de direito para resolver essa
situação”, desabafou.
Mateus Langa, de 38 anos
de idade, esteve internado
no Hospital Geral da Ma-
chava durante três meses.
Direcção Provincial de Saúde não sabe que
o Raio X ainda não foi montado
Na sua versão dos factos,
a médica chefe provincial de
Maputo, Celestina da Con-
o ministério dirigido por
Armindo Tiago não tem di-
nheiro para pagamento dos
serviços de montagem e ma-
nutenção do equipamento.
“Tem sido um autêntico
martírio fazer consultas no
Hospital Geral da Machava.
Quando fui internado pela
primeira vez, tudo era tra-
tado aqui. Agora, as coisas
mudaram, os utentes devem
fazer os exames em outras
unidades sanitárias. O sofri-
mento não se resume apenas
para as pessoas que estão
internadas. As pessoas que
fazem consultas de rotina
também são afectadas, so-
bremaneira, por esta situa-
ção. Não se justifica que o
Hospital Geral de Mavalane
Estamos a fazer com que o
médico tenha acesso ao Raio
X através do dispositivo mó-
fazer exames. No entanto,
quando teve uma recaída
viu-se obrigada a reformu-
lar a sua opinião.
“A minha primeira
passagem pelo Hospital
Geral da Machava foi um
mar de rosas. Quando fui
internada pela primeira
vez não precisei de sair
do hospital para fazer
exames, mas agora as coisas
mudaram. A máquina de
Raio X já não funciona e
os doentes são obrigados a
recorrer a outros hospitais
para fazer o exame. Como
utentes, temos que acatar
com as recomendações dos
médicos, mas é triste o que
está a acontecer no Hospital
Geral da Machava”, descreve.
falta de raio-x no Hospital Ge-
ral da Machava, o que não te-
mos é a impressora”, explicou.

Utentes agastados com a situação ceição, referiu que o Hospital

Os técnicos daquela unidade
sanitária conseguiram reparar a
máquina, mas a mesma nunca
mais voltou às origens porque
o Hospital Geral da Machava já
tinha recebido uma máquina de
última geração, ou seja, a antiga
tagem e manutenção, tendo os
mesmos paralisado as activi-
dades há cerca de um ano e o
Governo se mostra incapaz de
pagar pelo serviço.
De 2022 a esta parte, a má-
quina de Raio X da Machava,
Um técnico confidenciou ao
Evidências que caso não se faça
a montagem em tempo útil,
parte dos componentes podem
se tornar inutilizáveis, obrigan-
do com que o Governo tenha
que repor as partes danificadas.
Madalena Herculano, familiar
de um doente internado no Hos-
pital Geral da Machava, contou
o drama que os utentes vivem
naquela unidade sanitária devi-
do à ausência da máquina para
fazer o Raio X. Ao Evidências, a
fonte contou que os doentes são
obrigados a fazer os exames em
outros hospitais para posterior-
mente trazer os resultados.
“O nosso sistema de saúde
está um caos. Não se justifica o
que está a acontecer no Hospi-
tal Geral da Machava. Vim aqui
com o meu irmão que apresenta
sintomas de tuberculose, mas,
infelizmente, recebemos a in-
formação de que ele só podia
fazer o exame de Raio-X nou-
tro hospital e trazer os resul-
tados. Confesso que fiquei es-
candalizado porque sabia que
aquele não era o procedimento
correcto. Quando meu pai teve
esta doença fez todos os exames
aqui. O Governo deve repensar
seriamente no nosso sistema de
saúde porque as pessoas estão a
sofrer com esta situação”, con-
tou Herculano.
Para além de transtornos de
Geral da Machava dispõe do
aparelho usado para fazer o
exame de Raio X, dando a en-
tender que, afinal, a Direcção
Provincial da Saúde sequer
sabe que a máquina não foi
montada.
“Temos problemas de im-
pressoras e o Hospital Geral
da Machava não é excepção.
vel. Os doentes que estão in-
ternados fazem Raio X e isso
pode-se provar. Os médicos
têm um grupo de WhatsApp
onde se partilham os exames,
e está a se trabalhar assim
mesmo. Se for uma parte do
corpo que não pode fazer com
aquele raio-x vamos a outros
hospitais e estamos a controlar
os nossos doentes. Não temos
De referir que a direcção
do Hospital Geral da Macha-
va preferiu se fechar em copas
quando foi solicitada pelo Evi-
dências, através de cartas de
pedido de informação e cha-
madas telefônicas, para pres-
tar esclarecimentos sobre as
razões da paralisação da mon-
tagem da máquina de Raio X
naquela unidade sanitária.
 14 NEGÓCIOS
Syrah suspende exploração de grafite em
Cabo Delgado
A Syrah, mineradora australiana que explora grafite na
mina de Balama, província de Cabo Delgado, anunciou que
produziu cerca de 15 mil toneladas de grafite para baterias de
25 DE JULHO DE 2023 carros eléctricos, tendo no mês seguinte, ou seja, em Abril,
interrompido a produção devido aos ‘stocks’ internacionais.

Governo diz que são recursos para manutenção de estradas

Portagens já geraram receitas na ordem de
mil milhões de meticais

A
estratégia de colocação de portagens, geridas onde foi aplicada parte signi-
pelo Fundo de Estradas (FE, FP), ao longo das ficativa dos recursos mobili-
estradas nacionais Nº1, Nº6 e Nº204, resultou, zados, através das receitas das
desde o início do seu funcionamento, na mo- portagens”, explicou Ângelo
bilização de recursos financeiros para a manu- Macuácua.
tenção das estradas, na ordem de mil milhões de meticais. Importa referir que, atra-
vés deste programa, foram
A informação foi dada a realizar acções que garantam aprovados, nos finais do mês
conhecer, sexta-feira, 21 de a melhoria das condições de de Junho, para o sector de es-
Julho, em Maputo, durante a mobilidade de pessoas e bens, tradas, cerca de 310 milhões
Reunião Anual de Avaliação através da reabilitação dos de dólares norte-americanos,
Conjunta do Programa Inte- principais corredores de es- para a construção e reabilita-
grado do Sector de Estradas tradas rurais. ção de cerca de 606 quilóme-
– PRISE 2022. “Para a materialização des- tros de estradas, na provín-
Intervindo na reunião, o te desiderato, de 2022 até ao Jeremias Banze. estradas. cia da Zambézia, incluindo a
secretário permanente do Mi- presente momento, foram Na mesma ocasião, o PCA “O objectivo desta inicia- construção da ponte alterna-
nistério das Obras Públicas, reabilitados 1.256 quilóme- referiu que as portagens, sob tiva é aumentar os recursos tiva sobre o rio Licungo, em
Habitação e Recursos Hídri- tros, asfaltados 575 quilóme- tutela do FE, situadas numa para a manutenção das estra- Mocuba, a construção dos
cos (MOPHRH), Hélio Jere- tros de estradas nacionais e extensão de cerca de dois das. Os resultados, em termos acessos à ponte, numa exten-
mias Banze, referiu que, para regionais e foram realizados mil quilómetros, geram, para de serviços, são consolidados são de 18 quilómetros, bem
o presente Quinquénio, 2020- trabalhos de manutenção de a instituição, um orçamento pelo tempo. Quero destacar como a manutenção periódica
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2024, o Governo de Mo- rotina, em 13 mil quilómetros que possibilita a sua compar- o troço Chissebuca/Lindela, da Estrada Nacional Nº1, nos
çambique comprometeu-se a de estradas”, apontou Hélio ticipação na manutenção de na província de Inhambane, troços mais críticos. FDS

LAM retoma serviço de apoio (Care Team) Regresso da 3ª temporada de Maida

Reviravoltas na primeira telenovela
aos passageiros em terra moçambicana do Maningue Magic

A J
LAM - Linhas Aéreas de Moçambique rein-
troduziu o serviço de assistência aos pas-
sageiros em terra, o qual estará disponível,
numa primeira fase, no Aeroporto Interna-
cional de Maputo, prevendo-se a sua expan-
são para as outras escalas onde a companhia opera.
A reintrodução deste serviço, ne, visitou a equipa posicionada
Care Team, como é conhecido no Aeroporto Internacional de
na linguagem de aviação, faz par- Maputo, tendo-se mostrado sa-
te de um conjunto das reformas tisfeito com a reintrodução do
em curso na companhia, depois Care Team.
da intervenção da Fly Modern "A LAM está num processo
Ark na gestão da LAM, e visa de reformas e há um entendi-
orientar os utentes dos vários mento de que os seus serviços
serviços nos aeroportos, que in- têm tendência a melhorar. Por
cluem a chegada até à realização aquilo que pudemos constatar,
do check-in, bem como no acto durante a interacção com os pas-
de embarque e desembarque. sageiros, o serviço (Care Team)
Na sexta-feira, 21 de Julho, o está a facilitar sobremaneira a
vice-ministro dos Transportes e sua movimentação dentro do ae-
Comunicações, Amilton Alisso- roporto", disse o vice-ministro.
Amilton Alissone considerou orge Vaz, Fidamãe 2x e Melanie de Vales são as novas caras
a reintrodução daqueles servi- que se juntam ao elenco de estrelas da 3ª temporada da tele-
ços de “necessários” e que vão novela Maida, a primeira verdadeiramente dita produzida em
Moçambique. A nova temporada da telenovela Maida estreou
tornar a empresa mais competi-
esta segunda-feira, no canal Maningue Magic da Multichoice
tiva no mercado.
(posição 503 – a partir do pacote DStv Família e posição 8 – a partir do
"Vamos todos abraçar esta
pacote GOtv Max).
causa, a reforma da nossa com-
panhia de bandeira é um objec-
tivo do Governo e um desejo de
todos os moçambicanos para
que tenhamos uma companhia
mais fiável, segura e que ofereça
serviços de qualidade e a custos
actrativos", acrescentou.
Por seu turno, a gestora
do Projecto Care Team, Neila
Albuquerque, explicou que a
iniciativa tem como objectivo
acolher e encaminhar, com con- Uma pausa de uma semana seguiu- res e a 3ª temporada será a mais emo-
forto, os passageiros no interior -se ao dramático final da segunda cionante de sempre para a telenovela
dos aeroportos. temporada, que foi para o ar na sexta- Maida, com mais drama, novas caras
"Temos, por exemplo, pas- -feira - 14 de Julho. Na 3ª temporada, interessantes e reviravoltas no enredo.
sageiros que nunca tiveram a engana-se quem pensa que depois do O Maningue Magic tem estado na
casamento de Maida Ngovene e Mau- vanguarda da criação de conteúdos
experiência de voar e precisam
ro Sitoe ficou tudo resolvido. Sucessi- que os telespectadores adoram e esta
saber como fazer o check-in vos dramas, mentiras, traições e cenas temporada não é excepção" afirmou
ou distinguir a classe económi- de reviravoltas do destino impedem a João Ribeiro, director do canal Manin-
ca da executiva, ter noções de felicidade do casal. gue Magic.
prioridades no atendimento, no Esta temporada inclui um naipe de A telenovela Maida retrata a história
caso de idosos, gestantes, defi- artistas consagrados dentro e fora do de uma mulher que navega por dois
cientes, entre outras situações. país nas áreas de cinema, teatro e tele- mundos fortemente contrastantes,
Os membros da Care Team visão, como: Megui Constance, Dário ela continua a adaptar-se à intrigan-
Carimo, Linda Charles, Jorge Vaz, Fi- te indústria da moda. Maida é uma
estão aqui, justamente, para
damãe 2x, Melanie de Vales, Onesma adaptação de um formato de sucesso
prestar este tipo de assistência Necha e Rodrigo Jalane. já produzido e exibido em África. É
e apoio", frisou. "Ouvimos os nossos telespectado- produzida pela PANAVÍDEO.
 15
AGRA disponibiliza 28 milhões de USD para pequenos agricultores
A Aliança para a Revolução Verde em África (AGRA) disponibilizou, ECONOMIA
recentemente, 28 milhões de dólares para apoiar pequenos agricultores em
Moçambique nos próximos cinco anos. “Para a terceira estratégia, o nosso
investimento é de cerca de 28 milhões de dólares para cinco anos, focado em
apoiar a competitividade das micro e pequenas empresas para que tenham a
capacidade de trazer insumos às mãos dos produtores...”, disse Paulo Mole,
25 DE JULHO DE 2023
representante da AGRA em Moçambique.

Para tirar Moçambique da lista dos países mais pobres do mundo

Analistas defendem reforma profunda na legislação para
arrecadar mais receitas na indústria extractiva
Gil Aníbal entende que o país precisa de um Plano Nacional de Desenvolvimento
Bachita diz que “Estado deve eliminar as isenções fiscais aos Mega Projectos”

O
país continua entre os países mais pobres próprio país é necessária uma e que Estado tenha fundos
do mundo, ocupando actualmente a sé- reforma profunda na legisla- para financiar outros sectores
tima posição, sendo que, segundo dados ção, porque essas empresas da economia”, sugeriu.
do Fundo Monetário Internacional (FMI), encontram fragilidade na lei e Nas entrelinhas, o econo-
43% da população moçambicana vive em no final só cumprem parcial- mista lembrou que a entrada
situação de pobreza absoluta, o que demonstra o fracasso mente aquilo que está escri- em cena do Banco Mundial e
das políticas dos sucessivos governos da Frelimo e dos vá- to”, sublinhou, referindo-se a do Fundo Monetário Interna-
rios projectos de desenvolvimento. Na opinião do analista um sector que vive de exces- cional depois da proclamação
Gil Aníbal, por sinal vice-presidente da Associação Geoló- sivas isenções. da independência contribuiu
gico-Mineira de Moçambique, o país continua pobre por para que as empresas como a
não ter um plano de desenvolvimento a longo prazo elabo- “Estado deve eliminar as Mabor e Texlom fechassem as
rado e financiado pelo Estado moçambicano, mas mais do isenções fiscais aos portas, apontando que o Exe-
que isso defende uma profunda reforma na legislação para Mega Projectos” cutivo deve apostar na parce-
o país arrecadar mais receitas para fazer face às necessi- ria público-privado para ten-
dades do orçamento. Por seu turno, o economista Elcídio Por sua vez, o economista tar revitalizar essas indústrias.
Bachita aponta que o Governo deve apostar na diversifica- Elcídio Bachita, economista Elcídio Bachita entende que Admite que a agricultura
ção da economia, visto que a economia nacional depende o Governo deve fazer revisão pode alavancar a economia
sobremaneira do sector primário, ou seja, a indústria ex- em relação ao crescimento da nacional, mas tem estado
tractiva. Aliás, defende a eliminação das isenções fiscais população vais ter um proble- abaixo daquilo que é o seu po-
nos mega projectos para que o Estado tenha uma arreca- ma muito sério de desenvolvi- tencial, por ser uma agricul-
dação justa. mento de vários sectores so- tura de subsistência, ou seja,
ciais como saúde, educação, pratica-se uma agricultura ru-
Duarte Sitoe transportes e comunicações. dimentar, e isso não permite
Os planos e programas mento do país, o analista Gil Em 1975 éramos 12 milhões que agricultores produzam
que foram financiados pelo Aníbal observa que Moçam- de habitantes, hoje estamos a em grande escala para satisfa-
Banco Mundial e pelo Fundo bique continua pobre por não falar de 32 milhões de habi- zer a procura doméstica.
Monetário Internacional para ter um plano de desenvolvi- tantes. Esse número é muito Por outro lado, segundo
tirar Moçambique da lista dos mento de longo prazo, elabo- elevado quando a economia Bachita, actualmente, não
países mais pobres do mundo rado e financiado pelo Estado não cresce e o Governo vai existe uma congruência entre
parecem não ter surtido os moçambicano. ter problemas de tesouraria, a produção, armazenamento,
efeitos desejados. Apesar do “Havia muitas iniciativas vai ter problemas de financiar transporte e a comercializa-
enorme potencial na agricul- governamentais para o de- projectos sociais”, sublinha, ção, advertindo que os minis-
tura e da abundância dos re- senvolvimento da agricultura indo em linha com o contro- Gil Aníbal, analista térios dos Transportes e Co-
cursos naturais, o país ainda como base social para alavan- lo de natalidade sugerido pelo municações, Obras Públicas,
depende da boa vontade dos car a economia do país. Estes Ministério da Economia e dos contratos assinados com Habitação e Recursos Hídri-
parceiros de cooperação para planos só são do Governo Finanças. as multinacionais e seguir o cos devem se empenhar para
financiar o Orçamento de daquele momento e termi- Por forma a financiar o exemplo de países mais ex- resolver o problema, apon-
Estado e figura entre os sete nado o Governo, o projecto Plano Nacional de Desenvol- perientes na exploração de tando que o custo de dinhei-
mais pobres do mundo, uma também desaparece. Essa vimento, Aníbal insta o Go- recursos naturais para poder ro está por detrás do pouco
lista em que constam alguns descontinuidade de projectos verno a fazer uma reforma tirar o máximo benefício da investimento da agricultura
dos considerados Estados em diversos sectores como a profunda na legislação para exploração dos seus recursos por parte do empresariado
falhados. agricultura, pecuária, pesca e arrecadar mais receitas para e tirar Moçambique do rol nacional.
Na óptica do Ministério transporte é que levou a des- fazer face às necessidades do dos países mais pobres do “O outro problema é o
das Finanças, através da pro- continuidade do crescimento orçamento. mundo. custo de dinheiro que é ele-
posta da política de popula- do Estado”, declarou Aníbal. “O nosso sistema tribu- “Para ganhar mais receitas vado para eles financiarem
ção para reduzir os actuais Para o analista, a não exis- tário é fraco, estando fraco com a exploração de recur- as suas actividades agrícolas,
índices de pobreza em Mo- tência de um Plano Nacional não vamos arrecadar gran- sos minerais, o Estado deve isso ainda constitui um cal-
çambique, cada moçambica- de Desenvolvimento do Esta- des receitas para alavancar o eliminar as isenções fiscais canhar de Aquiles, razão pela
no deve ter no máximo qua- do para que todos os Gover- orçamento do Estado e sem- para ter maior capacidade de qual temos uma fraca parti-
tro filhos, tendo justificado nos, independentemente do pre estaremos a reboque de negociação com os investi- cipação do sector privado”,
que o excessivo número de partido, possam seguir uma grandes corporações para nos dores, no sentido de obrigar- sustenta.
filhos concorre para a de- linha de desenvolvimento é doar dinheiro, é por isso que -lhes a terem que canalizar Para mudar o actual cená-
manda de serviços básicos na que faz com que o país atrase. o Banco Mundial está aqui um montante que esteja aci- rio e colocar Moçambique na
sociedade, ou seja, educação, “Tem uma outra compo- a financiar o orçamento do ma dos 20% daquilo que são rota do desenvolvimento, Elcí-
saúde, entre outros cruciais nente que sufoca as finanças Estado, porque internamente as receitas globais que estas dio Bachita defende que deve
para o desenvolvimento. públicas, que é a questão do somos vistos como um país mesmas multinacionais con- apostar na diversificação da
Olhando para o actual es- crescimento demográfico que improdutivo, apesar da abun- seguem arrecadar como re- economia, visto que a econo-
tágio da pobreza e nos projec- é muito rápido, porque quan- dância de recursos naturais. sultado exploração de hidro- mia nacional depende sobre-
tos que foram implementados do tens uma economia que Para que os recursos natu- carbonetos, para permitir que maneira do sector primário, ou
para alavancar o desenvolvi- desenvolve muito lentamente rais sejam mais benéficos ao haja uma parceria de win-win seja, a indústria extractiva.
 16 OPINIÃO
25 DE JULHO DE 2023

SAL & PIMENTA Há que saber o sabor certo

do gelado a dar aos
Afonso Almeida Brandão
nossos cidadãos

J
á a destempo, seguramente, porque
a verdade e os episódios marcantes
de qualquer momento se esfumam
na espuma dos dias mais rapida-
mente que os gelados da “OLÁ” demoram
a derreter no pico do Verão, convirá sem-
pre puxar atrás a fita do Tempo (expressão
tão em moda nos dias de hoje), para que
possamos perceber, daqui por umas sema-
nas ou uns meses, que o Destino do nosso
País, há muito estava traçado. Assim, ca-
ricaturando o Moçambique que de Hege-
mónico passou a Glorioso e depois a po-
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

bre e periférico, para se tornar, agora, em

ridículo e anedótico, encontrando a nova
proibição imposta aos moçambicanos não
poderem ter os filhos que entenderem ter.
No mínimo, estamos perante (?) Lei Sur-
realista e paradigma e deixa-nos a pensar
em tanta imbelicidade dos nossos (des)
governantes... que até dá dó.
Reza então a história que, chegado ao
Poder em 1975, a FRELIMO entendeu,
por questões estratégicas, de Soberania e
de manifesto interesse público, proibir há
dias as Famílias Moçambicanas e as nossas
Mulheres/casais de não poderem ter mais
de quatro filhos —, isto por comparação
com o exemplo da Milinária China. Impo-
sição estúpida, descabida, inaceitável que
foi “criado” por um País arrogante e que
defende a PENA DE MORTE, já que
acumula OUTROS “senões”, dos quais o
apoio da China à Rússia — e à Guerra que
esta mantém contra a Ucrânia Massacrada
—, e constitue altamente um acto contra a
Humanidade, logo, inexplicável e condená-
vel a todos os títulos.
Mas Moçambique não está (nem nunca
esteve!) preocupado com isso, diga-se em
abono da verdade, embora reconheça
que a Guerra não é a melhor solução.
Mas será que reconhece mesmo?!
Ora, com aplausos da Esquerda Comu-
nista — de que a FRELIMO é defensora
e “fiel” seguidora —, a Verdade é que este
Partido Político “perfilha” e aplaude as
parangonas da forma como foi anuncia-
da ao público recentemente. Notícia, aliás,
que nos deixou a todos de “queixo caí-
Continuamos a ser um Povo que espera pelo dia em que possa ser
verdadeiramente Felizes (Foto de Albino Mahumana)
do”, através da Comunicação Social e nos
apanhou de surpresa.
Pois é! O facto de que os casais (ou cada
Mulher Moçambicana) específicamente,
não poder ter mais de quatro filhos, para
evitar que a FOME a POBREZA conti-
nuem a proliferar no nosso País, é, no mí-
nimo, digno de risada. E saber que a justi-
ficação principal desta (?) Lei Anedótica é
a causa da Miséria em que vive o nosso
Povo há décadas, não lembra ao Diabo.
Trata-se do “tal” combate à natalidade,
«Made in China» — explica o Partido no
Poder — à semelhança do que foi imposto
ao Povo Chinês, já de si “sacrificado” há
milénios.
Esta (?) Lei, agora aprovada em Mo-
çambique, no mínimo, é de “bradar aos
Céus” — repetimos. E SEM FUNDA-
MENTO QUE POSSA JUSTIFICAR
A SUA CRIAÇÃO. Ou seja: o nosso País
é há uma semana “comandada por imi-
tação” por um Estado de fora. Isto só é
possível acontecer entre nós porque temos
um «desnaturado» ao leme dos Destinos
de Moçambique chamado Filipe Nyuse
e de um Partido Político chamado FRE-
LIMO... Ambos, de opinião que os Mo-
çambicanos “procriam muito e por isso
mesmo é que há FOME” (sic) e também
por esta razão é que “Moçambique é um
País que não desenvolve como devia
deservolver” (sic). AMÉN — apetece
acrescentar! Bem, se isto não é uma ane-
dota para rir (repetimos com satisfação),
então, sinceramente, não sabemos o que
seja...
Na verdade, o maior dilema desta (des)
governação que vem sendo feita no nos-
so País há quase 50 anos, do tipo “soma-
-e-segue-umas-atrás-de-outras”, é, no
mínimo dos mínimos, não saber decidir o
que realmente é preciso fazer, reestruturar,
orientar e levar a cabo, para que o nosso
Povo possa “sonhar” e a vir a ser Feliz um
Dia no Futuro que, afinal, está cada vez
mais distante...
Ou, por outras palavras, recordando, aqui
e agora, o saudoso colega de boa Memó-
ria, que foi o Jornalista Machado da Gra-
ça que escreveu numa das suas belíssimas
crónicas «que primeiro há que saber —
de uma vez por todas —, por parte da
FRELIMO (e do seu Governo), qual o
“sabor certo do gelado” a dar aos nos-
sos Cidadãos»... (sic)
Palavras sábias, sem dúvida, que os nos-
sos Políticos, de uma forma geral DESCO-
NHECEM — ou que, infelizmente, não
leram ou provávelmente já não recordam.
 A esquina do sociólogo
Luca Bussotti
N
ão é uma novidade que o Estado
Moçambicano, na vertente econó-
mico-financeira, esteja a atraves-
sar um momento de crise. Foram
muitas as circunstâncias em que isso aconteceu,
desde os primeiros anos de independência até
hoje. Entretanto, agora a situação é um pouco
diferente, pois, além de elementos estruturais
que o governo não consegue ultrapassar, exis-
tem também factores contingentes, de curto e
médio prazo, que estão a tornar a situação cada
vez mais crítica. E as respostas do governo cada
vez mais improvisadas, e infelizmente em linha
com algumas das indicações do Fundo Mone-
tário Internacional, que certamente não irão re-
solver o problema tão já.
O princípio fundamental de um país qualquer
corresponde ao que costumamos fazer com a
gestão doméstica: as receitas devem ultrapassar
os gastos, para que o orçamento anual esteja
em equilíbrio. Entretanto, no caso de Moçam-
bique isso nunca aconteceu, aliás, nunca acon-
teceu contando com a própria capacidade de
produzir receitas autónomas suficientes para
garantir comida a todos os cidadãos, fechando
o orçamento sem prejuízos. Nos anos passa-
dos, depois de Moçambique ter sido assinala-
do pelo próprio presidente americano Clinton
como um “milagre africano”, ao longo da dé-
cada de 1990, era a “troika” constituída por um
grupo consistente de países ocidentais a suprir
às necessidades financeiras de tipo orçamen-
tal. O que garantiu, durante vários anos, uma
aparente estabilidade económica do país. En-
tretanto, com a descoberta das dívidas ocul-
tas, o “encobertamento” das falhas estruturais
do orçamento de Moçambique vieram à tona,
deixando um enorme buraco que foi preciso
preencher. Mas, até agora, isso não foi feito.
E uma das razões foi que muito pessoal foi
contratado, na função pública, ao longo dos
últimos anos, muitas vezes sem necessidade,
e agora ele pesa no orçamento do Estado. O
atraso no pagamento dos salários e o próprio
bloqueio das contratações no sector público
anunciado pelo governo para todo o ano de
2023 confirmam as dificuldades em que o exe-
cutivo está a se deparar. A impossibilidade de
utilizar um instrumento como o de criar novos
empregos em época eleitoral representa a de-
monstração de que o momento de dificuldade
é muito sério, e as saídas possíveis ainda não
foram delineadas.
Os dados recentemente disponíveis para o
25 DE JULHO DE 2023
A crise financeira do
Estado: quais saídas?
ano de 2023 falam, a este propósito, de gas-
tos correntes de cerca de 320 mil milhões de
meticais, dos quais 181,8 para gastos com o
pessoal. Em 2022, segundo dados do Fundo
Monetário Internacional, as despesas com o
pessoal eram de 166,6 mil milhões de meticais.
O incremento anual foi de mais de 9%, e a pre-
visão para 2024 é de que as despesas correntes
continuem a subir, colocando-se em cerca de
363,9 mil milhões de meticais, com salário que
irá ultrapassar os 203 mil milhões de meticais.
Diante desta situação, a receita do Fundo Mo-
netário Internacional assenta na redução da
massa salarial, o que significa o bloqueio das
contratações na função pública. Uma medida
de certa maneira incontornável, mas que não
vai resolver duas questões fundamentais: por
O princípio fundamental de
um país qualquer corresponde
ao que costumamos fazer
com a gestão doméstica: as
receitas devem ultrapassar
os gastos, para que o
orçamento anual esteja em
equilíbrio. Entretanto, no
caso de Moçambique isso
nunca aconteceu, aliás,
nunca aconteceu contando
com a própria capacidade de
produzir receitas autónomas
suficientes para garantir
comida a todos os cidadãos,
fechando o orçamento sem
prejuízos. Nos anos passados,
depois de Moçambique ter
sido assinalado pelo próprio
presidente americano Clinton
como um “milagre africano”,
ao longo da década de 1990,
era a “troika” constituída
por um grupo consistente de
países ocidentais a suprir às
necessidades financeiras de
tipo orçamental.
um lado, o equilíbrio orçamental, pois a efi-
cácia desta medida irá levar muito tempo para
se manifestar, mesmo se nenhum novo tra-
balhador entrar na função pública (hipótese,
OPINIÃO
17
entre as outras coisas, impossível). Por outro
lado, não são apenas questões de contenção
orçamental que deveriam orientar as políticas
económicas de um país como Moçambique.
Por exemplo, seria necessário descongestionar
a função pública centralizada, a partir dos mi-
nistérios, e recolocar uma parte deste pessoal
nas províncias, municípios, distritos, onde a
carência de pessoal qualificado e competente é
evidente, associado a uma carência quantitativa
de funcionários. Isso não iria acarretar maiores
custos, mas provavelmente daria mais eficiên-
cia ao Estado, que se aproximaria mais às ne-
cessidades dos seus cidadãos. Outro elemen-
to crítico, diante de um orçamento tão pouco
flexível como o moçambicano, tem a ver com
os investimentos: sem criar novas receitas será
impossível efectuar investimentos em sectores
estratégicos que muito precisam (praticamente
todos: saúde, educação, habitação, infra-estru-
turas, etc.). A maioria de tais receitas devia pro-
vir do gás de Cabo Delgado da Total, mas esta
perspectiva está sendo adiada continuamente.
Uma alternativa poderia ser uma luta séria no
que diz respeito à fuga ao fisco, de que muito
pouco se ouve falar. Não falo dos mega-pro-
jectos, Mozal em primeiro lugar, com benefí-
cios fiscais já concordados há muito tempo e
que deveriam ser revisitados. Trata-se de uma
matéria conhecida, e depende do governo se
tentar reverter a seu próprio favor o regime
fiscal destas grandes empresas ou continuar da
forma em que as coisas estão neste momen-
to. Falo, mais especificamente, da luta à fuga
ao fisco de empresas médias e médio-grandes,
geralmente nacionais, de vária natureza e sec-
tores de produção ou serviços, que canalizam
os impostos devidos ao Estado com grandes
dificuldades, por vezes com cumplicidades.
Através da arrecadação de mais receitas o
Estado poderia destinar tais recursos a investi-
mentos cada vez mais necessários, evitando de
cometer o erro que os países da União Euro-
peia fizeram durante muito tempo, e que ape-
nas com as sequelas da pandemia foram revis-
tos: promover uma política económica virada
quase que exclusivamente a um orçamento em
equilíbrio financeiro, esquecendo que o mais
importante, para as populações, é ver investi-
mentos eficazes e úteis para a comunidade na-
cional. Apenas juntando os dois aspectos é que
será possível trazer benefícios de uma política
orçamental mais rigorosa, mas ao mesmo tem-
po mais atenta às necessidades das populações.
 18 OPINIÃO
25 DE JULHO DE 2023
Estêvão Chavisso
N
o interior de Chibuto, lá para
os meados da década de 90,
Chavisso tinha sete mul-
heres. Comprometido com a
cultura e os “bons” costumes “changa-
nas”, Chavisso se esfolou no trabalho na
África do Sul para dar as suas “esposas”
o melhor: ergueu uma casa para cada uma
das suas mulheres.
Ao volante do seu amado camião, um
Toyota Hino de 15 toneladas, rasgou in-
finitamente a EN1 a caminho das terras
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ
do “rand” para alimentar as suas esposas,
parando, por vezes, em Maputo, onde
conheceu mais uma e, como manda a
regra, construiu uma outra casa e a de-
ixou lá.
Viajou entre Chibuto, Maputo e Johan-
nesburg muitas vezes sozinho, mas sem-
pre preocupado com bem-estar das suas
mulheres, algumas das quais já carrega-
vam rebentos. Chavisso acreditava que
amava todas elas da mesma forma, como
se realmente isso fosse possível.
Na memória, Chavisso carregava o
trauma de uma infância sofrida algures
no vilarejo de Joaquim Chissano, dilema
clássico de uma adolescência marcada
pelo paradoxo entre a miséria das comu-
nidades e a beleza das terras onde nasceu.
Agora, o jogo tinha mudado. O negó-
cio de transporte que decidiu abraçar na
juventude estava maior do que um dia
esperou e, consequentemente, ele podia
pensar na próxima mulher, moçambicana
ou sul-africana, era indiferente.
Com pouco mais de 45 anos, 10 filhos
(conhecidos) e sete mulheres, a primeira
coisa que Chavisso fazia depois de acor-
dar era abrir o capô do seu Toyota Hino,
por vezes sem necessidade alguma já que
era rigoroso com as datas da manutenção.
Chavisso nunca realmente soube
demonstrar o amor que tinha pela famí-
lia, embora fosse tanto. Para ele, prover
era sinónimo de amor. As suas “amadas
esposas” também nunca realmente se im-
O Toyota Hino
do Chavisso
portaram. Em Chibuto, ninguém precisa
de flores quando a mesa está farta.
As suas viagens à “terra do rand” podi-
am durar seis meses, mas Chavisso sem-
pre voltava para casa, onde as suas mul-
heres e filhos o esperavam ansiosamente.
Normalmente, para racionalizar o tempo,
não levava uma semana em uma única
casa. Era necessário estar em movimento,
sempre.
Entre os filhos, que pouco se con-
heciam, a expectativa do regresso do
“Papá” era um dilema comum. Com os
olhos na rua, as crianças cresceram à es-
pera de ouvir o ensurdecedor roncar do
motor daquele Toyota Hino ao dobrar da
esquina.
Entre os vários veículos que tinha, ha-
via algo especial neste Toyota Hino. Foi
seu primeiro carro, palco, provavelmente,
de diversas aventuras da perigosa estrada
entre Moçambique e África do Sul.
Estacionado o camião, quase sempre
cheio de mercadorias, um abraço rápido
à criança, que estava feliz em ver o seu
progenitor, era o máximo que ele sabia
fazer. Para o menor, aquele abraço car-
regava consigo todas palavras de amor
que ele nunca conseguiu verbalizar. Era
suficiente.
O som do motor daquele camião ficar-
ia eternizado na memória de alguns dos
seus filhos, bem como o cheiro de via-
jante recém-chegado que invadia a casa
sempre que ele voltasse, principalmente
para as pomposas festas do final do ano
em Maputo ou em Chibuto.
Numa manhã de Novembro de 1994,
Chavisso acordou pronto para mais uma
viagem às terras do “rand”. Mas o seu
camião estava com problemas mecânic-
os e, por isso, a viagem tinha de ser feita
pelos transportes semicolectivos.
Ele estava com a sua mulher de Ma-
puto, com o seu filho de quatro anos.
Enquanto ela organizava sua mala, Cha-
visso tomou um banho rápido, sentou à
mesa e esperou pelo café, que rigorosa-
mente estava à mesa antes dos 8:00.
Tomada a refeição, levantou-se, beijou
a sua mulher, olhou para o seu menino e
disse: “cuida do camião”. O rapaz sor-
riu, sem a clara noção da missão que lhe
era conferida. Chavisso pegou na mala e
saiu.
O rapaz ficaria, através da janela do seu
quarto, a olhar o Toyota Hino estaciona-
do no quintal por dias, à espera que o seu
pai voltasse para ouvir, mais uma vez, o
ensurdecedor motor daquele camião.
Passaram-se semanas e o menino con-
tinuou na janela, à espera do velho Cha-
visso. Até questionou a mãe sobre o
paradeiro do seu pai e ela disse que es-
tava na África do Sul a trabalho.
Na verdade, Chavisso morreu violenta-
mente no mesmo dia em que ele saiu de
casa, após o despiste do semicolectivo
em que ele seguia em Nelspruit, a camin-
ho de Joanesburgo.
Embora escutasse durante a noite os
choros da sua mãe trancada no quarto, o
rapaz só viria a descobrir um ano depois
que o seu pai estava morto. Até a sua mãe
tomar coragem para o explicar o que era
morte, o menino continuou a cuidar do
Toyota Hino, assistindo, sem margem de
manobras, a degradação daquele camião
que o seu pai amou intensamente, por
vezes mais que a própria família.
O Toyota Hino acabaria por ser ven-
dido, à revelia do rapaz, pelos irmãos
de Chavisso. O rapaz cresceu com sen-
timento de quem falhou com o seu pai,
na medida em que cuidar do camião foi a
última missão que lhe foi deixada por pai
que andou sempre distante.
Quase trinta anos depois, o rapaz cres-
ceu e agora, numa busca absurda, está à
procura da pessoa que, em 1995, com-
prou aquele Toyota Hino. Ele quer recu-
perar o camião, independentemente das
suas condições, para cumprir a última
missão que o seu pai lhe deixou.
 ÁFRICA
19
Rei zulu da África do Sul pode ter sido envenenado
O poderoso rei da etnia zulu da África do Sul, Misuzu-
lu kaZwelithini, pode ter sido envenenado. A real condi-
ção de saúde do soberano, que ascendeu ao trono em ce-
rimônia no ano passado na província de KwaZulu-Natal 25 DE JULHO DE 2023
(sudeste), é alvo de especulações no país.

Cereais vão estar no topo da agenda da cimeira

Rússia-África

A
consultora Oxford Economics considera que pelo que outro aumento da
o tema do fornecimento de cereais da Rússia inflação iria apenas piorar a
e da Ucrânia ao continente africano será um situação das famílias, que já
dos principais temas em debate na cimeira está pior do que há uns anos
Rússia-África, na próxima quinta e sexta-fei- atrás”.
ra. “O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderá ter Acrescenta, “a isto junta-
um gesto de boa vontade relativamente à ajuda alimentar à -se o aumento da dívida pú-
região do Corno de África e acalmar os nervos dos líderes blica e dos custos de finan-
africanos, e as garantias de exportações alimentares rus- ciamento dos governos, o
sas para países como o Egipto ou a Argélia são também que significa que os países
uma possibilidade”, escrevem os analistas num comentá- africanos têm menos mar-
rio à futura cimeira entre a Rússia e os países africanos, gem orçamental para, desta
marcada para 27 e 28 de Julho, em São Petersburgo. vez, aumentar o apoio social
às famílias”, conclui esta con-
sultora.
“Podemos esperar que os do Mar Negro teve um papel
Recorde-se que, na segun-
preços alimentares sejam um menos importante no forne-
da-feira, a Rússia anunciou
dos principais temas em de- cimento de alimentos para os
que iria suspender o acordo
bate”, apontam os analistas, países africanos do que para
países africanos”, sublinha. canos, não vimos realmente de exportação de cereais pelo
na nota enviada aos clientes o resto do mundo”, apontam
Citados pela Lusa, os ana- uma deflação, ou seja, uma Mar Negro a partir de portos
e a que a Lusa teve acesso, e os analistas, vincando, ainda
listas da Oxford Economics descida dos preços, por isso ucranianos, argumentando
que surge poucos dias depois assim, que “uma suspensão
escrevem ainda que “apesar as famílias continuam sob que os compromissos assu-
da suspensão do acordo de prolongada desse acordo
de a inflação estar a abrandar pressão devido à crise do midos em relação à parte rus-
exportação de cereais pelo pode perturbar os mercados
na maioria dos países afri- aumento do custo de vida, sa não foram cumpridos.
Mar Negro. financeiros de matérias-pri-
“A nossa análise sugere mas e aumentar os preços, o PUBLICIDADE
que a Iniciativa dos Cereais que afectaria ainda mais os

Angola apresenta taxa de

A
natalidade mais alta de África
ngola vai ter em 2030 mais de 40 milhões
de habitantes e triplicar em 2063 para 91
milhões, segundo as previsões do actual
crescimento demográfico estimado em três
por cento e com uma taxa de fecundidade
de 6,2 filhos por mulher, anunciou, em Luanda, o repre-
sentante residente do Fundo das Nações Unidas para a
População (UNFPA) em Angola, Mady Biaye.

Mady Biaye, em conversa gráfico que Angola apresen-

pedagógica com os deputa-
dos da 6ª Comissão da As-
sembleia Nacional, para par-
tilhar conhecimentos sobre
o crescimento demográfico
e desenvolvimento susten-
tável, referiu que, em África,
Angola tem a taxa de natali-
dade mais alta.
No entender do represen-
tante residente do UNFPA
em Angola, o ritmo demo-
gráfico que hoje Angola
tem vai exigir do Governo
um planeamento baseado
nas evidências para orientar
os sectores públicos como
a Saúde, Educação, Habita-
ção, Água e Energia, Trans-
porte e Saneamento, bem
como criar políticas para in-
centivar o emprego.
O actual cenário demo-
ta, frisou Mady Biaye, obriga
da parte dos deputados da
6ª Comissão da Assembleia
Nacional, responsável pelos
assuntos de Saúde, Edu-
cação, Ensino Superior e
Tecnologias de Informação,
maior atenção nas activida-
des como legislador e fisca-
lizador para o bem-estar da
população.
A acção formativa, con-
cluída sexta-feira, teve por
objectivo discutir o cres-
cimento demográfico em
Angola, o impacto no de-
senvolvimento sustentável,
bem como partilhar conhe-
cimentos sobre as tendên-
cias demográficas e o papel
do Parlamento na alocação
e aprovação de recursos fi-
nanceiros.
 20 OPINIÃO
25 DE JULHO DE 2023
Sheid Eura Eusebio Massave
A
aposta na abordagem de edu-
cação para a paz é uma poten-
cial ferramenta para o combate
à desigualdade de género. Em
2019, dados da UNICEF apontaram que,
globalmente, uma em cada três mulheres
sofreu violência física ou sexual1. Hoje em
dia a violência contra a mulher tem
aumentado, recrudescendo as desigualdades
entre homens e mulheres devido à diversas
questões físicas, psicológicas, socioeconómi-
cas, entre outras. Infelizmente, Moçambique
não foge a esta realidade. A violência con-
tra a mulher é um dos principais factores
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ
da desigualdade de género no país, por isso,
combatê-la vai influir grandemente no com-
bate à desigualdade de género.
Segundo Fountain (1999)
2
, Educação para a Paz3 é o processo de pro-
moção de conhecimentos, competências,
atitudes e valores necessários para criar mu-
danças no comportamento, que permitam
às pessoas prevenir conflitos e violência, re-
solver os conflitos de forma pacífica e criar
condições propícias à paz, desde o nível in-
terpessoal ao internacional.
Educar para a paz, através dos sistemas for-
mais e informais de Educação, pode ser uma
das principais ferramentas para reduzir sig-
nificativamente os índices de violência con-
tra as mulheres e contribuir para a redução
da desigualdade de género, numa cultura de
violência baseada no género enraizada em
algumas práticas socioculturais, estendidas
para o quotidiano das dinâmicas políticas e
sistêmicas. A introdução de diferentes me-
canismos de conscientização a não violência
e o ensino do respeito à igualdade de direi-
tos entre homens e mulheres na abordagem
curricular nuclear e complementar, deve ser
pensada como uma crucial estratégia para
garantir que os rapazes4 aprendam nas esco-
las a reconhecer o papel da mulher no desen-
volvimento do país e a respeitarem os seus
direitos e integridade.
Segundo uma constatação destacada no
Plano Nacional de Acção para Prevenção e
1
https://www.unicef.org/mozambique/historias/em-mo%C3%A7ambique-viol%C3%AAncia-%C3%A9-geralme nte-perpetrada-por-um-familiar-ou-parente-%C3%ADntimo
2
Citado pelo site https://inee.org/pt/eie-glossary/educacao-para-paz
3
Área de estudo que surgiu da combinação de reflexões principalmente nos campos de Estudos de Paz, Psicologia e Educação
4
Segundo uma constatação destacada no Plano Nacional de Acção para Prevenção e Combate à Violência contra a Mulher (2008-2012) os homens são os que mais praticam violência contra a mulher.
Educação para a Paz como
Mecanismo de Combate à
Desigualdade de Género
Combate à Violência contra a Mulher (2008-
2012) os homens são os que mais praticam
violência contra a mulher.
A continuidade da divulgação e intensifica-
ção da campanha He For She (#ElesPorElas),
que advoga o envolvimento dos homens na
luta pela igualdade de género - ora lançada em
2014 a nível da ONU e em 2017 em Moçam-
bique, sob a liderança da ONU Mulheres
em Moçambique; da Iniciativa Spotlight, que
visa apoiar os esforços para a eliminação da
violência contra mulheres e raparigas, assim
como iniciativas similares, podem ser usadas
como óptimas referências para a criação de
actividades curriculares e extracurriculares
complementares, exequíveis em formatos de
actividades como debates, palestras, dinâmi-
cas de grupos que poderiam gerar e fortal-
ecer a consciência sobre a importância de
reflectir, dialogar e instruir sobre a igualdade
de género, no contexto escolar - onde ex-
istem grandes concentrações de adolescen-
tes, jovens - os adultos do futuro! Sem con-
tar que é um dos espaços onde as raparigas
sofrem situações de violência como bullying,
assédio sexual, violação sexual, o que muitas
vezes acaba precipitando a desistência esco-
lar e gerando outros impactos negativos.
Dentro do contexto escolar, a maior re-
sponsabilidade recai sobre os professores,
que diariamente acompanham e, não poucas
vezes, perpetuam situações de reprodução
de comportamentos discriminatórios, pro-
motores da violência contra a mulher e da
desigualdade de género. Portanto, uma abor-
dagem de educação para a paz leva em conta
o envolvimento não apenas dos educandos,
que são o público-alvo receptor de conheci-
mento, mas todos os actores envolvidos no
ecossistema de ensino-aprendizagem.
O combate à desigualdade de género
através da abordagem da educação pela paz
faz-se necessária, primeiro porque, particu-
larmente, essa abordagem advoga que todo o
processo de ensino-aprendizagem deve estar
estruturado de tal forma que todas as inte-
rações seja, na perspectiva educador-educan-
do, educando-educador ou ainda educando-
educando, mantenham sempre presentes e
promovam os valores de paz, respeito pelos
direitos fundamentais do indivíduo e equi-
dade de acesso entre os diferentes grupos
da sociedade; segundo, porque a Educação
tem o potencial de validar “formalmente”
padrões de comportamentos socioculturais,
sejam eles benéficos ou nocivos.
A educação e as escolas desempenham
um papel importante na promoção da par-
ticipação activa e informada dos cidadãos na
construção do Estado e das normas sociais.
Ademais, considerando a educação como
um mecanismo bastante importante para a
superação da pobreza, das desigualdades e
promoção do empoderamento das socie-
dades, e neste caso
particular, das mulheres, é de extrema rele-
vância que o ambiente escolar seja de tal
forma disposto de modo que seja livre de
quaisquer barreiras que possam criar con-
strangimentos no processo de aprendizagem
das raparigas e mulheres.
Em paralelo, outros fóruns fora aos esco-
lares, mas que também compõem o sistema
de educação, como a família, a comunidade,
os movimentos e/ou organizações da socie-
dade civil que trabalham em prol do bem-
estar da criança e da promoção dos seus di-
reitos, jogam um papel preponderante para
a promoção desta consciência através de
diálogos constantes.
Apostar numa abordagem de educação
para a paz, orientada nos valores de respeito,
equidade e dignidade humana dentro do am-
biente escolar: curricular e extracurricular;
instruir rapazes e meninas sobre os impac-
tos devastadores da violência contra a mul-
her e como ela concorre para o aumento da
desigualdade de género; empoderar as rapari-
gas e rapazes, através da informação sobre a
violência, a partir das escolas, da educação
formal e informal, tem o potencial de con-
tribuir para a redução das taxas de violência
e desigualdade de género na sociedade, hoje
e futuramente.
 21
Hospitais moçambicanos atendem mais que o dobro do
número recomendado
De acordo com um estudo da ThinkWell, uma organização
SAÚDE E GÉNERO
que actua no sector da saúde, as unidades sanitárias nacionais
têm vindo a atender, nos últimos tempos, pouco mais de 17.782
habitantes por hospital, equivalente a quase o dobro do núme-
ro de pacientes recomendados internacionalmente (cerca de dez 25 DE JULHO DE 2023
mil habitantes por unidade sanitária).

Há fracos mecanismos institucionais de fiscalização nas universidades

UJC preocupada com casos de assédio sexual e predomínio
de “código de silêncio”

A
Escola Superior de Governação (ESG) da
Universidade Joaquim Chissano (UJC) não
ficou indiferente aos crescentes relatos e de-
núncias de casos de assédio sexual nas uni-
versidades do país e organizou, há dias, uma
palestra no campus central sob o lema “Assédio Sexual
nas Instituições de Ensino (IES’S): Causas, Consequên-
cias (Psicossociais) e Formas de Combate”. O evento jun-
tou docentes, estudantes e funcionários que reflectiram
em torno de estratégias para o combate deste flagelo, não
só na UJC, como também em outros estabelecimentos de
ensino superior no país.
Renato Cau
O debate juntou docentes, badoras do ambiente laboral”,
funcionários diversos e estu- disse, sustentando o seu posi-
dantes da instituição para jun- cionamento com base na Lei nº
tos discutirem os contornos e 16/2012, Lei da Probidade Pú-
formas eficazes de eliminação blica que proíbe tais acções.
de casos de assédio sexual na Como tal, a docente e pes-
comunidade académica, tendo quisadora apontou os fracos
como painelistas a vice-reitora mecanismos institucionais de
para área administrativa da UJC, fiscalização, por si denomina-
Ana Nhampule; a psicóloga, do “predomínio do código de
pedagoga e docente na Uni- silêncio”, como sendo alguns mento de acções promotoras -nos como evitá-lo, denunciá-lo as estudantes acabem ficando
versidade Eduardo Mondlane dos factores que fazem com que de valores morais e éticos atra- e também mostrou que existem indiferentes, preferindo sofrer
(UEM), Carla Zavale; e a do- casos de assédio sexual entre vés da informação, educação e vários casos, mas que estão no silêncio.
cente e pesquisadora da ESG da docentes e estudantes prevale- sensibilização da comunidade ocultos. Precisamos de encon-
UJC, Marcela Guivala. çam e continuem cada vez mais académica e da investigação e trar mecanismos para expor
Marcela Guivala mostrou-se predominantes; extensão. estes casos por forma a desen- Acredito que
“Há necessidade de defini-
ção de políticas e estratégias in-
corajar os seus protagonistas”.
Embora não tenha sido ví-
existem casos
ternas, criação de mecanismos tima, a estudante acredita que de assédio
seguros de denúncia e penaliza- casos de assédio aconteçam na sexual sim, mas
ções severas aos prevaricadores, UJC e que por medo ou vergo- se um docente
sem olhar as posições e cargos nha as vítimas não denunciam. assedia uma
que ocupam”, sublinhou.
Por seu turno, a pedagoga
“Acredito que existem casos
de assédio sexual sim, mas se estudante, esta
Carla Zavale esmiuçou o con- um docente assedia uma estu- vai ter medo
ceito de assédio sexual, desta- dante, esta vai ter medo de falar de falar por
cando que é nada mais, nada por receio de ser prejudicada. receio de ser
menos que “qualquer compor-
tamento indesejado com cariz
Deve haver incentivo para que
as denúncias sejam feitas e só
prejudicada.
sexual, expresso de forma ver- assim pode se acabar com este Deve haver
bal ou não, física, com objecti- mal. Do lado da gestão da Uni- incentivo
vo de prejudicar a integridade versidade, deve também haver para que as
da vítima ou criar um ambien-
te humilhante e ofensivo, além
interesse para que os casos se-
jam realmente resolvidos. Me-
denúncias
de fazer com que estudantes ninas, não fiquem caladas, de- sejam feitas
tenham baixo aproveitamento nunciem”, vincou a estudante. e só assim
académico”. Outro estudante que dei- pode se acabar
Na sua intervenção, foi mais xou ficar o seu posicionamen- com este mal.
indignada com a prevalência de
dura referindo que tal compor-
tamento deve ser combatido e
to sobre o assunto é Edmilson
Comandar, cursante do 4º ano
Do lado da
casos daquele mal, destacando Pesquisadores sugerem rematou que “se a instituição de Administração Pública, que gestão da
que a instituição não deve “fe- mecanismos de estiver recebendo denúncias de mostrou o seu agrado com o Universidade,
char os olhos” diante de casos denúncia seguros casos de assédio sexual e não tema, pois, segundo referiu, deve também
de assédio sexual entre docen- estar a dar o devido encaminha-
mento, está automaticamente
“várias colegas têm sofrido as-
sédio, não apenas as meninas,
haver interesse
tes, estudantes ou funcionários,
pois tais situações são um atro-
“Deve-se criar mecanismos
de denúncia credíveis com vis- sendo conivente com esta prá- alguns rapazes também têm para que os
pelo à boa convivência e postu- ta a proteger os denunciantes tica”. sido vítimas deste mal, apesar casos sejam
ra profissional interna. e a activação de políticas ins- Em seu depoimento, a es- de ser raro”. realmente
No seu entender, a UJC deve titucionais firmes de combate tudante do 2º ano do curso de Aliás, acrescenta que esta é resolvidos.
adoptar medidas de combate
do assédio sexual, pois “não
ao assédio sexual”, sublinhou a
pesquisadora.
Relações Internacionais e Di-
plomacia (RID), Mirza Daniel,
uma das questões mais comen-
tada por estudantes, pelo facto Meninas, não
é expectável que um servidor Este posicionamento é tam- disse que a discussão “serviu de, geralmente, não haver san- fiquem caladas,
público adopte uma conduta bém defendido por Ana Nham- para nos consciencializar sobre ções contra os que se envolvem denunciem.
ou acções inoportunas, pertur- pule, que sugere o desenvolvi- o mal que é o assédio e mostrar- em assédio, fazendo com que
 22 CULTURA Bruno Langa renova contrato com Chaves até 2026
O internacional moçambicano Bruno Langa prolon-
gou, recentemente, a sua ligação contratual com o Gru-
po Desportivo de Chaves até Junho de 2026. Langa,
que tem sido alvo de cobiça de emblemas franceses e
25 DE JULHO DE 2023 ingleses, renova contrato depois de ter ajudado a equipa
transmontana a se manter no convívio dos grandes do
futebol português.

Yara Costa, cineasta e directora criativa

“Sofremos da síndrome de não olharmos
para nós mesmos”

Q
uatro filmes depois, Yara Costa coloca uma sidade, mas eu não gosto de dar
instalação na Ilha de Moçambique. “Naho- aula. Eu sempre fui uma pessoa
ta e a sereia” é um happening, não apenas de pessoas, de sentar e ouvir fa-
para Ilha, mas também para circuitos de lar, não me imaginava sentada
arte mais experimentados. Se temos um as- num escritório fechado. E foi
um amigo que sugeriu que ti-
sombro pelo formato, o lugar para onde a experiência nos
nha de fazer jornalismo, porque
leva é um wake up call. A instalação imersiva nos faz olhar
eu tinha muitas perguntas. E eu
para o património marítimo da cultura suaíli e propõe ca- sempre tentava imaginar como
minhos de regresso a um passado que era já futuro. É a seria se Moçambique não tives-
arte interventiva, a tentar fechar a última comporta antes se sido colonizado, se a África
do mundo se esvair dentro da sua própria lama. não tivesse sido colonizada. Eu
sempre a querer questionar estas
Elton Pila* coisas e esse amigo disse que eu
Odeio a ideia de começar pais. Depois de ter estado na Ín- daria uma boa jornalista. Então,
por aqui. Mas tem de ser. dia, chegou de barco a Maputo. vi que haviam anunciado no jor-
Quem é a Yara Costa? A minha mãe é neta de duas mu- nal um convênio Moçambique-
  lheres negras africanas, que tive- -Brasil e que podias escolher o
- Tento responder a essa per- ram filhos com homens euro- curso que querias e a faculdade
gunta através dos trabalhos cria- peus. Parte da família da minha que querias, tinhas que só fazer
tivos que faço. Os meus filmes mãe é de Inhambane um lugar provas na altura. Então, fiz o
e agora esta instalação artística que eu gosto muito. E, na verda- curso de Jornalismo e Comuni-
WWW.EVIDENCIAS.CO.MZ

são a forma de me ir descobrin-
do, definindo e de dizer quem eu
sou.
Sou cineasta, com uma for-
mação em jornalismo. Mas não é
isso que me define. Não saberia
dizer o que me define, mas pos-
so dizer o que me move.
 
E o que lhe move?
 
- A história, cultura, identi-
dade, no sentido de saber o que
era no passado, perceber o que
acontece no presente para aju-
dar a revelar o futuro. E como
é que todas as coisas estão in-
terligadas. O que faço através
do meu trabalho artístico ajuda
a conectar todos esses pontos,
ajuda-me a perceber quem sou
eu neste mundo neste período
histórico, neste agora e perceber
qual é o meu papel e qual acho
que deve ser o meu papel neste
mundo.
 
E isso é uma preocupação
até identitária?
 
- Meu pai é da Ilha de Mo-
çambique, o vínculo que tenho
com a Ilha é através dele. Meu
pai é nascido na Ilha e os meus
avós são de Goa, na Índia, que
teve muita ligação com a Ilha de
Moçambique.
Lembramos que, durante um
longo período histórico, a Ilha
de Moçambique esteve sobre a
governação da Índia.
Do lado da minha mãe, a mi-
nha bisavó é da Tanzânia, ela foi
levada para Índia ainda criança,
depois da sua aldeia ter sido
atacada e ela se ter perdido dos
de, parte da ideia deste projecto
nasceu quando eu estava lá em
Inhambane durante a pandemia
da Covid-19.
Fui nascida em 1981 na cida-
de de Maputo, no momento em
que o país também está tentar
formar-se de certa maneira. Não
sei quem me deu, se os antepas-
sados ou Deus, eu nasci assim
numa incumbência de tentar
encontrar respostas para estas
linhas da história que determina
quem somos e como os outros
nos vêem.
Mas achava que era tentar
encontrar respostas. Só depois
percebi que não é sobre encon-
trar respostas e sim sobre fazer
perguntas certas.
E, recentemente, depois que
eu decidi me instalar na Ilha
de forma definitiva passei a ter
muito interesse na costa Suaíli,
nesta identidade que eu acho um
pouco invisibilizada em Moçam-
bique.
Sempre me senti como se
estivesse de costas para o mar.
Apesar dos 3 000 km do mar,
quando a gente vai ver o que
está escrito nos livros, até a pró-
pria noção do país, construção
do pós-colonialismo, é de costas
para o mar, é como se esta iden-
tidade não existisse. Mas a maior
parte das pessoas vem de lá. No
mundo, 3/4 da população vive
na costa e em Moçambique tam-
bém muita gente vive na costa, e
isso não é limitado apenas à acti-
vidade económica de pesca, mas
é muito mais. Tudo isto pode
nos servir hoje para entender
como é que está a ser a transfor-
mação do planeta, do clima e de
todas as mudanças que estão a
acontecer. Então, tudo isso me
faz quem eu sou, sou uma pes-
soa que está sempre a mudar. A
Yara de há dois ou três anos não
é a mesma. Aprendi muito du-
rante estes 3 anos com as comu-
nidades costeiras e hoje, tenho
mais perguntas que ontem.
 
Sempre teve esta inquietu-
de em relação a quem é desde
a infância ou foi se desenvol-
vendo com o tempo?
 
- Sempre tive inquietação, so-
bretudo de entender por que as
coisas são como são.
 
Qual era a tua Maputo?
 
- A da Sommershield, não
podia ser mais privilegiada. Ain-
da que a minha família não ve-
nha necessariamente desse lugar
de privilégio, começou a estar a
partir daquele momento em que
se definiram as linhas do país,
nos anos 80. Mas, na casa dos
meus pais, entrava e saía mui-
ta gente, com muitas histórias
sobre o que estava a acontecer
na guerra. A minha irmã adop-
tiva mais velha tinha perdido os
pais na guerra, o pai tinha pi-
sado numa mina e a mãe tinha
sido queimada. Eram histórias
que tinha dentro de casa. E tal-
vez posso também ter juntado
com alguns filmes que via na al-
tura. Mas sentia uma tensão de
que isto pode chegar mais perto. 
Lembro que, quando acabava a
energia, o meu avô dizia Afon-
sinho não está contente hoje.
E eu me perguntava quem era
este Afonsinho que trabalha na
EDM. Levei muito tempo a per-
ceber. É engraçado que, depois
de formada em Jornalismo, a mi-
nha primeira entrevista foi com
Afonso Dhlakama. Aquilo foi
conhecer o Afonsinho da minha
infância.
 
A inquietação ao colocar
perguntas teve alguma in-
fluência na escolha de Jorna-
lismo para a formação?
- Eu não sabia bem o que eu
ia fazer. Comecei por fazer an-
tropologia social. Mas depois
andei a pensar o que ia fazer
com o curso. Tinha poucas op-
ções como dar aulas na univer-
cação dentro de um Instituto de
Cinema e Arte da Universidade
Federal Fluminense. A Escola de
Jornalismo estava lá dentro, en-
tão isso permitiu-me que tivesse
professores de Cinema, de Jor-
nalismo e Comunicação. Apren-
di muito sobre olhar o mundo e
como fazer as perguntas certas.
Eu não sabia mexer numa câ-
mara ou fazer uma reportagem,
mas deram-me as ferramentas
sobre como indagar ainda mais.
Isso é o mais importante.
 
Já via muitos filmes na in-
fância. Vai fazer a formação
em Jornalismo e calha em um
Instituto de Cinema e Arte.
O caminho para tornar-se ci-
neasta estava já traçado?
- Talvez. E há outros episó-
dios. Vivia numa rua onde ha-
via uma produtora de Cinema,
a Ébano filmes. Eles estavam
numa produção, acho que era
uma das primeiras grandes pro-
duções com co-produção inter-
nacional. Era uma co-produção
com Zimbabwe e com os Esta-
dos Unidos. O filme era “Uma
criança que vem do Sul”, era um
pouco inspirada na história de
Eduardo Mondlane e chamaram
a Chude Mondlane para fazer
parte da produção. O filme era
muito de memória e era preciso
encontrar uma criança mais ou
menos parecida com a Chude
para fazer o papel da actriz prin-
cipal enquanto pequena. Fize-
ram o anúncio para o casting de
crianças. E eu fui fazer o casting.
Continua na pag 23

Autores de língua portuguesa na programação da Feira do Livro
de Maputo
Ana Paula Tavares (Angola), João Rasteiro (Portugal),
Cristiane Sobral (Brasil) e Filimone Meigos, Dama do Bling,
Hirondina Joshua, Francisco Noa, Lourenço do Rosário e
Priscila Sithole (Moçambique) são alguns nomes confirma-
dos para a presente edição da Feira do Livro de Maputo, du-
rante os três dias de Feira – 27 a 29 de Julho.
Continuação da pag 22
Eram dezenas de crianças. Eu
tinha 8 anos e o realizador gos-
tou e disse vais ser tu, e agora
estás contratada para três meses
de filmagens. Eu não sabia nada
do que era aquilo, mas achava
tudo incrível porque eu estava
a dobrar o papel da actriz prin-
cipal.
E, depois, veio um documen-
tário . Eu fui assistente de um
realizador senegalês, o Moussa
Sene Absa já experimentado
em filmes e o contrataram para
fazer um filme sobre mulheres
e microeconomia. O filme foi
filmado na Índia, Colômbia, no
México, Brasil, Senegal, Congo
e Moçambique. No México, ele
filmou num bordel de prostitu-
tas reformadas. O filme era de
pessoas, de mulheres e a visão
das mulheres do mundo.
No Congo, foi com uma
mulher que tinha um rosto de
100 anos, mas, na verdade, ti-
nha 40. E lembro de ter ouvido
ela dizer que tinha 17 crianças,
todas filhas de violação duran-
te a guerra, aquilo era pesado.
Por acaso, em Moçambique
foi a parte menos interessante,
a história rondava o HIV, uma
mulher que vivia com HIV ou
trabalhava no hospital não me
consigo lembrar bem.
 
Deste filme já adulta, que
era assistente de realização,
ao seu primeiro filme, quan-
to tempo se passou?
- Não foi imediato. Depois
da formação, trabalhei com a
STV como repórter-produtora
de um programa que na altura
chamava-se Ponto Parágrafo,
apresentado no Teatro Avenida
por Anabela Adrianopoulos, ao
vivo, sobre temas não consen-
suais em que tinha três pessoas
de cada lado. Era um pouco
inspirado em alguns programas
que víamos noutros países. En-
tão fiz isso durante um tempo,
trabalhei muito, ralei muito, foi
duríssimo, aprendi muito. Mas
tive a certeza de que a televisão
não é para mim e é aí que ganhei
uma bolsa de estudos America-
na, a Fullbright. Fiz as provas
e esperei um ano para poder
estudar mestrado nos EUA em
Nova York, onde me formei em
Cinema-Documentário e como
trabalho de final do curso era
fazer um filme. Voltei para Ilha
de Moçambique e comecei a
interessar-me por ver imigran-
tes chineses e depois percebi
que não era só aqui que estava
a acontecer. Então, comecei a
fazer esse projecto. Na Univer-
sidade, fui assistente de um pro-
fessor que, ao final do semestre,
levava os alunos para o Gana. E
era também uma oportunidade
de enriquecer o meu trabalho.
Então filmei em Moçambique,
Gana. E depois, de uma reali-
zadora que conheci em um Fes-
tival, ouvi que o melhor lugar
para o meu filme era o Lesotho,
porque Lesotho é um lugar que
nem os de lá ficam por lá, en-
tão lá fui. Encontrei lá chineses,
mas era uma área muito compli-
cada porque tinham assassinado
um chinês pouco tempo antes
da nossa chegada. E foi assim
que eu fiz esse filme sobre chi-
neses em África. E eu já tinha
certeza de que queria fazer fil-
mes, estar nos Estados Unidos
a ver ajudou-me muito.
 
Como depois de 4 filmes,
pensa numa instalação?
- Eu já sabia da história dos
Nahotas ou Nakhodhas e já ti-
nha interesse. O Nakhodha é o
capitão do dhow, embarcação à
vela de origem suaíli, que conhe-
ce o mar, os ventos e as estrelas
como ninguém. Alguém falou-
-me de um senhor que é grande
conhecedor do mar e eu sempre
ia conversar com ele. Era o se-
nhor Torodji, uma grande Na-
hota e tivemos várias conversas.
O senhor é uma biblioteca. Meu
interesse aumentou. Tinha de
pensar numa forma de eterni-
zar isto. Eu absorvi tudo o que
ele disse, mas não podia estar
só em mim. Estava a pensar
em alguma coisa. Fazer com as
pessoas e para as pessoas. En-
tão, pensei que devia fazer com
os jovens da Ilha. Então, fiz um
anúncio para quem estava inte-
ressado e acabei seleccionando
seis jovens.
Começamos com a forma-
ção. Era uma formação que en-
sinava como recolher histórias,
que tipo de histórias e qual é a
relevância de cada história. Na
altura, só tínhamos telefones
pessoais de cada um. Então,
trabalhamos com os meios que
tínhamos. Fomos seleccionan-
do as pessoas com que nos in-
teressava falar. E as histórias de
Nahotas e sereias sempre passa-
vam pelos nossos ouvidos. Não
me interessava muito perceber a
veracidade ou não dos Nahotas
com casos de sereia, mas sim
como as pessoas vêem, vivem e
interpretam o mundo de outras
formas.
A história que ouvi era de
um pescador abastado que en-
controu com uma sereia. A se-
reia era uma figura não humana
que mudava toda hora, às vezes
era um monstro, às vezes era
uma voz, uma cor. O que achei
mais incrível ainda é a ideia de
como é que as pessoas enten-
dem o mar e o ambiente em
que estão como extensão delas
mesmas. Na verdade, respeitam
aquelas criaturas ao ponto de se
casarem com elas e essa é uma
maneira de ver a natureza. Ele
então casou-se com a sereia,
mas manteve uma promessa
em que ele não podia ter uma
relação terrena. Só que o pesca-
dor queria ter filhos e acabou se
casando. E a sereia foi desapa-
recendo e a partir desse tempo
nunca mais voltou a pescar.
 
Parece ficção.
- O meu olhar como artista
me faz pensar este conceito do
mar e humanidade, quando há
um equilíbrio entre a nature-
za e o ser humano, quando as
coisas estão equilibradas, este
CULTURA
25 DE JULHO DE 2023
casamento – homem e natu-
reza – as coisas correm bem.
O homem tem o que comer, a
natureza consegue se regene-
rar. Mas quando essa relação
está descontrolada vivemos o
que vemos agora. Estamos a
viver uma ruptura nos ciclos,
os constantes ciclones. Antes,
era um em cada 40 anos, depois
20, agora, é um ou mais a cada
ano. A nível do mar sobe a uma
velocidade acelerada, aqui nesta
região fala-se em 20 cm até ao
ano de 2030!. O que estamos a
ver é, no fundo, o divórcio en-
tre natureza e humanos. A hu-
manidade passou a extrair da
natureza de forma desregrada
para criar um estilo de vida que
hoje o mundo já entende que
não funciona, não é sustentá-
vel. Não se pode tirar da terra,
chupar dela e achar que isso não
tem consequências.
Então, para mim a relação do
Nahota e da sereia é essa me-
táfora.
Há uma pesca industrial in-
ternacional que está a acontecer
que faz com que não haja peixe
e quem sofre depois é o pesca-
dor artesanal que depois tem
que ir com uma rede mosquitei-
ra e é dele que depois a gente
vai falar. Mas no fundo ele não é
o problema, mas ele vive a con-
sequência de um problema que
a gente sabe onde começa. To-
das essas histórias, a dimensão
histórico-cultural, do conheci-
mento ambiental e climático, da
arte música como é escrita tudo
isso me interessou.  Mas não
cabia num filme de 60 minu-
tos. Então, foi aí que comecei a
pensar em gravar sons, filmar e
apresentá-los de outra maneira.
Nas conversas com o Nahota,
ele dizia-me que do lado de cima
da água, a uma grande distância
ele conseguia ver o que estava
23
por baixo das águas, e que isso
foi algo que foi aprendendo ao
longo do tempo. A mim, isso
pareceu-me tecnologia pura.
Então, comecei a enquadrar os
elementos e coordenar de uma
forma coerente. Foi assim que
comecei a escrever “Nahota e
Sereia”.
Ao ver a instalação, a coisa
que passa pela cabeça é como
tudo isto foi feito, como é
que este material foi levado
até aquele edifício que está a
acontecer a exposição. Qual
é que foi o processo para que
tivéssemos aquelas imagens
do fundo do mar. Como foi
tudo isto?
- Já tinha a ideia de fazer uma
coisa da realidade virtual. Era
muito importante para mim
gravar o som o mais próximo
possível da realidade e do ou-
vido humano. Eu queria o som
do pássaro que passa, o vento,
o mar, ou seja queria poder
transportar as pessoas para os
espaços reais através do som.
Por isso, gravamos o som em
360 graus.
O termos gravado antes com
o telemóvel, ajudou a mapear
que tipo de material seria im-
portante. E isso facilitou quan-
do começamos a gravar já a sé-
rio com o Rufus Maculuve que
foi fundamental neste processo.
 
Como é ter um projecto
deste género na Ilha de Mo-
çambique. As questões am-
bientais aqui se fazem sentir
imenso. Mas este formato é
novo para todos. Como é co-
municar estas coisas?
 
- A Ilha em algum momen-
to já foi o centro do mundo, eu
queria de alguma forma honrar
isto. O berço é a Ilha. Mas o pro-
jecto pode sair daqui para outro
canto, Maputo, Cape Town,
Dar-es-Salam e mais longe.
Mas as pessoas, cultura, co-
nhecimento, ciência, sabedoria,
arte e engenharia da Ilha tem
um grande destaque aqui. O
que estou a tentar fazer é que
isso seja visibilizado, promovi-
do, celebrado e protegido e que
a gente possa olhar para nós
mesmo conseguindo enxergar a
riqueza e diversidade que temos
em todas essas áreas. Porque eu
acho que sofremos da síndrome
de não olharmos para nós mes-
mos, para dentro, para casa, para
a palhota, para o macúti, para o
barco, para o pescador.
*Colaboração
E IDÊNCIAS
60 Meticais

ÚLTIMA HORA
Jovem morreu nas celas onde estava detido e foi supostamente torturado
PRM nega ter agredido dançarino “Cebolinha” e diz ter
morrido de causas naturais
... admite que a morte possa ter sido “precipitada pela baixa temperatura da 6ª-feira”

N
a manhã da última 6ª-feira, um jovem actor e dade de aplicação da força. Vai
dançarino, conhecido nos meandros do showbiz mais adiante ao referir que in-
pelo nome artístico de “Cebolinha” perdeu vida, felizmente há muitos boatos de
após ter sido recolhido às celas da 3ª Esquadra pessoas que sequer presencia-
da Polícia da República de Moçambique (PRM), ram a detenção do jovem actor,
no dia anterior. A morte ocorreu nas celas, em circunstâncias
e avançou como forte evidência
pouco claras, mas a família e amigos do finado alegam que terá
sofrido uma brutal agressão dos agentes da Lei e Ordem. No de se estar a difundir boatos a
entanto, a informação é desmentida pelo Porta-voz da Polícia da informação que a saber que ele
República de Moçambique (PRM) na Cidade de Maputo, Leonel foi detido por agentes da PRM
Muchina, que diz tratar-se de mais um acto de desinformação da 7ª esquadra, sendo foi detido
e avança que “não houve qualquer sinal de agressão, o que nós pelos da 3ª esquadra.
temos consciência é que foi uma morte natural”. Quanto à informação que dá
conta que a família do malogra-
Renato Cau do teria de forma desprezível
Tudo teria começado quan- china, para proferir ameaças “no sido dada uma quantia de sete
do na terça-feira, 18 de Julho, sentido de saber porquê tinham mil meticais pela polícia para
o jovem se dirigiu a um estabe- metido a queixa na esquadra”. custear as cerimónias fúnebres,
lecimento comercial de venda De imediato a funcionária Muchina negou categoricamen-
bebidas alcoólicas, localizado contactou a polícia da 3ª esqua- te.
no bairro da Malhangalene, na dra e em pouco tempo uma for- “Não houve nenhum dinhei-
Cidade de Maputo para exigir o ca já estava no local para deter o ro, e nos casos em que se um
pagamento de uma dívida, tendo jovem e segundo apurou o Evi- agente por mau manuseio da
na ocasião tirado forçosamente dências, não ofereceu nenhuma arma de fogo acaba alvejando
algumas garrafas de bebidas. resistência e saiu a pé do estabe- alguém, este é um processo que
Apercebendo-se daquela lecimento até a esquadrada, sem é tratado a partir do Comando
cobrança coersiva de dívida, a precisar ser algemado. da PRM na Cidade de Maputo,
funcionária do estabelecimento Muchina diz que pode ter e faz-se um apoio solidário que
participou o caso na 3ª Esqua- morrido de frio e culpa família nem é em numerário. As vezes
dra sita na Av. Mao Tse Tung por não ter lavado cobertores em produtos e as vezes é um cai-
onde foi aberto um processo O polícia abriu um novo Actor e dancarino Cebolinha, perdeu vida, após ter sido recolhido às celas da 3ª Esquadra xão”, sublinhou.
contra o artista. processo pelas ameaças que manência imediatamente solici- mo pelo consumo de estupefa- Ignorando a responsabilidade
De imediato iniciaram dili- ele tinha proferido na 5ª-feira tou uma viatura da polícia que cientes, mas só o laudo médico do Estado que tem das péssimas
gências com vista a localizar o e colocou-se o jovem nas celas era para levar o jovem ao hos- é que pode efectivamente dizer condições de reclusão do mun-
jovem que andava sumido. Na sob condição de detido. Es- pital, mas neste mesmo instan- oque ocorreu para que ele tives- do, Muchina diz que admira que
5ª-feira, o jovem soube que tinha tranhamente, segundo Leonel te ele acabou perdendo a vida, se que perder a vida”, explicou mesmo com o frio que se fez
sido aberto um processo contra Muchina, quando foi-se abrir após fortes convulsões. Sus- Muchina. sentir na última sexta-feira na
si e que estava sendo procurado, as celas pelas 6 horas da 6ª-feira peitamos que tenha sido morte O porta-voz da PRM reitera Cidade de Maputo, a família do
por isso dirigiu-se novamente percebeu-se que o jovem estava natural precipitada pela baixa que “Cebolinha” confessou o jovem malogrado não tenha ao
ao estabelecimento comercial, a passar mal. temperatura daquela 6ª-feira e crime que pesava sobre isso e menos levado algumas cobertas
desta vez, segundo Leonel Mu- “O colega que atende na per- o jovem estava debilitado mes- isso anulava qualquer necessi- para ele.
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