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Látices naturais

*
Mário C. F. Guimarães
Célio F. M. de Melo
Introdução

Inúm eras plantas são conhecidas m undialm ente como produtoras


de borracha, contudo, poucas são as que apresentam p ossib ilid ad es de
um aproveitamento in d u stria l, na m a io ria das ve/es por p o ssu íre m baixa
p ro d u tiv id ade, baixo te o r de borracha seca ou elevado te o r de resina s.
E ssa s plantas encontram-se d istrib u íd a s em várias fa m ília s,
principalm ente A p o c y n a c e a e , C o m p o s i t a e , E u p h o r b i a c e a e , M o r a c e a e e
S a p o t a c e a e e em d iv e rso s gêneros e espécies.
N a região amazônica, as plantas produtoras de borracha que
exibem características necessárias à sua u tiliza ç ã o in d u stria l pertencem
aos gêneros Castilloa, H a n c o r n i a , S a p i u m e H e v e a .
O gênero Castilloa, pertencente à fa m ília Moraceae, vem sendo
explorado desde os tem pos áureos da borracha e a única espécie que
ocorre com certa intensidade na A m a zônia é a Castilloa ulei W a rb .,
conhecida como caucho. Segundo W I S N I E W S K I & M E L O (1 9 8 2 ), se
devidamente processada, apresenta características que p erm item sua
aplicação em inúm eras lin h a s de m anufatura, in c lu siv e na in d ú stria de
pneumáticos, quando em m istu ra com tip o s superiores de borracha de
Hevea.
A espécie H a n c o r n i a speciosa Gom es, da fa m ília A p o c y n a c e a e ,
vulgarm ente denominada de mangabeira, também fo i explorada
intensam ente no período áureo do ciclo econômico da borracha extra tiva
e durante a Segunda G uerra M u n d ia l.
O látex de mangabeira, mesm o sem qualquer tratam ento, não
apresenta odor p ú trid o de p roteínas em decomposição como o de H e v e a ,
mantendo a flu id e z e viscosidade no rm a is, embora sua estabilidade
mecânica seja baixa.
A borracha de mangabeira apresenta-se d estituíd a de nervo, m ole,
de elevada plasticidade mas, mesm o a ssim , ainda se enquadra nas
especificações dos padrões inte rna cio na is de classificação S .M .Q
(Standard M a la ysia n R u b b e r). ( W I S N I E W S K I & M E L O , 1 982).

Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Pará.


Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agroflorestal

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E n tre as espécies do gênero S a p i u m 1 fa m ília Euphorbiaceae,
e xiste m algumas que p rod uze m borracha de excelente qualidade já
conhecida e com ercializada durante o ciclo do e x tra tiv ism o , como a
Sapium aubletianum ( M u ll.A rg .) H u b e r, conhecida comumente como
m urupita, cuja m etodologia de exploração é bem semelhante à de H e v e a .
A s propriedades fís ic a s e físico-m ecânicas das borrachas de S a p i u m
devem ser consideradas excelentes, p e rm itin d o enquadrá-las entre as
m elhores classes.
Das onze espécies do gênero Hevea, trê s fo ra m bastantes
exploradas, a saber: H e v e a brasiliensis M u ll.A rg .; H e v e a guianensis
A u b l e H e v e a b e n t h a m i a n a M u ll A rg . V a le re ssa lta r que o prod uto das
duas ú ltim a s é conceituado como de qualidade in fe rio r e com ercializado
como “borracha fraca” . E s s e fato, contudo, não é verdadeiro. C om efeito,
W I S N I E W S K I & M E L O (1 9 8 6 ) destacam que a única diferença entre as
propriedades das borrachas das espécies H . brasiliensis, H . b e n t h a m i a n a ,
H . rigidifolia, H . guianensis e H . pauciflora, está na plasticidade. A s
demais propriedades fís ic a s , quím ica s e físico-m ecânicas não apresentam
diferenças capazes de s itu a r as borrachas dessas espécies abaixo dos
padrões de qualidade especificados.
A espécie Hevea brasiliensis M u ll. A rg ., conhecida como
se ring ueira , é a única extensivam ente cultivada, devido às suas
características de precocidade e produtividade, aliadas à su p e rio r
qualidade da borracha. C ontudo, como não é im une ao ataque de
in ú m e ro s agentes patógenos, C e n tro s de pesquisas desenvolvem
programas de m elhoram ento genético visando a c ria r clones com
características que p e rm ita m a obtenção de um elevado desempenho na
sua exploração in d u stria l. E m face do exposto, será a única a se r objeto
deste trabalho.

Características do látex de seringueira

O látex de se rin g u e ira é um líq u id o branco, le ito so , opaco,


algumas vezes amarelado, de densidade variando entre 0 ,9 7 3 e 0 ,9 7 9 e
que pode ser d e fin id o como sendo u m sistem a coloidal p o lifá sic o onde a
borracha, lu tó id e s e p a rtícula s F re i- W y s s lin g representam a fase dispersa
e, o so ro , c o n stitu íd o de prote ína s e sa is m in e ra is d isso lv id o s na água, o
m eio d isp e rsiv o .
A p re senta composição quím ica complexa e va riá vel podendo ser
representado segundo G ris o n et al. (1 9 8 4 ) como c o n stitu íd o p o r 52 a
7 0 % de água; 2 7 a 4 0 % de hidrocarbonetos; 1 a 3 % de p rote ína s; 0 ,5 a

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1,5% de açúcares e quebrachitol e 0 ,2 a 0 ,9 % de m ateriais m in e ra is, e
segundo M iric a et al. ( 1 9 9 _ ), p o r 3 6 % de só lid o s to ta is; 3 3 % de borracha
seca; 1 a 1 ,5 % de substâncias protéicas; 1 a 2 ,5 % de substâncias
re sino sa s; 1% de açúcares; < 1% de cinzas e 6 4 % de água.
Deve-se re ssa lta r que o p rin c ip a l hidrocarboneto contido na
borracha é o isop reno p o lim e riza d o na fo rm a cis (1 ,4 ).
A viscosidade do látex varia de acordo com o te o r de borracha, no
entanto, o u tro s fato res podem in flu e n c ia r nessa variação como o tamanho
das partículas, o método de preservação e o tempo de armazenamento.
N o momento da sangria o p H do látex é levemente alcalino,
porém, p o r se r um m eio p rop íc io ao d esenvolvim ento de m icro rg a nism o s,
rapidamente se a cidifica podendo, in c lu siv e , causar a desestabilização do
sistem a ( B R A S , 1960).

Coleta e beneficiamento

O látex natural é obtido através de u m processo de extração


denominado sangria, que consiste na incisão do córtex, da esquerda para
a direita, em fo rm a helic oid a l, a l,3 0 m acima do so lo , u tiliza n d o -se facas
especiais denominadas “Jebong” ou “ G o iva ” . Deve-se te r cuidado para
que a inc isão a tinja os vasos la tic ífe ro s, sem contudo a tin g ir o câmbio,
p ois poderá ocasionar a m orte da árvore.
A sangria pode se r realizada em dias alternados, recebendo-se o
látex em tigelas apropriadas. Recomenda-se que seja iniciada às
p rim e ira s horas da manhã, uma vez que nesse período o látex é escoado
em m a io r quantidade, devido às elevadas pressões de turgência a que
estão subm etidos os vasos la tic ífe ro s.
U m se ring u e iro é capaz de “ cortar” 3 0 0 a 4 0 0 árvores em três
horas de trabalho e para is so necessita dos seguintes acessórios: régua
bandeira, faca Jebong, tigela, suporte de tigela, bica de zin c o , em bornal,
pedra de amolar, entre ou tro s.
Deta lhe s bastante práticos e ilu s tra tiv o s sobre o processo de coleta
de látex podem se r encontrados na publicação “Tra b a lh a d o r em
se ring a is” , editado pelo Se rviç o N acional de Form ação P ro fis s io n a l
R u ra l - S E N A R . ( S I L V A J Ú N IO R , 1981).
O látex obtido pode se r beneficiado através dos seguintes
processos:

P ro ce sso in d ígen a: b o la s ou p élas

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Ta m b é m denominado de amazônico, é em pírico, lento,
proporcionando condições bastantes in sa lu b re s ao se rin g u e iro . C o n siste
na utiliza ç ã o dos vapores provenientes da decomposição pirogenada de
certas madeiras duras ou sementes.
O sistem a é composto de duas fo rq u ilh a s de madeira sobre as quais
é colocada uma travessa c ilín d ric a , também de madeira, e uma peça na
form a de tronco de cone denominada boião, localizada abaixo da travessa
com a fina lid a de de o rie n ta r a fumaça. Gradativam ente o látex vai sendo
derramado sobre a travessa em m o vim e nto, coagulando p o r e fe ito das
substâncias contidas na fumaça, ta is como: ácido acético, fe n ó is, álcool
e tílic o , acetona e cresóis que exercem ainda im portante papel na
conservação da borracha, por p o ssu íre m ações antioxidantes e
antissépticas. A coagulação é realizada em fin a s camadas até
conseguirem -se bolas com diâm etro aproximado de 40cm .

Folha Fumada Brasileira - FFB


O processo se in ic ia pela passagem do látex através de uma
peneira com o o b je tiv o de separar as im puresas g ro sse ira s presentes, ta is
como: galhos, fo lh a s, pré-coágulos. A p ó s a filtra ç ã o , é padronizado em
tanques pela d iluiçã o com água a uma concentração conhecida que pode
va ria r entre 1 3 % a 1 5 % de borracha. A padronização é realizada com o
a u x ílio de um densím etro denominado latexôm etro ou lactôm etro.
O látex padronizado é levado a fô rm a s onde será efetuada a
coagulação. O agente coagulante m a is indicado é o ácido acético e a
quantidade de ácido a se r adicionada depende do te o r de borracha
presente no látex. P o r esta razão é que se re a liza a padronização,
obtendo-se uma u n ifo rm iza ç ã o no processo e produto. A concentração do
ácido acético empregado é de 1% e a coagulação se processa
norm alm ente de u m dia para o u tro através da separação da borracha do
soro.
N o dia seguinte o coágulo é passado em d o is lam inadores ou
calandras, de m o vim e nto concêntrico, u m c o n stitu íd o p o r d o is ro lo s
lis o s , onde é retirada a m a io ria do so ro e, outro, p o r d o is ro lo s estriados
que, p ro d u zin d o e stria s nas lâ m inas, aumentam a su p e rfíc ie , fa c ilita n d o a
secagem. O sistem a p o ssu i u m parafuso de ajuste que aproxim a os ro lo s,
tom ando a lâm ina cada vez m a is fin a . A p ó s cada laminação, deve-se
processar uma lavagem com água potável para a elim inação do ácido
re sid ua l.
A s lâm inas a ssim obtidas são maceradas p o r algumas horas, em
água liv r e de im purezas, e levadas a se g u ir para serem secadas à sombra

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durante quatro a se is horas. A p ó s a secagem se processa a defumação das
lâm inas em “ casas de fumaça” que consistem de um lug a r fechado onde
são in tro d u zid o s, pela parte in fe rio r, vapores e gases obtidos pela
combustão incom pleta de m adeiras. A tempetura in te rio r deve ser
m antida em 4 5 °C . O fin a l do processo é reconhecido quando as lâm inas
adquirem coloração castanho-escura, translúcida, não apresentando
pontos ou manchas brancas e opacas.
Intem acionalm ente estas lâ m ina s são conhecidas como R . S . S .
(R u b b e r Sm oked Sheet) e no B r a s il, em p articular, como F F B (F o lh a
Fum ada B ra sile ira ).

Folha Clara Brasileira - FCB


A F o lh a C la ra B ra s ile ira é também conhecida como Crepe C la ro
B ra s ile iro - C C B . O processo u tiliz a d o é semelhante ao de F o lh a Fum ada,
com pequenas variações, a saber: depois de padronizado, é adicionada
ao látex uma solução de b is s u lfito de sódio, na proporção de 0 ,1 % , a fim
de se e vita r a oxidação da borracha. E s s a solução pode se r adicionada,
in c lu siv e , na tigela coletora em su b stitu iç ã o a amónia.
A coagulação deve ser fe ita em tanques de azulejo ou epoxi e pode
ser acelerada empregando-se solução de ácido acético a 4 % .
N e ste caso específico não é fe ita a defumação, mas apenas a
secagem que é executada em câmaras, à tem peratura média de 5 8 °C ,
durante 3 a 4 dias ( R O N D O N et al., 1 992).
O Crepe C la ro a ssim ob tid o tem grande aplicação em artefatos
brancos como bico de mamadeira, solado de sapato, tê n is e esparadrapo,
entre outro s.

Crepe Escuro Brasileiro - CEB


E s te processo u tiliz a como m atérias-prim as o cernambi e pélas que
são lavados, crepados e secos. D enom ina-se cernambi a borracha obtida
pela coagulação espontânea do látex. N a Am azônia, de acordo com a
form a, m aneira de elaboração e contaminação, são conhecidos os
cemambis cocho, coalho, virg em , rama e cametá.
Granulado Claro Brasileiro - GCB
A obtenção da fo lh a ou manta é realizada da mesma m aneira que
no processo F F B . A fo lh a é então levada a u m granulador com a
fina lid a de de se obter p artículas pequenas e a ssim fa c ilita r a secagem que
é fe ita em aproximadamente 7 horas.

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N o caso de se usa r, como m atéria-prim a, bolas ou pélas, o produto
fin a l é denominado G ranulado E s c u ro B ra s ile iro - G E B ( S A M P A IO
1991).
A especificação b ra sile ira para borrachas n a turais beneficiadas
pode se r observada na Ta b e la 1.

Tabela 1 : Requesitos exigidos pela especificição brasileira,


para borrachas naturais beneficiadas

Matéria- Tipo CAR/\ CTE R Í S T IC AS


prima
Cor Vol N Extr Suj. Cinzas Plast. IRP
máx. % % % % % min. min.
máx. máx. máx. máx. máx.
CCB-1 6 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
CCB-2 12 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
FCB-1 6 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
FCB-2 12 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
Látex GCB-1 6 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
GCB-2 12 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
FFB-1 - 1,0 0,6 4,0 0,0 0,3 30 60
FFB-2 - 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 60
CEB-1 - 1,0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 50
CEB-2 - L0 0,6 4,0 0,3 LO 30 40
CEB-3 - 1,0 0,6 4,0 0,5 1,5 30 30
Coagulados GEB-1 - L0 0,6 4,0 0,1 0,5 30 50
GEB-2 - L0 0,6 4,0 0,3 LO 30 40
GEB-3 - L0 0,6 4,0 0,5 1-1,5 30 30
c m ~ ? r®pe Claro Brasile'ro; FCB = F°lha Clara Brasileira; GCB = Granulado Claro Brasileiro'
„ . r . Folh® Fumada Brasileira; CEB = Crepe Escuro Brasileiro; GEB = Granulado Escuro
Brasileiro; Vol. = Voláteis a 105°C; N = Nitrogênio; Extr. = Extrato acetônico; Suj. = índice de
sujKtade, Plast. - Plasticidade; IRP = índice de Retenção de Plasticidade. Fonte: SAMPAIO
C.E.S. et al. (1991). *

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L áte x C o n ce n tra d o

E x is te m trê s métodos empregados para a concentração do látex:


mecânico, físic o -q u ím ic o e fís ic o . N a Am azônia, as in d ú stria s u tiliz a m
em grande escala o processo mecânico de centrifugação. E um processo
extremamente cômodo, bastante econômico quando bem controlado e
apresenta u m produto com alto te o r de borracha.
Para a fabricação de determinados artefatos a in d ú stria usava, no
passado, a borracha d isso lv id a em solventes adequados apresentando,
contudo, u m te o r de borracha seca da ordem de 1 5 % d ific u lta n d o , assim ,
a elaboração desses artefatos.
M odernam ente u tiliza -se o látex concentrado que apresenta as
p rinc ip a is vantagens:
- trabalha-se com um sistem a que contém cerca de 6 0 % de
borracha;
- sendo a água o m eio d isp e rsivo , não apresenta a inconveniência
da presença de solvente; e
- o film e depositado goza de propriedades tecnológicas superiores
com relação a resistência à tração e aos agentes n a tu ra is como
lu z , o zô n io , calor e umidade.
O processo consiste na adição, na tig ela receptora, no m om ento da
sangria, de solução de h id ró xid o de am ónio que, agindo como
anticoagulante, mantêm o látex líq u id o . O látex a ssim coletado é
transportado em tambores para as in d ú stria s onde, através de c e n trífu la s
especiais, é separado em duas fases, o so ro e o látex concentrado com no
m ín im o 6 0 % de borracha seca.
Pa ra ser encaminhado à in d ú stria s de transform ação, norm alm ente
localizadas a grandes distâncias, o látex centrifugado precisa ser
estabilizado. Para isso , adiciona-se solução de h id ró x id o de am ónio em
quantidades su fic ie n te s para alcançar uma concentração de 2 % de
amónia ( N H 3) na fase líquida . C om a fin a lid a d e de se r preservado,
mantendo o m eio asséptico, são empregados também agente bactericido.
O u tro processo usado na concentração do lá tex é o físic o -q u ím ic o ,
conhecido p o r cremagem, que, u tiliza n d o m atérias-prim as de natureza
coloidal, denominadas agentes de cremagem, separa o látex em duas
camadas de acordo com a le i das densidades. N a parte su p e rio r d istingue-
se o lá tex concentrado, também denominado creme, com até 6 5 % de
borracha seca e na arte in fe rio r, m ais leve, o so ro praticamente isento de
borracha.

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Os agentes de cremagem m ais empregados são ca rb oxim etil-
celulose de alta viscosidade, sal de só d io do ácido p o lia c rílic o , gomas
como adragante e karaia, pectina, alginato de am ónio e hem iceluloses de
diversas origens como o pó de ju ta í.
O s requesitos exig id os pela especificação b ra sile ira para borrachas
na turais beneficiadas podem se r v ista s na Ta b e la 2.

Tabela 2: Requisitos exigidos para comercialização


de cada tipo de látex “in natura”.
TIPOS
CARACTERÍSTICAS
1 2 3 4
Sólidos totais (ST), mín.,% 61,5 64,0 61,5 64,0
Borracha seca (BS), mín.,% 60,0 62,0 60,0 62,0
(ST) - (BS), máx.,% 2,0 2,0 2,0 2,0
Alcalinidade Total, NH3 na fase aquosa, % 1,6 1,6 1,0 1,0
Borra, máx., % 0,10 0,10 0,10 0,10
Coágulo, máx., % 0,05 0,05 0,05 0,05
índice de KOH, máx.,% 0,80 0,80 0,80 0,80
Estabilidade mecânica, mín.,% 540 540 549 540
Cobre, nos(ST), máx., % 0,000 0,000 0,000
8 8 0,0 008
8
Manganês, nos (ST), máx.,% 0,000 0,000 0,000
8 8 0,0008
8
Cor, ausência Cor azul ou cinza acentuada
Odor, ausência Qualquer odor putrefativo
Tipo 1 = Látex centrifugado, preservado somente com amónia ou com formaldeído e
amónia; Tipo 2 = Látex cremado, preservado da mesma forma que o tipo 1; Tipo 3 = Látex
centrifugado, p r e s e r v a d o c o m baixo teor de amónia e outros agentes necessários; Tipo 4 =
Látex cremado, preservado como o tipo 3. Fonte: SAMPAIO, C.E.S. et al. (1991)

Análise do látex concentrado

C onsiderando que a comercialização látex é realizada quase que na


sua totalidade na fo rm a de látex concentrado, fo i elaborada pela
Associação B ra s ile ira de N o rm a s Té c n ic a s - A B N T , a norma E B - 2 2 6 ,
látex concentrado de borracha n a tu ra l, onde são fixa d o s os re que sito s
básicos, os valores lim ite s e os respectivos ensaios, contribuindo, assim ,
para u m p e rfe ito controle da qualidade.

D eterm inação do odor

O látex de se rin g u e ira , quando não preservado corretamente, tem


seus c o n stitu in te s não-borracha degradados, principalm ente carboidratos
e fração protéica, liberando com postos p ú trid o s e m al cheirosos.

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O teste de odor é su b je tiv o e q u a lita tiv o , mas de grande
im portância na qualificação do látex. É realizado neutralizando-se a
amónia com solução saturada de ácido bórico. O odor deve ser
adocicado, não-amoniacal e não-putrefato ( W IS N IE W S K I, 1983;
A B N T , 1990).

Determ inação de cor

U m látex biodegradado apresenta coloração escura. E s ta coloração


pode também proceder de contaminaçães do látex em contatos com
chapas metálicas, especialmente dos vasilham es de embalagens não-
revestidas ou deficientem ente revestidas p o r m ateria l de p o lie tile n o e
outro s. A cor do látex é determinada comparando-se com a cor de um
padrão de látex de boa qualidade ( W I S N I E W S K I , 1 98 3).

D eterm inação de sólidos totais

O te o r de só lid o s to ta is, também conhecido p o r T S , do ing lê s T o ta l


S o lid , representa a quantidade, em percentagem, da função fix a do látex,
determinada em estufa, a tem peratura de 7 0 ± 2 °C durante 16 horas ou a
tem peratura de 100 ± 2 °C durante duas horas. É uma das determinações
mais im porta ntes levando-se em conta os padrões de pureza e qualidade
do látex.

D eterm inação do teor de borracha seca

Ta m b é m conhecido como D R C , do ing lê s D r y R u b b e r C ontent,


representa a percentagem, em peso, de borracha seca no látex,
precipitada p o r m eio ácido. O te o r aproximado de borracha seca pode
também se r determinado através de d ensím e tros com uns ou de
h id rô m e tro s especiais conhecidos como lactôm etro, m etrolác,
sim p le xô m e tro e latexôm etro ( W I S N I E W S K I , 1983).

D eterm inação da diferença entre sólidos totais e borracha seca

A diferença entre o te o r de só lid o s to ta is e borracha seca situa-se


em ± 3 , 5 em látex recém-coletado.

Determ inação do índice de KOH

O índice de K O H representa o estado de conservação de u m látex


preservado com amónia ( N H 3 ) e pode se r d e fin id o como o núm ero de
gramas de h id ró x id o de p otá ssio ( K O H ) equivalente aos radicais ácidos

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do látex combinados com amónia e re fe rid o a 100 gramas de só lid o s
to ta is ( T S ) . N a verdade, o índice ou N ° de K O H indica a m ín im a
quantidade de K O H que deve ser adicionada ao látex, a f im de
assegurar-lhe uma estabilidade a longo prazo em presença de ó xid o de
zinco.

Determ inação da alcalinidade

C om a fina lid a de de se e v ita r uma degradação ferm enta tiva do


látex recém coletado, p o r e fe ito de ações enzim áticas e m icrobianas,
norm alm ente são adicionados ao mesm o estab ilizad ores como a amónia.
A expressão alcalinidade refere-se aos álcalis to ta is contidos no
látex, expressos em percentagem de amónia ( N H 3) ( W I S N I E W S K I ,
1983).

D eterm inação da estabilidade m ecânica


A estabilidade do látex concentrado é determinada através da
estabilidade mecânica expressa em segundos, tempo necessário a que
apareçam os p rim e iro s coágulos, quando o látex é subm etido a uma
vio le nta agitação provocada por uma palheta em alta rotação
( W I S N I E W S K I , 1983).
A lé m dessas determinações, também podem se r realizados no
látex, o índice de ácidos gord urosos vo lá te is; viscosidade; b orra; coágulo
e teores de cobre, manganês, m agnésio, zinco, fe rro e cálcio.
D eta lhe s sobre fundam entos dos métodos, procedim entos,
aparelhagens, reagentes, precauções, inte rferê ncia s e preparação das
am ostras podem se r encontradas em A B N T , 1 9 9 0 ; W I S N I E W S K I , 1 98 3;
A S T M , 1 97 4; R R I M , 1971

Principais aplicações do látex

O látex tem u m papel m u ito im portante como m atéria-prim a


p rin c ip a l na obtenção de v á rio s artefatos. Segundo M iric a et al. (1 9 9 _ ),
os processos m a is empregados são:

Espum a de látex

O processo resum e-se nas fases de m istu ra das m atérias-prim as,


espumação, gelificação, secagem e vulcanização tendo aplicações em
m oldados e lam inados de espuma.

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C om o d esenvolvim ento das espumas plásticas, principalm ente a
poliuretana, as espumas moldadas (colchões e tra ve sse iro s) perderam sua
a nte rio r im portância. E m contrapartida, os lam inados, empregados em
palm ilhas de sapatos, tecido espumado para su tiã e peças de vestuá rio,
vêm crescendo consideravelm ente.

Imersão

É u m dos processos m ais antigos, mas que atualmente vem sendo


bastante u tiliz a d o na elaboração de preservativos, lu va s cirúrg icas, luvas
dom ésticas, luva s in d u stria is e balões.
Pode se r realizado através de uma im ersão sim p le s, quando
objetiva-se a elaboração de artefatos de parede fin a , e im ersão com
coagulante, quando se deseja fa b ric a r artefatos de m a io r espessura como
luva s in d u stria is e domésticas. No p rim e iro caso, uma fô rm a de
porcelana, a lu m ín io ou v id ro é im ersa na form ulação e em seguida
secada. No segundo, in icia lm ente o molde recebe um banho de
coagulante para em seguida se r im e rso na form ulação ocorrendo, então, a
coagulação de um film e homogêneo.

Tratamento de papel

O tratam ento de papel pode ser fe ito de trê s maneiras:


adicionando-se o látex no p ró p rio hidra pulper, através de saturação e de
revestim ento.
N a p rim e ira , o látex é d isp erso com a polpa nos desfibradores ou
m istura d o re s ocorrendo p osteriorm ente a coagulação e a precipitação do
m aterial só lid o . N a saturação, a fo lh a de papel é levada a u m banho de
látex e p osteriorm ente secada, calandrada e lavada com água, enquanto
que o re ve stim ento baseia-se na aplicação de uma form ulação de látex
durante a fase de fabricação do papel

M oldagem

H o je praticamente sem inte resse comercial devido à concorrência


dos m a teria is p lásticos, tin h a o seu emprego na elaboração de peças para
brinquedos e máscaras. A obtenção das peças se processava através da
u tiliza ç ã o de m oldes de m aterial p oroso de porcelana sem esmalte ou
gesso.

A glom eração

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O látex tem um emprego de grande im portância como aglomerante
de fib ra de coco, couro, papel e o u tro s. N o caso específico de couro,
produz-se m atéria-prim a para p a lm ilh a s de sapatos. C o m relação à fib ra
de coco, inicialm ente obtem-se uma manta, p o r aspersão do form ula d o , e
em seguida a manta seca é adicionada em fô rm a s onde se processa a
vulcanização. O prod uto está sendo empregado na elaboração de
encostos de cabeça e assentos para a in d ú stria autom obilística.

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