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Análise Psicológica (2008), 1 (XXVI): 25-45

O coming out de gays e lésbicas e as


relações familiares (*)

PEDRO FRAZÃO (**)


RENATA ROSÁRIO (***)

INTRODUÇÃO tigação empírica (Pereira & Leal, 2004, 2005a,


2005b), o associativismo científico (Ferreira, 2005),
Escrever sobre gays e lésbicas1 no contexto da o ensaio fenomenológico-existencial (Teixeira &
psicologia e da psiquiatria portuguesas parece ser Barroso, 1994), feminista (Lago & Paramelle,
ainda um acto pouco comum. Contudo, nos últimos 1978) ou literário (Gouveia & Carvalho, 1996), a
vinte e cinco anos vários autores destas disciplinas narrativa clínica (Castro D’Aire, 1995; Sampaio,
têm contribuído com trabalhos que atravessam 1999) ou a ficção (Sampaio, 2003). No entanto,
temas como a historiografia (e.g., Amaral & Moita, escrever sobre gays e lésbicas e família parece ser
2004; Barnabé & Teixeira, 1996; Pacheco, 1998, ainda menos frequente (e.g., Leal, 2004; Moita,
2000; Manteigas, 1996; Santos, 1987), a sexologia 1998) sobretudo se mergulharmos no campo da
(Albuquerque, 1987, 2003, 2006; Allen Gomes, terapia familiar. Apesar desta situação, é de salientar
1985), a psicanálise (e.g., Belo, 1986; Milheiro, o contributo importante de ciências sociais como
1999, 2001), a psicoterapia (e.g., Menezes & Costa, a Sociologia ou a Antropologia para o estudo do tema
1992; Moita, 2003, 2006; Pereira, 2004), a inves- das famílias gays e lésbicas no contexto português
(e.g., Meneses, 1998; Moreira, 2004).
Tendo em conta esta realidade, decidimos abordar

(*) Trabalho realizado no âmbito do Curso do 2.º ano


de Intervenção Sistémica, ministrado pela Sociedade
Portuguesa de Terapia Familiar.
Agradecimentos: Agradecemos à Dra. Ana Paula 1
Utilizamos os termos gay e/ou lésbica, na medida
Apolónia, à Dra. Catarina Mexia e ao Dr. José Manuel em que os consideramos mais libertos do viés pato-
Almeida e Costa pelo apoio prestado na elaboração deste logizante com que o termo homossexual muitas vezes
trabalho e pelos comentários às versões iniciais do mesmo. foi tratado pela literatura científica. Contudo, alguns
Agradecemos ao Prof. Doutor Daniel Sampaio e à Dra. autores consideram que os termos gay e/ou lésbica se
Isabel Gonçalves pelo incentivo e reflexão crítica com referem a alguém que já assumiu a sua identidade sexual
que têm acompanhado a nossa actividade científica. perante a sociedade, enquanto que o termo homossexual
O autor Pedro Frazão dedica este trabalho à memória abrange todo o conjunto de situações ou comportamentos
da sua avó Maria Natália Vaz. que não implicam necessariamente uma assumpção
(**) Psicólogo. Colaborador do Núcleo de Estudos do identitária a nível pessoal ou social. Assim, o termo
Suicídio – Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa homossexual surgirá inúmeras vezes ao longo do nosso
Maria. Colaborador do Espaço Família. E-mail: pedro texto, porque decidimos respeitar as formulações originais
frazao@aeiou.pt desses mesmos autores.

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o tema do coming out2 e das relações familiares, ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DAS
assumindo as dificuldades e as imprecisões que TEORIAS EXPLICATIVAS SOBRE A
podemos cometer ao efectuarmos uma revisão HOMOSSEXUALIDADE
bibliográfica que se baseia maioritariamente em
literatura de expressão anglo-saxónica. Este facto A homossexualidade é tão antiga como a
dificulta a generalização ao nosso contexto, mas própria humanidade, existindo ao longo de todos
pensamos que poderá trazer algum contributo os períodos históricos e atravessando todas as
reflexivo para os terapeutas portugueses, em geral, culturas. Contudo, as diferentes sociedades humanas
e para os terapeutas familiares, em particular. encararam-na ou encaram-na de formas distintas.
Este trabalho dividir-se-á em quatro grandes Segundo Trippe (1975, cit. por Sanders, 1993),
secções: 1) Origem e Desenvolvimento das Teorias encontramos três grandes perspectivas sobre a
Explicativas sobre a Homossexualidade, onde se homossexualidade, se analisarmos as diferentes
reflectirá sobre a evolução dos discursos cientí- culturas humanas: a) culturas que não têm um discurso
ficos acerca da homossexualidade e as diferentes sobre as relações entre pessoas do mesmo sexo
teorias biológicas e psicológicas que surgiram ao (e.g., nativos americanos e polinésios do pré-
longo do século passado; 2) O Processo de Coming -cristianismo), não existindo palavras para descrever
Out, onde serão abordadas definições conceptuais, essa orientação afiliativa; b) culturas que têm uma
dados estatísticos e modelos de coming out; 3) Gays visão positiva sobre a homossexualidade (e.g.,
e Lésbicas e Família, onde se reflectirá sobre as Grécia Antiga3, culturas indígenas brasileiras e
reacções da família ao coming out de um dos seus da Melanésia equatorial), em que o amor masculino
elementos; e 4) Modelos de Intervenção Familiar, é valorizado em relação ao amor heterossexual; e
onde se discutirão algumas possibilidades de inter- c) as culturas dominantes (e.g., europeias, norte-
venção em situações em que um dos elementos -americanas, cristãs e muçulmanas), em que existe
da família revela a sua identidade sexual. um discurso negativo em relação à homossexua-
A introdução das duas secções iniciais, não lidade (para um aprofundamento destas questões,
directamente relacionadas com o tema do coming ver Beach & Ford, 1969).
out e das relações familiares, prende-se com o De facto, esta visão negativa da homossexua-
facto dos conteúdos nelas discutidos estarem sempre lidade nas culturas dominantes foi manifestada
presentes quando abordamos as questões da reve- através da sua condenação social, moral e legal.
lação da identidade sexual à família. Como se verá Apenas em finais do século XIX, com o advento
adiante na secção sobre Modelos de Intervenção daquilo a que Foucault (1976/1994) designou como
Familiar, os terapeutas familiares necessitam ter “scientia sexualis”, começam a emergir os primeiros
um conhecimento amplo sobre as várias teorias discursos científicos e médicos acerca da homos-
explicativas da homossexualidade e dos modelos sexualidade, embora a maioria deles mantenha,
desenvolvimentistas que nos dão conta do processo directa ou indirectamente, um carácter profundamente
de coming out de gays e lésbicas, de modo a res- patologizador.
ponderem de forma eficaz e precisa às questões
da família e a desconstruírem algumas crenças
erradas que surgem no decorrer do processo tera- 3
Ao longo dos tempos muito se tem escrito sobre o
pêutico. amor homossexual grego, existindo muitas vezes uma
mitificação do mesmo. De facto, a homossexualidade
grega era aceite em contexto especial no qual se fomen-
tavam as relações entre um homem mais velho (erasta)
e um adolescente (erómano). Estas relações constituíam
um ritual iniciático de cariz militar ou de transmissão
de conhecimento, onde os papéis sexuais eram estereo-
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O termo coming out, versão reduzida de ‘coming tipados, ou seja, o adulto assumia um papel activo e o
out of the closet’, é uma expressão cuja tradução portuguesa jovem um papel passivo no decorrer do acto sexual. Na
seria ‘sair do armário’. Esta expressão significa que realidade, estas relações eram de tal modo ritualizadas
um gay ou lésbica assumiu a sua identidade sexual. que os gregos desprezavam os adultos que assumiam
Apesar da tradução portuguesa, decidimos, tal como um papel passivo no decurso de um acto homossexual
fazem alguns autores portugueses e espanhóis, manter com outro homem (Foucault, 1975/2000; Pacheco, 1998;
o termo anglo-saxónico por nos parecer mais universal. Santos, 1987; Sartre, 1991/1992).

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O termo homossexual foi introduzido na lite- a homossexualidade seria causada por um conjunto
ratura científica em 1869 por Karoly María Benkert de factores hereditários, educacionais e sociais
(Cascais, 2004; Naphy, 2006; Pérez-Sancho, 2005), (Pacheco, 2000), contudo é explícito no seu discurso
na tentativa de eliminar ou substituir designações a preponderância que dá aos factores do meio. De
pejorativas para as relações sexuais entre pessoas facto, Moniz (1913) atribui uma grande importância
do mesmo sexo. Pouco tempo depois, surgiriam os aos factores da educação, considerando que “a
primeiros estudos psiquiátricos e médicos sobre influencia que educação exerce sobre uma creança
a homossexualidade, cujos pressupostos se baseavam é extraordinária. A sugestão tem para ellas tanta
na procura de um substrato físico ou psíquico que importância ou mais influencia que a instrucção
explicasse essa desordem (Pérez-Sancho, 2005). systemática. E tão importante é que ouso perguntar
Um dos autores mais influentes da sua época se uma creança póde transformar-se num invertido
foi o neurologista alemão Richard Kraft-Ebbing simplesmente pela influencia que sobre ela se exerça
que, em 1886, publicaria a obra Psychopathia Sexualis durante o seu desenvolvimento, ainda que não possua
(Adelman, 2000; Naphy, 2006; Meyenburg & Sigusch, as mais leves taras hereditárias.” (Moniz, 1913,
1977; Pérez-Sancho, 2005). Nesta obra, propôs p. 481).
uma teoria explicativa da homossexualidade a qual O corpo teórico destes estudos, embora não estando
passaria pela degenerescência do sistema nervoso. isento do viés provocado pelo clima social da época,
Propôs igualmente a existência duma homosse- serviria de base para o desenvolvimento e formulação
xualidade constitucional e outra adquirida. Tais de um conjunto de teorias biológicas e psicológicas
ideias acabaram por contribuir para o desenvol- que marcariam o estudo da homossexualidade no
vimento da visão da homossexualidade enquanto século XX.
doença mental.
Outro autor muito influente foi Havelock Ellis Teorias Biológicas
que, em 1897, publica a obra Studies in Psychology
of Sex (Naphy, 2006). Nela dedica alguma reflexão No campo das teorias biológicas sobre a homosse-
ao tema da homossexualidade, defendendo que xualidade predominam as explicações de carácter
esta teria uma raiz congénita e hereditária. Ellis, genético e explicações baseadas nos níveis de
apesar destas ideias, convidava os seus contem- hormonas sexuais ao longo do desenvolvimento
porâneos para uma visão mais tolerante da homos- pré-natal.
sexualidade, uma vez que, e ao contrário de Kraft- Segundo alguns autores (e.g., Pillard & Weinrich,
Ebbing (1886, cit. por Pérez-Sancho, 2005), considerava 1986; Bailley & Banishay, 1993, cit. por Perrin
serem os homossexuais que participaram no seu et al., 2004), existiria uma maior incidência de
estudo, homens e mulheres normais, gente corrente, familiares homossexuais nas famílias de gays e
não se tratando de pessoas doentes ou criminosas lésbicas do que nas famílias de indivíduos heteros-
(Clarke & Peel, no prelo; Pérez-Sancho, 2005). sexuais. Noutro tipo de estudos (e.g., Byne &
Dos autores desta época, destacamos igualmente Bruce, 1993, cit. por Pérez-Sancho, 2005; Bayley &
o nome do sexólogo alemão Magnus Hirschfeld, Pillard, 1991, cit. por Yarhouse, 1998), em que se
ele próprio homossexual, que defendeu a ideia efectuaram comparações entre gémeos homozigóticos,
do hermafroditismo psíquico e não orgânico (Pérez- dizigóticos, ou irmãos adoptivos verificou-se que
Sancho, 2005; Perrin et al., 2004). Em 1897, funda a taxa de concordância da homossexualidade era
a Comissão Científica Humanitária que defendia o maior nos gémeos monozigóticos. Contudo, estes
fim da perseguição legal e social aos homossexuais estudos são muitas vezes criticados quer no seu
e, em 1919, funda o primeiro Instituto de Ciências desenho metodológico (e.g., muitas vezes captam
Sexuais do mundo. Infelizmente, em 1933, os nazis apenas voluntários da comunidade homossexual,
destruíram o Instituto e queimaram todo o material o que não é obviamente representativo da população
e estudos que versavam os vários aspectos da sexua- geral) quer nas conclusões a que chegam (e.g., a
lidade humana (Adelman, 2000; Naphy, 2006; Meyen- concordância da homossexualidade nos gémeos
burg & Sigusch, 1977; Pérez-Sancho, 2005). homozigóticos é mais parcial do que global) (Pérez-
Em Portugal, há que realçar o contributo pouco Sancho, 2005).
conhecido de Egas Moniz (1913) para o estudo Alguns autores (Hammer, Hu, Magnuson &
da homossexualidade. Este autor considerava que Pattuci, 1993, cit. por Perrin et al., 2004) falam

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mesmo da existência de um marcador genético (Xq28) curta duração em que o impulso sexual se fixa na
para a homossexualidade, situado no cromossoma mulher de um modo intenso (a maior parte das
X dos homossexuais masculinos. Contudo, estes vezes a mãe) e que depois de passar este estádio,
estudos não foram replicados (Pérez-Sancho, 2005; identificam-se com a mulher e tornam-se o seu
Perrin et al., 2004). próprio objecto sexual, quer dizer que, partindo do
Outro género de estudos defende, como já foi narcisismo, procuram adolescentes que se lhes
referido, a hipótese das diferenças hormonais durante assemelhem e querem amar como a sua mãe os
o desenvolvimento pré-natal. A ideia fundamental amou a eles próprios”. Subjacente a esta ideia está
passa pela existência de diferentes concentrações a formulação de que os homossexuais masculinos
de androgéneos durante determinados períodos apresentam questões não resolvidas ao nível do
do desenvolvimento pré-natal. Em traços muito complexo de Édipo, questão que aliás será reto-
gerais, o papel dos androgéneos passaria pela mascu- mada no ensaio de 1922 “Alguns mecanismos
linização ou feminilização do cérebro. Deste modo, neuróticos no ciúme, na paranóia e na homosse-
os homossexuais masculinos seriam pouco expostos xualidade” (Freud, 1922/1969).
aos androgéneos durante o seu desenvolvimento Mais tarde, Freud (1920/1969) publica um artigo
pré-natal e as lésbicas seriam demasiado expostas sobre a homossexualidade feminina, onde desen-
a estas hormonas. Tal facto, resultaria no surgimento volve a ideia de que a homossexualidade estaria
de comportamentos atípicos em termos sexuais e ligada a uma fixação infantil à mãe e uma fortíssima
de interesses de género, o que incluiria as atracções decepção em relação ao pai, aliando-se a isto um
sexuais (Collaer & Hines, 1995, cit. por Perrin et complexo de virilidade.
al., 2004). Estes estudos foram igualmente criticados Ao longo dos anos, este autor continuou a defender
em termos conceptuais e metodológicos (Savin- as suas formulações (para uma revisão aprofundada,
Williams, 2005; Yarhouse, 1998). ver Pérez-Sancho, 2005) que, de alguma maneira,
Outro campo de investigação passa pela neuro- continuam a reforçar a ideia de que a causa da
biologia. Alguns autores (e.g., Le Vay, 1993, cit. homossexualidade está radicada no desenvolvimento
por Yarhouse, 1998) defendem que a diferença dos infantil. Contudo, sempre esteve presente a ideia
níveis de hormonas sexuais durante o período de que não se deveriam perseguir e criminalizar
pré-natal levaria a alterações morfológicas em estas pessoas devido à sua orientação sexual, como
determinadas estruturas no cérebro de indivíduos é bem patente numa resposta que Freud (1935,
homossexuais, nomeadamente ao nível dos núcleos cit. por Goldfried & Goldfried, 2001, p. 681) dá
intersticiais do hipotálamo anterior (INAH2). Estas à carta de uma mãe que tem um filho homossexual:
estruturas seriam mais pequenas nos homossexuais “A homossexualidade não é seguramente uma
do que nos heterossexuais. Estas conclusões também vantagem, mas não é algo de que se deva enver-
foram muito contestadas e o método de estudo muito gonhar, um vício ou uma degradação. Não pode
criticado, uma vez que muitos dos homens gays ser classificada como uma doença… É uma grande
observados neste estudo tinham sido vítimas de injustiça perseguir a homossexualidade como um
SIDA (Pérez-Sancho, 2005). crime e também uma grande crueldade”.
Olhando para este conjunto de estudos, verifi- Os neo-freudianos continuariam a defender a
camos que é pouco conclusivo afirmar que existem visão de que a homossexualidade estaria ligada à
causas biológicas para a homossexualidade. fixação numa fase precoce do desenvolvimento
psicossexual, caracterizada pela atracção pelo mesmo
Teorias Psicológicas sexo e pelo narcisismo. Assim, descrevem os homos-
sexuais como pessoas emocionalmente imaturas,
A formulação das primeiras explicações psico- impulsivas e incapazes de estabelecer relações
lógicas para a homossexualidade foi desenvolvida amorosas genuinamente adultas (Perrin et al., 2004).
por Freud (1905/2001). Na obra clássica Três Ensaios Outros autores (e.g., Socarides, 1968, cit. por Perrin
sobre a Teoria da Sexualidade, Freud (1905/2001, et al., 2004) defenderam ainda que a homosse-
p. 38) ensaia a seguinte hipótese: “Em todos os xualidade se explicaria pela presença de um ambiente
casos observados podemos verificar que os que familiar em que existiria uma mãe dominadora e
mais tarde hão-de ser invertidos passam durante um pai submisso. É de notar que, apesar das críticas
os primeiros anos de infância por uma fase de efectuadas a este tipo de teorização dentro do próprio

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meio psicanalítico (Árán & Corrêa, 2004), as suas masculinas. Normalmente, estas brincadeiras seriam
formulações permanecem intactas dentro de alguns consistentes com o sexo da criança, mas isto nem
sectores da Psicanálise (e.g., Milheiro, 1999, 2001). sempre aconteceria desta forma. As crianças cujas
Surgiram também teorias que defendiam que a brincadeiras não seriam consistentes com o seu
homossexualidade estaria associada a uma paren- sexo tornar-se-iam pré-gays.
talidade inadequada, em que o conflito parental, Como facilmente se pode observar, as teorias
o divórcio, uma parentalidade pobre, ou a existência psicológicas sobre a homossexualidade estão repletas
de modelos de papel sexual impróprios poderiam de problemas epistemológicos, na medida em que
gerar fixações psicossexuais. Estas seriam expressas se centram em modelos de causalidade única dificil-
através das atracções em relação ao mesmo sexo mente sustentáveis hoje em dia, mas também carecem
(Ellis, 1996, cit. por Perrin, 2004, para uma revisão de fundamentação empírica. Assim, e à semelhança
aprofundada das teorias psicodinâmicas, ver do que já tínhamos referido em relação às teorias
Morano, 1997). biológicas, não podemos afirmar que existe uma
Num âmbito já bastante distante das conceptua- teoria psicológica explicativa da homossexualidade.
lizações do espectro psicanalítico, surgiram outras Provavelmente, e esta é a posição de alguns autores
explicações, tais como a teoria da frustração sexual. (e.g., Cascais, 2004; Naphy, 2006; Savin-Williams,
Esta postula que a homossexualidade masculina 2005), nem sequer é importante procurar a causa
resultaria de um contexto onde existiria falta de ou as causas da homossexualidade (para um apro-
mulheres, ou seria uma consequência de experiên- fundamento destas questões, ver Brandão, 2004;
cias negativas com mulheres (e.g., Cameron, 1963, Clarke & Rúdolfsdóttir, 2005 ou Savin-Williams
cit. por Perrin et al., 2004). & Diamond, 1997). Talvez seja muito mais interessante
Numa formulação algo semelhante, surgem as e, retendo os ensinamentos dos estudos pioneiros
teorias comportamentais, que defendem que a de Kinsey (1948; 1953, cit. por Savin-Williams, 2005),
homossexualidade resulta do facto das pessoas enquadrar a homossexualidade na variedade e na
terem contactos sexuais com pessoas do mesmo diversidade da sexualidade humana. De facto, recusa-
sexo antes de terem contacto com pessoas do sexo -se hoje de forma mais afirmativa a dicotomia homos-
oposto. Essas experiências, sendo gratificantes e sexualidade/heterossexualidade, existindo um conjunto
sendo proporcionadoras de prazer sexual, consti- de matizes intermédias ou indefinidas que enri-
tuiriam um reforço do comportamento e, assim, quecem a expressão genuína da sexualidade de cada
tenderiam a ser repetidas (e.g., Gagnon & Simon, um.
1973, cit. por Pérez-Sancho, 2005). Mas estas vozes foram e são minoritárias. No
Outra teoria defendida é a da auto-rotulagem. passado recente a presença de formulações teóricas
Esta sustenta que um indivíduo ao comportar-se frequentemente discriminatórias e patologizantes
de uma forma atípica para o seu género e, conse- era muito marcada, começando a criar-se uma neces-
quentemente, ao ser chamado de homossexual pelos sidade de mudança. Assim, e devido a um movi-
outros, passa a auto-identificar-se como homos- mento político gay em ascensão e organizado desde
sexual. De forma um pouco diferente, a teoria do os anos 19704 (Edwards, 1994), foram feitas pressões
treino inapropriado do papel sexual defende que os cívicas e sociais para o fim da visão da homossexua-
homens que não conseguem cumprir as demandas lidade como uma doença mental.
da masculinidade poderão, num acto de fuga a esta Após uma forte contestação, a homossexuali-
pressão, adoptar papéis sexuais femininos (Ellis,
1996, cit. por Perrin et al., 2004).
Para terminar a enunciação das principais teorias 4
Em Portugal, o movimento gay atingiria uma maior
psicológicas sobre a homossexualidade, mas assu- força política e organizativa nos anos 1990 (para apro-
mindo que existem ainda muitas outras teorias (para fundar este tema ver, Santos, 2002; 2004a; 2004b; 2004c;
uma revisão completa, ver Perrin et al., 2004), refe- 2005; Santos & Fontes, 2004). Contudo, já em 1974 tinha
riremos a teoria do exótico que se torna erótico de surgido no panorama português o grupo Gay Interna-
Bem (1996, cit. por Savin-Williams, 2005). Em traços tional Rights (G.I.R.) dedicado à defesa dos direitos dos
homossexuais (Gomes, 1981). Também no mesmo ano
gerais, esta teoria postula que as diferenças bioló- surgiria a primeira organização política de defesa dos
gicas entre as crianças fazem com que estas se direitos dos homossexuais: o Movimento de Acção Homos-
envolvam em brincadeiras mais femininas ou mais sexual Revolucionária (M.A.H.R.) (Santos, 2002).

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dade deixou de ser considerada uma doença mental, de várias formas e deu origem a diversas formulações
no ano de 1973, pela American Psychiatric Asso- teóricas. Vejamos apenas algumas definições.
ciation, e pela American Psychological Association, Haneley-Hackenbruck (1989, cit. por Wilson,
no ano de 1975 (Corrigan & Matthews, 2003; La 1999, p. 560) descreve o coming out como “um
Sala, 2000; Slater, 1988). Contudo, seria apenas processo complexo de transformações interpessoais,
em 1980 com a terceira edição do DSM, que a frequentemente estendido à vida adulta, que leva a
homossexualidade seria oficialmente retirada da um conjunto de acontecimentos com o reconhe-
categoria das parafilias. Em 1993, a nova versão cimento da orientação sexual do indivíduo”. Numa
da CID-10 (a classificação adoptada pela Orga- linha semelhante, de Monteflores e Schultz (1978,
nização Mundial de Saúde) retirava também a cit. por Zera, 1992) definem este conceito como
homossexualidade da sua lista de doenças (Arán um “processo de desenvolvimento, através do qual
& Corrêa, 2004; Clarke & Peel, no prelo; Leal, os gays e as lésbicas reconhecem as suas preferên-
2004). cias sexuais e escolhem integrar esse conhecimento
Apesar desta mudança, de existirem directivas nas suas vidas pessoais e sociais”.
oficiais a nível associativo (e.g., A.P.A., 2003), Ao analisarmos estas definições fica claro que o
de existirem textos académicos sobre as especi- processo de coming out encerra em si uma compo-
ficidades do trabalho clínico com esta população nente pessoal, mas que é integrada numa dimensão
(e.g., Adams, Jaques & May, 2004; Fontaine & social mais vasta. De grande relevância também,
Hammond, 1996; Pachankis & Goldfried, 2004; Slater, é a ideia de que este processo não é algo que se
1988) e de se criarem modelos de psicoterapia inicia na idade adulta, mas sim no processo global
afirmativa para gays e lésbicas (Davies & Neal, da formação da identidade iniciado na adolescência.
1996, cit. por Pereira, 2004; Clarke & Peel, no prelo), Em consonância com esta ideia, verificamos hoje
ainda existe muito trabalho a fazer para a trans- que a idade média do coming out é cada vez mais
formação das posições dos técnicos de saúde mental precoce.
(D’Augelli, 2003; Hochstedler, 2005). De facto, Garnets e Kimmel (1993, cit. por Pachankis &
Moita (2001, cit. por Amaral & Moita, 2004), num Goldfried, 2004) efectuaram uma análise dos estudos
levantamento dos discursos dos terapeutas portu- efectuados entre 1970 e 1980, tendo verificado
gueses (psiquiatras e psicólogos) sobre a homos- que a população gay começava a suspeitar da sua
sexualidade, verificou que estes empregavam conceitos homossexualidade entre os 12-13 anos, no caso
como anomalia, parafilia, desvio sexual, compor- dos rapazes, e entre os 14-16 anos nas raparigas.
tamento anormal ou uma falha de desenvolvimento Em 1980, a média de idades do coming out era
para a definir. de 19-21 anos para os gays e de 21-23 anos para
Parece então que o preconceito e o reducionismo as lésbicas, e surgia quando a maioria dos jovens
teórico ainda se encontram enraizados na cultura frequentava a universidade ou estabelecia uma vida
dos terapeutas. Tomando este contexto, seguramente independente (Troiden, 1988, cit. por Cianciotto
que se torna ainda mais difícil para um gay ou & Cahill, 2003).
lésbica assumir a sua identidade sexual perante si Cerca de uma década depois (e.g., Herdt & Boxer,
mesmo, perante a família ou perante a sociedade. 1996, cit. por Cianciotto & Cahill, 2003) verificou-se
Reflictamos então um pouco sobre a especificidade que os adolescentes relataram conhecimento da
deste processo, na tentativa de elucidar os vários sua orientação sexual aos 11-12 anos e se auto-
actores intervenientes sobre o que é o coming out -identificavam pela primeira vez como gays ou
e as consequências que acarreta. lésbicas aos 16 anos. Estudos mais contemporâneos
reforçam esta tendência e, para além disso, mostram
a existência de uma certa equalização de género em
O PROCESSO DE COMING OUT termos da idade do coming out (Savin-Williams,
2005). Segundo Kryzan (2000, cit. por Savin-
Um dos temas mais prevalentes na literatura Williams, 2005) a idade do coming out seria, em
sobre gays e lésbicas desde os anos 70 e 80 do século média, de 16 anos nas raparigas e de 15.6 nos rapazes.
passado é o da formação da identidade homos- Tendo em conta estes dados, a investigação sobre
sexual, frequentemente conhecido por processo o coming out de gays e lésbicas, tradicionalmente
de coming out. Este processo tem sido definido orientada para a idade adulta, dirige-se hoje cada

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vez mais para a população adolescente. Neste sentido, redefinição do significado destes pensamentos/
têm-se realizado estudos que procuram analisar a comportamentos e iniciar-se-ia um processo de
prevalência de adolescentes gays e lésbicas na procura de informação (Cass, 1979). Uma frase
população escolar. Estes estudos (e.g., National que poderia sintetizar este estádio, seria: “Serei
Longitudinal Study of Adolescent Health, 1996; homossexual?”.
Massachusetts Youth Behavior Survey, 2001; Safe No segundo estádio – Comparação da Identidade –
Schools Coalition of Washington, 1999; Vermont existe uma aceitação da possibilidade do indivíduo
Youth Behavior Survey, 2001, cit. por Cianciotto ser homossexual. Surgem, muitas vezes, sensações
& Cahill, 2003) envolveram grandes amostras e de diferença em relação aos outros e isolamento
estenderam-se por várias zonas dos Estados Unidos social. Nesta fase, o indivíduo aceita o comporta-
da América, tendo no seu conjunto demonstrado mento homossexual, mas rejeita a identidade ou,
que a população de gays, lésbicas e bissexuais na pelo contrário, aceita a identidade, mas inibe o
população escolar americana varia entre os 3 e os comportamento (Cass, 1979). A frase síntese deste
6%. Apesar destes dados, Savin-Williams (2005) estádio é: “Eu poderei mesmo ser homossexual”.
chama a atenção para o facto destes estudos, muitas Seguidamente, no terceiro estádio – Tolerância
vezes, formularem questões conceptualmente distintas da Identidade – o indivíduo começa a reconhecer
(e.g. atracção sexual, comportamento sexual, orien- as necessidades sexuais, emocionais e sociais de
tação sexual ou identidade sexual) e que, poste- ser homossexual. Neste sentido, começa a procurar
riormente, na análise dos dados são aglutinadas outros gays e lésbicas em grupos ou bares, inicia
em torno do rótulo identitário de gay ou lésbica. uma maior exploração da sexualidade, e constrói um
Tendo reflectido sobre os conceitos de coming sentido de pertença a uma comunidade (Cass, 1979).
out e sobre os desafios colocados por um processo A frase síntese desta fase é: “Provavelmente sou
de consciência da identidade sexual cada vez mais
mesmo homossexual”.
precoce, analisemos agora alguns modelos que
No quarto estádio – Aceitação da Identidade –
tentaram descrever a complexidade deste processo.
há uma aceitação do si homossexual, que tem como
Ao longo dos anos, surgiram e proliferaram vários
consequência uma intensificação do contacto com
modelos explicativos do coming out (e.g., Cass,
a cultura gay e lésbica, em detrimento do contacto
1979; Coleman, 1982; Martin, 1991; Sophie, 1985;
com a cultura heterossexual. Surge uma maior
Soriano, 1996, cit. por Pérez-Sancho, 2004). Estes,
aceitação de si mesmo e um aumento da zanga
embora partindo de pressupostos semelhantes e
de modelos teóricos descritivos do processo de em relação às atitudes anti-gay da sociedade (Cass,
formação da identidade homossexual idênticos, 1979). A frase que sintetiza este estádio é a seguinte:
apresentam algumas marcas distintivas interes- “Quem sou eu? Onde pertenço?”.
santes. Seguidamente, abordaremos dois dos modelos No quinto estádio – Orgulho da Identidade –
mais clássicos (Cass, 1979; Coleman, 1982) e anali- existe uma imersão na cultura gay e lésbica e uma
saremos uma síntese integrativa sobre a genera- menor interacção com heterossexuais. O mundo
lidade dos modelos proposta por Ritter e Terndrup está dividido em gay e não gay. Neste sentido,
(2002, cit. por Pachankis & Goldfried, 2004). começa a existir uma confrontação com a instituição
O modelo de Cass (1979) é desenvolvimentista heterossexual e uma distinção clara entre o ser homos-
na sua essência, propondo um sistema de estádios sexual e o ser heterossexual, dando-se uma maior
clássico para descrever o coming out. Segundo importância a quem é homossexual. Nesta fase,
esta autora, existiriam seis estádios: Confusão da existem também comportamentos mais corporativos
Identidade; Comparação da Identidade; Tolerância e inicia-se a revelação da identidade sexual a amigos,
da Identidade; Aceitação da Identidade; Orgulho família e colegas (Cass, 1979). A frase síntese deste
da Identidade; e Síntese da Identidade. período é: “Tenho orgulho em ser gay”.
No primeiro estádio – Confusão da Identidade Finalmente, no sexto estádio – Síntese da Iden-
– existiria uma personalização da informação acerca tidade – a identidade gay é integrada noutros aspectos
da própria sexualidade. Tal facto, levaria a um da identidade. Há um reconhecimento das pessoas
reconhecimento de pensamentos/comportamentos heterossexuais que são fonte de apoio e a identi-
homossexuais que, usualmente, seriam sentidos dade sexual, embora ainda importante, deixa de
como inaceitáveis. Posteriormente, existiria uma ser o factor primário na relação com os outros (Cass,

31
1979). A frase que sintetiza este estádio é: “Sei informação sobre o processo que gays e lésbicas
quem sou. Ser gay é uma das muitas coisas que sou”. atravessam na conquista de uma identidade global
Outro dos modelos clássicos de coming out é, que incorpore a sua vivência sexual. Contudo,
como já referimos, o modelo de Coleman (1982). alguns autores (e.g., Ritter & Tendrup, 2002, cit.
Este autor caracteriza o processo de formação da por Pachankis & Goldfried, 2004) têm realizado
identidade homossexual em cinco estádios: Pré- alguns esforços para construir modelos mais inclusivos
Coming Out; Coming Out; Exploração; Primeiras e mais integrativos. Deste modo, Ritter e Tendrup
Relações; e Integração. (2002, cit. por Pachankis & Goldfried, 2004) propu-
O estádio de Pré-Coming Out seria caracterizado seram um modelo síntese que reúne as grandes
pelo facto da criança se sentir diferente dos seus linhas dos modelos de coming out existentes na
pares, facto que muitas vezes também é reconhe- literatura desde os anos 1970 e 1980 até à actua-
cido pelos pais. Durante estes anos, o indivíduo lidade. Segundo estes autores, é possível identificar
incorpora os valores dominantes da sociedade que três grandes fases comuns aos vários modelos de
consideram a homossexualidade errada, facto que coming out: Sensibilização; Tolerância; e Integração.
o leva a sentir-se diferente, alienado e só. Existe A fase de Sensibilização seria caracterizada por
também uma clara percepção de que os sentimentos uma sensação de diferença e marginalização em
dirigidos a pessoas do mesmo sexo são alvo de relação aos pares do mesmo sexo (principalmente
rejeição e ridicularização, o que leva o indivíduo nos rapazes pré-adolescentes), tradicionalmente
a proteger-se em relação à consciência desses senti- ligada à não conformidade com os papéis de género
mentos (Coleman, 1982). estipulados pela sociedade e que, na adolescência,
No estádio seguinte – Coming Out – há um reconhe- seria associada a uma diferença em termos sexuais.
cimento dos sentimentos homossexuais. Inicial- Este facto é, muitas vezes, sentido como inacei-
mente, há a consciência de um pensamento ou de
tável, levando a várias estratégias defensivas (e.g.,
uma fantasia e, só mais tarde, o indivíduo tem
procurar terapia reparativa; assumir posições homo-
percepção e compreensão do que significa a palavra
fóbicas; pensar que se trata apenas de uma fase;
homossexual. O conhecimento destes sentimentos
imergir numa identidade heterossexual; definir
leva a que o indivíduo tenha vontade de os par-
situações e não a orientação sexual como causas do
tilhar com os outros, iniciando-se um trabalho de
comportamento homossexual; sobrenvolvimento
preparação da escolha das pessoas a quem quer
académico ou na carreira; e cruzada contra indivíduos
revelar a sua orientação sexual (amigos, colegas
ou familiares) (Coleman, 1982). ou actividades do mundo gay) (Ritter & Tendrup,
No estádio de Exploração, existe uma experi- 2002, cit. por Pachankis & Goldfried, 2004).
mentação da nova identidade sexual a nível sexual Na fase de Tolerância, os indivíduos podem
e social. Neste sentido, é importante desenvolver não revelar a sua identidade, mas envolvem-se
capacidades de socialização com pessoas com numa vida dupla. De facto, é comum a manutenção
interesses sexuais semelhantes e também um sentido de uma identidade heterossexual perante a família
de atractividade e competência sexual. Contudo, e amigos, mas ao mesmo tempo existir um contacto
é fundamental entender que a auto-estima não é com a comunidade gay para preencher necessidades
baseada na conquista sexual (Coleman, 1982). sexuais, emocionais e sociais. Quando este contacto
No estádio seguinte – Primeiras Relações – é recompensador, começa a surgir uma vontade
surgem necessidades ao nível da intimidade. Começam de reduzir a dissonância provocada por uma vida
a esboçar-se os desejos de uma relação estável e dupla. Em consequência, emerge o orgulho na
de compromisso, onde a atracção física e emocional identidade gay e uma maior procura de relações
se conjuguem. É também necessário aprender a íntimas com pessoas do mesmo sexo. Muitas vezes,
funcionar numa relação com uma pessoa do mesmo surge também uma sobreidentificação com a iden-
sexo numa sociedade em que a norma são relações tidade homossexual e um desafio a indivíduos
entre pessoas de sexo oposto (Coleman, 1982). heterossexuais com manifestações de comporta-
Finalmente, no estádio de Integração, forja-se mentos estereotipados (Ritter & Tendrup, 2002,
a incorporação da identidade pública e privada cit. por Pachankis & Goldfried, 2004).
numa única auto-imagem (Coleman, 1982). Finalmente, na fase de Integração, o indivíduo
A análise destes dois modelos dá-nos alguma irá integrar a sua identidade homossexual na visão

32
geral do seu si (Ritter & Tendrup, 2002, cit. por sexual com uma identidade étnica ou racial. Nestas
Pachankis & Goldfried, 2004). comunidades, em que a preservação dos valores
Apesar do esforço destes autores em fornecer familiares, religiosos e culturais surge de forma
modelos mais integrativos, os modelos tradicionais extremamente acentuada, a consolidação de uma
de coming out têm sido alvo de várias críticas. identidade gay pode ser vista como uma traição
Estas passam geralmente pela ideia de que estes aos valores fundamentais dessa mesma comunidade
modelos são demasiado normativos e rígidos, não e associada à incorporação dos valores da cultura
dando uma visão real da diversidade dos percursos dominante (D’Augelli, Patterson & Ryan, 2001;
de vida dos gays e lésbicas (Floyd & Stein, 2002; Frankowski & Committe on Adolescence, 2004;
King & Noelle, 2004; Maguen, Floyd, Bakeman Newman & Muzzonigro, 1993; Rosario, Schrimshaw
& Amistead, 2002; Rosario, Hunter, Maguen, Gwadz, & Hunter, 2004; Savin-Williams, 2005).
Smith, 2001; Savin-Williams, 2005). Apesar destas considerações, é inegável que
As críticas efectuadas estruturam-se em três muitos adolescentes e jovens adultos decidem
grandes linhas de argumentação. Em primeiro lugar, revelar a sua identidade sexual aos amigos, à família
os modelos desenvolvimentistas clássicos foram e à sociedade. Segundo alguns autores (e.g., Cianciotto
concebidos num contexto histórico em que o coming & Cahill, 2003; Rosario, Hunter, Maguen, Gwadz
out era visto como o desfecho natural e imperativo & Smith, 2001; Tasker & McCann, 1991), é possível
do percurso de qualquer gay ou lésbica (Rasmussen, que no decorrer do processo de coming out surjam
2004). Alguns estudos contemporâneos (e.g., Savin- problemas emocionais e comportamentais, nomea-
Williams, 2001a, 2005), demonstram que os adoles- damente, fobias, depressão, tentativas de suicídio
centes recusam de forma, muitas vezes veemente, (são duas a três vezes mais frequentes nesta população,
a ideia do coming out, no sentido em que este rotula tendo uma prevalência de 20 a 42%), abuso de
e restringe a sua sexualidade. De facto, verifica-se substâncias, promiscuidade sexual ou fugas de casa.
que os adolescentes preferem cada vez mais iden- Acrescem a estes factos, as percepções negativas
tidades fluidas, tais como ambissexual, atraído por e atitudes homofóbicas dos seus pares que poten-
uma pessoa, bi-lésbica, bi-queer, heterossexual com ciam situações de discriminação, ridicularização
tendências lésbicas, etc. (Savin-Williams, 2005). e mesmo agressões físicas e verbais (Armesto &
Em segundo lugar, os modelos propostos cen- Weisman, 2001; Cowie & Rivers, 2000; Ortiz-Hernandez
traram-se sobretudo no percurso de homossexuais & Torres, 2005; Sharpe, 2002; Toro-Alfonso & Varas-
masculinos. Sabemos, hoje em dia, que o processo Díaz, 2004).
de formação da identidade homossexual nas mulheres No entanto, estes dados têm sido alvo de críticas,
é muito menos linear e muito mais fluido (D’Augelli, discutindo-se que a incidência destes problemas
Patterson & Schneider, 2001). Por exemplo, poderá ser ampliada pelo facto dos estudos se basearem
Diamond (1998) sugere que existem múltiplas quase exclusivamente em populações clínicas. Segundo
trajectórias no processo de desenvolvimento da Savin-Williams (2001a, 2005), devemos certamente
identidade sexual das lésbicas, sendo que se trata ajudar os jovens que atravessam dificuldades neste
mais de um fenómeno emergente que pode ser processo (e que na sua opinião constituem uma
activado numa fase particular da vida de uma mulher minoria), mas não devemos esquecer o estudo dos
do que um processo que se inicia logo com o nasci- jovens resilientes que, pelas suas características,
mento. Para além disso, Diamond (2000) verificou atravessam este processo com alguma tranquilidade.
que as mulheres possuem uma maior plasticidade A questão que permanece em aberto é a seguinte:
na mudança das identidades que se atribuem a si Revelar a identidade sexual aos outros, em particular
mesmas, flutuando mais facilmente entre uma à família, é um processo benéfico para o indivíduo?
identidade heterossexual, bissexual ou lésbica. Algumas investigações empíricas (e.g., D’Augelli
Em terceiro lugar, a maioria dos modelos foram & Hershberger, 1993, cit. por Cianciotto & Cahill,
formulados com base na vivência de indivíduos 2003) ou clínicas (e.g., Green, 2000) mostram que
brancos de classe média ou alta, deixando de lado não é muito claro se o coming out à família leva
os percursos de pessoas pertencentes a minorias a uma melhor, pior ou se não tem qualquer efeito
étnicas. Por exemplo, o trajecto de indivíduos latinos na saúde mental do indivíduo. Contudo, a grande
ou afro-americanos tem características distintivas, maioria dos estudos clínicos defende que o coming
na medida em que é necessário articular a identidade out cria um sentimento de liberdade e honestidade

33
no indivíduo e nas relações interpessoais que ele de formação, sabemos também que a comunidade
estabelece, nomeadamente com a família de origem científica mainstream validou durante muito tempo
(e.g., Drescher, 2004; Goldfried & Goldfried, 2001; as imagens da cultura popular. Durante anos, os
Herdt & Koff, 2002; LaSala, 2000; Pachankis & gays e lésbicas foram retratados como pessoas
Golfried, 2004; Pérez-Sancho, 2005; Savin-Williams, afastadas das suas famílias. Sabemos hoje que esta
2001b). é uma visão profundamente estereotipada, na medida
Independentemente desta controvérsia, é inegável em que a revelação da identidade sexual à família
que muitos indivíduos sentem que não conseguem de origem e a manutenção dos contactos com esta
manter a sua identidade sexual em segredo e que são de extrema importância (Baptist, 2002; LaSala,
necessitam de a partilhar com as pessoas mais 2000; Goldfried & Goldfried, 2001; Pachankis &
significativas. Neste sentido, muitos gays e lésbicas Goldfried, 2004).
decidem revelar a sua identidade sexual à família Tendo em conta a importância destes aspectos,
de origem. decidir quando e com quem se partilha a identi-
dade sexual no interior da família constitui uma
questão complexa (Gluth & Kiselica, 1994; Gramling,
GAYS E LÉSBICAS E FAMÍLIA Carr & McCain, 2000). Alguns estudos (e.g., Remafeldi,
1987; Rotheram-Borus & Reid, 1996, cit. por Cian-
Ao longo dos anos, tem-se verificado que o tema ciotto & Cahill, 2003) mostram que cerca de 38 a
da família raramente é associado aos gays e às 39% dos adolescentes e jovens adultos decidem
lésbicas. De facto, a cultura popular raramente retrata revelar a sua identidade sexual aos pais. Estudos
estas pessoas como membros de uma família e, mais recentes (e.g., Savin-Williams, 1998) mostram
mais do que isso, alguns segmentos da sociedade que essa percentagem tem aumentado, sendo que
consideram mesmo os gays e lésbicas como sendo 60 a 80% dos jovens revelam a sua identidade
anti-família (Pachankis & Goldfried, 2004). Curio- sexual às mães e 30 a 65% aos pais. Sabemos também
samente, para além desta imagem popular, a própria que a revelação da identidade sexual aos familiares
comunidade científica oriunda do campo da terapia segue o seguinte padrão: inicialmente, é revelada
familiar também se manteve afastada do estudo aos irmãos; mais tarde, às mães; e, finalmente, aos
destes temas (para uma revisão aprofundada, ver pais (Cianciotto & Cahill, 2003; LaSala, 2000; Savin-
Julien & Chartrand, 1997 ou Malley & Tasker, 1999). Williams & Ream, 2003).
Por exemplo, Clark e Serovich (1997) efectuaram Os motivos para a revelação da identidade sexual
um estudo em que analisaram a totalidade de artigos à família podem ser muito diversificados. Segundo
publicados em dezassete revistas da especialidade Myers (1982), existem seis grandes categorias de
entre 1975 e 1995. Dos 13.217 artigos que anali- motivos, cuja ordem de exposição não revela nenhum
saram, apenas 77 (0.006%) se focavam no estudo tipo de importância hierárquica: 1) a Importância
de gays, lésbicas e bissexuais ou utilizavam a dos Movimentos de Libertação Gay na sociedade
orientação sexual como variável. Apesar de tudo, actual promove mensagens de auto-aceitação, auto-
esta tendência parece estar a inverter-se e no ano -estima e de disseminação da informação; 2) o
de 2000, os estudos sobre gays e lésbicas apresen- Tormento Emocional provocado pela existência
tavam uma maior visibilidade (Rivett, 2001). de uma vida dupla gera afastamento e distância
Acresce também o facto dos terapeutas familiares em relação às famílias de origem; 3) o Processo de
possuírem pouca formação sobre as especificidades Formação de uma Identidade Homossexual leva
da população gay e lésbica. Malley e Tasker (2004) a uma aceitação de si mesmo como homossexual;
efectuaram um estudo com 130 terapeutas familiares, 4) a existência de um Processo Psicoterapêutico
onde se avaliava o seu treino, prática e atitudes em pode tornar a relação consigo mesmo, com os amigos
relação aos gays e lésbicas, tendo concluído que a e familiares mais honesta, facto que aliado à redução
maioria dos terapeutas tinha recebido pouca formação de sintomas pode levar a um aumento de confiança
ao longo do seu treino em terapia familiar sistémica. para revelar a sua homossexualidade; 5) o Desen-
As suas atitudes em relação a esta população variavam volvimento de uma Relação Amorosa vai acentuar
de acordo com o seu grau de contacto social, profis- a necessidade de resolver as questões de separação-
sional ou familiar com estas pessoas. -individuação com a família de origem e pode colocar
Aliada a esta carência de estudos e de programas a questão prática de coabitar com um parceiro na

34
mesma região onde vivem os pais; e 6) a existência Saltzburg, 2004; Savin-Williams, 2001b; Shernoff,
de Motivos Destrutivos, em que a revelação da 1984; Tasker & McCann, 1999).
homossexualidade pode ser utilizada como um acto Muitas vezes, existe um afastamento emocional
de rebeldia, de tentar culpar ou induzir culpa, de entre os pais e filhos motivado pela dissonância
confrontação, defensividade ou alienação. que os pais sentem entre as mensagens homofó-
Independentemente dos motivos que conduzem bicas que interiorizaram da sociedade e o seu amor
à revelação da identidade sexual, é relativamente pelos filhos. Esta dissonância entre os sistemas
seguro afirmar que o coming out à família leva muitas cognitivo e emocional faz com que os pais se sintam
vezes a uma crise familiar (ver Kusnetzoff, 1991). retirados das actividades rotineiras, da exposição
As famílias tipicamente reagem mal no início, social e da participação na vida dos seus filhos.
existindo muitas vezes reacções de rejeição emocional, Tais factos, geram a sensação nos pais de que estão
violência verbal ou física e mesmo expulsão de casa. desligados dos seus filhos (Saltzburg, 2004).
De facto, alguns estudos (e.g., D’Augelli, 1992; As reacções negativas dos pais baseiam-se também
Remafeldi, 1983; Telljohann & Price, 1993, cit. por num conjunto de medos em relação aos seus filhos,
Cianciotto & Cahill, 2003) mostram que as taxas nomeadamente que estes os excluam da sua vida
de rejeição dos pais perante a revelação da orientação quando entrarem no mundo gay, que sejam rejeitados
sexual dos filhos variam entre os 20 e os 50%. pelos pares ou vítimas de violência, que sejam
Estas reacções assumem uma importância excluídos da congregação religiosa, que se envolvam
particular se estivermos a falar de um coming out em actividades promíscuas, que contraiam SIDA,
na adolescência, em que o jovem pode ficar numa ou que não encontrem um parceiro com quem possam
situação de grande desprotecção e vulnerabilidade. estabelecer uma relação duradoura (Cianciotto &
Apesar de todos estes factores, sabemos também Cahill, 2003; Ford & Priest, 2004; Herdt & Koff,
que algumas famílias, finda a crise inicial, acabam
2002; Saltzburg, 2004).
por tornar-se mais aceitantes com o passar do tempo
Estas reacções familiares podem ser exacerbadas
(Cianciotto & Cahill, 2003; Frankowski, 2002;
pelo contexto cultural em que ocorrem, tal como
Pachankis & Goldfried, 2004; Saltzburg, 2004;
já referimos na secção sobre O Processo de Coming
Savin-Williams, 2001b; Zera, 1992).
Out. De facto, os jovens pertencentes a minorias
Alguns autores (e.g., Dahlheimer & Feigal, 1994,
étnicas (e.g., latinos ou afro-americanos, no caso
cit. por Pachankis & Goldfried, 2004) sugerem que
dos Estados Unidos da América), para além das
a reacção das famílias à revelação da homosse-
xualidade dos filhos pode ser equiparada ao célebre reacções familiares habituais ao coming out experi-
modelo de estádios do luto de Kubler-Ross (1969 enciam um conflito adicional, na medida em que
cit. por Pachankis & Goldfried, 2004): negação; a sua comunidade considera a homossexualidade
raiva; culpa; aceitação; e esperança. proveniente e exclusiva da cultura branca domi-
Nas fases iniciais, é também muito comum que nante (Newman & Muzzonigro, 1993).
as famílias tentem encontrar uma razão para o Para além disso, as crenças religiosas tradicionais
filho(a) ser gay ou lésbica, formulando explicações destas comunidades são extremamente orientadas
lineares que assentam na culpabilização de uma para o casamento, descendência e integração comu-
pessoa ou de acontecimentos da infância. Associado nitária, sendo a homossexualidade vista como algo
a estas ideias, surge nos pais um sentimento de que é anti-família e anti-comunidade. Neste sentido,
vergonha que passa pelo receio de que a sociedade ser gay ou lésbica é percepcionado como uma
considere que a homossexualidade do seu filho ameaça à própria propagação da cultura (Newman
seja fruto de uma parentalidade inadequada. São & Muzzonigro, 1993).
também frequentes sentimentos de perda em relação Herdt e Koff (2002) sistematizaram todos estes
à idealização de um futuro heterossexual para o dados e criaram uma tipologia, baseada em vários
filho que passaria, nomeadamente, pelo casamento parâmetros, que resume as diferentes reacções ao
e pela parentalidade. A confluência destes factores coming out dos filhos: Famílias Desintegradas;
fazem com que a família crie a ideia de que está Famílias Ambivalentes; e Famílias Integradas. É
isolada, sem que ninguém possa compreender verda- importante notar que esta tipologia não se refere
deiramente a realidade por ela vivida (LaSala, 2000; apenas às reacções familiares, mas a todo o processo
Pachankis & Goldfried, 2004; Pérez-Sancho, 2005; que as famílias atravessam. Assim, as famílias podem

35
passar por todas as fases, passar da ambivalência Beeler e DiProva (1999) já tinham efectuado um
à integração, permanecer na desintegração, etc. estudo em que analisavam as respostas familiares
Segundo Herdt e Koff (2002), nas Famílias ao coming out ao longo do tempo e à medida que
Desintegradas: 1) existe uma culpa considerável, a família aceitava a nova identidade sexual de um
com uma sensação de fracasso e embaraço; 2) a dos seus membros. Estes autores encontraram doze
revelação da homossexualidade dos filhos a outras temas que surgiam recorrentemente nas narrativas
pessoas é muito limitada; 3) há um conflito igual das famílias: estabelecimento de regras para discutir
ou maior do que antes da revelação; 4) não há nenhum a homossexualidade; procura de informação sobre
apreço pela orientação sexual do filho(a); 5) existe homossexualidade junto da comunidade gay e de
pouco ou nenhum contacto com a comunidade gay; fontes aceitantes do mundo gay; questionar a sexua-
6) há pouca ou nenhuma inclusão dos parceiros lidade de outros membros da família ou da comu-
dos filhos e dos “compadres” na sua vida; e 7) rara- nidade; exposição a gays e lésbicas vivendo “vidas
mente existe a capacidade para projectar a vida futura de gays e lésbicas”; tornar a homossexualidade
dos filhos. menos exótica; inclusão de amigos gays e lésbicas
Por outro lado, nas Famílias Ambivalentes: 1) no interior a família; lidar com as instituições e
há uma reacção interna mais baseada na vergonha convenções do mundo heterossexual; trabalhar os
do que é apresentado em público; 2) existe ambi- sentimentos de tristeza, perda e culpa; a família
valência em relação à necessidade de contar a outras efectuar o seu próprio coming out; desenvolver
pessoas e uma limitação da revelação a uma parte visões alternativas do futuro; gerir o estigma; e
da família e amigos; 3) observa-se uma mudança desenvolver uma coerência narrativa sobre todo
positiva nas relações familiares com maior comu- o processo de coming out.
nicação, mas falta de resolução; 4) há um reconhe- Nestas formulações, é possível constatar uma
cimento, maior compreensão e sensibilidade pela conjugação interessante entre a identificação dos
orientação sexual do filho; 5) existe contacto com factores de crise e dos factores de ajustamento,
progenitores de outros homossexuais, mas raramente facto que nos dá uma visão simultaneamente mais
com homossexuais; 6) o contacto com os parceiros completa e positiva de todo este processo.
e “compadres” é variável, mas muitas vezes é gerador Alguns autores (e.g., Saltzburg, 2004) consideram
de conflito; e 7) existe uma maior capacidade de que o ajustamento e reorganização da estrutura
projectar o futuro dos filhos, mas com sensações familiar passa por três níveis: 1) adaptação à identidade
de incerteza e receio (Herdt & Koff, 2002). sexual dos filhos; 2) adaptação à identidade como
Finalmente, nas Famílias Integradas: 1) existe pai de um filho gay ou de uma filha lésbica; e 3)
pouca ou nenhuma vergonha e recriminação, em adaptação ao contexto social da adolescência ou
que o apreço público é congruente com as reacções adultícia, de modo a incluir outros jovens gays e
internas; 2) o segredo é considerado um fardo e, lésbicas no ciclo de relações dos filhos.
em consequência, há uma revelação à maior parte Noutra linha de estudos, outros autores (e.g.,
dos amigos e família; 3) há um sentimento de melhoria Ford & Priest, 2004; Herdt & Koff, 2002; Tasker
nas relações familiares, em que os conflitos geram & McCann, 1999; Zera, 1992) encontraram factores
proximidade e não afastamento; 4) existe uma capa- facilitadores do ajustamento familiar. Nomeada-
cidade para encontrar uma contribuição positiva mente, verificou-se que a existência de uma relação
única dos filhos homossexuais; 5) há um envol- positiva entre pais e filhos prévia à revelação da
vimento com a comunidade gay, quer em associações identidade sexual é facilitadora do processo de
quer em contactos com gays e lésbicas; 6) existe ajustamento familiar. Verificou-se igualmente que
uma inclusão evidente do companheiro(a) do filho(a) o contacto com um modelo positivo da comunidade
na família; e 7) há uma capacidade de projectar gay, a participação em reuniões de associações onde
acontecimentos positivos para o futuro dos filhos existem outros pais de gays e lésbicas (e.g., ver
(Herdt & Koff, 2002). PFLAG – Parents, Families and Friends of Lesbians
É possível encontrar nesta tipologia uma visão and Gays, 2003) e a participação em programas
não exclusivamente concentrada nos aspectos mais educativos sobre questões da orientação ou identidade
imediatos das reacções familiares ao coming out sexual são fundamentais para a transformação das
dos filhos, facto que não é muito típico na literatura atitudes dos pais em relação aos gays e lésbicas.
sobre este tema. Na mesma linha de pensamento, Ao relembrarmos os dados descritos ao longo

36
desta secção, poderíamos dizer que, à semelhança 3) Se sim, como lhes foi contado? Individualmente
do processo de coming out de um gay ou de uma ou em conjunto? 4) Se o filho não contou aos pais,
lésbica, o percurso das suas famílias ao serem con- como souberam? 5) Souberam contra os seus desejos
frontadas com a nova identidade sexual dos seus conscientes, mas o filho foi deixando várias pistas
filhos é, muitas vezes, longo e árduo. Conforme para a descoberta? 6) Ambos os pais sabem? 7)
refere Stromen (1993, cit. por Pachankis & Goldfried, O filho suspeita que já foi dito ao outro pai? 8) O
2004), quando os filhos saem do armário (coming filho tem medo que o outro pai saiba? 9) Os irmãos
out), os pais entram nele (coming in). sabem? 10) Foi-lhes dito pela pessoa em causa?
Vejamos agora alguns modelos de intervenção 11) Inicialmente, como reagiram os pais? 12) Reagiram
familiar que poderão ajudar os pais e os seus filhos com vergonha? 13) Os seus sentimentos mudaram
a lidar com a complexidade deste processo. ou flutuaram ao longo do tempo? 14) Quão tolerantes,
compreensivos e aceitantes estão neste momento?
15) Qual o estado da relação com os pais após a
MODELOS DE INTERVENÇÃO FAMILIAR revelação? 16) Quão preocupado está o filho e o
que tenciona fazer?
Apesar de nos últimos anos existir um maior Se estas preocupações se mantiverem ao longo
interesse sobre os temas gays e lésbicos no campo do tempo, o terapeuta propõe uma entrevista com
da terapia familiar e de se ter investido em directivas os pais e assegura ao paciente que a confidencia-
para o trabalho terapêutico com esta população lidade será mantida, não sendo abordadas questões
(e.g., Malley & Tasker, 1999; Malley, 2002), não pessoais. Segundo o autor, os pais normalmente estão
podemos afirmar que existam modelos especí- menos defensivos e mais capazes de responder de
ficos para trabalhar a questão do coming out no forma franca se o filho não estiver presente nas
contexto familiar. sessões iniciais, considerando, no entanto, que de
De facto, na pesquisa que efectuámos e, assu- devem realizar uma ou duas sessões com a família
mindo obviamente as limitações da mesma, encon- para trabalhar questões básicas de comunicação
trámos um modelo que aborda estas questões, mas (Myers, 1982).
que não é directamente oriundo da terapia familiar A sessão com os pais engloba uma primeira
(Myers, 1982) e três modelos que podemos inserir fase destinada à avaliação dos mesmos e à obtenção
mais directamente neste campo (LaSala, 2000; de informação. Nesta fase, observar-se-á e avaliar-
Shernoff, 1984; Yarhouse, 1998). Contudo, estes -se-á cada um dos pais e a forma como se relacionam
modelos têm características mais psicopedagógicas, entre si. Seguidamente, recolhem-se dados sobre
exceptuando talvez o modelo de LaSala (2000) eventuais ansiedades dos pais em relação à paren-
que é mais coeso teoricamente, do que propriamente talidade, dados sobre o desenvolvimento do filho,
um carácter sistémico. Tendo em conta estas limi- sobre o modo como este fazia amizades com elementos
tações, exporemos agora alguns aspectos destes do sexo oposto ou do mesmo sexo e, finalmente,
modelos. Tendo como objectivo efectuar um retrato questiona-se sobre se já existiam preocupações
da evolução histórica do trabalho terapêutico com anteriores em relação à identidade sexual do filho
gays e lésbicas no contexto do coming out familiar, (Myers, 1982).
optámos por analisar os modelos pela sua ordem Numa segunda fase, inicia-se a sessão de aconse-
cronológica. lhamento propriamente dita. Esta sessão tem oito
Myers (1982) propõe um modelo que articula grandes directrizes: Identificação do problema;
o aconselhamento individual com o aconselhamento Catarse; Explicação; Segurança; Confrontação;
parental. Este autor trabalha individualmente as Sugestão; Orientação e Recomendação; e Entre-
questões identitárias com gays e, a dada altura e vista de Follow-up (Myers, 1982).
se for esse o desejo das pessoas, faz uma inter- Quando se procede à identificação do problema,
venção direccionada para o coming out aos pais. procura-se entender a visão que os pais têm e as
Segundo Myers (1982), antes de colocar a questão expectativas em relação à terapia (e.g., os pais podem
de se trabalhar com os pais, o terapeuta deve ter esperar que a terapia mude a orientação sexual do
em conta os seguintes aspectos: 1) Quais as infor- filho, mas este não o deseja fazer). Nesta fase inicial,
mações que os pais têm sobre a identidade sexual surgem também momentos de catarse, na medida
do filho? 2) Foram-lhes transmitidas pelo filho? em que os pais necessitam de ventilar os seus senti-

37
mentos, fazer o luto da heterossexualidade do seu um modelo de formulação sistémica, mas sim de
filho e dissipar os sentimentos de culpa e falha. aconselhamento parental. Apesar disso, pensamos
Assim, é extremamente importante normalizar esses que tem as suas virtudes principalmente ao nível
sentimentos e acentuar a ideia de que necessitam pedagógico e didáctico em relação à forma como
de tempo para se ajustarem à nova realidade (Myers, transmite a informação à família, mas também
1982). como trabalha de forma integrada e diferenciada
Os pais procuram também explicações para a os diferentes subsistemas. Para além disso, parece
identidade sexual dos seus filhos. Aqui, devemos ser um modelo pragmático e relativamente simples
fornecer informação genérica sobre as várias teorias em termos de aplicação. Uma das grandes limi-
biológicas e psicológicas sobre a homossexualidade tações do modelo passa por ter sido construído apenas
e difundir a ideia de que não existem conclusões para o trabalho com pais de gays, deixando de lado
sólidas sobre a etiologia da homossexualidade. a população dos pais de lésbicas.
Dentro desta linha, devemos evitar que os pais À semelhança do modelo de Myers (1982), o
procurem encontrar uma causa única para a homosse- modelo de Shernoff (1984) centra a sua intervenção
xualidade, transmitir a ideia de que esta não é uma nas reacções parentais ao coming out e procura
fase (embora devamos ter prudência na transmissão desenvolver um papel educativo e didáctico em
desta informação quando se tratam de adolescentes) relação às questões da identidade sexual. Neste
e desconstruir mitos sobre a comunidade gay (e.g., sentido, trabalha com os pais os seus sentimentos
isolamento, promiscuidade, maior propensão para de choque, raiva, falha e responsabilidade face à
contrair doenças sexualmente transmissíveis) (Myers, homossexualidade dos filhos, aconselha literatura
1982). sobre gays e lésbicas e referencia os pais para
Segundo Myers (1982) devemos também fornecer grupos de apoio. Contudo, este trabalho é feito
segurança aos pais, no sentido de validar a sua com toda a família, de modo a que a intervenção
parentalidade. Isto não implica que não exista con- possa minimizar a crise e promover a aproximação
frontação quando os pais têm atitudes muito adversas entre pais e filhos.
em relação à homossexualidade, se são muito contro- Um aspecto interessante, é o facto do autor utilizar
ladores, sobreprotectores, demasiado envolvidos também técnicas como a elaboração do genograma,
na vida dos filhos ou quando têm atitudes de grande sociograma e escultura familiar. A utilização das
passividade. O terapeuta também poderá dar sugestões primeiras passa pela recolha do máximo de infor-
quando se apercebe que a revelação da homosse- mação sobre a história da família, bem como sobre
xualidade dos filhos exacerbou dificuldades prévias a sua relação com outros sistemas, tais como o
da família ou do casal e, neste sentido, referenciar sistema laboral, religioso, político e social. Estas
as pessoas para terapia familiar ou de casal. técnicas assumem um papel algo inovador, na
O terapeuta tem também um papel de orientação medida em que, para além de integrarem a família
e recomendação, na medida em que reafirma as de origem, acedem às famílias de escolha (amigos,
responsabilidades parentais (amor, cuidado, compre- relações amorosas, membros da comunidade gay)
ensão, apoio e respeito), fornece material didáctico dos adolescentes ou dos jovens adultos que decidem
e poderá referir grupos de apoio para pais de gays. revelar a sua identidade sexual aos pais. Este facto
Myers (1982) propõe ainda a realização de uma é muito importante, na medida em que afirma a
entrevista de follow-up para reforçar as ideias trans- relevância dos pares da comunidade gay na conso-
mitidas e atenuar algumas tensões que possam lidação das suas novas identidades (Shernoff, 1984).
ter surgido. Quanto ao uso da escultura familiar, o autor não
O autor refere que é de particular importância desenvolve os procedimentos e os objectivos que
observar, ao longo do processo terapêutico, o estilo envolvem a sua aplicação.
de comunicação dos pais e dos filhos, a capacidade Um olhar mais atento sobre este modelo revela
de resolução de conflitos da família, o grau de con- a existência de algumas incongruências. Apesar
forto e desconforto dos diferentes elementos uns de ter, indiscutivelmente, alguma utilidade prática,
com os outros, a coesão familiar e o sentido geral na medida em que fornece orientações aos pais e
de família (Myers, 1982). aos jovens gays e lésbicas, não especifica o modo
Ao analisarmos este modelo, apercebemo-nos como utiliza as técnicas sistémicas que advoga.
que, e como já foi referido anteriormente, não é Este facto surge quando não desenvolve os contextos

38
de utilização do genograma e do sociograma, mas Tal facto, não retira mérito ao modelo, mas é conve-
sobretudo quando não menciona o papel da técnica niente notar que carece de uma formulação verda-
da escultura familiar na sua intervenção. deiramente sistémica. Apesar de tudo, e tendo em
O modelo de Yarhouse (1998), mantém o carácter conta que a American Association for Marriage
psicopedagógico dos modelos anteriores, mas apre- and Family Therapy foi das últimas associações
senta alguns aspectos envoltos em polémica. O ligadas à saúde mental a incluir uma cláusula de
autor propõe uma intervenção em contextos em não discriminação em relação à orientação sexual
que as famílias procuram ajuda por questões rela- no seu código de ética, em 1991 (ver Clark & Serovitch,
cionadas com a homossexualidade de um filho 1997), a existência de um modelo que se baseia
adolescente, fundamentando-se nos princípios éticos nos princípios éticos desta associação é um claro
da American Association of Marriage and Family avanço na abertura dos terapeutas familiares ao
Therapy: Competência Profissional e Integridade; trabalho com a população gay e lésbica.
e Responsabilidade para com os Clientes. Contudo, este modelo integra um aspecto muito
Em relação ao princípio Competência Profissional polémico, uma vez que o autor não condena expres-
e Integridade, Yarhouse (1998) refere que os tera- samente o uso das chamadas terapias reparativas
peutas familiares têm o dever de se manterem ou de mudança da orientação sexual, consideradas
actualizados sobre a investigação efectuada em ineficazes e acusadas de falta de ética pela genera-
torno da homossexualidade e clarificar junto da lidade da comunidade científica (ver Christianson,
família o que se sabe e não se sabe sobre este tema. 2005). Acresce ainda o facto do artigo de Yarhouse
Neste sentido, devem fornecer informação sobre (1998) se encontrar reproduzido, com autorização
a sua prevalência (3 a 6% na população adolescente, do autor, no sítio da National Association of Research
segundo estudos recentes – ver e.g., Cianciotto and Therapy of Homosexuality (N.A.R.T.H.). Esta
& Cahill, 2003), etiologia (transmitir a ideia de que associação defende a reabilitação do modelo de
não existem teorias consensuais, mas que sabemos doença mental da homossexualidade, tendo sido
claramente que a homossexualidade não é uma fundada pelos conhecidos teóricos anti-gay Joseph
opção) e sobre a possibilidade de mudança (trans- Nicolasi e Charles Socarides (Hadelman, 2003).
mitir a ideia de que as chamadas terapias repa- Tendo em conta estas questões, a posição de
rativas são controversas). Yarhouse (1998) é completamente paradoxal, na
Relativamente ao princípio Responsabilidade medida em que ao defender o uso das terapias repa-
para com os Clientes, o autor defende que devemos rativas, está a violar os princípios éticos de não
criar um contexto de compreensão, onde se podem discriminação em função da orientação sexual em
ouvir as diferentes formulações e preocupações que fundamenta o seu modelo – os princípios éticos
da família. Deste modo, considera que, das preo- da American Association of Marriage and Family
cupações levantadas pela família, devemos discutir Therapy – como também viola o código ético da Ame-
inevitavelmente as visões patologizantes da homos- rican Psychological Asssociation (ver A. P. A., 2003).
sexualidade, as objecções culturais e religiosas à O último modelo que iremos descrever (LaSala,
homossexualidade e, tentando avaliar a saúde mental 2000), apesar de ter algumas semelhanças com
do adolescente ao longo do processo de coming os modelos anteriores, é talvez o único que apre-
out, procurar perceber se este está deprimido, senta uma formulação verdadeiramente sistémica.
com ideação suicida ou se abusa de substâncias. De facto, o autor propõe um modelo de intervenção
Yarhouse (1998) refere também que as famílias familiar que faz a ponte entre a crise familiar pro-
apresentam igualmente preocupações relacionadas vocada pelo coming out dos filhos e o conceito
com a ridicularização pelos pares, sobre o futuro de diferenciação de Murray Bowen (1978, cit. por
do filho (nomeadamente, a possibilidade de ter um LaSala, 2000).
parceiro e estabelecer uma relação duradoura) e Segundo LaSala (2000), a falsa diferenciação
sobre as reacções da comunidade e das culturas ocorrida pelo afastamento dos filhos em relação aos
religiosas onde estão inseridas. pais motivada pelo segredo da homossexualidade,
Como podemos observar, este modelo apresenta levaria a uma dificuldade dos filhos em adaptar-se
aspectos positivos, na medida em que apresenta e a estabelecer relações de intimidade com os seus
uma sistematização evidente, embora mantendo parceiros. Neste sentido, o coming out, ao promover
um carácter quase exclusivamente psicopedagógico. uma maior honestidade e franqueza, aumentaria

39
não só a intimidade com a família de origem, mas pela natureza dos seus pressupostos, são mais
conduziria também a uma verdadeira autonomia deterministas do que as teorizações da terapia
e intimidade com os parceiros. familiar sistémica contemporânea. Em terceiro lugar,
À semelhança dos outros modelos, LaSala (2000) e como refere Green (2000), minimiza a influência
foca-se também nas questões de educação parental das famílias de escolha na adaptação e suporte
em relação à homossexualidade e nas reacções dos gays e lésbicas.
de luto dos pais face ao coming out dos filhos. Apesar das críticas efectuadas aos vários modelos
Assim, propõe um trabalho com a família que passa apresentados, e exceptuando as críticas ao uso da
pela desconstrução dos mitos em relação à comu- terapia reparativa no modelo de Yarhouse (1998), é
nidade gay, a despatologização da condição de justo afirmar que estes acabam por sistematizar a
homossexual, o incentivo à procura de congregações informação transmitida ao longo deste trabalho.
religiosas desafiadoras das posições ortodoxas Um olhar atento mostra que o manejo destes modelos
que condenam a homossexualidade e o fornecimento de intervenção implica um conhecimento da evo-
de material didáctico. lução histórica e cultural da homossexualidade,
Uma ideia inovadora deste autor, relacionada das teorias biológicas e psicológicas formuladas
com as reacções parentais ao coming out e com para a sua explicação, dos modelos de desenvol-
as necessidades de ajustamento daí decorrentes, vimento da identidade sexual ou do coming out,
prende-se com a prescrição (quer se esteja a trabalhar e dos estudos realizados sobre gays e lésbicas e
com a totalidade da família, apenas com os pais as suas famílias.
ou apenas com o indivíduo) de uma distância É um facto incontornável que o trabalho com
planeada e de contactos breves entre pais e filhos gays e lésbicas e com as suas famílias transcende
após a revelação da homossexualidade. A ideia as fronteiras dos modelos formais de psicoterapia
fundamental assenta no pressuposto de que o processo individual e da terapia familiar. Para além de um
de adaptação implica que as pessoas necessitem conhecimento amplo sobre os temas anteriormente
de um espaço individual para trabalhar a nova referidos, e que guiaram a execução deste trabalho,
informação e, deste modo, é benéfico manter con- trabalhar com esta população implica um conhe-
tactos breves e não reactivos entre os membros cimento dos recursos comunitários existentes e
da família. Neste sentido, o autor sugere que, caso um conhecimento mais real e concreto da cultura
estejamos a trabalhar com toda a família, é neces- gay e lésbica. Mas existe algo ainda mais funda-
sária uma intervenção que trabalhe inicialmente mental, e que é muitas vezes esquecido devido à
os subsistemas parental e filial de forma separada sua aparente simplicidade: os terapeutas necessitam
(LaSala, 2000). de reflectir sobre as suas crenças acerca da popu-
LaSala (2000) defende que o processo de adaptação lação gay e lésbica. Efectuada uma reflexão profunda,
será longo e que, nalgumas famílias, nunca se pro- facilmente percebemos o seguinte: “A terapia familiar
cessará totalmente. Uma adaptação verdadeira e com gays e lésbicas é apenas limitada pela ima-
consolidada passará pela aceitação da homosse- ginação e capacidade do terapeuta” (Shernoff,
xualidade do filho, pela divulgação dessa informação 1984, p. 6).
a outros membros da família e pela inclusão dos
parceiros dos filhos nos rituais familiares.
Ao reflectirmos sobre este modelo, verificamos CONCLUSÃO
que este mantém os méritos pedagógicos dos
outros modelos e, como já foi referido, apresenta Ao longo deste trabalho, tentámos reflectir sobre
uma formulação teórica e princípios de intervenção um tema ainda pouco estudado no contexto da
sistémicos. Contudo, verificamos também algumas psicologia e da psiquiatria portuguesas, cujas res-
limitações. Em primeiro lugar, a sua aplicação é pectivas comunidades científicas parecem frequen-
mais direccionada para famílias com filhos adultos temente ignorar os avanços efectuados no campo
e com relações consolidadas com os seus parceiros, dos estudos gays e lésbicos. Acresce a este facto, a
o que deixa de fora uma grande quantidade de tendência generalizada para separar o estudo da
gays e lésbicas que fazem um coming out aos população gay e lésbica do estudo da família.
pais. Em segundo lugar, limita a sua formulação Enquanto terapeutas familiares, tal tendência
teórica ao espectro dos modelos bowenianos que, constitui uma preocupação, uma vez que parece

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Youths. Journal of Research on Adolescence, 8 (1), gulharmos no campo da terapia familiar. Enquanto tera-
49-68. peutas familiares, preocupa-nos esta separação artificial

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entre o estudo da população gay e lésbica e o estudo da portuguese psychology and psychiatry is not very usual.
família, uma vez que a sua raiz parece assentar em este- This is particulary clear if we consider the theme of gays
reótipos provenientes da cultura popular e académica and lesbians and family in the field of family therapy.
de que os gays e lésbicas são pessoas desligadas das suas As family therapists we are deeply concerned with this
famílias de origem, pouco envolvidas na construção de artificial separation between the study of gays and lesbians
um projecto conjugal ou familiar, ou mesmo anti-família.
and the study of family, because it seems to have founda-
Assim, decidimos estudar o tema do coming out e
tions in the stereotypes of popular and scientific culture
das relações familiares, esperando que a reflexão sobre
este tema traga algum contributo, aos níveis teórico e that gays and lesbians are people disconnected from their
da prática clínica, para os terapeutas portugueses, em family of origin, little envolved in a marital or a family
geral, e para os terapeutas familiares, em particular. project, or even anti-family.
Palavras-chave: Gays e lésbicas, coming out, relações In this context, we decide to study the theme of the
familiares. coming out and family relationships. We hope that our
reflections bring some contribute, at the theoretical and
clinical levels, to the portuguese therapists and particu-
ABSTRACT lary to family therapists.
Key words: Gays and lesbians, coming out, family
Writing about gays and lesbians in the context of relationships.

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