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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

MAISA TEIXEIRA DA SILVA

MAYARA LUIZA MARTINS PEREIRA

ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA

OBRA “SANGUE LATINO” – SECOS & MOLHADOS, 1973

CURITIBA

2022
SUMÁRIO

1 FONTE HISTÓRICA

2 DESCRIÇÃO DO CONTEXTO HISTÓRICO DE PRODUÇÃO

REFERÊNCIAS
ANEXO
1 FONTE HISTÓRICA

Sangue Latino – Secos & Molhados

Jurei mentiras e sigo sozinho


Assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos
E o que me resta é só um gemido

Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos


Meu sangue latino
Minh'alma cativa

Rompi tratados, traí os ritos


Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo
E o que me importa é não estar vencido

Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos


Meu sangue latino
Minh'alma cativa

Data e local de origem: 1 de agosto de 1973, Brasil

Autoria: letra de João Ricardo e Paulinho Mendonça, interpretada por Secos & Molhados,
produzida por Moracy do Val.

Indicação de critério de validação da autenticidade da fonte: (18) NEY MATOGROSSO


SANGUE LATINO GRAVAÇÃO ORIGINAL DE VHS - YouTube
2 DESCRIÇÃO DO CONTEXTO HISTÓRICO DE PRODUÇÃO

A banda Secos & Molhados, idealizada em 1972 pelo português João Ricardo, teve sua
formação clássica composta também por Gérson Conrad e Ney Matogrosso. O primeiro álbum
de estúdio – autointitulado Secos & Molhados – é lançado em 1973 e conta com canções como
“O Vira”, “Rosa de Hiroshima” e a música escolhida para objeto de estudo “Sangue Latino”.
Atingindo a marca de 700 mil cópias vendidas no Brasil, revela-se a aceitação do público para
a revolução sonora e performática que a banda trouxe para o cenário brasileiro.
A crítica principal dos autores de “Sangue Latino” – canção de autoria de João Ricardo
e Paulinho Mendonça – diz respeito à condição latino-americana de subjugada a uma cultura
proveniente dos “ventos do norte”. Além da histórica exploração desses países
subdesenvolvidos por potências imperialistas, na década de 70 a influência destas sobre o
Terceiro Mundo é exacerbada. Tal fato leva os músicos a cantarem sobre os “caminhos tortos”
e a resiliência que competem aos povos latinos diante do cenário de imposição do modo de vida
capitalista e das consequentes ditaduras militares que se instauraram por todo continente
subdesenvolvido – regimes provenientes da filosofia capitalista estadunidense amedrontada por
qualquer desviante de conduta durante a Guerra Fria.
Durante a década da produção de "Sangue Latino", os Estados Unidos enfrentaram
sérios problemas socioeconômicos que tornaram suas políticas externas mais desordenadas
devido à reduzida posição internacional do país (KENNEDY, 1989, p. 390). E no fim dos anos
70, verificaram-se vários bloqueios das intervenções na América Latina, com regimes
autoritários tornando-se cada vez mais impopulares pela associação ao governo estadunidense
(KENNEDY, 1989, p. 391-392).
A disputa por influências entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria
contava com a arte do período modernista como uma arma ideológica, sendo plena de alienação,
era “usada como um maravilhoso exemplo do compromisso norte-americano com a liberdade
de expressão, com o individualismo exacerbado e com a liberdade de criação (HARVEY, 2008,
p. 43), demonstrando a hegemonia cultural buscada pelos estadunidenses.
Contudo, como colocado por David Harvey, antes mesmo do declínio das ditaduras, nos
anos 60 surgiram vários movimentos contraculturais. Tais contraculturas buscavam explorar
“os domínios da auto-realização individualizada por meio de uma política distintivamente 'neo-
esquerdista' da incorporação de gestos antiautoritários e de hábitos iconoclastas (na música, no
vestuário, na linguagem e no estilo de vida) e da crítica da vida cotidiana” (2008, p. 44).
Dentro desse contexto, é possível visualizar como a banda Secos & Molhados faz o uso
de metáforas e alegorias em suas letras como recursos de fuga da censura; e as performances
libertadoras, sensuais e extravagantes, regadas a pinturas e purpurinas, como sua arma de
resistência à supressão dos direitos individuais que vigorava de forma tão aberta na década de
70, no Brasil. Esses recursos também sinalizavam um movimento de contramão às tendencias
de mass culture e da hegemonia cultural norte-americana e à derrubada de fronteiras que
afastavam o rock, fruto da contracultura, da mpb tradicional.
Como aponta Eric Hobsbawn (1995, p. 321-323), o rock é o símbolo de consumo da
revolução cultural da geração jovem que surge pós era de ouro (1960-1970) e indica uma
profunda mudança na relação entre gerações, que tem início com a reforma das relações entre
os sexos. Essa camada social que ganha amplitude e reconhecimento social e de mercado adota,
então, o estilo musical como símbolo de resistência e revolta, assim como é feito pelo grupo
brasileiro.
REFERÊNCIAS

HARVEY, D. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.


São Paulo: Edições Loyola, 2008.

HOBSBAWN, E. A Era dos Extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo:


Companhia das Letras, 1995.

KENNEDY, P. Ascensão e queda das Grandes Potências: transformação econômica e


conflito militar (1500-2000). Rio de Janeiro: Campus, 1989.

OUVIDO nu. A história musical dos Secos & Molhados pelo seu criador e compositor João
Ricardo. Direção: Daniel Iasbeck (2012). Digital. Disponível em:
< http://www.youtube.com/user/tvsecosemolhados >. Acesso em: 22 ago. 2022.

SANGUE Latino. Intérprete: Secos & Molhados. Compositores: João Ricardo e Paulinho
Mendonça. In: SECOS & Molhados. [S. l.: s. n.], 1973.
ANEXO

Secos e Molhados. Site oficial da banda. Disponível em: < Secos e Molhados >. Acesso em:
22 ago. 2022.

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