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UNIVERSIDADE CEUMA - RENASCENÇA

ARQUITETURA E URBANISMO – 8º PERÍODO

TÉCNICAS DE PRESERVAÇÃO DE BENS CULTURAIS

LEITURA CRONOLÓGICA DA CARTOGRAFIA DO NÚCLEO


FUNDADOR URBANO DE SÃO LUÍS

SÃO LUÍS – MA

2022
FERNANDA SILVA DE OLIVEIRA GOMES – RA 006515

ISRAEL BRUNO GUIMARÃES DA SILVA – RA 008052

JOAQUINA JULIA MENDES DE BRITO – RA 008871

LÁYLLA HORRANA ALVES DE SAMPAIO GONÇALVES – RA 010226

LEITURA CRONOLÓGICA DA CARTOGRAFIA DO NÚCLEO


FUNDADOR URBANO DE SÃO LUÍS

Trabalho apresentado para obtenção de nota


parcial do 1º bimestre, do curso de Arquitetura
e Urbanismo, da disciplina de Técnicas de
Preservação de Bens Culturais

Professor: Marina Melo

SÃO LUÍS – MA

2022
1. INTRODUÇÃO

A cartografia é a ciência que busca representar de forma gráfica uma superfície,


sendo considerada um importante instrumento de estudo e compreensão da
ocupação territorial. A cidade de São Luís do Maranhão fundada por franceses e
com colonização portuguesa, destaca-se por seu Patrimônio Histórico e Cultural.
O estudo da formação urbana histórica antiga, com base na cartografia, é uma
ferramenta de planejamento e compreensão das cidades.

O estudo da cartografia de São Luís, com base em mapas antigos, tem grande
relevância para o conhecimento das origens da cidade, sendo um dos motivos para
que a malha urbana fosse reconhecida como patrimônio mundial, pela Unesco em
1997. Nesse contexto, por meio do estudo desses mapas, o presente trabalho tem
como objetivo o exercício da estratigrafia urbana do núcleo primitivo da cidade de
São Luís.
2. EXERCÍCIO DE ESTRATIGRAFIA URBANA DE SÃO LUÍS

O Centro Histórico de São Luís é reconhecido como Patrimônio Cultural Mundial,


pela Unesco, em 1997, por ser um exemplo de conjunto arquitetônico e paisagem
urbana que elucida um importante momento histórico, além de ser exemplo por seu
assentamento humano que muito representa os aspectos culturais da época.
Nesse contexto, com base nos mapas antigos, fez-se uma leitura cronológica da
evolução do núcleo primitivo de São Luís onde os números indicam pontos
importantes no mapa.
Mapa 01 - Planta do traçado de São Luís em 1698, século XVII.

Fonte: TERESA, Giuseppe de Santa. Istoria delle Guerre Del regno Del Brasile aceadute tra la corona di
Portogallo e la republica di Olanda, 1698. Biblioteca Nacional, RJ. Grifo em azul, autoral.

- Baluartes que são a assinatura da 3 - Forte de são Filipe


cidade 4 - Casa dos Governadores
1 - Igreja de Nossa Senhora da Vitória 5 - Igreja de Santo Antônio
2 - Igreja e largo do Carmo
Os franceses chegaram à ilha de São Luís, em 1612, e fixaram-se na parte mais
alta de terra, entre os rios Anil e Bacanga, comandados por La Ravardière construíram
a fortaleza de São Luís, com nome em homenagem ao Rei Luís XIII. A fortaleza de
São Luís é um marco da ocupação francesa, onde ficaram instalados edifícios
administrativos e religiosos, a fim de base para as primeiras populações.
No mapa, é possível observar o limite da cidadela francesa (grande fortaleza de
São Luís), na qual situavam-se a capela de São Luís, a igreja da misericórdia, casa
dos governadores, igreja nossa senhora da vitória e o convento de São Francisco
(atual Santo Antônio). Além, em sua porção central evidencia-se a edificação da Igreja
e Largo do Carmo.
O traçado urbano do núcleo fundador de São Luís, foi determinado por Jerônimo
de Albuquerque, primeiro governador do Maranhão, e executado pelo engenheiro-mor
do Estado do Brasil Francisco Frias de Mesquita, na tentativa de garantir o domínio
português na cidade. O traçado tem base um plano de ruas que se assemelha a uma
malha xadrez com o núcleo se desenvolvendo no entorno do Forte de São Luís. A
malha proposta por Frias era formada por oito ruas, sendo quatro no sentido norte-
sul: (1) Rua Formosa, (2) da Palma, (3) do Giz e (4) da Estrela e quatro no sentido
leste-oeste: (5) Rua João Vital, (6) 14 de julho, (7) Direita e (8) da Saúde, compondo
um damero perfeito, com quadras na dimensão 80 x 80 metros. Além dessas, outras
ruas foram abertas, como a Rua dos Afogados, paralela à (9) Rua Grande e (10) do
Sol, e transversalmente, (11) Rua da Cruz e (12) Godofredo Viana.
Mapa 02 - Mapa de São Luís em 1665, século XVII.

Fonte: Domínio público, Arquivo Nacional da Holanda, registros do cartógrafo holandês Johanes
Vingboons.

- Baluartes 3 - Forte de são Filipe


1 - Igreja de Nossa Senhora da Vitória 4 - Casa dos Governadores
2 - Igreja e Largo do Carmo 5 - Igreja de Santo Antônio

A cidade cresceu lentamente, dentro dessa malha xadrez, no século XVII,


respeitando o traçado original de Frias de Mesquita. O atual bairro da Praia Grande,
considerado o principal na época expandiu. Pode-se observar um crescimento da
cidade direcionando-se para o leste e mais arruamentos saindo do limite do forte de
São Luís.
Mapa 03 - Mapa de São Luís em 1789, século XVIII da torre do tombo de Lisboa.

Fonte: Reis Filho, 2000.

- Baluartes 7 - Área do Colégio dos Jesuítas


1 - Igreja de Nossa Senhora da Vitória 8 - Igreja da Misericórdia
9 - Igreja do Carmo Velha (atual Nossa
2 - Igreja e Largo do Carmo
Senhora da Conceição dos Pretos)
3 - Forte de São Filipe
10 - Igreja das Mercês
4 - Casa dos Governadores (não
11 - Igreja do Desterro
identificada)
12 - Igreja São Pantaleão
5 - Igreja de Santo Antônio
13 - Igreja de São João
6 - Igreja de Nossa Senhora da Luz
“Os lotes simétricos e praticamente de tamanhos constantes apresentam-se
com formatos uniformes e no alinhamento das vias tanto dentro quanto fora
do Forte, legando à cidade uma regularidade, uma organização geométrica.
A partir de então, o damero de Frias marca a forma de São Luís, influenciando
o seu crescimento.” (ZENKNER, PONTUAL, 2007, p.8)

Aos poucos, o limite entre a fortaleza e o plano ortogonal de Frias foi


desaparecendo e o traçado da cidade assumindo uma forma única, diante a
replicação da malha original. Ao leste o crescimento foi acelerado principalmente
devido a construção da Convento do Carmo e a sul já nota-se a existência das
atuais edificações chamadas de Convento das Mercês e Igreja do Desterro. Nesse
mapa, a presença das quadras regulares e de lotes já é bem evidenciado.

Mapa 05 - Mapa de São Luís em 1858, século XIX.

Fonte: VEIGA, J. Planta da cidade de S. Luís do Maranhão levantada em 1853. Biblioteca


Nacional, Iconografia, RJ, 1858.
- Baluartes 11 - Igreja do Desterro
1 - Nossa Senhora da Vitória (não 12 - Igreja São Pantaleão
existe mais) 13 - Igreja de São João
2 - Igreja e Largo do Carmo 14 - Quartel (posteriormente se torna a
3 - Forte de São Filipe (não identificado) biblioteca benedito leite)
4 - Casa dos Governadores (não 15 - Palácio dos Leões
identificada) 16 - Prefeitura
5 - Igreja de Santo Antônio 17 - Igreja dos Remédios
6 - Igreja de Nossa Senhora da Luz 18 - Largo dos Remédios ou dos
(agora já como Igreja da Vitória) Amores
7 - Área do Colégio dos Jesuítas 19 - Local do Mercado Central, neste
8 - Igreja da Misericórdia mapa ainda é praia
9 - Igreja do Carmo Velha (atual Nossa 20 - Mercado público que foi demolido e
Senhora da Conceição dos Pretos) surgiu o atual mercado central
10 - Igreja das Mercês

O mapeamento de 1858, percebe-se uma malha bem definida e organizada, sendo


possível identificar diversos edifícios importantes dentro da cidade de São Luís. Uma
definição da Praça do Palácio (atual Av. Dom Pedro II), com o palácio do governo,
casa da câmara e Igreja Catedral e paço Episcopal. O jardim botânico ao lado da
Igreja (atual Praça Benedito Leite). Nota-se a praça do comércio, mercado das tulhas,
na rua da Estrela, a Igreja de Santaninha, a Fonte do Mamoim, Obelisco, hospital da
misericórdia, hospital do lazaro, cemitério da misericórdia, igreja São Pantaleão,
Cemitério Inglês, Capela de nossa senhora das barraquinhas, Igreja de São Tiago,
Fábrica de Pilar Arroz por vapor e Capela da Madre Deus e Hospital militar.

Entre a rua do Sol e a rua da paz, percebe-se a presença de quartel militar e o


campo do Ourique, um largo que foi dividido em duas partes, uma na porção frontal e
outra ao fundo do quartel.

De acordo com César Augusto Marques, a cidade na década de 1860 tinha sua
disposição com: “10 praças, 72 ruas, 19 becos, contendo 2.903 casas inclusive 18
edifícios públicos gerais e 6 provinciais”. Nesse período houve um crescimento
significativo do número de edificações na cidade, devido as melhorias urbanas e
arquitetônicas, com adensamento nas regiões da Praia Grande, Desterro e região
posterior à Igreja do Carmo.
Mapa 06 - Mapa de São Luís em 1912, século XX.

Fonte: FERREIRA, Justo Jansen. Planta da cidade de São Luís capital do Maranhão, 1912. Biblioteca
Nacional, Cartografia, RJ.

- Baluartes
1 - Nossa Senhora da Vitória (não 13 - Igreja de São João
existe mais) 14 - Quartel (posteriormente se torna a
2 - Igreja e Largo do Carmo biblioteca benedito leite)
3 - Forte de São Filipe (não identificado) 15 - Palácio dos Leões
4 - Casa dos Governadores (não 16 - Prefeitura
identificada) 17 - Igreja dos Remédios
5 - Igreja de Santo Antônio 18 - Largo dos Remédios ou dos
6 - Igreja de Nossa Senhora da Luz Amores
(agora já como Igreja da Vitória) 19 - Local do Mercado Central (neste
7 - Área do Colégio dos Jesuítas mapa ainda é praia)
8 - Igreja da Misericórdia 20 - Mercado público que foi demolido e
9 - Igreja do Carmo Velha (atual Nossa surgiu o atual Mercado Central
Senhora da Conceição dos Pretos) 21 - Quartel (posteriormente se torna a
10 - Igreja das Mercês Biblioteca Benedito Leite)
11 - Igreja do Desterro 22 - Cais da Sagração
12 - Igreja São Pantaleão 23 - Área da Reffsa atualmente Maria
13 - Igreja de São João Aragão
14 - Quartel (posteriormente se torna a 24 - Gasômetro
biblioteca benedito leite)
O mapa de São Luís em 1912, pode-se observar alguns pontos principais como:
a praça da alegria, gasômetro, Quinta do matadouro, praça primeiro de maio, praça
da caridade, hospital português, Igreja de Santana, Telégrafo, alfandega, Liceu
Maranhense, quartel de corpo da polícia e bombeiros, Correios, Teatro, Penitenciária,
Hospital Português, Quartel militar e Praça Deodoro. Diante a prosperidade
econômica e crescimento urbano vivenciados nesse período, o mapa evidencia
diversas edificações refletindo o processo de industrialização e comercialização
acentuado, com o surgimento de várias fábricas, tais como: Fabril Maranhense,
Fábrica do Apicum, Fábrica São Luís, Fábrica do Cânhamo.

Além de melhorias urbanas com a implantação do cais da sagração. Como


alteração significativa, percebe-se que a área do campo de Ourique, localizada no
largo do quartel deu origem a praça Deodoro, em homenagem ao presidente Marechal
Deodoro da Fonseca.

Mapa 07 – Mapa de São Luís em 1950, século XX.

Fonte: Álbum de Miécio Jorge, 1950.

O mapa de São Luís em 1950, tem como principal transformação o recorte


diagonal feito na malha ortogonal, com a abertura da Avenida Magalhães,
ocasionando a demolição de cerca de 80 casarões coloniais e imperiais, a reforma
buscava proporcionar uma aparência de modernização no espaço urbano da cidade.
Além da construção da Avenida Getúlio Vargas, como prolongamento da Rua
Grande e crescimento da malha urbana com expansão para os bairros Diamante,
Vila Passos, Vila Operária e Monte Castelo.

Mapa 08 – Mapa de São Luís em 2022, século XXI.

Fonte: Google Earth, 2022.

Diante o estudo dos mapas posteriores até o atual e devido a permanência do


traçado original de Frias de Mesquita no núcleo fundador, o centro de São Luís foi
reconhecido como patrimônio mundial, pela Unesco em 1997. Algumas medidas
foram realizadas para priorizar a proteção desse perímetro, como o envolvimento de
todo o conjunto urbano do centro antigo da cidade pelo Anel Viário, sendo
considerado uma espécie de contenção para que a área se mantenha protegida.

3. DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE PROTEÇÃO

“Os primeiros tombamentos federais em São Luís, em 1940, limitaram-se a


bens de propriedade da Igreja, com o tombamento da Capela de São José
das Laranjeiras e do Portão Armoriado da Quinta das Laranjeiras. Em
dezembro de 1948, Alcântara é reconhecida como Monumento Nacional [...]
Em 1974, os três primeiros foram integrados em um grande perímetro de
proteção, uma área de sessenta hectares que incluía os bairros da Praia
Grande, Desterro e Ribeirão (com 978 edificações), sob a denominação de
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Cidade de São Luís. Em outubro
desse mesmo ano, a sede do município de Alcântara foi tombada como
Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Alcântara.” (SÃO LUÍS –
ILHA DO MARANHÃO E ALCÂNTARA, pg. 46 e 47).

A cidade colonial possui 2 perímetros de proteção: federal, datado de 1974,


com área de 66 hectares e um total de 978 edificações, e perímetro de proteção
estatual, de 1986, com área de 160 hectares e cerca de 2500 edificações. A
primeira corresponde ao traçado urbano original e a segunda corresponde ao
traçado de expansão do século XIX.
Mapa 09 - Perímetros de proteção do Centro Histórico de São Luís - MA, Brasil.

Fonte: Fonte/Base: Bartira Aquino, Universidade CEUMA, 2022.

O Centro Histórico de São Luís é reconhecido como Patrimônio Cultural


Mundial, pela Unesco, em 1997, por ser um exemplo de conjunto arquitetônico e
paisagem urbana que elucida um importante momento histórico, além de ser
exemplo por seu assentamento humano que muito representa os aspectos
culturais da época.

“Define-se como Zona de Preservação Histórica aquela em que os elementos


da paisagem construída ou natural abrigam ambiências significativas da
cidade, seja pelo valor simbólico associado à sua história, seja pela sua
importância cultural, integração ao sítio urbano e por abrigar monumentos
históricos.” (LEI DE ZONEAMENTO, PARCELAMENTO, USO E OCUPAÇÃO
DO SOLO URBANÍSTICO DE SÃO LUÍS, 1992).

Além dessa proteção, o município de São Luís, apresenta em sua legislação


urbanística, do Plano Diretor (lei nº 3.252) e Zoneamento, Parcelamento, Uso e
Ocupação do Solo Urbanístico (lei nº 3.253) instrumentos que aumentam o cuidado
com patrimônio, com a Zona de Preservação Histórica – ZPH, possibilitando que
gerações futuras possam conhecer.
REFERÊNCIAS

LIMA, Carlos de. Caminhos de São Luís. São Paulo: Siciliano, 2000.

FILHO, Olavo Pereira da Silva. Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão. 2ª ed.


Belo Horizonte: Formato, 1998.

LOPES, José Antonio Viana (Ed.). São Luís, Ilha do Maranhão e Alcântara: guia
de arquitetura e paisagem. Consejería de Obras Públicas y Transportes, 2008.

ESTADO DO MARANHÃO. Decreto N.10.089/1986: Dispõe sobre o tombamento


do Conjunto Histórico, Arquitetônico e Paisagístico do Centro Urbano da Cidade
de São Luís. São Luís: Estado do Maranhão, 1986.

ESTADO DO MARANHÃO. Decreto N. 12.350/1992: Regulamenta a Lei n. 5.082


de 20 de dezembro de 1990, alterada em parte pela Lei N. 5.205, de 11 de outubro
de 1991, que dispões obre a proteção do patrimônio cultural do Estado do
Maranhão. São Luís: Estado do Maranhão, 1992.

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