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FACULDADE DE LETRAS
DISCIPLINA: SOCIOLINGUÍSTICA
DISCENTE:
CURRALINHO/2022
CAIO IVES FREITAS GOMES, GEORGE IGOR FRANÇA, JOÃO PAULO, LEANDRO
FARIAS GONÇALVES, TIAGO SANTANA MELO PINTO
CURRALINHO/2022
RESUMO
O presente artigo, intitulado: Atitude linguística diante do alteamento da vogal média posterior
tônica no variável sexo no município de curralinho/PA, objetivou: I) examinar o papel das
variáveis sociais sexo na formação das atitudes linguísticas diante de uma variedade
desprestigiada e que sofre preconceito; II) investigar os componentes cognitivo e afetivo, dentro
de cada variável social, como elementos modificadores de atitudes, variações e mudanças
linguísticas; como complemento à pesquisa de atitude, realizou-se um estudo acústico vogal
média posterior em sílaba tônica na variedade do português falado no município de Curralinho,
como possível variante alteada e avaliada de acordo com as atitudes linguísticas. Para tanto,
foram utilizados os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista
(CARDOSO, 2015; LABOV, 2008; AGUILERA, 2008; CALVET, 2002; MORENO
FERNÁNDEZ, 1998; LÓPEZ MORALES, 1989) e da Psicologia Social (BEM, 1973;
LAMBERT; LAMBERT, 1972; ROKEACH, 1968; LICKERT, 1932; THURSTONE, 1929).
O universo desta pesquisa foi o município de Curralinho, que faz parte do maior arquipélago
de ilhas fluviais do mundo, com 16 municípios legalmente reconhecidos, do qual a cidade de
Curralinho compreende zona de contato interdialetal. O resultado das avaliações subjetivas
revelou que falantes nativos do município de curralinho, alvo da pesquisa, manifestaram
atitudes positivas quando foram colocados em posição de juízes para julgarem possíveis
variedades recorrentes na região marajoara. Essa valoração positiva revela que, embora os
participantes não realizassem o alteamento da vogal posterior na tônica, eles avaliaram como
uma variante de prestígio. A aceitação e prestígio dado à variante, produto de atitude positiva,
estão somados ao sentimento solidário, motivado por emoções, saberes e reações positivas
adquiridas no uso de sua variedade ou não de outros sujeitos.
BASES TEORICAS---------------------------------------------------------------------------------6
METODOLOGIA-----------------------------------------------------------------------------------10
ANALISE E DISCURSÃO------------------------------------------------------------------------12
CONCLUSÃO---------------------------------------------------------------------------------------15
REFERENCIAS-------------------------------------------------------------------------------------16
INTRODUÇÃO
Além de ser parte constitutiva do indivíduo, a língua ou dialeto que ele usa pode integrá-
lo, valorizá-lo, discriminá-lo ou elevá-lo socialmente. Desde os tempos antigos, essa afirmação
era verificável, como na sociedade greco-romana, em que aqueles que eram considerados
cidadãos, entre outros requisitos, tinham que ser fluentes na língua falada por pessoas no poder,
como clérigos, médicos e reais.
Isso porque a linguagem se adapta para expressar eventos sociais, como eventos
políticos, culturais e históricos, ou seja, muda com a sociedade que a representa. Pode-se dizer,
portanto, que a sociedade, ao se transformar, necessita da linguagem para se adaptar a essas
mudanças, pois os sujeitos mudam seus centros de interesse, objetivos, visões e os comunicam
por meio da linguagem que compartilham. Portanto, é justo dizer que existe uma tríade social
que não pode ser separada do homem-língua-sociedade, pois cada um depende do outro para
sua existência.
Portanto, cada sujeito precisa dominar uma linguagem para se integrar ativamente no
sistema social e, assim, formar sua identidade, se expressar. "[...] como pertencente a uma
comunidade determinada historicamente, ou, pelo menos, como alguém que assume
temporariamente a tradição idiomática desta ou daquela língua." (COSERIU, 1987.p.19).
Essa relação complexa e inerente entre língua, sociedade e identidade confere aos
falantes um lugar em relação à língua ou à diversidade linguística e, portanto, aos seus usuários.
Desta forma, os indivíduos ativam atitudes motivadas por crenças linguísticas que estão
impregnadas da sociedade, ao longo do tempo, em línguas e dialetos, manifestando assim
atitudes de rejeição ou aceitação, preconceito ou reputação, correção ou erro, entre outras(...)
Pertence à sociolinguística, para ser mais preciso um de seus ramos, a saber, no que diz
respeito às crenças e atitudes linguísticas, estudar os fatos das atitudes e examinar o impacto
definitivo que elas têm para a linguagem, ou seja, para a mudança da linguagem. Orientados
pela psicologia social, os primeiros trabalhos cujo objetivo era analisar atitudes não
consideravam especificamente o domínio da linguagem. Podemos citar os psicólogos sociais
Lambert e Lambert (1968) como os precursores da introdução da linguagem nessa ciência, cuja
implementação é possibilitada por meio de pesquisas responsáveis pela introdução da
linguagem, para iluminar a técnica de camuflagem em pares (pseudo-par).
Campos (2009), Dias, Cassique e Cruz (2013) e Rodrigues (2015), ao estudarem a variação das
vogais do português concluíram que o alteamento da vogal média posterior em sílaba tônica,
fenômeno típico da Norte do Brasil, vem sofrendo estigma na variedade do português falado
em algumas regiões.
BASES TEORICAS
Campos (2009, p. 33) entende por alteamento o movimento vertical que a língua assume
no trato vocal, representando, portanto, a elevação que uma vogal assume quando passa de um
nível de articulação baixo para outro mais alto. A autora ainda complementa o conceito dizendo
que ocorre, por exemplo, a elevação do traço de altura das vogais médias posteriores [ɔ] > [o]
> [u] até chegar no seu fechamento máximo.
Dias et al. (2013) realizaram um estudo do fenômeno do alteamento /o/ > [u] na posição
tônica da variedade não padrão falada na cidade de Breves/PA, à luz da Fonologia de Geometria
de Traços (FGT). Os resultados mostram que o alteamento /o/>[u] na sílaba tônica é favorecido
quando o /o/ está em cercania de labial ou próximo a uma nasal; é favorecido pela
monotongação, quando diante das alveolares /r/ e /s/ e de oclusivas; há o espraiamento do traço
[-aberto2 ] de /i,u/ para /o/, pelo desligamento do traço [+abert o2 ]; é de ocorrência reduzida;
e é um fenômeno da fala não-escolarizada.
Todos os marajoaras sabem que a palavra Marajó significa “barreira para o mar”, pois
a ilha forma uma espécie de defesa, uma proteção que separa o Oceano Atlântico do maior rio
do Brasil - o Amazonas. O nome desse grupo de ilhas, chamado Marajó, é derivado da palavra
tupi "Mbarayó", e significa tapamar, ou “anteparo do mar”. Segundo o dicionário inFormal9
Segundo o Censo IBGE de 2010, a cidade tinha uma população de 28.549 habitantes, passando a 32.248
no ano de 2015. Em 2016, este número aumentou para 32.881 e, em 2017, chegou a 33.490, obedecendo
a um aumento gradativo natural de um município. Segundo dados do IBGE.
METODOLOGIA
Esta seção cobre os próximos passos para o desenvolvimento do estudo que levou a
realizar este artigo. Apresentamos assim procedimentos utilizados para recolher, processar e
analisar dados acústicos e atitudinais, nomeadamente: I) instrumentos para a coleta de dados de
produção de fala (acústicos), a partir do protocolo de entrevista (Questionário Fonético-
Fonológico); e, para a coleta de dados e medição de atitude linguística (técnica dos falsos pares),
a partir do Questionário de atitude; II) perfil dos participantes da pesquisa, que somam 24
indivíduos estratificados socialmente em sexo. III) protocolo adotado para a coleta dos dados
acústicos e de atitude linguística; IV) variáveis controladas na caracterização acústica
(segmentais, prosódicas e sociais); e, variável controlada na análise de atitude linguística (sexo);
e, V) tratamentos dos dados.
LOCALIDADE SEXO
M F
Curralinho 12 12
A técnica de falsos pares, neste trabalho, envolve a produção de dois sons gravados em
ambiente controlado, realizados a partir da leitura de um texto estruturado, permitindo a
transição da variação padrão para variante com elevação e vice-versa, sendo assim não há perda
de sentido. Isso requer que o falante conheça a variação que está sendo estudada para dar o som
o mais natural possível, bem como um falante que tenha tempo para gravar e regravar o som
até obter o som desejado.
Quadro 02 – Instrução aos participantes para o uso do Questionário de Atitude Linguística com a presença do
estímulo de fala.
Além disso, são seguidas orientações específicas para avaliar o modo de fala da pessoa diante
do som I (som acentuado). Todos os participantes foram informados de que cada áudio seria
reproduzido apenas uma vez, além de iniciar a correção do questionário apenas ao final de cada
gravação. Assim, após ouvir cada estímulo de fala, a pergunta é: “A fala (modo de falar) que
você acabou de ouvir é”. O bloco é o mesmo apresentado no bloco I. A diferença é o objetivo
de cada: neste, os participantes avaliaram o modo de falar do marajoara no município de
curralinho; e, naquele, os participantes avaliaram o modo de fala do áudio I.
ANALISE E DISCURSÃO
A classificação participante/júri foi quantificada com base nos componentes cognitivo e afetivo
da atitude e dois estímulos de fala. Nas seções seguintes estão análises quantitativas e analíticas
das avaliações subjetivas dos participantes do prêmio urbano Curralinho em 1 variável social.
No estímulo com fenômeno de alteamento (fala I), foram 131 julgamentos positivos
dentre homens e mulheres curralinhenses e 85 avaliações negativas. Na fala II, o número de
julgamentos positivos foram 157 entre homens e mulheres da mesma localidade, contra 59
avaliações negativas deste modo de fala, confirmando a tendência a valorações positivas para
os dois modos de fala.
ESTIMULO DA FALA 1
Gráfico 01:
ESTIMULO DA FALA 2
Gráfico 02:
Os dados do gráfico 02 acima mostram que do total das avaliações subjetivas, para a amostra
de fala com os padrões do português, 38,4% foram de julgamentos dos curralinhenses do sexo
masculino e 11,6% de julgamentos negativos. Entre tanto as mulheres curralinhenses, ficaram
com 34,3% julgamentos positivos e 15,7% negativos.
CONCLUSÃO
A partir do cruzamento dos dados referentes às atitudes linguísticas com a categoria social sexo
e os pares de palavras, evidencia-se valores maiores dos julgamentos positivos para as duas
amostras de fala. Por exemplo, no par conhecida/desconhecida, foram 32 julgamentos positivos
e 16 negativos, nas duas amostras. Ou seja, 16,7% de escolhas positivas para os homens e 16,7%
mulheres na amostra I e o mesmo valor para a amostra II. Dentre as avaliações negativas, foram
8,3% para os homens e o mesmo valor para as mulheres nas duas amostras.
No par Importante/sem importância, para as escolhas positivas, foram 18,7% dos homens e
16,7% para mulheres; para as escolhas negativas, 6,3% para os homens e 8,3% para as
mulheres, na amostra I. Na amostra II, foram 22,9% para homens e 18,7% para mulheres de
escolhas positivas; e negativas foram 2,1% para homens e 6,3% para as mulheres. No último
par, clara/confusa, que forma o componente cognitivo, os percentuais positivos continuam com
os maiores valores para as avaliações positivas: 16,7% para os homens e 16,7% para mulheres
na amostra I; e na II foram 25% para homens e 22,9% para mulheres
Os demais pares de palavras seguem a mesma tendência positiva para as duas amostras de fala.
No entanto, o par de palavra chiada/não chiada tende a sofrer recusa nos julgamentos, pois, os
dados mostram percentual elevado de atitude negativa. No estímulo de fala I, foram 14,5% para
os homens e 14,5% para as mulheres. No estímulo II, o percentual é maior, 12,5% para os
homens e 18,7% para as mulheres.
COSTA, Eliane Miranda. Dos indígenas, os artefatos: a história dos povos indígenas do
arquipélago do Marajó, PA. Revista de Estudos Linguísticos, Literários, Culturais e da
Contemporaneidade, Guaranhuns, n. 18b, p. 144-154, 2016.
CUNHA, Luísa Margarida Antunes. Modelos Rasch e Escalas Likert e Thurstone na medição
de atitudes. Dissertação (Mestrado em Probabilidades e Estatística) – Universidade de Lisboa,
Lisboa, 2007.
DIAS, Marcelo Pires; CASSIQUE, Orlando; CRUZ, Regina Célia Fernandes. O alteamento das
vogais pré-tônicas no português falado na área rural do município de Breves (PA): uma
abordagem variacionista. Revista Virtual de Estudos da Linguagem, Porto Alegre, n. 9, v. 5,
jul. 2007.
PAIVA, A variável gênero/ sexo. In: MOLLICA, M, C. & BRAGA, M. L. (orgs.) Introdução à
Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto. 2004.