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Empty Streets
Espaço surgiu da vontade de ir além do circuito oficial
de arte
Quem dá nome ao Pavilhão, também conhecido como “capela”, é o artista Maxwell
Alexandre, nascido e criado na Rocinha. O jovem é um dos grandes nomes da nova
geração das artes visuais e já realizou exposições não só no Brasil mas também em
diferentes partes do mundo, em museus do Rio, São Paulo, França, Marrakech, Londres
e Nova York, entre outros.
Passagem 1:
Nessa Passagem houve uma roda de conversa a respeito do tema Moda x Arte
Contemporânea com a estilista Angela D Brito, a designer Izabella Aurora
Suzart e a Nathalia Grilo que mediou a conversa e introduziu a imersão sonora
Novo Poder no Jazz
Nathalia Grilo abriu com um painel de conversas sobre esse estilo musical,
além de nos apresentar capas de discos, imagens, poemas e sons como forma
de firmar o olhar para os conceitos de belo dentro das culturas afro-
americanas.
A imersão sonora trouxe uma proposta que deu aulas sobre história, música,
imaginação e radicalidade preta. Foi um evento muito estético, e segundo
comentado pelo Maxwell Alexandre "um evento preto de verdade, com
crianças pretas confortáveis naquele ambiente." Ainda segundo Maxwell não
houve nenhum dinheiro público, nenhuma ajuda do governo, e nenhum
investidor externo, tudo foi feito de forma independente sem nenhum tipo de
amarra, e isso foi lindo de se ver. Foi um verdadeiro sucesso, o Pavilhão ficou
lotado de pessoas, todos animados para ouvir e participar daquela empreitada.
Passagem 2:
MAXWELL ALEXANDRE
Christiane Arcuri - 2 de março de 2021
Antes de se tornar artista visual, chegou a servir ao exército e também fora patinador de Street
dance.
Em 2016, formou-se pela PUC-Rio em Design. Seu ateliê, onde trabalha com arte, encontra-se ainda
na Rocinha.
Sua arte tem como principal linguagem a pintura, porém seus trabalhos também advêm na videoarte,
fotografia, música, instalação e performance.
Criado em berço evangélico, Maxwell Alexandre discute muito a religiosidade nos seus trabalhos
artísticos. Um de seus trabalhos mais famosos, por exemplo, é intitulado como “O Batismo de
Maxwell Alexandre” (figura 2), por ocasião de exposição homônima. Nesta performance, o artista
mergulha numa banheira com água simulando então um batismo das religiões cristãs. Segundo o
próprio artista diz numa entrevista,
Fé e obra devem caminhar juntos, uma em detrimento da outra não funciona. Dentro desse sistema
religioso me ensinaram também que a oração é um segredo pra prosperar, comunicar e receber
coisas de Deus. Quando me vi em artes precisei rever tudo isso que havia escutado e incorporado.
Ao desconstruir o evangelho que me ensinou, deixei de usar a linguagem verbal como um meio para
me conectar com Deus. Então, encontrei na pintura um caminho legítimo para agradecer, falar e
conhecer a mim mesmo. Minhas pinturas são orações, visões e profecias. Assim como em casas
pentecostais onde fiéis oram aos berros, expondo sua intimidade, minha prática artística se
apresenta ao mundo também como uma prece aberta/pública. (2018).
Figura 2
Já para sua pintura, utiliza diferentes suportes, até mesmo os mais inusitados, como lonas de piscina
(figura 3), portas de madeira, esquadrias de ferro e papéis considerados não tão “nobres” para as
Artes (figura 4).
Figura 3
Figura 4
Em suas obras, o artista retrata diferentes momentos do cotidiano das favelas cariocas, através de
figuras anônimas. Dentro de tal cotidiano, apresentam-se cenas de confronto com a polícia,
celebrações, empoderamento negro e relações comunitárias contemporâneas (figura 5). Levando à
reflexão não somente do que acontece na favela da Rocinha, mas como em todas as demais
comunidades cariocas.
Figura 5
Em 2018, participou das coletivas “Recortes da Arte Brasileira”, na Berlin Art Fair, “Crônicas
urgentes”, na Fortes D’Aloia & Gabriel (São Paulo), e “Abre alas 14”, n’A Gentil Carioca (Rio de
Janeiro), e apresentou sua primeira individual “O batismo de Maxwell Alexandre”, também n’A
Gentil. Foi neste mesmo ano que o artista integrou a premiada exposição “Histórias afro-atlânticas”,
no MASP. Foi indicado ao prêmio Pipa em 2019 e 2020, sendo finalista no último ano.
Também foi em 2019 que o artista teve uma exposição individual no Museu de Arte do Rio (MAR)
intitulada “Pardo é papel” (figuras 6, 7 e 8), na qual Maxwell Alexandre aborda temas como raça,
vida nas favelas, violência policial e desigualdade social. Nesta exposição, na qual as pinturas são
feitas sobre papel pardo, discute-se as questões sobre raça e sociedade não apenas pelos temas da
pintura como também pela matéria. Afinal, a palavra “pardo” foi por muitos anos utilizada para
apagar a negritude das pessoas negras. Por ocasião da exposição, Campos e Gradim (2018), dizem:
Porém, aqui, o pardo é ressignificado pelo artista, nos levando a outras direções. Ao produzir
autorretratos sobre papel pardo, MW (assinatura do artista) passa a perceber que estava, também,
diante de um ato político: pintar corpos negros sobre papel pardo. Os estigmas são assumidos e
revertidos. A cor da pele negra, confundida com a cor do papel, retorna como condição de
resistência, como reação: “pardo é papel”. Congregam-se, assim, arte e cultura, forma e
subjetividade. (CAMPOS, Marcelo e GRADIM, Carlos, 2018).
Figura 6
Figura 7
Figura 8
https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/noticia/2019/11/maxwell-alexandre-voce-precisa-conhecer-
o-trabalho-deste-artista-carioca.html
Cabe destacar aqui uma das ações ocorridas durante a exposição: a “Descoloração Global Pré-
Carnaval” (figura 9). Tal ação ocorreu nos pilotis do MAR e descoloriu o cabelo de mais de 120
pessoas. Esta ação foi tomada como culto de ação de Graças da Igreja da Noiva, a Igreja do Reino da
Arte. Tal prática de descolorir o cabelo para o carnaval é recorrente nos subúrbios e favelas cariocas.
Figura 9
Embora ainda seja um artista jovem, Maxwell Alexandre prova, através de sua arte, grande potência
ao discutir temas acerca da identidade-representatividade hoje.
Referências
https://www.sp-arte.com/artistas/maxwell-alexandre/
Pardo é Papel
http://www.canalcontemporaneo.art.br/blog/archives/008441.html
MAXWELL ALEXANDRE
As pinturas-mãe, como foram apelidadas, são telas pintadas em acrílica, henê, graxa,
betume, pastel oleoso, e látex, em frente e verso com cores e padrões das piscinas Capri,
signo ambíguo – de status e lazer dentro das favelas, e de sarcasmo pelos mais
abastados. Personagens negros e de cabelo descolorido – numa referencia
autobiográfica ao próprio artista – se sobrepõem ao fundo azul, aparecendo em cenas
variadas de dias de praia e festas na piscina. Em meio ao lazer nas águas aparecem
imagens de batismos evangélicos, além dos agentes de segurança das praias do Rio,
bem como os militares prostrados à orla desde o começo da intervenção militar. Jovens
saltam da janela de um ônibus em direção às praias lindas e seguras da Zona Sul do Rio,
veladamente reservadas aos turistas e moradores locais.
Na galeria uma das salas é inteiramente coberta em papel pardo, um dos elementos
marcantes da obra do artista em referência ao termo “pardo” usado como um tom de
pele que por muito tempo ‘amenizou” e escondeu a negritude no Brasil. Em seu interior
indícios discursivos da infância e realidade de vida do artista: fotos, desenhos,
documentos, além de diversos objetos, todos envoltos e suspensos em pardo,
padronizados, camuflados, secretos, dissimulados e ao mesmo tempo, falsa e
estranhamente enaltecidos.
Do lado de fora uma piscina Capri e um tanque batismal aguardam a chegado dos
peregrinos, os preparativo para o batismo e celebração nas águas da encruzilhada em
frente à galeria.
Maxwell Alexandre
Nascido em 1990 na Rocinha, Rio de Janeiro, Maxwell Alexandre se graduou no
Departamento de Artes e Design da PUC-Rio em 2017. Em 2018 uma de suas obras
passou a fazer parte do acervo da Pinacoteca de São Paulo. No mesmo ano ele
participou da exposição coletiva Abre Alas 14 na A Gentil Carioca. Ele também
participou da exposição coletiva Carpintaria para todos, realizada em 2017 no Fortes
D’Aloia & Gabriel.