Fonte: Frei Antônio das Chagas (poeta português do século XVII).
Deus pede estrita conta do meu tempo
e eu vou do meu tempo dar-lhe conta, mas como dar, sem tempo, tanta conta, eu que gastei, sem conta, tanto tempo? Para ter minha conta feita a tempo, o tempo me foi dado e não fiz conta não quis, sobrando tempo, fazer conta, hoje quero acertar conta e não há tempo. Ó vós que tendes tempo sem ter conta, não gasteis vosso tempo em passa-tempo. Cuidai, enquanto é tempo, de vossa conta, pois aqueles que sem conta gastam o tempo, quando o tempo chegar de prestar contas, chorarão, como eu, o não ter tempo.
Observação: Segundo A. L. Simões Gamboa, no site da agência Ecclesia, Frei
António das Chagas, cujo nome secular era António da Fonseca Soares, foi militar, poeta e depois eclesiástico. Nascido na Vidigueira, no Alentejo, em 1631, no seio de uma família fidalga, não concluiu os estudos devido à morte do pai. Ingressou no exército aos 18 anos, tendo combatido na Guerra da Restauração. Sabe-se que foi neste período que despertou para a poesia. Aos 22 anos fugiu para o Brasil. Regressou a Portugal três anos depois e retomou a carreira das armas, tendo sido promovido a capitão em Setúbal. Aos 31 anos, abandonou a vida militar e tornou-se monge da Ordem de São Francisco em Évora, e dedicou o resto da sua vida à pregação da Fé e à penitência pelas faltas cometidas enquanto homem mundano. Foi um pregador ardente, apaixonado e empenhado, tendo viajado em pregação por todo o país e também à corte. Em 1680 passou a viver no Convento do Varatojo (Torres Vedras) que, por sua iniciativa, passou a Seminário Apostólico das Missões da Ordem dos Franciscanos. Em 1682, Frei António das Chagas fundou o Convento de Nossa Senhora dos Anjos de Brancanes, em Setúbal, vindo a falecer nesse mesmo ano, no Varatojo.